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1.2. Representação, cultura e linguagem
1.3. Abordagens teóricas à representação1.3.1. Abordagem reflexiva
1.3.2. Abordagem intencional1.3.3. Abordagem construtivista
Representação Peirce, numa fase primária, fala da Semiótica como “a teoria geral das representações,
usando ora o termo signo ora representação. Especifica representação como um processo de apresentação de um objeto a um intérprete de um signo, ou simplesmente a relação entre o signo e o objeto, introduzindo um terceiro termo – o representamen” (Santaella, 1999: 17).
O representamen seria usado quando se quer diferenciar aquilo que se representa (representamen) do ato ou relação de se representar (representação). O modo de ser do representamen alicerça-se no potencial de replicação/repetição (Peirce, 1997: 215).
Lúcia Santaella (1999). Matrizes da linguagem e pensamento-sonoro, visual e verbal. São Paulo: Iluminuras.
Charles Sanders Peirce, Patricia Ann Turrisi (1997). Pragmatism as a principle and method of right thinking: the 1903 Harvard lectures on pragmatism. Suny Press.
Representação Rudolf Arnheim e Jacques Aumont, por exemplo, seguem uma tricotomia de
valores da imagem na sua relação com o real, entre eles o valor de representação: “representa coisas concretas (“de um nível de abstracção inferior ao das próprias imagens”)” (Aumont, 2009: 56). Equivalente ao ícone de Peirce.
J. Aumont (2009). A Imagem. Campinas, São Paulo: Papirus.
Representação Ao representar, o homem esquematiza o real e materializa o seu
pensamento em signos.
Sempre que se produz um signo, constrói-se um objeto imediato que não chega a ser o objeto dinâmico (real).
Se, por um lado, o objeto imediato se constitui como um afastamento e abstração do objeto dinâmico, por outro, expõe um enriquecimento, pois absorve as qualidades materiais do meio e do código em que foi produzido.
Representação Representação com lugar destacado no estudo da cultura.
Liga o sentido e a linguagem à cultura
“significa usar a linguagem para dizer algo significativo, ou para representar, significativamente o mundo, para outros indivíduos” (Hall, 1997: 15).
“uma parte essencial do processo através do qual o sentido é produzido e trocado entre membros de uma cultura” (ibid.: 15).
“a produção do sentido dos conceitos nas nossas mentes através da linguagem. É o laço entre os conceitos e a linguagem que nos capacita para referir o mundo real dos objetos, pessoas e eventos, ou palavras imaginárias de objetos, pessoas e eventos ficcionais” (ibid.: 17).
Stuart Hall (1997). Representation: cultural representations and signifying practices. London, California, New Dehli: SAGE, Open University.
Representação “A unidade de representação conhecida como signo – tida como entidade básica
para se compreender a cultura e suas linguagens – encerra uma relação de alteridade. Representar significa substituir e substituir denota estar no lugar do outro. É como se o signo possuísse algum aspecto vicário do referente, ainda que puramente convencional como no símbolo peirciano” (Eliane Bettochi; Luiz Antonio L. Coelho; Simone Formiga, 2002).
Eliane Bettochi; Luiz Antonio L. Coelho; Simone Formiga (2002), “Quem reflete que reflexo?”. Artigo apresentado no I Simpósio O Outro – PUC-Rio. 12 e 13 de Agosto. Disponível em: http://wwwusers.rdc.puc-rio.br/imago/site/virtualidade/ensaios/reflexo.htm.
Representação A representação – sem consenso no âmbito da Semiologia – não é uma mera reprodução e não corresponde
a uma equivalência pura e simples do conceito ou juízo perceptivo: “perceber uma coisa não é ainda representá-la” (Arnheim).
A representação consiste em criar, a partir de um medium, um equivalente ao conceito perceptivo.
Arnheim refere três formas representativas (2001: 210): (1) representação por analogia – a semelhança: são formas simbólicas no sentido peirciano, quer dizer convencionais, mas, concomitantemente, mantêm vínculos de semelhança com aquilo que representam (p. 248); (2) a representação por figuração – a cifra: não conservam qualquer analogia com o objeto representado, adquirem uma natureza hermética e críptica. Não se referem a coisas singulares nem à generalização do singular que as figuras poderiam indicar, mas a ideias gerais enigmáticas (p. 253); (3) a representação por convenção – o sistema: representam os seus objetos em função de convenções sistémicas definidas, de modo que as formas são partes integrantes de um sistema, só adquirindo significado em relação a esse sistema (p. 256).
Arnheim, Rudolf (1966). Toward a psychology of art. Berkeley: University of California Press Lucia Santaella
Representação Pode ser entendida como influenciada e contribuinte dos processos sociais.
Estas representações nutrem-se de códigos visuais e verbais, convenções, práticas e forças sociais, que lhe são subjacentes, e servem-nos, assim, de instrumentos para interpretar o mundo (Elizabeth Chaplin, 1994: 1).
Por isso, a representação nunca é completamente estática. É variável, pois alimenta-se da realidade social, que está em constante mutação.
