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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
VITOR SANTOS SANTANA
A mediação de autonomia e do domínio do ambiente na
relação entre modos de regulação emocional e dimensões
de bem-estar subjetivo
Salvador – Bahia
2014
2
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
Vitor Santos Santana
A mediação de autonomia e do domínio do ambiente na
relação entre modos de regulação emocional e dimensões
de bem-estar subjetivo
Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Psicologia da Universidade
Federal da Bahia, como requisito para obtenção do
titulo de Mestre em Psicologia.
Área de Concentração: Psicologia Social e do
Trabalho
Orientadora: Profª. Drª. Sônia Maria Guedes Gondim
Salvador – Bahia
2014
3
S231 Santana, Vitor Santos
A mediação de autonomia e do domínio do ambiente na relação entre
modos de regulação emocional e dimensões de bem-estar subjetivo - 2014.
102f. :il.
Orientadora: Profª Drª.Sônia Maria Guedes Gondim
Dissertação (mestrado) - Universidade Federal da Bahia. Instituto de
Psicologia, Salvador, 2014.
1. Psicologia social. 2. Emoções – Regulação. 3. Bem-estar. 4. Mediação.
5. Salvador, Região Metropolitana de (BA). I. Gondim, Sônia Maria Guedes.
II. Universidade Federal da Bahia. Instituto de Psicologia. III. Título.
CDD: 301.15
4
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
Vitor Santos Santana
A mediação de autonomia e do domínio do ambiente na
relação entre modos de regulação emocional e dimensões
de bem-estar subjetivo
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________
Profª. Drª. Sônia Maria Guedes Gondim
Universidade Federal da Bahia - UFBA
_____________________________________
Prof. Dr. Cícero Roberto Pereira
Instituto Universitário de Lisboa - ICS\UL
____________________________________
Prof. Dr. Jose Luis Alvaro Estramiana
Universidad Complutense de Madrid - UCM
6
DEDICATÓRIA
A minha família,
A minha querida mãe, pela amizade,
carinho e confiança em todos os projetos
da minha vida; por tudo que aprendo e
que vivencio dia a dia, nas suas lições de
humildade e de experiência de vida.
Sou sempre grato!
A minhas irmãs, Viveca e Viviane, pelo
companheirismo e por todos os
momentos que compartilhamos juntos.
Ao meu fiel cãozinho Quinho, pelos anos
de convivência e amizade.
Amigo até o fim.
Aos meus amigos e amigas, pelos risos,
notas musicais, vozes e melodias; que
fizemos juntos, e que ainda faremos
mais.
7
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela minha existência.
A minha família, meus amigos e amigas, pelo carinho e cumplicidade.
Aos professores do POSPSI, pelo esforço e dedicação a seus alunos.
Ao amigo José Bonifácio Sobrinho, pelo incentivo e motivação para ingressar no
Mestrado.
A Ivana, Henrique e Isaac, pela disposição em sempre colaborar com as
informações que precisamos, e acima de tudo, pelas conversas descontraídas e
bem humoradas.
Aos meus colegas de curso, Aline, Jaime, Silvia, Vinicius e Gilcimar, por
proporcionarem bons momentos em sala de aula.
A Profª. Sônia Gondim, pela disponibilidade em orientar essa dissertação e pela
oportunidade concedida, para participar das atividades do grupo de pesquisa.
Aos Professores Jose Luis Alvaro e Cícero Pereira, pelos comentários, críticas e
elogios ao trabalho.
8
Aos colegas do grupo de pesquisa, Juliana, Ana, Ana Lúcia e Rui, pela simpatia e
convivência harmoniosa.
Aos alunos da disciplina “Psicologia, Gestão e Trabalho” (2012.2), pelas trocas
salutares durante as aulas.
A Isaías Santos, Ana Evangelina, Sabrina Caribé e suas respectivas organizações,
pelo apoio na realização da coleta de dados.
À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB), pelo incentivo
financeiro aos meus estudos.
A todos os trabalhadores que participaram da pesquisa.
9
RESUMO
Este estudo teve como principal objetivo analisar as relações entre modos de
regulação emocional e dimensões de bem-estar subjetivo, a partir de dois
modelos: um de predição e outro de mediação, que envolve os efeitos indiretos da
autonomia e do domínio do ambiente. O instrumento do estudo contou com três
escalas, uma que avalia dois modos de regulação emocional e duas que avaliam as
dimensões de bem-estar subjetivo e psicológico. Foi incluído, ainda, um
questionário com dados sociodemográficos para caracterização a amostra.
Participaram da pesquisa 231 trabalhadores da região Metropolitana de
Salvador/BA (132 mulheres e 99 homens). A faixa etária média foi de 32 anos e
139 trabalhadores possuem nível superior completo. Como etapa preliminar aos
resultados, o modelo foi testado por meio de análise fatorial confirmatória (AFC)
para confirmação de sete fatores. Os resultados apontaram para a validade de
construto e os resultados da AFC apoiam o modelo com sete fatores. Para o teste
dos modelos de predição e de mediação, utilizou-se a técnica de modelagem de
equações estruturais (MEE), a partir da matriz de covariâncias e do método de
estimação Maximum Likelihood (MLE). Os resultados do modelo de predição
indicaram que os modos de regulação emocional foram capazes de prever os
níveis de autonomia e de domínio do ambiente. Manter emoções positivas foi a
condição mais influente em ambas as perspectivas de bem-estar. O modelo de
mediação indicou que a autonomia sozinha, foi capaz de mediar a relação entre os
modos de regulação emocional e as dimensões de bem-estar subjetivo. Pesquisas
futuras podem explorar esses achados mediante desenho experimental ou
longitudinal para determinar a direção de causalidade, entre os modos de
regulação emocional e dimenções de bem-estar subjetivo e psicológico.
Palavras-chave: regulação emocional, bem-estar subjetivo, bem-estar
psicológico, dimensões, mediação.
10
ABSTRACT
This study aimed to analyze the relationship between modes of emotion regulation
and dimensions of subjective well-being from two models: one for prediction and
mediation, involving the indirect effects of autonomy and mastery of the
environment. The instrument of the study included three scales, one that evaluates
two modes of emotion regulation, and two that assess the dimensions of
subjective and psychological well-being. It was also included a questionnaire with
demographic data to characterize the sample. Participated in this research 231
workers in the Metropolitan Region of Salvador/BA (132 women and 99 men).
The average age was 32 years, and 139 workers have college degrees. As a
preliminary step to the results, the model was tested using confirmatory factor
analysis (CFA) for confirmation of seven factors. The results pointed to the
construct validity and the results of the model support CFA with seven factors. To
test the prediction models and mediation, we used the technique of structural
equation modeling (SEM), from the covariance matrix and the method of
Maximum Likelihood Estimation (MLE). The results of the prediction model
indicated that, the modes of emotion regulation were able to predict the degree of
autonomy and environmental. Maintain positive emotions were the most
influential condition in both perspectives of well-being. The mediation model
indicated that autonomy alone, was able to mediate the relationship between
modes of emotion regulation and dimensions of subjective well-being. Future
research can explore these findings by experimental or longitudinal design, to
determine the direction of causality between modes of emotion regulation, and
measurements of subjective and psychological well-being.
Keywords: emotional regulation, subjective well-being, psychological well-
being, dimensions, mediation.
11
SUMÁRIO
RESUMO................................................................................................................ 8
ABSTRACT ........................................................................................................... 9
INTRODUÇÃO ................................................................................................... 14
Capítulo I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................ 18
1.1 Regulação emocional - definição, origens e características ............... 18
1.2 Funções da regulação emocional ........................................................ 22
1.3 Diferenças individuais em regulação emocional ................................ 26
1.4 Regulação emocional em contextos de trabalho ................................ 28
1.5 Bem-estar psicológico e subjetivo ...................................................... 32
Capítulo II – DELINEAMENTO DO OBJETO DE ESTUDO ...................... 40
2.1 Problema de pesquisa ......................................................................... 40
2.2 Objetivo geral ..................................................................................... 40
2.3 Objetivos específicos .......................................................................... 40
2.4 Hipóteses ............................................................................................ 41
2.5 Modelo hipotetizado ........................................................................... 44
Capítulo III – MÉTODO .................................................................................... 45
3.1 Caracterização do estudo .................................................................... 45
3.2 Participantes ....................................................................................... 45
3.3 Instrumentos ....................................................................................... 46
3.4 Procedimentos de coleta de dados ...................................................... 49
3.5 Considerações éticas ........................................................................... 49
3.6 Procedimentos para análise de dados ................................................. 50
3.7 Análises preliminares do modelo hipotetizado................................... 52
12
Capítulo IV – RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................ 53
4.1 Estatísticas descritivas e correlações .................................................. 53
4.2 Modelo de predição ............................................................................ 55
4.3 Modelo de mediação ........................................................................... 59
4.4 Discussão ............................................................................................ 64
Capítulo V – CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................... 67
5.1 Conclusões .......................................................................................... 67
5.2 Limitações e pesquisas futuras ........................................................... 67
Referências ............................................................................................... 69
Apêndices ................................................................................................. 87
Apêndice A – Instrumento de pesquisa .................................................... 87
Apêndice B – Instrumento - versão online .............................................. 99
Apêndice C – Termo de consentimento livre esclarecido (TCLE) ....... 100
Apêndice D – Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa ........................ 102
13
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Regulação emocional e processos relacionados à ....................................
regulação dos afetos ............................................................................. 20
Figura 2. Principais funções da regulação emocional ......................................... 26
Figura 3. Dimensões afetiva e cognitiva do bem-estar subjetivo ........................ 35
Figura 4. Modelo hipotetizado do estudo ............................................................ 44
Figura 5. Modelo de predição entre os modos de regulação emocional e ...............
dimensões de bem-estar psicológico e subjetivo.................................58
Figura 6. Modelo de mediação de autonomia e do domínio do ambiente
na relação entre modos de regulação emocional e dimensões de
bem-estar subjetivo .............................................................................. 62
14
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. As bases teóricas e dimensões do bem-estar psicológico ..................... 37
Tabela 2. Caracterização da amostra .................................................................... 46
Tabela 3. Estatísticas descritivas e correlações bivariadas de todas as variáveis . 54
Tabela 4. Efeitos preditivos de up e down regulation .......................................... 56
Tabela 5. Decomposição dos efeitos de mediação ............................................... 60
Tabela 6. Índices de ajustamento de todos os modelos ........................................ 63
15
INTRODUÇÃO
As emoções são uma parte extremamente importante na vida das pessoas
influenciando profundamente suas ações. Elas são muitas vezes aliadas,
auxiliando na escolha das melhores respostas para as dificuldades da vida
cotidiana (Lazarus, 1991). Entretando, existem situações em que elas surgem
como antagonistas influenciando a forma de pensar, agir e se comportar
ineficiente, e dependendo da intensidade, podem ser prejudiciais aos
relacionamentos sociais (Tapias, Glaser, & Keltner, 2007).
Nesse sentido, as pessoas tentam de forma consciente ou inconsciente,
facilitar e manter emoções apropriadas, ou esconder sentimentos ruins em
diferentes situações da vida pessoal. Esse processo de compreender, equilibrar e
decidir se deve ou não experimentar e expressar certas emoções é denominado de
regulação emocional (Gross,1998b,1999). O estudo das emoções e da regulação
foi por muitos anos pouco explorado. Até a década de 1990, a produção científica
sobre o construto era, sem dúvida, bastante reduzida. Até então, os processos
emocionais eram considerados por muitos pesquisadores, como disfuncionais ou
secundários, para o desenvolvimento humano (Mascolo & Griffin, 1998; Gross,
2013).
Ao descrever o desenvolvimento do tema, pesquisadores como Koole
(2009), Tamir (2011) e mais recentemente Gross (2013), indicaram que a última
década, testemunhou um crescimento exponencial de pesquisa sobre regulação,
desde a última revisão sobre o tema, no final dos anos 1990 (Gross,1998b). O
16
grande aumento no volume de pesquisa tornou o estudo da regulação emocional
uma das áreas que mais avançou na psicologia contemporânea. Desta forma, a
regulação emocional é apontada como um processo crucial para a compreensão da
experiência e da expressão emocional nos dominios afetivo, cognitivo e social
(Butler, Lee, & Gross, 2007; Gross, 2002). Devido a essa importância, diversos
campos da psicologia moderna têm se interessado a investigar o construto, como o
do desenvolvimento humano (Martini & Busseri, 2012), a da psicopatologia da
depressão (Aldao & Nolen-Hoeksema, 2012a; Garnefski & Kraaij, 2006; Min,
Yu, Lee, & Chae, 2013) o do desempenho de atletas (Lane, Beedie, Stanley, &
Devonport, 2011; Woodman, Hardy, Barlow, & Le Scanff, 2010) e o da
neuropsicologia (Goldin, McRae, Ramel, & Gross, 2008; Phillips, Ladouceur, &
Drevets, 2008).
O crescimento de estudos nessa direção produzem novas questões e novos
desafios. Recentemente, a pesquisa sobre regulação emocional tem diversificado
seu foco, em uma perspectiva que vai além do interesse pelos efeitos da regulação
de emoções negativas, evidenciado na grande maioria dos trabalhos. Desde a
primeira revisão sobre o campo realizada por Gross (1998b), o conhecimento
sobre a influência da regulação emocional de emoções positivas, e suas
consequências para o funcionamento adaptativo e para o bem-estar, ainda são
pouco exploradas.
