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PATRICIA FERREIRA COIMBRA PIMENTEL
AO COLETIVA EM ORGANIZAES COOPERATIVAS: UM ESTUDO DE CASO
NA COOPERATIVA DE LATICNIOS VALE DO MUCURI LTDA. EM CARLOS
CHAGAS-MG.
Dissertao apresentada Universidade Federal de Viosa,como parte das exigncias doPrograma de Ps-Graduao emExtenso Rural, para obteno do ttulo de Magister Scientiae.
VIOSA MINAS GERAIS - BRASIL
2008
Ficha catalogrfica preparada pela Seo de Catalogao e Classificao da Biblioteca Central da UFV
T Pimentel, Patrcia Ferreira Coimbra, 1973- P644a Ao coletiva em organizaes cooperativas: um estudo 2008 de caso da cooperativa de laticnios Vale do Mucuri Ltda em Carlos Chagas-MG / Patrcia Ferreira Coimbra Pimentel. Viosa, MG, 2008. xi, 128f.: il. (algumas col.) ; 29cm. Inclui apndices. Orientador: Jos Ambrsio Ferreira Neto. Dissertao (mestrado) - Universidade Federal de Viosa. Referncias bibliogrficas: f. 115-122. 1. Cooperativas agrcolas. 2. Cooperativismo - Carlos Chagas, (MG). 3. Produtos agrcolas - Comercializao cooperativa. 4. Economia agrcola. I. Universidade Federal de Viosa. II.Ttulo. CDD 22.ed. 334.683
i
ii
Ao meu querido esposo, Jbson, pelo amor e por ser to presente e amigo. Te amo!
s minhas filhas Flvia, Laura e Marina, pelo amor incondicional. Que me inspiram e por terem convivido com minhas ausncias nesta fase e ainda assim, serem to maravilhosas. Amo vocs!
iii
AGRADECIMENTOS
Obrigada Senhor por este trabalho, pela fora da superao e por me conduzir sempre para o melhor caminho. Aos meus pais, Zeca, 84 anos, cheio de vida, sempre dedicado simplicidade do viver rural. Exemplo de pacincia e coragem. minha me Vilma, obrigada pela semente que plantou na minha formao como pessoa. Meu exemplo de carter, fora e dedicao. Aos meus irmos que, cada um ao seu modo, me acompanham e apiam, mesmo sem entender muito o porqu de estudar tanto. Aos meus sobrinhos, Carol, Rodrigo e Ricardo por quem esforo para acreditarem nos estudos e aspirar crescimento. Ao Prof. Newton Paulo Bueno pela oportunidade. Ao Prof. Jos Ambrsio Ferreira Neto, por aceitar o desafio e acreditar em mim, pelo apoio e amizade no momento mais difcil. Pela orientao e dedicao. UFV e aos professores do DER, que contriburam para uma percepo diferente do rural. Aos funcionrios, em especial Carminha e Cida, pelo carinho e ateno de sempre. Aos membros da banca examinadora. Aos produtores rurais, dirigentes e funcionrios da COOLVAM, pela acessibilidade e apoio. Aos amigos da Incubadora de Base Tecnolgica CENTEV/UFV, pela oportunidade de aprendizado no desafio do empreendedorismo, grande contribuio na minha carreira profissional. Aos amigos do Centro Vocacional Tecnolgico de Viosa (CVT), pela convivncia. A Flvia Moreira, pela considerao e pelo apoio de sempre. A Cris Xavier por ter cuidado to bem das minhas filhas e da minha casa enquanto no estava presente. A Kmila, Ndma e Wiliam, por terem acompanhado toda essa caminhada. Aos colegas, pela famlia que formamos em ERU 623, pela amizade, companheirismo, consolo, superao e por todas as vezes que pudemos compartilhar momentos de descontrao e alegria. A toda famlia IPV, pela amizade crist.
iv
Fizeste-me avanar a largos passos (Sl 18.36)
v
SUMRIO
LISTA DE TABELAS ................................................................................................. ix
RESUMO.................................................................................................................... x
ABSTRACT ............................................................................................................... xi
1. INTRODUO .......................................................................................................1
1.1 Definio do Problema.......................................................................................4 1.2. Objetivos...........................................................................................................7
1.2.1. Objetivo Geral ............................................................................................7 1.2.2. Objetivos Especficos .................................................................................7
1.3. Metodologia ......................................................................................................7 2. O MOVIMENTO COOPERATIVISTA ...................................................................12
2.1. O cooperativismo............................................................................................12 2.1.1. Caracterizao das cooperativas .............................................................15 2.1.2 O cooperativismo agropecurio ................................................................16 2.1.3 O Cooperativismo agropecurio de leite e a participao de produtores rurais. .................................................................................................................18
2.2. A tomada de deciso na gesto da organizao cooperativa.........................22 2.3 Perfil do Produtor de Leite de cooperativas. ....................................................25
3. REFERENCIAL CONCEITUAL E ARGUMENTATIVO.........................................29
3.1. Ao Coletiva..................................................................................................29 3.1.1 Ao Coletiva e benefcios pblicos..........................................................29 3.1.2 Dilemas de ao coletiva ..........................................................................34 3.1.3. A Tragdia dos Comuns e Cooperativismo..............................................36 3.1.4 O Tamanho, coerncia, eficcia e atratividade do grupos ........................38 3.1.5 Dilemas do Cooperativismo: ....................................................................43
3.2 A Participao..................................................................................................53 3.2.1 Reflexes sobre Participao....................................................................53 3.2.2 A Participao em cooperativas. ...............................................................58 3.3.3. Os cuidados com o absolutismo da participao .....................................62
3.3 Cooperao, confiana e capital social: recursos para o dilema .....................65 4. ESTUDO DE CASO E DISCUSSO: A PRXIS DA PARTICIPAO NO
COOPERATIVISMO.................................................................................................72
4.1 Caracterizao do Municpio de Carlos Chagas..............................................72 4.2 Histrico e caracterizao scio-econmica da COOLVAM. ...........................74
4.2.1 Estrutura Organizacional...........................................................................76 4.2.2 Quadro Social ...........................................................................................77 4.2.3 Organizao do Quadro Social (OQS): estratgia de participao ...........77 4.2.3A Implantao do Comit Educativo na Coolvam ......................................78 4.2.5 Atividades industriais e comercializao de produtos ...............................79 4.2.6 Servios prestados aos associados ..........................................................80 4.2.7 Perfil dos produtores associados da Coolvam ..........................................81
4.3. Resultados da Pesquisa: a prxis da participao na COOLVAM..................85 5. CONSIDERAES FINAIS ...............................................................................113
vi
6. REFERNCIA BIBLIOGRFICA........................................................................118
APENDICE A..........................................................................................................126
APENDICE B..........................................................................................................127
APENDICE C .........................................................................................................129
APENDICE D .........................................................................................................131
vii
LISTA DE FIGURAS
1. Composio da amostra da pesquisada, COOLVAM, 2008. ..................8
2. Distribuio de produtores rurais por volume de leite entregue em
cooperativas ...........................................................................................25
3. Estao da Ferrovia Bahia e Minas ainda existente na Comunidade de
Mangal..................................................................................................71
4. Mapa de localizao do municpio de Carlos Chagas ...........................71
5. Organizao de produtores por faixa de produo.................................79
6. Organizao de Produtores por Estrato Social ......................................80
7. Amostra de produtores por comunidades rurais ................................... 81
8. Residncia principal de produtores .......................................................82
9. Motivo da associao cooperativa ......................................................84
10. Diferencial da cooperativa em relao a outros laticnios ......................85
11. Freqncia de produtores em assemblias............................................86
12. Motivao para participao em assemblias ......................................86
13. Liberdade para manifestao em reunies de comunidade...................88
14. Liberdade para manifestar em assemblias ..........................................88
15. Considerao sobre a presena em reunies .......................................89
16. Freqncia que vai sede da cooperativa ............................................89
17. Utilizao de servios da cooperativa ...................................................91
18. Participao da famlia em atividades educativas .................................91
19. Pr-assemblia com comunidades de Crrego Seco e Corao de
Minas...................................................................................................... 92
20. Atendimento a reivindicaes pessoais..................................................93
21. Participao da Cooperativa no desenvolvimento da propriedade ........93
22. Informaes sobre a cooperativa ...........................................................94
23. Opinio sobre melhor mtodo para aprovao de decises ..................97
24. Participao em Assemblias ................................................................97
25. Interesse de produtores em participar dos rgos de gesto ................98
26. Participao de produtores por estrato social nos rgos de gesto ....99
27. Aprovao sobre atuao do Conselho Administrativo
.........................1019
viii
28. Aprovao sobre atuao do Conselho Fiscal .....................................101
29. Participao dos produtores na fixao do preo pago produo ....102
30. Participao em outra organizao coletiva ........................................103
31. Participao em atividade festiva na comunidade ...............................104
32. Participao em atividade festiva na cooperativa ................................104
33. Hbito de visitar outros produtores ......................................................105
34. Motivao do produtor em relao sua propriedade rural ................108
ix
LISTA DE TABELAS
1. Diferena entre organizao cooperativa e empresa mercantil......................22
2. Organizao de produtores por faixa de produo ........................................79
3. Organizao de produtores por estrato social ................................................80
4. Perfil do Produtor.............................................................................................82
x
RESUMO
PIMENTEL, Patrcia Ferreira Coimbra, MS., Universidade Federal de Viosa, julho de 2008. Ao coletiva em organizaes cooperativas: um estudo de caso na Cooperativa de Laticnios Vale do Mucuri Ltda. em Carlos Chagas -MG. Orientador: Prof. Jos Ambrosio Ferreira Neto. Co-Orientadores: Nora Beatriz Presno Amodeo e Marcelo Min Dias.
