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Aula 10 – A crítica à indução
Juliana M. Hidalgo FerreiraDFTE-PPGECNM-UFRN
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Aulas anteriores: visão de senso comum
Ciência: conhecimento verdadeiro, provado, objetivo, bem estabelecido, confiável, etc.Cientista: ser diferenciado, trabalha isolada e concentradamente, faz “descobertas inesperadas” na natureza.
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Aulas anteriores
Método de F. Bacon: empírico-indutivista Programa empirista “Método científico” único, rígido, universal – garantia de conhecimento verdadeiro
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Aulas anteriores
Leis e teorias científicas “brotam” da experiência A mente do cientista é uma “folha em branco” onde são depositadas as impressões da experiência Indução - procedimento natural: as experiências (particulares) levam à formulação das teorias (gerais)
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Objetivos da aula atual
Analisar críticas ao pensamento indutivo e limitações da indução como método
Apresentar características da proposta de Karl Popper (falsicificacionismo, falseacionismo ou refutacionismo) para a análise do conhecimento científico
Comparar e avaliar, criticamente, a indução e o refutacionismo
[Reconhecer a possibilidade de uma “leitura refutacionista” de episódios da História da Ciência*]
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Limites e validade do conhecimento científico?A ciência prova?
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A indução em apuros
Não importa quantas observações tenhamos de “casos particulares”, isso não torna válida uma
inferência geral do tipo indutiva
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História do “peru indutivista” contada pelo filósofo Bertrand Russell (1872-1970)
“Esse peru descobrira que, em sua primeira manhã na fazenda de perus, ele fora alimentado às 9 da manhã. Contudo, sendo um bom indutivista, ele não tirou conclusões apressadas. Esperou até recolher um grande número de observações do fato de que era alimentado às 9 da manhã, e fez essas observações sobre uma ampla variedade de circunstâncias, às quartas e quintas-feiras, em dias quentes e dias frios, em dias chuvosos e dias secos. A cada dia acrescentava uma outra proposição de observação à sua lista. Finalmente,sua consciência indutivista ficou satisfeita e ele levou a cabo uma inferência indutiva para concluir: “eu sou alimentado sempre às 9 da manhã”. Mas, ai de mim, essa conclusão demonstrou ser falsa, de modo inequívoco, quando, na véspera do Natal, em vez de ser alimentado, ele foi degolado” (citada por CHALMERS, 1993, p. 36-37).
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A indução em apuros
“O Sol nascerá amanhã”Inferência geral indutivista: grande
número de observações do tipo “O Sol nasceu hoje”
Mas do ponto de vista lógico, nada garante que:
“O Sol, de fato, nascerá amanhã”
Ver mil cisnes brancos não nos permite dizer que:
“Todos os cisnes são brancos”
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O “problema da indução” ou “problema de Hume”
Investigação sobre o conhecimento humano
É impossível justificar logicamente a indução
Não há validade (lógica) em fazer afirmações sobre o futuro tendo em vista as experiências passadas
David Hume (1711-1776)
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O “problema da indução” ou “problema de Hume”
Para justificar a indução temos que recorrer à própria indução:
O princípio da indução foi bem na ocasião x1.
O princípio da indução foi bem-sucedido na ocasião x2 etc.
________________________O princípio da indução é sempre
bem-sucedido David Hume (1711-1776)
Círculo Vicioso: validade do princípio inferida do próprio princípio???
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Críticas de Hume ... ceticismo na Filosofia da Ciência
O pensamento indutivo só é válido psicologicamente:“Somos propensos a usar o pensamento indutivo em nossa interpretação do mundo”
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O conhecimento segundo Hume
Estabelecimento de relações de causalidade através da experiência e do hábito
Se B sucede A, não é possível dizer logicamente que B deve sempre suceder A e que A causa B...
Se vemos que dois eventos sempre ocorrem
conjuntamente, tendemos a criar uma expectativa de que quando o primeiro ocorre, o
segundo seguirá.
Isso é tudo o que podemos saber da causalidade
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Outras críticas à indução
Observações/Experimentos não são neutros, são carregados de teoria O movimento do pensamento do particular (observação/experimento) ao geral (teoria) não é uma “via de mão única”
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Atividade 1
Quais foram as principais críticas à indução abordadas na seção anterior?
Procure descrevê-las, sinteticamente, usando suas próprias palavras.
Dê um exemplo de uma situação em que o pensamento indutivo pode levar ao erro.
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Atividade 2
As leis da física descrevem como as órbitas celestes funcionam para a descrição do comportamento planetário. Desse modo presumimos que vão funcionar para a descrição no futuro também.
Mas como podemos justificar esta presunção, o princípio da indução?
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Atividade 3
Os quadrinhos ao lado se referem a um aspecto importante discutido por Hume.
Comente-os
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Atividade 4 – A que problema visto nessa aula a tirinha abaixo se refere? Comente-a.
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Atividade 5 – Comente os trechos abaixo extraídos de um site da internet
“Acreditar que um copo largado no ar, da próxima vez, subirá (ou ficará verde; ou quebrará no ar) é algo “tão (ir)racional quanto” pensar que ele cairá – como sempre fez no passado. É claro que isto não nos deixa confiar na ciência!
