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A IMPORTÂNCIA DA RELAÇÃO ENTRE A FAMÍLIA E A ESCOLA PARA O
APRENDIZADO DA CRIANÇA
Mayara Rossi1
Estêveno de Freitas Rodrigues2
Lilian Regina Simões3
Sônia Aparecida Araújo Verdelho4
RESUMO
O presente artigo foi baseado em uma pesquisa de campo, de caráter qualitativo, com o uso de
questionário aberto e entrevista como instrumentos metodológicos, fundamentada por diversos autores
renomados: Ariès (1981), Canivez (1991), Capeletti (2005), Dias (1997), Di Giorgi (1980), Freire
(2007), Kaloustian (1998), Lèrios (2006), Maturana (2000), Pereira (2008), Reis (2002), Silva
(2013),Tosta (2013) e Zagury (2002). A pesquisa foi realizada com os educadores e gestores de
escolas municipais e estaduais da cidade de Vilhena-RO, tendo como objetivo compreender a
importância da relação família e escola no processo de aprendizagem da criança, sendo essa a
principal questão respondida no trabalho. Os resultados mostraram que há certa falta de
comprometimento e envolvimento por parte da família no processo educativo dos filhos, e que a atual
relação entre família e escola é preocupante; uma vez que, um número considerável de famílias não
participa do processo escolar. A responsabilidade de educar em muitos casos é deixada sobre a escola,
sem ainda destacar, a desestrutura familiar e os diferentes contextos familiares existentes. Causando
enfim, problemas que afetam o aprendizado e o desenvolvimento da criança, assim como, o
andamento escolar.
Palavras-chave: Relação; Família; Escola; Aprendizado; Desenvolvimento.
ABSTRACT
This article was based on a qualitative field research, with the use of an open questionnaire
and interview as methodological instruments, supported by several renowned authors: Ariès
(1981), Canivez (1991), Capeletti (2005), Dias ( 1997), Di Giorgi (1980), Freire (2007),
Kaloustian (1998), Lèrios (2006), Maturana (2000), Pereira (2008), Reis (2002), Silva (2013),
Tosta (2013) and Zagury (2002). The research was carried out with educators and managers
of municipal and state schools in the city of Vilhena-RO, aiming to understand the importance
of the relationship between family and school in the child's learning process, which is the
main question answered at work. The results showed that there is a certain lack of
commitment and involvement on the part of the family in the children's educational process,
and that the current relationship between family and school is worrying; since, a considerable
¹ Especialista em Psicopedagogia Escolar pela FAVENI, Graduada em Pedagogia pela FAEL, Professora Efetiva
do Estado do Mato Grosso, Juína-MT, e-mail: professoramayararossi@hotmail.com.
² Acadêmico de Ciências Biológicas pelo IFMT, Juína-MT, e-mail: estevenorodrigues@hotmail.com.
³ Especialista em Psicologia Escolar pela FASA, Graduada em Letras pela UNIR, Professora Efetiva do Estado
do Mato Grosso, Sapezal-MT, e-mail: lilianarthur8815@gmail.com. 4
Especialista em Gestão Escolar pela UFMT. Graduada em Matemática pela UFMT. Nova Brasilândia - MT. E-
mail soniaverdelho@hotmail.com.
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number of families do not participate in the school process. The responsibility to educate in
many cases is left to the school, without even highlighting the family structure and the
different existing family contexts. Finally, causing problems that affect the child's learning
and development, as well as school progress.
Keywords: Relationship; Family; School; Learning; Developmen.
1. INTRODUÇÃO
O processo de desenvolvimento e aprendizagem da criança é complexo e depende de
uma diversidade de fatores, entre eles, é fundamental em seus primeiros anos, o apoio e o
estímulo de seus principais formadores: família e escola.
É sabido que a família, enquanto primeiro grupo social da criança é quem transpõe
valores éticos, morais, espirituais e humanitários. É responsável por dar as condições básicas
para que a criança possa construir sua identidade. Portanto, a família exerce uma função
constitucional no seu desenvolvimento. Um pai, uma mãe e filhos é a imagem que costuma
definir uma família. Contudo, é apenas um modelo tradicional entre os muitos outros que
existem e se formaram nos últimos tempos. A criança nasce dentro de um desses tipos de
contexto familiar e é nele o primeiro contato com outras pessoas, é o primeiro grupo social a
ter acesso, e é neste momento em que terá experiências mais diretas e significativas em seu
desenvolvimento. Formará suas referências mais marcantes sobre sentimentos, limites, ética,
moral, caráter, o certo e o errado... e que acompanharão pelo resto da vida.
Segundo Maturana (2006, p. 163), família é:
Um domínio de interação de apoio mútuo na paixão por viver juntos em
proximidade física ou emocional, gerado por duas ou mais pessoas, seja através de
um acordo explícito ou porque crescem imersos nele, no acontecer de seu viver [...].
Como sistema, uma família existe no âmbito biológico, através da realização do
viver de seus componentes. Além disso [...] se realiza no linguajar e emocional de
seus membros como um caso particular de configuração de conversações recorrentes
(organização) que definem como membro de tal classe.
Após o convívio familiar, a criança passa a fazer parte de outro grupo de socialização,
que é a escola, a qual também exerce influência na formação dos valores, na cultura e na
identidade da criança.