Esta dissertao apresenta uma anlise sobre o processo de participao de
produtores rurais em cooperativas agropecurias, tomando como referncia a
heterogeneidade existente no quadro social dessas organizaes, que
supostamente levam ao surgimento de problemas de ao coletiva, como sugerido
pela Teoria da Escolha Racional. Portanto buscou-se identificar e compreender
estratgias de ao coletiva em cooperativas e analisar o comportamento de
diferentes grupos existentes nessas organizaes e como lidar com a complexa
forma de gesto e controle, dadas as dificuldades impostas pelo mercado cada vez
mais exigente e competitivo. Por meio de uma discusso fundamentada na literatura
sobre participao e cooperativismo, pode-se associ-la s discusses
concernentes ao coletiva e instituies bem como aos estudos sobre confiana,
cooperao e valorizao de capital social, mostradas como instrumentos potenciais
para soluo dos dilemas de ao coletiva.
xi
ABSTRACT
PIMENTEL, Patrcia Ferreira Coimbra, M. Sc., Federal University of Viosa, July of 2008. Class action in cooperative organizations: a study of case in the Cooperative of Laticnios Valley of the Mucuri Ltda. in Carlos Chagas - MG. Adviser: Prof. Jos Ambrosio Ferreira Neto. Co-advisers: Nora Beatriz Presno Amodeo and Marcelo Min Dias.
This dissertation presents an analysis on the process of participation of rural
producers in agricultural cooperatives, taking as reference the existent heterogeneity
in the social picture of those organizations that supposedly take to the appearance of
problems of collective action, as suggested by the Theory of the Rational Choice.
Therefore it was looked for to identify and to understand strategies of collective
action in cooperatives and to analyze the behavior of different existent groups in
those organizations and how to work with the complex administration form and
control, given the difficulties imposed more and more by the market demanding and
competitive. Through a discussion based in the literature on participation and
cooperativism, it can associate it to the concerning discussions to the collective
action and institutions as well as to the studies about trust, cooperation and
valorization of social capital, shown as potential instruments for solution of the
dilemmas of collective action.
1
1. INTRODUO
Nas ltimas dcadas a abertura econmica proporcionou novas
oportunidades e restries de mltiplas naturezas para grande parte da populao.
A sociedade civil tem assumido responsabilidades que antes eram obrigaes
majoritariamente do Estado. Em vrios setores tem havido diferentes manifestaes
de pessoas, oriundas de motivaes variadas, seja na conquista pela terra, pelo
teto, por menos impostos, por melhores estradas, alimentos saudveis, enfim, as
pessoas tm buscado defender de vrias formas melhores condies em seus
meios de vida. As organizaes se viram em ambientes mais competitivos com
clientes e consumidores mais exigentes por qualidade. nesse cenrio que pessoas
encontram no cooperativismo uma forma para defender seus interesses, coletivo e
solidariamente. Deste modo, no meio rural, muitos produtores se fortalecem nas
cooperativas para comercializar sua produo e melhorar tambm suas condies
de vida. Neste panorama, o presente trabalho apresenta uma anlise sobre o
processo de participao em cooperativas rurais, tomando como referncia a
heterogeneidade existente no quadro social dessas organizaes, o que leva ao
surgimento de problemas de ao coletiva.
Para fundamentao conceitual dessa pesquisa, optou-se pela Teoria da
Escolha Racional, enfatizada por Mancur Olson (1999), em sua obra A lgica da
ao coletiva que, dentre outros argumentos, analisa os custos e benefcios
provenientes da participao individual em atividades coletivas, que motivam a
participao, bem como problematiza as possveis relaes entre o tamanho, a
coerncia, a eficcia e a atratividade dos grupos nesse processo. Dada a
importncia da participao, Amman (1980) a apontada como uma estratgia para a
superao do subdesenvolvimento. Neste contexto, sugere que para atingir o
desenvolvimento as pessoas do meio rural devem se unir em grupos de forma a
juntar foras para busca de solues de seus problemas. Assim como argumenta
Bordenave (1983), a participao indicada como caminho natural para o homem
exprimir sua tendncia inata de realizar, fazer coisas e afirmar-se a si mesmo,
tratando-se de uma necessidade humana e, por conseguinte, um direito das
pessoas. uma prtica transformadora e libertadora, que leva o indivduo a discutir,
2
analisar e assumir atitudes, conforme corrobora Freire (1982). O processo
participativo se materializa em vrias reas, portanto, para entender como se d a
participao de associados em cooperativas, face ao complexo funcionamento
dessas organizaes, optou-se por estudar o cooperativismo de produtores rurais, a
fim de identificar e compreender como se constroem as estratgias de ao coletiva
nessas cooperativas.
De forma geral, a necessidade de ser economicamente eficiente sem perder a
finalidade social pe o cooperativismo num dilema, onde os desafios esto divididos
entre, de um lado, sustentar a originalidade proposta por essa forma de organizao
social, cujos princpios se reforam ao resistir a vrias transformaes econmicas e
sociais ocorridas desde a sua fundao, em meados do sculo XIX, e por outro lado,
competir no mercado, cumprindo as exigncias impostas pelo capitalismo no que se
refere eficincia da organizao e gesto de seus processos.
As questes sociais esto entre os desafios competitivos de qualquer
empreendimento, independente do ramo de atividade ou pblico alvo, por isso
crescente o nmero de projetos sociais patrocinados por empresas de diversos
segmentos, assim como aes voltadas para o bem estar da equipe de trabalho. As
cooperativas esto inseridas nesse contexto, porm, sua funo social no deve se
realizar como diferencial competitivo, mas como compromisso estatutrio com seus
scios que a razo de ser do cooperativismo. Deste modo, uma cooperativa ,
simultaneamente, uma associao de pessoas e uma organizao econmica.
Para tanto, com o objetivo de atingir sua finalidade social, o cooperativismo
tem como base os Princpios Cooperativos (Anexo 1), que so as regras de conduta
(CARNEIRO, 1981), linhas orientadoras da prtica cooperativista (OCB, 2007).
Dentre outros, prope igualdade no Princpio da Adeso Voluntria para funcionar
sem discriminao social e no Princpio da Gesto Democrtica, a participao ativa
na formulao de polticas internas e tomada de decises. No entanto, no h uma
efetividade desses princpios se no houver participao dos associados em suas
respectivas cooperativas.
Conforme Braga e Reis (2002), o cooperativismo est presente em quase
todos os pases do mundo e cerca de 40% da populao mundial est, de alguma
forma, ligada a esse movimento. Embora no Brasil esse nmero no passe de 10%,
grande parte dos resultados apresentados pela produo agropecuria mrito das
3
cooperativas. Este setor o terceiro em nmero de cooperados, Braga e Reis (2002)
estimam um pblico aproximado de seis milhes de pessoas envolvidas nesse
segmento, considerando cooperados, empregados, familiares e agregados.
Este trabalho teve como objeto de anlise a Cooperativa de Laticnios Vale do
Mucuri Ltda COOLVAM sediada em Carlos Chagas, cidade de 24.000 habitantes,
localizada regio nordeste do estado de Minas Gerais, conhecida entre os
municpios da regio como cidade do cooperativismo, assim tambm reconhecida
por outras instituies do mesmo segmento.
Atualmente o municpio de Carlos Chagas conta com outras trs
cooperativas, sendo: a Cooperativa de Crdito Rural (CREDICAR); a Cooperativa
Educacional (COOEDUCAR) e Cooperativa de Produtos Artesanais de Carlos
Chagas (COOPAC). A Coolvam exerce importante atuao na organizao scio-
econmica do municpio, pois a segunda maior empregadora de mo-de-obra, o
que demonstra a sua forte participao na economia local. O setor produtivo no
municpio focado essencialmente na agropecuria, principalmente na pecuria
leiteira, que tem na cooperativa uma forma de organizar e comercializar a produo,
principalmente no caso de pequenos produtores rurais. Essa conjuntura corrobora a
afirmao de Graziano da Silva (2000) sobre o cooperativismo, como sendo a nica
forma de organizar e comercializar a produo dos pequenos produtores rurais em
certos municpios.
Como forma de organizao do quadro social, funciona h dezoito anos o
comit educativo, que atua como um rgo de assessoria da administrao e dos
cooperados, constitudo por um grupo de lideranas que se renem para identificar e
discutir problemas, analis-los e sugerir propostas que atendam aos interesses da
comunidade cooperativista. H uma diviso do quadro social em seis comunidades
distribudas geograficamente na rea de ao da COOLVAM, onde acontecem
reunies bimestrais com os associados e uma reunio mensal com as lideranas
das comunidades na sede da Cooperativa. Outras formas de contato entre a
administrao e os associados so: torneio leiteiro de comunidades realizados
anualmente, os dias-de-campo geralmente duas vezes ao ano, a veiculao mensal
do jornal Informativo COOLVAM, campanhas de vacinao e nas assemblias
gerais realizadas nos fins de cada exerccio.
4
Considerando a forma estrutural, como a COOLVAM lida com os associados,
essa cooperativa se qualificaria como exemplo de organizao cooperativa,
conforme aspectos referentes prioridade e importncia dadas aos associados e
suas diferenas em relao a uma sociedade comercial tpica, sugerido em
literaturas sobre o relacionamento cooperativa e cooperados. Por isso o interesse
desse trabalho se configura em pesquisar como se d a participao em
cooperativas rurais, com base na proposta da Teoria da Escolha Racional sobre os
dilemas da ao coletiva.
A composio desta dissertao est estruturada em quatro captulos, a partir
desta introduo que faz a apresentao geral da finalidade da pesquisa, os
objetivos, o problema levantado e a metodologia utilizada para realizao do
trabalho. O primeiro captulo faz uma apresentao histrica e do contexto
econmico-social que perpassam a construo do cooperativismo e o enfrentamento
de seus dilemas. O segundo captulo composto pelo referencial conceitual e
argumentativo que orienta o trabalho e tem o propsito de dar sustentao s idias
e argumentos. Inicia-se com uma discusso sobre ao coletiva e como se
fundamenta a Teoria da Escolha Racional, conforme proposta de Mancur Olson
(1999), que direciona as outras discusses do trabalho. Na seo seguinte, h uma
abordagem conceitual e prtica sobre participao. Em seguida, uma discusso
sobre cooperao e capital social, apresentados como correes para os dilemas
de ao coletiva.
No terceiro captulo, apresenta-se o estudo de caso da COOVAM e a anlise
dos resultados dos questionrios e entrevistas realizadas durante a pesquisa. No
quarto e ltimo captulo desta dissertao apresentam-se as consideraes finais.
