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Treze Tílias:
Um assentamento de imigrantes austríacos no Brasil,
durante a Grande Depressão.
Katrin Achrainer
Publicado por Prof. Klaus Eisterer, Universidade de Innsbruck
com o apoio da Embaixada da Áustria no Brasil
Janeiro 2008
Katrin Achrainer
Treze Tílias
Um assentamento de imigrantes austríacos
no Brasil, durante a Grande Depressão.
Prefácio.
O projeto “Treze Tílias” é o único plano de colonização
austríaco bem sucedido, no período de entre as duas Guerras
Mundiais, no Brasil. O assentamento foi fundado pelo ex ministro da
agricultura da Áustria, Andreas Thaler, no ano de 1933. Ele
desenvolveu este plano de emigração num momento em que o auge
da emigração austríaca já tinha passado, e numa fase em que as
políticas de imigração para destinos tais como os Estados Unidos da
América e os países da América Latina tinham se tornado mais
restritivas, como resultado da crise econômica mundial. Outro
aspecto especial do projeto residia no fato de que o seu principal
grupo-meta era a população rural, algo que não foi típico das
políticas de emigração da década de 20. 1
A primeira parte do presente artigo descreve o
desenvolvimento do projeto, desde as primeiras idéias de Thaler, até
a realização de fato do assentamento. A segunda parte descreve o
desenvolvimento de Treze Tílias desde os seus começos em 1935
até a eclosão da Segunda Guerra Mundial. Este artigo termina com
um postscriptum sobre o período transcorrido depois do fim dessa
guerra. Antes de tudo, porém, é mister dar uma breve olhada na
biografia de Andreas Thaler, assim como no contexto histórico geral
de seu tempo.
Andreas Thaler, o fundador de Treze Tílias.
Andreas Thaler nasceu no dia 10 de setembro de 1883 em
Wildschönau, no Tirol. Seus pais eram agricultores, e ele foi o mais
jovem de seus seis filhos. Depois de freqüentar a escola primária em
sua aldeia natal, ele passou a freqüentar a escola em Salzburgo
durante dois anos. Mais tarde foi para o Franziskanergymnasium, o
ginásio mantido pelos frades franciscanos em Hall, no Tirol, porque
tinha a intenção de abraçar a carreira religiosa. Aos quatorze anos
de idade, contudo, ele foi posto para fora da escola, devido às suas
notas baixas, e passou a trabalhar como trabalhador rural. 2
Passados alguns anos, ele pôde comprar o seu próprio
estabelecimento rural, que foi chamado de “Borstadl”. Ficava em
Wildschönau, a 1.200 metros de altitude. Em fevereiro de 1914
casou com Gisela Thaler (ela tinha o mesmo sobrenome de solteira),
e, ao longo dos anos, o casal teve quatorze filhos.
Andreas Thaler começou sua carreira política como prefeito
de Wildschönau durante a Primeira Guerra Mundial. 3 Em 1919 foi
enviado ao Tiroler Landtag, parlamento regional, como membro do
partido Tiroler Volkspartei. Durante os primeiros anos de sua
atuação política assumiu posições bastante radicais. Foi membro do
Andreas Hofer Bund, que combatia em favor da mudança do traçado
da fronteira na região do Brenner, tornou-se representante do Tiroler
Antisemitenbund, uma organização declaradamente anti-semita, e
teve funções de liderança na Tiroler Heimatwehr, uma organização
paramilitar de direita. Em 1924 foi eleito presidente do
Landeskulturrat, importante organização ruralista da época. Dois
anos mais tarde foi nomeado ministro da agricultura da Áustria.
Ocupou esse cargo de 1926 a 1929 e de 1930 a 1931. Entre 1927 e
1934 foi também membro do parlamento austríaco. Em 1929 ele se
tornou representante do Reichsbauernbund, uma organização
ruralista de alcance nacional, e um ano mais tarde, do Tiroler
Bauernbund, de alcance regional. Em termos gerais, Andreas Thaler
era um homem bem conhecido e bem sucedido na Áustria. 4
Contexto histórico e econômico.
A ampla crise econômica que se espalhou pelo mundo entre a
Primeira e a Segunda Guerra Mundial foi um problema que não
somente a Áustria teve que enfrentar; por cima dela houve uma crise
mais específica no setor agrícola. 5
As comunidades rurais nas regiões montanhosas da Áustria
foram especialmente afetadas porque as suas extensões eram muito
pequenas quando comparadas com as propriedades rurais nas
planícies e porque o seu foco principal era a pecuária. A queda dos
preços do leite, da carne e das batatas afetou-as fortemente. No
Tirol, muitos proprietários rurais estavam arruinados em meados das
décadas de 20 e 30. Em 1930, 75% das granjas estavam altamente
endividadas. Para salvar a sua existência, os proprietários tiveram
que cortar e vender as suas árvores como madeira, ou participar de
empreendimentos semelhantes, ou entrar em processo falimentar.
Como resultado da crise econômica geral e do aumento das taxas
de desemprego, havia pouquíssimas possibilidades de se encontrar
outras fontes de renda. 6
As dificuldades para os assim chamados “weichende
Bauernkinder”, os segundos e sucessivos filhos dos granjeiros,
constituíam-se num problema especial. A prática no Tirol era que o
primogênito herdasse a propriedade rural e tivesse que pagar tornas
aos seus irmãos (e irmãs). Devido à depressão, praticamente
nenhum dos primogênitos tinha dinheiro suficiente para pagar as
tornas. Essa falta de dinheiro, assim como as péssimas taxas de
juros, foram as razões que tornaram praticamente impossível que os
irmãos mais moços fundassem as suas próprias granjas. As chances
de conseguir um emprego como operário industrial ou como
trabalhador rural – as únicas alternativas – também eram muito
pequenas. Em conseqüência disso tudo, a situação desta pessoas
era desastrosa.
Andreas Thaler, que tinha estado na mesma situação e que
gerou também um grande número de filhos, queria melhorar a sua
situação, dando-lhes uma chance maior para soerguerem a própria
vida. Enquanto ministro da agricultura, tinha que lidar com a questão
da chamada Innenkolonisation: o reassentamento de populações
urbanas desempregadas em áreas rurais. Como um dos resultados
da Grande Depressão, muitas pessoas clamavam por tal
“reagrarização”, que foi apoiada por Thaler. 7 No início de 1928, ele
apresentou ao Conselho de Ministros um projeto de lei de
assentamentos. È interessante notar que, para ele, a
Innenkolonisation era entendida como um meio para salvar a
existência dos weichende Bauernkinder e não a dos desempregados
urbanos. 8 Os resultados desses esforços foram, contudo, fracos,
porque falhou o financiamento do projeto. 9
Em conseqüência disso, Thaler chegou à conclusão de que a
única maneira de resolver esse problema era uma emigração
organizada e unificada. Ela teria a vantagem de que os emigrantes
não perderiam seu “caráter nacional”, algo que lhe era muito caro. 10
Trabalhos preparatórios.
Os primeiros passos
Embora os políticos austríacos tivessem tentado apoiar a
emigração desde o início da década de 20, de fato não ocorreu
nenhuma emigração em massa. Os altos custos e as políticas
restritivas de imigração dos países de destinação foram duas das
principais razões para tanto. 11 Não obstante, o tema continuava a
ser discutido. Em 1927, as possibilidades de emigração para
Iugoslávia, Brasil e Canadá foram analisadas pelo Conselho de
Ministros. Neste contexto, Thaler, então ministro da agricultura,
apresentou um pedido de licença por um período de dois meses,
para fazer uma viagem estudos pela América Latina. Argumentava
que havia sido repetidamente interpelado a respeito de emigração
por segundos e terceiros filhos de agricultores e granjeiros. O pedido
lhe foi negado. Para além disso, o Conselho de Ministros salientou
explicitamente que era contrário a uma emigração para o Brasil,
devido à má situação econômica da República da Áustria e ao
elevado risco de tais projetos. 12
Mesmo assim, Thaler pediu no mesmo ano ao Conselho de
Ministros um subsídio de um milhão de xelins, para apoiar um
projeto de emigração organizada para agricultores e granjeiros
austríacos – sobretudo, tiroleses. Da mesma forma que ocorreu com
o seu pedido anterior, este também lhe foi negado. Ele também
apresentou o seu projeto de assentar mais de mil famílias na
América do Sul ao primeiro ministro Ignaz Seipel, que considerou
que não valia a pena discuti-lo. 13
Teimoso como todo bom tirolês, contudo, não foi possível
tirar-lhe essa idéia da cabeça. Apesar de todos os reveses
anteriores, Thaler planejava usar o seu período de férias para
excursionar pela América Latina. 14 O governo austríaco acabou
aprovando essa viagem, sob a condição de que Thaler atuasse
como um cidadão privado e não como representante do governo
austríaco. 15
Um ano antes de sua partida ele cometeu um grave erro.
Tinha entrado em contato com Peter Waller. Waller, que chamava a
si mesmo de Wodosch, estava planejando emigrar para Etiópia na
companhia de cerca de cem Wardanieri, – um povo criado por ele
mesmo e que ele acreditava pertencer à tribo dos francônios na
assim chamada Ostmark, a “Marca do Leste”. Todas as autoridades,
porém, rejeitaram sua intenção. 16 Waller publicou então um artigo
em que dizia que Thaler queria ir para Etiópia com ele. Isso trouxe
efeitos nocivos na opinião pública para a autenticidade e o
profissionalismo do projeto de Thaler. 17
No verão de 1928, Thaler foi para Argentina e Paraguai para
estudar as condições nesses dois países. Além de um clima
favorável, bons solos e a proximidade dos mercados, era
particularmente importante para ele que a unidade nacional dos
assentados não fosse ameaçada pelas pressões em prol de uma
assimilação. Ele quis contatar os representantes dos governos locais
e diversas companhias privadas de colonização. Embora tivesse
presumido que seria mais fácil estudar as condições para o
assentamento enquanto pessoa privada, o seu status extra-oficial
tornou mais difíceis seus contatos com as autoridades. Apesar de
suas intenções inicias, ele também visitou o Brasil, mas todos os
países que inspecionou pareceram-lhe inapropriados. Depois de seu
retorno a Áustria, Thaler não esteve em condições de fazer
nenhuma proposta concreta; e pelo lado do governo, havia a
convicção de que o projeto todo não podia ser financiado. 18
Em público, Thaler passou a argumentar que seria melhor as
pessoas ficarem em sua terra natal. 19 Não obstante, estava
convencido de que um projeto organizado e unificado de emigração
poderia ser bem sucedido:
“Pode-se começar uma emigração com sucesso apenas juntando grupos inteiros, comunidades coesas em seu país de origem. Se tivéssemos levado todas as 60.000 pessoas que deixaram a Áustria para um único país da América do Sul, colocando-os lá em aldeias, teríamos criado um grande trampolim para a Áustria no ultramar. É um crime pôr uma pessoa sozinha em meio ao jângal brasileiro ou paraguaio ou no campo argentino. Mas se cooperativas ou comunidades inteiras juntassem forças para realizar [o projeto] através de sua própria organização, então estou convencido de que isso poderia ser feito.”20 Contudo, ele desistiu do seu projeto e empreendeu outras
coisas.
