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Rev. Científica Eletrônica Estácio, Ribeirão Preto, v.8, n.8, p.75-88, jul/dez. 2016.
A Postura Dos Agentes Financeiros Frente Aos Crimes De Lavagem De
Dinheiro
Izabela de Rezende Dias – Acadêmica do Curso de Ciências Contábeis do Centro
Universitário Estácio de Ribeirão Preto SP – izabela.dias01@hotmail.com
Eric Rodrigo Costa – Especialista em Perícia Contábil e Financeira. Docente do Centro
Universitário Estácio de Ribeirão Preto SP – ericperito@gmail.com
Resumo
Hoje as instituições financeiras são, na maioria das vezes, a porta de entrada para o dinheiro
ilícito, e por essa razão além de investirem em treinamentos de prevenção contra o crime de
Lavagem de Dinheiro (LD), devem seguir diversos normativos emitidos pelo Conselho de
Controle das Atividades Financeiras (COAF). Desse modo o objetivo desse trabalho foi analisar
e comparar a postura dos agentes financeiros frente aos crimes de lavagem de dinheiro e dentro
desta perspectiva verificar a associação entre a Teoria da Cegueira Deliberada e o alinhamento
da postura de tais agentes.
Palavras-chave: Lavagem de Dinheiro, agentes financeiros, Teoria da Cegueira Deliberada.
Abstract
Today financial institutions are often the gateway to illicit money, and for that reason, besides
investing in prevention training against the Money Laundering (ML) crime, they must follow
several regulations issued by the COAF – Conselho de Controle das Atividades Financeiras
(Council for Control of Financial Activities). This study aims to analyze and compare the
posture of the financial agents towards the crimes of ML and within this perspective to verify
the association between the Theory of Deliberate Blindness and the aligment of the posture of
such agents.
Keywords: Money Laundering, financial agents, Theory of Deliberate Blindness.
Introdução
No Brasil, embora a magnitude de seu ordenamento jurídico, crimes contra a ordem
econômica e tributária ainda são fatos costumeiros. Estes crimes estão previstos nas Leis
8.137/90 e 1.521/51 da CF. Um destes crimes é o popularmente conhecido como “lavagem de
dinheiro”
“A Lavagem de Dinheiro pode ser conceituada como a atividade de desvinculação ou
afastamento do dinheiro da sua origem ilícita para que possa ser aproveitado” (JUNIOR, 2012,
p.812).
Segundo Amaral (2015):
O crime de lavagem de dinheiro caracteriza-se por um conjunto de operações
comerciais ou financeiras que buscam a incorporação na economia de cada país, de
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modo transitório ou permanente, de recursos, bens e valores de origem ilícita e que se
desenvolvem por meio de um processo dinâmico que envolve, teoricamente, três fases
independentes que, com frequência, ocorrem simultaneamente.
Amaral (2015) destaca ainda que em 1988 um impulso de caráter mundial, a fim de
mobilizar os países ao combate contra os crimes de Lavagem de Dinheiro (LD) e tráfico de
entorpecentes foi lançado na Convenção de Viena. Assumindo este propósito, no mesmo ano o
Brasil aprovou a Lei 9.613, que dispõe sobre os crimes de lavagem ou ocultação de bens,
direitos e valores.
Quando uma instituição financeira é utilizada como meio de realização de lavagem de
dinheiro é desencadeado uma série de problemas, tanto no cunho econômico social, quanto aos
riscos para a própria instituição e funcionários envolvidos na operação, como inserção de
dinheiro ilícito na economia, distorção da seriedade e renome do sistema financeiro, aumento
dos níveis de desigualdade social, considerando que tal montante não está atrelado ao Produto
Interno Bruto (PIB), processos civis em que respondem tanto os agentes bancários quanto as
instituições, além do risco de imagem da instituição financeira envolvida.
Por essa razão é que as instituições financeiras investem em treinamentos de prevenção
contra o crime e lavagem de dinheiro, sob a forma de palestras e cursos online, com intuito de
proteger a sua imagem e se manter enquadrada nos normativos emitidos pelo Conselho de
Controle das Atividades Financeiras (COAF).