1.1 Definio do Problema
Dados da OCB (2001) citados em Braga e Reis (2002) mostram que cerca de
83% dos associados s cooperativas agropecurias possuem propriedades com
dimenso de at 50 hectares ao passo que pouco mais de 5% so grandes
produtores, cujas propriedades so superiores a 500 hectares1. Apesar da
1 Para fins desta pesquisa, a referncia de grande e pequeno produtor rural ter como parmetro o volume de produo.
5
significativa diferena em nmero de pequenos produtores, a dinmica das relaes
sociais no interior das cooperativas marcada por acentuada diferenciao social,
que beneficia, sobretudo, grandes produtores em detrimento dos pequenos, pois os
grandes produtores conseguem ter uma atuao mais efetiva nas decises dessas
organizaes (PEREIRA, 2002). Isso retratado em estudos sobre o quadro social
das cooperativas agropecurias brasileiras onde se verifica grande diferenciao
scio-econmica entre os associados, j que as cooperativas abrigam grandes e
pequenos produtores rurais. Este fato causa o que Pereira (2002) classifica dilemas
do cooperativismo, que geram implicaes de diversas naturezas tais como:
Grupos ou indivduos que possuem maior informao, maior disponibilidade de tempo e que esto articulados com o poder local, geralmente conduzem as cooperativas; os associados esperam que as lideranas exeram o papel de tutor ou de bom patro, resolvendo seus problemas e trazendo benefcios (PEREIRA, 2002 P.136);
De acordo com Campanhola e Graziano da Silva (2000), as associaes e
cooperativas so formas tradicionais de organizao dos produtores rurais que
facilitam o seu acesso ao mercado, aos programas de fomento oficiais, assistncia
tcnica, s informaes, entre outros. Teoricamente constituem uma forma
participativa de tomada de deciso, partindo-se do princpio de que a unio dos
produtores nessas organizaes os fortalece tanto quanto a sua representatividade
para a participao em conselhos, comits, comisses, bem como no seu poder de
barganha com os setores pblico e privado. Do mesmo modo, h uma importncia
social atribuda a essas organizaes, que so em certos municpios e regies, a
nica forma de organizar e comercializar a produo obtida por produtores rurais.
No entanto, essa proposta de ao participativa restrita a uma minoria, que
geralmente, exerce diferentes papis na comunidade, e deste modo consegue ter
maior acesso a diversos benefcios. Instala-se tambm uma condio hierrquica
verificada na sociedade, que causa distanciamento entre as organizaes
cooperativas e os associados, prejudicial ao desenvolvimento econmico e social
dos produtores rurais. Isto sucinta questionamentos sobre a universalidade dos
princpios do cooperativismo que enfatizam somente os fatores benficos dessas
organizaes sem levar em conta contradies internas das diferenas scio-
econmicas.
Tomando como referncia as argumentaes de Olson (1999) para a anlise
de cooperativas, v-se que uma minoria se organiza e conquista posies nas quais
6
conseguem defender interesses prprios. Por outro lado, grande parte dos
associados, principalmente pequenos produtores, em maior nmero, tm dificuldade
em se mobilizar para defesa de seus interesses. Baseado nos princpios do
cooperativismo, seria de se esperar que as decises tomadas em cooperativas
fossem no sentido de atender aos interesses da maioria dos associados, o que nem
sempre ocorre devido concentrao do poder de deciso nas mos do pequeno
grupo dominante.
A esse respeito Duarte, citado em Pereira (2002), destaca que a prtica do
cooperativismo tem conferido aos pequenos produtores associados somente a
condio de usurios, eliminando o seu papel de dono, o que enfraquece tanto o
propsito de seus princpios quanto a funo de organizao para a ao coletiva.
Dessa maneira, conforme sugerido por Ramirez e Berdegu (2003), a
compreenso das causas dos xitos e fracassos de estratgias de ao coletiva
deve ser uma fonte de aprendizagem para melhorar as intervenes orientadas a
modificar os sistemas de excluso e promover o desenvolvimento rural sustentvel.
Nessa perspectiva, a participao apontada por Amman (1980) como uma
estratgia para a superao do subdesenvolvimento. Dentro do cooperativismo,
conforme Pereira (2000), no so oferecidos mecanismos para diminuir ou amenizar
as diferenas entre os grupos e a heterogeneidade dos associados, o que impede
uma efetiva participao.
Portanto, conforme mostram os dados oficiais e a literatura, h falhas das
associaes e cooperativas em atender aos interesses da maioria de seus membros
j que muitas dessas passaram a atuar sem a participao dos seus associados nas
tomadas de decises, as quais se apiam apenas nas opinies de sua
administrao superior (CAMPANHOLA E GRAZIANO DA SILVA, 2000).
A partir deste panorama, que mostra a dificuldade de participao de
pequenos produtores nas cooperativas, torna-se oportuno questionar sobre a
controvrsia do cooperativismo ser instrumento criado para esse fim e ao mesmo
tempo permitir um distanciamento entre estes e os que o gerenciam. Assim sendo,
indaga-se: como se constri a participao no ambiente de cooperativas rurais,
tendo em vista a heterogeneidade do quadro social dessas organizaes?
Deste modo, se na proposta do cooperativismo h um diferencial que a
nfase dada igualdade de participao dos associados, cabe questionar sobre as
7
dificuldades das pessoas que no participam assim como os motivos que levam
outros a participar.
1.2. Objetivos
1.2.1. Objetivo Geral
Verificar as dificuldades de participao em cooperativas e a heterogeneidade
relacionada s diferenas sociais existentes no quadro social que levam a
problemas de ao coletiva, como sugerido pela Teoria da Escolha Racional,
utilizando o estudo de caso da Cooperativa de Laticnios Vale do Mucuri -
COOLVAM no municpio de Carlos Chagas MG.
1.2.2. Objetivos Especficos
a. Identificar e compreender estratgias de ao coletiva em cooperativas;
b. Identificar mecanismos que dificultam a participao de pequenos produtores rurais associados a cooperativas rurais para o desenvolvimento local;
c. Analisar o processo de participao dos diferentes grupos existentes em cooperativas.
1.3. Metodologia
Para conduo desta pesquisa, utilizou-se o mtodo qualitativo por meio de
estudo de caso. Neste mtodo, segundo Tivins, citado em Alencar (2000), as
posies qualitativas baseiam-se especialmente em dois enfoques especficos, o de
compreender e analisar a realidade:
Um enfoque o compreensivista, o outro o critico participativo com viso histrico-estrurtural e se fundamenta na dialtica da realidade social que parte da necessidade de conhecer a realidade, atravs de percepo, reflexo e intuio para transform-la em processos contextuais e dinmicos (ALENCAR, 2000, p.69).
J o estudo de caso em particular:
8
Prope-se a investigar um fenmeno contemporneo em seu contexto real, onde os limites entre o fenmeno e o contexto no so claramente percebidos por meio do uso de mltiplas fontes de evidncias, como entrevistas, arquivos, documentos, observao, etc (Yin, 1989 citado em Lazzarini, 1999 P.6).
Portanto, a realizao deste estudo teve como referncia emprica produtores
rurais associados Cooperativa de Laticnios Vale do Mucuri Ltda Coolvam, no
municpio de Carlos Chagas MG, onde se buscou coleta de dados e informaes
realizadas por meio de aplicao de questionrios e entrevistas semi-estruturadas.
Os questionrios foram elaborados com questes estruturadas, de perguntas
e respostas padronizadas e questes semi-estruturadas, exatamente como sugere
Alencar (2000): nas questes semi-estruturadas as perguntas so padronizadas,
mas as respostas ficam a critrio do entrevistado, ou seja, o seu discurso.
A populao para aplicao dos questionrios foi escolhida por amostragem
probabilstica estratificada, neste caso:
O universo subdividido (estratificado) em grupos mutuamente exclusivos, escolhendo-se uma amostra probabilstica simples de cada estrato. A amostragem estratificada conduz a estimativas mais verdadeiras do que as obtidas por outros mtodos, j que interessante conhecer caractersticas do universo, o que ela revela mais claramente (ALENCAR, 2000, p.64).
A pesquisa foi desenvolvida no perodo entre os anos de 2006 e 2008, sendo
que o trabalho de campo foi realizado durante o ms de Janeiro de 2008. Foram
aplicados 62 questionrios. Foi possvel, conforme planejado, envolver a populao
de 20% dos produtores associados Cooperativa estudada. Dos diferentes estratos
de associados, ou seja, do total de 176 pequenos produtores foram entrevistados
35; do total de 58 mdios produtores foram aplicados 17 e aos 35 grandes
produtores foram aplicados sete questionrios.
173
35
58
12
35
7
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
Pequenos (0 a 200 lts) Mdios (201 a 499 lts) Grandes (Mais de 500 lts)
Associados Entrevistados
Figura 01 Composio da amostra da pesquisada, Coolvam, 2008.
A aplicao de questionrios foi feita durante o perodo da pesquisa em dois
pontos escolhidos pelo pesquisador: na Farmcia Veterinria da Coolvam e na
Cooperativa de Crdito Rural. O primeiro foi considerado um local apropriado, pois
diariamente, s sete horas da manh, os produtores passam para comprar insumos
para levar s fazendas. Aproveitou-se da constante presena de associados para
serem abordados e aplicar os questionrios. Neste local foi solicitado autorizao
da gerente da loja para permanncia da pesquisadora.
O outro local, a Credicar, considerado ponto de encontro dos produtores.
Neste lugar foi solicitado ao gerente da agncia um espao para aplicao dos
questionrios. Este autorizou utilizao de uma mesa com cadeiras, ficando um
lugar restrito e apropriado para aplicao dos questionrios. Desta forma, medida
que chegavam, os produtores eram abordados. O maior nmero de questionrios foi
aplicado no dia do pagamento do leite, 20 de janeiro de 2008, pois esta foi a data de
maior concentrao de produtores na cidade.
