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Juracy Barreira
PEDRO LOMBARDO
UM ESTUDO SOBRE A SUA RELEVÂNCIA HISTÓRICA EM RELAÇÃO
AOS “SACRAMENTOS” NA IGREJA CATÓLICA ROMANA.
.
Engenheiro Coelho – S.P.
Novembro de 2005
Trabalho apresentado como requisito parcial à obtenção da graduação no Bacharelado em Teologia na matéria de História Eclesiástica II do Centro Universitário Adventista de São Paulo
Prof. Ruben Aguilar, Ph. D.
INTRODUÇÃO
Este pretende ser um estudo não-exaustivo sobre Pedro Lombardo na história
teológica Católica Romana e no desenvolvimento do Escolasticismo, especificamente
nos seus quatro livros das “Sentenças” e conseqüente compreensão e breve análise da
sua influência sobre o Dogma dos Sacramentos dentro da teologia Católica Romana.
Visamos esclarecer para fins históricos, se de fato houve alguma influência dos
escritos de Pedro Lombardo, especialmente os quatro volumes das “Sentenças” sobre
a teologia e dogmas da igreja católica romana em relação às demais correntes
filosóficas da época e contemporâneas, especialmente sobre o dogma dos
sacramentos.
Primeiramente iremos analisar autores contemporâneos a Pedro Lombardo, os
“Escolásticos” e suas influências nas “Sentenças”, após esta primeira análise
passaremos a verificar o contexto histórico no quais as “Sentenças” foi escrito, após
esta verificação iremos apresentar uma biografia de Pedro Lombardo e finalmente
iremos tratar sobre a sua influência nos dogmas católico-romanos especialmente sobre
aos sacramentos que ainda vigoram nesta igreja.
2
I - CONTEXTO HISTÓRICO GERAL
1.1. A IDADE MÉDIA
Estamos em plena Idade Média, para ser exato, entre os anos de 1100 e 1160.
Esse termo “Idade Média” ou “Idade das Trevas” é utilizado para fazer referência
a um período da história européia, que vai da desintegração do Império Romano do
Ocidente, no século V, até o século XV.
No final do século V, o término de uma série de processos de longa duração,
entre eles o grave deslocamento econômico e as invasões e os assentamentos dos
povos germanos no Império Romano, transformou a face da Europa.
Durante esse período não existiu realmente um mecanismo de governo unitário
nas diversas entidades políticas, embora tenha ocorrido a formação dos reinos. O
desenvolvimento político e econômico era fundamentalmente local, e o comércio
regular desapareceu quase totalmente. Com o fim de um processo iniciado durante o
Império Romano, os camponeses começaram seu processo de ligação com a terra e de
dependência dos grandes proprietários para obter proteção. Essa situação constituiu a
semente do regime senhorial. Os principais vínculos entre a aristocracia guerreira foram
os laços de parentesco, embora também tenham começado a surgir as relações
feudais.
A única instituição européia com caráter universal era a Igreja, mas dentro dela
também ocorreu uma fragmentação na autoridade. Em seu núcleo havia tendências
que desejavam unificar os rituais, o calendário e as regras monásticas, opostas à
desintegração local.
No século IX, a chegada ao poder da dinastia Carolíngia significou o início de
uma nova unidade européia baseada no legado romano.
A atividade cultural durante o início da Idade Média consistiu principalmente na
conservação e sistematização do conhecimento do passado.
Essa primeira etapa da Idade Média foi encerrada no século X com a segunda
migração germânica e as invasões protagonizadas pelos vikings, procedentes do norte,
e pelos magiares das estepes asiáticas.
3
1.2. A ALTA IDADE MÉDIA
Até a metade do século XI, a Europa se encontrava em um período de evolução
desconhecido até esse momento. A época das grandes invasões havia chegado ao fim
e o continente europeu experimentava o crescimento dinâmico de uma população já
assentada. Renasceram: a vida urbana e o comércio regular em grande escala.
Ocorreu o desenvolvimento de uma sociedade e de uma cultura complexas, dinâmicas
e inovadoras.
Durante a Alta Idade Média, a Igreja Católica, organizada em torno de uma
hierarquia estruturada, com o papa como o ápice indiscutível, constituiu a mais
sofisticada instituição de governo na Europa Ocidental. As ordens monásticas
cresceram e prosperaram participando ativamente da vida secular. A espiritualidade da
Alta Idade Média adotou um caráter individual, pelo qual o crente se identificava de
forma subjetiva e emocional com o sofrimento humano de Cristo.
