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O descentramento do homem moderno
Aurélio Alves Ferreira1
Este breve ensaio tem como objetivo apresentar e discutir as questões que
considero centrais para compreendermos o modo como foi formado, formatado,
engendrado o mundo moderno. Mais exatamente o modo como o homem passou, a
partir desse período, a entender-se a si mesmo e conseqüentemente o mundo que o
envolve. Nesse caso, tomamos como referência, para a condução desse caminho a
abordagem efetivada por Ernst Cassirer, em seu livro: Ensaio sobre o homem:
introdução a uma filosofia da cultura humana, assim como tomamos também como
referência o livro: O grau zero do conhecimento: o problema da fundamentação das
ciências humanas, de Ivan Domingues, onde ele apresenta a modernidade e por
conseqüência, o que nomeia como os descentramentos do homem moderno. Nossa
tentativa é percorrer o caminho traçado por esses dois autores, no que se refere à
modernidade e aos principais filósofos dessa época, uma vez que nossa busca
primordial é tornar claro aquilo que a leitura direta dos textos acima referenciados não
foi possível. Nesse caso, é preciso ainda esclarecer que se trata de um texto ainda em
construção, pois é oriundo de notas decorrentes das aulas de Filosofia II, ministradas na
PUC Minas, e pode ser alterado à medida que novas leituras forem realizadas,
juntamente com as críticas e sugestões posteriores.
De acordo com Domingues,
A modernidade é a época em que a alma se retira do mundo das coisas e recolhe-se no mundo dos homens, bem como a época em que os homens se acreditam suficientemente fortes e poderosos, qual um novo Prometeu, se não para elevarem-se contra a divindade e se imporem aos deuses, ao menos para prescindirem de sua proteção e dispensarem seus serviços. (DOMINGUES, 1999, p. 32).
Essa época, que foi e continua sendo concebida por muitos filósofos como
moderna, tem como marca preponderante a insaciável e incansável busca pelo
desvendamento da natureza, pela superação das explicações pautadas na metafísica
grega, pela superação das explicações teológicas, em outras palavras, pelo abandono e
superação da tradição filosófica e cristã de até então. Tal projeto tinha como objetivo
1 Professor de Filosofia II da PUC Minas.
encontrar o ponto arquimediano, a certeza primeira, que pudesse sustentar todas as
outras, uma vez que as explicações acerca da natureza, do homem, de Deus ou das
divindades, existentes até então, não eram suficientes para explicar as dúvidas do novo
contexto histórico vivido.
Assim, diante da insatisfação acerca das explicações metafísicas e teológicas
e, da sede de conhecimento e da busca de superação das ideias e teorias da tradição,
inicia-se toda uma transformação do modo de conhecer e conceber Deus, a natureza e o
próprio homem. Esse novo modo de conhecer e de explicar todas as coisas passa a ser
guiado, em uma primeira fase, pela matemática. De acordo com Cassirer, a primeira
base sólida – não apenas para o conhecimento do Universo, mas também para
proporcionar uma nova visada na direção do conhecimento do homem e até mesmo de
Deus – é exatamente aquela que foi preparada por Nicolau Copérnico, através do
heliocentrismo. Não se trata, com isso, de afirmar a veracidade ou falsidade do sistema
heliocêntrico, já que, como afirma Koestler2, apesar de todo o alvoroço e de todas as
conseqüências do sistema copernicano, seu livro revolucionário, o livro das Revoluções
das estrelas celestes, apesar de toda a fama, apresenta sérios problemas. Contudo,
afirma Koestler, os argumentos de Copérnico estão fundados na matemática, em
considerações reais e físicas. São essas considerações que o levam a afirmar que no
centro do Universo está o sol e em volta dele giram os planetas: “Mercúrio, Vênus,
Terra, Marte, Júpiter e Saturno, nessa ordem. A lua gira em torno da Terra. A aparente
revolução diária de todo o firmamento se deve à rotação da terra sobre o próprio eixo.”3
Todos estes argumentos, portanto, retomemos Cassirer, só podem ser tomados como
sólidos porque tais demonstrações são científicas, são demonstráveis através da
geometria, da aritmética, o que significa dizer, para reforçar o pensamento de Cassirer,
que a questão fundamental aqui é a novidade instrumental. É o uso de um instrumento
jamais utilizado para conhecer qualquer coisa. Que instrumento é esse? É tão somente a
matemática, ou melhor, a geometria e a aritmética. Como afirma Cassirer: “(...) pela
primeira vez, o espírito científico, no moderno sentido da palavra, entra na arena.”4
Importante perceber aqui, uma vez mais o que Cassirer quer dizer com isso: “(...) no
moderno sentido da palavra.”5 Ou seja, no sentido de que o homem moderno, os
2 KOESTLER, Arthur. O homem e o universo: como a concepção do universo se modificou através dos tempos. São Paulo: IBRASA, 1989.3 KOESTLER, 1989. p. 129.4 CASSIRER, Ernst. Ensaio sobre o homem: introdução a uma filosofia da cultura humana. São Paulo: Martins Fontes, 1994. p. 28.5 CASSIRER, 1994. p. 28.
filósofos e cientistas modernos entendem que algo só pode ser tomado como verdadeiro
se for possível provar cientificamente, universalmente, tal verdade. O século XVII
representa, nas palavras de DOMINGUES, a consolidação da nova astronomia e a
constituição de um novo modelo científico, nesse caso, absolutamente centrado nas
matemáticas.