Em nmero menor, alguns questionrios foram aplicados nas propriedades
rurais, nestes casos, o pesquisador foi at as propriedades de produtores indicados
durante a aplicao de questionrios com os demais na cidade. Foi possvel visitar
propriedades de estratos diferentes (pequenos, mdios e grandes), o que permitiu
ao pesquisador vivenciar estilos de vida prprios de cada um.
9
10
A maioria dos questionrios foi aplicada pessoalmente pela pesquisadora aos
produtores, possibilitando observar e registrar comentrios adicionais. Alguns foram
preenchidos pelos prprios produtores. Nestes casos eles eram orientados a fazer
os comentrios nas questes.
Para obter informaes e percepes de associados participantes da gesto
da cooperativa, foram feitas sete entrevistas semi-estruturadas: com o presidente,
trs conselheiros administrativos, dois conselheiros fiscais e dois membros do
comit educativo.
As entrevistas semi-estruturadas foram adotadas por serem consideradas
mais apropriadas nas pesquisas em que a compreenso de atitudes, idias e aes
so relevantes, conforme as vantagens classificadas por Alencar (2000):
Est centrada em torno de tpicos a serem cobertos durante a entrevista, os quais no chegam a assumir a forma de questes estruturadas; no h nenhuma restrio ao aprofundamento dos tpicos por meio de questes que emergem durante a realizao da entrevista (ALENCAR, 2000 P.63).
Algumas entrevistas foram gravadas, quando autorizadas pelos entrevistados
e outras foram apenas registradas no caderno de campo, respeitando a vontade do
respondente. Percebeu-se que o gravador um aparelho que intimidou o falar,
portanto, por sugesto de entrevistados, eram feitas anotaes das respostas, e em
seguida fazia-se a leitura para confirmao das falas do entrevistado. Aproveitou-se
desse recurso tambm para anotaes durante a aplicao do questionrio para
registrar as percepes a partir das observaes da pesquisadora.
Durante a sistematizao dos dados das entrevistas, optou-se por no
identificar o entrevistado, por isso todas as falas sero identificadas pela funo do
entrevistado. Nos questionrios aplicados para resguardar individualidade e obter
informaes com maior nvel de veracidade no foi identificado o respondente. Mas
para identificar as respostas dos diferentes estratos, todos os questionrios foram
codificados com nmero e a letra que indica o grupo do associado. No entanto, na
apresentao dos resultados, utiliza-se como identificao do respondente, o seu
estrato social, idade e o ano da pesquisa.
Utilizou-se tambm a pesquisa bibliogrfica e documental. No primeiro caso,
recorreu-se a trabalhos tericos sobre o assunto em questo e levantamento de
dados secundrios. Quanto pesquisa documental, foram analisadas atas de
assemblias dos ltimos 5 anos, sendo que as atas das Assemblias Gerais
Ordinrias, compreendeu o perodo de 2002 a 2007 e as atas de Assemblias
11
Gerais Extraordinrias, no perodo de 1996 a 2007, j que estas acontecem em
menos freqncia. Outras atas analisadas foram de reunies das comunidades
rurais, no mesmo perodo. Seguiu-se leitura de Informativos e outros jornais da
cidade, com o objetivo de verificar informaes sobre a cooperativa e participao
de associados em suas atividades, assim como a participao da cooperativa em
aes na comunidade.
Portanto, a busca do entendimento sobre como ocorre a participao do
quadro social nas atividades desenvolvidas por essas organizaes, fundamentou-
se na literatura sobre participao e cooperativismo, para associ-las a discusses
concernentes ao coletiva e instituies bem como estudos sobre a construo e
valorizao de capital social, interesse e individualismo, cooperao e confiana.
Todos esses conceitos foram, portanto, utilizados na compreenso sobre as
relaes sociais e interesses individuais que influenciam a deciso de participar ou
no de aes coletivas.
12
2. O MOVIMENTO COOPERATIVISTA 2.1. O cooperativismo Este captulo retrata a origem do cooperativismo, o desenvolvimento e
classificao dos ramos de atividade, enfatizando o cooperativismo agropecurio de
leite, com apresentao da conjuntura e evoluo das organizaes cooperativas
desse segmento, seu posicionamento mediante o esforo de sobrevivncia e
atuao no mercado cada vez mais competitivo, alm dos desafios pertinentes sua
firmeza no compromisso com a funo social.
As cooperativas so formas de aes coletivas organizadas por pessoas que
reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou servios para o exerccio de
uma atividade econmica, de proveito comum, sem objetivo de lucro (MONEZI 2004
e SEBRAE, 2003). So caracterizadas por Pinho (1977) como empresas de
autogesto cujo nmero est diretamente relacionado com a satisfao das
ilimitadas necessidades dos homens e consequentemente, com a complexidade do
meio econmico, no conceito de Bialoskorski Neto (2007), cooperativas so
estruturas intermedirias, formadas a partir da ao coletiva situadas entre as
economias particulares dos cooperados, por um lado, e o mercado, por outro,
O Cooperativismo portanto, um movimento, filosofia de vida e modelo
socioeconmico capaz de unir desenvolvimento econmico e bem-estar social
(OCB, 2007). A origem do cooperativismo est na cooperao, presente nas
relaes humanas e reconhecida como uma prtica milenar. Mas o corolrio do
princpio cooperativo (Co-operation) como doutrina, nasceu de Robert Owen, um
visionrio social, que criou a concepo de uma nova forma de vida social, assim
como descreve Carneiro (1981):
Owen postulava que a co-operation deveria ser formada por um comportamento social no importa muito qual fosse a forma, porque somente os prprios condicionamentos, como ele adiantou, de sentimentos e sensaes, poderiam determin-la (CARNEIRO, 1981, p.72).
Contudo, a concretizao do cooperativismo emergiu de uma reao popular
s condies degradantes de produo e vida em meados do sculo XIX, em meio
Revoluo Industrial. Tem seu marco em 21 de dezembro de 1844 no bairro de
Rochdale, em Manchester, Inglaterra, como resultado da unio de 27 teceles e
uma tecel que se reuniram e fundaram a "Sociedade dos Probos Pioneiros de
13
Rochdale", depois de uma economia mensal de uma libra de cada participante
durante um ano. Naquele momento a constituio de uma pequena cooperativa de
consumo no ento chamado "Beco do Sapo" (Toad Lane) estaria mudando os
padres econmicos da poca e dando origem ao movimento cooperativista (OCB,
2007).
Tendo o homem como principal finalidade - e no o lucro, os teceles de
Rochdale buscavam naquele momento uma alternativa econmica para atuarem no
mercado, frente ao modelo capitalista que os submetiam a preos abusivos,
explorao da jornada de trabalho de mulheres e crianas (que trabalhavam at
dezesseis horas por dia) e do desemprego crescente advindo da Revoluo
Industrial (SESCOOP, 2007).
Da em diante, vrios movimentos surgiram em todos os pontos do mundo. As
cooperativas como organizaes similares s que conhecemos, rapidamente,
comearam a se multiplicar, no s em extenso geogrfica, mas tambm
setorialmente (Amodeo, 2001). No Brasil, conforme Schneider (1999), h
constatao de que antes e durante o perodo colonial e especialmente durante o
perodo do Imprio houveram vrias experincias associativas entre africanos
foragidos e nas confrarias de negros. A primeira cooperativa de produo
agropecuria foi criada em 1847, numa colnia no Paran (COOPERFORTE, 2008).
Em Minas Gerais, foi formalizada a Sociedade Cooperativa Econmica dos
Funcionrios Pblicos de Ouro Preto no ano de 1889 (OCB, 2007). Entretanto, a
experincia de cooperao econmica e social, no modelo rochdaleano, se originou
com a implantao das primeiras cooperativas, de consumo em 1891 em Limeira,
So Paulo.
De modo geral, as cooperativas so orientadas pelos Princpios do
Cooperativismo (Anexo I), que so as normas regulamentadoras e tm implcito os
valores que regem todas as organizaes cooperativistas. Esses valores que
norteiam as cooperativas so: a ajuda e responsabilidade prprias, democracia,
igualdade, equidade e solidariedade. Pela tradio dos seus fundadores, os
membros das cooperativas devem acreditar nos valores ticos da honestidade,
transparncia, responsabilidade social e preocupao pelos outros (ACI, 2003).
14
Os princpios cooperativistas, vistos isoladamente pouco expressam, mas
tomados em bloco, segundo Schneider (1999), apresentam uma grande lgica,
coerncia interna e uma grande eficcia dessas organizaes.
Neste trabalho, dois dentre os sete princpios, so o alvo das discusses, o
princpio da adeso voluntria e livre e o princpio da gesto democrtica, a saber:
1 - Adeso voluntria e livre - As cooperativas so organizaes voluntrias, abertas a todas as pessoas aptas a utilizar os seus servios e assumir as responsabilidades como membros, sem discriminaes de sexo, sociais, raciais, polticas e religiosas.
2 - Gesto democrtica - As cooperativas so organizaes democrticas, controladas pelos seus membros, que participam ativamente na formulao das suas polticas e na tomada de decises. Os homens e as mulheres, eleitos como representantes dos demais membros, so responsveis perante estes. Nas cooperativas de primeiro grau os membros tm igual direito de voto (um membro, um voto); as cooperativas de grau superior so tambm organizadas de maneira democrtica (OCB, 2007:335).
Essa escolha se justifica porque so estes os princpios que mais diretamente
sustentam a forma de participao dos membros associados em organizaes
cooperativas.
O movimento cooperativista mundial coordenado pela Aliana Cooperativa
Internacional (ACI), que segundo Schneider (1999), tem a responsabilidade de
adequar os Princpios Cooperativistas a uma realidade econmica e social em
evoluo, com o compromisso de fidelidade aos valores fundamentais da
cooperao. Portanto, um rgo representativo dos diversos pases, que mantem e
regulamenta esses princpios Contudo, as normas fundamentais baseadas no
Estatuto de Rochdale so utilizadas at os dias de hoje no sistema cooperativista,
buscando enfrentar a dinmica da desigualdade socioeconmica persistente em
vrios setores da sociedade.