Reconhecendo essa lacuna, Gross, Richards e John (2006) argumentaram
que apesar da regulação de emoções negativas ser mais frequente no dia a dia,
pois, as pessoas em diversas situações tentam diminuir emoções negativas como
raiva, ansiedade e tristeza, a regulação positiva também surge com notoriedade,
17
quando é necessário manter altos níveis de bem-estar. Adeptos a essa perspectiva,
Tugade e Fredrickson (2007), Quoidbach, Berry, Hansenne e Mikolajczak (2010)
relataram em seus estudos, que a habilidade em manter e regular emoções
positivas influencia positivamente a saúde física e os processos cognitivos. Como
argumentado por Gross (2013), o novo foco em estudos sobre as forças e as
potencialidades humanas, significaria uma mudança em interesses concentrados
apenas em emoções negativas, tão frequentes em pesquisas empíricas até o
presente momento.
Ao estar relacionado a vários aspectos do funcionamento biológico,
psicológico e social, podemos dizer que o conceito de regulação emocional
reafirma a complexidade humana, oferecendo uma base teórica fundamental para
a compreensão do desenvolvimento adaptativo. O bem-estar, assumido como uma
importante área de estudo da Psicologia Positiva é definido como uma avaliação
global que a pessoa faz sobre a sua vida (Diener, Suh, Lucas, & Smith, 1999) e
que elenca duas perspectivas: a hedônica – que envolve experimentar emoções
positivas em maior proporção do que emoções negativas e maior satisfação com a
vida (bem-estar subjetivo); e a eudaimônica, onde a pessoa é considerada
psicologicamente bem quando desenvolve suas potencialidades, em congruência
com os objetivos de vida (bem-estar psicológico).
Assim, as investigações recentes nesse campo, buscam examinar
potenciais preditores de bem-estar para ampliar a compreensão do potencial
humano. Apesar de existirem pesquisas internacionais em crescente
desenvolvimento com foco nessas variáveis (Livingstone & Srivastava, 2012;
Quoidbach et al., 2010), ainda resta pouca expressão na investigação empírica
18
sobre a influencia da regulação emocional e sua relação com o bem-estar em
estudos no Brasil. Pesquisas anteriores sobre regulação emocional sugerem que
algumas formas de regulação são mais eficazes do que outras, em termos das
consequências afetivas (Butler et al., 2003; Gross, 1998a). A partir dessa ideia, as
pesquisas sobre o tema direcionaram seu foco para as diferenças individuais na
regulação emocional e suas consequências para a adaptação a uma vida diária
saudável (Gross et al., 2006; John & Gross, 2004).
Tendo em vista tais argumentos, esta dissertação buscou oferecer
contribuições teóricas e metodológicas sobre a relação antecedente entre a
regulação emocional e as dimensões de bem-estar subjetivo. Em segundo lugar,
verificou nessa relação, o papel mediador de duas dimensões de bem-estar
psicológico: a autonomia e do domínio do ambiente, em uma amostra de
trabalhadores. Esta dissertação de mestrado está dividida em cinco capítulos:
O Capítulo I apresenta os conceitos de regulação emocional e bem-estar
apontando suas principais características, perspectivas e evolução de pesquisas em
diferentes contextos. No Capitulo II são apresentados o problema, o objetivo
geral e os específicos, as hipóteses do estudo e a identificação dos modelos
testados. O Capítulo III apresenta o método adotado no estudo, participantes,
instrumentos utilizados, procedimentos de coleta, considerações éticas e
procedimentos de análise de dados. No Capitulo IV são apresentados os
resultados a partir dos dois modelos testados – um de predição e outro de
mediação. Em seguida, estes resultados são discutidos à luz das hipóteses de
pesquisa. Por fim, o Capítulo V se dedica às considerações finais, suas
limitações e orientações para pesquisas futuras.
19
Capítulo I - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A fundamentação teórica deste estudo está subdividida em duas partes: Na
primeira parte é apresentado o tema regulação emocional e estudos que
demonstram suas influências em contextos de trabalho e no bem-estar. Na
segunda parte será apresentada a fundamentação teórica sobre as duas
perspectivas de bem-estar (subjetivo e psicológico), destacando suas
particularidades e discutindo a importância do tema mediante pesquisas do campo.
1.1 Regulação Emocional: definição, origens e características
Diversas situações do dia a dia podem causar mudanças no estado
emocional das pessoas. As emoções estão presentes em grande parte da vida,
dando uma tonalidade especial à existência humana e exercem um papel
importante, na sobrevivência da espécie, na construção histórica, no ajustamento
social e no desenvolvimento da pessoa ao longo da vida. As emoções e os afetos
ajudam a identificar o perigo, a expressar e informar estados internos, a comunicar
o impacto verbal, não verbal e comportamental dos eventos, bem como orientar as
ações em relação aos outros, a própria pessoa e ao ambiente circundante (Gondim
& Siqueira, 2014).
Quando uma emoção se inicia, ela desencadeia um conjunto de tendências
de resposta que envolvem os domínios subjetivo, comportamental e fisiológico
(Gyurak, Gross, & Etkin, 2011; Mauss, Bunge, & Gross, 2007). Nesse sentido, a
regulação emocional é definida como processos conscientes, inconscientes,
automáticos e controlados de mudança da expressão emocional e dos estados
20
internos para modificar a experiência pessoal (Gross, 1998b, 1999). Assim, a
regulação emocional refere-se ao manejo das emoções em diferentes contextos da
vida.
As pesquisas sobre regulação emocional têm suas origens nos estudos
sobre defesas psicológicas (Freud,1926/1959), estresse e coping, na teoria do
apego (Bowlby,1969) e na teoria da emoção desenvolvida por Frijda (1986). Nos
estudos iniciais, o conceito foi associado a um enquadramento psicodinâmico e
contextualizado como um tipo de defesa do ego, e a compreensão dos mecanismos
envolvidos relacionavam-se a processos de regulação da ansiedade (Gross,1998).
Somente a partir da decáda de 1990, a literatura sobre regulação emocional se
amplia e começa a ser aplicada na área de desenvolvimento infantil (Campos, J.,
Campos, R., & Barrett, 1989; Cole, Martin, & Dennis, 2004; Izard,1990;
Thompson, 1991) e, em seguida, no comportamento de adultos (Gross &
Leverson, 1997).
Com o avanço das pesquisas sobre a influência das emoções, diferentes
estudos se voltaram para a explicação da regulação dos afetos, dentre eles a
regulação emocional (Cramer, 2000; Larsen, 2000; Lazarus & Folkman, 1984;
Parker & Endler, 1996; Parkinson, Totterdell, Briner, & Reynolds, 1996). Como
esses processos são responsaveis por influenciar os afetos, não há um consenso,
entre os pesquisadores, até onde suas fronteiras se sobrepõem na tentativa de
explicar a experiência afetiva. A título de diferenciação, Gross (2007) enumerou
três tipos de processos subordinados à regulação dos afetos, mas que se
distinguem da regulação das emoções em seus objetivos e funções:
21
1) Coping: Se distingue da regulação emocional, tanto por seu foco
predominante em reduzir os afetos negativos e por sua ênfase em períodos muito
maiores de tempo (por exemplo, lidar com o luto); 2) Regulação do humor:
Geralmente de maior duração, o humor é menos propenso a envolver uma relação
com um objeto especifico, como nas emoções; 3) Defesas psicológicas: como o
coping, as defesas normalmente têm como foco a regulação de impulsos
agressivos ou sexuais e estão associadas à experiência emocional negativa
(particularmente, à ansiedade). Defesas são inconscientes e automáticas e são
compreendidas mediante diferentes respostas da pessoa à ansiedade. Portanto, a
regulação emocional se diferencia dos demais por ser um processo direcionado
principalmente às emoções, e parte de um conjunto de processos de regulação
afetiva (Figura 1).
Regulação Afetiva
Regulação Emocional
Coping
Regulação do Humor
Defesas Psicológicas
Figura 1. Regulação emocional e processos relacionados à regulação dos afetos.
Fonte: Baseada em Gross (2007).
Cramer (2000); Freud (1926/1959)
Lazarus (1966); Lazarus & Folkman,
(1984); Parker & Endler
(1996)
Larsen (2000); Parkinson et al, (1996)
Campos & Barrett (1989); Gross (1998); Izard (1990); Thompson (1991)
22
A partir dessa distinção, Gross (2007) indicou três características
particulares da regulação emocional, como um processo psicológico de regulação
afetiva: 1) A possibilidade de que as pessoas podem regular as emoções, negativas
ou positivas, seja diminuindo, aumentando ou mantendo sua ocorrência; 2)
Mesmo sendo considerado um processo eminentemente consciente, também
ocorre sem consciência e de forma automática; 3) Não se pode fazer suposição
quanto à possibilidade de qualquer forma particular de regulação emocional ser
necessariamente boa ou ruim para a pessoa. A fim de explorar tais argumentos,
existem pesquisas que buscaram evidências sobre o funcionamento automático
(e.g, Mauss et al., 2007) e em correlatos neurobiológicos da regulação (e.g,
Ochsner et al., 2004). Porém, a maior parte dos estudos sobre o tema preocupa-se
em investigar como o processo ocorre de forma consciente e deliberada (e.g,
Gyurak et al., 2011).
Atos de regulação consciente requerem que a pessoa identifique os estados
afetivos desejáveis para ela, e que em seguida, se engaje em algum tipo de ação,
pensamento ou comportamento para lidar com a experiência emocional
momentânea (Carver, 2004; Cervone, Mor, Orom, Shadel, & Scott, 2004). As
pesquisas sobre regulação consciente em geral são realizadas mediante técnicas de
levantamento, inventários, questionários ou de autorrelato (Koole, 2009). A coleta
de dados visa a identificação de estratégias de regulação emocional que as pessoas
utilizam com maior ou menor frequência, diante da situação em que estão
envolvidas (Gross & John, 2003).
Diferentemente, Campos, Walle, Dahl e Main (2011) e Barbalet (2011)
exploraram o papel interpessoal da regulação emocional. Esses estudos
23
interpretaram a regulação das emoções como um processo relacional, construido
no ambiente social das pessoas. Kappas (2011) argumentou que embora a emoção
ocorra internamente nas pessoas, ela pode ser influenciada no ambiente social pela
presença dos demais. Nessa visão, as emoções de uma pessoa podem influenciar
as emoções de outras; e consequentemente, essas outras pessoas funcionam como
meios de regulação da emoção.
A partir destes pontos de vista, o processo não reside apenas internamente
no individuo, mas sim, via interações sociais. Uma série de estudos demonstraram
os efeitos intrapessoais relacionados à adaptação e à saúde mental (Gross &
Levenson, 1997; Niven, Totterdell, Stride, & Holman, 2011; Richards & Gross,
2000). A regulação emocional interpessoal foi encontrada, por exemplo, associada
a comportamentos pró-sociais (Eisenberg, 2000) e competência social (Eisenberg,
Fabes, Guthrie, Murphy, & Maszk, 1996). Para Keltner, Ekman, Gonzaga e Beer
(2003) essa característica se justifica, na medida que as próprias emoções servem
como motivadores de comportamento e têm importantes funções sociais, tais
como informar as outras pessoas os próprios estados internos e intenções, evocar
respostas nos outros, e ainda, fornecer estímulos para o comportamento de outras
pessoas.
1.2 Funções da regulação emocional
Diversos estudos mostraram que as pessoas, ao regularem suas emoções
buscam principalmente, o alcance de metas, realização de objetivos pessoais
(Izard et al., 2011; Sallquist et al., 2009), ou otimizar os seus níveis de bem-estar
24
(Gross & John, 2006; Larsen, 2009). Dependendo da forma como a experiência
emocional é manejada, a regulação emocional pode aproximar as pessoas de seus
objetivos e de suas metas pessoais, seja melhorando o desempenho em uma
situação especifica, ou fazendo-a se sentir melhor (Koole, 2009).
A abordagem instrumental de regulação emocional (Izard et al., 2011;
Thompson, 2011) por exemplo, sugere que cada emoção tem uma função
especifica, isto é, um valor instrumental, que serve de motivação para um
conjunto de respostas direcionadas para um determinado fim. Esta visão envolve
situações em que uma pessoa procura experimentar emoções, cujas funções são
mais aplicáveis ao contexto. Por exemplo, na medida em que a função da raiva
(emoção negativa) é defender recursos pessoais (Frijda, 1986; Tiedens, 2001), as
pessoas podem regular esta emoção aumentando ou mantendo a sua intensidade,
quando o objetivo é defendê-los. Ao tentar regular outra emoção nesta mesma
situação, como a alegria (emoção positiva), por exemplo, esta pode não ser
adaptável ao contexto em particular, prejudicando assim seus objetivos.
Evidências recentes neste sentido indicaram que as pessoas podem querer
influenciar seu comportamento pelas emoções negativas ou positivas, para
alcançar suas metas pessoais. O estudo de Tamir e Ford (2011) apontou que em
algumas situações, como em um contexto de negociação, por exemplo, as pessoas
preferem experimentar emoções negativas como a raiva ou ansiendade, antes de
se submeterem a um cenário em que são impelidas a não ceder à proposta de um
outro negociador. Esses achados demonstram que preferências de regulação
emocional têm implicações práticas importantes, a depender do contexto em que
as pessoas estão envolvidas.
