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Marcel Mauss
Curso de Mestrado Profissional em Administração – ESAG/UDESC
Profs. Carolina Andion e Mauricio C. Serafim
Biografia
Nasceu em Épinal (1872) e faleceu em Paris (1950).
Formou-se em Filosofia e se especializou em História das Religiões.
Participou da gênese da Escola Sociológica Francesa.
Sucedeu seu tio Durkheim no L’Année Sociologique.
Biografia
Foi professor de importantes escritores, como Louis Dumont e Claude Lévi-Strauss.
Influenciou outros tantos, como Sartre e Merleau-Ponty, G. Gurvitch e P. Bourdieu.
Nunca fez trabalho de campo. Considerava-se um ‘etnólogo de museu’.
Possuía uma grande erudição histórica e lingüística.
Biografia
Considerado um dos maiores nomes da sociologia e antropologia (Raymond Aron o considerava maior que Durkheim e Weber).
Militante socialista, procurava separar sua via pessoal e acadêmica (‘política e ciência não se misturavam’).
Obra
Não escreveu um livro, mas publicou vários ensaios sobre temas diversos.
Sua obra se caracteriza por ser ao mesmo tempo discreta e influente.
É dispersa, profunda e abrangente, sem a preocupação de criar um sistema teórico.
Obra
Obra: Alguns temas
Teoria geral da magia
Relações entre a psicologia e a sociologia
Idéia de morte
Noção de pessoa Técnicas do corpo Morfologia social Simbolismo Sistema de
dádiva/dom
Obra: discreta e influente
Caillé (2002) acredita que Mauss é um autor subestimado.
Razões: [1] Sua obra não se insere em qq uma das
disciplinas atuais das ciências sociais; [2] Não escreveu um livro completo e seu
pensamento não se inclui em um sistema; [3] Tinha ‘horror ao espírito de sistema’. [4] Seus discípulos se tornaram mais
famosos do que ele (consequência: desmembramento de seu pensamento).
Metodologia (Caillé, 2002)
Preocupado com o concreto: realidade é maior e mais complexa do que as categorias que lançamos sobre ela como redes que não apreenderão a maioria de suas presas.
Fernando Gonsalez http://www2.uol.com.br/niquel
Metodologia (Caillé, 2002)
Espaço à diversidade da realidade empírica sem se reduzir à pura lógica do conceito.
Realidade é paradoxal (‘livre e obrigatório’).
Genealogia empírica (e não especulativo) da moral, da justiça e do político.
Mauss e Durkheim
Assim como Durkheim, Mauss: Enfatizam também o papel fundamental das
instituições para a compreensão da vida econômica;
Acredita que várias instituições econômicas modernas encontram sua origem no comportamento religioso (propriedade privada, contrato). Durkheim analisa mais particularmente o contrato (Da divisão do trabalho social - 1893) e Mauss a dádiva (Ensaio sobre a dádiva).
Mauss e Durkheim
Entretanto, Mauss supera Durkheim: Aperfeiçoa a partir de dentro; Radicaliza a idéia de que a sociedade é uma
totalidade ligada por símbolos. “As palavras, os cumprimentos, os presentes,
solenemente trocados e recebidos, e aos quais se deve obrigatoriamente retribuir sob pena de guerra, o que são senão símbolos?” (Mauss).
Defende que a separação categórica conceitual primitiva é melhor expressa em simbólico/utilitário do que sagrado/profano.
Fatos sociais não são mais consideradas como ‘coisas’, mas símbolos.
Fatos sociais Fatos totais
É toda a maneira de fazer, pensar e de sentir externas ao indivíduo e que é suscetível de exercer sobre ele uma coação (acrescentou a liberdade).
Mauss e Durkheim
Para Caillé (2002), Mauss superou o hiato não resolvido de Durkheim entre juízos de fato e juízos de valor, e entre normal e patológico.
Como? Postulou como moralmente desejável aquilo precisamente que o conjunto das sociedades conhecidas parece postular efetivamente como tal.
Trata-se da normatividade imanente a sua prática efetiva.
Paradigma do dom
Hipótese 1: Mauss oferece uma teoria sociológica que pode efetuar a harmonização dos dois outros paradigmas sociológicos: individualista e holista.
Hipótese 2: Essência e núcleo de toda a socialidade -> universalidade da tríplice obrigação de dar, receber e retribuir.
Paradigma 1: Individualista
Também pode ser qualificada como utilitarista, contratualista, instrumentalista.