Este novo modelo tem seu início com Copérnico (1473-1543), com a
proposta do heliocentrismo e a física de Galileu (1564-1642). Poderíamos acrescentar
também, desde já, o pensamento de Giordano Bruno (1548-1600), acerca do “infinito” e
fundamentalmente o pensamento de Descartes (1596-1650) que insere sua antropologia
do homem-máquina. O que podemos constatar também no texto de Cassirer, onde ele
menciona outros pensadores, também fundamentais no que se refere ao pensamento
matemático. Além dos mencionados podemos citar também Pascal (1623-1662),
Espinosa (1632-1677), Leibniz (1646-1716). Todos estes filósofos fundamentaram seus
estudos no modo cartesiano de pensar e compreender a verdade nas ciências. Até
mesmo Pascal, que se posiciona como um crítico de Descartes, também ele, no que se
refere ao conhecimento objetivo das coisas simples, acaba por se render à caracterização
do que é concebido como a verdade nas ciências.
Copérnico é considerado o iniciador desta revolução porque foi ele quem
“retirou” a Terra do centro do universo e em seu lugar colocou o Sol, e, além disso,
afirmou que é a Terra que gira ao redor do Sol, não o contrário, como afirmavam seus
antecessores. Tratava-se de uma importante revolução porque até aquele momento havia
a mais clara certeza de que a Terra não só era o centro do universo como também, em
uma perspectiva religiosa e até mesmo filosófica, o homem era concebido como um ser
privilegiado, pois compreendia que todas as coisas encontram-se, ao mesmo tempo, ao
seu dispor, criadas por Deus, para o seu benefício. Porém, este mesmo homem que se
concebia como filho privilegiado de Deus, a sua imagem e semelhança, encontrava-se,
paradoxalmente, em um mundo fechado, finito, cheio de mitos, de superstições, de
monstros.
Como afirma Kuhn, apud REALE:
Homens que acreditavam que sua morada terrestre fosse apenas um planeta, girando cegamente em torno de uma dentre bilhões de estrelas, começavam a avaliar a sua posição no esquema cósmico de modo bem diferente dos seus antecessores, que viam a Terra como o único centro focal da criação divina. (REALE, 1990, p. 212).
Ao colocar a Astronomia em movimento, Copérnico, com um único golpe,
impulsiona a ciência e cientistas como Galileu, Tycho Brahe, Kepler, dentre outros, em
busca da confirmação do seu sistema e ao mesmo tempo possibilita uma impressionante
corrida em direção a novas descobertas. “Mundo novo, homem novo, ciência nova, os
tempos modernos são o ponto de não retorno do problema do homem e da reflexão
antropológica.” (DOMINGUES, 1999, p. 32). De acordo com Cassirer, o sistema
copernicano se apresenta como a primeira base sólida e segura para novos estudos e
novas descobertas antropológicas. O que está em questão aqui, é que, se toda a tradição
do pensamento ocidental tornou-se desacreditada e se, ao mesmo tempo, Copérnico
apresenta um sistema matemático, um sistema dotado de uma característica ou de
características passíveis de comprovação, então, esse mesmo sistema não poderia
mesmo funcionar apenas para justificar ou fundamentar os movimentos naturais e/ou a
peculiaridade do “novo” Universo. O que está em questão é inclusive o homem porque
todas as vezes que o homem se lança em busca do autoconhecimento, ele próprio só o
faz, a partir do momento em que ele mesmo adquire alguma clareza quanto ao lugar em
que ele se encontra no Universo. Ou seja, para qualquer investigação acerca do homem,
faz-se necessário descobrir também, antes de qualquer coisa, qual é a sua posição, qual
é o seu lugar nessa nova cosmologia em evidência.
Copérnico é quem instaura o primeiro descentramento do homem, quando
este deixa de ser, juntamente com a Terra, o centro do universo. As conseqüências
desse descentramento são constatadas, por exemplo, no pensamento de Galileu, que
toma a matemática como a principal forma de ler, estudar, investigar e compreender a
natureza. Já que, para ele, a natureza pode ser desvendada através de caracteres
matemáticos, ou seja, é possível conhecer a natureza através de retas, retângulos,
círculos, triângulos, enfim, a natureza será possível de ser desvendada e desmistificada,
conhecida, através da ciência, e não pode sê-lo através da religião. Então, para Galileu,
o modo como se encontra o céu, a distância entre o céu e a terra; a distância entre uma
região e outra; as leis responsáveis pelo movimento da Terra, de todos os astros, enfim,
todas estas explicações e investigações acerca da natureza são possíveis de serem
realizadas e provadas pela ciência matemática, uma vez que ela é a única que tem a
possibilidade de medir, de mensurar, de calcular movimentos, distâncias, revoluções,
transformações de toda a natureza.
