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A CONSTRUÇÃO DE UMA PALINOTECA COMO FONTE DE DADOS PROXY PARA OS
ESTUDOS PALEOAMBIENTAIS
Aline Heidrich, (IC, CNPq), UNESPAR/FECILCAM, ninadrich_15@hotmail.com Mayara dos Reis Monteiro (Bolsista Mestrado CNPq), mayarareismonteiro@hotmail.com
Mauro Parolin, (OR), UNESPAR/FECILCAM, mauroparolin@gmail.com
INTRODUÇÃO
Segundo Gasparino (2006), os grãos de pólen são estruturas microscópicas das fanerógamas
que transportam a célula reprodutora masculina, estando diretamente relacionados com a reprodução e
a perpetuação de tais espécies. Gasparino e Cruz-Barros (2006) relatam que os grãos de pólen são
muito resistentes, pois são compostos principalmente por quitina. Os estudos dos grãos de pólen são
baseados na observação de suas características morfológicas. A palinologia pode ser definida como o
estudo dos grãos de pólen e esporos, e suas características morfológicas, bem como sua dispersão e
aplicações.
Para Melhem et al. (2003), o uso da palinologia em vários ramos da ciência, só é possível
devido à grande variabilidade morfológica encontrada nos grãos de pólen, que permite caracterizar
famílias, gêneros e espécies. Vale lembrar que tais características, estabelecidas geneticamente, não
estão sujeitas às variações das condições ambientes, o que as torna em geral, bastante estáveis e de
grande valor diagnóstico.
Uma das principais aplicações da palinologia diz respeito aos estudos paleoclimáticos, pois
como os grãos de pólen e os esporos possuem significativa resistência às alterações ambientais,
conseguem preservar-se em ambientes anóxicos como, por exemplo, áreas onde ocorrem sedimentos
turfosos ou fundo de lagos, permitindo-se estudar as condições do ambiente em tempos pretéritos. No
Brasil já existe uma extensa literatura utilizando-se dos grãos de pólen como dado proxy para
reconstrução paleoclimática e paleoambiental, podendo ser citados os trabalhos de Ledru (1993),
Ledru et al. (1996), Garcia (1998), Barth et al. (2004), Parolin et al. (2006), Barreto et al. (2007), entre
outros.
Embora os estudos polínicos venham se desenvolvendo há mais de quatro décadas em
território brasileiro, a disponibilização de imagens de grãos de pólen e esporos ainda é reduzida.
Diante desse fato, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq),
aprovou em 2010 e 2012 (processo 472496/2011-5 e 471385/2012-3) a liberação de recursos
financeiros para a realização de pesquisas que envolveram a caracterização paleoclimática da região
central do Estado do Paraná, além da estruturação e ampliação da palinoteca existente no Laboratório
de Estudos Paleoambientais da Fecilcam (Lepafe) com disponibilização de imagens polínicas
hospedada na página virtual da Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão
(Fecilcam). Desta forma, o presente artigo constitui um relato dos processos da estruturação dessa
palinoteca e os desdobramentos ocorridos após a disponibilização das imagens na internet.
Materiais e métodos Foi realizada periodicamente, nos anos de 2012 e 2013 a coleta de flores da Estação Ecológica
do Cerrado e em fragmentos florestais no município de Campo Mourão. Após a coleta, as flores foram
encaminhadas para o Herbário da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (Herbário HCF), onde
processou-se a identificação em nível específico.
A retirada do pólen das flores foi feita no Lepafe com base no aquecimento de uma solução
de acetólise (1 parte de ácido sulfúrico para 7 partes de ácido acético). Depois do resfriamento o
material resultante foi colocado em tubos de ensaio e lavado diversas vezes (até atingir pH ~7) via
centrifugação (1.000 rpm/4min), posteriormente os grãos de pólen e esporos presentes no fundo do
tubo de ensaio foi pingado sobre 5 lâminas de microscopia e cobertos com Entellan® e lamínula.