O rgo mximo de representao das cooperativas no pas a Organizao
das Cooperativas Brasileiras (OCB), responsvel pela promoo, fomento e defesa
do sistema cooperativista, em todas as instncias polticas e institucionais (OCB,
2007). de sua responsabilidade tambm a preservao e o aprimoramento desse
sistema. J em mbito estadual, existem as OCEs, que so as Organizaes
Cooperativas Estatuais, num total de 27 unidades, que passaram a ser os agentes
polticos e representativos que zelam e divulgam a doutrina cooperativista em seus
respectivos estados.
15
A legislao cooperativista regulamenta um nmero mnimo de vinte pessoas,
para constituio de uma cooperativa. Embora os princpios primitivos de Rocdale,
reafirmavam a livre adeso estes fixavam provisoriamente um limite de 250
associados (Schneider, 1999). Nesse aspecto, houve evoluo para o carter
indiscriminativo de participao, pois o princpio da livre adeso no impe nenhum
limite em nmero de associados. No entanto, analogamente, conforme exposto na
teoria dos grupos, medida que organizaes cooperativas crescem em nmero de
associados, aumentar tambm as dificuldades de se organizar e defender os
interesses individuais dos seus membros.
Em face dessa evoluo, conforme Tauk Santos e Lima (2004), na dinmica
da cooperativa em relao ao ambiente externo h desafios tanto para a
participao do indivduo quanto a sua capacidade de delegar poder ao coletivo.
Estes desafios so assim classificados por esses autores:
a)o desafio dos valores cooperativos: que reagrupar pessoas que tenham uma necessidade comum em um projeto segundo os valores do cooperativismo; b) o desafio da relao de uso: refere-se s vantagens cooperativas de seus membros; c) o desafio do desenvolvimento da coletividade: oferecer melhores produtos e servios aos membros, promovendo o desenvolvimento harmonioso da comunidade; d) o desafio daeducao cooperativa: que d nfase s diferenas cooperativas, seus papis e suas responsabilidades, no sentido de manter uma coeso no seu desenvolvimento; e) e finalmente, o desafio do servio/produto materializado no esforo de ofertar um produto ou servio no quadro de desenvolvimento cooperativo ressaltando as vantagens em relao ao desenvolvimento tradicional (TAUK SANTOS E LIMA, 2004, p.3).
Mas o desafio ainda maior assegurar a identidade cooperativa com a
vitalidade dos princpios colocados como condicionantes s organizaes
cooperativas. Dessa forma, as cooperativas seguem superando as modificaes e
constante evoluo nos diversos segmentos da sociedade, com vistas ao
crescimento em seu ramo de atividade.
2.1.1. Caracterizao das cooperativas
Uma caracterizao para identificao das cooperativas, a classificao por
ramos de atividades conforme os segmentos de atuao. No Brasil, a OCB os dividiu
em treze, onde esto agrupados um nmero de 7518 cooperativas com 6.791.054
associados e a respectiva gerao de aproximadamente 200.000 empregos. Em
todos os ramos no difcil encontrar modelos e exemplos de sucesso de
16
empreendimentos cooperativos que se tornaram gigantes na economia nacional e
mundial, a exemplo, o reconhecimento da Mondragn Corporacin Cooperativa
MCC, frequentemente citada como modelo de sucesso de cooperativismo:
a MCC rene 104 cooperativas e est estruturada em trs grandes grupos: financeiro,industrial e distribuio, alm de contar com onze centros de pesquisa e desenvolvimento, uma universidade e um centro de formao cooperativa e empresarial Otalora. O grupo industrial sub dividido em (automotivo, componentes, construo, equipamentos industriais, eletrodomsticos, mveis e bens de capital).Com sede no pas Basco, Espanha, a MCC 7 maior grupo econmico espanhol. (AZEVEDO, 2007 p.2).
Essa conjuntura ilustra o que faz cada vez mais cooperativas planejarem
crescimento para atender competitivamente os desafios e demandas de mercado.
Nesse sentido, mesmo quando globalizadas, devem, teoricamente ser fiis misso
do cooperativismo com seus scios, ainda que atuem de forma corporativa como as
empresas tradicionais, em locais distantes de seus cooperados. Contudo, da certeza
da importncia e resultados do cooperativismo, visto a dimenso que essas
organizaes tm tomado, no h duvida de que seja difcil manter racionalmente a
fidelidade aos princpios e atuar com a participao ativa dos cooperados diante da
complexidade de aes exigida por esse direcionamento.
Tomadas essas propores, crescente tambm a necessidade de
profissionais competentes em diferentes reas para participarem da elaborao de
metas e defesa dos interesses da organizao cooperativa, conforme descreve
Amodeo (2001):
Os apelos para profissionalizar a gesto e buscar melhorar a competitividade podem ser considerados o eixo que orienta as transformaes recentes das cooperativas (AMODEO, 2001 p.11).
Surge em resposta ao atendimento dessa necessidade uma complexa
estrutura de gesto, se visualizar que dentre as diferentes reas em que o
movimento cooperativista atua, elas cumprem papis distintos em todas as fases de
um processo de produo, quais sejam, nas funes de fornecedoras ou
consumidoras e transformadoras de bens ou servios. Nesse aspecto, o ramo
agropecurio um dos mais complexos do segmento cooperaivista.
2.1.2 O cooperativismo agropecurio
Os trabalhadores pioneiros de Rochdale visualizaram nas cooperativas uma
forma de propiciar ajuda mtua entre eles. Do mesmo modo, os produtores rurais
17
esperam no cooperativismo agropecurio um meio de apia-los no enfrentamento
dos inmeros desafios desse segmento.
No Brasil o Ramo Agropecurio tem o maior nmero de cooperativas, em
torno de 1514, com 879.918 associados e maior gerador de emprego, com
aproximadamente 124.000 empregados, o que define sua importncia em
participao no desenvolvimento econmico do pas. Este ramo caracterizado pela
OCB da seguinte forma:
O Ramo Agropecurio definido por cooperativas formadas por produtores rurais e tm como finalidade organizar a produo dos seus associados em maior escala, garantindo um melhor preo na comercializao de seus produtos. Visa tambm integrar e orientar suas atividades, bem como facilitar a utilizao recproca dos servios, como: adquirir insumos, dividir custos de assistncia tcnica, difundir o uso de novas tecnologias produtivas, comercializar a produo e, em muitos casos, beneficiar e industrializar as matrias-primas, eliminando o atravessador e vendendo a produo dos cooperados diretamente ao consumidor (OCB, 2007 p.334)
Das aes desenvolvidas pelas cooperativas, no segmento agropecurio, as
mais comuns conforme Amodeo (2001), so venda de insumos (fertilizantes,
sementes, agrotxicos etc.), ferramentas e maquinaria agrcola; pesquisa e
assistncia tcnica aos produtores; processamento, industrializao e distribuio da
produo; exportao; classificao, padronizao e embalagem de produtos in
natura; servios de crditos, seguros e administrao.
Segundo Amodeo (2001), na interface entre a agricultura e a indstria que
as cooperativas agropecurias crescem, a montante e a jusante, a fim de obter
melhores resultados para os seus cooperados, na medida em que, paralelamente,
so intensificados os processos de modernizao da agricultura, tanto na indstria
de insumos ou bens para a agricultura quanto na indstria que compra a oferta
agrcola para o seu processamento e distribuio.
Os produtores rurais tambm so pressionados nessa mesma direo e por
meio da mediao dessas cooperativas que as demandas por especializao de
produtores vm sendo atendidas, principalmente no grupo dos pequenos. Os
processos produtivos no campo esto cada vez mais pautados nas particularidades
dos processos industriais. Da a amplitude do cooperativismo agropecurio, pois
participa do desenvolvimento e especializao da produo de seus associados,
transferindo tecnologia, melhorando a renda e possibilitando o desenvolvimento
rural.
18
Deste modo, grande o nmero de atividades econmicas abrangidas, pois
conforme a OCB (2007), essas cooperativas geralmente cuidam de toda a cadeia
produtiva, desde o preparo da terra at a industrializao e comercializao dos
produtos. De modo geral, conforme Braga e Reis (2002) as cooperativas de
produtores tem desempenhado importante papel na fixao do homem no campo e
na distribuio de renda. O resultado econmico, portanto, a significativa
participao na economia. Conforme a OCB (2008), cooperativas agropecurias
movimentam cerca de 6% do PIB nacional e tm uma participao entre 35% a 40%
no PIB agrcola.
Desde o incio dos anos 90, as cooperativas sofreram fortes impactos
macroeconmicos, conforme registros de Lopes et alli (2002), estabilizao
econmica com o Plano Real, abertura comercial acelerada, desregulamentao dos
mercados agrcolas e imposies de maior disciplina fiscal. Nesse cenrio, a
consolidao do cooperativismo agropecurio na economia brasileira, conforme
OCB (2007), foi resultado do esforo de produtores pela modernizao do sistema,
incorporao de tecnologia s suas atividades e profissionalizao da gesto. Essa
postura vem permitindo que cooperativas permaneam atuando no mercado
competitivamente.
Deste modo, a dinmica de operacionalizao dessas organizaes vai alm
das intenes que estavam implcitas no desejo de associao, que impulsionou o
surgimento das cooperativas. nessa perspectiva que as cooperativas de laticnios
atuam. Portanto, a seo seguinte tem a finalidade de demonstrar o que vem
ocorrendo na evoluo do cooperativismo agropecurio de leite e a atuao dos
produtores rurais no setor.
2.1.3 O Cooperativismo agropecurio de leite e a participao de
produtores rurais.
Para se ter a dimenso e extenso do cooperativismo agropecurio de leite
dentro da economia global, apresenta-se as perspectivas atuais e futuras dessas
cooperativas no mercado face ao cenrio dos resultados desse segmento. Para isso,
recorreu-se a estudos sobre o setor leiteiro, pois esta atividade a maior geradora de emprego no mercado nacional de trabalho e responsvel por grande parte da
fixao e sobrevivncia de famlias no meio rural.
19
Em muitos pases, a participao das cooperativas na captao de leite
relativamente alta, chegando a 80% na Austrlia, 83% na Holanda e EUA, mais de
95% na Nova Zelndia (Chaddad, 2004), e na ndia, sede do maior movimento
cooperativo do mundo, 94% dos laticnios provm de cooperativas (Amodeo, 2001).