Para Aranha (2001) a escola, como função de socializadora, também tem a
responsabilidade na formação do caráter dos indivíduos que estão sob a sua admoestação
formal. A escola deve atuar na formação integral dos alunos e promover o pleno
desenvolvimento do indivíduo como cidadão. Neste espaço a criança deverá encontrar meios
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de se preparar para realizar seus projetos de vida, e um ensino de qualidade é condição
necessária para a formação intelectual e moral dos educandos. Dessa maneira, os educadores e
todos os profissionais da educação, assim como, a comunidade escolar, as formas de se
avaliar, o espaço escolar, as metodologias, ou seja, o currículo como um tododevem preparar
o indivíduo de forma integral, levando a ética ao centro de reflexão e do exercício da
cidadania.
Devido tamanha influência que família e escola exerce na aprendizagem, o presente
trabalho visa analisar a importância dessa relação para o processo de aprendizagem da
criança. Para isso, iremos descrever inicialmente, a trajetória histórica do conceito de família
e infância no decorrer dos tempos. Adiante, o papel dos formadores: família e escola. Em
sequência, como acontece essa relação na atualidade tão defendida como importante, porém
ainda não praticada eficazmente em muitas escolas brasileiras. Destacamos os problemas que
as escolas enfrentam na relacionadas as famílias. Ressaltamos também, os benefícios e
consequências da participação e não participação da família no processo educativo de seus
filhos.
Finalizo descrevendo os resultados obtidos através da pesquisa, de reflexões e leituras
sobre o assunto. Por meio da pesquisa foi possível identificar alguns problemas quando o
assunto é relação família e escola, e como já citado, está interfere seriamente no aprendizado
do aluno, contribuindo tanto positivamente quanto negativamente em seu desenvolvimento.
Segundo os educadores e gestores das escolas cujo foram o objeto de estudo, grande
parte das famílias não participam ativamente do processo escolar de seus filhos. Algumas
famílias comparecem a instituição somente no momento da matrícula e rematrícula, depois
somem, não atendem aos telefonemas e nem respondem aos bilhetes enviados, não participam
das reuniões bimestrais ou mesmo quando convocados. Citam ainda, que na sua grande
maioria, esses são os pais ou responsáveis dos alunos mais problemáticos da escola,
indisciplinados, que possuem comportamentos agressivos, desrespeitosos e inadequados.
Neste enfoque, por um lado a pesquisa permitiu identificar que há professores e
gestores muito insatisfeitos com a participação dos pais. Por outro lado, algumas famílias
desejam ser escutadas pela escola e estarem mais presentes, todavia alegam não terem tempo
por estarem ocupadas com seus trabalhos, profissões e estudos.
Destaca-se que a temática tratada aqui ainda pode ser mais bem explorada, para
produzir mais conhecimento sobre o assunto, sendo está uma pequena contribuição para esse
tema tão vasto, que a cada dia sofre transformações e modificações.
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2. FAMÍLIA E CRIANÇA: DO SURGIMENTO AOS TEMPOS ATUAIS
Para entender a relação existente entre a família com os seus filhos, é necessário voltar
no tempo, e fazer uma breve análise histórica, para compreender como era constituída a
família na antiguidade até os tempos atuais.
O conceito de infância na Idade Média também conhecida como Idade das Trevas era
praticamente inexistente. As crianças eram vistas como adultos em miniatura, sem
características próprias e diferenciadas, sem suas particularidades e especificidades. Uma
prova disso, é que durante este período, toda e qualquer obra retratava figuras de crianças no
formato de adultos em tamanho pequeno apenas, adultos em miniatura. Em uma pintura de
Ariès (1981, p.50) “a cena do evangelho”, comprova-se isso:
O tema é a cena do evangelho em que Jesus pede que se deixe vir a Ele as
criancinhas, [...] ora o miniaturista agrupou em torno de Jesus oito verdadeiros
homens, sem nenhuma das características da infância: eles foram simplesmente
reproduzidos numa escala menor. (ARIÈS, 1981, p.50).
Sendo assim, os estudos do autor destacam que, durante parte da Idade Média ou Idade
das Trevas, as crianças eram consideradas como adultos em miniatura, sem estatuto social e
autonomia. Além disso, a criança também era vista como um membro da família que deveria
ajudar nas tarefas tanto quanto os mais velhos, sem haver preocupação de suportarem ou não.
Ainda na Idade Média as taxas de mortalidade após o nascimento eram altíssimas devido à
falta de preparo com o parto e com os primeiros cuidados básicos. Porém, a partir do século
XVII começa a mudar o conceito de infância, está passa a ser definida como um período de
ingenuidade e fragilidade do ser humano, que deve receber todos os incentivos possíveis. No
início deste processo de mudanças tem-se como marca o ato de mimar e paparicar as crianças,
embora em muitos casos este ato estava apenas relacionado a uma forma de se divertir com a
presença das mesmas, ou seja, era um meio de entretenimento dos adultos. Percebe-se isso na
seguinte citação de Ariès:
Contudo, um sentimento superficial da criança – a que chamei de “paparicação” –
era reservado á criancinha em seus primeiros anos de vida, enquanto ela ainda era
uma coisinha engraçadinha. As pessoas se divertiam com a criança pequena como
um animalzinho, um macaquinho impudico. Se ela morresse então, como muitas
vezes acontecia, alguns podiam ficar desolados, mas a regra geral era não fazer
muito caso, pois outra criança logo a substituiria. A criança não chegava a sair de
uma espécie de anonimato (ÁRIES,1981, p.10).
