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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL
KIMBERLY SALOMÃO DA SILVA
A REPRESENTAÇÃO DO HERÓI POR MEIO DO JORNALISMO LITERÁRIO: AS
OLIMPÍADAS 2016 NA SÉRIE PERFIS DO JORNAL NACIONAL
CAXIAS DO SUL
2017
2
KIMBERLY SALOMÃO DA SILVA
A REPRESENTAÇÃO DO HERÓI POR MEIO DO JORNALISMO LITERÁRIO: AS
OLIMPÍADAS 2016 NA SÉRIE PERFIS DO JORNAL NACIONAL
CAXIAS DO SUL
2017
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para a aprovação na disciplina Monografia II. Orientadora: Profª Ma. Adriana dos Santos Schleder
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KIMBERLY SALOMÃO DA SILVA
A REPRESENTAÇÃO DO HERÓI POR MEIO DO JORNALISMO LITERÁRIO: AS
OLIMPÍADAS 2016 NA SÉRIE PERFIS DO JORNAL NACIONAL
Banca Examinadora
______________________________________________
Profª. Ma. Adriana dos Santos Schleder Universidade de Caxias do Sul ______________________________________________ Prof. Me. Jacob Raul Hoffmann Universidade de Caxias do Sul ______________________________________________ Profª. Me. Marliva Vanti Gonçalves Universidade de Caxias do Sul
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para a aprovação na disciplina Monografia II, do curso de Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo da Universidade de Caxias do Sul.
Aprovado em: __/__/____
4
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais, Raquel Spuldaro e Evandro Mota, que sempre me
apoiaram nas minhas escolhas e são meus exemplos de força de vontade e
perseverança. E também por me incentivar a ter minhas próprias decisões durante a
minha graduação.
Aos meus amigos que estiveram presentes durante a realização da minha
monografia, em especial a Marina Mondadori, Willber Bossle, Germano Fiorio,
Natan Dambros, Gisele Bergamini e Camila Magnaguagno por todo o apoio e
incentivo para fazer o meu melhor. Vocês são exemplos de uma grande amizade.
Ao meu parceiro, João Carlos, por me apoiar com suas palavras de carinho
nos momentos mais difíceis desse processo, onde eu estava esgotada. E também
todo o incentivo para continuar. Esses momentos foram não só importantes, mas
cruciais na produção da monografia.
A minha orientadora, professora Adriana dos Santos Schleder, por me
incentivar a fazer o meu melhor durante do processo da monografia. Por falar o que
estava errado e sempre me explicar a melhor maneira de chegar ao melhor
resultado durante um ano de processo. Além de todo convívio, aprendizado e bons
momentos.
E agradeço também ao coordenador do curso de Jornalismo, Marcell
Bocchese e a todos os professores do curso pelo apoio, aprendizado e convívio
durante a graduação.
5
“Jornalismo e literatura são irmãos gêmeos que nasceram muito diferentes e que hoje são mais parecidos do que nunca”. Zuenir Ventura
6
RESUMO
Esta monografia tem por objetivo analisar se a série de reportagens Perfis, do Jornal
Nacional, sobre os atletas olímpicos de 2016, ajudou a reforçar a representação do
herói por meio do Jornalismo Literário. A pesquisa foi realizada a partir de revisão
bibliográfica a respeito dos gêneros e formatos de programas de televisão, do
jornalismo esportivo, do processo de produção de conteúdo para a televisão, do
jornalismo literário e das representações sociais. O corpus do estudo foi analisado
tendo como referência o método de Análise do Discurso. Como técnicas, foram
utilizadas, além da revisão bibliográfica, a entrevista e a observação. Com a
realização da pesquisa foi possível perceber que o jornalismo esportivo se utiliza da
narrativa literária e de representações sociais para envolver seus espectadores nas
histórias contadas nas reportagens.
Palavras-chave: Televisão. Jornal Nacional. Série Perfis. Grande reportagem.
Jornalismo Esportivo. Jornalismo Literário.
7
ABSTRACT
This objective of this monograph is to analyze if the series Perfis, of Jornal Nacional, about the 2016 Olympics athletes help to strengthen the hero representation through literary journalism. The research was conducted from the bibliographic review about genres and formats of TV programs, sports journalism, production process of content made for television, literary journalism and social representations. The core of the study was analysed by referencing the discourse analysis method. Besides bibliographic review, the interview and observation techniques were also adopted. With this research it was possible to realize that the sports journalism uses literary narrative and social representations to involve their viewers in the stories told in the series.
Keywords: Television. Jornal Nacional. Series. Perfis. Great story. Sports Journalism. Literary Journalism.
8
LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Categoria, gêneros e formatos...............................................................18
Figura 2 – Imagem aérea de Arthur Zanetti...........................................................121
Figura 3 – Pedro Bassan durante a sua passagem...............................................122
Figura 4 – Repórter posicionado na canoa durante a passagem..........................123
Figura 5 – Recurso Gráfico....................................................................................125
Figura 6 – Arthur Zanetti revendo seus treinos......................................................126
Figura 7 – Imagens de arquivo das Olimpíadas de Atenas 2004..........................129
Figura 8 – Arthur Zanetti nas Olimpíadas de Londres...........................................132
Figura 9 – Pintura de Arthur Zanetti.......................................................................137
Figura 10 – Pintura de Yane Marques...................................................................137
9
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – VT 1 Perfil Arthur Zanetti......................................................................114
Quadro 2 – VT 2 Perfil Yane Marques.....................................................................116
Quadro 3 – VT 3 Perfil Sarah Menezes...................................................................117
Quadro 4 – VT 4 Perfil Fabiana Claudino................................................................118
Quadro 5 – VT 5 Perfil Isaquias Queiroz.................................................................119
Quadro 6 – VT 6 Perfil Serginho..............................................................................120
10
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................13
2. GÊNEROS E FORMATOS DE PROGRAMAS DE TELEVISÃO.....................16
2.1 CONCEITO.....................................................................................................16
2.2 CATEGORIA ENTRETENIMENTO................................................................19
2.3 CATEGORIA INFORMAÇÃO.........................................................................20
2.4 CATEGORIA OUTROS..................................................................................22
2.5 HIBRIDISMO..................................................................................................22
3. JORNALISMO ESPORTIVO............................................................................25
3.1 CONCEITO.....................................................................................................25
3.2 O ESPORTE E OS VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO....................................26
3.2.1 O esporte no Jornalismo Impresso..........................................................26
3.2.2 O esporte no Rádio Brasileiro..................................................................29
3.2.3 O esporte na TV aberta e por assinatura.................................................31
3.2.4 O esporte na Internet.................................................................................35
3.3 ESPORTE NÃO É SÓ FUTEBOL...................................................................36
3.4 OLIMPÍADAS COMO EVENTO......................................................................37
3.4.1 Cobertura Esportiva..................................................................................40
3.4.2 Cobertura Olímpica do Grupo Globo.......................................................41
4. PRODUÇÃO DE CONTEÚDO NO TELEJORNALISMO.................................43
4.1 PAUTA............................................................................................................43
4.2 REPORTAGEM...............................................................................................45
4.2.1 Entrevista....................................................................................................46
4.2.2 Texto............................................................................................................47
4.2.3 Gravação.....................................................................................................49
4.3 PÓS-PRODUÇÃO...........................................................................................49
4.3.1 Edição..........................................................................................................50
4.4 GRANDE REPORTAGEM...............................................................................51
4.5 ANCORAGEM.................................................................................................53
4.6 EXIBIÇÃO........................................................................................................54
11
5.JORNALISMO LITERÁRIO..............................................................................55
5.1 BREVE HISTÓRICO.......................................................................................55
5.2 CONCEITO.....................................................................................................57
5.3 CARACTERÍSTICAS......................................................................................58
5.4 A LINGUAGEM E A NARRATIVA LITERÁRIA...............................................60
5.5 A LINGUAGEM NA REPORTAGEM PERFIL.................................................61
5.6 EMOÇÃO NA NARRATIVA JORNALÍSTICA E LITERÁRIA..........................63
5.7 REPRESENTAÇÃO SOCIAL NA NARRATIVA JORNALÍSTICA...................64
5.7.1 Jornada do Herói.......................................................................................66
6. METODOLOGIA..............................................................................................69
6.1 MÉTODO........................................................................................................69
6.2 TÉCNICAS.....................................................................................................73
6.2.1 Revisão Bibliográfica................................................................................73
6.2.2 Entrevista...................................................................................................76
6.2.2.1 Perfil Pedro Bassan..................................................................................78
6.2.3 Observação.................................................................................................79
6.2.3.1 Perfil Jornal Nacional................................................................................81
6.2.3.2 Corpus da Pesquisa.................................................................................82
6.2.2.3 Decupagem..............................................................................................82
7. A REPRESENTAÇÃO DO HEROI NAS REPORTAGENS ESPORTIVAS DA
SÉRIE PERFIS...................................................................................................114
7.1 QUADROS PARA ANÁLISE.........................................................................114
7.2 GRANDE REPORTAGEM............................................................................121
7.3 JORNALISMO ESPORTIVO........................................................................126
7.4 JORNALISMO LITERÁRIO..........................................................................130
7.5 REPRESENTAÇÃO SOCIAL.......................................................................136
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................143
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................147
12
ANEXO................................................................................................................153
APÊNDICE..........................................................................................................154
13
1. INTRODUÇÃO
A olimpíada é o maior evento esportivo do mundo, que ocorre apenas de
quatro em quatro anos, e teve início na cidade de Olímpia na Grécia antiga. As
primeiras modalidades praticadas eram o arremesso de dardo, salto em altura,
lançamento de disco, corridas e lutas. Conforme o site1 oficial das olimpíadas, em
2016, foram 42 modalidades olímpicas, em 306 provas disputadas entre 207
países membros do Comitê Olímpico Internacional (COI) e mais de 11 mil atletas.
Além disso, o esporte faz parte da cultura brasileira. O torcedor é estimulado a
acompanhar os jogos, a assistir às competições e também a despertar o seu lado
patriota pelo país.
O projeto Perfis teve início na Copa do Mundo e contou as histórias dos
jogadores da seleção brasileira. Com a realização dos jogos Olímpicos, o projeto
foi retomado e foram contadas 16 histórias sobre os atletas. Foram depoimentos
de superação, empecilhos, dificuldades e conquistas nos esportes. Dessa forma,
a série de reportagens Perfis, virou objeto de estudo desta monografia, sobre os
atletas olímpicos 2016. A série foi exibida no Jornal Nacional em julho de 2016.
Com produção do repórter Pedro Bassan, ela conta com a história de 16 atletas.
Entretanto, para a análise no projeto de pesquisa, foram escolhidas seis grandes
reportagens sobre os seguintes atletas: Arthur Zanetti, Yane Marques, Sara
Menezes, Fabiana Claudino, Isaquias Queiroz e Serginho. A escolha dos atletas
levou em consideração esportes mais populares entre o público e outros que não
possuem grande popularidade. A partir disso, o tema estabelecido para esta
monografia é: a representação do herói por meio do jornalismo literário: as
Olimpíadas 2016 na série Perfis do Jornal Nacional.
A definição do tema começou a partir do anúncio da realização das
Olimpíadas pela primeira vez no Brasil, em 2016. O fato fez com que várias
notícias sobre o evento, desde a construção do parque olímpico, até as
preparações dos atletas fossem veiculadas em várias redes de televisão. Além
disso, a vontade de trabalhar com produção audiovisual me incentivou a estudar
como é realizado esse processo. A monografia é a união de dois assuntos que eu
aprecio muito: olimpíadas e televisão. Conforme Vera Íris Paternostro, na obra O
1 Rio 2016. Disponível em: < www.olympic.org/rio-2016 > Acesso em: 22 jun. 2017.
14
Texto na TV (1999), em telejornalismo, como em outros formatos de jornalismo,
não existem fórmulas. Dessa forma, apenas quem se dedicar ao trabalho na
televisão vai descobrir sozinho os caminhos e as soluções para o exercício do
jornalismo.
Neste sentido, desenvolveu-se a questão norteadora desta pesquisa: a
série Perfis, exibida no Jornal Nacional, se utiliza do jornalismo literário para
reforçar a representação do herói nas reportagens esportivas sobre os atletas
olímpicos de 2016? Para complementar a questão norteadora e o
desenvolvimento da pesquisa, foram elencadas três hipóteses: se o jornalismo
esportivo reforça a representação do herói nas suas reportagens; a grande
reportagem no jornalismo esportivo consegue se aproximar do público por meio
das histórias dos personagens e se a narrativa utilizada nas reportagens
esportivas envolve o espectador por meio do jornalismo literário.
Para responder esta questão, foram elaborados o objetivo geral e
específicos. Investigar se a série de reportagens Perfis, do Jornal Nacional, sobre
os atletas olímpicos de 2016, ajudou a reforçar a representação do herói por meio
do jornalismo literário é o objetivo geral. Entre os específicos estão conceituar os
gêneros de programas de televisão; definir o que é o jornalismo esportivo;
conhecer como é feita a produção de conteúdo de jornalismo esportivo;
caracterizar o jornalismo literário e como ele pode ser apresentado na grande
reportagem; conceituar e caracterizar a grande reportagem; pesquisar sobre
representação social; compreender a prática de produção por meio de entrevistas
com profissionais que elaboraram a série Perfis e analisar a série de reportagens
Perfis, por meio da decupagem.
A metodologia utilizada para o desenvolvimento da pesquisa foi a Análise
de Discurso. As técnicas utilizadas foram a revisão bibliográfica, a entrevista e a
observação, por meio da decupagem.
O estudo resultou em oito capítulos. No capítulo dois desta monografia,
Gêneros e formatos de programas de televisão, foram conceituados categorias,
gêneros e formatos com o objetivo de compreender em qual a categoria, o
gênero e o formato do Jornal Nacional, programa que exibiu a série Perfis, pode
se encaixar. Além disso, foi apresentado o conceito de hibridismo, visto que um
programa pode não se encaixar em apenas um gênero.
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O capítulo três, Jornalismo Esportivo, aborda o conceito do gênero e como
ele é apresentado no meio impresso, no rádio, na TV aberta e por assinatura e na
internet, e como o esporte é exibido na televisão. Foi relatado também, o esporte
em grandes eventos e a cobertura esportiva do Grupo Globo.
O quarto capítulo, Produção de conteúdo no telejornalismo, discorre sobre
o processo da criação de conteúdo para um telejornal, desde a elaboração da
pauta até exibição do material final. Além disso, como é feita essa produção no
jornalismo esportivo.
O quinto capítulo, Jornalismo Literário, é apresentado um breve histórico
sobre o gênero, assim como o seu conceito, características, a linguagem e a
narrativa literária. E, a literatura na reportagem perfil, a representação social e a
jornada do herói.
No capítulo seis, Metodologia, foi apresentado o método utilizado para o
desenvolvimento do projeto, Análise de Discurso, apontado o seu corpus, as
técnicas utilizadas, e a decupagem das seis reportagens analisadas.
O sétimo capítulo, A representação do herói nas reportagens esportivas da
série Perfis, está à interpretação dos dados da pesquisa, que integra a Análise de
Discurso, elaborada a partir da revisão bibliográfica e da observação dos
episódios da série. No último capítulo, encontram-se as considerações finais,
onde será respondida a questão norteadora e confirmada ou não as hipóteses da
pesquisa.
16
2. GÊNERO E FORMATOS DE PROGRAMAS DE TELEVISÃO
Para o desenvolvimento desta pesquisa monográfica é necessário
conhecer como o conteúdo e seus diferentes formatos são apresentados na
televisão (TV). Sendo assim, neste capítulo serão apresentados os conceitos e
definições de categorias, gêneros e formatos de programas de TV, direcionado
ao estudo da pesquisa.
2.1 CONCEITOS
O Brasil está entre os países que mais produz e comercializa programas
de televisão, no segmento do entretenimento. O autor José Carlos Aronchi de
Souza explica, na obra Gêneros e Formatos na Televisão Brasileira (2004), que
todos os tipos de programas procuram além de entreter, informar espectadores
ao redor do mundo. A produção brasileira na televisão, em alguns segmentos,
não visa apenas o mercado nacional, mas também o internacional. As produções
dependem do orçamento que é disponibilizado pela rede, mas, em algumas
situações, o corte orçamentário impede a realização de grandes produções.
Souza explica que (2004, p. 26) “qualquer processo de produção em larga escala
na televisão mundial, conforme os princípios industriais requer a organização das
várias etapas e, principalmente, pessoal competente e bem treinado”.
De acordo com Souza (2004), a capacitação e a mão de obra necessária
para a realização dessas produções, no Brasil, são oriundas dos cursos de
graduação. Os profissionais têm a capacidade de colocar no ar os programas de
televisão, visto que os artistas têm apenas uma formação eclética e
desempenham a função de informar.
Além da mão de obra para a produção, a televisão, desde a sua criação, é
sinônimo de tecnologia e inovação, independente da popularidade dos veículos
de comunicação. Ela inovou a indústria dos equipamentos de transmissão de
sinais de dados. Para compreender o desenvolvimento da televisão, Souza
(2006) salienta que é necessário estudar os gêneros e formatos de programas de
televisão.
17
A identificação dos recursos para produção de um gênero permite escolher tecnologia de áudio, os efeitos especiais no vídeo, o uso de equipamentos, enfim, as aplicações técnicas adequadas às várias produções, em canais diferentes. Com as informações sobre desenvolvimento histórico de cada gênero, com a abordagem conceitual e técnica dos recursos utilizados e também com os resultados alcançados no vídeo, chega-se a um perfil da produção em televisão, para compreender melhor o planejamento, a organização, a implantação e a criação de programas (SOUZA, 2004, p.30).
Além disso, Souza (2004) cita o manual de produção de programas da
British Broadcasting Corporation (BBC), emissora pública de rádio e televisão da
Grã-Bretanha. O manual explica que os programas devem entreter e informar. O
entretenimento tem como meta a audiência. Os programas de informação são
necessários em qualquer produção, para fazer com que a pessoa saiba mais
sobre assuntos que não sabia antes. Segundo Souza, independente da categoria
de programa da TV, ele deve sempre entreter, mas pode informar.
Também, de acordo com a autora Elizabeth Bastos Duarte, no artigo
Reflexões sobre gêneros e formatos televisivos, publicado no livro Televisão:
entre o mercado e a academia (2006), dizer que um programa é apenas
informativo ou entretenimento, não quer dizer nada. Dessa forma, “que programa
não traz informações? Que programa não tem como meta o entretenimento?
Nenhum subgênero dito informativo escapa à espetacularização [...].” (2006, p.
21).
A partir disso é possível definir cada conceito. Para explicar categoria,
Souza (2004) relembra que costumamos ordenar tudo que existe em grupos
diferentes. O princípio deste tipo de classificação é do filósofo grego, Aristóteles.
Dessa forma, “a separação dos programas de televisão em categorias atende a
necessidade de classificar gêneros correspondentes. Por isso, a categoria
abrange vários gêneros e é capaz de classificar um número bastante
diversificados de elementos” (SOUZA, 2004, p. 37).
Além de categoria, é viável definir gêneros. O autor Arlindo Machado, na
obra Televisão levada a sério (2014) cita o pensador russo Mikhail Bakthin. Para
Bakthin, “é o gênero que orienta todo o uso da linguagem no âmbito de um
determinado meio, pois é nele que se manifestam as tendências expressivas
mais estáveis e mais organizadas da evolução do meio” (BAKTHIN, 1987, apud
MACHADO, 2014, p. 68). Sendo assim, o gênero vai se renovando. Ao mesmo
tempo em que ele é novo, ele pode ser velho.
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Para explicar gêneros, Souza (2004) cita a definição do dicionário Aurélio:
“conjunto de espécies que apresentam certo número de caracteres comuns
convencionalmente estabelecidos. [...] Classe ou categoria de assunto ou de
técnica” (Aurélio Buarque de Holanda, apud SOUZA, 2004, p. 41). Souza ainda
apresenta os estudos do escritor e professor de cinema, Stuart M. Kaminsky
(1984). Ele fundamenta que gênero e categoria devem fazer parte da mesma
análise:
A própria palavra gênero significa simplesmente ordem. [...] No entanto, as questões básicas são: que categorias existem para se ordenar? Como chegaram aí? Quais são as relações entre as várias categorias? O que essas categorias significam? No livro A ordem das coisas, o filósofo Michel Foucault afirma que há diversas maneiras básicas de encarar a ordem e que precisamos estar conscientes dos métodos que escolhemos (KAMINSKY, 1984, apud SOUZA, 2004, p. 42).
E as definições de gêneros, entre os autores variam. De acordo com
Duarte (2006, p.20), “um gênero, é antes de tudo, uma estratégia de
comunicabilidade, e é como marca dessa comunicabilidade que se faz presente e
analisável no texto”.
Os programas de televisão possuem outra estrutura além do gênero e
categoria, o formato. Souza (2004) faz uma analogia com as diferenças entre as
espécies da biologia. O mesmo pode ser feito na televisão. Sendo assim, “em
televisão, vários formatos constituem um gênero de programa, e os gêneros
agrupados formam uma categoria [...]. Formato está sempre associado a um
gênero, assim como gênero está diretamente ligado a uma categoria.” (SOUZA,
2004, p. 45/46).
Figura 1 - Categorias, gêneros e formatos.
Fonte: SOUZA, 2004, p. 47
A partir das definições de categoria, gênero e formato será possível
apresentar suas classificações. Souza (2004) menciona as três categorias de
19
José Marques de Melo, que envolvem a maioria dos gêneros: entretenimento,
informativo e educativo. Uma quarta categoria, especiais, é classificada com
programas infantis, de religião, de minorias étnicas, agrícolas e outros. O autor
exibe a sua própria classificação de cinco categorias.
a) Entretenimento: auditório; colunismo social; culinário; desenho animado;
docudrama; esportivo; filme; game show; humorístico; infantil; interativo; musical;
novela; quiz show; reality show; revista; série; série brasileira; sitcom; talk show;
teledramaturgia; variedades; western;
b) Informação: debate; documentário; entrevista; telejornal;
c) Educação: educativo; instrutivo;
d) Publicidade: chamada; filme comercial; político; sorteio; telecompra;
e) Outros: especial; eventos; religioso.
A partir da classificação das categorias e gêneros, serão apresentados na
sequência os gêneros esportivos, entrevista, telejornal e evento, pertinentes ao
tema da pesquisa, dentro de suas respectivas categorias.
2.2 CATEGORIA ENTRETENIMENTO
O gênero esportivo faz parte da categoria entretenimento, mas também
pode ser fazer parte da categoria informação. Conforme Souza (2004), as redes
de televisão brasileira elaboram seus programas em cima da paixão do torcedor
pelo futebol, por isso, muitas vezes não tem muita variedade no conteúdo da
programação. O autor explica que na Rede Globo, programa como e Esporte
Espetacular, consegue abranger outras categorias de esporte, não apenas o
futebol. O principal diferencial entre um canal e outro é o tempo que eles
destinam a esse conteúdo.
Souza (2004) explica porque o gênero esportivo se encaixa também na
categoria informação. Segundo ele:
o principal diferencial entre uma rede e outra é o tempo que cada qual destina ao gênero.[...] Por causa da necessidade de profissionais do jornalismo que utilizam equipamentos para gravação externa e também de infraestrutura de estúdio em horários descontínuos, os programas do gênero esportivo inserem-se na estrutura dos departamentos do telejornalismo das redes (SOUZA, 2004, p. 106).
20
Dessa forma, os profissionais que fazem parte da programação esportiva
de uma rede de televisão, como narradores e comentaristas, desenvolvem suas
próprias técnicas para deixar a sua marca pessoal. Além disso, conforme
Heródoto Barbeiro e Patrícia Rangel na obra Manual do Jornalismo Esportivo
(2006), trabalhar com o jornalismo esportivo tem as suas características, pois ele
acaba se confundindo com o entretenimento.
Isto, por seu lado, propicia o aparecimento de alguns poucos “coroados” e o envolvimento com outras atividades incompatíveis com a prática do jornalismo, como o agenciamento de publicidade, marketing e política privada dos clubes, federações, confederações e empresas. (BARBEIRO; RANGEL, 2006, p. 13).
As negociações de transmissão de campeonatos e eventos esportivos são
pontos importantes no gênero esportivo. Os horários de exibição são escolhidos
estrategicamente, atendendo aos interesses da empresa. De acordo com Souza
(2004, p. 107), “na maioria dos eventos esportivos, as negociações são feitas
entre as emissoras e as empresas de marketing esportivo detentoras dos direitos
de transmissão ou promotoras do evento”. Segundo o autor, essas negociações
mostram a força dos veículos, ainda mais a relação com os patrocinadores.
Sendo assim, o esporte é um gênero que gera lucro para uma rede de televisão.
Os programas ocupam até três horas da programação, e, apesar disso, os custos
de uma produção são baixos quando comparados com uma novela.
Porque dispensam cenários, a equipe técnica pode ser reduzida e os salários da equipe de produção e jornalismo são fixos, independentemente do número de programas durante o mês. Não é à toa que muitas das disputas pela compra de eventos esportivos, como a Copa do Mundo de futebol ou as Olimpíadas, vão parar na justiça (SOUZA, 2004, p. 107).
O formato é próximo do gênero telejornal, pois, no programa, existem
apresentadores, entrevistas realizadas em estúdio e na rua, sempre com os
padrões dos telejornais da emissora.
2.3 CATEGORIA INFORMAÇÃO
O gênero telejornal faz parte da categoria Informação. Para Souza (2004,
p. 149), “os programas da categoria informação poderiam estar, sob outra ótica,
reunidos num único gênero: o telejornalismo”. Conforme Machado (2014, p. 104),
o telejornal possui uma estrutura simples e o principal objetivo, e a consequência
21
disso, é passar informações sobre fatos. Os apresentadores se revezam e
praticam atos de fala, e “o telejornal é, antes de mais nada, o lugar onde se dão
atos de enunciação a respeito dos eventos”.
De acordo com Souza (2004), o formato primário do gênero do telejornal
era o noticiário com o apresentador lendo os textos para a câmera. A fórmula
básica ainda se mantém: dois apresentadores leem os textos, chamam as
matérias que foram gravadas ou entram ao vivo. Para o autor, o telejornalismo
passa credibilidade para o público e um tom de atualidade, por esse motivo ele
ainda é apresentado ao vivo.
Conforme Souza (2004), o telejornalismo buscou outros formatos além do
telejornal. Segundo o autor, o telejornal se mantém na grade de programação por
suas variedades, como debates e entrevistas, documentários e reportagens
especiais.
O gênero entrevista também faz parte da categoria informação e está
ligado a programas jornalísticos das emissoras de televisão. Para Souza (2004,
p. 147), “os programas jornalísticos da emissora, procuram pessoas das mais
diversas áreas para ficar frente a frente com o apresentador, na maioria
jornalistas de renome. [...] O entrevistado é o foco e não há show comandado
pelo jornalista apresentador”. Os temas das entrevistas variam, podem ser sobre
a vida do entrevistado ou sobre algum tema que ele domine. No gênero
entrevista elas são gravadas, em estúdio ou locação externa. Para auxiliar esse
tipo de produção, são exibidas reportagens, ao vivo ou gravadas, que podem
complementar na abordagem do assunto.
De acordo com Souza (2004), para diferenciar o gênero entrevista do talk
show, é necessário fazer mudanças no cenário e no posicionamento do
apresentador. No talk show, o apresentador caminha no estúdio e anda pelo
cenário, tem plateia e apresentação musical. A movimentação é diferente na
entrevista, onde o convidado e o entrevistador permanecem sentados durante
todo o programa, dessa forma a entrevista tem duração mais longa que uma de
talk show.
22
2.4 CATEGORIA OUTROS
As fórmulas de produção, a criatividade dos programas e dos diretores são
múltiplas. Para Souza (2004, p. 162), a multiplicidade de fórmulas “faz alguns
programas de TV não terem um rótulo que define seu gênero ou a sua origem.
Alguns são experiências únicas, que poderiam ser classificadas de “especiais”,
ou aproximam-se de certos gêneros, mas não são classificados pelas redes”.
O gênero evento, segundo Souza (2004), também pode estar ligado à
categoria informação, como em coberturas jornalísticas de eleições, por exemplo;
entretenimento, como em espetáculos artísticos; e educação, em congressos e
feiras. O formato para esse tipo de gênero é obrigatoriamente ao vivo, podendo
ser transmitido ao vivo ou gravado ao vivo. Além disso, especificamente para
eventos esportivos, a narração em off, o texto que será gravado para ilustrar as
imagens, é essencial para esclarecer o público do andamento da competição.
Dessa forma, qualquer evento pode se tornar um programa especial, passando
por uma reedição, em um formato compactado.
2.5 HIBRIDISMO
O hibridismo faz parte dos gêneros e programas de televisão. A autora
Miriam De Souza Rossini faz a sua própria definição de híbrido, no capítulo
Convergência tecnológica e os novos formatos híbridos de produtos audiovisuais,
publicado na obra Comunicação Audiovisual Gêneros e Formatos (2007).
Segundo ela, os mesmos meios possuem formas diferentes de recepção, mas
compartilham também das mesmas tecnologias e gestão de produção. A partir
disso,
desse hibridismo tecnológico ocasionado pela convergência tecnológica, estão surgindo os produtos híbridos, espécies de servidores de dois amos. No fundo, a aproximação entre eles sempre esteve no horizonte. O que hoje se vivencia é uma mudança nos próprios processos produtivos, que passa a marcar também aquilo que é produzido. [...] Ao traduzir as diferentes tradições audiovisuais, cada um dos meios se reinventa e cria as bases para a sua própria manutenção e existência (ROSSINI, 2007, p. 180).
Além disso, para as autoras Ana Carolina Rocha Pessoa Temer e Bruna
Vanessa Dantas Ribeiro, o hibridismo é a marca da televisão moderna. No artigo
23
Hibridismo no Telejornalismo Brasileiro - A Liga e o Espetáculo Pseudo
Jornalístico (2015), as autoras explicam que “em meio há um ritmo frenético de
produção e consumo, as fronteiras entre categorias se apagam, gêneros se
misturam, formatos se confundem para formar novos formatos híbridos que se
estabelecem em um espaço entre gêneros e contribuem com a
espetacularização” (p. 03).
Em Quando a informação (con)funde-se com o entretenimento: a
hibridização de gêneros no telejornal (2015), o autor Vitor Belém, cita Guilherme
Jorge de Rezende para explicar que, nos meios televisivos, o hibridismo se
apropria de dois ou mais gêneros. Ele apresenta como exemplo a aproximação
da informação e o entretenimento. Sendo assim, “diante de um perfil de público
cada vez mais ativo e disperso em meio a múltiplos conteúdos/plataformas, um
conteúdo mais atrativo, capaz de entreter e, ao mesmo tempo, informar tem se
tornado estratégico para atraí-lo” (REZENDE, 2013, apud BELÉM, 2015)
Já Machado (2014, p. 67) explica que a definição de gênero está sofrendo
questionamentos por causa do hibridismo, “de parte inicialmente da crítica
estruturalista e posteriormente de pensamento dito pós-moderno”. Além disso, de
acordo com Machado, os gêneros estão sempre em transformação. As
variedades de gêneros são tantas que se misturam.
De fato, como colocar no mesmo pé de igualdade eventos audiovisuais tão distintos entre si, como uma narrativa de ficção seriada, a transmissão ao vivo de uma partida esportiva, o pronunciamento oficial de um presidente, um videoclipe, um debate político, uma aula de culinária, uma vinheta com motivos abstratos, uma missa ou um documentário sobre o fundo do mar? Os gêneros são categorias fundamentalmente mutáveis e heterogêneas (MACHADO, 2014, p. 70/71).
Duarte (2006) explica que os especialistas em televisão têm gasto tempo a
respeito das verdadeiras funções de gêneros, subgêneros e formatos para a TV.
Dessa forma,
os processos comunicativos televisivos se materializam em textos - os produtos televisuais, cuja característica principal é a complexidade e a hibridação: não só o seu conteúdo expressa-se simultaneamente, [...] como a gramática das formas televisuais está em processo de permanente apropriação em relação a outras mídias. [...] A discussão fica tanto mais acalorada quanto mais híbridos e complexos se tornam os produtos televisuais, tão mais relevantes quanto mais esses programas se mundializam, perdendo seu caráter de produção localizada (DUARTE, 2006, p. 20/21).
24
Após as definições de categorias, gêneros e formatos e suas
classificações, serão apresentadas no próximo capítulo as definições de
jornalismo esportivo e como ele é apresentado.
25
3. JORNALISMO ESPORTIVO
Para compreender o jornalismo esportivo e suas características nos dias de
hoje, 2017, este capítulo fará um resgate histórico de como a especialidade
surgiu, o que é, e como se apresenta, seja no jornalismo impresso, no rádio, na
televisão aberta, por assinatura e internet. Além disso, serão abordados outros
aspectos: o motivo do foco ser maior no futebol, a produção de conteúdo, as
olimpíadas como evento, a cobertura jornalística realizada nos jogos de 2016.
3.1 CONCEITO
O esporte faz parte do jornalismo esportivo, onde o repórter noticia os
acontecimentos de várias modalidades, jogos e atletas. Conforme Pascoal Luiz
Tambucci, na obra Jornalismo & Esporte (1997), é a comparação dos resultados
entre os participantes em competições, que são adquiridos em consequência de
critérios definidos, como normas e regulamentos. Os resultados dependem
também do desempenho, nível de habilidade e tempo de preparação física dos
atletas. O autor explica que é muito difícil o esporte passar despercebido, pois ele
está bastante presente nas mídias, ocupando espaço nos veículos de
comunicação. Mas o futebol é mais explorado que outras modalidades. Segundo
o autor, o futebol exerce forte atração junto à população. Dessa forma,
o esporte é considerado um fenômeno sócio-cultural, de dimensão social incontestável e, através dos meios de comunicação, pode-se constatar que o esporte tem ocupado, mundialmente, uma posição bastante destacada. Os canais internacionais, especialmente os que se dedicam exclusivamente ao esporte, mostram que a área está organizada e, deste modo, tem merecido um enfoque informativo altamente especializado (TAMBUCCI, 1997, p. 11).
O jornalismo esportivo é encarregado de divulgar tudo o que acontece
nesse meio, como competições e modalidades, visto que o esporte é uma
ferramenta de inclusão social. Na obra 1000 Perguntas - Jornalismo (2005),
Felipe Pena esclarece que:
o que vai desde o conceito de esporte como ferramenta de inclusão social até os noticiários especializados em modalidades esportivas de alto rendimento, onde estão condicionados aspectos como entretenimento e profissionalismo. Todo assunto de interesse da sociedade que envolva esporte é objeto do jornalismo esportivo (PENA, 2005, p. 81).
26
Dessa forma, Pena (2005) explica o que diferencia o jornalismo esportivo
de outras editorias é como a paixão no esporte é despertada em seu público. O
profissional que escreve para jornal, rádio ou internet deve ter consciência que
está lidando com a paixão do leitor/espectador. A paixão é o principal motivo que
o esporte consegue atingir várias classes sociais.
3.2 O ESPORTE E OS VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO
O jornalismo esportivo se apresenta em várias plataformas e de formas
diferentes. No jornalismo impresso; no rádio devido às narrações e transmissões
de jogos; na televisão aberta e por assinatura; e na internet, onde a agilidade faz
toda diferença nas postagens diárias.
3.2.1 O esporte no Jornalismo Impresso
O meio impresso é um dos mais antigos de veiculação de notícias. Na
obra Jornalismo Esportivo, Paulo Vinicius Coelho (2004) explica que no final da
década de 1960 foi lançada uma revista totalmente voltada para o esporte, a
Placar. Mas as informações nos veículos de jornalismo impresso começaram
mais cedo. Em 1910, existiam páginas sobre esporte no jornal Fanfulha. Coelho
relata que o Fanfulha “não se tratava de um periódico voltado para as elites, não
formava opinião, mas atingia um público cada vez mais numeroso na São Paulo
da época: os italianos. Um aviso não muito pretensioso de uma das edições
chamava-os a fundar um clube de futebol” (COELHO, 2004, p.8).
A Fanfulha é a fonte de consulta de arquivos antigos sobre o Palmeiras e
as primeiras décadas do futebol brasileiro. De acordo com Coelho (2004), na
época, o jornal cedia espaço de páginas inteiras sobre futebol, esporte que não
era tão popular. Além disso, apresentava a ficha de todos os jogos de clube
italianos. Em 1931 surgiu no Rio de Janeiro o Jornal dos Sports. Segundo
Coelho, a rigor, o primeiro diário exclusivo de esportes. A Gazeta Esportiva
nasceu em 1928, como um complemento do jornal A Gazeta.
A Revista do Esporte também foi outro impresso importante na época.
André Ribeiro, na obra Os Donos do Espetáculo: histórias da imprensa esportiva
27
no Brasil (2007) relata que devido à conquista inédita do título mundial na Suécia,
Anselmo Domingos lançou a Revista do Esporte, com perfis dos principais
estrelas do futebol. Quem não lesse a revista estava por fora dos bastidores do
futebol. Mas a década foi tomada pela crise no mercado de trabalho na área do
Jornalismo. Conforme Ribeiro (2007), grandes jornais demitiram centenas de
profissionais no Rio de Janeiro e em São Paulo. A Gazeta Esportiva foi alvo
durante a crise. O autor explica que “a crise que se iniciava, e elevaria ao
fechamento do jornal quarenta anos depois não aconteceu em função dos
salários, mas foi resultado do sonho de construir uma sede monumental, em
pleno coração da cidade” (RIBEIRO, 2007, p. 181).
Devido ao golpe militar, alguns diários sofreram quedas, de acordo com
Ribeiro (2007). Um deles foi O Esporte, que chegava a vender 60 mil exemplares
por dia, mas enfrentou uma crise financeira grave.
Lifo Piccinini, dono do jornal, vendeu a empresa para T.J. Viana, testa de ferro do presidente Jânio Quadros, logo após a eleição de 1960. No ano seguinte, os novos proprietários investiram 1 milhão de cruzeiros no jornal com a aquisição de carros novos e equipamentos, mas a empresa não se sustentou, até fechar, logo após o golpe de 1964 (RIBEIRO, 2007, p. 193).
Entretanto, surgiu em São Paulo o Notícias Populares, que dedicava três
páginas de cada edição ao esporte, onde sete profissionais eram responsáveis
pela editoria em uma redação de quase 100 jornalistas, conforme Ribeiro (2007).
Porém, “com o golpe militar e uma censura ferrenha, o projeto do Notícias
Populares acabou afundando especialmente para os que trabalhavam na seção
de esportes” (RIBEIRO, 2007, p. 194).
