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Ver o novo no velho mundo - Uno de Oliveira
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EDIÇ
ÃO
Nº 38
Fuja do
obvioEXPERIENCE DESIGNPROJETOS PARA SEREM GUARDADOS SÓ NA MEMÓRIA
MELHOR IDADEQUE TAL COLOCAR OS IDOSOS NO CENTRO DO DESIGN?
E MAIS- ILUSTRAÇÕES CINEMATOGRÁFICAS- UM TOUR POR LONDRES, BERLIM E AMSTERDAM- STEINBERG, AS AVENTURAS DA PÁGINA
JAN/FEV/MAR/2012 R$ 15,00
RÉGIS DUBRULE:
EXPERIENCE DESIGN
MELHOR IDADE
E MAIS
FUNDADOR DA TOK&STOK FALA COM SOTAQUE FRANCÊS, MAS INVESTE NO DESIGN BRASILEIRO.
Obra da exposição “ The Enchanted Palaces”.
VIAjAR É SEMPRE BOM… O DESIGNER jOSHUA DAVIS NUMA PALESTRA DISSE
ALGO qUE ME MARCOU: “É PRECISO SAIR DO SEU
AMBIENTE PARA ENTENDÊ-LO MELHOR”.
VER O NOVOno velho mundoPOR UNO DE OLIVEIRA
DESIGN & TENDENCIAs
NA RUA EM BeRlimAssim que eu chegasse, queria sentir o impacto cultural, arquitetônico
e artístico da Europa, por isso escolhi chegar logo em Berlim, capital da
Alemanha.
Ela é atualmente o cenário mais importante do graffiti no mundo e está cheia
de artistas, músicos e designers com vontade de criar. Berlin é famosa pelos
seus muitos museus e galerias de arte, pela tradição da escola Bauhaus e por
ser uma cidade coberta por desenhos.
É comum ver no bairro de Mitte, no centro de Berlim, postes, lojas, muros
e portas cobertos por adesivos e desenhos. Mas não é só a quantidade e a
qualidade gráfica que impressionam, é também a consciência com a qual o
governo permite essas manifestações artísticas.
Um bom exemplo disso é o Tacheles, um prédio que foi danificado na
época da guerra e ficou anos abandonado, dando abertura a artistas locais
transformarem em uma galeria de arte urbana. Chegando ao local, confesso que
fiquei com medo porque o aspecto do prédio é meio assustador. Perigo à vista?
Um dos principais motivos desta viagem foi relatar no Caligraffiti, blog que
tenho com amigos desde a faculdade, o que está acontecendo no cenário
artístico internacional. Com essa ideia, fizemos um projeto que passou por
Nova York, contando um pouco do cenário americano, e fui para a Europa
traduzir o que estava vendo e ouvindo por lá.
Assim, tive a oportunidade de planejar a minha primeira viagem para fora da
América do Sul. As cidades escolhidas foram Berlim, Amsterdam e Londres.
São três centros urbanos que transpiram arte e novas tendências.
Intervenções por tudo quanto é lado e algumas
lojas com impressos, serigrafias e até bugigangas ajudam a manter a Tacheles.
bErlim, amstErdam E londrEs. são três cEntros urbanos quE transpiram artE E novas tEndências.
Considerada a Meca do graffiti, Berlin é muito
ilustrada. Uma das coisas mais legais de ver em Berlin são
as placas, que são realmente difícil de entender, mas que escondem os adesivos mais
variados.
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Na fachada do prédio, há uma loja bem poluída, com
camisas, quadros, discos de vinil e mais um monte de
coisas aparentemente meio inúteis. O dono impõe respeito.
Pensei que fosse um skinhead. Quando me viu do lado
de fora, veio em minha direção já falando em espanhol.
Aparências enganam. Um cara super culto e que fala várias
línguas. Só não tinha quase nenhum dente na boca!
