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ACESSIBILIDADE E DESENHO UNIVERSAL: CONCEITOS, LEGISLAÇÃO E MÉTODOS APLICÁVEIS À ARQUITETURA DE
INTERIORES
Rosa Maria Locatelli Kalil (1); Luiz Roberto Medeiros Gosch (2); Adriana Gelpi (3) (1) Arquiteta, Doutora em Arquitetura e Urbanismo, professora da Universidade de Passo Fundo,
(2) Arquiteto, Mestre em Desenho Urbano, professor da Universidade de Passo Fundo. (3) Arquiteta, Doutora em Arquitetura e Urbanismo, professora da Universidade de Passo Fundo
RESUMO (12 PTS NEGRITO)
Este trabalho apresenta resultados de atividade acadêmica sobre acessibilidade e desenho universal, enfocando conceitos, legislação e procedimentos metodológicos de avaliação pós-ocupação de ambiente universitário por meio da técnica walkthrogh. Desenvolvido como atividade da disciplina Acessibilidade e Design Universal do curso de pós-graduação Especialização em Arquitetura de Interiores na Universidade de Passo Fundo. Apresentam-se a fundamentação teórica, os pressupostos metodológicos e os resultados parciais obtidos a partir de propostas de para os espaços analisados. Constata-se, que mesmo em uma edificação de ensino superior em Engenharia e Arquitetura, na qual a aplicação da legislação é parte do processo ensino-aprendizagem em trabalhos de projeto arquitetônico, paisagístico e urbanísticos, os ambientes não se encontram adequados ao desenho universal. Muitas barreiras necessitam serem vencidas, tanto no processo educativo, quanto na aplicação nos ambientes construídos.
ABSTRACT
This paper presents the results of academic activity on accessibility and universal design, focusing on concepts, laws and methodological procedures for post-occupancy evaluation of university environment through technical walkthrogh. It was conducted as an activity of the discipline Accessibility and Universal Design of post-graduate specialization in Interior Architecture from the University of Passo Fundo. They present the theoretical foundation, the methodological assumptions and the partial results obtained from the areas proposed for analysis. It appears that even in a building of higher education in Engineering and Architecture, in which law enforcement is part of the teaching-learning process at work in architectural design, landscape and urban, the environments are not suitable for universal design. Many barriers must be overcome, both in the educational process, as the application in the built environment
1. INTRODUÇÃO
A questão da acessibilidade e do desenho universal torna-se imprescindível quando se busca a organização de espaços
que atendam às necessidades dos usuários de forma universal. A internalização dos seus conceitos e das possibilidades
de projetar ou adaptar aos ambientes a esses conceitos tem-se se verificado difícil em pessoas que não apresentam
deficiências ou não vislumbram outras pessoas em situações de insegurança, desrespeito ou impossibilidade de
desempenhar as atividades cotidianas. A vivência pessoal de situações que restringem a acessibilidade para todos é
uma das modalidades de conscientização e levantamento de dados concretos para fundamentação de propostas de
projeto arquitetônico de ambientes.
Com o objetivo de desenvolver prática em disciplina de formação de arquitetos especialistas em Arquitetura de
Interiores na UPF, na disciplina Acessibilidade e Design Universal, tomou-se como diretriz pedagógica, o
desenvolvimento de exercício aplicado de avaliação pós-ocupação como ferramenta para levantamento de necessidades
para adaptação de ambientes de interiores, bem como a proposição de recomendações e de sugestões projetuais. Para
tanto, foi realizada a aplicação da técnica de percurso guiado (walkthrough) em ambientes interiores com foco na
acessibilidade e no desenho universal. O trabalho foi desenvolvido em grupos de alunos, no prédio G1 da Faculdade de
Engenharia e Arquitetura da Universidade de Passo Fundo, no período de agosto a setembro de 2008.