Os concursos da Loteria Esportiva iniciaram na década de 1970. Ribeiro
(2007) relata que a operação deste concurso era entregue a José Dias, jornalista
e dono da primeira agência de notícias esportivas, a Sport Press. Sendo assim,
“além de escolher os jogos que fariam parte do concurso, Dias e sua Sport Press
forneciam matérias especiais sobre a Loteria Esportiva para revistas
especializadas que surgiram então, como O Curingão, Ponto 13 e Palpitão”
(RIBEIRO, 2007, p. 213).
Já em 1984, as torcidas organizadas estavam infelizes com a imprensa
esportiva na época. Conforme Ribeiro (2007), o chefe da revista Placar, Juca
Kfouri, passou a receber ameaças pela torcida do Palmeiras, visto que Juca
nunca escondeu a sua paixão pelo Corinthians e publicou várias capas que
28
revelaram o doping do jogador do Palmeiras, Mário Sérgio. Além das críticas que
a revista recebia, a Placar estava perdendo cada vez mais leitores. No início, o
número de exemplares vendidos era de 120 mil por semana. Depois, passou para
40 mil. Dessa forma, o autor explica que, em 1988, o projeto editorial foi mudado
para evitar o fechamento da revista, e o nome passou para Placar Mais.
Outro fato que marcou a década de 1980 era a disputa pela informação.
Para Ribeiro, “a luta entre jornalistas da imprensa escrita pela exclusividade da
informação nas competições esportivas mais importantes do planeta sempre
dependeu basicamente da capacidade desses profissionais de cultivar fontes
sérias e seguras” (2007, p. 263).
Passaram a existir na década de 1990 revistas oficiais dos principais
clubes brasileiros. Além disso, Ribeiro (2007) descreve que a Placar estava
planejando uma revolução editorial, com investimentos de até 500 mil dólares. A
revista passou a ter uma venda de 240 mil exemplares na nova fase.
O novo formato da Placar pretendia atrair um público diferenciado,
especialmente os mais jovens. Estava criada a nova revista semanal que
carregava o subtítulo Futebol, sexo e rock’n’roll. Sendo assim “gente boa para
tocar o novo projeto era o que não faltava. Alguns cobras do jornalismo brasileiro
foram convocados, como Milton Abrucio Jr., Marcelo Duarte, Amauri Barnabé
Segalla, Paulo Vinícius Coelho, Sérgio Xavier e Sérgio Ruiz (RIBEIRO, 2007, p.
282). Entretanto, a revista que era impressa em um papel especial, passou a
custar muito caro, e o novo formato da Placar não conquistou. Segundo Ribeiro
(2007), em 1996 as vendas decaíram novamente e, em 1998, ela voltou a ser
vendida mensalmente.
Mas a maior mudança a partir de 1997 foi o surgimento do site Lance!,
tabloide que estava se popularizando. De acordo com Ribeiro, “enquanto os
outros diários esportivos de formato tradicional, como Jornal dos Sports (RJ), e
Gazeta Esportiva (SP), andavam muito mal das pernas, o tabloide, formato tão
polêmico no Brasil, dava resultado surpreendente” (2007, p. 292), se referindo ao
Lance! Em 2001, o jornal Gazeta Esportiva não estava mais nas bancas. O autor
relata que o jornal completou 73 anos e apresentou vendas enormes, mais de
500 mil exemplares, passando a 14 mil e em tempos mais críticos, quatro mil
29
exemplares. O Jornal dos Sports encerrou suas atividades alguns anos depois,
em 2010.
Atualmente (2017), a revista Placar permanece nas bancas. Conforme
publicado no site do Grupo Abril2, a revista se tornou multiplataforma, com
lançamentos de livros, edições digitais, guias e dossiês sobre o universo do
futebol. Além disso, a revista se uniu ao portal Veja.com, onde todo o conteúdo
de futebol terá a marca Placar.
3.2.2 O esporte no rádio brasileiro
Na década de 1931, o rádio não havia se estabilizado no Brasil, pois tinha
apenas nove anos. Conforme Edileuza Soares, na obra A Bola no ar - O rádio
esportivo em São Paulo (1994, p. 17), “o veículo de comunicação ainda parecia
uma novidade exótica e mal começara a procura de uma linguagem própria do
meio. Predominavam a improvisação e o amadorismo”. Segundo a autora, na
época as emissoras de rádio ligavam para o clube para saber informações dos
jogos, para depois anunciar o resultado.
Soares (1994) relata que em 1932 o governo autorizou, por meio de um
decreto, a veiculação de publicidade no rádio. Dessa forma, Coelho fundamenta
que além dos jogos, o rádio era sinônimo de mercado publicitário. “Não faltavam
anunciantes. A maior parte deles não vinha das grandes empresas. Eram
fabricantes de pilhas, bebidas alcoólicas, cigarros. Gente interessada em atingir a
camada mais baixa da população” (COELHO, 2004, p. 28).
Nos anos 1940, a Rádio Record de São Paulo lançou um estilo mais objetivo
e técnico de narração, e uma maior descrição da jogada. No artigo Da Emoção à
Descrição - a História da narração esportiva do rádio (2011), de Emerson S. Dias
e Carlos Guilherme C. Lima, é relatado que o precursor desse estilo foi Geraldo
José de Almeida, e que o auge nas narrações esportivas paulistanas ocorreu em
1945, quando Paulo Machado de Carvalho adquiriu a Rádio Panamericana
(Jovem Pan). Além disso, os autores explicam que a maior mudança na década
foi a criação de duas funções: comentarista e repórter. Conforme Dias e Lima
2 Grupo Abril. Disponível em: < http://www.grupoabril.com.br/pt/imprensa/releases/placar-se-une-ao-
portal-vejacom-e-lanca-pacote-de-produtos-multiplataforma/ > Acesso em: 15 maio. 2017.
30
(2011), na década de 1950, a Rádio Bandeirantes ingressou no ramo do esporte
e houve uma rivalidade saudável, elevando o nível dos jornalistas e aprimorando
a programação. Já os anos 1960 são definidos pelos autores como os anos em
que
as coberturas esportivas aumentaram e foram melhorando tecnicamente com a inserção de vinhetas.[...] a criatividade das emissoras em inovar em vinhetas foi aumentando e cada veículo adotou uma característica, com sinais indicativos de início de jogo (trilar o apito) ou de tempo de jogo, acionado a cada cinco minutos (DIAS; LIMA, 2011, p. 06).
Mas foi na década de 1970 que ocorreram as narrações e transmissões dos
principais jogos do Brasil. Segundo Coelho (2004), as principais redes eram a
Globo, Jovem Pan, Tupi, Record e Bandeirantes. Além disso, dependendo do
clube, o repórter sempre acompanhava a delegação, sendo os jogos do
campeonato brasileiro. Coelho explica que a rádio mais ouvida durante a Copa do
Mundo era a Globo, e também a mais sintonizada durante o dia no esporte
brasileiro. Entretanto, mesmo que a Globo fosse a mais ouvida, foi a
Bandeirantes que ganhou a fatia de anúncios sobre a Copa 2002. Em vista disso,
“a cobertura de uma Copa do Mundo ficou restrita a três estações. Em pouco
mais de vinte anos, a importância e a penetração do rádio caíram a tal ponto que
o mercado se espremeu a três emissoras em São Paulo e a duas no Rio”
(COELHO, 2004, p. 30).
Outro projeto nacional foi o da rádio CBN, que é afiliada da Rede Globo.
Conforme Coelho (2004), a rádio também transmite os jogos do campeonato
brasileiro, mas com a chegada do pay-per-view, do sistema da Globosat onde é
possível assistir quase todos os jogos da mesma rodada do campeonato, as
transmissões que a CBN fazia estavam virando alternativa. A CBN acabou
mudando o seu formato e criou o seu slogan “a rádio que toca notícia”. Mas isso
não significava esporte e cobertura esportiva. O autor relata que a rádio acabou
copiando um modelo usado na Europa.
Com novo formato, a CBN copiou um modelo muito difundido na Europa. Na Itália, por exemplo, não se transmite no rádio um jogo inteiro do Milan. Mas a rodada inteira do Campeonato Italiano, informando instantaneamente o que se passa em cada estádio e com uma rede de analistas para definir o impacto que cada resultado - ou jogada - terá no desenrolar da temporada europeia (COELHO, 2004, p. 31).
31
Segundo Coelho (2004), a CBN foi a primeira rádio que atingiu caráter tão
nacional, desde a primeira narração esportiva na Copa do Mundo em 1938, entre
Brasil e Polônia, feita por Gagliano Neto.
Atualmente (2017), as rádios que foram citadas possuem programas
específicos sobre esportes. A Jovem Pan3 com Esporte em Discussão e Jornal
de Esportes; Rádio Bandeirantes4 com Esporte em Debate e Esporte Notícia
Internacional; Rádio Globo5 com os programas POP Bola, Globo Esportivo e
Panorama Esportivo; e a CBN6, que conta em sua programação com Quatro em
Campo e CBN Esportes. No Rio Grande do Sul, a Rádio Atlântida7 de Porto
Alegre apresenta o ATL Gre-nal, sobre os times da capital gaúcha. O mesmo
formato de programa estreou na Atlântida Serra e Gaúcha Serra, o ATL Ca-ju8,
sobre os times de Caxias do Sul.
3.2.3 O esporte na TV aberta e por assinatura
Além do rádio, o jornalismo esportivo também é apresentado na televisão.
Entre narrações de jogos e direitos de transmissão dos campeonatos e grandes
eventos esportivos, o real debate é conhecer a diferença do que é jornalismo
esportivo e do que é show. A TV Globo tem os direitos de transmissão do
Campeonato Brasileiro desde 1995. Direitos que foram valorizados em 1997. De
acordo com Coelho (2004), a Globo mostra os jogos como se fosse um show.
3 Jovem Pan. Disponível em: < http://jovempan.uol.com.br/ > Acesso em: 16 maio. 2017.
4 Rádio Bandeirantes. Disponível em: < http://radiobandeirantes.band.uol.com.br/ > Acesso em: 16
maio. 2017. 5 Rádio Globo. Disponível em: < http://radioglobo.globo.com/programacao/PROGRAMACAO.htm >
Acesso em: 16 maio. 2017. 6 CBN. Disponível em: < http://cbn.globoradio.globo.com/ > Acesso em: 16 maio. 2017.
7 Atlântida. Disponível em: < http://atl.clicrbs.com.br/#!/home > Acesso em: 16 maio. 2017.
8 Pioneiro. Disponível em: < http://pioneiro.clicrbs.com.br/rs/esportes/noticia/2017/03/programa-atl-
caju-estreia-na-noite-desta-quinta-feira-na-atlantida-e-na-gaucha-serra-9749567.html > Acesso em: 16 maio. 2017.
32
Quase não se nota que o estádio, cenário do evento anda as moscas. Não se fala do gramado, do nível do técnico, de nada. Tudo é absolutamente lindo. Muitas vezes se dá exatamente o oposto nas emissoras concorrentes.[...] O brilho individual dos jogadores, as disputas táticas entre os técnicos, os gritos da torcida - quando ela existe.[...] Todos os elementos para construir uma boa matéria jornalística estão ali, à disposição das câmeras. dos locutores, comentaristas e repórteres. É só usar o microfone e salientar o que há de bom, mostrar o que há de ruim. Nenhuma matéria está assim tão escancarada diante do jornalista quanto o evento esportivo. E no entanto, é a matéria jornalística que menos aparece na transmissão. Tudo o que importa, afinal, é o show dos locutores e dos repórteres (COELHO, 2004, p. 64).
Nesse contexto, o espetáculo do futebol é transmitido duas vezes por
semana. Mas não foi sempre assim. Conforme Coelho (2004) no final dos anos
1980, a TV Globo não achava importante transmitir os jogos, então a disputa pela
audiência e direitos de transmissão ficavam entre a TV Record e a Bandeirantes.
Naquele tempo, quando a Globo transmitia algo sobre jogos, mostrava imagens
dentro do estádio, gravadas pelos seus próprios repórteres. Segundo o autor
(2004, p. 66), “com isso, só dois canais do eixo Rio-São Paulo têm direito de
divulgar gols e momentos dos jogos do Brasil, enquanto a Globo não tiver boa
vontade: a própria Globo e o SporTv, canal a cabo ligado ao grupo Roberto
Marinho”.
O autor expõe que foi em 1998 que a TV Globo comprou os direitos de
transmissão da Copa do Mundo por 220 milhões de dólares, para não ter o risco
de ser ultrapassada por alguma concorrente. Conforme Coelho (2004), a
emissora, durante a Copa de 2002, só cedia noventa segundos de imagens para
as concorrentes transmitirem em seus telejornais. Isso só ocorria após a exibição
do material no Globo Esporte.
Além da TV aberta, o esporte é exibido na TV por assinatura. Mas a
história da TV por assinatura começou em 1991, quando a Globosat e a TVA
colocaram a sua programação no ar. Mas, segundo Coelho (2004), o primeiro
reflexo de esporte nos canais fechados foi em 1992, com a criação do SporTV,
que tinha mais assinantes que a TVA Esportes, criada em 1993.
Com mais assinaturas havia mais chance de conseguir patrocinadores. Mas o que determinou de vez o caminho dos dois canais foi um contrato de transmissão dos principais jogos do futebol brasileiro por três anos, assinado em 1994 pela TVA Esportes e pelo Clube dos Treze, a entidade que reúne os principais clubes do país. Na mesma época a Globosat assinou contrato com a CBF, a entidade que comanda o campeonato. A rigor, os dois contratos poderiam ter validade jurídica (COELHO, 2004, p. 69).
33
A TVA conseguiu transmitir os jogos por um ano, mas em 1995 quando a
emissora mudou de nome para ESPN Brasil, o veículo teve dificuldade para
continuar transmitindo os jogos. Segundo Coelho (2004), a ESPN entrava com
liminares nos finais de semana, mas na segunda-feira perdia os direitos das
gravações. Sendo assim, a ESPN e a SporTV fizeram um acordo, onde a ESPN
transmitia os jogos menores e o canal do grupo Globo transmitia os principais
jogos da rodada do brasileirão. Entretanto, após o fim do contrato, a ESPN não
teve mais direito de transmitir os jogos, apenas os campeonatos estaduais. Dessa
forma, a emissora acabou investindo no jornalismo.
Coelho (2004) ainda explica que em fevereiro de 2000 entrou ao ar o canal
PSN, que comprou os direitos de transmissão da Copa Libertadores. Os jogos
eram exibidos ao vivo e em videotape9. Além disso, cinco jogos do Campeonato
Italiano todos os domingos. O primeiro ano do canal foi bom, vários jornalistas
qualificados da época abandonaram suas emissoras para irem trabalhar na PSN.
Mas, segundo Coelho, em 2001 a empresa foi decaindo, o dinheiro era pouco, os
salários passaram a ser pagos com atraso e o grupo de investidores começou a
estudar a entrada de novos sócios. Os profissionais que se mudaram para os
Estados Unidos retornaram para o Brasil sem perspectiva de receber o seu salário
e pagar as contas, entrando com processos trabalhistas para poderem receber o
que era direito. Coelho descreve que (2004, p. 72) “a emissora saiu do ar em
janeiro de 2002, um mês antes de completar dois anos de vida. Foi o maior fiasco
de uma curta história da televisão por assinatura no Brasil”. Além disso, os
principais canais de esporte da TV paga da NET10 e que estão atualmente no ar
(2017) são: Esporte Interativo, ESPN, Fox Sports, SporTV, Sport +, Premiere,
Band Sports e Combate.
Na época de publicação de sua obra, Coelho (2004) disse que a TV por
assinatura não havia “explodido” no país e que o número de assinantes eram
poucos. Mas, conforme a Associação Brasileira de Televisão por Assinatura, de
1994 até 2000, o número de assinantes cresceu 750%. No decorrer dos anos, o
9 Videotape: “equipamento eletrônico que grava o sinal de áudio e vídeo” (BARBEIRO;LIMA, 2002, p.
169). 10
NET. Disponível em: < http://www.netcombo.com.br/tv-por-assinatura/programacao/guia-de-canais> Acesso em: 14 maio. 2017.
34
número de assinantes foi crescendo, mas em outubro de 2016 a Anatel11 divulgou
que a cada mês o número de clientes vem caindo. Em agosto de 2016 houve uma
redução de 673 mil clientes, contando a partir de agosto do ano anterior.
Mas no Brasil, de acordo com Barbeiro e Rangel (2006), o que mais se
consagrou foi a transmissão do futebol, com o famoso bordão bola rolando!.
Dessa forma, “o locutor perseguia a ação de forma incansável e muitas vezes se
esquecia totalmente de fatos relevantes no estádio ou no campo. O ouvinte
percebia que alguma coisa estava ocorrendo, mas ele só ouvia a descrição da
bola” (BARBEIRO; RANGEL, 2006, p.65).
Entretanto, o narrador não pode deixar transparecer o seu entusiasmo se
for narrar um jogo em que o seu time estiver jogando, pois isso pode comprometer
o profissional. Barbeiro e Rangel (2006) explicam que o jornalista deve controlar a
emoção e narrar na medida certa, e evitar a histeria, como alguns profissionais
em Copas do Mundo e Jogos Olímpicos. Mas, o narrador deve saber improvisar.
Além das coberturas, os conteúdos esportivos aparecem nos telejornais
por meio das reportagens, que é a essência do jornalismo. E o repórter é um
elemento importante na cadeia de produção, e no esporte não é diferente.
Barbeiro e Rangel (2006) esclarecem que o jornalista não deve se deixar
contaminar com a emoção durante a reportagem, e que a linguagem deve ser
acessível, mesmo que a matéria seja direcionada a um público alvo. Além disso,
uma boa reportagem só acontece se o profissional faz uma grande pesquisa com
fundamentação. Sendo assim, “a reportagem não é apenas notificação de um
fato. É necessário o detalhamento, a escolha de um ângulo ainda não explorado,
procurar descobrir o possível impacto daquelas informações no tema tratado”
(BARBEIRO; RANGEL, 2006, p. 21).
As reportagens fazem parte das grades de programação da TV Globo, que
possui atualmente (2017) quatro programas sobre esporte, segundo o Memória
Globo12. Reportagens como Copas do Mundo, Olimpíadas, Vôlei Brasileiro,
Roland Garros, Copa América e Muhammad Ali no Brasil são alguns exemplos
exibidos nos programas da TV Globo. Os programas são: o Esporte Espetacular,
11
Globo.com. Disponível em: < http://g1.globo.com/economia/noticia/2016/10/tv-paga-perde-673-mil-clientes-em-um-ano-ate-agosto-diz-anatel.html > Acesso em: 24 mar. 2017. 12
Memória Globo. Disponível em: < http://memoriaglobo.globo.com/programas/esporte/programas-esportivos.htm > Acesso em: 14 maio. 2017.
35
que estreou em 1973 e tinha objetivo de abrir espaço para diversas modalidades
esportivas; o Auto Esporte, que foi ao ar pela primeira vez em 2002, sobre
lançamentos automobilísticos, náutico e moto ciclístico, tanto no Brasil quanto no
exterior; o Corujão do Esporte, ao ar desde 2010, nas madrugadas de quartas-
feiras que comenta as principais competições do Brasil e Mundo; e o Globo
Esporte, no ar desde 1978 que exibe reportagens sobre emoção, dia a dia dos
atletas e apresenta cobertura completa sobre eventos esportivos no Brasil e
mundo.
3.2.4 O Esporte na Internet
O jornalismo esportivo também é apresentado na internet. De acordo com
Coelho (2004), a internet chegou ao Brasil na década de 1990, mas não era
grande o suficiente para virar algum tipo de negócio. O sinal de que a internet
estava chegando foi com o negócio realizado entre os grupos Abril e Folha que
se uniram para criar o UOL. Mas foi em 1997 que a internet começou a crescer
com a inauguração do Lance! no Brasil e também o site www.lancenet.com.br.
Entretanto, em 1999 a internet já era um fenômeno que começou a remover
grandes nomes do jornalismo esportivo das redações, para trabalhar em sites.
Coelho (2004) menciona alguns exemplos, como o jornalista José Eduardo
de Carvalho. O profissional trabalhava no Jornal da Tarde durante 18 anos como
editor de esportes, e foi convidado para gerenciar o site da PNS, o canal da TV a
cabo. Segundo o autor, o portal da PNS foi encarregado da criação do site do
Corinthians. Além de Carvalho, outros jornalistas deixaram um veículo e foram
trabalhar em sites com conteúdo esportivo, como o repórter André Rizek, que
saiu do Lance! para trabalhar no IG; Luiz Estevam Pereira deixou a Placar; e
Alexandre Gimenez, que saiu do Folha de São Paulo; ambos para trabalharem no
portal Pelé.net. Para Coelho (2004, p. 60), “parecia à redenção dos jornalistas.
Acostumados a salários minguados no final do mês, alguns receberam propostas
milionárias”. As redações tradicionais dos jornais passaram a ser convidadas a
fazer parte desse novo meio, visto que toda reportagem que era escrita para o
jornal seguia diretamente para a internet. Dessa forma, conforme Ribeiro (2007),
36
a informação passava a ser praticamente instantânea. A velocidade com que uma notícia podia chegar ao público acirrava a competição e obrigava qualquer jornal ou revista a entrar no mundo da internet. Foi uma autêntica febre. Grandes investidores passaram a viabilizar a estruturação da informação via sites, tornando cada vez maiores os investimentos nesse segmento da mídia, e cada vez mais atrativas as vagas nessas redações (RIBEIRO, 2007, p. 295).
Contudo, segundo Coelho (2004), foi em 2001 que a festa dos sites
acabou. Naquele ano, o IG fez uma parceria com o Lancenet e dispensou toda a
equipe de esporte. Além disso, “a fuga dos investidores provocou uma catástrofe
nas redações de todos os veículos ligados à internet. [...] A estabilidade chegou
em 2002” (COELHO, 2004, p. 61). Em consequência disso, o autor descreve que
vários profissionais consagrados deixaram o mercado e tiveram dificuldades para
retornar. E também, o que vale mais é uma notícia publicada rapidamente do que
uma informação checada com cuidado.
Além disso, a linguagem do jornalismo foi sofrendo mudanças em
consequência do avanço tecnológico. E o jornalismo esportivo foi o segmento que
mais sentiu de perto essa mudança. De acordo com Maicon Pan, em
Webjornalismo Esportivo e as especificidades determinantes de sua qualidade:
um estudo de caso do blog Piccolo Esportivo (2014), a internet oferece formas
novas de recolher e repassar a informação. Sendo assim, o jornalista deve
desenvolver um conteúdo multimídia, visto que o público possui todos os
equipamentos possíveis de acesso a várias plataformas. Para o autor, “na
internet, o jornalismo esportivo deve oferecer um leque de opções para que o
leitor/usuário/internauta escolha o conteúdo desejado” (PAN, 2014, p. 51).
Os portais sobre esporte que estão no ar hoje (2017) são:
GloboEsporte.com, Terra.com.br/esportes, Esporte.uol.com.br, Esporte.ig.com.br
e o Lance.com.br.
3.3 ESPORTE NÃO É SÓ FUTEBOL
O foco é muito maior no futebol, mas existem outras modalidades
esportivas. De acordo com Coelho (2004), ser reconhecido como jornalista que
trabalha apenas com futebol é difícil, mas ser reconhecido em outras
modalidades é muito mais difícil. O autor cita alguns exemplos, como a jornalista
Cida Santos que trabalhou com esportes olímpicos na Folha de São Paulo até
37
lançar um livro sobre o ouro olímpico do vôlei brasileiro. Agora ela é reconhecida
como jornalista exclusivamente desse esporte.
Coelho (2004) também relata que nas editorias ficam separadas as
equipes que se dedicam apenas ao futebol e a que trabalham com outras
modalidades. Entretanto, isso não significa que os jornalistas que produzem
conteúdo sobre futebol não vão produzir conteúdo sobre outros esportes. Sempre
há um revezamento. Dessa forma não existe jornalista de esportes, mas sim o
profissional que se empenha em transmitir as informações de modo geral.
Segundo Coelho (2004), esse profissional se torna melhor do que aqueles que só
sabem produzir conteúdo de um assunto específico.
O autor também explica que trabalhar com esportes que não são tão vistos
na mídia acaba exigindo especialização do profissional. Ele cita como exemplo o
jornalista Adalberto Leister Filho, que entrou no Lance! em 1997 e queria
trabalhar apenas com o futebol. Ele atuava na cobertura diária do Palmeiras. Mas
quando houve um revezamento entre os repórteres, o jornalista foi para a área de
esportes olímpicos, o que o deixou irritado. Conforme Coelho (2004, p. 49), “aos
poucos, no entanto, foi tomando gosto. Em menos de dois meses percebeu que
aquilo seria mais interessante que passar anos correndo atrás de jogadores de
futebol. Começou a acompanhar o vôlei com afinco, investiu em boas matérias de
boxe”. Após um ano, o profissional recebeu um convite para trabalhar com
esportes olímpicos na Folha de São Paulo.
Além de Adalberto, Coelho (2004) também cita os jornalistas Nicolau
Radamés e Marcelo Laguna, que se especializaram em esportes olímpicos de
modo geral, e Chiquinho Leite Moreira que acompanhava não só o tênis como o
atleta em si, o Guga. O autor explica que a especialização nunca é demais, mas
é necessário saber esperar a hora certa em que o trabalho irá aparecer.
3.4 OLIMPÍADAS COMO EVENTO
Para os eventos serem realizados necessitam de tempo, planejamento e
estratégia. No livro Organização e Gestão de Eventos (2003), os autores Johnny
Allen, William O’Toole, Ian McDonnell e Robert Harris explicam que o setor
governamental apoia e ajuda a promover os eventos por motivos de
38
desenvolvimento econômico e marketing. Os autores esclarecem que, “os
eventos transbordam dos nossos jornais e telas de televisão, ocupam muito do
nosso tempo e enriquecem nossas vidas. À medida que os eventos emergem
como uma indústria em causa própria é válido considerar quais elementos
caracterizam tal indústria” (ALLEN et al, 2003, p. 04).
Nas categorias de eventos existem os “eventos especiais”, subdivididos
em megaeventos, eventos de marca e eventos de grande porte, conforme Allen
et al (2003). A olimpíada está inserida nos megaeventos, pois afeta a economia e
tem repercussão global. Os autores citam Donald Getz para definir
megaeventos. “Megaeventos, por sua grandiosidade ou significado, são aqueles
que produzem níveis extraordinariamente altos de turismo, cobertura de mídia,
prestígio ou impacto econômico para a comunidade local ou de destino” (GETZ,
1997, apud ALLEN et al, 2003, p. 06)
Além da definição de Getz, os autores citam a definição de Colin Michael
Hall.
Megaeventos tais como as Feiras Mundiais e Exposições, a Copa do Mundo ou as Olimpíadas são eventos especificamente direcionados para o mercado de turismo internacional e podem ser adequadamente descritos como “mega” em virtude de sua grandiosidade em termos de público, mercado-alvo, nível de envolvimento financeiro do setor público, efeitos políticos, extensão de cobertura televisiva, construção de instalações e impacto sobre o sistema econômico e social da comunidade anfitriã (HALL, 1992, apud, ALLEN et al, 2003, p. 06).
Na obra Legados de Megaeventos Esportivos (2014), o autor Nelson
Carvalho Marcellino, faz uma análise de como um megaevento pode ser
considerado notável. Marcellino menciona os autores Lamartine da Costa e Ana
Miragaya. Eles afirmam que um megaevento é categorizado dessa forma, devido
o número de participantes e a sua duração. Além disso, Marcellino (2014)
caracteriza os Jogos Olímpicos como megaeventos por encadear outros meios:
infraestrutura, mobilidade urbana, aeroportos, segurança, acessibilidade, energia,
telecomunicações, controle de doping, alfândega, educação, cultura, etc. O autor
explica que a realização dos Jogos Pan-Americanos em 2007 no Rio de Janeiro
foram exemplo de organização para o esporte mundial, e a experiência que
faltava para a realização dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos em 2016.
Além de encadear vários meios para a realização de uma olimpíada, o
legado econômico é um fator muito importante, visto que pode trazer lucro ou
39
prejuízo para o país. Na obra Os estudos olímpicos e o olimpismo nos cenários
brasileiro e internacional (2011), de Katia Rubio e Roberto Maluf de Mesquita, os
autores explicam que os recursos utilizados para a realização do evento geram
benefícios, como aumento do turismo, melhoria da qualidade de vida, ou até
mesmo aumento dos negócios da cidade. Outro ponto que os autores evidenciam
é que os megaeventos servem para reformular e reordenar espaços que estão
em degradação na cidade.
Segundo Rubio e Mesquita (2011), qualquer cidade que venha a se
candidatar para sediar os jogos olímpicos necessitará que investimentos de
transporte público, estrutura de moradia para abrigar as delegações e turistas, e
até uma sofisticada rede de telecomunicações para proporcionar a circulação das imagens e notícias das competições, razão maior desses eventos. [...] Ou seja, o conceito de cidade olímpica não deveria ser um argumento para a busca de recursos, mas o guia para um planejamento urbano a partir dos recursos locais disponíveis. Hoje se assiste a uma acirrada disputa pela condição de cidade-sede dos Jogos Olímpicos, situação que envolve uma grande mobilização pública, privada, diplomática, política e também popular para a sensibilização dos avaliadores da postulação (RUBIO; MESQUITA, 2011, p. 66/67).
Os jogos olímpicos também dependem dos patrocínios, que vem
aumentando e mudando como os eventos são vistos pelos patrocinadores. Para
Allen e et al (2003), o patrocínio deixou de ser uma ferramenta básica de relações
públicas para gerar marketing e motivação da comunidade para empresas de
grande porte. Os autores ainda afirmam que os eventos de grande porte são
capazes de impulsionar vendas e oportunidade para intensificação do
relacionamento entre os anfitriões e os clientes.
A mídia é outro ponto que influencia na divulgação de megaeventos, como a
olimpíada. Conforme Allen e at al (2003), os eventos possuem espaço virtual na
mídia tão grande e poderoso quanto a realidade. Além disso, “o evento pode
estar sendo criado basicamente para o consumo de sua audiência televisiva. Os
eventos têm muito a ganhar com essa evolução, inclusive os patrocinadores da
mídia e o pagamento dos direitos de transmissão.
Até então, os eventos esportivos têm sido os maiores vencedores (ou perdedores) desse aumento de atenção da mídia. A série de esportes cobertos pela televisão sofreu um aumento vertiginoso, e alguns esportes, como por exemplo o basquete, conseguiram sair da relativa obscuridade na Austrália para uma posição de destaque na mídia, em grande parte por sua adequação à produção e programação televisiva (ALLEN et al, 2003, p. 31).
40
A mídia tem muito a oferecer aos eventos, visto que a imprensa poderia
publicar um programa como editorial ou caderno especial, realizar uma série de
matérias segundo Allen e et al (2003). Assim como a televisão, o rádio pode
realizar transmissões ao vivo.
3.4.1 Cobertura Esportiva
A cobertura esportiva em um grande evento é essencial para um veículo
de comunicação. Para os autores Mariana Mendonça, Cristiano Mezzaroba e
Iracema Munarim, no artigo Jogos Pan-Americanos Rio/2007 e a Cobertura do
Jornal Nacional: ênfases e representações veiculadas (2009), o esporte é um
fenômeno na sociedade atual, visto que é só olhar e perceber o prestígio dado
aos esportes no país. Dessa forma,
o campo midiático, responsável pela produção e veiculação dos mais diversificados tipos de programas/ produtos midiáticos, seja por meio da mídia impressa (jornais e revistas), dos rádios (AM/FM), da mídia televisiva ou mais recentemente por meio da internet (LISBOA; MEZZAROBA; MUNARIM, 2009, p. 47).
As reportagens de cobertura esportiva também proporcionam aproximação
com temas que não teriam a mesma consideração. No artigo A pauta esportiva
no jornalismo: interfaces nos jogos do Rio 2016 (2015), de Carlos Augusto
Tavares Júnior, o autor relata sobre as pautas de modalidades que são
desconhecidas para o público. E também, “histórias dos atletas que passaram a
protagonizar sagas de luta e superação, a partir da conquista de uma medalha”
(JÚNIOR, 2015, p. 03).
Além disso, o esporte chama a atenção do público e instiga o telespectador
a acompanhar o jogo de perto. Mas nos primeiros anos de cobertura jornalística,
as pessoas não acreditavam que outros esportes além do futebol poderiam estar
nas capas dos jornais e revistas. De acordo com Coelho,
como poderia uma vitória nas raias - ou nos campos, nos ginásios, nas quadras - valer mais do que uma importante decisão sobre a vida política do país? Não, não poderia, mesmo que movesse multidões às ruas em busca de emoções que a vida cotidiana não oferecia (COELHO, 2004, p.8).
Também o tempo nas redações e nos meios de comunicação estão cada
vez mais curtos. Segundo Heródoto Barbeiro e Patrícia Rangel, na obra Manual
do Jornalismo Esportivo (2006), o profissional tem o desafio do serviço, onde o
41
veículo deve ser colocar no lugar do público e analisar como as notícias podem
afetar o cotidiano de cada um; o desafio da criatividade, os jornalistas devem sair
do lugar comum e praticar novas fórmulas de produção; e o desafio da paixão,
visto que, o jornalista esportivo deve saber lidar com algumas situações, mas não
deve exceder os limites éticos da profissão. De acordo com Coelho, a cobertura
esportiva só se tornou brilhante quanto qualquer outro tipo de jornalismo devido à
noção de realidade que o jornalismo esportivo carrega nos tempos atuais. Dessa
forma “o ponto-chave é que, muitas vezes, tal cobertura exige mais do que noção
da realidade [...] Esse tipo de cobertura sempre misturou emoção e realidade em
proporções muitas vezes equivalentes” (COELHO, 2004, p. 22).
3.4.2 Cobertura Olímpica do Grupo Globo
Os jogos olímpicos de 2016 receberam a maior cobertura da história do
Grupo Globo, como foi publicado em seu site13. As equipes de jornalismo da
Globosat, Globo, Sistema Globo de Rádio e Infoglobo foram mobilizadas para
fazer uma cobertura diária entre os dias 5 e 21 de agosto de 2016. O SportTV
transmitiu 100% das competições ao vivo em 56 sinais da TV e internet, sendo 16
canais em HD e 40 sinais pela internet. Foram mais de quatro mil horas de
transmissão. A equipe contou com 35 narradores, 110 comentaristas renomados.
Além disso, o SporTV Play, que qualquer pessoa podia acessar todo o conteúdo;
e o aplicativo SporTV Rio 2016, que mostrava a grade de programação do canal,
o quadro de medalhas e vídeos de transmissões ao vivo.
A Globo mobilizou dois mil profissionais para acompanhar os 465 atletas
da delegação brasileira. Neste número o Time de Ouro, doze ex-atletas que
fizeram parte de um grupo de mais de 40 comentaristas. Foram, também, dez
horas diárias de conteúdo, totalizando 160 horas, sendo quase 100 transmissões
ao vivo. A rede Globo ofereceu conteúdo no Globo Play e no globoesporte.com.
As transmissões da Globo e SporTV foram feitas do Estúdio Olímpico, construído
no parque olímpico no Rio de Janeiro. Todos os jornais, desde o Bom Dia Brasil
até o Jornal da Globo, foram ancorados diretamente deste estúdio.
13
Grupo Globo. Disponível em: < http://www.grupoglobo.globo.com/noticias/empresas_grupo_globo_preparam_maior_cobertura_esportiva_da_sua_historia.php > Acesso em: 25 mar. 2017.
42
O projeto de transmissão começou 500 dias antes da cerimônia de
abertura, em março de 2015. O conceito utilizado pela emissora foi “Somos
Todos Olímpicos”. Esse conceito tinha como objetivo traçar um paralelo entre a
motivação que levou os atletas a superar os seus próprios limites, com o apoio de
pessoas comuns para conquistarem o seus sonhos. Desde março de 2015 até o
fim dos jogos olímpicos, foram veiculadas mais de 250 reportagens e 30 séries
especiais. Entre elas, a série Perfis, transmitida no Jornal Nacional, produzida
pelo repórter Pedro Bassan, que, durante um ano, gravou 170 horas de material
em 21 viagens. A série é o objeto de estudo desta pesquisa.
Sendo assim, com base nas definições de esporte, como o jornalismo
esportivo é apresentado no meio impresso, no rádio, na televisão, na internet e as
olimpíadas como evento, o próximo capítulo trará a produção de conteúdo no
telejornalismo.
43
4. PRODUÇÃO DE CONTEÚDO NO TELEJORNALISMO
A produção de conteúdo para a televisão até a sua a exibição é resultado
de um processo que surge a partir de uma ideia. E para evidenciar esse processo
complexo, no meio esportivo, é importante destacar como pode ser realizado,
desde a escolha da pauta até a exibição do conteúdo no telejornal.
4.1 PAUTA
A pauta na televisão tem um peso maior do que em outros veículos, por
causa das suas peculiaridades. Ela exige atenção aos detalhes para a sua
elaboração. Segundo Heródoto Barbeiro e Paulo Rodolfo Lima, na obra Manual
do Telejornalismo (2002, p.89), “o pauteiro é aquele que na imensidão dos
acontecimentos da sociedade capta o que pode ser transformado em reportagem,
pensa o assunto por inteiro e indica os caminhos que devem ser percorridos para
que a matéria prenda a atenção do telespectador”.
De acordo com Ricardo Kotscho, na obra A Prática da Reportagem (2001),
o repórter não deve esperar a sua pauta sentado, dessa forma não consegue
seguir adiante. Conforme o autor, garimpar bons assuntos e cultivar as fontes é a
melhor solução. A pauta deve ser concisa e completa. Mas de acordo com Olga
Curado, na obra Notícia na TV: o dia a dia de quem faz telejornalismo (2002, p.
40), “a pauta de televisão só existe se ela puder ser proposta em três linhas. Se
não for assim é um simples enunciado ou fragmento de uma informação”. Além
disso, a autora explica que a pauta deve ser concisa e mostrar a notícia
completa, mas que precisará ser desdobrada.
Dessa forma, cabe ao pauteiro distinguir o que é informação e o que é
entretenimento. O jornalista não deve se ater apenas aos fatos do dia a dia, mas
é necessário criar, contextualizar e avançar. Toda informação que é fundamental
para a sociedade pode virar pauta: política, economia, cultura, ciência, religião,
comportamento, meio ambiente, esportes e problemas da cidade. A forma de
como abordar a pauta e a sua relevância para o público parte do pauteiro. Para
as autoras Luciana Bistane e Luciane Bacellar, na obra Jornalismo de TV (2008),
o repórter tem um desafio diário, que é relatar com precisão e síntese. As autoras
44
indicam que “uma coisa é ouvir uma história; outra é entender o suficiente para
contá-la, transmitindo a relevância da informação de forma atraente e inteligível”
(2008, p.13).