25
Argumentando sobre esse ponto, Aldao (2013) afirmou que o objetivo da
regulação emocional muitas vezes, não é eliminar emoções aparentemente vistas
como "desadaptativas", como a raiva e substituí-las por outras "adaptativas",
como alegria ou felicidade, mas sim, de influenciar a dinâmica de cada emoção, a
fim de produzir respostas adaptativas ao contexto. Por exemplo, se uma pessoa
está extremamente ansiosa sobre fazer uma apresentação no trabalho, tal
intensidade emocional pode resultar em uma resposta de luta ou fuga e interferir
na capacidade da pessoa para ficar em frente ao público. Por outro lado, se essa
pessoa não está enfrentando qualquer ansiedade, ela pode ter dificuldades em
permanecer na tarefa e envolver o público em sua apresentação.
Portanto, no caso em tese, há uma quantidade experimentada de ansiedade
(emoção negativa) que está ativada o suficiente, para influenciar a pessoa em
direção ao objetivo, mas não tão intensa, a ponto de levá-la ao bloqueio ou fuga.
Para a autora, o objetivo do processo de regulação emocional é alcançar ótimos
níveis de dinâmica emocional, a fim de que as emoções possam facilitar a forma
de responder às demandas contextuais.
Além dos benefícios instrumentais das emoções, a regulação emocional
também se propõe a esclarecer o funcionamento adaptativo ou ótimo, almejado
pela Psicologia Positiva (Seligman & Csikszentmihalyi, 2000). Para essa
perspectiva, as emoções são estados de prazer ou de desprazer e o seu processo
regulatório assume uma finalidade hedônica, com a função de aumentar a
experiência de emoções positivas, e de reduzir emoções negativas para atingir
bons níveis de bem-estar. Quando as pessoas focam em se sentir bem, as emoções
servem como estados finais ou como uma meta a ser alcançada. Os resultados de
26
pesquisas neste sentido mostram que o bem-estar é influenciado pela presença de
emoções agradáveis e de distanciamento de emoções desagradáveis (Larsen,
2009; Seligman, Steen, Park, & Peterson, 2005).
Baseado nesta orientação teórica, as emoções positivas surgem como um
tópico importante de investigação por várias razões. Conforme afirmou
Fredrickson (2003), as emoções positivas ajudam a vislumbrar objetivos e
desafios, resolução de problemas e proteger a saúde fisica e mental. As emoções
positivas estão associadas com melhor funcionamento psicológico, incluindo
níveis mais elevados de bem-estar e menores níveis de problemas relacionados à
saúde mental (Lyubomirsky et al., 2005). Mauss et al. (2011) argumentaram que
as emoções positivas devem ser estimuladas, não apenas como estados finais, mas
também como um meio para alcançar o crescimento psicológico e melhoria do
bem-estar.
Baseado nesses argumentos pode-se inferir que mesmo existindo distinção
teórica e empírica entre as principais funções da regulação emocional, a revisão
sobre o tema não torna essas abordagens como perspectivas concorrentes, mas sim
complementares. A Figura 2 procura apresentá-las de forma resumida, enfatizando
as metas e objetivos pessoais, como a finalidade em comum do processo de
regulação emocional. A próxima seção visa agrupar essas funções à luz das
diferenças individuais de regulação, apresentando duas estratégias básicas
utilizadas pra alcançar tais objetivos e metas pessoais.
27
1.3 Diferenças individuais em regulação emocional
Atualmente, o estudo da regulação emocional se interessa em investigar as
diferentes reações que as pessoas têm ao se depararem com situações em que
emoções positivas ou negativas estão presentes. Ao longo da revisão da literatura
pode-se identificar que muitos teóricos do estudo das emoções identificaram que
as pessoas apresentam diferentes modos de regulação emocional. As evidências
empíricas demonstraram que as pessoas ao longo de suas vidas desenvolvem
diferentes tipos de estratégias regulatórias, a partir de reações funcionais ou
disfuncionais diante das emoções.
A maior parte desses estudos sobre diferenças individuais se refere a como
as pessoas diminuem a frequência de emoções negativas e como essas diferenças
pessoais têm relação com uma vida saudável. Embora a regulação emocional na
vida das pessoas envolva predominantemente a regulação de emoções negativas,
Figura 2. Principais funções da regulação emocional.
Fonte: Elaborada pelo autor.
28
buscando reduzir o efeito de emoções como raiva, tristeza e ansiedade, a maioria
das pessoas também tenta regular suas emoções positivas procurando aumentá-las
(Gross et al., 2006).
O modelo de Nelis, Quoidbach, Hansenne e Mikolajczak (2011)
apresentou dois modos básicos de regulação emocional - up regulation e down
regulation - cada um relacionado a uma qualidade de emoção vivenciada. Nessa
perspectiva, ao manejar os efeitos das emoções positivas (up regulation), as
pessoas buscam prolongar os efeitos de um evento positivo, maximizando sua
experiência de prazer e de bem-estar. Existem situações, mo entanto, em que
emoções negativas podem ser prejudiciais - e reduzir os efeitos indesejáveis
dessas emoções (down regulation) - torna-se a finalidade principal para manter e
preservar bons níveis de bem-estar.
A capacidade de manter as emoções positivas (up regulation) é de
particular relevância para a adaptação e saúde mental (Tugade & Fredrickson,
2007). As emoções positivas fortalecem a atenção e a cognição, aumentando
assim os recursos pessoais e o bem-estar (Fredrickson, 2001; Fredrickson &
Losana, 2005). Alguns achados demonstram que a capacidade de regular
adequadamente as emoções positivas é de grande importância para a manter
relações sociais (Lopes, Salovey, Côté, & Beers, 2005) e melhorar o desempenho
no trabalho (Quoidbach & Hansenne, 2009).
29
Assim, o modelo de Nelis et al, (2011) procura analisar, sinteticamente, a
influência das emoções mediante dois modos de regulação emocional (up e down
regulation), que se diferenciam de acordo com o tipo de experiência emocional
envolvida na situação. A próxima seção visa apresentar resultados desses dois
modos, a partir de diferentes situações de trabalho.
1.4 Regulação emocional em contextos de trabalho
No dia a dia é comum que as pessoas em contextos de trabalho, se
envolvam em situações em que as emoções estão presentes, como uma discussão
entre colegas de trabalho, ou até mesmo expressando alegria ao receberem uma
avaliação de desempenho favorável. Com frequência, essas situações podem
provocar um leque de emoções - umas mais adaptativas à situação do que outras –
e certamente, as pessoas irão utilizar alguma forma de regulação emocional para
mantê-las ou alterá-las, com o intuito de alcançar as suas metas pessoais. No
universo das organizações de trabalho - tanto em setores do Governo, como em
empresas e indústrias de diversos ramos da economia - é comum a influência de
regras formais e normas relativas à expressão emocional de trabalhadores, para a
realização de metas e sucesso nos negócios.
A adesão a esse tipo de norma e a comportamentos emocionalmente
aceitos por parte dos trabalhadores, faz com que eles tenham de demonstrar
expressões emocionais de acordo com o contexto. Essa postura pode dificultar ou
facilitar seus objetivos na organização, quando por exemplo, expressam uma
emoção positiva, demostrando simpatia ou cortesia aos colegas de trabalho e
30
clientes, ou quando lidam com emoções negativas, como a expressão de
insatisfação do superior hierárquico.
Caracterizada como um processo afetivo nas organizações, ao lado da
inteligência emocional, trabalho emocional e do contágio emocional, a regulação
emocional é um importante preditor de atitudes e comportamentos nos contextos
organizacionais (Barsarde & Gibson, 2007; Bonfim & Gondim, 2010; Gondim,
2011). Como observaram Gross e Thompson (2007), as pessoas não testemunham
passivamente suas reações emocionais aos eventos que ocorrem, incluindo
eventos afetivos no trabalho, mas estão constantemente tentando influenciar o que
sentem, expressam e a duração dessas emoções.
Muitos trabalhadores precisam fazer algum tipo de esforço para esconder
ou demonstrar uma reação emocional durante suas interações sociais. Tais regras
de exibição são costumeiramente utilizadas como um mecanismo para aumentar o
desempenho. Por exemplo, no setor de serviços, vendedores procuram demonstrar
entusiasmo ao oferecer algum serviço, com intuito de ganhar a atenção do cliente,
garantindo suas vendas (Pugh, 2001); negociadores buscam suprimir suas
expressões de felicidade para angariar um valor maior (Thompson, Nadler, &
Kim, 1999).
Porém, o estudo da regulação emocional nas organizações vai mais além
da compreensão da exibição pública de regras de expressão, quando incluímos a
possibilidade de que o trabalhador pode modificar o fluxo das emoções mediante
o uso de estratégias. A pesquisa com foco em regulação emocional procura
examinar as estratégias que são utilizadas para influenciar a expressão e a
31
experiência emocional de acordo com as metas e interesses pessoais de cada um,
independente da obediência a um regramento formal ditado pelas organizações.
Os achados de Wong, Tschan, Mersseli e Semmer (2013), por exemplo,
indicaram que trabalhadores que expressam e regulam emoções positivas com
eficácia, tem maiores chances de manter relações assertivas ao lidar com seus
superiores. Para os pesquisadores, a regulação emocional de emoções positivas
(up regulation) é sem dúvida importante, principalmente para trabalhadores que
ocupam posições de menor hierarquia, uma vez que precisam criar uma impressão
positiva em membros da organização que ocupam cargos mais altos. Porém, Liu e
Perrewe (2005) argumentaram que a exibição de emoções positivas de maneira
exagerada, pode acarretar a percepção por parte alheia de que essa postura é
inautêntica, comprometendo os efeitos pretendidos. Nesse caso, para manter
emoções positivas é preciso encontrar certo equilíbrio dentro da situação
vivenciada.
Muitos estudos buscaram compreender a relação entre regulação
emocional e burnout em trabalhadores. Os estudos de Brotheridge e Grandey
(2002) e mais recentemente, Biron e Veldhoven (2012), por exemplo, buscaram
compreender os efeitos da regulação emocional na exaustão em trabalhadores do
setor de serviços. Os resultados sugerem que quanto maior é a regulação
emocional em situações que envolvem emoções negativas (down regulation),
menores serão os níveis de esgotamento diário associados a demandas vivenciadas
por parte dos trabalhadores.
32
Jiang, Zhang e Tjosvold (2013), em estudo realizado com equipes de
trabalho mostraram que tanto em nível indivídual, como no nível de equipe, a
capacidade em regular as emoções afeta a forma como trabalhadores realizam a
tarefa e solucionam conflitos de relacionamento. Os resultados deste estudo
demostraram que os trabalhadores que regulam melhor as emoções negativas
podem tirar proveito do conflito de tarefa para executá-la de forma eficaz e limitar
o impacto negativo do conflito de relacionamento. Os resultados também sugerem
que as estratégias de regulação emocional positiva (up regulation) podem
contribuir para a gestão eficaz de conflito de tarefa e conflito de relacionamento,
tanto a nível individual como em grupal.
No Brasil, Gondim e Borges-Andrade (2009), analisaram o uso de
regulação emocional negativa (down regulation) em trabalhadores de uma
empresa aérea brasileira após acidente fatal. Os resultados mostraram que mesmo
diante de diversificadas demandas de exigência emocional no contato com
clientes, o grupo de aeroviários buscou reduzir o efeito de demandas emocionais
negativas. Ao optar por esse tipo de regulação, o grupo apresentou relato de
menor impacto negativo na sua percepção de bem-estar, maior lealdade
organizacional e investimento nas mudanças de seus estados emocionais internos
frente a emoções negativas.
Rodrigues, Bastos e Gondim (2013) estudaram as relações entre os
padrões de vínculos do indivíduo com a organização, manifestações emocionais e
o uso de estratégias de regulação emocional para lidar com as situações de
trabalho. Os resultados deste estudo indicaram que a maioria dos trabalhadores
apresentou níveis altos de comprometimento e a utilização de estratégias de
33
regulação emocional negativa (down regulation) diante de emoções como a raiva
e o medo.
A partir desses resultados, evidencia-se a importância do processo para
desenvolvimento de capacidades, de adaptação ao contexto pessoal, resolução de
problemas e principalmente, para o bem-estar das pessoas. A próxima seção
procura explicar duas das principais abordagens de bem-estar: subjetivo e
psicológico.
1.5 Bem-estar subjetivo e psicológico
Experimentar o bem-estar é fundamental para o funcionamento
psicológico adaptativo. O bem-estar como construto empírico apresenta uma
multiplicidade de significados. A definição de bem-estar pode se referir tanto ao
modo como as pessoas avaliam a vida, incluindo os seus aspectos significativos,
quanto a felicidade alcançada pelo preenchimento de objetivos, desejos e
necessidades importantes (Averill & More, 1993).
A Psicologia Positiva tem procurado investigar o bem-estar salientando
duas abordagens distintas: a perspectiva hedônica e a perspectiva eudaimônica
(Mauss, Tamir, Anderson, & Savino, 2011; McMahan & Estes, 2011a; Ryan &
Deci, 2001). Associado ao conceito de hedonia surge na década de 1970, o
conceito de bem-estar subjetivo, que engloba uma dimensão cognitiva, a
satisfação com a vida e uma dimensão emocional, constituída pelo balanço entre
os níveis de afeto positivo e os níveis afeto negativo (Diener, Oishi, & Lucas
2003).
