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Texto sobre comunidade alternativa.
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A Comunidade Alternativa
Por: Eknath (Ede Muller)
Este texto contém:
Prefácio
O que é uma comunidade?
O que representa a decisão de formar uma comunidade?
Como escolher a terra?
Registro da terra
Como se mudar?
Primeiros dias na terra
Planificação da comunidade
Subsistência da comunidade
Departamentos
Um novo membro
Rotação de pessoas
O indivíduo e a comunidade
Educação
Medicina
Alimentação
Comunicação
Filosofia
Encontros anuais
Movimento comunitário
Mensagem final
Recomendação
Agradecimentos
Prefácio
AS COMUNIDADES ALTERNATIVAS SÃO UMA REALIDADE !!!
As comunidades alternativas existem espalhadas pelo mundo todo, de várias formas
e maneiras e estão dando um exemplo de cooperativismo, cooperação, consciência
grupal, organização, equilíbrio dos planos material e espiritual; enfim, um
modelo novo a ser copiado por quem estiver interessado e afinado com essas
propostas de vida.
O que expomos neste livreto é um estudo feito a um tempo atrás quando nos
reuníamos para debater as propostas alternativas de vida que vinham acontecendo
e que sentíamos, naquela época, a sua importância e por isso estou transcrevendo
à todos os interessados e aqueles que estão empenhados em organizar ou fundar
uma comunidade, possam se utilizar dessas humildes dicas deste amigo que desde
1975 se dedica ao Movimento Comunitário Brasileiro e que já viveu em três
comunidades alternativas e fundou duas neste nosso país - A Aldeia Comunicampo
em Mato Grosso e a Fraterniunidade em Goiás e passou uma experiência na extinta
Mãe d' Àgua em Minas Gerais, além de visitar muitos grupos por todo o Brasil e
também no exterior.
Nossos agradecimentos à Aurora Espiritual, a Atmacharya Ashram, à Abrasca, à
Comunicampo, à Fraternunidade, a Mãe d' Àgua e a Arca Banco de Dados, que
também colaboraram neste trabalho, bem como ao Arnaldo com os xerox da presente
edição. A todos o nosso muito obrigado por estarmos juntos e formarmos essa
grande família em Aquarius !!!
Esperamos que este guia sirva de apoio e de incentivo à todos aqueles que estão
empenhados na luta comunitária e alternativa, não só em nosso país, mas em todo
o mundo. NAMASTE !!! (Eknath).
O que é uma comunidade?
É uma organização grupal, rural ou urbana, que visa integrar as pessoas em
divisão de tarefas e bens, como uma saída viável de vida equilibrada em todos os
sentidos e planos, em contato com a natureza e dando possibilidades a todos seus
membros de se desenvolverem interiormente, expandir suas consciências e realizar
o ser integral em comunhão com o mundo externo e a sociedade vigente.
A comunidade tem a possibilidade de dar a seus membros uma vida completa e
verdadeira, equilibrada e harmônica, desenvolvendo todos os planos, desde o
físico, o emocional, o mental e o espiritual, participando de atividades
sociais, culturais, artísticas, educacionais, espirituais, terapêuticas, etc.
Existem muitos tipos de organização comunitária, com tendências variadas ou de
caráter eclético e integral. A ideia de vida comunitária existe desde a
antiguidade, sempre com a proposta de união, fraternidade e ajuda mútua,
minimizando as dificuldades do mundo externo e vigente. Enfim, é um termo
amplo, mas que se resume em uma organização grupal humana que visa encontrar as
alternativas de vida, o Bem Comum e a Realização do Ser.
O que representa a decisão de formar uma
comunidade?