Uma nova tentativa
Durante os anos seguintes, a situação econômica na Áustria
piorou. A quebra da bolsa de Nova York no dia 24 de outubro de
1929 causou uma crise de alcance mundial. Na Áustria, a situação
foi especialmente dramática. Como resultado da crise, a taxa de
desemprego cresceu, a produção industrial declinou e os preços
caíram. As conseqüências sociais também foram devastadoras,
porque a moradia e os meios de subsistência não mais estavam
garantidos. Devido a esta situação, Thaler começou a requentar
seus planos para um projeto de emigração. A charge a seguir ilustra
o que a população ficou sabendo dos novos planos de colonização
do ministro, em 1931.
Charge que ilustrava os planos de emigração de Thaler em 1931: “Se a gente vai ganhar dois milhões e tem que deixar a mulher em casa, então eu também vou junto!” Fonte: Wiener Sonn- und Montagszeitung, 2 de março de 1931.
O motivo disto estava em que em 1930 Thaler tinha voltado a
entrar em contato com Waller, que agora planejava uma emigração
para o Paraguai, depois de ter fracassado sua aventura na Etiópia. É
possível que Waller tivesse estabelecido os contatos entre Thaler e
as autoridades paraguaias. O contato entre Thaler e Waller ficou
sendo conhecido pela imprensa, o que tornou a ser nocivo para a
reputação de Thaler. 21
No início de 1931, Thaler deu uma conferência de imprensa
para desmentir notícias falsas e dar fim a boatos que tinham
aparecido nos jornais. 22 Ele anunciou que estava planejando um
projeto de emigração planejada; uma comunidade coesa de
assentados deveria ficar a serviço da Áustria. O destino dessa
comunidade de emigrados ainda não estava claro, mas Thaler dizia
que preferia o Paraguai. Do mesmo modo que já o fizera em 1929,
ele salientou que uma população emigrada poderia atingir melhores
resultados se a sua emigração ocorresse de forma organizada, e
não de maneira individual e desorganizada. Um aspecto novo do
plano de Thaler consistia em que agora ele queria abrir o
assentamento planejado não apenas a agricultores, mas também a
operários desempregados. Para o público, o aspecto mais fascinante
do plano era ele ter anunciado que tencionava vender todos os seus
bens no Tirol para juntar-se ao grupo de emigrantes, junto com sua
mulher e filhos. 23
No dia 18 de março Thaler renunciou ao seu cargo de ministro
da agricultura. Ao mesmo tempo, pediu ao governo austríaco um
subsídio de dois milhões de xelins. 24 Devido sobretudo à
correspondência entre Thaler e Waller, houve especulações no
sentido de sua renúncia não ter sido totalmente voluntária. O jornal
Volkszeitung, o mais importante órgão de imprensa do partido social-
democrata no Tirol, escreveu que Thaler tinha se tornado
politicamente intolerável para o seu partido, denominado Tiroler
Volkspartei, o que teria levado à sua expulsão 25.
Em 27 de março de 1931, o parlamento austríaco, o
Nationalrat, promulgou uma resolução segundo a qual Thaler foi
autorizado a fundar uma comissão para procurar por propriedades
rurais apropriadas na América do Sul. Caso Thaler apresentasse um
projeto concreto, o governo estaria disposto a discutir a questão de
uma subvenção. O Departamento da Fazenda concedeu a Thaler a
soma de 600.000 xelins para financiar essa excursão, assim como
uma licença do Nationalrat para seu ausentar do país durante cinco
meses. 26
Os planos de Thaler eram bastante radicais e, portanto, foram
amplamente discutidos pela opinião pública. As reações foram
diversas; havia tanto os céticos como os entusiastas. Os céticos
eram da opinião de que a emigração em si não era necessária,
porque havia espaço suficiente à disposição dentro das fronteiras da
Áustria. O seu principal argumento, contudo, era que o projeto todo
ficaria caro demais para o erário público. Mas mesmo os críticos
respeitavam a intenção de Thaler de emigrar junto com toda a sua
família. 27
Esse era o ponto principal. Se Thaler não tivesse tomado
essa decisão, seu projeto teria sido bem menos fascinante para o
público. O fato de ele estar disposto a abrir mão de uma existência
segura era muito impressionante. Thaler aproveitou claramente essa
fascinação, salientando quão difícil seria para ele deixar o seu pai,
de setenta e nove anos de idade, seus irmãos e suas irmãs, assim
como todos os seus bens, que ele tinha obtido com grandes
dificuldades. Além disso, ele dizia que não estava seguro de poder
assumir perante Deus a responsabilidade de pôr em perigo a vida de
sua esposa e dos seus então oito filhos. 28 Justificava sua decisão
com o argumento de que ele seria um “apóstolo inominável” se não
fosse emigrar ele próprio. Em suas declarações, salientava também
que o governo provincial do Tirol tinha lhe oferecido o cargo de
Landeshauptmann, ou seja, governador, mas que isso não lhe
interessava, porque naquele momento a sua única intenção era
organizar um projeto de emigração. 29
A segunda viagem de estudos
Em fins de abril de 1931, Andreas Thaler partiu para a sua
segunda visita à América Latina, juntamente com uma comissão.
Mais uma vez ele viajava com o status de pessoa privada, mas
desta feita foi apoiado pelo representante diplomático da Áustria no
Brasil, Anton Retschek, o que conferia um caráter oficial à sua
missão. Ao longo de um ano, a comissão visitou Chile, Paraguai,
Argentina e o estado de Santa Catarina, no sul do Brasil. 30
Depois de seu retorno em 1931, Thaler favoreceu o sul do
Chile, porque lhe pareceu geográfica e climaticamente semelhante
ao Tirol. 31 Era da opinião de que a proibição de imigração que havia
no Chile naquele momento não afetaria o seu propósito. 32 Thaler
recebeu muitas propostas para o seu projeto. A mais importante foi a
do Secretário do Emprego do Brasil. Ele ofereceu a Thaler áreas
rurais em Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro, que
seriam cedidas gratuitamente. Além disso, ofereceu a construção de
estradas de acesso e o transporte dos assentados do porto de seu
desembarque até a área do assentamento, que seriam pagos
também pelo Brasil. Contudo, Thaler recusou a oferta. 33 Ele tinha
entrado em contato com o emissário alemão no oeste de Santa
Catarina, Walther von Schuschnigg, que tinha a idéia de que a
“germanidade” deveria formar uma elite no Brasil. Para tanto, queria
formar um cinturão de assentamentos de pessoas falantes do
alemão para evitar a intrusão de outras nações “culturalmente
inferiores”. Schuschnigg ofereceu a Thaler uma área que seria um
importante elo nesse “cinturão”. As idéias de Schuschnigg caíram
em solo fértil. 34 Thaler via nesse “cinturão” de assentamentos
alemães a possibilidade de atingir a sua meta, tantas vezes repetida,
de conservar os assentados para a nação alemã. 35 Solicitou-se a
Schuschnigg que planejasse o projeto, começando assim um
intercâmbio de cartas entre Thaler e Schuschnigg. 36
Em janeiro de 1932, Thaler fez um relatório do estágio real do
projeto, dirigido ao Conselho de Ministros, e solicitou apoio
financeiro, mas antes de o Conselho poder tomar uma decisão, a
situação política na Áustria mudou. Houve uma reforma do gabinete,
que levou a uma mudança de ministros. As conseqüências para o
projeto de Thaler foram imensas; o financiamento estatal não mais
estava garantido, e os crescentes problemas econômicos tornaram
impossível também um financiamento bancário. 37
O problema estava em que, especialmente no Tirol, Thaler
havia feito uma intensa promoção de seu projeto. Tinha instalado um
escritório de emigração em Innsbruck, para dar assistência aos
potenciais participantes da emigração. 38 A sua promoção foi muito
bem sucedida. Algumas pessoas já tinham até mesmo vendido seus
bens. 39 Desse modo, a pressão exercida sobre Thaler ficou enorme.
Ele teve que encontrar alternativas para financiar o seu projeto.
Recebeu então apoio de Anton Retschek, que pediu ao
governo brasileiro que desse certa quantidade de café à Áustria,
café este que iria ser incinerado. 40 Thaler quis então que o governo
austríaco lhe permitisse vender dez mil sacos de 60 quilogramas
cada um 41 ao preço de 2,50 xelins por quilograma à organização
caritativa Winterhilfe. Este café seria gravado apenas com as
despesas de transporte e de manipulação, à razão de um xelim por
quilograma. 42 Os lucros resultantes dessa operação montariam à
soma de 900.000 xelins, que serviriam de suporte ao projeto de
emigração. 43 Mas o plano falhou. Por um lado, em São Paulo não
se quis estatuir um exemplo para outros países; além do mais, os
EUA, França e Grã Bretanha, que eram importantes esteios
econômicos para o Brasil, não concordaram com o plano. Por outro
lado, o plano de Thaler encontrou oposição mesmo dentro da Áustria.
Os partidos da oposição não quiseram financiar um presente para
Thaler, com a ajuda de uma organização de caridade. 44 Ainda por
cima algumas empresas austríacas envolvidas no comércio de
“artigos coloniais”, publicaram uma resolução na qual argumentavam
que o café seria de baixa qualidade e que sua venda estaria proibida
pelas leis austríacas. Finalmente, os comerciantes locais estavam
preocupados com a possibilidade de um crescimento do mercado
negro para café barato. 45
Poder-se-ia concluir que o projeto de emigração de Thaler
estaria imerso numa profunda crise. O jornal Volkszeitung escreveu
que Thaler estaria disposto a renunciar ao seu projeto de emigração
devido às muitas dificuldades por ele enfrentadas, sobretudo, devido
à falta de dinheiro. 46
A reviravolta
A nomeação de Engelbert Dolfuss como primeiro ministro da
Áustria em 1932 trouxe uma reviravolta no projeto de Thaler. Em 13
de janeiro de 1933, os dois homens se encontraram para uma
conversa, e Dolfuss concordou em dar a Thaler 500.000 xelins,
provindos do orçamento do Ministério da Agricultura. Uma das
razões que levaram Dolfuss a tomar essa decisão era a amizade
que nutria por Thaler. Este quis partir o mais rapidamente possível.
