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SOCIEDADE BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA - SOBRATIMESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM TERAPIA INTENSIVA
GISELLE LEITE NUNES
Avaliação do Estresse da Equipe de Enfermagem em Unidade de Terapia Intensiva
Rio de Janeiro
2016
GISELLE LEITE NUNES
Avaliação do Estresse da Equipe de Enfermagem em Unidade de Terapia Intensiva
Tese apresentada à Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva, como requisito obrigatório para obtenção do título de Mestre em Terapia Intensiva.
Orientadora: Ms. Keid Teixeira
Rio de Janeiro
2016
RESUMONUNES, G.L. Avaliação do estresse do enfermeiro em unidade de terapia intensiva. Trabalho de Conclusão de Curso (Mestrado Profissional em Terapia Intensiva), IBRATI ,2016.O estresse é considerado uma doença psicossomática, a qual os fatores que alteram o estado emocional fazem com que este interfira diretamente no estado físico. As causas do estresse variam de indivíduo a indivíduo. Considerando a Pirâmide das necessidades de Maslow, o estresse pode surgir quando o indivíduo não consegue suprir suas necessidades primárias (fisiológicas e de segurança) e secundárias (sociais, auto-estima, auto-realização). O estresse pode ser crônico ou agudo. O estresse crônico é considerado como uma doença do ser humano moderno gerado muitas vezes em ambiente de trabalho (Síndrome de Burnout). Em função disso, o objetivo desta pesquisa foi avaliar o estresse da equipe de enfermagem em unidade de terapia intensiva. Conclui-se que o processo de trabalho do enfermeiro que atua em unidade de terapia intensiva é considerado estressante. Tem como função prestar assistência em situações de urgência e emergência, executar o tratamento, coordenar a equipe de enfermagem, além de exercer funções burocráticas. Para isso, deve ter além do conhecimento técnico-científico o discernimento, a iniciativa, boa comunicação, habilidade de ensinar, maturidade, estabilidade emocional e capacidade de liderança, que provoca uma sobrecarga de trabalho. Essa situação pode gerar um desgaste físico e mental, resultando em estresse.PALAVRAS-CHAVES: Estresse; Enfermeiro; Terapia Intensiva; Equipe; Assistência.
ABSTRACT
NUNES, G.L. stress Assessment of nurses in intensive care unit. Monography (Specialization in intensive care), IBRATI .2016.
Stress is considered a psychosomatic disease, to which the factors which alter the emotional state makes this interferes directly in the physical state. The causes of stress vary from individual to individual. Considering the pyramid of Maslow's needs, stress can arise when an individual is unable to meet their primary needs (physiological and safety) and secondary (social, self esteem, self-actualization). Stress can be acute or chronic. Chronic stress is considered as a disease of the modern human being raised often in the workplace (Síndrome Burnout). Accordingly, the objective of this research was to evaluate the stress of nurses in intensive care unit. It is concluded that the nurses ' work process that works in the intensive care unit is considered to be stressful. Functions in providing assistance in situations of urgency and emergency, perform the treatment, coordinate the nursing staff, as well as bureaucratic duties. To do so, must have addition of technical and scientific knowledge the insight, initiative, good communication, ability to teach, maturity, emotional stability and leadership, which causes an overload of work. This situation can generate a physical and mental wear and tear, resulting in stress.
KEYWORDS : Stress; Nurse; Intensive Therapy; Team; Assistance.
SUMÁRIO
1. Considerações Iniciais........................................................... 6
1.1 Tema ....................................................................................... 8
1.2Problema ................................................................................. 8
1.3Justificativa da Pesquisa ...................................................... 8
2.Objetivos ................................................................................... 9
2.1 Objetivo Geral ........................................................................ 9
2.2 Objetivos Específicos ............................................................ 9
3. Fundamentação Teórica .......................................................... 9
3.1 O Ambiente Hospitalar .......................................................... 9
3.2 Atribuições do Enfermeiro ................................................... 10
3.3 O Estresse na Perspectiva da Saúde................................... 11
3.3.1 O que é o estresse? ........................................................... 11
3.3.2 Estresse X Motivação: causas .......................................... 11
3.3.3 Tipos de estresse................................................................ 12
3.4 Estresse ocupacional ........................................................... 13
3.4.1 Estresse ocupacional na profissão de enfermagem ...... 14
3.4.2 Síndrome de Burnout ....................................................... 16
3.5 Fatores estressores na enfermagem:(DES)Motivação...... 18
3.6 O Enfermeiro na unidade de terapia intensiva .................. 21
4. Metodologia da Pesquisa ...................................................... 23
5. Considerações Finais ............................................................ 24
6. Referências Bibliográficas ................................................... 27
6
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O estresse está presente desde os tempos mais primitivos da civilização,
quando o indivíduo deveria sentir-se preparado para lutar e fugir. O estresse se
manifesta quando o indivíduo é exposto a situações que podem colocar em perigo
a sua “sobrevivência”. Por isso, nos últimos anos, o estresse é observado com
maior preocupação (CALIL; PARANHOS, 2007, p.117).
No mundo moderno, cheio de conflitos, rapidez de informações e necessidade
de superação, os padrões herdados na nossa genética não são aceitos, gerando
sentimento de incapacidade. Quando a pessoa julga não ser capaz de cumprir
suas responsabilidades junto à sociedade, desacreditada de sua importância junto
a sua rede de relacionamento, surge o estresse. Assim, o organismo tende a
reagir às exigências que são absorvidas. De acordo com nossa herança genética,
o organismo reagiria causando ao individuo uma fuga ou luta. (SILVA, 2009).
O estresse é um tema que é inserido nos campos de conhecimento da
Enfermagem em Saúde Mental e Saúde do Trabalhador. A Organização Mundial
da Saúde, em 1946 definiu a saúde como “um estado de completo bem-estar
físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade”.
