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ILUMINAÇÃO
Nesta edição, a coluna Perfil conversou com Roberto Moreira, iluminadorda cantora Maria Bethânia, e ele falou sobre vários momentos de suacarreira. Roberto Pires Moreira, que adotou o nome artístico e profissionalde Roberto Moreira, é carioca e iniciou-se na iluminação comoresponsável pelos efeitos especiais dos shows da casa de espetáculosCanecão, no Rio de Janeiro. Para Roberto, que está com Bethânia desde1978, a iluminação sempre o atraiu porque, seja em shows ou em teatro,“tem o poder de nos levar a enxergar o que se quer destacar, ou mesmodirecionar para uma parte do palco onde acontece uma cena, enquanto dolado oposto se monta um cenário ou se oculta um ator”.
Karyne Lins
karyne@backstage.com.br
R
PerfilRoberto Moreira
evista Backstage - Sabendo que você trabalha como
iluminador de Maria Bethânia desde que decidiu
direcionar sua carreira a este ramo do mercado, como
foi que apareceu essa oportunidade e o que existia de recursos
de iluminação?
Roberto Moreira - Se não me falha a memória, fui convidado
pela diretora Bibi Ferreira para iluminar o show Nossos Momentos,
da cantora Maria Bethânia. Os equipamentos da época eram os
PCs, fresnéis, set lights, eu usava algumas caixas-de-cor na frente
dos PCs ou fresnéis.
Quais as dificul-
dades de se fazer luz
naquela época?
Roberto - Havia
bem menos equipa-
mentos e informações
sobre qualquer novo
equipamento. Essa si-
tuação obrigava os
profissionais a serem
criativos. Hoje, temos
que continuar sendo
criativos, porém, te-
mos a vantagem de
fazer isso com muito
mais recursos.
Como vocês dizem, o aprendizado nessa profissão era ‘na
graxa’ e com informações de quem já estava neste circuito há
mais tempo. Mesmo assim, muita gente, com pouco tempo de
estrada, começou a se destacar.
Roberto - Exatamente. A falta de cursos específicos para a
área de iluminação cênica também nos obrigava a estar muito
atentos a todas as tendências da época. Quando eu era respon-
sável pela equipe de luz do Canecão, tive aulas gratuitas com
grandes mestres da iluminação. Tanto na montagem, na opera-
ção e, às vezes, até cri-
ando luz com eles pu-
de avaliar com tran-
qüilidade vários traba-
lhos, separando o que
era de bom gosto e
funcionava bem, co-
meçando assim a cri-
ar um estilo próprio
de criação. No en-
tanto, logo optei por
não ter estilo algum
definido, porque a-
cho que cada traba-
lho tem suas particu-
laridades, especifica-
ções e é sempre bom
deixar as idéias fluí-Integrantes do coral da Igreja Metodista Central de São Paulo, que trabalha com vários estilos musicais
Fo
tos: D
ivu
lgação
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rem. Agindo com esse pensamento, é
possível ter momentos de grande satisfa-
ção quando conseguimos conciliar téc-
nica e arte.
Existe um conceito de iluminação de
show para Maria Bethânia?
Roberto - Quando você me pergun-
ta se há conceito de iluminação especí-
fico para os shows da Bethânia, eu diria
que em alguns pontos sim. Ela, como
todos nós sabemos, é por natureza uma
cantora que tem muito de atriz, isso nos
proporciona uma luz teatral sem abrir
mão dos refletores modernos, como os
moving lights.
Pode falar um pouco de sua forma
pessoal de trabalhar com concepção para
shows gerais?
Roberto - Como disse antes, ter sido
iluminador responsável de uma casa de
espetáculos tão importante no cenário
nacional e internacional, o Canecão,
me favoreceu muito a ser conhecido e
bem conceituado no mercado de tra-
balho. Cada artista é uma luz diferen-
te, e fui muito privilegiado por traba-
lhar com alguns ícones da música e do
teatro brasileiro, como Djavan, Bibi
Ferreira e Gonzaguinha.
Que tipo de referências você busca
quando vai montar uma luz ou pensar a
iluminação de um artista?
Roberto - Sem nenhuma predeter-
minação de formas ou conceitos. Pro-
curo assistir aos ensaios observando
cada detalhe, assim, consigo criar cli-
mas de luz para cada música ou cena
aplicando o que há de mais moderno
no mercado, contanto que se integre
ao espetáculo e não sendo apenas um
workshop de equipamentos, pois é pre-
ciso achar um bom senso entre tudo o
que é utilizado em shows, do mais sim-
ples e funcional PC ao mais moderno
painel de LED.
Você não definiu um estilo específi-
co, mas, querendo ou não, cada profis-
sional acaba adotando um conceito de
criação pessoal. Como é o seu?
Roberto – Procuro, junto aos direto-
res dos espetáculos, saber o que eles de-
sejam ou passar o que eu penso em fazer
a cada momento do show, observando
também com o cenógrafo que tipo de
cenário será usado e a melhor maneira
de iluminá-lo.