No entanto, existe uma teoria recentemente criada pela Suprema Corte dos Estados
Unidos conhecida aqui no Brasil como a “Teoria Cegueira Deliberada” ou “Willful Blindness
Doctrine” (Doutrina da cegueira intencional), essa teoria, segundo Cabral (2012) busca punir o
agente que se coloca, intencionalmente, em estado de desconhecimento ou ignorância, pois a
este também cabe responsabilidades.
Hoje a teoria da cegueira deliberada é considerada, dentro do nosso ordenamento
jurídico como dolo eventual, onde o agente não quer o resultado, mas assume o risco de que
suas ações podem levar a eles.
Partindo desse princípio, o objetivo deste artigo é fazer uma análise comparativa com
relação à postura adotada pelos agentes financeiros, frente aos crimes de lavagem de dinheiro
além da verificação de quais medidas internas estão sendo tomadas para combater este tipo de
ação.
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1. Revisão Literária
De acordo com Magalhães (2014):
Acolheu-se no Brasil a expressão “lavagem de dinheiro”, o que, segundo a exposição
de motivos da Lei 9.613/98, ocorreu com base em duas justificativas: (1) a tentativa
de uniformização mediante acolhimento da linguagem usualmente em pregadas em
tratados internacionais sobre a matéria e (2) a intenção de afastar possíveis conotações
racistas decorrentes do termo “branqueamento”.
Em março de 1998, dando continuidade a compromissos internacionais assumidos a
partir da assinatura da Convenção de Viena de 1988, o Brasil aprovou a Lei de Lavagem de
Dinheiro ou Lei nº 9613, de 1998 (AMARAL, 2015).
A Lei 9613/98, dispõe sobre o crime de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores,
para coibir o crime de lavagem de dinheiro, através desta lei foi criado o Conselho de Controle
de Atividades Financeiras (COAF), que tem como missão prevenir a utilização dos setores
econômicos para a lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo, promovendo a
cooperação e o intercâmbio de informações entre os Setores Público e Privado.
Em 2012 a Lei 9.613/98 foi alterada pela Lei 12.638, que expandiu a regulamentação
sobre os crimes de LD, na legislação anterior só era possível aplicar penalidades quando o
infrator estivesse diretamente ligado à incidência de crimes de crimes antecedentes, que eram
financiamento ao terrorismo, tráfico de drogas e armas e má administração pública.
A Lei 12.683/12 passa a discorrer sobre crimes antecedentes como:
Art. 1º Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição,
movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou
indiretamente, de infração penal.
A nova lei dispõe, ainda, em seu art. 9º, que tanto as pessoas físicas como as jurídicas
que tenham, em caráter permanente ou eventual, como atividade principal ou acessória,
cumulativamente ou não qualquer envolvimento com movimentação financeira suspeita estão
sujeitas ao mecanismo de controle e as penalidades, quando couber.
1.1 Fases
De acordo com o modelo GAFI - Grupo de Ação Financeira contra a Lavagem de
Dinheiro e o Financiamento do Terrorismo, o crime de LD se dá em três fases independentes
que, via de regra, ocorrem simultaneamente, são elas: Colocação, Dissimulação e Integração.
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1.1.1 Colocação
Segundo Junior (2012, p.812) “a fase colocação consiste na separação física do dinheiro
dos autores do crime e é antecedida pela captação e concentração do dinheiro”.
Este é o momento mais crítico do processo, pois o dinheiro ainda está próximo de sua
origem, por isso os criminosos utilizam métodos para dificultar a identificação da procedência
do dinheiro, como o fracionamento do dinheiro, ou seja, o agente divide o capital obtido em
quantias menores e as deposita separadamente afim de não levantar suspeitas, além disso muitos
ainda buscam utilizar estabelecimentos que costumam trabalhar com dinheiro em espécie.
1.1.2 Ocultação, Dissimulação
Para Aro (2013, p.173)
Nessa fase ocorre a camuflagem das evidências, com a utilização de uma série de
negócios ou movimentações financeiras, a fim de que seja dificultado o rastreamento
contábil dos lucros ilícitos. É a fase da lavagem propriamente dita, pois se dissimula
a origem dos valores para que sua procedência não seja identificada.
Entende-se que o objetivo da ocultação “é quebrar a cadeia de evidências ante a
possibilidade de realização de investigações sobre a origem do dinheiro” (ABREU, 2016, p.25).