Atualmente o foco único na doença, que sempre foi priorizado em pesquisas da
área de saúde, cede espaço a estudos de características adaptativas, sendo
algumas: esperança, sabedoria, criatividade, coragem e espiritualidade. Já em
1983, a Assembleia Mundial de Saúde, abordando a inclusão de uma dimensão
não-material ou espiritual de saúde esta sendo discutida extensamente a ponto de
haver uma proposta para modificar o conceito clássico de saúde da OMS para
“um estado dinâmico completo de bem-estar físico, mental, espiritual e social e
não meramente a ausência de doença” (PANZINI et al, 2007).
Para que haja melhor compreensão da relação do estresse com a saúde do
trabalhador e desta com a saúde do enfermeiro, especialmente aquele que atua
em unidade de terapia intensiva, é necessária uma análise do conceito e dos
sintomas derivados do estresse para então, compreender os fatores que
7
influenciam resistências físicas e psíquicas deste profissional (CALIL;
PARANHOS, 2007, p.117).
Cada pessoa possui uma forma particular de reagir aos estímulos da vida,
portanto tem também limiares diferentes de esgotamento por estresse. De acordo
com o ponto de vista que cada um tem da realidade, da valorização do passado
ou das perspectivas do futuro, as reações de estresse podem variar. Uma
visualização pessimista da realidade pode proporcionar e até mesmo favorecer
estas reações, enquanto a representação otimista deve amenizar seus efeitos
(XAVIER, 2010).
Quando o indivíduo conscientizar-se de quais são estes estímulos, poderá
então começar a enfrentá-los. A função básica do enfrentamento é a adaptação
do indivíduo às situações adversas, com redução da tensão e restauração do
equilíbrio com menor dano possível (CALIL; PARANHOS, 2007, p.120).
A maneira em que o trabalhador percebe e atribui um significado ao trabalho, o
modo como está inserido no processo de trabalho e envolvido por ele, terá
implicações em sua maneira de viver e ser saudável, refletindo em uma melhor ou
pior qualidade de vida (SÁ, 2001).
Nesse sentido, é necessário que o enfermeiro, profissional com tamanha
responsabilidade em sua função, esteja suprido em todas suas necessidades,
para que possa atender satisfatoriamente as necessidades de seus pacientes, e
mesmo em situações de extrema pressão e risco, consiga que seu corpo e mente
esteja em sintonia com as situações de emergência a que são submetidos. O que
é demonstrado na citação de Rocha:
O indivíduo mentalmente mais sadio encontra soluções mais satisfatórias para
seus conflitos. Essas soluções tanto são escolhidas por ele, deliberadamente,
como podem partir do seu inconsciente. Assim como apresentamos respostas
fisiológicas, também lançamos mão de respostas psicológicas para nos defender
e proteger (ROCHA, ANO, p.85).
No decorrer das atividades em campo de estágio curricular, principalmente na
unidade de terapia intensiva, se pode observar que vários enfermeiros aparentam
estar em alto grau de estresse emocional, provavelmente advindos dos desgastes
8
enfrentados diariamente, os quais envolvem tensões, ansiedades, situações de
tristezas, doenças, mortes, cobranças externas (ambiente hospitalar, recursos,
trabalho em equipe, assistência, gerenciamento, liderança) e internas (família,
amigos, relacionamentos, estabilidade), sobrecarga de trabalho, falta de
reconhecimento da profissão pela sociedade (muitas vezes pelo próprio
enfermeiro já desmotivado), salário não-condizente, situações estas
potencializadas quando em unidade de emergência, onde o enfermeiro encontra
maior dificuldade na assistência prestada, gerando maior estresse, o que
prejudica sua saúde mental, e consequentemente sua qualidade de vida,
interferindo diretamente na qualidade da assistência prestada.
Sabe-se que a enfermagem, é definida como uma ciência voltada para a
promoção da saúde e bem-estar do ser humano, sendo o cuidado a sua
essência. Cuidado este, o qual primeiramente o próprio enfermeiro deveria estar
suprido. Afinal, cuidar e proporcionar assistência ao enfermo são tarefas que
implicam em desgaste físico e psicológico. Portanto, para melhor compreensão,
levanta-se a seguinte questão: Como avaliar o estresse do enfermeiro em
unidade de terapia intensiva?
1.1 TEMA
Avaliação do estresse da Equipe de Enfermagem em Unidade de Terapia
Intensiva.
1.2 PROBLEMA
Quais as principais causas do estresse na equipe de enfermagem, que atua na
unidade de terapia intensiva ?
1.3 JUSTIFICATIVA DA PESQUISA
Almejo, ao término deste estudo, contribuir para que as falhas e deficiências
sejam apontadas, e que os profissionais envolvidos neste contexto, tenham como
função preservada, a prestação da assistência na unidade de terapia intensiva,
executar o tratamento, coordenar a equipe de enfermagem, além de, exercer
funções burocráticas e melhorias no ambiente de trabalho.
9
Para isso, deve ter além do conhecimento técnico-científico, o discernimento , a
iniciativa, boa comunicação, habilidade de ensinar, maturidade, estabilidade
emocional e capacidade de liderança, que provoca uma sobrecarga de trabalho.
Essa situação, pode gerar um desgaste físico e mental, resultando em estresse.
2. OBJETIVOS
2.1 GERAL :
- Avaliar o estresse da equipe de enfermagem em unidade de terapia intensiva.
2.2 ESPECÍFICOS:
- Identificar os fatores (internos/ externos) que ocasionam o estresse da equipe de
enfermagem em unidade de terapia intensiva.
- Descrever as situações, as quais evidenciam o estresse do profissional de
enfermagem
- Apontar a importância da saúde mental para a enfermagem no trabalho em
equipe e com a assistência prestada na unidade de terapia intensiva.
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3.1. O AMBIENTE HOSPITALAR
Para Dias et.al. (2005, p.5), os hospitais são organizações complexas, com
atividades intensas, que funcionam na sua maioria em período integral. Para o
funcionamento adequado de todas as suas unidades e setores, é necessário uma
eficiência na mão de obra, com investimentos em capital humano, para uma
atuação harmônica e independente, com profissionais multidisciplinares,
executando suas atribuições, como citado:
(...) as unidades hospitalares são compostas por uma complexidade muito grande
tanto de profissionais como também da sua própria estrutura organizacional.