Dentro do âmbito cultural, houve um ressurgimento intelectual com o desenvolvimento
de novas instituições educativas como as escolas catedráticas e monásticas. Foram
fundadas as primeiras universidades; surgiram ofertas de graduação em medicina,
direito e teologia, além de ter sido aberto o caminho para uma época dourada para a
filosofia no ocidente.
Também surgiram inovações no campo das artes. A escrita deixou de ser uma
atividade exclusiva do clero e o resultado foi o florescimento de uma nova literatura,
tanto em latim como, pela primeira vez, em línguas vernáculas. Esses novos textos
estavam destinados a um público letrado que possuía educação e tempo livre para ler.
No campo da pintura foi dada atenção sem precedentes à representação de emoções
extremas, à vida cotidiana e ao mundo da natureza. Na arquitetura, o românico
alcançou sua perfeição com a edificação de incontáveis catedrais ao longo de rotas de
peregrinação no sul da França e Espanha, especialmente o Caminho de Santiago,
inclusive quando começava a surgir o estilo gótico, que nos séculos seguintes se
converteu no estilo artístico predominante.
4
Chegamos então ao século de Pedro Lombardo, donde prosseguiremos à este
estudo.1
1 Microsoft ® Encarta ® Enciclopédia 2002. © 1993-2001 Microsoft Corporation. “Idade Média”.
5
II. CONTEXTO HISTÓRICO ESPECÍFICO
Durante o declínio da civilização greco-romana, os filósofos ocidentais
abandonaram a investigação científica da natureza e a busca da felicidade no mundo e
passaram a se preocupar com o problema da salvação em outro mundo melhor. Por
volta do século III, o cristianismo já se havia estendido às classes mais cultas do
império romano.
Santo Agostinho conciliou a ênfase dada pelos gregos à razão com a insistência
dos romanos nas emoções religiosas dos ensinamentos de Cristo e dos apóstolos,
gerando um sistema de pensamento que se transformou na própria doutrina do
cristianismo da época. Em grande parte graças a sua influência, o pensamento cristão
foi platônico em espírito até o século XIII. O estadista do século VI, Boécio, reavivou o
interesse pelos pensamentos grego e romano, especialmente pela lógica e a metafísica
aristotélicas. No século IX, o monge irlandês Johannes Scotus Erigena propôs uma
interpretação panteísta do cristianismo, identificando a Trindade divina com o Uno, o
Logos e a Alma universal do neoplatonismo.
No século XI, ressurgiria o pensamento filosófico, fruto do crescente encontro
entre as diferentes regiões do mundo ocidental e o despertar do interesse pelas
culturas desconhecidas, que culminaria no Renascimento. Os filósofos muçulmanos,
judeus e cristãos interpretaram e esclareceram os escritos de Platão, Aristóteles e
outros sábios gregos, tentando conciliar a filosofia com a fé religiosa e dar às próprias
crenças religiosas pilares racionais. Surgiu a escolástica, cujo método foi dialético ou
discursivo. O interesse pela lógica do discurso levou a importantes avanços, tanto em
lógica quanto em teologia.
Avicena, físico árabe do século XII, integrou o neoplatonismo e as idéias
aristotélicas à doutrina religiosa muçulmana. Outros pensadores de destaque foram o
poeta judeu Solomon ben Yehuda Ibn Gabirol e o filósofo eclesiástico e escolástico
Santo Anselmo, que estabeleceu o papel do realismo lógico num dos debates mais
6
conflituosos e transcendentes da filosofia medieval, o dos universais. A idéia contrária,
o nominalismo, foi formulada pelo filósofo Roscelino.
O teólogo francês Pedro Abelardo propôs um compromisso entre realismo e
nominalismo, que ficou conhecido como conceitualismo. O jurista ibero-muçulmano
Averroés contribuiu para que a ciência e o pensamento aristotélico tivessem grande
influência no mundo medieval, graças a seus lúcidos e eruditos comentários sobre a
obra de Aristóteles. Outros escolásticos de destaque foram ainda Maimônides, o
filósofo São Boaventura e Santo Alberto Magno. Porém, a maior figura intelectual da
era medieval foi, sem dúvida, Santo Tomás de Aquino, que uniu a ciência aristotélica e
a teologia agostiniana num amplo sistema de pensamento, que se transformaria na
filosofia autorizada da Igreja Católica.