Este trabalho relata os pressupostos teórico-metodológicos da atividade, os resultados obtidos e discute as
conveniências de sua aplicação em cursos de pós-graduação, como forma de capacitar e habilitar profissionais para a
execução dos requisitos legais de acessibilidade e desenho universal
2. CONSTRUINDO TEORIA E MÉTODO
Entende-se acessibilidade universal ou integral como o direito de ir e vir de todos os cidadãos, inclusive daquelas
pessoas com deficiências permanentes ou ocasionais, quer seja cadeirantes, deficientes visuais ou auditivos, gestantes
ou idosos, e de transitar e acessar todos os espaços da cidade, prédios públicos e institucionais, de usar transporte e
equipamentos públicos, como telefones, sanitários, rede bancária, etc. Acessibilidade é “possibilidade e condição de
alcance, percepção e entendimento para a utilização com segurança e autonomia de edificações, espaço, mobiliário,
equipamento urbano e elementos” (ABNT, 2004). Podemos constatar, ao reportarmos estas atividades para o cenário de
nossas cidades, as dificuldades encontradas pelo cidadão portador de deficiências, para vivenciar um ambiente urbano
que exige interações produtivas entre os indivíduos, mesmo na mais restrita vizinhança.
A abordagem deste trabalho foi desenvolver e aplicar uma metodologia de ensino-aprendizagem sobre o tema da
acessibilidade e do design universal baseada na vivência dos educandos de situações em ambientes reais e a sua
intervenção na proposição de soluções. No campo teórico, foram analisados inúmeros estudos e pesquisas realizados
sobre a temática, em âmbito internacional como os estudos de Van der Voordt (1997) na Holanda, Coriat (2004) na
Argentina e Preiser na América do Norte. No caso brasileiro, tomaram-se pesquisadores como, Guimarães (1996),
Duarte (2002), Moreira e Ribeiro (2002), Ornstein e Roméro (2003), dentre outros de instituições de ensino e pesquisa
de todo o território nacional, especialmente as abordagens no campo escolar e institucional. Outras fontes importantes
de informação são as páginas da internet de organismos governamentais e não-governamentais de apoio às pessoas com
deficiência e de defesa dos direitos humanos e de cidadania (SACI, Gente Especial, etc.).
O Ministério das Cidades e o Ministério da Justiça, dentre outros, têm tratado com veemência do tema, por meio de
legislações, manuais informativos e divulgação pública, por vários meios de comunicação, tanto dos direitos dos
cidadãos em relação à acessibilidade e mobilidade, quanto dos deveres dos organismos governamentais e da sociedade
civil. Na Constituição do Estado do Rio Grande do Sul, foi aprovada emenda constitucional que determina que “É
competência do Município, além da prevista na Constituição Federal e ressalvada a do Estado, promover a
acessibilidade nas edificações e logradouros de uso público e seus entornos, bem como a adaptação dos transportes
coletivos, para permitir o acesso das pessoas portadoras de deficiências ou com mobilidade reduzida. (RIO GRANDE
DO SUL, 2008). Mas infelizmente, apesar da abrangente legislação, a sua validade não têm tido a suficiente divulgação
de massa, como seria necessário para atingir a população em geral e fazer valer e aplicar a legislação já vigente e não
cumprida. Portanto, ações em todos os níveis e âmbitos sociais são necessárias para permitir o avanço mais rápido da
acessibilidade universal em nossas cidades (KALIL, 2005)
Em nível acadêmico, a determinação do governo federal, delegando às escolas de arquitetura deveres em relação ao
ensino e à aplicação dos dispositivos legais em instituições de ensino, levou-nos a organizar a disciplina de
Acessibilidade e Desenho Universal de modalidade teórico-prática. Para tanto, tomaram-se procedimentos
metodológicos da avaliação pós-ocupação (APO) de ambientes construídos, ferramenta para a análise crítica da
satisfação dos usuários de um ambiente construído que identifica as necessidades espaciais tendo em vista a diversidade
humana. Pode se valer de estudo de caso por amostragem, jogos, vivências, experimentos, modelos, workshops e outras
técnicas (ORNSTEIN, 1992).