34
Bem-estar subjetivo constitui um campo de estudos que procura
compreender as avaliações que as pessoas fazem de suas vidas. Esse campo
apresentou um crescimento acelerado nos últimos anos, revelando como seus
principais tópicos de pesquisa, a satisfação com a vida e a felicidade. Tais
avaliações são cognitivas e incluem também, uma análise pessoal sobre a
frequência com que as pessoas experimentam emoções positivas e negativas. Para
que seja relatado um nível de bem-estar adequado é necessário que o indivíduo
reconheça manter parâmetros elevados de satisfação com a vida, alta frequência
de experiências emocionais positivas e baixas frequências de experiências
emocionais negativas (Siqueira & Padovan, 2008).
A dimensão emocional do conceito inclui um balanço entre duas
dimensões emocionais: afetos positivos e afetos negativos. Estas dimensões
guardam forte relação com a visão hedônica de felicidade na medida em que elas
enfatizam os aspectos relacionados a emoções positivas e negativas. Para Keyes,
Shmotkin e Ryff (2002), ao se analisar a influência de afetos positivos e
negativos, não se deve identificar a presença contínua de sensações positivas em
toda a vida da pessoa, mas, sim, detectar se, em sua grande maioria, que as
experiências vividas foram permeadas por mais emoções prazerosas do que por
sofrimentos.
Albuquerque e Tróccoli (2004) definiram afeto positivo como um
contentamento hedônico experimentado em um determinado momento, como um
estado emocional de entusiasmo e de intensa atividade. Diferentemente, o afeto
negativo refere-se a um estado de distração e engajamento de desprazer que
também é transitório, mas que inclui emoções desagradáveis como ansiedade,
35
depressão, agitação, aborrecimento, pessimismo e outros sintomas psicológicos
aflitivos e angustiantes. Finalmente, a dimensão satisfação com a vida é um
julgamento cognitivo de algum domínio específico na vida da pessoa, um
processo de juízo e avaliação geral da própria vida uma avaliação sobre a vida de
acordo com um critério próprio. O julgamento da satisfação depende de uma
comparação entre as circunstâncias de vida do indivíduo e um padrão por ele
escolhido (Diener, Suh, Lucas, & Smith, 1999).
Destarte, a discussão sobre a estrutura fatorial do bem-estar subjetivo ao
longo dos anos é tema de diversas pesquisas, principalmente com relação a
estrutura da dimensão afetiva. Alguns autores têm considerado as medidas de
afeto como traços de personalidade (Diener, 1984; Larsen 2009). Outros estudos
consideram os afetos como um traço geral, como por exemplo, a escala de
Watson, Clark e Tellegen (1988) denominada Escala de Afeto Positivo e Afeto
Negativo – PANAS. Porém, estudos um pouco mais recentes (Albuquerque &
Troccóli, 2004; McMahan, Dixon, & King, 2013) indicaram que a estrutura
fatorial da dimensão dos afetos positivos e negativos do bem-estar subjetivo tem
aparecido consistentemente como duas dimensões dominantes e relativamente
independentes. Os resultados das análises fatoriais destes estudos mostram que os
componentes afetos positivos e afetos negativos são distintos, mas negativamente
correlacionados.
Apesar de diferentes focos serem utilizados para a compreensão do
fenômeno, é quase consensual entre os estudiosos do tema, que um bem-estar
subjetivo elevado inclui muitas experiências emocionais positivas, baixas
experiências emocionais negativas (como depressão ou ansiedade) e relativa
36
satisfação com vários aspectos da vida (Galinha & Ribeiro, 2005; Passareli &
Silva, 2007). É mister salientar, que naturalmente, fatores ligados à satisfação,
como o humor das pessoas, suas emoções e julgamentos autoavaliativos, mudam
com a passagem do tempo, caracterizando a satisfação com a vida como um
construto não só multidimensional, mas também dinâmico.
Em contraste aos argumentos anteriores, o conceito de eudaimonia, como
estado de bem-estar envolve os sentimentos que ocorrem quando a pessoa se
move em direção à autorrealização, para que possa desenvolver as suas
potencialidades e conferir propósito à sua vida (Delle Fave, Wissing, Brdar,
Vella-Broderick, & Freire, 2013; Waterman, Schwartz, & Conti, 2008). Ancorado
nesta perspectiva surge nos anos 1980, o conceito de bem-estar psicológico. Em
termos gerais, este conceito reporta-se ao desenvolvimento humano na superação
dos desafios existenciais de vida, contemplando várias dimensões do
funcionamento psicológico (Keyes, Shmotkin, & Ryff, 2002). O bem-estar
Figura 3. Dimensões afetiva e cognitiva do bem-estar subjetivo.
Fonte: Elaborada pelo autor.
Satisfação com a vida =
Afetos negativos
Afetos Positivos
Bem-estar subjetivo
37
psicológico é um construto baseado em teorias psicológicas, agregando
conhecimentos de áreas como psicologia do desenvolvimento humano, psicologia
humanista-existencial e saúde mental, com foco no funcionamento psicológico
positivo ou ótimo (Ryff & Singer 2008).
Diferentemente da visão hedônica de bem-estar subjetivo, o conceito de
bem-estar psicológico é mais do que a realização de felicidade ou um equilíbrio
adequado de afeto positivo e negativo e satisfaçãogeral com a vida. Em vez disso,
o bem-estar psicológico se desenvolve a partir de uma busca da perfeição e da
realização de um verdadeiro potencial (Ryff, 1995). O bem-estar psicológico não
é diretamente relacionado à "felicidade", e segundo Ryff (1999), ele seria o
subproduto de uma vida que é bem vivida. Ryff e Singer (2008) apresentaram um
modelo estrutural acerca do funcionamento psicológico positivo. Esse modelo
apoia-se em diversas teorias clássicas existentes em psicologia, ressaltando-se,
entre outras, as que tratam particularmente dos fenômenos da individuação (Jung,
1933), autorrealização (Maslow, 1968), maturidade (Allport, 1961) e
funcionamento integral da pessoa (Rogers, 1961).
Para compor o modelo estrutural dessa perspectiva, Ryff (1989) utilizou
teorias sobre o desenvolvimento humano (Erickson, 1959; Neugarten, 1973),
incluindo-se o uso das formulações sobre estágios de desenvolvimento, e as
descrições de mudanças de personalidade nas fases adulta e de velhice. Ao lado de
todas essas vertentes, também foram utilizadas as proposições relativas à saúde
mental (Jahoda,1958), para justificar o conceito de bem-estar como ausência de
doença e fortalecer o significado de saúde psicológica (Tabela 1).
38
Fonte: Baseada em Ryff & Singer (2008).
Tomando como referência todas essas concepções teóricas do
funcionamento psicológico positivo, Ryff (1989) elaborou uma proposta
integradora, ao formular um modelo multidimensional de seis componentes de
bem-estar psicológico, reorganizado e reformulado posteriormente por Ryff e
Keyes (1995), cujas definições são apresentadas a seguir:
a) Autoaceitação: definida como atitudes positivas sobre si mesmo, é
também considerada uma característica que revela elevado nível de
autoconhecimento, ótimo funcionamento e maturidade.
Tabela 1. As bases teóricas e dimensões do bem-estar psicológico
Autores Conceitos Chave Dimensões
Allport
Maturidade
Autoaceitação
Neugarten Mudanças na personalidade no ciclo vital Propósito na vida
Buhler Tendências básicas da vida Domínio sobre o ambiente
Erikson Estágios psicossociais Relações positivas com outros
Frankl Sentido na vida Crescimento pessoal
Jahoda Saúde mental Autonomia
Jung Individuação
Maslow Autorrealização
Rogers Pessoa em funcionamento pleno
39
b) Relacionamento positivo com outras pessoas: descrito como fortes
sentimentos de empatia e afeição por todos os seres humanos, capacidade de amar
fortemente, manter amizade e identificação com o outro;
c) Autonomia: é evidenciada pelo lócus interno de avaliação e o uso de
padrões internos de autoavaliação, resistência à aculturação e independência
acerca de aprovações externas;
d) Domínio do ambiente: capacidade de o indivíduo escolher ou criar
ambientes adequados às suas características psíquicas, participar ativamente em
seu meio, além de manipular e controlar ambientes complexos;
e) Propósito de vida: manutenção de objetivos, intenções e de senso de
direção perante a vida, mantendo a crença de que a vida tem um significado; e
f) Crescimento pessoal: necessidade de constante crescimento e
aprimoramento pessoais; abertura a novas experiências, para vencer desafios que
se apresentam em diferentes fases da vida.
Uma revisão realizada por Machado e Bandeira (2012), indicou que desde
a publicação original de Ryff (1989), diversos estudos investigaram a relação do
bem-estar psicológico com processos desenvolvimentais adaptativos e construtos
que refletem dimensões positivas da saúde mental (Ryff & Singer, 2008). O bem-
estar psicológico associou-se positivamente com autoestima e moral (Ryff, 1989),
satisfação com a vida e afetos positivos (Ryff, 1989), coping (Holland & Holahan,
2003), habilidades sociais (Segrin & Taylor, 2007), inteligência emocional
(Queroz & Neri, 2005), resiliência (Ryff, Keyes, & Hughes, 2003) e metas
intrínsecas de crescimento (Bauer & McAdams, 2004b).
40
Dessa maneira, é possível concluir que o bem-estar psicológico é um
construto desenvolvido em teorias psicológicas que se baseiam em estados
positivos. Apresenta seis dimensões indicativas de um funcionamento positivo,
contrastando com o bem-estar subjetivo, que se refere a uma avaliação mais geral
da vida e que inclui o equilíbrio entre os afetos positivos e negativos.
41
Capítulo II - DELINEAMENTO DO OBJETO DE ESTUDO
2.1 Problema de pesquisa
A partir dos argumentos apresentados no capítulo anterior, duas questões
orientam este estudo: Os modos de regulação emocional predizem as dimensões
de bem-estar subjetivo e psicológico? A autonomia e o domínio do ambiente
seriam mediadores na relação entre os modos de regulação emocional e dimensões
de bem-estar subjetivo?
2.2 Objetivo geral
Testar o efeito mediador de dimensões de bem-estar psicológico na relação
entre regulação emocional e bem-estar subjetivo.
2.3 Objetivos específicos
1) Identificar quais dos modos de regulação emocional é mais influente na
explicação das dimensões de bem-estar;
2) Analisar o efeito mediador da autonomia e do domínio do ambiente na
relação entre a regulação emocional e dimensões de bem-estar subjetivo;
3) Identificar se o modelo de mediação via autonomia e domínio do
ambiente na relação entre os modos de regulação emocional e dimensões de bem-
estar, se ajusta melhor aos dados que o modelo de predição.
42
2.4 Hipóteses
Pesquisas anteriores já haviam mostrado que as pessoas que regulam suas
emoções tendem a ter níveis mais elevados de bem-estar (Gross & Jonh, 2006;
Nelis et al. 2011; Nyklíček, Denollet, & Vingerhoets, 2011; Tamir, Mitchell, &
Gross, 2008). A partir dessas suposições acredita-se que as estratégias de
regulação emocional são capazes de pontencializar o bem-estar das pessoas.
Observa-se também, que a literatura sobre regulação emocional tem seu foco
dirigido predominantemente para reduzir o efeito de emoções negativas quando
ativada (down regulation). Dessa forma, pesquisas sobre a influência da
regulação de emoções positivas torna-se imperativo, para uma melhor
compreensão do bem-estar subjetivo.
Pela revisão da literatura, também pode-se identificar que são escassos os
estudos que visam explorar a importância das dimensões de bem-estar subjetivo.
A estrutura fatorial é pouco explorada, e as investigações no campo comumente
são direcionadas a esclarecer sua influência como um fator geral. O estudo de
Quoidbach et al. (2010) examinou o impacto de estratégias de regulação
emocional positivas em dois componentes do bem-estar subjetivo: afetos positivos
e satisfação com a vida. Os resultados mostram que quando as pessoas mantêm as
emoções positivas, seus níveis de afetos positivos e de satisfação com a vida
aumentam proporcionalmente. Os resultados desse estudo também sugerem que,
quando essas estratégias não são utilizadas, a experiência de estados negativos
tende a ser mais frequente, isto é, há maior probabilidade de que os níveis entre as
dimensões de bem-estar subjetivo diminuam.
43
Com base nesses argumentos foram formuladas as seguintes hipóteses:
H1) Up regulation e down regulation relacionam-se positivamente com
afetos positivos, satisfação com a vida, autonomia e domínio do ambiente.
H2) Up regulation e down regulation relacionam-se negativamente com
afetos negativos.
H3) Up regulation e down regulation são preditores das dimensões de
bem-estar subjetivo (afeto positivo, afeto negativo e satisfação com a vida) e de
autonomia e domínio do ambiente.
Uma outra questão a ser explorada neste estudo refere-se a variáveis que
podem influenciar a relação entre regulação emocional e bem-estar subjetivo.
Estudiosos da área relataram, que muitas pesquisas sobre o bem-estar dão pouca
atenção ao efeito de outras variáveis que podem influenciar suas dimensões.
Evidências empíricas têm demonstrado que os modelos teóricos que investigam as
concepções de bem-estar têm-se tornado mais complexos, à medida que as
pesquisas avançam em busca das variáveis que antecedem e contribuem para
explicar o bem-estar (Warr, 2007). Mendonça, Ferreira, Porto e Zanini (2012)
assinalaram que a compreensão cada vez mais aprofundada dos fenômenos
ligados ao bem-estar, deve passar por análises empíricas que envolvam modelos
estatísticos complexos, que sejam capazes de elucidar como variáveis
antecedentes, moderadoras e/ou mediadoras se inter-relacionam e que de alguma
maneira, influenciam o bem-estar.