Na obra Jornal Nacional - Modo de Fazer (2009), o jornalista e autor
William Bonner explica que os temas factuais têm prioridade no Jornal Nacional
(JN). É importante ressaltar que a série Perfis, corpus desta pesquisa, é conteúdo
do JN. A partir disso, o profissional explica que nem todos os dias existe assuntos
relevantes nacionalmente. A pauta é escolhida conforme:
fenômenos que têm ocorrido, mas que não precisam ser abordados obrigatoriamente hoje, porque poderemos tratar deles amanhã ou depois. Reportagens desse tipo são muito importantes para ajudar o espectador a compreender o mundo em que vive, a conhecer problemas, a discutir soluções. Tudo sem aquele caráter urgente dos temas factuais (BONNER, 2009, p. 117).
Direcionando para o tema da pesquisa, o maior clichê do jornalismo
esportivo são as matérias produzidas sobre treinos e jogos. Segundo Barbeiro e
Rangel (2006), muitas vezes esse tipo de conteúdo não é mais relevante para o
público. O jornalista deve ser rápido e ágil para contar histórias que sejam do
interesse do público. Além disso, existem as pautas a respeito das coberturas de
eventos como as Olimpíadas e Copas do Mundo, os comitês e federações
esportivas, ministério e secretarias do esporte. Assim, o jornalista deve pensar
como vai ser a construção da reportagem.
De acordo com o jornalista esportivo Sérgio Carvalho (1988, p.122), no
texto Esporte e Jornalismo, publicado na obra do mesmo nome, “o jornalismo
esportivo está se diversificando. Aos poucos os jornalistas estão se
especializando em determinadas modalidades e, dessa forma, as matérias fogem
do lugar comum”. Desse modo, os jornalistas estão escrevendo e falando com
mais competência. O público não se interessa mais com o clichê e o improviso
despreparado dos repórteres. Carvalho salienta que o jornalismo esportivo pode
ganhar mais diversificação para os profissionais competentes e criativos. E para
que a área seja bem-sucedida, é necessário buscar o entendimento mais
profundo das especialidades do esporte.
45
4.2 REPORTAGEM
A reportagem é a fonte de matérias do telejornalismo. Ela serve para que o
telespectador possa esclarecer dúvidas sobre os fatos do dia a dia. Para realizar
a reportagem, o jornalista deve sempre cultivar as suas fontes de informação e
acompanhar as informações em outros veículos de comunicação. Barbeiro e
Lima (2002) indicam alguns pontos importantes na construção da reportagem:
a) As imagens e palavras andam juntas, sendo assim, o repórter deve estudar
que imagens devem ser gravadas de acordo com o texto;
b) Cabe ao repórter escolher as locações das matérias e não ao cinegrafista;
c) O tempo de gravação é significativo, gravar apenas o necessário facilita o
trabalho do editor;
d) Além disso, o repórter deve pedir ao cinegrafista para gravar cenas livres, elas
são essenciais na falta de imagens na edição;
e) Também é responsabilidade do cinegrafista estudar os melhores ângulos antes
de gravar;
f) O repórter deve ter o máximo de informação sobre o assunto.
Curado (2002) explica que cada história tem início, meio e fim, mas a
apresentação nem sempre é feita nessa ordem. O formato da reportagem varia
de acordo com o estilo do repórter e do programa. Segundo a autora, as
reportagens são construídas a partir de um tripé: tensão, plasticidade e
atualidade. A autora explica que
a tensão tem como objetivo manter o espectador “ligado”, [...] a plasticidade envolve a audiência [...]. Atualidade não quer dizer que a reportagem esteja sempre enfocando acontecimento recente, mas sim que se trata de algo até aquele momento inédito para o público do programa” (CURADO, 2002, p.96).
Dessa forma, para a construção da reportagem é necessário imagens.
Bistane e Bacellar (2008) fundamentam que a imagem é um recorte da realidade
e que na construção da reportagem é importante ter consciência que uma
imagem qualifica uma reportagem para ser veiculada, que talvez não fosse para o
ar se o cinegrafista não gravasse algum flagrante.
46
4.2.1 Entrevista
De acordo com Barbeiro e Lima (2002), a escolha das fontes para a
reportagem é um desafio, visto que elas passam a credibilidade e certeza que a
matéria precisa. Sendo assim,
a entrevista em televisão tem o poder de transmitir o que o jornalismo impresso nem sempre consegue: a exposição da intimidade do entrevistado. Os gestos, o olhar, o tom de voz, o modo de se vestir, a mudança no semblante influenciam o telespectador e a própria ação do entrevistador, que ao adquirir experiência consegue tirar do entrevistado mais do que ele gostaria de dizer (BARBEIRO; LIMA, 2002, p. 85).
Uma boa entrevista pode revelar acontecimentos importantes e também
esclarecer fatos relevantes ao tema. Conforme Barbeiro e Lima (2002), quando
isso acontece a reportagem avança, dando oportunidades para outras entrevistas
e matérias. Segundo Curado (2002), a entrevista é a maior fonte de informação
para o jornalismo, o elemento essencial, pois ocorre uma relação dinâmica com o
entrevistado. Além disso, a autora relata que a entrevista pode ocorrer a partir do
momento em que for definido o assunto, identificar a melhor pessoa para falar
sobre, pesquisar a respeito do tema e planejar as perguntas.
A entrevista também faz parte da produção de conteúdo no jornalismo
esportivo. Conforme Barbeiro e Rangel (2006, p. 36), “é dela (entrevista) que vem
a informação exclusiva, o furo, o gancho para futuras matérias. [...]. O jornalista
esportivo, quando está diante de um entrevistado, deve saber que é o
representante do público diante deste tema”. Em uma entrevista, o jornalista
exerce o papel de milhares de torcedores que querem fazer aquela
pergunta. Segundo Barbeiro e Rangel:
os repórteres esportivos precisam pôr um fim nas piadas que fazem a respeito do seu trabalho, e mostrar que é possível produzir boas reportagens, como em qualquer outro assunto. Por isso é essencial, fugir daquelas perguntas eternamente repetidas para os atletas antes, durante ou depois das competições como: “o que você acha do jogo” ou “como você está vendo o jogo”. Caso contrário, o repórter corre o risco de ouvir uma resposta como a que o técnico Osvaldo Brandão deu certa vez: “Com os olhos” (BARBEIRO; RANGEL, 2006, p.20).
Além disso, Barbeiro e Rangel explicam que existe uma diferença entre os
veículos eletrônicos e o meio impresso. Enquanto no meio eletrônico há um
diálogo entre o atleta e o torcedor, no impresso o jornalista deve descrever o que
vê, o ambiente e o grau de emoção do entrevistado. Além disso, as entrevistas no
47
jornalismo esportivo são viciadas no sentido de que as perguntas são previsíveis,
e as respostas também. Os autores relatam que “muitas vezes, a pergunta do
jornalista já dá a resposta ao entrevistado que, assim, nem precisa se dar ao
trabalho de pensar para responder” (BARBEIRO; RANGEL, 2006, p. 36). Os
autores ainda explicam que na entrevista é necessário avaliar o atleta por todo
trabalho que realizou em uma temporada, e não pelos últimos desempenhos.
Assim, o jogador ou atleta pode dar a sua versão dos fatos.
4.2.2 Texto
O texto para a televisão é outro aspecto que deve ser levado em conta na
produção da reportagem. Segundo a autora Vera Íris Paternostro, na obra O
Texto na TV - Manual de Telejornalismo (1999), o jornalista tem um desafio e
deve se perguntar se a imagem vai comandar o seu texto. Ela explica que a
imagem que está em movimento, viva, passa uma dose maior de emoção. Dessa
forma, as palavras devem acompanhar a imagem. Conforme Paternostro (1999,
p. 61), o texto jornalístico possui algumas características, ele deve ser “coloquial,
claro e preciso. Objetivo, direto. Informativo, simples e pausado”. Além disso, de
acordo com a autora, o texto escrito no script14 será lido em voz alta por outra
pessoa, e esse texto vai ser captado apenas uma vez pelo telespectador. No
telejornalismo, a sonoridade do texto é bastante importante, visto que a audição é
muito explorada. Demonstradas essas particularidades, Paternostro (1999, p. 72)
salienta que “em telejornalismo, a preocupação é fazer com que o texto e imagem
caminhem juntos, sem um competir com o outro: ou o texto tem a ver com o que
está sendo mostrado ou não tem razão de existir, perde a sua função”.
A autora explica que não tem necessidade de descrever o que o público
está vendo, porque é óbvio demais e pode se tornar chato. Assim, a narrativa
será redundante e cansativa. Dessa forma, a autora indica que o texto deve
apresentar os elementos fundamentais do fato, sendo simples e direto, se
conectando um com o outro. Inclusive Paternostro (1999) fala que às vezes a
emoção pode ser acrescentada no texto.
14
Script: “a lauda no telejornalismo. Possui características especiais e espaços que devem ser obedecidos na operação do telejornal” (BARBEIRO; LIMA, p. 168, 2002).
48
Na prática do trabalho com imagem, a sensibilidade também se desenvolve. Unir imagem, informação e emoção é uma boa saída para transmitir a notícia com qualidade ideal. E cada um que escreve para a TV deve ainda encontrar um estilo próprio, pessoal, intransferível de forma a se destacar do estilo padronizado que encontramos na televisão brasileira (PATERNOSTRO, 1999, p. 87).
Bonner (2009) explica que no Jornal Nacional são observados alguns
procedimentos para que a linguagem fique adequada a um telejornal. O primeiro,
o jornalista explica que é fundamental flexionar os verbos em seu tempo real. Em
segundo, é utilizar termos de compreensão mais imediata para o entendimento
do público. Em terceiro, colocar adjetivos, quando necessários, depois dos
substantivos, visto que o JN conta fatos. Em quarto lugar, quando houver frases
muito longas, desdobrar ela em outras mais curtas. Em quinto e último lugar,
evitar a intercalação das orações e sempre construí-las na ordem direta. Bonner
ainda relata que escrever para um telejornal é diferente do que escrever para um
jornal.
Os melhores textos de telejornalismo são os que se apropriam desse mecanismo. O problema é que escrever como se fala não é nada instintivo. Não somos treinados para isso. Não é assim que aprendemos na escola, na faculdade e, mesmo, nas redações de jornal. Mas essa é a maneira mais indicada de aproximar um texto do universo do espectador. Escrever textos parecidos com o falar das pessoas de maneira sintética e clara. Eis a forma ideal do texto de telejornalismo (BONNER, 2009, p. 235).
O texto, além de fazer parte dos conteúdos do telejornalismo, também é
uma etapa do processo de produção no jornalismo esportivo. Barbeiro e Rangel
(2006) fundamentam que a linguagem usada pelos repórteres, na maioria das
vezes, é sem graça e cheia de clichês, quase banalizada. Os redatores usam das
mesmas expressões para descrever situações ou eventos. Em consequência
disso, o jornalista deve fugir do comum e ser criativo, e também “colocar paixão
sem abdicar dos rigores da informação. Paixão jornalística e não clubística”
(BARBEIRO; RANGEL, 2006, p. 51). O jornalista deve fugir do descritivo, contar
histórias interessantes e achar aquela que se destaque entre as outras. Os
autores ainda falam que a sensibilidade do repórter é importante para fazer uma
boa seleção dos fatos e ver quais informações podem fazer parte da matéria.
49
4.2.3 Gravação
Os repórteres e os cinegrafistas saem da redação com um roteiro
amarrado, de acordo com Bistane e Bacellar (2008). Ou seja, com os nomes dos
entrevistados, local, horário das gravações, o que esperar da matéria e respostas
programadas para os entrevistados.
Se a missão do repórter se limitasse a trazer exatamente o que a apuração levantou, ele seria dispensável. Bastaria orientar o cinegrafista para que captasse as imagens necessárias, e o editor redigiria o texto. No trabalho de campo, a cumplicidade entre repórter e cinegrafista contribui muito para o bom resultado. Conversar sobre o encaminhamento da matéria com quem está gravando é fundamental para que haja sintonia entre texto e imagem. Para o repórter iniciante, cinegrafista experiente é de grande ajuda, por já terem trabalhado com diversos profissionais e feito matérias sobre quase tudo. Eles, inclusive, costumam dar boas orientações sobre a postura correta no vídeo, o posicionamento do microfone, onde gravar para valorizar o cenário (BISTANE; BACELLAR, 2008, p. 52).
Para realizar a gravação o cinegrafista deve ter o conhecimento da pauta,
saber qual é o objetivo da reportagem e não se limitar em gravar apenas o que foi
delimitado pelo assunto. Conforme Curado, o cinegrafista “procura compreender
o contexto, o enfoque da matéria. Ao encaminhar a fita [sic] para a edição o
cinegrafista conversa com o repórter, com os editores de imagem e de texto
sobre as cenas que fez e opina sobre o uso delas” (CURADO, 2002, p. 50). A
autora também esclarece que o repórter cinematográfico sempre estará atento às
normas técnicas sobre a linguagem do programa e o enquadramento.
Dessa forma, de acordo com Bistane e Bacellar (2008), para facilitar o
trabalho na pós-produção, edição, é importante desenvolver uma boa pauta, com
imagens bem feitas e com um repórter competente.
4.3 PÓS-PRODUÇÃO
Depois de feito todo o planejamento para elaborar uma reportagem com as
gravações de imagens e entrevistas realizadas, se inicia o processo de pós-
produção. Esse processo conta com a edição de todo o material que foi gravado
para a reportagem e a sua exibição no veículo de comunicação.
50
4.3.1 Edição
Construir uma matéria para a televisão é um quebra-cabeça. De acordo
com Bistane e Bacellar (2008), algumas falas se encaixam melhor na passagem
do repórter, outras nas falas dos entrevistados e o restante no off15 juntamente
com as imagens. A passagem é o momento em que o repórter aparece na
matéria, é a assinatura do profissional no trabalho que está sendo exibido, além
disso, é uma intervenção e só é necessária quando for acrescentar alguma
informação que valorize a reportagem.
Após a gravação da reportagem, passagem, offs e entrevistas, o processo
de edição é iniciado. A edição é a montagem da reportagem que vai ser exibida
nos programas de televisão. De acordo com Barbeiro e Lima,
é nessa etapa da elaboração da matéria que fica mais clara a ação do jornalista em excluir e suprimir parte do material colhido, sob ação da subjetividade. É preciso reduzir a complexidade do real para torná-lo inteligível em uma reportagem de TV. [...] Editar uma reportagem para a TV é como contar uma história, e como toda história a edição precisa de uma sequência lógica que pelas características do veículo exigem a combinação de imagens e sons (2002, p. 102).
O processo de edição, segundo Barbeiro e Lima (2002), não é tão fácil
quanto parece. Às vezes o editor leva duas ou mais horas para organizar uma
matéria de um minuto e meio. De acordo com os autores, o trabalho é iniciado
com a decupagem do material, onde o editor anota no roteiro todos os detalhes
da imagem, sonoras, passagens e o off do repórter. Assim, ele pode selecionar o
que vai ser usado na reportagem, mas sempre mantendo uma ordem, que pode
ser cronológica, mas também uma ordem de acordo com a estrutura do texto.
Além disso, Barbeiro e Lima explicam que é importante variar o estilo de edição
para que o telejornal não fique monótono. E, por último, é imprescindível que a
revisão dos textos seja feita por duas pessoas, uma lendo em voz alta e a outra
conferindo no script.
O processo de edição, para Curado (2002), requer alguns requisitos. O
primeiro é a avaliação do conjunto de informações, ou seja, juntar todos os dados
colhidos durante a reportagem. O segundo é a decupagem, sendo a avaliação do
material bruto com as imagens e as entrevistas, selecionando as partes
15
Off: “gravar um texto de uma reportagem [...], sobre a qual posteriormente serão inseridas imagens relativas àquela reportagem” (BARBEIRO; LIMA, p. 166, 2002).
51
principais. O terceiro é a roteirização. “Estruturar a reportagem a partir da
sequência das imagens e falas que irão compor a matéria, construindo o
“esqueleto” da reportagem” (CURADO, 2002, p. 131). O quarto é a redação,
escrever o texto levando em conta as imagens e as entrevistas. O quinto, o uso
de outros recursos. Identificar se pode ser possível adicionar gráficos, mapas,
animações e reconstituições para ilustrar a reportagem. O sexto é a gravação do
texto, onde o repórter grava o texto que será colocado junto com as imagens
selecionadas. O sétimo e o último, a montagem, adequar o texto e as imagens
em uma narrativa.
São os editores de texto de telejornalismo que orientam os repórteres
sobre a montagem da reportagem. De acordo com Bonner (2009), os editores de
texto tem a missão de fazer com que a notícia seja contada de maneira mais
clara para os telespectadores. O jornalista explica que os editores de texto fazem
um trabalho parecido com o de roteiristas de cinema, mas com uma diferença.
A matéria-prima deles é a realidade, a obsessão deles é a fidelidade aos fatos. O que há de semelhança é o fato de que o bom editor determinará a ordem em que as informações de uma reportagem serão fornecidas ao espectador - de maneira a facilitar ao máximo a compreensão - e, simultaneamente, se possível for, de forma a despertar o máximo interesse de quem assiste à reportagem, de quem ouve a notícia contada pelo apresentador (BONNER, 2009, p. 53).
A edição no jornalismo esportivo ocorre a partir da seleção de material
para o produto final, e isso começa desde a escolha da pauta. Conforme Barbeiro
e Rangel (2006, p. 41), “é a escolha de assuntos e sua importância que vão dar
ritmo ao programa ou à publicação que chega às bancas”. Então, dependendo do
tipo de veículo, as edições são diferentes. No rádio, as edições de conteúdo
devem ser curtas e objetivas, mas com bastante informação. Na televisão, a
pessoa responsável pela edição é o editor, que deve contar uma história que
precisa ter sentido. Os autores relatam que o esporte proporciona imagens
maravilhosas e que o editor deve utilizar o máximo de recursos audiovisuais para
conseguir uma boa edição.
4.4 GRANDE REPORTAGEM
Diferente da reportagem que busca esclarecer fatos do dia, a grande
reportagem é a matéria mais extensa que procura explorar todos os ângulos
52
possíveis de um assunto. Para Kotscho (2001), não é porque elas são grandes,
em número de linhas e por ocuparem páginas de um jornal, que elas têm esse
nome, mas pelo fato dela exigir um investimento muito grande, não só em termos
humanos, como financeiros para a empresa. A série Perfis, do repórter Pedro
Bassan, que faz parte do corpus desta pesquisa, é uma segmentação, ela foi
dividida em episódios. A série de reportagens ocupou em média oito minutos do
Jornal Nacional durante o mês de julho de 2016.
No artigo Resgate da Grande Reportagem: uma experiência do programa
Profissão Repórter (2015), as autoras Camila Papali, Karen Krinchev e Karen
Debértolis explicam que existem duas características representativas na TV a
respeito da grande reportagem: “ela pode se concentrar sobre uma situação, um
fenômeno ou um acontecimento. E pode ser intensiva, quando se trata os
assuntos em profundidade e aborda vários aspectos” (p. 05).
As autoras ainda citam o autor Jean-Jacques Jespers para definir a grande
reportagem. “É uma série de informações respeitantes a um acontecimento
particular da atualidade, ou a um fenômeno particular da sociedade, numa
mensagem real de certa duração” (JESPERS, 1998 apud PAPALI; KRINCHEV;
DEBÉRTOLIS, 2015, p. 05).
Yara Medeiros dos Santos, em seu artigo Design Editorial e o Especial de
Grande Reportagem em O Povo (2015), fundamenta que a grande reportagem
apresenta ao público uma narrativa mais detalhada, sendo um contraponto as
superficialidades do jornalismo. A autora transcreve a consideração de Edvaldo
Pereira Lima, na obra Páginas Ampliadas O livro-reportagem como extensão do
jornalismo e da literatura (2004), sobre a grande reportagem.
A grande reportagem, aquela que possibilita um mergulho de fôlego nos fatos e em seu contexto, oferecendo, a seu autor ou a seus autores, uma dose ponderável de liberdade para escapar aos grilhões normalmente impostos pela fórmula convencional do tratamento da notícia [...] (LIMA, p.18, 2004).
Santos (2015) esclarece que as pautas de grande reportagem são
realizadas por meio de um grande planejamento e de um fato importante. Sendo
assim, “quando a pauta é planejada, na maioria das vezes, exclusiva daquele
meio, foi desenvolvida a partir de equipes específicas da redação, até porque
financeiramente esse tipo de narrativa necessita de investimento extra da
53
empresa para recursos materiais e humanos” (SANTOS, p. 03/04, 2015). Além
disso, o autor expõe que a grande reportagem está conectada ao gênero
jornalístico interpretativo.
Lima (2004) relata em sua obra que o livro-reportagem incorpora
elementos do jornalismo e os meios de produções. Dessa forma, “dos elementos
que compõem o livro-reportagem como subsistema do jornalismo, seu
catalisador, ou disparador, é a grande reportagem, assim como no jornalismo
cotidiano o catalisador é a notícia” (LIMA, p. 39, 2004). Dessa forma, o livro relato
é composto por técnicas de reportagem, visando uma narrativa mais ampliada. O
autor explica que ao passar uma informação, o público se motiva a um
detalhamento e aprofundamento na grande reportagem.
4.5 ANCORAGEM
O âncora acumula as atividades de apresentar o programa e de ser o
editor-chefe ou o editor-executivo. Conforme Curado (2002, p. 54), “o âncora
funciona como o nome que tem: nele se apoia a identidade editorial do programa
e a identidade visual. Ele dá a “cara” ao telejornal e também as diretrizes que
serão seguidas pela produção”.
Além disso, Curado (2002) explica que o âncora conhece todas as etapas
da produção jornalística, sendo a pessoa com autoridade na equipe. O
profissional não é só âncora, mas também um editor, um produtor, um pauteiro,
um apurador e um repórter. Dessa forma, “as qualidades exigidas de um âncora
são muitas; é um profissional raríssimo e, portanto, bastante valorizado em
qualquer mercado” (CURADO, 2002, p. 55).
Para Barbeiro e Lima (2002), o âncora é o apresentador que participa da
confecção do telejornal, em todas as suas etapas, como acompanhar o
desenvolvimento das notícias durante todo o dia. Os autores destacam que a
participação ativa faz com que na maioria das vezes o âncora seja também o
editor-chefe do telejornal.
54
4.6 EXIBIÇÃO
A exibição é chamada por Curado (2002, p. 178) como o momento em que
decola, é o termo que indica que o telejornal vai entrar no ar, mesmo que ainda
tenha tempo para fazer alterações no script e no espelho, que é a ordem de
entradas de matérias do telejornal. A única coisa que não pode ser mudada é o
material que já foi gravado e editado. Os textos são lidos ao vivo, assim como a
condução das entrevistas são encaminhadas pelas chefias pelo ponto eletrônico
e mensagens via computador. Para Curado (2002), “o conflito essencial está no
embate entre o show e a notícia. Como cativar o público sem transformar a
notícia em espetáculo” (p. 181). De acordo com Barbeiro e Lima (2002), o
apresentador não é artista, muito menos a notícia, ele trabalha a favor dela. Para
os autores, o apresentador
não é a estrela do telejornal, mas é o rosto mais conhecido e familiar do telespectador. [...] O âncora é o apresentador que acompanha e participa do processo de confecção do telejornal em todas as suas etapas. Deve acompanhar a evolução das notícias durante todo o dia, estando ou não na redação. É isso que o distingue de quem apenas grava o off e lê o script. Essa participação ativa, em uma ou mais etapas da produção do telejornal, faz com que em muitos casos o âncora seja também o editor-chefe do telejornal (BARBEIRO; LIMA, 2002, p. 78).
Após a escolha de pauta e formato, reportagem, entrevista, gravação,
texto, edição, exibição e ancoragem, é possível visualizar como é realizada a
produção de conteúdo no telejornalismo, visto que é um processo é complexo.
A partir do processo de produção no telejornalismo, no próximo capítulo
será apresentado o jornalismo literário, e como a narrativa literária pode ser
utilizada na grande reportagem, como também a influência da representação do
herói, no jornalismo literário.
55
5. JORNALISMO LITERÁRIO
A partir do tema desta pesquisa, o presente capítulo abordará o gênero do
jornalismo literário, a linguagem, a narrativa, a emoção no Jornalismo Esportivo
em conexão com a Jornada do Herói, abordagem com origem na Psicologia.
5.1 BREVE HISTÓRICO
Edvaldo Pereira Lima fundamenta em sua obra, O que é livro-reportagem
(1993), que a literatura tem influência sobre o jornalismo, mas não apenas no
aspecto da escrita. Conforme o autor é proveniente de uma corrente literária
chamada realismo social. Esta corrente tem herança nos livros da reportagem
avançada moderna, chamada nos Estados Unidos de new journalism e na
Espanha de periodismo informativo de creación. Segundo Lima, um dos
principais escritores que seguiu no realismo social foi Ernest Hemingway. O autor
fundamenta que Hemingway nunca negou que sofreu influência do jornalismo em
suas produções.
A conduta de Hemingway era a do escritor que alimenta seu enfoque inicial nas fontes profícuas do realismo social literário, mas que ia buscar no jornalismo tanto o aperfeiçoamento dos processos de captação quanto à lapidação da sua técnica de expressão. No início, era o jornalismo inspirando-se na literatura. Depois, era a literatura alimentando-se do jornalismo (LIMA, 2004, p. 188).
Além disso, o jornalismo literário é classificado de diferentes maneiras no
Brasil. Felipe Pena, em sua obra Jornalismo Literário (2006), explica que para
alguns escritores é apenas um período da história do jornalismo. Mas alguns
autores acreditam que significa as críticas de obras literárias que eram veiculadas
nos jornais. E outros identificam o conceito de jornalismo literário com o
movimento do new journalism.
Lima (1993) relata que o jornalismo sempre foi inferior em relação à
literatura quando se trata de narração. A primeira influência é o new journalism,
que iniciou na década de 1960. Conforme Lima (1993, p. 45) é uma “tendência
que reviveu a tradição do jornalismo praticado com requintes literários, revigorou
sobremaneira a grande reportagem, em especial na forma de livro, fazendo muita
gente rever suas críticas. Por que o salto de qualidade foi considerável”.
56
Lima (1993) menciona Tom Wolf como um dos fundadores do new
journalism. Na visão de Wolf (apud LIMA, 1993, p. 48), “o jornalismo alcançou um
status literário próprio a partir de então, constituindo um gênero que não mais
poderia ser considerado inferior”. Deste modo, Lima explica que a tendência do
new journalism não existe mais, mas que foi apenas uma expressão moderna de
algo que sempre existiu ao lado do jornalismo: o jornalismo literário.
Entretanto, de acordo com Pena (2006), o new journalism é um estilo de
jornalismo literário americano, da qual Wolf não é precursor do estilo. Pena cita o
professor Carlos Rogé para explicar que o
termo Novo Jornalismo apareceu pela primeira vez em 1887, mas foi usado de forma jocosa para desqualificar o britânico WT Stead, editor da Pall Mall Gazette. Ele era um repórter engajado nas lutas sociais, recriava a atmosfera das entrevistas em seus textos e fazia matérias participativas. Em uma delas, “comprou” uma menina de 13 anos da própria mãe para denunciar a prostituição infantil - o que lhe custou dois meses de cadeia. Considerado inconsequente por seus adversários, recebeu a alcunha de novo jornalista, cujo significado mais aproximado era o de “cabeça oca” ou cérebro de passarinho”. Bem diferente do conceito atual (PENA, 2006, p. 52).
Assim sendo, Lima (2004) explica que, nas décadas de 1960 e 1970, os
jornalistas ainda estavam amarrados à linha editorial e não cobriam nada disso.
Eles estavam presos a fatos e não se davam conta da situação que o país estava
vivendo, como as tendências e implicações sociais. Aos poucos, os profissionais
foram percebendo as mudanças na sociedade americana e, para registrar tudo,
eram necessários novos procedimentos, e aos poucos foram despontando em
veículos alternativos, em jornais, revistas para alcançar a expressão máxima em
livros-reportagens. Segundo Pena (2006, p. 53), o período foi “a insatisfação de
muitos profissionais da imprensa com as regras de objetividade do texto
jornalístico, expressas na famosa figura do lead, uma prisão narrativa que
recomenda começar a matéria respondendo às perguntas básicas do leitor”.
Pena (2006) também relata a ideia básica de Wolf: que o novo jornalismo
deveria ser subjetivo; os repórteres deveriam se livrar do escravismo do manual
de redação que era seguido. Só assim o texto poderia ser trabalhado
esteticamente. Portanto, Pena aponta os quatro recursos básicos do novo
jornalismo de Wolf: “reconstruir a história cena a cena; registrar diálogos
completos; apresentar as cenas pelos pontos de vista de diferentes personagens
57
e registrar hábitos, roupas, gestos e outras características simbólicas do
personagem” (PENA, 2006, p. 54).
Mas Pena (2006) indica que não é tão fácil aplicar esses recursos. O autor
esclarece que o jornalista deve passar alguns dias com as pessoas sobre as
quais vai escrever, mostrar pontos de vista diferentes para realizar uma descrição
que ultrapasse os romances realistas. Dessa forma, características como os
detalhes do ambiente, costumes, expressões faciais das pessoas, só poderiam
fazer sentido se o repórter souber como lidar com símbolos.
5.2 CONCEITO
Quando falamos de conceito, o jornalismo literário é dividido em duas
abordagens básicas. De acordo com Felipe Pena, na obra 1000 perguntas -
Jornalismo (2005), a primeira abordagem é o jornalismo que é exercido nos
suplementos literários de grandes jornais. A segunda abordagem é dedicar
cuidados não só com a apuração, mas também com a linguagem. Além disso,
Pena explica que ocorre a inclusão de características literárias em matérias.
Porém, em outra obra de Pena, Jornalismo Literário (2006), o autor expõe
mais uma definição sobre o jornalismo literário.
Defino jornalismo literário como linguagem musical de transformação expressiva e informacional. Ao juntar os elementos presentes em dois gêneros diferentes, transformando-os permanentemente em seus domínios específicos, além de formar um terceiro gênero, que também segue pelo inevitável caminho da infinita metamorfose. Não se trata da oposição entre informar ou entreter, mas sim de uma atitude narrativa em que ambos estão misturados. Não se trata nem de jornalismo, nem de literatura, mas sim de melodia (PENA, 2006, p.21).
Lima (2004) relata que o jornalismo e a literatura sempre tiveram em
comum o ato da escrita, pois havia a necessidade de aprimoramento das técnicas
de tratamento da mensagem. Dessa forma, “os jornalistas sentiam-se então
inclinados a se inspirar na arte literária para encontrar os seus próprios caminhos
de narrar o real” (LIMA, 2004, p. 174). O autor também explica que o jornalismo
absorve fatores da literatura, podendo se direcionar a outro fim. Conforme Lima, o
profissional pode sair do real para coletar as informações e reportar, mas adaptar
e transformar essas informações em diferentes formas de expressão. Portanto,
58
para Lima, o jornalismo tem dois momentos e, após isso, pode ser caracterizado
como Jornalismo Literário.
Num primeiro movimento, o jornalismo bebe na fonte da literatura. Num segundo, é esta que descobre, no jornalismo, fonte para reciclar sua prática, enriquecendo-a com uma variante bifurcada em duas possibilidades: a de representação do real efetivo, uma espécie de reportagem - com sabor literário - dos episódios sociais, e a incorporação do estilo de expressão escrita que vai aos poucos diferenciando o jornalismo, com suas marcas distintas de precisão, clareza, simplicidade (LIMA, 1995, p. 178).
Para explicar o que é jornalismo literário, Lima cita as ideias do tradutor e
escritor ucraniano Boris Schnaiderman. Conforme Schnaiderman (apud LIMA,
2004, p. 179), “o jornalismo e a literatura estão tão próximos quanto ligados, que
o jornalismo está se apropriando das técnicas da literatura, assim como a
literatura utiliza das técnicas do jornalismo, bem como o jornalismo atribui
veracidade à literatura moderna, visto que uma reportagem bem feita possui
elementos literários”. Nessa lógica, Schnaiderman afirma que são formas
diferentes de um mesmo processo.
5.3 CARACTERÍSTICAS
Para o autor Felipe Pena (2006), a profissão de jornalista deve ser ligada
às causas da coletividade, mas está se transformando em um palco de futilidades
e exploração. Dessa forma, “os jornalistas sérios, comprometidos com a
sociedade, têm seu espaço reduzido e buscam alternativas. O jornalismo literário
é uma delas” (PENA, 2006, p. 13). Mas fugir do comum é muito mais complexo
do que se imagina. Pena explica que seria necessário potencializar os recursos
utilizados pelos profissionais, expor visões mais amplas do fato, romper com o
lead e garantir os relatos da notícia com profundidade. Para explicar isso de
forma mais clara e objetiva, o autor criou um esquema que apelidou de estrela de
sete pontas.
A primeira ponta é potencializar os recursos do jornalismo. Segundo Pena
(2006, p. 14), “o jornalista literário não ignora o que aprendeu no jornalismo
diário. Nem joga suas técnicas narrativas no lixo. O que ele faz é desenvolvê-las
de tal maneira que acaba constituindo novas estratégias profissionais”. A
segunda ponta é ultrapassar os limites do acontecimento cotidiano. O autor
59
explica que o profissional deve romper com a periodicidade e a atualidade, dessa
forma, “o jornalista não está mais enjaulado pelo deadline16, [...] e nem se
preocupa com a novidade [...]. Seu dever é ultrapassar esses limites e
proporcionar uma visão ampla da realidade” (PENA, 2006, p. 14). A terceira ponta
da estrela é a contextualização da informação de forma mais abrangente
possível, visto que essa é uma preocupação do jornalismo literário. Segundo o
autor, “é preciso mastigar as informações, relacioná-las com outros fatos,
compará-las com diferentes abordagens e, novamente, localizá-las em um
espaço temporal de longa duração” (p. 14).
A quarta ponta é o exercício da cidadania. O autor explica que quando o
jornalista escolhe um tema, deve pensar como a sua abordagem na pauta vai
contribuir para a vida do cidadão, para o bem comum. Isso é chamado de espírito
público. A quinta ponta do jornalismo literário rompe com as correntes do lead. O
lead é composto por seis questões, que o texto deve responder: Quem? O quê?
Como? Onde? Quando? Por quê? Entretanto, o autor explica que faltam
criatividade e estilo no texto quando essas perguntas são respondidas. Então,
seria necessário fugir dessa fórmula para aplicar técnicas literárias para construir
a narrativa.
A sexta ponta da estrela é impossibilitar os definidores primários. Pena
(2006) classifica como os entrevistados de plantão. São as pessoas que sempre
aparecem na mídia, como, por exemplo, fontes oficiais de governo. O autor
explica que como o tempo no jornalismo diário é muito curto, os profissionais
recorrem a essas fontes. Mas é necessário criar alternativas, como “ouvir o
cidadão comum, a fonte anônima, as lacunas, os pontos de vista que nunca
foram abordados” (PENA, 2006, p. 15). A última e sétima ponta da estrela é a
perenidade. Conforme Pena:
uma obra baseada nos preceitos do jornalismo literário não pode ser efêmera ou superficial. [...] Para isso, é preciso fazer uma construção sistêmica do enredo, levando em conta que a realidade é multifacetada, fruto de infinitas relações, articulada em teias de complexidade e indeterminação (PENA, 2006, p. 15).
Além disso, Pena (2005) cita como características o acompanhamento das
tendências literárias brasileiras e também no resto do mundo. O autor cita
16
Deadline: “prazo final para o repórter retornar à redação com uma reportagem” (BARBEIRO; LIMA,2002, p. 165).
60
Edvaldo Pereira Lima, onde fala que o jornalismo literário demanda o mergulho
do repórter naquilo que ele quer retratar. Ou seja, uma observação detalhada.
5.4 A LINGUAGEM E A NARRATIVA LITERÁRIA
A linguagem no Jornalismo Literário tem como característica a estética, a
observação sensível dos fatos, e a descrição meticulosa. De acordo com Pena
(2005, p. 176), “o texto literário pressupõe um compromisso com a qualidade, já
que permite a incorporação de elementos subjetivos e figuras simbólicas,
deslocando a linguagem do viés de mero instrumento para o centro das
preocupações”. O autor explica o que difere o texto literário dos demais é a sua
construção refinada e como sua linguagem é usada.
Pena (2005) apresenta como deve ser o texto de Jornalismo Literário para
a televisão, visto que o mesmo deve ser mais apurado e bem cuidado.
Na televisão, este rebuscar na linguagem tem de ser pensado sob o prisma de um veículo onde a velocidade e a objetividade são ideias principais. Ou seja, no jornal, o leitor tem a possibilidade da releitura em caso de não haver compreendido alguma coisa. Já na televisão isto não ocorre. O telespectador deve entender o que está se falando no momento em que algum assunto esteja sendo tratado (PENA, 2005, p. 180).
Além do mais, Lima (2004) indica que o texto jornalístico deve se
rejuvenescer. A narrativa é entendida pelo autor como um relato de vários
acontecimentos. No caso da grande reportagem, existe uma renovação no estilo
do jornalismo como também uma renovação na força de comunicar. Portanto,
a narrativa jornalística de melhor qualidade beira a arte, assume alguns dos nobres ideais de que esta pode revestir-se. Potencialmente, pode ao menos desencadear um processo de catarse parcial - mental, nesse caso, ou quiçá também emocional - no leitor [...]. Sistematicamente, instaura uma ordem em seguida a uma desordem, leva o leitor a uma nova desordem e permite que ele próprio constitua um reordenamento possível, para o qual o próprio texto oferece sua contribuição (LIMA, 2004, p. 138/139).
Essa ordem e desordem que o texto oferece pode ser entendida sob o
enfoque da psicologia. Lima (2004) esclarece que quando Dante Moreira Leite
examinou uma obra literária, ele afirmou que a leitura pode transportar o leitor por
uma tensão intelectual. Em primeiro lugar, o caos é criado devido ao conflito da
história. Posteriormente, a ordem é estabelecida com um final feliz podendo ser
superficial e nada revelador. Em segundo lugar, existe a possibilidade do leitor
61
criar soluções, visto que é possível organizá-la de várias formas, onde a
interpretação final pode ser definitiva. Lima relata que
esse conceito de tensão-equilíbrio-desequilíbrio - teoria que Dante Moreira Leite traz da Gestalt, por isso aproveitada por nós neste livro, uma vez que consideramos essa linha do pensamento psicológico como uma das mais imbuídas do senso sistêmico, contextual, de compreensão da realidade humana - permite entender a possibilidade de reestruturação cognitiva e emocional que a obra de arte oferece. E não é essa reestruturação cognitiva e emocional da contemporaneidade o que a grande reportagem procura oferecer? Não é esse restabelecimento de um novo ordenamento sistêmico dos dados da realidade o que propõe o jornalismo de profundidade acionar no leitor? (LIMA, 2004, p. 139)
Sendo assim, a maneira que o autor ordena e distribui as informações dos
relatos criando uma interação que flui entre o texto e o leitor, só pode estar
presente na obra literária ou na grande reportagem, de acordo com Lima (2004).