Organizou-se um estudo de caso com foco na acessibilidade e no desenho universal, tomando como objeto o edifício G1
da Faculdade de Engenharia e Arquitetura da UPF. O estudo foi realizado por turma de 26 alunos-profissionais,
arquitetos urbanistas, que realizaram simultaneamente a avaliação técnica e também a avaliação comportamental. A
avaliação técnica foi realizada com métodos e técnicas de análise e verificação de barreiras físicas, visuais, auditivas e
outras em ambientes selecionados. A avaliação comportamental foi realizada por meio da simulação de situações de
uso dos diversos ambientes, vivenciando a acessibilidade dos mesmos em situações próximas do real.
A avaliação técnica utilizou como técnica o levantamento de campo expedito, tipo walkthrough, ou seja, observação em
percurso guiado e entrevistas circulantes em 29 de agosto de 2008. A avaliação comportamental foi realizada
simultaneamente com os alunos-investigadores utilizando cadeiras de rodas, muletas, vendas e outras simulações de
pessoas com deficiência nos diversos ambientes, sendo resultados do diagnóstico anotados em planilhas previamente
elaboradas. Durante o mês de setembro, o grupo sintetizou e sistematizou os achados do diagnóstico, elaborando
propostas e recomendações. Foram consultados as normas técnicas e o repertório de soluções obtido na revisão do
estado da arte em acessibilidade e desenho universal. A seguir foram realizados os projetos arquitetônicos para
adaptação e melhorias nos ambientes existentes. Houve apresentação oral e gráfica dos resultados com uso de
multimídia dos diagnósticos e proposições dos seis grupos de trabalho nos seguintes ambientes:
� Acessos, saguão e secretaria. � Lancheria no saguão principal. � Salas de aula teóricas e de informática. � Acessos horizontais e elevadores. � Sanitários e vestiários. � Ateliê de projeto e circulações.
3. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS DA AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO
Os resultados estão s divididos pelos grupos de trabalho, que orientaram as atividades, mas que não se limitaram a isso.
Foram selecionadas as reflexões e propostas mais relevantes de cada grupo, como exemplo. A atividade didática teve
excelente receptividade e foi realizada com entusiasmo pelos grupos de trabalho, inclusive envolvendo outros usuários
do prédio durante o percurso guiado.
Ao mesmo tempo em que vivenciavam as situações, foram sendo selecionados critérios para projetos com
acessibilidade e desenho universal. Foram verificadas as relações entre os usuários e os espaços, e quais os esforços a
tomar para adaptar os espaços às capacidades e necessidades de todos os usuários.
Espaço acessível tem de reunir todas as condições para que todas as pessoas o utilizem comodamente, inclusive as que
tenham deficiência ou mobilidade reduzida, atividades previstas podem ser executadas com segurança e autonomia.
Embora os parâmetros de acessibilidade nas normas estejam mais centrados nas questões do uso de cadeiras de roda, e
os espaços para circulação, manobras e transferência, houve que se considerarem as limitações de alcance visual e
manual.
3.1 Espaço de acessos, saguão e secretaria
O estudo de caso 1 foi realizado nos espaços de acesso, no saguão e na secretaria. Abrangeu o percurso desde a parada
de ônibus até a entrada do prédio G1, hall de entrada, saguão com webspace, telefone público, secretaria e balcão de
atendimento aos alunos. Foram realizados levantamento fotográfico e levantamento planimétrico das rampas, do
mobiliário, os quais foram comparados com as orientações das normas técnicas (figura 1) (CAVALETTI et al., 2008).