Portanto, o ambiente hospitalar caracteriza-se por ser altamente estressante e
com atividades muito intensas, uma vez que lida com pessoas debilitadas
fisicamente e emocionalmente , lida com vida , morte e doenças, contribuindo
10
assim, para ocorrência de situações de ansiedade e tensão nas equipes técnicas.
Tal afirmação não é difícil de ser comprovada, uma vez que atualmente, hospitais
que apresentam boas condições de trabalho, sendo bem aparelhados, não
faltando materiais e nem tampouco medicamentos, se tornaram exceção. Tanto
na esfera pública quanto na privada, o que vemos são hospitais descuidados e
profissionais correndo contra o tempo para tentarem da melhor maneira possível
cumprirem suas tarefas, pois exercem diversas funções ao mesmo tempo e se
sobrecarregam realizando diversos plantões, face a má remuneração que
recebem (DIAS et.al., 2005, p.5)
3.2. ATRIBUIÇÕES DO ENFERMEIRO
A enfermagem tem como principal objetivo promover através de sua atuação a
promoção, a conservação e restabelecimento da saúde do paciente. Para isso, é
necessário o conhecimento do enfermeiro em diversas áreas, como biologia,
semiologia, psicologia, administração, entre outros. O enfermeiro deve usar, além
de sua habilidade pessoal e profissional, a percepção e sensibilidade de poder
antecipar os fatos e perceber a ansiedade, preocupação e necessidades do
paciente (DIAS et.al, 2005, p.6).
A estreita ligação entre os elementos deste sistema, e sua complexidade, pode
ser assim descrita:
“Ser enfermeiro significa ter como agente de trabalho o ser humano, e, como
sujeito de ação, o próprio ser humano. Há uma estreita ligação entre o trabalho e
o trabalhador, com a vivência direta e ininterrupta do processo de dor, morte,
sofrimento, desespero, incompreensão, irritabilidade e tantos outros sentimentos
e reações desencadeadas pelo processo doença”. (BATISTA; BIANCHI, 2006,
p.535).
O estado de saúde de cada paciente determina as necessidades dos cuidados
de enfermagem, comparando-o sempre com o estado de saúde normal. Cuidar
faz parte dos moldes de nossa civilização, desde os tempos mais primitivos. Os
cuidados de enfermagem são ações realizadas com o objetivo de conseguir a
reabilitação completa do indivíduo, dentro de suas limitações (LÓPEZ; CRUZ,
2002, p.6).
11
3.3. O ESTRESSE NA PERSPECTIVA DA SAÚDE
3.3.1. O que é o estresse?
O estresse é um fato que sempre foi comum na vida do ser humano, observado
em qualquer situação, ou mudança, que exige adaptação do indivíduo. O modo
que o indivíduo reage às experiências estressantes cria uma resposta ao estresse
(DAVIS; ESHELMAN, MCKAY, 1996, p.9).
O estresse é vivenciado pelo indivíduo a partir de três fontes básicas: ambiente,
corpo e pensamento. O ambiente exige adaptação do indivíduo, pois nele podem
ocorrer mudanças de temperatura, barulhos, excesso de pessoas e exigências
interpessoais. Pressões estas, que ameaçam as suas necessidades de auto
estima. O corpo exige do indivíduo o cuidado, que é prestado a partir de seus
hábitos de vida (dieta, atividade física, sono). O pensamento é a maneira de o
indivíduo interpretar, perceber, rotular as próprias experiências (passadas, atuais
e futuras). Pode fazer com que o indivíduo relaxe ou se estresse (DAVIS;
ESHELMAN, MCKAY, 1996, p.9)
3.3.2. Estresse versus Motivação: Causas
O ser humano tem necessidades físicas, psíquicas, de segurança, sociais, de
auto estima e de auto realização. As necessidades físicas referem-se às funções
fisiológicas: alimento, água, oxigênio, eliminação, vestuário, sexo, atividade e
repouso. Já as necessidades sociais dizem respeito a pertencer a uma família,
um grupo, ter amigos, colegas, participar, aprender e divertir-se. As necessidades
de auto estima têm a ver com autoconfiança, responsabilidades. Por fim as
necessidades de auto realização, como o próprio nome diz, quando o indivíduo se
sente realizado (ROCHA, 2005, p.53).
Segundo a Teoria de Maslow, conhecida também como teoria da motivação
humana, as necessidades humanas podem ser agrupadas em cinco níveis
(SAMPA, 2009, s.p.):
1. Necessidades fisiológicas: Estas são as necessidades básicas ao organismo
(ar, água, comida, etc.). Quando o ser humano não tem estas necessidades
12
satisfeitas, sente-se mal, desconfortado, irritado, ansioso, inseguro, doente
(enfermo). Quando o indivíduo satisfez estas necessidades, preocupa-se então
com outras (SAMPA, 2009, s.p.).
2. Necessidades de segurança: No mundo globalizado, conturbado e dinâmico
dos dias de hoje, o ser humano procura fugir dos perigos da vida moderna, busca
abrigo, segurança, proteção, estabilidade e continuidade (SAMPA, 2009, s.p.).
3. Necessidades sociais: O ser humano precisa amar e tem a necessidade de ser
amado e aceito, pertencer a uma família, um grupo. Esse agrupamento de
pessoas ocorre em sua casa, no seu local de trabalho, na sua igreja, na sua
família, no seu clube ou na sua torcida. Isso faz com que o indivíduo tenha a
sensação de pertencer a um grupo, ou a uma "tribo". Atualmente, a política,
religião e torcida são as “tribos modernas” (SAMPA, 2009, s.p.).
4. Necessidades de auto estima: O ser humano necessita ter autoconfiança. Ela
proporciona a busca pela competência. Motiva o indivíduo a alcançar objetivos,
obter aprovação e ganhar reconhecimento. Há dois tipos de estima: a auto estima
e a hetero estima. A auto estima é o ato indivíduo acreditar em si mesmo,
valorizar-se. A hetero estima é a atenção, confiança e o reconhecimento que o
indivíduo recebe das pessoas (SAMPA, 2009, s.p.).
