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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Instituto de Ciências Humanas
Bacharelado em Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis
Monografia
AÇÕES DE CONSERVAÇÃO PREVENTIVA PARA O CONTROLE DE
PRAGAS NO ACERVO DA SEÇÃO DE ANTROPOLOGIA DO MUSEU
ANTROPOLÓGICO DIRETOR PESTANA, IJUÍ – RS.
Miriam Silveira Campos
Pelotas 2013
1
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE MUSEOLOGIA E CONSERVAÇÃO E RESTAURO
BACHARELADO EM CONSERVAÇÃO E RESTAURO DE BENS CULTURAIS MÓVEIS
AÇÕES DE CONSERVAÇÃO PREVENTIVA PARA O CONTROLE DE
PRAGAS NO ACERVO DA SEÇÃO DE ANTROPOLOGIA DO MUSEU
ANTROPOLÓGICO DIRETOR PESTANA, IJUÍ – RS.
Miriam Silveira Campos
Trabalho de conclusão apresentado ao
Bacharelado em Conservação e Restauro de
Bens Culturais Móveis da Universidade
Federal de Pelotas, como requisito parcial à
obtenção do título de Bacharel em
Conservação e Restauro de Bens Culturais
Móveis. Sob orientação da Professora Ms.
Silvana de Fátima Bojanoski.
Pelotas - RS, Fevereiro de 2013.
2
Banca Examinadora:
Profª. Ms. Andréa Lacerda Bachettini
_________________________________________________
Profª. Ms. Silvana de Fátima Bojanoski (Orientadora)
_________________________________________________
3
Dedico este trabalho aos meus pais,
Mario e Elisete, que me ensinaram a
valorizar os pequenos detalhes da vida e
sempre estiveram ao meu lado.
4
Agradecimentos
Aos professores do Curso de Conservação e Restauro que mesmo
enfrentando algumas dificuldades se esforçaram e contribuíram para a formação
desta turma.
Aos profissionais e diretoria do Museu Antropológico Diretor Pestana, que me
receberam respeitosamente, acreditando na minha competência e permitindo que
este trabalho fosse elaborado. Principalmente à Museóloga Luciana Cardoso que
me orientou, me recebeu e confiou que este trabalho seria de grande importância
para o MADP.
Ao Professor Dr. Jaime M. Salles por ter me orientado no estágio que originou
este trabalho.
À Professora Ms. Silvana Bojanoski, não há palavras para agradecer pela
orientação neste trabalho. Foi de uma eficiência enorme em me fazer contornar
situações difíceis, teve paciência de me incentivar para que eu não desistisse e a
confiança em transmitir seus conhecimentos de maneira incontestável.
À Professora Ms. Andréa Bachettini pelo conhecimento transmitido durante
todo meu processo acadêmico, por permitir que o espaço de pintura sempre fosse
compartilhado pelos alunos, pelo incentivo e por ter aceitado o convite para avaliar
este trabalho.
Aos funcionários do curso, em especial à Keli Scolari e Jeferson Salaberry
que nunca mediram esforços para ajudar nas realizações de diversas tarefas,
mesmo que muitas vezes ocupados com suas obrigações.
Aos colegas que com o passar do tempo fizeram com que nosso convívio se
tornasse divertido. Pelas inúmeras discussões que acabaram nos tornando ainda
mais unidos e por terem feito parte de uma etapa muito importante da minha vida.
Aos que por algum motivo não conseguiram nos acompanhar até o final, mas que
marcaram nossa caminhada.
5
Em especial agradeço à Lisiane (Lisi), companheira desde o início da
faculdade que mesmo “agitadinha” soube me ouvir muitas vezes e principalmente
não me deixou desistir.
Agradeço aos meus pais, irmãos, cunhada e familiares que de forma indireta
me ajudaram a concluir este trabalho, pelas muitas vezes que souberam me
compreender e me incentivar.
Aos amigos, dentre eles da igreja e do serviço, que juntamente com meus
familiares arrancaram sorrisos do meu rosto e me fizeram prosseguir em momentos
que isto seria pouco provável.
Agradeço ainda as Museólogas Adriana Cardoso e Luciana Cardoso, por me
animarem e por estarem comigo em momentos essenciais e inesquecíveis, desde o
início da faculdade até o término. Fico feliz em saber que nossa parceria tem dado
certo e que tem contagiado pessoas, como a Rebeca e a Natália.
Ainda à Luciana Cardoso por além ter me chamado pra fazer o estágio,
compartilhou os seus conhecimentos durante todo o desenvolvimento desta
monografia. Lú e Adri, obrigado por estarem sempre ao meu lado.
Sobretudo agradeço a Deus, pelo dom da vida e por todas as pessoas que
colocou em meu caminho. Por me permitir chegar até aqui confiando que suas mãos
me fizeram e me deram força para prosseguir nesta caminhada.
6
“A partir do momento que conhecemos conscientemente e
tecnicamente nossos problemas é que poderemos encontrar
soluções compatíveis com a nossa realidade. Caminhar na
direção do ideal é um passo a mais para tentar alcançar as
condições mais adequadas.”
(Yacy-Ara Froner)
7
Resumo
CAMPOS, Miriam Silveira. Ações de Conservação Preventiva para o controle de
pragas no Acervo da Seção de Antropologia do Museu Antropológico Diretor
Pestana, Ijuí - RS. 2013. 57f. Monografia – Curso de Bacharelado em Conservação
e Restauro de Bens Culturais Móveis. Universidade Federal de Pelotas, Pelotas -
RS.
A presente monografia analisará o acervo salvaguardado na Seção de Antropologia
do Museu Antropológico Diretor (MADP), monitorando as variações de umidade e
temperatura, bem como identificando a presença de agentes biológicos nos
mesmos. Tal análise se baseará em bibliografias específicas sobre diagnósticos e
ações de conservação preventiva, considerando os fatores já apontados.
Através de tal estudo objetiva-se conhecer a realidade Institucional e apontar
melhorias, buscando manter a estabilidade dos materiais, bem como apontar ações
para que se diminuam os riscos de danos ou perdas de tais acervos, causados por
infestações, afinal, os mesmos são únicos e tem a missão de manter viva a história e
memória de uma comunidade.
Palavras-Chave: Conservação Preventiva. Agentes Biológicos. Controle Ambiental.
Museu Antropológico Diretor Pestana.
8
Abstract
CAMPOS, Miriam Silveira. Ações de Conservação Preventiva para o controle de
pragas no Acervo da Seção de Antropologia do Museu Antropológico Diretor
Pestana, Ijuí - RS. 2013. 57f. Monografia – Curso de Bacharelado em Conservação
e Restauro de Bens Culturais Móveis. Universidade Federal de Pelotas, Pelotas -
RS.
This monograph analyze this legislation safeguarded in Section of Anthropology
Anthropological Director Pestana Museum (MADP) monitoring the humidity and
temperature changes, and identifying the presence of biological agentsin them. Tal
analysys be based on bibliographies disgnósticos specific actions and safe storage,
considering the factors already mentioned.
Through such a study objective up to recognize the reality Institutional and
improvements point trying to maintain the stability of the materials, and actions for
pointing that decrease risk of damage or loss of such collections caused by
infestations, after all, they are unique and has a mission to keep living history and
memory of the region.
Keywords: Preventive Conservation. Biological Agents. Environmental Control.
Director Pestana Anthropological Museum.
9
Lista de Figuras
Figura 1: Mapa do Rio Grande do Sul com localização da Cidade de Ijuí................16
Figura 2: Vista aérea da Usina Velha de Ijuí/RS ......................................................17
Figura 3: Augusto Pestana .......................................................................................18
Figura 4: Museu Antropológico Diretor Pestana .......................................................20
Figura 5: Instrumentos utilizados na agricultura .......................................................26
Figura 6: Instrumentos na marcenaria ......................................................................26
Figura 7: Acervo Ponto casa .....................................................................................27
Figura 8: Acervo Ponto casa .....................................................................................27
Figura 9: Vista lateral esquerda do Museu ...............................................................33
Figura 10: Vegetação na frente do Museu ...............................................................33
Figura 11: Detalhe de um dos jardins internos do Museu ........................................34
Figura 12: Planta baixa do Museu com Esquema ....................................................36
Figura 13: Marcas de infiltração no climatizador de ar na área de exposição...............37
Figura 14: Relógio com orifícios causados por térmitas ...........................................40
Figura 15: Sofá ao fundo com infestação de traças ....................................................40
Figura 16: Tulha com infestação de cupim no Ponto Casa .........................................41
Figura 17: Piano onde foi encontrada a ooteca ...........................................................42
10
Lista de abreviaturas
CCI: Canadian Conservation Institute
FAFI: Faculdade de Filosofia Ciências e Letras
FENADI: Feira Nacional das Culturas Diversificadas
FIDENE: Fundação de Integração, Desenvolvimento e Educação do Noroeste do
Estado
IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas
ICOM: International Council of Museums
ICCROM: International Center for the Study of the Preservation and Restauration oh
Cultual Heritage
IMC: Instituto do Museu e da Conservação
MADP: Museu Antropológico Diretor Pestana
UNIJUÍ: Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul
11
Sumário
Introdução ................................................................................................................12
1. O SURGIMENTO DA CIDADE DE IJUÍ – RS E A FORMAÇÃODO MUSEU
ANTROPOLÓGICO DIRETOR PESTANA .........................................................15
1.1 Ijuí e seu povoamento ....................................................................................15
1.2 Administração de Augusto Pestana .................................................................18
1.3 Museu Antropológico Diretor Pestana – MADP.................................................19
1.4 A conservação preventiva em espaços museológicos ..................................23
1.5 Materiais que compõe o acervo de antropologia ..............................................25
2. ANÁLISE DO AMBIENTE DA EXPOSIÇÃO DE LONGA DURAÇÃO E RESERVA
TÉCNICA DO MUSEU ANTROPOLÓGICO DIRETOR PESTANA E A RELAÇÃO
COM O DESENVOLVIMENTO DE PRAGAS ...........................................................29
2.1 Problemas causados por Umidade Relativa e Temperatura Incorretas ........29
2.2 Características do entorno do Museu ..............................................................31
2.3 Características do ambiente interno do Museu – exames realizados ...........35
2.3.1 Identificação dos insetos encontrados no MADP .....................................39
CONCLUSÃO ...........................................................................................................45
BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................48
ANEXOS ...................................................................................................................50
12
1. Introdução
Este trabalho desenvolveu-se com o intuito de explanar sobre a conservação
preventiva dos acervos da Seção de Antropologia do Museu Antropológico Diretor
Pestana – MADP localizado na cidade de Ijuí, região noroeste do Rio Grande do Sul.