(a) Experimentação do uso do webspace no saguão do prédio G1
(b) Análise das dimensões recomendadas para espaços de trabalho na norma NBR 9050
Fonte: Cavaletti et al., 2008 Figura 1 – Comparativo entre o levantamento e as recomendações das normas técnicas
Para cada problema levantado, foram analisadas as situações relativas à acessibilidade e propostas as soluções,
conforme constante no Quadro 1
Quadro 1 - Síntese de problemas e situações no acesso, circulações e secretaria
Problemas levantados Situação de acessibilidade Solução proposta
Inexistência de percurso com piso tátil (textura e cor diferenciada)
Dificuldade de acesso e circulação de pessoas com deficiência física, sensorial e visual.
Criação do percurso com piso tátil direcional e piso tátil de alerta
Falta de plano e mapa tátil no hall Dificuldade de localização de salas e serviços.
Criação de planos e mapas táteis, no hall do prédio
Sem sinalização de piso ao redor de pilares e telefone público
Dificuldade de circulação, risco de acidentes, dificuldade de acesso ao telefone
Utilização de piso tátil de alerta a 0,60cm dos pilares e telefone.
Inclinação da rampa: inclinação inadequada,
Inadequada, dificultando a descida e subida Inclinação recomendável segundo a NBR9050: inclinação 8,33%
Móvel do webspace com altura h=0,94cm,
Inadequada, dificultando a visualização do teclado.
Altura recomendável segundo a NBR9050: 0,75 a 0,85cm
Balcão de secretaria com profundidade livre inferior h=0,25cm,
Inadequado, dificultando a entrada com as pernas e o atendimento
Profundidade recomendável segundo a NBR9050: 0,30cm
Fonte: CAVALETTI et al., 2008.
O grupo propôs alterações no espaço com colocação de pisos podotáteis, faixas de travessia, mapa tátil e adaptação de
mobiliário . Foram incluídos na proposta os diversos esquemas de adaptação de pisos e outros elementos. Baseou-se
especialmente na norma técnica que considera acessibilidade como sendo a “possibilidade e condição de alcance,
percepção e entendimento para a utilização com segurança e autonomia de edificações, espaço, mobiliário, equipamento
urbano e elementos” (ABNT, 2004).
3.2 Espaço de lancheria no saguão principal
O estudo de caso 2 foi realizado no espaço de bar e lancheria no saguão do prédio G1. Abrangeu o levantamento
planimétrico e fotográfico dos espaços e do mobiliário e a análise dos espaços livres, das mesas com cadeiras e do
balcão de atendimento. Nesse estudo foi aplicada a lista de verificação e foram detectados os problemas sintetizados no
quadro 2 (FIUZA et al, 2008):
Quadro 2: Síntese de problemas e situações no espaço de bar e lancheria
Problemas levantados Situação de acessibilidade
Balcão de atendimento alto-1,13m; Balcão caixa alto- 1,13 m; Balcões altos dificultam a visualização e o atendimento ao cadeirante.
Portão acesso ao interior do bar– 42 cm largura Difícil acesso ao interior do bar- Mesas com apoio central e altura livre de 71,5 cm. Mesas inadequadas em relação a altura e pernas com apoio
central Cardápios e anúncios em língua portuguesa, atendimento oral Nenhuma preocupação com o atendimento a deficientes visuais
ou auditivos Fonte: FIUZA et al, 2008
Baseados na legislação e na literatura foram propostas as modificações constantes na Figura 1 (b), que compreenderam:
Balcão de atendimento com altura diferenciada H= 90cm e 1,05cm; Balcão do caixa baixo h= 90cm; Portão acesso ao
bar – 80cm de largura; Mesas com altura livre do piso 73cm; Piso tátil de alerta para limitar o bar; Cardápio em braile;
Pessoal treinado- libras- língua dos sinais.
