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Revista (eletrônica) da Academia Ludovicense de Letras, vol.2, n. 3, julho a etembro de 2015
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ALL EM REVISTA REVISTA (ELETRÔNICA) DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS
EDIÇÃO COMEMORATIVA DO SEGUNDO ANIVERSÁRIO DE FUNDAÇÃO
ANO DO CENTENÁRIO DE MÁRIO MARTINS MEIRELES
NÚMERO ATUAL - V. 2, N. 3, 2015 SÃO LUIS – MARANHÃO – JULHO-SETEMBRO
A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores,
com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem
compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.
EXPEDIENTE
NOSSA CAPA: Escudo da ALL
Foto oficial da Plenária comemorativa do 2º. Aniversário de Fundação
Ano do Centenário de Mário Martins Meireles – Patrono da Cadeira 31
ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS
COMISSÃO DE BIBLIOGRAFIA
Álvaro Urubatan Melo
Presidente
Ana Luiza Almeida Ferro
André Gonzalez Cruz
COMISSÃO DE PUBLICAÇÃO
E EVENTOS
Dilercy Aragão Adler
Presidente
Aldy Mello de Araújo
Antonio José Noberto da Silva
Sanatiel de Jesus Pereira
CONSELHO EDITORIAL
Sanatiel de Jesus Pereira
Presidente
Aldy Mello de Araújo
Dilercy Aragão Adler
EDITOR
Leopoldo Gil Dulcio Vaz
vazleopoldo@hotmail.com
Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais
65070-580 – São Luis – Maranhão
(98) 3236-2076 # (98) 8119 1322
ENDEREÇO
ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS
Palácio Cristo Rei – UFMA /
Sala do Memorial Gonçalves Dias
Praça. Gonçalves Dias, 351 - Centro:
São Luís - MA. CEP: 65042-240.
TELEFONES: (98)3272-9651/9659
Ou
Centro de Criatividade Odylo Costa, filho
Sala de Multimeios
Praça do Projeto Reviver
ALL EM REVISTA
Revista (eletrônica) da
Academia Ludovicense de Letras
A Academia Ludovicense de Letras – ALL –, fundada
em 10 de agosto de 2013, “tem por finalidade o
desenvolvimento e a difusão da cultura e da literatura
ludovicense, a defesa das tradições literárias do
Maranhão e, particularmente, de São Luís, a
perpétua renovação e revitalização do legado da
Atenas Brasileira, o culto às origens da cidade e à
sua formação pelas letras, a valorização do
vernáculo e o intercâmbio com os centros de
atividades culturais do Maranhão, do Brasil e do
exterior” (Art. 2º, do Estatuto Social).
Em seu artigo 58, “Além de outras que venham a ser
criadas, constituem o rol permanente das publicações
oficiais da Academia a Revista, os Perfis Acadêmicos
e a Antologia.”.
Esta Revista, apresentada em formato eletrônico,
destina-se à divulgação do fazer literário dos
membros da Academia Ludovicense de Letras – ALL
.
Está dividida em sessões, que conterão os:
DISCURSOS E PRONUNCIAMENTOS dos sócios
da Instituição, e de literatos convidados, não
pertencentes ao seu quadro social;
ALL NA MÍDIA resgata as colaborações nas diversas
mídias, quando identificados como membros da ALL;
ARTIGOS, CRÔNICAS, OPINIÕES manifestas
pelos membros da Academia;
POESIAS de autoria de seus membros.
Haverá uma sessão DE ICNOGRAFIA, registrando-
se as atividades da ALL, e aquelas em que seus
membros tenham participado, assim como a
divulgação de nosso CALENDÁRIO DE EVENTOS.
Poderá, ainda, conter ASSUNTOS
ADMINISTRATIVOS, referentes a questões
estatutárias, regulamento, e avisos.
As colaborações não poderão ultrapassar 30 laudas –
formato A4, Times New Roman, em Word, espaço
único, com ilustrações. Normas de publicação ABNT.
Os contatos são feitos através de seu Editor, pelo
endereço eletrônico vazleopoldo@hotmail.com
ALL EM REVISTA
Revista (eletrônica) da Academia Ludovicense de Letras
ENDEREÇO PARA CORRESPONDENCIA:
EDITOR
Leopoldo Gil Dulcio Vaz
vazleopoldo@hotmail.com
Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais
65070-580 – São Luis – Maranhão
(98) 3236-2076 # (98) 8119 1322
NUMEROS PUBLICADOS – ENDEREÇO ELETRONICO
V.1, n. 1, 2014 (janeiro/março) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_volume_1_numero_1_ma
V.1, n. 2, 2014 (abril/junho) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_1_numero_2_
V.1, n. 3, 2014 (julho/setembro) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol_1__n_3__julho-_34d409e2ef5b18
V. 1, n. 4, 2014 (outubro a dezembro). http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol._1__n._4__set./1?e=1453737/10958981
V. 2, n. 1, 2015 (janeiro a março) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol._2__no
V. 2, n. 2, 2015 (abril a junho). http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol._2__no_ad17bb277a03b8
V. 2, n. 3, 2015 (julho a setembro).
RETRATO FALADO DE MARIA FIRMINA DOS REIS1
TONY ALVES
1 Para o livro de Emmanuel de Jesus Saraiva “História da Cultura Africana/A influencia da Cultura Africana na Cultura Brasileira, São Luis: Interativa, 2012
ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS Fundada em 10 de agosto de 2013
Registrada sob no. 48.091, de 09 de janeiro de 2014 – Cartório Cantuária de Azevedo
CNPJ 20.598.877/0001-33
DIRETORIA
PRESIDENTE ROQUE PIRES MACATRÃO
VICE PRESIDENTE DILERCY ARAGÃO ADLER
SECRETARIO GERAL ÁLVARO URUBATAN MELO
1º SECRETARIO ARQUIMEDES VALE
2º SECRETARIO ANA LUIZA ALMEIDA FERRO
1º TESOUREIRO RAIMUNDO NONATO SERRA CAMPOS FILHO
2º TESOUREIRO CLORES HOLANDA SILVA
CONSELHO FISCAL
MEMBRO ALDY MELLO DE ARAUJO
MEMBRO AYMORÉ DE CASTRO ALVIM
MEMBRO JOSÉ DE RIBAMAR FERNANDES
CONSELHO DOS DECANOS
DECANO ARTHUR ALMADA LIMA FILHO - 17.10.1929
CONSELHEIRA MARIA THEREZA DE AZEVEDO NEVES – 12.11.1932
CONSELHEIRO ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO - 08.11.1934
CONSELHEIRO ROQUE PIRES MACATRÃO - 13.11.1935
CONSELHEIRO JOSÉ DE RIBAMAR FERNANDES - 30.01.1938
CONSELHO EDITORIAL
SANATIEL DE JESUS PEREIRA
PRESIDENTE
ALDY MELLO DE ARAÚJO
DILERCY ARAGÃO ADLER
EDITOR DA ALL EM REVISTA
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
CADEIRA 21
SUMÁRIO EXPEDIENTE
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO Leopoldo Gil Dulcio Vaz (Editor)
EFEMÉRIDES
DILERCY ADLER SESSENTA E CINCO ANOS
ANIVERSARI(ANDO)
FELICIANO MEJIA JOOORRR
ANA LUIZA ALMEIDA FERRO; ANTONIO NOBERTO; CLORES HOLANDA SILVA; DILERCY ARAGÃO ADLER;
SEGUNDO ANIVERSÁRIO DE FUNDAÇÃO DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS
CLORES HOLANDA SILVA EXPOSIÇÃO “MEMÓRIAS COMPARTILHADAS:
100 ANOS DE NASCIMENTO DE MÁRIO MARTINS MEIRELES”
CLORES HOLANDA SILVA ACRÓSTICO ACERVO EM DIÁLOGO
CARLOS TADEU GASPAR PALESTRA NA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS, PELO CENTENÁRIO DE MÁRIO MEIRELES,
pronunciada a 8 de Agosto de 2015
MARIA ESTERLINA MELO PEREIRA MÁRIO MARTINS MEIRELES
ANA LUIZA ALMEIDA FERRO DISCURSO DE HOMENAGEM AO HISTORIADOR MÁRIO MARTINS MEIRELES,
PATRONO DA CADEIRA Nº 31 DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS (ALL), POR OCASIÃO DA CELEBRAÇÃO DO CENTENÁRIO DE SEU NASCIMENTO
E DO SEGUNDO ANIVERSÁRIO DA ENTIDADE
WYBSON CARVALHO NASCE GONÇALVES DIAS
- O BERÇO DO CANTOR DAS PALMEIRAS E DO SABIÁ
DINACY CORRÊA NACIONALISMO GONÇALVINO
MANOEL DOS SANTOS NETO JOSUÉ MONTELLO
ROSA MACHADO AS MINHAS LEMBRANÇAS DE FRAN PAXECO
JOAQUIM SALLES DE OLIVEIRA ITAPARY FILHO FRAN PAXECO
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ MANUEL FRAN PACHECO
ANTÔNIO NOBERTO O MARANHÃO FRANCÊS SEMPRE FOI FORTE E LÍDER
PROJETOS
Projeto Maria Firmina dos Reis - 9ª CONVOCATÓRIA
PROJETO “BIBLIOTECA COMUNITÁRIA” LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
DJALDA MARACIRA CASTELO BRANCO MUNIZ
ARTIGOS, & CRONICAS, & CONTOS, & OPINIÕES
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ QUEM, AFINAL, FUNDOU SÃO LUÍS? PODEMOS CONSIDER RIFFAULT, DES VAUX, E DAVI MIGAN
COMO OS PRÉ-FUNDADORES ?
AYMORÉ ALVIM A LEI CAPIVARA E ARGEMIRO
AYMORÉ ALVIM PINHEIRO DE ANTIGAMENTE
ANTONIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO A REVANCHE
ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO FRANCISCO SOTERO DOS REIS
ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO VEREDA TROPICAL
AYMORÉ ALVIM A RECOMPENSA
HAMILTON RAPOSO MIRANDA FILHO ZEZE CAVEIRA, LANCEADAS DE AGOSTO E O XIRI
DINACY CORRÊA MARIA FIRMINA DOS REIS:
poetisa, escritora e educadora maranhense
HAMILTON RAPOSO MIRANDA FILHO A FESTA DA SEMANA DA PÁTRIA E O FIM DE UMA ÉPOCA
AYMORÉ ALVIM. A LOBA ESQUÁLIDA
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ SOBRE TUPIS E TAPUIAS
ALL NA MÍDIA
HOMENAGEANDO OS ESCRITORES DE ARARI, por Perolina Mariani Bensabath - FACEBOOK 26/07/2015 Sobre JOÃO FRANCISCO BATALHA
RAIMUNDO VIANA OUTRO LADO DO NOSSO EU...
ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO RAZÕES DE UM NOVO LIVRO
ANDRÉ GONZALEZ CRUZ O JULGAMENTO DA RECLAMAÇÃO Nº 4335/AC PELO STF:
a necessidade ou não de expedição de Resolução do Senado Federal suspendendo os efeitos de norma declarada inconstitucional e o controle difuso abstrativizado
RAIMUNDO VIANA SEMINÁRIO DE SANTO ANTÔNIO – “IN EXTREMIS”
ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO FRANCISCO SOTERO DOS REIS – II
PREMIO UBE – 2015 CONFERIDO A AQUIMEDES VALE
ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO FESTA DE SÃO BENEDITO
JOÃO BATISTA ERICEIRA O INVENTOR DO BRASIL
ELOGIO À ANA LUIZA ALMEIDA FERRO
ANA LUIZA ALMEIDA FERRO O FUNDADOR ESQUECIDO IV
PROGRAMA DO MARCOS SALDANHA, RÁDIO TIMBIRA, dia 18 de setembro de 2015 Tema: TURISMO NO CEMITÉRIO/A MORTE E OS MORTOS NA PAUTA DA SOCIEDADE MUNDIAL
ENTREVISTADOS: ANTONIO NOBERTO E RAIMUNDO MEIRELES
ENCICLOPÉDIA – NOTA NO PH REVISTA SOBRE ANA LUIZA ALMEIDA FERRO
REVISTA POÉTICA BRASILEIRA ANA LUIZA ALMEIDA FERRO
POESIAS & POETAS
DILERCY ADLER
CHEIROS E CHEIROS
DIAGNÓSTICO
DIVAGANDO EM LEMBRANÇAS
AYMORÉ ALVIM NA ESTRADA DA VIDA
NO ALVORECER DE UM SONHO MEU PAI
DOCES LEMBRANÇAS! A VELHA DAMA O JURAMENTO
ANA MARIA FÉLIX GARJAN TRIBUTO À ‘CANÇÃO DO EXÍLIO’, DE GONÇALVES DIAS
DINACY CORREA POETISAS MARANHENSES: LÚCIA SANTOS
FERNANDO BRAGA O SÃO JOÃO BATISTA DO MODERNISMO
MHARIO LINCOLN A ARTE POÉTICA DE LENITA ESTRELA DE SÁ
LENITA ESTRELA DE SÁ "MIMO"
HEROTÍLDES DE SOUZA MILHOMEM À BARRA DO CORDA
ANA MARIA FELIX GARJAN “ANIMA IN FIRMINA OU POÉTICA SIMBÓLICA”
- HOMENAGEM A MARIA FIRMINA DOS REIS, 190 ANOS Diálogo no tempo, com Firmina
Anima e síntese de Maria Firmina dos Reis (1825-1917) Anima Ludovicense
ADÃO LOPES DE SOUZA. MINHA ÚLTIMA FILHA
APRESENTAÇÃO
Seguimos como Editor da ALL EM REVISTA depois de deixar a Secretaria Geral da
Academia Ludovicense de Letras e, em consequência, as comissões impostas pela função. Não abro
mão da revista eletrônica...
Assim como sigo na construção da antologia ludovicense; aceitando conselho do nosso
Presidente da EDUFMA, confrade Sanatiel, de não fazer um livro de muitas páginas, resolvi dividir
em vários números... Vamos ver como fica a publicação...
Na Antologia da ALL caberão não só os “Perfis Acadêmicos”, em dois volumes – o primeiro
já publicado, com os “Fundadores”; o segundo aguarda que todas as cadeiras sejam ocupadas e será o
referente aos “Primeiros Ocupantes”; haverá outros dois volumes, referentes aos “Discursos: Elogio
ao Patrono e Posse”; o primeiro volume já encaminhado às Comissões respectivas, aprovado,
aguardando a publicação, em que constarão vinte e dois elogios e posses; o segundo, quando todas as
cadeiras se encontrarem ocupadas...
Como a Plenária considerou muita pretensão o trabalho a que estava me empenhando –
alegando não haver autorização para tal – mesmo assim dei continuidade, agora como projeto
pessoal, de elaborar uma antologia ludovicense... Serão quatro a cinco volumes, com o perfil e
principais contribuições daqueles que compõem a ALL – acadêmicos; um segundo volume dedicado
aos acadêmicos de outras instituições literárias, nascidos em São Luis, mas que não pertencem aos
quadros da ALL – este também dividido em dois volumes - outro volume dedicado às Literatas – do
quadro da ALL, de outras instituições, nascidas em São Luis, e mais: daquelas que tenham sua vida
dentro do mundo Letras ligadas à cidade... Para não haver injustiça, volume dedicado a poetas e
escritores de alhures, com sua vida acontecendo na cidade de Ludovicus... Esta a proposta!
Na Revista eletrônica, continuamos com a proposta de resgatar as publicações de seus
membros nas mídias – poesias, crônicas, artigos... – além de menções aos membros – ALL NA
MÍDIA – quando ligados/identificados como membros da ALL. E, claro, as contribuições inéditas,
especialmente para a Revista... Crônicas, artigos, poesias...
Assim como buscamos nas Midias artigos de maranhenses que retratam a vida na cidade,
como Lenita, Hamilton, Fernando, Mhário, Neres... Com seus belíssimos trabalhos replicadas aqui.
Agradecemos a esses autores a autorização para publicar em nossa Revista.
Este ano comemorou-se o segundo aniversário de fundação. Com a exposição sobre a vida e
obra de Mário Martins Meireles. 2015 é o Ano de Mário Meireles... Assim como 2014 foi de Maria
Firmina dos Reis... O que foi a festa consta de EFEMÉRIDES... Nessa sessão também resgatamos
alguns autores que nasceram e/ou morreram no período deste número. Essa, a razão desta sessão, e
esperamos que nossos Confrades venham a contribuir com artigos sobre seus Patronos!
Na sessão PROJETOS, apresentação de... projetos aprovados, de responsabilidade de nossos
membros sua execução...
Novamente, uma ‘falha’, ao não trazermos o discurso de elogio ao patrono – nosso presidente
não mandou novamente, era para ter saído no numero anterior, e ainda não chegou à ‘redação’...
aguardamos até a undécima hora. Nesse período não houve nenhuma posse, nenhum discurso...
muito embora tenhamos algumas pendências. Há necessidade de se rever a situação do membros que
até o momento não cumpriram o dispositivo estatutário e regimental de fazer o elogio ao patrono.
Todos os prazos já se esgotaram!!! Como fica? Renuncia tácita?
Em ARTIGOS, & CRONICAS, & CONTOS, & OPINIÕES contamos com a colaboração de
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ, AYMORÉ ALVIM, ANTONIO AUGUSTO RIBEIRO
BRANDÃO... com mais de uma colaboração, cada... os demais, ficaram de mandar alguma coisa,
mas...
ALL NA MÍDIA encontramos referencias aos nossos membros: homenageando os escritores
de ARARI, por Perolina Mariani Bensabath - FACEBOOK 26/07/2015, Sobre JOÃO
FRANCISCO BATALHA; RAIMUNDO VIANA publicou OUTRO LADO DO NOSSO EU...,
Antônio Augusto Ribeiro Brandão, RAZÕES DE UM NOVO LIVRO, André Gonzalez Cruz - O
JULGAMENTO DA RECLAMAÇÃO Nº 4335/AC PELO STF: a necessidade ou não de expedição
de Resolução do Senado Federal suspendendo os efeitos de norma declarada inconstitucional e o
controle difuso abstrativizado, novamente RAIMUNDO VIANA, sobre SEMINÁRIO DE SANTO
ANTÔNIO – “IN EXTREMIS”, Antônio Augusto Ribeiro Brandão sobre FRANCISCO SOTERO
DOS REIS – II; Arquimede Vale recebeu o PREMIO UBE – 2015, Antônio Augusto Ribeiro
Brandão volta com FESTA DE SÃO BENEDITO; João Batista Ericeira fala sobre O
INVENTOR DO BRASIL; e aparece o elogio à ana luiza almeida ferro, que nos traz O fundador
esquecido IV; a entrevista no Programa do Marcos Saldanha, Rádio Timbira, dia 18 de
setembro de 2015 Tema: Turismo no cemitério/a morte e os mortos na pauta da sociedade mundial,
com nossos Entrevistados: Antonio Noberto e Raimundo Meireles, e as homenagens a Ana
Luiza continuam - ENCICLOPÉDIA – Nota no PH revista sobre ana luiza almeida ferro e na
revista poética brasileira, Mhario lincoln fla sobre...ana luiza almeida ferro.
Em POESIAS & POETAS temos Dilercy Adler, Aymoré Alvim , Ana Maria Félix Garjan,
DINACY CORREA fala sobre POETISAS MARANHENSES: Lúcia Santos, e Fernando Braga
sobre O São João Batista do Modernismo, Mhario Lincoln e A Arte Poética de LENITA
ESTRELA DE SÁ, que por sua vez LENITA ESTRELA DE SÁ, traz "Mimo", Herotíldes de
Souza Milhomem à barra do corda; e Ana Maria Felix Garjan com seu “Anima in Firmina ou
poética simbólica” - Homenagem a Maria Firmina dos Reis, 190 Anos, e Adão Lopes de Souza,
com Minha última filha.
Não consegui as fotos das duas ultimas reuniões plenárias...
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
PLENÁRIA DE JULHO
Ana Luiza; Ceres; Brandão; Luna; Arquimedes; Dilercy; Noberto;
Aldy; Alvaro; Clores; Aymoré; Campos; Viana; Macatrão
CALENDÁRIO 2015 – efemérides – JULHO a SETEMBRO
JULHO
07
1950 - NASCIMEENTO DE DILERCY ARAGÃO ADLER – FUNDADORA DA CADEIRA 8
1955 – NASCIMENTO DE ARTUR NABANTINO GONÇALVES DE AZEVEDO – PATRONHO DA CADEIRA 13
08 1944 - NASCIMENTO DE JOÃO FRANCSICO BATALHA – FUNDADOR DA CADEIRA 19
09 1832 – NASCIMENTO DE JOAQUIM DE SOUSA ANDRADE – SOUSANDRADE – PATRONO DA CADEIRA 10
2007 – FALECIMENTO DE LUCY TEIXEIRA – PATRONA DA CADEIRA 34
10 2003 – FALECIMENTO DE MARIO MARTINS MEIRELES – PATRONO DA CADEIRA 31
1925 – NASCIMENTO DE MARIA DA CONCEIÇÃO NEVES ABOUD – PATRONA DA CADEIRA 37
11 1922 – NASCIMENTO DE LUCY DE JESUSN TEIXEIRA – PATRONA DA CADEIRA 34
18 1692 – FALECIMENTO DE ANTONIO VIEIRA – PATRONO DA CADEIRA 2
22 1949 - NASCIMENTO DE ARQUIMEDES VIEGAS VALE – FUNDADOR DA CADEIRA 20
23 1952 - NASCIMENTO DE LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ – FUNDADOR CADEIRA 21
24 1828 – NASCIMENTO DE ANTONIO HENRIQUES LEAL – PATRONO DA CADEIRA 9
30 1936 - NASCIMENTO DE WILSON PIRES FERRO – FUNDADOR DA CADEIRA 7
AGOSTO 01 (?) - NASCIMENTO DE MICHEL HERBERTH ALVES FLORENCIO – FUNDADOR DA CADEIRA 12
10 1823 – NASCIMENTO DE ANTONIO GONÇALVES DIAS – PATRONO DA CADEIRA 7
2013 – FUNDAÇÃO DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS
12 1995 – FALECIMENTO DE JOÃO MIGUEL MOHANA – PATRONO DA CADEIRA 36
19 1979 – FALECIMENTO DE ODYLO COSTA, FILHO – PATRONO DA CADEIRA 30
21 1917 – NASCIMENTO DE JOSUÉ DE SOUZA MONTELLO – PATRONO DA CADEIRA 32
24 1951 – FALECIMENTO DE RAIMUNDO CORRÊA DE ARAÚJO – PATRONO DA CADEIRA 26
28 1940 – NASCIMENTO DE ALDY MELLO DE ARAUJO – FUNDADOR DA CADEIRA 32
30 1970 – NASCIMENTO DE ANTONIO JOSÉ NOBERTO DA SILVA – FUNDADOR DA CADEIRA 1
SETEMBRO 03 1867 – NASCIMENTO DE JOÃO DUNSHEE DE ABRANCHES DE MOURA – DUNSHEE DE ABRANCHES – PATRONO DA CADEIRA 19
04 1923- FALECIMENTO DE ANTONIO BATISTA BARBOSA DE GODOIS – PATRONO DA CADEIRA 16
08 1977 – FALECIMENTO DE JOSÉ TRIBUZZI PINHEIRO GOMES – NANDEIRA TRIBUZI – PATRONO DA CADEIRA 39
1612 – FUNDAÇÃO DE SÃO LUIS DO MARANHÃO
09 1925 – NASCIMENTO DE DAGMAR DESTERRO E SILVA – PATRONA DA CADEIRA 38
11 1981 – FALECIMENTO DE DOMINGOS VIEIRA FILHO – PATRONO DA CADEIRA 35
13 1911– FALECIMENTO DE RAIMUNDO DA MOTA DE AZEVEDO CORREIA – RAIMUNDO CORREIA – PATRONO DA CADEIRA 15
17
1952 – FALECIMENTO DE MANUEL FRAN PAXECO, PATRONO DA CADEIRA 21, EM LISBOA
1864 – FALECIMENTO DE MANUEL ODORICO MENDES – PATRONO DA CADEIRA 3
25 1924 – NASCIMENTO DE DOMINGOS VIEIRA FILHO – PATRONO DA CADEIRA 35
29 1885 – FALECIMENTO DE ANTONIO HENRIQUES LEAL – PATRONO DA CADEIRA 9
30 1956 – NASCIMENTO DE JOSÉ CLÁUDIO PAVÃO SANTANA – FUNDADOR DA CADEIRA 39
SESSENTA E CINCO ANOS
DILERCY ADLER
Instantes...
somados de marés
barcos
e luas
também de dores
e amores
tão mal resolvidos...
soluços que entrecortam
as dores e os sabores
da alma que me habita...
- engasgo!-
instantes somados
em dias
anos
só décadas são seis
e mais outra metade
pra somar sessenta e cinco
de uma só vez!
Instantes
sincronizadamente
somados no tempo
tempo divino
totalizando ao badalar dos sinos
sessenta e cinco
anos tão longos
tão cheios
que até me intimidam
quando olho o vazio
de outras tantas vidas!...
ANIVERSARI(ANDO)
DILERCY ADLER
Lembranças
andanças
entre sóis
estrelas cadentes
que iluminam a rua
solitária e nua
de esperanças puras
mas ainda espera
mesmo desesperançada
pela volta das flores!...
lembranças
andanças
vejo-me circulando
entre laranjeiras
tantas mangueiras
imensas jaqueiras
daquelas terras sem fim
da minha infância!!!
lembranças
andanças
do beija flor tão garboso
bailando entre as flores da minha varanda
que não se comparam com aquelas do Éden
mas que o encantam
o inebriam
deixando os meus olhos
lacrimejantes de felicidade! ...
a vida pulsa
pulula
nesta manhã
deste meu mês de julho
esta manhã
como tantas outras
que amanheceram
deixando em mim
sempre
sempre
o gosto amargo do fel
em gotejadas de mel
adocicando a vida!!!...
Recebido do querido Feliciano Mejía, grande poeta e amigo peruano esta resposta ao convite da
comemoração do aniversário de 02 anos da nossa recém criada Academia Ludovicense de Letras –
ALL:
He recibido por internet esta invitación de la poeta brasilera DILERCY ADLER ARAGÁO, a quien
conocí recitando poemas en la tumba de Pablo Neruda en Chile. Dice:
“La Academia Ludovicense de letras
Tiene el alto honor de invitar a v. Autoconcedido. Para participar de la sesión solemne de
conmemoración del segundo aniversario de su fundación.
El programa incluye la homenaje al profesor e historiador Mário Mcluhan Meireles, patrocinador de
la silla nº 31 de la escuela, en razón de la celebración del centenario de su nacimiento (1915-2015).
En la oportunidad será ofrecido un cóctel a los participantes.
Etc.”
Gracias, Dilercy por no olvidarme, por invitarme y por considerarme ya casi un Luduvicence del
Perú, pero como no podré estar, por diversas razones de distancia y tiempo en esa sesión solemne,
me hago presente con estas líneas:
JOOORRR
(fragmento)
Jooorr.
Es neblina de mi aliento
este mi grito. Joorr.