Por intermédio da Museóloga Luciana Cardoso, foi feito o convite para realização do
estágio curricular do Curso de Bacharel em Conservação e Restauro de Bens
Culturais Móveis neste Museu. Considerando as características e importância do
acervo, e o fato de a Instituição não possuir profissional na área de conservação e
restauro, tal convite representou a oportunidade de aplicação dos conhecimentos
adquiridos durante o Curso.
A conservação preventiva é um assunto muito discutido atualmente e refere-
se às ações desenvolvidas de modo a prolongar o tempo de existência dos objetos.
Seriam ações praticadas no ambiente onde este objeto se encontra, influenciando
diretamente no comportamento dos materiais que constituem o mesmo. Segundo o
Plano de Conservação Preventiva, elaborado pelo Instituto dos Museus e da
Conservação de Portugal – IMC, “...as boas práticas de conservação preventiva
conduzem a uma maior longevidade das coleções e a uma melhor gestão de
recursos, reduzindo a necessidade de intervenções curativas onerosas e evitando
perdas patrimoniais”. (IMC, 2007, p. 7).
Foi com este olhar de conservação que passamos ao reconhecimento dos
ambientes do Museu, das divisões existentes e dos profissionais que contribuem
para o funcionamento da Instituição. No primeiro contato com o acervo, ao observar
a exposição de longa duração, foi possível compreender a maneira cronológica
como os objetos estão dispostos e organizados. A exposição é composta
principalmente por objetos da Seção de Antropologia, que ocupam também a maior
parte da reserva técnica.
A Seção de Antropologia é a que detém maiores tipologias de materiais, tais
como: madeira, cerâmica, metais, têxteis e outros. Este acervo, por suas
características e diversidade, caracteriza a ocupação da região noroeste do Rio
Grande do Sul. A maior parte deste acervo se encontra na exposição de longa
13
duração e narra a história, desde os tempos dos índios missioneiros até os dias
atuais, passando pelas várias etnias que povoaram essa região.
Durante o estágio todos os acervos da exposição foram examinados a partir
dos conteúdos e assuntos discutidos em várias disciplinas do Curso de Conservação
e Restauro como, por exemplo, a de Agentes Biológicos de Deterioração, além das
pesquisas bibliográficas sobre ambientes e conservação preventiva.
Foram identificadas degradações causadas por térmitas e a presença de
insetos em algumas áreas do Museu. Decidiu-se então fazer um estudo mais
aprofundado sobre o ambiente e a forma com que o mesmo está contribuindo para a
proliferação de pragas.
As ações destes agentes de degradação quando não controladas, alteram a
estrutura física do objeto, causando danos irreparáveis e ocasionando sua perda. Os
objetos expostos em museus são únicos, qualquer dano ocasionado, coloca o risco
de perder-se parte da história e memória de uma comunidade, por isso a
necessidade de preservá-los.
No primeiro capítulo aborda-se a história do surgimento da cidade e do
povoamento da região de Ijuí, bem como a criação do Museu Antropológico Diretor
Pestana, pois é a partir do conhecimento de como se iniciou a colonização dessa
região que se podem entender as características e significados do acervo que narra
a trajetória desta população.
Ainda no primeiro capítulo também se discute a conservação preventiva em
espaços museológicos, pensando na melhor maneira de garantir a preservação e
longevidade do acervo. E por fim, como um embasamento para a discussão do
capítulo seguinte, busca-se mostrar como a Seção de Antropologia está atualmente
organizada.
No segundo capítulo identifica-se o ambiente de exposição e guarda dos
objetos, as tipologias dos materiais que constituem o acervo, e a ação do ambiente
nestes materiais. Para isso tomou-se como base os textos disponíveis no Canadian
Conservation Institute sobre os 10 agentes de deterioração, e mais especificamente,
os textos elaborados por Stefan Michalski (2009) sobre temperatura e umidade
incorretas, onde ele explica que a variação destes dois agentes é determinante na
14
proliferação de pragas, e mostra ainda os riscos e benefícios de certas medidas de
controle de umidade e temperatura, em uma coleção com materiais variados.
A localização do edifício do Museu e o clima da cidade foram considerados no
estudo, pois exercem grandes influências sobre o ambiente das áreas de guarda e
de exposição e interfere diretamente no problema de pestes inicialmente observado.
De acordo com Lopes (2011, p. 18) a primeira barreira de proteção do acervo é o
edifício e através das análises do clima exterior e interior do mesmo, é possível
detectar possíveis causas de degradação. Daí a necessidade de um olhar criterioso
sobre o edifício e o entorno onde está localizado.
Sabendo que o desenvolvimento de agentes biológicos está diretamente
associado às condições ambientais das áreas onde o acervo é guardado ou
exposto, buscou-se analisar quais são essas condições ambientais nas diferentes
áreas do museu e de que forma estão sendo propícias para a proliferação de
pragas.
Por fim, foram identificados os insetos encontrados no Museu e
caracterizados quanto ao tipo de ambiente onde se proliferam, os danos que podem
causar e a maneira como se pode combater estas pragas.
Como conclusão, são feitas algumas considerações sobre como este trabalho
pode constituir-se em uma fonte de informações sobre as condições atuais dos
locais de guarda e de exposição, das tipologias do acervo, e de como as condições
ambientais podem estar interferindo no risco de proliferação de insetos no acervo do
Museu Antropológico Diretor Pestana.
15
CAPÍTULO 1: A CIDADE DE IJUÍ E A FORMAÇÃO DO MUSEU ANTROPOLÓGICO
DIRETOR PESTANA
O Museu Antropológico Diretor Pestana, localizado na cidade de Ijuí, na
região noroeste do Rio Grande do Sul, guarda um importante acervo
relacionado com os primeiros habitantes da região, assim como objetos
referentes à cultura e história dos vários grupos que contribuíram para o
desenvolvimento dessa região. Para que se possa entender a importância das
coleções preservadas neste Museu é preciso inicialmente apresentar um breve
histórico da formação desta região e de seu povoamento. Em seguida serão
discutidas as características e contexto de desenvolvimento das coleções,
apontando-se também as questões de conservação de seu acervo. Do mesmo
modo pretende-se apresentar o contexto ao qual o museu está inserido,
detalhando a forma de exposição dos objetos e analisando a necessidade de
conservação de seu acervo.
1.1 Ijuí e seu povoamento
O município de Ijuí atualmente é composto pelos distritos de Ijuí, Mauá,
Chorão, Floresta, Santo Antônio, Alta da União, Barreiro, Santana e Itaí,
situando-se a 395 km da capital Porto Alegre, como se pode ver na indicação
feita no mapa mostrado na figura 1. Segundo dados do IBGE - Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatísticas, em outubro de 1890 foi fundada a colônia
Ijuhy, que na linguagem guarani significa “rio das águas divinas”. Em janeiro de
1912 passou de 5º Distrito de Cruz Alta a município autônomo sob a designação
de Ijuí.
16
Figura 1. Mapa do Estado do Rio Grande do Sul com esquema de Localização da cidade de Ijuí
Fonte: Site BrasiLocal1. Esquema da Autora, 2013.
De acordo com o livro “Nossas Coisas e Nossa Gente” (Marques e Brum,
2004), a colonização desta região foi incentivada pelo governo do Estado
principalmente para quem possuía conhecimentos em agricultura. A população
ijuiense é formada por muitos povos: indígenas, afro-brasileiros, espanhóis,
portugueses, alemães, franceses, italianos, poloneses, holandeses, austríacos,
suecos, japoneses, russos, lituanos, libaneses, árabes, ucranianos, dentre outros.