44
Como dito, estudos recentes apoiam a ideia de que, entre a estrutura
fatorial do bem-estar psicológico e subjetivo, existem dimensões que se
influenciam. No entanto, há uma carência de estudos que visam explorar essas
relações. Os estudos de Burns e Machin (2010), por exemplo, buscaram
identificar os efeitos do bem-estar psicológico no bem-estar subjetivo. O estudo
concluiu que o bem-estar psicológico torna-se um fator importante na previsão do
bem-estar subjetivo. Segundo os autores, a importância do bem-estar psicológico
está em fornecer uma direção incluindo mudança de atitude mais duradoura,
diminuindo a reatividade emocional para causas externas à pessoa, e que afetam o
bem-estar subjetivo.
McMahan e Renken (2011) realizaram um estudo onde buscaram
associações e mediações entre o bem-estar psicológico, percepções de significado
da vida e bem-estar subjetivo. Os resultados indicaram que as dimensões de bem-
estar psicológico foram associadas positivamente, tanto nas percepções de
significado na vida, quanto no bem-estar subjetivo. As conclusões do estudo
sugerem que a experiência de sentido na vida (eudaimônica) seria um caminho
pelo qual as dimensões do bem-estar psicológico estão associadas a altos níveis de
bem-estar subjetivo. Com isso, espera-se que autonomia, por evidenciar o lócus
interno de avaliação, e o domínio do ambiente, por representar uma capacidade do
indivíduo escolher ou criar ambientes adequados às suas características pessoais,
amplie os efeitos da regulação emocional nas dimensões de bem-estar subjetivo.
A partir desses argumentos propõe-se que,
H4) A relação entre modos de regulação emocional e dimensões de bem-
estar subjetivo é mediada por autonomia e domínio do ambiente.
45
2.5 Modelo Hipotetizado
Para facilitar a visualização do relacionamento das variáveis, foi
desenvolvido um modelo que sintetiza o plano de investigação construído para os
testes das hipóteses do estudo (Figura 4).
Figura 4. Modelo hipotetizado do estudo.
46
Capítulo III – MÉTODO
3.1 Caracterização do estudo
Trata-se de um estudo correlacional de corte transversal, que busca
analisar as relações entre modos de regulação emocional e dimensões de bem-
estar subjetivo, a partir de dois modelos: um de predição e outro de mediação, que
envolve os efeitos indiretos da autonomia e do domínio do ambiente.
3.2 Participantes
Os dados da pesquisa foram extraídos de uma amostra com 231
trabalhadores da região Metropolitana de Salvador/BA. Com relação às
características pessoais, houve uma maior participação de mulheres (N=132;
57,1%) e de solteiros (N=137; 59,3%). A faixa etária média foi de 32,1 anos (DP=
8,54 e amplitude de 18 a 64 anos) e 139 trabalhadores (64,5%) possuem nível
superior completo. A descrição completa encontra-se na Tabela 2.
47
Fonte: Dados da pesquisa.
3.3 Instrumentos
Para composição da medida do estudo (Apêndice A), foram utilizados
instrumentos desenvolvidos e validados em estudos anteriores, e mais um
questionário para caracterizar a amostra, todos descritos a seguir:
Perfil de regulação emocional – versão reduzida
Adaptada para o português por Gondim et al., (2014), o Perfil de regulação
emocional é uma medida composta por seis cenários, três descrevendo situações
Tabela 2. Caracterização da amostra (N=231)
Descrição Frequência Porcentagem
Sexo
Masculino 99 42,9
Feminino 132 57,1
Estado Civil
Solteiro 137 59,3
Casado 53 22,9
Separado 22 9,5
Viúvo 3 1,3
União estável 16 6,9
Idade (anos)
18 a 20 8 3,5
21 a 30 120 51,9
31 a 40 67 29
41 a 50 26 11,3
Acima de 51 10 4,3
Média 32,1 -
Desvio-padrão 8,54 -
Nível educacional
Médio completo 24 10,4
Superior incompleto 46 19,9
Superior completo 65 28,1
Pós-graduação 84 36,4
Outro 12 5,2
48
em que se prevê que sejam ativadas emoções negativas e três nos quais se espera
que os participantes ativem emoções positivas. As emoções negativas que se
espera ativar nas três situações são: raiva, tristeza e medo. As emoções positivas
envolvidas nas três situações positivas são: excitação, alegria e gratidão. Após a
descrição de cada situação são apresentadas aos respondentes oito reações
(ex:“Você pula de alegria e expressa o seu entusiasmo”) para lidar com a emoção
desencadeada, onde os participantes podem indicar tantos comportamentos que
julgarem necessários para representarem a complexidade de sua reação. Para cada
reação positiva escolhida é atribuído o valor 1,00; e para cada reação negativa o
valor 1,00. O escore final representa o modo de regulação emocional ao lidar
com as situações. As cargas fatoriais variam de 0,73 a 0,78, para cinco situações,
três que envolvem emoções positivas e duas que envolvem emoções negativas.
Uma situação que envolve emoções negativas foi excluída, por apresentar carga
fatorial abaixo de 0,25. O valor de alfa de Cronbach das situações após a análise
fatorial variou de 0,74 a 0,76.
Escala de bem-estar psicológico
Baseada no modelo multidimensional proposto por Ryff (1989), a escala
de bem-estar psicológico (EBEP) foi validada por Machado, Pawlowski e
Bandeira (2013) para o português brasileiro, e desenvolvida para medir o bem-
estar psicológico, por meio de seis componentes considerados importantes para o
funcionamento humano saudável: auto-aceitação, relações positivas com os
outros, crescimento pessoal, propósito na vida, o domínio com ambiente e
autonomia (Keyes et al, 2002; Ryff & Keyes, 1995). No presente estudo, foram
utilizadas duas subescalas – autonomia (com cargas fatoriais variando de 0,75 a
49
0,78) e domínio do ambiente (com cargas fatoriais variando de 0,72 a 0,78),
totalizando 12 itens. Os itens foram respondidos em uma escala tipo Likert de seis
pontos, cujos extremos são (1) “discordo totalmente” a (6) “concordo
totalmente”. Os exemplos de itens são: “As pessoas dificilmente me convencem a
fazer coisas que eu não queira” (Autonomia); “Eu sou muito bom em gerenciar as
diversas responsabilidades da minha vida diária” (Domínio do ambiente). Os
coeficientes alfa de Cronbach foram de 0,74 para autonomia e 0,77 para domínio
do ambiente.
Escala de bem-estar subjetivo
Validada por Albuquerque e Tróccoli (2004) para o português brasileiro, a
EBES possui um total de 62 itens distribuidos em três dimensões distintas: 21
itens para afetos positivos (ex: “agradável”, α = 0,95); 23 itens para afetos
negativos (ex: “aflito”, α=0,95) e 15 itens de satisfação com a vida (ex:“Avalio
minha vida de forma positiva”, α =0,90). Os itens foram respondidos em uma
escala tipo Likert de seis pontos, que varia de (1) “discordo totalmente” a (6)
“concordo totalmente”. Para o presente estudo, os coeficientes alfa de Cronbach
foram de 0,84 para afetos positivos; 0,87 para afetos negativos e 0,88 para
satisfação com a vida.
Questionário sociodemográfico
Caracteriza os participantes da amostra com dados sobre sexo, idade,
estado civil e nível educacional.
50
3.4 Procedimentos de coleta de dados
Os dados foram coletados de duas formas: 1) Mediante questionário on-
line, em que se fez uso do aplicativo EF Survey e 2) por questionário impresso,
sendo a aplicação acompanhada pelo pesquisador. Esse último procedimento foi
escolhido para facilitar a participação de pessoas sem acesso à internet. Assim,
102 trabalhadores (44,15%) responderam o questionário no formato on-line, e 150
via questionário impresso, porém 129 (55,85%) foram considerados válidos, por
estarem completamente respondidos, totalizando 231 casos válidos. Após o
levantamento dos dados foi realizado um teste t entre as variáveis do estudo, para
comparar as duas formas de coleta de dados. Os resultados desse procedimento
mostraram que não houve diferença significativa entre os métodos de coleta,
indicando homogeneidade nos dados da amostra.
3.5 Considerações éticas
O presente estudo foi submetido à avaliação pelo Conselho Nacional de
Ética em Pesquisa – CONEP em março de 2013, sendo obtida sua aprovação em
agosto de 2013, pelo CEP sob o CAAE nº 16459713.8.0000.5531, - parecer nº
353.000. Os participantes foram informados a respeito dos objetivos do estudo, do
sigilo e confidencialidade das respostas fornecidas e sobre o caráter voluntário de
sua participação. Todos que concordaram em participar do estudo assinaram o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE (Apêndice C), em
conformidade com a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL,
1996) e com a Resolução nº 016/2000 do Conselho Federal de Psicologia.
51
3.6 Procedimentos para análise de dados
Inicialmente foram realizadas as análises estatísticas dos dados utilizando
o SPSS (Statistical Package for Social Science, versão 19). As estatísticas
descritivas utilizadas foram medidas de tendência central (média) e desvio-padrão
(DP). Para descrever o relacionamento entre as variáveis (hipóteses H1 e H2)
foram utilizadas correlações bivariadas (r de Pearson). As hipóteses H3 (modelo
de predição) e H4 (modelo de mediação) foram testadas pela da técnica de
modelagem de equações estruturais (MEE), com o uso do AMOS 19 (Analysis of
Moment Structures; Arbuckle, 2010), software especifico para verificar as
relações de modelos que incluem variáveis latentes. Para este estudo, foi utilizada
a matriz de covariância das variáveis e o método de estimação escolhido foi
Maximum Likelihood (MLE). As análises têm como principal objetivo obter
modelos parcimoniosos sobre as relações entre as variáveis, a partir dos efeitos de
predição e de mediação. A existência de valores atípicos (outliers) multivariados
foi avaliada pela distância quadrada de Mahalanobis (DM²) e os pressupostos de
normalidade das variáveis foram avaliados pelos coeficientes de assimetria (Sk) e
curtose (Ku) (Marôco, 2010).
Para a realização da MEE, os indicadores de ajustamento dos modelos
foram:
Qui-quadrado ( ²), que comprova a probabilidade do modelo se ajustar aos
dados. Um valor do ², estatisticamente significativo indica discrepâncias entre
os dados e o modelo teórico que está sendo testado. É influenciado pelo tamanho
52
da amostra e assume a multinormalidade do conjunto de variáveis (Marôco,
2010);
A Razão ²/gl, considerada uma qualidade de ajuste subjetiva, indica que um
valor entre 2 e 5 pode ser interpretado como indicador da adequação do modelo
teórico para descrever os dados (Byrne, 2001);
O CFI (Comparative Fit Index) é um índice comparativo, adicional, de ajuste
ao modelo, com valores mais próximos de 1 indicando melhor ajuste, com 0,90
sendo a referência para aceitar o modelo;
O Índice de Qualidade do Ajuste (GFI - Goodness-of-Fit Index) é ponderado
em função dos graus de liberdade do modelo, com respeito ao número de
variáveis consideradas. É recomendado que valores do GFI superiores ou
próximos de 0,90 a 0,95 (Hu & Bentler, 1999).
Raiz quadrada média do erro de aproximação (RMSEA - Root Mean Square
Error of Approximation): Recomendam-se valores próximos a 0,06 e 0,08 e com
seu intervalo de confiança de 90% (IC 90%). Interpretam-se valores altos como
indicação de um modelo não ajustado (Hu & Bentler, 1999).
Índice baseado na teoria da informação (AIC – Akaike Information Criterion).
Baseia-se no e penaliza o modelo de acordo com sua complexidade. Não
apresenta valores referenciais para classificar o ajustamento do modelo. Esse
índice é utilizado quando se deseja comparar modelos alternativos que se ajustem
aos dados. O melhor modelo será aquele que apresentar valor menor nesse índice
(Marôco, 2010).
53
3.7 Análises preliminares do modelo hipotezado
Como etapa preliminar aos resultados, o modelo foi testado por meio de
análise fatorial confirmatória (AFC) utilizando o AMOS 19. Para este
procedimento foram especificadas sete variáveis latentes: duas representando a
regulação emocional (up e down regulation); duas representando o bem-estar
psicológico (autonomia e domínio do ambiente) e três representando as dimensões
de bem-estar subjetivo (afetos positivos, afetos negativos e satisfação com a vida).
Cada variável latente possui três indicadores gerados pela combinação de itens, a
partir das recomendações de Coffman e MacCallun (2005).
De acordo com Byrne (2001), para garantir a identificação estatística dos
modelos, em cada variável latente foi fixado o valor 1. Os resultados mostram que
os índices de qualidade de ajustamento do modelo hipotetizado foram iguais a ²
(131) = 289,957; ps < 0,001; ²/g.l = 2,21; CFI= 0,924; GFI= 0,93 e RMSEA IC
90% = 0,073 (0,061 - 0,084), com cargas fatoriais variando de 0,42 a 0,92.