Começou secretamente com os seus preparativos e passou a
escolher o primeiro grupo de colonos. A maioria deles eram artesãos
que poderiam fazer as construções para abrigar os que viriam mais
tarde. Tentou manter em segredo o subsídio governamental, para
evitar críticas na opinião pública. Em julho de 1933, o Conselho de
Ministros aprovou o subsídio de 500.000 xelins para o projeto de
Thaler. Mais tarde não ficou claro se essa soma era uma dádiva
pura e simples, ou um crédito que deveria ser restituído. 47 Num
relatório de 1956, o primeiro montante era mencionado
explicitamente como crédito. 48
Com a finalidade de levar a cabo o projeto, foi fundada uma
sociedade chamada Österreichische Aussiedlungsgesellschaft
(ASG), cuja criação custou 20.000 xelins. Thaler investiu 17.000
xelins de seu próprio patrimônio na sociedade. Em conseqüência
disso, tornou-se presidente e principal representante da sociedade,
ficando também autorizado a comprar e vender imóveis no Brasil em
nome da ASG. O secretário do Tiroler Bauernbund, Dr. Oskar von
Hohenbruck, era o responsável pela administração. 49
Enquanto preparava a emigração, Thaler publicou em agosto
de 1933 um guia, com a intenção de informar os emigrantes a
respeito de todos os detalhes do projeto. Descrevia as razões para a
emigração, o país de destino, com sua fauna e flora, as condições
climáticas, e os diferentes perigos oferecidos pelos animais
selvagens e pelas doenças. Além disso, explicavam-se as principais
estruturas organizacionais. 50
Thaler comprou na Áustria máquinas no valor de 220.000
xelins, porque o subsídio de Dollfuss tinha sido concedido sob a
condição de que Thaler gastasse uma determinada parte do mesmo
no próprio país. 51 Para além disso, o dinheiro foi gasto no
pagamento das passagens do primeiro grupo de colonos, à razão de
550 xelins por pessoa. No dia 10 de setembro de 1933 – dia do 50º
aniversário de Thaler –, um grupo de oitenta e cinco pessoas se
encontrou na estação ferroviária de Wörgl, no Tirol, para dar início à
sua viagem ao Brasil. 52 A não ser o filho mais velho de Thaler, o
resto de sua família ficou em casa pelo momento. 53
Poucos dias depois de sua chegada ao Brasil, Thaler
comprou 200 lotes coloniais da empresa Müller und Selbach. Cada
lote tinha um alqueire paulista, ou seja, 24,2 hectares. A área,
escolhida por Schuschnigg, ficava no estado de Santa Catarina, em
Barra de São Bento, também chamada pela sua denominação
indígena de Papuã. O preço era aceitável, 54 e as terras ficavam
entre os rios do Bom Retiro e de São Bento, a uma altitude de
aproximadamente 750 metros sobre o nível do mar. 55 Tinham sido
anteriormente habitadas por colonos alemães, que já as haviam
dotado de certa infra-estrutura, assim como de algumas casas,
trilhas e de uma praça central com uma pequena igreja de madeira.
Havia também um moinho e uma serraria. Nas vizinhanças havia
uma colônia alemã, frades franciscanos alemães e duas escolas
primárias alemãs. Havia ainda bastante terra disponível para as
gerações futuras. À distância de 40 quilômetros ficava a cidade mais
próxima, Cruzeiro do Sul. 56 Contudo, era muito difícil atingi-la,
porque a estrada era muito ruim, de modo que a viagem demorava
três horas. 57
Passados três a quatro anos, dependendo do sucesso
econômico de cada um, os lotes coloniais deveriam ser repassados
aos assentados. 58
A nova colônia foi batizada Dreizehnlinden, “Treze Tílias”,
título de uma epopéia de autoria do poeta alemão Friedrich Wilhelm
Weber. Esta obra narra a história de um convento construído por
volta do ano 800 por monges beneditinos irlandeses em
Sachsenwald (Alemanha). Os monges deste convento eram
considerados pioneiros do cristianismo, e essa idéia se parangonava
com o projeto da nova colônia. Nesta, os colonos deveriam tornar-se
também pioneiros de uma emigração austríaca organizada, e
encontrariam o beneplácito de Deus. 59
Treze Tílias
Os primeiros resultados de Thaler foram publicados na
imprensa austríaca. 60 A com seqüência foi o aparecimento de
muitos novos interessados. Desde o início do projeto, em 1933, até o
Anschluss, a anexação da Áustria pela Alemanha, em 1938, um total
de 789 pessoas emigraram para o assentamento de Thaler, em
quatorze transportes. Os colonos vinham de todas as partes da
Áustria. Adicionalmente, pessoas de fala alemã do Tirol Meridional,
que haviam mudado para o Tirol Setentrional alguns anos antes,
juntaram-se ao projeto. Perto de dois terços dos emigrantes vinham
do Tirol e de Vorarlberg. 61
Andreas Thaler retornou ao Tirol em 1934, a fim de
acompanhar o terceiro transporte, que incluía sua própria família.
Usou esta estada tanto para promover o projeto quanto para pedir
mais subsídios do governo austríaco. 62
A escolha dos membros
Antes de mais nada, as pessoas que quisessem emigrar para
Treze Tílias tinham que pagar uma taxa fica. Nos anos 1936 e 1937,
homens casados e pais de família tinham que pagar 1.200 xelins;
esposas, noivas e crianças com mais de dez anos, 900 xelins; e
viúvas, garotas, solteiros e mulheres solteiras em geral, 1.000 xelins.
O preço para as crianças de menos de dez anos era escalonado.
Para as que tinham menos de um ano a taxa era gratuita. Além do
mais, partia-se do princípio de que todos os colonos deviam ter
algumas reservas financeiras. 63 Durante o processo de inscrição,
deviam informar abertamente com quanto dinheiro contavam a curto
prazo. 64
Alguns transportes que incluíam muitas crianças e mulheres
causaram pesados prejuízos à ASG, devido às taxas mais baixas
que estas pagavam. Mesmo assim, os preços não foram
aumentados, porque era importante para Andreas Thaler incentivar a
vinda de casais e famílias completas, com muitas crianças. 65 Em
alguns casos especiais, havia até mesmo um apoio adicional para
famílias que estavam em dificuldades financeiras. Contudo, em 1936
esta medida cessou de ser tomada, devido à crescente falta de
dinheiro. 66
Os colonos que pagassem a taxa tinham direito aos seguintes
serviços:
• Viagem gratuita de Innsbruck ao Brasil, incluindo
provisões durante a viagem de trem.
• Isenção de frete para bagagem até 200 quilogramas e
das elevadas “tarifas” pagas para acelerar o
desembaraço alfandegário.
• Provisões gratuitas durante todos os dias do primeiro
ano em que os colonos trabalhassem no assentamento.
• Uso de todas as instituições culturais, sociais e
econômicas de Treze Tílias.
• Moradia gratuita até a mudança para a casa própria.
• Garantia de oportunidades de trabalho em Treze Tílias. 67
Todos os colonos, contudo, tinham que aceitar certas
obrigações, tais como assinar uma declaração escrita no sentido de
seguir as ordens de Thaler. No que se referia ao pagamento pelo
seu trabalho na comunidade da colônia, eles deviam obedecer as
ordens de uma comissão de trabalho, que avaliava os serviços
prestados por cada colono. Caso as autoridades brasileiras de
imigração recusassem a entrada de alguém, por exemplo, por ter
ocultado alguma doença ou enfermidade, essa pessoa tinha que
assumir total responsabilidade pelas conseqüências dessa omissão,
tais como a organização e os custos de sua viagem de retorno. As
mesmas conseqüências aplicavam-se em casos tais como
informações falsas nos passaportes ou na declaração de idoneidade.
Era possível deixar Treze Tílias voluntariamente, sob a condição de
ressarcir a colônia de todas as despesas por ela feitas em benefício
desse colono. Caso o colono deixasse de cumprir com essas
condições, ele seria excluído do assentamento. 68
Em 1935 Andreas Thaler começou a esboçar um contrato que
dava mais direitos aos colonos. 69 Isto se deveu a um pedido das
autoridades austríacas, que lembraram Thaler dos elevados
subsídios por ele recebidos. 70
Além do pagamento da taxa fixa e da aceitação das
obrigações, havia critérios rígidos para a inclusão no projeto. Thaler
sempre dissera que não era bom que alguma espécie de “plebe”
emigrasse, porque a boa impressão da Áustria no país estrangeiro
somente poderia ser atingida pela emigração de “gente boa”. 71 Para
Andreas Thaler, a seleção dos colonos era algo muito importante;
portanto, ele era o único a decidir a respeito da admissão. Numa
troca de cartas entre Thaler e o Dr. Oskar Hohenbruck da ASG,
Thaler lhe disse que “espécie de gente” ele precisava (carpinteiros,
granjeiros etc.). Recebia toda espécie de informação sobre os
candidatos da ASG; depois, ele dava o seu consentimento ou
negava a admissão. 72
Para diminuir o número de candidatos, a ASG de Innsbruck
perguntava aos párocos, às autoridades locais e à polícia. 73
A colônia deveria manter seu caráter rural; portanto, os
colonos que eram empregados no trabalho pesado e que fossem
sadios, frugais e honestos eram os que mais faziam falta.
Preferencialmente deveriam estar casados e ter um monte de
crianças aproveitáveis. Camponeses, trabalhadores rurais e
artesãos eram favorecidos. 74 Pessoas vindas das cidades e
operários industriais eram aceitos somente em casos excepcionais.