O autor também aponta a definição de narração dos autores Muniz Sodré e Maria
Helena Ferrari. Conformes os autores, são os acontecimentos em uma sequência
temporal, a ordenação dos fatos, mesmo eles sendo de conteúdo diferente e
externo ao narrador, quando o mesmo participa dos fatos. O autor também
fundamenta que Sodré e Ferrari encontraram elementos relevantes na narração.
O primeiro deles é a situação, que constitui em compreender o acontecimento,
envolvendo as questões básicas do lead, que, o quê, quando, onde, como e
porquê; o segundo é a intensidade, sendo a repercussão emocional do fato; e o
terceiro é o ambiente, que equivale a descrição do lugar onde ocorreu o fato.
Dessa forma, Lima fundamenta que a grande reportagem utiliza um item como
foco e, a partir disso, desenvolve o texto que o envolve.
5.5 A LITERATURA NA REPORTAGEM PERFIL
É possível ver que as características do Jornalismo Literário estão
presentes no perfil jornalístico, que é construído a partir da história de vida de
uma pessoa. A narrativa é explorada com técnicas de reportagem jornalística
juntamente com esses recursos. Para os autores Danilo Christofoletti e Julio
Hildebrans, no artigo A utilização dos pilares do jornalismo literário na construção
de perfis jornalísticos (2015, p.02), “se um perfil caminha sem contemplar essas
duas facetas, corre-se o risco de gerar um resultado que tenda para a literatura
ficcional ou para um texto jornalístico convencional, sem nenhum apelo narrativo”.
62
O perfil jornalístico é definido por Kotscho, como o “filão mais rico das
matérias chamadas humanas” (2001, p. 42). De acordo com o autor, o perfil
oferece ao repórter a oportunidade de fazer um texto detalhado. O autor explica
que um bom perfil pode ser feito em algumas horas ou também pode levar mais
de um mês para ficar pronto. O perfil exige paciência do jornalista, sendo assim o
repórter pode ouvir o seu entrevistado e montar o produto final.
Lima (2004) elenca o livro reportagem perfil. Para o autor, esse tipo de
obra tem como objetivo evidenciar uma personalidade pública ou uma
personagem anônima que passou ser interessante. Sendo assim, “no primeiro
caso, trata-se em geral de uma figura olimpiana. No segundo, pessoalmente
representa por suas características e circunstâncias de vida, um determinado
grupo social, passando como que a personificar a realidade do grupo em
questão” (LIMA, 2004, p. 52).
Da mesma forma que um perfil jornalístico pode ser publicado em um
jornal impresso, ele pode ser apresentado na televisão. Paulo Eduardo Silva Lins,
no artigo O texto de TV e o novo jornalismo literário (2010, p. 03), “na narrativa
audiovisual, o telespectador se envolve, junto com o enunciador/narrador e o
enunciatário/público, numa coparticipação do objeto não ficcional permeado de
efeitos de sentido que garantem a melhor compreensão da realidade da história”.
Sendo assim, a narrativa literária é um modo diferente de relatar a vida das
pessoas que aparecem nas reportagens e nos perfis.
Entretanto, diferente das ideias de Lima (1993) de que a tendência do new
journalism foi passageira, Lins (2010) explica que esse novo jornalismo está
presente quando o repórter empresta ao público não apenas o espaço da notícia,
mas também a possibilidade de o personagem contar o fato do seu ponto de
vista, fazendo uma comparação entre a construção de texto para TV e para o
impresso.
Logo, por meio do mecanismo audiovisual, as reportagens com características do novo jornalismo moldam as manifestações dos personagens a um estilo subjetivo, dando-lhe determinados sentidos e valores, gerando simulacros perfeitamente absorvidos pela sociedade. Dessa maneira, cada reportagem exibida na televisão deixa de ser mero produto pelo qual a sociedade se identifica para tornar-se um produto audiovisual de entretenimento, com as características do jornalismo literário (LINS, 2010, p. 06).
63
Dessa forma, Lins (2010) conclui que o texto jornalístico é cheio de signos
linguísticos verbais e não verbais, cores, formatos, palavras e sons que conduz o
telespectador a perceber o texto, relacionado com as imagens, mediante a
utilização das técnicas do Jornalismo Literário na construção das reportagens,
onde a emoção se faz presente, como também no Jornalismo Esportivo.
5.6 EMOÇÃO NA NARRATIVA JORNALÍSTICA E LITERÁRIA
A emoção também faz parte do Jornalismo. Conforme a autora Hadassa
Ester, no artigo A Narrativa Jornalística: Objetividade versus Subjetividade (2015,
p. 12), “as narrativas literárias são mais abertas à emoção e à sensibilidade e
podem substituir a frieza do texto do jornalismo factual, trazendo mais
humanização e uma linguagem mais livre”.
Ester (2015) apresenta as ideias do autor Carlos Alberto di Franco, onde
esclarece que não se faz jornalismo sem emoção, e que a frieza não é humana.
Ester também aponta a opinião do autor e jornalista Eugênio Bucci. “Bucci
acredita que as convicções pessoais não comprometem ou estragam um texto
porque um bom jornalismo não está ligado à indiferença ou à neutralidade do
sujeito. Para promover a cidadania, o jornalismo precisa se valer da indignação e
outras emoções humanas” (ESTER, 2015, p. 10).
Além disso, o pensamento do jornalista Gustavo de Castro é mencionado
por Ester (2015) em seu artigo. Castro fundamenta que a emoção é importante
para o jornalismo desde que ela não seja exagerada, banalizada e não vire
espetáculo como o sensacionalismo. Dessa forma, a sensibilidade é necessária
para poder educar, inspirar e interagir.
Dessa forma, direcionando para o tema da pesquisa, a emoção faz parte
do jornalismo esportivo, fazendo conexão com o jornalismo literário por meio da
narrativa. Sendo assim, o telespectador quer que o repórter informe o
acontecimento. Mas, segundo Heródoto Barbeiro e Patrícia Rangel, na obra O
Manual do Jornalismo Esportivo (2006), todo jornalista esportivo deve saber que
as emoções são contagiosas. O jornalismo não se faz sem emoção, mas o
profissional também tem compromisso com a verdade. Dessa forma,
64
a emoção é a própria alma do esporte. Ele está nos olhos do jogador que faz o gol do título, na decepção da derrota, nas piscinas, quadras e pistas. Em nenhuma outra área do jornalismo a informação e o entretenimento estão próximos. [...] O esporte em si já tem certo grau de emoção. E sabemos que não é fácil, no jornalismo esportivo, dosar coração com razão (BARBEIRO; RANGEL, 2006, p.45).
O jornalista esportivo, pela especificidade do seu trabalho, deve estar
preparado para lidar com frustrações e também controlar as suas emoções.
Barbeiro e Rangel (2006) explicam que a demonstração dessas emoções tem
consequências imediatas para o público. Os autores apresentam um depoimento
do jornalista brasileiro Luis Roberto, que foi o narrador da corrida em que Ayrton
Senna morreu. Na declaração, o jornalista conta que após a batida do carro,
imaginava que a situação era dramática, mas teve que controlar os nervos e
continuar narrando à corrida. Ao final, se direcionou até o hospital e era o único
profissional que estava ao vivo quando foi anunciada a morte do piloto. Sendo
assim, “mesmo Senna sendo um ídolo e muito querido por todos nós, tive que
manter a frieza, controlar a emoção e sair atrás da notícia, que é o trabalho de
todo jornalista” (ROBERTO, apud BARBEIRO; RANGEL, 2006, p.50).
Os autores ainda explicam que a emoção em um evento esportivo, como a
Copa do Mundo, deve ser contida na medida certa. Entretanto,
sabemos que esse evento teve um preço. Até que ponto ficamos “imunes” à televisão quando sabemos que o veículo precisará do máximo de audiência para que compense financeiramente o valor investido na compra do evento? Até que ponto podemos endeusar atletas e criar ídolos para aumentarmos ao máximo a audiência e, assim, o retorno com patrocinadores ser satisfatório? (BARBEIRO; RANGEL, 2006, p. 50).
Deste modo, de acordo com Barbeiro e Rangel (2006), o público quer a
informação que o profissional vai passar e o jornalista esportivo não precisa,
necessariamente, torcer com o torcedor, muito menos pelo torcedor. Por fim,
Ester (2015) relata que é dessa mistura de racionalidade e sensibilidade que o
Jornalismo Literário nasce. Dessa forma, a Representação Social se faz presente
na narrativa literária da grande reportagem no Jornalismo Esportivo.
5.7 REPRESENTAÇÃO SOCIAL NA NARRATIVA JORNALÍSTICA
Para definir o que é representação social, o autor Erving Goffman, na obra
A Representação do Eu na Vida Cotidiana (2004, p. 29), usa o termo
65
“representação” para se “referir a toda atividade de um indivíduo que se passa
num período caracterizado por sua presença contínua diante de um grupo
particular de observadores e que tem sobre estes alguma influência”.
Quando uma pessoa, sendo ela uma representação, está diante dos
outros “seu desempenho tenderá a incorporar e exemplificar os valores
oficialmente reconhecidos pela sociedade e até realmente mais do que o
comportamento do indivíduo como um todo” (GOFFMAN, 2004, p. 41). Dessa
forma, Goffman esclarece que quando uma representação destaca os valores
oficiais de uma sociedade, ela pode ser considerada uma cerimônia,
rejuvenescimento e reafirmar os valores morais de uma comunidade.
No entanto, para o autor Celso Pereira de Sá, na obra O Conhecimento no
cotidiano - as representações sociais na perspectiva da psicologia social (1993,
p.19), organizado por Mary Jane Spink, “o termo representações sociais designa
tanto um conjunto de fenômenos quanto o conceito que os engloba e a teoria
construída para explicá-los, identificando um vasto campo de estudos
psicossociológicos”. Sá relata que o esboço desse conceito surgiu no trabalho do
francês Serge Moscovici, chamado de La psychanalyse, son image et son public
(1961). Conforme o autor, o francês desejava redefinir os conceitos da Psicologia
Social a partir do conceito de Representação Social. Sendo assim
em uma Psicologia Social mais socialmente orientada, é importante considerar tanto os comportamentos individuais quanto os fatos sociais (instituições e práticas, por exemplo) em sua concretude e singularidade histórica e não abstraídos como uma genérica presença de outros. [...] Além disso, não importa apenas a influência, unidirecional, dos contextos sociais sobre os comportamentos, estados e processos individuais, mas também a participação destes na construção das próprias realidades sociais (SÁ, 1993, p. 20).
O autor ainda esclarece que a representação social pode ocorrer em
várias ocasiões e lugares, onde os indivíduos se encontram e se comunicam,
fazendo parte da vida em conjunto, sociedade. Além disso, Sá (1993) aponta a
definição de Representação Social da professora Denise Jodelet. Ela fundamenta
que “representações sociais são uma forma de conhecimento, socialmente
elaborada e partilhada, tendo uma visão prática e concorrendo para a construção
de uma realidade comum a um conjunto social” (JODELET, 1989 apud SÁ, 1993,
p. 32).
66
A teoria das representações sociais é singular, podendo se tornar uma
teoria específica dos fenômenos psíquicos. Na obra Representações Sociais -
Investigação em psicologia social (2005), o autor Serge Moscovici fundamenta
que “certamente existem poder e interesses, mas para serem reconhecidos como
tais na sociedade devem existir representações ou valores que lhes dêem
sentido” (2005, p. 173). O autor relata que as representações são semelhantes a
teorias que organizam em torno de um tema. Dessa forma, o autor faz uma
comparação entre o dinheiro e as representações.
Do mesmo modo que o dinheiro, sob outros aspectos, as representações são sociais, pelo fato de serem um fato psicológico, de três maneiras: elas possuem um aspecto impessoal, no sentido de pertencer a todos; elas são a representação de outros, pertencentes a outras pessoas ou a outro grupo; e elas são uma representação pessoal, percebida efetivamente como pertencente ao ego (MOSCOVICI, 2005, p 211).
Sendo assim, Moscovici (2005) relata que não é apropriado declarar que
as representações são como uma cópia do mundo ou um reflexo dele, mas
também porque as representações relembram o que está ausente desse mundo.
Dessa forma, elas constituem o mundo mais do que simulam. A partir da
Representação Social, é possível identificar a jornada do herói na grande
reportagem do Jornalismo Esportivo.
5.6.1 Jornada do Herói
Para explicar a Jornada do Herói, os autores Gabriela Gimenes, Gustavo
Larón e Fabiano Ormaneze, no artigo Análise da Narrativa no Jornalismo Literário
(2015), indicam a estratégia de narração de Monica Martinez, visto que a origem
desse conceito veio a partir de mitos e contos populares, seguindo três pontos: a
partida, a iniciação e o retorno.
De fato, a jornada do herói ilustra o caminho que leva a pessoa compreender vivências que fazem mudar padrões de comportamento conscientes e inconscientes. De forma sintética, o percurso da aventura mitológica do herói reproduz os rituais de passagem, comuns nas sociedades primitivas, nas quais ocorre o padrão separação-iniciação-retorno (MARTINEZ, 2008 apud GIMENES; LARÓN; ORMANEZE, 2015, p. 02).
Gimenes, Larón e Ormaneze (2015) indicam a divisão feita por Monica
Martinez, que foi adaptada da divisão da Jornada do Herói criada pelo mitólogo
Joseph Campbell, para a escrita do jornalismo sobre histórias de vida. São sete
67
etapas: cotidiano; chamado à aventura; recusa do chamado; testes;
internalização; recompensa e retorno ao cotidiano.
Os autores apontam a fala de Monica Martinez em relação à aventura, que
pode ser um convite de trabalho em uma cidade diferente, ou em uma área nova.
Em relação aos aliados, a autora se refere às pessoas que ajudam em tarefas
realizadas pelo o protagonista. Dessa forma,
já quanto à Jornada do Herói, proposta por Campbell e adaptada ao jornalismo por Martinez (2008), podemos observar que as passagens da aventura (partida, iniciação e retorno) ajudam a transformar uma pessoa comum em alguém com uma história tão interessante a ponto de ser perfilada (GIMENES; LARÓN; ORMANEZE, 2015, p. 8).
Além disso, as autoras Samantha Diefenthaeler e Miriam de Souza
Rossini, no artigo Tiro, Porrada e Bomba: a Jornada do Herói em Tropa de Elite
2, 2010, de José Padilha (2015), apontam que um personagem desenvolve um
papel importante em um enredo, mesmo sendo reproduzido em tramas
diferentes. Elas transcrevem a definição de herói feita pelo autor Christopher
Vloger (2006, apud DIEFENTHAELER; ROSSINI, 2015, p. 3): “a palavra herói
vem do grego, de uma raiz que significa “proteger e servir”. [...] A raiz da ideia de
Herói está ligada a um sacrifício de si mesmo”. Dessa forma, as autoras
transcrevem a fala de Joseph Campbell, que o mito do herói passa por uma
jornada da alma, com dificuldades a serem ultrapassadas.
Joseph Campbell em sua obra O Herói de Mil Faces (1990), explica que o
herói é um homem ou uma mulher que conseguiu vencer as suas limitações
históricas, pessoais alcançando formas válidas. Essa característica faz parte do
corpus desta pesquisa, visto que em cada histórias dos atletas, é apresentada a
sua jornada, entre acertos e erros no esporte. Dessa forma, “as visões, idéias
[sic] e inspirações dessas pessoas vêm diretamente das fontes primárias da vida
e do pensamento humano” (p. 13). Além disso, o autor fundamenta que o herói
vem do mundo cotidiano e se aventura em uma região, onde encontra forças para
obter uma vitória decisiva. Posteriormente, o herói retorna da sua aventura para
poder transmitir seus conhecimentos aos seus semelhantes. Dessa forma “toda a
vida do herói é apresentada como uma grandiosa sucessão de prodígios, da qual
a grande aventura central é ponto culminante” (CAMPBELL, 1990, p. 168).
68
Após a revisão bibliográfica dos temas pertinentes ao estudo, no próximo
capítulo serão apresentados outros procedimentos metodológicos que foram
essenciais para o desenvolvimento à pesquisa.
69
6 METODOLOGIA
O objetivo deste trabalho é investigar se a série Perfis, exibida no Jornal
Nacional, se utiliza do jornalismo literário para reforçar a representação do herói
nas reportagens esportivas sobre os atletas olímpicos de 2016. O método da
investigação será por meio da Análise de Discurso e como técnicas a revisão
bibliográfica, a observação e a entrevista. A referência aplicada será a obra
bibliográfica Análise de Discurso: Princípios e Procedimentos (2000) de Eni P.
Orlandi e Métodos e Técnicas de Pesquisa em Comunicação (2005).
6.1 MÉTODO
O método Análise de Discurso significa linguagem em curso, em
movimento. Segundo Eduardo Manhães (2005, p. 305), na obra Métodos e
Técnicas de Pesquisa em Comunicação, “a discursividade implica a
compreensão de que a mensagem é construída no interior de uma conversa e a
concretização de um ato”. Conforme Eni P. Orlandi, no livro Análise de Discurso -
Princípios e Procedimentos (2000) é possível observar a fala do homem a partir
da prática da linguagem estudando o discurso dele.
Manhães (2005) explica que o discurso é resultante da ideia de
interpretação e do significado formado no interior da fala do sujeito. Ele depende
da pessoa para existir. É quando o locutor estimula mostrar o seu ponto de vista
em alguma situação para outra pessoa. Em outras palavras, o discurso é a posse
da linguagem por um locutor, que compõe um sujeito da ação social. Conforme
Manhães, um sujeito da ação social é aquele que cria um modo de falar, tem a
capacidade de persuadir o emissor, ordena e organiza. A consequência disso é
que o discurso se torna uma mediação para o homem, em relação à realidade
natural e social.
Além disso, Manhães (2005) fala que o entendimento do discurso é uma
contradição da interpretação dos textos, do sentido das palavras. Pois, se o único
modo de as pessoas se expressarem é apropriando-se da linguagem para
explicarem suas ideias e pensamentos, as pessoas acabam virando prisioneiras
da linguagem. Para se expressarem, são obrigados a usar as estruturas
70
linguísticas e suas regras.
De acordo com Manhães (2005), existem dois tipos de análise de discurso.
“A análise de discurso francesa, é caracterizada pela ênfase no assujeitamento
do emissor, que se expressaria mediante a incorporação de discursos sociais já
instituídos: o religioso, o científico, o filosófico [...] etc” (2005, p 306). A análise de
discurso inglesa é baseada na ação das palavras do sujeito. É aquela pessoa que
usa as palavras para praticar ações. Manhães esclarece que o sujeito é obrigado
a obedecer a uma estrutura linguística, se expressando em situações específicas,
para emitir o ato da fala. Em resumo, a análise de discurso significa desmontar o
texto, na fala, para saber e entender como ele foi elaborado. É a identificação de
quem conduz a narrativa. Conforme Manhães (2005, p. 306), a análise inglesa,
ainda visa atingir o auge de uma conversa como “daquilo que se objetiva alcançar
na vida cotidiana quando se conversa com alguém”.
Manhães (2005) fundamenta: para que o sujeito construa o seu discurso e
se expresse, é necessário que ele domine três instâncias: a conversacional, a
indexical e a acional. O autor esclarece que o âmbito da conversa determina que
a mensagem seja compreensível para os interlocutores, emissor e receptor. A
partir disso, “embora o discurso indique a presença de um sujeito que fala de uma
subjetividade, a significação construída deve ser intersubjetiva, deve fazer sentido
na situação e no contexto social, por isso obedece a regras e procedimentos
linguísticos” (MANHÃES, 2005, p. 307). Na obra Metodologia de pesquisa em
Jornalismo, a autora Márcia Benetti (2010, p.108) explica que “a
intersubjetividade nos obriga a refutar a visão ingênua de que o discurso poderia
conter uma verdade intrínseca ou uma literalidade”. Para a autora, a literalidade é
algo natural e óbvio. O sujeito se apropria da linguagem para expressar o seu
ponto de vista em determinadas situações. É dessa forma que os indicadores
podem ser definidos.
Manhães (2005) também menciona que o indicador mostra que o sujeito
deixa marcas, pistas, que identifica sua presença na construção do discurso. As
pistas, por exemplo, são indicadores de pessoa, de lugar e de tempo. Segundo o
autor, o pronome pessoal “eu” é a indicação de que a pessoa se apropria da
linguagem para elaborar o discurso, assim assume o lugar do locutor. “O ‘eu’ não
é necessariamente nem o indivíduo físico, biológico, o autor do texto, nem o
71
sujeito do ponto de vista gramatical. É a pessoa que assume a posição de sujeito
do discurso no texto” (2005, p. 309).
Em relação aos indicadores de tempo e espaço, eles não têm
necessariamente o sentido gramatical dos advérbios, segundo Manhães (2005).
As noções discursivas de tempo podem não reproduzir a ordem cronológica com a qual organizamos a sucessão de nossos dias e organizamos nossas tarefas habituais. Passado, presente e futuro também são funções discursivas, definidas pelo momento indicado pelo locutor como sendo “agora”, assim como as noções discursivas de lugar são indicadas pelo locutor como “aqui”. Tanto “aqui” como o “agora” podem ser referências imaginadas (MANHÃES, 2005, p. 310).
A ação, chamada de instância acional, define que a comunicação é uma
ação simbólica e social, simultaneamente. Quando alguém fala e escuta, o
locutor faz e, ou realiza atos de fala. Conforme Manhães (2005, p. 312), “o sujeito
apropria-se da linguagem para ordenar, explicar ou pedir e, ao fazê-lo, mostra o
mundo a partir de seu ponto de vista para interlocutores em conversas que
acontecem em determinadas situações, que, por sua vez, possuem indicações de
tempo e espaço”.
Assim, para a análise de discurso, a fala é independente e tem sua ordem
própria, a história tem sua realidade afetada pelo simbólico e o sujeito não tem
controle sobre como a linguagem é afetada. De acordo com Eni P. Orlandi
(2000),
a Análise do Discurso visa fazer compreender como os objetos simbólicos produzem sentidos, analisando assim os próprios gestos de interpretação que ela considera como atos no domínio simbólico, pois eles intervêm no real do sentido. A análise do Discurso não estaciona na interpretação, trabalha seus limites, seus mecanismos, como parte dos processos de significação. Também não procura um sentido verdadeiro através de uma “chave” de interpretação (ORLANDI, 2000, p. 26).
Após a definição e contextualização da Análise de Discurso, é necessário
aplicar o método. De acordo com Orlandi (2001), o pesquisador deve se
perguntar e que deve ouvir para compreender na opacidade da linguagem para
aplicar o método. Sendo assim, o autor propõe a construção de um dispositivo da
interpretação.
Esse dispositivo tem como característica colocar o dito em relação ao não dito, o que o sujeito diz em um lugar com o que é dito em outro lugar, o que é dito de um modo com o que é dito de outro, procurando ouvir, naquilo que o sujeito diz aquilo que ele não diz, mas que constitui igualmente os sentidos de suas palavras (ORLANDI, 2000, p. 59).
A partir disso, o pesquisador deve explicitar os processos da análise, visto
72
que falamos a mesma língua, mas sempre de forma diferente. Orlandi (2000)
relata que o analista deve construir um dispositivo que seja capaz de mostrar
essa didática. “O dispositivo, a escuta discursiva, deve explicitar os gestos de
interpretação que se ligam aos processos de identificação dos sujeitos, suas
filiações de sentidos: descrever a relação do sujeito com sua memória”
(ORLANDI, 2000, p. 60). A consequência disso é a relação entre a descrição e a
interpretação.
Orlandi (2000) menciona que existem dois momentos da análise onde a
interpretação aparece. O primeiro, é que o analista deve descrever o gesto de
interpretação, visto que o sujeito que fala, interpreta. O segundo é que o analista
está envolvido na interpretação, pois não tem descrição sem interpretação. Dessa
forma, o autor salienta que a análise de discurso trabalha nos limites da
interpretação. Com base nisso, o pesquisador constrói o seu dispositivo analítico
para prosseguir na análise. Então, “um dos primeiros pontos a considerar, se
pensarmos na análise, é a constituição do corpus. A delimitação do corpus não
segue critérios empíricos (positivistas), mas teóricos” (ORLANDI, 2000, p. 62).
O processo de análise começa pelo o estabelecimento do corpus, e se
organiza pelo o seu ponto de vista. Orlandi (2000) relata que é a partir disso que
existe a necessidade da intervenção da teoria para mediar a relação entre o
pesquisador e o seu objeto de estudo. Logo, a análise deve ser o menos
subjetiva para exemplificar o modo de produção. Depois que o objeto for
analisado, ele está pronto para novas abordagens.
Ele não se esgota em uma descrição. E isto não tem a ver com a objetividade da análise com o fato de que todo o discurso é parte de um processo discursivo mais amplo que recortamos e a forma do recorte determina o modo da análise e o dispositivo teórico da interpretação que construímos. Por isso o dispositivo analítico pode ser diferente nas diferentes tomadas que fazemos do corpus, relativamente à questão posta pelo analista em seus objetivos. Isto conduz a resultados diferentes (ORLANDI, 2000, p. 64).
Segundo Orlandi (2000), será trabalhado em desfazer os efeitos dessa
ilusão. Em outras palavras, construir, a partir do material bruto, um objeto
discursivo onde é analisado o que é dito nesse discurso e em outros, mas em
condições diferentes. Em uma primeira etapa dessa análise, é necessário
converter o material bruto em um objeto teórico. Então, já é possível analisar
propriamente a discursividade.
73
Em uma segunda etapa, é iniciada a avaliação pela configuração do corpus,
traçar os limites, fazer recortes, retomando os conceitos e noções da análise de
discurso. Orlandi (2000) relata que é a observação da construção, estruturação,
modo de circulação e os gestos de leitura. A análise é a compreensão dos
processos de significação dentro do texto.
Compreender como um texto funciona como ele produz sentidos, compreendê-lo enquanto objeto linguístico-histórico é explicar como ele realiza a discursividade que o constitui. [...] Todo texto é heterogêneo: quanto à natureza dos diferentes materiais simbólicos (imagem, som, grafia etc); quanto à natureza das linguagens (oral, escrita, científica, literária, narrativa, descrição etc); quanto às posições do sujeito. Além disso, podemos considerar essas diferenças em função das formações discursivas: em um texto não encontramos apenas uma formação discursiva, pois ele pode ser atravessado por várias formações discursivas que nele se organizam em função de uma dominante (ORLANDI, 2000, p. 70).
Sendo assim, o objetivo do analista é explorar a ordem do discurso e a
estruturação do texto. O efeito da análise é a compreensão dos processos de
produção dos sentidos e as posições dos sujeitos. Após a escolha do método, é
possível definir as técnicas que serão utilizadas.
6.2 TÉCNICAS
Para auxiliar no estudo do método de Análise de Discurso, serão utilizadas
as técnicas de revisão bibliográfica, entrevista, por meio de questionário, e
observação.
6.2.1 Revisão bibliográfica
A revisão bibliográfica é o planejamento da pesquisa. É a localização e a
identificação de autores que falam sobre o assunto a ser estudado. De acordo
com Ida Regina C. Stumpf, no artigo Pesquisa Bibliográfica (2005, p. 51), a
revisão significa “selecionar os documentos pertinentes ao tema estudado e
proceder à respectiva anotação ou fichamento das referências [...] para que
sejam posteriormente utilizados na redação de um trabalho acadêmico”. Dessa
forma, a autora salienta que para seguir adiante na pesquisa, o aluno deve
conhecer o que já foi escrito, para acrescentar ao seu trabalho.
74
Segundo Stumpf (2005), a revisão é constante durante todo o trabalho
acadêmico e segue uma ordem de tópicos: definição do problema; revisão da
literatura; hipóteses; metodologia; análise dos dados e conclusões. Mas cada
etapa é pré-requisito das outras. Entretanto, a autora afirma que (2005, p. 53) “o
foco de interesse será buscado na sua vida real, especialmente na vida
profissional para os já graduandos, mas precisa ser estimulado através de um
programa de leituras que indique haver um ponto obscuro que precisa ser
investigado”.
Após a definição do problema da pesquisa, o aluno deve explorar os
conceitos e temas do seu trabalho acadêmico e organizar uma sequência de
ideias. Stumpf esclarece que,
todo auxilio externo que conseguir é uma complementação à bagagem pessoal do pesquisador e um enriquecimento à análise que pretende elaborar, uma vez que nada substitui o conhecimento próprio, formado através de leituras direcionadas que fez para a elaboração do trabalho (2005, p. 54).
Sendo assim, a autora exemplifica os passos necessários para que a
revisão bibliográfica seja bem sucedida.
A primeira etapa é a identificação do tema e assuntos. A autora expõe que
o pesquisador precisa definir um assunto que lhe instiga e elaborar palavras-
chaves ou termos relacionados à temática. A autora explica que o aluno pode
direcionar a sua busca a alguns pontos do tema, pois é impossível abordar o
trabalho de todos os ângulos. A segunda etapa é a seleção das fontes. Para
Stumpf (2005), a primeira fonte que vai indicar a bibliografia relacionada ao tema
é o orientador. Ele pode indicar o melhor material para o pesquisador. Entretanto,
o aluno não pode se ater apenas a isso. Ele deve realizar a sua própria busca.
A terceira etapa é a localização e obtenção do material. Após identificar os
nomes dos autores e das obras,
o pesquisador dará início à etapa de localização dos documentos. Para isto, o primeiro passo é a consulta à biblioteca local e nela começar pelo catálogo. O catálogo, automatizado ou não, permite consultar por três tipos de entradas: pelo sobrenome do autor, pelo título e pelo (s) assunto (s), no caso de livros, teses e dissertações, folhetos e monografias. [...] Devem-se então anotar os dados e a localização (STUMPF, 2005, p. 58).
Além disso, o pesquisador pode variar na obtenção do material, comprado
ou via empréstimo na biblioteca, exceto aqueles que são apenas para consulta
local. A quarta etapa é a leitura e transcrição dos dados. Conforme Stumpf
75
(2005), o resultado da leitura pode ser anotado em fichas, também chamado de
fichamento do material. A autora descreve o processo em pequenas etapas,
como anotar os nomes dos autores, título, edição, local (cidade) de publicação,
editora e ano de publicação. Para artigos do periódico deve ser anotado o
volume, número, páginas iniciais e finais do artigo, mês e ano. Para teses e
dissertações, também deve ser anotado o nome da universidade e da titulação a
que se refere. E para os documentos que foram acessados na internet, devem
ser anotados o site e a data de acesso.
Após essas etapas, é importante identificar quais os tipos de pesquisas
bibliográficas. O autor Antonio Carlos Gil, na obra Métodos e Técnicas de
Pesquisa Social (1989), divide a revisão bibliográfica em seis categorias. A
primeira categoria é a pesquisa bibliográfica. De acordo com o autor, essa
categoria é desenvolvida a partir de material que já foi elaborado e faz parte de
livros e artigos científicos. A segunda é a pesquisa documental. Ela é bastante
parecida com a pesquisa bibliográfica, mas se difere pela natureza das fontes.
Segundo Gil (1989, p. 73), “a pesquisa documental vale-se de materiais que não
receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados
de acordo com os objetivos da pesquisa”.
A terceira categoria é a pesquisa experimental, e, conforme Gil (1989) é o
melhor exemplo de pesquisa científica. O autor explica que essa pesquisa
“consiste em determinar um objeto de estudo, selecionar as variáveis que seriam
capazes de influenciá-lo, definir formas de controle e de observação dos efeitos
que a variável produz no objeto” (GIL, 1989, p. 73). A quarta categoria é a
pesquisa ex-post-facto. De acordo com Gil, nessa categoria é realizado um
experimento depois dos fatos.
Não se trata rigorosamente de um experimento, posto que o pesquisador não tem controle sobre as variáveis. Todavia, os procedimentos lógicos do delineamento ex-post-facto são semelhantes aos dos experimentos ditos. Basicamente neste tipo de delineamento são tomadas como experimentais situações que se desenvolveram naturalmente e trabalha-se sobre elas como se estivessem submetidas a controles (GIL, 1989, p. 75/76).
A quinta categoria é chamada de levantamentos. Conforme Gil (1989),
essa pesquisa se caracteriza pela interrogação direta das pessoas cujo
comportamento deseja conhecer. “Basicamente, procede-se à solicitação de
informações a um grupo significativo de pessoas acerca do problema estudado
76
para, em seguida, mediante análise quantitativa, obter as conclusões
correspondentes aos dados coletados” (GIL, 1989, p. 76). A sexta e última
categoria é o estudo de caso. Para o autor, essa categoria é um estudo profundo
de um ou poucos objetos, para obter o conhecimento amplo do mesmo. Gil
explica que,
este delineamento se fundamenta na ideia de que a análise de uma unidade de determinado universo possibilita a compreensão da generalidade do mesmo ou, pelo menos, o estabelecimento de bases para uma investigação posterior, mais sistemática e precisa. A experiência acumulada com delineamentos desta natureza confere validade a essa suposição, muito embora não seja possível sua sustentação do ponto de vista lógico (GIL, 1989, p. 79).
Sendo assim, de acordo com Stumpf (2005), pesquisar o que outros
autores já escreveram sobre o assunto e juntar as ideias pode tornar a revisão
bibliográfica criativa e prazerosa. Dessa forma, a revisão pode ser bem sucedida.
Como resultado da revisão bibliográfica dentro desta monografia foram
apresentados quatro capítulos: Gêneros e formatos dos programas de televisão;
Jornalismo Esportivo; Produção de conteúdo no telejornalismo e Jornalismo
Literário.
6.2.2 Entrevista
A entrevista é um meio em que o pesquisador se coloca frente a frente
com o investigado, sendo possível fazer um questionário, com a intenção de
obter informações que possam ser relevantes à pesquisa. É definida por Gil
(1989) como uma interação social, onde uma das partes deseja obter dados e a
outra se coloca como fonte de informação.
O autor afirma que a entrevista é a técnica mais apropriada para a
conquista de informações a respeito do que o entrevistado sabe, sente e crê a
respeito de seus conhecimentos sobre o conteúdo que o pesquisador está
estudando. A técnica de entrevista é considerada por muitos autores como
excelência na investigação social. Dessa forma, “a entrevista é adotada como
técnica fundamental de investigação nos mais diversos campos e pode-se afirmar
que parte importante do desenvolvimento das ciências sociais nas últimas
décadas foi obtida graças à sua aplicação” (GIL, 1989, p. 113).
A utilização da entrevista tem como vantagem a conquista de dados
77
importantes referente à pesquisa. Para Gil (1989), se a aplicação da entrevista for
eficiente, o assunto pode ser aprofundado. Entretanto, a entrevista pode ter
algumas limitações, como a falta de motivação do entrevistado em responder às
perguntas, o fornecimento de respostas falsas, a incapacidade do entrevistado
em responder adequadamente e a opinião pessoal do entrevistador sobre as
respostas do entrevistado.
Além disso, o autor classifica as entrevistas em quatro categorias. A
primeira delas é a entrevista informal. O autor explica que esse tipo de entrevista
quase não tem estrutura, e é baseada em uma simples conversa, que tem como
objetivo principal a coleta de dados e uma visão mais ampla do problema que
está sendo pesquisado. De acordo com Gil, “a entrevista informal é recomendada
nos estudos exploratórios, que visam abordar realidades pouco conhecidas pelo
pesquisador, ou então oferecer visão aproximativa do problema pesquisado”
(1989, p. 116).
O segundo tipo de entrevista é definido como entrevista focalizada. Para o
autor, a focalizada permite que o entrevistado fale livremente sobre o assunto.
Esse tipo de entrevista é aplicado em situações experimentais. Conforme Gil, “é
bastante utilizada com grupos de pessoas que passaram por uma experiência
específica, como assistir a um filme, presenciar um acidente etc. O entrevistador
confere ao entrevistado ampla liberdade para expressar-se sobre o assunto”
(1989, p. 116).
O terceiro tipo é entrevista por pautas. Para o autor, essa categoria exige
estruturação, pois ela é conduzida por causa das relações de interesse que o
profissional vai explorar. Conforme o autor, o entrevistador faz poucas perguntas
diretas, dessa forma o entrevistado pode falar livremente. “As entrevistas por
pautas são recomendadas, sobretudo nas situações em que os respondentes não
se sintam à vontade para responder a indagações formuladas com maior rigidez”
(GIL, 1989, p. 117).
A última categoria de entrevista é a estruturada. Ela é desenvolvida a partir
de uma relação de perguntas, “por possibilitar o tratamento quantitativo dos
dados, este tipo de entrevista torna-se o mais adequado para o desenvolvimento
de levantamentos sociais” (GIL, 1989, p. 117). Além disso, esse tipo de
entrevista permite uma análise estatística dos dados obtidos. O autor explica que
78
a lista de perguntas é chamada de questionário ou formulário. Para o autor (1989,
p. 118) “as entrevistas deste tipo podem assumir maior ou menor grau de
estruturação em função do tipo de perguntas que aparecem nos formulários”.
Nessa monografia, vamos utilizar da entrevista estruturada. Dessa forma, será
elaborado um questionário com dez perguntas para ser enviado ao entrevistado,
via e-mail.
6.2.2.1 Perfil Pedro Bassan
Pedro Bassan começou a trabalhar com jornalismo ainda na infância, na
Rádio Tupã, no interior de São Paulo, fazendo comerciais. O repórter se formou
em Comunicação Social pela Faculdade Cásper Líbero. Teve experiência nas
Rádios Jovem Pan e Bandeirantes. E iniciou sua carreira na televisão como
freelancer na ESPN Brasil. Em seu currículo, já cobriu cinco Olimpíadas e cinco
Copas do Mundo, a Fórmula 1, os Jogos de Inverno de 2006 e os Jogos Pan-
Americanos no Rio de Janeiro em 2007. Além disso, foi correspondente em
Pequim, na China.
A série Perfis, tema desta monografia, foi conduzida por Pedro Bassan.
Para o desenvolvimento da análise das reportagens escolhidas, comecei a busca
de como poderia entrar em contato com o repórter. Durante a realização do
projeto de pesquisa, conheci o ex-aluno de jornalismo da UCS, Matheus Guaresi.