Para Galileu, se a busca do homem é por conhecer a natureza, então, só há
uma saída: realizar uma investigação científica, guiada pela matemática, pois os
elementos da natureza são possíveis de serem conhecidos através da mensuração dos
seus elementos.
Onde o homem se mostra como um ser independente, uma vez que passa a ser
guiado pela ciência, logo independente, livre das amarras metafísico-religiosas e
capaz de engendrar instrumentos capazes de verificar transformações geológicas,
fisiológicas e demais transformações e movimentos em todas as instâncias da
ntureza.
A natureza é reduzida a seus elementos mensuráveis e sua explicação se dá
através da descoberta das leis que a governam;
A linguagem da natureza é expressa através do número e da medida;
As causas finais já não explicam os fenômenos naturais;
É a época em que o conhecimento acerca da natureza e do homem torna-se um
problema a ser investigado pela ciência;
Do mesmo modo que Galileu investe na matemática para conhecer a
natureza, Descartes empreende todas as suas forças, num primeiro momento, em busca
de entender a característica fundamental do homem. Nesse caso, a busca de Descartes,
tem como propósito encontrar um ponto que fosse firme o suficiente para sustentar
todas as suas afirmações e descobertas posteriores nas ciências, então, movido por este
desejo, pela tarefa de mostrar de uma vez por todas, qual é o ponto arquimediano capaz
de sustentar toda e qualquer verdade científica, Descartes acaba por “descobrir", depois
de guiar-se pelo método da dúvida hiperbólica, que o ponto firme, tão buscado,
encontra-se no próprio homem. Ou seja, a certeza indubitável é aquela que caracteriza o
homem como ser pensante. Na verdade, que caracteriza a “coisa pensante”.
Eu, eu sou, eu, eu existo, isto é certo. Mas, por quanto tempo? Ora, enquanto penso, pois talvez pudesse ocorrer também que, se eu já não tivesse nenhum pensamento, deixasse totalmente de ser. Agora, não admito nada que não seja necessariamente verdadeiro: sou, portanto, precisamente, só coisa pensante, isto é, mente ou ânimo ou intelecto ou razão, vocábulos cuja significação eu antes ignorava. Sou, porém, uma coisa verdadeira e verdadeiramente existente. Mas, qual coisa? Já disse: coisa pensante. (DESCARTES, 2004, p. 27)
A afirmação de Descartes: “eu sou uma coisa pensante”, é a afirmação que
determina o homem, por um lado, como coisa. Nesse caso, esta coisa assim
caracterizada tem exatamente as mesmas características de uma coisa qualquer. Que
funciona tal como qualquer outra coisa. Mais exatamente como uma máquina, para citar
novamente Descartes, tal como a máquina de um relógio. Todos os órgãos desta
máquina, assim como todos os elementos da natureza, o grande universo, todos os astros
e estrelas, todos de algum modo conectados funcionam perfeitamente bem, tal e qual
uma grande máquina em perfeitas condições de funcionamento. Porém, diferentemente
das outras máquinas, o homem é uma máquina que pensa. Esta é sua característica
fundamental, é o que o torna ao mesmo tempo um ser superior, pois é o único que tem a
consciência de que ele mesmo sabe de si. Ele mesmo pode conhecer a si mesmo, como
máquina, o modo como esta máquina funciona e pode também conhecer o
funcionamento das outras máquinas. Pode inclusive, a partir do conhecimento, dominar
as outras máquinas.
A um tempo efeito e causa deste processo, uma scientia nova vê-se assim nascer, profundamente associada com a técnica, por um lado, e algo estranha ao ideal contemplativo da antiguidade clássica, por outro. Segundo Descartes e Bacon, o objetivo das ciências torna-se a partir de agora oferecer os meios técnicos para que o homem se converta finalmente em senhor e possuidor da natureza. (DOMINGUES, 1999, p. 32)
A modernidade é a época em que prevalece um conhecimento do homem
pautado no homem;
O modo de conhecer também muda. A reflexão/contemplação em torno do
homem, a partir de Descartes, passa a ser guiada pela antropologia do homem-
máquina, não mais pelo homem interior de Sócrates, nem pelo homem
pecaminoso da Idade Média;
Esta nova ciência tem como meta a instauração de uma ciência universal
fundada no modelo de racionalização matemática;
É a partir dessa racionalização que se inicia também toda uma busca pela ordem
e medida (...) “do universo físico ao mundo moral, social e político.”