Nesse caso, ressalta-se que a proposição extrapolou a questão da organização do espaço, contendo recomendações
quando ao atendimento de pessoas com deficiência, na linguagem em braile e na língua brasileira de sinais. O grupo
concluiu o estudo com um chamado aos profissionais. De fato,
somos possivelmente a primeira geração comprometida com os direitos de igualdade e, desse modo, devemos enfrentar o desafio de criar um ambiente público que seja verdadeiramente integrador e acessível a todos [...] Necessitamos dar-nos conta de que o espaço público, inclusive as nossas instituições semi privadas, escolas, universidades, centros comerciais, sejam acessíveis para todos e que sejam projetados partindo da maior exigência qualitativa (ROGERS, 2000, p. 152-153).
(a) Lay out existente (b) Lay out proposto Fonte: FIUZA et al, 2008
Figura 2: Espaço de lancheria e bar no saguão do prédio G1
3.3 Espaços de salas de aula teóricas e de informática
O estudo de caso 3 foi realizado nos espaços de salas de aula teóricas e de informática do prédio G1. Abrangeu o
levantamento planimétrico e fotográfico dos espaços e do mobiliário e a análise dos espaços livres, das mesas com
cadeiras, da disposição do mobiliário, dos acessos nas portas das salas e das sinalizações e proteções (ZATTI et al,
2008). Foram tomados como conceito o questão do uso de novas tecnologias e a necessidade de inclusão, propiciadas
pela acessibilidade espacial, conforme exposto: “O surgimento de novas tecnologias trás consigo alto poder de inclusão
ou exclusão das pessoas no seu ambiente. Acessibilidade é definida como facilidade na aproximação, no trato ou na
obtenção” (FERREIRA, 1986 apud ZATTI, 2008). O grupo recomenda o acesso aos espaços de ensino deve ser
assegurado, tanto quanto possível, sem discriminações ou exclusões, para todas as categorias de usuários (alunos,
docentes e funcionários), sendo necessário considerar as características e exigências próprias dos cidadãos com
necessidades especiais. As análises foram realizadas na forma de relato, seguida da recomendação e de ilustrações com
a sugestão de solução para os problemas detectados.
Figura 3 – Seleção de mobiliário adequado para sala de aula teórica de acordo com as normas técnicas
Ao analisar o acesso à sala de aula teórica foi encontrada ausência de rota acessível (um percurso categorizado como
totalmente acessível), sendo necessário para a pessoa com deficiência solicitar chave do elevador, não podendo agir de
forma independente e com autonomia. Não foi encontrado mobiliário adequado para pessoas com necessidades
especiais, nem tablado com rampa e corrimão, para apresentação das aulas por pessoa com deficiência. Outra
deficiência foi a ausência de dispositivos adaptados nas aberturas, janelas e portas. Dentre as principais recomendações,
baseadas as normas técnicas foram detalhadas em quadro geral (ZATTI et al, 2008):
O grupo concluiu que as análises dos resultados permitiram a criação de parâmetros que visam a inclusão espacial de
pessoas com deficiência. Dessa forma, foi possível esboçar estratégias de atuação para a criação de espaços acessíveis.
Todos os espaços acadêmicos devem ser democratizados de forma que possam ser compreendidos e utilizados pelos
cidadãos com necessidades especiais. Cabe aos responsáveis pelos espaços de ensino determinar que sejam adotadas as
soluções técnicas adequadas para que este objetivo seja alcançado (ZATTI et al., 2008).
3.4 Espaços de acessos e elevadores
O estudo de caso 4 foi realizado nos espaços de acessos, circulações horizontais, verticais e elevador do prédio G1.
Abrangeu o levantamento planimétrico e fotográfico dos espaços e equipamentos e a análise dos espaços livres, dos
corredores, da disposição do mobiliário, dos acessos às escalas, saguões e elevador. Neste estudo foi analisada cada
situação, se adequada ou inadequada quanto à acessibilidade, e sugeridas as recomendações baseadas nas normas
técnicas (MARITAN et al, 2008).