Neste contexto surge Pedro Lombardo com seus quatro volumes das
“Sentenças” (Líber Quatuor Sententiarum) visando não uma contribuição original para
teologia. O que o autor tenta (e finamente realiza) é dar uma declaração clara e bem-
organizada dos temas teológicos básicos.
Ele não desperdiça tempo em pontos sutis de filosofia. Muito do conteúdo dele é
trazido de outros pensadores e obras. São apresentadas opiniões discrepantes e
autoridades de forma honesta; contudo uma ortodoxia rígida prevalece ao longo da
obra.
Com seu arranjo em ordem de material de forma sucinta, o trabalho forma
provavelmente uma introdução do melhor da teologia escolástica. Os estudantes
poderiam adquirir o essencial da filosofia e da teologia em forma prontamente
digestível, enquanto os professores poderiam se expandir livremente nas teses de suas
próprias conferências e escritos. Não ocasionou nenhuma surpresa, então, que até
mesmo a Summa Teológica de Aquino, o magnífico, levou muitas gerações para
expulsar as Sentenças de uma posição de liderança acadêmica nas fases iniciais de
treinamento teológico. É claro que a Bíblia Sagrada era o livro menos usado,
consultado e estudado.2
2 Microsoft ® Encarta ® Enciclopédia 2002. © 1993-2001 Microsoft Corporation. “Escolástica”.
7
III. A Escolástica
A escolástica foi um movimento filosófico e teológico que pretendeu usar a razão
natural humana e, particularmente, a filosofia e a ciência de Aristóteles para
compreender o conteúdo sobrenatural da revelação do cristianismo. Foi o principal
movimento nas escolas e universidades medievais da Europa, de meados do século XI
a meados do século XV.
Uma de suas atitudes comuns foi a convicção na harmonia fundamental entre
razão e revelação. No entanto, nos possíveis conflitos entre ambas, a fé era sempre o
árbitro supremo: a filosofia se via submetida à teologia. Esta atitude entrou em choque
com a chamada teoria da dupla verdade de Averroés, que afirmava que a verdade era
acessível a ambas. Mais tarde, São Tomás de Aquino estabeleceria o equilíbrio entre a
razão e a revelação. Porém, os escolásticos posteriores, a começar por Johannes Duns
Scotus, limitaram cada vez mais o campo das verdades passíveis de serem provadas
através do entendimento. Esta tendência levou à perda de confiança na razão natural
humana e na filosofia, como ficou evidente na primeira fase do Renascimento. Outra
tendência comum entre os escolásticos foi sua submissão às chamadas autoridades: os
grandes mestres do pensamento da Grécia e de Roma, especialmente Aristóteles e os
primeiros padres da Igreja. Santo Agostinho foi sua principal autoridade em teologia.
Um dos mais importantes métodos da escolástica foi o uso da lógica e do
vocabulário filosófico de Aristóteles no ensino, na demonstração e na discussão. A
instrução se realizava, igualmente, comentando textos de alguma autoridade
inconteste, como era o caso das obras de Aristóteles, da Bíblia e dos Quatro livros de
sentenças de Pedro Lombardo. Também se recorria à técnica da discussão por meio
de debate público.
Entre os escolásticos mais notáveis dos séculos XI e XII, encontram-se Santo
Anselmo, Pedro Abelardo e Roscelino, tendo este fundado a escola conhecida como
nominalismo. No século XIII, destacam-se São Tomás de Aquino, Santo Alberto Magno,
Roger Bacon, São Boaventura e Duns Scotus. O nominalismo adquiriu relevância no
8
século XIV com William of Occam. A escolástica renasceu na Espanha no século XVI,
com Francisco de Vitoria e Francisco Suárez. O neo-escolasticismo, revitalizado pelo
papa Leão XIII em 1879, teve em Jacques Maritain um de seus principais expoentes da
atualidade.
Em 1998, o papa João Paulo II reafirmou a importância da filosofia escolástica
para a Igreja Católica. 3
3 Microsoft ® Encarta ® Enciclopédia 2002. © 1993-2001 Microsoft Corporation. “Escolástica”.
9
IV. Pedro Lombardo (1100-1160)
(Biografia Básica)
Pedro Abelardo era muito conhecido no décimo segundo século pelo seu brilho e
originalidade. Para influência mais duradoura, porém, nós temos que observar a outro
Pedro que geralmente é reconhecido por não ter o talento de Abelardo, mas que tinha
tido sucesso por ter escrito o tipo de trabalho que admiravelmente satisfez as
necessidades das escolas teológicas em desenvolvimento.