Geralmente os criminosos utilizam meios eletrônicos para auxiliar esses processos,
como transferências para diversas contas de titularidades distintas, além disso, a utilização de
empresa de fachada, aparentemente lícita, a incorporação imobiliária e a atividade rural, que
pode ser superfaturada, a prestação de serviços por profissional autônomo onde seja difícil
mensurar o real valor da contraprestação, são exemplos de meios de ocultar ou dissimular o
dinheiro ilícito.
1.1.3 Integração
Segundo Aro (2013, p.173)
A integração é a fase final do processo, muitas vezes interligada ou até mesmo
sobreposta à etapa anterior. Nessa face, já com a aparência limpa o capital é
formalmente incorporado ao sistema econômico, geralmente por meio de
investimentos o mercado imobiliário, e é assimilado com todos os outros ativos
existentes no sistema.
Nesta fase o dinheiro é empregado em negócios lícitos e volta para a economia de forma
natural, fazendo com que os indícios para a investigação ficassem muito ofuscados, dificultando
qualquer tipo de combate.
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1.2 COAF
A fim de atuar como instrumento no combate aos crimes de lavagem de dinheiro e
financiamento ao terrorismo, a lei 9.613 de 1998 cria o Conselho de Controle de Atividades
Financeiras (COAF):
O artigo 14 da Lei 9.613/98 impõe que:
Art. 14. É criado, no âmbito do Ministério da Fazenda, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras - COAF,
com a finalidade de disciplinar, aplicar penas administrativas, receber, examinar e identificar as ocorrências
suspeitas de atividades ilícitas previstas nesta Lei, sem prejuízo da competência de outros órgãos e entidades.
No ano de 2016 até o mês de julho às instituições financeiras, sendo elas: bancos, bancos
cooperativas e cooperativas de crédito já registraram 43.545 operações suspeitas e 656.502
operações em espécie (COAF).
Tabela 1 - Operações Suspeitas
Operações Suspeitas
Setor
Econômico Jan Fev. Março Abril Maio Junho Julho Total
Bancos 4 308 4 002 4 416 5 003 5 738 5 377 5 050 33 894
Bancos
Cooperativos 140 257 312 201 156 225 133
1 424
Cooperativa
de Crédito 1 051 1 070 1 768 1 190 1 012 1 146 990 8 227
Fonte: COAF
Os Bancos detêm o maior número de casos registrados e reportados ao COAF, uma
justificativa a ser considerada é o fato de haver um maior número de instituições nesta categoria,
sendo assim movimentam um maior fluxo operações financeiras.
A figura abaixo retrata o setor econômico bancário com relação à distribuição das
comunicações recebidas pelo COAF com período que corresponde de janeiro á julho de 2016:
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Figura 1 – Distribuição das Comunicações Recebidas. Fonte: COAF
Na figura acima é possível observar o grande domínio da região Sudeste sobre o número
de comunicações remetidas ao COAF sobre as operações suspeitas, para justificar este domínio
é preciso considerar alguns dados, segundo o BACEN, o Brasil possui hoje 23.539 (vinte e três
mil, quinhentos e trina e nove) agências financeiras espalhadas pelo país, deste total 52,45%, o
que equivale à 12.346 (doze mil trezentos e quarenta e seis) estão concentradas na região
sudeste, sendo ainda que 7.425 (sete mil quatrocentos e vinte e vinte) do total de agências do
país estão localizadas no estado de São Paulo.
Outros dois pontos a serem considerados, que desde já são sugeridos como temas de
pesquisa para trabalhos futuros, são o nível de preparo dos profissionais em identificar as
situações suspeitas e a frequência em que ocorre esse tipo de crime, ambos a nível Brasil.
1.2.1 Contabilidade x Lavagem de Dinheiro
A Lei 9.913/98 faz cobranças apenas às instituições financeiras, quanto aos profissionais
de contabilidade cabe apenas o apoio no combate a estas ações através do desenvolvimento de
sua rotina de trabalho contentando a moral e a ética profissional.
Por essa razão, como uma tentativa de forçar a ajuda para combater os crimes de LD, é
que a ENCLA sugere uma maior responsabilidade por parte dos contabilistas, através da
6,9% 15,6
%5,8% 56,8
%
15,0%
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obrigatoriedade de comunicação quando houve identificação de atividades suspeitas (SPIER,
et. al).
