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NOEMI NASCIMENTO ANSAY
A PSICOPELlAGOGIA CLiNICA, A INCLUsiio E A CRIANc;;A SURDA
Monografia apresentada para obtenvclo dotitulo de especializay<3o, no curso de p6s-
gradua<;:clo em psicopedagogia da Universidade
Tuiuti do Parana.
Orientadora Prof. Laura Bianca Monti
CURITIBA
2004
Oedico esta monografia a minha amiga e colega de trabalho ~!ta Maestri
Esser, psicologa surda, modelo para uma gerayao de surdos. Mestra para todos
ouv:ntes que pretendem adentrar ao mundo dos surdos. Sua competencia,
inteligencia, profissionalismo e humanidade sao urn exemplo para minha vida.
Ao meu esposo Samuel Soares Ansay, professor e mestre em conhecimentos
academicos e tambem na grande escoJa da vida, par seu amor, dedicayEio e por
acreditar que sempre eu posso C:1lgarmaiores alturas.
AGRADECIMENTOS
A minha orieniadora professora Laura Bianca Monti, par sua dedjca~ao,
profissionalismo E carinho.
A CDordenadora do curso professora Maria Letizia por seu empenho e dedica((ao as
alunas de psicopedagogia.
Aos meus pais que sempre me incentivaram na busca do conhecimento.
A minha filhClNicoJieper sua compreensao e amor.
A tudos as meus pacientes surdos. que sao 0 mot:vo da minha busca pelo
aprimoramento
.-.~ •• ,., .•".--(:s -1'":s.li .:s=.~.,:s :.o~ "+:S=+~::I Fl.::! • .~.lile. -1'"::1=+ iea'.Ii:n"-1'".
t..::1 .::1* ,.u••i -+.. =+... .:slb~.. ,....~ie .••.••• 11 '.::IIIi::l".. ::1=+•• ". ..•· .••• 11
Texlo escrito em Sing Wrinting (escrita da lingua de sinais) que diz:
·'Quando eu aceito a lingua de outra pessoa, eu aceitei a pessoa porque a
lingua e part€'! de nos mesmos.. QLJando eu ace ito a lingua de sinais, eu ar.eito °surdo, e e importante ter sempre em mente que ° surdo tern direito de ser surdo.
Nos nilO devemos muda-Ios; devemos ensina·los, ajuda-Ios, mas temos que
permitir·lhes ser surdo."
Terje Basilier . psiquiatr8 noruegues
SUMARIO
RESUMO
INTROOut;AO .PSICOPEOAGOGIA .
2.1 FU.'1uamenta<;c3o te6rica da psicopedagogia ...
2.2 Oiagn6stico psiGapedag6gico ...
2.3 Instrumentos de Avalia<;c3o para 0 Diagnostico Psicopedag6gico .2.4 Tratamento psicopedag6gico .3 SUROEZ.
3.1 Graus de perda auditiva .3.2 EduC2<;c30 dos surdos .4 INCLLJSAO DO ALUNO SUROO hlO ENSINO COMUM .
6
..... 11
.... 12. 15
... 18.... 19
...... 244.1 Rela9ac entre pensamento, linguagem e aprendizagem da criam;:a surda 27
4.2 Escrita e Leitura do Surdo .5 PSICOPEOAGOGIA E 0 SUROO ..
5.1 Atendimento Psicopedag6gico para Surdo .5.2 0 usa de LIBRAS no atendimenta psicapedag6gico ...6 CONCLUSOES.REFERENCIAS .ANEXO /\ ....ANEXO B.ANEXO C.ANEXO 0 ...
...... 29. 33. 34
........ 38. 39
. .40... 43
..... 50.... 51
. 52
RESUMO
o objet:vo cleste trabaJho e fazer urn levantamento de como a psicope:dagogia pode
~ contribuir utilizando seus instrumentos de investigary2lo e intervenry80 para atender
crianryas surdas que freqOentam 0 ensina comum
A psicopedagogia e urn campo de atIJary2lo cuja objeto de estudo e intervenry2lo e a
aprendizagem humana, isto inclue seus padroE:s normais e patologicos.
A crianyGl surda que freqOenta 0 en::;ino comum encontra muitas dificuldades na
ascensao de sua escolaridade. As dificuldades VaG desde a perda auditiva, uma
barreir3 sensorial, passa peJa barreira da comunicaryao au IingOistica, surdos que
u~am como primeira lingua a Libras (lingua brasileira de sinais) e precisam da
intermediac;:c3o de urn interprete e encontram tambem barreiras socia is, 0 preconceito
e 3 desinformavao sabre suas reais possibilidades.
Os alunos surdos precisam ter suas diferenvas respeitadas, e preciso oferecer
condivces adequadas para que possam construir seu saber e desenvolverem-se
plenan lente.
A psicopedagogia para 0 atendimento de erianc;as surdas deveri\ atuar na prevengao
G na intervengao elinica dos problemas de aprendizagem.
/'
PCllavras-ehave: psicopedagogia, surdez, educat;tao inclusiv2; Libras,
bilingUismo.
INTRODU<;:Ao
Pensar sobre a aprendizagem da crian9a surda e uma tarefa complexa e ch8ia
de nuances, que desafia educadores, linguistas, fonoaudi6logos, ps;c61ogos e
psicopedagogcs.
Vygotsky citado por Sacks (1999, p.63) afirma que "uma crian~a com uma
incapacidade representa um tipo qualitativamente diferente, unico de
desenvulvimento", escreve ele "se uma criam;a cega au surda atinge 0 mesma nivel
de rJesenvolvimento de uma crianga normal, entao a crianc;a com uma deficiencia
atinge-c) de Dutro modo, par Dutro caminho, per outro meio",
Equal seria entao este Dutro caminho? Como uma crianrya surda aprende?
Quais os motivos OOSfracassos na aprendizagem das crianryas surdas?
Estas quest6es fazelTl parte do estudo da psicopedagogia. Segundo Kiguel
(1990, p.25) "A psicopedagogia e a especializa~ao onde 0 objeto central de estudo ea aprendizagem humana: seus padr6es evolutivos normais e patoI6gicos".
Ern f.err.pos onde as politicas de inclusao estao em vigor e alunos surdos estao
freq(ielltando 0 ensino comum, como a psicopedagogia pode contribuir para uma
mclhor compreensao da aprendizagem de uma crianya surda? E como atuar
quando acontecem os fracassos na aprendizagem?
A propria LOB 9394/96 reconhece no Art. 58 ~ "havera quando necessario
serviyo de apoio especiaJizado, na escola regular, para atender as peculiaridades da
clientela de educayao especial"
Pcdemos incluir neste "servic;:o de apoio especializado" nao s6 0 fonoaudi610go,
o psic610go, mas tambem 0 psicopedagago.
o ensino comum precisa receber orientac;:6es em como garantir ao aluno surdo
a acesso ao conhecimento. Trenche (1997, p.11) afirma que "a presenc;:a de uma
crianya surda no ensina comum cria novas necessidades, novas exigencias"
No visao de Kiguel (1990, p.26) "cabe ao psicopedagogo atuar nas escolas e
cursos de formagao de professores, esclarecendo sabre 0 processo evolutivo das
areas ligadas a aprendizagem eseolar, auxiliando na organizac;ao de eondic;6es de
aprendizagem de forma integrada e de aeordo corn as eapacidades dos alunes".
Eneontrarnos tambem muitos surdos, que desde erian9as receberCim todos os
tipos de atendimentos especializados e mesmo nao flpreser:tando nenhurna
disfunc;an r:eurol6gica nao cOllseguem aprender, e conseqOentemente nao avanc;am
E:msua escolaridade.
o fracasso escolar do surdo esta relacionado a metodologias inadequadas, que
s6 priJrizam a fala sem se preocupar com a construc;ao do conhecimento. Wood
cit ado par Reis (1997, p.26) afirrna que outra causa do atraso escolar das crianc;as
surdas e .3 dificuldade que os professores tern em ensina-Ias e, com isso nao
ampliam as experiencias destas crianc;as
Reis (1997, p.26) coloca que professores de eseolas com orientac;ao ora!ista
(filosofia de EnsinG que dil enfase ao ensino da fala) sentem orgulho em afirrnar que
usam objetos concretos para ensinar alunos surdos adultos. "Ora, se, ao
ensinarmos, nos detivermos no nivel concreto ou no nivel funcional, como e que
podernos esperar que ele alcance urn nivel maior de abstra92:10?".
A atuac;ao do psicopedagogo no atendimento de crianc;as surdas pode
abrcmger dais niveis, usando a terminologia de Kiguel (1990, p.25) 0 prirneiro e a
nive! preventivo e 0 segundo 0 nivel curativo. No nlvel preventive e psicopedagogo
3tur:lra junto a escola, a comunidade e outros profissionais que trab:J~r~m com a
cri':mc;a, orientande sabre as eondiyoes adequadas para a aprendizagem, bern como
trazendo inform3\.6es sabre a aprendizagem da crianya surda. No segundo nivel 0
psicopr::dagogo fara a diagnostico da situac;ao do paciente em relac;ao aaprendizagem e 0 tratamento psicopedag6gico propriamente dito.
o psicopedagogo que trabalha com crianc;as surd as precisa buscar
conhecimentos especificos sobre a surdez, tipos de perdas auditivas, metodos
educaeionais, lingua de sinais, inclusao e outros que se fizerem necessarios.
2 P31COPEDAGOGIA
Como 0 ser humano aprende? Quais as relac;oes entre a bio-psico-social na
aprendizagem? E quando a crianc;a nao consegue 8prender ccterminados
conteudc>s, a que esta acontecendo? Como uma crianc;a surda aprende? Estas sao
algumas questcSes presentes no campo de estudos da psicopedagogia.
A psicopedagogia surge para atender a grande demanda que existe para
compreende:f a aprer.dizagem humana. Em uma sociedade onde 0 "saber" ocupa um
lugar pri'vilegiado e onde este "saber" esta vinculado a propria subsi3tencia do
homem
o fracasso na escolaridade traz conseqCtencias que se reflet!rao em primeiro
lugar no proprio individuo provocal1do baixa auto-8stima e tambem dificultando
posteriormente 0 aces so deste sujeito ao mundo do trabalho.
No caso de crianyas surdas, hit um grande cal"llpo a ser desbravado,
investigado e pesquisado sobre 0 processo de aprendizagem das mesmas.
Neste sentido a psicopedagogia poderit utilizar seus metod os e instrumentos
para investigar e tratar as dificuldades de aprendizagem de crianyas surdas.
Bossa cita Golbert (1985 p.13) e afirma que:
o objeto de estudo da psicopedagogia deve ser entendido
a pattir de dois enfoques: 0 preventivo e 0 terapeutico. 0 enfoque
preventiva considera 0 objeto de estudo da Psicopedagogia 0 ser
humano em desenvclvimento, enquanto edvcavel. Seu objeto de
estudo e a pessoa a ser educada, SeL!S processos de
desenvolvimento e as altera90es de !ais processos. Focaliza a
possibifidade de aprender, num sentido amp/a. NaG jevA se restringir
a oma 50 agencia como a esco/a, mas ir tambem a familia e a
comuflidade. Podera esc/arecer, de forma mais au menDs
sistematica, a plOfessores. pais e administradores sobre as diferentes
etapas do desenvo/vimento, sobre 0 progressu nos processos de
aprendizagem, sobre as condiQ6es psicodinilfnicas da aprendizagem,
sobre as condi96es determinantes de dificuldade de aprendizagem. 0
enfoque terapeutico considera 0 objeto de estudo da psicopedagogia
a identific3rytJO, analise, elaboraryao de lima metod%gia de
diagn6stico e (ratamento das difiCLIldades de aprendizagem"
Bossa (2000, p.19-20) Gita varios autores brasileiros e argentinos que estudarn
:;I psicopedagogia e mostra que existe um consenso sabre 0 objeto de estudo da
psi:opedagogia que e a aprendizagem humana. No ent:;lnto a concepgao sobre a
qu~ E: aprendizagem mud a de acordo com a visao de homem que cada um deles
tern.
A pratica clinica do pSlcopedagogo esta fundamentada em diagnosticar e tratar
problemas de aprendizagem utilizando instrumentos e tecnicas proprias da
PsicopedagogiCl.
A psiccpedagogia clinica procura compreender como as processos cognitivos,
E:mocionais, socinis, culturais, organicos e pedagogicos interferem na aprendizagem.