Nascido em Navarra na Itália, Pedro Lombardo, estudou em Bologna, Reims e foi
para Paris aproximadamente em 1135(*) e gastou algum tempo com Hugo de São Vitor
e possivelmente com Pedro Abelardo grandes expoentes da cultura escolástica.
Enquanto em Paris leu ele ou possivelmente ouviu e também se familiarizou com o
Decretum do canonista Graciano. O Comentário dele das Epístolas de Paulo - “Cartas
de Paulo” pertence a este período, e estabeleceu a reputação dele como um excelente
estudante. Unindo a piedade e o espírito devocional e prático da escola de São Vítor
com o pensamento racional de Abelardo, Pedro sistematizou em pensamento como
deveria organizar sua obra prima “As Sentenças”. Também permaneceu na Catedral de
Notre Dame de Paris e, em sua escola durante algum tempo.4
Durante uma visita a Roma que durou de 1148 a 1150, ele veio a conhecer o
livro “Fé Ortodoxa” de João de Damasco em uma tradução latina nova. Ele voltou à
França em 1152 e gastou o seu último ano de vida como arcebispo de Paris (1159),
onde ele morreu em 1160. Foi durante este último período na França que ele completou
a sua obra-prima, “sententiarum de Libre” – as “Sentenças” – em quatro volumes, que
logrou para ele o título de “Mestre de Orações” e que produziu nesta obra um resumo
sistemático da doutrina cristã como vigente na época. Também figura como sendo obra
sua a obra “Comentários aos Salmos”. 5
Pedro de Poitiers foi pupilo de Pedro Lombardo e também demonstrou talento e
originalidade dentro da escola de pensamento escolástica.
4 Otto W. Heick, A History of Christian Thought vol.1 – “The Rise of Scholasticism” (Philadelphia USA, 1965), 270.5 Geoffrey W. Bromiley, Historical Theology – An Introduction –“Two Peters” (Michigan USA., 1978), 189
10
(*) Alguns comentaristas e historiadores acreditam que foi no ano de 1130 que
Pedro Lombardo chegou à Paris. Foi dada preferência ao ano de 1135 por figurar em
maior número de referências e de ser mencionado em documentos mais antigos esta
data, mas mesmo que exista a possibilidade do ano ter sido a de 1130 em nada
prejudicaria este estudo.
11
V. As “Sentenças” (Líber Quatuor Sententiarum)
Provavelmente escrito entre 1148 e 1152.
Sem grande originalidade, as “Sentenças” se caracterizam por sua ordem lógica,
por sua clareza didática e por sua referência a autores que tratam dos temas em
discussão.
5.1. O primeiro livro das sentenças trata sobre Deus, e nele Pedro discute a
doutrina da trindade e os atributos de Deus.
Sua apresentação é bastante tradicional. A principal exceção é a sua proposta
de que o Espírito Santo é o vínculo de amor que une os seres humanos e que resultou
em repetidas críticas e acusações contra Pedro Lombardo.
5.2. O segundo livro das “Sentenças” trata da criação, dos anjos e outras
criaturas, do ser humano, para daí passar à graça e ao pecado, (estes últimos nessa
ordem, inverso ao que segue muitos autores).
5.3. O terceiro livro das “Sentenças” aborda a cristologia, a redenção, os dons
do Espírito Santo e os mandamentos. É aqui, na seção cristológica, que Pedro
Lombardo delineia, como tratado na sexta seção desse livro, o que foi chamado de
“niilismo cristológico”, ao declarar que Jesus Cristo, em quanto ser humano, não é
“algo”. Alguns de seus inimigos interpretam isto como uma forma de docetismo. Mas na
realidade o que nosso autor está apresentando é o que Cirilo de Alexandria antes
explicou como a “união não hipostática”.
5.4. O Quarto livro das “Sentenças” trata sobre os sacramentos e sobre as
últimas coisas. Na seção sobre os sacramentos e sobre as últimas coisas. Na seção
sobre os sacramentos se oferece uma lista de sete deles, e são também apresentadas
razões a limitar o seu número a sete.
12
Isto parece ao mesmo tempo ter refletido nas opiniões e práticas comuns do
século XII, e ajudando a fixar o número de sacramentos em sete.
Poderiam ser chamadas as “Sentenças” de Pedro Lombardo quase não sendo
uma contribuição original para teologia. O que o autor tenta (e finamente realiza) é dar
uma declaração clara e bem-organizada dos temas teológicos básicos.