A fim de garantir a validade do modelo hipotetizado, esses resultados
foram comparados a um modelo fatorial alternativo, em que todos os itens
formavam um fator latente geral em cada dimensão. Os resultados deste modelo
foram iguais a ² (149) = 969,065 ps < 0,001; ²/g.l = 6,05; CFI= 0,72; GFI=
0,62 e RMSEA IC 90% = 0,15 (0,14 - 0,16), considerado um modelo de
ajustamento pobre. A variação da estatística qui-quadrado entre os dois modelos
foi de Δ ²(18) = 679,108, ps < 0,01. Como o valor de Δ ² foi maior e
significativo, pode-se concluir que os resultados da AFC apoiam o modelo com
sete fatores.
54
Capítulo IV - RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Estatísticas descritivas e correlações
Para o teste das hipoteses H1 e H2 foram realizadas estatísticas descritivas
e correlações bivariadas entre as variáveis do estudo, como mostra a Tabela 3. A
variável up regulation está relacionada positivamente com satisfação com a vida
(r = 0,30), autonomia (r = 0,33) e domínio do ambiente (r = 0,29) todos com ps <
0,01. Os afetos positivos apresentaram uma relação positiva com up regulation (r
= 0,18 ps < 0,05) e com um efeito menor, down regulation (r = 0,10 ps < 0,05).
Observou-se um relacionamento positivo entre down regulation e
satisfação com a vida (r = 0,21), autonomia (r = 0,32) e domínio do ambiente (r =
0,29), todos com ps < 0,01. A variável afetos negativos relacionou-se
negativamente com up regulation (r = 0,26), porém não houve significância
estatística desta variável com down regulation. Autonomia e domínio do ambiente
apresentaram uma relação positiva com a satisfação com a vida (r = 0,64 e r =
0,50 todos com ps < 0,01), respectivamente. Todas as correlações variaram de
fracas a moderadas, indicando que as variáveis não apresentaram
multicolineriedade. Dessa forma, a hipótese H1 foi suportada e H2 parcialmente
suportada.
55
Tabela 3. Estatísticas descritivas e correlações bivariadas de todas as variáveis
Variáveis Média DP 1 2 3 4 5 6 7
1. Up regulation 2,65 0,68
2. Down regulation 1,84 0,58 0,36**
3. Afetos Positivos 3,35 0,82 0,18* 0,10*
4. Afetos Negativos 2,38 0,84 0,26** 0,12 0,35**
5. Satisfação com a vida 4,07 0,71 0,30** 0,21** 0,55** 0,45**
6. Autonomia 4,66 0,85 0,33** 0,32** 0,40** 0,34** 0,64**
7. Domínio do ambiente 4,03 0,91 0,29** 0,30** 0,41** 0,31** 0,50** 0,57**
Nota. Significância de * p < 0,05 e **p < 0,01.
Para o teste da hipótese H3 e H4 foram seguidas as recomendações de
Baron e Kenny (1986) para testar o efeito de mediação. Primeiro, as variáveis
preditoras de regulação emocional (up e down regulation) devem estar
relacionadas significativamente com as variáveis critério (afetos positivos, afetos
negativos e satisfação com a vida). Em segundo lugar, os preditores devem estar
significativamente relacionados com as variáveis mediadoras (autonomia e
domínio do ambiente). E terceiro, a força da relação entre os preditores e as
variáveis de critério deve diminuir, quando as variáveis mediadoras são inseridas
no modelo.
De acordo com esse processo, quando o efeito da variável preditora é
reduzido a zero e estatisticamente não significante na presença da variável
mediadora, ocorre uma mediação total. Quando essa redução é significante e
56
diferente de zero, ocorre uma mediação parcial. A significância dos efeitos de
mediação é descrita pela estatística Z pelo do teste de Sobel (Baron & Kenny
1986, Sobel, 1982). Dessa maneira, dois modelos recursivos foram testados pela
MEE para analisar as possíveis relações de predição e de mediação: o Modelo 1,
que testa os efeitos preditivos das variáveis up e down regulation na autonomia,
domínio do ambiente e nas dimensões de bem-estar subjetivo, e o Modelo 2, que
testa a hipótese de mediação da autonomia e do domínio do ambiente na relação
entre up e down regulation e as dimensões de bem-estar subjetivo.
4.2 Modelo de predição
Com o objetivo de testar o poder preditivo das duas estratégias de
regulação emocional, na composição do Modelo 1, foram inseridas as variáveis up
regulation e down regulation como preditoras. Como variáveis critério, foram
inseridas autonomia, domínio do ambiente, afetos positivos, afetos negativos e
satisfação com a vida. Segundo Frazier, Tix e Barron (2004), antes de testar
qualquer modelo de mediação é necessário checar o efeito das variáveis de
predição nas demais variáveis inseridas no modelo. É ideal que haja uma relação
significante entre os preditores e mediadores e entre os preditores e as variáveis de
resultado. Dessa forma, esse modelo além de possuir a função de um modelo de
predição, ele também atua como uma fase preliminar para a composição do
modelo de mediação.
57
Como mostra a Tabela 4, no Modelo 1, up regulation obteve um efeito
significativo com afetos positivos (β = 0,15 ps < 0,001), satisfação com a vida (β
= 0,25 ps < 0,001), autonomia (β = 0,24 ps < 0,001) e domínio do ambiente (β =
0,24 ps < 0,001). Down regulation também obteve um efeito significativo nas
variáveis satisfação com a vida (β = 0,33 ps < 0,001), autonomia (β = 0,24 ps <
0,001) e domínio do ambiente (β = 0,31 ps < 0,001). Por outro lado, somente up
regulation obteve um efeito preditivo significativo em afetos negativos (β =
0,27 ps < 0,001).
Tabela 4. Efeitos preditivos de up e down regulation
Modelo 1
B SE β
Up regulation → afetos positivos 1,39 0,04 0,15**
Up regulation → afetos negativos 3,63 0,07 0,27**
Up regulation → satisfação com a vida 2,98 0,06 0,26**
Down regulation → afetos positivos 0,08 0,06 0,03
Down regulation → afetos negativos 0,13 0,03
Down regulation → satisfação com a vida 0,52 0,07 0,18**
Up regulation → autonomia 2,80 0,05 0,24**
Up regulation → domínio do ambiente 1,52 0,06 0,24**
Down regulation → autonomia 3,12 0,07 0,33**
Down regulation → domínio do ambiente 2,10 0,04 0,31**
Notas. B= coeficiente não-padronizado; SE= erro padrão; β= coeficiente padronizado.
Significância de **p < 0,001.
58
O Modelo 1, após a remoção das trajetórias não significativas, apresentou
índices de ajustamento iguais a ² (177) = 381,333 ps < 0,001; ²/g.l = 2,1; CFI=
0,869; GFI= 0,898 e RMSEA IC 90% = 0,071 (0,061 - 0,081), AIC = 489,33.
Juntas, as variáveis preditoras up e down regulation explicam uma parcela
pequena da variância (R²) das dimensões de bem-estar subjetivo: 13% de afetos
positivos; 12% de afetos negativos, 32% de satisfação com a vida. A Figura 5
apresenta o modelo final com as estimativas padronizadas dos coeficientes beta
(β).
Após a verificação dos efeitos preditivos pelo Modelo 1, constata-se nesta
amostra, que a variável up regulation é capaz de explicar um maior número de
dimensões de bem-estar subjetivo do que a down regulation. Porém, os efeitos
explicativos nas variáveis autonomia e domínio do ambiente são mais bem
explicados pela variável down regulation. Como não houve um efeito
significativo entre down regulation, afetos positivos (β= 0,03) e afetos negativos
(β= todos comps essas trajetórias foram removidas para compor o
Modelo 2. Assim, a hipótese H3 foi parcialmente confirmada.
59
Figura 5. Modelo de predição entre as estratégias de regulação emocional e dimensões de
bem-estar psicológico e subjetivo.
Notas. UP= up regulation; DWN= down regulation; Aut= autonomia; Dom= domínio do
ambiente; AFN = afetos negativos; AFP= afetos positivos e SV = satisfação com a vida.
60
4.3 Modelo de Mediação
O Modelo 2 tem como objetivo testar os efeitos mediadores de autonomia
e domínio do ambiente na relação entre as estratégias de regulação emocional e
bem-estar subjetivo. Como mostra a Tabela 5, os efeitos totais1 de up e down
regulation foram significativos, indicando que altos níveis de up e down
regulation produzem altos níveis de afetos positivos e satisfação com a vida. Os
efeitos totais também indicaram que, quanto maiores níveis de regulação
emocional, menores serão os níveis de afetos negativos. Esses resultados se
assemelham aos estimados pelo do Modelo 1.
Após a análise dos efeitos totais pode-se observar que na relação entre os
preditores e os mediadores, down regulation apresentou coeficientes padronizados
maiores que up regulation. Assim, quanto maiores os níveis de down regulation,
maiores serão os níveis de autonomia (β = 0,31 ps1) e domínio do
ambiente (β = 0,19 ps1). Porém, na relação entre os mediadores e as
variáveis critério, somente o efeito da autonomia foi significativo na explicação de
afetos positivos (β = 0,41 ps1), afetos negativos (β = 0,54 ps1) e
satisfação com a vida (β = 0,75 ps1). Neste modelo, os efeitos diretos com
a inserção dos mediadores não foram significativos e diferentes de zero, o que
sugere uma mediação total (Baron & Kenny, 1986).
1 Os efeitos totais correspondem aos efeitos das variáveis preditoras antes da inserção dos
mediadores no modelo (Preacher & Hayes, 2004).
61
Finalmente, para verificar a significância da mediação, os efeitos indiretos
foram submetidos ao teste de Sobel (1982) e calculados por meio do macro de
Preacher e Hayes (2004). Os efeitos indiretos de up regulation através da
autonomia foram significativos para afetos positivos (βindireto = 0,10; Zsobel = 3,19
ps < 0,001), afetos negativos (βindireto = 0,10; Zsobel = 4,04; ps < 0,001) e
satisfação com a vida (βindireto = 0,16 Zsobel = 5,86; ps < 0,001). A variável down
regulation também obteve um resultado significativo por meio da autonomia para
a variável satisfação com a vida (βindireto = 0,26 Zsobel = 0,26; ps < 0,001).
Portando, pode-se afimar que neste modelo, somente a autonomia exerce papel de
mediador na relação entre as estratégias de regulação emocional e as dimensões
de bem-estar subjetivo.
Tabela 5. Decomposição dos efeitos de mediação
Modelo 2
Efeitos diretos B SE β Zsobel
Up regulation → afetos positivos 0,08 0,06 0,03 -
Up regulation → afetos negativos 0,06 0,05 0,07 -
Up regulation → satisfação com a vida 0,07 0,03 0,04 -
Down regulation → satisfação com a vida 0,04 0,02 0,07
Efeitos indiretos
Up regulation → Autonomia → afetos positivos 1,10 0,02 0,10** 3,19**
Up regulation → Autonomia → afetos negativos 1,09 0,03 0,10** 4,04**
Up regulation → Autonomia → satisfação com a vida 2,13 0,01 0,16** 5,86**
Down regulation → Autonomia → satisfação com a vida 3,17 0,04 0,26** 5,37**
Efeitos totais
Up regulation → afetos positivos 1,16 0,01 0,13** -
Up regulation → afetos negativos 1,20 0,03 0,17** -
Up regulation → satisfação com a vida 2,12 0,09 0,20** -
Down regulation → satisfação com a vida 3,25 0,07 0,33** -
Notas. B= coeficiente não-padronizado; SE= Erro padrão; β= coeficiente padronizado; Zsobel = escore
teste de Sobel. Significância de **p < 0,001.
62
O Modelo 2 apresentou índices de qualidade de ajuste iguais a ² (156) =
298,902 ps < 0,001; ²/g.l = 1,66; CFI= 0,938; GFI= 0,90; RMSEA IC 90% =
0,070 (0,057 – 0,082); AIC = 318,145; considerado um modelo com bom
ajustamento. O modelo de mediação explica 26% da variância (R²) dos afetos
positivos, 43% dos afetos negativos e 55% da satisfação com a vida. A Figura 6
apresenta as trilhas de mediação e os valores dos coeficientes padronizados beta
(β).
63
Figura 6. Modelo de mediação pela autonomia e domínio do ambiente na relação entre as
estratégias de regulação emocional e dimensões de bem-estar subjetivo.
Notas. UP= up regulation; DWN= down regulation; Aut= autonomia; Dom= Domínio do
ambiente; AFN = Afetos negativos; AFP= Afetos Positivos e SV = Satisfação com a vida.
64
Após a criação e análise dos modelos é possivel realizar uma comparação
através dos índíces de qualidade de ajustamento, com o propósito de identificar o
modelo mais explicativo das relações entre as variáveis do estudo (Marôco, 2010).
Para tal identificação, o modelo mais representativo da amostra será o que
apresentar os melhores valores referenciais desses índices de acordo com os
indicadores citados anteriormente. Como mostra a Tabela 6, os valores do Modelo
2 (mediação) foram melhores em comparação ao Modelo 1 (predição), sendo
aquele, portanto, o modelo que se ajustou melhor aos dados da amostra do estudo.