2.1 FUlldamental):30 teerica da psicopedagogia
E necessaria que a psicopedagogo tenha uma base te6rica que fundamente
sua pratica. Sendo um curso de especializag8o, encontramos psicopedagogos com
diferentes formagoes de gradua<;:ao: psic6logas, pedagogos, fonoaudi6logos,
te.apeutas ocupacionais, musicoterapeutas e outros. No entanto a objeto central e a
aprendizagem do ser humanC'.
Existe en!80 uma contribuigao de diferentes ciencias na formar;:8o do corpo
teo rico da psicopedagogia.
A forrnar;:ao rio psicopedagogo procura abranger os aspectos neuml6gicos,
psico!6gicos e cognitivos da aprendizagem e tambem 0 meio em que este individua
se encontra (familia, escola au soGiedade).
Grande parte di3s teorias que embasam a psicopedagogia veia da psicologia ou
da pedagogra. No entanto coma afirma Bossa (2000 p.25). "Essas duas areas nao
sao suficientes para apreender 0 objeto de estudo da psicopedagogia, 0 processo de
aprendizagem e SUi3S variiweis assim recorre-se a outras areas, como a filosofia, a
neurologia. a sociologia, a lingOistica e a psicanalise para alcan<;ar uma
compreens2Io desse processo"
Quais seriam entao estes conhecimentos que a psicopedagogio ;Jrecisa se
apropriar para ter urn embasamento te6rico?
Bossa (2000, p.26) descreve uma sintese das ciencias que tem trazido as
maiores contribui<;oes no campo te6rieo e pratieo, ela aponta:
"A Psica.'lalise encarrega-se do mundo incollsciente, das
representar;Oes profundas ., permifindo nos levar em cOl/fa a face
desejanle do homem".
A psicologia Social encarrega-se da constitui~ao do sujeilo que
responde as rela~6es familia res, grupais e inslitucionais, em
condi<;:oes sociocullurais e econOmicas especificas e que contextuam
toda aprendizagem
A epislemologia convergenle e a psicologia genetica SI:: encarregam
de analisar e descrever 0 processo construtivo do conhecimento pelo
sujeito em intera<;:ao com os oulros e com os objetos.
A lingOistica traz a compreensao da linguag~m como t m meio que
caracterizam 0 tipicamente humano e cultura!. a lingua enquanto
c6digo disponivel a lodos as membros de uma sociedade e a fala
como fen6meno subjetivo, evolutivo e historiado de acesso a
estrutura simb6!ica
A pedagogia contribui com as diversas abordager.s de ensino
aprendizagem.
Os fundamentos da neuropsicologia possibilitam uma compreensao
dos mecanismo$ cerebrais que subjazem ao aprimoramento das
atlvidades mentals, indicando-nos a que correspcndeilo, do ponto de
vis;a organico, lodas as evoluc;:Oes ocorridas no plano psiquico"
Como se va, diferentes ci€mcias tem trazido contribui<;oes valiosas
Psicopedagogia.
Na pratiea eliniea preeisamos lan9ar mao destas teorias para ter uma
compreensao adequada do sintoma apresentado pelo paciente.
Por muito tempo a "fracasso escoJar" foi atribuido a causas organicas, ou
psicoJ6gicas ou so:iai5. Valorizando-se um dos aspectos de acordo com as
tendencias pedag6gicas ou palfticas.
HOje podemos iderltificar uma tendencia que engloba fatores bio-psico-sociais.
2.2 Diagnostico psicopedagogico
Fazer um diagn6stico e fazer uma investigac;:ao, uma pesquisa sobre 0 sintama
a queixas apresentado pelo illdividuo.
Aspectos abordados em uma ;)valiayao psicopedag6gica
Aspectos organicos
Segundo l'Veiss (2002, p.23)
"as aspectos organicos estao relacionados a construyao
biofislol6gica do sujeito qUI; aprende. Alterayoes nos 6r903oS
sensor:ais Impedirao au dificultarao 0 2cesso aos sinais do
conhecimento. A constrUl;ao das estruturas cogr~oscitiva!3 se
processa num ritmo diferente entre individuos norma is e os
portadores de deficiencias sensoria is, pois existirao diferenyas nas
experi~ncias fisicas e sociais vividas."
No caso de crianyas surdas pode haver urn atraso no desenvolvimento da
linguagem Jevando a dificuldades de aprendizagem.
As,:.ectos cognitivos
Sao os aspectos que estae ligados ao desenvolvimer.to e funcienamente das
estruturas cognoscitivas em seus diferentes dominies, Incluindo nessa grande area
estau tambem os aspectos ligados a memoria, atenc;:ao, antecipac;:ao e outras.
Kiguel (1997, p.28) apanta as estudos de Piaget mastranda que a inteligencia
passa par proces8os de estruturac;:ao continua, desde os primeiros esquemas
motores ate 0 pensamento hipotetico de adulto.
o primeiro perfodo cognitiv~ sens6rio motor e caraeterizado pet a organizaC;ao
das primeiras estruturas basic2s de espac;o, tempo, causalidade. Que e organizada
a oartir da aC;ao da crianc;a sobre os objetos. Este periodo acontece entre 0 a 24
meses.
Com 0 apareeimento da func;ao simb6liea, a partir aproximadamente dos dais
anos, novas possibilidades eognitivas se desenvoivem. A cri,;lnc;a comec;a diferendar
um significaco (objeto) de seu signifieante (simbolo), permitindo assim uma
crganizat;:ao mai~ eornplexa, a construc;ao de formas de representac;ao da realidade,
tais como a linguagem oral, a imitac;ao, a dmmatizac;ao e 0 jogo que sao
il1stn Imento~ da crianc;a para compreensao da realidade. Este periodo e chamado
de Pr8-operat6rio e vai dos dais aos sete anos aproximadarnente.
Aos sete anos comec;a urn novo estagio denominado de periodo das operac;oes
logieo-concretas e vai ate aos 11 anos. Neste periodo acontece a relJersibilidade
cognitivGl, ou seja, a capacidade de realizar operac;oes (ac;oes menta is reversiveis a
nivel concreto. Neste periodo as estruturas de seriac;ao, classificaC;ao, conservac;ao
de substancias e peso faGiHta a compreensao da !eitura e escrita, a iniGiac;ao
matematica e de outras relac;oes logicas).
Ja no inicio da adolescencia inici2-se uma nova fase na evoluc;ao do
pensamento. este periodo denomina-se operatorio formal. 0 adolescente consegue
levantar hipoteses, testa-las, canferi-Ia au nega-Ia a nivel abstrata.
De acordo com estes pressupostos, so e possive! aprender aquilo que as
estruturas cognitivas permitem.
E fundamental que 0 psicopedagogos conhec;a as eta pas do desenvotvimento
cognilive para melhor compreender a processo de aprendizagem.
Algumas dificuldades escolares estao ligadas a disturbios cognitivos como:
lentidaa l1a cxecu9ao das tarefas escolares, dificuldades em matematica e
dificuldades gramaticais.
10
Asp~ctos emosionais
Weiss (2002, p.23) clescreve que 0 desenvolvimento afetivo esta
relacionado a construc;:ao do conher,imento e podemos observar esta Iigag80 atraves
da prOdUy2C escolar.
Muitas vez€s 0 nao aprender pode ser urn sintoma de um relacionamento
fc;miJiar problematico.
Segundo Kiguel (1990, p.27) " Integridade afetiva e uma das condi,6es basicas
para a aprendizagem ". A autora descreve as principais problemas de aprendizagem
encon!racos decorrentes de problemas emocionais: irriquietude, excitaCYElo e
desa.tenc;:ao,bloqueias e ma estruturacyao da memoria, dificuldade de planejamento,
dificuldades para S8 organizar com as tarefas de casa, dificuldades para associar
co~)hecimentos , agressividades e problemas de relacionamento.
Aspectos socia is
Todo sujeito esta inserido ern urna sociedade, nasceu ern urna farni!ia
freqUenta uma esmla. Vygotsky citado por Kohl (1990, p. 38) exp6e que 0
funcionClmento pSicol6gico tern suas bases nas relac;oes socia is que 0 individuo faz
corn 0 mundo externo. Para Vygotsky 0 desenvolvimento do individuo acontece
dBlltro Ije urn ambiente social e atraves da intermediaC;8o de outros seres humanos.
Aspectos pedag6gicos
Weiss (2002, p. 24) afirma que muitas vezes as dificuldades de aprendizagem
sao uma 'formac;~o reativa" e estao ligadas a metcdologia inadequada para
deterrninado aluno, a forrna de avalia9ao, a divisao das turmas, a dosagem de
informa90e:s, a org3niza9aO gerai.
No case de surdos que freqOentam 0 ensino comum os aspectos pedag6gicos
tem uma relev~ncia ainda maior.A maior parte das eseolas nao esta preparada para
reeeber um aluno surdo, as eondi90es sao as mats adversas.Os professores rao
estao preparados, nao tiveram uma formaC;ao para isto e liao eonseguem se
eomunicar adequadamente, a avaliac;ao nao tern criterios difereneiados que
respeitem as diferenc;as IingOisticas dos surdos.
11
.'2:.3 Instrumentos de Avalia~ao para 0 Diagnostico Psicopedagogico
Para Cluxiliar no diagnostico dos problemas de aprendizagem da criant;:a surda
a psiccpedagogo podera desenvolver os seguintes procedimentos:
1. Anamnese· atraves da anamnese 0 psicopedagogo levantara a historia de
vida do paciente. Weiss (2002 p.66,67) aponta algumas areas a serem
investigadas durante a anamnese. A evoluc;;ao geral do paciente, a hist6ria
clinica, a historia das primeiras aprendizagens, a historia familiar e a historia
escolar.
No caso de crianyas surdas a anamnese devera conter informat;;:6es
especlfica~ sabre a causa da surdez, 0 tipo de surdez, 0 grau da surdez e 0
usa de protese. (anexo 1)
2. Amil!se do material escolar do aluno . atraves da analise do material
escolzr 0 psicopedagogo podera verificar a metcdologia usada pela escola
e como E:0 vinculo do paciente com os contelldos escolares.
3. Cantata com a escola - at raves de visita ou por melo de um questionario;
4. Observacao do desempenho em situacao de aprendizagem; observar a
criant;;a e-m :..Ima situa<;ao de aprendizagem, como reage, linguagem nao
verbal. rea<;oes do corpo, fala espontanea.
5 . .A.vaiiac~o de nivel de pensamento - atraves das provas do diagnostico
operatorio, que sao situa<;oes experimentais formuJadas por Piaget.
6. Aplicacao de testes pSicometricos especificos
a. Tambern podemos citar as testes wise III, RAVEN, H. T. P .. Estes
testes 56 podem ser aplicados par psic6logos.
b E.O. C. A. (Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem)
12
c. Tecnicas projetivas
d. Tee;nicas de relatas - TAT teste de apercep9ao tematica.
c. Grafisrnc; desenho livre, desenho da farrilia.
7. Provas lJedagogicas
o psicopedagogo aplicara provas pedag6gicas, avaliando a leitura, escrita,
conceitos matematicos e outros que se fizerem necessarios.
8. Solicitayao de exames complementares (psicoI6gicQ, fonoaudiol6gico,
neurologica, eftalmalogieD, audiometrico).
Integrando estes resultados a psicopedagogo levantara as areas de
competencia e de difiGuldade do paciente.
A compreensao dos fatores etio16gicos e emocionais envolvidos no problema
leva 0 psicopedagogo a determinar quais sao as prioridades do tratamento.
Muitas vezes sera necessaria priorizar 0 atendimento emocional (psicoterapia)
au faze··lo simult2lnea au posteriormente ao tratamento pSicopedag6gico
DelJois de feita a avaliac;:ao a psicopedagogo fara a devolutiva dos resultados a
familia, ao paciente, a escola e outros profissionais que estejam envolvidos no
tratamento da criang3.
A postura do psieopedagogo tambem tern lim papel fundamental para 0
processo terapeutico.A forma como ele prepara 0 consultorio (ambiente acolhedor.
as cores, a disposic;:ao dos moveis, a limpeza e conservac;:ao, como acolhe 0
paciente, a familia, como faz as retomos telef6nicos, assiduidade e pontualidade dos
atendimentos. privacidade do lugar) serao aspectos que influenciarao no processo.
2.4 Tratamento psicopedagogico
A intervenyao terapeutica ja comec;:a no primeiro contato com 0 paciente.Segundo
Weiss (2002, pA1) no momento em que a familia busea ajuda, seja
esponta:1camente au porque houve uma solicitac;ao da escola, ela jil esta agindo em
relac;:ao ao problema e isto pode significar 0 inrcio de uma mudanrya;
13
Segundo Sara Pain (1986 p.72):
(".) "0 tratamento psicopedag6gico comer;a com a primeira
enlrevista diagnostica, ja que 0 enfrentamento do paciente
com sua pr6pria realidade, realidade esta que provovelmente
nunca precisou se organizar em forma de discurso, a obriga a
uma serie de aproximac6es, avanr;os e retroc€SSOS
mobilizadores de urn conjunto de sentimentos contradit6rios.