Ele não desperdiça tempo em pontos sutis de filosofia. Muito do conteúdo dele é
trazido de outros pensadores e obras. São apresentadas opiniões discrepantes e
autoridades de forma honesta; contudo uma ortodoxia rígida prevalece ao longo da
obra.
Com seu arranjo em ordem de material de forma sucinta, o trabalho forma
provavelmente uma introdução do melhor da teologia escolástica.
Os estudantes poderiam adquirir o essencial da filosofia e da teologia em forma
prontamente digestível, enquanto os professores pudessem se expandir livremente nas
teses de suas próprias conferências e escritos. Não ocasionou nenhuma surpresa,
então, que até mesmo a Summa Teológica de Aquino, o magnífico, levou muitas
gerações para expulsar as Sentenças de uma posição de liderança acadêmica nas
fases iniciais de treinamento teológico.
A Bíblia, claro que, era o último livro de ensino.
13
VI. Oposição à obra “As Sentenças”.
As “Sentenças” não se impuseram sem oposição. Alguns místicos de tendências
mais fideístas, como de Gautier de São Vítor, não gostavam de seu uso da razão.
Muitos acusavam Pedro Lombardo de heresia por sua postura cristológica.
Diversas vezes houve tentativas de condená-lo, e também se proibiu o uso das
“Sentenças” em algumas universidades. Mas pouco a pouco o livro foi se impondo por
sua utilidade e clareza, e por fim, o Concílio Latrão o endossou.
A partir de então, foram as “Sentenças” o texto de teologia empregado nas
principais universidades, onde se esperava que uma das primeiras tarefas de todo
pretendente a mestre fosse fazer um comentário das “Sentenças”.
14
VII. Pedro Lombardo e os Sacramentos
7.1. Quatro Questões:
Lombardo abordou os sacramentos no seu livro IV das “Sentenças”.
Ele lidou com os sacramentos debaixo de uma distinção em seu livro. Ele faz um
começo indiferente alegorizando e conectando o trato dos sacramentos com a demora
no retorno de Cristo, por isto é da morte de Cristo e paixão que os sacramentos
recebem o poder Dele.
Porém, Cristo não desejou vir até que o homem fosse convencido que nem o
natural nem a lei escrita poderiam ajudá-lo. Também, os sacramentos só seriam aceitos
quando isto estivesse claro.
O matrimônio, por exemplo, foi instituído até mesmo antes do pecado, mas
depois do pecado se tornou “um remédio contra os efeitos corrompedores da
concupiscência carnal” (Vol. IV 2.1).6
A divisão presente em 182 distinções é de uma data posterior visando facilitar a
pesquisa em sua obra
Lombardo apóia a confirmação episcopal e de sucessão apostólica. Desde os
apóstolos ele confirmou, só os seguem a linha de sucessão desde Pedro, todas as
outras administrações são nulas e sem valor.
Em relação ao poder de confirmação, Lombardo distingue entre o presente do
Espírito para o perdão (batismo) e o presente dele visando fortalecer o crente
(confirmação). A idéia de um trabalho dobrado do Espírito tem de estar presente,
embora nós também não devamos esquecer que Lombardo vê um lado positivo no
batismo.
A explicação de Lombardo sobre a penitência confia no conceito de Jerônimo da
segunda prancha pesadamente depois de um naufrágio. A primeira prancha é o
batismo, por meio do qual o homem velho é morto e o homem novo nasce. “Penitência
é a segunda prancha… por meio da qual nós nos elevamos novamente depois de um
outono,” o artigo de vestuário velho estava sendo tirado e o novo retomou. Porém,