É importante destacar que ao mesmo tempo em que se inicia uma revolução
científica, instauram-se também outras mudanças não menos importantes, para a
completa transformação da modernidade;
Tais mudanças ocorrem no plano econômico, cultural e político. Em primeiro
lugar, instaura-se uma alteração religiosa, A Reforma Protestante (1517), a
Expansão do capital comercial, a Descoberta da América;
Esta ciência nasce com uma profunda associação com a técnica e uma forte
distância do ideal contemplativo da antiguidade clássica;
Diante de tantas transformações, em um primeiro momento, ocorre uma crise
intelectual, um sentimento de perplexidade e mesmo de temor e insegurança em face do
novo cosmos, pois não se trata mesmo de mudanças simples, já que de um mundo
fechado, o homem passa a viver em um universo infinito e ao mesmo tempo deixa de
ser o filho privilegiado. Este novo homem precisa guiar-se por novas idéias, novos
ideais, novas pretensões, precisa enfim, construir um novo mundo.
Dois importantes pensadores, críticos desta época são Pascal (1623-1662) e
Montaigne (1533-1592). Dentre as críticas de Pascal, destacarei apenas a que mais nos
interessa para o momento. Então, para Pascal, é um grande absurdo pensar que a
matemática possa explicar o homem e também, por conseqüência, Deus. Para Pascal,
que é um grande matemático, depois de inúmeras pesquisas matemáticas, descobre que
esta ciência pode conhecer apenas as coisas simples. O que ela pode conhecer é a
constituição dos mais diversos objetos e elementos da natureza, do universo, enfim,
através da geometria e da aritmética é possível medir, mensurar as diversas coisas do
mundo natural, porém, o homem só pode ser abordado, mesmo assim por aproximação,
através da religião, uma vez que o homem é cheio de contradições e mistérios, e sua
natureza é muito diferente daquela que compõe as coisas naturais. As coisas naturais são
possíveis de serem conhecidas porque o que lhes ocorre está sempre de acordo com a
imutabilidade de sua natureza. Assim, por exemplo, do mesmo modo que agia uma
formiga, uma abelha, um castor, um urso, há centenas de anos, ele ainda hoje continua a
fazer do mesmo modo. Assim como uma árvore, uma rocha, um vulcão, o oceano, os
rios, os ventos, a chuva, tudo isso é possível de ser conhecido porque seus elementos
constitutivos e suas transformações são sempre possíveis de serem detectados e
explicados. Mesmo quando surge algo novo em cada contexto, podemos conhecer cada
fenômeno e mais uma vez formular e reformular o próprio conhecimento que envolve a
coisa investigada, o que não ocorre nem com o homem, nem com Deus. Deus é obscuro,
contraditório, misterioso e só através da religião é possível chegar até Ele. Só a religião
poderá, através da fé, guiar o homem em direção a si mesmo e a Deus, porque também
ela é misteriosa e obscura tal como Deus que a criou.
Passado o susto, o medo do novo, a humanidade se refaz e confirma a aposta no
novo projeto das ciências universais, da nova cosmologia.
O século XVII então imprime, com muito otimismo, uma grande força à
racionalidade e surgem grandes pensadores em busca de novas descobertas
guiadas pela racionalidade matemática;
É o que ocorre com Galileu, através da Física; com Descartes, através da
matemática; com Leibniz, através do cálculo infinitesimal; com Espinosa,
através da Ética ao modo dos geômetras.
O espírito científico moderno, com isso, coloca em nova perspectiva a questão
antropológica. A pergunta: “o que é o homem?” Passa a ter como parâmetros:
1) o modelo da Física/matemática (pensadas por Galileu e Descartes);
2) a busca pela teorização com capacidade de explicar a natureza humana (Hobbes,
Locke, Montesquieu, Rousseau são apenas alguns exemplos de pensadores que
guiaram suas pesquisas nessa direção);
3) a consciência e a liberdade são vistas como barreiras que separam o homem da
natureza. (a consciência religiosa e mesmo a liberdade pensada ao modo dos
antigos gregos e medievais, que era vista como valor);
4) a separação entre ciência e moral. A estratégia a ser usada é a mesma das
ciências naturais. (para percebermos esta questão, basta pensar no modo como
Hobbes pensa os contratualistas pensaram a constituição da sociedade e do
Estado, que só ocorre com a criação de um Contrato social).
A sociedade moderna funda novos fenômenos, dos quais citaremos apenas
alguns:
1) O desenvolvimento da divisão do trabalho com base na associação
homem/máquina;
2) O surgimento de uma sociedade de mercado;
3) O processo crescente de industrialização e separação entre a natureza e a
sociedade, ao mesmo tempo em que a natureza se transforma em fonte de
riqueza;
4) O surgimento do Estado Nacional centralizado;
5) A Reforma Protestante que cinde ao meio a unidade da fé cristã;
6) A secularização da cultura e a racionalização da técnica.
todos esses fenômenos foram possíveis em decorrência da nova concepção de
homem, de uma nova concepção de sociedade e de história. O que encontra-se
de comum acordo com o paradigma da racionalidade matemática que imperou
em todo o século XVII. Nesse caso, é importante destacar mais uma vez, que as
ciências humanas desta época conduziam, a exemplo de Descartes, suas
investigações acerca do homem, do mesmo modo, ou tendo como parâmetro, os
métodos utilizados para conhecer a natureza, ou seja, a partir da matemática.