Nesse cenrio, o crescimento dessas organizaes no tem ficado restrito a
uma atuao no mercado local, na funo de intermediar o produtor rural. As
cooperativas tm apresentado um crescimento cada vez mais acelerado e
conseguido atuar na economia mundial, haja vista alguns exemplos de grandes
cooperativas de leite, reconhecidas neste setor:
Fonterra: lder absoluta no mercado da Nova Zelndia, com mais de 95% do leite do pas (14 bilhes de litros/ano) a cooperativa mais globalizada do mundo(...) seu lema "nossa casa o mundo controla, hoje, cerca de 30% do mercado internacional de lcteos, possui alianas em diversos continentes, inclusive com potenciais concorrentes.
Arla Foods: a maior cooperativa de laticnios da Europa, com cerca de 8,4 bilhes de litros anuais. Foi a primeira grande fuso entre cooperativas transnacionais: a sueca Arla e a dinamarquesa MD Foods. Apesar do porte gigantesco, sabe que precisa crescer mais, precisa olhar para alm de suas fronteiras europias (CARVALHO, 2008, P.1).
A Cooperativa Daiy Farmers of Amrica (DFA) participa de treze joint-ventures com empresas americanas e multinacionais, visa ganhar competitividade num mercado global, por meio de rpido reposicionamento (MARTINS ET ALLI, 2004 P. 58).
Nesse segmento, o Brasil o sexto maior produtor mundial de leite,
entretanto, ainda h uma baixa participao de cooperativas na captao e
comercializao deste produto. Conforme Chaddad (2004), no pas, essa
participao est em torno de 22% da captao do volume total do leite produzido e
40% do leite comercializado no mercado formal, ou seja, captado por laticnios
legalmente inspecionados.
Grandes mudanas tm ocorrido em torno das cooperativas de laticnios
brasileiras. Recentemente, importantes decises foram registradas para assumir
formatos que sejam competitivos entre cooperativas e entre outras empresas. A
Itamb - Cooperativa Central de Produtores Rurais de Minas Gerais um exemplo
da importncia crescente das cooperativas na economia nacional:
A Itamb a maior cooperativa brasileira de laticnios, quer ampliar sua linha de produtos, expandir a atuao no mercado interno e, aos poucos, aumentar as exportaes. Com 58 anos de atividade, a cooperativa alcanou faturamento bruto de 1,3 bilhes de reais em 2005. So 8 000 produtores rurais cadastrados na cooperativa, responsveis pelo fornecimento dirio de 2,7 milhes de litros de leite (OCEMG. 2008, P.1).
20
Por outro lado, a Cooperativa do Vale do Rio Doce (Cooperriodoce), a maior
cooperativa regional, no leste de Minas Gerais, recentemente teve seu parque
industrial vendido para Parmalat, um grupo privado.
Este cenrio ilustra o desafio das cooperativas em permanecer no mercado,
frente misso que desempenham como promotoras de desenvolvimento social.
Em artigo com o ttulo o capital encontrou o leite, Carvalho (2008) mostra como
empresas de outros ramos tm investido no setor de laticnios, o que ameaa
diretamente as cooperativas:
A compra dos Laticnios Morrinhos, dona da marca LeitBom, pela GP investimentos, no deixa mais dvidas: o capital finalmente descobriu o leite. Em meio a uma onda de aquisies protagonizadas pela Laep (Parmalat), Perdigo, Bom Gosto e Lder, nada mais emblemtico para representar a "corrida ao leite" do que a investida de um grupo conhecido pela sua habilidade de multiplicar o capital dos negcios em que investe.
O ponto que se trata de uma inovao considervel, feita por quem chega de fora, olha para o setor sem os vieses criados por quem j est nele h tempos e faz perguntas que os participantes tradicionais, com suas posies de liderana, no precisam fazer... essa descoberta traz ameaas ainda maiores para as cooperativas.(CARVALHO, 2008 p.1)
O extrato da entrevista, transcrito a seguir, ilustra uma preocupao da
liderana da cooperativa, objeto deste estudo, no que se refere a perspectivas de
longo prazo quanto sua sobrevivncia:
Temos a necessidade para os prximos 10 anos muito grande de crescer, de unir. Vem crescendo, mas ainda pequena, em relao ao mundo globalizado, precisa unir, j fez incorporao de So Domingos do Prata, precisa juntar mais cooperativas, ser forte para disputar mercado. Se no crescer com outras cooperativas, se no acontecer uma unio de cooperativas, vai sair de circulao (Diretor Presidente, COOLVAM, 2008)
Desse mesmo modo, a preocupao quanto continuidade e sobrevivncia
comum nas pequenas cooperativas devido, principalmente, presso que sofrem do
mercado na comercializao de produtos, pois concorrem com cooperativas maiores
e com grandes empresas privadas.
Esse quadro vem progredindo desde a dcada de 90 com a abertura de
mercado, onde a entrada de produtos, como o leite, tiveram condies de
financiamento mais favorveis do que nas indstrias nacionais, que foram obrigadas
a reduzir preos (FAVERET FILHO, 2002). Nesse perodo milhares de produtores
abandonaram a atividade e empresas regionais e cooperativas fecharam ou foram
vendidas.
21
Conforme Faveret Filho (2002 p.240), tais mudanas levaram empresas a
buscar mecanismos de aumento da eficincia produtiva. Portanto, h grandes
desafios para as cooperativas de laticnios brasileiras, principalmente as pequenas
cooperativas, em atuar nesse mercado. por esse motivo que a forma de conduzi-
las discutida em diferentes perspectivas. Sob o ponto de vista de Chaddad (2004),
o desempenho dessas organizaes se d em funo de:
poltica agrcola, regulamentao do setor leiteiro, barreiras importao de leite e derivados, estrutura do setor produtivo, polticas de apoio a organizaes cooperativas, nvel tecnolgico e educacional dos produtores e ambiente institucional, entre outros (CHADDAD, 2004 p.36),
Outro trabalho realizado com cooperativas de leite de outros paises identificou
pontos comuns indicados como responsveis pelo sucesso dessas organizaes:
Consolidao por meio de fuses e incorporaes;
Alianas estratgicas;
Sistema profissional e representativo de governana corporativa;
Estrutura centralizada;
Esforos de fidelizao do cooperado;
Novos mecanismos de capitalizao;
Estratgia competitiva alinhada com estrutura corporativa;
(CHADDAD, 2004 p.37), Esses pontos corroboram Faveret Filho (2002) ao mostrar que mudanas no
ambiente competitivo, devido globalizao e avanos tecnolgicos, foram as
cooperativas a buscar ganhos de eficincia a fim de no perder relevncia no
mercado. Segundo Chaddad (2004), essa busca resultou em alianas estratgicas
com outras cooperativas ou mesmo com empresas privadas. O termo aliana
estratgica expressa a deciso de uma ou mais empresas cooperarem para atingir
objetivos comuns. Para Lewis, citado em Rola e e Sobral (2002), numa aliana
estratgica as empresas cooperam em nome de suas necessidades mtuas e
compartilham os riscos para alcanar um objetivo comum.
Todos os pontos indicados para o sucesso das cooperativas de lacticnios
devem ser cuidadosamente discutidos e avaliados para adequada aplicao,
conforme a realidade de cada cooperativa. Para isso, os gestores devem ter uma
viso ampla da organizao e conhecer o ambiente onde a empresa est inserida
(SANTOS, 2000). Deste modo o planejamento e execuo de diferentes formas de
22
atuao do cooperativismo frente conjuntura apresentada passam a ser a busca
pelo aperfeioamento das ferramentas de gesto. Isso exige dos dirigentes, assim
como dos scios, conhecimento e constante aperfeioamento.
2.2. A tomada de deciso na gesto da organizao cooperativa
Na operacionalizao das atividades gerenciais da cooperativa, assim como
em outro tipo de empresa, o corpo diretivo deve estar atento aos objetivos
especficos misso da organizao. Isso facilita a busca do consenso e
potencializa os esforos das partes em benefcio do todo (Santos, 2000),
Deste modo, para que as tomadas de decises sejam compartilhadas de
forma oportuna e adequada na cooperativa, os dirigentes e associados devem ter
claro seu papel no processo administrativo.
A tabela 01 que segue, mostra as diferenas tpicas entre uma empresa
mercantil e uma organizao cooperativa:
Empreendimento cooperativo Empresa mercantil
sociedade simples, regida por
legislao especfica; nmero de associados limitado
capacidade de prestao de servios; controle democrtico: cada pessoa
corresponde a um voto; objetiva a prestao de servios; quorum de uma assemblia
baseado no nmero de associados; no permitida a transferncia de
quotas-parte a terceiros; retorno dos resultados proporcional
ao valor das operaes.
sociedade de capital - aes; nmero limitado de scios; cada ao um voto; objetiva o lucro; quorum de uma assemblia
baseado no capital; permitida a transferncia e a venda
de aes a terceiros; dividendo proporcional ao valor de
total das aes.
Tabela 1: Diferena entre organizao cooperativa e empresa mercantil. Fonte: OCB ( 2007)
Portanto, os dirigentes devem dar maior ateno a pontos que merecem mais
cuidado na gesto cooperativa. Conforme Chiavenato (1993), no funcionamento das
organizaes, as vrias funes do administrador, consideradas como um todo
formam o processo administrativo, composto pelo planejamento, organizao,
direo e controle. Consideradas separadamente constituem as funes
administrativas, mas quando visualizadas na sua abordagem total para o alcance de
objetivos elas formam esse processo. De acordo com Chiavenato (1993), o processo
23
administrativo implica que os acontecimentos e as relaes sejam dinmicos com
mudanas contnuas uma vez que este no algo parado, esttico: mvel, no
tem um comeo, nem um fim, nem uma seqncia fixa de eventos.