Lombardo também vê aquela penitência é uma virtude da mente e não só um
6 Geoffrey W. Bromiley, Historical Theology – An Introduction –“Two Peters” (Michigan USA., 1978), 192.
15
sacramento. Ele fala de “uma penitência interna e uma penitência externa.” Cada uma é
“uma causa de saúde e santificação” (Vol. IV.14 .1). 7
7.2. As Sete Ordens:
Ordens também são sacramentos, mas eles exigem tratamento separado, o que
Lombardo lhes dá no Vol. IV. 24.8 O primeiro ponto dele é que há sete ordens de
funções espirituais, como a pessoa pode deduzir dos pais e do exemplo de Cristo que
combinou todas as funções Nele (Vol. IV 24.2).9 Os ministros deveriam desfrutar esta
graça e também deveriam ser esses “de quem a doutrina e a espiritualidade é
transferida pela graça a outros” (Vol. IV 24.3). 10
As sete ordens são listadas: o porteiro, eleitor, exorcista, assistente, subdiácono,
diácono, e padre. Todos são chamados de “clero” termo que Lombardo usa para
significar “escolhido por lote” (kleros). 11
7.3. Presbíteros:
Lombardo insiste que só o diaconato e presbiterado sejam corretamente como
estados sagrados. Ele dá duas razões: (1) a igreja primitiva teve só eles, e (2) os
apóstolos nos deram só um comando sobre os dois. As ordens secundárias eram fixas
para cima pela igreja para si mesmo (Vol. IV. 24.12). 12
7.4. Definição da Ordem.
Lombardo define uma ordem como um sinal sagrado e algo pelo qual são dados
poder espiritual e prático dos que ordenaram. Um “caráter” espiritual ou selo é chamado
de “ordem ou grau”. Ordens são sacramentos “porque recebendo uma coisa sagrada,
7 Geoffrey W. Bromiley, Historical Theology – An Introduction –“Two Peters” (Michigan USA., 1978), 192.8 Ibid.,192.9 Ibid.,192.10 Ibid.,192.11 Ibid.,192.12 Ibid.,192.
16
enfeite das coisas que estão lá, é conferido como figura ou emblema do sagrado.” (Vol.
IV. 24.13).13
7.5. Ordem e Ofício.
A discussão de Lombardo conduz à conclusão bastante surpreendente que o
episcopado não é uma ordem. Isto é por que o bispo não aparece na lista dos sete.
Também deveria ser notado que quando Lombardo diferencia os diáconos e
presbíteros, ele funda o presbiterado no compromisso apostólico de bispos e
presbíteros em cada cidade. Continuando a discussão, observa Lombardo que nós
achamos outros nomes, mas estes são de “dignidades e ofícios,” não ordens. “O bispo”
é o nome de uma dignidade e um ofício. Deriva da função atual de bispos, quer dizer,
“agüentando o cuidado desses debaixo deles” (Vol. IV. 24.15, citando Isidoro).14
O bispo, enquanto assistindo sob os hábitos a vida das pessoas, é “o chefe dos
padres, o caminho desses que o seguem,” “o padre mais alto,” quem “faz os padres e
diáconos e distribui ordens eclesiásticas” (Vol. IV. 24.16, citando Isidoro). 15
7.6. Questões:
Até mesmo restritivo em tal setor, Lombardo trabalha obviamente levantando
muitas perguntas importantes. Por exemplo, nós podemos concordar que Lombardo
tem razão que a palavra “sacramento” pode ser usada de modos diferentes.
O próprio modo dele é, sem nenhuma dúvida, tão bom quanto qualquer outro.
Não obstante, são precisos critérios melhores, pois seguramente o termo foi aplicado a
alguns aspectos essenciais e obrigatórios de ministério.
O número sagrado não tem em si mesmo algo que ofereça uma razão suficiente
por figurar nos sinais listados por Lombardo.
Na realidade, a natureza discrepante deles parece oferecer uma causa válida
para desafiar a construção inteira.
13 Ibid.,192.14 Ibid.,193.15 Ibid.,193
17
O funcionando quase-automático dos chamados de sacramentos por escrutínio,
também.
Lombardo, na verdade, evita uma compreensão puramente causal. Nesta
discussão mais detalhada ele mostra qualquer incredulidade ou insinceridade pode
formar uma represa que confere o influxo de graça.
Conseqüentemente uma chamada para resposta normalmente deve ser emitida.
A grande exceção é a do batismo infantil, reduzindo o valor da proteção; às
crianças não se podem conferir nenhuma resistência, perdão ou graça a eles pela
administração do sacramento somente, e a conversão pode ter só uma significação
modificada de reincerir onde há uma queda da graça. 16
16 Idid.,193
18
VIII. A Teologia Católica Romana nos Séculos
Posteriores a Pedro Lombardo e das “Sentenças”.
Alberto Magno declarou que a filosofia de Aristóteles era a regra da verdade, a
perfeição mais alta de razão humana.
O material novo e problemas levados por este estudo de Aristóteles pedia um
método novo de estudo. Hitherto trabalhou sistematicamente nas escolas e tinha sido
dedicado a escrever um comentário nas Orações de Pedro Lombardo.