Os comerciantes não eram necessários numa comunidade rural;
portanto, não eram aceitos. Pessoas divorciadas, casais não
casados oficialmente, pessoas que não fossem católicas ou que não
tivessem a cidadania austríaca também não eram toleradas. 75
Estes critérios revelam pelo menos duas coisas: primeiro, a
filosofia de vida autoritária, conservadora, católica e rural de Thaler;
segundo, que ele tinha deixado de lado a sua intenção proclamada
inicialmente, de constituir uma colônia para trabalhadores
desempregados. Para ele, o coração de seu projeto de emigração
era o caráter rural dos futuros colonos.
A escolha dos membros teve uma profunda influência sobre a
estrutura da sociedade em Treze Tílias. Resumidamente, essa
estrutura social pode ser descrita com bastante simplicidade. Pode-
se assinalar que perto de dois terços dos colonos já tinham
trabalhado na agricultura na Áustria, enquanto apenas um terço
provinha do setor comercial. A distribuição etária e de gênero
também era interessante. Havia principalmente famílias
relativamente jovens com muitos filhos, e havia duas vezes mais
homens adultos que mulheres adultas. 76
O desenvolvimento da colônia até 1938
Princípio cooperativo, industrialização e a questão da mulher.
Andreas Thaler organizou o assentamento de forma
cooperativa, o que redundava em que ele era o líder responsável
que exigia obediência total de todos os colonos. Ele era assistido por
uma comissão de economia, composta de oito homens, que eram
competentes em questões agrícolas. Cada um destes membros era
responsável por uma área de trabalho (construção de estradas,
construção de casas, etc.), mas eles não tinham poder de decisão.
Desde o começo, a construção da infra-estrutura em Treze Tílias
ocorreu de forma cooperativa. Os primeiros colonos – os assim
chamados “pioneiros” – colocaram as bases para as pessoas que
viriam. Grupos de trabalho construíram as primeiras casas coloniais
para vinte e cinco famílias, o presbitério, um escritório, e oficinas.
Além disso, esses trabalhadores cercaram os pastos e as primeiras
plantações e construíram uma pequena igreja. Entrementes, as
mulheres deviam cozinhar e lavar roupa. 77
Em 1933 os primeiros colonos receberam pequenos lotes
como presente de Natal, sob a condição de que ficassem em Treze
Tílias pelo menos cinco anos. Permitiu-se-lhes que trabalhassem
essas terras durante um dia por semana. 78 Os pequenos lotes no
centro estavam rodeados de lotes maiores para os fabricantes e
suas famílias. As terras dos produtores rurais, por eles chamadas
“colônias”, formavam o círculo externo. 79
Todo o trabalho cooperativo dentro do assentamento era pago,
mas os colonos só recebiam um quarto dos seus salários, assim
como o dinheiro de que necessitavam para sua alimentação. Metade
do dinheiro era retido como pagamento antecipado da terra que
iriam receber passados três ou quatro anos. Devido a uma falta de
dinheiro vivo, os assentados recebiam metade de seus salários em
forma de notas de crédito, que podiam ser trocadas somente dentro
do próprio assentamento. 80
Para evitar a saudade e a depressão, encenava-se uma
ampla variedade de manifestações do folclore tirolês, para o
enriquecimento cultural da comunidade. Havia, por exemplo, um
coro, uma banda de música e um grupo teatral. Todas as
tradicionais festas católicas eram regularmente celebradas; tinham
trazido seu próprio sacerdote para celebrara a santa missa todos os
domingos. Além disso, organizou-se uma escola e um jardim de
infância. 81 Embora um hospital tivesse sido construído, não havia
nenhum médico em Treze Tílias até 1936. 82 Como a maioria dos
assentados não tinha a possibilidade de pagar medicamentos e
serviços médicos, criou-se um seguro-saúde voluntário. 83
A fase inicial de Treze Tílias foi muito bem sucedida. Apenas
quatro pessoas partiram durante o primeiro ano. Em 1934, o
assentamento tinha três serrarias, uma moderna olaria, um moinho
de farinha de trigo e outro para milho, um gerador com capacidade
para aproximadamente mil lâmpadas, máquinas para o
processamento da madeira, uma oficina mecânica, um sistema de
refrigeração e diversas máquinas agrícolas. 84
Em 1935, Treze Tílias ganhou importância administrativa, na
medida em que lá foi instalado um vice-consulado austríaco. O seu
diretor, Walther von Schuschnigg, tornou-se também administrador
de Treze Tílias e começou com a contabilidade do assentamento. 85
A estratégia de Thaler era a de industrializar a colônia. Com
os proventos das vendas dos produtos da colônia, ele queria
contratar trabalhadores nativos, que ajudariam a limpar o mato.
Depois disso, seria possível reclamar as terras agora ganhas para a
produção rural. 86 Ele equipou Treze Tílias com diversas máquinas
aptas para estabelecer empresas industriais e comerciais. Uma das
condições do subsídio que o governo austríaco dera a Thaler era,
como já foi visto, que parte do dinheiro teria que ser investido na
Áustria; por isso, foi feita a compra de máquinas no valor de 220.000
xelins antes da partida do primeiro grupo para o Brasil. O problema
estava em que esta compra não tinha sido bem pensada, e um
monte de máquinas não foi útil para o novo assentamento. Outro
problema estava em que os produtos industrializados não eram
fáceis de vender, porque Treze Tílias estava a quinze quilômetros de
distância da estação ferroviária e a quarenta quilômetros da cidade
mais próxima, Cruzeiro do Sul. A infra-estrutura era muito ruim; por
isso, essas distâncias eram quase impossíveis de vencer. Mas havia
ainda muitas outras dificuldades. A olaria custou muito dinheiro. E
mesmo assim, levou três anos até que a empresa fosse capaz de
fornecer material passível de ser usado. As razões para isso
estavam na diversidade da composição dos solos, assim como nas
péssimas condições das áreas de secagem. Também houve
problemas com a serraria, que era uma empresa municipal, que
fornecia madeira para cobrir as necessidades do assentamento. O
resultado foi que a serraria operava com déficit. Negócios menores,
de propriedade direta dos colonos, não eram incentivados pelas
autoridades locais, pois o dinheiro era investido preferencialmente
em empreendimentos de maiores dimensões. 87 A venda dos
produtos agrícolas também não era muito rentável, porque os preços
eram baixos e os fretes, altos. 88
Outro problema estava em que em Treze Tílias viviam muito
mais homens que mulheres. A maioria das mulheres era casada e,
portanto, havia um número reduzido de moças casadoiras. Isso
causou diversos problemas. Leopold Benesch escreve em seu livro
Treze Tílias que os homens solteiros não podiam cultivar as suas
parcelas sem a ajuda de esposas. 89 E havia mais um problema, que
era provavelmente mais profundo. Como Benesch dizia que os
colonos austríacos queriam casar somente com mulheres austríacas,
é de se supor que pelo menos alguns deles gostassem da
alternativa de casar com uma “exótica” mulher latina. Isso foi um
problema grave para Thaler, que queria preservar o caráter nacional
germânico de sua colônia. Por isso, ele tentou trazer algumas filhas
de camponeses austríacos, casadoiras, para Treze Tílias. A ASG
faria um financiamento prévio dos custos da viagem; mais tarde, o
eventual futuro marido pagaria de volta esses custos, após o
casamento. Thaler garantia a cada mulher solteira um posto de
trabalho e prometia que todas elas (!) – mesmo que tivessem mais
de cinqüenta anos de idade – encontrariam um marido. 90
Não ficou claro o sucesso desta estratégia.
Primeiros problemas
A difícil situação econômica em Treze Tílias levou a imensos
problemas financeiros. Além do fato de a compra da terra ter ficado
mais cara do que o esperado, o suporte financeiro de famílias com
muitas crianças sobrecarregou o orçamento. 91 Por esses motivos,
em 1934 só restavam 7,2 % do capital inicial. 92 Como Dollfuss havia
prometido ao assentamento mais 500.000 xelins, 93 Thaler contatou
os seus velhos amigos no governo austríaco. Os seus teimosos
pedidos foram bem sucedidos e outro subsídio foi posto à disposição.
O seu montante não é bem conhecido. Leopold Benesch dizia num
relatório posterior que Dollfuss tinha enviado 10.000 xelins
diretamente a Thaler, enquanto a ASG recebia outros 150.000 xelins
em 30 de julho de 1938. 94 Nessa data, o primeiro ministro Dollfuss
já estava morto fazia tempo, vítima de assassinato em meio a um
golpe de Estado dos nazistas austríacos, em 25 de julho de 1934. É
presumível que a transferência deste crédito se originasse quando o
primeiro ministro ainda estava com vida. Ursula Prutsch aventa uma
outra hipótese quanto à origem do subsídio. Ela escreve que
Dollfuss já estava morto quando Retschek pediu mais meios
financeiros, e que assim o assentamento recebeu 250.000 xelins em
1935. 95 Alguns fatos parecem sugerir outras explicações. A troca de
correspondência entre Thaler e a ASG durante o ano de 1935 não
contém indicações a respeito da existência de subsídios durante
todo o ano de 1935. Pelo contrário, falava-se de uma crescente crise
financeira. 96 Por isso, é bastante improvável que Treze Tílias tivesse
recebido 250.000 xelins em 1935. Numa correspondência posterior
entre a ASG em Innsbruck e Andreas Thaler, menciona-se um
segundo subsídio de 150.000 xelins. 97 É óbvio que o assentamento
estava passando por severas dificuldades financeiras.
Além das dificuldades financeiras, Treze Tílias teve que se
defrontar com outros problemas. Um deles consistia em que Thaler
não tinha ficado sabendo que alguns “intrusos” – membros da
população nativa do Brasil, que viviam segundo um estilo de vida
tradicional – tinham se assentado nas terras que ele havia comprado.