Tomei coragem e entrei. Naquele momento entendi a
intenção da Tacheles. Eles não estão ali para vender arte
nem para pensar no mainstream. O prédio é um autêntico
espaço para fazer arte que mande seu recado, que expresse
ideias. A galeria é sustentada pelos artistas e pelos
admiradores de arte urbana, que, no fim, é uma enorme
legião de pessoas. Por toda Berlin vemos o adesivo com a
frase “I Support Tacheles” (Eu apoio a Tacheles). Cheguei a
até ganhar um espaço para fazer uma intervenção por lá!
Aliás, esse é o espírito de Berlin, se está afim, faça.
Do lado mainstream, não se pode deixar de falar da
Ilha dos Museus, que fica no Rio Spree, e é tombada
como patrimônio mundial pela Unesco. Entre eles estão
o Pergamon, Neues Museum, Bode, Altes e a antiga
galeria nacional. O Pergamon Museum guarda tesouros,
como esculturas, portais e altares, como o portal egípcio
da Nefertiti e outros tesouros da Grécia e Roma antiga.
Outra parada obrigatória é o Mauerpark, uma das áreas
que estava dividida pelo muro na época da Guerra
Fria. Aos domingos, é um dos melhores lugares para ir
porque é onde acontece o maior mercado de pulgas,
shows, karaokê, graffiti ao vivo, artistas circenses e
muitas outras pessoas encontrando a sua própria forma
de expressão.
A galeria Hamburger Bahnhof, em Berlin, é a mais importante do cenário contemporâneo. Nela pude ver a
mostra Cloud Cities, do argentino Tomás Saraceno. No seu acervo também tem Andy Warhol e Keith Haring.
Lá fui eu para o Mauerpark. Para quem nunca ouviu falar, é um parque que há alguns anos tinha o famoso muro dividindo o
espaço e ainda guarda fragmentos do muro.
outra parada obrigatória é o mauErpark, uma das árEas quE Estava dividida pElo muro na época da guErra fria.
CHARME E DESIGN EM amsteRDamNão bastasse ser a casa de Van
Gogh, o artista pós-impressionista
mais influente da história da arte, e
Rembrandt, Amsterdam é, hoje, um
dos expoentes do design-arte.
Construída sobre canais, a cidade
é uma mistura de ingredientes
românticos e urbanos. O primeiro
impacto que temos é com a
exuberância dos prédios antigos. É
uma cidade antiga –sua fundação
data de 1300 –, porém seu espírito é
altamente jovem.
Uma das coisas mais legais que vi
é o símbolo da cidade, o “XXX”,
que aparece em tudo, bueiros,
bandeiras, pinos das ruas, lojas,
souvenires e também nos conhecidos
estabelecimentos, digamos, mais
liberais. Embora atualmente essas
letras tenham uma conotação sexual,
de proibido, é pura coincidência
que atualmente a cidade seja
conhecida pela grande indústria do
entretenimento adulto.
O design em Amsterdam é outro
charme à parte. A cidade concentra
profissionais que vêm ditando
tendências na linha de móveis. Além
de desenvolver peças que ficam no
limiar entre a arte e o design, eles
também estão sempre buscando
novas formas de produção (Na
abcDesign 32 há uma matéria
especial sobre esse tema). E o design
gráfico não fica para trás. De flyers,
a anúncios e fachadas de lojas, os
holandeses dão um show no uso
correto da tipografia, das cores e
formas com um resultado limpo,
eficiente e bonito.
Arquitetura fantástica, pessoas
bonitas e clima de festa – não
podemos de deixar de falar do
distrito Red Light e dos Coffees
Shops que estão lá para quem quer
conhecer e experimentar – fazem
de Amsterdam uma cidade de férias
dos sonhos. Com tantos pontos
positivos a cidade sempre fica cheia,
o que dificulta a visita aos museus
durante o fim de semana. Portanto,
tire alguns dias da semana para se
dedicar somente às obras de Van
Gogh e Rembrandt.
Lambs colados pela capital da Holanda.
Amsterdam é a cidade que mais usa bicicletas porque as ruas são muito estreitas. Os muitos tipos, cores e tamanhos – boa parte delas vintages – dão um ar muito charmoso à cidade.