No entanto, inicia-se somente no século XIX, a verdadeira preocupação com a higiene,
saúde física e educação das crianças:
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[...] desde a “paparicação” até a educação. Havia também uma grande preocupação
com sua saúde e até mesmo sua higiene. Tudo o que se referia às crianças e à família
tornava-se um assunto sério e digno de atenção. Não apenas o futuro da criança, mas
também sua simples presença e existência eram dignas de preocupação – a criança
havia assumido um lugar central dentro da família. (ARIÈS, 1981, p. 164).
Trata-se um sentimento inteiramente novo: os pais se interessavam pelos estudos
dos seus filhos e os acompanhavam com solicitude habitual nos séculos XIX e XX,
mas outrora desconhecida. (...) A família começou a se organizar em torno da
criança e a lhe dar uma tal importância que a criança saiu de saiu de seu antigo
anonimato, que se tornou impossível perdê – la ou substituí – la sem uma enorme
dor, que ela não pôde mais ser reproduzida muitas vezes, e que se tornou necessário
limitar seu número para melhor cuidar dela (ÁRIES,1981, p.12).
Portanto, a partir deste século, a criança começou a ser vista como um ser diferente
dos adultos não era mais apenas um mero ser biológico. A família passou a se reorganizar em
torno da criança, começou a se preocupar com ela.
Com novas viabilizações da estrutura social, econômica e familiar, começa a pensar na
criança como um sujeito despreparado para tal sociedade e também nasce à necessidade de
prepará-la para viver e conviver neste novo estabelecimento. A partir daí, surge a questão de
escolarizar as crianças e prepará-las para o futuro; e esse é um olhar que persiste até os dias
atuais. A escolarização surgiu com a questão da industrialização, porque não tinha sido
necessário até então escolarizar as crianças, as escolas existiam apenas para os adultos.
Antigamente as crianças não tinham direito aos estudos, já foram consideradas adultos
em miniatura, foram alvos de risos e piadas, nem se quer possuíam suas características
próprias, eram tratadas como qualquer outro ser humano adulto. Porém, hoje isso acontece de
forma totalmente diferente. A criança ocupa lugar de destaque na sociedade contemporânea.
Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente - Lei 8069/90, a criança passou a ter
direitos regidos em leis:
Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais
inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei,
assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e
facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral,
espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder
público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização,
à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária.
Diante do exposto constata-se que a humanidade teve um grande avanço em relação a
concepção de infância e aos seus direitos, agora há uma preocupação com seu bem-estar,
segurança, proteção, saúde, educação, tratamento, desenvolvimento, que antes não existia. A
criança passou a ser reconhecida como um ser diferente dos adultos, com suas características
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próprias. Enfim, todo esse avanço em relação a concepção de infância e aos seus direitos foi
um processo construídos historicamente, não se apresentando apenas de forma homogênea.
3. O PAPEL DOS FORMADORES: FAMÍLIA E ESCOLA
3.1 FAMÍLIA
Para Tosta (2013, p. 8), “o âmbito familiar é o primeiro socializador de todo
indivíduo”. É o espaço onde a criança se forma e leva consigo todos as experiências
adquiridas no decorrer de sua trajetória. São as experiências vividas no ambiente familiar
quando criança, que irão interferir para a sua formação na idade adulta. Assim também diz
Pereira (2008, p.45):
A Família é o primeiro e o mais marcante espaço de realização, desenvolvimento e
consolidação da personalidade humana, onde o indivíduo se afirma como pessoa, o
habitat natural de convivência solidária e desinteressada entre diferentes gerações, o
veículo mais estável de transmissão e aprofundamento de princípios éticos, sociais,
espirituais, cívicos e educacionais, o elo de ligação entre a consistência da tradição e
as exigências da modernidade.
Segundo as palavras do autor, o processo de socialização de uma criança inicia-se
primeiramente no convívio familiar. A família exerce papel preponderante na formação do
indivíduo, e na construção de sua identidade enquanto sujeito social, ou seja, a família é o
núcleo central do desenvolvimento moral, cognitivo e afetivo. Paralelo a isso o autor DI
GIORGI (1980, p.26) enfatiza que:
A família atua (...) enquanto organismo social pré-político e agente primeiro da
socialização da criança. [...] Todas as posteriores experiências emocionais da
infância formam-se tendo por base as fundações construídas firmemente na família.
Neste sentido, depende da família em grande parte a personalidade do adulto que a
criança virá a ser. Nela ocorre a possibilidade de estruturar se como sujeito e desenvolver suas
chances de sobrevivência e adaptação ao mundo. Desse modo, uma vida doméstica de
qualidade pode influenciar poderosamente na habilidade da criança de se relacionar com
pessoas, com a sociedade, e lidar com os problemas da vida. Os pais são os primeiros
professores dos filhos, pois cabe a eles a competência de bem educar para a vida, transmitindo
bons valores e princípios.
A LDB 9394/96 evidencia o conceito de educação como sendo além da educação
formal, pois, é na família que a criança construirá valores que serão incorporados ao longo da
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vida, em que ocorre o primeiro processo de socialização que lhes permitirá traçar caminhos
futuros (BRASIL, 1996).
3.2 ESCOLA
Após o convívio familiar, a criança passa a fazer parte de outro grupo de socialização,
que é a escola, a qual também exerce influência na formação dos valores, na cultura e na
identidade da criança. Di Giorgi (1980), diz que depois da família, a escola é o agente mais
importante na socialização da criança.