Neste caso, o papel da direo dinamizar a empresa com atuao sobre
todos os recursos e orientao a ser dada s pessoas por meio de uma adequada
comunicao, habilidade de liderana e motivao. Na gesto da organizao
cooperativa, conforme Schneider (1999), cabe aos gestores encontrar mecanismos
de deciso que sejam conformes ao mesmo tempo s exigncias essenciais da
democracia cooperativa e aos da eficcia-eficincia da empresa orgnica.
Deste modo, em nvel de coordenao da empresa, as decises se ordenam
segundo uma hierarquia, em decises estratgicas, decises tticas e decises
tcnicas ou operacionais. De acordo com Chiavenato (1993), o nvel estratgico
corresponde ao nvel mais elevado da empresa, cuida das atividades da
organizao e seu ambiente. Situam-se as decises fundamentais, de ordem geral
ou econmica e que envolvem os objetivos de mdio e longo prazo. Conforme
Schneider (1999) em cooperativas deve ser realizada de forma soberana pelos
associados tendo em vista os seus interesses, seguindo determinados planos.
As decises tticas so do nvel gerencial coordenam e unificam o
desempenho das tarefas pelo sistema operacional. Cabem aos gestores ou tcnicos
decidir pela melhor conduta ou tcnica de produo. Neste nvel, conforme
Schneider (1999), em cooperativas cabe um papel maior aos membros do Conselho
de Administrao, que concretizam as diretrizes gerais do nvel estratgico.
O nvel tcnico operacional diz respeito ao desempenho das tarefas na
organizao, relacionadas produo e distribuio de produtos. Conforme
Chiavenato (1993) est relacionado execuo cotidiana e eficiente das tarefas e
operaes da organizao. Segundo Schneider, em cooperativas essa fase est
acessvel a um nmero limitado de scios, atribuio predominante do quadro
executivo e tcnico da cooperativa.
importante considerar tambm que um fator que influencia particularmente
a forma de ao na tomada de decises o tamanho da empresa. Em cooperativas,
Schneider (1999) faz a seguinte observao:
Quando se trata de uma cooperativa pequena, geralmente os associados compreendem mais facilmente a natureza dos problemas e de suas solues. Por isso tm melhores condies de eles mesmos tomarem as decises em todos os nveis, at mesmo as de carter tcnico. Porm numa cooperativa maior
24
e mais complexa a estrutura de poder se apresenta com clara distino entre a estrutura de fins e a estrutura de meios: os fins se asseguram pela assemblia de scios, que expressa de forma soberana seus objetivos e interesses, pelos fiscais eleitos e pelo presidente. Os meios so realizados atravs da direo, os executivos contratados, os tcnicos e os funcionrios (SCHNEIDER, 1999, p.188)
Na evoluo do processo administrativo em cooperativas, portanto, as
tomadas de decises tm a participao dos scios efetivadas nas instncias de
poder conforme descrito por Schneider (1999):
a) Assemblia Geral ordinria ou extraordinria o rgo soberano, que expressa a vontade soberana dos scios sobre todos os assuntos essenciais da organizao. Tem analogia com a assemblia de acionistas de uma sociedade annima;
b) O Conselho de Administrao: a democracia no significa o governo de todos de forma direta e imediata em todos os nveis de atividade da organizao. Reivindicar a democracia direta, onde os scios participariam de todos os nveis de decises, levaria perda da agilidade e eficincia, imprescindveis em cada empresa. Ela s possvel em unidades muito pequenas.
c) Outras instncias de poder so: o Conselho Diretor, escolhido dentre os membros do Conselho de Administrao, quando este muito grande e dificulta a coeso e o razovel grau de informao. Sua funo exercer, por delegao as atribuies outorgadas pelo Conselho de Administrao. um rgo de tutela permanente do presidente, ao qual devem submeter-se as principais decises, ou um organismo colegiado de decises (SCHNEIDER, 1999 P.189 - 190).
Vinculado ao Conselho de Administrao criado em cooperativas o Comit
Educativo, segundo Valadares (1995), este assume as atividades vinculadas ao
desenvolvimento social e poltico dos associados, preparando e capacitando-os para
agirem decisivamente na organizao cooperativa. Este mecanismo possibilita aos
associados atuarem em grupo e constitui-se de um canal, por meio do qual, podem
expressar suas necessidades, desejos e inquietudes, alm de constituir um meio de
comunicao e informao importante entre os dirigentes e as bases sociais .
Portanto, o seu funcionamento est orientado pelos objetivos de estruturar um
espao de poder na cooperativa, viabilizando a participao democrtica do maior
nmero de associados na gesto cooperativa (VALADARES, 2005). .
Ao tratar do processo administrativo, no mbito interno das cooperativas,
devem ser estimuladas interaes entre os cooperados, alm da participao
nessas instncias de poder. Nesse sentido, uma das condies colocadas por
Schneider (1999) a necessidade de superar a impessoalidade nas interaes entre
a cooperativa e os associados, mais comum em cooperativas grandes, e conseguir
articulao de todos por meio de um variado circuito de informaes, livres de
quaisquer manipulaes, que ser ao mesmo tempo um estmulo ao conhecimento e
discusso.
25
O risco da falta de informao do produtor nesse processo pode acarretar um
conseqente sentimento de desconfiana que, de acordo com a observao de
Perius (1983) a esse respeito, nasce assim um conflito entre scios e
administradores. Para este autor: A informao completa e apropriada aos scios essencial tarefa da educao cooperativista. Sendo a atividade cooperativa uma atividade essencialmente econmica, esses conhecimentos devem incluir definitivamente informaes completas e exatas sobre os programas, as polticas, as operaes e as estruturas da cooperativa, como empresa comercial (JOACHIM, CIT IN PERIUS, 1983 p. 73).
Com essas observaes, confirma-se que a comunicao deve ter
importncia vital no processo de gesto cooperativa, pois esta quando utilizada em
diferentes canais acessveis ao produtor vai materializar a participao de
cooperados nos diferentes nveis de tomadas de decises.
2.3 Perfil do Produtor de Leite de cooperativas. Grande parte da produo de leite no pas realizada por pequenos produtores que, em sua maioria, tm na atividade a nica fonte de renda. Conforme
Gomes (2005), a produo de leite em Minas Gerais configura-se como uma das
atividades mais importantes para a economia do Estado. tambm significativa face
ao seu percentual de participao no volume total da produo nacional.
Nesse segmento a referncia tpica a produtores rurais se d em funo do
volume produzido identificando-os como pequeno, mdio e grande produtor.
Conforme Gomes (1987 e 2005), o perfil do produtor de leite em Minas Gerais segue
as seguintes caractersticas:
o pequeno produtor trabalha com produtividade mdia de 2,5 L/dia/vaca em lactao e, a produo diria 12 litros de leite. Cerca de 90% da mo-de-obra utilizada na atividade leiteira predominantemente familiar.
O mdio produtor trabalha com uma produtividade mdia 4,0 L/dia/vaca em lactao e, a produo mdia diria 100 L de leite. A mo-de-obra utilizada na atividade leiteira , predominantemente, contratada, e a mo-de-obra familiar corresponde a 30%.
J o grande produtor trabalha com uma produtividade mdia 6 L/dia/vaca em lactao e, a produo diria 360 litros de leite. A mo-de-obra familiar corresponde a apenas 8% do total (Gomes, 1987);
A Idade mdia de 52 anos para os pequenos produtores, sendo constatado um envelhecimento neste grupo, fenmeno tpico da pequena produo familiar, isto , o chefe da famlia suporta conviver com pequena lucratividade;
A escolaridade mdia de 5,17 anos, o que aumenta medida que aumentam os estratos de produo.
Os produtores de mais de 1.000 litros tm 6,58 anos de escolaridade,
Em mdia os produtores tm 20 anos de experincia na atividade leiteira;
Predominantemente a origem do produtor do prprio municpio, num percentual de 73%;
Em mdia, tm 2,64 filhos, havendo maior nmero de filhos e filhas que trabalham na cidade do que na atividade leiteira;
Quanto residncia do produtor, prevalece a propriedade rural, com 77% dos entrevistados;
As esposas pouco participam de algum trabalho na produo de leite, at mesmo entre os produtores at 50 litros de leite/dia (GOMES 2005 P. 40-41).
Essa estatstica no varia muito para a atividade nos outros estados.
Nogueira Netto et all (2004) mostram que no Brasil cerca de dois a cada trs
produtores de leite so associados a cooperativas que captam leite acima de 55,5
mil litros por dia. A mdia diria de leite obtida por esses produtores est
representada na Figura 2. Conforme este autor, os produtores com entrega diria
at 100 litros/dia formam 60,5% de todos os cooperados, enquanto 16,8% entregam
entre 100 e 200 litros/dia. Na faixa de 200 a 500 litros, encontram-se 10,9% dos
cooperados e entre 500 a 1000 litros, somente 5,0%. Acima de 1000 litros esto
6,8% dos cooperados.
60,5%
16,8%10,9% 5,0% 6,8%
0,0%
10,0%
20,0%
30,0%
40,0%
50,0%
60,0%
70,0%
Produtores
at 100
100 a 200 lts
200 a 500 lts
500 a 1000 lts
acima de 1000 lts
Figura 2: Distribuio de produtores rurais por volume de leite entregue em cooperativas.
Fonte de dados: Nogueira Netto et all (2004 p.74)
Comparativamente, o perfil da produo em outros pases apresenta um
quadro diferente. Conforme Nogueira Netto et all (2004), na Unio Europia por
exemplo, os produtores considerados de pequena produo so os que produzem
26
27
um volume inferior mdia de 545 litros/dia, ou seja muito distante da realidade
apresentada no Brasil.
De modo semelhante ao que ocorre com as cooperativas, que tm sido
pressionadas para especializao e crescimento, acontece com o produtor rural.