Conversei com ele, juntamente com a minha orientadora, para verificar se poderia
nos ajudar, pelo fato de que Matheus conheceu Pedro Bassan em seu
treinamento do Passaporte SporTV. Agora ele é repórter do canal. Após esse
primeiro contato, enviei uma mensagem para Matheus, relembrando de nossa
conversa na universidade e se ele estaria disposto a me ajudar. Ele concordou, e
no mesmo dia entrou em contato com Bassan. Alguns minutos depois de minha
mensagem, Matheus enviou a resposta positiva de Pedro, que concordou em ser
entrevistado por e-mail a respeito da série, e que se sentia honrado pelo projeto
ter virado tema de TCC. Ele passou o seu e-mail da Rede Globo e o seu contato
pessoal de WhatsApp.
Fiz o primeiro contato, no dia 3 de janeiro de 2017, via WhatsApp.
Entretanto, sem resposta. No mesmo dia, enviei o primeiro e-mail, mas também
79
não tive resposta. Enviei o segundo e-mail no dia 6 de março, sem resposta
novamente. Entrei em contato com Matheus novamente, pedindo ajuda para ver
se o repórter havia recebido minhas mensagens, no dia 9 de março. Matheus, na
mesma hora respondeu que tentaria falar com ele novamente. Enviei um terceiro
e-mail no dia 31 de março, mas sem resposta, como nas outras vezes. Minha
última tentativa de contato foi no dia 28 de abril, via e-mail, e da mesma forma,
sem resposta.
A partir da ausência de respostas, a análise foi conduzida a partir da
decupagem do corpus da pesquisa e da revisão bibliográfica.
6.2.3 Observação
A observação é importante para o projeto de pesquisa, desde o início do
tema. A observação “entende-se aquela em que o pesquisador, permanecendo
alheio à comunidade, grupo ou situação que pretende estudar, observa de
maneira espontânea os fatos que aí ocorrem” (GIL, 1989, p. 105).
O autor classifica três categorias de observação: a participante, a
sistemática e a observação simples. A observação participante também é
chamada de observação ativa. Conforme Gil (1989, p. 107/108), “consiste na
participação real do observador na vida da comunidade, do grupo ou de uma
situação determinada”. Dessa forma, o observador assume um papel dentro do
grupo que está observando. O autor esclarece que a observação é utilizada pelos
antropólogos para estudar comunidades e culturas diferentes. A observação
participante pode ocorrer de duas formas. Para ele, ela pode acontecer de forma
natural, quando o observador já faz parte daquele grupo que está investigando,
ou de forma artificial, quando o observador integra o grupo que pretende
investigar.
Na visão do autor, a principal desvantagem é a restrição que pode haver
dentro de uma comunidade. De acordo com o autor, “mesmo quando o
pesquisador consegue transpor as barreiras sociais de uma camada a outra, sua
participação poderá ser diminuída pela desconfiança, o que implica limitações na
qualidade das informações obtidas” (GIL, 1989, p. 109).
A segunda categoria é a observação sistemática, “é frequentemente
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utilizada em pesquisas que têm como objetivo a descrição precisa dos
fenômenos ou tese de hipóteses” (GIL, 1989, p. 109). Nessa observação, o
pesquisador já sabe o que deve analisar. Dessa forma, é elaborado um plano de
observação prévio, a antecipação de análise do produto. O autor explica que a
observação sistemática ocorre em situações de campo ou de laboratório.
Gil (1989) relata que o registro da observação sistemática pode ser feito
com folhas de papel com a lista de categorias, com espaços onde são anotadas
as gravações de som e imagem. Entretanto, para o autor, “torna-se necessário
definir as categorias significativas para o registro do comportamento, bem como
decidir acerca das unidades de tempo e estabelecer critérios para o registro das
ações” (GIL, 1989, p 111).
A terceira categoria de observação é a simples. Segundo Gil (1989), ela
pode ser qualificada como espontânea, e eleva o seu nível para um plano
científico, visto que é muito mais do que apenas apuração de fatos. Essa
categoria de observação segue um processo de análise e interpretação,
apresentando algumas vantagens. O autor exemplifica três vantagens. A primeira
é a oportunização do ganho de informações para a delimitação do problema do
projeto de pesquisa. A segunda auxilia a criação das hipóteses em relação ao
problema que está sendo pesquisado. E a terceira vantagem ajuda a conquista
de dados sem suspeitas do meio que está sendo estudado.
Entretanto, a observação simples apresenta algumas fraquezas. Gil
(1989) cita três limitações que podem atrapalhar na observação. A primeira é que
o lado emocional do pesquisador pode influenciar na observação, a atenção pode
ser desviada para informações que são desnecessárias. A segunda é definida por
Gil (1989, p. 106), como “o registro das observações depende, frequentemente,
da memória do investigador”. A terceira limitação é que a observação dá uma
grande possibilidade para interpretação subjetiva e parcial da pesquisa. Dessa
forma, o pesquisador deve estar sempre atento aos acontecimentos, tanto
previstos como os nãos previstos.
Conforme Gil (1989), o registro da observação simples é feito a partir de
diários ou cadernos de notas. E “também podem ser utilizados outros meios para
o registro da observação, tais como gravadores, câmeras fotográficas, filmadoras
etc” (GIL, 1989, p. 107).
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Dessa forma, vamos utilizar da observação simples nesse projeto de
pesquisa. A observação vai ser realizada a partir da reprodução das reportagens
que integram o corpus do estudo e a decupagem das mesmas; além do
levantamento dos aspectos mais importantes de cada uma que se relacionam ao
tema da pesquisa.
6.2.3.1 Perfil Jornal Nacional
O Jornal Nacional (JN) é o telejornal que exibiu as reportagens da série
Perfis e que neste sentido, é relevante conhecer um pouco mais da história do
programa. O telejornal foi exibido pela primeira vez no dia 1º de setembro de
1969, para competir com o Repórter Esso da TV Tupi. O telejornal foi criado por
Armando Nogueira, diretor de jornalismo da TV Globo na época. A exibição
contava com 15 minutos de exibição e três editorias: local, nacional e
internacional. Os apresentadores, até 1983, eram Sérgio Chapelin e Cid Moreira.
O quadro do tempo foi criado em 1991 e era apresentado por Sandra
Annenberg. E após muitos anos apresentando o JN, Cid Moreira e Sérgio
Chapelin foram substituídos por William Bonner e Lillian Witte Fibe. A
apresentadora foi substituída por Fátima Bernardes em 1998. Bernardes dividiu a
bancada com Bonner por 14 anos e foi substituída por Patrícia Poeta em 2011.
No ano de 2013, o telejornal passou a ser produzido, editado e exibido em
alta definição. Dessa forma, 80% da programação do canal passou a ser em HD
(high definition). Após a mudança para HD, a última troca de bancada ocorreu em
2014, quando Patrícia Poeta foi substituída por Renata Vasconcellos, que
constitui a bancada atual (2017) do Jornal Nacional com William Bonner.
O telejornal já exibiu muitas reportagens. Entre elas estão: sobre a Lei da
Anistia e volta dos Exilados (década de 1970), campanha pelas Diretas Já e
eleições de Fernando Collor e Lula (década de 1980), Guerra do Golfo e Rio 92
(década de 1990), 11 de Setembro, eleição do Lula e Barack Obama, caso
Isabella Nardoni e Copa do Mundo na África do Sul (anos 2000), terremoto no
Haiti, Rio +20, incêndio na boate Kiss e Copa do Mundo no Brasil (anos 2010).
Além das reportagens, as séries de reportagens também integram a grade do JN,
como a série Perfis, corpus da presente pesquisa.
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6.2.3.2 Corpus da Pesquisa
O objetivo dessa pesquisa é investigar se a série de reportagens Perfis, do
Jornal Nacional, sobre os atletas olímpicos de 2016, ajudou a reforçar a
representação do herói por meio do jornalismo literário. Para isso, a observação
vai ocorrer por meio da decupagem de seis grandes reportagens da série Perfis
do Jornal Nacional, de um total de 16 reportagens, que variam de oito a dez
minutos de duração, totalizando 53 minutos de gravação. O projeto vai
transcrever os principais detalhes do texto produzido nas reportagens.
O critério de escolha levou em consideração esportes mais populares
entre o público e outros que não possuem grande popularidade. As reportagens e
os atletas selecionados foram: Arthur Zanetti, da ginástica artística, no dia 11 de
julho; Yane Marques do pentlato, no dia 12 de julho; Sara Menezes, do judô
feminino, no dia 18 de julho, Fabiana Claudino, do vôlei feminino, no dia 19 de
julho; Isaquias Queiroz, da canoagem, no dia 25 de julho; e Serginho, do vôlei
masculino, no dia 26 de julho. Todas as reportagens foram exibidas em 2016, nas
segundas e terças feiras, respectivamente.
6.2.2.3 Decupagem
a) Perfil Arthur Zanetti - 11 de julho de 2016, 9’31’’
O apresentador William Bonner está no estúdio do Jornal Nacional em pé em
frente ao um telão que passa imagens de Arthur Zanetti.
William Bonner (WB): A partir de hoje o Jornal Nacional vai apresentar uma série
especial de reportagens sobre representantes do Brasil nos jogos do Rio. Uma
forma de homenagear esses atletas e ao mesmo tempo é uma oportunidade de
revelar a história, o talento e o empenho de cada um. Na primeira reportagem da
série, o Pedro Bassan vai trazer um campeão, o ginasta Arthur Zanetti.
A reportagem inicia com imagens do aparelho das argolas ao ar livre, com
céu azul ao fundo, elas balançam devagar. Essa imagem se mescla com cenas da
entrevista do treinador.
Pedro Bassan (PB): Ginástica. Um outro jeito de ver o mundo.
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Marcos Goto - treinador de Arthur (MG): Ginástica é um esporte diferente né. Não
é o cotidiano do ser humano, né. Andar de ponta cabeça, o ser humano anda de
ponta cabeça, entendeu.
Imagem das argolas balançando em câmera lenta, logo após o atleta aparece
no vídeo. Uma imagem de uma mão passando um spray no metal das argolas em
um centro de treinamento. O atleta, Arthur Zanetti, se posiciona no aparelho e
treinar acrobacias. Essa cena se intercala com imagens do pai de Zanetti
manuseando equipamentos de treinamento e também com cena de Arthur olhando
a gravação de seu treino em um Ipad. A cena troca, e Arthur sobe em uma pequena
escada e caminha em uma plataforma para alcançar as argolas. A plataforma se
movimenta com o peso, sem peso em cima, ela se levanta.
PB: E até de ponta cabeça aparece as maravilhas do Brasil. O céu, o vento e Arthur
Zanetti. Primeiro passo, desenferrujar. Depois, aperfeiçoar os movimentos. Para nós
parece perfeito, mas eles sempre querem melhorar. Um trabalha no ginásio, o outro
na oficina. Os dois se chamam Zanetti. A firmeza das mãos é um talento que une o
filho e o pai. Archimedes Zanetti fabrica equipamentos que ajudam Arthur a treinar.
É normal a família dar suporte ao atleta, mas nesse caso, a família construiu o
suporte do atleta, com as próprias mãos.
Archimedes Zanetti - pai de Arthur (AZ): Funciona. Até já deve tá trabalhando
aqui há 8 ou 10 anos.
As cenas da entrevista com Arthur se intercalam com cenas do atleta em
cima de um carrinho para fazer força.
Arthur Zanetti (AZ): Plataforma para subir nas argolas, argolinhas de chão, um
carrinho para fazer força. Ele ajudou bastante e ajuda até hoje.
As cenas são divididas entre o pai do atleta analisando as barras de ferro,
trocando para um close das mãos da mãe de Arthur segurando um pingente de
argolas de ouro no pescoço, mudando para imagens de Arthur entrando na cozinha
de casa e recebendo um abraço da avó que abre uma panela que está no fogão. A
câmera faz um close na panela de arroz doce, em seguida o atleta bagunça o
cabelo da avó. Depois, imagens do atleta com seu irmão Vítor caminhando na rua, o
irmão bagunça o cabelo do atleta, pois é mais alto e Arthur não consegue alcançar o
cabelo do irmão. Em seguida, Vítor aparece com a camiseta levantada e a câmera
faz um close no peito onde ele exibe uma tatuagem com o rosto de Arthur. As
84
imagens trocam para cenas de arquivo do atleta competindo nas Olimpíadas de
Londres e nos jogos Pan Americanos e a reação da comemoração da medalha de
ouro em Londres. A narração do repórter termina com o motorista olhando o atleta
treinando.
PB: O carinho do pai se manifesta em objetos de ferro e aço. O da mãe em argolas
de ouro e também foi ela quem fez. O carinho da avó é bem recompensado. Toda
vez que dona Neide faz arroz doce, ganha de presente um penteado novo. Arthur
não consegue balançar o cabelo do Vítor. À primeira vista, os dois irmãos parecem
muito diferentes. Mas para encontrar a semelhança é só olhar para o coração. E
assim, nesse esforço conjunto de uma família inteira, foi forjado o talento de um
campeão panamericano. Campeão mundial. Campeão olímpico. Chamado no
mundo todo de “O rei das argolas”. Arthur Zanetti.
Ademir Valmor - motorista da prefeitura de São Caetano (AV): Tutu.
PB: Como é que é?
Imagem da entrevista no centro de treinamento com os equipamentos ao
fundo.
AV: Pra mim, é como um filho pra mim.
Cenas de Arthur treinando se intercalam com imagens do atleta ajudando
outros atletas a treinarem.
PB: Ademir é motorista. Há quase 20 anos leva Tutu e seus amigos para competir.
AV: Eu apostava né. Se eles fossem campeão eu ia pagar pizza pra ele e eu só
saia perdendo. Ele só era campeão.
Cenas de arquivo de Arthur criança, competindo, correndo para fazer
acrobacias, trocando para uma cena do atleta em cima do pódio em terceiro lugar,
cumprimentando o menino que ficou em primeiro lugar. Após essa cena, imagem de
Arthur correndo para fazer um salto, essa imagem se intercala com cenas das
argolas ao ar livre com imagens de arquivos de Arthur competindo nas argolas e
subindo no pódio em primeiro lugar.
PB: O prejuízo do Ademir tá bem documentado nos vídeos da família Zanetti. Se o
foco era o pódio, Arthur estava em cena. Quando não ficava em primeiro, era o
primeiro a estender a mão. Já impressionava no salto. Mas onde será que ele se
destacava ainda mais? Aos 10 anos, Arthur Zanetti foi campeão brasileiro nas
85
argolas, pela primeira vez. Com a medalha no peito, adorou aquele negócio
chamado ginástica.
A cena da entrevista se passa no centro de treinamento.
AZ: Tipo, é um negócio legal, é um negócio que eu gosto de fazer, é um negócio
que vou seguir para a minha vida.
Imagens de Arthur com o uniforme azul do Brasil de treinamento, em cima de
um grande colchonete posicionado para subir nas argolas. O aparelho está em cima
de uma estrutura reta em um morro do Rio de Janeiro. Essa cena se intercala com
cenas de arquivo do treinador se posicionando para levantar o atleta nas argolas
quando criança, a cena troca com imagem dos dois, adultos, na mesma posição em
uma competição, onde o atleta é levantado pelo treinador para alcançar as argolas.
PB: E a vida já tem tanta história. Das lentes amadoras para as câmeras mais
modernas do mundo. O equipamento mudou, mas a imagem é a mesma. Marcos
Goto e Arthur Zanetti. Inseparáveis.
Cenas da entrevista se intercalam com imagem de um abraço do treinador no
atleta nas Olimpíadas de Londres.
AZ: Treinar em outro clube, com outro técnico, não dá. Não dá. Eu não consigo me
ver em outro lugar, e sem também o Marcos como técnico.
A entrevista do treinador no centro de treinamento se intercala com uma foto
de Arthur quando era criança.
MG: Eu já tive... Praticamente... Trabalhando com grupo, uma equipe inteira sair
para outro grupo. O Arthur era pequeno. Eu sei o que eu passei e hoje eu dou muito
valor a ser campeão olímpico e ser campeão mundial. E eu exijo respeito.
Cenas de arquivo de Arthur realizando a série de exercícios nas argolas
durante as Olimpíadas de Londres. Essa imagem se intercala com o treinador
dando instruções durante o treino no centro de treinamento.
PB: Na ginástica, o técnico não pode das instruções para o atleta durante o
exercício. Ali, Marcos fica em silêncio. Porque quando ele pode falar, ele fala.
Cenas do treino com o treinador falando com os atletas.
MG: Vai cara, sai do tablado. O problema é quando juntar tudo. Se eu tiver aqui vai
atrás de outro né. Afasta as pernas, tem mais equilíbrio. Se eu sair daqui, senta.
Sacanagem.
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Imagem da entrevista no centro de treinamento, trocando para cenas do
treino.
MG: Todos os atletas que estão aqui dentro tem que me obedecer. Se não me
obedecer, porta pra fora.
PB: Marcos Goto. Um metro e cinquenta e quatro de autoridade concentrada.
MG: Cria vergonha na sua cara meu chapa. Fazer uma pirueta.
Cenas da entrevista se intercala com cenas de arquivo das Olimpíadas de
Londres.
MG: Eu sempre conversei muito com a minha mãe sobre isso. Porque assim, por eu
ser baixinho, ser negro, não adianta ficar reclamando da vida. O que que eu tenho
que fazer para mudar isso? Tudo o que eu faço da minha vida eu tento fazer o
melhor possível. E o tentar não é só falar e tentar. É fazer.
Imagens de Arthur treinando nas argolas com Marcos auxiliando e instruindo
o atleta. A cena termina com o atleta fazendo acrobacias nas argolas.
PB: E há 18 anos essa é a receita do sucesso. Ele manda e o Arthur faz. O
atleta é só dois centímetros mais alto que o treinador. Mas vira um gigante voando a
quase três metros do chão. De tanto obedecer não é que Zanetti aprendeu a
mandar.
Arthur brinca com a sua cachorra no pátio da casa, com uma bolinha.
AZ: Não! Pega. Que bonita.
Imagens de Arthur entrando no bondinho no Rio de Janeiro, olhando a vista e
batendo foto. Essa cena se intercala com cenas de treino e de Arthur saindo de seu
carro, entrando na garagem e abraçando a sua mãe.
PB: Antes de conquistar a medalha, Arthur conquistou o respeito de todos. Com
essa mistura de seriedade e simpatia, disciplina e inspiração. Com essa carinha de
bom rapaz. Será que ele nunca fez bagunça na vida? Com a palavra, dona
Roseane.
Cenas da entrevista de Roseane intercalam com uma foto de Arthur quando
criança junto com os seus amigos e uma segunda foto do atleta com a sua mãe em
um quadriciclo, onde Arthur fingia que pilotava.
Roseane Zanetti - mãe de Arthur (RZ): Quando criança ele sempre foi criança. Na
rua, tinha uma época que tinha 40 crianças, daí eles brincavam com bicicleta,
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carrinho rolimã. E eles para fazer emoção, com a rua asfaltada, eles jogavam areia
ou eles colocavam papel. Papel para passar com a bicicleta, para derrapar.
Arthur caminha na rua e passa por Pedro Bassan, ficando só o repórter em
cena. O repórter se aproxima de um muro pintado de roxo em que está desenhado
o símbolo das Olimpíadas e Arthur ilustrado três vezes. Duas vezes em posições
nas argolas, chamadas de “cristo” e de “prancha”. Entre esses dois desenhos, a
pintura de Arthur com uma medalha no peito segurando a bandeira do Brasil. A
cena troca para imagens de arquivos do atleta comemorando o título nas
Olimpíadas de Londres carregando a bandeira do Brasil.
PB: Um pedaço de asfalto cercado por um muro. Foi esse espaço que o menino
Arthur Zanetti transformou em um parque de diversões. Ele cresceu, e com a
ginástica continuou enxergando a vida de uma maneira diferente. E, assim,
transformou uma rua sem saída em um horizonte do tamanho do mundo. Carregar a
bandeira pesa, e o mundo ficou impressionado com a força desse brasileiro. Em
2012, essa força virou ouro. Campeão olímpico.
AZ: Eu sempre gostei de fazer força.
Imagens de arquivo da competição, onde a bandeira brasileira está sendo
hasteada durante o hino brasileiro, após a entrega das medalhas.
PB: Em 2013, mais forma, mais ouro. Campeão mundial.
Cenas da entrevista do centro de treinamento.
MG: Se não tiver força não faz argolas.
Imagem do atleta treinando nas argolas ao ar livre em cima do morro no Rio
de Janeiro (RJ), parando na posição de “cristo”. Logo após, Arthur caminha com a
sua namorada em frente ao muro pintado de roxo com as ilustrações do atleta.
PB: Mais forte que Arthur Zanetti, só o amor. Há cinco anos conheceu Juliana em
uma festa e foi vencido na hora.
A entrevista com os dois ocorre na frente do muro.
AZ: Vamo ali né, mais tranquilo. Dá pra conversar e se entender. Daí eu tava
chegando nela e ela me agarrou. Ela me agarrou!
Juliana Francesco - namorada de Arthur (JF): Ele conta isso para todo mundo!
AZ: Ela me agarrou. Meu Deus do céu, que que tá acontecendo.
O casal caminha e dá vários beijos rápidos. A situação se intercala com
cenas de arquivo de Arthur beijando a sua medalha de ouro das Olimpíadas de
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Londres em 2012, e do treinador e do atleta se abraçando. Foto do atleta criança
segurando um troféu, as imagens são finalizadas com a cena do muro com as
ilustrações do atleta.
PB: Desde então, o campeão do mundo revelou-se o mais beijoqueiro do mundo. O
Juliana, nós temos que te contar uma coisa. Ele adora beijar medalha também. O
mesmo técnico, o mesmo clube. Desde a infância, tudo mudou muito rápido na vida
do menino que nunca mudou.
Cenas de arquivo das Olimpíadas de Pequim em 2008, quando Cielo ganhou
ouro na natação e entrevista da mãe de Arthur Zanetti.
RZ: Que nem o Cielo quando ganhou em Pequim. Nossa, eu fiquei super
emocionada. Cinquenta metros, eu fiquei, que legal um brasileiro ganhou. Aí depois
em Londres foi o meu filho. Agora é o meu. (risadas). Agora é o meu!
Cenas de arquivo de Arthur criança subindo no pódio. Sobe o som do vídeo
com o hino brasileiro e a imagem troca para o pódio de Londres com o hino tocando
ao fundo. A reportagem termina com imagem de Zanetti fazendo acrobacias nas
argolas ao ar livre, a câmera afasta e mostra o aparelho em cima de um dos morros
do Rio de Janeiro.
PB: Parece que foi ontem aquele primeiro título brasileiro. A diferença é que na hora
do hino ele era um menino entre muitos de todo o Brasil. Agora, quando o hino toca,
Zanetti é o Brasil inteiro. Especialmente naquela parte, “conseguimos conquistar
com braço forte”.
b) Perfil Yane Marques - 12 de julho de 2016, 8’41’’
Sandra Annenberg inicia apresentando em pé no estúdio do Jornal Nacional
em frente ao um telão que mostra cenas da atleta comemorando o título em outra
competição.
Sandra Annenberg (SA): No segundo episódio da série de reportagens com os
nossos personagens olímpicos, o repórter Pedro Bassan, conta hoje a história de
uma sertaneja que saiu do interior de Pernambuco.
Cantor está em uma praça ao ar livre, no fundo existe um chafariz. Ele
declama um verso de frente para o gaiteiro que toca ao ritmo das palavras.
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Gaiteiro: Em um lugar cheio de estrelas onde a gente possa vê-las facilmente a
olho nu com astros de canto a canto e bênçãos de mesmo tanto ou é céu ou é
Pajeú.
A música da gaita toca ao fundo quando imagem de um pôr do sol rosado
surge, enquanto uma carroça e um cavalo passam, onde só é possível ver a
silhueta deles devido à sombra. Após, cenas do interior se intercalam com imagens
de lagos, close nos galhos de uma árvore e o nascer do sol. O repórter cavalga no
sertão, ao fundo o céu está rosado. No início, só é possível ver a silhueta do
repórter em cima do cavalo. Ao ponto que ele vai se aproximando da câmera é
possível ver ele nitidamente. Pedro Bassan fica parado no cavalo por alguns
segundo, mas desce e caminha e se posiciona em frente a um cacto. Depois,
imagens de Yane treinando na piscina, esgrimindo, treinando com o revólver,
fazendo hipismo e correndo aparecem se intercalando.
Pedro Bassan (PB): No vale do Pajeú, o sertanejo já viu de tudo. Mas medalha
brotando desse chão é a primeira vez. Essa história é de um esporte que surgiu
bem longe daqui. Diz a lenda, que durante uma guerra na Europa o soldado
recebeu uma missão: entregar uma mensagem cruzando os campos de batalha. O
soldado pegou um cavalo que não conhecia e saiu. Para atravessar as linhas de
frente, teve que combater usando o revólver e uma espada. Mas no meio do
caminho, um problema sério tornou a missão ainda mais difícil. O cavalo se feriu e o
soldado teve que completar o percurso a pé e atravessando lagos e rios. Surgiu
assim, o pentatlo moderno. Cavalgar, correr, nadar, atirar e enfrentar adversários
com a espada. Aqui, no sertão nordestino, surgiu uma brasileira capaz de fazer tudo
isso. Para juntar cinco esportes em um só, Yane Marques carrega a força do sertão.
Yane, o quanto daquela menina sertaneja ainda existe em você?
A atleta está sentada em uma cadeira branca com uma piscina ao fundo.
Partes da entrevista se misturam com imagens do sertão. Nessa hora, uma carroça
aparece, assim como pássaros no céu.
Yane Marques (YM): Muito (risos). Ah, acho que essa origem né, do sertão, ela tá
assim em mim e não tem como eu me desvincular disso. Né, são características e
valores que a gente leva pra vida toda. Uma vez sertaneja eternamente sertaneja.
Uma igreja verde clara com detalhes em branco aparece no vídeo, com o
som do sino tocando ao fundo. Após, uma dançarina de frevo dança sob o sol, e
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crianças brincam no parque da praça da cidade. No gira-gira, com close nos pés
delas e nos rostos, enquanto o brinquedo gira.
PB: Afogados da Ingazeira, Pernambuco. Aqui, o quintal de cada criança é a cidade
inteira.
Cena de uma menina cantando enquanto gira a corda. A câmera faz um
close nos pés de outra menina que está pulando a corda. A câmera afasta e a
menina que está pulando é mostrada por inteiro. Ela usa uma blusa listrada de rosa
e branco e um short rosa, com cabelos loiros. Além disso, duas meninas assistem a
brincadeira ao redor, enquanto um menino está segurando a ponta da outra corda.
Criança: Suco gelado, cabelo arrepiado, qual é a letra do seu namorado? A, B, C,
D.
Imagens da criança loira correndo e sorrindo se intercalam com cenas do
gira-gira e do pula-corda.
PB: As brincadeiras antigas, o esforço e o sorriso andam juntos. E assim, sem
perceber, aos poucos, as meninas vão se tornando atletas. Vão se tornando Yane
Marques.
Entrevista com duas mulheres. Elas estão sentadas em um cômodo da casa,
ao fundo vários vasos de plantas verdes. O nome delas não aparecem no GC.
Sem GC : Ela sempre fez tudo ao mesmo tempo.
Imagens da menina loira correndo e subindo nas árvores se intercalam com
imagem da Dona Tila na sala de casa.
Dona Tila - avó de Yane: Corria demais. Subia nas árvores. Era pior do que um
gato.
Sem GC: Teimosinha.
Sem GC: Teimosinha.
No vídeo aparecem fotos da atleta quando criança, que intercala com as
crianças correndo no parque da cidade. A câmera faz um close no boletim de Yane
e nas notas dela que variava entre 8,7 e 10 nas disciplinas. A atleta aparece
treinando corrida e em seguida uma foto dela, com a equipe de vôlei, quando
criança.
PB: Determinada. Desde pequena quebrando recordes. A escola guarda até o hoje
o boletim da melhor aluna. Em qualquer matéria, a vontade de estudar. E em
91
qualquer esporte a vontade de se superar. Aos 11 anos quando a família se mudou
para Recife ela escolheu o vôlei.
A entrevista da professora acontece ao ar livre.
Mônica Andrade - professora de Educação Física (MA): Pelo biotipo dela. Pela
força dela. Com certeza no voleibol ela ia se dar bem.
Yane aparece de short branco e regata preta fazendo embaixadinha e
fazendo pontos na cesta de basquete na parte aberta da casa. E parte da entrevista
em frente à piscina.
PB: E pelo jeito também no futebol, no basquete. Faltou alguma coisa?
YM: Nas minhas férias eu aproveito para viver um pouquinho isso. Eu brinco que no
tênis eu chego na bola mas erro a raquetada.
Foto da atleta criança com uma touca de natação se intercala com cenas do
treino de Yane na piscina.
PB: Aos 15 anos, finalmente Yane sossegou em um lugar só. Na piscina,
chegou a ser campeã brasileira de revezamento. Mas, de repente, no meio do
caminho tinha uma palavra. Pentatlo. Se você nunca tinha ouvido, não se preocupe.
Mãe de Yane é entrevistada em uma sala e ao fundo uma prateleira com
vários troféus.
Goretti Fonseca - mãe de Yane (GF): Ela também não sabia né, o que era
pentatlo. Quando ela recebeu o convite, ela também não sabia.
PB: Treinador explicou.
A imagem do treinador sendo entrevistado se intercala com cenas de Yane
treinando todas as modalidades do pentatlo.
Nuno Trigueiro - treinador (NT): A estratégia era justamente essa. A gente tentar
fazer que uma nadadora conseguisse aprender a cavalgar, aprender a atirar, a
aprender a esgrimir, aprender a correr.
Cenas do treinamento da atleta com close nos tênis de corrida, na bota do
hipismo, na espada da esgrima, nos óculos de natação e no revólver.
PB: Depois do espanto inicial, Yane descobriu que tinha acertado na mosca. Não
parou mais. Até porque no pentatlo, pra pendurar as chuteiras, é preciso pendurar
os tênis, a bota, a espada, os óculos, o revólver, o alvo.
Close na placa de no ar, onde o pai da atleta está dentro de um estúdio de
rádio, fazendo uma gravação.
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Vanderlei - pai de Yane: Em afogados são 18 horas e cinquenta minutos. Nós
queremos, com muita satisfação, registrar a presença a equipe da TV Globo.
O repórter está dentro do estúdio de rádio junto com o pai da atleta. Após,
aparecem imagens do esporte da vaquejada.
PB: E nós queremos com muita satisfação apresentar o locutor. Vanderlei é o pai de
Yane. E o que ele tem a ver com pentatlo? Sem saber, teve muito. Locutor de
vaquejada apresentou para a filha uma das modalidades.
O pai da atleta narra no estúdio de rádio, enquanto aparecem imagens da
vaquejada.
V: A gente, como locutor de vaquejada, eu sempre levava a Yane comigo e também
Mario Vanderlei, meu filho. E a Yane não deixava os amigos vaqueiros sossegados.
E no cavalo, ela queria andar no cavalo e aquela história toda. E hoje ela foi
juntando uma coisa com a outra e nós temos uma das melhores pentatletas do
mundo.
Partes da entrevista de Yane se intercalam com imagens dela cuidando do
cavalo e treinando os saltos. Cenas de Yane treinando o hipismo se mesclam com
imagem da mãe da atleta em frente a uma mesa com várias estátuas de santos. A
câmera faz close no terço.
PB: O destino foi preparando aos poucos a menina sertaneja. Só não preparou o
coração da mãe. Enquanto as mãos de Yane levam o cavalo, dona Goretti leva nas
pontas dos dedos a fé. A senhora já se acostumou ou não?
A entrevista é feita em frente a prateleira com os troféus. A imagem troca
para outra cena de Goretti fazendo o sinal da cruz em frente a mesa com as
estátuas dos santos.
GF: Ainda não. Não. Eu ainda tenho medo da prova de equitação. É perigoso, né.
Ela levou uma queda já e foi grande, e eu fiquei muito assustada. Ainda hoje eu
tenho medo. Eu não vejo a prova dela.
A entrevista de Yane é realizada na frente da piscina.
YM: Quando eu termino a equitação, onde eu tiver eu tenho que ir atrás de um
telefone ou de alguma coisa e dizer: - Mainha, tudo bem!
Um desenho gráfico nas cores branca e cinza em movimento aparece no
vídeo, realizando as poses e movimentos das cinco modalidades do pentatlo. Após,
cenas de arquivo de outra olimpíada que a atleta participou.
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PB: Pentatlo. Com Yane Marques, o Brasil aprendeu a pronunciar o nome de cinco
esportes de uma vez só. E num dia só. Às dez da manhã, natação. Meio dia,
esgrima. Três da tarde, hipismo. Às seis o apogeu. O evento combinado. A atleta sai
da calma absoluta do tiro pra agitação da corrida. Pentatlo é a arte de se
transformar.
A entrevista da atleta se intercala com cenas de arquivo de outras
competições de Yane.
YM: Largar aquela pistola, agora eu não estou mais tranquila. Agora sou tipo uma
leoa, vou correr.
Cenas de arquivo do pódio do Pentatlo das Olimpíadas de Londres.
PB: Ás seis e quarenta, premiação. Em Londres ela estava lá, pegando o bronze.
Surpreendendo o mundo. Surpreendendo quase todo mundo.
A entrevista da mãe da atleta é intercalada com imagens de Yane treinando a
corrida.
GF: A gente que acompanha de perto a gente sabe o que é que o atleta está
fazendo e toda a preparação, eu sabia que era possível. Eu sabia que era possível.
Cena do cantor ao ar livre na praça, declamando alguns versos sobre Yane.
Após, imagem da atleta treinando todas as modalidades do esporte e uma pintura
de Yane em um muro com uma medalha de ouro, usando o uniforme da seleção
brasileira. Em baixo, está escrito ouro sertanejo.
Gaiteiro: Ser campeã no pentatlo exige superação, mas entende muito disso quem
bem conhece o sertão. Correr, nadar, atirar, usar cavalo e espada, pra uma
autêntica sertaneja isso tudo não é nada. Pois sertaneja é assim, faz de tudo e nada
erra e ainda não abre mão de exaltar a sua terra. Yane para onde vai, leva
Afogados com ela. Quem da terra se orgulha, também vira orgulho dela. Em
Afogados da Ingazeira, onde o sol mais forte brilha, brilha o brilho de Yane, a sua
mais brilhante filha.
c) Perfil Sarah Menezes - 18 de julho de 2016, 8’06’’
A âncora inicia apresentando em pé no estúdio do Jornal Nacional, com um
telão ao fundo, onde aparece uma foto da atleta.
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Renata Vasconcellos (RV): Quatrocentos e sessenta e dois atletas vão representar
o Brasil nas Olimpíadas do Rio. É um recorde para o nosso país. E no meio de tanta
gente talentosa, uma judoca do Piauí vai tentar o bicampeonato olímpico.
A narração do repórter começa com uma imagem do nascer do sol.
Pedro Bassan (PB): Bem vindos a cidade do céu de cor de caju. Agora vamos
ouvir uma moradora local.
A atleta é entrevistada em uma sala. Ao fundo uma cortina branca e um vaso
de flor.
Sarah Menezes (SM): Osoto-gari. Tem o seoi nage. Tem o sukui nage. Tem a
chuaze que é a parte de perna. Deashi harai e yoko-otoshi.
O repórter utiliza de imagens do nascer do sol e de uma ponte para ilustrar a
sua fala. Em seguida, o jornalista aparece no vídeo, em pé, em frente a uma pilha
de garrafas com um líquido amarelo, a Cajuína. A cena troca com um close em uma
mão que lava o caju na água, assim como a produção da bebida do Piauí. A cena
troca novamente, sendo assim, o treinador aparece entrando em uma quadra de
uma escola.
PB: Não é difícil de entender. Essa é a história de uma menina que construiu uma
ponte entre o Japão e o Piauí. De Tóquio a Teresina. Aqui, o judô encontrou a
primeira mulher brasileira a conquistar o ouro nos tatames. Nenhuma surpresa. O
brilho da medalha de Sarah Menezes combina muito bem com o antigo tesouro do
Piauí. Cajuína. O conhecimento que vai passando de pai para filha em várias
gerações, faz nascer esse ouro engarrafado. Com o judô também é assim. Mas
faltava a matéria prima para produzir o ouro. Faltavam judocas no Piauí. O professor
Miguel resolveu encarar esse desafio. De porta em porta.
A entrevista do treinador é realizada na quadra da escola. No vídeo aparece
o treinador e o repórter. Cenas de Miguel arrumando colchonetes azuis no chão da
quadra se intercalam com a entrevista.
Miguel Mendes - primeiro professor de Sarah (MM): Fiz divulgação nas salas de
aula, tudo. E aí com divulgação para os pais dai a gente começou. Em torno de 15,
16 alunos que faziam aula de judô aqui.
A entrevista é realizada no mesmo lugar, na sala.
SM: Quando eu vi a demonstração que tinha que derrubar o outro aí eu achei legal.
Aquilo me chamou atenção. Aí eu acabei entrando através dessa brincadeira.
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O vídeo troca e retorna para a quadra da escola. Para fazer a pergunta o
repórter gesticula com as mãos, para se referir ao lugar.
PB: Você montava onde mais ou menos?
MM: Aqui! Ali na frente.
PB: Perto do gol.
MM: Perto do gol. Passa a boa vontade né.
A imagem de uma igreja sob o sol. A câmera realiza um close no sol. A atleta
aparece no vídeo, treinando com as cordas e no tatame. Na última imagem, é com
foco no movimento que Sarah faz para apertar a faixa preta do kimono, onde está
escrito Menezes em dourado.
PB: E a vontade de Sarah era bem maior que a quadra da escola. Um mês depois
ela foi levada ao inspetor Expedito Falcão. Ele quase não acreditou no que viu. E
ensinou Sarah a acreditar.
A entrevista do treinador, que veste um kimono branco, é realizada no local
de treinamento, com um tatame ao fundo. Para ilustrar a fala de Expedito, aparece
cenas de arquivo de Sarah treinando.
Expedito Falcão - treinador de Sarah (EF): Era um dom natural. Só que era uma
coisa bruta. Uma coisa sem técnica. Eu simplesmente fui começando a moldar
aquilo ali. A lapidar aquele diamante bruto que estava chegando nas minhas mãos.
Cenas de Sarah treinando com os colegas no tatame.
PB: Desde então, Sarah viu o tempo passar nesse mesmo tatame. Aos nove anos,
começou a aprender todos os verbos do judô. Treinar, lutar, suar. Derrubar. Só não
conjugava o verbo perder.