Como você utiliza referências e co-
nhecimentos da tecnologia atual para
seus trabalhos?
Roberto - Cada artista possui seu es-
tilo próprio, então, procuro usar meus
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conhecimentos e técnicas associando a
eles tudo o que o artista me passar. Aí,
procuro usar de bom gosto e intuição
para valorizar com a iluminação esse es-
tilo, que pode ser romântico, pop, rock,
etc. Digamos que essa forma de traba-
lho também se aplica a outros tipos de
espetáculos onde existem alguns pa-
drões definidos de iluminação, partin-
do, daí, para a criação.
Como a sua criação pode se destacar
em meio a tanta tecnologia no segmento
de iluminação?
Roberto - Vários equipamentos mo-
dernos facilitam nossa criação e monta-
gem, por isso, procuro usá-los de acordo
com a necessidade do espetáculo, como
algum gobo especial ou o frost de certos
movings, etc. Acredito que utilizando
essa tecnologia com bom gosto você con-
segue algum destaque.
Conte sua história como chefe de ilu-
minação no Canecão: que época foi essa
e o que estava acontecendo nos merca-
dos de música e luz?
Roberto – Era, sem dúvida, uma épo-
ca difícil quando se buscava o aprendiza-
do e a valorização profissional, mas, ao
mesmo tempo, entre nós iluminadores,
havia muito respeito e ajuda mútua. Em
relação ao mercado de iluminação, tudo
acontecia muito rapidamente. Com a
chegada de novas mesas de controle e
refletores computadorizados, era e conti-
nua sendo necessária a atualização cons-
tante destes equipamentos. No mercado
musical, artistas brasileiros, muitos já reco-
nhecidos no exterior, sempre valorizavam
seus técnicos, não abrindo mão de viajar
com eles. Lembro-me também que os ar-
tistas estrangeiros traziam seus técnicos e
isso nos proporcionava uma forma de in-
tercâmbio. Agora, falando novamente do
Canecão, trabalhar em uma casa tão im-
portante foi muito bom, porque pude co-
nhecer vários diretores, artistas e técnicos,
todos do mais alto nível, e creio ter feito
muitos amigos.
Quais eram as expectativas nessa
época? Qual era o objetivo principal do
profissional em uma casa que hoje é re-
ferência e tradição no Brasil?
Roberto - A expectativa era a de me-
lhores condições de trabalho e equipa-
mentos. O meu objetivo particular era a
maior capacitação profissional, buscando,
assim, reconhecimento e melhor salário,
pois vivemos dessa arte que é iluminar.
Histórias engraçadas e situações di-
fíceis. Conta algumas para nós.
Roberto - Bem, eu vivenciei várias his-
tórias engraçadas e algumas situações
bem difíceis, porém, eu prefiro, se você me
permitir, contar somente uma engraçada.
Foi durante um show da cantora Simone,
nos anos 80, cujo diretor era uma pessoa
maravilhosa chamada Flávio Rangel. Ele
gostava de criar a luz (também era
iluminador) durante a noite, indo mui-
tas vezes durante parte do dia. Numa
dessas ocasiões, por volta das 8 horas da
manhã, alguns carregadores da compa-
nhia de cerveja que abastecia o Cane-
cão colocavam engradados dentro do
almoxarifado, que era situado ao lado
da cabine de luz, fazendo um tremendo
barulho. Flávio era alto, magro, com o
cabelo cheio e bem branco, adorava ficar
de short e sem camisa. Ele tentava de-
sesperadamente se comunicar com José
do Egito, o famoso Coalhada (e muito
bom técnico de montagem), que estava
no palco, sem sucesso. De repente, acho
que mais pelo cansaço do que por outro
motivo qualquer, Flávio se irritou de tal
forma que, com sua voz estridente, gri-
tava aos dois ‘armários’ à sua frente:
“peguem uma a uma essas caixas e po-
nham lá dentro sem barulho!” Eu fechei
os olhos e esperei ouvir a pancadaria,
que graças a Deus não aconteceu.
Acho que eles julgaram que Flávio seria
um anjo vindo do céu para preservar o
silêncio na Terra.
Quais as suas dicas para quem pre-
tende trabalhar com iluminação e está
entrando agora no mercado?
Roberto - Tente aprender o máximo
que puder com os espetáculos a que
por ventura você assistir, estude tam-
bém eletricidade e técnicas de monta-
gens, conhecendo assim a fundo todos
os detalhes de uma iluminação. Res-
peite seus professores e chefes de equi-
pe, sempre lembrando que há sempre
coisas novas para aprender, até mesmo
com os erros. Seguindo essas dicas,
você poderá prosseguir na profissão e
criar sua própria luz.
“Em relação ao mercado de iluminação, tudoacontecia muito rapidamente. Com a chegada de
novas mesas de controle e refletorescomputadorizados, era e continua sendo necessária a
atualização constante destes equipamentos”
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