Este pressionado da porteira para dentro por produtividade e ainda vivencia
crticas sobre a forma de produo:
Dentro da porteira, um dos maiores problemas ainda o de gesto. Muitos produtores so eficientes, mas no esto preparados para gerir os negcios (...) as receitas anuais na propriedade (incluindo descartes) so de R$ 0,56 por litro, 27% a mais do que os custos totais de R$ 0,44 (inclui terra e pr-labore) (...) vo ficar no mercado apenas os profissionais (EMATER E AGROINFORME, 2008 P.2)
Esse quadro corrobora outra caracterstica do perfil dos produtores, que o
sistema de produo. Estes trabalham distintamente, pois conforme Fellet e Galan
(2000), existem na atividade produtores com os sistemas de produo
completamente especializados, com elevados pacotes tecnolgicos modernos para
a produo de leite. Enquanto outros encontram-se com sistemas nitidamente
extrativistas, com baixos investimentos e ndices de produo. Isso retrata e
distancia os produtores dos diferentes estratos apresentados. No primeiro caso,
esto os produtores de maiores volumes e no segundo modo de produo encontra-
se os produtores de pequena produo.
Essa realidade de pequenos produtores vai de encontro s cooperativas de
laticnios que, conforme visto anteriormente, tm como opo de sobrevivncia s
presses de mercado, o crescimento. De modo geral, o aumento da captao mdia
por produtor tem sido estimulado por todas as empresas de laticnios, mas conforme
Favoret Filho (2000) os grandes produtores so os mais incentivados tendo em
vista o pagamento diferenciado de preos aos produtores de maior volume. O que
aumenta sua rentabilidade e viabiliza novas expanses, cada vez mais difceis para
os pequenos.
Nos dados apresentados em Gomes (1987 e 2005) que retrata o perfil do
produtor de leite e em Nogueira Netto et alli (2004) que mostra a participao de
produtores rurais em cooperativas por estrato de produo, reafirma portanto, a
relevncia social do cooperativismo de leite.
Portanto, na funo de mediadoras dos produtores a montante e a jusante na
cadeia produtiva as cooperativas devem ainda apoiar a criao de mecanismos para
mudar a realidade instalada na produo de pequenos produtores afim de superar
28
as diferenas tratadas em Favoret Filho (2000). Certamente no se conseguir
mudar essa realidade com a ao isolada desses produtores.
Esse quadro confirma a heterogeneidade qualitativa, em volume de produo
de produtores rurais, que reflete na oportunidade de participao nas diferentes
instncias da gesto cooperativa.
Portanto, se na autogesto cooperativa a representatividade entre os
produtores equilibrada, j que cada associado tem direito a um voto independente
do seu volume de produo, espera-se que esteja a a oportunidade do pequeno
produtor defender os seus interesses por meio de uma maior participao nas
tomadas de decises. Uma maior participao deste grupo seria tambm uma forma
de mudar o status quo de grande parte de pequenos produtores de leite. Portanto,
espera-se que a cooperativa incentive a participao de produtores na sua estrutura
de gesto para que essas diferenas sejam melhor niveladas.
29
3. REFERENCIAL CONCEITUAL E ARGUMENTATIVO
A construo do conhecimento requer um domnio conceitual bsico para que
a decodificao dos dados identificados possa se sustentar. Deste modo, Kopnin
(1978) argumenta que:
A teoria descreve e explica um conjunto de fenmenos, fornece o conhecimento dos fundamentos reais de todas as teses lanadas e reduz os descobrimentos em determinado campo e as leis a um princpio unificador nico sendo que a unificao do conhecimento em teoria realizada antes de tudo pelo prprio objeto e suas leis, determinando a relao entre juzos isolados, conceitos e dedues na teoria (KOPNIN, 1978, p.237).
Portanto, esta etapa tem o propsito de dar sustentao s idias e
argumentos para interpretar as prticas presentes no caso e nos discursos
vivenciados durante a pesquisa de campo. Primeiramente, faz-se uma reviso sobre
ao coletiva e como se fundamenta a Teoria da Escolha Racional, conforme
proposta de Mancur Olson (1999), de forma a dar base e direcionamento s outras
discusses do trabalho. Em seguida, h uma abordagem conceitual e prtica sobre
participao e ao final completa-se com argumentos sobre cooperao e capital
social, apresentados como correes para os dilemas de ao coletiva.
3.1. Ao Coletiva 3.1.1 Ao Coletiva e benefcios pblicos
Dificilmente conseguiramos que as pessoas participassem com igual
dedicao, empenho e motivao em algo que venha a ter o mesmo benefcio e
resultados para todos. Pois o indivduo age segundo seu prprio interesse, com o
fim de maximizar seus benefcios. Essa suposio est fundamentada na Teoria da
Escolha Racional proposta por Olson (1999) e corroborada por Elster (1994) ao
afirmar que os problemas de ao coletiva surgem porque difcil conseguir que as
pessoas cooperem para benefcio mtuo. Segundo Olson (1999), o comportamento
centrado nos prprios interesses em geral considerado a regra pelo menos quando
h questes econmicas criticamente envolvidas. Neste raciocnio, justifica-se que
numa cooperativa no h de se esperar que todos os scios tenham o mesmo
empenho para o seu desenvolvimento, assim como, difcil que todos consigam
30
usufruir dos resultados alcanados. Isso um dilema vivenciado no cooperativismo
que se origina por diversas situaes, as quais sero discutidas neste captulo.
Esta seo inicia-se por apresentar a definio do termo ao coletiva e bem
pblico, cujos sentidos sero trabalhados no decorrer desta dissertao.
O termo ao coletiva foi difundido por Olson (1999), em sua obra A lgica
da ao coletiva que, dentre outros argumentos, analisa os custos e benefcios
provenientes da participao individual em atividades coletivas, bem como
problematiza as possveis relaes entre o tamanho, a coerncia, a eficcia e a
atratividade dos grupos nesse processo.
Uma ao coletiva surge basicamente para solucionar necessidades geradas
por dois fatores, oportunidades e desejos, ou seja, pelo que as pessoas podem fazer
e pelo que querem fazer (ELSTER, 1994). Deste modo, mesmo que as pessoas
difiram em seus desejos, assim como em suas oportunidades, os desejos humanos
podem ter pontos comuns aos apresentados individualmente.
Quando estes pontos comuns so reconhecidos pelos indivduos, ocorre o
que Marx chamaria de adquirir "conscincia" (OLSON, 1999). A partir desses pontos
comuns os homens planejam uma ao coordenada conforme seus prprios
interesses. Essa atuao, portanto, recebe o nome de ao coletiva. A ao coletiva,
desta forma, seria a maneira pela qual o individuo se faz presente nos sistemas
abstratos, reforando a sua capacidade transformadora desde que consiga agir em
coletividade. (ASENSI, 2006).
Para Olson (1999), h trs tipos de situaes tericas (ou ideais) em que os
indivduos podem estar frente ao coletiva. No primeiro caso, em que grupos de
indivduos j adquiriram ou no a conscincia do interesse que partilhado por
todos, mas os custos de empreenderem na ao so maiores em relao aos
benefcios que tero. Neste caso, a ao coletiva invivel. De outra forma, os
indivduos j compartilham objetivos, mas os custos para consecuo do benefcio
so da mesma proporo que tero de retorno se empreenderem a ao. Neste
caso, a possibilidade de ao coletiva baixa. Emoutra situao, os benefcios da
ao coletiva so muito maiores do que os custos individuais. Neste caso, h
existncia de grupos sociais com potencialidade de ao coletiva, que so os grupos
organizados.
31
A ao coletiva necessria para a conquista de espaos da cidadania e da
democracia que requerem mobilizao social. Com esse objetivo, h aes coletivas
que vm sendo desenvolvidas por diferentes atores e sujeitos sociais: movimentos
de mulheres, de jovens, de direitos humanos, ecolgicos e as mobilizaes
pacifistas so exemplos de aes coletivas, cujas formas de articulao, mobilizao
e luta expressam as caractersticas prprias dos movimentos e aes coletivas da
contemporaneidade (QUEIROZ, 2003).
Ramirez e Berdegu (2002) entendem a ao coletiva como uma estratgia
instrumental, orientada a alcanar resultados. Neste enfoque estes autores
destacam trs objetivos da ao:
(a) melhorar os ingressos ou outra dimenso do bem-estar material imediato aos grupos envolvidos; (b) modificar as relaes sociais no interior de uma populao especfica e, particularmente, as relaes de poder e, (c) influenciar sobre as polticas pblicas, para ampliar as oportunidades de desenvolvimento e enfraquecer ou superar os sistemas de excluso e de discriminao (RAMIREZ E BERDEGU, 2002, p.2)
Outros elementos que os autores supracitados entendem ser de uma viso
realista sobre ao coletiva so:
(1) a ao coletiva no se justifica por si s, o que faz pertinente e necessrio nos perguntarmos pela sua eficcia; (2) a ao coletiva no substitui a ao e a responsabilidade individual, mas precisa dela e, ao mesmo tempo, a pertencia e, (3) a ao coletiva no ubqua e permanente, mas sim acidental. (RAMIREZ E BERDEGU, 2002, p.2).
A ao coletiva, portanto, capaz de promover:
(a) desenvolvimento das capacidades dos indivduos (capital humano); (b) fortalecimento organizacional; (c) construo de redes e alianas sociais e, (d) profundizao de normas e valores (tais como a solidariedade, a reciprocidade, a confiana) que contribuem ao alcance do bem comum (capital social). (RAMIREZ E BERDEGU, 2002, p.3,).
Mas de modo geral, o envolvimento dos indivduos que vai dar maior ou
menor potencialidade consecuo dos objetivos pretendidos numa ao coletiva.
Portanto, importante o entendimento sobre o comportamento dos indivduos. E
nessa direo que Olson (1999) iniciou sua investigao sobre a participao
individual na ao coletiva, conforme exposto neste trecho da sua obra:
A idia de que grupos sempre agem para promover seus interesses supostamente baseada na premissa de que, na verdade, os membros de um grupo agem por interesse pessoal, individual. Se os indivduos integrantes de um grupo altruisticamente desprezassem seu bem-estar pessoal, no seria muito provvel que em coletividade eles se dedicassem a lutar por algum egostico objetivo comum ou grupal. Tal altrusmo de qualquer maneira, considerado uma exceo, e o comportamento centrado nos prprios interesses em geral
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considerado a regra, pelo menos quando h questes econmicas criticamente envolvidas.(OLSON, 1999, p.13).
Essa viso caracteriza o individualismo metodolgico ou comportamento
utilitarist
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