enquanto no século XVII, prevalece a matemática, ao modo do cartesianismo
(quer dizer: ao modo de Descartes), em busca da pureza, da clareza e da
distinção, a partir do século XVIII, a Física newtoniana se torna o paradigma;
Isaac Newton (1643-1727) é o responsável por inserir um novo paradigma
na modernidade, não mais o conhecimento guiado pelo pensamento puro cartesiano,
pela pura racionalidade, em vez disso, acresce-se ao pensamento racional, a observação
experimental. O que não implica em dizer que houve, com isso, um abandono das
teorias e pensamentos do século XVII, no entanto, podemos dizer também, a partir de
meados do século XVIII, a física experimental de Newton ganha terreno e imprime uma
nova forma de conhecer e conceber a natureza e o próprio homem. A partir do século
XVIII,
Uma física agora dissociada da metafísica e algo heterogênea às
matemáticas, vale dizer, que é empírica antes de ser uma lógica e uma
axiomática e que, portanto, à diferença de Descartes, prefere as notas
da observação e da experiência às evidências do pensamento puro.
Seu modelo é a física experimental de Newton. (DOMINGUES, 1999,
p. 37).
O empirismo então é o modelo que passa a imperar e a conduzir as novas
descobertas. A perspectiva empirista diferencia-se bastante do racionalismo
principalmente pela origem do conhecimento. Se para Descartes, o conhecimento tem
origem no pensamento, que é racional e puro, ou seja, é completamente independente da
experiência sensível, para os empiristas, Locke (1632-1704) e Hume (1711-1776), o que
me possibilita conhecer algo é a experiência. Em Locke, por exemplo, o conhecimento
não é inato, uma vez que a mente é vazia em seu nascimento, é tal e qual uma folha em
branco. Para Hume, as idéias que formamos das coisas só são possíveis porque antes das
idéias, temos acesso às coisas pela impressão que temos delas, ou seja, pelo modo como
nós vimos, tocamos, cheiramos tais coisas. Não o contrário, como pretendiam os
racionalistas.
Então, para Domingues, o que marca esta segunda fase da Modernidade é
exatamente este novo modo de perceber o homem e a natureza, que nesse caso, passa a
ser preponderantemente a perspectiva empirista. Assim, o que me possibilita conhecer o
homem, sua natureza, sua especificidade é exatamente aquilo que consigo perceber
através da observação e da experimentação ou indução empírica. Tal método serve não
apenas para conhecer o homem, mas também toda a natureza.
Tal será o esforço de um Locke, por exemplo, no plano da política, para quem a sociedade não deve ser mais compreendida como um todo racional que preexiste às suas partes, à imagem do cosmos, ou como uma réplica da cidade de Deus, a exemplo de Santo Agostinho; mas como uma comunidade de indivíduos em estado de natureza que, portadores de um instinto social, decidem através de um pacto (contrato) viver em sociedade – a sociedade política – e criam o corpus de suas leis e instituições. (DOMINGUES, 1999, p. 38).
O mesmo procedimento de Locke, Smith adota na economia, que segundo ele,
do mesmo modo que os indivíduos, em estado de natureza são guiados pelo
instinto de sobrevivência, com a criação do mercado, os indivíduos são guiados
pelo instinto de poupança, pela busca de comprar, vender e de ampliar seus
bens;
Nas ciências humanas, os fatos humanos e sociais são transformados em coisas e
analisados como tais, ou seja, caberia ao cientista estudar os fatos com a mais
absoluta neutralidade;
Desaparece a pretensão em descobrir a essência última de cada coisa, ou
substância, pois o que há é o fenômeno e cabe ao cientista, através da
observação e experimentação, descobrir o que é propriamente o fenômeno.
Esvaziada das essências, a natureza humana também deve ser analisada a partir das notas da observação e da experiência. Porém, sem espontaneidade, sem intimidade e sem nenhuma unidade substancial, a alma não se oferece à inspeção interna, mas à percepção externa, e a morada do seu ser não é o Eu, mas o mundo e o espetáculo de sua manifestação: o fenômeno. Com isso, o que o espírito positivo [científico] nos oferece são sínteses de exterioridade: ao lado do homem-máquina de La Mettrie [1709-1751], há o homo politicus de Locke e Montesquieu [1689-1755] e o homo oeconomicus de Smith [1723-1790]. (DOMINGUES, 1999, p. 39)
Tais descobertas, ou melhor, tais definições, em vez de libertar de uma vez
por todas o homem e guiá-lo de forma segura, no sentido de encontrar uma
fundamentação suficientemente forte de modo a poder garantir uma explicação sobre si
mesmo, mais uma vez sua alma está perdida e sem compreender muito bem para onde
se deve guiar.
É importante lembrar que a revolução copernicana ainda é a responsável por
toda esta movimentação das ciências e do próprio homem. Por isso, mais uma vez, é
importante lembrar, que tudo isso ainda é apenas o primeiro descentramento do
homem.