Ellos no sienten ni saben
que yo bailo,
canto
y sufro humillado desde la Conquista
por los españoles. Jooorr.
Pero yo sigo danzando. Para mi danza
necesito de tu canto. Sí.
Canta y que resuenen tus poros;
bola de espuma se aleja la noche
arrinconándose en los roquedales, si cantas.
Que tu palabra no se diluya
entre las voces roncas
y los gritos
venidos de las tinieblas.
Sácale a la madera
sonidos
y has entrechocar las rocas:
de sus chispas saldrá el canto
que tus niños y mujeres
y hombres entristecidos escucharán
porque será su propia voz oyéndola
por sobre la candela y la amargura.
Yo seguiré danzando:
soy el Diablo
y soy el Angel.
Soy el demonio y el dios. Estoy más allá
del bien y del mal. Danzo. Estoy con la justicia
y soy justo. Jooor.
Aparentemente solo y lleno de dulces colores
me encubro. Los roquedales de maldades,
montaña de 400 años malos, de esta noche
de 400 años, me quieren destruir.
Pero yo danzo y me preservo. Nadie ha podido
ni nadie podrá nada contra mí: me cuido
y me cuidaré pues soy valioso.
Como niños muertos al nacer, cuyes hinchados,
casi venados de patas quebradas; así
a ti te tienen, cogido.
Para no morir, te vas lejos de mí
en tu alcohol y en tu coca, para no morir
vas y te pierdes
en las ciudades, para degenerarte: te escupen.
Lo veo. Te pegan. No puedes ni mirar las letras
y papeles de sus libros.
Y mueres.
Mueren a mi alrededor. Todo es desolación.
Campos chamuscados, nieves podridas llenas de belleza,
tul del cielo emponzoñado.
Muerte y muerte. Pero yo estoy vivo,
hermoso y lúcido tras mi máscara de vidrios y colorines.
Me miras. Me miras.
Pero no aprendes a verme.
Danzo. ¡JaauuuuuuUU!
Mas yo
estoy cada vez más fuerte.
Ni las aguas torrnentosas
ni los barros enceguecedores
han podido contra mí.
Jooorr.
(…)
Con cariño, desde El Perú, Lima, Feliciano Mejía.
2 de agosto de 2015.
ANIVERSÁRIO DA ALL
PLENÁRIA DE 08 DE AGOSTO DE 2015
A Academia Ludovicense de Letras tem a honra de convidar a todos para participar da
Sessão Solene de comemoração do seu segundo aniversário.
No evento, será feita uma homenagem ao
Professor e Historiador Mário Martins Meireles, Patrono da Cadeira Nº 31 da Academia,
em razão da celebração do centenário de seu nascimento (1915-2015).
Na oportunidade será oferecido coquetel aos participantes.
INFORMAÇÕES PARA MEDIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO
“MEMÓRIAS COMPARTILHADAS:
100 ANOS DE NASCIMENTO DE MÁRIO MARTINS MEIRELES”
A Academia Ludovicense de Letras – ALL, cognominada Casa de Maria Firmina dos Reis, foi
fundada em 10 de agosto de 2013, aos 190 anos de nascimento do Poeta Gonçalves Dias, como parte
da programação do evento “Mil poemas para Gonçalves Dias”, promovido pelo Instituto Histórico e
Geográfico do Maranhão – IHGM, pela Federação das Academias de Letras do Maranhão – FALMA
e pela Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão e do Brasil – SCLMA/SCLB, em
celebração final do aniversário dos 400 (quatrocentos) anos da fundação da cidade de São Luís.
Em comemoração ao segundo ano de sua fundação ficou decidido pelos Membros da ALL que
o homenageado deste ano seria Mario Martins Meireles, um de seus Patronos, em homenagem ao
centenário de seu nascimento.
A Comissão designada para organização das festividades foi composta pelas Acadêmicas: Ana
Luíza Almeida Ferro, Dilercy Aragão Adler e Clores Holanda Silva. Se reuniu em 1º. de fevereiro de
2015, às 20h00 (Domingo), onde se discutiu a programação, que depois de apreciada em Assembléia
da Academia Ludovicense de Letras foi aprovada:
ANIVERSÁRIO DE 02 ANOS DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS
HOMENAGEM AO CENTENÁRIO DE MÁRIO MEIRELES
PROGRAMAÇÃO
LOCAL: Auditório do Colegiado Superior da UFMA, PALÁCIO CRISTO REI
Dia 08 de agosto de 2015 (sábado)
8h30 – Abertura /Apresentação da Banda do 24º. Batalhão de Infantaria Leve – BIL
Abertura da Exposição “Memórias Compartilhadas: 100 anos de Mário Meireles” –
Idealização e Organização de Clores Holanda Silva (ALL)
9h00 – Composição da Mesa – Hino Nacional.
Recital de Poesias de Mário Meireles, com a participação de alunos do Centro de Ensino
Prof. Mário Martins Meireles e acadêmicos da ALL
10h00 – Painel sobre Mário Meireles – Palestrantes (20 minutos para cada um):
Acadêmico Carlos Thadeu Pinheiro Gaspar (AML), que falará sobre o homenageado como
historiador e acadêmico;
Profa. Mestra Maria Esterlina Mello Pereira (UFMA/IHGM), que falará sobre o
homenageado como professor;
Acadêmica Profa. Dra. Ana Luiza Almeida Ferro (IHGM/ALL), ocupante da Cadeira nº
31 da ALL, patroneada por Mário Meireles, que falará a respeito de aspectos gerais sobre a
vida e a obra do historiador e poeta.
11h00 – Show com o Grupo de Joana Bitencourt.
12h00 – Encerramento – Lançamento coletivo de produções dos membros da ALL, seguido de
coquetel.
Dentre os autores: Ana Luiza Almeida Ferro; Dilercy Aragão Adler; João Francisco
Batalha e Álvaro Urubatan de Melo; Clores Holanda Silva e Antônio Noberto Silva; Aldy
Mello de Araújo; Leopoldo Gil Dulcio Vaz; Vanda Lúcia da Costa Salles; Sanatiel de Jesus
Pereira e Michel Herbert Alves Florêncio.
Ao longo da programação, serão exibidos continuamente 83 slides sobre a vida e a obra de
Mário Meireles, apresentando retratos de diferentes momentos de sua vida, as capas das
primeiras edições de seus mais de 30 livros, algumas de suas poesias e imagens do Centro
de Ensino Prof. Mário Marins Meireles, escola da rede estadual da Capital.
EXPOSIÇÃO “MEMÓRIAS COMPARTILHADAS:
100 ANOS DE NASCIMENTO DE MÁRIO MEIRELES”
A EXPOSIÇÃO MEMÓRIAS COMPARTILHADAS: “100 ANOS DE NASCIMENTO
DE MÁRIO MEIRELES” foi idealizada por Clores Holanda Silva, Sócia-Fundadora da Academia
Ludovicense de Letras, Ocupante da Cadeira nº. 30, Patroneada por ODYLO Costa, filho, que
também ficará responsável pela pesquisa do acervo e montagem da exposição, a ser realizada no dia
8 de agosto de 2015, das 8h30 às 12h30, no prédio da Reitoria Palácio Cristo Rei, da Universidade
Federal do Maranhão, localizada ao Largo dos Amores (Praça Gonçalves Dias), 351 – Centro. O
acervo a ser exposto será disponibilizado por Ana Maria Martins Meireles, filha de Mário Martins
Meireles e pelo Memorial Cristo Rei, da Universidade Federal do Maranhão.
OBJETIVO GERAL
Homenagear, através de uma exposição, o maranhense Mário Martins Meireles, destacando:
Infância, informações gerais, início da profissão e homenagens póstumas; atuação na Universidade
Federal do Maranhão; contribuição à história de São Luís, Estado do Maranhão e do Brasil, e sua
atuação como Acadêmico.
Objetivos específicos
Comemorar o segundo aniversário da Academia Ludovicense de Letras;
Expor parte da obra de Mário Martins Meireles, disponibilizada pela sua filha, Ana Maria
Meireles e pelo Memorial Cristo Rei da Universidade Federal do Maranhão àqueles
interessados em conhecer sua obra;
Divulgar a Academia Ludovicense de Letras; e,
Interagir com a sociedade.
METODOLOGIA
A EXPOSIÇÃO MEMÓRIAS COMPARTILHADAS: “100 ANOS DE NASCIMENTO
DE MÁRIO MEIRELES” será montada no Hall do piso superior do prédio da Reitoria Palácio
Cristo Rei, localizado ao Largo dos Amores (Praça Gonçalves Dias, 351 – Centro). Para exposição
do acervo serão utilizados expositores de uso particular de Clores Holanda Silva e do Memorial
Cristo Rei, da Universidade Federal do Maranhão com início às 8h30 e término às 12h30.
ACERVO A EXPOSTO
O acervo será composto por livros, relatórios, medalhas, diplomas, troféus, fotografias, colar
acadêmico, recortes de jornais, campainha, vestuário, coruja de porcelana, máquina de escrever,
curriculum, depoimento, entre outros. Para contextualização da exposição será feita uma entrevista
com Ana Maria Martins Meireles, filha de Mário Martins Meireles sobre o acervo emprestado, assim
como uma pequena pesquisa sobre Mário Martins Meireles, distribuído nos seguintes módulos:
Módulo I – Infância, informações gerais, início da profissão e homenagens póstumas.
a) Histórico
Mário Martins Meireles nasceu em São Luís do Maranhão, em 8 de março de 1915, à Rua da
Mangueira, hoje Artur Azevedo, na freguesia de São João Batista. Primeiro filho de Vertiniano Parga
Leite Meireles (13/10/1887 – 7/7/1925) e Maria Martins Meireles (nascida Maria Ermelinda de
Sousa Martins (5/2/1890 – 5/1/1988). Casou-se a 13 de outubro de 1937, em Timon – MA, com sua
prima materna Maria José Martins Meireles (nascida Maria José Ramos Martins – 12/03/1916 –
1/4/1994) a qual lhe deu duas filhas – Ana Maria Martins Meireles e Ana Otília Meireles Teixeira,
casada com Nazareno do Carmo Teixeira, com quem teve seus dois netos – Mario Antonio e Jorge
Antonio Meireles Te4ixeira. Faleceu em São Luís do Maranhão em 9 de maio de 2003. Morou na
Bahia, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Iniciou a vida profissional aos 17 anos como Servente, na
antiga Delegacia Regional do Imposto de Renda (atual Receita Federal), tornando-se Delegado
Regional do Imposto de Renda. Exerceu os cargos de Diretor do Banco do Estado do Maranhão e de
Chefe da Casa Civil no governo Pedro Neiva de Santana (1972-1975). O Módulo I o acervo será
composto por:
b) Acervo exposto
1) Meias usadas por Mário Meireles quando bebê – 1915;
2) 01 (uma) Campainha – Na Delegacia Regional do Imposto de Renda (atual Receita Federal) ele
entrou aos 17 anos como Servente para servir café e água. Era servir. Essa campainha que o
Delegado chamava quando queria o serviço dele. E ai nesta repartição ele foi subindo, subindo, e
acabou como Delegado Regional do Imposto de Renda. Quando ele se aposentou trouxe a
campainha que acompanhou ele no início da vida dele como Servente na Delegacia Regional do
imposto de Renda. Ai ele trouxe essa campainha pra casa. (depoimento de Ana Maria Meireles –
filha – em 22 de julho de 2015);
3) Diploma Medalha do Mérito Timbira, conferida pelo Governador do Estado do Maranhão,
Newton de Barros Belo 1º. de novembro de 1964;
4) Diploma Medalha João Lisboa, concedida pelo Conselho Estadual de Cultura do Maranhão, em
reconhecimento dos relevantes serviços prestados à Cultura do Maranhão – assinado pelo
Presidente, Benedito BogéaBuzar – 05 de novembro de 1990.
5) Depoimento A Universidade Federal do Maranhão: Sua História – Depoimento do Prof. Mário
Martins Meireles – 1993. (acervo do Memorial Cristo Rei, da Universidade Federal do
Maranhão).
6) Recorte de Jornal Artigo A morte e o silêncio, de autoria do PE. Raimundo Gomes Meireles,
publicado na Coluna Opinião, do Jornal O Estado do Maranhão do dia 27 de abril de 2006.
7) Recorte de Jornal Nota Social com o título Mário Martins Meireles, postada na Coluna Social do
Jornalista Riba Um, no Caderno Variedade, do Jornal Pequeno, do dia 28 de agosto de 2007.
8) Curriculum Vitae (acervo do Memorial Cristo Rei da UFMA)
Módulo II – Atuação na Universidade Federal do Maranhão Módulo II
a) Histórico
Mário Martins Meireles ingressou na carreira do magistério em 1940, sendo um dos fundadores
da Faculdade de São Luís do Maranhão, na qual trabalhou como professor universitário do Curso de
História. Essa foi uma das primeiras instituições que deram origem à Universidade Federal do
Maranhão. A Fundação Universidade do Maranhão foi instituída pelo Governo Federal, nos termos
da Lei nº. 5.152, de 21 de outubro de 1966, com a finalidade de implantar progressivamente a
Universidade, sendo que sua administração ficou a cargo de um Conselho Diretor, composto de seis
membros titulares e dois suplentes, nomeados pelo Presidente da República, que entre si elegeram
seu primeiro Presidente e Vice-Presidente. Em 1967, em lista tríplice votada pelo Conselho
Universitário, foram eleitos, pelo Conselho Diretor, os primeiros dirigentes da nova Universidade,
dentre eles o Prof. Mário Martins Meireles, Vice-Reitor Administrativo. Na UFMA, Meireles
exerceu a chefia do Departamento de História e Geociências e fundador do Núcleo de Documentação
e Pesquisa Histórica e Geográfica.
b) Acervo exposto
1) Coruja de Porcelana ofertada por Mário Martins Meireles a Primeira Turma do Curso de Filosofia
da Universidade Federal do Maranhão – 1952 – Acervo do Memorial Cristo Rei.
1) Livro O Ensino Superior no Maranhão – 1981 – publicação comemorativa ao 15º. Aniversário de
Fundação da Universidade Federal do Maranhão – (publicado pela Universidade Federal do
Maranhão/Departamento de História e Geociência/Núcleo de Documentação e Pesquisa.
2) Livro Memória de Professores – Histórias da UFMA e outras histórias, organizado por Regina
Faria e Antonio Montenegro – 2005 – (publicado pela UFMA/Departamento de História) –
pertence ao acervo do Memorial Cristo Rei da Universidade Federal do Maranhão.
3) Medalha Palmas Universitárias
4) Placa ao Professor Mário Martins Meireles – homenagem do Departamento de História e
Geociência da UFMA – 08 DE MARÇO DE 1985.
5) Placa ao Professor Mário Martins Meireles, fundador do Curso do Curso de Filosofia de São Luís,
a gratidão e o carinho dos docentes, alunos e funcionários do Curso de História da UFMA –
março de 1991
6) Placa ao Professor Mário Meireles em homenagem dos alunos do Mestrado em História –
UFMA/UFPE – 05 de abril de 1999
7) Placa ao Prof. Mário Martins Meireles – Memória viva da História do Maranhão – homenagem da
Coordenação, professores e alunos do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde – CCS
– UFMA – EM 02 de julho de 1999.
8) Troféu Homenagem do Centro de Estudos Básicos – CEB – UFMA – 1991
9) Troféu Homenagem ao Acadêmico Mário Martins Meireles – A UFMA externa, in memoriam,
todo o respeito e agradecimento ao seu ilustre ex-professor que, no exercício de suas atividades
culturais, como imortal da Academia Maranhense de Letras sempre soube dignificar o nome
dessas Instituições pelos 39 anos da Universidade Federal do Maranhão – 21 de outubro de 2005 –
conferida pelo Reitor Fernando Guimarães Ramos
10) Diploma da Medalha Comemorativa do Cinquentenário de Fundação do Curso de Direito no
Maranhão instituída para comemorar o quinquagésimo aniversário de fundação da Faculdade de
Direito da Universidade do Maranhão, concedida pelo Reitor Pedro Neiva de Santana – 11 de
agosto de 1968;
11) Diploma Medalha “Souzândrade” do Mérito Universitário, concedida pela Universidade Federal
do Maranhão em 13 de outubro de 1982; e,
12) Diploma Palmas Universitárias concedido pelo Reitor da Universidade Federal do Maranhão,
Othon de Carvalho Bastos – 20 de outubro de 1998.
Módulo III – Contribuição à história de São Luís, Estado do Maranhão e Brasil
a) Histórico
O livro de Mário Martins Meireles, “Pequena História do Maranhão”, veio a lume em 1959,
sendo publicado pela editora do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – SENAC do Rio de
Janeiro. Por meio do decreto nº. 1732, de 9 de setembro de 1960 assinado por Eloy Coelho Neto,
então governador do Maranhão, foi adotada nas Escolas Primárias do Estado. Nessa obra, o escritor
oferecia aos professores uma trilha a ser cumprida pelos mestres e alunos, uma verdadeira aula
prática sobre a fundação de São Luís e sobre os monumentos que integram a cidade. No entanto, sua
obra mais conhecida é “História do Maranhão”, publicada no Rio de Janeiro em 1960, entre outras. O
livro se divide em três partes principais, informando sobre o Maranhão na época da Colônia, do
Império e da República.
b) Acervo exposto
1) Livro Pequena História do Maranhão – 1959 – (livro publicado pelo Serviço de Aprendizagem
Comercial – Departamento Nacional;
2) Livro História do Maranhão – 1960 – (livro publicado pelo DASP – Serviço de Documentação)
3) Livro História da Independência do Maranhão – 1972 – (livro publicado pela Editora Artenova
S.A – Rio de Janeiro).
4) Livro Símbolos Nacionais do Brasil e Estaduais do Maranhão – Coleção São Luís – 5 – 1972 –
(livro publicado pela Companhia Editora Americana – Rio de Janeiro – RJ, 1972.)
5) Livro Relatório 81, da Secretaria da Cultura do Maranhão – contém o discurso de Mário Meireles,
no lançamento de seu livro “História do Maranhão", na Academia Maranhense de Letras, editado
pela ex- FUNC.
6) Livro França Equinocial – 2ª. edição – 1982 – (livro publicado em pela Civilização Brasileira em
convênio com a Secretaria de Cultura do Maranhão – São Luís/Rio de Janeiro
7) Livro Holandeses no Maranhão – 1991 – (livro publicado pela Universidade Federal do Maranhão
– CORSUP/EDUFMA)
8) Livro Dez Estudos Históricos – Documentos Maranhenses – 1994 (Livro publicado pela
Academia Maranhense de Letras pelo Ano dos Centenários de Nascimento de Clodoaldo Cardoso,
Oliveira Roma, Raimundo Lopes e Raul de Freitas, apresentado por Jomar Moraes).
9) Livro França Equinocial – 2012 – 3ª. Edição – publicada por Jomar Moraes – (Publicado pela
Academia Maranhense de Letras).
10) Livro História de São Luís – 2012 – (livro em homenagem póstuma a Mário Meireles organizado
por Carlos Gaspar e Caroline Castro Licar – publicado pela Faculdade Santa Fé;
11) Diploma Medalha “Cidade de São Luís” – 8 de setembro de 1612 – 8 de setembro de 1962 –
conferida ao Exmo. Sr. Prof. Mário Martins Meireles – Presidente da Academia Maranhense de
Letras;
12) Diploma Palmes Académiques pelo Ministère de L’ÉducationNationale da RépubliqueFrançaise
pelos servicesvendus à la cultura française – 29 mars 1963. (Recebido pelo livro França
Equinocial). Sua filha Ana Maria Meireles, por ausência de Mário Meireles recebeu o diploma, na
Aliança Francesa. Veio uma autoridade da França para condecora-lo. Informações prestadas por
Ana Maria Meireles.
13) Diploma chamado pela Assembleia a fazer parte do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
como Membro Correspondente admitido em sessão do dia 11 de novembro de 1973; e,
14) Diploma Assembleia a fazer parte do Instituto Histórico e Geográfico e Geográfico do Maranhão,
José Adirson de Vasconcelos – 7 de agosto de 1995.
Módulo IV – Atuação como acadêmico
a) Histórico
O escritor Mário Martins Meireles quando faleceu, já havia publicado 34 obras, dentre livros
de História e Literatura. Foi eleito membro da Academia Maranhense de Letras (ocupando a cadeira
nº. 9, cujo patrono é Gonçalves Dias, assumindo a presidência da instituição de 1962 a 1966, após ter
sido Secretário e Vice-Presidente da Casa de Antônio Lobo, integrando ainda o Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro, o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, recebendo em vida o título de
cidadão de Caxias (MA). Foi agraciado com diversas honrarias, dentre as quais a “Medalha do
Mérito Timbira”, “Medalha Sousândrade do Mérito Universitário”, “Ordem do Rio Branco”, “Ordem
dos Timbiras”, dentre outras.
b) Acervo a ser exposto 1) Livro O Imortal Marabá – 1948 – (livro publicado pela Academia Maranhense de Letras;
2) Livro Gonçalves Dias e Ana Amélia – 1949 – (livro publicado pela Academia Maranhense de
Letras – Conferência pronunciada no Teatro Ar, de São Luís, na noite de 3 de novembro de 1948,
em sessão solene da Academia Maranhense de Letras.
3) Livro Panorama da Literatura Maranhense – 1955 – (livro publicado pela Academia Maranhense
de Letras – Imprensa Oficial)
4) Livro Antologia da Academia Maranhense de Letras – 1908 – 1958 – (Livro publicado pela
Academia Maranhense de Letras) em 1958, organizada pelos acadêmicos Mário Martins Meireles,
Arnaldo de Jesus Ferreira e Domingos Vieira Filho, integrantes da comissão designada pela
Presidência da Academia em sessão de 11 de agosto de 1956; e,
5) Livro Posse na Academia Maranhense de Letras – 1º. de dezembro de 1994 – (discurso
publicado pela Academia Maranhense).
6) Medalha Colar da Academia Maranhense de Letras;
7) Medalha 4º. Centenário de Fundação de São Luís – 08.09.1612 – 08-09-2012 –
Homenagem da Assembleia Legislativa do Estado do Maranhão;
8) Placa de reconhecimento a Mário Meireles por sua inestimável contribuição à cultura
maranhense – homenagem da Secretaria de Cultura do Maranhão – 1998
9) Diploma Medalha Gonçalves Dias homenagem da Academia Maranhense de Letras pelo
65º. Aniversário de Fundação da Casa de Antonio Lobo – 150º. Anos Aniversário de
Nascimento do Poeta Gonçalves Dias – 1973 – Presidente da AML – Luiz de Moraes
Rêgo
10) Diploma de Sócio Correspondente da Academia Santista de Letras – 7 de junho de 1979
11) Diploma de Membro Efetivo da Academia Maranhense de Letras, como ocupante da
Cadeira nº. 9, patroneada por Gonçalves Dias – 27 de maio de 1982
Módulo V – Imagens Fotográficas
O Módulo V o acervo vai ser composto de fotografias scaneadas e impressas expostas em
suportes artesanais a serem confeccionados por Clores Holanda Silva com as seguintes imagens
fotográficas:
FOTO Nº. 1 – Fotografia da família materna – Em pé seus tios irmãos de sua mãe: José Sousa
Martins, Joaquim Sousa Martins, Urbano Sousa Martins (tio e sogro), Firmino Sousa
Martins e Carlos Sousa Martins. Sentadas: Maria Martins Meireles (mãe), Filomena
de Sousa Martins (Avó – vivei até os 96 anos) e a Tia Sinhá. Os tios e tias de Mário
Meireles viveram acima dos 80 anos.
FOTO Nº. 2 – Maria José Martins (esposa) e Mário Meireles
FOTO Nº. 3 – Mário Meireles com 6 (seis) meses
FOTO Nº. 4 – Mário Meireles com 6 (seis) meses
FOTO Nº. 5 – Mário Meireles com 4 (quatro) anos
FOTO Nº. 6 – Mário Meireles com 19 anos
FOTO Nº 7 – Mário Meireles com Veste Talar quando professor da UFMA
FOTO Nº. 8 – Mário Meireles em 26 de abril de 1971.
FOTO Nº. 9 – Mário Meireles como Chefe de Gabinete da Gestão José Maria Ramos Martins – 5º.
Reitor da Universidade Federal do Maranhão
FOTO Nº. 10 – Mário Meireles em cerimônia na Academia Maranhense de Letras – Década (pediu
para ser fotografado com algumas de suas medalhas, segundo sua filha Ana Maria
Meireles.
FOTO Nº. 11 – Mário Meireles recebendo a Comenda Palmas Universitárias em 20 de outubro de
1998 com sua filha Ana Otília Meireles, na Reitoria da UFMA – Palácio Cristo Rei.
FOTO Nº. 12 – Mário Meireles ao centro ladeado pelo Acadêmico Montalverne Frota e Gervis – na
solenidade de posse na Academia Maranhense de Letras, de Montalverne Frota.
FOTO Nº. 13 – Ana Otília Meireles Teixeira, Clores Holanda Silva e Ana Maria Martins Meireles – (registro
feito pelo meu genro Tallissonn Ricardo Costa Vilhena, no dia 2 de agosto de 2015,
num encontro casual no Shopping da Ilha – São Luís – Maranhão, com as filhas de
Mário Meireles.
EXPOSIÇÃO MEMÓRIAS COMPARTILHADAS: “100 ANOS DE MÁRIO MEIRELES”
HOMENAGEM DO 2º. ANIVERSÁRIO DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS
ACRÓSTICO ACERVO EM DIÁLOGO
Mário Martins Meireles, o imortal que se destacou. Registrou a história e compartilhou como professor.
Árvore frondosa!Tuas raízes estão plantadas no solo que te criou. O povo te reconhece pelo teu valor.
Respirei profundamente, ao ter em minhas mãos as tuas meias de bebê. O meu coração quase disparou.
Impossível acreditar nesse momento. A emoção tomou conta de mim. Uma lágrima brotou.
Oprofissional capacitado iniciou como Servente. Trouxe consigo pra sua casa a campainha, quando se
aposentou.
Mário Martins Meireles mesmo servindo água e cafezinho, fazia seu trabalho com muito amor.
Ajudou na fundação da Faculdade de Filosofia em São Luís, origem da Universidade do Maranhão.
Reitor ele não foi da Universidade que criou. Nela exerceu vários cargos os quais os consagrou.
Talvez não imaginasse expor o acervo que deixou no prédio Palácio Cristo Rei quando a UFMA começou.
Imaginem o orgulho dele, ao ver a Academia Ludovicense de Letras prestando-lhe essa linda homenagem.
Na minha cabeça vislumbro o quanto ele sonhou, ouvindo o som da campainha, tocada pelo seu Gestor.
Sabiamente foi ascendendo no trabalho, tornando-se também o chefe de seu setor.
Mergulhado num mar de histórias, pescou na Ilha do Amor, escritos e relatos do seu torrão.
Estudou muitos autores, registrando a história do Brasil, São Luís e do Estado do Maranhão.
Imortalizado pela vasta obra que publicou, será sempre lembrado por cada pesquisador e leitor.
Relembrar é rememorar. Vamos apreciar o acervo de Mário Meireles em exposição.
Ele sempre será lembrado quando se falar do Maranhão.