Ação individual é ‘interessada’ e racional. Pressupõe que os indivíduos procuram
maximizar racionalmente a satisfação de seus próprios interesses ou preferências.
Proposta normativa: é justo (bom, bem, certo), aquilo que coincide com a maximização do bem-estar do maior número de indivíduos (Caillé, 2002).
Paradigma 1: Individualista
Individualismo metodológico. Abordagens: Teoria da ação racional,
teoria dos jogos, nova história econômica, neo-institucionalismo, teoria da public choice, teoria da agência.
Paradigma 1: Crítica
Na ação social não há apenas cálculo e interesse (material ou imaterial), mas tbém obrigação, espontaneidade, amizade e solidariedade.
Motiva conduta humana
Interesse
Material
Ideal
Simbólico Dádiva
Paradigma 2: Holismo
Também pode ser qualificada como funcionalismo, culturalismo, institucionalismo ou estruturalismo.
A ação individual ou coletiva é analisada como manifestação da estrutura social, i.e., da dominação exercida pela totalidade social sobre os indivíduos e da necessidade de reproduzi-la (Caillé, 2002).
A totalidade social é anterior e mais importante que os indivíduos e condiciona o conjunto de ações.
Paradigma 2: Crítica
Tanto a totalidade social quanto os indivíduos não preexistem um ao outro.
O que há é uma geração mútua pelo conjunto de inter-relações e das interdependências que os ligam.
O que é importante compreender: a modalidade geral dessa ligação e interdependência.
‘Uma sociedade regida unicamente a partir de cima e a partir do passado, pela regra e pela obrigação, fatalmente soçobra na esterilidade, no formalismo ou no horror’ (Caillé, 2002, p. 18).
Paradigma 3: Dom
Dádiva: ‘[...] é o que circula em prol do ou em nome do laço social’ Godbout (1998).
Essa circulação não está relacionada ao mercado, Estado ou violência física.
Questão: como o vínculo social é gerado? Procura-se responder ‘a partir do seu meio,
horizontalmente, em função do conjunto das inter-relações que ligam os indivíduos e os transformam em atores propriamente sociais’ (Caillé, 2002, p. 19).
Paradigma 3: Dom
Paradigmas 1 e 2 são considerados momentos do ciclo geral do dom, do simbolismo e do político em ato.
Paradigma do dom é o paradigma primordial. Certeza que animava Mauss: ‘não se poderia
compreender a troca e contrato, típicos da modernidade, sem previamente destacar as suas formas arcaicas e antecedentes, as formas do dom. Mercado de um lado, Estado do outro, individualismo e holismo, portanto, não se tornam intelegíveis a não ser como formas especializadas e autonomizadas de uma realidade maior e mais englobante desse fato social total que tem no dom sua expressão’ (Caillé, 2002, p. 22).
Contribuição fundamental dos Ensaios Mostra que fatos – incluindo-se aqui tanto a
prática da troca como a reflexão sobre ela – das mais diferentes civilizações nos revelam que trocar é mesclar almas, permitindo a comunicação entre os homens, a inter-subjetividade, a sociabilidade. A Antropologia é o estudo desta comunicação e das regras que a estabelecem (Lanna, 2000).
Contribuição fundamental dos Ensaios Essas regras manifestam-se simultaneamente na
moral, na literatura, no direito, na religião, na economia, na política, na organização do parentesco e na estética de uma sociedade qualquer. Podemos isolar o aspecto econômico de uma troca, mas ela implica sempre também um aspecto religioso (que se evidencia nos sacrifícios, nas dádivas de palavras das rezas etc.), político (que se evidencia nas trocas mal-sucedidas – que redundam em guerra –, na troca de violência ou ainda no desequilíbrio entre o que é trocado e na assimetria temporal implícita em qualquer redistribuição. A troca é, assim, um fato social total (Lanna, 2000).
“Que adotemos como princípio de nossa vida o que sempre foi um princípio e sempre o será: sair de si, dar, de maneira livre e obrigatória; não há risco de nos enganarmos”.
Marcel Mauss (2003, p. 301).
Referências
CAILLÉ, A. Antropologia do dom: O terceiro paradigma. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.
GODBOUT, J. T. Introdução à dádiva. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 13, n. 38, p. 39-52, 1998.
LANNA, Marcos. Nota sobre Marcel Mauss e o ensaio sobre a dádiva. Rev. Sociol. Polít., Curitiba, 14: p. 173-194, jun. 2000.
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