Por ter seu povoamento composto de muitas etnias, a cidade ficou conhecida como
“Terra das Culturas Diversificadas”. A Colônia Ijuí foi fundada por José Manuel de
Siqueira Couto, também chefe da Colônia Silveira Martins em Santa Maria. Em 1890
José Couto, acompanhado de um grupo de italianos, começou a demarcação dos
terrenos da nova colônia.
Ainda conforme Marques e Brum (2004, p.141), a estrada de ferro vinha de
Porto Alegre até o município de Santa Maria, onde chegavam através do Serviço de
Comissão de Terras os imigrantes e suas famílias, tornando a Colônia Silveira
Martins o centro de distribuição dos imigrantes pelas zonas a serem colonizadas. Ijuí
tornou-se o primeiro município gaúcho a ter uma colonização de etnias
diversificadas, sendo povoada de maneira lenta e trabalhosa. Primeiramente,
1Disponível em: <http://www.brasilocal.com/rio_grande_do_sul.html>. Acesso em 02-01-
17
chegavam os homens, derrubavam o mato, abriam estradas, construíam os
barracões e então traziam as famílias. (Marques e Brum, 2004, p. 134)
Sobre as características geográficas da cidade, conforme dados disponíveis
no site da Prefeitura de Ijuí2, sua vegetação procede das florestas subtropicais,
embora tenha sofrido algumas modificações com a urbanização. O clima é
subtropical com invernos secos e frios, e o verão muito quente. A temperatura tem a
média anual de 20ºC, as chuvas são bem distribuídas e as quatro estações do ano
são bem definidas. A cidade esta localizada a uma altitude de 380 m acima do nível
do mar e o seu solo é formado por basalto-arenítico, terreno característico do
Planalto Meridional da região Sul do Brasil.
Em pesquisa realizada por alunos do Curso de Engenharia Civil da UNIJUÍ3 e
publicada na Revista Teoria e Prática na Engenharia Civil, Nº12, o solo é rico em
minerais e ferro, fértil, não permeável e com tom avermelhado, comprovando o
potencial para o desenvolvimento da agricultura nesta região. A cidade é cortada
pelos rios Ijuí, Conceição e Potiribú, fazendo com que a região tenha um grande
potencial hidrelétrico, abrigando a hidrelétrica mais antiga do Estado, ainda em
funcionamento, chamada de Usina Velha (fig. 2).
Figura 2. Vista aérea da Usina Velha de Ijuí/RS
Fonte: Site Ijuí - RS - Memória Virtual4.
2Disponível em: <http://www.ijui.rs.gov.br/prefeitura/index/2>. Acesso em: 03-01-2013. 3Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. 4Disponível em:<http://ijuisuahistoriaesuagente.blogspot.com.br/2011/01/historia-da-energia-eletrica-em-ijui.html>. Acesso em 04-01-2013.
18
Pela forma de desenvolvimento de Ijuí, sua localização e população composta
por vários grupos étnicos, a cidade é conhecida como “Terra das Culturas
Diversificadas”, “Terra das Fontes de Águas”, “Colmeia de trabalho” e ainda como
“Cidade Universitária”. A fim de divulgar a diversidade e riqueza que caracterizam a
região de Ijuí, acontece anualmente no Parque de Exposições de Ijuí, a FENADI,
Feira Nacional das Culturas Diversificadas, onde são relembradas as tradições
culturais de cada grupo que chegou até a região e contribuiu para a formação desta
cidade.
1.2 Administração de Augusto Pestana
A Colônia Ijuí foi administrada por quatro diretores, sendo o último deles, o
Engenheiro Augusto Pestana (fig. 3). Assumindo a Colônia em janeiro de 1899,
encontrou períodos de grandes dificuldades, pois desde que se proclamou a
República, o Estado do Rio Grande do Sul teve vários governos. Por quase 14 anos
Pestana esteve à frente da Colônia exercendo o trabalho de estimular os colonos,
apaziguar conflitos entre federalistas e republicanos e cuidar do bem estar de todos5.
Figura 3. Augusto Pestana
Fonte: Site da Prefeitura de Ijuí6.
5 Disponível em: <http://www.ijui.rs.gov.br/prefeito/ex>. Acesso em 03-01-2013. 6 Disponível em: <http://www.ijui.rs.gov.br/prefeito/ex>. Acesso em 03-01-2013.
19
Durante sua administração o Diretor Pestana proporcionou meios de
subsistência adequados para os colonos, disponibilizando sementes para o plantio,
pagando aqueles que trabalhavam na construção das estradas e incentivando a
pecuária. Desta forma conseguia atrair um número cada vez maior de imigrantes.
Em uma aula proferida pelo Doutor César Pestana, filho de Augusto Pestana,
na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ijuí, em 10 de março de 1962, fica
clara a admiração que o último Diretor da colônia conquistou durante seu governo,
através da seguinte afirmação,
Contou com o apoio incondicional da população desta terra, justamente porque viram que as suas intenções eram realmente de procurar fazer de um torrão ainda principiante, uma base para a fertilidade do futuro que reafirmasse a passagem aqui de homens que de fato vieram ajudar. (MARQUES, BRUM, 2004, p.188).
Augusto Pestana tornou-se uma pessoa respeitada pela população ijuiense,
tendo seu nome homenageado em ruas, distrito, colégio, comunidade evangélica,
museu e municípios do Rio Grande do Sul. Teve seu trabalho reconhecido em junho
de 1912 pelo Diretor Geral do Ministério da Agricultura, que julgou sua administração
como modelar para todo o país. Por fim, foi nomeado como Intendente Provisório
quando houve a emancipação da Colônia, tornando-se em seguida o primeiro
prefeito de Ijuí.
Foi durante a administração de Augusto Pestana que pontes foram
construídas e a Estação Ferroviária de Ijuí foi inaugurada em 1911, facilitando assim
o acesso entre os municípios desta região do Estado e consequentemente
contribuindo para o desenvolvimento econômico da cidade. Casas comerciais foram
surgindo e muitas empresas foram criadas, sendo adotado pela população o nome
“Colmeia de Trabalho” como representação daquele momento de expansão e
crescimento da cidade. Pestana permaneceu como prefeito apenas por alguns
meses, deixando o cargo em 1912, mesmo ano de emancipação da cidade. Sua
administração marcou um período de desenvolvimento e crescimento da cidade.
20
1.3 Museu Antropológico Diretor Pestana - MADP
O Museu Antropológico Diretor Pestana (fig. 4) foi criado em 25 de maio de 1961
pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ijuí - FAFI, que passou a se
denominar Fundação de Integração, Desenvolvimento e Educação do Noroeste do
Estado - FIDENE. O nome da Instituição homenageia o Diretor da Colônia Ijuí,
Augusto Pestana, que como mostrado anteriormente, foi uma figura importante na
colonização, crescimento e desenvolvimento da cidade de Ijuí.
Figura 4. Museu Antropológico Diretor Pestana
Foto da autora, 2012.
Ao longo de 50 anos já passaram pela direção do Museu os diretores Martín
Fischer (1961 – 1969), Maria Helena Abrahão Schorr (1970 – 1973), Jaeme Luiz
Callai (1973 – 1975), Danilo Lazzarotto (1975 – 1978), João Wanderley Gerald (1978
– 1980), Leonilda Maria Preissler (1980 – 2007) e Stela Mariz Zambiazi de Oliveira
que ocupa o cargo desde o ano 2007. A equipe técnica, responsável pelas
atividades de organização, exposição e manutenção do acervo que se encontra sob
a guarda do MADP é formada pelos seguintes componentes: museólogo, arquivista,
educador, fotógrafo, assistentes de pesquisa, secretário, estagiário e funcionário de
limpeza.
O acervo do Museu é organizado em três grandes divisões. A Divisão de
Museologia é responsável pela manutenção da exposição de longa duração e
21
elaboração/montagem das exposições temporárias, tendo seu acervo composto por
mais de 29 mil peças museológicas.
Já a Divisão de Documentação é composta por documentos textuais,
bibliográficos e iconológicos que resgatam aspectos significativos do município e da
região.
A Divisão de Imagem e Som guarda um acervo de mais de 300 mil imagens,
constituído por diferentes suportes como discos, fitas cassetes, videocassetes e
microfilmes. A forma como cada uma das Divisões está subdivida é mostrada a
seguir.
A Divisão de Museologia se subdivide nas seguintes seções:
Seção Arqueológica
Seção Antropológica
Seção Numismática
Seção Filatelia
A Divisão de Documentação está organizada nos seguintes Arquivos e
Coleções:
FIDENE
Ijuí
Cooperativismo
Sindicalismo
Regional
Kaigang/Guarani/ Xetá
Hemeroteca
Por fim, a Divisão de Imagem e Som é formada pelas seguintes áreas:
Arquivos Fotográficos7
Discoteca
7O Arquivo Fotográfico é formado pelas seguintes coleções: FIDENE, Ijuí, Cooperativismo,
Sindicalismo, Regional, Indígena, Nacional e Internacional.