Elizabeth Chaplin (1994). Sociology and Visual Representation. New York: Routledge.
Representação A primeira tese do livro de Debord firma-se sobre a ideia de que a vida das
sociedades modernas apresenta-se “como uma imensa acumulação de espetáculos” (1997: 13); isto é: “tudo o que era vivido diretamente tornou-se uma representação” (1997: 13). Há uma metamorfose e uma troca de identidades: a realidade em si é suplantada e torna-se realidade o espetáculo.
A segunda tese, decorrente da primeira, apresenta a imagem, o elemento-protagonista dessa representação, como a “inversão concreta da vida” (1997: 13).
Guy Debord (1997). A sociedade do espetáculo. Trad. Estela dos San tos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto.
2 sistemas de representação (1) sistema em que todos os tipos de objetos, pessoas e acontecimentos estão
correlacionados com um conjunto de conceitos ou representações mentais que nós transportamos nas nossas mentes.
(2) sistema que consiste em diferentes modos de organizar, agrupar e classificar conceitos, e estabelecer relações complexas entre eles. Por exemplo, no tratamento da informação bruta – percepção – norteamo-nos pelos critérios da diferenciação e similitude. Construção de um conjunto de correspondências entre um mapa conceptual e um conjunto de signos, arranjados em várias linguagens que representam esses conceitos.
A relação entre coisas, conceitos e signos enforma o coração da produção de sentido na linguagem. O processo que os interliga é a representação (Hall, 1997: 19).
Linguagem e representação A pertença a uma cultura faz com que se partilhe, de forma ampla, um
mapa conceptual similar. Portanto, partilha-se a mesma forma de interpretar os signos de uma linguagem.
As imagens visuais carregam signos.
Representação De onde vêm os sentidos?
Como podemos saber o sentido “verdadeiro” de uma palavra ou imagem?
Abordagem Reflexiva A teoria que apresenta a linguagem como refletora e imitadora da verdade que
“já está lá” e está fixada no mundo é designada de “mimética”.
O sentido alicerça-se no objeto, pessoa, ideia ou evento, pertencentes ao mundo real. A linguagem funciona como um espelho, refletindo o sentido “verdadeiro” como já existe no mundo.
Grécia Antiga: mimesis
Mimesis – exemplo da linguagem e outros sistemas significantes que espelham ou imitam a natureza.
Ex.º: poema de Homero – A Ilíada – que é uma imitação de uma série heróica.
Abordagem Reflexiva Contudo, para Platão, toda a criação é uma imitação. Inclusive a criação do
mundo é uma imitação da natureza verdadeira: o mundo das ideias. As ideias sim são puras e superiores, pela ausência de decalque do referente. E, sendo assim, a representação artística do mundo físico é uma imitação de segunda mão.
Abordagem Reflexiva Observamos que os signos visuais concentram alguns elementos do seu
referente, como a forma, a textura, a cor, etc. dos objetos que representam. Mas uma imagem visual bidimensional (altura + largura) de uma rosa é um signo. Não deve ser confundida com a planta real, que cresce num jardim.
Os signos linguísticos (cujos significantes são variáveis consoante as línguas) também se distinguem dos objetos. E, para conseguirmos perceber a que aludem, temos de aprender esses códigos.
Abordagem Intencional É o autor, o codificador, o sujeito falante que impõe o seu único sentido sobre o
mundo através da linguagem. As palavras querem dizer aquilo que o autor intenta.
Falha como teoria geral da representação através da linguagem. Pois não podemos ser os únicos recursos de sentido na linguagem. Tal significaria que estaríamos a nos exprimir numa linguagem privada (por exemplo: o idioleto de Andre Martinet), anulando a intenção da linguagem que é comunicar e, assim, dependente de códigos (e por isso convencionados) partilhados. “A linguagem nunca pode ser totalmente um jogo privado” (Hall, 1997: 25).
Daí que os nossos pensamentos privados terão de negociar com o universo de palavras e signos instituídos socialmente, se se quiser ser percebido.
Abordagem Construtivista Reconhece o caráter social e público da linguagem. Reconhece também que
nem as coisas por si (existentes no mundo exterior) nem os utentes individuais da linguagem (de forma unilateral e auto-recreativa) podem fixar sentidos na linguagem.
“As coisas não significam: nós construímos sentidos, usando sistemas representacionais – conceitos e signos” (Hall, 1997: 25).
Mundo material mundo simbólico
Abordagem Construtivista Os construtivistas não negam a existência do mundo material. Contudo, não é
este que veicula sentidos: é o sistema da linguagem ou qualquer outro sistema que usamos para representar os conceitos.
São os atores sociais que usam os sistemas significantes da sua cultura para construir sentidos, para tornar o mundo significativo e para comunicar.
Representação é “uma prática, uma espécie de atividade, que usa objetos materiais e efeitos. Mas o sentido depende, não da qualidade do material do signo, e sim da sua função simbólica. É porque um som particular ou palavra simboliza ou representa um conceito que pode funcionar na linguagem como um signo e ser portador de significado” (Hall, 1997: 26).
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