Ocorre, no entanto, que as conseqüências do pensamento matemático,
juntamente com o pensamento empírico, que por sua vez foram adotados para
desvendar os segredos do homem e da natureza, não serviram para resolver os
problemas e os questionamentos do homem moderno, nem mesmo do homem do
período mais “avançado”, o período posterior às grandes revoluções modernas. Na
verdade, seja a Revolução Industrial, a Revolução Francesa e todas as transformações
da ordem política, econômica, cultural e social, acabaram por transformar o homem
moderno em um ser vazio, dados os esvaziamentos dos valores antigos e as explicações
quase que tão somente guiadas pelo pensamento racionalista-idealista. Tal vazio se deu
porque as explicações, sejam elas guiadas pelo racionalismo, sejam pelo empirismo ou
mesmo pelo criticismo já não eram mais suficientes para explicar fenômenos como a
desigualdade social, os conflitos sociais, as novas doenças, as novas perguntas da
ciência e até mesmo algumas das antigas afirmações filosóficas e teológicas
continuaram perseguindo o homem moderno.
A antropologia do homem-máquina, ao privilegiar os mecanismos invariáveis que regulam as coisas humanas (as leis) (...) era solidária de uma visão estática demais do homem e da sociedade, e abandonava ao devir um sem-número de fatos e acontecimentos, tidos como sem explicação ou simplesmente atribuindo-a ao acaso. (DOMINGUES, 1999, p. 39)
No entanto, o homem moderno já não aceita mais explicações fundadas no
acaso, a idéia de que era preciso dar um sentido, ou encontrar um sentido para a vida em
sociedade, para a vida individual, enfim, o homem moderno permanece com seus
anseios e dúvidas acerca de todo aquele mundo e contexto vividos. Além disso, percebe
também que algo ainda não havia sido pensado, nem sido questionado. “Demais, marco
vazio das coisas, o tempo era uma variável espacial antes de ser temporal, o lugar onde
elas duram e acontecem e não o índice ou o modo de ser das coisas.” (DOMINGUES,
1999, p. 39). É a partir daí, do questionamento acerca do tempo, que inicia-se uma nova
viragem, o homem moderno inicia a partir de pensadores como Darwin (1809-1882),
Marx (1818-1883), Dilthey (1833-1911) e Bopp (1840-1887), uma busca da inserção da
história na ciência e esta passa a ser um novo paradigma para pensar o homem.
Como nem a matemática, nem a física experimental foram suficientes para
uma fundamentação última para os novos questionamentos antropológicos, então, as
pesquisas, a partir de Darwin, passaram a ser guiadas por uma aproximação com a
história. É importante destacar que com Darwin, o que está no centro das atenções é a
Biologia, pois é através da pesquisa fundada na Biologia que Darwin elabora sua teoria
da evolução das espécies, mas de modo algum, a história, ou ainda melhor, o tempo,
pode ser dispensado desta reflexão, uma vez que a “evolução das espécies”, as
transformações naturais, só podem ser percebidas a partir do tempo. É neste sentido que
Cassirer e também Domingues concordam que história é incorporada à ciência, ou
melhor, para continuarmos pensando em Darwin: história é incorporada à biologia.
Domingues afirma ainda que ocorre uma incorporação múltipla, pois se por um lado a
história é incorporada à ciência com o objetivo de se poder explicar os fatos; os
encadeamentos dos acontecimentos; há sempre uma razão para que tal evento ocorra de
modo tal ou tal, então, na verdade os fatos não podem ser tomados tão somente em sua
frieza fatual, como se tivessem acontecido por puro acaso; por outro lado, em um
segundo momento, a ciência também é incorporada à história. Como já dissemos acima,
o primeiro exemplo se deu com Darwin.
O impacto da obra de Darwin foi extremamente profundo, do mesmo peso da astronomia de Copérnico: se o homem já tinha sido antes descentrado do universo, ele vê-se agora descentrado da própria natureza e converte-se num animal qualquer. (DOMINGUES, 1999, p. 41).
De acordo com Cassirer, apenas para seguirmos o mesmo fio condutor, a
partir do momento em que Darwin lança A origem das espécies, “(...) o verdadeiro
caráter da filosofia antropológica parece ter sido fixado de uma vez por todas. Após
inúmeras tentativas infrutíferas, a filosofia do homem está finalmente em terreno
firme.”6 Trata-se, em outras palavras, de uma explicação fundada em algo ainda mais
resistente, o que não podemos entender que há um abandono da primeiro instrumento
moderno de investigação, pois o método matemático cartesiano não deixa de ser o
condutor dessa nova investigação, mas agora, há um acréscimo de mais dois
instrumentos, isto é, da biologia e também da história.