Os grãos de pólen e esporos foram fotografados em escala, seguindo-se um determinado
padrão de exposição (Figura 1), contendo o nome da espécie, número de tombo além dos nomes dos
envolvidos na coleta e preparação. As fotografias foram hospedadas no segundo semestre de 2012 na
página virtual da Fecilcam, em um link específico (http://www.fecilcam.br/lepafe/palinoteca).
Para a facilitação da busca pela internet a pesquisa na página virtual foi operacionalizada por
família botânica, gênero ou espécie (Figura 2). A página foi desenvolvida pelo setor de informática da
Fecilcam em linguagem PHP (Hypertext Preprocessor), que é uma linguagem de script open source
de uso geral, muito utilizada e especialmente guarnecida para o desenvolvimento de aplicações Web
embútivel dentro do HTML (PHP, 2013). Desde a disponibilização virtual das imagens, acompanhou-
se o número de visualizações por imagens e o número de imagens baixadas.
As lâminas de microscopia foram etiquetadas e acondicionadas em laminários de plásticos
(Figura 3), e, separados por famílias botânicas, estes por sua vez foram depositados em arquivo de aço
no Lepafe (Figura 4).
Figura 1 - Exemplos de fotografia disponibilizadas na palinoteca virtual da Fecilcam. a) Myrcia
splendens; b) Aegiphila verticillata; c) Annona dioica; d) Leptolobium elegans.
Figura 2 - Forma como foi disponibilizada a busca virtual no site
www.fecilcam.br/lepafe/palinoteca
Figura 3 – Maneira pela qual as lâminas de microscopia foram etiquetadas e acondicionadas em Laminários físicos
Figura 4 – Acondicionamento final dos laminários em arquivo de aço.
Resultados e Discussão
No segundo semestre de 2012 a página virtual da palinoteca entrou no ar, desde então foram
catalogadas até julho de 2013, 52 famílias botânicas correspondendo 113 gêneros e 133 espécies.
Desde que foi lançado no segundo semestre de 2012 até o momento (31/07/2013) o site conta com
1.987 visualizações (média mensal de 165,5) e 116 downloads de imagens (média mensal de 9,6).
Todas as espécies foram visualizadas pelo menos 2 vezes, no entanto, 6 espécies tiveram visualização
superior a 30, Pachystachys lutea (51), Froelichia procera (56), Aspilia reflexa (42), Baccharis crispa
(40), Zea mays (34) e Bidens pilosa (32). Quanto aos downloads 4 espécies foram baixadas mais de 3
vezes: Froelichia procera(7), Baccharis crispa (7), Niphidium rufosquamatum (6) e Mangifera indica
(5).
A iniciativa não é inédita, pois há páginas virtuais que disponibilizam imagens de grãos de
pólen e esporos: a) fora do Brasil - Australasian Pollen and Spore Atlas
[http://apsa.anu.edu.au/search]; David Roubik [http://stri.si.edu/sites/ roubik/]; Palinologia del Noa
[http://atlaspolinicodelnoa.com.ar/palinoteca% 20virtual.html] entre outros; b) no Brasil – Ulbra
[http://www.ulbra.br/palinologia/ colecao.htm]; Pollen-Net
[http://www.uefs.br/dcbio/lamiv/pollnet.htm], na comparação entre o número de gêneros e espécies
catalogadas no Lepafe, com outros bancos de imagens disponibilizadas na América do Sul, eleva o
banco de imagens do Lepafe como o maior banco de imagens de pólens e esporos disponibilizados em
rede virtual no país.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No segundo semestre de 2012 a página virtual da palinoteca entrou no ar, desde então foram
catalogadas até julho de 2013, 52 famílias botânicas correspondendo 113 gêneros e 133 espécies
(Tabela 1).
Desde que foi lançado no segundo semestre de 2012 até o momento (31/07/2013) o site conta
com 1.987 visualizações (média mensal de 165,5) e 116 downloads de imagens (média mensal de
9,6). Todas as espécies foram visualizadas pelo menos 2 vezes (Tabela 1), no entanto, 6 espécies
tiveram visualização superior a 30, Pachystachys lutea (51), Froelichia procera (56), Aspilia reflexa
(42), Baccharis crispa (40), Zea mays (34) e Bidens pilosa (32). Quanto aos downloads 4 espécies
foram baixadas mais de 3 vezes: Froelichia procera (7), Baccharis crispa (7), Niphidium
rufosquamatum (6) e Mangifera indica (5) (Tabela 1).