Eles praticavam “agricultura rotativa”, o que significava o método da
derrubada e queimada. Passado algum tempo – às vezes vinte a
trinta anos – eles iam embora. 98 O encontro entre os intrusos e os
colonos europeus significava um choque entre duas culturas
radicalmente divergentes; eventuais “choques entre civilizações”
tornaram-se inevitáveis. Os intrusos, por exemplo, não estavam
familiarizados com a idéia de que a terra pudesse ser de
propriedade individual, e não comunitária. O primeiro conflito em
Treze Tílias ocorreu em 1933. No ano seguinte, o líder do jovem
assentamento moveu um processo judicial contra os intrusos. A
sentença de 1934 exigia o seu banimento daquelas terras, em que
viviam fazia mais de trinta anos. Isto encontrou resistência por parte
do governo brasileiro, que naturalmente não via com bons olhos o
deslocamento de camponeses nativos por colonos austríacos
recém-chegados. Thaler, que queria uma solução pacífica, deu-lhes
tempo para deixar as terras até completada a próxima colheita de
milho. 99
Surgiu um outro problema. Depois de feitos mais dois
levantamentos do terreno, Andreas Thaler concluiu que não havia
lotes suficientes. Como as terras fora do assentamento já tinham
sido ocupadas pelos intrusos, os colonos tiveram que ocupar terras
mais afastadas do centro da comunidade. 100 Embora eles não
pudessem ser postos para fora de tudo, os tiroleses aceitaram a
situação, e não chegou a haver maiores conflitos. 101
Nessas “terras novas”, os intrusos foram obrigados a sair, e
os colonos começaram a construir algumas pequenas “aldeias”, que
eles chamavam de Weiler. Foram batizadas com nomes como
Babenberg, Wachau, Rosengarten e Burgfrieden. Um desses
assentamentos deveria receber o nome de Dollfuss, mas isso
acabou não ocorrendo. 102
Em 1935, a ASG entrou em contato com a empresa Land-
und Bergwerks AG em Vaduz. Planejava-se estabelecer um
segundo assentamento, nas vizinhanças de Treze Tílias. Andreas
Thaler compraria as terras e assumiria a liderança da colônia, que se
chamaria Phillipsburg, 103 mas esse projeto nunca chegou a ser
concretizado. 104
Críticas crescentes
Em 1935, um antigo colono, Konrad Aufinger, que teve que
deixar Treze Tílias contra a sua vontade, fez pesadas acusações
contra a liderança da colônia.Aufinger tinha conhecimentos bastante
detalhados, porque, antes de sua emigração, fez uma auditoria das
contas da ASG em Innsbruck. 105 Ele criticou o sistema cooperativo,
a alocação das terras e a emissão de notas de crédito, pois isto
reduziria a autonomia dos assentados. Além disso, Aufinger criticava
Thaler, argumentando que ele deveria ter aceitado as terras que o
governo brasileiro lhe tinha oferecido de graça. Em lugar disso,
Thaler teria preferido terras que, segundo o ponto de vista de
Aufinger, não eram tão boas. Ele também criticou o excesso de
despesas com construções e dizia que os colonos não confiavam
realmente nos líderes da comunidade. 106
Como reação a essas censuras, o consulado austríaco
inspecionou o assentamento. Depois de muitos pedidos, Thaler
finalmente reagiu às críticas de Aufinger. Defendeu seu sistema
cooperativo atípico, salientando sua componente social e chamando
a atenção para o grande sucesso de Treze Tílias e de seu sistema
ao longo dos últimos anos; dizia que poderia apresentar argumentos
contrários às críticas de Aufinger. Quanto às compras das terras, ele
apenas salientou que a ASG conhecia as razões para sua decisão.
Ele continuava a ver a escolha de uma localização num planalto
como boa, porque os produtos ali produzidos eram mais
competitivos que os produzidos na planície. Além disso, os
camponeses das montanhas do Tirol prefeririam o planalto. Negou a
existência de algum tipo de falta de confiança nas lideranças e disse
que a emissão de notas de crédito era necessária devido à falta de
dinheiro vivo no Brasil. Para Thaler, as despesas com construções
eram necessárias para garantir a saúde dos colonos. Nesse
contexto, ele asseverou que a sua opinião era que a morte de
algumas crianças – inclusive a de seu próprio filho de quatro anos –
era devida às más condições de moradia. 107
Finalmente, o consulado e Thaler fizeram uma lista de pontos
fracos:
• A confiança mútua existente entre Dollfuss e Thaler
tinha levado este a pensar que poderia dominar a área.
Mas havia a possibilidade de a confiança dos colonos
mudar de lado. Se isto viesse a ocorrer, o projeto todo
correria perigo. 108
• A aplicação do capital não era controlável, porque não
tinha havido contabilidade até 1935. Mesmo assim, era
evidente que tinha havido gastos em demasia na
aquisição das terras e muitas perdas devidas à compra
de moeda brasileira. 109
• A escolha das terras foi estranha, devido ao seu alto
preço e às más condições de venda. 110
• O embasamento legal da compra das terras era um
problema. Em vez de obter a posse, Thaler havia
garantido apenas uma espécie de procuração geral. A
vantagem estava em que não era necessário pagar
duas vezes as taxas para a transferência da posse das
terras (uma primeira vez pela compra de todo o
conjunto de terras, e uma segunda vez quando da
alocação dos lotes aos colonos). O problema estava
em que, caso Thaler viesse a falecer, todos os direitos
retornariam aos proprietários anteriores. Além disso,
Thaler tinha pagado todas as taxas e juros por outras
terras por adiantado. O motivo para tal forma de
compra de terras estava na falsa presunção de que
não era possível estabelecer no Brasil uma empresa
afiliada à ASG, algo que era aceito pelas leis brasileiras.
Críticas feitas pelos colonos tornaram Thaler
consciente de seu grave erro. Devido à falta crônica de
dinheiro, a fundação da empresa afiliada só ocorreu em
1938, mas então o plano veio abaixo devido ao
Anschluss. 111
• A estratégia econômica foi criticada porque as
máquinas compradas na Áustria foram maus
investimentos e porque um forte setor industrial não
pôde ser estabelecido logo devido à rápida perda de
capital de giro. 112
• O princípio cooperativo negava autonomia aos colonos. 113
• A conservação do folclore causaria conflitos de
identidade. 114
Um novo sistema
Uma das conseqüências da insatisfação com o sistema
imposto por Thaler foi que muitos assentados que encontraram
postos de trabalho fora de Treze Tílias aproveitaram essa
oportunidade e deixaram a colônia. A quota de migração entre 1933
e 1937 chegou a perto de 13%. Aqueles membros da colônia que
tiveram que ficar tentaram tirar o máximo proveito possível do
sistema. Por um lado, tentavam trabalhar o mínimo possível; pelo
outro, tentavam conseguir as melhores condições possíveis em
termos de moradia e alimentação. De fato, a sua motivação e
entusiasmo iniciais tinham desaparecido. Sintomas físicos e
psicológicos de fadiga e saudade da terra natal, assim como as
condições primitivas de moradia, deprimiam o espírito dos colonos. 115 As acusações de Konrad Aufinger intensificaram tais tendências,
e a desconfiança diante do líder aumentava. 116
Em conseqüência dessa situação. Thaler viu-se obrigado a
mudar o seu sistema, de uma economia controlada para uma
economia livre. Introduziu o sistema de tarefeiros e vendeu ou
arrendou todas as empresas aos colonos. 117 Embora em 1935
tivesse manifestado ser contrário a tal sistema, Thaler começou a
gostar dele. Numa carta de 1936, ele manifestava que os colonos já
estavam mais satisfeitos com o fornecimento de alimentos, que eles
começavam a apreciar as notas de crédito e que a maioria estava
trabalhando mais duro que antes:
“Como você sabe, de início eu tentei montar um
assentamento numa base cooperativa, isto é, a construir uma
casa após a outra de acordo com o plano, unificando a força
de trabalho. Isso parece maravilhoso na teoria. Na prática,
como não há meios de exercer pressão sobre eles ou de
coagi-los, este sistema é um fracasso total. Mais do que
nunca estou convencido de que o comunismo na economia e
na política não vale um tostão. Todo mundo tem medo de ter
que trabalhar demais enquanto o caro vizinho tira vantagens
deles; qualquer trabalho é duro demais, a comida é ruim
demais e o pagamento é baixo demais. Depois de ter certeza
de que não iria ter sucesso como tal método, mudei de um
sistema econômico cooperativo para um sistema individualista,
com trabalho por tarefa e arrendamento. [...] Deixados à sua
própria sorte para se defender a si mesmos, apareceram três
virtudes das quais senti muita falta nos meus colonos durante
o tempo da cooperativa. De repente feijão preto e pão de
milho não eram apenas comestíveis, mas até gostosos; os
vales que a sociedade colonial entregava pelo trabalho dado
já não eram apenas os criticados “pedaços de papel”. [..]