Acreditamos que um dos maiores motivos de formação comunitária se deve ao
"inconformismo" com o sistema vigente em seus múltiplos aspectos: social,
económico, religioso, educacional, cultural e espiritual. Quando vemos que um
sistema já não nos satisfaz mais, criamos um sistema paralelo para substituí-lo
e é que o que denominamos de "alternativo". A revolta interna em relação ao que
acontece externamente, a busca de soluções, a experiência com o sistema vigente
conhecendo suas deficiências, a injustiça social e econômica, a educação
intencionalista para o sistema consumista, etc. A pressão familiar, das
religiões e da sociedade, as escolas, a necessidade econômica, a pressão
comercial e industrial, a poluição em todos os sentidos, a falta de humanismo,
de espiritualidade, a falta de tempo útil para as artes, a cultura e o
desenvolvimento interno; enfim, uma série de razões fizeram e fazem (e farão)
com que surjam sistemas alternativos. Existem muitos tipos de experiência
comunitária a saber:
Comunidade Urbana - Comunidade Rural - Comunidade Rurbana - Condomínio Rural -
Condomínio Urbano - Condomínio Rurbano - Cooperativas - Associações Comunitárias
- Polos ou Focos Comunitários Ecológicos - Cidades ou Aldeias Alternativas -
Comunidades de Base - Associações de Bairro - Associações de Moradores -
Comunidades Indígenas - Comunidades de Negros - Comunidades Árabes - Comunidades
de Russos - Comunidades Kibutz - Comunidades de Ciganos - Comunidades Ecológicas
- Religiosas - Terapêuticas - Educacionais - Agrícolas - Nômades - Circenses -
Naturalistas - Nudistas - Ecléticas - Fraternidades Espiritualistas - Casas de
Encontros - Chácaras de Retiros - Ashrams - Monastérios - Mosteiros - Musicais e
Artísticas – etc.!...
Um dos maiores problemas na mudança de sistema é o da adaptação a nova vida, que
para a maioria, deve ser gradativa, pois causa um impacto tanto para quem vai
quanto para quem fica e os aspectos familiares pesam, pois surge uma nova
família para aquele que optou por essa nova maneira de viver.
Os benefícios para o mundo do futuro são incontáveis, pois teremos um mundo mais
equilibrado e harmônico em todos os níveis e planos, mais justo e humano,
espiritualizado e socializado, educando-se integralmente os seres, teórico e
praticamente, dando-se as crianças um futuro de esperanças reais para uma nova e
bem aventurada vida. Acreditamos que o sistema vigente quando este se tornar
totalmente obsoleto e inviável e tem nos mostrado que seguirá esse caminho.
Como escolher a terra?
Acreditamos que é importante limitar o número de membros de acordo com o tamanho
da terra adquirida, sendo que achamos que a área mínima seria de 30 hectares e a
máxima de 500 hectares. Para uma área de 100 hectares, achamos que o número
máximo de membros seria de 50 pessoas, com folga, sem necessidades extremas ou
urgentes. Buscar uma área com reserva florestal, fauna, flora, plantações,
lazer, etc.; isso para uma comunidade rural ou agrícola. Seriam 2 hectares por
pessoa, para cada membro da comunidade. Isto para nós é o ideal e acreditamos
que no Brasil tem espaço para tal. Evitaríamos assim as aglomerações humanas que
as tornam desumanas a exemplo das grandes cidades que conhecemos e até das
menores. Seria a ideia de descentralizar os grandes centros urbanos, num
equilíbrio entre o urbano e o rural, a cidade em comunhão com a natureza, em
povoações e aldeias, vilas, com reservas ecológicas, áreas de lazer, cultura,
práticas terapêuticas e artísticas, agricultura natural, espiritualismo,
construções harmônicas com a natureza e o meio ambiente, paisagismo ecológico,
etc.
A terra deve estar situada em lugar seguro, de preferência em lugar montanhoso
(mais protegido) e com nenhuma tendência para instalação de indústrias, estradas
federais, exploração de minérios, etc. Sugerimos que procurem a terra dentro dos
Polos Ecológicos existentes, por exemplo: Chapada Diamantina, Chapada dos
Guimarães, Chapada dos Veadeiros, Serra dos Pireneus, Serra da Bocaina, Serra do
Mar e alguns outros. Procure ver que a terra tenha água de fonte, nascente
dentro da terra, estrada de acesso razoável, fertilidade do solo boa, alguma
casa para iniciar e um pequeno pomar de preferência e sugerimos que
assim que mudar, plante o máximo de árvores frutíferas possíveis.