22
Fitoteca
Filmoteca/Videoteca
Além do espaço museológico a Instituição também abriga um Arquivo,
sendo o acesso independente entre os dois espaços. O espaço museológico é
formado pela sala da Divisão de Museologia, cozinha, reserva técnica, exposição
de longa duração, sala de higienização, e no subsolo, o auditório e a sala de
exposição temporária. Já o Arquivo é composto por salas de pesquisas, duas
áreas de guarda e ao fundo, a Divisão de Imagem e Som com quatro pequenas
salas.
As características e diversidades dos grupos que conformaram a ocupação da
cidade de Ijuí, já apontadas na primeira parte desse texto, se refletem nas coleções
que formam o acervo do MADP. A exposição de longa duração do Museu é formada
por objetos que mostram desde a presença dos índios pré-missioneiros na região, a
formação da Colônia Ijuí, a vida e subsistência dos primeiros habitantes da cidade,
seus objetos de trabalho e religiosos. O acervo é formado pelos objetos doados pela
população local, que deseja resgatar os costumes antigos e manter viva a memória
de seus antepassados.
Ao estudar a história da cidade de Ijuí, entende-se que o município formou-se
através da união e do trabalho de diversas etnias que enfrentaram dificuldades para
chegar até esta região e para ali sobreviver. Ainda hoje, é notório o prazer e orgulho
que a população ijuiense sente em relembrar sua história. É com a finalidade de
manter este passado vivo, que o Museu recebe, cuida e expõe o seu acervo,
mantendo o passado sempre presente na vida das pessoas que vivem na região,
permitindo aos que chegam de longe vivenciar a sua história.
Pode-se comprovar a afirmação feita anteriormente através do discurso de
Martin Fischer, o primeiro diretor da instituição, em um capítulo do livro lançado em
homenagem aos 40 anos do Museu em 2002, no qual defende que o acervo desta
Instituição representa a história e cultura das diversas etnias que povoaram a região
noroeste do Estado e que conservar estes objetos é a maneira de relembrar seus
primeiros habitantes.
23
Nas palavras de Fischer,
O Museu será uma documentação viva da cultura do nosso lavrador rural, do nosso colono, e dos que trabalham no comércio e na indústria e, outrossim, será uma documentação viva da organização administrativa, da vida espiritual e social: em suma, uma síntese geral da evolução da nossa região pela mão do nosso homem... (COLEÇÃO MUSEU ANTROPOLÓGICO DIRETOR PESTANA, 2002, p. 35).
Ao se referir ao Museu como uma “documentação viva”, Fischer demonstra o
desejo de que a instituição se torne um lugar de referência para pesquisas e estudos
sobre a história desta região. Pode-se notar que este objetivo tem sido alcançado,
pois através do levantamento feito no Livro de Visitações do Museu, no ano de 2011
foram registrados 5.207 visitantes, sendo que destes, 4.569 são estudantes do
ensino médio e ensino superior8, fato que demonstra o interesse dos mais jovens em
conhecer parte do seu passado.
As palavras de Fisher também indicam qual é a missão do Museu
Antropológico Diretor Pestana. A clara percepção de qual é a missão de um museu
é fundamental para definir as suas políticas de preservação e atuação. De acordo
com Edson (2004, p. 151), a missão de um museu “...deve ser simples mas escrita
cuidadosamente, descrever o que o museu é, o que faz, como opera, como
coleciona, onde opera, onde coleciona e por que razão coleciona”. Este autor conclui
que, estas ações quando documentadas e exercidas, determinam o objetivo do
museu, facilitando no acolhimento de acervos que caracterizem a identidade da
instituição.
Conforme o Regimento do MADP, a missão do Museu é descrita como forma
de “recolher, estudar, analisar, catalogar, conservar em exposição permanente, ou
em seus arquivos, objetos e documentos referentes à história do homem da região.”
(REGIMENTO MADP, 2002, p.49). É possível assim relacionar os objetivos do
Museu ao seu próprio nome, que ao se denominar “museu antropológico”,
demonstra que seu acervo está vinculado à cultura e história dos homens que
ocuparam, viveram e trabalharam para o desenvolvimento da cidade de Ijuí.
8 Levantamento feito pela Museóloga Adriana Silveira em 2012. 9 Esse Regimento Interno do Museu que foi consultado, segundo a museóloga da Instituição Luciana Cardoso, está em fase de atualização, pois o mesmo se encontra defasado.
24
1.4 A Conservação preventiva em espaços museológicos
Sabendo da importância deste acervo para a população de Ijuí e também
para a região que se encontra ali representada, é primordial preservar esses objetos
como garantia de que se mantenha a sua integridade física, permanência e
durabilidade. Segundo Medeiros (2005), qualquer objeto que represente uma história
pode ser considerado um patrimônio, por isso a necessidade de preservá-lo.
Conforme a autora,
A importância de conservar um objeto que consideramos parte de um patrimônio está no fato deste se constituir registro material da cultura, da expressão artística, da forma de pensar e sentir de uma comunidade em determinada época e lugar, um registro de sua história, dos saberes, das técnicas e instrumentos que utilizava. Para termos esse registro da cultura é imprescindível a existência de um suporte material, como um objeto, uma construção ou um documento. (MEDEIROS, 2005, p.1).
Pensando na melhor maneira de preservação do acervo do MADP, pretende-
se neste trabalho analisar e propor soluções a partir dos princípios da conservação
preventiva. Essa abordagem preventiva está colocada em várias publicações
atuais10. Optou-se aqui em seguir as orientações do Instituto dos Museus e da
Conservação – IMC, que constam na publicação intitulada “Plano de Conservação
Preventiva”. A referida publicação indica que a conservação preventiva é baseada
em normas e procedimentos de avaliações a serem realizadas periodicamente e por
profissionais conhecedores do assunto. Também destaca que todo museu deve
possuir seu próprio Plano de Conservação, de acordo com seu ambiente de guarda
do acervo.
Os procedimentos recomendados pelo IMC são avaliação dos riscos e
elaboração de ações, a fim de prevenir degradações causadas pelo ambiente,
retardando o processo de envelhecimento dos materiais que constituem os objetos.
Cabe salientar que as condições ambientais exercem grandes influências sobre o
acervo, através das variações de umidade e temperatura que atuam de diferentes
formas sobre os materiais causando dilatações e contrações, fragilizando seu
suporte. A umidade elevada acelera as reações químicas nos materiais e quando
10
Como por exemplo: Carvalho, Claudia. O Projeto de Conservação Preventiva do Museu
Casa de Rui Barbosa; Lopes, Ana. CONSERVAÇÃO PREVENTIVA: Construção de uma “Checklist” apliacada às áreas de Exposição e Reserva; Alarcão, Catarina. Prevenir para Preservar o P atrimônio Museológico; MAST. Conservação de Acervos (2007).
25
acompanhadas de altas temperaturas, desenvolve um ambiente que favorece a
proliferação de insetos e fungos.
O desenvolvimento de agentes biológicos pode causar danos que requerem
intervenções para restauração do suporte ou danos irreparáveis, resultando até
mesmo na sua perda total. Deste modo, pode-se afirmar que as ações de
conservação preventiva, quando colocadas como prioridade e voltadas para
melhoria das condições do objeto e do ambiente, garantem uma longevidade maior
ao acervo.
Além de a conservação preventiva assegurar a estabilidade do acervo, ela
influência também na redução de gastos por parte da instituição em intervenções e
restauros, sempre dispendiosos. A implementação de ações de conservação deve
ser feita por uma equipe devidamente treinada, porém acima de tudo deve ser
entendida como uma prática multidisciplinar que depende da atuação de todos os
funcionários e técnicos de uma instituição, incluindo desde o pessoal da limpeza, da
administração e também da diretoria da instituição. Atuando desta maneira, os
museus terão a salvaguarda dos objetos garantida, reduzindo assim
significativamente os riscos de perdas e danos no seu acervo.
1.5 Materiais que compõe o acervo de antropologia
É especialmente na Seção de Antropologia do MADP que o acervo
caracteriza-se mais claramente como uma narrativa das ocupações humanas da
região. Esculturas, cestarias, instrumentos de trabalho relacionados às várias
atividades ali desenvolvidas, mobiliário e vários outros objetos possibilitam
rememorar a colonização, a imigração, os vários grupos formadores, a história e a
cultura regional. A Seção de Antropologia também é a que possui o maior número
de coleções e objetos, grande parte deles na exposição de longa duração e ainda
uma parte significativa das obras guardadas na reserva técnica.
A fim de conservar este acervo e manter viva a história dos antepassados de
Ijuí e região, é que se realizou alguns exames nos objetos, como será visto no
próximo capítulo. A exposição de longa duração tem seu acervo organizado de
forma a representar os períodos da vida desta população, divididos por temas. São
eles: Índio Pré-Missioneiro, Índio Missioneiro, Índio Atual, Agricultura, Trabalho,
26
Transporte, Comunicação, Indústria, Prestação de Serviço, Ensino, Armas, Religião,
Casa e Espaço Ijuí Hoje.