Os prédios antigos e a arquitetura romântica de Amsterdam impressionam.
XXX, símbolo da cidade de Amsterdam.
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UMA PORTA aBRe OutRasA Europa passa por tempos difíceis, mas sua história continua a impressionar.
Esta bagagem reflete diretamente na arte, que hoje é reinventada
especialmente nas ruas.
Todas essas características tiveram um enorme impacto na minha vida
profissional. Descobrir esses lugares e trocar com as pessoas nos ajuda a alinhar
o que fazemos aqui com as principais necessidades e tendências lá de fora.
Saí do Brasil com uma lista enorme de coisas para fazer e não consegui ver
tudo o que queria. Por outro lado, vieram boas surpresas no caminho. Mas
sem dúvida ficou o gancho para eu planejar uma nova viagem.
designer formado pela Escola superior de propaganda e marketing. atualmente trabalha na rede globo como Editor de videografismo na área de Efeitos visuais. Em paralelo é um dos escritores do site caligraffiti e desenvolve projetos ligados à cultura urbana. blog: www.caligraffiti.com.br | portfolio: www.unodeoliveira.com.
UNO DE OLIVEIRA
Deixando a minha marca. “Nêgo é foda” é um projeto meu que expõe a ideia de um vencedor. Alguns negros pós-escravatura começaram a ter seus negócios e se destacaram na sociedade da época. A expressão popular “nêgo é foda” pode ser tanto pejorativa como um elogio àquele que nem é negro de pele, mas negro de raça. Esse trabalho foi feito utilizando impressão, ilustração e colagem. Os lugares escolhidos foram as cidades de Berlim e Amsterdam.
Uma das coisas mais legais de ver nos museus londrinos é a quantidade de estudantes
desenhando e estudando as obras.
Ilustração dentro de um prédio de CamdenTown, bairro punk onde morou a cantora Amy Winehouse, falecida este ano.
CLÁSSICO E CONTEMPORÂNEO EM lOnDResLondres é Londres. Não há cidade
igual e, desembarcando lá, um dos
meus primeiros passeios foi o famoso
do Tate ao Tate (do Tate Britain ao
Tate Modern).
Comecei pelo Britain, cujo acervo
conta a história da cidade por meio
dos quadros e das esculturas. Tem
um formato tradicional e conta
com obras do século XVII e XVIII,
além de uma ótima coleção de
fotografias pós-guerra. Um passeio
no Rio Tâmisa depois – que passa
em frente aos pontos turísticos mais
tradicionais, como London Eye e Big
Bem – cheguei ao Tate Modern.
Montado numa antiga fábrica,
o museu abriga o maior acervo
de arte contemporânea do Reino
Unido. Salvador Dalí, Warhol, Cy
Twombly, Picasso, entre outros, estão
guardados ali. Uma aula de arte para
que não entende muito do assunto e
um ótimo aprimoramento para quem
já gosta e acompanha o tema.
Se você estiver com um tempo
na cidade, visitar o Palácio de
Kensington é realmente imergir
na história britânica. Vem sendo
residência da Família Real desde o
século XVII. Algumas áreas estão
abertas para visitação. Lá vi uma
mostra chamada “The Enchanted
Palaces”, que conta a história das
sete princesas que já residiram no
Castelo, entre elas a Princesa Diana.
Sete artistas foram convidados para
criar em cima da história de cada
uma delas.
Londres é mistura muito legal da arte
contemporânea e clássica. Outros
lugares essenciais para visitar são o
Museu de História Natural e o Museu
Victoria and Albert. No Soho estão
as lojas e galerias “moderninhas” e
em Camden Town sobrevive a cultura
punk e o mercado de roupas.
Quando falamos em design,
podemos afirmar que os ingleses já
ditam tendências há muito tempo,
especialmente quando falamos em
branding e marcas. E não se
esqueça de que em Londres
fica o Design Museum, o maior
especializado na área.
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