Livros publicou. Estudiosos podem pesquisar. O tempo desgastou. Quem se interessar possa reeditar.
Enessa busca constante de conhecer o passado construiremos um mundo bem melhor.
Sempre será lembrado Mário Martins Meireles como nosso maior Historiador.
São Luís, 1º. de agosto de 2015.
CLORES HOLANDA SILVA,
Sócia-Fundadora da Academia Ludovicense de Letras.
Ocupante da Cadeira nº. 30, patroneada por Odylo Costa, filho.
FOTO OFICIAL – LEOPOLDO, CLORES, ANA LUIZA, DILERCY, MACATRÃO, CERES, BRANDÃO,
ALDY, MEIRELES, ERICEIRA,
(segunda fila) MICHEL, CAMPOS, ÁLVARO, BATALHA, NOBERTO, VIANA, AYMORÉ, ARQUIMEDES
MEMBROS DA ALL COM OS FAMILIARES DE MARIO MEIRELES
MESA DE PALESTRAS
CARLOS GASPAR, ANA LUIZA, E MARIA ESTERLINA, COM MACATRÃO
ABERTURA DA EXPOSIÇÃO SOBRE MÁRIO MEIRELES
LANÇAMENTO COLETIVO DE LIVROS – SESSÃO DE AUTÓGAFOS
ALUNOS DA ECOLA MÁRIO MEIRELES DECLAMANDO POESIAS
PALESTRA NA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS, PELO
CENTENÁRIO DE MÁRIO MEIRELES,pronunciada a 8 de Agosto de 2015
CARLOS TADEU GASPAR
Devo manifestar-me, inicialmente, sobre o convite que a mim fizestes para estar aqui, neste
momento, a falar sobre o saudoso professor Mário Martins Meireles, nesta comemoração do segundo
aniversário da vossa Academia.
Aceitei o chamamento, sob a emoção de que fui tomado, pois não disporia mais de tempo para
elaborar uma boa dissertação a respeito do inesquecível mestre, com quem vivenciei profunda
amizade, por mais de quatro décadas. Assim, outra seria a pessoa a cumprir essa honrosa tarefa, pois
muitas há de sobeja competência, capazes de desincumbirem-se, com mais desenvoltura que eu, da
missão que, de modo precipitado, aceitei levar a cabo.
Resta, agora, valer-me da memória, da experiência, de antigas erecentes anotações já a
caminho do esquecimento nos meus arquivos, e da proteção de Deus, para atender ao honroso
encargo, esperando que todos os presentes ouçam com paciência as palavras deste incansável
aprendiz do mestre Mário Meireles. Incansável aprendiz assim me sinto, devo confessar, ao
recapitular as lições que me foram transmitidas em sala de aula e as incontáveis outras que se
encontram nos livros que mandou editar, nas palestras que pronunciou, nos discursos que exaltou,
nas cartas e nos documentos que fazem parte dos guardados que deixou.
Recordo-me do nosso primeiro contato, quando ele me argüia em uma prova de vestibular, nos
idos de 1958, que eu prestava com interesse de fazer o curso de Geografia e História, na Faculdade
de Filosofia de São Luís. A despeito de sua fina ironia, desse episódio saí convencido de que havia
entre nós uma empatia que iria facilitar o nosso relacionamento. Logo veio a amizade duradoura,
imorredoura, conquistada a partir de quando, em seguida, passei a freqüentar sua residência na Rua
das Hortas, sob a finalidade de preparar as lições com uma de suas filhas, colega do mesmo curso e
da mesma sala de aula. Contribuiu muito para essa minha freqüência o espírito acolhedor de D.
Maria José, sua esposa, que sempre me recebia com alegria e incentivo, o que me deixava bastante à
vontade, embora quase nunca expressasse a satisfação que sentia, pois sempre cedi ao meu espírito
de timidez, de que até hoje sou acompanhado. Os anos se passaram, casei com Paula, minha mulher
por cinqüenta anos, que hoje me aguarda na eternidade, e a relação de amizade, de afeto e de carinho,
cada vez maior entre nós todos, se transformou em um laço unindo fortemente as nossas famílias. As
duas filhas de Mário e Maria José, por ambas nutro um sentimento fraterno, Ana Maria, então colega
da Faculdade de Direito e da de Filosofia, e Ana Otília, comigo freqüentando o curso de Geografia e
História, elas docentes como eu da mesma instituição de ensino superior, logo ao término do nosso
curso.
Faço, agora, um parêntese para esclarecer acerca dos meus conhecimentos de História do
Maranhão, pois é somente sobre Mário Meireles, como historiador e membro da Academia
Maranhense de Letras, que devo e pretendo continuar esta exposição. Confidencio a vós neste
momento: o meu saber, nesta área, era primaríssimo. Jamais tive uma aula de História do Maranhão,
pois essa disciplina não constava de nenhum currículo de qualquer dos colégios que eu frequentei, a
partir do curso primário, da época, até concluir o superior, de Geografia e História. Por incrível que
pareça, somente quando já pertencia eu ao corpo docente do Departamento de História foi que se deu
a inclusão de História do Maranhão, na grade das disciplinas oferecidas. E aí constatei mais uma vez
o quanto é irônico o destino, pois fui eu indicado para lecioná-la, em substituição ao maior de todos
os mestres, Mário Meireles, que acabara de assumir função administrativa na Universidade.
Senhoras e senhores, podeis vós imaginar a minha aflição e a minha dificuldade, pois não
dispunha de bibliografia de que me pudesse valer para cumprir a designação que me fora feita pela
chefia do Departamento de História, ao qual pertencia; tampouco, pelas razões que acabo de me
manifestar, não me sentia em condições de enfrentar um grupo de alunos, certamente mais avançados
do que eu, no saber do nosso glorioso passado. Desse glorioso passado timbira, saibam vós, quase
nada era do meu conhecimento, da minha formação como bacharel e licenciado em História,
restando buscar subsídios para que eu fizesse os meus estudos e, ato contínuo, os repassasse em sala
de aula. E quem me orientaria na busca dessa fonte de informação e estudo, alimentadora do meu
cabedal de conhecimentos, se apenas sabia que São Luís havia sido fundada pelos franceses, que
sofremos invasão dos holandeses, que o feriado de 28 de julho era comemorativo à adesão do
Maranhão à Independência do Brasil, que existiu um Manuel Beckman, que em nosso Estado deu-se
uma revolta de grandes proporções, a Balaiada, e quase nada mais? A timidez, velha companheira de
longo tempo e, certamente, o amor próprio de professor de menos de um lustro de formado me
impediram de recusar a designação que a mim havia sido feita, e não menos de recorrer a quem quer
que fosse, em busca de orientação e ajuda, uma vez aceita por mim a incumbência. Muni-me, então,
da História do Maranhão, de Mário Meireles, e segui em frente. Comecei, a partir daí, a conhecer,
então, por inteiro, o grande historiador maranhense, Mário Martins Meireles, de quem agora passo a
vos falar.
Se o primeiro contato que tive com o passado da minha terra ocorreu tardiamente, posso dizer,
no entanto, que fui compensado, ao fazer essa estreia por intermédio de um estudioso de História
Universal e da História, enquanto ciência, e me mostrou o rumo para identificar os diversos
segmentos intercomunicantes, através dos quais a História possa ser analisada, pesquisada ou
comentada. Ele, o meu professor, que me acompanhou por todos os demais anos enquanto viveu, foi
quem me proporcionou a oportunidade de ver, com mais clareza, o mundo pelo todo e em particular.
De observar que os fatos históricos se inter-relacionam, ao produzirem efeito, no mesmo ou em outro
momento, e no mesmo ou em outro lugar. Foi com essa visão,adquirida a partir da leitura de
determinadas páginas, me assenhoreando do conteúdo dos capítulos da sua História do Maranhão,
que se tornou uma espécie de Bíblia dos estudiosos interessados em conhecer o desenrolar da nossa
história, que organizei os meus conhecimentos. E percebi, sem a menor dúvida, que Mário Meireles
transitava pela ciência de Heródoto com absoluta segurança, ao identificar, analisar e interpretar os
fatos históricos; e logo também dei conta, na relembrança de alguns anos passados, de que suas aulas
eram vasadas nesse método, sem concorrência dos processos interpretativos de então, portanto, de
enorme compreensão, tanto pelos seus alunos em sala de aula, quanto pelos estudiosos, pelos
curiosos e pelos historiadores dos novos tempos, que continuam a se valer das obras por ele
produzidas, permanentemente admirados do saber de quem foi um autodidata, bem como do seu
estilo inconfundível e elegante, como ele também o era na feição física e no trato pessoal.
A historiografia maranhense deu, assim, um salto de qualidade e quantidade a partir de quando
Mário Meireles se tornou a mais importante referência para o estudo do passado do Maranhão. É que
as fontes, até então conhecidas e disponíveis, eram de difícil acesso e sempre as mesmas, tanto com
Barbosa de Godois, autor de uma História do Maranhão, datada de 1904, quanto com Jerônimo de
Viveiros, que subscreveu a importantíssima História do Comércio do Maranhão, em 1954. O
Dicionário Histórico e Geográfico da Província do Maranhão, de autoria de Augusto Cesar
Marques, outra fonte de pesquisa importantíssima, a mais relevante em concorrência com as duas
mencionadas, tornara-se de raro alcance, porque esgotada a edição princeps de 1870, bem como a
segunda edição, esta datada de 1970, somente no ano de 2008 foi mandada a público uma terceira
edição, chancelada pela Academia Maranhense de Letras.
Mário Meireles, ao editar o seu mais importante trabalho, em 1960,intitulado História do
Maranhão, abriu definitivamente as portas para o surgimento de um número amplo de interessados
no cultivo das nossas origens e no desenrolar da vida política e social deste Estado, a partir da
tentativa gaulesa de criação de uma França Equinocial.
Em razão desse fato, deu-se que o antigo mestre de História da América, de admiração e
respeito perante seus alunos, a comunidade de professores e o meio intelectual, se tornasse a figura
maior no contexto da pesquisa e da sistematização de fatos históricos ocorridos no Maranhão, a
começar em 1612 e até mesmo antes. Também muito contribuiu, para que viesse ele a gozar de tal
conceito, a imensa bibliografia citada em seus trabalhos, até então desconhecida em sua maioria, e
que viria a ser utilizada e até ampliada, pelos que palmilharam o mesmo ou semelhante caminho que
ele percorreu.
Na verdade, Mário Meireles terminou por construir uma enorme bibliografia historiográfica,
como resultado de continuadas leituras e incansáveis pesquisas que realizou, mais que ninguém, ao
seu tempo. E com tanta dedicação e enorme gosto se houve nesse mister que, ao buscá-las, obteve
informações minuciosas, particularizadas, a respeito dos temas que se interessou conhecer. Era o
processo da informação detalhada, seqüenciada e organizada, que pacientemente gestava para
implantá-lo nas obras que produziu.
Outro não poderia ser o método adotado pelo saudoso historiador. É que, ao ser fundada a
Faculdade de Filosofia de São Luís, para ocupar a cadeira de História da América, do curso de
Geografia e História, foi ele indicado, em sessão da Academia Maranhense de Letras. Sem possuir
graduação em História, aceitou a designação, mais pelo atendimento à decisão dos seus confrades, do
que pelo fato de já haver experimentado, ao tempo de jovem, semelhante incumbência, quando
lecionou História, no Colégio Cisne, em que se houvera de modo satisfatório.
Aprovada a indicação do seu nome, pelo Ministério da Educação, para que ocupasse a
titularidade da cadeira de História da América, sentiu Mário Meireles o peso da responsabilidade
contraída e não lhe restou outra alternativa, salvo a de debruçar-se sobre livros e a de vasculhar
informações, para que fosse compondo seu cabedal de conhecimento, indispensável ao exercício da
cátedra a que fora guindado.
Inserido, assim, no mundo dos estudiosos de História, o encargo assumido tornou-se lhe
também uma atividade prazerosa, tanto que se entregara de corpo e alma à pesquisa, à leitura, aos
questionamentos, ao estudo, enfim, de tudo o que viesse a fazer crescer seus conhecimentos. Livros,
jornais, revistas e qualquer espécie de documento informativo, não mais faltavam em sua carteira de
trabalho ou em sua estante particular. O autodidata se fazia historiador. E esse fascínio ele o
justificava: “nenhum campo do conhecimento humano alcança a vastidão dos estudos históricos,
porque eles, de algum modo, se intrometem em todos os outros – nos das ciências, das artes e das
letras. Nenhum outro poderá nos fornecer o alicerce humanístico que eles nos concedem, e o
conhecimento imenso da História está sendo sempre reclamado e precisado pelos estudiosos outros
de todos os ramos do saber humano”.
Apenas para comprovar essa assertiva, basta nominar algumas de suas produções, todas elas
escritas sob o mesmo estilo e enriquecidas de fatos minudenciados, denotando o grau de pesquisa a
que se submeteu e a veracidade das informações que transmitiu: Pequena História do Maranhão
(1959), O 5º Centenário do Infante D. Henrique no Maranhão (1960), História do Maranhão (1960),
França Equinocial (1962), História da Independência no Maranhão (1972), Melo e Póvoas –
Governador e Capitão-General do Maranhão (1974), História da Arquidiocese de São Luís do
Maranhão (1977), Dom Diogo de Sousa - Governador e Capitão-General do Maranhão e Piauí
(1979), Holandeses no Maranhão (1991) .
Dois títulos, não mencionados, também merecem uma referência especial. O primeiro é a
História de São Luís, que Mário Meireles escreveu e a cada dia foi acrescentando mais um fato, uma
data, uma novidade, resultado das pesquisas continuadas que fazia e que só após sua morte foi
publicado, sob a organização de Carlos Gaspar e Caroline Castro Licar. O segundo é Efemérides
Maranhenses, que padeceu do mesmo processo, estando para ir à publicação proximamente, sob a
responsabilidade dos mesmos organizadores.
Agora, quando se comemora o centenário de nascimento desse grande mestre da História, mais
precisamente da História do Maranhão que foi Mário Meireles, há de se aferir e agradecer pelo
quanto ele produziu, pelo quanto ele doou às gerações que o acompanharam e não menos às
porvindouras, através de sua rica bibliografia historiográfica e da sua palavra fácil e norteadora dos
rumos de quem busca na História o conhecimento da civilização universal.
Senhoras e Senhores, dos mais de quarenta anos que convivi com o inigualável historiador,
guardo prazerosas e imorredouras recordações, tão fortes que o tempo não conseguiu esmaecer; em
particular, de quando dos nossos encontros na Academia Maranhense de Letras, as minhas
manifestações afetivas não foram menores. E tenho certeza de que ele, ao ver-me como filho, levou
consigo esse sentimento paternal que a mim dedicou, e por mim sempre correspondido. Tanto que,
em um dos momentos importantes da minha vida, lá estava ele, com sua presença, com sua
respeitabilidade inquestionável, somente com os olhos e com o sorriso discreto, a segurar-me pelas
mãos, a proteger-me. E eu, em circunstâncias irreversíveis que o destino lhe impôs, fui o primeiro a
ser chamado por ele, a lhe oferecer a calma indispensável, a paz necessária e o meu afeto. Cada um a
seu modo, ele com a discrição própria de sua personalidade e eu com a minha timidez a esconder as
mais puras expressões de minha alma, sem deixar que elas viessem ostensivamente à tona.
A chegada de Mário Meireles à Casa de Antônio Lobo se deu em circunstância inimaginável,
sob a empolgação do Professor Mata Roma, que, vendo-o poeta, o convidou para ocupar a Cadeira
patroneada por Gonçalves Dias, naquela instituição, então vaga com a morte de Catulo da Paixão
Cearense. E logo o acadêmico Aquiles Lisboa, com sua palavra de saudação, recebendo-o, em nome
dos demais confrades, com as palmas, os vivas e a esperança de que ele se fazia portador.
Reproduzo, senhores membros desta Academia, uma pequena parte do discurso pronunciado pela
vossa confreira Ana Luiza Almeida Ferro, ao tomar posse nesta Academia, como primeira ocupante
da Cadeira nr. 31, patroneada por Mário Meireles, contendo trechos da brilhante oração de Aquiles
Lisboa: “Vós, Senhor Mário Martins Meireles, sois um desses enviados da Fortuna, que novos fados
nos abrem beneficamente para a vida da Academia Maranhense de Letras”... E, logo adiante,
prossegue o orador: “Trazeis força que a mocidade ainda não consumiu e reserva para o futuro,
cultura já aprimorada como um tesouro que há de crescer, e, sobretudo fé e esperança vivas nos
louros que vos virão aumentar ainda mais a bela coroa com que entrais”.
As palavras de Aquiles Lisboa foram proféticas, a predestinação atribuída ao recipiendário se
confirmaria a partir daquele momento e no tempo adiante, pois aquela solenidade se dava na noite de
3 de março de 1948, iniciando, em razão da efeméride ocorrida, uma nova e promissora fase da vida
da Academia Maranhense de Letras, dirigida que se achava pelo intelectual e homem de finanças,
Clodoaldo Cardoso, para quem a administração pública ou privada era de fácil execução. E logo
esse notável presidente delegou ao novo acadêmico a difícil missão de produzir um estudo sobre a
vida da instituição, a partir de quando fundada, a 10 de agosto de 1908, com o objetivo de
reconstituir a sua história, então perdida nas intempéries que a esconderam ou a fizeram em parte
desaparecer.
Não tardou muito, senhoras e senhores, para que o acadêmico Mário Martins Meireles,
funcionário público federal de carreira, então exercendo a função de Delegado do Imposto de Renda,
homem afeito à organização, apresentasse, em sessão da Academia, realizada a 24 de julho de 1948,
portanto quatro meses após ser investido na titularidade da Cadeira para a qual fora escolhido, um
substancioso Relatório, que finaliza apontando o número de Cadeiras da instituição, com seus
respectivos patronos, fundadores, sócios correspondentes e ocupantes passados e atuais, todos
nominados, bem como as que estavam vagas e as que se achavam preenchidas, além de outras
relevantes informações. A vida da Academia, a partir de sua fundação, estava ali ressuscitada, as
partes obscuras recompostas e, assim, toda a sua história restabelecida, com a explicação para seus
confrades, daquilo que lhes era desconhecido. E é exatamente ao exame atento do conteúdo desse
Relatório, do seu modus faciendi, que vamos encontrar revelado o historiador que anos depois
receberia, como de fato recebeu, a consagração unânime dos homens de cultura do Maranhão e do
Brasil, além de países das Américas e da Europa. No preâmbulo do Relatório dá a conhecer qual o
material usado para extrair as informações que considerou indispensáveis para a elaboração e
conclusão precisa do que buscava. Eo faz de modo detalhado, ao confessar que o seu trabalho é
resultado de leituras e estudos procedidos nos livros de atas existentes na Biblioteca de Ribeiro do
Amaral, nos quatro volumes da Revista da própria Academia, nos exemplares dos estatutos de 1908,
1916, 1934, 1940, 1942 e 1946, no Relatório do presidente Vieira da Silva, referente ao ano de 1936,
nos registros que a respeito deixaram Antônio Lobo e Fran Paxeco, na conferência de Assis Garrido
proferida em 1946 e nas coleções antigas de jornais da terra, que consultou nas bibliotecas visitadas.
Finalmente, em ordem seqüenciada, para melhor compreensão dos seus confrades, divide seu
trabalho em sessenta itens explicativos e, logo a seguir, apresenta a devida conclusão. Sem dúvida,
era o historiador preocupado com as fontes que alicerçavam seu Relatório, e o professor cuidadoso,
na informação didática do que estava apresentando, para boa percepção dos seus pares.
Outro episódio que marcou sua passagem pela Academia, onde exercera os cargos de
secretário, vice-presidente e presidente, se deu quando da fundação da antiga Faculdade de Filosofia
de São Luís, berço da Universidade Federal do Maranhão, que funcionou neste prédio, onde passei
cinco anos, e muito aprendi e conheci pessoas notáveis que se perpetuaram na imorredoura saudade
que conservo em minha alma. E para não alongar minha fala e abusar da paciência de todos vós,
devo asseverar que, não fossem o idealismo e a agilidade da decisão do acadêmico Mário Martins
Meireles, por certo o crescimento e a organização do ensino superior no Maranhão dificilmente se
dariam no mesmo ritmo de tempo em que vieram se consolidar. É que, decidido pelo Ministério da
Educação, em face do voto do Professor Lourenço Filho, que a Faculdade de Filosofia não seria
reconhecida por falta de uma biblioteca, não teve dúvidas o nosso hoje homenageado, em fazer
transportar para as dependências daquela Faculdade, a biblioteca de propriedade do Grêmio Lítero
Recreativo Português, que pertencera ao Gabinete Português de Leitura, que, por fim, fora doada
pela agremiação lusitana à Academia Maranhense de Letras. Estava assim, satisfeita a exigência
ministerial e logo comunicado o fato às autoridades competentes, que viram e confirmaram àquele
Órgão Superior o cumprimento da diligência determinada. E assim nasceu a Faculdade de Filosofia
de São Luís, com a participação decisiva da Academia, notadamente dos confrades Clodoaldo
Cardoso e Mário Meireles, havendo sido este último indicado pelos seus pares da Casa de Antônio
Lobo, para reger a Cadeira de História da América, como já vos disse.
O vaticínio de Aquiles Lisboa se revelava cada vez mais, com Mário Meireles a participar
ativamente da vida acadêmica, ao escrever sobre literatura e história, porém mais evoluindo nas
lições de Heródoto, assim procedendo por gosto pessoal e pela exigência sua responsabilidade, como
membro do corpo docente daquela instituição de ensino superior e não menos como membro da
Academia Maranhense de Letras. A publicação, que se dará em breve, de um livro contendo variadas
produções, todas de sua autoria, mostra muito bem o quanto era ele acercado de solicitações e, o que
é mais importante, deixa clara e insofismável sua intimidade com os acontecimentos históricos e com
autores nacionais e estrangeiros especializados. Devo dizer, senhoras e senhores, que nesse livro,
denominado Mário Meireles com a palavra, ora a caminho do prelo, que tive a honra de organizar,
também em companhia de Ana Caroline Castro Licar, graduada em História e mestre em Educação,
em quatrocentas páginas se acham transcritos discursos e palestras proferidos por ele, identificados
após dificílima triagem, pois muitas outras peças deixaram de ser incluídas porque iriam extrapolar a
disponibilidade de páginas preestabelecidas. Nele se acham presentes, vivos, o homem dotado de
modéstia a toda prova, o professor didático e competente, e o historiador cuidadoso com as pesquisas
que realizou e comprometido com a verdade.
Senhor Presidente, estimados confrades e confreiras, meus senhores e minhas senhoras, peço
desculpas por ter avançado no tempo, mas vós compreendeis o quanto é difícil falar, de modo
resumido, ainda que apenas sobre duas facetas do inesquecível Mário Martins Meireles. Aqui
cheguei com a frieza de um palestrante experimentado, certo de que, no curso de minha oração
poderia suprimir algum trecho, para vencer o tempo. Mas, vós o sabeis, na verdade não o consegui,
pois saio daqui tomado de emoção, revendo-me neste Palácio, onde fiz meu curso de Geografia e
História, findo a precisos cinqüenta e três anos, e assistindo as aulas inigualáveis do Professor Mário
Meireles, a quem continuo a render a minha amizade e o meu afeto, extensivos como sempre o
foram, às minhas amigas fraternas, suas filhas, professoras aposentadas da Universidade Federal do
Maranhão, Ana Maria e Ana Otília. E agradeço e louvo a Academia Ludovicense de Letras, por ter
escolhido para homenagear, pela passagem do seu aniversário de fundação, o historiador inigualável
que foi Mário Martins Meireles, no ano do seu centenário de nascimento.
Muito obrigado.
MÁRIO MARTINS MEIRELES
MARIA ESTERLINA MELO PEREIRA
Ingressou na carreira do magistério nos ano de 1940 e foi um dos
fundadores da Faculdade de Filosofia de São Luís (MA) na qual
trabalhou como professor universitário do Curso de História da
Universidade Federal do Maranhão – UFMA.
Influenciado pelo professor catedrático de História, Jerônimo Viveiros, o prof. Mário Meireles,
estudou no Liceu Maranhense e na época do ginásio era um dos melhores alunos de História.
Além de pesquisador e magistrado, foi escritor e publicou 34 livros. O mais recente é a “A
Partição do Mar Oceano”, escrito para comemorar os 500 anos do Brasil.
Foi homenageado com várias honrarias, dentre as quais a “Medalha do Mérito Timbira”,
“Medalha Sousândrade do Mérito Universitário”, “Ordem do Rio Branco”, “Ordem dos Timbiras”,
e outras mais.
Dedicou 85 anos de sua vida ao magistério e ao estudo da história das civilizações humanas.
Sua competência, intelectualidade e compromisso com a educação maranhense levaram seu
nome ao cargo de Vice-Reitor Administrativo da Fundação Universidade Federal do Maranhão, à
escolas públicas e à uma vaga na Academia Maranhense de Letras.
Homenageia-se o CENTENÁRIO DO SAUDOSO MESTRE, MÁRIO MARTINS
MEIRELES. Ilustre figura maranhense, que se destacou, pelas positivas atividades que desenvolveu,
principalmente no setor cultural. Aqui estou atendendo um convite da conceituada ACADEMIA
LUDOVICENSE DE LETRAS, que em boa hora, integra-se a esta homenagem. Parabenizo o Sr.
Presidente ROQUE PIRES MACATRÃO e os demais membros que compõem a referida
ACADEMIA, pela nobre iniciativa.
Fui solicitada para destacar a atuação do referido homenageado, como professor da
Universidade Federal do Maranhão. No seu extenso currículo, há registros de que antes da sua
atividade docente, ele exerceu outros cargos, até fora do Maranhão. Porém, fatores específicos o
encaminharam para o MAGISTÉRIO. Assim, as primeiras sementes do exercício do professor
MARIO MEIRELES no Magistério Superior foram lançadas em 1953, com a criação da
FACULDADE DE FILOSOFIA DO MARANHÃO a FAFI, como ficou mais conhecida. Foi ele, um
dos fundadores desta Faculdade e professor catedrático de HISTÓRIA DA AMÉRICA, no Curso de
História e Geografia. Anos depois, a FAFI incorporou-se à UNIVERSIDADE FEDERAL DO
MARANHÃO.
Se antes do exercício do Magistério, ele exerceu cargos importantes, o mesmo aconteceu, ao se
tornar na UFMA, professor titular. Dentre outros, foi chefe do Departamento de História, Criador e
Diretor do Núcleo de Documentação Histórica e Geográfica, Presidente do Conselho Editorial,
membro do Conselho Universitário, chefe do gabinete da reitoria e vice reitor Administrativo.
Quando enfrentei o Vestibular na UFMA para ingressar no curso de História e Geografia,
divulgava-se a existência do professor mais enérgico da BANCA EXAMINADORA: MÁRIO
MEIRELES. Fui aprovada e no decorrer do curso, enfrentei bastante nervosa, o professor Mário
Meireles, na disciplina HISTÓRIA DA AMÉRICA. A seriedade deste professor ao transmitir a
matéria me causava um nervoso... Uma dificuldade de entender os assuntos de história da América...