Os poucos assinalamentos realizados pelo psic61ogo para
orientar 0 motivQ da consulta e a hist6ria vital, bern como as
pergunta5 destinadas a confirmar ou descartar hip6teses
plausiveis, chegam a ser para 0 paciente descobertas
deslumbrantes e desencadeadoras de Lima serie de
lembranc;as e de esquecimentos injustificaveis""
Num primeiro momenta 0 psicopedagogo fara ° diagnostico, que e uma
investigay80 da queixa trazida pelo paciente, pela familia ou pela escola.E num
segundo momento fara a interveny<3o, de acordo com os dad os coletados dUlante a
avaliRyaO diagn6stica.No entanto 0 pSicopedagogo nao abandonara sua atitude de
investigay030 durante a fase de intervenyao
Segundo Bossa (2000, p. 67)
"Na I·ela<;:ao com 0 aluno, 0 Psicopedagogo estabelece uma
investlga<;:ao cuidadosa, que permite levantar uma serie de
hip6tese3 indicadoras das estrategias capazes de criar a
siluacao terapeutica que facilite uma vincula<;:ao satisfat6ria
mais adequada para a aprendizayem. Ao lado deste aspecto
mais tecniCO, 0 pSicopedagogo tambem trabalha a postura, a
disponibilidade e a rela<;:ao com a aprendizagem. a fim de que
o aluno torne-se 0 agente de seu processo, aproprie-se do
saber, alcan<;:ando autonomia e independencia para construir
seu conhecimento e exercitar-se na tarE'fa de uma correta
aulovaloriza<;:ao."
o tratamento psicopedagogico tem um objetivo a ser alcanyado: a eliminayao
do sintomt:i. Bossa (2000, p.107) afirma que per haver esta especificidade 0
psicope.dagogo desenvolve com 0 paciente um relacionamento atraves de atividades
bem definidas.A escolha destas atividades nao pode ser feita com .base em pressoes
internas, 0 profi:3sional muitas vezes tenta ser imediatista, quer ver resultados
o.",,,,<,IOAU[ )'0-
!~ I1IBlIOTECA ~\ ~ld'.,;,1,.,\";' ,,~,\s."\"'
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14
rapidamente, nao consegue fazer uma leitura adequada das atitudes do paciente,.O
psicopedagogo nao e urn professor particular. Geralmente pais que procuram
atendimentos psicopedagogicos ja fizerarn uma peregrina<;ao aos orofessores
particulares nao obtendo os resultados desejados. Tarnbem existem as press6es
externas, as pais e a escola, que desejam ver os problemas resolvidos, se
preocupando 56 com a desempenho escolar, as notas do boletim. ~ importante que
o psicopedagogo consiga nao ceder a estas pressoes, pOis seu trabalho visa 0
crescimento do paciente, sua autonomia.Trabalhamos para gerar a autonomia e naG
3 dependencia.
Segundo Sara Pain citada par Bossa (2000, p.108) existem algumas tecnicas
que pre(;isam ser adotadas: organiz3~ao previa dCiS atividades: gradua<;ao das
dificuldades das tarefas; auto - avalia~ao de cada tarefa a partii de certa finalidade;
histor:cidade do processo, para que 0 paciente possa reconhecer sua Irajet6ria no
tratal!lentu.
Cuppolillo (1990, p.112) des creve tres fases de um atendirnento terapeutico: 0
inicio da terapia, a fase intermediaria e 0 terminG do tratamellto.
No fase iniciaJ 0 principal objetivo a ser trabalhado e a vinculayao terapeutica
entre 0 ~9ciente e 0 psicopedagogo. Coppolillo (1990, p.212) enfatiza que eimport::lnte que 0 paciente atinja um certo grau de bemMestar que 0 permita ser
produtivo durante as sess6es. Nao existe um tempo exato para que isla acontecya,
pode ser uma fase rapida ou bem demorada. Depend era de uma serie de falores
que envolvem G psicopedagogo e 0 paciente.
A rela9aO entre 0 psicapedagago e a paciente muda com 0 passar do
tralamento, eles 5e tornarn mais familiares. Tambem comecyam a haver 2ssuntos
inacabados de um atendlmento para outro ou en tao 0 paciente quer dar
continuidade a tarefas desenvolvidas no atendimenta anterior all quer repctir as
lneSl11aS tarefas.
Comeya entao uma fase intennediaria no tratamento onde 0 sintoma sera
trabalhCldo especificamente, atraves de estrategias proprias de acordo com cada
paciente.
15
Urn instrumento terapeutico valioso e da maior importancia e 0 j090.
Fernandez (1990, p. 165) afirma que e no jogo que 0 individuo constr6i seu
conhecim8nto, naG propria mente no ato de j09ar, mas no processo que ele
desencadeia.
Segundo a visao de Bossa (2000, p. 112) "Todos os jog os tomados como
referencia ao campo da aprendizagem dizem de como a crianga aprende, que Co is as
aprende, qual 0 significado do aprender, como ela S8 defende do objeto do
conhecimento e que opera90es menta is utiliza no jogo"
CClbe ao psicopedagogo a escolha dos j0905 a serem utilizados durante as
atendimentos, analissndo qLlais sao as objetivos a serem alcangados atraves deles.
Alem dos j0905 0 psicopedagogo fara atividades, exercicios especificos para
corriGir as dificuldades que a crian<;:aencontra.
Uma vez que a crian9Gl supera suas dificuldades de aprendizagem e pade par
si mesmc:l buscar recursos para veneer suas limita<;:oes, chega a momenta do
ter~lino do tratamento.
Infelizmente muitos tratamentos sao interrompidcs par uma serie de fatores
citados por Coppolillo (1990, p.267 -273), mudan<;as de endere<;o, dificuldades
financ6iras, no caso de pacientes que sao atendidos par estagiarios que terminam
sua formayc3o e nao podem mars continuar a tratamento, pais que desejam
resultados imediatos, criancas que resistem ao tratamento e outras.
Segundo Coppolillo (1990, p.266) "0 termino do tratamento e uma vil6ria para
crianya e para a terapeuta"
3 SURDEZ
o conceito sobre "surdez" vem sofrendo mudan<;as. Skliar (1998, p.184) cita
que estudos antropol6gicos, sociol6gicos e lingUisticos vem trazend0 uma nova
abordagem sabre a que e surdez.
Skliar (1998, p. 189) expressa que para 0 modelo medico, a surdez e abordada
tradiclonahner Ite como uma deficiencia. 0 surdo e vista como uma "orelha daente"
16
que precisa ser reabllitadc e corrigido.A meta e torna-Ie "normal", e 0 principia da
no,rnaliza9<3o, da hegemonia.
As cOnlunidades surdas querem redefinir a surdez como sendo uma diferenc;:a
e n3.0 uma deficiencia. Defendem que as surdos tern uma cultura propria, uma lingua
propria e devem ser vistas como uma diversidade cultural ou uma minoria lingUistica.
De acordo com 0 BRASILIMEC/SEESP (1994), e considerado surdo 0
indivlduo que passu; audiy2lo nao funcional na vida comum, e parcialmente surdo
a'luele que, mesmo com perda auditiva, passu; audi<;:<3o funcional com au sem
protese.
Oe acordo com 0 Censo 2000, 24,5 milh6es de pessoas apresentam algum tipo
de inC<393Cidade. Desse total, 16,7% sao deficientes auditivos, au seja, cinco
milh6es de individuos, e destes 176.067 sao incapazes de ouvir, considerados
surdos, co.'ll perdas severas e profundas.
Kirk (1987, p.230) faz uma distinvao na surdez, quanto ao tempo em que ela
aconteceu (1) surdez pre-lingua.l referindo~se aos individuos que nasceram surdos
ou que perderam a audic;:ao antes de lerem adquirido a fala (2) surdez p6s-lingual
referindo-se aqueies individuo5 que perderam a aUdivao ap6s 0 desenvolvimento da
fala. Criancyas com surdez pre-lingual apresentam m2;ores problemas na aquisic;ao
da linguagcm e di:l fala.
A surdez tambem pode ser classificada de acordo com a sua localizacyao e tipo
de alterac;ao. De acordo os crilerios de Davis e Silverman, 1966:
• Perda conciutiva: Qualquer interferencia na transmissao
do sam desde 0 conduto auditivo externo ate a orelha interna (c6clea). 0
0uvido interr:o tern capacidade de funcionamento normal, 1T1aSnao e
estimulada pela vibrac;aa sonora. Esta estimulacyao podera ocorrer com 0
aumento da intensidadc do estimulo sonora. A grande maioria das
deticiencias auditivas conciutivas pode ser corrigida atraves de tratamento
cllnico ou cirlirgico.
• Perda Neurossensorial ou Sensoria-Neural: Ocorre
quando h<i uma impossibilidade de recep9ao do som por lesao das celulas
17
ciliadas da c6clea ou do nerVQ auditivo. Os limiares par condw;<3o 6ssea e
par conduC;E1o aerea, alterados, sao aproximadamente iguais. A
diferenciac;ao entre as les6es das celulas ciliadas da coclea e do nervo
aUditivQ 56 pode ser feita atraves de metodos especiais de avalia<;:ao
auditiva Este tipo de deficit§ncia aLJditiva e irreversivel. Um exemplo e a
deficier.cia auditiva causada pel a tvleningite.
• Perda Mista: Oeficiencia Auditiva Mista: Ocorre quando
ha uma alterac;:ao na conduc;ao do som ate 0 6r9ao t::=rminal sensorial
aSSDciada a Iesao do 6r93o sensoriai au do nerv~ auditivo. 0 audiograma
mostra geralnlente limiares de conduc;:ao 6ssea abaixo dos niveis normais,
embora com comprometimento menes intenso do que nos limiares de
cor:dU9.30 aerea.
Perda Central: Deficiencia Auditiva Central, Disfun980
Auditiva Central Ou Surdez Central: Este tipo de deficiencia auditiv3 nao 8,
rlecessaric::mente, acompanhado de diminui9ao da sensitividade auditiva,
mas manrfesta-se por diferentes graLis de dificuJdade na compreensao das
informa90es s~noras. Decorre de altera90es nos mecanismos de
processamento da informa9.3o sonora no tronco cerebral (Sistema Nervoso
Central).
Quanto ao Grau de Comprometimento a deficiencia auditiva E: verificada por
meio de testes onde sao obtidos as limiares tonais, utilizando urn instrumento,
chamado de Audi6metro. Esses limiares tonai::; correspondem a menor
intensidade de som que 0 individuo consegue oLJvir e sao medidos em dB l\.A
(cecibeis, nivel de audi<;ao).
Kirk (1987, p.235) enumera que as principals causas da surdez sao'
hereditariedade, rubeola materna, nascimento prematuro, incompatibilidade
sanguillea entre a mae e a crianga, otite media e meningite.
3.1 Graus de perda auditiva
De acordo com Kirk (1987, p. 233)
18
Nivel da perda Implica90es na educaryae
Leve
Moderada
i ,Intensidade do _som
I para a percepr:;:ao
! 27 -40 decibels
I
41-55 decibels
Severa
Moderadamente 56-70 decibeis
71-90 decibels
91 decibeis ou mais Pode perceber sons altos e vibrar:;:oes.
LJenfia mais na visao do que n~ audicao para
rocessa( as informar:;:oes. E considerado
urdo.
'-----
grave
Profunda
Pode ter dificuldades em ouvir sons
distantes. Pode precisar sentar-se em !ugar
preferencial e de terapia da fala.
Compreende a fala de uma conversa. Pode
nao acempanhar discussoes em classe.
Pode precisar de aparelhos auditivos e
terapia especial
Precisara de aparelho auditiv~, treinamento
intensive em fala e linguagem.
Consegue ouvir so mente sons proximos. As
vezes e considerado surdo. Precisa de
educar:;:ao especial intensiva, apal elhos
auditivos e treinamento ern fala e linguagem.
A audi<;30 normal e de 0 a 25 decibeis.
Para determinar 0 nivel de audir:;:ao de urn individuo sao necessarias duas
medidas, a frf.!qOencia e a intensidade
Freqlh~ncia - e 0 numero de vibrar:;:oes (ou cielos) par segundo de uma
onda sam: quanto maior a freqOencia maior sera a altura do som E medido
em hertz (Hz).