O grupo identificou em desenhos de planta baixa os pontos em análise (fig. 4). A seguir, indicou os que apresentavam
desconformidade e os que estavam adequados. Para os aspectos problemáticos, foram sugeridas as soluções da norma
técnica. Os aspectos analisados abrangeram vãos para circulação, portas, corredores, escadas, elevador e outros
elementos dos espaços de uso comum (MARITAN et al, 2008).
Fonte: MARITAN et al, 2008 Figura 4 – Planta baixa do pavimento térreo com indicação dos pontos em análise
3.5 Espaço de sanitários e vestiários
O estudo de caso 5 foi realizado nos espaços de sanitários públicos e vestiário do prédio G1. Abrangeu o levantamento
planimétrico e fotográfico dos espaços e equipamentos e a análise dos espaços livres, dos corredores, da disposição do
mobiliário, dos acessos às escalas, saguões e elevador. Neste estudo foi analisada cada situação, se adequada ou
inadequada quanto à acessibilidade, e sugeridas as recomendações baseadas nas normas técnicas (GERVÁSIO et al.,
2008).
Em visita técnica, foi constatado que os sanitários existentes estão regularmente adequados, quanto a áreas de manobras
e aparelhos adaptados. Contudo, os ambientes não apresentam sinalização para deficientes visuais, nem maçanetas
adequadas. A situação mais inadequada é o que o mesmo não permite a utilização por estar sendo utilizado como
depósito de material de limpeza (GERVÁSIO et al., 2008).
Para a proposta de adaptação o grupo utilizou como referência para adaptação de sanitário a área de manobra de cadeira
de rodas e o alcance manual frontal, com movimentação do usuário. Outro aspecto abordado foi a informação visual,
sinalização tátil e maçaneta, áreas de abertura de portas, barras de apoio e piso adequado. Em relação aos lavatórios,
proposta de que sejam suspensos, em altura especial e com área livre na parte inferior frontal, sem interferência de
colunas, gabinetes ou sifões, com acessórios adequados (ABNT, 2004). Em relação ao espaço para boxes (incluído na
proposta de adaptação de vestiário), foi proposta área de transferência externa, espaço para transposição para o banco
articulado ou removível, dimensões mínimas, superfície antiderrapante impermeável, chuveiro com desviador e outras
(fig. 5).
Acesso Principal
Acesso Secundário
Corrimão Escada
Sinalização Telefone Público
Mapa Tátil Saguão Principal
Sinalização Tátil no Piso
(a) Levantamento de sanitário para pessoas com deficiência
(b) Proposta de Adaptação de banheiro com vestiário
Fonte: GERVÁRIO et al., 2008.
Figura 5 - Avaliação do sanitário do pavimento térreo e proposta de adaptação
Sobre a realização do levantamento em situação de deficiência, o grupo pode vivenciar a impossibilidade de caminhar,
enxergar e movimentar-se livremente. As condições das pessoas com deficiência num ambiente universitário
inadequado, ou em condições mal adaptadas prejudicam o seu desenvolvimento humano. Além disso, em função da
idade, estado de saúde, estatura e outros condicionantes, muitas pessoas têm necessidades especiais para realizar seus
deslocamentos, receber informações, chegar até terminais e pontos de parada, entrar nos veículos ou simplesmente
transitar pelos espaços tanto públicos quanto privados, desenvolvendo suas atividades. Para todos, portanto é necessária
a adaptação para garantir a equidade e acessibilidade de todos aos ambientes universitários.
3.6 Espaço de atelier de projeto e circulações
O estudo de caso 6 foi realizado nos espaços de sanitários públicos e vestiário do prédio G1. Abrangeu o levantamento
planimétrico e fotográfico dos ambientes, da disposição do mobiliário, acessos, espaços livres, portas. Neste estudo foi
analisada cada situação a partir da planilha (Anexo A), se adequada ou inadequada quanto à acessibilidade, mobiliário
(quadro 4), sinalização, instalações elétricas, dentre outras, e sugeridas recomendações baseadas nas normas técnicas
(FACCIN et. al., 2008).