Mas, no decorrer das aulas, verifiquei que estávamos diante de um professor, que demonstrava
segurança ao expor suas idéias. Era determinado. Eu encontrava às vezes, dificuldade em entender os
assuntos da disciplina que ele transmitia, mas acreditava no valor de suas informações. O certo é que
depois de algum tempo, a relação entre aluno e professor passou a melhorar: Assimilamos a
metodologia. Várias vezes chegamos a estudar na residência do professor Mário, com suas filhas
ANA OTÍLIA E ANA MARIA aqui presentes que também eram alunas da mesma turma. Nossos
estudos eram motivados, com a presença da senhora MARIA JOSÉ RAMOS MARTINS, a
conhecida ZEZÉ, grande esposa do professor Mario. Ela, de vez em quando, nos ofertava com
saborosos e inesquecíveis lanches.
Enfim, nesse vai e vem como aluna da UFMA, amadureci e compreendi a grandeza do
professor, que ora nos referimos.
Por outro lado, uma vez formada e como professora, também tive a oportunidade de conviver
na UFMA, com o emérito mestre Mário Meireles e com suas filhas, professoras, ANA MARIA E
ANA OTÍLIA (a MIMI).
Os laços de amizade voltaram a acontecer, promovendo-se encontros, para comemorar
aniversários ou atualizar os bons acontecimentos. E dentre estes ENCONTROS, lembro momentos
em que o professor Mario Meireles, passou conosco ou seja, com a COMISSÃO que estruturou O
MEMORIAL CRISTO REI, neste prédio.
Nestas fotos, observa-se em uma delas o mestre homenageado, com um dos seus livros: SÃO
LUÍS: CIDADE DOS AZULEJOS. Mais de 30 livros ele escreveu. Podemos identificá-lo como o
HOMEM DOS LIVROS. A grande herança deixada pelo mesmo, na UFMA. A pesquisa foi sua
grande paixão.
Termino dizendo que: na vida, você adota uma perspectiva que o derrota ou o fortalece. A
perspectiva adotada pelo saudoso professor, só o fortaleceu, o tornou imortal. De parabéns a sua
família aqui representada por suas filhas, professoras ANA MARIA E ANA OTÍLIA.
Obrigada pela atenção.
• Foi um dos fundadores da Faculdade de Filosofia de São Luís(MA).
(1915-2003)
Homem dos livros
Professor emérito
“O jeito de ensinar pode até mudar com o tempo.
O que não muda é a importância do trabalho.”
DISCURSO DE HOMENAGEM AO HISTORIADOR MÁRIO MARTINS
MEIRELES, PATRONO DA CADEIRA Nº 31 DA ACADEMIA
LUDOVICENSE DE LETRAS (ALL), POR OCASIÃO DA CELEBRAÇÃO DO
CENTENÁRIO DE SEU NASCIMENTO E DO SEGUNDO ANIVERSÁRIO DA
ENTIDADE2
ANA LUIZA ALMEIDA FERRO Membro fundador e ocupante da Cadeira nº 31 da ALL
A Cadeira nº 9 da Academia Maranhense de Letras (AML) guarda a mística do sabiá. Seu
patrono é Gonçalves Dias, que costuma, orgulhoso de seus sucessores, segredar aos seus ocupantes:
“Minha terra tem palmeiras,/Onde canta o Sabiá;/As aves, que aqui gorgeiam,/Não gorgeiam como
lá.”3 Foi assim com Catulo da Paixão Cearense. Foi assim com Mário Martins Meireles.
Mas, em 10 de maio de 2003, o sabiá se calou. Nesta data deixou a estrada da vida para tomar
o rumo da eternidade o Professor Mário Meireles. Não a eternidade dos homens, porque esta lhe
pertencia de há muito. Sua figura proba e elegante vive indelével na lembrança de sua família, filhas,
netos, bisnetos e parentes de diversos graus que lhe tributam a saudade devida a um ente amado e
respeitado; daqueles que com ele labutaram nas árduas, mas recompensadoras trincheiras do
magistério; dos membros da Academia Maranhense de Letras, que nele viam um símbolo das mais
elevadas virtudes do intelectual maranhense; dos que com ele se ocuparam dos ofícios públicos; dos
que algum dia ou por muito tempo tiveram o privilégio de privar de sua companhia sempre gentil,
sagaz e inteligente; de seus ex-alunos e admiradores, imensa legião hoje órfã; enfim, dos seus
incontáveis leitores, que com ele reviveram, revivem e ainda reviverão, a cada página lida e relida de
seus mais de 30 livros, um pouco da História do Maranhão, da História de São Luís, um pouco da
história de todos nós.
O sabiá se calou.
Foi um segundo pai para o meu pai, o Professor Wilson Pires Ferro. E avô de todos nós – que
me perdoem a licença que tomo, a sua saudosa esposa, Dona Zezé, as suas filhas, igualmente
professoras universitárias, hodiernamente aposentadas, Ana Maria e Mimi, e os seus netos Mário e
Jorge Antônio, respectivamente pais de Mariana e de Joana e Jorge Wagner – porquanto não é
função de um avô contar – e tão bem no seu caso – histórias da nossa História, manter incólume a
memória dos fatos pretéritos e vivas as tradições? No seio da Academia Maranhense de Letras, sua
figura algo paternal se agigantava na posição de decano, aquele a quem cabia a honra de apor o colar
acadêmico no novo membro.
O sabiá se calou.
E o historiador que se fez avô e o avô que já era historiador tinha muitas histórias para contar.
Por sua pena, vários protagonistas e coadjuvantes da pequena e grande História do Maranhão
deixaram as brumas do passado para ganhar vida, uma vez mais, em suas páginas. Por elas,
desfilaram conquistadores e nativos, senhores e escravos, brancos, amarelos, negros e mestiços; os
franceses da França Equinocial; os portugueses e os holandeses; João de Barros, Primeiro Donatário
2 Proferido no Palácio Cristo Rei, Praça Gonçalves Dias, em São Luís-MA, na data de 08.08.2015. 3 DIAS, A. Gonçalves. Poesias americanas e “Os Timbiras”. Rio: Zelio Valverde, 1939. p. 13. São versos extraídos do poema “Canção do Exílio”.
do Maranhão; Melo e Póvoas, Governador e Capitão-General do Maranhão; Dom Diogo de Sousa,
Governador e Capitão-General do Maranhão e Piauí; entre muitos outros. Por causa delas,
contemplamos um acurado panorama da literatura maranhense, celebramos o imortal Marabá,
brindamos ao amor de Gonçalves Dias e Ana Amélia, devotamo-nos à glorificação de Gonçalves
Dias, nosso poeta maior, rendemos nossas homenagens a outro imortal, Catulo, seresteiro e poeta, e
garimpamos antológicas preciosidades da Academia Maranhense de Letras. Por meio delas,
festejamos o 5º Centenário do Infante D. Henrique no Maranhão, fizemos valiosos apontamentos
para a História da Medicina e da Farmácia no estado, testemunhamos a independência do Maranhão
e o Maranhão e a República, abastecemo-nos no comércio do Maranhão e aprendemos sobre os
símbolos estaduais, sem olvidarmos os nacionais. Aliás, elas nos permitiram alçar voo para além do
horizonte timbira, a fim de que vislumbrássemos Santos Dumont e a conquista dos céus,
conversássemos com José do Patrocínio na terra e vivenciássemos a partição do mar-oceano. Foram
elas ainda que nos reconduziram ao Maranhão, oferecendo-nos um guia turístico de São Luís, Cidade
dos Azulejos, com seus segredos, mistérios e encantos, seu brasão d’armas e sua Arquidiocese, e
uma visão de Rosário do Itapecuru-Grande. E assim, em meio aos discursos da Academia, o
Professor Mário Meireles realizou seus muito mais de dez estudos históricos, seus doze trabalhos
hercúleos, que não foram doze e não foram poucos, foram muitos e bastantes. Veritas liberabit nos!
O sabiá se calou.
Mário Meireles de há muito deixou de ser apenas um homem. Ele hoje é também uma marca.
Escrever como Mário Meireles é cultivar com desvelo a última flor do Lácio nos férteis campos da
História, é aliar a elegância de estilo à profundidade e rigor da pesquisa histórica. Tão intimamente
associado está seu nome à historiografia maranhense que é impossível separar aquele desta, sem que
se lhe abra um enorme rombo no casco. Por estas plagas, ele se transformou, com justiça, em
sinônimo de historiador e sua obra, em sinônimo de História do Maranhão, não apenas pela
qualidade desta, mas igualmente pelo seu caráter enciclopédico. Se, como diz Schopenhauer, apenas
“através da História adquire um povo plena consciência de seu próprio ser”, ninguém mais do que
Mário Meireles contribuiu para que tal desiderato fosse alcançado ou possa vir a ser alcançado pelos
maranhenses. Nas orelhas da terceira edição da História do Maranhão, o poeta Nauro Machado tece
inspiradas considerações sobre o seu autor:
Desses espíritos privilegiados, desses reconstrutores de épocas sepultadas, é o professor Mário
Meireles o de mais clara visão analítica e inteligência abrangedora, pelo método conceptual de
estudo e pela isenção parcimoniosa dos fatos [...], na opulência de um passado rico e poético. É
ele, como historiador, o que melhor se arma para a aventura daquilo que vive, como para
Teilhard de Chardin, em função duma ciência reveladora do futuro.
Autor de inúmeros títulos indispensáveis para o percurso retrospectivo do nosso destino como
povo, Mário Meireles é bem o símbolo hierático do pesquisador apaixonado pela sua busca, na
simbiose de um acasalamento raro e feliz, em que o amador, como no soneto camoniano,
transforma-se na coisa amada.
Nos parâmetros da confluência normativa a que se propôs, o professor Mário Meireles se isenta,
mente apolínea e clara que é, das interpretações atinentes à sociologia e à política, atendo-se
apenas à topicidade dos tipos reconstituídos pela clareza solar de uma insubstituível e
improcrastinável historicidade.4
E qual a trajetória de vida desse espírito privilegiado? Era filho de São Luís, Maranhão, onde
nasceu a 8 de março de 1915, sob os cuidados amorosos de seus pais Vertiniano Parga Leite Meireles
4 Ver as orelhas, de autoria de Nauro Machado, do livro de MEIRELES, Mário Martins. História do Maranhão. 3. ed. São Paulo: Siciliano, 2001.
e Maria Martins Meireles (antes Maria Ermelinda de Sousa Martins). Principiou seus estudos
primários em Santos-SP, no ano de 1920, dando-lhes continuidade, sequencialmente, em Manaus-
AM, no Rio de Janeiro-RJ e em São Luís, onde os terminou na Escola Modelo Benedito Leite em
1926. Cursou o secundário na capital maranhense, concluído no Instituto Viveiros em 1931. Em
seguida, encetou o curso jurídico na Faculdade de Direito do Maranhão, abandonando-o, contudo, na
da Bahia em 1934. No ano de 1966 participou do Ciclo de Estudos da Associação dos Diplomados
da Escola Superior de Guerra em São Luís.
Trabalhou no Ministério da Fazenda no período de 1933 a 1965, onde era funcionário lotado na
Divisão do Imposto de Renda, com passagens pelos estados da Bahia, Maranhão e Minas Gerais e
pelo antigo Distrito Federal. Após aposentar-se no cargo de Agente Fiscal de Tributos Federais em
1965, foi Diretor-Secretário da Indústria e Comércio Primor e do hodiernamente extinto Banco do
Maranhão (1965-1967), Secretário-Chefe do Gabinete e da Casa Civil do Governo do Estado do
Maranhão, durante a administração de Pedro Neiva de Santana (1972-1975), e Representante do
Governo do Estado no Conselho Federativo das Escolas Superiores do Maranhão (1974-1975).
Lançou-se no magistério particular já em 1931 e, oito anos depois, foi contratado como
Professor de História Universal e do Brasil no curso ginasial do Colégio Cysne, de São Luís. No ano
de 1953, ingressou no magistério superior, na qualidade de catedrático-fundador da cadeira de
História da América, no Curso de Geografia e História da Faculdade de Filosofia (FAFI) da
Universidade (católica) do Maranhão, a qual seria mais tarde incorporada como Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras à Fundação Universidade do Maranhão, nascida em 1966, na atualidade
Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Foi Professor Titular, posteriormente aposentado, do
Departamento de História dessa tradicional instituição de ensino superior, em que exerceu vários
misteres e deixou marcas indeléveis como Chefe do Departamento de História, criador e
Coordenador do Núcleo de Documentação e Pesquisa Histórica e Geográfica, Presidente do
Conselho Editorial, Assessor da Secretaria dos Colegiados Superiores, Chefe de Gabinete da
Reitoria, Vice-Reitor Administrativo e membro do Conselho Universitário. O SENAC o elegeu
“Professor do Ano” em 1963.
Foi membro efetivo da Academia Maranhense de Letras; sócio efetivo e, depois, honorário do
Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; sócio honorário da Associação Comercial do
Maranhão; membro e presidente da Sociedade dos Amigos da Marinha, no Maranhão; sócio
honorário e, em sequência, correspondente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro; sócio
correspondente dos Institutos Históricos e Geográficos de Santos, da Paraíba e do Distrito Federal e
das Academias de Letras Paulista, Carioca, Santista, Paraense e do Triângulo Mineiro (Uberaba);
sócio fundador e membro do Conselho Diretor da Sociedade Brasileira de História da Medicina (São
Paulo); e sócio colaborador da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra, no
Maranhão.
Na Academia Maranhense de Letras, tomou posse na Cadeira nº 9, patroneada por Antônio
Gonçalves Dias e fundada por Inácio Xavier de Carvalho, em 3 de março de 1948, tendo como
antecessor Catulo da Paixão Cearense. Nessa Casa de Cultura, foi secretário, tesoureiro, vice-
presidente e presidente em sucessivos mandatos. No dia de sua posse, foi saudado por Achilles
Lisboa, para quem ele não era “um simples cultor propriamente das letras”, mas um verdadeiro
“filósofo idealista”. Suas palavras sobre o recipiendário, então um poeta promissor, mas sem
produção historiográfica publicada, ainda soam proféticas:
Trazeis fôrça, que a mocidade ainda não consumiu e reserva para o futuro, cultura já
aprimorada como um tesouro que ha-de crescer, e sobretudo fé e esperanças vivas nos louros
que vos virão aumentar ainda mais a bela corôa com que entrais.
[...]
As vossas poesias, de fino lavor e alta inspiração; os vossos discursos, em que a elegância da
forma cuidada aprimora a beleza da idéia desenvolvida; os vossos artigos de crítica penetrante e
sensata, toda a vossa atividade literária, enfim, diz-nos bem como a fortuna em que acertamos
com abrir-vos as portas desta Turris eburnea, em que se procura em grande altura refundir as
glórias do Maranhão.5
Já no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, ocupou a Cadeira nº 11, patroneada pelo
Brigadeiro Sebastião Gomes da Silva Belfort, sucedendo a Cândido Pereira de Sousa Bispo, falecido
em 1950.
Recebeu numerosas condecorações, entre as quais a Ordem Nacional do Mérito (Portugal), a
Ordem das Palmes Académiques (França), a Ordem de Rio Branco (Brasil), as medalhas
comemorativas Gonçalves Dias (do Ministério das Relações Exteriores), do Sesquicentenário da
Independência do Brasil (do Senado Federal e da Câmara dos Deputados), Santos Dumont (do
Ministério da Aeronáutica), do Mérito Timbira (Maranhão), do Tricentenário da Fundação de São
Luís, João Lisboa, de La Ravardière, Sousândrade do Mérito Universitário, Simão Estácio da Silveira
e do Mérito Judiciário (do Tribunal de Justiça do Maranhão).
Autor prolífico, de quase 40 livros, é indubitavelmente “a maior figura da historiografia
maranhense dos séculos XX e XXI”, na justa avaliação de Milson Coutinho.6 Esta é a sua extensa
bibliografia:
1) O imortal Marabá (São Luiz: Tip. M. Silva, 1948, 41 p.), discurso de posse na AML, com o poema
homônimo e a saudação do acadêmico Achilles Lisboa como prefácio;
2) Gonçalves Dias e Ana Amélia (São Luís: separata da Revista da AML, 1949; 2. ed., São Luís: Tip.
São José do Departamento Universitário Radio, Imprensa e Livro – DURIL, 1964, 87 p.);
3) José do Patrocínio (São Luís: Tipogravura São José, separata da Revista da AML, 1954, 18 p.),
conferência;
4) Panorama da literatura maranhense (São Luís: Imprensa Oficial, 1955, 255 p.);
5) Veritas liberabit nos (São Luís: Tip. M. Silva, 1957, 27 p.), em coautoria com José Maria Ramos
Martins;
6) Antologia da Academia Maranhense de Letras (Rio de Janeiro: AML, 1958, 263 p.), obra organizada
em parceria com Arnaldo de Jesus Ferreira e Domingos Vieira Filho;
7) Pequena história do Maranhão (Rio de Janeiro: SENAC, 1959, 75 p.; 6. ed., São Luís: SIOGE,
1969);
8) O 5º Centenário do Infante D. Henrique no Maranhão (São Luís: Vice-Consulado de Portugal, 1960,
8 p.), conferência;
9) História do Maranhão (Rio: DASP, 1960, 395 p.; 2. ed., São Luís: Fundação Cultural do Maranhão,
1980; 3. ed., São Paulo: Siciliano, 2001, 392 p.);
10) França Equinocial (São Luís: Tipografia São José, 1962, 144 p.; 2. ed., São Luís: SECMA; Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1982, 126 p.);
11) Guia turístico – São Luís do Maranhão (Rio: Bloch, 1962, 31 p.);
5 Ver o prefácio da obra de MEIRELES, Mário Martins. O imortal Marabá. São Luiz: Tip. M. Silva, 1948. p. 8, 11, reproduzindo o discurso de saudação de Achilles de Faria Lisboa, da Academia Maranhense de Letras, ao recipiendário Mário Martins Meireles. 6 Ver o prefácio de Milson Coutinho, intitulado “Mário Meireles e São Luís dos 400”, ao livro de MEIRELLES, Mário. História de São Luís. Organização de Carlos Gaspar e Caroline Castro Licar. São Luís: Faculdade Santa Fé, 2012. p. 9.
12) A glorificação de Gonçalves Dias (São Luís: Departamento de Cultura do Estado, 1962, 10 p.), em
coautoria com Ruben Almeida;
13) Catulo, seresteiro e poeta (São Luís: Tip. São José, 1963, 104 p.);
14) São Luís, Cidade dos Azulejos (Rio: Gráfica Tupy, 1964, 96 p.);
15) História da Independência no Maranhão (Rio de Janeiro: Artenova, 1972, 172 p.);
16) Símbolos nacionais do Brasil e estaduais do Maranhão (Rio: CEA, 1972, 191 p.);
17) Santos Dumont e a conquista dos céus (São Luís: SIOGE, 1973, 67 p.);
18) Melo e Póvoas – Governador e Capitão-General do Maranhão (São Luís: SIOGE, 1974, 109 p.);
19) Discursos na Academia (São Luís: SIOGE, 1976), em coautoria com Dagmar Destêrro;
20) História da Arquidiocese de São Luís do Maranhão (São Luís: Universidade do Maranhão/SIOGE,
1977, 387 p.);
21) Dom Diogo de Sousa, Governador e Capitão-General do Maranhão e Piauí (1778-1804) (São Luís:
Fundação Cultural do Maranhão, 1979, 75 p.);
22) O ensino superior no Maranhão: esboço histórico (São Luís: UFMA, 1981, 43 p.);
23) Apontamentos para a história da Farmácia no Maranhão (São Luís: UFMA/CAPES, 1982, 48 p.);
24) Os negros no Maranhão (São Luís: UFMA, 1983, 46 p.);
25) O brasão d’armas de São Luís do Maranhão (São Luís: Ed. Alcântara/Prefeitura de São Luís, 1983,
18 p.);
26) São Luís com S (São Luís: AML/UFMA, 1984, 36 p.), em coautoria com Manuel Lopes e José
Chagas, parecer de cunho histórico-filológico sobre a correta grafia da cidade;
27) O Maranhão e a República (São Luís: SIOGE, 1990, 36 p. il.);
28) Holandeses no Maranhão (1641-1644) (São Luís: PPPG/EDUFMA, 1991, 165 p.);
29) História do comércio do Maranhão, v. 4 (São Luís: Associação Comercial do Maranhão, 1992),
continuação da obra homônima de Jerônimo de Viveiros;
30) Apontamentos para a história da Medicina no Maranhão (São Luís: SIOGE, 1993, 92 p.);
31) Rosário do Itapecuru-Grande (São Luís: SIOGE, 1994, 108 p. il.);
32) Dez estudos históricos (São Luís: ALUMAR, 1994, 349 p. il.), livro organizado por Jomar Moraes;
33) Junta Comercial do Estado do Maranhão (São Luís: JUCEMA, 1995, 108 p. il.);
34) João de Barros, primeiro donatário do Maranhão (São Luís: ALUMAR, 1996, 100 p. il.);
35) O Brasil e a partição do mar-oceano (São Luís: Edições AML, 1999, 145 p. il.);
36) História de São Luís (São Luís: Faculdade Santa Fé, 2012, 266 p.), obra organizada por Carlos
Gaspar e Caroline Castro Licar, publicada postumamente.
Quando faleceu em São Luís em 2003, vítima de uma dengue, seu nome já ultrapassara as
fronteiras nacionais e se estabelecera nos domínios d’além-mar. Prova disso é a comum menção à
sua obra por autores não apenas de outros estados brasileiros, mas também de outros países, como
Portugal e França. Deixou trabalhos e poemas inéditos ou, pelo menos, jamais reunidos em formato
de livro, como um brilhante ensaio sobre o soneto e os sonetos petrarquianos “In memoriam” (1946),
“A esmola” e “Meu espelho”, os quais constarão de minha próxima publicação, já no prelo, em
tributo ao centenário do grande historiador.
Em Mário Meireles, História e poesia ocasionalmente se fundem, convivendo harmonicamente,
a primeira a fornecer a matéria-prima habilidosamente trabalhada pela segunda, o que resulta em
textos de inequívoca beleza literária, a ressaltar um conteúdo historiográfico fundado em pesquisa
sólida e exaustiva. É o caso, por exemplo, da parte final do derradeiro capítulo da icônica obra
França Equinocial (1982), em sua segunda edição:
Crescida e maior, porém, e muito embora orgulhosa sempre de sua naturalidade lusitana,
daquela estirpe de barões assinalados, pois que neta também de um Albuquerque terrível, zelosa
de sua educação coimbrã que lhe concedeu a graça de falar melhor e mais bonito a língua de
Camões além-mar, veio a saber, por fim, a verdade sobre sua história. E de então, mais
envaidecida mostrou-se entre suas irmãs porque ela não era só diferente; era filha de um [...]
[fidalgo] francês que sabe hoje, ao contrário do que lhe ensinaram, que não repudiara aquele
amor de que ela nascera, não olvidara a terra virgem em que fora concebida, antes, saudoso e
enamorado, tentara voltar a ela, mesmo a serviço dos que o tinham aprisionado por tê-la
conquistado.
[...]
E por isso, porque a História lhe ensinou depois a verdade, São Luís, no mais recôndito de seu
coração, tem um quê de filial carinho pelo infeliz fidalgo que a fez nascer, aquele Daniel de la
Touche cujo sonho de uma França Equinocial desfez-se no enredo das intrigas matrimoniais de
seu Rei com uma infanta espanhola. Por isso, chama-se a si própria, numa afetividade muito
íntima, de Cidade de La Ravardière; e guarda dele um retrato ideal, em bronze, ali mesmo onde
ele, há trezentos e cinqüenta anos, colocou-lhe o berço, dentro de uma moldura agreste de
palmeiras, guaiacos e murtas. E deu-lhe o nome a uma de suas modernas artérias e a outra,
avenidas ambas, disse-a dos franceses e ao Rei e Santo, seu patrono, entronizou-o em uma de
suas praças e pô-lo também à entrada do Museu em que conserva suas relíquias.
Ali o tem, o seu La Ravardière, no lugar mesmo do berço que ele lhe dera e cultua-lhe a
memória, dele, dos que com ele vieram e de seu Rei, com carinhoso desvelo..., embora a pátria
de seu progenitor nem se lembre de que neste pedaço do Novo-Mundo, que é o Brasil, exista uma
São Luís que é em verdade uma Saint-Louis, em homenagem a um seu rei – Luís XIII, de França
e Navarra, neto distante de São Luís, Luís IX [...].7
Historiador de vasta e inigualável obra, conferencista cujas conferências não raro se
transformavam em livros e poeta ainda a ser (re)descoberto, Mário Meireles era um professor nato,
admirado dentro e fora da sala de aula, que encantava os seus interlocutores pela afabilidade, pelo
bom humor e pela paixão pela História e que hipnotizava plateias de alunos ou estudiosos.
Testemunha a Professora Marize Helena de Campos, Mestre em História pela USP, em opúsculo
publicado pelo IHGM em homenagem a Mário Meireles (2003), sobre uma conversa que teve com o
professor e uma aula dada por este por ocasião da semana de recepção aos calouros do Curso de
História da UFMA:
[...] lá estava eu, frente a frente com aquele doce senhor sentado em sua poltrona, em uma sala
que nos detalhes revelava sua paixão pela História. Suas palavras, suas explicações, seu bom
humor, suas histórias me fizeram ‘viajar’ por um Maranhão que eu não tinha visto em livro
algum.
[...]
7 MEIRELES, Mário Martins. França Equinocial. 2. ed. São Luís: SECMA; Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1982. p. 123-124.
Naquela tarde de Abril o Curso de História novamente parou para ouvi-lo. Olhar as expressões
dos ouvintes era até engraçado, literalmente boquiabertos, como se não acreditassem na viagem
histórica que o Professor lhes proporcionava [...]8
Não menos encantador, estimado e dedicado era o Mário Meireles filho, irmão, esposo, pai,
avô e amigo. Aos 17 ou 18 anos, quando frequentava a casa do jovem José Maria Ramos Martins, já
“arrastava a asa” para a irmã deste, de nome Maria José, então estudante do Colégio Santa Teresa,
consoante o relato, em tom nostálgico, do autor de Um programa de Sociologia Jurídica, seu digno
sucessor na Cadeira nº 09 da AML.9 Mário Meireles desposaria Dona Zezé em 193710 e com ela
viveria um casamento reconhecidamente feliz, de muitos anos, apenas bruscamente interrompido
quando da morte desta há alguns anos. A Professora Maria Esterlina Mello Pereira, aposentada pela
UFMA, amiga da família, em artigo incluído no mesmo opúsculo antes mencionado, assinala que,
“por trás daquele intelectual de renome, se escondia um grande chefe de família, um homem pacato,
que, ao lado de sua amada e alegre esposa Maria José Martins Meireles, [...] a saudosa Zezé,
desempenhava muito bem tão nobre missão”11.