Intensidetde - e 0 volume relativo de um som. E medide em dB (3PL)
"
3.2 EdL!C3'Yao dos surdos
.Il.. educa~ao de crianc;as surdas S8 desenvolveu ern diferentes direc;oes de
acordo com filosofias educacionais vigentes ern cada periodo.
Para termes uma melher compreensao do assunto, e necessaria fazer uma
breve revisao hist6rica da educ3C;80 dos surdos.
Sacks (19gB) relata que ate 0 final do seculo xv nao havia escolas para
surdo5, estes eram mnrginalizados e considerados debeis. Em mead os do seculo
XVI, Giro/ana Cardena propos urn conjunto de principios para educar 0 surdo, esta
metodologia consistia em urn grupo de simbolos graficos au combinac;oes de
simbolos associados a objetos au fjguras que 0 representassem.
i\la Espanha do 38culo XVII surgem as primeiros professores de ~urdos. Urn
dos mais notaveis foi Ponce de Leon (1520-"i584),
E= assim, no inicio de 1555 surge a educa9ao oral para crian<;as surdas.
Crianyas que cram filhos de nobres aprenderam a falar e a ler para se tornarem
heldeiros legit:mos de suas heran9as
Erp 1620, Bonnet publica 0 primeira livra sobre a educa9ao de surdos, onde ele
plop6e 0 ensino do alfabeto manual. Ele sugere que as pessoas envolvidas na
E:ducayao do surdo deveriam dominar 0 a/fabeto manual.
Em 1756, Abbe de L'Epee cria em Paris a primeira escola para surdos, a
filosofia da esco/CI e bilingOe, ou seja, manualista e oralista. A obra do Abade de
L'Epee foi exteflsa, ele treinou muitos professores para surdos. Sua metodologia
consistia em uma combinay8.o da !!ngua de sinais com a gramatica francesa
traduzida em sinais possibilitando aos surdos escrever tendo a auxilio de urn
interprete. Assim os surdos podiam aprender a ler e a escrever. Em 1789, os
professores treinados par L' Epee, ja haviam criado vinte e uma escolas para surdos
na Europa.
20
~a Alemanha, Unl militar Samuel Heinicke(1723-1790), come.;:a a desenvolver
as bases da educa<;:c3ooralista, dando um grande valor a fala. Heinicke acreditalJa e
divuJgava que "sem palavra naD a humanidade". Suas teorias baseadas na "seI8<;:o3o
r~atural das especies" S8 8spalheu pela ELlropa e pelas Americas.
E:.m 1817 no.3 estados Unidos, Thomas Hopkins Gallaudet, com Laurene Clerc,
funuaram um asilo Americana para educ8<;c30 dos surdos. Este asilo S8 transforrnou
na atual Universidade Gallaudet, universidade de surdos. Gallaudet usava ~ lingua
de sinais para alfabetizar os surdos.
Em ~880 ne Congresso de Milao, que reuniu professores ouvinte~ P. surdos da
Europa e dos Estados Unidos, a l1ngua de sinais foi depreclada e proibida. Segundo
Skliar (1997), esse congresso nao contou corn a participa9aO dos surdos, e as
professores surdos forarn excluidos da vota9ao. A partir deste congresso come9a
uma nova corrente na educa9ao de surdos, 0 Oralismo.
Sanches(1993, p.33) relata que fez urn estudo rninucioso sobre a historia dos
surdos, ele descreve a Oralismo como uma tentativa de" rnelhoramento " da ra<;a
humana, baseados na filosofla da Eugenia ( ciemcia que estuda 0 aperfei<;oamento
do. raya humana) . A ideia era tarnar 0 surdo invisivel na sociedade, e que abolindo a
lingua de sinais, os surdos se tornariam "seres norma is"
Ao contrario do que imaginavam os oralistas, os surdos perderam a capacidade
de ~e cornunicarern e isto trouxe atrasos no desenvolvimento da linguagem,
pensar.1ento abstrato e do raciocinio.
Durante 100 an os prevaleceu 0 que se chama de "Imperio Oralista", 56 em
1971 No Congresso Mundial de surdos ern Paris que a lingua de sinais foi
novamente valorizada. Neste congresso tambem foi discutido sobre as pesquisas
feitt=ls nos EUA sobre "Comunica<;ao Total".
Em 1981, pesquisas realizadas na Suecia e Dinamarca alem dos estudos de
Danielle Bouvet em Paris come9aram a trazer urn novo enfoque a educa;:ao dos
surdos, 0 BilingOismo.
21
Atualmente a filosofia Bil1ngOe tern se difundido no mundo. Na Venezuela todas
as Esc:olas Publicas de surdos substituiram 0 oralisrno pelo bilingOisfllo. Na Suecia 0
bilingOismo tern suporte governamental.
No Brasil a Lingua de Sinais foi reconhecida oficialmente en I 2002, Lei n
10.436 garantindo os direitos linguisticos da comunidade surda (anexo 2).
A esc rita da lingua de sinais a Singwrinting tambem vern sendo divulgada e
muitos estudos veem sendo feitcs sabre as suas apJicayoes na educayao de surdos.
(anexo 3).
A,,)8sar das diferentes opini6es qUE: dividem e subdividem as metodologias
especificas ao ensino de surdos, em termos de pressupostos basicos, existern tres
grandes correntcs filos6ficas: 0 Oralismo, a Comunicag<3o Tutal e 0 BilingOismo.
Oralismo
9ri!o (1993, p.27) descreve 0 oralismo como uma filosofia educacional que
defende 0 aprendizado da lingua oral, com 0 objetivo de aproximar 0 surdo do
modelo ouvinte, para que assim possa haver Lima integra9<30 social. Dentro desta
abordagem a lingua de sinais nao e bern vista. Em muitas escolas oralistas a lingua
de sinais e proibida. Existem muitas relatos onde a lingua de sinais era e e
ridicularizada, a crian9a sao denaminadas de "macacos" casa fa9am usa dos sinais.
Em out~as escolas a lfngua de sinais e ignorada ou toJerada.
Dentro desta fiiosofia 0 mais import3nte e a oraJizat;ao do surdo. Existem
metodos pr6prios para desmutizar;;:ao. No entanto encontramos urn grande grupo de
surdos que ape$ar das infinitas horas passadas dentro dos consultorios nao
consegUlram se oralizar.
Existe tambem uma questao que envolve a identidade dos surdos. Surdos qLJ8
frequentar8m escolas oralistas muitas vezes nao conseguem aceitar sua surdez.
Estao er,tre dois munlios, nao sao ouvintes e tambem nao aceitam sua condi9ao de
surdez.
Skliar (1998, p.15)
"0 Oralismo foi e segue sendo hoje.em boa parte do mundo.
uma ideologia dominante denlro da educa~ao do surdo. A
!~.i," Q'eyl!)!f,~.~)"~p 1"'<...~--..-
concep9c1.o do sujeito surdo ali presente refere
exclusivamente uma dimensao clfnica - a surdez como
deficiencia. os surdos como sujeitos pato16gicos - em uma
perspectiva terapeutica. A conjun9ao de ideias clinicas e
lerapeuhcas levou em primeiro lugar a uma transforma<;ao
historica do espa90 escolar e de discussoes e enunciados em
contexlos medico-hospitalares para surdos ~
Comunicayao Total
Segcndo Brito (1993, p.46) a Comunicagao Tot,,1 e 0 uso simultalleo da fala e
da Uflgu~ de Sinais. Para esta autora esta pratica e inadequada, pois os
itens1exicais, a morfologia, a sintaxe e semantica usam freqOenremente movimentos
bucr.is que sao incompativeis com a pronuncia das palavras da lingua oral.
A Comunicayao Total e 0 emprego de diversas fcrmas de comunicay3o, sendo
as~im, se utiliza a fala, a leitura labial, a lingua de sinais, 0 portugues sinalizado. 0
a!fabeto manual, a aUdiyao residual, a leitura e a escrita dentro de varios contextos.
BilingOismo
Segundo Brito (1993, p.53) 0 BilingOismo, defende 0 aprendizado da lingua oral
(no Brasil e a lingua portuguesa) e da lingua de sinais, Libras (lingua brasifeira de
sinais);
Esta abordagem defende que a primeira lingua da crianya surda deve ser a de
s!nais, e esta deve ser aprendida 0 mais cedo possivel; e a segunda lingua e aquela
usada pelo grupo majoritario.
Existem tambem varios modelos Bilingues, nao existe urn modelo universal.
Cada pais reflete na educayao vigente, sua historia e sua politica,
conseqOentemente as metodologias de ensino sao urn produto socio-histOrico.
Precisamos desenvolver de acordo com nossas especificidades nos so modelo
BilingOe.
Z3
(\]0 entallto educacionalmente podemos encontrar duas abordagens dentro do
bilingLijsmo. E sao elas:
Bi!ingUismo sucessivQ, inicialmente a crianga 56 tera cantata com Zl lingua de
sinais e posteriormente sera introduzida a lingua na forma escrita. Este modela eutilizado na Venezuela e Suecia.
Bilinguismo sirnultaneo, as duas Ifnguas sao apresentadas simultaneamente
a lingLla de sinais e tambem a lingua oral e escrita. EstB modelo e usado na Franga
e parece ser 0 mais adequado para nossa realidade, vista que muitos surdos sao
fill10S de pais Quvintes, que nao conseguirao utilizar plenamente a lingua de sinais
nos primeiros nleses de vida da crianga, alem dis50, as surdos podem des81IVolver a
fala. atraves de metodologias adequadas que respeitem a identidade surda.
Goes (1996, p. 44) descreve algumas experiencias de educa<;ao bilingUe,
algumas inclusive com carater oficial como no Uruguai, na Venezuela e na Suecia,
onde os resultados tem side satisfat6rios.
No entanto a implanta.;:ao de programas bilingOes nao e Simples. Alem de lima
mudan9a fiios6fica sobre como ver 0 surdo por parte dos educadores e da familia e
necessario que os proprios surdos se envolvam.
Brito (1993, p. 49) des creve um modelo de bilingUismo. Para que um bebe
sL.:rdo tenha acesso a lingua de sinais como uma crian9a ouvinte tern a Ilngua oral; e
necessario que os pais apreendam C:I lingua de sinais. No entanto sc:lbemos que uma
lingua nao 5e apreende instantaneamente, e preciso que 0 bebe, a crian9a tenha
contato com urn sur-do adulto. Paralelamente, a crian9a come9aria a apreender a
lingua portuguesa. e a partir dos tres anos, a grande enfase seria a escrita,
valonzando 0 campo visual do surdo
Segundo S'.liar (1997, p.53) a educa<;ao bilingUe tem sua legitimidade visto que
comunidades surdas estao aderindo a sua fiJosofia e tambem muitos professores
ouvintes de su:-dcs.
As comunidades surdas estao defendendo a proposta do BilingOismo
principal mente porque esta abordagem reconhece 0 direito, a aquisi9ao e 0 usa da
lingua de sinais.
24
4 INCLUSAO DO ALUNO SURDO NO ENSINO COMUM
A inclusao de crianr;;::as surdas no ensina comum e urn grande desafio da
educog13o brasileira contemporanea.
De acordo com dados do IBGE 2000 temos no Brasil cinco milh6es de surdos,
destes 50 mil sao alunos do ensina fundamental.
Seguindo tendencias educacionais e politicas mundiais de inclusao, 0 Brasil em
1990 optou pela c:onstruryao de urn modelo educacional inclusivo, assinando a
Deciarar;;::3o de Jomtiem (Tailfmdia) na conferencia mundial sabre necessidades
especiais.
Em '1994 a Oeclara,ao de Salamanca (Espanha) discutiu 0 acesso e qualidade
do ensina para pessoas com necessidades especiais.
Este documento foi assinado par 88 paises, entre eles 0 Brasil, ista foi
fundamental para 0 avar.c;:o da politica educacional da escola inclusiva.
Em 1986 com a nova LOB 9394/96 surge entao a possibilidade da
dernocratizayao de oportunidades educacionais para alunos com necessidades
especiais frequentarern 0 ensino regular.
"Art. 58. Entende~se por educac;ao especial, para efeitos desta Lei, a
Inodalidade de educac;ao escolar, ofereciua preferencialrnente na rede regular
de ensino, para portadores de necessidades especiais".
1. Havera, quando necessario, servic;os de apoio especializado, na escola
,egular, para atender as peculiaridades da clientela de educac;ao especial"
Em abril de 2002 foi sancionada a lei n 10.436 que oficializa a lingua brasileira
de sinais - LIBRAS. Esta lei garante os direitos lingOisticos do surdo para
transmissao de ideias e fatos nao havendo, no entanto, substituic;ao da rnodalidade
escrita da lingua portuguesa.