5. Necessidade de auto realização: O ser humano busca a sua realização como
pessoa, a demonstração prática da realização permitida e alavancada pelo seu
potencial único. O ser humano pode buscar conhecimento, experiências estéticas
e metafísicas, ou mesmo a busca de Deus (SAMPA, 2009, s.p.)
3.3.3. Tipos de estresse
Existem dois tipos básicos de estresse: o estresse agudo e crônico. O estresse
agudo ocorre em um período mais curto, porém mais intenso. É causado por
situações traumáticas passageiras, como por exemplo, a perda de um ente
querido. O estresse crônico é aquele que afeta a maioria das pessoas no mundo
moderno-dinâmico que exige grande capacidade adaptativa, cobrada no dia a dia,
principalmente em ambiente de trabalho, caracterizado pelo estresse ocupacional
de uma forma mais suave, ou não (Síndrome de Burnout) (GAWRYSZEWSKI,
2006, s.p.)
13
3.4. ESTRESSE OCUPACIONAL
Trabalhadores de fábricas foram os primeiros sujeitos investigados sobre o
estresse ocupacional, com enfoque nos aspectos do ambiente físico de trabalho.
Nestas pesquisas, foram identificadas consequências psicológicas e ergonômicas
sobre a saúde do trabalhador (LAUTERT; CHAVES; MOURA, 1999, p.416).
O cinema retratou esta questão social no filme “Tempos Modernos” estreado
em 1936, no Rivoli Theatre, de Nova York, que teve roteiro e direção de Charles
Chaplin. No filme, Charlie Chaplin interpreta um operário que trabalha em uma
grande fábrica e tenta sobreviver em meio ao mundo moderno e industrializado
(INÁCIO, 2007, s.p.).
Figura 4.Tempos modernos (Charles Chaplin)
Extraída de: http://www.montgomerycollege.edu/Departments/hpolscrv/Pics/ModernTimesCog.jpg
O filme mostra o trabalho repetitivo de um operário de apertar parafusos o
tempo todo. Com este trabalho repetitivo, caracterizado pela visão funcionalista
14
(homem máquina), o operário tem problemas de stress. Exausto, passa a apertar
tudo o que se parece com parafusos. Acaba sendo despedido e internado em um
hospital, onde permanece até se recuperar. Porém, com a constante ameaça de
exaustão que a vida moderna impõe: correrias constantes, poluição sonora,
confusões diversas nas ruas, congestionamentos, desemprego, etc. Desde então,
as relações de trabalho ficaram mais estressantes, considerando, principalmente,
a rapidez de informação para a qual ficamos limitados (INÁCIO, 2007, s.p.)
3.4.1. Estresse ocupacional na profissão de Enfermagem
Para Regis; Porto (2006, p.567), a profissão de enfermagem se configura
basicamente como prestação de cuidados ao ser humano. Tal cuidado é, antes
de tudo, um exercício e uma arte de observação, de saber e de fazer. Dinâmica
que envolve quem cuida e quem é cuidado (seus pacientes). As atividades do
enfermeiro não devem se limitar a uma ação técnica a ser estudada e
desenvolvida, tal como uma função braçal. Esta profissão está fortemente
pautada nas relações humanas, sociais e nas implicações que definem sua
pratica, de tudo e todos à sua volta.
Regis; Porto (2006, p.567) afirma que “jamais se analisará a Enfermagem, sem
antes reconhecer que dela nasce um universo humano extraordinário, revelador e
original.”
Existem alguns componentes considerados ameaçadores ao ambiente
ocupacional do enfermeiro. Entre eles, o número reduzido de profissionais de
enfermagem no atendimento em saúde, considerando o excesso de atividades
por eles executadas, as dificuldades em delimitar os diferentes papéis entre
enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, e a ampla falta de
reconhecimento do enfermeiro. Esta falta de reconhecimento fica caracterizada na
remuneração insatisfatória, que acaba obrigando os profissionais a manter mais
de um vínculo de trabalho, que resulta numa carga de trabalho desgastante
(MUROFUSE; ABRANCHES; NAPOLEÃO, 2005, p.259).
No processo evolutivo da profissão, o enfermeiro tem encontrado muitos
problemas que estão associados com a sua própria história, a formação, às
exigências e deficiências do sistema inserido no atual contexto sócio político.
15
Porém, assim como o momento histórico e o contexto sócio econômico devem ser
analisados para uma maior compreensão do estresse ocupacional do enfermeiro,
também é importante distinguir o indivíduo (enfermeiro) e seu comportamento,
considerando-os como elementos importantes na dinâmica deste fenômeno.
(STACCIARINI; TRÓCCOLI; 2001 p.19).
Segundo Batista; Bianchi (2006, p.535), “o estresse no trabalho ocorre quando
o ambiente de trabalho é percebido como uma ameaça ao indivíduo, repercutindo
no plano pessoal e profissional, surgindo demandas maiores do que a sua
capacidade de enfrentamento.”
As doenças referidas com diagnóstico médico foram englobadas em: doenças
do sistema musculoesquelético, doença do sistema respiratório, doença do
sistema genitourinário e endócrino e doença do sangue, que podem ser
decorrentes do estresse vivido pelos profissionais (CALIL; PARANHOS, 2007,
p.124).
Pesquisas demonstram o desconhecimento e a falta de reconhecimento da
vivência do estresse pelo enfermeiro. Questionado a respeito do estresse
geralmente existe negação por parte do profissional. Porém , quando
consideradas as condições físicas e psicológicas nas atividades que realiza, fica
estabelecida a importância da avaliação do estresse. A falta de reconhecimento
dessa condição acaba influenciando a tomada de decisões, indo desde a decisão
individual até a ausência de decisões organizacionais para a melhoria das
condições de trabalho na unidade de terapia intensiva. (CALIL; PARANHOS,
2007, p.124).
Bianchi classificou e agrupou em categorias os estressores ocupacionais do
enfermeiro e suas principais dificuldades:
1) PROBLEMAS DE COMUNICAÇÃO COM A EQUIPE: relacionamento com
superiores; relacionamento interpessoal com o paciente, familiares, colegas e
outros profissionais; falta de suporte; equipe de Enfermagem apática e
descontente (CALIL; PARANHOS, 2007, p.122).