Conforme Canivez (1991) a escola passa a ser o espaço social, depois da família. É na
escola que as crianças deixam de pertencer somente e exclusivamente à família, e passam a
integrarem-se numa comunidade ampla, onde os indivíduos não estão reunidos por vínculos
familiares, mas pela obrigação e direito de viver em comum, em sociedade. Em outras
palavras, a escola institui a coabitação de diferentes indivíduos sob a autoridade de uma
mesma regra. Neste mesmo espaço, as crianças começam a ter as relações diversificadas,
passam a viver e conviver com pessoas de diferentes religiões, culturas, etnias, cores e raças.
A escola é uma instituição social de muita relevância e importância, além de fornecer
preparação intelectual e moral, ocorre nela, a inserção social. Isso se dá pelo fato, de ser um
importante meio social frequentado por diversos indivíduos diferentes.
Nos dias atuais, há grandes conflitos e discussões em relação ao papel da escola,
muitos pensam que a partir do momento em que a criança ingressa nela, a escola deve assumir
responsabilidades que seriam dos pais ou responsáveis, a educação de limites e disciplina, de
princípios e valores. Havendo, pois, um equívoco nesta concepção, porque está educação, a
educação básica, deve vir de casa, do seio familiar. A escola, cabe, o papel de reforçar esses
valores e princípios, mas se este trabalho é realizado somente dentro da instituição de ensino e
em casa os pais não fizerem absolutamente nada, dificilmente se obterá resultados
satisfatórios.
O papel da escola na educação infantil resume-se em “educar e cuidar”. A escola deve
se reorganizar em um todo para oferecer uma educação de qualidade a todos, sempre
buscando meios e métodos diversificados e diferenciados de acordo com a realidade dos
educandos, de forma a promover o desenvolvimento integral do aluno, a inclusão social; ou
seja, a socialização, interação e desenvolvimento em todos os seus aspectos: físico, cognitivo,
psíquico, ético e moral. Segundo o Referencial Curricular Para a Educação Infantil (1998):
A instituição de educação infantil deve tornar acessível a todas as crianças que a
frequentam, indiscriminadamente, elementos da cultura que enriquecem o seu
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desenvolvimento e inserção social. Cumpre um papel socializador, propiciando o
desenvolvimento da identidade das crianças, por meio de aprendizagens
diversificadas, realizadas em situações de interação (BRASIL, 1998, p. 23).
Sobre o “cuidar” na educação infantil, está ligado as necessidades básicas, biológicas e
fisiológicas das crianças no dia-a-dia, cuidados que todo ser humano deve ter: como limpeza,
alimentação e saúde. Podemos analisar isso, mais especificamente no Referencial Curricular
Para a Educação Infantil (1998):
Na educação infantil o “cuidar” é parte integrante da educação, embora possa exigir
conhecimentos, habilidades e instrumentos que exploram a dimensão pedagógica. O
cuidado precisa considerar, principalmente, as necessidades das crianças, que
quando observadas, ouvidas e respeitadas, podem dar pistas importantes sobre a
qualidade do que estão recebendo. Para se atingir os objetivos dos cuidados com a
preservação da vida e com o desenvolvimento das capacidades humanas, é
necessário que as atitudes e procedimentos estejam baseadas em conhecimentos
específicos sobre desenvolvimento biológico, emocional, e intelectual das crianças,
levando em conta diferentes realidades socioculturais (BRASIL, 1998, p. 25).
Em relação aos profissionais da educação, estes têm o papel de educar e ensinar o
proposto nos currículos escolares (conteúdo a ser ministrado em sala de aula) e nos
Parâmetros Curriculares Nacionais, contudo, esses profissionais vão muito além de suas
funções, exercendo muitas vezes papéis de psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais,
assumindo responsabilidades que seriam da família, ou seja, funções que não lhe cabem.
Como consequência disso tem-se profissionais sobrecarregados com todo esse acúmulo de
múltiplas funções subjacentes.
Não poderíamos deixar de colocar aqui as sábias palavras de Mário Sérgio Cortella
(1954) um importante filósofo, escritor e professor paranaense, onde em um vídeo na internet,
(cujo título é “qual o papel da escola”?) coloca como as pessoas vêm o papel da escola. Neste
vídeo Mário diz que há um massacre cotidiano sobre a estrutura escolar e sobre os
educadores. Tem que ensinar educação física, educação artística, educação religiosa,
educação ecológica, educação para o trânsito, educação matemática, educação biológica,
oferecer merenda, discutir os valores da sociedade, fazer formação ética, fazer estrutura geral,
cuidar das crianças, atentar-se para o fato delas serem pessoas que vem de famílias
desestruturadas e que quando chegam a unidade escolar o educador é o primeiro adulto que
ela encontra e que impõe regras e limites, que faz perguntas como: Cadê o uniforme? Cadê a
tarefa? Você fez? Ou que diz para tirar o de ouvido ou guardar o celular. E então os alunos
partem para cima do professor, por não aceitarem suas imposições. Depois as pessoas vêm
perguntar qual é o papel da escola??? E a resposta é QUE A ESCOLA TEM MUITO A
FAZER, MAS NÃO SOZINHA.
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Mediante o exposto, é possível compreender que para a escola desenvolver um
trabalho educativo eficiente e de qualidade, é de suma, fundamental e extrema importância a
participação e o apoio das famílias junto à instituição escolar.
4. FAMÍLIA E ESCOLA: UMA PARCERIA FUNDAMENTAL
Tanto a família quanto a escola, têm o objetivo de preparar o indivíduo para viver e
conviver em sociedade, de forma autônoma e crítica, de buscar meios para que a criança se
desenvolva, aprenda, interaja e se socialize, claro que, de maneiras diferentes. Portanto, escola
e família, precisam estar unidas na educação das crianças, trabalhando como aliadas e não
como oponentes. E para que o trabalho entre as partes seja conjunto, é preciso que uma
complemente a outra; verificando-se a participação de ambas no processo educativo, uma vez
que “(...) a escola é uma instituição de ensino e formação – tal qual a família” (ZAGURY,
2002, p. 232).