Imagens do treino de Sarah se intercalam com a imagem da entrevista da
atleta.
SM: Fui conhecer essa palavra quando entrei na seleção brasileira. Com 15 anos.
Então passei seis anos da minha vida sem saber o que era derrota.
Cenas de arquivo de outras competições são intercaladas com a vista da
cidade.
PB: Com as vitórias de Sarah Menezes o Piauí entrou no mapa do judô mundial.
Imagens de arquivo de outras competições em que Sarah participou.
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SM: Eu sempre fui um pouco marrenta. Eu nunca tive medo. Eles que tinham medo
da Piauiense, quando via lá nas costas que a gente fica compete, quando tinha pi,
tinham receio e não eu.
Cena da entrevista do treinador se mescla com uma imagem de Sarah
realizando um movimento em outro judoca, derrubando ele. A cena se passa em
câmera lenta.
EF: Ela era tipo, a seleção brasileira. Do Piauí. Estado sem retrospectiva de atleta
de alto rendimento. É uma coisa que eu mais me orgulho. Por que a Sarah é uma
atleta made in Piauí. Ela nasceu e treinou a vida inteira dentro do Piauí.
Cenas de arquivo da derrota da atleta nas Olimpíadas de Pequim em 2008.
PB: Sarah aprendeu o verbo perder em português e em chinês. Na Olimpíada de
Pequim.
EF: Com 18 anos. Muito jovem. Então, ela não aguentou a pressão.
PB: Talvez por isso, quatro anos depois, quase ninguém acreditava.
Cenas de arquivo do início de uma luta de Sarah nas Olimpíadas de Londres
em 2012.
Locutor: Pra cima dela Sarah! Pra cima dela Sarah.
O pai e a mãe de Sarah são entrevistados em uma sala, ao fundo está uma
cortina branca e um vaso de flores. A cena troca para uma foto de arquivo, do
momento do embarque da atleta, com os familiares segurando placas com as letras
formando boa sorte.
Dina Menezes - mãe de Sarah (DM): Quando a Sarah foi viajar para as olimpíadas
de 2012, na hora do embarque, um rapaz fez uma surpresa. Na hora do embarque,
vamo tirar aqui uma foto. Aí ele tirou do bolso a palavra boa sorte. E nós só éramos
em sete, então teve que o João segurar duas letras para formar a frase.
Cenas de arquivo da chegada de Sarah no Brasil após as Olimpíadas de
Londres, no aeroporto com uma multidão de pessoas, repórteres, pessoas nas ruas
comemorando e a atleta em cima de uma caminhão de bombeiro segurando a sua
medalha.
PB: Quando Sarah voltou de Londres, no aeroporto também eram sete. E mais
sete, mais sete. Mais sete, mais sete, mais sete.
SM: Eu tomei um susto. O Piauí realmente todo parou. O aeroporto lotado. Eu até
fiquei com medo de sair de dentro do aeroporto, porque a multidão era incrível.
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Cenas da entrevista se intercalam com imagens de arquivo das lutas de
Sarah nas Olimpíadas de Londres em 2012.
EF: Quando ela ganhou a primeira luta, poucas pessoas assistiram. Na segunda
luta o Piauí começou a parar. Na terceira luta dela o Piauí parou. Na quarta o Brasil
parou.
Cenas de arquivo da comemoração de Sarah do ouro olímpico de Londres se
intercalam com a atleta caminhando num terraço fechado em um prédio e olhando a
vista da cidade.
PB: Na quinta luta a medalha de ouro. Vinte e dois anos, melhor do mundo.
Locutor: Uma vitória incontestável de Sarah Menezes!
PB: Foi então que Sarah começou ouvir várias vezes a mesma frase, mais difícil
que chegar ao topo é se manter lá. Porque será que repetiam tanto isso? Por que é
verdade.
SM: Foi de ladeira a baixo. O meu ano de 2014 e 2015 não foi positivo.
Imagens de treino da atleta com outro judoca.
PB: No judô quem derruba hoje cai hoje mesmo.
Cenas da entrevista se intercalam com Sarah, com seu uniforme,
autografando umas camisetas de crianças que assistiam ao treino.
EF: A garota começou a ser conhecida, querendo ou não começou a ter recurso.
Ela poder comprar o que ela quer. Ela poder ir aonde ela quiser. Em 2014 eu
acredito que veio essa…
As derrotas de Sarah são ilustradas com cenas de arquivo de outras
competições.
PB: Os resultados foram tão ruins que ela correu o risco de nem participar das
olimpíadas do Rio.
Locutor: Eliminada na segunda rodada a campeã olímpica, Sarah Menezes.
Cenas dos treinos de Sarah com outros atletas e imagens das vitórias de
outras competições.
PB: De repente, Sarah voltou. Receita para recuperar o tempo perdido: treino e
muito treino. E depois do treino, mais treino. Parece um filme de super herói. Mas a
super Sarah em ação, ela voltou a ficar entre as três melhores do mundo. Só vai
parar no dia seis de agosto. Primeiro dia de medalhas dos jogos.
EF: Quem quiser tirar a medalha dela vai ter que fazer mais do que ela fez.
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SM: Todos nós temos capacidade né. Você pode ser de qualquer lugar, não ter
receio de falar da onde você é, de acreditar mesmo e fazer por onde as coisas
acontecerem.
Imagem de arquivo da vitória de Sarah nas Olimpíadas de Londres em 2012,
deitada no tatame olhando para cima, gritando e comemorando, se mesclam com
paisagens da cidade natal da atleta.
PB: A menina que botou o Piauí no mapa do judô vai mostrar aos estrangeiros as
belezas do Brasil. Começando pelo o nosso chão. Não que ela não goste da nossa
terra, mas Sarah Menezes prefere olhar para o céu.
d) Perfil Fabiana Claudino - 19 de julho 2016, 9’07’’
O âncora introduz a matéria em pé no estúdio do Jornal Nacional. Ao fundo,
um telão com uma foto da atleta com o uniforme do Brasil, segurando a bola de
vôlei.
William Bonner (WB): Hoje você vai conhecer uma brasileira de um metro e
noventa e três de altura que saiu do interior de Minas Gerais para se tornar uma
referência na seleção de vôlei. No Rio de Janeiro ela vai buscar o tricampeonato
olímpico.
Para iniciar a reportagem, o repórter utilizou de cenas do altar de uma igreja,
com muitas cores douradas. Como também imagens rápidas de arquivo da atleta
em outras competições, a entrada da igreja e partes da cidade, com o sino tocando
ao fundo e, por último, a atleta.
Pedro Bassan (PB): Vamos falar de ouro. Muito ouro. Vamos falar de uma
brasileira brilhante. A cidade inteira ouviu quando foi batizada Fabiana. Em Minas
Gerais, a riqueza do passado ainda está diante dos olhos, nos casarões e nos
altares. Em Santa Luzia, Fabiana aprendeu que o ouro vale menos que o carinho da
família.
A entrevista da atleta se intercala com fotos dela criança, junto com os pais.
Fabiana Claudino (FB): Nos momentos em que eu mais preciso eles estão comigo
e nos momentos mais feliz eles estão comigo. Então, acho que também ter essa
ajuda e esse suporte, pra mim não tem coisa melhor. Eu sai daqui uma meninona,
uma criançona.
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A atleta e a mãe caminham em direção ao ponto de ônibus. Nesse momento,
o repórter entra em cena, enquanto as duas entram no veículo. As imagens passam
a ser dentro do ônibus em movimento.
PB: Partiu ao lado da mãe. Por essas ruas que não mudaram nada desde o século
XVIII. Trezentos anos depois, a moradora de Santa Luzia reencontrou o caminho do
ouro. E ele começa em uma viagem de ônibus. Que sai daqui de Minas Gerais e
passa por vários continentes e termina no alto do pódio olímpico. Para Fabiana,
andar de ônibus é bem mais do que ir daqui até ali. Ela só existe porque 38 anos
atrás, a passageira Maria do Carmo encontrou o motorista Vital.
A entrevista dos dois é realizada separadamente, mas no mesmo ambiente.
Ao fundo, uma janela com grades brancas, parede de tijolos e alguns vasos de
plantas.
Vital Claudino - pai de Fabiana (VC): É uma coisa que tava mesmo para ser
escrito né.
Maria do Carmo Claudino - mãe de Fabiana (MCC): A gente espera o cupido em
um cavalo branco. Mas de repente vem de ônibus.
Imagem da mãe da atleta, na cozinha, tentando abrir a porta de um armário.
Fabiana aparece para ajudar a mãe que não alcança os objetos.
PB: Nasceu assim uma família alta. Com quase um metro e oitenta, Maria do
Carmo é a baixinha da casa.
MCC: Aí me chamam de tampinha.
Fabiana e seu irmão estão no pátio da casa pegando frutas de uma árvore,
sem nenhum esforço. Logo em seguida, a avó da atleta aparece em cena. A avó de
Fabiana tem a metade da altura da atleta.
PB: Os filhos, Fabiana e Bruno, pegam fruta do pé sem escada. A atleta de um
metro e noventa e três também herdou a grandeza da avó. Aos oitenta anos, dona
Rita é gigante no pensamento.
A avó da atleta aparece no vídeo. Ao fundo uma parede rosa, com uma
janela branca e vasos de plantas.
Rita Zacaris da Silva - avó de Fabiana (RZS): Não gosto de ficar diminuindo não.
Eu gosto de sonhar alto.
No vídeo, aparece uma foto de Fabiana aos 13 anos, em pé. O que se
percebe é a altura da atleta naquela idade. As cenas se intercalam entre imagens
100
de treinamento da atleta na Seleção Brasileira, cenas de arquivo de outras
competições, a entrevista, e ela em uma quadra de vôlei, com pouca luz, praticando
os movimentos básicos do vôlei: manchete, cortada e toque.
PB: Aos 13 anos, Fabiana percebeu que altura era destino. Já tinha um metro e
oitenta e cinco. Era perfeita para o vôlei. Esporte que desde criança, ela detestava.
FC: No início eu não queria fazer de jeito nenhum. Eu falava, ai mãe não quero ir.
Eu chorava.
PB: A menina alta só não desistiu por insistência da mãe. E persistência da primeira
professora. Yara Ribas. Um nome para guardar.
FC: Eu não sabia nada. Eu não sabia movimentos. Eu não tinha noção de nada. E
ela sempre me pegava no cantinho, me ensinava toque, manchete. Ela eu posso
dizer que foi uma professora e construiu uma jogadora.
PB: Horas e horas de bola na parede e solidão. Manchete. Cortada. Toque. O
beabá do vôlei. A recompensa de todo esse esforço pode ser uma única bola. Um
único ponto de Fabiana calou os críticos que ela teve de aguentar durante anos e
anos.
A entrevista da atleta se intercala com cenas de arquivos das Olimpíadas de
Atenas em 2004, o jogo contra Rússia, junto com a entrevista da mãe.
FC: Foi um time que sempre fomos taxadas de amarelona. A gente batia na trave e
não chegava em lugar nenhum.
PB: Na Olimpíada de Atenas, em 2004, a seleção brasileira teve seis chances de
fechar o jogo contra a Rússia. Desperdiçou todas e acabou fora da decisão.
MCC: Ah, não chega a final, por que vocês amarelam. Então isso foi a pior parte.
Cenas de arquivo dos jogos das Olimpíadas de Pequim em 2008 e Londres
em 2012. As imagens se intercalam com a fala da atleta.
PB: Em 2008, um inédito ouro em Pequim, essa história parecia ter ficado para trás.
Mas nos jogos de Londres vieram derrotas inexplicáveis. Quase ninguém acreditava
na medalha. Veio então o jogo contra a Rússia, a grande favorita.
Locutor: A postura do time brasileiro, se terá equilíbrio psicológico para jogar este
grande jogo.
FC: Tem hora que até eu paro pra pensar: gente como que eu saí daquele
momento? Ontem eu tava chorando, uma noite sem dormir e no outro dia eu tinha
que estar jogando 100% e com sorriso na cara.
101
A câmera, do lado de fora da casa, filma a avó e Fabiana dentro da cozinha,
uma do lado da outra. A imagem troca, para a entrevista de Rita.
PB: A avó tem uma explicação bem simples.
RZS: Índio não tem medo de nada não. Ela carrega essa tradição.
Cenas de arquivo do jogo contra a Rússia nas Olimpíadas de Londres em
2012, o ponto final do jogo foi de Fabiana. A cena troca para a entrevista do técnico
da seleção brasileira.
PB: Assim como o Brasil em 2004, dessa vez foi a Rússia que teve seis chances de
fechar o jogo com o último ponto. E não conseguiu. Brasil teve uma só, nas mãos de
uma filha de negros, neta de índios, a Rússia conheceu Fabiana do Brasil.
José Roberto Guimarães - técnico da Seleção Brasileira (JRG): E hoje ela
passa, para essas jogadoras, principalmente as mais novas, tudo o que significa
vestir a camisa da seleção brasileira e representar o nosso país.
Locutor: Que momento mágico!
Cenas de arquivo da atleta jogando pelo Sesi em Belo Horizonte. A imagem
troca para a entrevista de Fabiana, em um vestiário, vestindo a camiseta do time do
Sesi, vermelha, e ao fundo uma prateleira com troféus. As imagens se intercalam
com as entrevistas do pai e da mãe de Fabiana.
PB: Essa história poderia terminar nas lágrimas de felicidade no ginásio de Londres.
Fabiana nunca poderia imaginar que um choro bem mais amargo estaria por vir. No
dia 27 de janeiro de 2015, a bicampeã olímpica foi jogar em Belo Horizonte, como
visitante pelo time do Sesi. No mesmo lugar onde aprendeu a jogar e amar o vôlei,
ela demorou a acreditar no que estava ouvindo.
FC: Olha a macaca! Joga a banana pra macaca.
PB: A família estava na arquibancada e também ouviu.
VC: Ah, machucou muito.
MCC: Pobre de espírito, resumindo.
FC: É uma coisa que fica na cabeça da gente. É difícil você vir e passar por isso.
Acho que quem passa por isso um dia vai entender.
VC: Não sabe que vai machucar a mãe, o pai. E pedi pra Deus e graças a Deus,
passou. Mas, no momento, machucou muito.
Cenas das olimpíadas onde Fabiana é abraçada por vários colegas de
equipe individualmente. A imagem troca para a entrevista do técnico da seleção.
102
PB: A agressão atingiu a jogadora mais querida da seleção.
JRG: Fabiana, ela foi escolhida pela equipe como capitã. Ela foi escolhida por
unanimidade.
Cenas de arquivo do time de vôlei no pódio no mundial e nas olimpíadas de
Londres 2012, mordendo a medalha de ouro. A imagem troca para o início do
revezamento da tocha olímpica no Brasil, onde Fabiana foi a primeira atleta a
carregá-la. A imagem troca para Fabiana e sua mãe indo em direção ao lugar onde
treinou pela primeira vez, Centro Cultural Minas Clube.
PB: Quem melhor que a líder do time com duas medalhas de ouro a ser a primeira
atleta no Brasil a receber a tocha olímpica no país. Antes de ir uma quarta vez a
uma olimpíada, Fabiana faz questão de mostrar o lugar onde tudo começou. Ela
quer falar sobre Yara Ribas, lembram? A primeira professora. A que ensinou tudo.
A entrevista é feita dentro da quadra de vôlei. A atleta está de frente para o
repórter, que fica de costa para a câmera. Ao fundo, Yara Ribas vem em direção a
atleta para fazer uma surpresa para ela, as duas se abraçam por alguns segundos.
Os três aparecem no vídeo.
FC: O papel dela era quase como segunda mãe. Por que ela que teve paciência, ela
quem me ensinou todos os movimentos. Ela fez eu confiar e acreditar cada vez
mais… ah você tá aqui!
PB: Você se sente como uma segunda mãe dela?
Yara Ribas - primeira treinadora (YR): Nossa, muito emocionada. De ver essa...
PB: Chegar aonde ela chegou e ter esse reencontro
YR: Essa menina chegou aqui muito pequenininha, né.
FC: Acho que eu não tenho nem palavras para agradecer acho que todo o amor,
carinho e toda a dedicação que ela sempre teve comigo. Toda paciência de me
ensinar tudo e praticamente foi ela que me ensinou tudo. Eu não sabia nada. Eu
cheguei aqui sem saber andar. Até andar, ela me ensinou.
Cenas da seleção treinando, com foco em Fabiana, se mesclam com
paisagens da cidade natal da atleta e das igrejas, com o sino tocando ao fundo. Ao
fim, cenas de arquivo da comemoração do ouro em Londres. A atleta levanta a
bandeira brasileira em frente a câmera.
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PB: Os jogos vão começar. Em Santa Luzia, todo mundo aprendeu a esperar o
futuro com paciência e fé. Os sinos estão sempre prontos para soar o toque de
festa. Afinal, já faz tempo que o povo daqui conhece o caminho do ouro.
Locutor: Aí estão as jogadoras de ouro mais inacreditável da história olímpica.
f) Perfil Isaquias Queiróz - 25 julho de 2016, 9’33’’
A apresentadora inicia apresentando em pé no estúdio do Jornal Nacional.
Ao fundo, um telão com um vídeo que se transforma em foto.
Ana Paula Araújo (AP): O repórter Pedro Bassan vai apresentar hoje a história de
um brasileiro que saiu do interior da Bahia para se tornar o melhor atleta do mundo
na canoagem.
O repórter utiliza uma cena de um rio, depois de alguns segundos aparecem
canoeiros remando em suas canoas. Logo em seguida, imagens da cidade à noite,
com as luzes nos prédios, e os canoeiros durante o dia fazendo a travessia dos
moradores de Ubaitaba. O repórter entra em cena, sentado na ponta da canoa, no
meio do rio. Enquanto ele fala, o canoísta Isaquias Queiróz aparece remando a sua
canoa com velocidade. As imagens se intercalam com cenas dos canoeiros e os
canoístas no rio, com foco no atleta e a mãe de Isaquias sentada em um sofá com o
seu filho atrás.
Pedro Bassan (PB): Mesmo com tanta água, o Brasil nunca foi uma potência na
canoagem. Até que no interior da Bahia, uma cidade decidiu remar contra a corrente
e mudar história. Quantos sóis tem a Bahia? Tem um que vale por muitos. Por isso,
essa terra é tão bonita quando ele está pra nascer. O canoeiro espera o sol com
uma pergunta: em qual das margens vai surgir o primeiro passageiro? Logo o
trânsito já é intenso na principal Avenida de Ubaitaba, avenida líquida e silenciosa.
É o Rio de Contas, espalhando beleza pelo sul da Bahia, pelo caminho tranquilo até
o mar. Pra quem nasce aqui, remar é quase um destino. Em Tupi-guarani, Ubaitaba
quer dizer cidade das canoas. E as canoas já estavam aqui bem antes da cidade.
Há séculos elas levavam os índios a rios abaixo e rios acima. Durante décadas,
transportaram o cacau, que é a grande riqueza da região. E há alguns anos, as
canoas descobriram uma outra riqueza. Agora, elas passam pelo rio, levando ouro,
prata e bronze. Os canoeiros passaram a dividir o espaço com os canoístas. E um
104
desses remadores velozes descobriu que o Rio de Contas era uma estrada pra
ganhar o mundo. Ele é o filho prodígio da cidade das canoas. Vamos conhecer uma
mulher que teve seis filhos, adotou mais quatro e se pudesse cuidava do mundo
inteiro.
A mãe do atleta é entrevistada na sala da casa, ela está sentada no sofá e ao
fundo uma cortina verde. A imagem se intercala com a cena de Isaquias abraçando
a mãe, e ela mostrando os presentes que ganhou do filho, como um fogão e artigos
de decoração da sala.
Dilma Francisca Queiroz - mão de Isaquias (DFQ): Eu vejo tanto jovem assim, se
eu pudesse, mas não posso abraçar todos.
PB: A mãe que abraçou todos, hoje ganha o abraço musculoso do filho mais forte.
Musculoso e generoso. Os presentes de Isaquias são outra forma de carinho. E aqui
da casa, o que que ele já ajudou a senhora? O que que tem aqui, o que ele, o que
que foi?
DFQ: Tudo! Não tinha nada não.
As imagens nesse momento são da fachada da casa onde o atleta cresceu,
da rua, e uma imagem aérea das casas ao lado do rio.
PB: Isaquias não mora mais aqui, e mesmo quando morava em Ubaitaba, já tinha
duas casas: a casa de tijolo e a casa de água.
O atleta é entrevistado perto do rio, que aparece ao fundo. A entrevista se
intercala com cenas de Isaquias treinando.
Isaquias Queiroz (IQ): Eu acho que a canoagem me pegou, né, invés de eu ter
pego ela. E acabou dando certo a parceria, né. Então eu acho que foi, foi um
esporte assim que eu me adaptei fácil, até pela parte de eu estar sempre na água,
mas eu acabei gostando muito dessa parte. Ficar onde eu gosto, de ficar no meu
habitat natural ali, né.
Cenas do rio em Ubaitaba se intercalam com uma foto de Isaquias criança,
com mais duas pessoas em frente ao rio.
PB: Ubaitaba fica numa esquina do mapa. Entre a estrada e o rio. Depois de
aprender a remar, o próximo passo era pegar o asfalto. Isaquias tinha 13 anos e
nenhum dinheiro quando foi chamado para disputar o Campeonato Brasileiro de
Canoagem.
105
José é entrevistado com o rio ao fundo, onde canoístas treinam no momento.
Logo após, uma foto de arquivo do atleta com a equipe e com as medalhas no peito.
A imagem se intercala com cena de Isaquias na canoa no Rio de Contas e troca
para o litoral paulista.
José Carlos Lona Almeida - pioneiro da canoagem em Ubaitaba (JCLA): Eu
tava na escola, faltava duas horas para o ônibus sair para Cascavel. Eu fui lá,
Isaquias você vai, vou pagar a sua passagem, passei o cartão e você vai para
Curitiba, e trouxe na bagagem quatro medalhas de ouro.
PB: No ano seguinte, seleção brasileira. Em vez de um até logo, o Rio de Contas
tinha que ouvir um adeus. Destino, São Vicente, no litoral paulista. Um lugar onde
Isaquias encontrou uma nova família.
A entrevista do atleta se intercala com cena dele com os companheiros de
equipe, arrumando a canoa, treinando e conversando entre eles.
IQ: Aqui a gente não se chama de companheiro. Aqui a gente se chama de irmão.
Aí já depois de uma vida juntos né.
PB: Elon, Ronilson e Nivalter. Oito anos depois, os irmãos da seleção continuam
juntos. Treinando em Lagoa Santa, em Minas Gerais. Isaquias é o caçula dessa
família. Nivalter, o irmão mais velho. O que nunca deixou nada faltar.
IQ: Acabava comprando sabonete, escova de dente, essas coisas. Às vezes até
roupa já me deu, escolhe uma roupa aí que eu vou te dar. Aí acabava me dando
coisa assim né, de coração, até porque ele sabia que da parte minha eu não podia
ter nada.
Cenas da equipe treinando no rio se intercalam com a entrevista de Nivalter.
PB: Hoje os presentes de Nivalter são os conselhos, embrulhados na sabedoria que
o tempo traz.
Nivalter Santos - canoísta da seleção brasileira (NS): Por eu ser um atleta mais
velho, mais experiente, às vezes eu dou um puxão de orelha nele, às vezes ele
aceita, às vezes não. No fundo, no fundo, ele acaba aceitando, as nossas brigas
não passam de um dia sem falar, depois já tá tudo tranquilo já.
As imagens se intercalam entre a entrevista e cenas da equipe se
preparando para o treino.
PB: E de repente a canoagem brasileira fez barulho. Em cinco meses, a vida de
Isaquias mudou. O melhor do Brasil, virou o melhor do mundo.
106
IQ: Foi um milagre!
PB: Impossível imaginar um nome mais apropriado que o autor desse milagre.
Jesus. Jesus Morlan. O treinador espanhol que já conquistou cinco medalhas
olímpicas. Veio ao Brasil para ganhar mais medalhas. E não para fazer mais
amigos.
O técnico é entrevistado perto do rio. A entrevista se intercala com cenas da
equipe treinando e da entrevista de Isaquias.
Jesus Morlan - técnico da seleção brasileira (JM): Eu lembro que no primeiro dia
eles chegaram pra mim e falaram “ah, a gente acha que…”. Mas eu não perguntei o
que vocês acham. Quando eu quiser saber a sua resposta, eu vou fazer uma
pergunta.
PB: No começo, o pessoal estranhou. E continuam estranhando até hoje.
IQ: Ele era muito exigente. Um jeito de treinamento muito diferente do que a gente
tava acostumado, né.
JM: Vão fazer isso! Por quê? Porque sim, falo eu. Pronto!
IQ: Quando ele chegou, tinha que obedecer a ordem dele, né. Que ele é o cara, né.
JM: Ele sabe que eu quero o bem dele, mas ele sabe que eu não sou amigo dele.
PB: Se ele não é amigo nem dos atletas, imagina dos adversários. Ainda bem que
agora Jesus Morlan é do Brasil.
JM: Então passamos de ser aqueles brasileiros engraçados…”ah, olha, que
engraçado o Brasil”... você deixa de ser engraçado porque você passa a ser o
favorito na raia, você passa a pegar medalhas.
Cenas de arquivo de outras competições de Isaquias e das comemorações,
se intercalam com a entrevista do atleta.
PB: E foram muitas. Seis nos últimos campeonatos mundiais. Três de ouro e três de
bronze. Isaquias só não ganhou mais um ouro em 2014 porque se desequilibrou a
um metro do fim. Ele é o único do mundo capaz de ganhar medalhas nos duzentos,
quinhentos e nos mil metros. O fenômeno Isaquias Queiroz junta explosão e
resistência.
IQ: Um dia era, queria ser mil, eu fui ser mil, ser um duzentos, ser duzentos. E o ano
passado, acabei quebrando esse tabu, né.
Cenas do treino se intercala com a câmera fazendo um close no cabelo do
atleta, e imagem do Rio de Contas.
107
PB: Na canoa e na vida, a regra é surpreender, fugir do comum. O penteado de
hoje, pode ser outro amanhã. Esse estilo imprevisível é temperado com uma
certeza: Isaquias sempre volta para o mesmo lugar.
Cenas da cidade de Ubaitaba, do atleta na rua da cidade, onde a câmera faz
um foco nas caixas de som que ficam nos postes de luz.
Locutor: Alô, Isaquias meu irmão. Tudo bem? Como é que tá você, rapaz?
Imagens de Isaquias na cidade, batendo fotos e sendo abraçado por
moradores de Ubaitava.
PB: Alô, alô, Ubaitaba, a cidade inteira gosta de ter certeza que ele chegou. Por que
uma vez ele disse que ia chegar e não chegava. Não chegava…
A entrevista da mãe do atleta se intercala com fotos de arquivo de Isaquias e
do carro acidentado, onde o atleta estava quando sofreu um acidente, imagens de
Isaquias carregando a sua canoa na cidade, e de crianças na beira do rio olhando o
atleta treinando no Rio de Contas.
DFQ: Tava orando a madrugada já. Não senhor, já tá passando do horário do meu
filho chegar. Não deixe chegar notícia ruim. Quero notícia boa.
PB: A notícia boa veio, depois de um susto. A menos de um ano da olimpíada, uma
das maiores promessas do Brasil saiu desse carro sem nenhum arranhão.
DF: O carro não prestou não. O carro já se foi. Agora a vida deles tão aí. Sempre
quando ele volta, a cidade para. A bola não rola. Aqui o estádio é de água corrente.
A arquibancada é a margem do rio. O ídolo não usa chuteira. Descalço, ele dá
exemplo de equilíbrio e direção. E ensina que canoa é outro nome para liberdade.
A entrevista da professora é feita na beira do rio, se intercala com cenas das
crianças treinando no rio e carregando as suas canoas e, por último, uma imagem
aérea do rio com os canoístas.
Camila Lima - professora de canoagem em Ubaitaba (CL): Só de ver o sorriso
dele, ele chegar assim pra mim “tia, eu quero ser igual o Isaquias”.
PB: O futuro chega flutuando sobre o Rio de Contas pra quem é criança em
Ubaitaba. E daqui a alguns dias, quando Isaquias for pra água, o Brasil inteiro vai se
transformar numa única, imensa, cidade das canoas.
108
e) Perfil Serginho - 26 de julho de 2016, 9’03’’
A apresentadora introduz a reportagem em pé no estúdio do Jornal Nacional.
Ao fundo, um telão com a foto de Serginho.
Renata Vasconcellos (RV): Hoje a nossa série especial vai apresentar a trajetória
de um brasileiro que se reinventou para se tornar o melhor do mundo.
A reportagem inicia com a cena de Serginho, que não aparece
completamente no vídeo, usando as três medalhas olímpicas, uma de ouro e duas
de prata. As imagens se intercalam com a fachada da casa onde cresceu, o número
da casa é 10, e a ladeira onde ela fica.
Pedro Bassan (PB): O barulho vem dessa casa e o endereço confirma. Chegamos
aonde mora o camisa 10 da seleção. O menino cresceu no meio de uma ladeira.
Pra baixo, o abismo.
A mãe do atleta é entrevistada apoiada em uma janela da casa, ela está
dentro e a câmera está do lado de fora.
Didi Dutra Santos - mãe de Serginho (DDS): Lá na nossa vila tinha dia que todo
fim de semana, era um, dois morto em cada esquina. Morreu muitos amigos dele.
A cena da entrevista é da primeira professora. É rápida e logo troca para uma
imagem de Serginho no pódio de Atenas em 2004.
Silvia Souza Lima - primeira professora (SSL): Ele tinha tudo pra dar errado.
DDS: Ele saiu daquele local e hoje conquistou o mundo.
Imagem de um menino subindo a ladeira da rua do Atleta, nesse caso, é
possível ver que a câmera está no chão. Logo em seguida, cenas de arquivo da
comemoração do ouro olímpico em Barcelona, em 1992, e o último ponto do jogo. A
imagem troca para uma foto de Serginho ainda criança.
PB: Um gesto muito distante ajudou o filho da dona Didi a enfrentar a ladeira
inclinada.
Técnico da seleção brasileira: O ouro é nosso! Essa vai para o Brasil!
PB: Quando Marcelo Negrão caminhava pra sacar, no último ponto da Olimpíada de
Barcelona, não imaginava ou nem podia imaginar que naquele momento estava
transformando a vida de um menino em Pirituba, na Zona Leste de São Paulo. O
menino era Serginho.
109
Serginho é entrevistado em uma sala. Ele está em uma poltrona e, ao fundo,
uma cortina branca. Logo após, a cena troca para imagens de arquivo do último
jogo da seleção nas Olimpíadas de Barcelona, e o ponto final. As imagens se
intercalam entre a entrevista e a cena de um menino na ladeira brincando com a
bola de vôlei.
Serginho: Eu lembro que eu tava assistindo a final olímpica em casa, o Marcelo
Negrão fez o último ponto e eu sai correndo no meio da rua chorando. Eu queria ser
igual aos caras. Queria ser igual ao Maurício e ao Marcelo Negrão. Eu quero isso aí
para a minha vida.
PB: Mas como, se ali na vizinhança ninguém jogava vôlei?
S: Nenhum menino da favela queria jogar voleibol.
PB: E assim, a primeira quadra do menino de Pirituba foi a ladeira.
S: Eu pegava e jogava a bola lá em cima. A bola descia. Eu ficava brincando assim.
A treinadora aparece em uma quadra de vôlei, auxiliando adolescentes em
um treino. A entrevista dela é feita ao ar livre, ao fundo existem algumas estátuas de
mármore. O outro treinador também foi entrevistado na rua. As imagens se
intercalam com a cena da treinadora ao lado de um menino, de costas para a
câmera, caminhando nas dependências da quadra.
PB: Silvia também achava que o vôlei tinha que buscar talentos na periferia. Mas
nem ela acreditou quando Serginho apareceu para fazer um teste.
SSL: Ele chegou magrelo, aquelas pernas fininhas, shortinho e camisetinha branca
assim. Eu falei meu Deus, será que isso joga, né.
Outro treinador: Ele era um atacante de mediano pra baixo, né.
PB: E os outros problemas eram gigantes, que pareciam condenar Serginho ao
fracasso no vôlei.
SSL: Ele passou necessidade, ele passou fome, ele teve dificuldade, mas ele não
desistiu.
PB: Silvia foi a primeira técnica e a segunda mãe. Com ela, Serginho cresceu no
vôlei e na vida.
SSL: Um líder. Um líder nato, né.
PB: Mas certo dia, nem Silvia pode evitar uma notícia ruim.
110
A entrevista de Serginho se intercala com a fala de Chicão, que está em uma
quadra de vôlei, ao fundo a rede. E também cenas de arquivo familiar de Serginho
com o seu filho, e uma foto do atleta com o seu time.
S: O time era da prefeitura, eles decidiram acabar com o time.
Chicão - técnico de vôlei (C): Ele ficou meio desesperado. Ele ligou pra mim, ele
precisava, ele tinha um filho, né cara, era casado.
PB: Ao telefone, o amigo Chicão disse uma palavra que Serginho nunca tinha
ouvido.
S: Pra você vir aqui em São Caetano fazer uma peneira. E eu achando que era de
atacante. Tá bom. Mas não é de atacante não. É pra ser líbero. O que que é isso?
Desenhos gráficos em movimento ilustram as posições que o líbero deve
fazer. Após, cenas de arquivo de Serginho, já na seleção brasileira, defendendo a
bola, na posição de líbero. Às imagens se intercalam com a entrevista do atleta e a
do treinador.
PB: Em 1997 a regra do vôlei mudou. Foi criada uma posição nova. Um jogador
especialista em passar a bola e defender. Proibido de atacar, ele tinha que jogar
longe da rede. A mudança foi perfeita para um jogar de um metro e oitenta e quatro,
um baixinho no mundo do vôlei. Líbero não precisa de altura, precisa de vontade e
coragem. E, isso, Serginho sempre teve de sobra.
C: Eu olhei pra ele, imagina que a bola de voleibol é o leite do seu filho, o pão do
seu filho. Então faz ela subir cara.
S: Se a bola for na estação de trem lá em São Caetano, você corre atrás da bola.
Eu falei, deixa comigo.
Cenas de arquivos de Serginho em outras competições como Campeão
Paulista e Brasileiro. Imagens da competição se intercalam com cenas de arquivo
familiar, a entrevista do atleta, imagens do técnico da Seleção Brasileira de Futebol.
PB: Bola pra cima e troféu pro alto. Campeão paulista, brasileiro. Todo mundo já
imaginava o próximo passo. Menos o menino de Pirituba, que lembra exatamente
da surpresa da primeira convocação.
S: Tocou o celular, era a Érica, uma repórter. “Você viu a convocação?”. Eu disse,
não Érica, eu to indo pro treino agora e eu nem sei quem o Parreira convocou. Falei
pra ela, nem sei. “Que Parreira moleque, você tá louco? O Bernardinho”. Eu falei
não Érica, não sei. Ela falou o seu nome tá na lista. Quando ela falou, o seu nome tá
111
na lista, o telefone caiu, eu tomei um choque, o telefone caiu no chão. Eu falei, o
meu nome tá na lista, como assim o meu nome tá na lista? O Bernardinho, eu nunca
vi o cara de perto.
Cenas de arquivo das Olimpíadas de Barcelona em 1992, do time
comemorando o ouro olímpico. Em seguida, cena de um corredor de hotel, com a
luz baixa, com alguém caminhando em direção a uma porta. As imagens se
intercalam com a entrevista de Serginho.
PB: Naquela época, os ídolos do ouro de 92 ainda estavam na seleção. Serginho ia
ficar perto deles. Quem sabe até trocar umas palavras. Com o coração acelerado,
chegou ao hotel onde o vôlei brasileiro se concentrava.
S: Você está no quarto com o seu Maurício Lima. Eu falei, o quê? Eu não conhecia
o cara, o cara, o meu ídolo, eu tinha sido convocado, como que vai ser como é que
eu vou morar com o cara? Daí eu fui e apertei a campainha. Aí ele saiu e me olhou,
ele olhou pra minha cara e eu olhei pra cara dele, aí eu falei, e aí Maurício, daí ele
me deu um abraço cara. Aí ali eu comecei a chorar.
Cenas de arquivo da comemoração do ouro Olímpico de Atenas em 2004. A
imagem se intercala com a entrevista do atleta, que nessa parte começa a chorar.
PB: Aí quando o Brasil ganhou de novo a medalha de ouro na olimpíada, o menino
de Pirituba estava dentro da televisão.
S: Eu me lembro como se fosse ontem andando de carrinho de rolimã, de ter
arregaçado o dedo e ter cortado tudo o dedo. Depois as pessoas falaram que eu
sou herói olímpico. Pelo amor de Deus, eu não sou, cara. Não sou mesmo. Sou o
Sérgio filho da dona Didi.
A câmera aproxima do rosto dos três filhos do atleta. Enquanto um fala, os
outros dois estão sentados ao lado de Matheus.
PB: Pai do Marlon, do Matheus e do Martin.
Matheus Dutra Santos - filho de Serginho (MDS): O meu pai me disse que ele ia
treinar só pra comer um lanche depois. Por que eles davam e ele não tinha
condição. E isso me tocou, por causa que hoje eu tenho tudo que ele pode me dar.
E ele é um espelho pra mim. Com certeza.
Imagem da uma prateleira repleta de medalhas, com foco nas de Atenas,
Pequim e Londres e o troféu de melhor líbero. As imagens se intercalam com cenas
112
de arquivo das competições e da comemoração do prêmio de melhor jogador do
mundo.
PB: Na prateleira, Serginho também tem tudo. Além do ouro em Atenas, duas
pratas, em Pequim e em Londres. Troféu de melhor líbero do mundo. E, em 2009,
um líbero com o prêmio de melhor jogador do mundo. No vôlei, Serginho já tinha
conseguido tudo. Era hora de se dedicar a outras grandes amizades.
A entrevista de Serginho é feita do celeiro e se intercala com imagens dele
cuidando de seus cavalos. Em seguida, o repórter entra em cena, apoiado em uma
grade, enquanto o atleta e outra pessoa cavalgam do lado de dentro da grade de
madeira. Em seguida, imagens de Serginho jogando na Seleção Brasileira.
S: Se Deus quiser, boa parte da minha vida eu vou estar aqui dentro, com certeza
perto dos animais, dos cavalos. O cavalo que é um animal que eu amo de paixão.
PB: Uma vida no campo. Um futuro garantido longe das quadras e perto da família.
Mas a lembrança das três medalhas, juntando poeira no fundo da memória,
começou a incomodar. Essa tranquilidade vai ter que esperar mais um pouco. Aos
40 anos, o melhor líbero do mundo está de volta às olimpíadas. Os torcedores mais
fiéis nunca tinham aceitado a despedida da seleção.