Outro docurnanto oficial importante e a Porta ria do Ministerio da Educac;ao de
nO 1.679, de 2 de dezernbro que disp6e 0 seguinte artigo 2 na alinea "c";
"Para alunos com deficiencia auditiva: Compromisso formal
da instituir.;:aode proporcionar, caso seja solicitada, desde 0
"
acesso ate a conc!usao do curso, quando necessaria, de
in!erpreles da lingua de sinaisllingua portuguesa,
especialmente quando da realiza9ao de provas ou sua
revisao, complementando a avalia<;;3o expressa em texto
escrito au quando eSle nao tenha expressado 0 real
conhecimento do aluno; flexibilidade na correyao das provas
escritas, valorizando 0 conteudo semimtico; aprendizado da
lingua portuguesa, principalmente na modalidade escrita
(para usa do vocabulario pertinente as materias do curso em
que 0 estudante 8s\iver matriculado): mat,=riais de informayao
aos professores para que esclare<;8 a especificidade
lingUistica do surdon
A indusao do surdo na sociedade e no ensino comum e uma realidade, nao se
pode mais Ignorar este fato.
No campo te6rico e experimental a inclusao e um avanyo educacional e social.
No entanto, pora grande maioria dos profissionais que atuam na area ou mesmo
aqueles que nunca se depararam com a questao e de repente se veem com um
;]luno surdo em sua sala de aula a questao e polemica e desafiadora.
Marchesi (1998, p 216) aponta duas quest6es que precisam ser reanalisadas e
modificadas na inclusao de criantyas surdas no sistema de educatyao comum. A
primeira ~ a de que cada professor deve resolver sozinho a questao da intagratyac
do alunu surdo em sua sala de aula. E a segunda e a de que a escola nao precisa
fazer nellh:Jma modificatyao em seu plano educacional, nao precisa fazer nenhuma
ada::>to.yao. Estes sao dois eqLlivocos cometldos nas escolas e que precisam ser
modifir.ados.
A inclusao l1ao e uma questao individual do professor e uma questao da
esr.ola.
Sem mucalltyas nos projetos pedag6gico3 das escolas e sem apoio tecnico ou
capacitac;:ao dos professores nao teremos inclusao.
Exists um8 necessidade preeminente de formayao de professores que possam
int2rmediar as aprendizagens da crianc;:a surda, em uma turma de ouvintes. Assim
come. e necessaria a atuac;:ao de Qutros profissionais que prestem servic;:os externos
26
de apoio: fonoaudi6logos, pedagogos, lingOistas, psic6logos, psicopedagogos e
autros,
A propria escola precisa criar estrategias para atender os alunos com
necessidadcs espaciais: aulas de reforyo, chamar surdos adultos para participarem
do processo educativo, promover atividades para que surdos e ouvintes fa9am
atividades em comum.
Incluir e mais do que aceitar. Aceitar 0 surdo numa escola de ouvintes nao
mobiliza grandes mudanr;;:as. Para incluir a escola precisa acreditar que todos podelT
aprellder e que 0 surdo pode aprender qualquer coisa.
Nao 56 a escola, mas as profissionais da area da saude e educa<;:ao precisam
tje conhecimentos especificos sabre a surdez e todos as aspectos que a envolvem.
Neste sentido a di'Julga,ao da Lingua Brasileira de Sinais (Libras) efundamental para que os profissionais envolvidos possam atender os alunos surdos
com eficiencia.
Somente com uma visao ampla sabre U surdo, entrando em seu mundo de
siIE!ncio, e que poderemos avan9ar na superac;ao das suas dificuldades
ectucacionais.
A escola regular predsa contar com serviyos de apoio para orientar, informar e
avaliC:lr 0 processo da inclusao.
Sao notorias as dificuldades que a professor enfrenta com a inclusao, desde a
dificuldade na comunic39ao com 0 surdo ate a avaliac;8.o do mesmo.
Denlro deste contexte se faz da maior importancia a atua980 do
psicopedagogo, profissional que investiga as processos de ensino e aprendizagem e
j'lteroge na prevenc;ao e tratamento das dificuldades de aprendizagem que surgem
ao longo da '/ida escolar do aluno.
27
4.1 Relayao entre pensamento, linguagem e aprendizagem da crian9a surda
Investigar sabre na forma98o do pensamento, linguagem e aprendizagem da
r.rianya surda e um tarefa complexa, seja pela Falta de estudos especificos sabre 0
aSSU:1tc au pela ausencia dt:! instrumentos de avaliagc30 especificos para a crian93
surda.
Para Piaget citado por (Fernandes 1996, p 13) a origem do pensamento 16gico,
eu a cap3cidade que a ser humana tem para aprender naQ esta relacionada alinguagem e sim as ag6es sensorio-motoras.
Primeiro, a crianya aplica seus esquemas aDs objetos para 56 depois defini-
los com palavras. Para Piaget a linguagem oral surge ao mesmo tempo em que as
outras manifestag6es da fun<;:Elo simb6lica au de representac;;<3o. Ela comec;:a com
uma fase de balbucio indiscriminado entre os seis e onze meses e evolui para fase
de d~fer€ncia~ao de fonemas a partir de onze e doze meses. Aparecem entao as
primciras palavras - frases que permitem a crian~a manifestar seus desejos e
em090es.Ao finai dos dais anos a crian~a ja esta come'Yando a formular frases . .A..
expressao verbal e 0 reflexo do progresso que esta acontecendo no pensamento.
A conceoCY30 de que a linguagem nao acompanha 0 conhecimento real, ou 0
pensamento parece ser coerente, principalrnente no que se refere as criancyas
surd as. Nao havendo outros comprometimentos associados muitas crianc;as surdas
nao conseguem expressar a que pensam at raves de uma linguagem oral.
Sacks (1999, p,43) cita que criancyas sllrdas filhas de pais surdos que usam
lingua de sinais. comeC;am a usar seus primeiros movimentos intencionais com as
maGS aos seis meses e adquirem Ulna fluencia conslderavel usando lingua de sinais
aos quinze meses. Se compararmos com criancyas ouvintes e a mesma sequencia
de desenvolvimento.
Apesar do pensamento nao depender da linguagem, segundo Piaget existe
uma relaCY30 estreita entre pensamento e linguagem. A linguagem e uma das fOf,nas
de cumunicar os pensamentos.
"
Poca Fernande: (1990, p.108), psicopedagoga Argentina, usando uma
tenninologia piajetlana diz: "uma aprendizagem normal supoe uma modalidade de
aprendizagem na qual S8 produza equilibria entre mDvimentos assimilativQs e as
8.comodativos ".
100 que seriam estes movimentos? Para Piaget, segundo Beard (1978, p. 11),
acomoc:!a~ao e a modific8980 de esquemas como resultado de novas experiE!ncias.
E as~imili:l~ao e a InCorpora93o de novos objetos e experiencias a esquemas jaexistentes.
As dificuldades relacionadas a aprendizagem do surdo estao intimamente
ligadas a aquisi9ao da linguagem, da comUniC8y<3o.
Brito (1993, p.53) afirma "visto na sua globalidade, 0 surdo sem linguagem
apreS€llta, em gera1, disturbios especificos de ordem cognitiva, social e emocional".
Vygotsky tambem estudou a rela930 entre pensamento e linguagem.
Vygotsky citado por Kohl (1997, p.57) afirma que "aprendizado e 0 processo
pelo qU<'l1 0 individuo adquire informavao, habilidades, atitudes, valores, etc. a partir
do seu cont3to com a realidade, 0 meio ambiente, as outras pessoas. E um processo
que se diferencia dos fatores inatos (a capacidade de digestao, por exemplG, que ja
:lasce com 0 indiv[duo) e dos processos de matura~3o do organismo independentes
da inforrnav30 do ambiente (a matura<;ao sexual). 0 termo que Vygotsky utiliza em
russo (obuchenie) significa algo como processo de "ensino-aprendizagem", incluindo
sempr~ aquele que aprende, aquele que ensina e a rela<;ao entre estas pessoas"
Para que 0 processo de ensino e aprendizagem se concretize e necessario a
utiliza<;30 de uma linguagem. Para (Fernandes 1996, p. 9) linguagem e um sistema
ae cOnlunica<;ao. natural ou artificial. 0 termo "linguagem" nao esta restrito ao usa ou
1130de uma lingua. A linguagem abrange a comunica<;ao por meio corporal, gestual,
linguas orais ou si:lalizadas, musical, informatica e outras. No entanto usaremos a
lingua oral e sinalizada como uma sistematiza<;ao de signos conhecidos ern nossa
sociedade, e um instrumento para as aprendizagens mediadas.
Pora Vygotsky citado por (Kohl, 1997, p,43) a linguagem tem dua" fun,Des
basicas.A primeira se refere it possibilidade que ela gera para 0 Intercambio social, a
homem utiliza sistemas de linguagem para que possa se ccmunicar com 0 seu
29
pr6ximo. A segunda funyao da linguagem e definida par Vygotsky como pensamento
gener alizante. E. a linguagem que ordena 0 real, agrupam as ocorrencias de uma
m83rna classe de objetos, eventos, situat;oes, sob uma mesma categoria conceitual.
A linguagem S8 torna um instrumento do pensamento, fornecendo conceitos e
organizando 0 mundo real.
Sacks (1999, p.52) "Um ser humane nilo e desprovido de mente, sem uma
lingua, porem esta gravemente re5trito no alcance dos seus pensamentos,
cunfinado, de fato, a um mundo imediato e pequeno",
Sabemos que a aquisi9.30 de uma llngua e fundamental para que 0 individuo
tenha L!ma comunic3yao mais efetiva, e possa expressar suas ideias, sentimentos e
opir.ioes a respeito mundo que 0 cerca e sobre ele mesmo.
No case de crianyas surdas 0 acesso a lingua oral e lento e precisa da
;ntermediay8:o de profissionais especializados. No caso de crianc;:as surdas, filho de
p2lis ouvintes tambem sera dined 0 aces so a lingua de sinais. Os pais precisarao
aprender a lingua e deverao expor a erianya a urn ambiente linguistico propicio, com
outros surdos, para que a erianya nao seja privada de estimulos adequados.
Furth citaao por Reis (1997, p. 26) afirma, "a erianya surda eertamente sera
deficiellte em muitas experiencias e ocasi5es comuns, que motivam outras crianyas
a fazerem perguntas, a argumentarem e a organizarem mentalmente St!3S ideias.
Essa deficiEmcia de experiencias esta relacionada deficiencia da llngOistica, ou seja
a falta de comunicac;:ao no dia-a-dia"
4.2 fscrita e Leitura do Surdo
Vivell10s em uma soeiedade que utiliza a oralidade, a eserita e a leitura para
transmitrr conhecimentos e expressar ideias e fatos. A escola utiliza a eserita e a
leitura para fundol11entar 0 conhecimento.
Fernandes (1999, p. 2) afirma que "os surdos apesar de pensarem e se
expressarem, nao tern seu conhecimento reconhecido por fazerem-no de urn modo
diferente da maioria de seus pares ouvintes alfabetizados, que vivem em uma
cultura que valoriza 0 oral, que conhecem e usam a escrita, de rnaneira natural".
30
Metodologias de ensina da lingua Portuguesa para surdos, que priorizavam a
;ala e a escrita mecanica sem inseri-Ias dentro de urn contexto IingOistico
sionificativo e que naG respeitavam a lingua de sinais, como 10 lingua do surdo,
produziu urn fracasso eSGolar generaJizado entre as surdos.
o aprendizado da lingua Portuguesa para a surdo naa e uma tarefa facil.
Podemos comparar este proceSSD aa aprendizado de uma lingua estrangeira.
Encontramos, no entanto urn agravante, que nao acontece com as Quvintes
que 8st50 aprendendo uma segundo lingua. 0 surdo tem uma barreira biol6gica que
o impede de receber naturalmente as estruturas gramaticais que sao usadas na
escrita.
A grande maiaria dos surdos {com perdas severas e profundas) en contra muita
dificuldade no processo de alfabetizayEio. Muitos chegam ao ensino fundamental
sem possuir nenhuma lingua sistematizada, Libras ou Lingua Portuguesa. Isto
diticulta muito a alfabetizayEio destes alunos. Segundo Strobel, nas esco!as
especiais a alfabetizayEic. de criancas surdas demora de dois a tres anos para cada
serie enquanto as criancas ouvintes urn ano.
A importancia de Lingua de Sinais para os surdos e fundamental. Segundo
estudiosos do 3ssunto a crianya surda, com perda severa ou profunda deve ser
expo~ta a mais precocemente a Libras.