Grande parte do acervo é constituída de madeira, como pode ser visto no
Ponto Agricultura (fig. 5) e no Ponto de Trabalho (fig. 6).
Figura 5. Instrumentos utilizados na agricultura
Foto da Autora, 2012.
Figura 6. Instrumentos utilizados na marcenaria
Foto da Autora, 2012.
27
Enquanto no Ponto Casa é possível identificar uma maior diversidade de
materiais, pois além dos objetos em madeira existem têxteis, metais, louças entre
outros, conforme pode ser visto nas imagens abaixo (fig. 7) e (fig. 8).
Figura 7. Acervo Ponto casa
Foto da Autora, 2012.
Figura 8. Acervo ponto casa
Foto da Autora, 2012.
28
Considerando a reserva técnica, a mesma abriga todas as tipologias de
materiais, desde cerâmica, cestarias, têxteis, madeira, metal, louça, couro, pinturas,
entre outros. Por ser numeroso, o acervo é organizado em armários pequenos, em
cima de bancadas e em um armário deslizante. No armário deslizante o acervo é
organizado por tipologias e separado nas estantes dos módulos.
A proposta deste trabalho de conservação preventiva é reconhecer o acervo e
o seu ambiente de guarda, para então avaliar ocorrências de proliferação de pragas.
Sabendo da importância deste acervo, é fundamental considerar os riscos a que
pode estar exposto. Apenas através da conservação é que se pode garantir a
preservação dos bens de uma instituição, mantendo a sua história a disposição hoje,
e também ao alcance de futuras gerações.
Foi pensando na garantia da permanência física deste acervo que se iniciou a
análise do monitoramento do ambiente, tanto na reserva técnica quanto na área de
exposição. O acervo foi também examinado e higienizado para identificação
constatação de proliferação de pragas, como será visto no capítulo a seguir.
29
CAPÍTULO 2: ANÁLISE DO AMBIENTE DA EXPOSIÇÃO DE LONGA DURAÇÃO E
RESERVA TÉCNICA DO MUSEU ANTROPOLÓGICO DIRETOR PESTANA E A
RELAÇÃO COM O DESENVOLVIMENTO DE PRAGAS
Quando se faz um diagnóstico de conservação é necessário observar e
identificar as situações que podem colocar o acervo em risco. O CCI- Canadian
Conservation Institute, juntamente com o ICCROM - International Centre for the
Study of the Preservation and Restoration of Cultural Heritage, desenvolveu a
metodologia de gerenciamento de riscos através da “Ferramenta Conceitual dos 10
Agentes de Deterioração”, com a qual é possível identificar os riscos que atingem as
coleções. Os 10 agentes são especificados como forças físicas, atos criminosos,
fogo, água, pragas, poluentes, luz e radiações ultravioleta e infravermelho,
temperatura incorreta, umidade relativa incorreta e dissociação. (Spinelli e Pedersoli
Jr., 2010, p. 26).
A ação desses 10 agentes constitui-se na causa da degradação e resultam
em grandes danos aos acervos. A identificação de quais agentes estão colocando
em risco um determinado acervo exige um estudo criterioso e por vezes demorado.
Dentro do escopo desse trabalho optou-se em priorizar as condições ambientais
associadas com a temperatura e a umidade, as quais estão diretamente
relacionadas com o surgimento de insetos nos acervos. Esse recorte foi necessário
devido às restrições de tempo para desenvolver um trabalho mais abrangente, mas
principalmente, considerando que a biodeterioração foi a questão abordada no
período de estágio curricular realizado anteriormente no MADP.
Desta forma serão analisadas as condições ambientais do Museu incluindo
temperatura, umidade, presença de vegetação, rotas de entradas e presença de
alimentos que possam atrair insetos para assim verificar a vulnerabilidade da
Instituição quanto ao risco de pragas.
2.1 Problemas causados por Umidade Relativa e Temperatura Incorretas
A umidade relativa, segundo Ogden (2008, p. 23) é a medida da capacidade
do ar de segurar a umidade. Ou seja, é a quantidade de água contida no ar do
ambiente que se está controlando. Quando se fala sobre umidade, deve-se observar
que a mesma não age sozinha sobre o ambiente e objetos, mas está sempre
30
relacionada com a temperatura. Quando o ambiente atinge uma baixa temperatura,
a umidade aumenta. Caso a temperatura aumente, a umidade diminuirá. Desta
forma nota-se que a umidade e temperatura são medidas inversamente
proporcionais, sendo que ambas estão associadas com a velocidade da degradação
dos objetos.
Alguns dos danos causados pela umidade e temperatura foram abordados no
texto “Prevenir Para Preservar o Patrimônio Museológico”, de Alarcão (2007, p.25).
Essa autora afirma que a umidade incorreta pode causar o envelhecimento dos
materiais através dos efeitos de dilatação e contração alterando as propriedades
físicas dos materiais, diminuindo sua resistência estrutural e conferindo rigidez aos
materiais. O enfraquecimento dos materiais podem causar rachaduras e
empenamentos no caso de objetos em madeira, desprendimento da camada
pictórica e craquelês em objetos com pintura e ruptura das fibras em caso de papéis.
No caso de objetos em cerâmica não revestida e couro, quando expostos em
umidade baixa os materiais ressecam. O couro torna-se quebradiço e a cerâmica
tende a desintegrar-se. Se os objetos estiverem com acúmulo de poeira e sujidades
como excrementos de insetos, podem ocorrer reações químicas causando manchas
e até corrosão dos materiais quando a umidade for absorvida. Desta forma é
possível afirmar que a umidade associada com a temperatura, são agentes
importantes nas alterações dimensionais dos objetos, causando danos estruturais e
estéticos nos materiais.
Por último, um dos danos mais problemáticos ao acervo e decorrentes da
umidade e temperatura incorreta, é o surgimento de pragas. A temperatura alta
propicia o aparecimento de insetos e micro-organismos que se desenvolvem em
ambientes com umidade também alta. Pode-se dizer que é um dos danos mais
problemático, pois dependendo da gravidade do ataque, pode acarretar até a perda
total do objeto.
Os textos sobre umidade relativa e temperatura incorretas de Michalski
(2009)11 são os mais atualizados sobre os danos que os materiais podem sofrer com
11 Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0018/001847/184713por.pdf>. Acesso em 21 Jan, 2013.
31
as variações destes dois agentes de degradação. Deve-se considerar também que a
definição de parâmetros de temperatura e umidade em um acervo torna-se mais
complexa em coleções compostas por tipologias de materiais diversificados (IMC,
2007, p. 60), sendo que o acervo do MADP é justamente caracterizado pela
diversidade de tipologias.
O Plano de Conservação do IMC indica que os objetos devem ser
examinados cuidadosamente para identificar os danos que possam estar ocorrendo.
Caso seja avaliado que os objetos não têm sofrido alterações estruturais com
a temperatura e umidade a que estão expostos, as mesmas devem ser
mantidas, monitorando para que não ocorram mudanças climáticas bruscas,
nem oscilações de umidade superior a 10% no mesmo dia, pois esses dois
fatores são os causadores de todos os danos anteriormente citados.
Como neste trabalho o assunto específico é o controle de pragas
seguiremos as recomendações de Michalski (2009, p.15). O autor ressalta a
necessidade da identificação específica das condições ambientais para cada
tipo de acervo, e ainda, que as coleções mantém sua estabilidade em clima
frio e com umidade relativa moderada, como já citado na introdução desta
monografia.
2.2 Características do entorno do museu
Em uma análise das condições de um acervo o edifício é considerado a
primeira barreira de proteção às coleções. De acordo com o Manual do IMC
(2007, p. 14), deve-se observar o clima, a localização geográfica e o entorno
do edifício, pois estes interferem no clima do ambiente interno, através de
chuva, riscos de inundações, infiltrações nas paredes, umidade externa e
massas de água próximas ao museu. Todos estes são fatores que podem
contribuir para variações climáticas no ambiente interno, e consequentemente,
o desenvolvimento de pragas.
A localização geográfica do MADP é em uma região alta da cidade,
distante de cursos d’água. Descarta-se, portanto, os riscos de inundações por
fortes chuvas ou enchentes, ou mesmo aumento da umidade resultante de
massas de água nas proximidades. Dessa forma, sob alguns aspectos, reduz-
32
se os riscos de proliferação de fungos por influências de fontes de umidades
externas.
Como mostrado no capítulo anterior, o clima da cidade é subtropical bem
definido, com inverno rigoroso e verão quente e seco. Segundo a Estação de
Meteorologia Augusto Pestana, a média mensal de temperatura é de 20,5ºC e
umidade 77%12. Essas características climáticas externas agem sobre o
edifício fazendo com que haja variações nas condições ambientais internas.
Para avaliar de forma mais criteriosa essas condições é necessário o
monitoramento do clima interno para que se definam quais medidas de
controle serão necessárias.