Segunda as palavras da autora, escola e família são os “formadores das crianças”, e
consequentemente uma depende da outra. Veja bem, para um professor trabalhar com um
aluno, principalmente aquele que acaba de se inserir no contexto escolar, é necessário que o
educador entenda e conheça sua realidade e experiências; isso inclui a vida familiar, sua
cultura, seus costumes, necessidades, para então, trabalhar de forma eficiente, segundo as
necessidades do aluno. Assim também acontece com a família, é necessário que ela esteja
ciente sobre o que se passa no ambiente escolar, como anda o desenvolvimento de seu filho,
para além de dar suporte e apoio a escola, saber como auxiliar o filho em casa; ajudando-as
nas atividades, leituras e trabalhos por exemplo, de modo a contribuir positivamente para o
seu desenvolvimento. Sempre orientando, impondo regras e limites, repassando valores e
princípios.
Trazer a família para a escola ampliará os conceitos formulados pela criança, e ainda
permitirá conhecer a sua cultura pessoal para que a escola possa valorizá-la ainda mais.
Pensando assim, há necessidade de estarmos estreitando laços entre ambas as partes. REIS
(2007, P.06) também relata pontos importantes sobre essa relação: “A escola nunca educará
sozinha, de modo que a responsabilidade educacional da família jamais cessará. Uma vez
escolhida à escola, a relação com ela apenas começa. É preciso o diálogo entre escola, pais e
filhos”. Portanto, a parceria família e escola deve ocorrer, uma vez que, é muito positiva para
o desenvolvimento do indivíduo. Em parceria, ambos constroem, embora de maneiras
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diferentes, as aprendizagens fundamentais para o crescimento da criança nos âmbitos social,
emocional e intelectual.
Apesar dessa parceria ser um dos principais elementos para o sucesso da educação,
ainda assim, há muitos pais e responsáveis pouco participativos no processo escolar. Devido a
isso, a escola vem enfrentando grandes dificuldades, que poderiam ser evitadas ou resolvidas
facilmente se a família fosse mais presente, se houvesse realmente apoio, comprometimento,
comunicação e diálogo.
Algumas das maiores e mais frequentes dificuldades enfrentadas pelas instituições de
ensino no atual momento, serão discutidas a seguir. Todos esses tópicos foram organizados de
acordo com as respostas dos questionários e entrevistas realizadas com os educadores e
gestores das escolas municipais e estaduais na cidade de Vilhena-RO, cujo foram objeto de
estudo.
4.1 PAIS NÃO PARTICIPATIVOS: DEIXAM A RESPONSABILIDADE DE EDUCAR
SOBRE A ESCOLA
“Como consequência da crise que a família atravessa, assiste-se a uma progressiva
diminuição das influências familiares no processo geral de uma socialização” (DI GIORGI,
1980, p.82). Esta diminuição do acompanhamento da família claramente pode ser sentida pela
escola, a qual sofre várias implicações. Segundo Di Giorgi (1980) a criança em idade escolar
continua a depender dos responsáveis. Entretanto, muitos deles tornam-se distantes dos filhos,
a partir do momento em que essas começam a frequentar a escola, incubindo a mesma,
deveres e funções que não lhe cabe, como a responsabilidade de instruir e educar para a vida.
Encontram-se responsáveis que “depois de matricular seus filhos nas escolas, parecem
considerar sua missão terminada e entregam a elas toda a responsabilidade” (CAPELETTI;
JAKS; KELLER, 2005, P.203).
A entrevista a seguir é citada no Livro de Léria (2006) “Professor: um herói sem
medalhas” feita a uma Orientadora Educacional V.L.F. de 43 anos, há 15 anos na educação:
“A grande maioria dos pais que são chamados à escola para conversar a respeito de
seus filhos acaba não vindo, mesmo após mandarmos vários recados (quando é
possível telefonamos e quando conseguimos falar com algum deles se comprometem
a vir, mas isto raramente acontece), ao perguntarmos aos alunos o porquê de seus
pais não comparecerem à escola, recebemos como resposta mil e uma desculpas,
sendo a principal: falta de tempo. O engraçado é que esses mesmos pais, no final de
cada ano, quando seus filhos acabam sendo reprovados, aí sim, encontram
disponibilidade de tempo para nos procurar e atribuir essa reprovação à escola e
mais especificamente aos professores, se eximindo de suas próprias
responsabilidades” (Lérias, 2006, p. 49).
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A seguinte citação também reflete a triste realidade que muitas escolas brasileiras
enfrentam quando se trata da participação dos pais ou responsáveis no ambiente escolar:
A escola não pode se responsabilizar pela total formação do caráter do aluno, isso é
também, responsabilidade da família, e essa formação se processa através de um
referencial pela convivência na vida diária em que – principalmente – o pai, a mãe e
até os irmãos mais velhos servem de exemplo para discernir o certo e o errado, o
bem e o mal. Até porque a escola nem sempre existiu. Quando, por exemplo, ainda
não se conhecia a escrita, as chamadas sociedades pré-literárias, ou ainda hoje, nos
grupos indígenas, em que não há escola e, portanto, professores, a educação é
repassada pelos mais velhos no dia a dia, indo desde a luta pela sobrevivência, a
busca de alimentos através da caça, agricultura e pesca, até cerimônias que veneram
velhas tradições. Isso exemplifica a prática e a experiência transmitida pelos adultos
que irão, pouco a pouco, resultar na educação da criança (Lérias, 2006, p.45).