Acima de tudo, cresceu a vontade de trabalhar.” 118
O novo sistema excedeu aos recursos financeiros que
estavam disponíveis. Quando o último subsídio de 1934 foi gasto, a
situação estava tão ruim que Thaler investiu 8.000 xelins de sua
própria poupança. 119 A grande crise veio em 1936. As empresas do
assentamento nunca atingiram sua capacidade total e a agricultura
não estava madura o suficiente para salvar a existência de Treze
Tílias.120 Em maio de 1936, Walther com Schuschnigg foi para
Áustria para pedir apoio financeiro ao seu primo Kurt von
Schuschnigg, então primeiro ministro. O pedido foi bem sucedido. O
montante total dado na época é pouco claro. Ursula Prutsch fala em
100.000 xelins; o relatório de Leopold Benesch menciona apenas
50.000 xelins. 121 Tomando em consideração a correspondência
entre Thaler e a ASG de 1935, a cifra citada por Benesch é mais
plausível, porque nas cartas foi dito que Schuschnigg prometera
40.000 xelins. Afora a subvenção de Schuschnigg, Treze Tílias
ganhou 25.000 xelins do Ministério da Agricultura. 122
Avança o nacional-socialismo e crescem os problemas
financeiros
Em fins da década de 1920, começaram a surgir grupos
nazistas locais no Brasil. O movimento ganhou força na década de
trinta, e a partir de 1934 existiu uma Landesgruppe, um grupamento
nacional do NSDAP no Brasil. 123
Afora o NSDAP, a associação denominada
Deutschösterreichische Vereinigung apoiava a anexação da Áustria
à Alemanha. Sua ideologia entrava em concorrência com a do
NSDAP. Ambas as organizações trabalhavam em estreita
cooperação, e o NSDAP pode ter sido apoiado financeiramente pela
Deutschösterreichische Vereinigung. 124
Inicialmente o governo brasileiro ignorou as atividades
nazistas. A situação mudou quando Hitler assumiu o poder na
Alemanha, em 1933. A autoconfiança e a importância política do
NSDAP aumentaram no Brasil. Havia cada vez mais membros, e a
estrutura do partido se ampliou. Em conseqüência disso, a atitude do
governo brasileiro ficou mais cética. A situação escalou depois do
golpe de estado de Getúlio Vargas em 1937. O Estado Novo
oferecia o arcabouço para a realização de uma legislação mais
nacionalista. Todos os partidos políticos, clubes, escolas de línguas
estrangeiras, assim como as línguas alemã, italiana e japonesa,
foram proibidas. Não obstante essas medidas, o NSDAP não cessou
suas atividades, embora tivesse que reduzi-las. 125
Em Treze Tílias o movimento nacional-socialista crescia em
importância. O consulado alemão começou a demonstrar interesse
na colônia, e começou uma campanha propagandística em favor do
NSDAP. Nos transportes de 1934 em diante, alguns nazistas ilegais
chegaram a Treze Tílias da Áustria. 126 Embora muito colonos
demonstrassem interesse pela nova ideologia, não houve
controvérsias na colônia. 127
Thaler tornou-se líder da Vaterländische Front [Frente
Patriótica], de caráter austro-fascista, mas preferiu não espalhar sua
ideologia e evitou tornar-se politicamente ativo. 128
Naqueles dias, os colonos estavam mais ocupados com
questões de sua mera sobrevivência. A situação financeira havia
piorado consideravelmente. O último subsídio recebido do governo
austríaco fora gasto em pouco tempo. O dinheiro do primeiro
ministro Schuschnigg for usado para cobrir dívidas em atraso, e a
contribuição do Ministério da Agricultura fora usado para o hospital,
para comprar mais terras e num crédito para os colonos. 129 Em fins
de 1937 surgiu uma nova crise. Em dezembro, o governo brasileiro
tinha estabelecido uma nova lei, segundo a qual todas as empresas
de colonização que passassem adiante lotes deviam registrar as
terras todas no registro imobiliário. O procedimento não era gratuito
e onerou o orçamento de Treze Tílias em 10.000 a 12.000 xelins. O
assentamento não contava com esses fundos. Outro problema
criado por essa lei foi que ela levou a que a autoridade de Thaler
ficasse obsoleta, pois ele não tinha um mandato formal. 130 Portanto,
a instalação de uma empresa afiliada à ASG tornou-se uma
preocupação central. Em particular, Thaler dizia que as terras não
deveriam ser registradas em seu nome. 131 Como conseqüência
desses problemas e pelo golpe que ele sofreu pessoalmente devido
à morte de seu filho mais novo, Otto Karl, batizado em homenagem
a Karl e Otto von Habsburg, 132 sua motivação e entusiasmo tinham
sumido. Disse a Walther von Schuschnigg que queria renunciar ao
seu papel de líder de Treze Tílias, e assinou essa carta com as
palavras: “Der bekümmerte Urwaldminister” [o aflito ministro das
florestas virgens]. 133
O Anschluss e suas conseqüências
Em meio a essa difícil situação, veio o Anschluss em março
de 1938. Foi uma grande surpresa para Treze Tílias. Além do mais,
a nova situação teve drásticas conseqüências para o assentamento,
porque a instalação de uma empresa afiliada à ASG ainda não tinha
sido completada. 134 O Auswanderungsamt [Departamento de
Emigração] da Alemanha aconselhou a deixar a situação como
estava. A ASG em Innsbruck apoiou esta posição, e, portanto o
plano foi abandonado. 135
A situação financeira que já era ruim foi de mal em pior. O
Ministério da Fazenda alemão verificou se os subsídios dados a
Treze Tílias tinham sido doações ou empréstimos. Juntamente com
esta investigação, a colônia foi obrigada a revelar seu status
financeiro – algo nada bom, devido ao necessário pagamento das
taxas no registro de imóveis. 136 A Gesellschaft für die Siedlung im
Ausland GSA [Sociedade para Assentamentos no Exterior] em
Berlim aceitou pôr dinheiro à disposição, mas procrastinou o
pagamento; assim, Thaler foi forçado a vender algumas máquinas
muito importantes. Dois dias mais tarde, o dinheiro prometido
chegou de Berlim, mas tarde demais, de modo que foi depositado no
consulado alemão. 137
Agora o registro imobiliário de Treze Tílias podia ser feito.
Como não tinha ocorrido a fundação da empresa afiliada, Thaler
tornou-se o proprietário oficial de Treze Tílias. 138
Embora o Ministério das Relações Exteriores em Berlim
tivesse garantido em 1938 à ASG que um transporte totalmente
preparado por Thaler poderia ocorrer, o governo do Reich alemão
proibiu a sua partida, que tinha sido planejada para maio. Muitos dos
participantes já haviam vendido seus pertences na Áustria. Para eles,
essa decisão foi um desastre. 139
O povo de Treze Tílias ficou deprimido e decepcionado. A
maioria deles tinha deixado sua terra natal devido às dificuldades
econômicas lá reinantes. Agora a situação econômica da Áustria
parecia estar melhorando, enquanto sua situação no Brasil estava
piorando. Cada vez mais colonos queriam retornar à sua terra natal. 140
Os problemas se agravaram ainda mais quando os nacional-
socialistas detiveram o fluxo de dinheiro da Áustria para Treze Tílias.
Pessoas aposentadas, que esperavam pelas remessas de suas
pensões, e pessoas que estavam acostumadas a receber
prestações da venda de seus pertences na Áustria, foram as mais
afetadas. Depois de uma intervenção da ASG, pelo menos um terço
das pensões foi transferido para Treze Tílias. O resto foi depositado
numa conta bancária na Áustria. 141
Ao mesmo tempo, boatos desagradáveis sobre Treze Tílias
apareciam na imprensa austríaca. Dizia-se, por exemplo, que o
assentamento seria fechado. Não foi possível a ASG dar à mídia a
sua própria versão dos fatos, porque tal coisa era proibida pelos
nacional-socialistas. Thaler tentou incentivar os assentados a
escreverem mais cartas aos seus familiares e amigos, mas a
estratégia não funcionou; em conseqüência, havia na Áustria falta de
clareza a respeito de Treze Tílias. Em janeiro de 1939, foi publicado
um artigo sobre Treze Tílias em que se dizia que o fim do projeto de
emigração austríaca para o Brasil estava chegando. Um dos autores
desse texto era Peter Waller. 142
Os nacional-socialistas queriam que Treze Tílias se tornasse
parte da Companhia de Colonização Paranaense Ltda., uma filial da
GSA no Brasil. Portanto, começaram e fazer uma rigorosa auditoria
da contabilidade de Treze Tílias em janeiro de 1939. Queriam saber
o quanto a colônia possuía em termos de ativos materiais e de
dinheiro. A conclusão foi que a contabilidade, a administração e os
levantamentos das terras eram uma só bagunça, e que apenas os
aspectos culturais e folclóricos estavam intactos. Ora, os nazistas
em Berlim começaram a elaboração de um novo conceito de
administração, inicialmente mantido em segredo. Em março de 1939,
a GSA informou Andreas Thaler de que ele, Erich Finnmann 143 e
Leopold Benesch 144 deveriam assinar um acordo que dizia que a
administração da colônia seria assumida pela Companhia de
Colonização Paranaense Ltda. E que ele deveria renunciara à sua
liderança. Finnmann tornar-se-ia o novo líder de Treze Tílias e
Andreas Thaler seria um mero funcionário da companhia, ganhando
apenas metade de seus benefícios anteriores. Ele teria que fazer
trabalho externo, o que significaria que seria responsável pelas
estradas, o trânsito, a agricultura e o suprimento de água.
Mantiveram-no, contudo, na posição de intermediário entre os
colonos e as autoridades brasileiras. 145 Andreas Thaler faleceu
antes de essas modificações entrarem em vigor. Em 27 de junho de
1939 houve uma tempestade. Thaler e outros colonos tentaram
salvar a ponte das águas da enxurrada, mas as águas carregaram a
ponte para longe, assim como os homens que nela trabalhavam.
Conseguiram salvar-se todos, menos Thaler, cujo corpo foi
encontrado alguns dias depois. 146
A morte súbita e inesperada de Thaler foi uma grande
tragédia para Treze Tílias – ele ainda era o proprietário oficial do
assentamento todo e sempre atuara como spiritus rector da colônia.
Em abril de 1938, ele tinha assinado um acordo com Finnmann, que
dizia que a GSA se tornaria proprietária oficial das terras, mas ao
mesmo tempo, Thaler lavrou em cartório um testamento secreto no
qual dizia que ele, Thaler, não era o verdadeiro proprietário das
terras, mas sim a ASG, que assumiria a propriedade de todo o
assentamento quando de sua morte. De fato, não havia nenhum
documento oficial que dissesse que a Companhia de Colonização
Paranaense Ltda. fosse proprietária das terras, o que significava que
ela não poderia tomar posse no assentamento após a morte de
Thaler. As autoridades brasileiras olharam apenas para o registro de
imóveis. Além disso, não aceitaram a GSA como acionista principal
da Companhia de Colonização Paranaense Ltda. 147 De acordo com
as leis locais, a questão da propriedade não estava resolvida. Treze
Tílias ficou sob administração brasileira. 148 Isto forçou a GSA a agir;
devido ao testamento de Thaler, precisavam da autorização da ASG
em Innsbruck. A fundação de uma nova empresa associada não era
mais possível devido a mudanças ocorridas na legislação brasileira.
Devido à necessidade de agir rapidamente, o consulado alemão foi
forçado a legitimar a posse com uma autorização da ASG austríaca
(!). Para legitimar a ASG no Brasil, um advogado brasileiro a
representou como administrador delegado e supervisionou a posse
da colônia pela GSA. 149
Quando, em 1942, o Brasil se posicionou do lado dos Aliados
e declarou a guerra às potências do Eixo, essa medida trouxe
conseqüências dramáticas para Treze Tílias. Todas as relações
diplomáticas entre o Brasil e a Alemanha foram cortadas. Tal como
nos EUA durante a 1ª Guerra Mundial, tudo que era alemão foi
proibido. A língua alemã e os clubes alemães foram proibidos, as
escolas alemãs foram fechadas. Treze Tílias foi rebatizada “Papuã”
– o velho nome indígena do local. Não houve represálias pelo não
cumprimento da proibição da língua. 150
Durante a Segunda Guerra Mundial, muitos colonos mudaram
para outras cidades ou estados, como Paraná. Iam à procura de
melhores solos, maior renda e melhor vida.
Depois da guerra
Em 1945 o Ministério da Agricultura do Brasil colocou a
colônia sob administração estatal. Três anos mais tarde, o governo
brasileiro confiscou Papuã, que era considerada propriedade alemã.