A iniciativa não é inédita, pois há páginas virtuais que disponibilizam imagens de grãos de
pólen e esporos (fora do Brasil - AUSTRALASIAN POLLEN AND SPORE ATLAS, 2013; DAVID
ROUBIK, 2013; PALINOLOGIA DEL NOA, 2013 entre outros - no Brasil - ULBRA, 2013;
POLLEN-NET, 2013), na comparação entre o número de gêneros e espécies catalogadas no Lepafe,
com outros bancos de imagens disponibilizadas na América do Sul, eleva o banco de imagens do
Lepafe como o maior banco de imagens de pólens e esporos disponibilizados em rede virtual no país.
Tabela 1 – Famílias botânicas, gêneros e espécies catalogadas na palinoteca física e virtual do Lepafe entre julho de 2012 e julho de 2013 e número de visualizações/downloads (V/D) realizados.
Família Espécie V/D
Acanthaceae Pachystachys
lutea
51/1
Amaranthaceae Froelichia
procera
56/7
Anacardium
humile
22/3
Mangifera
indica
18/5
Anacardiaceae
Schinus
molle
18/3
Anemiaceae Anemia
phyllitidis
21/3
Annona
coriaceae
20/2 Annonaceae
Annona
dioica
18/1
Nerium
oleander
17/3 Apocynaceae
Tabernaemon
tana
catharinensis
17/3
Allagoptera
campestris
30/2
Butia
eriospatha
10/1
Euterpe
edulis
14/2
Arecaceae
Syagrus
romanzoffian
a
15/3
Asteraceae Aspilia
reflexa
42/2
Baccharis
crispa
40/7
Bidens pilosa 32/2
Calea
parvifolia
27/2
Centratheru
m punctatum
26/2
Chamomilla
reticulata
21/2
Mutisia
speciosa
21/1
Senecio
brasiliensis
30/2
Solidago
chilensis
13/2
Sphagneticol
a trilobata
26/2
Tithonia
diversifolia
26/2
Vernonanthu
ra petiolaris
13/1
Anemopaegm
a prostratum
13/3
Cuspidaria
convoluta
13/2
Fridericia
florida
7/2
Handroanthu
s albus
12/1
Handroanthu
s
chrysotrichus
8/2
Bignoneaceae
Jacaranda 12/1
oxyphylla
Jacaranda
puberula
4/0
Pyrostegia
venusta
17/1
Sphatodea
campanulata
8/1
Tabebuia
roseo-alba
12/2
Bixaceae Cochlosperm
um regium
18/1
Blechnum
binervatum
8/1
Blechnum
brasiliense
9/0
Blechnaceae
Blechnum
polypodioide
s
8/1
Boraginaceae Heliotropium
transalpinum
20/1
Aechmea
distichantha
30/0 Bromeliaceae
Dyckia
tuberosa
13/2
Cactaceae Parodia
carambeiensi
s
21/1
Caryocaraceae Caryocar
brasiliense
15/0
Dichorisandr
a densiflora
10/1 Commelinaceae
Flocospa
glabrata
11/0
Convolvulaceae Ipomoea alba 17/1
Cyatheaceae Cyathea
atrovirens
25/1
Ericaceae Rhododendro
n simsii
21/2
Dalechampia
tricophila
17/1 Euphorbiaceae
Sapium
glandulosum
17/0
Acacia
paniculata
18/1
Anadenanthe
ra peregrina
15/1
Bauhinia
forficata
15/1
Calliandra
brevipes
16/0
Delonix regia 16/0
Leptolobium
elegans
11/0
Leucaena
leucocephala
17/0
Poincianella
pluviosa
14/0
Poiretia
latifolia
16/0
Senegalia
nitidifolia
11/0
Fabaceae
Senna
pendula
14/0
Iridaceae Sisyrunchium
desiflorum
10/0
Aegiphila
brachiata
11/0 Lamiaceae
Aegiphila 9/0
verticillata
Leonorus
japonicus
11/0
Leonotis
nepetifolia