A grande estatura intelectual jamais lhe fez perder a simplicidade no trato com as pessoas. Não
por acaso, insurgiu-se contra o duplo “l” que seu último sobrenome originalmente carregava,
reduzindo-o a um simples e despojado “l”: Meireles. O teatrólogo e jornalista Américo Azevedo
Neto, da AML, ressalta, entre a admiração e o respeito, em artigo publicado em 5 de março de 1988
no jornal O Estado do Maranhão, essa virtude que lhe era tão característica: “Francamente – pensei –
um homem desses, com um volume de conhecimentos desse, não poderia, nunca, estar em mangas de
camisa. Essa é uma das culturas que, pela imponência, pela importância, pela majestade, solicita
sempre paletó.”
Calou-se o sabiá, mas o canto de paixão pelo Maranhão e por São Luís ecoará para sempre, em
meio aos bancos da Praça Gonçalves Dias, sobre os azulejos e as pedras de cantaria da Praia Grande,
pelas ruas e becos da cidade, junto aos seus monumentos, entre os leões que guardam o Palácio, aos
ouvidos das velhas estátuas que enfeitam as nossas praças, ao soprar da brisa do Atlântico, nas areias
das praias, no coração de todos nós. Mário Meireles era um apaixonado pela História, pelo
magistério, pela família, pelos amigos, pela vida, enfim. Como bem disse Hegel, nada de grande foi
realizado no mundo sem paixão, paixão esta indelevelmente incrustada na oração proferida pelo
historiador enquanto paraninfo dos licenciados em História e Geografia e representante dos
paraninfos dos cursos de Pedagogia, Filosofia e Línguas Neolatinas, contida na obra Veritas liberabit
nos (1957), da qual reproduzo o trecho final: “Ide, cavaleiros; marchai que não há tempo a perder.
Não esqueçais, porém, um só instante, no mais aceso fragor das batalhas que lutardes ou na glória
maior das vitórias que alcançardes, que uma tradição de cultura inscreve-se nas linhas heráldicas do
brazão de armas que se desenha no escudo de cada um de vós: – O Maranhão espera que cada um
cumpra o seu dever. Ide, cavaleiros da Atenas do Brasil.”12 Tornou-se patrono da Cadeira nº 31 da
Academia Ludovicense de Letras (ALL) em 2013, 10 anos depois de sua morte.
O sabiá ainda canta.
8 CAMPOS, Marize Helena de. Lições de História. In: SARAIVA, Cloves; COUTINHO, Joseth (Org.). Mário Martins Meireles. São Luís: Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, 2003. p. 32-33. 9 Ver MARTINS, José Maria Ramos. Discurso de posse na Cadeira n. 9 da Academia Maranhense de Letras. 18 jun. 2004. f. 14-15. Digitado. 10 O casamento de Mário Martins Meireles e Maria José Martins Meireles (“Dona Zezé”), antes Maria José Ramos Martins, ocorreu em 13 de outubro de 1937. 11 PEREIRA, Maria Esterlina Mello. Mário Meireles, um mestre inesquecível. In: SARAIVA; COUTINHO (Org.). Mário Martins Meireles, p. 45. 12 MARTINS, José Maria Ramos; MEIRELES, Mário Martins. Veritas liberabit nos. São Luís: Tip. M. Silva, 1957. p. 27.
Obrigada à Academia Ludovicense de Letras pelo convite, aos palestrantes que nos honram
nesta manhã com a sua palavra inspirada e a todos pela presença neste dia especial, em que
celebramos o aniversário da ALL e o centenário de Mário Martins Meireles, historiador e
conferencista renomado, acadêmico admirado, poeta a ser (re)descoberto, servidor público ilibado,
recipiendário de diversas láureas, nome de avenida aos pés da Lagoa da Jansen e de escola nesta ilha,
cultor dos idiomas francês, inglês e espanhol, e, antes e depois de tudo, professor nato.
E, como a vida é combate e só pode os bravos exaltar, resta sentarmos ao redor das obras,
literárias e de vida, do maior historiador maranhense, patrono da Cadeira nº 31 da ALL, a qual tenho
a honra de ocupar, e, sob o calor acolhedor da fogueira da imortalidade, imaginá-lo como o sábio
timbira a contar: “Meninos, eu vi!”
Hoje (22/09), no Auditório Central da Cidade Universitária "Dom Delgado" UFMA foi dada início à
Programação da Semana Mário Meireles, com a abertura da Exposição: "Mário Meireles" - Cem
anos e a Conferência da Profa Regina Helena Martins de Faria, intitulada "Mario Meireles, a AML e
a UFMA. A nossa Confreira Ceres Costa Fernandes foi a organizadora da Exposição e eu representei
nesse memorável evento, com muita honra, a nossa Academia.
NASCE GONÇALVES DIAS
O BERÇO DO CANTOR DAS PALMEIRAS E DO SABIÁ
Wybson Carvalho admirando o busto de Gonçalves Dias, no Morro da laranjeira, no povoado, Jatobá, onde nasceu o
poeta.
WYBSON CARVALHO
POETA E MEMBRO DA ACL.
Publicado em O IMPARCIAL, 10/08/2015
Nesta data, há quase dois séculos, precisamente, em 10 de agosto de 1823, no morro da
Laranjeira, num sítio denominado Boa Vista, localizado na mata do Jatobá, à distância de 14 léguas
da Vila de Caxias das Aldeias Altas, nascia o filho do comerciante português, João Manoel
Gonçalves Dias, e da cafuza brasileira, Vicência Mendes Ferreira: Antônio Gonçalves Dias, o
Imperador da Lira Americana e filho ilustre desta terra de palmeiras onde canta o Sabiá.
“É, pois, para todos os brasileiros, mas cabe mais, particularmente, aos filhos desta
terra pugnar pelas suas glórias. Caxias, que tão dignamente figura na República das
Letras, deve dar o exemplo de como se estimar os bons engenhos, de como zelar a fama
própria, de como se respeitam esses grandes vultos que são o Panteon da
Posteridade”...
Antônio Gonçalves Dias
O porquê:
A Vila de Caxias fora no século XVIII um vigoroso centro comercial, localizado entre as
margens do rio Itapecuru, num período em que a navegação era o mais importante meio de
circulação das riquezas e muito se beneficiou dessa circunstância.
Porto de entrada para o Alto Itapecuru e para a então região dos Pastos Bons, além de destino
ou passagem do intenso intercâmbio mercantil, a partir da Bahia até os sertões maranhenses, a Vila
de Caxias foi um florescente entreposto de compra e venda de gado e de produtos agrícolas,
principalmente arroz e algodão, de acentuada participação na economia do Estado na época.
A crescente prosperidade do lugar atraiu inúmeros comerciantes europeus para a Vila de
Caxias, dentre muitos: os portugueses e entre eles: João Manoel Gonçalves Dias, que figurava entre
os principais negociantes, em Caxias, daquela época, e, ainda, avultava influentes capitalistas. Era
solidamente estabelecido com uma casa de comércio na Rua do Cisco, junto à qual residia num
sobrado com Vicência Mendes Ferreira, uma cafuza a quem tomava por companheira num
concubinato.
Precisamente, na segunda metade do ano de 1823, a forte reação contra a independência teve,
na Vila de Caxias, ainda, um dos seus centros de maior ressonância. O cerco ao lugar e sua posterior
capitulação custaram muito sangue derramado e revelaram, tanto da parte das tropas sob o comando
do Major Fidié quanto entre os que lutavam pela causa nativista muita bravura e determinação.
É bastante compreensível que o português João Manoel Gonçalves Dias formasse, ao lado de
outros compatriotas, adeptos da continuidade do Brasil como colônia de sua pátria, Portugal. Por tal
motivo, logo que se tornou vitoriosa a causa nacionalista brasileira, sobre quantos, por ação ou
omissão, contribuíram para impedir ou retardar a adesão do Maranhão à Independência, a Junta de
Delegação Extraordinária do Ceará e Piauí, consumada a capitulação, lançou multas que variavam de
oito contos de réis a quatro mil réis. Alguns pagaram a quantia estipulada, houve que conseguisse
redução da pena, outros obtiveram a absolvição, ao passo que uns fugiram do ônus imposto,
expediente ao qual recorreu João Manoel Gonçalves Dias, multado em um conto de réis.
Deixando Caxias com Vicência, que se encontrava em adiantado estado de gestação, o
português João Manoel Gonçalves Dias refugiou-se num sítio que possuía no lugar boa Vista,
pertencente à data Jatobá, distante cerca de 14 léguas de onde partira.
Foi, então, no desconforto desse esconderijo que, a 10 de agosto de 1823, nasceu o menino
batizado Antônio Gonçalves Dias, e a quem o destino reservara a glória de primeiro grande poeta
brasileiro.
Casa, Rua do Cisco, em Caxias, na qual residiu o poeta Gonçalves Dias dos 2 aos 14 anos de idade.
Fonte de Pesquisa: Moraes, Jomar – AML. Gonçalves Dias, vida e obra.
NACIONALISMO GONÇALVINO
DINACY CORRÊA13
Um estudo sobre nacionalismo na poesia de Gonçalves Dias, partindo-se de uma sucinta abordagem biobibliográfica
do autor, seguindo-se um breve estudo crítico analítico dos elementos nacionalistas presentes no discurso poético
gonçalvino.
Palavras-chave: Nacionalismo; Romantismo; Indio; Identidade Cultural.
Study concerning the present nationalism in Gonçalves Dias poetry. A brief comment is made on the author: life and
work. The present nationalist elements are analyzed in the poetry gonçalvina.
Kay-words: Nacionalism; Indian; Romanticism; Cultural Identity.
Mavioso Sabiá: poeta das palmeiras, do Amor e do indígena brasileiro
É um dever para todos os brasileiros, mas cabe mais particularmente aos filhos da Província,
pugnar pelas suas glórias. O Maranhão, que tão dignamente figura na República das Letras,
deve dar o exemplo de como se estimar os bons engenhos, de como se zela a fama própria, de
como se respeitam esses grandes vultos que entram no Panteon da Posteridade. (Gonçalves
Dias[1])
De “aparência extremamente simpática e atraente, posto que baixo, não chegando a medir
mais que um metro e meio de altura […], mãos e pés pequenos, passos curtos e andar apressado […],
movimentos ágeis […] olhos pequenos e pardos, porém muito expressivos e fascinantes[2]”, pele
morena… Antônio Gonçalves Dias (10.08.1823/03.11.1864), poeta, advogado, etnógrafo, professor,
jornalista, teatrólogo… veio ao mundo no Sítio Boa Vista, povoado de Jatobá, próximo a Caxias-Ma.
Filho de pai português, Antônio Manuel Gonçalves Dias e mãe brasileira (mestiça, provavelmente
cafuza), Vicência Mendes Ferreira).“[…] um órfão afetivo, privado dos pais pelo nascimento
bastardo e a consequente discriminação preconceituosa a que se soma o preconceito racial: órfão de
amor, privado do casamento com Ana Amélia, o que o empurrou para a orfandade e o exílio da terra
que mais amou: o Maranhão”, como bem o diz Carneiro (2007, p.36). Não obstante, é o “poeta sobre
todos os poetas, por seu temperamento viril e (vasta) cultura humanística”, no dizer de Otto Maria
Carpeuax[3].
Desde a mais tenra infância, vive uma rotina de trabalhos e responsabilidades (começando pelo
empreendimento comercial do pai, em Caxias, onde atua como responsável pelo caixa e pela
escrituração do estabelecimento), mas alentada por muita amizade – dentre as suas virtudes, a mais
cultivada e aperfeiçoada. Nada se igualava a uma sincera e saudável amizade para o poeta que
“…doou-se inteiramente, aos poucos, mas satisfatórios, amigos de conversa e aconselhamentos
recíprocos. Na companhia deles, era sempre sorridente, espirituoso, tomava a frente nas
conversações e sempre a contar algum causo que despertava a alegria e satisfação espiritual em
todos os ouvintes. Externava admirável carinho às crianças. Ao vê-las, seu coração palpitava de
emoção e era como se visse o que afirmou no seu poema Te Deum […]: ‘Na inocência do infante
és Tu que falas‘. Em ouvindo-as falar, na espontaneidade das brincadeiras inocentes, ouvia a
voz de Deus, a voz da Infinita Sabedoria. A verdade, talvez, da filosofia das Filosofias”.
(SOARES, 2006, p. 25)
13 Dinacy Mendonça Corrêa. Professora Estadual (SEEDUC-Ensino Médio; UEMA-Cecen-Letras). Graduada em Letras-UFMA. Pós-graduada em nível de Especialização (Metologia do Ensino de Terceiro Grau-UEMA), Mestrado e Doutorado (Ciência da Literatura-UFRJ). Pesquisadora de Literatura e Cultura Maranhense, com alguns trabalhos premiados e publicados na área. Membro da Academia Arariense-Vitoriense de Letras.
Amizade, sobre cuja essência, discorre, filosoficamente, em missiva a outro grande amigo
(Teófilo Leal):
“A única paixão que caminha segura e firme em todos os tempos e circunstâncias por entre os
vaivéns e temporais da vida – é a Amizade. Nobre, pura, desinteressada, dedicada, sem nuvens
que a empanem, sem zelos que a enegreçam; sem vicissitudes e alternativas que a depreciem,
descorem ou matem, é entre todas, e só entre todas – a Amizade. É ilusão que se não desdoura, –
o sonho que se realiza no bem; é a realidade nas aspirações para o gozo, como Deus é a verdade
nas aspirações para o infinito. Só não é imutável porque reverdece, progride e se enraíza cada
vez mais com o tempo. O poder tem cortesãos, a riqueza parasitas, a gloria aduladores: não são
amigos” (apud MORAES, 1998, p. 161).
Versado em Latim, Francês e Filosofia, ainda adolescente, parte para a Europa, a dar
continuidade aos estudos. Instalado em Portugal, faz o curso de Direito, na Universidade de Coimbra
– onde e quando familiariza-se com as obras clássicas, ao mesmo tempo em que se inicia na arte de
poetar e ensaia os primeiros relacionamentos amorosos, retornando à terra natal em 1845. Em 1846,
dá a público os seus Primeiros Cantos, vindo a conhecer, à mesma época, Ana Amélia Ferreira do
Vale – jovem formosa, pertencente a uma tradicional família de origem portuguesa, musa inspiradora
do seu canto de Amor, por quem nutre um forte sentimento amoroso, mutuamente correspondido,
mas não realizado. Em 1847, integra o Instituo Histórico Geográfico Brasileiro. Em 1848, passa a
atuar como redator de debates do Senado e da Câmara. Nesse mesmo ano, publica os seus Segundos
Cantos e as Sextilhas de Frei Antão. Em 1849, é nomeado professor de Latim e de História da
Pátria, no Colégio Pedro II. Em 1851, faz pesquisas históricas para o Governo, na Província do
Norte, temporada em que publica os seus Últimos Cantos. Em 1852, contrai núpcias com Olímpia
Coriolana da Costa, com quem tem uma filha (Joana). Em 1853, é nomeado Oficial de Secretaria dos
Negócios Estrangeiros, quando, então, é transferido para a Europa, onde permanece até 1857. Nesse
mesmo ano, vêm a público os primeiros cantos d’ Os Timbiras.
Na opinião da crítica abalizada, dentre os seus escritos, os mais destacáveis, estão: Primeiros
Cantos (1847); Segundos Cantos e Sextilhas de Frei Antão (1848); Últimos Cantos (1851)
poesia; Os Timbiras (1857 – poema incompleto); Dicionário de Língua Tupy (1857); Patkull,
Beatriz Cenci, Leonor de Mendonça (1857), teatro.
Em missão científica (1858), vem a percorrer os Estados do Norte e Nordeste quando, então,
passa a estudar os indígenas brasileiros, em seus aspectos físico, moral e social. Em 1863, parte
novamente para a Europa em busca de tratamento de saúde. Nessa estada, em Portugal, chega a
produzir ainda alguns de seus belos poemas.
Já bastante doente, muito abatido, mesmo, quase moribundo, o poeta, que jamais cogitara da
possibilidade de morrer longe de sua pátria, convicto e verdadeiramente orgulhoso de ser
maranhense, em carta a Teófilo Leal (seu leal amigo), expressa esse ardente desejo: “Sofrer, sofrer,
antes no meio de gente que me entenda […] prefiro o meu túmulo cespidis nas margens do
Bacanga… […]”. (apud. MORAES, p. 166).
Em 09.09.1864, já está a bordo do Ville de Boulogne, que sairá do porto do Havre, com destino
a São Luís do Maranhão. Conforta-o a idéia de que morrerá entre os seus, no calor da terra
amada…Uma semana antes da chegada ao pátrio litoral, sente as forças se lhe esvaírem, dependendo,
pois, de outrem para erguer-se e sair do leito. E já não lhe é possível ingerir qualquer alimento,
limitando-se a água com açúcar. Por acenos, dá a entender a um marinheiro (ao qual se afeiçoara e
vice-versa), de que não chegaria a São Luís… E é Antonio Henrique Leal (1987, p. 83) quem dá
conta de que:
“Quando às seis horas da tarde do dia 02 de novembro avistaram as costas do Maranhão, pediu
que o levassem ao tombadilho e aí, enfiando por elas os ávidos olhos arrasados de lágrimas,
sentiu tão profundo abalo, que caiu em delíquio. Das três para as quatro horas da madrugada,
já do dia 3 de novembro, bateu o brique nos baixios chamados Coroa dos Ovos, ou dos Atins,
próximo à Vila de Guimarães, e em breve estava toda a embarcação inundada e a câmara
completamente tomada de água, perecendo nela Gonçalves Dias![…]”.
Reiterando, pois: a 03 de novembro de 1864, já em vias de pisar no solo idolatrado, vem a
falecer, vítima do naufrágio do Ville de Boulogne, no Baixio dos Atins (Tutoia – próximo aos
Lençóis Maranhenses), de onde contempla, pela última vez, o leque das palmeiras de sua terra, a
balançar ao vento… conforme rogara a Deus, na sua imortal e sempre atual Canção do Exílio: Não
permita Deus que eu morra/ Sem que eu volte para lá;/ […]/Sem qu’inda aviste as palmeiras/ Onde
canta o sabiá.
Do trágico, evento, a sentida impressão de Machado de Assis[4] (Diário do Comércio,
29.11.1864):
“…chegou a notícia da morte de Gonçalves Dias, o grande poeta dos Cantos e d’Os Timbiras. A
poesia nacional cobre-se, portanto, de luto. Era Gonçalves Dias o seu mais prezado filho, aquele
que de mais louçanias a cobriu. Morreu no mar, túmulo imenso para o seu talento. Só me resta
espaço para aplaudir a idéia que se vai realizar na Capital do Maranhão: a ereção de um
monumento à memória do ilustre poeta. Não é um monumento para o Maranhão, é um
monumento para o Brasil”.
Seus últimos versos (encerrando a sua trajetória poética como a iniciou, rememorando e
exaltando a terra amada, os amigos…), integram o poema Minha Terra!, escrito em Paris, em 1864,
donde a estrofe: Depois de girar no mundo/ Como barco em crespo mar,/ Amiga pátria nos chama/
Lá no horizonte a brilhar”.
Pois do que por fora vi, querer minha terragente aprendi. (Minha terra. Paris, 1864)
O Nacionalismo e o estro poético gonçalvino
Gonçalves Dias se destaca no […] panorama da primeira fase romântica pelas
qualidades superiores de inspiração e consciência artística. Contribui, ao lado de José
de Alencar, para dar à literatura, no Brasil, uma categoria perdida desde os árcades
maiores e, ao modo de Cláudio Manuel, fornece aos sucessores o molde, o padrão a que
se referem como inspiração e exemplo. […]. Nele as novas gerações aprenderam o
Romantismo, sob este ponto de vista foi o acontecimento decisivo da poesia romântica e
todos os poetas seguintes, de Junqueira Freire a Castro Alves, pressupõem a sua obra. A
partir dos Primeiros Cantos, o que antes era tema – saudade, melancolia, natureza,
índio – se tornou experiência nova e fascinante, graças à superioridade da inspiração e
dos recursos formais” (Antonio Cândido)
No contexto da Literatura Brasileira, a Poesia, e em especial a poesia romântica, se faz
pródiga e reveladora do inegável talento artístico dos seus autores. No que toca ao nacionalismo, a
poética de Gonçalves Dias, pode-se dizer, é mensageira das virtudes pátrias, (e)levando o sentimento
de amor à terra natal, aos mais altos píncaros da glória – o que pode ser observado na Canção do
Exílio, um dos poemas mais belos e conhecidos, deste insigne maranhense.
Em verdade, dentre as composições desse magno representante da Literatura Maranhense e
Nacional, é opinião da crítica abalizada: a Canção do Exílio, na força dos seus recursos linguísticos
e estilísticos, é a que melhor representa o sentimento nacionalista do poeta, em termos de
saudosismo patriótico. Tem-se, no poema em referência, o mais expressivo do gênero, como num
auto-retrato (do poeta), capaz de simbolizar o seu próprio Estado. Nele, a paisagem como que eclode
e a partir de uma leitura reflexiva, centrada nos objetivos do autor. São incontáveis, frise-se, os
teóricos e críticos literários que se têm manifestado sobre essa Canção, evidenciando-lhe o perfil
nacionalista, a exemplo de Nicola (1988, p.63), que observa, nela, o poeta “nunca se refere ao
elemento humano, mas apenas aos elementos naturais, pois se citasse o homem brasileiro, teria que
se referir às crises vividas pela sociedade”. Brandão (1979, p. 33) é outra voz que se ergue, opinando
sobre o referido poema. Ei-lo, que diz:
“Não (é) apenas a mais difundida de suas composições, mas de todas as composições poéticas
de nosso país, podemos afirmar. Essa pequena obra-prima é mesmo o símbolo da nossa poesia,
seja pela sua popularidade, seja por sua beleza e força que residem na simplicidade, no lirismo,
no tom saudoso, na musicalidade, nessa espécie de magia que tem resistido às mais diversas
análises e explicações. É algo mais entranhado que a ausência de adjetivos, que o ritmo bem
marcado, que a simplicidade do vocabulário; é alguma coisa mais intrínseca a força que anima
esses versos. É, digamos, a própria alma poética de nossa gente que o cantor maranhense
conseguiu atingir”.
Manuel Bandeira (1959, p. 19), por sua vez, expressa:
“A Canção do Exílio é que foi o seu primeiro grande momento de inspiração, o passaporte da
sua imortalidade. Ainda que não tivesse escrito mais nada, ficaria, por ela, o seu nome para
sempre gravado na memória de sua gente. Haverá brasileiro que não a saiba de cor? Tão
grande foi a popularidade alcançada por esses versos, que os dois primeiros vieram a ser
aproveitados como tema de uma cantiga de roda alagoana. É uma poesia, cujo encanto verbal
desaparece quando traduzida para outra língua. Desaparece mesmo quando dita com a
pronúncia portuguesa. Poesia profundamente brasileira, não porque fale no sabiá, mas por
qualquer outra coisa de inefável no sentimento e na expressão”.
Acrescente-se, ainda, que o nacionalismo de que se reveste o poema, pode ser vislumbrado
sob dois aspectos: um, a retraçar uma característica romântica, quando “a Nação afigura-se, ao
patriota do século XIX, como uma ideia-força que tudo vivifica”… (BOSI, 1996, p.134); outro, a
configurar o saudosismo do poeta, distante da pátria: Não permita Deus que eu morra,/ Sem que eu
volte para lá; […]”
A terra do exílio (Coimbra-Portugal/Paris-França) poderia representar, segundo os ideais
românticos, qualquer outro rincão estrangeiro (já não mais sendo vista como um espaço mais
agradável ou mesmo mais ilustre que o Brasil) – uma Europa sombria, com suas chaminés
espargindo o fumo pelo ar, seus bosques congelados… enfim, um universo sem qualquer
similaridade à terra natal: pitoresca, serena, luminosa e bela – fonte de sua inspiração poética, a mais
importante, a mais excelsa de todas as nações.
Ressalte-se que, no Brasil, os autores românticos vêem-se empenhados em instaurar uma
linguagem típica, autenticamente nacional (liberando, pois, a língua corrente, no País, das normas
clássicas, cultuadas pelos autores portugueses, no propósito de edificar uma língua literária
verdadeiramente brasileira). E nesse mister, tem um destaque todo especial o nosso poeta Gonçalves
Dias – que, não só está interessado na questão em apreço, mas também em imprimir, na cultura
nacional, um caráter diferenciado.
A Canção do Exílio – que segundo o professor/escritor Alberico Carneiro Filho (2007, p. 18)
é, na verdade, “um poema satírico disfarçado de lírico […], um poema que lê, ironicamente, não a
natureza brasileira, mas e, principalmente, a cultura portuguesa comparada à brasileira” – como se
vê, já se faz elaborar, distante dos modelos clássicos (metrificação dos versos, visando ao ritmo). E
no que toca ao estilo, há de se perceber, constrói-se à base do substantivo, sem a presença visível e
maciça do adjetivo, mesmo em sua calorosa e primorosa mensagem de exaltação à Pátria… Note-se
mais, que a verve nacionalista do poeta se faz expressar num léxico especificamente selecionado,
apto a caracterizar e a exaltar o meio ambiente que retrata, bem como o idioma nativo, a exemplo de
palmeiras e sabiá (do léxico indígena) – lírica expressão da flora e fauna brasileiras em língua
nacional. A propósito, como o revelam Cereja & Magalhães (1995, p,102-03), o sabiá, personificado
pela letra inicial maiúscula, aparece quatro vezes no poema e, e ao ritmar com os monossílabos cá e
lá, cria uma sonoridade muito brasileira, nunca antes vista em nossa poesia colonial ou na poesia
portuguesa.
A reiteração sonora da palavra sabiá forma uma espécie de gorjeio no interior do próprio
poema: é o canto do pássaro se confundindo com o canto do homem. Assim como o canto do pássaro
é monótono e triste, igualmente o canto do homem é uma nostálgica canção de saudade da pátria.
Avançando mais, no trajeto da leitura, depara-se com um (nosso) céu mais estrelado (nossas),
várzeas mais floridas (nossos) bosques mais cheios de vida… Enfim, um amor transbordante, a
extravasar na última estrofe, num arroubo nacionalista a se consubstanciar num abraço aos valores
cristãos (não mais à mitologia pagã) e numa subjetividade lírica, prenhe de religiosidade, e
profundamente identificada à terra natal.