Segundo a lingOista Fernandes (1999, p. 2) a lingua de sinais esta enquadrada
dentro de uma modalidade gestual-visual-8spacial. E atraves da Ifngua de sinais que
o surdo organiza, de forma 16gica, suas ideias e acaba refletindo a estrutura
gramatical usada na Libras em sua produyEio escrita.
Para exemplificar tal situayElo, utilizaremos a texto de urn aluno surdo, Marcos
(12 anos), 4° serie, perda profunda bilateral, se comunica por meio da lingua de
sinais e freqUenta uma escola particular no ensino comum.
Agirafa
Ele girafa tenho zoologicos viu tern pescoyo muito menos de 6 metros.
A girafa como rnuito girata em repouso
o clcado tem casa mUlto ende atrlca animals muito
Para acamar a aoua a girafa adre as pernas e baixa denosalTiente a cabe<;a.
Obs: r') texte foi citado com a devida autoriza<;c1o do sujeito.
Alem dos erros gramaticais e ortograficos podernos levantar a hip6tese de que
houve uma transposi<;ao do que ele pen sou em Libras para sua escrita.
AtrClves de um trabalho sistematizado e necessario levar este aluno a perceber
em primeiro lugar que a lingua portuguesa tern um padrao formal que pIJssibilita ao
interlocu:or entender a mensagem. Sera necessario reescrever 0 texto, fazendo
substitui<;6es, acrescimos e altera<;6es de ietras, deslocarnentos, corre<;6es
ortograficas e gramaticais.
A reescrita do texto precisa ser feita de forma conjunta, surdo e
psicopedagogo, e necessario levar 0 surdo a refletir sobre a lingua, ° surdo precisa
S8 tarnar ° autol do seu pr6prio discurso.
Atraves de textes de surdas coletadas durante atendimentos feitos no ano de
2002, e utilizando 0 estudo de Fernandes (1999, pA-9) podernos levantar a,
princ;pais ocorrencias encantradas na esc rita do surdo.
Na ortografia encontramos trocas de letras, isto pode acontece: devido a
Dercep,ao global que 0 surdo faz da palavra.
Ex: Perto (preto): persidente (presidente); Barisl (Brasil ); froi (frio ).
Os artigos podem ser muitas vezes omitidos au usados de forma inadequada.
Em Libras naa sao utilizados os artigos.
Ex: 0 cidade ~em casa muito.
LClura passear tirar a fotos.
E comum encontrar em produ<;6es de textos de surdos e usc inadequado ou
amissao de elementos de liga98.0 como, preposi<;6es, conjun<;6es e pronomes.
Ex: Ela entrau # aereporto 0 aviao.
# Rio de Janeiro verao muito >:alor # suor tarnou agua praias nadar.
Eu gosta # ser surda.
32
Ell quem casamento # surdo.
o lisa do genero (masculino, feminine) e numero (singular e plL<ial) e Feito
rnuitas vezes de forma inadequada eu mesmo omitido.
Ex' Eie girafa tenho ZQol6gicos.
Ell vejo 0 televisao.
A mi:Jha mae faz a bolo born.
No usa da Libras nao ha flexao verbal.lsto se reflete na escrita do surdo, que
geralmente usa os verbos na forma infinitiva.
Ex: A mocinha arrumar a mala.
Ela flCOLI urn mes viajar.
Laura passear tirar 0 fotos.
Nos textos tambem OCQrrem amissae dos verbos de Jigac;ao (5ert estar, ficar).
Ex: Ell 90sto mllito # surda.
Voce # bonito legal.
o papai # doente
Em relac;ao a organizac;ao sintatica, geralmente acor.tece uma inversao na
ordem comum da Ora98.0 .Ao inves da ora<;30 ter uma organizac;ao basica de SVO
(sujeito-verbo-objeto) pode acontecer ordens diferentes, tais como OSV (objeto -
sujeiio-verbo) ou OVS (objeto- verbo -sujeito),
Ex: 0 futebol joga Brasil.
Curitiba boa passar vi
Eu quero viagern corn casamento Unidos Estados
Nas etapas iniciais da escolariza~ao, a proc.Jut;ao escrita S8 assemelha mais a
Libras, corn a passar do tempo, mesmo apresentando algumas peculiaridades a
escrita fica rna is proxima da LIngua Portuguesa.
Os criterios para avaliat;ao da escrita e leitura da criant;a surda precisam ser
diferenciados, levando-se em conta suas peculiaridades.O conteudo do que a
33
cna:lcya escreve e mais importCinte do que a forma como ela escreve. Atraves da
escolandade 0 surdo pod era aprender como escrever dentro do padrao da lingua
portuguesa.
Mesrno criancas surdas oralizadas, apresentarn dificuldades na escrita e
precisam de auxilio especializac!o. Encontramos em textos de surdos oralizados
tracas, umissoes de letras, erros de concordancia verbal e nominal.
Segundo Fernandes (1999, p. 8)
"e importanle que a professor nao parta das aparenles timita<;oes
iniciais apresenladas, mas das possibilidades que as especificidades
do texto do surdo; que nao busque 0 desvio ds normatidade, mas as
marcas implfcitas e explicilas da diferenya linguistica. Os "erros"
cometidos pelos estudantes surdos devem ser encaradas como
decorrentes da aprendizagem de uma segunda lingua, aLI seja a
inlerferencia da sua primeira lingua e a sabreposit;aa das regras da
lingua que esta aprendenda" ...
5 PSICOPEDAGOGIA E 0 SURDO
Podemos considerar que 0 surdo e em potencial urn paciente psicopeciagogico.
levando-se em conta os seguir.tes aspectos: 0 fracasso escolar da maioria dos
surdos em nos so pais e que Sf: reflete no grande numero de repetencias nas series
in~cjajs, 74% dos alunos surdos que ingressaram na escola nao concluiu 0 1 0 graL
(Puc-·1986), 0 numero de surdos que freqOentam 0 ensino medio e superior e
minima, os professores do ensino comum precisam de aces soria para conduzir a
processo de ensino e aprendizagem, os alunos surdos que freqOentam 0 ens ina
comum precisam de acompanhamento das suas atividadas escolares.
o atendimento psicopedag6gico para 0 surdo e fundamental, pois atraves dele
sera possivel investigar e tratar as causas dos fracassas escolares.
34
5.1 Atendimento Psicopedag6gico para Surdo
o surdo que chega ao consult6rio huscando urn atendirnento psicopedag6gico,
e urn paciente que ja fez au esta fazendo Qutros atendimentos, como fonoaudiologia
e ou psicologia. Muitas vezes freqOentando 0 ensina comum em urn turno e 0 ensina
especial no contra-turno. No en tanto muitos surdos apesar de todo investimento
educacional e terapeutico que Ihes e oferecido, nao conseguem "aprender" as
conteudos eseelares. Muitos surdos naD conseguem S8 alfabetizar, au tern muitas
dif!culdades na leitura, esc rita e na resoluc;:ao de problemas.
Este "nao aprender" esta muitas vezes relacionado a metodalogias
inadcquadas de ensina, abordagens educacionais que nao respeitarn 0 surde e suas
diferE:ntyas, barrenas nil cemunicatyao, dificu!dade dos pais em se re!acionarem com
urn filho surdo.
E possive! identificar entre os pais, educadores e outros profissionais que
trabalham com a crianc;a surda uma "simplificac;ao" dos conceitos, urn reducionismo
nas infarmac;oes farnecidas e ate mesma adulterac;ao da mensagem. Observamos
que na pratlca escolar muitos professores tratam os alunos surdos como deficientes
melltais. Existe uma mentalidade mediocre de que 0 surdo e incapaz, ou que os
surdos tern uma capacidade intelectual muito abaixo dos ouvintes, Reis (1997, p.25)
cita os estudos de Furth e afirma que muitos surdos sao considerados
intelectualmente d8ficientes ou atrasados porque nao podem falar, ou seja,
expressar seus pensamentos de forma convencional, no entanto quando as
condl<;:oes adequadas de ensino Ihes sao oferecidas e a familia participa do
processo, () surd,:} se desenvolve plenamente. Atraves de contados pessoais e
questionario aplicado a psicologa surda Rita Maestri, que atua ha 20 anos e passivel
constatar que existem diferenyas e nao deficiencias, sua capacidade intelectual ebrilhante e sua visao sobre a educatyao e coerente e equilibmda (anexo 4).
No tratamento pSicopedag6gico para crianya su,das, inicialmente sera
:1ecessario levantar todos os dados a fim de elaborar 0 diagnostico. Para que nao
heja equivacas sera necessaria que a psicapedagaga tenha uma forma<;:ao em
JS
liJ"lgua de sinais, que Ihe permita compreender adequadamente as respostas do
surd0 nao oralizado nos testes e provas. Outra alternativ9. seria a participac;ao de urn
interprete durante a avalia9ao.
ft. anarnnese deve ser realizada com as pais sem a presenc;a da crianc;a e
precisa conter informC1c;oes especificas sabre a surdez:
•Grau de perda auditiva;
• Idade que a crianc;a perdeu a audic;:ao;
• Se a crianc;a f:-eqOenta eSGola especial au 0 ensina comum, au ambos;
• Relacionamento da crianya com as professores e colegas da eseDla;
•Qutros profissionais que atendem a crianc;a, como fonoaudi6logo, psicologo e
outros;
E necessaria que 0 psicopedagogo fac;:a adaptac;oes e reduza as exigencias
l:ngOisticas das provas assegurando que a surdo eompreenda as eonsignas feitas.
FUrlil citado por Reis (1997, p. 25) assegura que atraves das pesquisas feitas com
erianeas surdas utilizando as provas piajetianas, "que as estruturas eognitivas dos
ouvlntes e surdos nao sao diferentes", a diferem;a esta na qualidade das
experieneias cferecidas aos surdos.
Na apliea~ao dos testes psicometricos, 0 psicopedagogo que nao tiver a
formaC;ao de psic610go, deve encaminhar 0 paciente a um psic61ogo surda ou
salieitar a presenc;a de um interprete durante os testes, garantindo assim a
confiabilidade dos dad os.
Have-ndo necessidade 0 psicopedagogo deve solicitar exames complementares
como :neu!"opediatra, fonoaudi6logo, atorrinalaringologista e pediatra.
Nesta fase de E:valia<;:ao 0 psicopedagogo deve avaliar 0 material esealar do
paeier.te bem como entrar em cantato com a eseo/a, pessaa/mente ou atraves de um
questionario ou cantata telef6nica.
o psicopedagogo deve elaborar provas pedag6gicas adequadas para 0 aluna
surdo, de acorrlo com a serie em que ele se encantra, avaliando a nivel de leitura e
escrita e conceitos matematicos.
J6
Uma vez levantado 0 passivel diagnostico a laudo deve ser cornunicado aos
pa:s, e3Go!a e Qutros profissionais que atendem a crianc;:a.
Comeya entao 0 que chamamos segundo Visca de "Process0 corretor", au 0
tratamento psieopedagogieo. Segundo Visea (1991 p. 42) "prceesso "signifiea
movirnento que leva a mudan<;as, urn processo pode acontecer de forma
espontanea ()u provoc:ada. Urn processo provocado e farmada par urn conjunto de
situac;:oes controladas e usanda metodos distintos. "Corretor " e uma palavra
farmada par dais elementos Co e Reger. 0 tenna Co e uma forma prefixal latina da
preposiC;:E1ocom e 0 segundo terma Reger e uma 39aO do correto funcionamento de
um aparelho au organismo. Para Visca enta~ a Processo Corretor e um conjunto de
operac;:oes clinicas que facilitam 0 aparecimento de condutas e a estabilizac;c3o de
condutas.
Para Bossa (2000, p.1 06)
"~ a partir do sintorna que a psicopedagogo vai pensar as forrnas e
I->0sslbilidades de Iralarnento psicopedag6gico. 0 enquadre que SI;: refere ao
estabelecimento co marco fundanle da a9ao terapeutica - defini9ao do
urliverso da rela9ao clinica - e que, portanto, engloba elementos de tempo,
lugar, freqOencia, dura9ao, material de trabalho e estabelecimenlo das
atividades, nessa modalidade de tralarnentc tern como obJetivo, sempre
solucionar os problemas de aprendizagem, motive do encaminhamp.nto"
No trabalho desenvolvido com crianc;as surdas ha dez anos, fazendo
acompanhamento das atividades escolares dentro de uma abordagem bllingOe e
possive! apantar algumas questoes:
Os atendimentos especiais que 0 paciente surdo necessita como
fonoaudioJogia, pSicologia, psicopedagogia sao tratamentos a longo prozo.
DClVi (nome ficticia) paciente, com surdez profunda recebeu atendimentas
de acompanhamento escolar por seis anos, atualmente esta com 16 anos.