9/0
Salvia aliciae 12/1
Salvia
splendens
9/0
Nectandra
grandiflora
3/0
Nectandra
lanceolata
4/0
Nectandra
megapotamic
a
2/0
Ocotea
puberula
3/0
Ocotea
pulchella
2/0
Ocotea
variabilis
5/0
Lauraceae
Persea
americana
18/1
Lecythidaceae Cariniana
estrellensis
9/0
Loranthaceae Psittacanthus
cordatus
4/0
Largestroemi
a indica
9/1 Lythraceae
Punica
granatum
7/0
Byrsonima
bachybotrya
14/0 Malpighiaceae
Byrsonima 12/0
Peixotoa
reticulata
14/0
Hibiscus
rosa-sinensis
21/0
Malvaviscus
arboreus
30/0
Pavonia
sepium
19/0
Malvaceae
Peltae
polymorpha
14/0
Tibouchina
cerastifolia
14/0 Melastomataceae
Tibouchina
granulosa
7/0
Cedrela
fissilis
21/1 Meliaceae
Melia
azedarach
10/0
Campomanes
ia sessiliflora
13/0
Campomanes
ia
xanthocarpa
13/0
Eugenia
uniflora
22/0
Myrcia
laruotteana
13/0
Myrcia
splendens
10/0
Myrtaceae
Plinia
trunciflora
12/0
Oleaceae Ligustrum
lucidum
13/2
Onagraceae Lippia
lupulina
11/0
Piperaceae Piper
gaudichaudia
num
11/0
Plumbaginaceae Plumbago
auriculata
10/0
Paspalum
dasytrichum
23/1
Setaria
vulpiseta
19/0
Urochloa
brizantha
19/1
Poaceae
Zea mays 34/0
Polygalaceae Polygala
lycopodioides
13/0
Campyloneur
on
austrobrasili
anum
3/0
Campyloneur
on nitidium
4/1
Microgramm
a lindbergii
3/0
Microgramm
a squamulosa
9/1
Niphidium
crassifolium
3/0
Niphidium
rufosquamatu
m
15/6
Pecluma
recurvata
10/1
Polypodeaceae
Pleopeltis
hirsutissima
4/0
Serpocaulon
triseriale
10/1
Proteaceae Grevillea
robusta
12/0
Pteridaceae Pteris vittata 1/1
Rosaceae Eriobotrya
japonica
14/0
Borreira
tenella
22/0 Rubiaceae
Coccocypselu
m condalia
9/0
Serjania
fuscifolia
12/0 Sapindaceae
Serjania
multiflora
10/1
Solanum
lycocarpum
23/0
Solanum
mauritianum
14/1
Solanaceae
Solanum
sisymbriifoliu
m
10/1
Symplocaseae Symplocos
tenuifolia
8/0
Thelypteridaceae Thelypteris
rivulariodoid
es
10/1
Thymelaeaceae Daphnopsis
racemosa
6/0
Typhaceae Typha
domingensis
14/1
Verbenaceae Lippia
lupulina
2/0
Violaceae Hybanthus 16/1
communis
Vochysiaceae Vochysia
tucanorum
11/2
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após um ano de existência da Palinoteca Virtual do Lepafe, percebeu-se através do
monitoramento das visualizações e downloads de imagens que a sua existência, e, principalmente sua
manutenção são importantes. Diante desse fato, a perspectiva é aumentar em um ano em 100% o
número de imagens disponibilizadas.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao CNPq (processos 472496/2011-5 e 471385/2012-3) e a Fundação
Araucária (Convênio 1251/2013) pelo apoio financeiro. A primeira e terceira autoras agradecem ao
CNPq pela concessão de bolsas de pesquisa. O segundo autor agradece a Fundação Araucária pela
bolsa de produtividade.
REFERÊNCIAS
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