2) INERENTE À UNIDADE: recursos físicos; mudanças tecnológicas; mudanças
profissionais; ambiente; trabalho repetitivo; carga de trabalho; número adequado
16
de pessoal; odores desagradáveis; exposição constante a riscos; falta de
equipamentos; pressão no trabalho (CALIL; PARANHOS, 2007, p.122).
3) ASSISTÊNCIA PRESTADA: lidar com a morte e o morrer; paciente com dor;
doença terminal; lidar com necessidades emocionais do paciente e da família;
pacientes e familiares agressivos; incerteza quanto ao tratamento do paciente
(CALIL; PARANHOS, 2007, p.123).
4) INTERFERÊNCIA NA VIDA PESSOAL: conflito entre o trabalho e a casa;
desenvolvimento na carreira; tomada de decisões nos rumos da vida;
experiências anteriores (CALIL; PARANHOS, 2007, p.123).
5) ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO: conflito de papéis; ambiguidade de papéis; falta
de autonomia; estilo de supervisão; salário não-condizente, falta de treinamento;
falta de oportunidade de crescimento na organização; falta de suporte
administrativo e envolvimento (CALIL; PARANHOS, 2007, p.123).
3.4.2. Síndrome de Burnout
Os primeiros estudos sobre a síndrome de burnout iniciaram na década de 70,
pelo psicólogo Herbert Freudenberger. O termo burnout origina-se do verbo em
inglês to burn out (queimar por inteiro). Como gíria, deu sentido ao fato de o
indivíduo chegar em seu limite , sem condições físicas e psíquicas (VIEIRA et.al.,
2002, p.21).
A Síndrome de Burnout é caracterizada por três situações, as quais são:
exaustão emocional, despersonalização e redução da realização pessoal, como
Vieira et al. (2006, p.353) refere:
A exaustão emocional (EE) caracteriza-se por fadiga intensa, falta de forças
para enfrentar o dia de trabalho e sensação de estar sendo exigido além de seus
limites emocionais. A despersonalização (DE) caracteriza-se por distanciamento
emocional e indiferença em relação ao trabalho ou aos usuários do serviço. A
diminuição da realização pessoal (RP) se expressa como falta de perspectivas
para o futuro, frustração e sentimentos de incompetência e fracasso. Também são
comuns sintomas como insônia, ansiedade, dificuldade de concentração,
alterações de apetite, irritabilidade e desânimo (VIEIRA et.al. 2006, p.353).
17
Em meados de 1974, o cientista Freudenberger descreveu Burnout como
sendo um excesso de gastos de energia, com exaustão física, provocado por
desgaste de recursos, observando profissionais que trabalhavam diretamente
com dependentes químicos. Esses profissionais se decepcionavam com seus
pacientes, pois constatavam que os mesmos, gerando cuidados e tratamentos,
não se preocupavam em abandonar o uso de drogas. Esses profissionais,
falavam que, devido à exaustão, muitas vezes desejavam nem acordar para não
ter que ir para o trabalho. Por não alcançar seus objetivos, se sentiam frustrados
e desmotivados por não terem projeções futuras de sucesso, já que este
dependeria da vontade e desejo de seus pacientes (MUROFUSE; ABRANCHES;
NAPOLEÃO, 2005, p.258).
A exaustão emocional ocorre com a caracterização de dois fatores, sendo a
falta de energia e esgotamento emocional. Pode se manifestar fisicamente,
psiquicamente ou uma combinação entre os dois. O profissional não possui mais
energia para realizar um atendimento completo, com todas as fases pertinentes,
pois suas energias para absorver os problemas e gerar soluções já se esgotaram
(MUROFUSE; ABRANCHES; NAPOLEÃO, 2005, p.258).
A falta de envolvimento pessoal no trabalho ocorre e envolve sentimento de
inadequação pessoal e profissional. O trabalhador se auto avalia de forma
negativa. Isso prejudica a habilidade para a realização do trabalho e o
atendimento, o contato com as pessoas usuárias do trabalho, bem como com a
organização (MUROFUSE; ABRANCHES; NAPOLEÃO, 2005, p.258).
A ação humana social, envolvendo o trabalho, compreende a possibilidade do
ser humano transformar o meio em que vive. No processo de interação entre
natureza - homem, ao mesmo tempo em que modifica-se a natureza, também é
modificado homem. Dentre as inúmeras modificações, encontram-se aquelas que
têm consequências no aparelho psíquico (MUROFUSE; ABRANCHES;
NAPOLEÃO, 2005, p.256).
A proposta da existência da Síndrome de Burnout para os trabalhadores da
enfermagem possibilita novos horizontes e abre novas perspectivas para as
possibilidades de entendimento e transformação do processo de trabalho, numa
18
tentativa de resgatar as dimensões afetivas contidas no cotidiano de quem cuida
(MUROFUSE; ABRANCHES; NAPOLEÃO, 2005, P.260).
O exercício da profissão de enfermagem requer boa saúde física e mental.
Porém, raramente os enfermeiros recebem a proteção social adequada para o
seu desempenho. Exercem atividades cansativas, muitas vezes em locais
inadequados, não recebem a proteção e atenção necessárias para evitar os
acidentes e as doenças decorrentes das atividades (MUROFUSE; ABRANCHES;
NAPOLEÃO, 2005, p.260).
Cada dia exige mais capacidade técnico-científica do enfermeiro em um
sistema dinâmico-capitalista. A baixa remuneração, a sobrecarga de trabalho, a
falta de autonomia e reconhecimento contribuem ao surgimento de alterações
psíquicas que levam muitos funcionários a um estado de exaustão emocional,
perda de interesse pelas pessoas que teriam que ajudar; e por fim baixo
rendimento profissional e pessoal, com a crença de que o trabalho não vale a
pena e, institucionalmente, não se podem mudar as coisas e que não há
possibilidade de melhorar pessoalmente (SANTOS; ALVES; RODRIGUES, 2009,
p.59).