Marlon é entrevistado no pátio de uma casa, ao ar livre. A fala de Marlon se
intercala com imagens do atleta jogando, defendendo a bola, com a fala da primeira
treinadora, a entrevista do técnico da Seleção Brasileira em uma quadra de vôlei e
da fala de Dona Didi, e, por último, a paisagens do campo e Serginho em cima de
seu cavalo.
Marlon Dutra Santos - filho de Serginho (MDS): Eu fiquei no pé dele pra voltar,
com certeza.
SSL: Vai lá velhinho. Vai lá.
MD: Tá ficando velho, tá jogando mais, parece.
Bernardinho - técnico da seleção brasileira: Ele sabe que nós não somos os
favoritos, mas que vamos brigar. Ele está disposto a ser um dos soldados que vai
estar naquela trincheira.
DDS: Ele não sabe da imensidão que ele representa pro Brasil e pro mundo, né. Ele
continua sendo aquele moleque simples que saiu lá de Pirituba.
PB: Na beleza da paisagem, a vida vai passando diante dos olhos. Sérgio Dutra
Santos. Empacotador de supermercado, office boy, vendedor ambulante. Jogador
113
de vôlei. Melhor do mundo. Hoje o caminho é plano, mas se aparecer pela frente
uma ladeira bem inclinada, força cavalinho. Por que o menino de Pirituba com
certeza vai subir.
Após a aplicação do método e das técnicas, será possível realizar a
interpretação dos dados, assunto do próximo capítulo.
114
7. A REPRESENTAÇÃO DO HERÓI NAS REPORTAGENS ESPORTIVAS DA
SÉRIE PERFIS
A partir da observação do corpus da pesquisa e da revisão bibliográfica,
será possível realizar a análise e interpretação dos dados propostos pelo método
Análise de Discurso. O objetivo é responder a questão norteadora: a série Perfis,
exibida no Jornal Nacional, se utiliza do jornalismo literário para reforçar a
representação do herói nas reportagens esportivas sobre os atletas olímpicos de
2016? Para o desenvolvimento do capítulo foram elencados quatro temas que
merecem análise aprofundada no sentido de auxiliar no encaminhamento da
resposta da questão norteadora e da confirmação ou não das hipóteses desta
pesquisa: Grande Reportagem; Jornalismo Esportivo; Jornalismo Literário e
Representação Social.
7.1 QUADROS PARA ANÁLISE
Para desenvolver a interpretação dos dados, foram elaborados seis
quadros, um por VT, com pontos importantes a serem analisados durante este
capítulo. Além desses pontos, aparecem prints de cada reportagem para
evidenciar os fragmentos da decupagem. A partir disso, a análise seguirá nos
quatro temas escolhidos.
Quadro 1 - VT 1 Perfil Arthur Zanetti
Grande Reportagem
Jornalismo Literário
Representação Social
Jornalismo Esportivo
Referindo-se a produção, locais de filmagens e espaço no telejornal.
Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.
Aspecto de narrativa e linguagem feita pelo repórter, sendo apresentado por trecho da decupagem.
“Pedro Bassan: “E
até de ponta cabeça aparece as maravilhas do Brasil. [...] É normal a família dar suporte ao atleta, mas nesse caso, a família construiu o suporte do atleta, com as próprias mãos.” (Jornal Nacional –
A representação do atleta, que imagem do atleta é repassada para o público. “PB: Antes de conquistar a medalha, Arthur conquistou o respeito de todos. Com essa mistura de seriedade e simpatia, disciplina e inspiração. Com essa carinha de bom rapaz. Será que ele nunca fez bagunça na vida? Com a palavra, dona
Aspecto de dedicação do atleta ao esporte, sempre treinando e revendo as imagens gravadas do seu próprio treino.
Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.
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Característica em local de filmagem (produção).
Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.
O tempo da grande reportagem se diferencia de uma reportagem comum, passando de oito minutos.
Perfil Arthur Zanetti, 2016). PB: “Desde então, o campeão do mundo revelou-se o mais beijoqueiro do mundo. Oh Juliana, nós temos que te contar uma coisa. Ele adora beijar medalha também. O mesmo técnico, o mesmo clube. Desde a infância, tudo mudou muito rápido na vida do menino que nunca mudou.” (Jornal Nacional – Perfil Arthur Zanetti, 2016).
Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.
“PB: Parece que foi ontem aquele primeiro título brasileiro. A diferença é que na hora do hino ele era um menino entre muitos de todo o Brasil. Agora quando o hino toca, Zanetti é o Brasil inteiro. Especialmente naquela parte, “conseguimos conquistar com braço forte” (Jornal Nacional – Perfil Arthur Zanetti, 2016).
Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.
Roseane.” (Jornal Nacional – Perfil Arthur Zanetti, 2016). “PB: Um pedaço de asfalto cercado por um muro. [...] Em 2012, essa força virou ouro. Campeão olímpico.” (Jornal Nacional – Perfil Arthur Zanetti, 2016).
Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.
PB: Parece que foi ontem aquele primeiro título brasileiro. A diferença é que na hora do hino ele era um menino entre muitos de todo o Brasil. Agora quando o hino toca, Zanetti é o Brasil inteiro. Especialmente naquela parte, “conseguimos conquistar com braço forte” (Jornal Nacional – Perfil Arthur Zanetti, 2016).
“PB: E a vida já tem tanta história. Das lentes amadoras, para as câmeras mais modernas do mundo. O equipamento mudou, mas a imagem é a mesma. Marcos Goto e Arthur Zanetti. Inseparáveis. [...] AZ: Treinar em outro clube, com outro técnico, não dá. Não dá. Eu não consigo me ver em outro lugar, e sem também o Marcos como técnico.” (Jornal Nacional – Perfil Arthur Zanetti, 2016).
Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.
Característica de ser evento especial, Olimpíadas, e ter espaço durante a programação e no telejornal. Isso pode ser representado com as imagens de arquivo de outras competições e das Olimpíadas de Londres 2012, na reportagem. Vale ressaltar que o atleta ganhou a medalha de ouro em 2012.
Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.
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Quadro 2 - VT 2 Perfil Yane Marques
Grande Reportagem Jornalismo Literário Representação Social
Jornalismo Esportivo
A imagem se refere a algo incomum que o repórter faz (estar no cavalo). Mas por ser grande reportagem e devido ao tema, o repórter se aventurou a fazer algo diferente para chamar a atenção do público. Isso se refere à passagem do repórter durante a reportagem.
Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.
Parte de pós-produção, com o nome da atleta.
Desenho gráfico para ilustrar o esporte em suas cinco fases. Parte desenvolvida na pós produção para a exibição da reportagem.
Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016. Locais de gravações, como paisagens também fazem parte da grande reportagem.
Trechos das decupagens. O primeiro, sobre a narrativa que o repórter faz, para explicar o surgimento do esporte. O segundo trecho é do Gaiteiro e a rima que ele faz sobre a atleta e a origem dela. “(PB): No vale do Pajeú, o sertanejo já viu de tudo. Mas, medalha brotando desse chão é a primeira vez. [...] Para juntar cinco esportes em um só, Yane Marques carrega a força do sertão. Yane, o quanto daquela menina sertaneja ainda existe em você?” (Jornal Nacional – Perfil Yane Marques, 2016).
“Gaiteiro: Ser campeã no pentatlo exige superação, mas entende muito disso quem bem conhece o sertão. Correr, nadar, atirar, usar cavalo e espada pra uma autêntica sertaneja isso tudo não é nada. Pois sertaneja é assim, faz de tudo e nada erra e ainda não abre mão de exaltar a sua terra. Yane para onde vai, leva Afogados com ela. Quem da terra se orgulha, também vira orgulho dela. Em Afogados da Ingazeira, onde o sol mais forte brilha, brilha o brilho de Yane a sua mais brilhante filha” (Jornal Nacional – Perfil Yane Marques, 2016).
Trecho referente à representação da atleta em sua cidade natal, pelo fato que as crianças estão se inspirando em Yane Marques. “PB: As brincadeiras antigas, o esforço e o sorriso andam juntos. E assim, sem perceber, aos poucos, as meninas vão se tornando atletas. Vão se tornando Yane Marques” (Jornal Nacional – Perfil Yane Marques, 2016).
No trecho, subentende-se que o país só passou a conhecer o esporte após as vitórias da atleta. “PB: Pentatlo. Com Yane Marques, o Brasil aprendeu a pronunciar o nome de cinco esportes de uma vez só. E num dia só. Às dez da manhã, natação. Meio dia, esgrima. Três da tarde, hipismo. As seis o apogeu. O evento combinado. A atleta sai da calma absoluta do tiro pra agitação da corrida. Pentatlo é a arte de se transformar” (Jornal Nacional – Perfil Yane Marques, 2016).
Desenho da atleta no muro no sentido do que ele representa para a população da cidade.
O repórter conta que desde pequena a atleta se interessava por esportes, envolvendo a dedicação que ela oferecia a qualquer um. “PB: Determinada. Desde pequena quebrando recordes. A escola guarda até o hoje o boletim da melhor aluna. Em qualquer matéria, a vontade de estudar. E em qualquer esporte a vontade de se superar. Aos 11 anos, quando a família se mudou para Recife, ela escolheu o vôlei” (Jornal Nacional – Perfil Yane Marques, 2016).
Descoberta do pentlato, onde a atleta pode conciliar as cinco modalidades que praticava. “PB: Depois do espanto inicial, Yane descobriu que tinha acertado na mosca. Não parou mais. Até porque no pentatlo, pra pendurar as chuteiras, é preciso pendurar os tênis, a bota, a espada, os óculos, o revólver, o alvo.”
Cenas de arquivo de Yane nas Olimpíadas de Londres.
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Quadro 3 - VT 3 Perfil Sarah Menezes
Grande Reportagem Jornalismo Literário
Representação Social
Jornalismo Esportivo
Recurso de pós-edição com a inclusão do nome da atleta no VT; O uso do microfone sem fio; A forma como foi gravado o treinamento de Sarah, realizado pelo cinegrafista, que pode trabalhar a iluminação de forma diferente; O recurso de câmera lenta foi utilizado em parte da reportagem para exaltar os movimentos da atleta; Locais de gravações, como paisagens, também fazem parte da grande reportagem. O tempo da grande reportagem se diferencia de uma reportagem comum, passando de oito minutos.
Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.
“PB: Não é difícil de entender. Essa é a história de uma menina que construiu uma ponte entre o Japão e o Piauí. De Tóquio a Teresina. Aqui, o judô encontrou a primeira mulher brasileira a conquistar o ouro nos tatames. Nenhuma surpresa. O brilho da medalha de Sarah Menezes combina muito bem com o antigo tesouro do Piauí. Cajuína. [...]” (Jornal Nacional – Perfil Sarah Menezes, 2016).
Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.
“PB: De repente, Sarah Voltou. Receita para recuperar o tempo perdido: treino e muito treino. E depois do treino, mais treino. Parece um filme de super herói. Mas a super Sarah em ação. Ela voltou a ficar entre as três melhores do mundo. Só vai parar do dia seis de agosto. Primeiro dia de
medalhas dos jogos” (Jornal Nacional – Perfil Sarah Menezes, 2016). .
Trechos da decupagem que indicam que a atleta passou a representar o seu estado no esporte. “PB: Com as vitórias de Sarah Menezes, o Piauí entrou no mapa do judô mundial” (Jornal Nacional – Perfil Sarah Menezes, 2016). “Expedito Falcão: Ela era tipo, a seleção brasileira. Do Piauí. Estado sem retrospectiva de atleta de alto rendimento. É uma coisa que eu mais me orgulho. Por que a Sarah é uma atleta made in Piauí. Ela nasceu e treinou a vida inteira dentro do Piauí” (Jornal Nacional – Perfil Sarah Menezes, 2016).
- “PB: Quando Sarah voltou de Londres, no aeroporto também eram sete. E mais sete, mais sete. Mais sete, mais sete, mais sete. Sarah Menezes: Eu tomei um susto. O Piauí realmente todo parou. O aeroporto lotado. Eu até fiquei com medo de sair de dentro do aeroporto, porque a multidão era incrível. [...]
EF: Quando ela ganhou a primeira luta, poucas pessoas assistiram. Na segunda luta o Piauí começou a parar. Na terceira luta dela o Piauí parou. Na quarta o Brasil parou” (Jornal Nacional – Perfil Sarah Menezes, 2016).
Trechos da decupagem referente ao treinamento da atleta. Além disso, imagens da atleta em outras olimpíadas. “PB: Desde então, Sarah viu o tempo passar nesse mesmo tatame. Aos nove anos, começou a aprender todos os verbos do judô. Treinar, lutar, suar. Derrubar. Só não conjugava o verbo perder” (Jornal Nacional – Perfil Sarah Menezes, 2016). “PB: Sarah aprendeu o verbo perder em português e em chinês. Na olimpíada de Pequim. EF: Com 18 anos. Muito jovem. Então, ela não aguentou a pressão. PB: Talvez por isso, quatro anos depois, quase ninguém acreditava” (Jornal Nacional – Perfil Sarah Menezes, 2016).
“PB: Na quinta luta a medalha de ouro. Vinte e dois anos, melhor do mundo.”
-
Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.
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Tabela 4 - VT 4 Perfil Fabiana Claudino
Grande Reportagem
Jornalismo Literário
Representação Social Jornalismo Esportivo
Características de pós- produção, como a inclusão dos nomes da atleta e da treinadora; Locais de gravação diferentes em cada reportagem; Passagem do repórter em frente ao ponto de ônibus que segue com imagens dentro do veículo em movimento; Entrevista com Yara Ribas, onde o repórter entrevista a atleta e aconteceu uma surpresa, onde a treinadora aparece surpreendendo Fabiana; O tempo da grande reportagem se diferencia de uma reportagem comum, passando de oito minutos.
Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.
“PB: Partiu ao lado da mãe. Por essas ruas que não mudaram nada desde o século dezoito. Trezentos anos depois, a moradora de Santa Luzia reencontrou o caminho do ouro. E ele começa em uma viagem de ônibus. Que sai daqui de Minas Gerais e passa por vários continentes e termina no alto do pódio olímpico. [...]” (Jornal Nacional – Perfil Fabiana Claudino, 2016).
“PB: Vamos falar de ouro. Muito ouro. Vamos falar de uma brasileira brilhante. A cidade inteira ouviu quando foi batizada Fabiana.[...]” (Jornal Nacional – Perfil Fabiana Claudino, 2016).
“PB: Assim como o Brasil em 2004, dessa vez foi a Rússia que teve seis chances de fechar o jogo com o último ponto. E não conseguiu. Brasil teve uma só, nas mãos de uma filha de negros, neta de índios, a Rússia conheceu Fabiana do Brasil” (Jornal Nacional – Perfil Fabiana Claudino, 2016). “José Roberto Guimarães - (JRG): E hoje ela passa, para essas jogadoras, principalmente as mais novas, tudo o que significa vestir a camisa da seleção brasileira e representar o nosso país” (Jornal Nacional – Perfil Fabiana Claudino, 2016).
“JRG: Fabiana, ela foi escolhida pela equipe como capitã. Ela foi escolhida por unanimidade” (Jornal Nacional – Perfil Fabiana Claudino, 2016).
“PB: Quem melhor que a líder do time com duas medalhas de ouro a ser a primeira atleta no Brasil a receber a tocha olímpica no país. [...]”(Jornal Nacional – Perfil Fabiana Claudino, 2016).
“PB: Horas e horas de bola na parede e solidão. Manchete. Cortada. Toque. O beabá do vôlei. A recompensa de todo esse esforço pode ser uma única bola. Um único ponto de Fabiana calou os críticos que ela teve de aguentar durante anos e anos” (Jornal Nacional – Perfil Fabiana Claudino, 2016)
Olimpíadas de Atenas/ Pequim e Londres: espaço na Rede Globo para as transmissões; as imagens de arquivo representam isso. “FC: Foi um time que, sempre fomos taxadas de amarelona. A gente batia na trave e não chegava em lugar nenhum. PB: Na olimpíada de Atenas em 2004, a seleção brasileira teve seis chances de fechar o jogo contra a Rússia. Desperdiçou todas e acabou fora da decisão” (Jornal Nacional – Perfil Fabiana Claudino, 2016).
Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016. “PB: Em 2008, um inédito ouro em Pequim, essa história parecia ter ficado para trás. Mas nos jogos de Londres, vieram derrotas inexplicáveis. Quase ninguém acreditava na medalha. Veio então, o jogo contra a Rússia, a grande favorita. [...] (Jornal Nacional – Perfil Fabiana Claudino, 2016).
119
Quadro 5 - VT 5 Perfil Isaquias Queiroz
Grande Reportagem
Jornalismo Literário Representação Social
Jornalismo Esportivo
A grande reportagem se caracteriza por várias imagens aéreas; Locações de filmagem em duas cidades: Ubaitaba e São Vicente, em São Paulo; O tempo de reportagem ultrapassa nove minutos; Características de pós- produção na inclusão do nome do atleta e do nome da cidade.
Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.
“(PB): Mesmo com tanta água, o Brasil nunca foi uma potência na canoagem. Até que no interior da Bahia, uma cidade decidiu remar contra a corrente e mudar história. [...] E alguns anos, as canoas descobriram uma outra riqueza. Agora, elas passam pelo rio, levando ouro, prata e bronze. Os canoeiros passaram a dividir o espaço com os canoístas.[...]” (Jornal Nacional – Perfil Isaquias Queiroz, 2016).
“PB: Isaquias não mora mais aqui, e mesmo quando morava em Ubaitaba, já tinha duas casas: a casa de tijolo e a casa de água” (Jornal Nacional – Perfil Isaquias Queiroz, 2016).
- “PB: Impossível imaginar um nome mais apropriado que o autor desse milagre. Jesus. Jesus Morlan. O treinador espanhol que já conquistou cinco medalhas olímpicas. Veio ao Brasil para ganhar mais medalhas. E não para fazer mais amigos” (Jornal Nacional – Perfil Isaquias Queiroz, 2016).
“PB: O carro não prestou não. O carro já se foi. Agora a vida deles estão aí. Sempre quando ele volta, a cidade para. A bola não rola. Aqui o estádio é de água corrente. A arquibancada é a margem do rio. O ídolo não usa chuteira. Descalço, ele dá exemplo de equilíbrio e direção. E ensina que canoa, é outro nome para liberdade” (Jornal Nacional – Perfil Isaquias Queiroz, 2016).
“PB: E de repente a canoagem brasileira fez barulho. Em cinco meses, a vida de Isaquias mudou. O melhor do Brasil virou o melhor do mundo” (Jornal Nacional – Perfil Isaquias Queiroz, 2016).
“Camila Lima - professora de canoagem em Ubaitaba (CL): Só de ver o sorriso dele, ele chegar assim pra mim “tia, eu quero ser igual o Isaquias”. PB: O futuro chega flutuando sobre o Rio de Contas pra quem é criança em Ubaitaba. E daqui alguns dias, quando Isaquias for pra água, o Brasil inteiro vai se transformar numa única, imensa, cidade das canoas” (Jornal Nacional – Perfil Isaquias Queiroz, 2016).
Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.
“PB: Ubaitaba fica numa esquina do mapa. Entre a estrada e o rio. Depois de aprender a remar, o próximo passo era pegar o asfalto. Isaquias tinha 13 anos e nenhum dinheiro quando foi chamado para disputar o campeonato brasileiro de canoagem” (Jornal Nacional – Perfil Isaquias Queiroz, 2016).
“PB: E foram muitas. Seis nos últimos campeonatos mundiais. Três de ouro e três de bronze. Isaquias só não ganhou mais um ouro em 2014 porque se desequilibrou a um metro do fim. Ele é o único do mundo, capaz de ganhar medalhas nos duzentos, quinhentos e nos mil metros. O fenômeno Isaquias Queiroz, junta explosão e resistência. IQ: Um dia era, queria ser mil, eu fui ser mil, ser um duzentos, ser duzentos. E o ano passado acabei quebrando esse
tabu né” (Jornal
Nacional – Perfil Isaquias Queiroz, 2016).
120
Quadro 6 - VT 6 Perfil Serginho
Grande Reportagem
Jornalismo Literário
Representação Social
Jornalismo Esportivo
Locais de filmagem, na cidade e no campo; O tempo ultrapassa nove minutos; O nome do atleta é exibido duas vezes via recurso de arte gráfica em pós-produção, assim como a palavra líbero; Desenho gráfico para representar a posição do líbero; Imagens aéreas; Recurso de câmera lenta em imagens de arquivo; Imagens de arquivo pessoal.
Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.
“PB: Quando Marcelo Negrão caminhava pra sacar, no último ponto da Olimpíada de Barcelona, não imaginava ou nem podia imaginar que naquele momento estava transformando a vida de um menino em Pirituba, na Zona Leste de São Paulo. O menino era Serginho” (Jornal Nacional – Perfil Serginho, 2016).
“PB: Uma vida no campo. Um futuro garantido longe das quadras e perto da família. Mas a lembrança das três medalhas, juntando poeira no fundo da memória, começou a incomodar. Essa tranquilidade vai ter que esperar mais um pouco. Aos 40 anos, o melhor líbero do mundo está de volta às olimpíadas. Os torcedores mais fiéis, nunca tinham aceitado a despedida da seleção” (Jornal Nacional – Perfil Serginho, 2016).
“PB: Aí quando o Brasil ganhou de novo a medalha de ouro na olimpíada, o menino de Pirituba estava dentro da televisão. S: Eu me lembro como se fosse ontem andando de carrinho de rolimã, de ter arregaçado o dedo e ter cortado tudo o dedo. Depois as pessoas falaram que eu sou herói olímpico. Pelo amor de Deus, eu não sou cara. Não sou mesmo. Sou o Sérgio, filho da dona Didi” (Jornal Nacional – Perfil Serginho, 2016).
“Bernardinho: Ele sabe que nós não somos os favoritos, mas que vamos brigar. Ele está disposto a ser um dos soldados que vai estar naquela trincheira. DDS: Ele não sabe da imensidão que ele representa pro Brasil e pro mundo né. Ele continua sendo aquele moleque simples que saiu lá de Pirituba”. PB: Na beleza da paisagem, a vida vai passando diante dos olhos. Sérgio Dutra Santos. Empacotador de supermercado, office boy, vendedor ambulante. Jogador de vôlei. Melhor do mundo. Hoje o caminho é plano, mas se aparecer pela frente uma ladeira bem inclinada, força cavalinho. Por que o menino de Pirituba, com certeza vai subir” (Jornal Nacional – Perfil Serginho, 2016).
Recurso de imagens de arquivo de outras olimpíadas que o atleta participou. Esse recurso evidencia o espaço que o esporte tem no veículo de comunicação e no telejornal. “S: Eu lembro que eu tava assistindo a final olímpica em casa, o Marcelo Negrão fez o último ponto e eu sai correndo no meio da rua chorando. Eu queria ser igual aos caras. Queria ser igual ao Maurício e ao Marcelo Negrão. Eu quero isso aí pra minha vida. PB: Mas como, se ali na vizinhança ninguém jogava vôlei” (Jornal Nacional – Perfil Serginho, 2016).
“PB: Bola pra cima e troféu pro alto. campeão paulista, brasileiro. Todo mundo já imaginava o próximo passo. Menos o menino de Pirituba, que lembra exatamente da surpresa da primeira convocação. S: Tocou o celular, era a Érica, uma repórter. Você viu a convocação?. Eu disse, não Érica, eu to indo pro treino agora e eu nem sei quem o Parreira convocou.[...]” (Jornal Nacional – Perfil Serginho, 2016).
- “PB: Na prateleira, Serginho também tem tudo. Além do ouro em Atenas, duas pratas, em Pequim e em Londres. Troféu de melhor Líbero do mundo. E em 2009, um líbero com o prêmio de melhor jogador do mundo. No vôlei, Serginho já tinha conseguido tudo. Era hora de se dedicar a outras grandes amizades” (Jornal Nacional – Perfil Serginho, 2016).
121
7.2 GRANDE REPORTAGEM
A grande reportagem tem por objetivo explorar todos os ângulos possíveis
de um assunto, apresentando uma narrativa mais detalhada. Sendo assim, foi
possível identificar um padrão de características de grande reportagem nos seis
VT’s analisados para esta pesquisa. Aspectos sobre a entrevista no meio
esportivo, como a gravação, edição e tempo de exibição fazem parte da série
Perfis. Conforme abordado no capítulo quatro desta monografia, Lima (2004)
explica que a grande reportagem permite o mergulho do jornalista no assunto que
quer retratar e garante uma liberdade para escapar da fórmula convencional em
que a notícia é tratada. Isso é perceptível nos seis VT’s analisados, visto que o
repórter explora todas as narrativas possíveis de cada atleta, o que resulta em
um produto final de mais de oito minutos por vídeo.
Outro ponto importante a ser destacado são os locais de filmagem
escolhidos para desenvolver parte das histórias. No capítulo quatro, Bistane e
Bacellar (2008) relatam que “no trabalho de campo, a cumplicidade entre o
repórter e cinegrafista contribui muito para o bom resultado. Conversar sobre o
encaminhamento da matéria com quem está gravando é fundamental para que
haja sintonia entre texto e imagem” (p. 52). Isso é evidente nos seis VT’s que se
utilizam de várias imagens de paisagens e aéreas. Elas são perceptíveis na
reportagem do atleta Arthur Zanetti, exibida no dia 11 de julho de 2016, onde o
ginasta realiza os movimentos de ginástica artística no aparelho, que está em
cima de um morro no Rio de Janeiro.
Figura 2 – Imagem aérea de Arthur Zanetti
Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.
122
Além das imagens aéreas, o trabalho com uma iluminação diferenciada
também é visível no VT da atleta Sarah Menezes exibido no dia 18 de julho de
2016, onde o cinegrafista fez imagens do treinamento da atleta utilizando de luz
baixa, praticamente no escuro, apenas com um pequeno foco de luz.
A passagem na grande reportagem também se diferencia de uma
reportagem comum. No capítulo quatro desta monografia, Bistane e Bacellar
(2006) explicam que a passagem é o momento em que o repórter aparece na
matéria, é a assinatura do profissional no trabalho que está sendo exibido, além
disso, é uma intervenção e ela só é necessária quando for acrescentar alguma
informação que valorize a reportagem. A passagem comum que os jornalistas
realizam no hard news é uma fala curta, objetiva, em algum lugar importante que
contextualiza a matéria. Na série Perfis, ocorre, mas de forma diferente. Nos seis
vídeos, o repórter aparece fazendo a sua passagem apenas uma vez, mas ele
utiliza microfone de lapela e faz ela de forma incomum. A forma atípica é evidente
no VT da atleta Yane Marques, onde Pedro Bassan começou a reportagem com
uma passagem, iniciando a narrativa em cima de um cavalo, fazendo alusão a
uma das modalidades do Pentatlo, esporte praticado pela atleta.
Figura 3 – Pedro Bassan durante a passagem
Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.
Pedro Bassan também realiza uma passagem inusitada no VT do atleta
123
Isaquias Queiroz, exibido no dia 25 de julho de 2016. O repórter inicia a
reportagem com uma passagem, sentado na ponta de uma canoa no meio do rio,
o foco está nele, mas a imagem vai afastando, ficando subentendido que o
cinegrafista está filmando na margem do rio.
Figura 4 – Repórter posicionado na canoa durante a passagem
Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.
A entrevista é a parte principal da série Perfis, sendo que a construção de
cada episódio é repleto de depoimentos, não só dos atletas, mas de familiares,
treinadores e amigos. Conforme abordado no capítulo quatro desta monografia,
Barbeiro e Lima (2002) relatam que a escolha das fontes é um desafio, visto que
elas transmitem a credibilidade que a reportagem precisa. Os autores ainda
afirmam que a entrevista na televisão proporciona a exposição da intimidade do
entrevistado, como gestos, olhar, o tom de voz, modo de se vestir e a mudança
do semblante. Isso fica claro e mais evidente no vídeo de Fabiana Claudino,
quando ela relata em um momento da entrevista o caso de racismo que sofreu
durante um jogo no Brasil.
124
Pedro Bassan: Essa história poderia terminar nas lágrimas de felicidades no ginásio de Londres. Fabiana nunca poderia imaginar que um choro bem mais amargo estaria por vir. No dia 27 de janeiro de 2015, a bicampeã olímpica foi jogar em Belo Horizonte, como visitante pelo time do Sesi. No mesmo lugar onde aprende a jogar e amar o vôlei, ela demorou a acreditar no que estava ouvindo. Fabiana Claudino: Olha a macaca! Joga a banana pra macaca. PB: A família estava na arquibancada e também ouviu. Vital Claudino: Ah, machucou muito. Maria do Carmo Claudino: Pobre de espírito, resumindo. FC: É uma coisa que fica na cabeça da gente. É difícil você vir e passar por isso. Acho que quem passa por isso um dia vai entender. VC: Não sabe que vai machucar a mãe o pai. E pedi pra Deus e graças a Deus, passou. Mas no momento, machucou muito (Jornal Nacional - Perfil Fabiana Claudino - 19 de julho 2016).
No VT de Fabiana Claudino também é possível ver uma entrevista
diferente, que é caracterizada por uma surpresa. Enquanto Pedro Bassan
entrevista Fabiana, a respeito de sua antiga treinadora, em uma quadra de vôlei,
Yara Ribas, a treinadora, aparece para surpreender a atleta. O repórter acaba
entrevistando as duas juntos. Dessa forma é possível afirmar que para que a
surpresa ocorresse foi realizada uma produção da entrevista, preparando a
treinadora a entrar em cena, sendo um fato criado e não uma surpresa de
verdade. Além disso, a grande reportagem também se diferencia do hard news
pelo processo de produção, com características do fictício para o real. Neste
caso, se trata de um depoimento real, mas com uma produção não factual.
A edição é outro aspecto a ser analisado. Conforme abordado no capítulo
quatro, a edição é a montagem da reportagem. Segundo Barbeiro e Lima (2002,
p. 102), “editar uma reportagem para a TV é como contar uma história, e, como
toda história, a edição precisa de uma sequência lógica que pelas características
do veículo exigem a combinação de imagens e sons”. O processo de edição,
conforme Curado (2002), relatado no capítulo quatro desta monografia, é dividido
em sete requisitos. O quinto requisito, é chamado pela autora de outros recursos,
que se baseia em uma possível adição de gráficos, mapas, animações e
reconstituições para ilustrar a reportagem. A inclusão de outros recursos é
notável nos seis vídeos analisados. Em cada um houve o acréscimo do nome do
atleta em letras grandes, mas de cores e formas diferentes, para evidenciar cada
personagem. Entretanto, no VT de Fabiana Claudino, exibido no dia 19 de julho
de 2016, não só o nome da atleta, mas também o nome de sua treinadora, Yara
Ribas, aparecem no VT. Isso não é diferente no VT de Isaquias Queiroz, exibido
125
no dia 25 de julho de 2016, onde é apresentado o nome do atleta como também o
nome de sua cidade natal, Ubaitaba. No VT do Serginho, exibido no dia 26 de
julho de 2016, o nome do atleta é apresentado duas vezes e de formas
diferentes.
Figura 5 – Recurso gráfico
Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.
Além dos nomes dos atletas, dois VT’s utilizam desenhos gráficos para
explicar o jogo de cada personagem. No primeiro, de Yane Marques, exibido no
dia 12 de julho de 2016, o desenho apresenta como é realizado o pentatlo, em
suas cinco modalidades: natação, esgrima, hipismo, tiro e corrida. Vale ressaltar
que o desenho gráfico na reportagem fica em movimento, simulando o esporte.
O segundo VT que utiliza de outros recursos, chamado assim por Curado (2002),
é o de Serginho. O recurso é utilizado para explicar a posição do líbero na quadra
de vôlei e como o jogador deveria atuar nos jogos.
A partir disso, a estrutura da reportagem define como o conteúdo vai ser
apresentado e como será exibido. O caminho da reportagem também define
como a narrativa vai ser exposta e envolver o espectador durante a história. O
jornalismo esportivo faz isso de forma diferenciada, pois cada personagem tem
uma história diferente, o que será apresentado no próximo subtítulo.
126
7.3 JORNALISMO ESPORTIVO
O jornalismo esportivo é encarregado de divulgar tudo o que acontece
nesse meio. Na série Perfis, cada episódio aborda um atleta, um esporte, uma
história diferente. Conforme levantado no capítulo três, Barbeiro e Rangel (2006)
esclarecem que em uma reportagem a linguagem deve ser acessível, isso só
acontece se o jornalista realizar uma grande pesquisa. Dessa forma (BARBEIRO;
RANGEL, 2006, p. 21), “a reportagem não é apenas notificação de um fato. É
necessário o detalhamento, a escolha de um ângulo ainda não explorado,
procurar descobrir o possível impacto daquelas informações no tema tratado”.
Nos VT’s analisados, é possível perceber que o repórter dedicou tempo
em suas pesquisas e no processo de produção, prezando pelos detalhes, como
quando relata a dedicação do atleta em seu esporte, desde criança. Em cada VT,
ele evidencia o esforço do atleta, em relação ao treinamento. No VT de Arthur
Zanetti, exibido no dia 11 de julho de 2016, o esforço do atleta é apresentado de
duas formas diferentes. Na primeira vez, o atleta revê os vídeos de seus treinos,
para poder aperfeiçoá-los com o tempo.
Figura 6 – Arthur Zanetti revendo seus treinos
Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.
Na segunda vez, o repórter evidência a parceria entre o atleta e o treinador.
127
Parceria de muitos anos, desde criança.
PB: E a vida já tem tanta história. Das lentes amadoras para as câmeras mais modernas do mundo. O equipamento mudou, mas a imagem é a mesma. Marcos Goto e Arthur Zanetti. Inseparáveis. Cenas da entrevista se intercalam com imagem de um abraço do treinador no atleta nas Olimpíadas de Londres. Arthur Zanetti: Treinar em outro clube, com outro técnico, não dá. Não dá. Eu não consigo me ver em outro lugar, e sem também o Marcos como técnico (Jornal Nacional - Perfil Arthur Zanetti - 11 de julho de 2016).
No capítulo três desta monografia, Barbeiro e Rangel (2006) fundamentam
que a reportagem deve procurar descobrir qual é o impacto das informações para
o público. Essa característica é perceptível em três VT’s, representados abaixo
por partes das decupagens. O primeiro é de Sarah Menezes, exibido no dia 18 de
julho de 2016, e retrata a dedicação da atleta até chegar à Seleção Brasileira de
Judô. O segundo VT é de Fabiana Claudino, exibido no dia 19 de julho de 2016,
sobre o início do seu treinamento. O terceiro VT é de Isaquias Queiroz exibido no
dia 25 de julho de 2016, a respeito da sua idade quando disputou pela primeira
vez um campeonato brasileiro de canoagem.
PB: Desde então, Sarah viu o tempo passar nesse mesmo tatame. Aos nove anos, começou a aprender todos os verbos do judô. Treinar, lutar, suar. Derrubar. Só não conjugava o verbo perder. Cenas do treino de Sarah se intercalam com a imagem da entrevista da atleta. Sarah Menezes: Fui conhecer essa palavra quando entrei na seleção brasileira. Com 15 anos. Então passei seis anos da minha vida sem saber o que era derrota. (Jornal Nacional - Perfil Sarah Menezes - 18 de julho de 2016).
PB: Horas e horas de bola na parede e solidão. Manchete. Cortada. Toque. O beabá do vôlei. A recompensa de todo esse esforço pode ser uma única bola. Um único ponto de Fabiana calou os críticos que ela teve de aguentar durante anos e anos. A entrevista da atleta se intercala com cenas de arquivos das Olimpíadas de Atenas em 2004, o jogo contra Rússia, junto com a entrevista da mãe. Fabiana Claudino: Foi um time que, sempre fomos taxadas de amarelona. A gente batia na trave e não chegava em lugar nenhum (Jornal Nacional - Perfil Fabiana Claudino - 19 de julho 2016). PB: Ubaitaba fica numa esquina do mapa. Entre a estrada e o rio. Depois de aprender a remar, o próximo passo era pegar o asfalto. Isaquias tinha 13 anos e nenhum dinheiro quando foi chamado para disputar o campeonato brasileiro de canoagem (Jornal Nacional - Perfil Isaquias Queiróz - 25 julho de 2016).
Além disso, de acordo com, Allen e et al (2003), abordado no capítulo três,
classificam a olimpíada como um megaevento. Dessa forma, eventos desse porte
possuem um espaço enorme na mídia. Além disso, o evento pode ser criado para
o consumo de audiência televisiva. Sendo assim (ALLEN et al, 2003, p. 31) “até
128
então, os eventos esportivos têm sido os maiores vencedores (ou perdedores)
desse aumento de atenção da mídia”. Os autores também esclarecem que a
imprensa poderia criar um editorial ou caderno especial e realizar uma série de
matérias sobre o evento. A televisão e o rádio podem também realizar
transmissões ao vivo. Essa característica é perceptível, pois a série Perfis foi
produzida para ser exibida antes das olimpíadas, para mostrar histórias dos
atletas que participaram do evento. Além disso, eventos desse porte também
ocupam bastante espaço na mídia, o que não é diferente em relação à série.
Durante o seu período de exibição, cada reportagem ocupava em média oito
minutos do Jornal Nacional. Esses minutos ultrapassam o tempo de uma
reportagem comum de hard news. Por esse motivo, ela passa a ser caracterizada
como grande reportagem. Além disso, os episódios da série fidelizam o público
visando à audiência nas transmissões nas olimpíadas, visto a Rede Globo
realizou um investimento alto para a transmissão do evento. E que a série Perfis
fez parte de todo um planejamento realizado pela a emissora, fazendo parte das
30 séries especiais criadas para as olimpíadas, conforme elencado no capítulo
três.
Também foi abordado no capítulo três que as reportagens de cobertura
esportiva proporcionam aproximação com temas diferentes. Tavares Júnior
(2015) explica, sobre reportagens a respeito de modalidades desconhecidas do
público. As modalidades abordadas nos episódios escolhidos para a analise da
série Perfis não são tão populares entre os espectadores, como por exemplo, o
pentatlo, canoagem e o judô. Elas não são populares, pois a mídia não dá
espaço, apenas quando algum atleta conquista uma medalha ou algum prêmio. A
mídia dá mais atenção para o futebol, mas as olimpíadas é o único momento em
que a modalidade não fica em evidência, pois se mistura entre tantos outros
esportes e jogos.