[...] Tanto faz montar o avião segundo as técnicas de engenharia clássicas, ou segundo a leitura de búzios: nada é realmente melhor. Entendam: não existe motivo nenhum (!) para preferir a montagem do avião segundo as técnicas de engenharia. Em suma: não há motivo nenhum para esperar que qualquer padrão (no caso do avião, as leis da física e os padrões dos materiais) que persistiu até hoje, persista no próximo momento.”
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No século XX,Hans Reichenbach (1871-1953)
e Rudolf Carnap (1871-1970)
Tentaram trabalhar a questão da indução sob uma perspectiva probabilísticaNão podemos dizer com certeza “o Sol nascerá amanhã”... Mas considerando os eventos passados e as leis físicas há grande probabilidade que isso ocorra
Exceções obedecem a uma porcentagem regular de casos
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Aos poucos, indução - “instrumental” o método apoiado na indução - rejeitado
Mas o método propiciava umcritério de demarcação entre conhecimento científico e não-científicoE agora, que critério usar?
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O refutacionismo
“Se uma teoria parecer a você como a única possível, tome isso como sinal
de que você não compreendeu nem a teoria nem o problema que ela
pretendia resolver”
Karl Popper
(1902-1994)
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A crítica de Popper à indução
“Ora, está longe de ser óbvio, de um ponto de vista lógico, haver justificativa no inferir enunciados
universais de enunciados singulares, independentemente de quão numerosos sejam estes;
com efeito, qualquer conclusão colhida desse modo sempre pode revelar-se falsa: independentemente de
quantos casos de cisnes brancos possamos observar, isso não justifica a conclusão de que todos os cisnes
são brancos. A questão de saber se as inferências indutivas se justificam e em que condições é
conhecida como o problema da indução” (A lógica da pesquisa científica)
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A crítica de Popper à indução
Indução
Tem problema de natureza lógica - Verificação
Não podemos afirmar que uma proposição será sempre verdadeira
“Todas as aves voam”
Um único contra-exemplo refuta uma afirmação
Afirmação falseada (refutada)
“Nem todas as aves voam”
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Método de Popper: refutacionismo ou falsificacionismo
Teorias fazem afirmações O avanço do conhecimento não ocorre
pela verificação das teorias, mas sim pela sua refutação
desacordo com resultados
experimentais
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Método de Popper: refutacionismo ou falsificacionismo
T prevê os resultados experimentais R1, R2, R3
Se R1, R2, R3 são observados, não se
pode dizer que a teoria é verdadeira
Mas se R1, R2, R3 não são observados, a teoria é refutada
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Popper: a falseabilidade como critério de demarcação entre o científico e o não científico
Um enunciado científico deve ser falseável
Sem valor científico: “O Sol nascerá ou não nascerá amanhã”
Proposição científica:“Quando abandonados próximos à superfície da Terra,
os corpos massivos caem em direção ao solo com uma aceleração de cerca de 9,8 m/s2”
Passível de ser falseado por testes experimentais
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Popper: papel de destaque para as hipóteses
Método empírico-indutivista: hipóteses “brotam” da observação e experiência
≠Método hipotético-dedutivo de Popper:
hipóteses são formuladas na tentativa de resolver problemas → envolvem imaginação, criatividade,
dados observacionais, princípios teóricos, etc.
Deduzir as consequências de uma hipótese e submetê-la a testes
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O Método Hipotético-Dedutivo Popperiano
1. Existência de um problema 2. Procura de soluções: elaboração de várias hipóteses;
escolha da que apresenta maior grau de possibilidade de refutação
3. Dedução de consequências dessa hipótese4. Refutabilidade: hipótese é testada; busca de contra-
exemplos significativos5. Na ausência de refutação, a hipótese se transforma
na nova teoria6. Se há refutação, volta-se ao estágio inicial
Boa teoria: potencialmente falseável, resiste a tentativas de refutação
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O refutacionismo de Popper não é do tipo “ingênuo”
Um corpo teórico complexo e sofisticado não é simplesmente abandonado em função de uma
única experiênciaÉ preciso que uma nova teoria surja, incorporando
a primeira e resolvendo o problema gerado pela experiência
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Atividade 4
Leia e comente o trecho a seguir, retirado de “A lógica da pesquisa científica”, com base no que foi discutido na seção anterior:
“Segundo minha proposta, aquilo que caracteriza o método empírico é sua maneira de expor à falsificação,
de todos os modos concebíveis, o sistema a ser submetido a prova. Seu objetivo não é o de salvar a
vida de sistemas insustentáveis, mas, pelo contrário, o de selecionar o que se revele, comparativamente, o melhor, expondo-os todos à mais violenta luta pela
sobrevivência.” (Popper, 2003, p. 44)
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A prática do cientista, segundo Popper
O cientista não é um “comprovador”, mas sim um “refutador”
Agindo assim ele contribui mais para o desenvolvimento do conhecimento
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Críticas à proposta de Popper
Será que os cientistas, em seu trabalho cotidiano, procedem dessa maneira, isto é,
preocupam-se em falsear as teorias?
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Possivelmente, a filosofia de Popper tem mais a nos oferecer em relação ao aspecto“O que a ciência deveria ser”
do que em relação ao aspecto “O que a ciência é” ...
Hipóteses envolvem imaginação, criatividadeMas e os testes? Os experimentos falam por si? Os experimentos derrubam hipóteses?
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