As situações inadequadas foram verificadas quanto a cadeirantes, pessoas com andador, com muletas, cegas, com
bengala ou cão guia, e mobilidade reduzida. Algumas tiveram atendimento parcial, outras não tiveram atendimento.
Foram observadas deficiências nas circulações internas nos atelier de projeto, dificuldade de utilização de tomadas e
interruptores, falta de acesso ao quadro branco, mesas de desenho
Com base nos resultados, foi proposto layout reorganizando o atelier de projeto para utilização com acessibilidade para
mesas de computadores, mesas de desenho de professor e estrado de quadro com plataforma móvel, em atendimento às
atividades atuais de projetação (fig. 6).
Fonte: Fonte: FACCIN et. al., 2008. Figura 6 – Proposta de layout para ateliê de projeto com mesas de desenho e computadores
Em termos de conclusão, o grupo entendeu que um espaço que deveria ser de uso comum, torna-se inacessível para
pessoas especiais. Pessoas que requerem muito mais carinho e atenção são vetadas de vivenciar experiências e
atividades diárias por simples descuido e desatenção de pessoas que, por serem a maioria neste mundo, não lhes dão a
atenção merecida. [...] Acreditamos que as normas devem ser aplicadas e cobradas pelos órgãos competentes, para que
estas pessoas especiais não sejam mais privadas de atividades simples e corriqueiras. Que devem ser cobradas atitudes
tanto na adaptação das edificações existentes quanto nos projetos de novas edificações (FACCIN et. al., 2008).
Ao mesmo tempo, a análise de um único ambiente educacional, apresentando tantos itens não atendidos, em toda a
edificação e no restante do campus a situação deve ser muito pior. E na cidade inteira? Destaca-se que “se uma
universidade, que visa agregar cada vez mais alunos, não está apta a receber pessoas deste tipo, o que podemos dizer
das nossas cidades?”
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em relação ao procedimento metodológico, a experiência foi positiva, demonstrando que de forma rápida e efetiva
podem ser capacitados profissionais de arquitetura e urbanismo para a adaptação e qualificação dos ambientes de
instituição de ensino. A avaliação durante o processo de utilização dos ambientes, seres humanos e atividades,
realizadas com a técnica da APO, obteve diagnósticos reais que colaboram nas reabilitações e reformas dos próprios
ambientes objeto dos estudos de caso e na elaboração de diretrizes para projetos futuros.
Os resultados dos relatórios e projetos contêm recomendações para adaptações e melhorias na acessibilidade do
ambiente existente, que podem ser replicadas para outras edificações e outras instituições de ensino, criando padrões de
acessibilidade e desenho universal.
Em relação ao aporte teórico de fundamentação, verificou-se que as publicações disponíveis são suficientes e adequadas
quanto às recomendações para suprir as necessidades técnicas. Contudo, para detalhamento de projetos, há demanda de
manuais técnicos, pois quando existentes são pouco difundidos entre os profissionais, do mesmo modo que os materiais
de revestimento e outros adequados aos padrões de acessibilidade e desenho universal pouco disponíveis no mercado.
Nesta situação, como em outras anteriores (KALIL, 2004), a APO como método de análise da acessibilidade reuniu as
avaliações de ambiente e de comportamento de forma. Avaliação, utilizado em relação ao ambiente construído, como
busca do conhecimento sobre esse ambiente, na relação com os seres humanos, seus usuários e também participantes de
sua construção, produz adequações que podem ser implementadas imediatamente ou servir como diretrizes para
projetos de novos ambientes acessíveis. Pode-se prever que a certificação de acessibilidade terá como ator fundamental
o arquiteto urbanista. Para tal, urge que o mesmo se qualifique rigorosamente nas questões técnicas e profundamente
nas questões de inclusão social ou outras de cidadania.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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