Esta ação baseava-se no falso pressuposto de que a ASG austríaca
tinha fusionado com a GSA alemã. O cabo-de-guerra legal referente
à liquidação da ASG austríaca e ao montante dos pagamentos
brasileiros pelo assentamento não terminou até 1960. Naquele ano o
governo austríaco acabou por desistir de suas reclamações legais;
os subsídios e subvenções que o assentamento tinha recebido dos
primeiros ministros foram considerados doações. Em 1961 a entrega
da posse das terras foi concluída. 151
A partir de 1956 o assentamento passou a ser chamado Treze
Tílias, em português. E desde 1963 é um município com perto de
5.000 habitantes. Agora metade deles eram de origem italiana,
vindos do Rio Grande do Sul. Depois de encerrada a proibição de se
falar alemão em público, o governo austríaco começou a financiar
uma escola em língua alemã. Já não havia muitas crianças capazes
de falar alemão com fluência. 152 Em 1978, celebrou-se o 45º
aniversário da colônia, na presença de uma grande delegação do
Tirol, liderada pelo governador Eduard Wallnöfer. Em 1981, Treze
Tílias nomeou um Secretário de Cultura que passou a se ocupar da
língua alemã, da música, do teatro, do folclore, das danças e de
outras tradições tirolesas. Voltaram a fluir subsídios para a longínqua
colônia austríaca, desta vez do estado do Tirol. 153 Em meados da
década de oitenta, o turismo ávido por lugares exóticos descobriu o
assentamento tirolês em meio à “mata virgem” brasileira. Foi uma
nova atração. Embora algumas tradições culturais tirolesas tenham
sobrevivido, os habitantes de Treze Tílias são agora “austro-
brasileiros” vivendo no Brasil e praticando ainda algumas tradições
austríacas. Eles não mais se consideram um enclave folclórico de
austro-alemães que vive no jângal brasileiro; depois do
desaparecimento de Thaler e do fim da Segunda Guerra Mundial,
esta missão original evaporou-se. 154
Postscriptum
Na memória histórica tirolesa, o projeto de emigração para o
Brasil continua vivo. Especialmente em Wildschönau – a aldeia natal
de Andreas Thaler – Treze Tílias continua sendo lembrada com
destaque. Em maio de 1984 foram plantadas treze tílias em
Wildschönau. Este ato público foi pensado para lembrar os
descendentes dos emigrantes de Wildschönau nas distantes terras
do Atlântico sul. No verão de 2004, o Conselho Municipal de
Wildschönau deu o nome de Treze Tílias a uma das praças da
localidade. Há numerosos outros memoriais no Tirol – mementos do
assentamento tirolês no Brasil e de seu controvertido fundador
Andreas Thaler. 155
Muitos artigos estão sendo publicados sobre Treze Tílias na
imprensa tirolesa. Na sua maioria, eles glorificam o assentamento e
seu fundador. 156 É indiscutível que Thaler abriu mão da segurança
de sua vida, junto com sua extensa família, em prol de um futuro
incerto em terras longínquas; ele também deu a muitas pessoas a
possibilidade de construir uma nova existência. Ainda assim, para
pintar uma imagem fidedigna dos começos do assentamento em
Treze Tílias e de sua difícil existência ao longo dos anos, é
necessário assinalar os pontos fortes e os pontos fracos desta
colônia de assentados. A concepção inicial de Thaler, de uma
colônia organizada com espírito comunitário e cooperativo e de uma
industrialização lenta foi por água abaixo após apenas dois anos. A
colônia nunca ultrapassou a sua situação financeira precária. Entre
1933 e o Anschluss em 1938, a colônia nunca atingiu um estágio de
existência autônoma e precisou ser financiada com pesados
subsídios oficiais, provindos de uma Áustria empobrecida.
Notas 1 Ursula Prutsch, “Die Auswanderung von Österreich nach Brasilien in der Zwischenkriegszeit: Das Beispiel Dreizehnlinden,“ Das Fenster 62 (1996): 5950-5975, 5970. 2 Tiroler Bauernzeitung, 24 de dezembro de 1920, p. 10; relatórios taquigráficos da Assembléia Constituinte Tirolesa, 83ª sessão, 5 de março de 1921, 2178 s. 3 Hans Mayr, Wildschönau im Tirol. Ein volkstümliches Heimatbuch, 2ª ed., (Wildschönau: Eigenverlag, 1993), 12. 4 Katrin Achrainer, “Ein Minister greift zum Wanderstab.: Andreas Thaler – Eine Biographie,“ Tese de Mestrado, Universidade de Innsbruck, 2005, 5-10. 5 Ulrich Kluge, Bauern, Agrarkrise und Volksernährung in der europäischen Zwischenkriegszeit: Studien zur Agrargesellschaft und –wirtschaft der Republik Österreich 1918 bis 1938 (Stuttgart: Franz Steiner Verlag, 1988) 263 s. 6 Benedikt Erhardt, Bauernstand und Politik: Zur Geschichte des Tiroler Bauernbundes (Viena: Jugend und Volk, 1981), 142-146.
7 Robert Hoffmann, „Zwischen Wohnreform und Agrarromantik: Siedlungswesen und Siedlungsideologie in Österreich von der Jahrhundertwende bis zur Weltwirtschaftskrise,“ in Die Zukunft in der Vergangenheit: Studien zum Siedlungswesen der Zwischenkriegszeit., Forschungen und Beitrâge zur Wiener Stadtgeschichte 12, ed. Margit Altfahrt et al. (Viena: Franz Deuticke, 1983), 23. 8 Atas das reuniões do Conselho de Ministros, 517, 27 de fevereiro de 1928, p. 227-230. 9 Ursula Prutsch: Das Geschäft mit der Hoffnung: Österreichische Auswanderung nach Brasilien 1918-1938 (Viena: Böhlau 1996), 228 10 Ibid., 204. 11 Gerda Neyer, „Auswanderung aus Österreich: Ein Streifzug durch die ‚andere’ Seite der österreichischen Migrationsgeschichte,“ in Auswanderungen aus Österreich. Von der Mitte des 19. Jahrhunderts bis zur Gegenwart, ed. Traude Horvath e Gerda Neyer (Viena: Böhlau, 1996), 13-29, 22. 12 Atas das reuniões do Conselho de Ministros, 499, 1º de julho de 1927, p. 525-531. 13 Prutsch, Geschäft mit der Hoffnung, 203-205. 14 Tiroler Bauernzeitung, 18 de outubro de 1928, p. 3-4. 15 Prutsch, Geschäft mit der Hoffnung, 205. 16.Em meados do ano 1928, Waller iniciou sua viagem, junto com alguns de seus devotos. O grupo foi detido perto de Villach, e Waller foi internado na clínica psiquiátrica Steinhof em Viena. (Cf. ibid., 147-205). 17 Ibid., 105. 18 Ibid., 204-206. 19 Tiroler Bauernzeitung, 28 de fevereiro de 1929, p. 3. 20 Ibid. 21 Prutsch, Geschäft mit der Hoffnung, 209. 22 Ibid., 216. 23 Ibid., 209-210; Tiroler Bauernzeitung, 5 de março de 1931, p. 4s3. 24 Prutsch, Geschäft mit der Hoffnung, 210. 25 Volkszeitung, 6 de março de 1931, p. 1. 26 Prutsch, Geschäft mit der Hoffnung, 211. 27 Wiener Neueste Nachrichten, 27 de fevereiro de 1931; Neue Freie Presse Wien, 26 de fevereiro de 1931; Neues Wiener Abendblatt, 26 de fevereiro de 1931; „Die Stunde“ Wien, 27 de fevereiro de 1931; Ferdinandeum Innsbruck FB 24541. 28 Neue Freie Presse Wien, 26 de fevereiro de 1931; Ferdinandeum Innsbruck FB 24541. 29 Tiroler Bauernzeitung, 5 de março de 1931, p. 4 s. 30 Prutsch, Geschäft mit der Hoffnung, 211-213; sobre Retschek, vide também o ensaio de Klaus Esterer neste volume. 31 Ibid., 213. 32 Innsbrucker Nachrichten, 2 de setembro de 1931, p. 3. 33 Prutsch, Geschäft mit der Hoffnung, 214 s. 34 Ibid., p. 219. 35 Tiroler Bauernzeitung, 5 de março de 1931, p. 4. Tiroler Bauernzeitung, 26 de março de 1931, p. 3-4. 36 Prutsch, Geschäft mit der Hoffnung, 224 s. 37 Ibid., 214 s. 38 Volkszeitung, 28 de março de 1931, p. 1. 39 Prutsch, Geschäft mit der Hoffnung, 216. 40 Ibid. 41 Ursula Prutsch menciona perto de 60.000 quilogramas. Cf. ibid., 216. 42 Tiroler Anzeiger, 29 de março de 1932, p.1; Tiroler Anzeiger, 31 de março de 1932, p.1-2. 43 Prutsch, Geschäft mit der Hoffnung, 216; o jornal Tiroler Anzeiger menciona 90.000 xelins. Cf. Tiroler Anzeiger, 29 de março de 1932, p.1. 44 Prutsch, Geschäft mit der Hoffnung, 217. 45 Tiroler Anzeiger, 30 de março de 1932, p.1. 46 Volkszeitung, 30 de abril de 1932, p. 5. 47 Prutsch, Geschäft mit der Hoffnung, 227-230. 48 Relatório de Leopold Benesch „Die Ursachen der Siedlungskrisen,“ 9 de junho de 1956, Tiroler Bauernbundarchiv, Aktenmaterial vor 1945, Dreizehnlinden 26. 49 Ata da associação, 29 de março de 1933, ibid. Dreizehnlinden 33. 50 Martin Reiter et al., Dreizehnlinden, Österreicher im Urwald (Schwaz: Berenkamp, 1993), 30-38. 51 Arquivo comunal de Wildschönau, Leopold Benesch, documentação fotográfica dos começos de Treze Tílias. 52 Prutsch, Geschäft mit der Hoffnung, 230 s. 53 Entrevista com Hedwig Thaler, 1º de julho de 2004. 54 Prutsch, Geschäft mit der Hoffnung, 225.. 55 Reiter et al., Dreizehnlinden, 59. 56 Prutsch, Geschäft mit der Hoffnung, 225..