O edifício é cercado por árvores de grande e médio porte a poucos
metros de distância do mesmo. A vegetação próxima de um edifício pode
diminuir a incidência de radiação solar, tornando mais fácil reduzir a
temperatura do ambiente interno do prédio. Já referente às massas de ar, a
vegetação protege de ventos fortes os quais podem carregar poluentes ao
interior do prédio juntamente com poeiras (IMC 2007, p. 17). O que também
favorece no bloqueio dessas massas é a boa vedação das janelas e portas, o
que não ocorre corretamente no MADP já que se observou o acúmulo de
poeira, folhas e pequenos insetos mortos nos peitoris internos de algumas
janelas.
Um fator negativo ocasionado pela vegetação de grande porte quando
próxima aos edifícios são os riscos de galhos se soltarem das árvores ou
quebrarem durante fortes ventos e atingirem o telhado.
Analisando ainda o entorno, verifica-se não somente cobertura vegetal
de grande porte, como também a existência de vegetação de menor porte
próximo às paredes do Museu (fig. 9). Esta vegetação está disposta ao redor
de todo edifício em forma de jardins (fig. 10), mas devido à falta de
manutenção, como cortes e limpeza destas áreas, as plantas alcançam a
altura das janelas do Museu, acumulando restos de folhas e insetos mortos
nas bordas das janelas.
12 Dados repassados pela Professora Cleusa Kruger da UNIJUÍ.
33
Figura 9: Vista lateral esquerda do museu
Foto da Autora, 2012.
Figura 10. Vegetação na frente do museu
Foto da Autora, 2012.
34
De acordo com Ogden (2001, p. 9) e Froner e Souza (2008, p.3), a
proximidade da vegetação implica no risco do surgimento de insetos ou outras
pragas que possam ocasionar danos para o acervo, caso migrem para dentro do
edifício. No caso do Museu em estudo, e como visto nas figuras 9 e 10 os jardins
são fontes potenciais de umidade que podem se infiltrar pelas paredes, atrair insetos
que se alimentem de corpos em decomposição, facilitando a proliferação de pragas
no Museu.
Além das áreas de vegetação no entorno do edifício o MADP possui ainda
seis jardins internos como pode ser visto na figura 11 e na planta baixa do Museu
(fig.12) sendo que apenas um desses jardins não possui vegetação e serve como
espaço para eliminação da água de alguns climatizadores. Todos os jardins internos
não possuem cobertura, são envidraçados com acesso através de pequenas portas
(fig.11) e com cortinas persianas que bloqueiam entrada de luz natural nos
ambientes internos, com exceção do jardim próximo ao Ponto Casa, que fica ao lado
da escada e não possui cortinas.
Figura 11: Detalhe de um dos jardins internos do Museu
Foto da Autora, 2012.
35
2.3 Características do ambiente interno do Museu - exames
realizados
Muitos dos problemas de degradação dos materiais estão relacionados às
más condições dos ambientes que os envolve. A umidade e a temperatura,
como mencionadas acima, são agentes de degradação que colocam o acervo
em risco quando não controladas, pois além de acarretar vários danos ao
acervo, também favorecem a proliferação de pragas, como se verá a seguir.
Como já foi dito, o trabalho de análise do acervo museológico do MADP
começou durante a realização do Estágio Curricular. Todos os espaços foram
analisados e se constatou a presença de insetos tanto no Museu quanto no
Arquivo. Foram realizados exames visuais nos acervos com o auxílio de
instrumentos como espátula odontológica, lupa e lanterna com o intuito de
identificar a presença de agentes biológicos. Com o conhecimento já adquirido
em sala de aula e em pesquisas de materiais bibliográficos sobre ambiente e
conservação13, pôde-se confirmar a presença de insetos no acervo e no edifício
ao serem encontrados excrementos, asas de cupins, ootecas14 e baratas
mortas.
A partir desta comprovação decidiu-se analisar o ambiente que abriga
este acervo, optando-se por restringir este trabalho às áreas de exposição e
reserva técnica, conforme marcação na figura 12. Estas áreas guardam e expõe
os acervos museais da Seção de Antropologia, que como abordado no primeiro
capítulo, possui grande significado histórico para a cidade e região. O intuito da
análise realizada no estágio, como já foi dito, era verificar de que maneira o
ambiente favorece no aparecimento dos agentes biológicos.
13 Como por exemplo: Conservação Preventiva em Bibliotecas e Arquivos cadernos 14 a 17 e 26 a 29 sobre Meio Ambiente e Emergência com Pragas (2001). Tópicos em Conservação Preventiva cadernos 5 e 7 sobre Controle Ambiental e Controle de Pragas (2008). Canadian Conservation Institute caderno 5, 8 e 9 sobre Pestes, Temperatura Incorreta e Umidade Relativa Incorreta (2009). 14 Estojo que agrega vários ovos de baratas.
36
Figura 12: Planta Baixa do Museu com Esquema indicando a área de observação e os
jardins internos
Fonte: Acervo MADP. Esquema da autora, 2012.
37
O Museu possui o Sistema de Monitoramento Térmico Climus, desenvolvido
pelo professor Saulo Guths da Universidade Federal de Santa Catarina, e instalado
no MADP a pedido da arquivista do Museu. Este Sistema capta e armazena em sua
base de dados, informações sobre umidade e temperatura através de sensores. A
área delimitada para análise dispõe de quatro sensores do Climus, sendo dois na
exposição, um na reserva técnica e outro na parte externa do edifício. O controle de
temperatura é realizado por seis aparelhos de ar condicionado na exposição e um
na reserva técnica. Não existem equipamentos para controle de umidade.
Como visto anteriormente sobre a localização do Museu, as massas de água
e as inundações estão descartadas. Já como fontes de umidade foram observados
três pontos com goteiras na área de exposição. Infiltrações decorrentes de dois
climatizadores de ar (fig. 13) foram constatadas devido à falta de manutenção nas
mangueiras, onde sujeiras são acumuladas impedindo a saída da água, assim a
mesma acaba escorrendo pelas paredes. Também devido à falta de reparo, dois
climatizadores se encontram sem funcionar na área de exposição.
Figura 13: Marcas de infiltração no climatizador de ar na área de exposição
Foto da Autora, 2012.
38
Durante o período de estudo no Museu, o climatizador da reserva técnica
congelou por duas vezes. Isso ocorre quando a temperatura externa aumenta e o
climatizador é forçado a resfriar mais para manter a temperatura interna. Por não
haver circulação de ar no ambiente, o climatizador retém a umidade e devido ao ar
frio que o mesmo produz, acaba formando uma camada de gelo que ao descongelar
é expelida juntamente com o ar.
Segundo dados do Climus a temperatura manteve a variação entre 3 e 5ºC
por dia, normalmente a Exposição pela manhã marcava 20ºC e a tarde 23ºC, só
aumentando no caso de muita movimentação de visitantes. Já na reserva técnica a
temperatura pela manhã se mantinha em 20ºC e no final da tarde 22ºC. Observou-
se o aumento de temperatura durante o período que estava sendo realizada a
organização do armário deslizante, pois com a movimentação de pessoas no espaço
as condições ambientais tendem a se alterar.
Pelos gráficos em anexo é possível identificar as variações de umidade e
temperatura. A temperatura se mantém entre 20 e 25ºC na maioria dos meses,
tendo variações nos meses mais quentes ou mais frios, sendo que a reserva técnica
é o espaço que mais apresenta variações. Da mesma maneira a umidade em meses
quentes com a mínima de 35% e com a máxima ultrapassando os 70% em meses
frios.
Com a análise destes dados verifica-se que o acervo está exposto a grandes
riscos devido ao controle apenas da temperatura. Como já mencionado no início
deste capítulo, a temperatura e umidade se alteram inversamente, mas trabalham
juntas. Manter o ambiente climatizado para que a temperatura seja adequada às
coleções, requer que se que controlem também a umidade.
Ao falar sobre umidade incorreta, Michalski (2009 p.1) diz que este é um
agente de deterioração que não pode ser evitado. Os valores baixos ou altos sempre
vão causar algum dano aos objetos mais sensíveis, mas o que mais prejudica as
coleções é a oscilação da umidade, caso que pode ser observado claramente nas
condições ambientais do MADP.
Souza (2008, p.3) também é enfático em dizer que a conservação dos
materiais está ligada à estabilidade do ambiente que o envolve, e reforça ainda que
39
é com a oscilação da umidade que a estrutura física dos materiais se altera e
que possibilita a infestação de pragas nas coleções.
2.3.1 Identificação dos insetos encontrados no MADP
A área de exposição foi o primeiro local examinado, não apenas o acervo,
mas também as vitrines, janelas e proximidades dos jardins internos. Como já
dito anteriormente, nos peitoris das janelas e próximo aos jardins foram
encontradas acúmulo de poeira, pequenas folhas e insetos mortos (moscas,
mariposas e baratas) e teia de aranha.