É de se observar que esse nacionalismo pátrio (supra referido) reflete-se em outras das suas (do
poeta) peças líricas, como por exemplo, Minha terra (já referida acima) escrito em Paris, no ano de
sua morte – quando e onde, num saudosismo reforçado pelo isolamento e pela realidade ambiental (o
clima, a paisagem européia/portuguesa que não mais o satisfazem), o autor rememora o ambiente
nacional, transportando-o à paisagem poética…
A ideia da Pátria, pode-se dizer, é sentimento vivo, no coração e na alma gonçalvina, sendo a
Canção do Exílio e Minha Terra (vale reiterar), um dos pontos altos, no saudosismo nacionalista de
que estamos tratando – ainda que, no tocante ao lírico-amoroso, não tenha logrado maior espaço de
expressão (dado à natureza do tema), não é de se olvidar uma certa reciprocidade entre o sentimento
amoroso e o patriótico, no nosso poeta, senão retomemos este trecho do poema supra referido…
Minha Terra
Assim eu te amo, assim,
mais do que podem
Dizer-to os lábios meus […]
[…]
Como se ama a luz querida,
Como se ama o silêncio, os sons, os céus,
Qual se amam cores e perfume e vida,
Os pais e a Pátria e a virtude e a Deus. (Dias, 1959, p.190)
Note-se, no espaço poético, o rebrilhar da Pátria nos signos denotativos de uma beleza e
essencialidade, a aflorar da alma do poeta, no que se pode cogitar um sentimento dos mais nobres,
puros, mesmo divino: o Amor – como a atestar que, na expressão gráfica do poeta, o verbo não
comparece por acaso… E é de se notar e constatar, no estro poético gonçalvino, a palavra a instaurar-
se no fator qualidade (em detrimento da quantidade), não obstante esta ou aquela repetição/reiteração
expressiva… predominando, sempre, os mais caros sentimentos pela terra natal, no (con)firmar de
um nacionalismo propriamente brasileiro – ainda que, em algumas de suas criações, patenteie-se um
certo, digamos, nacionalismo estrangeiro, como numa empatia, ao sentimento de outrem, no externar
de um espírito patriótico, não concernente a sua terra, mas solidário aos que experimentam,
vivamente, as saudades da Pátria de origem… É o que se pode depreender das Sextilhas de Frei
Antão (marcado pelo saudosismo português) e n’ A Escrava (por sua vez a decantar as saudades do
Congo).
Da primeira, pode parecer supérfluo, apontar o cunho histórico e o arcaísmo da linguagem –
como a concentrar toda a força expressiva da composição poética, no definir de uma temática que se
compraz na exaltação dos padrões medievais de bravura e devoção, representados na figura do Frei
Antão de Santa Maria, de Neiva (ao relembrar um bom tempo, tempo ainda de glória, quando o
Portugal do século XVIII ainda era um reino cristão. Veja-se o fragmento a seguir:
Bom tempo foy o d’outr’ora
Quando o reyno era christão;
Dava o rey huma batalha,
Deos lhe acudia do céo.
Chamava El-rey seos vassallos
Vinha o povo attencioso
Gente de mui gran valia
Os moços davão-se à guerra
As moças à devoção. (Sextilhas de Frei Antão. (Dias, 1959, p.95).
O pequeno trecho já evidencia, simultaneamente, o saudosismo e a exaltação de um bom tempo
em que as glórias do passado sobrelevam um território. Por outro lado, é de se observar, que o
resgate histórico (volta ao passado) é uma das características do Romantismo.
Em A Escrava, todavia, é que o nacionalismo parece configurar-se em moldes mais
característicos desse sentimento… à medida que a voz poética de uma escrava põe-se a recordar,
saudosamente, o berço de origem, no que de mais belo o representa, num telurismo idílico, doce e
tranquilo, em que a natureza se faz configurar num cenário romântico, empático ao sentimento da
escrava exilada (Alsgá):
Oh! Doce país do Congo,
Doces terras d’além-mar!
Oh! Dias de sol formoso!
Oh! Noites d’alma ao luar!
Desertos de branca areia
De vasta imensa extensão,
Onde livre corre a mente,
Livre bate o coração!
Do ríspido senhor a voz irada
Rápida soa
Sem o pranto enxugar a triste escravaPávido voa. (A Escrava. Dias, 1959, p.90).
Reflexos nacionalistas no Romantismo brasileiro
O Romantismo trouxe-nos a emancipação literária e isso estava na lógica, para dizer,
dos seus caracteres – o subjetivismo e o individualismo na arte. Tanto uma como outra
dessas ideias correlatas, que o princípio romântico envolvia, agiram despertando no
espírito nacional como que a necessidade de uma expressão literária às suas ideias
próprias, isso juntamente quando o nosso caráter, avigorado pelo desenrolo dos fatos de
que fora teatro a nação entre 1808 e 1822, triunfava na realização da autonomia
política. (Antônio Lopes)
Didaticamente falando, o estro poético gonçalvino pode categorizar-se em lírico (com traços
de subjetivismo e visível influência de sua experiência amorosa); medieval (representado nas
Sextilhas de Frei Antão, escritas em português arcaico); e nacionalista (a exaltar a Pátria distante,
idealizando a figura do índio…). É a divisão didática de Nicola (1999, p. 63). Pode-se inferir que a
chamada poesia saudosista marca-se pelo sentimento de exílio e por uma contundente saudade da
terra natal, a desaguar na exaltação à natureza brasileira.
A tal divisão acima referida, integram-se pelo menos três aspectos (comentados anteriormente)
referentes à obra do poeta caxiense, evidenciando:
– um lirismo que bem delineia a perspectiva gonçalvina do Homem, concebido como um ser
vivo, dotado de sentimentos e emoções – um ser pensante, que ri, chora, ama e sofre. Teriam
as suas paixões e frustrações amorosas (e aqui vale lembrar a musa Ana Amélia), repercutido
nesse seu expressar do saudosismo patriótico?…
– o medievalismo, denotando elevado conhecimento teórico e dedicação espontânea à arte
literária e que faz, do passado histórico, uma característica do Romantismo brasileiro, em sua
primeira fase indianista/nacionalista;
– o nacionalismo – a consolidar uma empática conexão entre o poeta e a estética literária em
que se comunica liricamente. Ressalte-se: é no contexto do nacional que se evidencia um
Gonçalves Dias saudosista, idealizador/revelador de um Brasil brasileiro, configurado numa
fauna e flora sui generis e na transparência do seu “bom selvagem”. E pode-se falar, mesmo,
de um nacionalismo romântico, que vem como definir (e caracterizar) um contato imediato
com os valores nativos, num idealismo que visa à busca de uma identidade peculiar à Pátria e
que se traduz na presença do índio, expressão maior do nacionalismo literário brasileiro. Vale
ponderar que, se à época, o Brasil dá os seus primeiros passos na formação de sua própria
cultura, daria, a partir daí, outros, à frente, mais largos e firmes, posto que autônomos. Se, por
um lado, não se pode contatar uma história/memória de um passado consubstanciado numa
perspectiva de emancipação cultural (um passado digamos civilizado, apto a prescrever uma
identidade nacional), por outro, o nacionalismo valeria como uma exaltação ao bom senso
dos nossos silvícolas. Para Abdala Júnior (1994, p.86),
“A preocupação de Gonçalves Dias com a memória não registrada pela História faz com que
trace na figura indígena o símbolo adequado para a pesquisa lírica e heróica do passado, de
modo que o índio gonçalvino ganha tom dos cavaleiros medievais, puros e valorosos, tão
presente no Romantismo inglês e português.Antenado às raízes nacionais, o “poeta dos índios”
faz-se caprichoso, primoroso, em suas composições Americanas, ao idealizar/construir um
personagem-índio sob os parâmetros defendidos por Rousseau. Oportunamente, vale lembrar: o
fenômeno do indianismo deita suas raízes na Europa, emergindo e propagando-se na esteira de
uma adesão político-filosófica, por parte dos intelectuais receptivos aos influxos da Revolução
Francesa e num tempo em que a descoberta do Novo Mundo, fruto da expansão marítima, põe o
Velho Mundo (a Europa) em contato com o indígena americano, em sua cultura e civilização
(totalmente diversa do modelo europeu), como numa confirmação (ou mesmo concretização) dos
postulados rousseaunianos do beau sauvage – o indígena, então, passando a ser admirado, em
sua simplicidade, seu sistema sociocultural… ideia que se difunde, atraindo inúmeros adeptos,
no Brasil, constituindo-se numa das bases de sustentação da literatura romântica, em sua
primeira fase (indianista/nacionalista), abrindo-se para um sentimento nacional em plena
formação e afirmação”.
Infere-se, pois, que, a fértil imaginação do nosso poeta caxiense transcende a realidade in
natura, transfigurando o índio em herói e este (herói) em mito – ótica através da qual se pode deduzir
que o elemento indígena não se irradia, da poética gonçalvina, sob um prisma translúcido ou opaco
(enfocando os atos de selvageria ou a discriminação de uma cultura tida como inferior), mas em
reflexos luminosos, projetores dos caracteres de uma raça primitiva, em seus atos de bravura, seus
costumes, habitat, índole, linguagem e crenças.
A propósito, vale ressaltar, a luminosidade, o calor, a insistência/persistência nos aspectos
luminosos e ígneos (pode-se constatar) é marca registrada na poesia desse vate maranhense, pelo que
bem mereceria o epíteto de “poeta da luz” – confirma-o Garcia (1998, p. 90), ao instar que “nenhum
outro poeta brasileiro é mais visualista do que o maranhense; a emoção poética quase só lhe vem
despertada pela sensação visual do mundo físico: luz, cor e forma”. E é de se convir, ainda com
Brandão (1976, p. 39): “… a sensação visual está essencialmente presa à luminosidade. Sem luz não
há visão e, de acordo com a força da luz, a visão será diversa. Os versos de Gonçalves Dias são,
prodigamente, iluminados. […]”. Luminosidade que se explica e justifica numa “natureza brilhante,
fosforescente, iluminadamente tropical” (id. ibid), como apenas o “subequatorial Maranhão”, onde a
juventude do poeta “aquecera-se e ofuscara-se, embriagada, naquele festim de luz” (Garcia op. cit. p.
79) – matéria-prima aurida “em suas formas e cores” e, meiga e docemente, transfigurada nos
sinestésicos acordes de sua lira e a traduzir-se, por exemplo, em um “macio e brando clarão”, ou
num “deleitoso fulgor”, sob um “belo manto de frouxo luar”…
Para Ramos (apud Moisés 1987, p.139-40),
Embora já houvesse prenúncios indianistas no Brasil, como os de Firmino Rodrigues da Silva e
Joaquim Norberto, os versos de Gonçalves Dias corresponderam aos desejos de afirmação
também na poesia. Ficou ele, então, como facho inovador.
De modo que, se por um lado, tem-se em José de Alencar, o maior representante da prosa
indianista brasileira, por outro, como o aponta Bosi (1996, p. 32):
“É preciso ver na poesia do Gonçalves Dias indianista o ponto exato em que o mito do bom
selvagem, constante desde os árcades, acabou por fazer-se verdade artística. O que será moda
mais tarde é nele matéria de poesia”.
A partir destas considerações, depreende-se a familiaridade do poeta com o povo indígena. É
de se convir que não é por acaso que, nos acordes da sua lira, a questão aqui abordada imponha-se
como um sopro inspirador de muitos dos seus destacáveis poemas. E é de se reconhecer que a poesia
e o romance indianista, como projeto de nacionalização das letras brasileiras, abrem passagem para o
estabelecimento dos ideais românticos no Brasil.
O nacionalismo indianista gonçalvino
O outro vetor que lhe orientava a fantasia continha uma adaptação aos tempos novos e uma
tomada de consciência do solo natal […] uma visão épica do mundo traduzida no indianismo
heróico (“O Canto do Piaga”) e num patriotismo e brasilidade que lhe está visceralmente
conectado (“Quero antes uns olhos bem pretos, luzentes”, etc.; quero antes um rosto de jambo
corado”, etc., de “Marabá”).Pelo primeiro aspecto, Gonçalves dias tornou-se mestre de muitos
poetas posteriores, graças à elaboração de muitas obras-primas de lirismo-amoroso, como
“Ainda uma vez – adeus !”; e pelo outro, atualizou a temática indígena, conferindo-lhe a
grandeza que desconhecia antes e que jamais atingiu depois, decerto porque lhe inoculou alta
dose de confissão. Acrescente-se, por fim, uma consciência artesanal, patente no acabamento da
forma e na diversidade dos recursos métricos, peculiar ao poeta superior. Por tudo isso,
continua a ser lido e apreciado. Merecidamente. (Massaud Moisés)
Como já o foi sugerido, o nacionalismo que se instaura na produção romântica brasileira
(sobretudo a da considerada primeira fase) é, marcadamente, indianista – traço característico, numa
poesia nacionalista de inspiração romântica.
Em Gonçalves Dias, o índio sobreleva-se nos aspectos mais inerentes aos usos e costumes da
raça (I-Juca Pirama, Canção do Tamoio, Canto do Piaga, Marabá…). O poeta como que se
empenha em enfocar o silvícola brasileiro, numa ênfase toda especial aos seus instrumentos, danças,
folguedos, costumes, crendices e força primitiva (é o que se pode depreender dos Primeiros Cantos,
em poemas como O Canto do Guerreiro, O Canto do Piaga, Deprecação).
Sem olvidar o fator originalidade, os poemas em referência como que apontam uma nobreza
muito peculiar à raça indígena, no que toca a sua pureza e dignidade moral, seu apego ao meio
ambiente nativo – adaptável, que sempre foi, ao chão da pátria, pisado e repisado… tudo isso
convergindo para a gestação de uma identidade nacional, a manifestar-se forte e saudável.
No Canto do Guerreiro, o olhar lírico direciona-se, exclusivamente, ao índio, perspectivando-
o como guerreiro, senhor de um total domínio sobre o meio ambiente em que está inserido, suas
tradições, sobretudo no que respeita à bravura, ao manejo das armas…
A onça raivosa os passos conhece
O inimigo estremece
E a ave medrosa se esconde no céu”. (Canto do Guerreiro. Dias, 1959, p.309)
A idealização do índio, tal como anteriormente pontuado, liga-se mais intimamente à
emergência de se criar uma figura-símbolo da Nação. Aborígenes, os silvícolas representariam, de
modo deveras expressivo, o nosso passado histórico, contribuindo, ao mesmo tempo, para o
engrandecimento e afirmação da cultura nacional – o que se evidencia n’O Canto do Piaga e em
Deprecação, que desenham, na paisagem poética, o perfil de um índio em conflito com seus
ancestrais, a sofrer, resignadamente, a punição divina, a defender sua honra de guerreiro orgulhoso.
Percebe-se, nos versos, a representação desse personagem tradicional:
Esse monstro… o que vem cá buscar?
Vem trazer-vos crueza, impiedade
Dons do cruel Anhangá;
Vem quebrar-vos a maça valente
Profanar Manitôs, maracás.
Vem trazer-vos algemas pesadas,
Com que a tribo tupi vai gemer,
Hão de os velhos servirem de escravos,
Mesmo o piaga inda escravo há de ser. (O Canto do Piaga. Dias, 1959, p.313)
Tupã, ó deus grande! Teu rosto
Descobre:
Bastante sofremos com a tua vingança!
Já lágrimas tristes choraram teus filhos,
Teus filhos que choram tão grande tardança! (Deprecação. Dias, 1959, p.314)
Pelo tom melancólico, a se desprender dos versos, estes podem (até) parecer fora do propósito
de exaltação nacional – mera aparência, considerando-se que, no Romantismo, o elemento indígena
será (defende-se), em qualquer circunstância, um retrato da Pátria e com foros de heroicidade —
conforme perceptível na Canção do Tamoio, em que o guerreiro é exortado à batalha, incentivado a
não temer nem tremer diante da morte. Veja-se:
Não chores, meu filho;
Não chores, que a vida
É luta renhida:
Viver é lutar.
A vida é combate,
Que os fracos abate,
E os fortes, os bravos
Só pode exaltar. (Canção do Tamoio. Dias, 1959, p.315)
Os poemas indianistas gonçalvinos, portanto, elevam-se em timbres essencialmente brasileiros,
configurando uma identidade nacional. Idealização convincente, denotando o empenho do poeta em
estudar e entender os costumes e tradições desse povo.
Em O Gigante de Pedra, esse nacionalismo manifesta-se, não só em termos de
tradicionalidade indígena – ameaçada pela civilização – como também na exaltação da natureza e na
expressão gráfica de vocábulos designativos/representativos da língua-pátria…
E em guanabara esplêndida
As danças dos guerreiros.
Nas duras montanhas,
Os membros gelados
Talhados a golpe
De ignoto buril,
Descansa o gigante,
Que encerra os fados,
Que os términos
Guardas do vasto Brasil.(O Gigante de pedra. Dias, 1959, p.318)
O considerado mais importante poema indianista gonçalvino é, no entanto, (segundo a crítica
especializada), I-Juca Pirama – seja pelo conteúdo épico-trágico-dramático, seja pelo vigor da
linguagem, como o aponta Bandeira (apud Moraes, 1991). Repare-se que o nacionalismo nele se
instaura a partir do próprio título, traduzido (pelo poeta), literalmente, da língua tupi, significando o
que há de ser morto ou o que é digno de ser morto. Tal expressão linguística, colhida de um
idioma, por sinal, ágrafo, (desconhecido entre os civilizados), vem a suscitar a curiosidade do leitor,
em torno desse termo desconhecido, reforçando-se, pois, mais ainda, a admiração do branco pelo
índio, ora alvo das atenções – como num resgate à memória de um povo, em suas mais caras
tradições. Povo, a merecer, já, outros olhares, a transcender a dimensão do meramente selvagem, na
acepção, mesmo, de um combatente valoroso, um herói. A poesia indianista gonçalvina, pois,
cumpre a função ideológica de difundir a representação consciente e valorativa do elemento
indígena, como um todo: a língua, em suas expressões adotadas; um cenário típico de uma raça-
símbolo da Nação.
Em I-Juca Pirama, essa linguagem aludida deixa-se perceber, não só a partir do título, como da
estrutura do poema épico, desfiado em suas dez secções, em estrofes e alternância métrica variada,
ensejando toda uma pluralidade de ritmos – o que vem a caracterizar cada situação ali apresentada,
bem como a liberdade de linguagem. Numa conotação épico/trágico/lírica, o poema narra as
lembranças de um velho índio Timbira, a registrar, no texto poético, a história de uma batalha entre
duas tribos rivais.
I-Juca-Pirama, guerreiro tupi, último remanescente de seu povo (juntamente com o pai velho e
cego), torna-se prisioneiro dos timbiras (ferozes e canibais), sendo-lhe, de antemão, solicitado o seu
canto de morte – seu curriculum vitae de guerreiro sob as credenciais de coragem, heroísmo, honra
e bravura – valores que contaminariam a todos os que comessem da sua carne, conforme a “cartilha”
indígena. O jovem desfia toda a sua trajetória de lutas com as tribos inimigas (os Aimorés, por
exemplo). Já na iminência de passar pelo tradicional rito de morte (a culminar com o sacrifício
festivo), não obstante revestido da coragem que consagra os heróis, pede clemência ao chefe inimigo,
alegando ter um pai idoso, cego e doente, a quem presta cotidiana assistência, pelo que é considerado
covarde e fraco: “Soltai-o […]. És livre; parte” (Canto V). O jovem tupi insiste, no seu argumento,
comprometendo-se em voltar e oferecer-se, de bom grado, em sacrifício, após a morte do velho
genitor, sendo, então, definitivamente expulso da taba, desacreditado e considerado indigno de servir
de repasto, no estranho banquete. Juntando-se ao pai, novamente (este sentindo-lhe o forte cheiro
das tintas a recender do seu corpo, preparado que fora para o ritual), relata-lhe toda a angústia por
que passara. Indignado, o ancião leva-o de volta, à aldeia inimiga. Ante o líder, o valente guerreiro
reage, mostrando que não é covarde: “Alarma! Alarma!” – eleva o seu grito de guerra, lutando
bravamente, dizimando, vencendo a tribo timbira, até que ouve do chefe o “Basta!”. Resgatada a
honra do herói, pai e filho abraçam-se reconciliados e, na dignidade, o ritual de morte é consumado,
para orgulho e honradez do velho pai cego.
E eis a sequência dos epsódios no enredo poético-narrativo:
– a Tribo Timbira, na descritividade do ambiente em que vive, na selva (Canto 01);
– a dilemática do índio, prisioneiro, em vias de ser sacrificado no rito canibalístico (Canto 02);
– apresentação do herói, protagonista (Canto 03);
– captura deste, pelos timbiras e seu pedido de clemência (Canto 04);
– seu descrédito (ante a tribo rival), expulsão e liberação pelo chefe timbira; (Canto 05);
– a volta para junto do pai, seguida do retorno à taba inimiga, para resgate de sua honra (Canto 06);
– recusa do chefe timbira – que não libera o ritual, por considerar fraco, o povo tupi (Canto 07);
– maldição do filho, supostamente covarde (Canto 08);
– declaração e ação de guerra pelo herói, indignado e humilhado, que derrota a todos (Canto 09);
– reconhecimento (pela voz narrativa) do poder e dignidade da tribo tupi (Canto 10).
Ao longo do texto em leitura, ressalte-se, não obstante os caracteres medievais, é possível
constatar que os exageros românticos não se patenteiam num poema que se vai construindo num
formalismo tendente à simplicidade, à espontaneidade… – peculiaridades que certificam os amplos e
profundos conhecimentos gramaticais (fonética, sintaxe…) do autor, a contribuir, decisivamente, na
construção/idealização linguístico/literária da figura do índio, em termos convincentes:
Vem a terreiro o mísero contrário;
do colo à cinta a mucurana desce:
Dize-nos quem és, teus feitos canta.
Ou, se mais te apraz, defende-te.
[…]
O índio que ao redor derramam os olhos,
Com triste voz que os ânimos comove.
Meu canto de morte
Guerreiros ouvi. (Dias, 1959, p.329)
Como se pode observar, o tônus erudito desprende-se do fragmento exposto. E ainda que o
chefe timbira (cujo discurso insere-se na narrativa poética), não se comunique em linguagem culta
(sequer expressa em tupi), as imagens como que, espontaneamente, se vão delineando, na mente do
leitor, na instância de um coloquialismo natural da cena – donde a plausível compreensão da lira em
apreço, sempre bela, atrativa e natural.
Pode-se aventar que, em seus contornos épicos, a temática de abordagem no I-Juca Pirama
vem conferir ao texto o que se pode considerar “argumento de autoridade”, considerando-se que se
trata da narrativa de um velho timbira aos seus pósteros, a se confirmar na voz narrativa: Meninos, eu
vi (Dias, 1959, p.329)… no concluir de um relato que traz à tona um passado evocativo de glórias,
heroísmo, valentia e dignidade da raça indígena.
Como se pode depreender, na cultura e civilização indígena, as tradições de bravura e honra,
se vão transmitindo, de uma para outra geração, sendo a covardia vista como a pecha mais indigna
que um homem possa contrair. Em situações como essa, o clima que se instala no poema é dos mais
expressivos e comoventes. O velho tupi (pai do guerreiro protagonista, da trama), alquebrado, cego,
já sem tribo, amargurado e sentindo-se desonrado, devolve o próprio filho ao chefe dos timbiras –
que só de heróis faziam pasto (Dias, 1959, p.359). E, voltado para este (o filho), exclama:
Tu choraste em presença da morte?
Na presença da morte choraste?
Não descende o cobarde do forte;
Pois choraste, meu filho não és!
Possas tu descendente maldito
Sem arrimo e sem Pátria galgando
Rejeitado na morte na guerra,
Ser das gentes o espectro execrado
Sê maldito e sozinho na terra,
Tu cobarde, meu filho não és! (Dias, 1959, p.368).
Toda a grandeza moral do poema, pode-se aventar, consiste na revelação e valorização do
índio/herói, aquele que preza as suas origens e por estas enfrenta quaisquer desafios, supera (ou
sucumbe a) quaisquer intempéries, no pressuposto de que a morte não prevalecerá à honra; e a honra
é o dom mais caro e precioso de um homem.
O imortal poeta caxiense, ressalte-se, a partir de I-Juca-Pirama, aborda a questão do índio
brasileiro, perspectivando-o como nobre cavaleiro medieval, comparável (pode-se aventar) aos
mitológicos “cavaleiros da távola redonda”, do lendário Rei Artur – bravos e honrados guerreiro,
aptos a enfrentar desafios e a não temê-los, diante da morte:
São rudos, severos, sedentos de glória,
Já prélios incitam, já cantam vitória,
Já meigos atendem à voz do cantor:
São todos timbiras, guerreiros valentes!
Seu nome lá voa na boca das gentes.
Condão de prodígios, de glória e terror! (Dias, 1959, p.361).
O poema se encerra ainda exaltando a bravura e o destemor indígena:
Um velho Timbira, coberto de glória,
guardou a memória
Do moço guerreiro, do velho Tupi!
[…]
Eu disse comigo: Que infâmia d’escravo!
Pois não, era um bravo;
Valente e brioso, como ele, não vi!
E à fé que vos digo: parece-me encanto
que quem chorou tanto,
Tivesse a coragem que tinha o Tupi!
[…]
Assim o Timbira, coberto de glória,
guardava a memória
Do moço guerreiro, do velho Tupi.
E à noite nas tabas, se alguém duvidava
do que ele contava,
tornava prudente:
Meninos, eu vi. (Dias, 1959, p.368)
I-Juca-Pirama, pode-se admitir, bem como os demais poemas gonçalvinos, representa, em
nossa cultura, o passo decisivo na travessia das manifestações nativistas da literatura colonial em
atitudes mais conscientemente nacionalistas.
O índio tupi – misto de amor, honra e luta – assemelha-se ao canto do próprio poeta, também
descendente de índios; um canto de amor à pátria e à raça ancestral, um canto de luta pela construção
de uma poesia genuinamente brasileira.
Ante o exposto, espera-se que as reflexões e discussões levantadas ao longo deste
despretensioso ensaio, tenham revelado, conforme proposto no resumo, o nacionalismo presente na
obra poética de Gonçalves Dias, destacando-lhe a magna importância, no contexto da Literatura e da
Sociedade Brasileira, sua ideologia, no que tange à emancipação literária e afirmação cultural da
Nação.
Questiona-se o vocábulo nacionalismo, em simultaneidade às questões relacionadas ao contexto
histórico-social que anteparam o surgimento do Romantismo como Estética Literária, no fito de
melhor definir o termo, em relação à temática em abordagem. De modo que, como se viu, o
nacionalismo aqui se fez delinear em suas propostas básicas: patriotismo e indianismo – é o que se
pode deduzir, a partir da leitura da obra desse ilustre maranhense, um dos grandes expoentes da
Literatura Brasileira, empenhado na consolidação do nosso Romantismo, como ponto de partida para
a criação de uma literatura nacional.
Dá-se por circunstancialmente encerrado (mas sempre aberto a novos horizontes) este processo de
leitura, com um louvor ao Deus Uno e Trino, três vezes Santo, a elevar-se na própria lira gonçalvina,
no poema TE DEUM.
Nós, Senhor, nós Te louvamos,
Nós, Senhor, Te confessamos.
Senhor Deus Sabaot, três vezes Santo,
Imenso é o poder, Tua força imensa,
Teus prodígios sem conta: – e os céus e a terra
Teu Ser e Nome e Glória preconizam.
E o arcanjo forte, e o serafim sem mancha,
E o coro dos profetas, e dos mártires
A turba eleita – a Ti, Senhor, proclamam
Senhor Deus Sabaot, três vezes Santo.
Na inocência do infante és Tu quem falas;
A beleza, o pudor – és Tu que as gravas
Nas faces da mulher, – és Tu que ao velho
Prudência dás, -– e o que verdade e força
Nos puros lábios, do que é justo, imprimes.
És Tu quem dás rumor à quieta noite,
És Tu quem dás frescor à mansa brisa,
Quem dás fulgor ao raio, asas ao vento,
Quem na voz do trovão longe rouquejas.