Tabela 6. Índices de ajustamento de todos os modelos
Modelo ² ²/g.l CFI GFI RMSEA
IC 90%
AIC
1) Modelo de predição 381,333 2,10 0,869 0,898 0,071 489,33
2) Modelo de mediação 298,902 1,66 0,938 0,903 0,070 318,145
65
4.4 Discussão
A influência da regulação emocional sobre o bem-estar é um tema bastante
explorado em pesquisas e possui implicações para diversos ambientes e contextos
da vida. Muitos estudos evidenciaram que a forma como as pessoas regulam suas
emoções tem consequências sobre o bem-estar, mas pouca atenção tem sido dada
ao manejo das emoções positivas e de como as estratégias básicas de regulação
podem influenciar as dimenções do bem-estar subjetivo. Outra questão envolve a
relação entre outras variáveis, que podem contribuir na explicação do bem-estar
das pessoas, a partir da experiência emocional. O presente estudo buscou
preencher esta lacuna, propondo que as estratégias de regulação emocional
positiva (up regulation) e negativa (down regulation) influenciam as três
dimensões de bem-estar subjetivo e são mediadas pela autonomia e pelo domínio
do ambiente.
Como previsto pela Hipótese H1, encontrou-se correlações postivas entre
up e down regulation e as dimensões de afetos positivos e de satisfação com a
vida, corroborando os resultados de pesquisas anteriores (Haga, Kraft & Corby,
2009; Nelis et. al., 2011). Esses achados sustentam a ideia de que quanto maiores
são os níveis de regulação emocional, maiores serão as experiências emocionais
afetivas e melhores avaliações sobre os aspectos globais da vida. Como previsto
pela Hipótese H2, quanto maiores os níveis de regulação de emoções positivas
(up regulation), menores serão os estados de engajamento afetivo negativo.
Porém, essa associação não foi significante para regulação das emoções negativas
(down regulation). Era esperado que essa relação fosse significante, de acordo
66
com as pesquisas anteriores (Gross, 2003; Nelis et al., 2011). A baixa associação
entre a regulação de emoções negativas (down regulation), com os estados
afetivos negativos e positivos, ocorreu porque esse modo de regulação emocional
não obedece à mesma lógica que a regulação de emoções positivas. Quando o
objetivo é reduzir emoções negativas, é necessário que a pessoa realize um
esforço cognitivo maior, para que os estados afetivos positivos sejam mantidos e
estados negativos sejam reduzidos, na mesma proporção.
Em contraste, manter emoções positivas parece ser uma condição mais
influente, em ambas as perspectivas de bem-estar. Como afirmada pela hipótese
H3, construída a partir do modelo de predição, ao optarem por manter as emoções
positivas, as pessoas acabam por influenciar seus estados afetivos e suas
avaliações gerais sobre a vida. Esses achados corroboram estudos recentes de
Livingstone e Srivastava (2012) e de Quoidbach et al. (2010), onde se evidenciou
que, ao se valerem de estratégias de regulação emocional positiva, as pessoas
desejam melhorar seus níveis de bem-estar.
Além de influenciarem as dimensões de bem-estar subjetivo, os modos de
regulação foram capazes de prever os níveis de autonomia e de domínio do
ambiente. As estratégias de regulação emocional além de influenciarem a
utilização de padrões internos para um funcionamento psicológico adequado,
também contribuem na capacidade de a pessoa escolher ou criar ambientes
externos mais favoráveis às suas características pessoais. Pode-se interpretar esses
achados à luz da função instrumental que os processos regulatórios exercem. Por
serem componentes cognitivos e que influenciam as avaliações pessoais (Ryan &
Deci, 2001), tanto a autonomia, como o domínio com ambiente são influenciados
67
pelas estratégias emocionais utilizadas, pois, ao manejar adequadamente uma
emoção positiva ou negativa, o objetivo ou meta pessoal torna-se melhorar a
capacidade de avaliações que são feitas dos ambientes interno ou externo. De
forma contrária, quando a emoção vivenciada não é regulada de forma adequada,
as avaliações e escolhas pessoais podem ser prejudicadas.
Nas análises seguintes, os resultados do modelo de mediação suportam
parcialmente a hipótese H4, pois esta relação de mediação não foi confirmada
pelos efeitos indiretos do domínio do ambiente. Com isso, evidencia-se que a
autonomia sozinha é capaz de mediar parcialmente a relação entre os efeitos das
estratégias básicas de regulação emocional e de dimensões de bem-estar subjetivo.
A mediação total sugere que a autonomia provoca alguma variação, mas não
completamente, na relação entre regulação emocional e nas dimensões de bem-
estar subjetivo.
A relação de mediação corrobora os estudos de Burns e Machin (2010),
indicando que o bem-estar psicológico é uma via para se alcançar bons níveis de
bem-estar subjetivo. Para Ryan e Deci, (2006), uma pessoa que autenticamente
endossa suas ações, faz escolhas a partir de si mesmo e reflete seus verdadeiros
interesses e valores, está agindo de forma autônoma. Dessa forma, ao se
submeterem a situações em que emoções positivas e negativas estão presentes, as
pessoas que apresentam maiores níveis de autonomia, provavelmente, irão regular
melhor estas emoções, estreitando os caminhos, quando o propósito é atingir
metas de bem-estar subjetivo mais elevado. Portanto, os resultados suportam
parcialmente a hipótese de mediação.
68
Capítulo V – CONSIDERAÇÕES FINAIS
5.1 Conclusões
Os resultados confirmaram a hipótese de que os modos de regulação
emocional de fato relacionam-se com as dimensões de bem-estar subjetivo e
psicológico. Os achados deste estudo também indicam que quando a autonomia
está presente na relação, maiores serão as chances das pessoas vivenciarem
melhor bem-estar subjetivo. Nesse sentido, os resultados apresentados neste
estudo convergem parcialmente com a literatura empírica sobre o tema. Os
modelos investigados se mostram relevantes, ao analisar o papel exercido pelos
modos de regulação emocional nos dois tipos de bem-estar, o psicológico e o
subjetivo.
5.2 Limitações e pesquisas futuras
Embora o estudo tenha produzido resultados importantes em níveis
teóricos e metodológicos, os dados apresentados são correlacionais, e nada se
pode inferir sobre a direção e de influências causais das variáveis analisadas.
Mesmo que seja possível que a regulação emocional afete as dimensões de bem-
estar, uma relação contrária de reciprocidade pode ser esperada, isto é, o bem-
estar influenciando a regulação emocional. Dessa forma, não é apropriado retirar
conclusões definitivas sobre as relações causais entre estas variáveis. Mais
pesquisas utilizando um desenho experimental ou longitudinal são necessárias
para determinar a direção de causalidade. Outra limitação do estudo está
relacionada à amostra utilizada, que não é representativa de uma população ampla
69
de trabalhadores. Pesquisas futuras poderiam buscar a generalização dos achados
explorando as diferenças existentes entre diversos grupos ocupacionais de
trabalhadores, incluindo variações de categorias e de setores da atividade
econômica, fazendo uso de uma amostra maior e mais representativa. Outras
investigações podem também, explorar as possíveis relações entre as outras
dimensões de bem-estar psicológico não exploradas, regulação emocional e bem-
estar subjetivo. É mister salientar que medidas de autorrelato podem permitir que
ocorra desejabilidade social. Esta situação pode ser minimizada, a partir da
utilização de outros métodos de coleta de dados. Apesar dessas limitações, este
estudo contribui para a compreensão da relação entre as estratégias de regulação
emocional e bem-estar.
70
Referências
Albuquerque, A. S., & Tróccolli, T. B. (2004). Desenvolvimento de uma Escala
de Bem-Estar Subjetivo. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 20 (2), 153-164.
Aldao., A (2013). The Future of Emotion Regulation Research: Capturing
Context. Perspectives on Psychological Science, 8 (2) 155 – 172.
Aldao, A., & Nolen-Hoeksema, S. (2012a). The influence of context on the
implementation of adaptive emotion regulation strategies. Behavior
Research and Therapy. Advance online publication.
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88
Apêndice A – Instrumento de pesquisa
Escala de Bem-estar Subjetivo (EBES)
Subescala 1 – Afetos positivos
Gostaria de saber como você tem se sentido ultimamente. Esta escala consiste
de algumas palavras que descrevem diferentes sentimentos e emoções. Não há
respostas certas ou erradas. O importante é que você seja o mais sincero possível.
Leia cada item e depois escreva o número que expressa sua resposta no espaço ao
lado da palavra, de acordo com a seguinte escala:
Ultimamente tenho me sentido...
1 2 3 4 5 6 1. Amável
2. Agradável
3. Alegre
4. Ativo
5. Disposto
6. Contente
7. Interessado
8. Atento
9. Animado
10. Determinado
11. Decidido
12. Seguro
13. Dinâmico
14. Engajado
15. Produtivo
16. Entusiasmado
17. Estimulado
18. Bem
19. Empolgado
20. Vigoroso
21. Inspirado
Nem um pouco
1
Um pouco
2
Moderadamente
3
Muito
4
Bastante
5
Extremamente
6
89
Subescala 2 – Afetos negativos
Gostaria de saber como você tem se sentido ultimamente. Esta escala consiste
de algumas palavras que descrevem diferentes sentimentos e emoções. Não há
respostas certas ou erradas. O importante é que você seja o mais sincero possível.
Leia cada item e depois escreva o número que expressa sua resposta no espaço ao
lado da palavra, de acordo com a seguinte escala:
Ultimamente tenho me sentido...
1 2 3 4 5 6 1. Aflito
2. Alarmado
3. Angustiado
4. Apreensivo
5. Preocupado
6. Irritado
7. Deprimido
8. Entediado
9. Transtornado
10. Chateado
11. Assustado
12. Impaciente
13. Receoso
14. Ansioso
15. Indeciso
16. Abatido
17. Aborrecido
18. Agressivo
19. Incomodado
20. Nervoso
21. Tenso
22. Triste
23. Agitado
Nem um pouco
1
Um pouco
2
Moderadamente
3
Muito
4
Bastante
5
Extremamente
6
90
Subescala 3 – Satisfação com a vida
Agora você encontrará algumas frases que podem identificar opiniões que você
tem sobre a sua própria vida. Por favor, para cada afirmação, marque com um X o
número que expressa o mais fielmente possível sua opinião sobre sua vida atual.
Não existe resposta certa ou errada, o que importa é a sua sinceridade.
1 2 3 4 5 6
1. Estou satisfeito com minha vida
2. Tenho aproveitado as oportunidades da vida
3. Avalio minha vida de forma positiva
4. Sob quase todos os aspectos minha vida está longe do meu ideal de vida
5. Mudaria meu passado se eu pudesse
6. Tenho conseguido tudo o que esperava da vida
7. A minha vida está de acordo com o que desejo para mim
8. Gosto da minha vida
9. Minha vida está ruim
10. Estou insatisfeito com minha vida
11. Minha vida poderia estar melhor
12. Tenho mais momentos de tristeza do que de alegria na minha vida
13. Minha vida é “sem graça”
14. Minhas condições de vida são muito boas
15. Considero-me uma pessoa feliz
Discordo
Totalmente
1
Discordo
Fortemente
2
Discordo
Parcialmente
3
Concordo
Parcialmente
4
Concordo
Fortemente
5
Concordo
Totalmente
6
91
Escala de Bem-Estar Psicológico (EBEP)
Subescala – Autonomia
As questões abaixo se referem à maneira como VOCÊ LIDA CONSIGO
MESMO (A) e com sua VIDA. Marque a alternativa que melhor descreve
como você se sente, no momento, EM RELAÇÃO A CADA FRASE. Não há
respostas certas ou erradas.
Discordo
Totalmente
1
Discordo
Fortemente
2
Discordo
Parcialmente
3
Concordo
Parcialmente
4
Concordo
Fortemente
5
Concordo
Totalmente
6
1 2 3 4 5 6
1. Não tenho medo de expressar minhas opiniões, mesmo quando elas são
contrárias às opiniões da maioria das pessoas.
2. Muitas vezes me preocupo com o que os outros pensam sobre mim.
3. Estar feliz comigo mesmo é mais importante para mim do que a
aprovação dos outros.
4. As pessoas dificilmente me convencem a fazer coisas que eu não queira.
5. Muitas vezes, eu mudo de opinião se meus amigos ou familiares
discordam das minhas decisões.
6. Eu me preocupo com as avaliações dos outros sobre as escolhas que eu
faço na minha vida.
92
Subescala – Domínio do Ambiente
As questões abaixo se referem à maneira como VOCÊ LIDA CONSIGO
MESMO (A) e com sua VIDA. Marque a alternativa que melhor descreve
como você se sente, no momento, EM RELAÇÃO A CADA FRASE. Não há
respostas certas ou erradas.
1 2 3 4 5 6
1. Sinto que tenho controle sobre as situações do meu dia a dia.
2. Eu sou muito bom em gerenciar as diversas responsabilidades da minha
vida diária.
3. Eu normalmente gerencio bem minhas finanças e negócios.
4. Consigo administrar bem meu tempo, desta maneira posso fazer tudo o
que deve ser feito.
5. Eu fico frustrado quando tento planejar minhas atividades diárias porque
eu nunca consigo fazer as coisas que planejo.
6. Eu tenho dificuldades para organizar minha vida de uma forma
satisfatória para mim.
Discordo
Totalmente
1
Discordo
Fortemente
2
Discordo
Parcialmente
3
Concordo
Parcialmente
4
Concordo
Fortemente
5
Concordo
Totalmente
6
93
Perfil de Regulação Emocional – versão reduzida
A seguir você encontrará algumas situações do cotidiano. Em cada uma delas
tendemos a reagir de modo diferenciado. Não há respostas certas ou erradas.
Escolha a(s) alternativa(s) que melhor represente(m) ou se aproxime (m) da
sua maneira de lidar com estas situações.