Conforme o exposto, contata-se que está sob a responsabilidade dos pais a educação
para a vida, e esses devem cumprir com seu papel imprescindível e fundamental. Após este
processo, a escola vem reforçar os ensinamentos já vindos de casa. Afinal professor ensina, os
pais são insubstituíveis. Se os pais não conseguirem educar os seus filhos, não vai ser o
professor que vai conseguir fazer isso. Os professores podemos reforçar alguns valores como
honestidade, reciprocidade, respeito, companheirismo e amor ao próximo, mas nunca vão
chegar a substituir os pais. Enfim, aos pais cabem o acompanhamento da educação de seus
filhos, portanto, não se deve delegar tão grande responsabilidade, somente a escola.
Há muitos fatores na atualidade que dividem a atenção e o esforço dos pais, e isso
contribui para que o acompanhamento da educação do filho seja prejudicado. Ao serem
questionados a respeito dos impedimentos, os principais motivos dados pelos pais são a falta
de tempo (geralmente associada ao trabalho), despreparo (não sabem como ajudar),
desinteresse, falta de conhecimento (relacionado a baixa escolaridade) e ainda existem os que
dizem que “educação é dever da escola”.
4.2 FAMÍLIAS DESESTRUTURADAS
Vimos que escola e família são as principais instituições socializadoras de uma
criança. Porém, a primeira é uma peça fundamental nesse problema intricado. Os pais que não
possuem controle, não ensinam, não educam, e também transferem suas responsabilidades
para a escola, ou seja, as famílias desestruturadas, geram alunos problemáticos, inseguros e
sem estrutura, com diversos problemas emocionais, e inclusive, pode tornar a aproximação
entre escola e família extremamente difícil.
Quando a criança participa de um ambiente desfavorável ao seu crescimento, como
por exemplo, um ambiente de brigas, prostituições, drogas, corrupções, quando não recebe o
que necessita para sua formação, como limites, educação, estímulos, segurança, cuidados, ___________________________________________________________________________________Juína-MT, Brasil, v.5, n.9, Jan./Jun. 2020. 75
carinho, atenção, amor, educação e referências, a mesma poderá carregar traumas, medos e
insegurança pelo resto da vida.
Essas mesmas crianças refletem na escola o que vivenciam em seus lares, passam a
seguir o exemplo de seus pais. Nessa perspectiva, a desestrutura familiar pode ocasionar
muitos problemas no desenvolvimento de um indivíduo. A criança se desenvolve conforme o
ambiente na qual está inserida. A este respeito, pesquisas soviéticas apoiam-se na concepção
de Vygotskysobre o desenvolvimento da criança, em que o social e a atividade são
considerados “conceitos centrais”.
Hoje é cada vez mais notório pelas instituições de ensino, que grande parte das
famílias não possuem estruturas. As causas para tais situações são geradas por questões
sócio/econômicas, étnicas e emocionais, por motivos como traições, separações, prostituições,
drogas, bebidas, falta de comprometimento, diálogo e empatia, excesso de ciúmes, exagero
nas cobranças, ocasionando enfim, consequências graves e danosas ao indivíduo que vive
neste tipo de ambiente.
Ao se casar, a pessoa se esquece que o outro possui princípios e valores diferentes dos
seus, que cada pessoa é única e diferente. Tantos casais se separam devido a comportamentos
doentio do cônjuge, que quer controlar os passos do(a) companheiro(a) ou devido a traições,
bebidas e drogas. Há ainda os casais que brigam, gritam e xingam na frente da criança. Outros
mantêm relação sexual de forma exposta, sem privacidade, deixando com que a criança
muitas vezes assista o ato. Crianças vivenciam experiências aterrorizantes como ver o pai
bater na mãe ou vice e versa, em alguns casos levando até a morte. Crianças são espancadas
diariamente. Há famílias que deixam crianças pequenas sozinhas enquanto vão trabalhar, ou
na rua, convivendo com quem não seja boa influência. Muitas não orientam e não ensinam o
filho no caminho em que deve andar, não mostra o que é certo e errado, deixam faltar amor
em seu lar.
Vale destacar os casos de jovens que se tornam pais na mais tenra idade, sem
planejamento, e não sabendo lidar com a situação por falta de responsabilidade e maturidade
para criar e educar um filho, deixam o mesmo sob responsabilidade de outro membro
familiar, que talvez não venha a educar como deveria. Em muitos casos a criança não possui
um lugar fixo para morar, vai crescendo sem referências, em um ambiente desfavorável ao
seu desenvolvimento. Dessa forma, as crianças vão sendo prejudicadas, se tornando inseguras
quanto ao seu comportamento e suas atitudes. Podem até repetir os mesmos erros por estarem
expostos a acontecimentos como este e outros.
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Entretanto, uma família bem estruturada é peça fundamental na formação de crianças
e jovens como futuros membros de uma sociedade. É na família que se vive e se assimila os
valores fundamentais do homem e neste relacionamento estreito, com forte ligamento de afeto
e cumplicidade.
4.3 FALTA DE TEMPO E O AVANÇO TECNOLÓGICO
Com o avanço tecnológico, a família, inevitavelmente, sofreu alterações em seu
cotidiano, onde a mulher deixou o papel de cuidadora e passou a trabalhar fora junto ao
homem, agora dividindo por igual, a responsabilidade perante a educação dos filhos (DIAS,
1997). Nos dias de hoje corremos contra o tempo, temos tantos afazeres que nos esquecemos
do mais importante: a família.