Este método foi substituído pela Summa, um tratamento muito elaborado, mas
cuidadosamente equilibrado de todos os objetos da teologia, se assemelhando à
arquitetura gótica soberba desta época.
Com força incomparável e uma acuidade nunca novamente atingida, os
melhores talentos dos Idade Média se dedicaram ao trabalho de fundir o
Augustinianismo da Igreja e do direito eclesiástico com a filosofia Aristotélica. Ao
mesmo tempo, os estudantes asseguraram à pressuposição que existia através de
direitos iguais e que nem a teologia natural nem a revelação poderia ser descartada.
A escola franciscana mais velha teve precursores em teólogos como
Praepositinus de Cremona, William de Auxerre, e William de Auvergne. Membros desta
escola educavam começando com a teologia do décimo segundo século, sendo a
autoridade principal deles Augustinho.
Ao mesmo tempo, tendências modernas se afirmaram no estilo novo de
problemática e o uso mais intensivo da dialética.
19
IX. A Doutrina dos Sacramentos.
Todas as linhas de interesse em teologia medieval convergem no ensino relativo
aos sacramentos.
Este ensino foi condicionado por um interesse dobrado (1) a preocupação prática
do indivíduo para alguma forma tangível de salvação, e (2) as tendências hierárquicas
da época para ligar a salvação do indivíduo à igreja. Os sacramentos se tornaram
meios de graça e meios para reger o povo.
Considerando que o termo sacramentum tinha sido usado nos séculos
precedentes para qualquer ato religioso significante, o número exato dos sacramentos
tinha permanecido indeterminado. Ao batismo e a Eucaristia, Abelardo tinha somado a
Confissão e a Extrema Unção.
Os alunos dele somaram a estes, o Matrimônio. Estes cinco sacramentos foram
reconhecidos por Hugo.
Roberto Pullus (a.D. 1150) atingiu o mesmo número omitindo a Extrema Unção e
o Matrimônio mas incluindo a Penitência e a Ordenação.
Por uma combinação este número sete foi alcançado finalmente.
Este foi o número estabelecido, desde Pedro Lombardo, finalmente recebeu a
sanção oficial no conselho de Florença em 1439.
Os franciscanos apoiaram a definição de Agostinho de um sacramento como um
sinal visível de uma graça invisível. Porém, Thomas de Aquino fez do assunto
sacramental o veículo da graça menos no caso da Ordenação. Neste sacramento, de
acordo com Aquino, o poder espiritual procedeu do bispo exercendo a sua função. 17
Em cada sacramento a matéria, o elemento visível, é distinto da forma como as
palavras usadas no rito. As duas condições (matéria e forma) retiveram uma conotação
de filosofia Aristotélica: matéria significa a Eucaristia, pão e vinho são de fato até nas
palavras, a mudança da constituição deles no corpo sacramental e sangue de Cristo.
O efeito primário dos sacramentos é restabelecer a retidão original da pessoa
pelos méritos remissivos do Salvador. Os três sacramentos que não podem ser
repetidos (batismo, confirmação, e ordenação) também comunicam um caráter
17 Otto W. Heick, A History of Christian Thought vol.1 – “The Rise of Scholasticism” (Philadelphia USA, 1965), 290
20
espiritual, quer dizer, uma marca indelével, indestrutível que se imprimiu na alma
durante o tempo.
Esta concepção serviu como um meio conveniente para apoiar a convicção na
unidade e santidade da Igreja apesar de dissensões prevalecentes e a incredulidade
entre os que se batizaram e a indignidade inegável de muitos padres.
21
X. CONCLUSÃO
Todas as linhas de interesse em teologia medieval convergem no ensino relativo
aos sacramentos.
Pedro Lombardo nas “Sentenças”, não desperdiça tempo em pontos sutis de
filosofia. Muito do conteúdo dele é trazido de outros pensadores e obras. São
apresentadas opiniões discrepantes e autoridades de forma honesta; contudo uma
ortodoxia rígida prevalece ao longo da obra.
Com seu arranjo em ordem de material de forma sucinta, o trabalho forma
provavelmente uma introdução do melhor da teologia escolástica.
Os estudantes poderiam adquirir o essencial da filosofia e da teologia em forma
prontamente digestível, enquanto os professores pudessem se expandir livremente nas
teses de suas próprias conferências e escritos. Não ocasionou nenhuma surpresa,
então, que até mesmo a Summa Teológica de Aquino, o “magnífico”, levou muitas
gerações para expulsar as Sentenças de uma posição de liderança acadêmica nas
fases iniciais de treinamento teológico.