No Ponto Casa como visto na figura 7, os objetos encontram-se fora de
vitrines e na maioria deles foram encontradas poeiras, excrementos de moscas
e cadáveres de moscas. Alguns móveis e objetos como o Relógio (fig. 14)
possuíam orifícios causados por xilófagos15, mas sem sinais de atividade
biológica atual. Na parte de baixo do sofá (fig. 15) foram encontradas muitas
traças de roupas (Tineola uterella). O único objeto com infestação de cupins
nesta área foi a uma Tulha16 (fig. 16) onde foram encontrados excrementos e
asas. Esta tulha foi levada para a Sala de limpeza, onde por orientação da
Restauradora Keli Scolari, recebeu a aplicação de um Piretróide17 de uso
comercial (JIMO) e foi envolvida por um saco plástico, retirando-se o máximo de
ar para permanecer em anóxia18. O acervo retornou para o seu lugar quarenta
dias após a desinfestação. O monitoramento realizado pela Museóloga da
Instituição mostra que não mais foram encontrados sinais de infestações neste
objeto.
15
Insetos que se alimentam de madeira: Cupins e Brocas. 16
Caixa de madeira para armazenamento de cereais e outros alimentos. 17 Produto utilizado para combater insetos em madeira. 18 Ambiente com ausência de oxigênio.
40
Figura 14: Relógio com orifícios causados por térmitas no ponto casa
Foto da Autora, 2012.
Figura 15: Sofá ao fundo com infestação de traças
Foto da autora, 2012.
41
Figura 16: Tulha com Infestação de Cupim no Ponto Casa
Foto da Autora, 2012.
Ao continuar os exames foram encontrados sinais de infestações no Ponto
Trabalho onde estão os equipamentos de marcenaria. A mesa de serra e o torno
apresentaram muitos orifícios causados por xilófagos, mas nenhum sinal de
infestação atual. As esculturas no Ponto Índio foram examinadas, apresentam as
mesmas características dos equipamentos de trabalho e mesmo estando dentro
de vitrines, encontram-se empoeiradas.
Por último na Exposição foi encontrada uma ooteca desovada dentro da
parte superior do Piano (fig. 17), no Ponto Bandas e Músicas. Também foi
encontrada uma barata morta próximo ao jardim interno ao lado do instrumento
piano.
42
Figura 17: Piano onde foi encontrada a Ooteca
Foto da Autora, 2012.
Na análise da reserva técnica foram encontradas as mesmas sujidades da
Exposição. Ao lado e atrás do armário deslizante foi constatada a maior
concentração de poeiras pequenos insetos mortos. Durante a realização do
estágio todo o acervo do armário deslizante estava sendo higienizado e
reorganizado por tipologias nas prateleiras. Neste acervo que estava sendo
reorganizado, apenas uma cesta de madeira possuía indícios de infestação,
apresentando túneis cavados por térmitas, porém não apresentava
excrementos, asas e nem insetos mortos, sendo constatado que eram sinais de
uma infestação anterior.
Os insetos são considerados causadores de danos intensos em um
período curto de tempo. Podem se infiltrar no edifício por janelas, portas, ralos,
forro e até mesmo através de acervos que chegam infestados na instituição.
Segundo Ogden (2001, p. 11), a cozinha é um local com grande risco de atração
de insetos por conter restos de alimentos e lixeiras. Como pode ser observada
na planta baixa (fig. 12), a cozinha do MADP fica localizada em frente a reserva
43
técnica, sendo considerada uma zona de risco quanto ao aparecimento de
agentes biológicos.
As baratas são insetos de hábitos noturnos, durante o dia se escondem em
lugares obscuros de preferência quentes e úmidos saindo a noite para procurar
alimentos. De acordo com Froner e Souza (2008, p.10), elas se alimentam de
insetos mortos e materiais proteicos como restos de alimentos, dentre outros. A
evidência de presença deste inseto pode estar nas marcas deixadas ao roer papéis,
têxteis, manchas causadas pelo vômito e depósitos de fezes que atraem
microorganismos, ou ainda pela presença de ootecas.
No caso do MADP, o local onde foi encontrada a ooteca está próximo ao
jardim interno que pode servir como abrigo, fonte de alimentação e rota de entrada
para o edifício. Para controlar este tipo de infestação recomenda-se vedar as
aberturas com protetores de borrachas, eliminar fontes de água e de alimentos e
reduzir a umidade e temperatura do ambiente.
Os cupins têm como principal fonte de alimentação a madeira e o papel. São
insetos que causam grandes estragos, danificando a estrutura física dos abjetos
através da abertura de galerias ou túneis no interior da madeira. Os indícios de
infestação são orifícios na superfície do objeto, excremento em formato de grânulos
e asas que aparecem em épocas de revoadas, desenvolvendo-se também em locais
úmidos.
Por terem sido identificados vestígios pontuais de cupins no MADP, acredita-
se que as peças possam ter chegado ao Museu já infestadas. No caso de
infestações de cupins, deve-se ter o cuidado de primeiramente isolar o objeto e
posteriormente tratá-lo. Este tipo de inseto é muito resistente aos tratamentos, por
isso devem ser feitas inspeções principalmente em épocas de revoadas (setembro a
dezembro), para se certificar que houve o controle desta praga.
Já as traças de roupa tem seu desenvolvimento propiciado em ambientes
úmidos e escuros. Alimentam-se de fibras têxteis como vestuário, tapeçarias,
estofamentos, documentos e livros produzidos com linho ou algodão. Causam danos
como buracos irregulares nos tecidos. As pequenas mariposas depositam os ovos
entre as fibras dos tecidos, quando eclode a lagarta já começa a se alimentar
44
tecendo uma espécie de casulo, que segundo Froner e Souza (2008, p. 14), é
construído com restos dos ovos, materiais aglutinados e sujeiras. A maneira de
eliminação destes insetos é o controle e a simples limpeza periódica dos ambientes.
Em todos os vestígios de insetos identificados no MADP pode-se observar um
fator em comum: os ambientes úmidos. Como pôde se verificar através dos dados
coletados pelo Sistema Climus (tabelas em anexo), as variações de umidade são
mais recorrentes que a oscilação da temperatura. Assim como há o controle de
temperatura, deve também haver o controle da umidade, com equipamentos
apropriados e manutenção nas fontes de umidade como os jardins e infiltrações.
Como já abordado anteriormente, os riscos de danos causados por não haver o
controle deste agente de degradação, são na maioria das vezes irreversíveis.
Por fim, identificou-se também a ocorrência de sujeira como poeiras, restos
de folhas e pequenos insetos mortos no edifício, que podem não interferir
diretamente nos objetos, mas como visto, são fontes de alimentos para insetos
maiores. Assim como no caso das traças, a forma de controle é apenas a limpeza do
ambiente e inspeção periódica. Conforme Ogdem (2001, p.11) as áreas de guarda
de acervos devem ser inspecionadas ao menos uma vez no mês, os objetos devem
ser examinados para confirmação se há indícios de infestações, as proximidades de
janelas e portas devem ser verificadas e em caso de sujeiras devem ser limpas
imediatamente e por último, todas as áreas devem ser limpas frequentemente. São
estas ações mais simples que podem preservar o acervo de danos irreparáveis.
Buscou-se nesse capítulo mostrar como as características do entorno de um
edifício de museu pode interferir nas condições ambientais das áreas internas e na
preservação do seu acervo. Da mesma forma defendeu-se que a avaliação e
controle dos riscos que atingem as coleções é fundamental para que haja uma
conservação adequada dos acervos salvaguardados nas instituições museológicas.
45
Conclusão
Como apontado e analisado, este trabalho teve como objetivo discutir ações
de Conservação Preventiva no controle de pragas, a fim de garantir a preservação
do acervo da Seção de Antropologia do Museu Antropológico Diretor Pestana, na
Cidade de Ijuí-Rs.
Entende-se como fundamental que os profissionais que trabalham com a
conservação tenham conhecimento sobre do histórico da formação do acervo, para
que se possa entender o seu significado e a representatividade que possui diante de
determinada população. Considera-se também necessário que se tenha clareza de
qual é a missão do museu para que se possa entender como o acervo foi
constituído, qual o seu público e o uso que se faz desses objetos salvaguardados
pela instituição.
No caso do MADP, o acervo é formado por objetos que representam o
passado do homem da região noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. O Museu
também define como sua missão conservar suas coleções para as futuras gerações.
Para isso, o mesmo deve garantir ambientes que mantenham a estabilidade física
dos materiais que constituem seu acervo, prevenindo ataques biológicos, garantindo
assim a permanência dos objetos que formam a sua coleção.
Através do monitoramento feito pelo Sistema Climus no MADP, foi possível
observar oscilações significativas de umidade e temperatura, o que torna o ambiente
suscetível à presença de insetos e microorganismos. Fato este comprovado durante
a análise das áreas de Exposição e da Reserva Técnica do Museu, quando foi
possível detectar a presença de insetos como baratas, cupins e traças. Como
abordado anteriormente, estes insetos se proliferam em ambientes quentes e
úmidos, onde não há uma rotina de limpeza, e onde tenham condições propícias
para viverem e se reproduzirem.
Muitas instituições direcionam sua atenção e esforços para implantar a
climatização do seu acervo. No entanto, equivocadamente, instalam aparelhos de ar
condicionado que controlam apenas a temperatura, entretanto esquecem que a
umidade relativa oscila e aumenta quanto menor for a temperatura. O resultado é
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um ambiente inadequado para os acervos, com baixas temperaturas e elevados
níveis de umidade.