Neste aspecto, a concepção de família vem sendo repensada e aperfeiçoada de acordo
com cada época. Antes, a família era considerada como um modelo nuclear, onde o pai tinha
o papel de provedor, trabalhava fora e era responsável pelo sustento da família, e a mãe ficava
responsável por cuidar dos filhos e da casa. Mas, hoje não acontece mais desta maneira.
Segundo Dias (1997), a mulher vem ganhando cada vez mais espaço na sociedade; atualmente
as mulheres lutam para ter direitos iguais aos homens, principalmente nas profissões e nos
salários. Deixaram a muito tempo de serem donas de casa, para competirem por igual no
mercado de trabalho, deixando seus filhos com a secretária do lar, vizinhos, avós, babás,
outros.
Pais de classes menos favorecidas, as camadas populares, geralmente possuem
jornadas de trabalho extensas, ou trabalham em mais de um emprego, para assim garantir o
sustento da família,ficam um longo período fora de casa, muitas vezes não se mostram
presentes no crescimento do filho. Para Lérias:
A luta pela sobrevivência dos menos favorecidos socioeconomicamente e o esforço,
sem precedentes, da classe média brasileira para conseguir manter seu padrão de
vida, tem levado cada vez mais pais e mães a trabalharem diurtunamente
(independente de constituírem uma família tradicional ou não, como nos casos das
mães que se mantém sozinhas ou pais separados), deixando seus filhos relegados a
segundo plano. O reflexo desta situação se mostra constantemente no ambiente
escolar e se torna evidente em sala de aula, observando-se os mais variados
comportamentos, relacionados diretamente com a carência e a ausência efetiva
materna e/ou paterna. Quando os pais são ausentes, aumenta consideravelmente a
possibilidade de os filhos apresentarem problemas de comportamento. (Lérias, 2006,
p.43)
Conforme o autor, muitos pais não conseguem administrar o tempo para ficar com
seus filhos. Trabalham, estudam, viajam e em muitos casos vão para casa somente para
dormir. Todavia, começamos a fazer parte de uma sociedade comprometida em relação aos ___________________________________________________________________________________Juína-MT, Brasil, v.5, n.9, Jan./Jun. 2020. 77
valores indispensáveis ao ser humano. As crianças estão crescendo sem referências de ética e
valores essenciais. Essas mesmas crianças chegam às escolas doentes, carentes de afetividade,
agressivas; cabendo ao professor trabalhar de forma diferenciada para atender a necessidade
de cada uma delas. Percebe-se que as funções que eram da família, foram transferidas para a
escola. Com isso a escola vai abandonando seu foco, e a família perdendo sua função.
4.4 PAIS QUE BUSCAM A ESCOLA PARA DISCIPLINAR SEU FILHO, POR NÃO
SABEREM COMO FAZER ISSO
Nem sempre a forma com que os pais ou responsáveis escolhem para conduzir a
educação dos filhos, são as melhores ou as mais adequadas. Muitas vezes eles acabam
repetindo a forma de como foram educados, ou fazem exatamente ao contrário, e com certeza
a intenção é sempre a melhor, mas não significa que é a opção e forma correta.
Comportamentos inadequados, como a indisciplina, podem estar relacionados à
carência de acompanhamento e apoio por parte da família. Quando há falhas na formação de
limites, consequentemente os pais acabam por perder o controle sob seus filhos.
Gostaríamos de colocar nesse momento o relato de uma professora que trabalha em
uma escola militar na cidade de Vilhena onde realizamos a pesquisa, em que diz: “Muitos pais
procuram essa escola por dizer ser rígida e disciplinadora. Grande parte deles chegam aqui
para matricular seus filhos dizendo para darmos um jeito na criança, pois não saberem mais o
que fazer com ele(a) em casa devido seus comportamentos e atitudes. Colocando a
responsabilidade de educar sobre nós”. Analisando o relato, percebe-se que alguns pais vê a
escola como um ponto de saída para aquele filho indisciplinado, jogando sobre as costas do
educador a sua responsabilidade, porém não é esse o papel a ser cumprido.
No decorrer deste trabalho citamos inúmeras vezes que a escola não pode educar
sozinha, sendo necessário o apoio da família. Imagine, se os pais não dão conta de educar um
ou dois filhos em casa, quem diria um professor que ministra aulas para em torno de vinte a
quarenta alunos em cada sala de aula. É importante analisar se isso realmente seria possível?
5. PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA NO ÂMBITO ESCOLAR
Felizmente ainda encontramos responsáveis presentes e participativos na educação
escolar dos filhos. Quando isso acontece é extremamente perceptível, uma vez que, crianças
que recebem acompanhamento familiar se desenvolvem melhor em todos os aspectos:
cognitivo, motor, psíquico, social, emocional. Pais participantes, que demonstram interesse
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pelos assuntos escolares, fazem seus filhos perceberem que estudar é muito importante. Até
porque podem tirar tudo de nós, menos o conhecimento adquirido.
Como a família constitui a unidade dinâmica das relações de cunho afetivo, social e
cognitivo que estão imersas nas condições materiais, históricas e culturais, ela é considerada
uma parceira a mais na busca pelo cumprimento da função social da escola e ajudará a
cumprir suas metas.