A Bíblia, claro que, era o último livro de ensino.
Portanto, a relevância histórica é nítida na formação da teologia católica romana
com relação à influência dos quatro volumes das “Sentenças” de Pedro Lombardo. Ele
e seus escritos influenciaram grandemente na formação de gerações de alunos nas
escolas eclesiásticas, igrejas, universidades, e especificamente nos cursos teológicos
destas universidades.
Acreditamos que este estudo não esgotou as possibilidades de pesquisa
histórica, mas serve para dar uma luz sobre o assunto abordado, mostrando claramente
as influências que causaram no pensamento medieval os quatro volumes dos
“Sacramentos” e como Pedro Lombardo organizou, esquematizou, sistematizou e
tornou prática a consulta, o debate, e a normatização da teologia católica romana pela
sua visão prática e definida sobre o assunto em voga na época.
22
Bibliografia
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Editora Martins Fontes. 4ª
Edição, 2003. pp. 344, 345 –Escolástica.
BROMILEY, Geoffrey W. Historical Theology - and Introduction. Michigan, USA. 1978.
p. 188-189 - Capítulo –Peter Lombard and the Sacraments. p. 92-193; – Capítulo –
Two Peters.
Diccionário de Filósofos. Madrid: Ediciones Rioduero. 1986. p. 1013, 1014.
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Capítulo – La Filosofia em el s. XI/San Anselmo y su Época; pp. 294, 295 – Capítulo -
La Filosofia em el s. XII/Alano de Lilá y Nicolás de Amiens; pp. 372, 373 – Capítulo –
Influjo greco-árabe. Las Universidades/ La fundacción de lãs Universidades; pp. 452,
453 – Capítulo – La Filosofia em el siglo XIII/Los maestros de Oxford; pp. 460, 461 –
Capítulo – La filosofia en el siglo XIII/Una “Summa Philosophiae” del siglo XIII; pp. 462,
463 – Capítulo - La filosofia en el siglo XIII/Una “Summa Philosophiae” del siglo XIII; pp.
474, 475 – Capítulo - La filosofia en el siglo XIII/Alberto Magno; pp. 550, 551 – Capítulo
- La filosofia en el siglo XIV/Juan Duns Escoto, 568, 569 – Capítulo - La filosofia en el
siglo XIV/Seguidores de Duns Escoto; pp. 572, 573 – Capítulo - La filosofia en el siglo
XIV/Seguidores de Duns Escoto; pp. 604, 605 – Capítulo - La filosofia en el siglo
XIV/Guillermo de Ockam; pp. 672, 673 – Capítulo – Balance de la Edad Media/Retorno
de las letras en Italia.
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Capítulo – The Middle Ages (Doctrinal Issues of Eleventh and Twelfth Centures); pp.
282, 283 – Capítulo – The Midle Ages (The Church and Theology of the Thirteenth
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Catholic Tradition; pp. 276- 279 – Capítulo - Summa Theológica/The Reintegration of
the Catholic Tradition; pp. 282, 283 – Capítulo - Summa Theológica/The Reintegration
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24
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...................................................................................................... 2
CAPÍTULOS
I. CONTEXTO HISTÓRICO GERAL.................................................................... 31.1. A Idade Média..................................................................................... 31.2. A Alta Idade Média.............................................................................. 4
II. CONTEXTO HISTÓRICO ESPECÍFICO......................................................... 6
III. A ESCOLÁSTICA............................................................................................ 8
IV. BIOGRAFIA BÁSICA DE PEDRO LOMBARDO........................................... 10
V. AS “SENTENÇAS” (LIBER QUATUOR SENTENTIARUM)...........................12
VI. A OPOSIÇÃO À OBRA “AS SENTENÇAS”................................................. 14
VII. PEDRO LOMBARDO E OS SACRAMENTOS............................................ 157.1. Quatro Questões............................................................................... 157.2. As Sete Ordens.................................................................................. 167.3. Presbíteros........................................................................................ 167.5. Ordem e Ofício................................................................................. 177.6. Questões........................................................................................... 17
VIII. A TEOLOGIA CATÓLICA ROMANA NOS SÉCULOS SEGUINTES........ 19
IX. A DOUTRINA DOS SACRAMENTOS............................................................20
X. CONCLUSÃO..................................................................................................22
BIBLIOGRAFIA................................................................................................... 23
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