O profissional contabilista é um instrumento importantíssimo no combate à LD, é seu
dever como cidadão analisar e comunicar as autoridades as operações financeiras suspeitas,
entretanto, é reconhecível que nem todos os atuantes na área contábil possuem o mesmo
envolvimento com a ética profissional.
Dentro da contabilidade um dos princípios fundamentais é o da oportunidade, que
refere-se à apresentação das informações de maneira tempestiva e oportuna, assim também deve
ser a atuação dos profissionais bancários, comunicando toda e qualquer situação aparentemente
suspeita, assumindo uma postura de verdadeiros auditores, afim de auxiliar no combate aos
crimes contra a ordem financeira.
1.2.2 Os agentes financeiros
Os perfis dos agentes financeiros atualmente ativos no mercado podem ser distintos,
cada instituição utiliza um método diferente de recrutamento desses profissionais, geralmente
os bancos particulares e as cooperativas realizam processos seletivos onde os candidatos devem
apresentar algumas competências básicas como ter mais de 18 anos e ser graduado ou
graduando nos ramos de em Ciências Contábeis, Administração, Economia, Marketing e em
alguns casos, em Direito. Já nos bancos públicos o processo seletivo se da através de concurso
público, onde as competências necessárias aos candidatos é ter mais de 18 anos e ensino médio
completo, dispensando a obrigatoriedade da graduação.
Cada profissional contratado recebe a formação necessária para desenvolvimento de sua
função, incluindo a explanação dos normativos internos e externos a serem seguidos.
As instituições financeiras têm um papel importantíssimo no combate aos crimes de
lavagem de dinheiro, pois é uma das principais alternativas para a colocação e a ocultação do
dinheiro ilícito, e é por essa razão que investem cada vez mais em treinamentos, principalmente
para os agentes nas funções de caixa, para que estes consigam identificar qualquer indício de
movimentação suspeita.
Em 2012 Bacen emite a carta circular nº 3.542 que divulga relação de operações e
situações que podem configurar indícios de ocorrência dos crimes previstos na Lei nº 9.613, de
3 de março de 1998, passíveis de comunicação ao COAF.
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O artigo 1 da Carta Circular nº 3.542 descreve situações considerando os valores, a
frequência, as formas de realização, os instrumentos utilizados ou a falta de fundamento
econômico ou legal, que podem configurar indícios de ocorrência dos crimes previstos na Lei
nº 9.613, e são passíveis de comunicação ao COAF como a realização de saques, depósitos,
provisionamento de saque ou transferências cujos valores sejam incompatíveis com o perfil
financeiro cadastrado.
1.2.3 Teoria da Cegueira Deliberada
A Teoria da Cegueira Deliberada, de acordo com Magalhães, (2014):
Consiste em construção jurisprudencial assemelhada à formulação do dolo eventual e
por meio da qual se afigura possível o enquadramento, por lavagem de dinheiro,
daquele que, mesmo ciente da elevada probabilidade da procedência ilícita dos
recursos, assume o risco de produzir o resultado ao agir, ainda assim, de modo
indiferente a esse conhecimento.
Cabral, (2012), afirma que “a Teoria da Cegueira Deliberada busca punir o agente que
se coloca, intencionalmente, em estado de desconhecimento ou ignorância, para não conhecer
detalhadamente as circunstâncias fáticas de uma situação suspeita”.
Nascimento (2010), apud Cabral (2012) sustenta que:
Para a teoria da cegueira deliberada o dolo aceito é o eventual. Como o agente procura
evitar o conhecimento da origem ilícita dos valores que estão envolvidos na transação
comercial, estaria ele incorrendo no dolo eventual, onde prevê o resultado lesivo de
sua conduta, mas não se importa com este resultado.
Dentro de uma instituição bancária os funcionários devem seguir diariamente as
recomendação e exigências expedidas pelo Bacen e Coaf, no que tange ao tema de LD o não
cumprimento destas recomendações podem se transfigurar em alguns casos como uma
aquiescência ao risco, uma vez que este funcionário deixa de impedir ou ao menos de colocar
obstáculos diante da atividade.