No caso do MADP, a falta de um controle da umidade dos ambientes
representa um problema para a conservação do seu acervo, sendo uma das
causas prováveis da presença de insetos identificados na avaliação. Conforme
Michalski (2009, p.15) a umidade relativa incorreta é um dos agentes que mais
propicia a degradação de acervos tanto em museus grande quanto em
instituições menores, por não receber a atenção adequada. Ele diz ainda que é
mais fácil as instituições considerarem a necessidade de controlar da umidade,
do que assumir um risco que pode levar a perda dos acervos, devendo assim não
medir esforços para que se consiga reduzir e manter os valores de umidade.
Sobre as condições ambientais do MADP, a recomendação seria rever seu
sistema de controle ambiental, instalando equipamentos que possam manter não
somente a temperatura, mas também a umidade relativa, dentro de parâmetros
adequados para a conservação do seu acervo. Para tanto é necessário que haja
um profissional da conservação-restauração que possa avaliar e indicar quais
seriam as condições ideais para a preservação do acervo. Como o
monitoramento já está sendo realizado pelo Sistema Climus, caberia um estudo
mais aprofundado para definir esses parâmetros nas diferentes áreas e acervos
do Museu. Trabalho esse a ser realizado necessariamente por um conservador-
restaurador, devidamente qualificado.
Outro fator importante para prevenção contra os ataques de pragas, e que
deveria ser implantado no MADP, rotinas como o controle da entrada de acervos
adquiridos ou recebidos pelo museu. É fundamental avaliar cada objeto para
verificar se os mesmos se encontram livres de infestações de agentes biológicos
e constatar a sua integridade física, para que nenhum objeto contaminado
coloque em risco o acervo já existente.
Cabe à Instituição que salvaguarda as coleções, criar e executar ações de
conservação de acordo com os recursos disponíveis e da conscientização dos
profissionais que estão em contato com as coleções. Pensando desta forma,
pode-se recomendar que os profissionais da limpeza sejam sensibilizados sobre
a importância da conservação e recebam treinamentos para que saibam
47
identificar os vestígios destes agentes nos ambientes e quais as formas de
prevenir a sua proliferação. Em geral, algumas medidas simples como limpeza
adequada, restrições de consumo de alimentos nesses ambientes, retirada de
lixeiras ao final do dia resolvem vários problemas da proliferação de insetos
dentro das instituições. Segundo Froner e Souza (2008, p.16), pessoal da limpeza
deveria ser informado a não remover indícios de infestações, mas comunicar aos
responsáveis pelo acervo para que possam ser tomadas as medidas cabíveis de
tratamento do acervo.
Ao abordar o Controle Integrado de Pragas, Ogden (2001, p.9) defende que é
imprescindível a identificação da rota de entrada dos insetos no edifício. As portas,
janelas, fendas nas paredes e aberturas de canos, facilitam o acesso de pragas
devendo ser fechadas ou vedadas. O edifício deveria manter a vegetação cerca de
30 cm afastada das paredes. Como no MADP isso não é possível, se recomenda
então limpezas e manutenções rotineiras nos jardins como meio de afastar os
insetos das rotas de entrada.
É necessário também estabelecer regras sobre o consumo de alimentos e
informar a todos que trabalham ou circulam na instituição que não devem consumir
alimentos em espaços de guarda e exposição do acervo, evitando-se assim que
restos alimentares sirvam como atração para os insetos. É essencial o diálogo entre
profissionais da Instituição para que o risco de infestações seja reduzido e até
mesmo eliminado.
Espera-se que as informações levantadas neste trabalho, ainda que parciais,
possam contribuir para o início de discussões sobre as ações preventivas que
poderiam ser implantadas no MADP, com a finalidade de conter as degradações em
andamento e também problemas futuros. É somente dessa forma que se pode
garantir a preservação de um acervo tão significativo para a comunidade na qual o
Museu Antropológico Diretor Pestana está inserido.
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Referências
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do Museu Municipal de Faro. n.2, p.08-34, 2007. BRUM, A. J. MARQUES, O. M. Nossas coisas Nossa gente. Ed.Unijuí, 263 p. Ijuí, 2004 FRONER, Yacy-Ara. SOUZA, Luiz Antônio. Controle de Pragas. Belo Horizonte:
LACICOR. EBA. UFMG, 2008.
GÜTHZ, Saulo. CARVALHO, Claudia de. Conservação Preventiva: Ambientes
Próprios para coleções. IN MAST Colloquia. Conservação de Acervos. V.9, p.25-
43, Rio de Janeiro, 2007.
IMC: Temas de Museologia. Plano de conservação preventiva – Bases
Orientadoras, Normas e Procedimentos, Ed. Instituto dos Museus e da Conservação, Lisboa, 2007.
LOPES, Ana A. A. Conservação Preventiva: Construção de uma “Checklist”
Aplicada às Áreas de Exposição e Reserva. 2011. 105f. Dissertação(Mestrado em Museologia). Departamento de História, Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 2011. MICHALSKI, Stefan. Humedad Relativa Incorreta. Ed. Canadian Conservation
Institute. 26p. Canadá, 2009.
MICHALSKI, Stefan. Temperatura Incorrecta. Ed. Canadian Conservation Institute.
18p. Canadá, 2009.
Museu Antropológico diretor Pestana: 40 anos de História. Ed.Unijuí, 56 p. Ijuí, 2002.
OGDEN, Sherelyn. Meio Ambiente: Conservação Preventiva em Bibliotecas e
Arquivos. 2 ed. Rio de Janeiro, 2001.
Regimento Interno do Museu Antropológico Diretor Pestana. Ed. Unijuí. Ijuí, 2002.
SOUZA, Luiz Antônio. Conservação Preventiva: Controle Ambiental. Belo
Horizonte: LACICOR. EBA. UFMG, 2008. SPINELLI, Jaime. PEDERSOLI Jr, José Luiz. Biblioteca Nacional: Plano de Gerenciamento de Riscos: salvaguarda & emergência. Ed. rev. Fundação
Biblioteca Nacional. 99p. Rio de Janeiro, 2010.
STRANG, Tom. KIGAWA, Rika. Combatiendo las plagas del patrimonio cultural.
Ed. Canadian Conservation Institute. 76p. Canadá, 2009.
49
Referências Eletrônicas
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Cardoso, L. S. Diretores do MADP. [mensagem pessoal] Mensagem recebida por <mik_campos@hotmail.com> em 08 Jan. 2013.
Cardoso, L. S. Gráficos e Tabela do Climus [mensagem pessoal] Mensagem recebida por <mik_campos@hotmail.com> em 28 Jan. 2013.
DIEMER, Franciele. RAMBO, Dimas. SPECHT, Luciano P. POZZOBOM, Cristina E. Propriedades Geotécnicas do Solo Residual de Basalto da Região de Ijuí/RS. Revista Teoria e Prática na Engenharia Civil, n 12, p. 25-36, Outubro, 2008.
Disponível em <http://www.editoradunas.com.br/revistatpec/Art3_N12.pdf>. Acesso em 05 Jan. 2013.
EDSON, Gary. Gestão do Museu. Ed. ICOM. Como Gerir um Museu: Manual Prático. p.145-159. Paris, 2004. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0018/001847/184713por.pdf>. Acesso em 21 Jan, 2013
IBGE Cidades. Ijuí – RS Histórico. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/painel/painel.php?codmun=431020#>. Acesso em 02-01-2013.
Kruger, C. A. M. B. Informações Climatológicas Ijuí. [mensagem pessoal] Mensagem recebida por <mik_campos@hotmail.com> em 19 Fev. 2013.
MEDEIROS, Gilca F. de. Porque Preservar, Conservar e Restaurar? Minas Gerais, 2005. Disponível em: <http://www.conservacao-restauracao.com.br/por_que_preservar.pdf>. Acesso em 14 Jan. 2013.
Prefeitura de Ijuí – Poder Executivo. Histórico. Disponível em: <http://www.ijui.rs.gov.br/prefeitura/index/2>. Acesso em 03-01-2013.
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ANEXOS
Anexo 1: Gráfico de Temperatura da Exposição
Fonte: Base de Dados do Climus.
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dia do ano
Ano_2012
Temperatura Exposição
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Anexo 2: Gráfico de Temperatura do Espaço Ijuí Hoje
Fonte: Base de Dados do Climus.
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dia do ano
Ano_2012
Temperatura Espaço Ijuí Hoje
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Anexo 3: Gráfico de Temperatura da Reserva Técnica
Fonte: Base de Dados do Climus.
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dia do ano
Ano_2012
Temperatura Reserva Técnica
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Anexo 4: Gráfico de Temperatura do Ambiente externo
Fonte: Base de Dados do Climus.
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dia do ano
Ano_2012 Temperatura Externa
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Anexo 5: Gráfico de Umidade Relativa da Exposição
Fonte: Base de Dados do Climus.
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dia do ano
Ano_2012
Umidade Relativa Exposição
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Anexo 6: Gráfico de Umidade Relativa Espaço Ijuí Hoje
Fonte: Base de Dados do Climus.
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dia do ano
Ano_2012
Umidade Relativa Espaço Ijuí Hoje
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