Quanto mais ativo os pais, maior a chance de o filho se desenvolver, se interessar
pelos estudos, tirar boas notas, e dar continuidade a uma formação após a escolarização
básica. Nos Estados Unidos, a participação das famílias virou assunto de uma secretaria
exclusiva, que planeja como envolver os pais na escola para ajudar a diminuir as diferenças de
aprendizado entre os mais ricos e os mais pobres. Do lado das escolas, os esforços para
engajar os pais não são menores. “A presença dos pais legitima a educação que oferecemos”,
afirma Bartira Rebello, psicóloga do Colégio Miguel de Cervantes, de São Paulo. “A parceria
reforça o vínculo entre o aluno e o ambiente escolar”.
Não há dúvidas de que a influência familiar é decisiva na aprendizagem dos alunos.
Os filhos de pais extremamente ausentes vivenciam sentimentos de desvalorização e carência
afetiva, que impossibilita de obter recursos internos para lidar com situações adversas. Isso
gera desconfiança, insegurança, improdutividade e desinteresse, sérios obstáculos à
aprendizagem escolar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Voltamos no tempo, e compreendemos o conceito de família e criança. Na Idade
Média ou também conhecida como Idade das Trevas as crianças eram vistas por suas famílias
e por outras pessoas, como adultos em miniatura, sem estatuto social, autonomia e
particularidades próprias. As obras da época retratavam crianças em formato de adulto. No
século XVII essa visão começa a mudar, a infância passou a ser definida como um período de
ingenuidade e fragilidade do ser humano. Porém, a infância em si, começou a ser reconhecida
somente a partir do século XIX (Ariès, 1981). Hoje a infância é considerada como um período
frágil, de crescimento, e que possui características próprias, sem destacar ainda, os direitos na
qual as crianças passaram a ter. Constata-se, que a infância nem sempre recebeu tanta
importância quanto na contemporaneidade, as crianças de hoje possuem um lugar de destaque
na sociedade. Ser criança no século XXI significa ter uma série de direitos como educação,
saúde, lazer, segurança, proteção, nutrição e o fundamental direito à vida. ___________________________________________________________________________________Juína-MT, Brasil, v.5, n.9, Jan./Jun. 2020. 79
A pesquisa possibilitou compreender o papel dos diferentes formadores da criança:
família e escola. A família é o principal espaço de referência de um indivíduo, exercendo
grande força na formação de valores éticos, morais, culturais e espirituais. Tais valores
contribuem de forma significativa para a formação do caráter da criança, bem como para a sua
socialização e aprendizagem escolar. Assim, a participação dos pais na formação e na
educação dos filhos é considerada imprescindível. Porém, tem-se observado que nos últimos
tempos a família está deixando a responsabilidade de educar para a escola.
Ocorre uma confusão de papéis. Os profissionais da educação têm recebido atribuições
que não lhe competem. A escola, no entanto, tem a obrigação de ensinar conteúdos
específicos na área do saber, os previstos no currículo escolar, podendo posterior a isso
reforçar valores que já deveriam vir do seio familiar. Entretanto, o apoio da família ao sucesso
escolar permanece ainda mais implícito do que explícito.
Nesse sentido, vê-se necessário a parceria entre escola e família para promover o
sucesso no desenvolvimento moral e intelectual, assim como na formação do indivíduo em
fase escolar. Ambas precisam andar lado a lado na educação das crianças, cada uma
exercendo o papel que lhe compete.
Verificamos que são poucas as famílias que estão acompanhando seus filhos na escola,
de modo a contribuir para o seu aprendizado. Um grande número de famílias não se interessa
em saber como está o desenvolvimento do filho, se omite em participar das reuniões
escolares, encontra-se ausente do processo educativo das crianças, e as causas são diversas:
falta de tempo, desinteresse, pouca escolarização, etc. Neste sentido, percebemos que a falta
de participação das famílias no ambiente escolar é uma das maiores dificuldades enfrentadas
por muitas escolas. Há inúmeros conflitos e problemas que poderiam ser evitados se houvesse
maior comprometimento da família.
Entretanto, quando a criança recebe acompanhamento e apoio familiar, a mesma se
desenvolve melhor em todos os aspectos, uma vez que, participa de um ambiente favorável ao
seu crescimento. Os alunos que não recebem acompanhamento de sua família e são expostos a
ambientes pesados, geralmente apresentam comportamentos inadequados, dificuldades em
aprender, baixo rendimento escolar, falta de atenção e concentração. Em muitos casos o
indivíduo pode se tornar agressivo, sem limites, se sentir desvalorizado, carente de afeto, e
ainda carregar traumas, medos e insegurança inconstantemente, como também, se
desinteressar ou desistir dos estudos.
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Para finalizar essa ideia deixamos o relato de uma professora com 45 anos, dos quais
20 foram dedicadas ao magistério. Ela traz em pauta uma experiência relacionada a essa
questão:
“A carência afetiva ocasionada, principalmente pela ausência dos pais, tem sido o
principal problema que enfrento há muitos anos, e o mais preocupante é que vem se
agravando, indo desde o aluno extremamente introvertido, inseguro de tudo, aquele
que na hora da chamada se eu não ficar bem atenta não consigo ouvir sua resposta;
passando pelo alienado, que não está nem aí com nada, até aquele que tudo faz para
chamar a atenção, mas o que mais me deprime é os em educação, aquele que nunca
está errado, pois não aceita ser chamado atenção e quando isto acontece sou
obrigada a ouvir desaforos, até parece que sou culpada pelo seus problemas, sabre de
todos os seus direitos, mas finge não saber de nenhum de seus deveres”. (Lérias,
2006, p 43).
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