Devido a alteração na legislação vigente sobre LD, permite-se a aplicação do dolo
eventual aos sujeitos que deixam de se informar e assumem o risco de praticar o delito,
entretanto cada caso deve ser analisado individualmente (ROLLEMBERG e CALLEGARI,
2015).
O indivíduo que propositalmente se coloca em situação de cegueira diante de um fato,
na qual tinha conhecimento suficiente para identificar eventual suspeita de que poderia se tratar
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de uma ação contrária à legalidade, pode ser considerado tão culpado quanto aquele que
diretamente comanda ou realiza a ação.
2. Metodologia
Para o cumprimento do objetivo deste trabalho a metodologia aplicada consiste na
comparação, que segundo Alvarenga (2003, p.20) “é o processo que leva a realização das
experiências sob as mesmas condições e, especialmente, com a aplicação das mesmas causas a
objetos distintos, visando à obtenção da mesma relação causal das experiências anteriores. Esta
trata-se de uma pesquisa descritiva, os procedimentos utilizados para sua realização foram a
abordagem direta através de pesquisa de campo.
Inicialmente o trabalho se desenvolveu através de embasamento teórico, onde foram
utilizados como suporte livros, artigos científicos e pesquisas na internet em sites que se
relacionem com o tema, na sequencia foi aplicada uma pesquisa documental, de campo.
A pesquisa de campo foi realizada em instituições financeiras do interior paulista,
posteriormente foi feita a análise dos resultados obtidos para fins meramente acadêmicos.
Com este método, o objetivo pretendido foi verificar se os agentes financeiros estão
devidamente preparados para atuarem no combate ao crime de lavagem de dinheiro.
O estudo de campo consistiu na aplicação de dois questionários, o primeiro voltado para
os agentes em cargos de chefia como gerentes e supervisores de atendimento e o segundo
voltado para os agentes nas funções de caixa, supervisor de caixa e tesoureiros, via de regra são
estes que lidam diretamente os numerários em espécie e com possíveis envolvidos direta ou
indiretamente com o crime. As identidades dos entrevistados foram resguardadas, assim como
o nome das instituições participantes a fim de trazer mais conforto para os participantes e
garantir a segurança e sigilo das informações, direcionando a atenção para o propósito do
trabalho.
O questionário voltado para gerentes e afins foi composto por cinco perguntas com uma
média de quatro alternativas de resposta para cada questão, já questionário voltado para caixas
e afins foi composto de dez perguntas de múltipla escolha, com uma média de quatro
alternativas de resposta para cada questão, as perguntas contemplaram assuntos do dia a dia de
trabalho com o objetivo de identificar se os funcionários presenciam, ou já presenciaram
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situação com indícios de lavagem de dinheiro, qual foi sua postura diante desta situação, e ainda
se estes estão preparados para auxiliar no combate ao crime.
A amostra utilizada para a pesquisa esta disposta na tabela abaixo:
Tabela 2 - Amostragem
Amostra utilizada na pesquisa
Agências Convidadas Agências Participantes
9 7
Distribuição dos profissionais participantes
Gerentes e congêneres Caixas, tesoureiros e afins
19 14
2.1 Análise Geral dos resultados da pesquisa
O objetivo pretendido com a realização da pesquisa utilizando dois modelos de
questionários foi verificar através de confrontamento das respostas se toda a equipe dentro de
uma agência bancária está alinhada ao que diz respeito à postura a ser adotada frente a uma
situação de indício do crime de lavagem de dinheiro.
As respostas obtidas de modo geral foram satisfatórias, foi possível observar que, na
maioria dos casos, há compatibilidade nos resultados de ambos os questionários.
Entretanto nem todos os respondentes tiveram respostas satisfatórias, mesmo tendo
afirmado conhecer sobre o tema e ter realizado cursos de prevenção e combate ao crime de
lavagem de dinheiro, conforme oriente o COAF.
A teoria da cegueira deliberada refere-se ao agente que não está diretamente ligado ao
crime, mas assume os riscos que suas ações, ou a omissão de suas ações podem causar, diante
disso cabe maior atenção aos questionários que não atenderam às expectativas, pois de acordo
com suas respostas possuem conhecimento sore qual a maneira correta de agir, e mesmo assim
não estão fazendo o que é recomendável.