57 Reiter et al., Dreizehnlinden, 60. 58 Prutsch, Geschäft mit der Hoffnung, 232. 59 Reiter et al., Dreizehnlinden, 45. 60 Unterland, 31 de dezembro de 1933, p.2; Tiroler Anzeiger, 19 de janeiro de 1934, p. 5; Tiroler Grenzbote, 27 de janeiro de 1934, p. 4 61 Prutsch, Geschäft mit der Hoffnung, 232. 62 Ibid., 234 s. 63 Leopold Benesch: Dreizehnlinden: Die österreichische Siedlung in Brasilien (Linz: Oberösterreichischer Landesverlag, 1946), 27; Memorando dos participantes do transporte 1937, julho de 1937, Tiroler Bauernarchiv, Aktenmaterial vor 1945, Dreizehnlinden 8. 64 Reiter et al., Dreizehnlinden, 71. 65 ASG ao gabinete do Primeiro Ministro (Departamento de Migrações), 4 de dezembro de 1935, Tiroler Bauernarchiv, Aktenmaterial vor 1945, Dreizehnlinden 8. 66 Prutsch, Geschäft mit der Hoffnung, 233. 67 Ibid. 68 Declaração, 1936, Tiroler Bauernarchiv, Aktenmaterial vor 1945, Dreizehnlinden 8. 69 Prutsch, Geschäft mit der Hoffnung, 233. 70 Gabinete do Primeiro Ministro (Departamento de Migrações) à ASG, 11 de fevereiro de 1936, ASG ao gabinete do Primeiro Ministro (Departamento de Migrações), 4 de dezembro de 1935, Tiroler Bauernarchiv, Aktenmaterial vor 1945, Dreizehnlinden 8. 71 Tiroler Anzeiger, 31 de março de 1932, p. 1. 72 Correspondência entre Thaler e a ASG, Tiroler Bauernarchiv, Aktenmaterial vor 1945, Dreizehnlinden 10. 73 Thaler à ASG, 5 de fevereiro de 1935, ibid. 74 Benesch, Dreizehnlinden, 7. 75 Prutsch, Geschäft mit der Hoffnung, 234. 76 Cálculo próprio. Cf. Reiter et al., Dreizehnlinden, 169-187; 77 Prutsch, Geschäft mit der Hoffnung, 234-237. 78 Reiter et al., Dreizehnlinden, 23. 79 Benesch, Dreizehnlinden, 24. 80 Prutsch, Geschäft mit der Hoffnung, 238. 81 Prutsch, Geschäft mit der Hoffnung, 236 s.; Prutsch, „Auswanderung,“ 5973; Reiter et al., Dreizehnlinden, 72 s.; Thaler ao conselheiro econômico Liebscher, 21 de junho de 1936, Tiroler Bauernarchiv, Aktenmaterial vor 1945, Dreizehnlinden 10. 82 Thaler ao conselheiro econômico Liebscher, 21 de junho de 1936, ibid. 83 Reiter et al. Dreizehnlinden, 75-76. 84 Prutsch, Geschäft mit der Hoffnung, 237. 85 Ibid., 241. 86 Reiter et al., Dreizehnlinden, 74. 87 Arquivo comunal de Wildschönau, Leopold Benesch, documentação fotográfica. 88 Prutsch, Geschäft mit der Hoffnung, 241-242. 89 Benesch, Dreizehnlinden, 61. 90 Ibid. 62. 91 Prutsch, „Auswanderung“, 5973. 92 Prutsch, Geschäft mit der Hoffnung, 241. 93 Ibid., 251. 94 Relatório de Leopold Benesch „Die Ursachen der Siedlungskrisen,“ 9 de junho de 1956, Tiroler Bauernbundarchiv, Aktenmaterial vor 1945, Dreizehnlinden 26. 95 Prutsch, Geschäft mit der Hoffnung, 242. 96 Thaler à ASG, 7 de setembro de 1935, Tiroler Bauernbundarchiv, Aktenmaterial vor 1945, Dreizehnlinden 10; Thaler à ASG, 13 de novembro de 1935, ibid. 97 ASG a Thaler, 12 de maio de 1938, ibid. Dreizehnlinden 6. 98 Prutsch, Geschäft mit der Hoffnung, 222. 99 Ibid., 242-244. 100 Ibid., 244. 101 Entrevista com Hedwig Thaler, 1º de julho de 2004. 102 Prutsch, Geschäft mit der Hoffnung, 244; Reiter et al., Dreizehnlinden, 94. 103 Thaler à ASG, 7 de setembro de 1935, Tiroler Bauernbundarchiv, Aktenmaterial vor 1945, Dreizehnlinden 10. 104 Reiter et al., Dreizehnlinden, 94. 105 ASG ao gabinete do Primeiro Ministro (Departamento de Migrações), 28 de março de 1936, Tiroler Bauernarchiv, Aktenmaterial vor 1945, Dreizehnlinden 8. 106 As críticas de Aufinger seguem as manifestações de Thaler. CF. Stellungnahme von Thaler, 7 de outubro de 1935, ibid. 107 Stellungnahme von Thaler, 7 de outubro de 1935, ibid. 108 Prutsch, Geschäft mit der Hoffnung, 246. 109 Ibid. 110 Ibid., 247. 111 Ibid., 248.
112 Ibid., 249. 113 Ibid. 114 Ibid., 250. 115 Ibid., 252. 116 Thaler à ASG, 5 de fevereiro de 1935, Tiroler Bauernbundarchiv, Aktenmaterial vor 1945, Dreizehnlinden 10. 117 Prutsch, Geschäft mit der Hoffnung, 253. 118 Thaler ao conselheiro econômico Liebscher, 21 de junho de 1936, Tiroler Bauernbundarchiv, Aktenmaterial vor 1945, Dreizehnlinden 10. 119 Thaler ao Hohenbruck, 7 de setembro de 1935, ibid. 120 Arquivo comunal de Wildschönau, Leopold Benesch, documentação fotográfica. 121 Benesch, „Die Ursachen“; Tiroler Bauernbundarchiv, Aktenmaterial vor 1945, Dreizehnlinden 10. Prutsch, Geschäft mit der Hoffnung, 253. 122 Prutsch, Geschäft mit der Hoffnung, 253-254; Benesch, „Die Ursachen“. 123 Jürgen Müller, Nationalsozialismus in Lateinamerika: Die Auslandsorganisation der NSDAP in Argentinien, Brasilien, Chile und Mexiko (Stuttgart: Hans-Dieter Heinz, 1997), 93-116. 124 Prutsch, Geschäft mit der Hoffnung, 182-184. 125 Käte Harms-Baltzer, Die Nationalisierung der deutschen Einwanderer und ihrer Nachkommen als Problem der deutsch-brasilianischen Beziehungen 1930-1938, Biblioteca Ibero-Americana 14 (Berlim: Colloquium, 1970), 30-31. 126 Prutsch, Geschäft mit der Hoffnung, 254. 127 Entrevista com Hedwig Thaler, 1º de julho de 2004. 128 Prutsch, Geschäft mit der Hoffnung, 254. 129 Thaler a Schuschnigg, 12 de fevereiro de 1938, Tiroler Bauernarchiv, Aktenmaterial vor 1945, Dreizehnlinden 8. 130 Prutsch, Geschäft mit der Hoffnung, 254 s. 131 Thaler a Schuschnigg, 12 de fevereiro de 1938, Tiroler Bauernarchiv, Aktenmaterial vor 1945, Dreizehnlinden 8. 132 Arquivo comunal de Wildschönau, Josef Riedmann, Eine Fotodokumentation aus den Anfängen von Dreizehnlinden, introdução a Leopold Benesch, documentação fotográfica. 133 Thaler a Schuschnigg, 12 de fevereiro de 1938, Tiroler Bauernarchiv, Aktenmaterial vor 1945, Dreizehnlinden 10. 134 ASG a Thaler, 22 de março de 1938, ibid. Dreizehnlinden 6. 135 ASG a Thaler, 12 de maio de 1938, ibid. 136 Ibid. 137 Prutsch, Geschäft mit der Hoffnung, 255 s. 138 Thaler ao Hohenbruck, 11 de setembro de 1938, Tiroler Bauernarchiv, Aktenmaterial vor 1945, Dreizehnlinden 10. 139 Prutsch, Geschäft mit der Hoffnung, 255; ASG ao Ministério das Relações Exteriores, 13 de abril de 1938, Tiroler Bauernarchiv, Aktenmaterial vor 1945, Dreizehnlinden 8. 140 Entrevista com Hedwig Thaler, 1º de julho de 2004. 141 Benesch, Dreizehnlinden, 6; Prutsch, Geschäft mit der Hoffnung, 255. 142 ASG a Thaler, 3 de outubro de 1938, Tiroler Bauernarchiv, Aktenmaterial vor 1945, Dreizehnlinden 26. 143 Finnmann era um agente da GSA para assumir a colônia e um homem importante na depois cancelada Landesgruppe der NSDAP no Brasil. Prutsch, Geschäft mit der Hoffnung, 257. 144 Leopold Benesch, que era parente de Walter Schuschnigg, veio para Treze Tílias como líder do oitavo transporte e dirigiu o escritório. Benesch, Dreizehnlinden, 34. 145 Prutsch, Geschäft mit der Hoffnung, 257; Thaler à ASG, 1939, Tiroler Bauernbundarchiv, Aktenmaterial vor 1945, Dreizehnlinden 10. 146 Tiroler Grenzbote, 27 de junho de 1953, p. 5. 147 Prutsch, Geschäft mit der Hoffnung, 258; Benesch, “Die Ursachen”. 148 Benesch, “Die Ursachen”. 149 Prutsch, Geschäft mit der Hoffnung, 258-260. 150 Benesch, “Die Ursachen”. 151 Prutsch, Geschäft mit der Hoffnung, 260 s. 152 Ibid., 262. 153 Mayr, Wildschönau, 129. 154 Prutsch, Geschäft mit der Hoffnung, 263. 155 Bezirksblatt Kufstein, 23 de junho de 2004, Lokales, p. 4. 156 No outono de 1998, o jornal Wörgler und Kufsteiner Rundschau publicou uma série de artigos em sete partes sobre Treze Tílias. Sua missão: “65 anos após o seu passo, deve-se prestar a Thaler a merecida homenagem, informando a respeito de seu assentamento,” Cf. Wörgler und Kufsteiner Rundschau, 28 de outubro de 1998, p. 20. Sem estar perfeitamente de acordo com os fatos históricos, dizia que Thaler “sacrificou sua vida em prol da obra ideal de sua vida: o
assentamento de Treze Tílias, em bela fase de florescimento.” Cf. Reiter et al., dreizehnlinden, 97.
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