3.5. FATORES ESTRESSORES NA ENFERMAGEM: (DES) MOTIVAÇÃO
Cada profissional trás consigo pensamentos, filosofias, influências culturais,
familiares, convívios diferentes que precisam ser levados em conta e analisados
para entender o comportamento humano e as diferenças no ambiente de trabalho
(SCORSIN; SANTOS; NAKAMURA, 2006, s.p.).
O serviço de enfermagem em um hospital é de extrema importância, pois
proporciona o cuidado, que é fator essencial para o desencadeamento dos
trabalhos realizados junto aos pacientes no que diz respeito ao seu tratamento
físico-mental. No entanto, apesar de sua extrema importância, o enfermeiro sofre
com as condições de trabalho que lhes são ofertadas muitas vezes de forma
precária prejudicando assim o seu trabalho e desmotivando os profissionais da
área (DIAS et.al, 2005, p.2).
O trabalhador de enfermagem geralmente possui mais de um vínculo
empregatício. Isso prejudica o tempo destinado ao lazer e, como a maioria dos
19
trabalhadores pertence ao gênero feminino, a jornada de trabalho e cuidado
doméstico também deve ser considerada na análise da qualidade de vida desses
profissionais (SILVA; MELO, 2006, p.16).
É muito importante que o ambiente de trabalho seja o mais saudável possível,
principalmente para os enfermeiros que lidam com vidas o tempo todo. O bem
estar no trabalho, mesmo em um hospital, que é um ambiente caracterizado por
dor, tristeza e morte, é de extrema importância para o melhor desenvolvimento
dos trabalhos realizados. Assim, pode-se evitar o desenvolvimento de ambientes
estressores e com pouca qualidade de vida no ambiente de trabalho, podendo
assim, trazer prejuízos ao paciente (DIAS et.al, 2005, p.7).
O trabalho de enfermagem é extremamente desgastante devido aos aspectos
operacionais de trabalho e às exigências relativas à imensa responsabilidade para
com seus pacientes e à equipe. Ao paciente, tanto no aspecto físico quanto no
aspecto moral, social e psicológico. No entanto, o profissional de enfermagem
apesar de ter autonomia para tomar certas decisões, fica prejudicado quando o
assunto é poder administrativo na organização como um todo, status e prestígio.
Parece que esse profissional, por questões sócio culturais, ainda é visto apenas
como um ajudante de outros profissionais de saúde, principalmente os médicos
(DIAS et.al, 2005, p.7) .
O enfermeiro só vai conseguir atingir estes objetivos se tiver um ambiente
harmonioso, condições dignas de trabalho, bons salários, lazer, equipe integrada
com bom relacionamento interpessoal. Para isso deverá ser líder e não chefe,
para amenizar os estressores já existentes no ambiente de trabalho. Isso tudo
reflete diretamente em boa qualidade de vida e no atendimento. Torna o ambiente
de trabalho saudável (SCORSIN; SANTOS; NAKAMURA, 2006, s.p.).
Para Dias et.al. (2005, p.7-10) algumas particularidades do trabalho do
enfermeiro levam à desmotivação em ambiente hospitalar: o tipo de trabalho
(horário de trabalho, ritmo de trabalho, conteúdo do trabalho, controle do trabalho,
uso de habilidades), relações interpessoais e grupais (tipos de relações, relações
com superiores, relações com colegas, relações com os pacientes) o
desenvolvimento da carreira (insegurança no trabalho).
20
Regis; Porto (2006, p.567) relaciona a Teoria de Maslow com o trabalho, cita
que ele está diretamente ligado às necessidades sociais e de auto estima. As
necessidades sociais referem-se ao relacionamento interpessoal do enfermeiro
com sua equipe. As necessidades de auto estima envolvem o reconhecimento do
enfermeiro, como citado a seguir:
A interação entre a teoria da motivação humana de Maslow e algumas
características da prática da enfermagem leva a perceber que as necessidades
humanas podem influenciar o desenvolvimento das atividades da equipe de
enfermagem no trabalho (REGIS; PORTO, 2006, p.567).
Os elementos estressores na enfermagem são comuns, independente da
ocupação do enfermeiro. Esses elementos refletem a origem das causas e
consequências que ocasionam no exercício da profissão. Isso sugere novos
desafios e maneiras de trabalho (MUROFUSE; ABRANCHES; NAPOLEÃO, 2005,
p.260).
A carga de trabalho exaustiva é o estressor mais proeminente na atividade do
enfermeiro, além dos conflitos internos entre a equipe e a falta de motivação e
apoio ao profissional, sendo a indefinição do papel profissional um fator somatório
aos estressores (BATISTA; BIANCHI, 2006, p.537).
O trabalho em um ambiente hospitalar que possui deficiência de meios para o
seu funcionamento adequado contribui de maneira significativa para a ocorrência
de acidentes de trabalho. Essa constante situação de instabilidade provoca no
ambiente de trabalho situações de desmotivação profissional ocasionadas pelo
intenso stress e fadiga mental, vivenciado por muitos profissionais quando
atingem o estado de exaustão (DIAS et.al, 2005, p.7).
A diversidade de tarefas realizadas no cotidiano do enfermeiro provoca
ansiedade e estresse, pois estas tarefas devem ser executadas sempre em um
intervalo de tempo muito reduzido. Quando os enfermeiros percebem esse fato,
sentem-se irritados, frustrados e consequentemente desmotivados (DIAS et.al,
2005, p.7).
Com isso, percebe-se que a função dos enfermeiros torna-se desmotivadora.
Os enfermeiros possuem muita responsabilidade no desenrolar de suas
21
atividades diárias. As condições de trabalho são muitas vezes deficientes, e, além
disso, não possui autonomia e poder de decisão compatíveis com as suas
responsabilidades perante a organização (DIAS et.al, 2005, p.7).
No Brasil, infelizmente, a enfermagem é mal remunerada. Esse é um motivo
que leva muitos profissionais a fazerem jornada dupla de trabalho. A categoria
fica exposta em um maior tempo aos riscos existente na profissão. Isso aumenta
ainda mais a insatisfação dos profissionais, que utilizam seus dias de folga para
resolver problemas de ordem pessoal. Por falta de tempo, deixam de lado o lazer,
a recreação, a família, o convívio com os filhos, e até seu próprio descanso
(SCORSIN; SANTOS; NAKAMURA, 2006, s.p.).