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É importante ressaltar que diante das respostas obtidas os investimentos realizados pelas
instituições financeiras em cursos de prevenção e combate ao crime de lavagem de dinheiro via
canal presencial foram recompensados, isso pode ser observado na oitava questão do
questionário B, onde os entrevistados que informaram que só comunicam seus supervisores as
situações em que o depósito é igual ou maior que R$10.000,00 realizaram cursos somente pelo
canal eletrônico, enquanto todos os entrevistados que informaram terem realizado curso
presencial sobre o tema, tiverem respostas satisfatórias ao logo do questionário.
Considerações Finais
Nesta seção serão apresentadas as conclusões obtidas através da realização da pesquisa,
além de sugestões para pesquisas e trabalhos futuros para que possam denotar os resultados e
os impactos do crime de lavagem de dinheiro.
O trabalho abordou a importância do preparo dos profissionais da área financeira,
especificamente os que atuam em redes de agências bancárias, quando o assunto é lavagem de
dinheiro, partindo do princípio que estes estão na linha de frente no combate a este crime, pois
são as portas de entrada do dinheiro lavado para a economia, de modo que o despreparo desses
profissionais contribui para a concretização das ações dos criminosos.
Em resposta á pergunta de pesquisa: “Qual a postura adotada pelos agentes financeiros,
frente aos crimes de lavagem de dinheiro? ” Foi possível concluir que na maioria dos casos as
respostas representaram estar alinhadas ao que orienta o COAF, entretanto algumas respostas
destoaram deste perfil e merecem mais atenção. Houve respondentes que afirmaram estar no
ramo bancário há mais de quinze anos e nunca ter se deparado com nenhuma situação suspeita,
diante disto levanto a seguinte pergunta: Será que todos os funcionários sabem identificar uma
situação suspeita de indícios de crime de lavagem de dinheiro?
Alguns entrevistados não souberam identificar todos os possíveis agentes envolvidos
em crimes de lavagem de dinheiro, excluindo deste rol os bicheiros e agiotas, que são
personagens comuns e facilmente encontrados em cidades pequenas, outros não demonstraram
ter a postura correta frente aos crimes de lavagem de dinheiro, informando fazer somente aquilo
que é obrigado e não o que é recomendado, todos os entrevistados informaram ter algum grau
de conhecimento sobre o assunto, e afirmaram terem realizado cursos e/ou treinamentos sobre
a prevenção ao crime de lavagem de dinheiro, sendo assim estes casos tendem a uma provável
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aderência à teoria da cegueira deliberada, pois os profissionais tem o conhecimento sobre que
é o correto, mas se prostram de maneira indiferente a este conhecimento.
Durante o desenvolvimento do trabalho o cenário evidenciava o crime de lavagem de
dinheiro devido a tantos escândalos políticos e o recente caso de lavagem de dinheiro
envolvendo algumas agências bancárias do setor público em cidades do interior do estado, a
maior limitação encontrada foi que alguns agentes financeiros não se sentiram confortáveis em
participar da pesquisa, apresentando forte resistência e em alguns casos recusando-se a
participar, mesmo sabendo que suas identidades seriam preservadas.
De modo geral o objetivo do trabalho foi alcançado, pois foi possível dissertar sobre a
complexidade dos crimes de lavagem de dinheiro, como ele ocorre, e quais os mecanismos
utilizados para a sua prevenção, discorrer sobre a teoria da cegueira deliberada e como ela pode
ser aplicada neste tipo de crime, além de analisar e comparar a postura dos agentes financeiros
frente ao fenômeno de lavagem de dinheiro.
A lavagem de dinheiro é um problema de caráter mundial, por essa razão requer esforços
adicionais para o seu combate, além dos agentes financeiros, os contadores também possui um
papel importante nesta luta, pois, segundo Spier (2016), “ele está em contato com uma
variedade de clientes e pode inclusive deparar-se com práticas criminosas como a lavagem de
dinheiro”, sendo assim, seguindo os princípios do Código de Ética profissional, e o seu dever
como cidadão, todos os contabilistas devem contribuir para o combate a este e a tantos outros
crimes.
Referências
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Pereira. Apontamentos de Metodologia para a Ciência e Técnicas de Redação Científica:
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