Durante todo periodo a mae recebeu orientac;oes em como auxiliar 0 filll0
em SUrlS aprendizagens. A escola tambem foi orientada em como fazer as
mediac;oes adequadas a necessidade do paciente. Atualmente ele
frequenta a 10 serie do 20 grau de uma escola particular, e urn born aluno e
!E:ve alta destes acompanhamentos pais conquistou autonomia para
37
aprender. Entretanto pade haver a necessidade de professores particulares
em disc1plinas especificas, como par exemplo, fisica, quimica au lingua
inglesa;
Pais de crianr;as surdas precisam ser orientadas em como auxiliar seus
fililOS r1a aprendizagem. Os pais precisam participar de cursos do ensina da
lingua de sinais, Saber a lingua de sinais e fundamental para comunicac;:ao
entre pais e mhos.
o lrabalho com a crian<;:a surda precisa ser interdisciplinar abrangendo as
areas da fonoaudiologia, psicologia e psicopedagogia. Os profissionais
envolvidos no atendimento das crianc;:as surdas buscam uma visao do todo
procurar,do uma unidade no encaminhamento da crianc;:a.
E muito comum a crianc;:as surdas trocar de eseelas muitas vezes. Na
pratica percebemos que isto acontece por algumas raz6es, entre elas epasslvel destacar: preconceito, dificuldade em aceitar a diferente, falta de
prepar~ dos professores e sistemas de avalia9E1o que nao respeitam as
diferen9as IingOisticas do surdo. A equipe interdisciplinar precisa orientar os
pais scbre G permanEmeia ou nao em uma escola de acordo com um
posieiollamento de todDS as areas.
Muitas crian9as surdas repetem as series inieiais, isto provoca urn
sentimento de fracasso e levam a baixa auto-estima, e urn dese.io de ser
como os ouvintes.
Muitos sL!rdos ehegam a 5° serie sem dominar a esc rita e leitura e com urn
voca~ulario muito restrito. Pode aeonteeer uma defasagem entre urn aluno
surdo e ouvinte da me sma serie.
o p$icopedagogo que trabalha (;om erian9as surdas precisa valorizar em suas
estr3tegias de t~abalho 0 campo visual, Perlin (199B, p.120) surda e mestra em
educa9ao diz "a crian9a surda, depende do senso da visao para aprender"
Valorizar 0 campo visual nas atividades propostas para as atendimentos efundamental.
J8
5.2 0 usa de LIBRAS no atendimento psicopedag6gico
Existe urn consenso geral de que a lingua deve ser ensinada e adquirida a
me is precocemente passive!. No cas a dos surdos considera-se que a Libras seja
sua lingua materna e a lingua portuguesa uma segunda lingua, que 56 podera ser
aprendida atraves de anos de trabalho.
Os trabalhos rnais recentes indieam que, crianc;::as surdas precisa~ ::,rimeiro ser
expostas a lingua de sinais e depois eu paralelamente a lingua oral do pais em que
vlvem.
Sacks (1999, p.44) "Assim que a comunicac;::ao de sinais for aprendida - a
crianr;;:a pode ser fluente aos tres anos de idade -, tudo entao pode decorrer: livre
intercurso de pensamento, livre fluxo de informac;::6es, aprendizado da leitura e
escrita, talvez da fala".
A lingua de sinais nao inibe a fala, pelo cantriuia pade ser urn instrurnenta
efici.-:nte para auxiliar no pr6p:-io ensino da fala
E eVldente, no entanta que a lingua de sinais ocupa um lugar primordir=J1 na
carnunic.:ay8.o do surda. Mesrna crianyas que estudam em escalas or~listas, nos
momentos de recreia au elltre elas :...tilizam a lingua de sinais para se carnunicarem.
No Brasil a Lingua de sinais ja fai aficializada para os surdos. Cabe aos
profissionais da area medica e educacional que trabalham com surdos aprenderem a
lingua de sinais.
No atend!mento psicopedag6gico para surdas que nao sao oralizados efundamental c uso da lingua de sinais. Atuanda com crian<;as e adolescentes
sL!rdos, fica evidente que e praticamente impossive1 trabalhar determinados
,:anteudos sern 0 apoia da lingua de sinais.
39
6 CONCLUSOES
Atraves do presente traba!ho fica evidente que a PSicopedagogia pode
fazer inumeras contribui<;:6es na investiga<;:<3o dos problemas de aprendizagem
apresentados pela crianya surda, bern como intervir quando 0 sintom3 ja esta
instalado.
Utilizando instrumentos adequados 0 psicopedagogo fara 0 diagnostico
precedido pelo tratamento propriamente dito.
Como fica evidente a crian<;:a surda que freqOenta 0 ensina comum
encontra muitas dificuldades e precisa de servir;:os de apoia para que S8
desenvolva plena mente.
Ale-In da crian\,.a, pais e professores tambem precisam de orienta.yao
para conduzir as aprendizagens da crian<;:a surda.
A abordagem da psicopedagogia se diferencia das demais terapias no
'5entido de levar a crian<;:a a reencontrar 0 prazer de aprender e ieva-Ia a
construir suas oprendizagens.
Uma das condi90es indispensaveis na atua<;:<3odo psicopedagogo qUE
CltUrt com crian<;:as surdas, com perdas severas e profundas e que utilizam a
lingua de sinRis como primeira lingua e que ele utilize a Libras durante os
atendimentos.
40
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problemas de aprendizagetn escolar.Rio de Janeiro.OP&A editora. 2002.
43
ANEXO A
Anamnese
I - IdentifiC8r;aO
1· DADOS DO PAClroIHE:
NOIY.E:
DATA OE NASCIMENTO: _1._'_ESGOLA QUE FREQUENTA:
2- DADOS DA MAE:
NOME DA MAE:
ENDEREC;:O:
MESES
__________ SERlE:
IDA DE:
___________ IDADE: _
w _
BAIRRO: CIDADE _
TELEFONE RESIDENCIAL: COMERCIAL: _
PROFISsAo: ESCOLARIDADE: _
3· DADOS DC PAl:
NOM!: DO PAl:
ENDEREC;:O:
BAIRRO: CIDADE
TELEFONE RES\DENCIAL: COMERCIAL: _
PROFISsAo: ESCOLARIDADE: _
4· DADOS DA ESCOLA:
______________ IDADE
______________ N" _
Nome ria escola" _
Er.derec;:o:
Bairre: _______ .cidade: _
Fane" fax: e-mail: _
Nome da profcssora: _
Nome da orientadora educacional _
Turno que a crianc;:a freqOenta: _
5- DADOS DOS ESPECIALISTAS;
Pediatra: _____________ fone: _
Fonoaudi6!0:;:Jo: fone: _
Otornnolaringolog:sta. fone: _
Causa provavel da 5urdez
6- Grau de perda aUditiva
) leve (27 -40 Db) ) moderada (45-55 Db)
) severa (71-90 Db)) moderadamenie grave (56-70 Db)
) profunda (91 Db ou mais)
7- Classificac;ao quanto ao tempo em que e!a aconteceu:
( ) pre-lingual ) p6s-lingual
8- Classlficac;i:lo da surdez quanta a localizac;ao e alterac;ao'
) Jjerda condutiva (interferencia na transmissao do sarTI do conduto auditivo para oreiha internal
) perda Of:!urossensorial ou sens6rio-neural (Iesao nas celulas da c6clea ou nervo auditivo)
) perda mista - (associac;ao do perda condutiva com a perda neurossensorial)
) perda central -(nao h~ diminuic;ao da sensibilidade auditiva, no entanto, ha uma dificuldade na
compreensao das informac;Oes)
9- Qual a ;onna de comunicac;ao rna is uti!izada peto sujeito;
) poriugues sinalizado
) pldgm
) libras
I gest03 mdicativcs. demonstrativos, farniliares
45
10- Utiliza AASJ
) orelha direita
) Qrelha esquerda
) bila!eralment~
) nao usa
11~ Modelo do aparelhe e tempo de usc'
12· Fez implante coclear? Quando e com que idade.Qual 0 modelo?
13- Leitura orofacial
( ) hom () media ) regular
II - HISTORICO DO PACIENTE
1- MotlvQ da consulta - queixa (SIC):
2- Antecede:1tes pessoais (gesla<;:ao. parto. se fez trotamento durante a gesta<;:ao, doen<;as infecto-
contaglosas na gesta<;ao, usa de medica<;:ao ):
3- Desenvolvirnento p6s-natal (choro, amamer,ta9ao, medidas, alimenta98o, doen9as, cOlwulsoes)
4- Desenvolvlmento psicomotor (sustentou a cabe9a, sen lou, engatinhou, andou, canhoto ou deslro)'
5- Sono(normal, agitado, range os dentes, terror noturno, dOfme com quem, etc):
6- Control"! do~ esfincteres (anal diurno e noturno-vesical diurno E' noturno quem fez a Ireino e ~omo
fOI feito, em que idade):
'7- Amblente familiar relacionamento genetograma ( relacionamento com as filhos e a familia, entre as
filhos' outr~s pessoas Ila casa; origem das fami/ias; educa9ao de filhos -coerencia e au consi5tencla):
8- Antecedentes faml!iares \pessoas nervosas, deficiencias menlais; alcooJisr:10, vicios jogos, drogas,
aoencas):
9- Sociabilidade (tempera mento, timidez, agressividade, grupo da mesma idade, atividade e
brlnquedo, hisl6lias, her6is preferidos, tv, computador, video games, amigos)
10- Antecedentes patol6gicos:
11- Retina diar:a da crianca (manipulac6es - cl1upeta, chupou ° dedo, usau cheirinhas, roeu au r6i
unha, tll1,ues.pisca, condutas atipicas. avds -dependente, semi-dependente. nao independente-.
mC:lsturbac6es. oflentacao sexual - se houve, 0 que foi dito-, descrever a cotidiano, atitudes tomadas)·
12- DE::senvolvimento dOl linguagem (sorriso social, garjeio. batbucio, primeiras palavras au sinais,
primeiras frases na modalidade oral ou sinatlzada, lingua usada petos pais, enslno da lingua de
sinais. usa de sinais familiares, indicativos au demonstrativos. tenIa balbuciar):
48
13 ·hlstona escolar
a) pre-escola:
b) :ie-fie alual - repetencias: _
c) mudan~as de escola: _
d) areas de facllidade' _
e) areas de dificuJdade: _
~4- Quem auxilia a criany3 nas lir;6es e horas de estudo?
15· A cnam;a cOnla com 0 auxiHo de mterprete durante as aulas?
16- Frequenlou escola especial? (qual e por quanta tempo)
17 - Q~a: a atltude dE'sta pessoa frente as dificuloades da crian93 nestes momentos:
18- A crian93 passui horar:os fixQS para reaHzar tarefas e estudar?
19- Sociabilidade frente (aos professores, aos colegas, a escola, atividades exlra-curriculares)"
49
20· Nltude do entrevist<:ldo durante D anamnese:
21-E.xammador:
2.2- Data.
50
ANEXO B
LE'I N' 10.436, DE 24 DE ABRIL DE 2002
Oispoe sabre n Lingua BrasileirCl de Sinais - Libras e da outras providencias.
OPRESIDENTEDAREPUBLICA
Fayo sabar que 0 Congresso Nacional decreta e eu sanciano a seguinte Lei:
Art. 1° E reconhecida como meiD legal de cOlllunicayao e expressao a Lingua
Bras:leira de Sinais - Libras e Qutros recursos de expressao a ela associ ados.
Pa(agrafo unico. Entende-se como lingua Brasileira de Sinais - Libras a forma de
comunic<3<;ac e expressao, em que 0 sistema lingOistico de natureza visual-matara,
corn estrutura g(amatica! pr6pria, constituerr. urn sistema lingOistico de transrllissao
de ideias e fC:ltos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil.
Art. 2° Deve ser garantido, par parte do poder publico em geral e empresas
concessionarias de servir;:os publicos, formas institucionalizadas de apoiar 0 usc e
tlifusao da Lingua Brasileira de Sinais - Libras como meio de comunicayao objetiva e
de utilizayao corrente das comunidades surdas do Brasil.
Art. 3° As institui<;6es publicas e empresas concessionarias de serviyos publicos de
assistencia a saude devem garantir atendimento e tratamento adequado aos
portadol'es de deficiencia auditiva, de acordo com as norm as legais em vigor.
Art. 4° 0 sistema educacional federal e os sistemas educacionais estaduais,
municipais e do Distrito Federal devem garantir a inclusao nos cursos de forma<;ao
ce Educar;:ao Especial, de Fonoaudiologia e de Magisterio, em seus :'liveis medio e
superior, do ensino da Lingua Brasileira de Sinais - Libras, como parte integrante
dos Parametres Curricula res Nacionais - PCNs, conforme leglslar;:ao vigente.