Ao mesmo tempo que a teoria de Darwin serviu como modelo de
cientificidade – não há nenhuma dúvida que também ela recebeu críticas de todos os
lados, uma vez que alterou todo o pensamento acerca da origem, não apenas do homem,
mas de todas as espécies animais – ela serviu também para aprofundar ainda mais as
justificativas acerca da desigualdade social. Surge, por exemplo, o darwinismo social,
sob a influência do modelo proposto por Darwin, porém, aplicado à sociedade, ao
homem, ao trabalhador, ao capitalista. Nesse caso, a utilização dessa teoria tinha como
objetivo ideológico, pois desse modo, pretendia-se justificar, naturalizar a condição dos
desgraçados, miseráveis, pobres e desse modo, tal argumentação serviu para afirmar que
era natural haver na sociedade pessoas mais adaptadas ao sistema, enquanto outras não
conseguiriam mesmo se adaptar, e desse modo reforçavam que tais acontecimentos
eram normais e que assim como ocorre na natureza, ocorre também na sociedade. Tais
coisas, argumentavam, são saudáveis para todo o sistema, uma vez que só poderá
sobreviver mesmo, aquele que tiver maior potencial, maior propensão à competição e
que melhor conseguir se destacar, tal e qual a seleção natural das espécies.
Darwin foi, portanto, o responsável pelo segundo descentramento do
homem, pois com isso ele mais uma vez retira o homem do centro, desta vez, ele é
“retirado” do centro da natureza, ou seja, a partir de Darwin o homem não mais é
concebido como o animal superior, como o mais desenvolvido e, portanto, dominador
6 CASSIRER, 1994. p. 35.
da natureza. O animal racional, a coisa pensante dá lugar a outra concepção. Em vez
disso, o homem é concebido como um animal qualquer, no sentido de ser dotado das
mesmas condições físicas dos demais seres vivos e como tal apenas permanecerá na
Terra se continuamente conseguir evoluir e se adaptar. Para Cassirer, o pensamento de
Darwin, foi profundamente determinante para a modernidade uma vez que este
pensamento alterou o modo de pensar e de investigar o fenômeno da vida e
conseqüentemente o próprio homem. Trata-se da inserção da ideia de que o
conhecimento da vida orgânica simples é suficiente para que se possa projetar o
entendimento das transformações nos organismos mais complexos e complicados e
desse modo conhecer toda espécie de vida, inclusive a do homem desde a sua origem.
A questão é que tais explicações também não foram suficientes, nem mesmo
foram aceitas como verdadeiras, para aquele homem do século XIX. A percepção
surgida naquele momento foi a de que cabia às ciências humanas, encontrar seus
próprios parâmetros de investigação uma vez que seu objeto, o homem, era bastante
diferente tanto daqueles estudados pela matemática, como os estudados pela física e por
última pela biologia. Um dos resultados a que se chegou foi apresentado por Dilthey
(1833-1911), quando ele entendeu que deveria haver uma separação das investigações
em duas áreas distintas. De um lado, as ciências da natureza, que deveriam cuidar da
própria natureza, da descoberta do seu funcionamento através de ciências como a
matemática, a física, a biologia, dentre outras. De outro lado, encontram-se as ciências
hermenêuticas ou históricas, que deveriam cuidar das investigações acerca do humano,
a partir de outro modelo de cientificidade, diferente daqueles utilizados pelas ciências
naturais, mas mais do que isso, o método de investigação das ciências hermenêuticas
deveria ser o método da compreensão o qual não pode dispensar as questões valorativas
e finalistas.
Com efeito, ao estabelecer a especificidade das ciências humanas,
Dilthey de certa forma reabilita tacitamente a velha natureza humana,
falando-nos da alma vital (vida), da consciência e de seu fundo
intuicionista (a entropatia ou a intuição simpática do vivido). É ela que
em última análise explicaria a própria especificidade dos fenômenos
humanos e sociais e, assim, das ciências hermenêuticas em relação às
ciências naturais. (DOMINGUES, 1999, p. 42).
Apesar do avanço, e da nova “libertação” proposta por Dilthey, o que ele faz
através da fragmentação, ou simplesmente diferenciação e classificação das ciências em
duas áreas distintas, ainda não é suficiente para responder às questões dos filósofos e
cientistas do século XIX. A questão acerca da característica fundamental da alma ainda
persiste. As dúvidas pertinentes à particularidade constituinte, unificadora do próprio
homem ainda continua em aberto e pensadores como Hegel (1770-1831), Marx,
Nietzsche, mais uma vez Dilthey e Freud continuam em busca de uma compreensão
mais completa acerca desse princípio que possa explicar o que é que une espírito, vida,
vontade e desejo.
A nova antropologia não mais se atém às características do homem-máquina
para compreender o homem. A nova proposta, que parte das dúvidas e questionamentos
referidos acima, passa a ser guiada por uma perspectiva história, nesse caso, funda-se aí
uma antropologia do homem-histórico e nesse caso, não se atém puramente à história
para compreender o homem.