És Tu que do oceano à fúria insana
Pões limites e cobro, – és Tu que a terra
No seu vôo equilibras, – quem dos astros
Governas a harmonia, como notas
Acordes, simultâneos, palpitando
Nas cordas d’Harpa do Teu Rei Profeta,
Quando ele em Teu louvor hinos soltava,
Qu’iam, cheios de amor, beijar Teu sólio.
Santo! Santo! Santo! – Teus prodígios
São grandes, como os astros, – são imensos,
Como areia delgada, em quadra estiva.
E o Arcanjo forte, e o Serafim sem mancha,
E o coro dos profetas, e dos mártires
A turba eleita – a Ti, Senhor, proclamam,
Senhor Deus Sabaot, três vezes Grande.
REFERÊNCIAS
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NOTAS
[1] – Carta a Antonio Henriques Leal (Paris, 05.10.1863).
[2] – descrição do dileto amigo Antonio Henriques Leal, apud. MORAES, Jomar. Gonçalves Dias, vida e
obra, p. 156-08.
[3] – Pequena Bibliografia Crítica da Literatura Brasileira. 3ª. ed. rev. e aument. Rio de Janeiro: Letras e
Artes, 1962, p. 92.
[4] – apud. BANDEIRA, Manuel. Gonçalves Dias – Poesia, Rio de Janeiro, Livraria. Agir Editora, 1967. p.
81(Col. Nossos Clássicos).
JOSUÉ MONTELLO
MANOEL DOS SANTOS NETO
Josué Montello, nascido em São Luís, a 21 de agosto de 1917.
Josué Montello, o grande romancista maranhense do século XX, nasceu em São Luís no dia 21
de agosto de 1917. Aproveito o transcurso desta data para lembrar que, em agosto de 2001, fui
escalado para fazer às pressas uma entrevista com Montello, que teria de ser publicada na edição do
dia seguinte de um jornal.
Ficou acertado, poucas horas antes, que eu e o fotógrafo nos encontraríamos com ele na Casa
de Cultura que leva seu nome, na Rua das Hortas.
Recordo que o romancista comemorava 84 anos e, para celebrar a data, seria homenageado
com a montagem do espetáculo “O baile da despedida”, uma adaptação do romance homônimo do
escritor feita pelo saudoso teatrólogo Reynaldo Faray, que seria apresentada no Teatro Arthur
Azevedo (Centro), às 20h30.
Antes da sessão de estréia do espetáculo teatral, o aniversariante recebeu na Casa de Cultura
Josué Montello amigos e leitores para um coquetel. Não perdi tempo: aproveitei para fazer uma
memorável entrevista com o romancista.
Confesso que me impressionou a forma afetuosa e a simplicidade com que ele me recebeu
naquela tarde de agosto de 2001. Fiquei frente a frente com o romancista, que me falou sobre sua
trajetória na literatura, a vocação, o sonho realizado com a criação da Casa de Cultura e sobre o amor
pelo Maranhão.
Além dos dois livros que acabara de entregar à editora Nova Fronteira, “A mais bela noiva de
Vila Rica” e “Condições de um romancista”, Josué Montello falou sobre “A herdeira do trono”, obra
que definiu nesta entrevista como aquele que seria seu último romance.
Achei formidável o texto que produzi àquela época. E fiz questão de deixá-lo nos guardados de
meu arquivo pessoal. E fiz a reeleitura do texto a propósito da passagem do nono ano do falecimento
do grande escritor.
Vale lembrar que Montello faleceu no Rio de Janeiro, aos 88 anos, no dia 15 de março de
2006.
AS MINHAS LEMBRANÇAS DE FRAN PAXECO
ROSA MACHADO
Neta Materna de Fran Paxeco
No próximo dia 17 de Setembro passam 63 anos sobre a data da morte de Fran Paxeco, meu
Avô Materno.
Faleceu na sua casa ali na Rua do Prior à Lapa, e eu, então com quase 6 anos, recordo como se
fosse hoje o desgosto de minha Mãe.
Nós vivíamos na Rua de S. Francisco de Borja: o nosso prédio fazia esquina com a Rua do
Prior tocando no prédio onde moravam os nossos Avós, daí ser fácil a nossa ida constante - dos três
netos, eu sou a mais nova - lá para casa.
Quando nasci, já Vôvô estava doente; mas lembro-me dele a ser assistido pelo seu enfermeiro,
o Sr. Santos, e achar que ele era muito alto. Pudera, na altura eu era um "naco" de gente!
Lembro também, oh se me lembro, que em dada altura, fui ao quarto dos meus Avós; e como
julguei que Vôvô estivesse a dormir, resolvi mexericar nas coisas de Dª Belinha, Vóvó, que estavam
em cima da cómoda. Eis senão quando oiço um sonoro "SIM !!!" atrás de mim que me fez fugir a
sete pés para perto de Vóvó que foi ver o que se passava, e pelos "rastos" deixados no chão viu logo
o que se tinha acontecido. Felizmente para mim, achou graça...
Vôvô teve aquilo que hoje chamamos um AVC: perdeu a fala, ficou imobilizado do lado
direito; e só conseguia pronunciar “Sim”, que serviu perfeitamente para ralhar à neta.
Só há poucos anos, depois de me aposentar, é que comecei a procurar, investigar e a conhecer
um pouco melhor o meu Avô. Tudo o que ouvi em criança de minha Avó, de minha Mãe, dos amigos
que o conheceram, e que permanecia bem arrumadinho no meu subconsciente, à espera, tem vindo a
surgir aos poucos, quando encontro documentação relacionada.
A minha admiração por Fran Paxeco é imensa e tem vindo a aumentar: ora estava em Manaus,
ora no Rio de Janeiro, ora no Juruá, ora em Belém, ora em São Luís!!!! E com os meios de transporte
da época!!
E o trabalho feito? O que escreveu! O que trabalhou pela Cultura, pela Educação, pela Saúde!
A sua querida São Luís do Maranhão bem que merecia outro Fran Paxeco...
Agosto de 2015
Foi assim que o conheci.
Como curiosidade, refiro que o roupão de seda que ele tem vestido, foi doado recentemente por mim
à Câmara Municipal de Setúbal, juntamente com outros pertences; pode ver-se na outra fotografia, na
exposição, onde aparece com o uniforme de Cônsul, de Verão.
Tudo doações feitas na mesma altura, que deram origem a esta exposição.
8 de Setembro de 1910 - Em São Luís do Maranhão, casaram os meus Avós Maternos, Isabel
Eugénia de Almeida Fernandes, natural de São Luís, e Manuel Fran Paxeco, natural de Setúbal,
Portugal:
Da "Pacotilha": .....Às 4 horas da tarde ...o acto civil será no salão nobre da Intendência e o religioso
na Igreja da Conceição.
O dia foi escolhido, já que se trata do aniversário de São Luís, cidade amada de meu Avô...
Rosa Machado
8 de Setembro de 1910 - Em São Luís do Maranhão, casaram os meus Avós Maternos, Isabel
Eugénia de Almeida Fernandes, natural de São Luís, e Manuel Fran Paxeco, natural de Setúbal,
Portugal:
Da "Pacotilha": .....Às 4 horas da tarde ...o acto civil será no salão nobre da Intendência e o religioso
na Igreja da Conceição.
O dia foi escolhido, já que se trata do aniversário de São Luís, cidade amada de meu Avô...
FRAN PAXECO
JOAQUIM SALLES DE OLIVEIRA ITAPARY FILHO
Academia Maranhense de Letras. Cadeira 4
Palestra realizada na data da abertura do II Feira do Livro de São Luís,
Em 10 de outubro de 2008 – Ano do centenário de fundação da Academia Maranhense de Letras
No dia 10 de agosto de 1908, onze intelectuais maranhenses se associaram com o propósito
de fundarem a Academia Maranhense. A eles juntou-se um estrangeiro: o escritor Manuel Francisco
Pacheco, cidadão português nascido aos 9 de março de 1874 na Cidade de Setúbal, então com cerca
de 30 mil habitantes, situada na margem do Rio Sado, bem próxima à capital lusitana. Depois de
cursar o primário num colégio de jesuítas, em Setúbal, Manuel Francisco seria transferindo para o
curso secundário na Casa Pia de Lisboa, destinada a órfãos. Retorna em seguida a Setúbal e em 1890,
contando apenas 16 anos de idade, funda um jornal, intitulado “Elmano”. Iniciava-se, assim, a
aventura intelectual de uma das mais instigantes personalidades da cultura luso-brasileira.
Com pouco mais de vinte anos, Francisco Pacheco já exercia atividades regulares na imprensa
de sua cidade natal e havia cumprido o serviço militar obrigatório, passando aos quadros da reserva
do Exército.
Influenciado por déias de renovação política e cultural que se alastravam em toda a Europa,
difundindo-se em Portugal principalmente partir de Coimbra, adepto de correntes de pensamento
contrárias à monarquia decrépita, Manuel Francisco, ainda jovem jornalista de vinte anos, escreveu
artigo que seria considerado ofensivo à honra e à majestade do ocupante do trono português. O texto
representaria, ainda, um desacato ao comandante das forças armadas. Pois, tendo o jovem jornalista
deixado o Exército em 1894, as autoridades alegaram, então, a sua condição de reservista do
Exército, sujeito, portanto, à jurisdição dos conselhos de guerra. Tais argumentos foram adotados
como fundamento para procedimentos judiciais punitivos previstos nas leis e nos regulamentos
militares. Acatando recomendações de bons advogados lisbonenses, Pacheco decidiu retirar-se de
Portugal, diante da certeza de inapelável condenação à prisão por tempo dilatado: cerca de 10 anos
de masmorra, na melhor das hipóteses.
Como ele mesmo narra, roupas enlaçadas, livros cintados, sob o codinome de Viegas
Guimarães, Francisco tomou o primeiro navio que lhe apareceu e rumou para a Espanha, donde,
também sem perda de tempo, escapou rumo ao Brasil. Aportou no Rio de Janeiro a 8 de maio de
1895, com 21 anos de idade, e logo empregou-se no comércio. Com pouco tempo no Rio, em
dezembro daquele ano, ele seria despedido do emprego por haver fundado um jornal chamado “A
República Portuguesa”. Nesse mesmo mês, sem perda de tempo, embarcou-se para o Pará, onde
saltou a 17. Já em Belém, associou-se na publicação de um jornal intitulado “Folha do Norte”, cujo
primeiro número sairia menos de um mês após a sua chegada, exatamente no dia 1º de janeiro de
1896. Fran Paxeco (que passou a abreviar nome de Francisco e grafar o sobrenome com x) era um
dos redatores. Em 96, 97 e 98 trabalhou em jornais daquela cidade, onde também organizou a
biblioteca do Grêmio Português, lecionou em escolas privadas e, em março de 1898, expôs à venda o
seu primeiro livro: “Sangue Latino”.
Este livro, mesmo com as restrições de estilo e a atabalhoada disposição das matérias, segundo
parecer do erudito português Tavares Bastos, que lhe fez o proêmio, é fundamental para o estudo da
vida e obra de Fran Paxeco. O seu texto inaugural desde logo atestaria, de modo claro e fidedigno, as
altas qualidades morais, a boa formação cultural e os elevados dotes intelectuais do jovem autor.
Fran Paxeco teve os compatrícios Teófilo Braga e Teixeira Bastos como seus inspiradores e
guias. Fez-se amigo e discípulo de ambos, prestigiosos intelectuais militantes no movimento
científico e literário que, no final do século 19, injetava idéias, ímpeto e vigor novos na velha e
caduca cultura lusa, retardada relativamente à resoluta marcha renovadora experimentada pelas
demais sociedades da Europa.
Teixeira Bastos, o prefaciador de “Sangue Latino” foi um dos mais acatados divulgadores da
doutrina e do ideário socialista em Portugal. Tendo Fran Paxeco como aprendiz aplicado e lúcido,
Bastos não negava elogios à sua inteligência privilegiada, à sua ousadia, ao ânimo irrequieto e à sua
tendência revolucionária. Fran alinhava-se às correntes que, ainda hoje, atribuem grande parte da
crise que se abatera sobre a sua pátria à perniciosa influência exercida por ordens e facções religiosas
no poder político e na vida sócio-econômica da nação. Apesar de haver cursado o primário em
colégio de jesuítas, Fran Pacheco desde cedo constata e afirma em seus escritos que “os roupetas
(aqui significa veste de sacerdotes da Companhia de Jesus) tinham corrompido a nação até a
medula”. Também deixou inequívoca a sua condição de democrata e republicano ao escrever que o
povo constituía o único elemento nacional “em que, através dos mais amargos dissabores, pulsa
sempre o amor patriótico.”
Influência definitiva na formação de Fran Paxeco foi, igualmente, a de Teófilo Braga,
intelectual de notável erudição, então um dos mais respeitáveis pensadores da Europa. Por toda a
vida, este seria o seu ídolo. Segundo a sua firme convicção, Teófilo é o responsável pelo
renascimento cultural de Portugal, ocupando a posição de líder inconteste da denominada Revolução
Coimbrã. Era ele quem captava, absorvia, repensava as teorias, as doutrinas e os anseios de mudança
que varriam toda a Europa difundindo-os na sua pátria. Sem discrepar um só instante, Fran Paxeco
filiou-se a essa corrente liderada por Teófilo, fundamentada na ciência positiva e contrária à mera e
simples prática de um beletrismo antiquado, bolorento, indiferente às precárias situações sócio-
econômicas do povo e da Nação. Entre tais beletristas Paxeco arrolaria, em seu primeiro livro, as
então prestigiosas e decantadas figuras de Alexandre Herculano, Oliveira Martins, Guerra Junqueiro
e, com destaque especial, a de Antero de Quental. Esses escritores, na opinião de Fran, se
emparceiravam com o povo em atitudes misticamente resignadas, vendo a crise que se abatia sobre
Portugal como conseqüência inarredável de uma fatalidade búdica.
Teófilo Braga, não. Este teria reabilitado o espírito crítico, enquanto Antero de Quental e os
restantes faziam estilo. A obra de Braga intitulada A Visão dos Tempos foi entusiasticamente saudada
por seu discípulo como uma portentosa epopéia, que amalgamara os poetastros que se compraziam
na prática de um vernaculismo improdutivo, a cantar velhos e relhos temas. Para concluir e não
deixar dúvidas sobre o seu sentimento de admiração por Teófilo Braga, que atingia mesmo raias de
idolatria intelectual, Fran declara enfático, orgulhoso: Teófilo Braga não é um homem – é uma idéia.
Não representa um escritor – concretiza um Sistema. Teófilo e Teixeira Bastos, couraçados pela
filosofia positiva, dão convergência ao sentimento e ao pensamento do país. Bastos remata, na
inalienável parte socialista, as lucubrações do Mestre. Segundo ainda o conceito idólatra de Fran
Paxeco, as obras de seus mestres em nada se comparam à chuva de romancetos e versos da maioria
dos escritores. Para ele, Teófilo, principalmente, não perdia tempo escrevendo uma linha em jogos
florais. Casa frase do Mestre corporificava uma idéia ou levantava um fato.
Tão longe e fielmente Fran trouxe consigo esse sentimento de admiração a Teófilo Braga que
aqui se viu envolvido em dura e pouco respeitosa polêmica entre o Mestre luso e o escritor brasileiro
Sílvio Romero que eclodira, salvo equívoco nosso, em 1887. A contenda teria sido motivada por
questões de direitos autorais sobre o critério nacional e etnológico para o estudo da História da
Literatura nos países de Língua Portuguesa. Braga foi acusado de copiar tais critérios originalmente
construídos e fixados em livro por Romero. Em 1900, treze anos depois dessa acusação violenta,
Fran Paxeco, que se fizera como que um correspondente e procurador de Teófilo no Brasil, publica
obra de sua autoria (de Fran) intitulada “O Sr. Silvio Romero e a Literatura Portuguesa”. Em
apêndice, o livro divulga carta de Teófilo contestando, ainda que tardiamente, as violentas acusações
de Silvio Romero, das quais somente tivera ciência através de correspondência com Fran. Talvez por
questão de hierarquia intelectual, Romero não responde a Paxeco. Entretanto, um discípulo seu, o
mineiro Augusto Franco, na introdução à réplica dada pelo notável brasileiro, desce o pau em Fran
Paxeco censurando o seu vocabulário repelente e nojento, próprio de lupanares em agredir
garotamente a vultos tão brilhantes das letras brasileiras. Por isso, assevera o mineiro defensor do
sergipense Romero: nem Silvio Romero, nem qualquer outro tão canalhamente insultado por Fran
Paxeco, lhe respondeu as chalaças, nem as responderá jamais, porque, aqui, não se dá “pasto”.
Confesso desconhecer como teria terminado essa querela intelectual e internacional.
Para que tenhamos melhor idéia do pensamento de Fran Paxeco no momento de sua fuga para
o Brasil, vejamos o seu conceito sobre a imprensa em sua pátria, no limiar do Século 20 – e que, me
permitam a reflexão, em muito se assemelha à situação da nossa. Segundo a sua opinião, impiedosa e
arrasadora, os jornais de sua terra são receptáculos da frivolidade, feitos sem arte tipográfica nem
correção gramatical, são um dos ponderáveis fatores da degringolada de Portugal. Falhos de
critérios, adversários do gosto artístico, primando na verrina, escoiceando a instrução elementar...
falta (nos jornais) quem saiba produzir crítica literária, quem vasculhe o X da economia política,
quem perceba de finanças, quem reveja com perspicácia os escaninhos internacionais, quem faça
partidarismo alheio à difamação. A imprensa foi empolgada pelo banditismo insciente, velhaco, o
pior de todos. Em Portugal, para ser popular basta escrever mal – disse Camilo. E acertou.
Eis, em ligeiros traços, a fotografia do ânimo, o mapa do espírito, o debuxo intelectual do
homem que viria de tão longe para dar nova têmpera, injetar ânimo novo no fazer cultural em nossa
terra. Com efeito, desde a sua chegada o ambiente intelectual de São Luís se agita, ganha ímpeto,
fervilha. Há um sopro renovador. Cresce a produção dos literatos e dos jornalistas. Surgem novos
talentos. Em março de 1900, Fran desceu de Manaus para o Rio, de onde retornaria a 22 de abril para
visitar São Luís, aqui chegando a 2 de maio seguinte. No dizer do mestre Jerônimo de Viveiros, o
jovem intelectual português veio como turista, atraído pelo brilho do nosso passado literário que de
longe o fascinava. Acabou tornando-se legítimo maranhense pelo coração, dando-nos de graça toda
a sua assombrosa atividade.
Diz bem o Mestre Viveiros que a atividade de Fran Paxeco era trepidante, assombrosa,
causava abalos no ambiente de relativa hibernação em que vivia o Maranhão cultural. Chegando aqui
no dia 2 de maio de 1900, um mês depois, exatamente a 3 de junho, aquele homem de incomparável
capacidade de ação criaria a “Associação Cívica Maranhense”, em conjunto com outros intelectuais,
pondo Barbosa de Godóis na presidência, Astolfo Marques, João Quadros, Nuno Pinho e Cunha
Machado em outros cargos da diretoria. Em seguida, organiza festividades e passeatas cívicas no dia
7 de setembro e promove romarias à estátua de Antônio Gonçalves Dias, em cerimônia de culto ao
Poeta Maior. Toma a iniciativa de atribuir ao Largo do Carmo o nome de João Lisboa e de dar à
praça que a municipalidade construía então entre as Ruas dos Remédios, das Hortas e da Viração o
nome de Odorico Mendes. A mensagem de Manuel Inácio Vieira à Câmara propondo a homenagem
a João Lisboa, datada de 28 de julho de 1901, seria produto da pena, daquele notável intelectual,
recém-chegado ao Maranhão.
Refere Jerônimo de Viveiros, Mestre de todos nós, que nos intervalos de suas múltiplas
iniciativas e ocupações iniciais, Fran promovia conferências no Centro Caixeiral, auxiliado por
Firmino Saraiva e Antônio Lobo. Também incentivava e orientava os moços aos estudos literários,
educando, também, os sentimentos cívicos da juventude. Nessas tarefas, segundo Viveiros, Fran
Paxeco era de uma paciência evangélica. João Quadros da Costa Gomes diz-nos a esse respeito:
Coelho Neto estivera aqui em 1899, despertando, com as fulgurações do seu verbo, um como
alvoroço espiritual na mocidade...Arremessamo-nos a ler, à fula-fula, numa voracidade famélica,
livros e mais livros de ficção: Coelho Neto, Escrich; Alencar; Camilo, etc...numa incrível
sangalhada...Em 1900 (Como o espírito de Deus no Gênesis) o espírito de Fran Paxeco pairou em
águas do Maranhão. Foi o nosso Jeová. E fez-se a Luz. Então, Costa Gomes conta-nos como Fran
Paxeco, sentado em uma cadeira de balanço na Biblioteca Pública, diariamente, com a mais absoluta
e santa paciência, ia passando e repassando, consertando, especando, acepilhando as bugiarias e os
sarrafos que lhe apresentávamos à guisa de prosa e verso. Depois do que Astolfo Marques chamava
de “lavagem”, Fran restituía os originais dizendo: Está bonzinho. Continue. Todos principiam
assim.
Em conferência realizada na Academia Maranhense de Letras no ano de 1952, o Acadêmico
Mata Roma, conhecido nos meios intelectuais pela severidade de seus julgamentos e de sua opinião
crítica, secunda os conceitos de Jerônimo Viveiros sobre o contributo de Fran Paxeco para o
desenvolvimento social do Maranhão:
“... o que é devido é que não nos esqueçamos de Fran Paxeco, que o mantenhamos em
nosso pensamento, que o guardemos em nossos corações, expressando a nossa gratidão
pelo que ele fez por nós, tornando-o conhecido da geração atual e das porvindouras;
apontando-o aos estrangeiros, sobretudo a seus compatriotas, e mais – por que não dizê-
lo? – aos próprios maranhenses, como exemplo indefectível de honradez, de
desprendimento, de trabalho e de amor. Porque de todos os estrangeiros e maranhenses
que viveram ou vivem aqui, nenhum outro amou tanto o Maranhão como ele, nenhum,
como ele trabalhou pelo Maranhão tão desprendidamente e tão honradamente. E nessa
dedicação insuperável à nossa Província, ele se devota, ao mesmo tempo e com a mesma
intensidade, a seu país. Na inteligência e na afetividade, que o tornavam singular, Fran
Paxeco zelava por duas pátrias – o seu Portugal e o deu Maranhão-, ou melhor, o nosso
Maranhão e o nosso Portugal... Se alguém quiser apagar em nosso peito a memória de
Fran Paxeco terá de destruir o Maranhão. Porque o trabalho de Fran Paxeco no
Maranhão é verdadeiramente colossal, ciclópico, gigantesco... De 2 de maio de 1900...
até 1923, quando partiu definitivamente, foi a sua vida um diuturno labor, pulcro e
digno, pelo engrandecimento do Maranhão e pela glória de Portugal...
Magnânimo, altruísta, despido de sentimentos menores esse homem de caráter impoluto e
singular, dotado de espírito público invulgar, durante todo o tempo de sua permanência entre nós
esteve diretamente empenhado no apoio continuado à juventude; Fruto dessa atividade, já aos 5 de
agosto do mesmo ano em que aportara a São Luís, com o seu apadrinhamento, circularia o jornal “Os
Novos”; cujo título foi por ele escolhido para distinguir o veículo de divulgação da produção cultural
daqueles que se iniciavam na literatura, nas artes e nas ciências no limiar do Século 20.
Pode-se afirmar, sem nenhuma dúvida, que Fran Paxeco veio secundar o seu patrício Manuel
de Bethencourt, jornalista e escritor, Lente de Filosofia do Liceu, falecido em 1916, como animador
e orientador do movimento tido pelos melhores estudiosos como o Renascimento Cultural do
Maranhão. Movimento esse orientado basicamente por Bethencourt e, seguidamente, por Paxeco e
que, no confiável entendimento de Antônio Lobo e Mário Meirelles, eclodiu a 8 de junho de 1899,
data da passagem de Coelho Neto por São Luís, tendo-se interrompido com o regresso de Paxeco a
Portugal, em 1922.
Além dessas atividades intelectuais ligadas à área da literatura e do jornalismo, Fran Paxeco
dedicou boa parte do seu tempo ao estudo das condições econômicas, sociais e políticas do
Maranhão, bem como da sua História e das características geográficas do seu território. Seus livros
sobre tais temas científicos são básicos, são textos de leitura e estudo obrigatórios para o melhor
conhecimento do nosso Estado. Esse português que, pelo talento cultural e pelos serviços públicos
prestados a dois continentes, se tornou nome de Praça em São Luís (Antiga Praça do Comércio, na
Praia Grande) e de uma Rua em Setúbal, Portugal (Antiga Rua Direita do Troino, próxima à Capela
do Carmo), que se fez Secretário da Associação Comercial do Maranhão em 1902 e fundou aqui, em
22 de outubro de 1019, a Câmara Portuguesa de Comércio, também contribuiu para a elevação do
nível educacional do Estado promovendo e organizando no período de 22 de fevereiro a 2 de março
de 1920 o Congresso Pedagógico Maranhense, pouco antes de partir para Belém onde foi assumir o
Consulado de Portugal.
Mais, ainda: o Maranhão, por todas as suas gerações e até o fim dos tempos, jamais pagará a
Fran Paxeco tantas iniciativas suas de alto e perene interesse social; Entre cujas iniciativas arrolo
apenas a titulo de exemplo e para não me alongar: a fundação da Escola de Belas Artes; a realização,
em 14 de agosto de 1902, da assembléia da Associação Comercial que resultou na criação da estrada
de ferro São Luís-Caxias (Teresina); a fundação da Faculdade de Direito de São Luís; a fundação da
Faculdade de Farmácia e Odontologia; a arrecadação publica de fundos pelos estudantes, no valor de
3 contos de réis, em 1905, para a confecção do busto de Odorico Mendes, encomendado por Artur
Azevedo ao escultor Bernardelli, finalmente inaugurado a 17 de agosto daquele ano... e roubado em
2006.
Diante de tudo o me foi possível ler sobre a passagem desse ser humano realmente
extraordinário, desse excepcional produtor e animador cultural pelo Maranhão, creio não incorrer em
temeridade ao supor que a fundação da Academia Maranhense de Letras, a 10 de agosto de 1908,
teria decorrido, muito mais diretamente de sua notória e comprovada capacidade de liderança
intelectual, de sua capacidade de aglutinar pessoas em torno de idéias generosas e de organizar
instituições, do que de qualquer outra pessoa. Sem desmerecer a figura de nenhum dos demais
membros fundadores dessa entidade e, sobretudo, reconhecendo o relevante papel do polemista
Antônio Lobo (Então, Diretor da Biblioteca Pública, onde o grupo fundador se reuniu.) no episódio,
acho oportuna a seguinte pergunta motivadora de pesquisas, estudos e reflexões: na altura em que se
deu o fato, teria a Academia Maranhense sido fundada sem a presença de Fran Paxeco entre nós?
Fran Paxeco casou-se em São Luís com a maranhense Isabel Eugênia de Almeida Fernandes.