Registro da terra
Achamos que a terra deve ser registrada em nome do grupo (Associação, fundação,
cooperativa, fraternidade, etc.) e como reserva biológica e que no caso de
extinção, seja passada a terra para alguma comunidade similar conhecida ou para
ABRASCA (Associação Brasileira de Comunidades Alternativas), que se
responsabilizaria pela condução da mesma na forma semelhante à anterior, sendo
que o trabalho continuaria com seu objetivo e missão comunitária. A Associação
direciona os trabalhos conseguindo pessoas para a sua continuidade. A Associação
serve de proteção a todos os grupos e a missão comunitária em geral. Cada grupo
pode filiar-se à ABRASCA ou através de uma das suas regionais em sua região.
Regionais da ABRASCA.
É óbvio que se tenha um estatuto e um regimento interno. A organização interna é
fundamental e básica para o bom funcionamento da comunidade. A terra estando
registrada em nome da comunidade, cria mais responsabilidades e participação de
seus membros e evita o paternalismo, a centralização, ditadura pela posse, etc.
Consulte diversos estatutos já existentes e veja qual se aproxima mais ao vosso
caso e adapte-o de acordo com as normas estabelecidas pelo grupo. O estatuto
deve ser muito bem feito e com cuidado.
Como se mudar?
A pessoa deve, em primeiro lugar, aceitar a possibilidade da nova vida que
optou, acreditar nela, buscá-la, querer a nova vida, compreendê-la profundamente,
senti-la em todos os níveis possíveis, amá-la de coração, conscientizá-la
internamente, para então vive-la integralmente até passar a SE-LA em essência e
plenamente em si mesmo. Este preparo interior é muito importante, sendo que
depois a pessoa se liberta dos laços da vida anterior, dívidas, anelos, família,
sociedade, etc., ficando livre totalmente, vendendo (caso queira) os seus bens e
aplicando na comunidade, sua nova vida e seu novo lar. Temos que ver e sentir a
comunidade como a nossa casa e senti-la de coração puro e aberto, aceitando-a
conscientemente. É importante que todos ajudem materialmente na construção,
desenvolvimento e manutenção da comunidade, para que assumam a sua cota de
responsabilidade em todos os planos e níveis e que sua estrutura interna e
consciente possa levar a comunidade para seu aspecto ideal e perfeito. Deixe a
vida anterior para trás e viva totalmente a nova experiência, uma vez
conscientizada, sem olhar mais para trás, mas somente para a frente a partir
daquela decisão ter sido tomada e SEJA FELIZ.
Primeiros dias na terra
Toda mudança requer adaptação interna prévia, para que, depois, no plano físico
e emocional, e até mental, não hajam impactos, arrependimentos, choques,
empecilhos fortes, dúvidas, desistências, etc. Se a pessoa já se preparou antes,
os primeiros dias na vida nova e no novo local não serão difíceis, mas sim,
cheios de alegria e criatividade plena. Quanto mais a pessoa de preparou e se
conscientizou anteriormente, melhor será a sua adaptação à nova vida, mais feliz
será a sua continuidade e assimilação da mesma.
Notamos que os maiores problemas surgem daqueles que não se preparam. Pode se
ter uma casa na cidade para contatos diretos com a sociedade alternativa e com a
vigente, transmitindo à esta última, nossa experiência e vivência comunitária da
Nova Era. Pode-se e deve-se ir na cidade próxima para contatos com as pessoas
daquela sociedade que não deixa de ser uma proposta comunitária também, apesar
de muito desequilibrada e personalista.
A Comunidade logo que é formada deve iniciar seus trabalhos com agricultura,
pomar, roça, construções, reformas, organização interna (regimento e
planejamento), viabilidade econômica, contato social, cultural e espiritual,
educação das crianças, ecologia do local, reservas, etc., pois todo o tempo é
precioso e deve ser bem aproveitado, para aplicação imediata e com muito amor
nos corações e paz nas mentes; além de tudo, com uma boa dose de tranquilidade.