Eis os quadros dessas antropologias do homem histórico que em suas diferentes variantes – filosofia da vida, da vontade, da práxis etc – substituem no século XIX a antropologia do homem-máquina, falando-nos do homem como ser de carência e de desejo, do homem como ser de artifício e de invenção, do homem como ser lacunar e com o ego barrado e a alma decaída no tempo, e buscando nas potências do tempo (...) o princípio interior do ser e a lei do seu devir. (DOMINGUES, 1999, p. 42).
O novo quadro de compreensão ao qual foi colocada a pesquisa sobre o
homem, como diz Domingues, é também o que o impulsiona duplamente, para fora do
centro. Em primeiro lugar com Marx e em seguida com Freud.
É fundamental lembrar que persiste a ideia de que o homem é um ser
racional, ao modo de Descartes, e que como tal, é um ser consciente e conduzido por
um pensamento pautado no eu. Esta característica da subjetividade é pensada também
na política, seja com Maquiavel, Hobbes, Locke, para citar apenas alguns filósofos. Mas
é também pensado desse modo na religião, onde o homem pode evitar cair na perdição,
no pecado – se conscientemente e em decorrência do auto-conhecimento e por
conseqüência, ao conhecer, conscientemente, suas forças e fraquezas, inclusive para
pensarmos em Sócrates, também Agostinho pensa de modo parecido – esta condução,
então, se for guiada desse modo, pode levar o homem à libertação, ou à salvação, ou a
agir corretamente se compreender, conscientemente, qual é a melhor forma de agir.
Ocorre, no entanto, em primeiro lugar, que nem sempre o homem,
subjetivamente, guiado pelo eu cartesiano, tem condição de agir diante da luta de
classes que sempre existiu.
A história de todas as sociedades que existiram até hoje é a história da
luta de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e
servo, mestres e companheiros, numa palavra, opressores e oprimidos,
sempre estiveram em constante oposição uns aos outros, envolvidos
numa luta ininterrupta, ora disfarçada, ora aberta, que terminou
sempre ou com uma transformação revolucionária de toda a
sociedade, ou com o declínio comum das classes em luta. (MARX,
2004, 45).
Mais uma vez então, o homem perde o seu centro, de uma só vez, tanto da
história como da sociedade e em seu lugar, Marx coloca o coletivo como a parte central
da sociedade. Não se trata mais, como mostra Marx, de tomar o homem,
individualmente, como aquele que depende unicamente de si para ultrapassar as
barreiras da desigualdade econômica, social, cultural. O indivíduo, tão propalado e
defendido pelo Liberalismo é algo que precisa ser reprovado, negado, assim como a
competição e a defesa pura e simples do que é meu. Em vez disso, a defesa fundamental
precisa guiar-se na direção do coletivo. É nesse sentido que Marx retira o homem do
centro e em seu lugar coloca o coletivo, a sociedade. Não se trata mais de uma
determinação da história pelo indivíduo que conscientemente a transforma. Com Marx,
esta transformação só ocorre porque há uma luta que é histórica e social, coletiva, é uma
luta de classes. Mais ainda, o que move o homem não é a consciência, nem a vontade,
mas o modo de produção (escravista, feudal, capitalista, socialista), que se torna
preponderante e determinante das ações humanas, em toda a história da humanidade.
Freud é quem dá o último golpe, quando ele mostra que é o inconsciente e
não a consciência que, na maior parte das vezes, nos guia e dirige. O último
descentramento ocorre então, quando o homem é descentrado de si mesmo. Ou seja,
quando a consciência ou a razão deixa de ser o determinante na construção do ser do
homem. Domingues afirma que Freud:
(...) descentra a consciência do indivíduo, substituindo-a pelo inconsciente, e desloca nosso centro para um outro lugar, não mais a
ordem da razão, mas a do desejo, energia difusa que age malgrado nós e se furta às nossas mais firmes intenções de barrá-la ou de controlá-la. (DOMINGUES, 1999, p. 43.)
O grande ganho dos estudos e conclusões aos quais chegaram Marx e Freud,
para Domingues, foi principalmente o fato de estes filósofos terem se utilizado do
método hipotético-dedutivo, tal como utilizado na física experimental newtoniana,
porém, de modo novo e a partir de novos elementos, para analisar, compreender,
investigar a vida psíquica e social.
Por ora não farei uma conclusão porque pretendo ouvir as sugestões, críticas
e também pretendo continuar esta investigação...por ora é só...
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
CASSIRER, Ernst. Ensaio sobre o homem: introdução a uma filosofia da cultura
humana. São Paulo: Marins Fontes, 2005.
DESCARTES, René. Meditações sobre filosofia primeira. São Paulo: Editora Unicamp,
2004.
DOMINGUES, Ivan. O grau zero do conhecimento: o problema da fundamentação das
ciências humanas. São Paulo: Loyola, 1999.
KOESTLER, Arthur. O homem e o universo: como a concepção do universo se
modificou através dos tempos. 2ª ed. São Paulo: IBRASA, 1989.
MARX, Karl. Manifesto do partido comunista. São Paulo: Martin Claret, 2004.
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: do humanismo a Kant.
Volume 2. São Paulo: Edições Paulinas.
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