Situação 1 – Excitação
Você participou do último sorteio da loteria federal porque o prêmio era
grande. Você está com seus amigos e pede para eles olharem os resultados do
sorteio na TV, mesmo não acreditando que iria ganhar. Uma excitação
começa a tomar conta de você quando se espanta porque 4 dos números que
você jogou foram sorteados! Você ganhou cerca de R$5.000,00.
Você pula de alegria e expressa o seu entusiasmo, repetindo toda noite que você é
um (a) sortudo (a).
Nos dias seguintes, você pensa no que fará com esse dinheiro. Você imagina
passar 10 dias ao sol durante o próximo feriado; conhecer um restaurante famoso;
ir a um SPA...
Você não consegue usufruir plenamente deste momento, por causa de outras
coisas que ocupam sua mente (por exemplo, problema com um ente querido,
ambiente de trabalho, etc).
Você compartilha esta alegria com seus amigos, mostra a eles o bilhete e telefona
para pessoas próximas para contar a novidade.
Você tenta não expressar suas emoções, guardando-as para você, porque não fica
bem demonstrar entusiasmo na frente das pessoas. Além disso, não quer que seus
amigos sintam inveja de você.
Você se sente feliz e aproveita o momento com uma taça de champanhe, por
exemplo. Não são todos dias que temos a oportunidade de ganhar quase um mês
de salário sem fazer nada!
Você acha que R$ 5.000,00 não é tão ruim. No entanto, você não deixa de pensar
que não ganhou o grande prêmio por pouco! Este dinheiro também não vai
resolver seus problemas e/ou fazer com que se sinta no dever de convidar os seus
amigos para comemorar, o que te impediria de desfrutar do dinheiro que você
ganhou.
Você acha que é bom demais para ser verdade... Tudo que é bom dura pouco.
Você já pensa que algum problema vai surgir.
94
Situação 2 - Alegria
Você passa um fim de semana romântico. O cenário é perfeito. Seu (sua)
parceiro (a) é demais e você está se sentindo particularmente feliz.
Apesar de um fim de semana muito agradável, você não pode deixar de perceber
alguns pontos negativos que impedem que a estadia seja perfeita.
Você tenta desfrutar o momento, colocando todo o resto de lado.
O fim de semana é perfeito. Isso é bom demais para ser verdade. Você teme que
algum pensamento estrague esse momento.
Você está rindo, brincando, abraçando seu (sua) parceiro (a)... Enfim, você se
permite extravasar toda a sua alegria.
Quando está sozinho (a), você relembra os bons momentos juntos e/ou as razões
pelas quais seu relacionamento é tão valioso.
Você curte o momento, mas por razões diferentes (por exemplo, medo de ridículo,
não é o seu estilo, por culpa, etc) você tenta não se "deixar levar" e contém a sua
alegria.
Nos dias seguintes, você compartilha esse bom momento com pessoas próximas
(ou escreve em seu diário).
O fim de semana é perfeito. No entanto, você não pode deixar totalmente de lado
as suas preocupações atuais (por exemplo, trabalho, família, etc).
95
Situação 3 – Raiva
Você deve apresentar um projeto importante no qual trabalhou muito. O dia
D chegou. De manhã, você é avisado de que sua apresentação foi adiada e que
o seu oponente apresentará o seu projeto. Particularmente esta notícia te
irrita.
Você vai imediatamente à sala de seu (sua) colega para expressar sua raiva,
ressaltando seu nervosismo.
Você se engaja em uma atividade que não tenha relação com a situação, dá um
tempo para diminuir sua raiva. Assim você não reage com a cabeça quente.
Você considera a situação como um problema a resolver. Você cria um plano de
ação para fazer com que seu trabalho seja reconhecido e/ou evitar que isso
aconteça de novo.
Você não diz nada, às vezes você tem dificuldade em se posicionar neste tipo de
situação. Isso provoca em você um profundo cansaço.
Você fica se "remoendo": como seu (sua) colega é capaz de ser tão ambicioso (a)
e mal-intencionado (a) com você? Sem agir, você imagina mil e uma formas de
dar o troco.
Você minimiza a situação e/ou tenta tirar lições dela. Da próxima vez, será você!
Quando você chega em casa, faz uso de alguma(s) substância(s) (álcool,
medicamentos, maconha etc) para relaxar um pouco.
Você pede uma explicação para o (a) seu (sua) colega. Você manifesta
educadamente, mas de maneira firme, o seu descontentamento, e lhe dá
oportunidade de explicar o seu ponto de vista.
96
Situação 4 – Tristeza
Após uma reestruturação na sua empresa, você é transferido (a) para um
novo departamento a 10 km de seu antigo local de trabalho. Isso faz com que
você fique triste porque desenvolveu um bom relacionamento com seus (suas)
colegas, sendo que alguns se tornaram seus amigos.
Sua tristeza se transforma em ressentimento com a empresa ou até mesmo com
seus (suas) antigos (as) colegas mais sortudos (as). O seu mau humor é claramente
visível.
Você precisa de tempo para esquecer a situação antiga. Você pensa sobre isso
muitas vezes.
Você se esforça para ver o lado positivo das coisas (por exemplo, novos amigos,
novas oportunidades de carreira, etc)
Você tenta se consolar fumando, bebendo, tomando medicamentos ou até mesmo
usando drogas.
Compartilha a sua tristeza com os que estão à sua volta e procura se consolar ao
lado dos amigos.
Tenta encontrar uma solução para o problema. Se for impossível recuperar o seu
antigo emprego, você faz uso de ações concretas (ex: conversas, convites para
jantar, etc.) para melhorar a sua nova situação profissional.
Você tenta imediatamente retomar as atividades prazerosas que lhe dão pequenos
momentos de felicidade.
Dentre todos os membros de sua equipe, isso tinha que acontecer justamente com
você! Você se sente desanimado (a) e não encontra energia para reagir.
97
Situação 5 - Gratidão
Um (a) amigo (a) acaba de ganhar uma viagem de luxo para duas pessoas em
uma ilha paradisíaca. Ele (a) diz que gostaria que você o (a) acompanhasse.
Você está justamente precisando de umas férias e fica muito grato (a).
Mesmo que esse convite te faça feliz, as suas preocupações do momento (por
exemplo, problemas pessoais ou profissionais, estresse) o (a) impedem de
desfrutar o presente momento.
Você se permite demonstrar o seu apreço e afeição (por exemplo, agradecimentos,
abraços, convite para restaurantes, etc.).
Antes da partida, você já fica apreensivo com o retorno à realidade. Afinal, estes
oito dias passarão muito rapidamente e esse tipo de férias, certamente, não se
repetirá tão cedo.
Você desfruta plenamente esse convite.
Você está muito grato (a) a seu (sua) amigo (a). Mas, em poucos dias, não
conseguirá evitar pensar em alguns pontos negativos que o impedem de estar
completamente satisfeito (a) (por exemplo, este não é o destino que você teria
escolhido, as datas da viagem vão interferir bastante na sua agenda, você deve
retribuí-lo).
Você pensa em como tem sorte de ter um amigo (a) assim e percebe que esse
gesto ajuda a fortalecer a amizade e/ou você pensa em todas as coisas agradáveis
que poderá fazer nesta viagem.
Você fala com pessoas ao seu redor sobre a viagem e elogia a generosidade de seu
(sua) amigo (a).
Você quer muito expressar o seu apreço a ele (a), mas por diversas razões (por
exemplo, vergonha, medo do ridículo, timidez, etc.) se vê impedido de
demonstrar.
98
Situação 6 – Medo
Ao receber os resultados dos seus exames, seu médico lhe explica que você
tem que passar por uma cirurgia. Sua saúde não corre risco imediato, mas se
você não fizer nada, a situação poderia piorar ao longo do tempo. Mesmo que
o seu médico esteja confiante sobre o andamento da operação, isto é bastante
difícil para você e lhe deixa com muito medo.
Você precisa conversar sobre o assunto com pessoas próximas ou com pessoas
que já fizeram este tipo de intervenção.
Você cancela a cirurgia. Prefere não fazê-la neste momento; você ter vivido assim
todos esses anos, então, por que fazer algo agora?
A notícia da cirurgia o (a) deprimiu e, além disso, o (a) assustou. Você sente que o
destino o persegue sem que você possa mudar nada.
Você tenta pôr as coisas em outra perspectiva, dizendo a si mesmo que muitas
pessoas são submetidas à cirurgia todos os dias e que o risco da operação dar
errado é realmente mínimo. Em contrapartida, os benefícios para sua saúde são
importantes.
Você pensa muitas vezes na cirurgia e imagina tudo o que pode dar errado.
Você tenta não pensar nisto até o dia da cirurgia. Quando o medo aparece, você
tenta pensar em outras coisas, envolvendo-se em atividades que o (a) distraiam.
Você faz uso de substâncias relaxantes (por exemplo: álcool, medicamentos, etc.)
para reduzir seu estresse e medo.
Você considera o problema e está analisando as alternativas. A cirurgia é a melhor
solução. Você estabelece os passos a seguir, antes e depois da cirurgia para que
tudo ocorra da melhor forma possível.
99
Idade (em anos):
Sexo
Masculino
Feminino
Estado Civil
Solteiro
Casado
Viúvo
Separado / Divorciado
União Estável
Nível Educacional
Médio completo
Superior incompleto
Superior completo
Pós-graduação
Outro:
Questionário Sociodemográfico
101
Apêndice C – Termo de consentimento livre esclarecido (TCLE)
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE PSICOLOGIA
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Você está sendo convidado (a) como voluntário (a) a participar da pesquisa:
Regulação Emocional e Bem-estar em Trabalhadores.
JUSTIFICATIVA, OBJETIVOS E OS PROCEDIMENTOS:
O motivo que nos leva a estudar o problema é que com as demandas relativas ao
ambiente de trabalho, cada vez mais competitivo e exigente, cobra-se um perfil
mais assertivo nas relações interpessoais e a forma como cada trabalhador lida
com suas emoções se associa a um impacto no seu bem-estar pessoal, tanto dentro
quanto fora do seu ambiente de trabalho. O objetivo desse projeto é identificar e
traçar um perfil através da relação entre a maneira como o trabalhador regula suas
emoções e que impactos causam ao seu bem-estar pessoal. O procedimento de
coleta de dados será feito por levantamento, através de questionário estruturado,
onde cada trabalhador escolherá a resposta que mais se aproxima do seu perfil.
DESCONFORTOS E RISCOS E BENEFÍCIOS:
Existe um desconforto e risco mínimo para você que se submeter à coleta do
material para a privacidade, sendo que se justifica para a compreensão dos
impactos de um perfil emocional no bem-estar pessoal de cada trabalhador.
Através da pesquisa, poderá se conhecer com mais profundidade esta relação,
contribuindo com políticas organizacionais mais voltadas para o trabalhador
brasileiro.
FORMA DE ACOMPANHAMENTO E ASSINTÊNCIA:
Os pesquisadores estarão à disposição dos participantes para maiores
esclarecimentos sobre qualquer tipo de dúvida, desconforto e orientação sobre
todo o processo de coleta de dados até a apuração dos resultados. Os dados desta
pesquisa serão armazenados por cinco (5) anos sob a responsabilidade dos
pesquisadores. Após este período, os dados passarão a ser guardados no bando de
102
dados do Grupo de Pesquisa - Emoções, sentimentos e afetos em contextos de
trabalho - localizado na Rua Aristides Novis, Estrada de São Lázaro, nº2,
Salvador/ BA e estarão à disposição de todos os participantes.
GARANTIA DE ESCLARECIMENTO, LIBERDADE DE RECUSA E
GARANTIA DE SIGILO:
Você será esclarecido (a) sobre a pesquisa em qualquer aspecto que desejar. Você
é livre para recusar-se a participar, retirar seu consentimento ou interromper a
participação a qualquer momento. A sua participação é voluntária e a recusa em
participar não irá acarretar qualquer penalidade ou perda de benefícios. Os
pesquisadores irão tratar a sua identidade com padrões profissionais de sigilo. Os
resultados da pesquisa serão enviados para você e permanecerão confidenciais.
Seu nome ou o material que indique a sua participação não será liberado sem a sua
permissão. Você não será identificado (a) em nenhuma publicação que possa
resultar deste estudo. Uma cópia deste consentimento informado será arquivada
no Instituto de Psicologia da Universidade Federal da Bahia e outra será fornecida
a você.
CUSTOS DA PARTICIPAÇÃO, RESSARCIMENTO E INDENIZAÇÃO
POR EVENTUAIS DANOS:
A participação no estudo não acarretará custos para você e não será disponível
nenhuma compensação financeira adicional.
DECLARAÇÃO DA PARTICIPANTE OU DO RESPONSÁVEL PELA
PARTICIPANTE:
Eu, _______________________________________ fui informada (o) dos
objetivos da pesquisa acima de maneira clara e detalhada e esclareci minhas
dúvidas. Sei que em qualquer momento poderei solicitar novas informações e
motivar minha decisão se assim o desejar. Os pesquisadores responsáveis
certificaram-me de que todos os dados desta pesquisa serão confidenciais.
Também sei que caso existam gastos adicionais, estes serão absorvidos pelo
orçamento da pesquisa.
Declaro que concordo em participar desse estudo. Recebi uma cópia deste termo
de consentimento livre e esclarecido e me foi dada a oportunidade de ler e
esclarecer as minhas dúvidas.
Nome Assinatura do Participante Data
Nome Assinatura do Pesquisador Data
Nome Assinatura da Testemunha Data
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