A transmissão de um evento tão grande quanto as olimpíadas é sempre
um assunto importante. Conforme abordado no capítulo três, em 2016 o projeto
de transmissão da Rede Globo foi iniciado 500 dias antes da cerimônia de
abertura. Desde março de 2015 até o fim dos jogos olímpicos, foram veiculadas
mais de 250 reportagens e 30 séries especiais. O fato de que a Rede Globo
sempre se preocupou com as transmissões de grandes eventos em que
129
transmitiu nos anos de 2004, 2008 e 2016, perdendo para a TV Record em 2012,
revela a possibilidade de um grande depósito de imagens de arquivos, matérias,
reportagens e telejornais que foram guardados. Isso é perceptível em cinco VT’s
analisados, onde, na edição, imagens de arquivo de olimpíadas passadas e de
outras competições foram utilizadas para evidenciar a trajetória do atleta em
edições passadas até o evento Rio 2016. Os VT’s que apresentam esse material
são o de Arthur Zanetti, exibido no dia 11 de julho de 2016, com imagens de
arquivo das Olimpíadas 2012; Yane Marques, exibido no dia 12 de julho de 2016
apresentando imagens das Olimpíadas de 2012; Sarah Menezes, exibido no dia
18 de julho de 2016, com imagens das Olimpíadas de 2008; Fabiana Claudino,
exibido no dia 19 de julho com imagens das Olimpíadas de 2004, 2008 e 2012; e
Serginho, exibido no dia 26 de julho com imagens das Olimpíadas de 2004,
Campeonato Paulista e Brasileiro. As imagens de arquivo são mais evidentes no
VT de Fabiana, as cenas das Olimpíadas de 2004 (Atenas), 2008 (Pequim) e
2012 (Londres) são apresentadas para exaltar a história do time feminino de vôlei
brasileiro, sobre as vitórias e derrotas.
Figura 7 – Imagens de arquivo das Olimpíadas de Atenas 2004
Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.
Outros aspectos que diferenciam as reportagens do jornalismo esportivo para
as do hard news são a linguagem e a narrativa literária. Assunto que será abordado
no próximo subtítulo.
130
7.4 JORNALISMO LITERÁRIO
O Jornalismo literário é definido por Pena (2006), no capítulo cinco desta
monografia, como uma linguagem musical de transformação expressiva e
informacional. O perfil literário é construído a partir da história de vida de uma
pessoa e se utiliza de técnicas de reportagens jornalísticas. Dessa forma, de
acordo com Christofoletti e Hildebrans (2015, p.02), “se um perfil caminha sem
contemplar essas duas facetas, corre-se o risco de gerar um resultado que tenda
para a literatura ficcional ou para um texto jornalístico convencional, sem nenhum
apelo narrativo”. Essa característica fica clara, quando o repórter entrevista outras
pessoas do convívio dos atletas, como familiares, treinadores, colegas de time e
amigos. Essas entrevistas acrescentam informações à história que, na maioria
das vezes, os atletas não contariam sozinhos.
Além disso, o perfil jornalístico é definido por Kotscho, como o “filão mais
rico das matérias chamadas humanas” (2001, p. 42). Características de
humanização na narrativa literária estão presentem nos episódios da série. No VT
de Arthur Zanetti, quando o repórter relata o apoio da família, e o irmão do atleta
mostra a tatuagem da face de Arthur em seu peito.
PB: O carinho do pai se manifesta em objetos de ferro e aço. O da mãe em argolas de ouro e também foi ela quem fez. O carinho da avó é bem recompensado. Toda vez que dona Neide faz arroz doce, ganha de presente um penteado novo. Arthur não consegue balançar o cabelo do Vítor. À primeira vista, os dois irmãos parecem muito diferentes. Mas para encontrar a semelhança é só olhar para o coração. E assim, nesse esforço conjunto de uma família inteira, foi forjado o talento de um campeão panamericano. Campeão mundial. Campeão olímpico. Chamado no mundo todo de “O rei das argolas”. Arthur Zanetti (Jornal Nacional - Perfil Arthur Zanetti - 11 de julho de 2016).
Outro exemplo de humanização na narrativa é no VT de Isaquias Queiroz. Na
reportagem, um dos atletas mais velhos da equipe de canoagem é referência para
Queiroz, não só no esporte, mas na vida.
131
PB: Elon, Ronilson e Nivalter. Oito anos depois, os irmãos da seleção continuam juntos. Treinando em Lagoa Santa, em Minas Gerais. Isaquias é o caçula dessa família. Nivalter, o irmão mais velho. O que nunca deixou nada faltar. IQ: Acabava comprando sabonete, escova de dente, essas coisas. Às vezes até roupa já me deu, escolhe uma roupa aí que eu vou te dar. Aí acabava me dando coisa assim né, de coração, até porque ele sabia que da parte minha eu não podia ter nada. Cenas da equipe treinando no rio se intercala com a entrevista de Nivalter. PB: Hoje os presentes de Nivalter são os conselhos, embrulhados na sabedoria que o tempo trás. Nivalter Santos - canoísta da seleção brasileira (NS): Por eu ser um atleta mais velho, mais experiente, às vezes eu dou um puxão de orelha nele, as vezes ele aceita as vezes não. No fundo no fundo ele acaba aceitando, as nossas brigas não passam de um dia sem falar, depois já tá tudo tranquilo já (Jornal Nacional - Perfil Isaquias Queiróz - 25 julho de 2016).
Sendo assim, esse tipo de reportagem oferece ao repórter a oportunidade
de fazer um texto mais detalhado. O que é possível perceber nos seis VT’s, onde
o repórter pode trabalhar de uma forma diferente e minuciar a narrativa. A estrela
de sete pontas foi proposta por Pena (2006), abordado no capítulo cinco.
Segundo ele, a profissão do jornalista deve estar ligada as causas de
coletividade, mas está se transformando em um palco de futilidades. Dessa
forma, para o jornalista fugir do lugar comum seria necessário potencializar os
recursos utilizados pelos profissionais, expor visões mais amplas do fato, romper
com o lead e garantir os relatos da notícia com profundidade. Assim, podemos
analisar e relacionar trechos da decupagens com quatro das sete pontas da
estrela.
A primeira ponta é fundamentada por Pena (2006) em potencializar os
recursos do jornalismo. Ou seja, “o jornalista literário não ignora o que aprendeu
no jornalismo diário. Nem joga suas técnicas narrativas no lixo. O que ele faz é
desenvolvê-las de tal maneira que acaba constituindo novas estratégias
profissionais” (2006, p. 14). Isso fica evidente em trechos da narrativa realizada
pelo repórter, no VT de Arthur Zanetti, exibido no dia 11 de julho de 2016. Na
primeira parte, Bassan buscou oferecer outro significado em relação a “dar
suporte ao atleta”, visto que, nesse caso, o pai do atleta constrói os aparelhos de
exercício de Zanetti. Na segunda parte, o jornalista procurou fazer uma relação
diferente entre os beijos que o atleta dava em sua medalha e em sua namorada.
132
PB: E até de ponta cabeça, aparece às maravilhas do Brasil. O céu, o vento e Arthur Zanetti. Primeiro passo, desenferrujar. Depois, aperfeiçoar os movimentos. Para nós parece perfeito, mas eles sempre querem melhorar. Um trabalha no ginásio, o outro na oficina. Os dois se chamam Zanetti. A firmeza das mãos é um talento que une o filho e o pai. Archimedes Zanetti fabrica equipamentos que ajudam Arthur a treinar. É normal a família dar suporte ao atleta, mas nesse caso, a família construiu o suporte do atleta, com as próprias mãos. [...] PB: Desde então, o campeão do mundo revelou-se o mais beijoqueiro do mundo. Ah Juliana, nós temos que te contar uma coisa. Ele adora beijar medalha também. O mesmo técnico, o mesmo clube. Desde a infância, tudo mudou muito rápido na vida do menino que nunca mudou” (Jornal Nacional - Perfil Arthur Zanetti - 11 de julho de 2016).
Figura 8 – Arthur Zanetti nas Olimpíadas de Londres
Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.
A segunda ponta da estrela é ultrapassar os limites do cotidiano. Dessa
forma, “o jornalista não está mais enjaulado pelo deadline, [...] e nem se preocupa
com a novidade [...]. Seu dever é ultrapassar esses limites e proporcionar uma
visão ampla da realidade” (PENA, 2006, p. 14). A característica de oferecer uma
visão maior da realidade fica evidente no VT de Fabiana Claudino, exibido no dia
19 de julho de 2016. A narrativa do repórter foi focada no início da trajetória da
atleta, mas sempre fazendo relação com a medalha de ouro.
PB: Partiu ao lado da mãe. Por essas ruas que não mudaram nada desde o século dezoito. Trezentos anos depois, a moradora de Santa Luzia reencontrou o caminho do ouro. E ele começa em uma viagem de ônibus. Que sai daqui de Minas Gerais e passa por vários continentes e termina no alto do pódio olímpico. Para Fabiana, andar de ônibus é bem mais do que ir daqui até ali. Ela só existe porque 38 anos atrás a passageira Maria do Carmo encontrou o motorista Vital” (Jornal Nacional -Perfil Fabiana Claudino - 19 de julho 2016).
133
A terceira ponta da estrela é a contextualização da informação de forma
mais abrangente. De acordo com Pena (2006, p. 14), “é preciso mastigar as
informações, relacioná-las com outros fatos, compará-las com diferentes
abordagens e, novamente, localizá-las em um espaço temporal de longa
duração”. Bassan consegue fazer relações e comparações quando narra a
história de Isaquias Queiroz, no VT 5. O repórter faz uma associação onde o
trânsito da cidade é o rio, os canoeiros, os carros. Como também o estádio é o
rio, e a arquibancada é a margem do rio. E uma comparação, onde o atleta
possui duas casas, a de tijolo e a de água, principal local de treinamento de
Isaquias. Essa forma de relação é uma abordagem diferente que fica perceptível
no trecho da decupagem.
Pedro Bassan (PB): Mesmo com tanta água, o Brasil nunca foi uma potência na canoagem. Até que no interior da Bahia, uma cidade decidiu remar contra a corrente e mudar história. Quantos sóis tem a Bahia? Tem um que vale por muitos. Por isso, essa terra é tão bonita quando ele está pra nascer. O canoeiro espera o sol com uma pergunta: em qual das margens vai surgir o primeiro passageiro? Logo o trânsito já é intenso na principal Avenida de Ubaitaba, avenida líquida e silenciosa. É o Rio de Contas, espalhando beleza pelo sul da Bahia pelo caminho tranquilo até o mar. Pra quem nasce aqui, remar é quase um destino. Em tupi-guarani, Ubaitaba quer dizer cidade das canoas. E as canoas já estavam aqui bem antes da cidade. Há séculos, elas levavam os índios a rios a baixos e rios acimas. Durante décadas, transportaram o cacau, que é a grande riqueza da região. E alguns anos, as canoas descobriram uma outra riqueza. Agora, elas passam pelo rio, levando ouro, prata e bronze. Os canoeiros passaram a dividir o espaço com os canoístas. E um desses remadores velozes, descobriu que o Rio de Contas era uma estrada pra ganhar o mundo. Ele é o filho prodígio da cidade das canoas. Vamos conhecer uma mulher que teve seis filhos, adotou mais quatro e, se pudesse, cuidava do mundo inteiro. [...] PB: Isaquias não mora mais aqui, e mesmo quando morava em Ubaitaba, já tinha duas casas: a casa de tijolo e a casa de água.[...] PB: O carro não prestou não. O carro já se foi. Agora a vida deles estão aí. Sempre quando ele volta, a cidade para. A bola não rola. Aqui o estádio é de água corrente. A arquibancada é à margem do rio. O ídolo não usa chuteira. Descalço, ele dá exemplo de equilíbrio e direção. E ensina que canoa, é outro nome para liberdade (Jornal Nacional - Perfil Isaquias Queiróz - 25 julho de 2016).
A sétima ponta da estrela é a perenidade. Conforme Pena, quando uma
obra é baseada nos preceitos do jornalismo literário, ela não pode ser superficial.
Dessa forma “é preciso fazer uma construção sistêmica do enredo, levando em
conta que a realidade é multifacetada, fruto de infinitas relações, articulada em
teias de complexidade e indeterminação” (PENA, 2006, p. 15). Essa
característica fica evidente nos seis vídeos analisados. O repórter elabora uma
construção de enredo levando em conta vários aspectos das histórias, sempre
134
entrevistando outras pessoas do convívio dos atletas, para apresentar uma visão
diferente da história.
Também foi abordado no capítulo cinco, que o jornalismo e a literatura
sempre tiveram em comum o ato da escrita, mas com o intuito de aprimorar as
técnicas e o tratamento da mensagem. Segundo Lima (2004, p. 174), “os
jornalistas sentiam-se então inclinados a se inspirar na arte literária para
encontrar os seus próprios caminhos de narrar o real”. Dessa forma, o jornalista
poderia escolher a melhor forma de elaborar o seu texto e trabalhar a narrativa.
Essa característica fica evidente no VT de Isaquias Queiroz, abordado
anteriormente, e no VT da atleta Yane Marques. Bassan inicia a reportagem
contando o surgimento do Pentatlo, mas de uma forma mais elaborada e poética,
apresentando uma lenda sobre um soldado que enfrentou vários obstáculos para
cumprir uma missão.
PB: No vale do Pajeú, o sertanejo já viu de tudo. Mas, medalha brotando desse chão é a primeira vez. Essa história é de um esporte que surgiu bem longe daqui. Diz à lenda que, durante uma guerra na Europa, o soldado recebeu uma missão: entregar uma mensagem cruzando os campos de batalha. O soldado pegou um cavalo que não conhecia e saiu. Para atravessar as linhas de frente teve que combater usando o revólver e uma espada. Mas no meio do caminho um problema sério tornou a missão ainda mais difícil. O cavalo se feriu e o soldado teve que completar o percurso a pé e atravessando lagos e rios. Surgiu, assim, o pentatlo moderno. Cavalgar, correr, nadar, atirar e enfrentar adversários com a espada. Aqui, no sertão nordestino, surgiu uma brasileira capaz de fazer tudo isso. Para juntar cinco esportes em um só, Yane Marques carrega a força do sertão. Yane, o quanto daquela menina sertaneja ainda existe em você? (Jornal Nacional - Perfil Yane Marques - 12 de julho de 2016).
Além disso, uma das características da linguagem utilizada no jornalismo
literário é a sua estética e a descrição meticulosa. De acordo com Pena (2005, p.
176), “o texto literário pressupõe um compromisso com a qualidade, já que permite
a incorporação de elementos subjetivos e figuras simbólicas, deslocando a
linguagem do viés de mero instrumento para o centro das preocupações”. A
incorporação de elementos diferenciados, como rimas, metonímias, linguagem
figurada e metáforas está presente no VT 2, da atleta Yane Marques, visto que
elementos subjetivos expressam uma visão pessoal do autor. É importante ressaltar
que nesse VT, quem realiza as rimas não é o repórter e, sim, um gaiteiro que
declama uma poesia, tanto no início do vídeo, quanto no final.
135
Gaiteiro: Ser campeã no pentatlo exige superação, mas entende muito disso quem bem conhece o sertão. Correr, nadar, atirar, usar cavalo e espada pra uma autêntica sertaneja isso tudo não é nada. Pois sertaneja é assim, faz de tudo e nada erra e ainda não abre mão de exaltar a sua terra. Yane para onde vai, leva Afogados com ela. Quem da terra se orgulha, também vira orgulho dela. Em Afogados da Ingazeira, onde o sol mais forte brilha, brilha o brilho de Yane a sua mais brilhante filha. (Jornal Nacional - Perfil Yane Marques - 12 de julho de 2016).
A emoção também está presente no jornalismo, tanto no gênero literário
quanto no esportivo. Conforme abordado no capítulo cinco, Ester (2015) afirma
que as narrativas literárias estão mais abertas à emoção, o que pode substituir a
frieza de um texto do jornalismo factual. As histórias abordadas na série foram
motivadas por um assunto factual, a realização dos Jogos Olímpicos no Brasil,
visto que os episódios foram exibidos um mês antes da abertura oficial do evento.
Os perfis são mais abrangentes, pois falam da história de vida dos atletas que
irão participar da competição, mas apenas foram elaborados por que o evento
estava para acontecer. Além disso, as histórias de vida por si só já provocam
emoções, pois apresentam frustrações, perdas, desafios e superações. E se
conectam com o público porque todos têm uma história parecida para contar.
Mas é importante ressaltar que a emoção está mais presente no jornalismo
esportivo, e em tempos de olimpíadas a emoção dos atletas é muito maior por ser
um evento tão grande. E um fato que evidencia isso é que o Brasil sediou as
Olimpíadas 2016, onde é a principal competição entre os atletas, visto que revela
os melhores do mundo em diferentes modalidades. E também sobre o espírito
olímpico que incentivou os esportistas.
Conforme levantado no capítulo cinco, Barbeiro e Rangel (2006)
esclarecem que todo jornalista esportivo deve ter consciência que as emoções
são contagiosas. Dessa forma (BARBEIRO; RANGEL, 2006, p.45), “a emoção é
a própria alma do esporte. Ela está nos olhos do jogador que faz o gol do título,
na decepção da derrota, nas piscinas, quadras e pistas. Em nenhuma outra área
do jornalismo a informação e o entretenimento estão próximos”. Quando os
autores falam que a emoção está nos olhos do jogador e atleta, ela se manifesta
nas lágrimas e na voz embargada. Isso fica claro em dois VT’s; o primeiro de
Fabiana, quando retrata o caso de racismo que sofreu durante um jogo, onde sua
voz fica embargada.
136
Cenas de arquivo da atleta jogando pelo Sesi em Belo Horizonte. A imagem troca para a entrevista de Fabiana, onde começa a chorar, em um vestiário, vestindo a camiseta do time do Sesi, vermelha, e ao fundo uma prateleira com troféus. As imagens se intercalam com as entrevistas do pai e da mãe de Fabiana. PB: Essa história poderia terminar nas lágrimas de felicidades no ginásio de Londres. Fabiana nunca poderia imaginar que um choro bem mais amargo estaria por vir. No dia 27 de janeiro de 2015, a bicampeã olímpica foi jogar em Belo Horizonte, como visitante pelo time do Sesi. No mesmo lugar onde aprendeu a jogar e amor o vôlei, ela demorou a acreditar no que estava ouvindo. FC: Olha a macaca! Joga a banana pra macaca. PB: A família estava na arquibancada e também ouviu. VC: Ah, machucou muito. MCC: Pobre de espírito, resumindo. FC: É uma coisa que fica na cabeça da gente. É difícil você vir e passar por isso. Acho que quem passa por isso um dia vai entender. VC: Não sabe que vai machucar a mãe o pai. E pedi pra Deus e graças a Deus, passou. Mas, no momento, machucou muito (Jornal Nacional - Perfil Fabiana Claudino - 19 de julho 2016).
O segundo é o VT do Serginho, quando relembra que era uma criança de
família simples e que na época (da reportagem) era considerado herói olímpico.
Cenas de arquivo da comemoração do ouro Olímpico de Atenas em 2004. As imagens se intercalam com a entrevista do atleta, que nessa parte começa a chorar. PB: Aí quando o Brasil ganhou de novo a medalha de ouro na olimpíada, o menino de Pirituba estava dentro da televisão. S: Eu me lembro como se fosse ontem andando de carrinho de rolimã, de ter arregaçado o dedo e ter cortado tudo o dedo. Depois as pessoas falaram que eu sou herói olímpico. Pelo amor de deus, eu não sou cara. Não sou mesmo. Sou o Sérgio filho da dona Didi (Jornal Nacional - Perfil Serginho - 26 de julho de 2016).
A construção narrativa percebida nas reportagens analisadas também
contribuem para reforçar junto ao público algumas representações sociais
construídas a partir das histórias de vida dos atletas. Abordagem que será
aprofundada no próximo subtítulo.
7.5 REPRESENTAÇÃO SOCIAL
O termo representação, abordado no capítulo cinco desta monografia, do
autor Erving Goffman (2004, p. 29), é usado para “se referir a toda atividade de
um indivíduo que se passa num período caracterizado por sua presença contínua
diante de um grupo particular de observadores e que tem sobre estes alguma
influência”. Quando o autor fala em uma presença contínua em algum grupo, fica
evidente que a representação se refere a uma pessoa, que exerce uma atividade
137
e passa a ter influências sobre um pequeno grupo. Isso fica visível no VT de
Arthur Zanetti e de Yane Marques. Nos dois vídeos, um grafite em uma rua das
cidades é apresentado, com os desenhos dos dois atletas. No primeiro, Arthur em
três posições e, no segundo, Yane, segurando uma medalha de ouro. Com o
desenho é possível perceber a influência que esses dois atletas têm sobre as
pessoas de suas cidades, a ponto de suas imagens ilustrarem o local.
Figura 9 – Pintura de Arthur Zanetti
Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.
Figura 10 – Pintura de Yane Marques
Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.
138
No capítulo cinco desta monografia, foi abordada também a
fundamentação de Goffman sobre as representações. Elas significam que, “seu
desempenho tenderá a incorporar e exemplificar os valores oficialmente
reconhecidos pela sociedade e até realmente mais do que o comportamento do
indivíduo como um todo” (GOFFMAN, 2004, p. 41). Nessa fundamentação,
podemos dizer que o desempenho dos atletas, assim como a sua trajetória, são
utilizados para reforçar a representatividade deles perante seus públicos. O
desempenho de cada um foi tratado nos seis VT’s analisados, com imagens dos
treinos e ilustrados também pelas imagens de arquivo pessoal como as de outras
competições.
De acordo com Sá (1993), abordado no capítulo cinco, as representações
podem ocorrer em várias ocasiões e lugares. Dessa forma, a representação
ultrapassa as fronteiras de cidades e países. Esse aspecto fica bastante evidente
no VT de Sarah Menezes, quando ela retornou ao seu estado após a sua
primeira medalha de ouro em uma olimpíada, onde o aeroporto estava lotado de
fãs e profissionais da imprensa esperando para falar com ela. Na época dessa
premiação, a atleta também não era muito conhecida, apenas em sua cidade, e
com as vitórias, o estado e o país passaram a conhecer o seu nome, passando a
ser uma representação além da sua cidade.
PB: Quando Sarah voltou de Londres, no aeroporto também eram sete. E mais sete, mais sete. Mais sete, mais sete, mais sete. SM: Eu tomei um susto. O Piauí realmente todo parou. O aeroporto lotado. Eu até fiquei com medo de sair de dentro do aeroporto, porque a multidão era incrível. Cenas da entrevista se intercalam com imagens de arquivo das lutas de Sarah nas Olimpíadas de Londres em 2012. Expedito Falcão: Quando ela ganhou a primeira luta, poucas pessoas assistiram. Na segunda luta o Piauí começou a parar. Na terceira luta dela o Piauí parou. Na quarta o Brasil parou (Jornal Nacional - Perfil Sarah Menezes - 18 de julho de 2016).
A definição da professora Denise Jodelet a respeito de Representação
Social, apontada por Sá (1993), no capítulo cinco desta monografia, é baseada
no fato de que as “representações sociais são uma forma de conhecimento,
socialmente elaborada e partilhada, tendo uma visão prática e concorrendo para
a construção de uma realidade comum a um conjunto social” (JODELET, 1989
apud SÁ, 1993, p. 32). Sendo assim, quando uma representação social é
baseada no conhecimento, ela pode ser compartilhada e dividida, onde é possível
139
construir uma realidade comum entre todos. Isso fica evidente no VT de Sarah
Menezes, quando o repórter menciona que o estado da atleta, Piauí, passou a
ser reconhecido mundialmente com as vitórias dela. Principalmente pelo fato de
que o estado nunca havia apresentado uma atleta com alto rendimento como
Menezes.
PB: Com as vitórias de Sarah Menezes, o Piauí entrou no mapa do judô mundial. [...] EF: Ela era tipo, a seleção brasileira. Do Piauí. Estado sem retrospectiva de atleta de alto rendimento. É uma coisa que eu mais me orgulho. Por que a Sarah é uma atleta “made in Piauí”. Ela nasceu e treinou a vida inteira dentro do Piauí (Jornal Nacional - Perfil Sarah Menezes - 18 de julho de 2016).
Também foi abordado por Sá (1993) a importância da participação do
indivíduo, no caso desta pesquisa o personagem/atleta, na construção das
próprias realidades sociais. Nos VT’s de Yane Marques, Fabiana Claudino e
Isaquias Queiroz, a importância desses atletas na construção de uma realidade
nos seus grupos sociais é muito grande. No primeiro VT o repórter fala sobre as
meninas da cidade da atleta, onde estão se tornando Yane Marques: “PB: As
brincadeiras antigas, o esforço e o sorriso andam juntos. E assim, sem perceber,
aos poucos, as meninas vão se tornando atletas. Vão se tornando Yane
Marques” (Jornal Nacional - Perfil Yane Marques - 12 de julho de 2016).
No segundo VT, o treinador fala sobre a importância de Fabiana ser
escolhida capitã e passar uma confiança para as atletas mais novas.
PB: Assim como o Brasil em 2004, dessa vez foi à Rússia que teve seis chances de fechar o jogo com o último ponto. E não conseguiu. Brasil teve uma só, nas mãos de uma filha de negros, neta de índios, a Rússia conheceu Fabiana do Brasil. José Roberto Guimarães - (JRG): E hoje ela passa, para essas jogadoras, principalmente as mais novas, tudo o que significa vestir a camisa da seleção brasileira e representar o nosso país. [...] JR: Fabiana, ela foi escolhida pela equipe como capitã. Ela foi escolhida por unanimidade (Jornal Nacional - Perfil Fabiana Claudino - 19 de julho 2016).
E no terceiro VT, onde as crianças de Ubaitaba falam sobre querer ser
como Isaquias Queiroz. Essas falas descrevem indiretamente como é feita a
construção de uma realidade, em seus diferentes lugares.
140
Camila Lima - professora de canoagem em Ubaitaba (CL): Só de ver o sorriso dele, ele chegar assim pra mim “tia, eu quero ser igual o Isaquias. PB: O futuro chega flutuando sobre o Rio de Contas pra quem é criança em Ubaitaba. E daqui alguns dias, quando Isaquias for pra água, o Brasil inteiro vai se transformar numa única, imensa, cidade das canoas (Jornal Nacional - Perfil Isaquias Queiróz - 25 julho de 2016).
Além disso, no capítulo cinco desta monografia, Moscovici (2005)
fundamenta que para que uma representação exista e seja reconhecida, deve
haver valores que lhes deem sentido. O francês também fundamenta que não é
apropriado declarar as representações como uma cópia do mundo ou um reflexo
dele, mas também porque as representações relembram o que está ausente
deste mundo, como pobreza, preconceito, dificuldades. São preceitos que não
são evidenciados no coletivo, mas aparecem para ressaltar a trajetória de
superação, característica presente em todos os VT’s analisados. Dessa forma,
elas constituem o mundo mais do que simulam. Isso fica visível no VT de
Serginho, na fala da mãe do atleta, onde ele continua a mesma pessoa, mesmo
que tenha passado dificuldades e se tornado um ícone no vôlei brasileiro.
Bernardinho: Ele sabe que nós não somos os favoritos, mas que vamos brigar. Ele está disposto a ser um dos soldados que vai estar naquela trincheira. DDS: Ele não sabe da imensidão que ele representa pro Brasil e pro mundo né. Ele continua sendo aquele moleque simples que saiu lá de Pirituba (Jornal Nacional Perfil Serginho - 26 de julho de 2016).
A série tinha como objetivo fazer com que o público criasse uma expectativa
sobre o desempenho desses atletas nas Olimpíadas 2016. Ela indica aqueles que
devem ser idolatrados, visto que o público não conhece nem metade dos atletas
que participaram das Olimpíadas. Os atletas são vistos como heróis, mas o
repórter e a produção escolheram alguns para se tornarem ídolos. O
desempenho de cada atleta em sua modalidade pode ser a justificativa para
Bassan contar a história de cada um. A construção narrativa evidenciou a falta de
oportunidade e a chegada ao auge com muito esforço e dedicação. A fidelização
com o público é criada a partir do apelo emocional e a identificação de
representação social de idolatria. E também com a expectativa de apresentação
de cada em suas respectivas modalidades durante os jogos olímpicos.
Além das definições de representação social, foi abordada no capítulo
cinco, a definição de Jornada do Herói. As autoras Samantha Diefenthaeler e
Miriam de Souza Rossini (2015) apontam que um personagem desenvolve um
141
papel importante em um enredo. Elas transcrevem a definição de herói feita pelo
autor Christopher Vloger (2006, apud DIEFENTHAELER; ROSSINI, 2015, p. 3):
“a palavra herói vem do grego, de uma raiz que significa “proteger e servir”. [...] A
raiz da ideia de Herói está ligada a um sacrifício de si mesmo”. Dessa forma, as
autoras explicam a fala de Joseph Campbell, que o mito do herói passa por uma
jornada da alma, com dificuldades a serem ultrapassadas. A característica da
jornada da alma fica perceptível no VT de Sarah Menezes, quando o repórter
conta que a atleta quase nunca perdia, mas veio a perder em uma olimpíada.
Após esse episódio, ela se reergueu.
PB: Sarah aprendeu o verbo “perder” em português e em chinês. Na olimpíada de Pequim. EF: Com 18 anos. Muito jovem. Então, ela não aguentou a pressão. PB: Talvez por isso, quatro anos depois, quase ninguém acreditava. Cenas de arquivo do início de uma luta de Sarah nas Olimpíadas de Londres em 2012. [...]
EF: Quando ela ganhou a primeira luta, poucas pessoas assistiram. Na segunda luta o Piauí começou a parar. Na terceira luta dela o Piauí parou. Na quarta o Brasil parou. Cenas de arquivo da comemoração de Sarah do ouro olímpico de Londres se intercalam com a atleta caminhando em um terraço fechado em um prédio e olhando a vista da cidade. PB: Na quinta luta a medalha de ouro. Vinte e dois anos, melhor do mundo Piauí (Jornal Nacional - Perfil Sarah Menezes - 18 de julho de 2016).
No capítulo cinco desta monografia, também foi abordado conceitos de
Joseph Campbell (1990). O autor fundamenta que o herói vem do mundo
cotidiano e se aventura em uma região, onde encontra forças para obter uma
vitória decisiva. Posteriormente, o herói retorna da sua aventura para poder
transmitir seus conhecimentos aos seus semelhantes. Dessa forma “toda a vida
do herói é apresentada como uma grandiosa sucessão de prodígios, da qual a
grande aventura central é ponto culminante” (CAMPBELL, 1990, p. 168). O autor
relata que o herói transmite seus conhecimentos para os seus semelhantes, isso
fica evidente nos VTs de Fabiana Claudino, que foi escolhida para ser capitã do
time e de Serginho, que tinha decidido a se aposentar, mas resolveu voltar à
seleção para uma última olimpíada. São atletas que são exemplos para várias
gerações.
142
A partir da análise de discurso, será possível responder a questão
norteadora e confirmar ou não as hipóteses da pesquisa nas considerações finais
desta monografia.
143
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Jornalismo Esportivo e Jornalismo Literário. Dois gêneros, que juntos,
podem contar uma bela história. O que motivou a pesquisadora a desenvolver
este estudo foi a vinda dos jogos olímpicos para o Brasil. Oportunidade de
explorar a produção audiovisual esportiva. Neste sentido, a série Perfis, do Jornal
Nacional, exibida antes das olimpíadas de 2016, surgiu como estímulo para o
desenvolvimento da pesquisa.
Com isso, estabeleceu-se a questão norteadora: A série Perfis, exibida no
Jornal Nacional, se utiliza do jornalismo literário para reforçar a representação do
herói nas reportagens esportivas sobre os atletas olímpicos de 2016? A análise
de discurso realizada fez com que a pesquisadora percebesse que o Jornalismo
Literário reforça e evidencia a representação social do atleta nas reportagens
esportivas. O jornalismo esportivo, além de demonstrar a emoção e envolver os
espectadores, abre possibilidades para uma narrativa diferenciada. Outro fator
importante é que as olimpíadas são o auge do esporte mundial, e a conquista de
uma possível medalha aproxima o atleta de uma representação social. Em todos
os vídeos analisados, características de linguagem e narrativa literária estão
evidentes, visto que o repórter trabalha com uma narrativa mais detalhada, com
um toque mais subjetivo. Além disso, como foi abordado por Lima (2004, p. 174),
“os jornalistas sentiam-se então inclinados a se inspirar na arte literária para
encontrar os seus próprios caminhos de narrar o real”. Isso fica claro, visto que o
repórter escolheu a melhor forma de desenvolver os textos de cada reportagem.
A representação do herói pode ser reforçada a partir dos grafites de Arthur
Zanetti e Yane Marques. Com os desenhos é possível ver o tamanho da
influência que os atletas têm em suas cidades e a presença deles sobre um
grupo. Outro exemplo que confirma o reforço das representações sociais é o
retorno de Sarah Menezes para o Brasil, após ganhar a sua primeira medalha
olímpica, onde o aeroporto estava lotado de pessoas. Segundo Campbell (1990),
o herói vem do mundo cotidiano e se aventura em uma região, onde encontra
forças para obter uma vitória decisiva. Posteriormente, o herói retorna da sua
aventura para poder transmitir seus conhecimentos aos seus semelhantes.
144
Para auxiliar na resposta da questão norteadora, foram levantadas três
hipóteses. A primeira delas é que o jornalismo esportivo reforça a representação
do herói nas suas reportagens. Nesse sentido, seguindo a linha da questão
norteadora, essa hipótese foi confirmada. O texto no jornalismo esportivo, focado
na trajetória do atleta, é mais elaborado e poético do que um texto objetivo de
uma reportagem hard news. Segundo Barbeiro e Rangel (2006), na reportagem,
a linguagem deve ser acessível e isso só vai acontecer se o jornalista realizar
uma grande pesquisa. Bassan dedicou tempo, para retratar a dedicação de cada
um dos atletas rumo ao ouro olímpico. Eles são tratados como heróis, devido aos
obstáculos que enfrentaram em sua jornada, para chegar ao auge, classificado
aqui como as Olimpíadas. Dessa forma, o desempenho de cada um, retratado em
todos os VTs, são reconhecidos pela sociedade. Como os desenhos de Arthur
Zanetti e Yane Marques em muros na rua; a construção de realidade sociais onde
as crianças querem ser como o canoísta Isaquias Queiroz; e as imagens de
arquivo pessoal e de outras competições para evidenciar a trajetória dos atletas.
A segunda hipótese é se a grande reportagem no jornalismo esportivo
consegue se aproximar do público através das histórias dos personagens. Essa
hipótese pode ser confirmada, visto que as reportagens analisadas possuem
mais de oito minutos em média, sendo classificada como grande reportagem. E
também por relatar a história de vida de uma pessoa. De acordo com Barbeiro e
Rangel (2006), a reportagem deve procurar descobrir qual é o impacto da
informação para o público. Dessa forma, quando se trata de trajetórias de atletas,
o público tende a se identificar com situações de superação, esforço e conquista,
pelo fato de que todos, em algum momento da vida, já passaram por algum
cenário que exigiu superação. Como por exemplo, Sara Menezes se dedicou
durante muito tempo e conseguiu chegar a Seleção Brasileira de Judô,
demonstração de dedicação e conquista. Fabiana Claudino treinava sozinha, e,
com esforço e superação, aprimorou o toque na bola de vôlei. Isaquias Queiroz
disputando pela primeira vez o campeonato brasileiro de canoagem evidencia o
esforço e conquista do atleta, mesmo com apenas 13 anos de idade.
A terceira hipótese afirma que a narrativa utilizada nas reportagens
esportivas envolve o espectador por meio do jornalismo literário. Essa hipótese
também pode ser confirmada nesta pesquisa. A reportagem oferece ao repórter
145
a oportunidade de criar um texto mais detalhado, podendo minuciar a narrativa.
Dessa forma a narrativa nas grandes reportagens é diferente, mas ao mesmo
tempo específica para cada reportagem. Segundo Pena (2006, p. 14), “o
jornalista não está mais enjaulado pelo deadline [...]. O seu dever é ultrapassar
esses limites e proporcionar uma visão ampla da realidade”. Sendo assim o texto
apresenta uma renovação no estilo de escrita. Além disso, as informações são
relacionadas com outros fatos, onde Bassan fez diferentes abordagens, como no
VT de Isaquias Queiroz. O atleta possui duas casas, a de tijolo e a de água,
principal local de treinamento do atleta. Como também no VT de Arthur Zanetti,
quando o repórter conta que o pai do atleta construiu os equipamentos de
treinamento, dando suporte a Zanetti, não só no trabalho manual, mas também
no pessoal. É nesse contexto que a presença do jornalismo literário é reforçada,
visto que a narrativa jornalística se utiliza de poesia e elementos subjetivos para
contextualizar a história de vida do atleta.
Após as hipóteses, foram definidos os objetivos. Investigar se a série de
reportagens Perfis, do Jornal Nacional, sobre os atletas olímpicos de 2016,
ajudou a reforçar a representação do herói por meio do jornalismo literário é o
objetivo geral desta pesquisa. Durante o desenvolvimento desta monografia foi
possível alcançar sete dos oito objetivos propostos. Entre eles, conceituar os
gêneros de programas de televisão; definir o que é o jornalismo esportivo;
conhecer como é feita a produção de conteúdo de jornalismo esportivo;
caracterizar o jornalismo literário, e como ele pode ser apresentado na grande
reportagem; conceituar e caracterizar a grande reportagem; pesquisar sobre
representação social e analisar a série de reportagens Perfis, por meio da
decupagem. O objetivo que tinha o propósito de compreender a prática de
produção por meio de entrevistas com profissionais que elaboraram a série
Perfis, não foi atingido, pois não houve retorno das tentativas de contato com o
repórter Pedro Bassan.
A partir desta pesquisa foi possível perceber a importância da relação
entre o Jornalismo Esportivo e Jornalismo Literário, gêneros pouco abordados em
conjunto, uma vez que, em uma grande reportagem, os dois se complementam.
Esse trabalho teve um acréscimo muito importante na formação acadêmica da
146
pesquisadora, não só por ser um assunto que a intrigou durante todo o processo,
mas também no preparo para a inserção no mercado de trabalho.
É preciso reconhecer que o Jornalismo Literário é pouco abordado na
academia e pesquisas acadêmicas, e ampliar os estudos neste sentido pode
qualificar ainda mais o papel do jornalista na construção narrativa das
reportagens audiovisuais, tendo como foco o receptor da informação.
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ANEXO A - GRAVAÇÃO DAS SEIS REPORTAGENS PERFIS DO JORNAL NACIONAL
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APÊNDICE A - PROJETO DE PESQUISA MONOGRAFIA I
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APÊNDICE B - CONTATO COM MATHEUS GUARESI VIA FACEBOOK
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APÊNDICE C - TENTATIVA DE CONTATO COM REPÓRTER PEDRO BASSAN
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