Paragrafo unico. A Lingua Brasileira de Sinais - Libras nao pod era substituir a
modalidade escrita da lingua portuguesa.
Art. So Esta Lei entra em vigor na data de sua pubJicayao.
Brasilia, 24 de abril de 2002; 18'i' da Independencia e 114' da Republica.
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
Paulo Renato Scuza
51
ANEXO C
ALFABETO EM SINGWRITING
•• ! :1 ~ ::::II ~ ~
A B C 0 E F G
Jh @~ --~ ••• 1. =.
H J K L M
"* • ~.? , • -'f
N 0 P Q R S T
~ ~0,j..
~~
U v x z
"
ANE:XO D
Questionario para levantamento de dados da
monografia.
Nome: Rita Esser Maestri
Forma~50: Psico/ogia
Local de trabalho: Clinica Particular, Escola Especial APAs
1. Conte como foi sua infancia, quando foi diagnosticada a surdez e como suatzmilia agiu em relal):ao a 1550.
Minha :nfancia foi conturbada, pOis antes dos dais anas e meio de idade, segundo
ml:1hC'l fClmilia viviamos felizes, famos todos as fins de semana na igreja, po is meLlS
pais junta mente com meus sete ti05 par parte de pai e oito tios par parte de mae e
tambem as primos cantavam no coral. Era sempre uma festa. Aos dais anes e meio,
cO:1trai meningite e par causa disso perdi a aUdiyao. Meus pais nao aceitaram
jnicial~ente a minha surdez e sofreram muito e eu naa entendia 0 que S8 falava.
Comec~i a ficar agressiva: quebrava as coisas quando ficava nervosa, arrancava os
cabelos, batia. mordia. Todas essas rea90es eram devido a perda de cantata cam a
mundo sonora e par nao compreender 0 que se falava.
53
2. Voce freqOentou esc ala especial? Par quanta tempo? Como foi estaexperielncia?
Sim. FreqOente; a Escola Especial, mas fa; por pOlleD tempo. Ao ensurdecer aDs
dais anes e meio, naqueJaepoca nao recebiam surdos nas escolas especiais antes
dos sete anos e minha m<1econsciente de que nao S8 pode perder a estimulay<3o
cognitiva, fal3, etc ... proCUfQU formar 0 1C> jardim de infancia na Escola Especial e
ent80 entrei com quatro anes e fiquei ate aos oito anos e ingressei no ens ina comum
e estudei ate me formar em Psicologi3 na Puc.
Minha experiencia na escola especial foi muito importante para 0 meu lado
emocio:lal, pais era ande podia ser eu mesma, como surda, me relacionava com
coleyas surdo3 e me identificava com eles: tinhamos a mesma forma de perceber
atrave~ das imagens, mesmos valores (faziamos caretas para transmitir LIma ideia e
nao eramos ridicularizados), mesma forma de se expressar (uso da lingiJa de sinais),
em bora nao se permitia 0 usa de sinais na escola que como metodologia oralista .E
p0r outro lado tinha muita dificuldade de ter uma boa comunica9ao com surdos,
mesmo fazendo usa de sinais, pois mesmo que participando no Ensino Especial
mellS pais sempre procura'Jam me fazer parte dos acontecimentos, procuravam me
estimular a maximo no que se refere a situac;oes que se passava em casa , na
cidade, nas revistas; na estimula9ao da fala pois como ja falava antes de
ensLlrdecer, minha mae nao perdeu tempo me estimulando a fala; passavam todas
as informa90es: como conceitos, leis, acontecimentos e tudo isse me serviu para me
despertar um grande interesse em procurar sempre em aprender rna is e na Escola
Especial, a ma!oria infelizmente, nao recebiam estimulac;ao e motivac;ao em casa e
quando conversava com meus amigos surdos nao podia tcr comunicac;ae ainda par
sinaj~ mais eficiente.
54
3. Voce frequentou 0 ensino comum, com quantos anos ista aconteceu?Como foi Ct expariencia?
Sim. Oesde os 8 anos ate concluir a Pontificie Universidade Cat61ica do Parana.
Iniciei aos 8 anos (1966) e terminei 0 3" grau ja 25 anos (1983).
A experiemcia desde 10 serie ate 40 serie foi muito dificil porque:
N80 dominava a ieitura labial (tenho perda profunda)
Nao dominava a lingua portuguesa -vocabulario muito inferior
comparando aos rneus colegas
Baixo nivel de conhecimento: tude que era ensinado era urn misterio.
Fora do colegio, tive acompanhamento escolar (minha prima me dava
reforgo escolar e entendiam muito bern a forma como me explicava)
Tinha muitos problemas emocionais (nao ac:eitava a surdez) e isse
refletia muito no relacionamento com as ouvintes.
Da GO serie ate a 80 serie: minha irma entrou na mesma serie que eu
(nao reprovei, naquel8 epoca fiz exame de admissao para entrar na 5°
serie e no ano que minha irma Marcia Milak ia fazer admissao a
Secretaria de Educag80 jit tinha retirado). Com minha irma junta na
sala de aula, facilitou muito meu aprendizada pais ela sendo
perfeccio:1ista, me explicava tudo e exigia de mim uma resposta para
as explicac;oes deja e isso foi importantlssima po is adquiri base em
todas as disciplinas
E 0 2° grau ja fai diferente pois nesse tempo par ser mais velha ja
dominava a !eitura labial, ja tinha born dominio da gramatica
portuguesa e por ser estudiosa sabia e acompanhava todas as
materias tirando boas notas.
Lembro que uma vez, urn navada professor de Quimica que substituiu
a professor anterior por 2 semanas pediu-rne ajuda para fazer rea(foes
quimicas dificE:is que passava no quadro-negro. Eu adorava pais a
minha turma me respeitava e ate pedia explicac;6es p3ra mim. E
55
cheguei a dar reforyo para me us colegas nas disciplinas de quimica,
matematica, ingles.
Na faculdade foi difiei! pelo nivel de consciemcia ser mais elevada e nao tinha muitas
informac;ocs em Cllto nivel.Psicologia e uma ciemcia abstrata e issa inicialmente foi
diffeil. Tive rnuitos professores que falavam Espanhol tinham bigodes longos,
hiperCltivQ (nao paravam num lugar 56, andava pel a sala inteira para explicar).
Eu pedia para que ficasse no mesma lugar, a professor colaborava mas passados
20 minutos voltava tuda nova mente.
E como sempre me interessei em aprender tudo, consegui ler livros de 100 paginas
por urn mes (antes era impassivel pois precisava no minima de 4 meses para ler 100
paginas) e no fillal da faculdade estava matura em rela~ao ao conhecimento de
meLlS colegas.
Quando fiz vestibular na PUC em 1977, passei em 120 lugar.
4. Que fatores no ensino comum facilitaram e dificultaram a sua escolaridade?
Facilitavam.
Professores met6dicos pois escreviam no quadro 0 resumo per exemplo:
o que vamos cstudar hoje?
Escreviam esquemas com assuntos importantes.
DificultGtvam:
Barreir8S de comunica~ao:
• Distancia entre professor e eu.
Dic~ao ru;m dos pcofessores
Naquela epoca, nao consideravam que as surdos tinham direito de
reclamar par isso evitava dar trabalho.
"
Nao tinha interprete
As correg6es das provas eram multo rigorosa e naquela epoca ainda
tinha dificuldade de elaborar frases corn gramatica portugue'5a e as
professores ainda nao reconheciam a lingua pr6pria dos surdos e
cOllsiderava errado quando tentava explicar as respostas.
5. Desde que idade voce comec;ou a aprender Libras (lingua brasileira desin3is)? Como foi a experiencia?
Aprendi Libras quando ja era m<'lis velha (tinha mais OU menos 35 anos) pois sendo
oralista vivia com ouvintes (cole9a5 da faculdade) e quando encontrava com meus
amigos surdos usava portugU€S sinalizado .Tive que aprender Libras por causa dos
pacientes que tinha 10 lingua - Lingua de sinais.
Foi dificil aprender Libras pois ja possuia consciencia maior e a Libras naquela
epoca era uma lingua nova e faltava muitos vocabularios em Lingua de sinais e nao
acompanhava rneu raciocinio
6. Como foi sua experh§ncia na universidade?
Ja fei axplicado no item 3.
57
7. A que voce atribui seu sucesso escolar?
Em primeiro I~gar foi a rnotivac;ao que minha mae me deu em aprender sp.mpre mais
e reconhec::endo minha dificuldade, rninl1a mae me acompanhou em tados as
aprendizados mesmo tendo reforc;o escolar.
Tive sempre apoio de minha irma na 5° serie ate 8° serie.
Gostav3 de ler muito {iniciei leituras aDs 12 anos)
Tinha bons professores e exigiam de mim 0 mesma que meus colegas e ciaro que
diferenciavam no sentido de dar mais atenc;ao de acordo com minha deficiencia (isto
ocorreu no 10 graul,
8. Voce acredita que 0 surdo pede e deve ser oralizado?
Claro que os surdos podem sef oralizados, mas depende de varios fatores que
podem contribuir: lTIotivayao, treinamento da fala, perseveran9a e muito dinheiro
para pagar profissionais.
Se os surdos tiverem muita dificuldade para serem oralizados deve investir na
Escrira pois considero 0 ouvido do surdo pais e dela que as surdos recebera
i;,forma<;:6es visua!s que dara um rumo para sua autonomia.
Na minha opiniao, a maior dificuldade no aprendizado da tala nao e a articula<;:ao,
imposta<;:ao da voz, pronuncia.A dtficuldade esta na linguagem interior (falc: ir.terior) e
principalmente slJrdo de pais ouvintes sao as que tem maiores dificuldades para
alcrln<;:ar urn nivel de abstra<;:ao mais elevada pela falta de comunica<;:ao entre eies:
pais que nao conhecem a mundo do surdo (imagens visuais) e as surdC's nao tern
mcdelos iilidalmente para conhecer gramatica portuguesa numa forma mais
Goncreta, sem usar 0 referendal auditivo e isso e que distancia a compreensao entre
ele$ e quando esse surdo esta em treinarnento da tala esse nao esta sendo
trabalhado sua linguagem interior e rnais para frente, os surdos principalmente com
58
perda severa e profunda adquirem aversao para linguagem arIa utilizando somente a
sua lingua, linguagem de sinais.
Os pais saiJendo da real dificuldade dos surdOS, penso que Ilavera grande
qLJantidade de surdos com perda profunda sendo oralizados mesma dando a etes a
direito de querer aprender a 2° lingua au nao.
9. Qual model a de Bilinguismo voce considera ser 0 rna is adequado arealidade brasileira? .
A esc rita e a Lingua de Sinais.
10. Que criterios voce utHizaria para indicar S8 a crian93 deve frequentarescolas espaciais au 0 ensino comum?
Atualmente a escola Especial na minha opiniao, nao trabalha dentro da necessidade
real do surdo po is falta preparo dos professores sobre 0 muncto do surdo. E vejo que
qUC'lndo 0 surdo nao tiver condig6es para estudar na escola comum deve ficar no
Ensino Especial.
E para entrar no Ensino Comum os surdos deve ter os pre~requisitos, ou seja,
possuir born !liveJ de desenvolvimento no aprendizado e tendo sempre urn
accmpanhamento constantemente com professores de reforgo.
"
11. Quais as medidas que voce considera fundamentais para ascensao escolare profissional do surdo?
Pais conscientes da real dificuldade dos surdos e esses estimula-Ios para 0
desenvolvimento geral.
Prof€:ssores na Escolas Especiais tazerrna is cursos para conhecer profundamente a
I-ealiuade do surdo.
Frofessores da EscolCl Comum tambem
Surdo tern mais consciencia no seu papel como surdo e como estudante e como
cidadao.
E ter uma atitude madura para resolver soluyoes que busquem trilhar mesmos 0
diflc;il Crlmillho dentro da sociedade ouvinte.
12. Que fatores emocionais podem dificultar a vida escolar do surdo?
Rejei0ao da Surdez dos pais que passam para as sl.Ordos.
Atitudes de superproteyao dcs pais que gera ~m paternalismo e conseqUentemente
uma atitude de comodismo nos surdos que deixam de lutar para alcan<;ar sua
autonomia e as frustra<;6es levam os surdos a ter urn circulo vicioso com a
problematica da surdez por nao serern bern resolvidas e ai vem agressividade,
depressao, ansiedade, infantilidade e transtorno de comportamento.
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