3.6. O ENFERMEIRO NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA
A estrutura física de um ambiente de trabalho em unidade de Terapia Intensiva
deve ser cuidadosamente avaliada. A vulnerabilidade deste local, deve ser
interceptada por medidas de prevenção e segurança, pois é normal o acesso de
pacientes com doenças de alto potencial infeccioso. É difícil se fazer um
isolamento adequado dessas patologias, sequer fornecer condições de
tranquilidade para a realização dos trabalhos (CALIL; PARANHOS, 2007, p.123).
A falta de leitos, equipamentos e materiais, dificultam à equipe de enfermagem o
atendimento de casos realmente emergenciais. Consequentemente, essa
situação agrava a existência de estressores ao profissional de saúde,
principalmente enfermeiros, pois prestam assistência aos pacientes em condições
criticas alem de atender aqueles que poderiam ser assistidos nos níveis
ambulatoriais, postos de saúde (HARBS; RODRIGUES; QUADROS, 2008, p.42).
O estado de saúde dos enfermeiros da unidade de terapia intensiva pode se
comprometer, por decorrência do trabalho. O trabalho do enfermeiro intensivista
requer um desgaste físico pelo seu constante deslocamento nos setores da
unidade, tempo escasso para realizar tarefas em detrimento, muitas vezes, do
tempo de alimentação e de descanso requeridos, afetando também
psicologicamente o enfermeiro (CALIL; PARANHOS, 2007, p.124).
O trabalho do enfermeiro é considerado estressante, principalmente em uma
unidade onde a instabilidade de condições clínicas dos pacientes e a
22
imprevisibilidade da atuação do enfermeiro são pontos marcantes, como ocorre
nas unidades de terapia intensiva (CALIL; PARANHOS, 2007, p.122).
Mesmo que esses processos tornem a vida do profissional de enfermagem
comprometida, tanto fisicamente quanto psicologicamente, poderá tornar a
qualidade do atendimento em unidade de terapia intensiva mais efetivo e
dinâmico. As reações de estresse, desde os tempos primitivos do ser humano,
são uma reação do organismo para tornar o homem apto a guerras, batalhas e
medos. Assim, mesmo comprometendo a si próprio, poderá em algum momento,
em que o estágio de evolução do estresse esteja em seu inicio, contribuir para o
atendimento urgente nas unidades de terapia intensiva (CALIL; PARANHOS,
2007, p.124).
Ainda, no Brasil, verifica-se uma grande dificuldade na questão de saúde
pública. Falta de reconhecimento pelo Estado aos profissionais de saúde,
ocasiona desmotivação e frustração em seu desempenho profissional. Ainda
observa-se desorganização na caracterização dos serviços de emergências e
ambulatoriais. Sendo que a população solicita atendimento em unidades de
terapia intensiva, a fim de tratar com agilidade sua doença, já que as unidades de
saúde e atendimento são deficitárias (CALIL; PARANHOS, 2007, p.123).
Os fatores estressores mais identificados, em diferentes trabalhos de pesquisa
realizados em trabalho de unidade de terapia intensiva são: carga de trabalho
excessiva, falta de respaldo institucional e profissional, relacionamento
interpessoal, necessidade de realização de tarefas com tempo reduzido e uso
elevado de tecnologia (CALIL; PARANHOS, 2007, p.123).
O perfil do enfermeiro em unidade de terapia intensiva é constatado por
mulheres jovens, com menos de 40 anos de idade, exercendo atividades
assistenciais e com até dez anos de formação. Muito comum o profissional de
enfermagem, ao sair da academia, inserir-se no mercado de trabalho iniciando
sua carreira em unidades de terapia intensiva. Em pesquisas realizadas,
comprova-se que os fatores mais estressantes de suas atividades, são às
condições de trabalho e relacionamento interpessoal entre as equipes de trabalho
(CALIL; PARANHOS, 2007, p.123).
23
Pode-se considerar que, a maior fonte de satisfação no trabalho do enfermeiro
em unidade de terapia intensiva, concentra-se no fato de que as suas
intervenções auxiliam na manutenção da vida humana. Como principais
estressores, podem-se determinar os seguintes itens: número reduzido de
funcionários compondo a equipe de enfermagem; falta de respaldo institucional e
profissional; carga de trabalho; necessidade de realização de tarefas em tempo
reduzido; indefinição do papel do profissional; descontentamento com o trabalho;
falta de experiência por parte dos supervisores; falta de comunicação e
compreensão por parte da supervisão de serviço; relacionamento com familiares;
ambiente físico da unidade; tecnologia de equipamentos; assistência ao paciente
e relacionamento com familiares (BATISTA; BIANCHI, 2006, p.535).
4. METODOLOGIA DA PESQUISA
O presente estudo tem por objetivo demonstrar a importância de avaliar o
estresse da equipe de enfermagem, contribuindo para uma reflexão sobre o
desenvolvimento da assistência de enfermagem com qualidade.
Este estudo possui caráter descritivo, com abordagem qualitativa, que é
utilizada quando se deseja assegurar a objetividade e a credibilidade dos
achados, através da revisão de pesquisas bibliográfica e descritiva, como busca
de informações sobre o tema que resume a situação dos conhecimentos sobre
um problema de pesquisa.
TURATO (2003) afirma que a pesquisa bibliográfica procura explicar um
assunto, partindo de referências teóricas que foram publicadas em documentos.
Neste contexto são abordados tópicos relevantes sobre o tema, de forma a
proporcionar ao leitor uma compreensão do que existe publicado sobre o assunto.
Na identificação das fontes bibliográficas foram realizadas busca em
bibliotecas, internet, em artigos de revistas e em livros didáticos e científicos.