Planificação da comunidade
A Comunidade deve ter uma organização que funcione, com um regimento interno
claro e preciso, disciplina para despertar a autodisciplina em cada um de seus
membros, comissões de trabalho, setores, com coordenadores em cada área e, se
quiserem, fazer o rodízio para que todos passem pela experiência integral da
comunidade, caso o membro queira evidentemente. TUDO NA COMUNIDADE DEVE SER
VOLUNTÁRIO!!! Deve ter reuniões semanais e extraordinária caso precise com um
assunto urgente, definir bem suas metas, finalidades e objetivos, busca interior
e realização do ser como meta maior, pois uma comunidade sem uma busca maior
(espiritual) costuma não desenvolver integralmente e ir para a frente com
harmonia e equilíbrio, alimentação adotada e damos sugestão de ser a mais
natural possível, vegetariana e integral, bem como a própria agricultura que a
mantém; desenvolver a consciência ecológica em cada um, equilíbrio em todos os
planos através da consciência amplia e desenvolvida, do conhecimento e
autoconhecimento, para a auto-realização de cada um de seus integrantes, pois
UMA COMUNIDADE FELIZ SE FAZ COM MEMBROS FELIZES!!! Visar o Bem Comum para ter
uma vida alternativa equilibrada, para uma sociedade humana e justa, verdadeira
em suas bases e nas tônicas do AMOR E DA PAZ!!!
Subsistência da comunidade
A Comunidade deve estar organizada internamente para funcionar externamente e
ter subsistência, que a levará a auto-suficiência em todos os planos. Deve ter
agricultura variada em hortas, pomares, roças e jardins, publicações,
artesanato, apicultura, vivências de fim de semana com cursos, casa de encontros
nas cidades, bazar com os produtos a venda, caixa de doações, sala de terapias,
yoga e meditação (Templo), local para cursos e palestras, etc. Aplicar as
doações para ampliação e melhoramento da própria comunidade e de seus membros,
venda dos excessos dos produtos nas feiras livres da localidade mais próxima,
trocas com os vizinhos, os plantios "na meia" ou "na terça", fabricação caseira
de diversos produtos, participação do movimento como um todo, encontros,
seminários, viagens, etc.
Departamentos
Templo o sala de meditação, sala de terapias ou práticas de yoga (espirituais),
farmácia e ambulatório, biblioteca coletiva, escritório, sala de costura ou
atelier para artesanatos em geral, sala de artes, videoteca (caso tiver energia
elétrica) e sala de som, oficina, cozinha e refeitório coletivos, depósito ou
dispensa, paiol, ferramentaria, sala de sementes, quartos dormitórios ou casa de
hóspedes e casa para pretendentes à membros, casas individuais para os
residentes e membros fixos mais antigos, sala de reuniões, palestras ou
encontros, quadro mural de avisos, departamento de limpeza, comissão da horta,
pomar e roça, comissão dos jardins, meio ambientes e paisagismo, educação e
escola para as crianças, comunicação e contatos, divulgação e imprensa
alternativa (boletins, livros, panfletos, etc.), herbário (plantas medicinais),
etc.
Que as casas sejam ecológicas e que ofereçam um conforto simples e aconchegante,
necessário para o bem estar de todos. "O NEGÓCIO É SER PEQUENHO", portanto, que
as comunidades tenham um limite equilibrado de população e de área, pois temos
visto que os extremos são prejudiciais em todos em seus aspectos e planos.
Muitas mudanças realmente são ocasionadas pelas necessidades que vão surgindo e
que existem, dando um toque de consciência e ativando para a ação imediata. Se
agentes internos não agem, os externos fazem a sua parte e estimulam movimento e
evolução, crescendo-se sempre para o "alto", para o SER.
Sobre o Autor: Eknath é atual membro e fundador da comunidade FRATER no Vale Dourado/GO -
Brasil, e é uns dos participantes mais antigos da ABRASCA e consequentemente dos
ENCAS. Ao longo de muitos anos a desenvolvido um grande trabalho de resgate e
visão ao movimento alternativo comunitário no Brasil.
Este texto foi copiado de Ecolinkvillage
*** *** ***
O texto acima pertence à correspondência pessoal entre Eknath e Luís A. W. Salvi, datada de
25/12/2008.
Correções ortográficas e formatação para a presente edição: Editorial Agartha
Leia também “Comunitarismo – a Refundação do Mundo”, Luís A. W. Salvi, Editorial Agartha,
Alto Paraíso, 2012
www.agartha.com.br
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