24
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho, pode-se refletir como o enfermeiro vivencia o estresse na
unidade de terapia intensiva; quais os fatores desencadeantes do estresse da
equipe de enfermagm na unidade de terapia intensiva, quais as situações que
evidenciam o estresse e que forma ele procura amenizá-lo. Deu-se importância
ao significado que as palavras estresse, saúde mental e qualidade de vida
representam para os enfermeiros, tendo como propósito avaliar o estresse deste
profissional no ambiente de terapia intensiva. Destacou-se a Pirâmide das
necessidades de Maslow (Teoria da motivação), reforçando a idéia de que é
preciso que o enfermeiro cuide primeiramente das suas necessidades para
posteriormente cuidar das necessidades do paciente e obter uma assistência e
um trabalho satisfatório.
Relacionando a teoria de Maslow com as necessidades dos enfermeiros dentro
do ambiente de trabalho, conclui-se que as necessidades fisiológicas seriam
ligadas ao salário, as necessidades de segurança estariam ligadas a segurança
no trabalho, auxílio-doença, períodos de folga suficientes, carga horária
satisfatória, segurança física e psicológica. As necessidades sociais estariam
vinculadas à participação de todos da equipe, em um clima de amizade e
companheirismo entre os auxiliares/ técnicos de enfermagem e os enfermeiros.
As necessidades de auto estima estariam relacionadas ao reconhecimento e
elogio por parte dos superiores hierárquicos e dos membros da sua equipe
(auxiliares e técnicos de enfermagem). As necessidades de auto realização
podem ser atingidas pelo enfermeiro quando realiza trabalhos satisfatórios e
gratificantes na unidade de terapia intensiva e então é reconhecido e motivado.
Os enfermeiros da terapia intensiva demonstraram que o estresse está presente
diariamente na unidade intensiva, que é caracterizada por situações estressantes,
que exigem alto preparo psicológico, total controle racional, técnico e emocional
do enfermeiro, que permanece em alerta para as situações imprevisíveis, nas
quais são necessários recursos físicos, materiais e número de funcionários
suficientes, muitas vezes reduzidos ou indisponíveis, prejudicando então a
assistência.
25
Na unidade de terapia intensiva, a assistência humanizada é de vital
necessidade a fim de, otimizar a qualidade da assistência prestada. O enfermeiro
sempre busca melhorias na assistência, tentando melhorar seu atendimento para
que o paciente não seja prejudicado, pela falta de recursos que poderiam
contribuir para sua melhoria de forma mais rápida.
O enfermeiro na unidade de terapia intensiva sente-se desvalorizado porque
muitas vezes não atua na tomada de decisões da unidade sozinho, seu trabalho é
sobrecarregado com acúmulo de funções, gerando desgaste físico e emocional
causado pelos conflitos operacionais, pelas atividades exercidas com poucos
recursos físicos, e número reduzido de profissionais somado ao salário não
condizente.
Porém, o fator considerado pela maioria dos enfermeiros, que atuam na terapia
intensiva, como mais estressante é o trabalho em equipe, ou seja, apesar das
dificuldades enfrentadas pelos enfermeiros na unidade intensiva, o que torna seu
ambiente de trabalho mais estressante é a dificuldade do relacionamento com sua
equipe.
Durante a assistência da enfermagem ocorrem conflitos que, muitas vezes não
são resolvidos. O enfermeiro precisa do auxílio dos técnicos e auxiliares de
enfermagem, que, muitas vezes não colaboram, ou, se colaboram, não são
reconhecidos pelo enfermeiro.
O relacionamento entre o enfermeiro e a sua equipe precisa que haja confiança
entre ambos, o que muitas vezes não ocorre, dificultando o trabalho em equipe e
consequentemente a assistência, resultando na insatisfação do enfermeiro com a
sua equipe e do paciente com a assistência.
A valorização do enfermeiro e da profissão de enfermagem contribui
diretamente na qualidade da assistência, entra nas necessidades de auto
realização do profissional. Porém, de acordo com o levantamento bibliográfico,
constatou-se que o enfermeiro se considera muito desvalorizado, pois suas
condições de trabalho são desfavoráveis e isso o desmotiva de tal maneira que,
aparentemente, ele mesmo acaba desvalorizando sua profissão.
26
Os problemas apontados pelos enfermeiros mostram o difícil acesso a novos
conceitos dentro da unidade de terapia intensiva, pois, a melhoria não depende só
do enfermeiro e sua equipe, mas também de superiores competentes, para
mudança da política da instituição, buscando a melhoria no atendimento e
solucionando os problemas apontados. Isso o desmotiva na busca de soluções
que contribuiriam no processo da assistência e também com sua autonomia.
A importância da saúde mental do enfermeiro dentro da equipe e na assistência
prestada foi avaliada a partir do entendimento do estresse ocupacional justaposto
à Síndrome de Burnout. O trabalho do enfermeiro é estressante e cabe como
peça-chave o reconhecimento dessa realidade. O enfermeiro deve procurar
reconhecer quais são os fatores estressores e como reagir a eles.
Ao questionar sobre a existência de algum espaço ou atividade que proporcione
redução do estresse no trabalho oferecido pela instituição, percebe-se que há
poucas atividades, reuniões ou palestras que promovam momentos de interação
da equipe, motivação, saúde física e mental, colaborando com a satisfação e
rendimento do profissional, reforçando a idéia do melhor rendimento através do
trabalho em equipe, reconhecendo a importância de cada um dos integrantes da
equipe, havendo momentos de interação, evitando assim o esgotamento.
Diante disso, percebe-se a importância de valorizar, investir e melhorar a
qualidade das condições de trabalho do enfermeiro, pois há um desequilíbrio
entre os investimentos tecnológicos e humanos, e o desempenho do profissional
fica comprometido pela insatisfação e desmotivação que reflete na sua
produtividade, afetando diretamente a sua assistência, sua motivação, sua
satisfação e sua qualidade de vida.
Esse trabalho buscou ampliar o conhecimento da situação do estresse do
enfermeiro em unidade de terapia intensiva, mas está longe de esgotar os
estudos sobre o tema, uma vez que cabe ampliar discussões sobre o mesmo,
pois essa é apenas uma pequena contribuição para o início desta investigação
tão necessária nos campos da Saúde e das Ciências Sociais.
27
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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