O casal teve uma filha, Elza, nascida na residência da Rua Direita esquina com a Rua da Palma, nesta
Cidade, no dia 6 de janeiro de 1912. Com o regresso do escritor para a Europa, em 1922, onde ele
assumiria o posto diplomático de Cônsul de Portugal em Cardiff, Grã Bretanha, Elza acompanhou e
seguiu de perto a seus pais. Doutorou-se em Filologia na Universidade de Lisboa e em Filologia
Germânica, e em Artes, pela Universidade de Londres. Essa maranhense de nascimento deixou
extensa e bem reputada obra publicada na Europa. Elza Paxeco pertenceu à Academia Maranhense
de Letras na condição de Sócia Correspondente.
Manuel Francisco Pacheco, ou simplesmente Fran Paxeco, como ficou mais conhecido,
faleceu aos 78 anos de idade, em Lisboa, Portugal, no dia 17 de setembro, após longo período de
enfermidade que o deixara lúcido, todavia com impedimento da fala, segundo testemunho do
confrade Acadêmico José Maria Reis Perdigão, que serviu na condição de Cônsul do Brasil na
Madeira.
Concluo estas breves considerações sobre a extraordinária e inigualável figura de Fran
Paxeco sem haver conseguido transmitir a mínima parte da subida relevância de sua presença durante
pouco mais de duas décadas na vida maranhense. O certo, contudo, é que o Maranhão jamais poderá
olvidar sua figura nem permitir que a sua memória se perca com o passar de seguidos anos de
obscurantismo. Todavia, há esperanças de que algum dia o sentimento de civismo e amor à Cultura
volte a ser cultivado e estimulado em nossa terra. Nesse momento Fran Paxeco renascerá e ocupará o
lugar de destaque que lhe não tem sido reservado em nossos dias.
Encerrando este breve perfil de um intelectual de escol, valho-me do irrefutável testemunho
do insigne Mestre Jerônimo de Viveiros para dizer-lhes: Fran Paxeco, pelos serviços que nos fez,
pelo bem que nos queria e pelas saudades que nos deixou foi o mais maranhense entre os
maranhenses de seu tempo”.
MANUEL FRAN PAXECO
por
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ14
Manuel Fran Paxeco (nascido Manuel Francisco Pacheco), mais conhecido como Fran
Paxeco15 nasceu em Setúbal – Portugal a 9 de Março de 1874 e faleceu em Lisboa, a 17 de Setembro
de 1952; foi um jornalista, escritor, diplomata e professor português; cônsul de Portugal no
Maranhão, no Pará, em Cardiff e em Liverpool. Chegou a São Luís do Maranhão em 2 de Maio de
1900, sendo autor de diversas obras sobre temas de interesse para a região 16.
Inicia seus estudos primários em um colégio de Jesuítas, lá mesmo em Setúbal; depois seria
transferindo para o curso secundário na Casa Pia de Lisboa, destinada a órfãos. Retorna em seguida a
Setúbal e em 1890, contando apenas 16 anos de idade, funda um jornal, intitulado “Elmano”.
Começava assim a aventura intelectual de uma das mais instigantes personalidades da cultura
luso-brasileira. Com pouco mais de vinte anos, Francisco Pacheco já exercia atividades
regulares na imprensa de sua cidade natal e havia cumprido o serviço militar obrigatório,
passando aos quadros da reserva do exército. (ITAPARY FILHO, 2008) 17
Jovem jornalista de vinte anos escreveu artigo que seria considerado ofensivo à honra e à
majestade do ocupante do trono português. Influenciado por ideias de renovação política e cultural
que se alastravam em toda a Europa, difundindo-se em Portugal principalmente a partir de Coimbra,
adepto de correntes de pensamento contrárias à monarquia decrépita18. O texto representaria, ainda,
um desacato ao comandante das forças armadas:
O jornalista escreveu no jornal A Vanguarda uma nota sobre o Rei D. Carlos que foi
considerada injuriosa e deu origem a um processo judicial. O caso não teria gravidade de
maior, não fosse o facto de Fran Paxeco se encontrar nessa altura sob jurisdição militar, já que
pertencia ao quadro das reservas do exército, o que significava que um acto normalmente
classificado como delito de imprensa seria tratado, em conselho de guerra, como indisciplina
militar. (ALDEIA, 2006) 19.
Tendo deixado o Exército em 1894, as autoridades alegaram, então, a sua condição de
reservista e, portanto, sujeito à jurisdição dos conselhos de guerra. Tais argumentos foram adotados
como fundamento para procedimentos judiciais punitivos previstos nas leis e nos regulamentos
militares. Acatando recomendações de bons advogados lisbonenses, Pacheco decidiu retirar-se de
Portugal, diante da certeza de inapelável condenação à prisão por tempo dilatado: cerca de 10 anos
de masmorra, na melhor das hipóteses.
Como ele mesmo narra:
14 Pronunciamento feito no dia 31 de janeiro de 2014, no Palácio Cristo Rei 15 http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Fran_Paxeco 16 VIEIRA DA LUZ, Joaquim. FRAN PAXCO E OUTRAS FIGURAS MARANHENSES. Rio de Janeiro: Livros de Portugal, 1957 17 ITAPARY FILHO, Joaquim Salles de Oliveira. BREVES NOTAS SOBRE FRAN PAXECO. Palestra realizada na data da
abertura do II Feira do Livro de São Luís, Em 10 de outubro de 2008 18 Itapary Filho, 2008. 19ALDEIA, João. Setubal na Rede. Disponível em http://www.setubalnarede.pt/content/index.php?action=articlesDetailFo&rec=7659, acessado em 16 de janeiro de 2014
[...] roupas enlaçadas, livros cintados, sob o codinome de Viegas Guimarães, Francisco tomou o
primeiro navio que lhe apareceu e rumou para a Espanha, donde, também sem perda de tempo,
escapou rumo ao Brasil. Aportou no Rio de Janeiro a 8 de maio de 1895, com 21 anos de idade,
e empregou-se no comércio. Com pouco tempo no Rio, em dezembro daquele ano, seria
despedido do emprego por haver fundado um jornal chamado “A República Portuguesa”. Nesse
mesmo mês, sem perda de tempo, embarcou-se para o Pará, onde saltou a 17. Já em Belém,
associou-se na publicação de um jornal intitulado “Folha do Norte”, cujo primeiro número
sairia menos de um mês após a sua chegada, exatamente no dia 1º de janeiro de 1896. Fran
Paxeco (Que passou a abreviar nome de Francisco e grafar o sobrenome com x) era um dos
redatores. Em 96, 97 e 98 trabalhou em jornais daquela cidade, onde também organizou a
biblioteca do Grêmio Português, lecionou em escolas privadas e, em março de 1898, expôs à
venda o seu primeiro livro: “Sangue Latino”.
O Sangue Latino, de 1897 é, em parte, um livro de viagens, aonde Fran Paxeco vai retratando
as terras por onde passou, e particularmente Sevilha. Mas é igualmente um livro de reflexão política
sobre Portugal.20
Encontramos uma primeira referencia a Fran Paxeco – já assinalado assim seu nome – no
jornal “O Pará”, edição de 18 de dezembro de 1897, como um dos responsáveis pela “A Revista”.
Da chegada de Fran Paxeco ao Maranhão, Humberto de Campos faz referencia em sua obra
“Memórias Inacabadas”21:
Fran Paxeco, escritor português, discípulo e devoto de Teófilo Braga, chegara ao Maranhão,
procedente de Manaus, onde o seu temperamento combativo lhe havia criado grandes e
aborrecidas incompatibilidades. Idólatra do seu mestre saíra a defendê-lo de Sílvio Romero, que
o acusara de gravíssima desonestidade literária.
[...] Aportando ao Maranhão, Fran Paxeco viveu aí como na sua terra. São Luís era, aliás, por
esse tempo, uma cidade portuguesa, e em que dominava, ainda, o reinol. O diretor de uma das
folhas mais vibrantes da cidade era o português Manuel de Bittencourt. À frente do diário que
defendia o Governo estadual, estava o português Carvalho Branco, a que o Partido oficial,
reconhecido pelos serviços relevantíssimos que ele lhe prestara nos trabalhos de alistamento
eleitoral, havia dado, numa recompensa expressiva, o privilégio para fabricar caixões de
defunto. O comércio era quase todo, português. De modo que, estabelecendo-se na capital
maranhense, Fran Paxeco se sentia tão à vontade como se tivesse desembarcado no Porto ou em
Lisboa. As vantagens que ele trazia, com a sua vivacidade e com o seu entusiasmo, justificavam,
aliás, a cordialidade do acolhimento. Habituado a olhar o português como gente de casa, a
mocidade maranhense, que saía do Liceu, e se iniciava nos cursos superiores fora do Estado,
saudou Fran Paxeco à chegada, e proclamou-o um dos seus guias e mestres. E o hóspede se
identificou de tal maneira com ela, que olvidou a sua condição de estrangeiro, e passou a
participar da atividade social da terra generosa com uma solicitude bárbara, mas que era, em
tudo, de uma sinceridade intensa e profunda. Miúdo e barbado era, todo ele, nervos e cérebro.
Mais tarde, tirou as barbas. Mas conservou inalteráveis o temperamento, o espírito e o coração,
até o dia em que Portugal o removeu para Cardiff, como vice-cônsul, isto é, em um posto
equivalente ao que o Brasil dera, ali, anos antes, a Aluísio Azevedo.
20ALDEIA, João. Setubal na Rede. Disponível em http://www.setubalnarede.pt/content/index.php?action=articlesDetailFo&rec=7659, acessado em 16 de janeiro de 2014
21 CAMPOS, Humberto de. MEMÓRIAS E MEMÓRIAS INACABADAS. São Luis: Instituto Géia, 2009. SAMUEL, Rogel. Fran Paxeco segundo Humberto de Campos. In ENTRE-TEXTOS, publicado em 20/11/2011, disponível
em http://www.45graus.com.br/fran-paxeco-segundo-humberto-de-campos, entre-textos, 86963. html
Primeiro ocupante da Cadeira 14 do IHGM, patroneada por Antonio Bernardino Pereira do
Lago, o seu amor pelo Maranhão levou-o a recusar transferências para postos da carreira diplomática
muito mais prestigiosos que o consulado de São Luís do Maranhão; de Novembro de 1913 a
Fevereiro de 1914 está no Rio chamado pelo primeiro Embaixador de Portugal no Brasil, Bernardino
Machado22, para o secretariar; em 1916 publica "Angola e os Alemães" e segue para Lisboa onde
chega a 27 de Maio para ocupar entre outros cargos, o de secretário particular do Presidente da
República, o mesmo Bernardino Machado, mas continuando como cônsul de Portugal no Maranhão
(tinha sido promovido a cônsul de 2ª classe em 4 de Julho de 1914).
A 18 de Agosto de 1919, em reunião de professores da Faculdade de Direito do Maranhão,
propõe a realização do Primeiro Congresso Pedagógico do Maranhão, o que veio a realizar-se no ano
seguinte. Em 8, 28 e 31 de Janeiro de 1920, houve sessões preparatórias. A sessão inaugural teve
lugar a 22 de Fevereiro.
Em São Luis, no mês de agosto de 1922 recebe Sacadura Cabral, festejando a travessia aérea
do Atlântico Sul; em 1923 o encontramos em Belém do Pará como cônsul, lugar que deixa em Junho
de 1925, quando volta para Lisboa; em 1927 vai para Cardiff, desempenhar idênticas funções
diplomáticas. Escreve "Portugal não é Ibérico". Faz parte da "South Wales Branch" da Ibero
American Society, contribuindo para que o nome fosse mudado para "Hispanic and Portuguese
Society". Como cônsul do Brasil consegue abrir e manter no Technical College uma cadeira de
língua portuguesa.
No ano de 1933 está de volta a Lisboa ocupando a Direcção Geral dos Serviços Centrais do
Ministério dos Estrangeiros. A 24 de Novembro já está em Liverpool a cumprir mais uma missão
diplomática, onde se mantém até 1935, quando regressa a Portugal, de onde nunca mais sairia.
É perseguido pelo Estado Novo, e o Ministério dos Negócios Estrangeiros nunca mais lhe
atribuíu nenhuma missão diplomática (graças ao Secretário-Geral do Ministério dos Negócios
Estrangeiros, Teixeira de Sampayo, monárquico convicto), o que muito o fez sofrer.
1939, um AVC com graves sequelas: fica sem fala, sem poder escrever e, paralítico, perde as
suas grandes formas de comunicação como grande orador e escritor que era.
Seu nome se encontra presente nas toponímias de Setúbal, de São Luís do Maranhão e de São
Paulo.
A Biblioteca do Grémio Literário Português em Belém do Pará e a Praça do Comércio em São
Luís do Maranhão têm o seu nome 23.
É uma área compreendida entre a rua do Trapiche (Rua Portugal), o Beco da Fluvial (Travessa
Boa Ventura) e a Feira da Praia Grande, tendo surgido a partir do aterramento do pântano
22 Bernardino Luís Machado Guimarães (Rio de Janeiro, 28 de março de 1851 — Famalicão, 29 de abril de 1944). Recebeu no baptismo o nome próprio do avô materno, Bernardino de Sousa Guimarães, capitalista estabelecido em terras brasileiras. Passou a infância no Brasil até aos nove anos, quando a família se estabeleceu em Joane, concelho de Famalicão. Em 1866 inscreveu-se na Universidade de Coimbra, em Matemática, tendo optado depois por Filosofia. Foi um brilhante aluno, tendo-se doutorado em Coimbra, onde foi professor. Em 1872 atingiu a maioridade e optou pela nacionalidade portuguesa. Foi presidente da República Portuguesa por duas vezes. Primeiro, de 6 de agosto de 1915 até 5 de dezembro de 1917, quando Sidónio Pais, à frente de uma junta militar, dissolve o Congresso e o destitui, obrigando-o a abandonar o país. Mais tarde, em 1925, volta à presidência da República para, um ano depois, voltar a ser destituído pela revolução militar de 28 de maio de 1926, que instiuirá a Ditadura Militar e abrirá caminho à instauração do Estado Novo. Primeiro Ministro dos Negócios Estrangeiros da República, de 5 de outubro de 1910 até 3 de setembro de 1911 e o primeiro Embaixador de Portugal no Brasil (1913). Foi duas vezes presidente do Ministério, de 9 de Fevereiro até 12 de Dezembro de 1914, e desde 2 de Março até 23 de Maio de 1921. http://pt.wikipedia.org/wiki/Bernardino_Machado
23 http://wikimapia.org/10070131/pt/Pra%C3%A7a-do-Com%C3%A9rcio-Reviver
outrora existente no local e onde foi erguida a Casa das Tulhas (Feira da Praia Grande). Situa-
se no centro nervoso da antiga área comercial da cidade. Em suas proximidades ocorreram as
primeiras reuniões dos comerciantes que, mais tarde, constituíram a Associação Comercial do
Maranhão, uma das mais antigas do Brasil. Em 28 de janeiro de 1953, teve seu nome mudado
para Praça Fran Paxeco, em homenagem ao cônsul português no Maranhão e um dos
fundadores da Academia Maranhense de Letras. Descaracterizada ao longo dos anos, com a
implantação do Projeto Reviver foi recuperada em seu traçado original, inclusive contando com
arborização e bancos de pedras de cantaria. Permanece conhecida por seu nome original
(Praça do Comércio). Hoje, a maior parte dela, é um grande estacionamento localizado na Praia
Grande (Projeto Reviver) (grifos meu)24.
Em correspondência eletrônica – datada de 13 de dezembro de 2013 - sua neta, Dra. Rosa
Machado, informa, lá de Portugal, o seguinte:
Não me tenho lembrado de comentar: sobre a placa de bronze que estava na Praça Fran
Paxeco, que entretanto voltou ao nome antigo (será por causa da falta da placa???), disseram-
me que está guardada numa casa lá na Praça. Seria interessante encontrar a placa e depositá-la
num Museu, ou na Fundação do Convento das Mercês, já que a cidade nada faz por voltar a dar
o nome à Praça. Se eu não tivesse ido a São Luís, continuaria convencida que a Praça tinha o
nome de Fran Paxeco...
Foi fundador da Academia Maranhense de Letras, da Faculdade de Direito, da Universidade
Popular, do Centro Republicano Português, do Instituto de Assistência à Infância, do Casino
Maranhense, da Associação Cívica Maranhense, da Câmara Portuguesa do Comércio, da Oficina dos
Novos, da Legião dos Atenienses, participou do revigoramento e reorganização da Associação
Comercial do Maranhão, entre outros organismos, todas as iniciativas relevantes.
Profere palestras literárias, cortejos e homenagens cívico-culturais, luta por modernos meios
de transporte, pelo incentivo à agropecuária, pela criação de um parque industrial, pela melhoria dos
serviços de saúde, pela urbanização da cidade. E tudo isso de par com atividades no magistério
público e particular, com diuturna atuação na imprensa, com viagens e trabalhos na Amazônia, com a
publicação de livros, com idas ao Rio de Janeiro e a Portugal25.
Na imprensa maranhense deixou uma colaboração tão diversificada e ao mesmo tempo
copiosa, que ainda hoje aguarda e reclama a seleção temática da qual resultarão seguidos volumes de
interesse para o estudo da vida maranhense. Tais volumes viriam somar-se às obras maranhenses
desse autor de vasta bibliografia que compreende assuntos tão variados quanto foram os campos de
interesse de seus estudos.
24 Praça do Comércio - Praça de muitas histórias. Segundo os pesquisadores, no ano de 1868, comerciantes da Praia Grande fizeram da praça um palco de grande confusão. Muitas pessoas foram presas sob suspeita de uso de cédulas falsas no comércio. Conhecida como Largo do Comercio, esta praça é portal de entrada do centro histórico de São Luis para quem chega por mar ou por terra. Também recebeu vários nomes como Fran Paxeco e Praia Grande. Como centro do comércio local, a Praia Grande em São Luis, durante os século XVIII e XIX, quando a cultura do algodão era o motor do desenvolvimento da cidade, colocando a cidade em contato permanente com a Europa. Aqui também se mantinha o comércio de escravos oriundos da África, para atuarem na lavoura do algodão e em serviços domésticos. Porém a partir da década de 30 houve redução da atividade econômica e outras opções de mercado surgiam com tecnologias mais avanças e crescia a infraestrutura de estradas e industrial em outras regiões do país. Mesmo com a decadência, permanecera, seus casarões intactos e com toda sua baliza arquitetônica, em estilo colonial português, fachadas revestidas de azulejos, pedra de cantaria. http://nossomaranhao.wordpress.com/2010/01/23/historias-dos-nomes-das-ruas-e-pracas-de-sao-luis-parte-ii/ 25 http://www.academiamaranhense.org.br/academicos/fundadores/05.php
Pertenceu a várias Associações Científicas:
Sociedade de Geografia de Lisboa; Sócio correspondente, admitido em 1 de Fevereiro de 1897.
Academia Maranhense de Letras, de que foi sócio fundador;
Academia Alagoana de Letras; (sócio correspondente);
Academia Piauiense de Letras; (sócio correspondente);
Société Académique d'Histoire Internationale; Medalha de Ouro. Paris, 27 de Junho de 1912.
Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano; Sócio correspondente, eleito em
24 de Novembro de 1913.
Academia de Ciências de Portugal; (sócio correspondente) eleito em 13 de Janeiro de 1915.
Associação de Imprensa do Amazonas;
Associação de Imprensa do Pará;
Centro de Ciências, Letras e Artes de Campinas (São Paulo);
Grémio Literário e Comercial Português, hoje, Grêmio Literário e Recreativo Português, Belém
do Pará;
Instituto Geográfico e Histórico da Bahia;
Instituto Histórico e Geográfico do Pará; Sócio Honorário,eleito em 12 de Maio de 1920.
Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Sócio correspondente, investido em 20 de
Novembro de 1925.
Liga Portuguesa de Repatriação; Belém do Pará: Sócio Benemérito, eleito em 26 de Junho de
1925.
Sociedade Portuguesa Beneficente; Belém do Pará: Sócio Benfeitor, eleito em 26 de Março de
1925.
Associação Dramática Recreativa e Beneficente; Belém do Pará: Sócio Beneficente, eleito em 5
de Julho de 1927.
Instituto Histórico de Pernambuco;
Instituto Histórico do Piauí;
Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro.
Casou com Isabel Eugénia de Almeida Fernandes, natural de São Luís do Maranhão, de quem
teve uma filha, Elza Paxeco, primeira senhora doutorada pela Faculdade de Letras da Universidade
de Lisboa.
Quero registrar que o nome oficial do Patrono desta Cadeira 21 é “MANUEL FRAN
PAXECO” 26, conforme Diário do Governo no. 268, de 25 de novembro de 1905. Informação
prestada por sua neta, a Dra. Rosa Machado em correspondência eletrônica particular...
Também recebemos da Sra. Rosa Machado, de Portugal, uma cópia de diploma dada a seu
avô, o cônsul de Portugal no Maranhão, Fran Paxeco27, o que nos suscitou saber mais desse
intelectual, por seu envolvimento com a Educação e, em especial, a Educação Física.
Em março de 1898 (O Pará, 08/03) saia o segundo numero de A Revista, com a colaboração
de Fran Paxeco, escrevendo sobre Teófilo Braga:
Pertencia também, já a essa época, à “Mina Litterária”, grupo de jovens literatos conforme se
depreende de noticia veiculada nesse mesmo jornal a 27/12/1897, em que se anunciava, além da
ordem do dia, o lançamento de “A Revista”. Em “O Pará” edição de 19 de março de 1898, Fran
Paxeco propõe a mudança de nome de “Mina Literária” para “Centro Litterário Paraense”. Ambrosio
de Jesus e Paiva o critica por querer mudar o nome da “Mina Literrária”; Fran Paxeco continuava nos
quadros da Mina, participando ativamente de seus saraus, e pronunciado palestras.
Membro da comunidade lusitana em Belém fazia parte da Comissão do Centenário Indiano,
em comemoração aos 400 anos da descoberta do Caminho para as Índias.
No mês de abril, em O Pará edição do dia 18, é descrita mais uma reunião da Mina Literária,
na qual Fran Paxeco teve ampla participação. As propostas de Fran Paxeco foram aceitas e
encaminhadas através de oficio às autoridades; ele passou a fazer parte das comissões que se estavam
formando, para se comemorar o descobrimento do Brasil. Propunha ele que se desse o nome de
26 O nome Manuel Francisco Pacheco foi alterado oficialmente para Manuel Fran Paxeco (Cf. o Diário do Governo n.º
268, de 25 de Novembro de 1905). In CARVALHO, Marcos Antônio de. BEBENDO AÇAI, COMENDO BACALHAU: PERFIL E PRÁTICAS DA SOCIABILIDADE LUSA EM BELÉM DO PARÁ ENTRE FINAIS DO SÉCULO XIX E INÍCIO DO SÉCULO XX. Tese de doutoramento em História apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto como requisito para obtenção do título de Doutor em História. Orientação: Profa. Doutora Maria da Conceição Coelho de Meireles Pereira. 2011. http://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/63200/2/TESEDOUTMARCOSCARVALHO000161479.pdf
27 VAZ, VAZ, 2013, obra citada. VAZ, VAZ, 2013b, obra citada, p 12. Disponível em http://issuu.com/leopoldogildulciovaz/docs/revista_ihgm_44_-
_mar_o_2013 VAZ, VAZ, 2013c, obra citada.
Pedro Álvares Cabral a uma rua, ou a uma praça, em Belém do Pará; e mais, que fosse feito um
congresso nacional comemorativo aos 400 anos do descobrimento. Em 04 de maio, Fran Paxeco
estava às voltas com os preparativos do Centenário do Descobrimento, ainda em Belém do Pará.
Na edição seguinte, aparece nota sobre seu aniversário e anunciado o lançamento de seu
primeiro livro – Sangue Latino, no Pará. Seu livro recebeu algumas críticas, desfavoráveis ao autor,
como se vê na coluna Livros, de “O Pará”, edição de 20 de março de 1898, escrita por Arthunio
Vieira.
O “Diário do Maranhão”, edição de 06 de março de 1899, dá-nos conta de Fran Paxeco
residindo ainda em Belém, em reunião da Mina Literária, ao mesmo tempo que são anunciados
novos números de A Revista, com a colaboração de Fran Paxeco.
Em O Pará de 11 de fevereiro de 1899 consta que ainda residia em Belém, quando do
lançamento do “Álbum Amazônico”, de autoria de Arthur Caccavoni, que teve a tradução do italiano
para o português por conta de Fran Paxeco.
Na edição de O Pará de 03 de março, Emilio Zoilo ao comentar artigo sobre regras
ortográficas do português refere-se ao estilo de escrita de Fran Paxeco.
O jornal “Commercio do Amazonas” em sua edição de 21 de junho de 1889 publica uma
crítica assinada por J. Brandão sobre o “Sangue Latino”, de Fran Paxeco:
No Diário do Maranhão, edição de 31 de julho de 1897, era informado que Fran Paxeco
assumira a direção do jornal amazonenses “Diário de Notícias”; e já em agosto, começa a polemica
com Arthunio Vieira, ex-redator daquele jornal (Diário do Maranhão, 02 de agosto).
Em setembro (O Pará do dia 18) uma nota sobre o que se passava em “Manaus”, envolvendo
novamente Arthunio Vieira e Fran Paxeco; tratava o colunista sobre a questão do Acre.
Novamente Arthunio Vieira assaca contra Fran Paxeco, em sua coluna “Manaus” (publicada a
03 de outubro). Deve-se ressaltar que Fran Paxeco tivera intensa participação na vida literária de
Belém antes de assumir a função de redator do Diário de Notícias, em Manaus; esses artigos
publicados em Manaus eram replicados em Belém pelo “O Pará”. Em nova publicação (O Pará, 21
de outubro), Arthunio Vieira novamente se refere à Fran Paxeco, em sua coluna; embora datada de
15 de setembro, chega à redação d´O Pará somente a 20 de outubro (nota da redação). Nesta nova
publicação, Arthunio refere-se ao fato de há um ano Fran Paxeco o substituira na redação do Diário
de Noticias.
Não obstante os ataques entre os redatores do Diário de Notícias de Manaus – o atual (Fran
Paxeco) e o ex (Arthunio) – vamos encontrar Fran Paxeco envolvido na constituição da Associação
de Imprensa amazonense, atuando como secretário da assembleia de fundação (A FEDERAÇÃO,
07/11/1899).
Nova nota sobre noticia publicada em outro jornal, envolvendo Fran Paxeco (A
FEDERAÇÃO, 08/11; 10/11/1899, outra nota). O que teria havido? Segundo o jornal “Commercio
do Amazonas”, edição de 07 de novembro de 1899 um funcionário da casa Souza & Cia – Almeida
Pimentel – tinha agredido a Fran Paxeco. O motivo? No-lo sabemos...
Em 20/12/1899, Fran Pacheco começa a escrever, em Manaus, sobre escritores e filósofos
portugueses, e de brasileiros que se destacam em Portugal. A Pacotilha de 03 de janeiro de 1900
registra a publicação desses artigos.
Na edição de 09 de julho de 1900 do Diário do Maranhão aparece a “estreia” de Fran Paxeco
num evento literário em São Luis, na primeira palestra realizadas no salão do Centro Caixeiral,
conforme anunciado. Presentes, Sousândrade, Pedro Nunes Leal, José Maria Correia de Frias, e o
Major Sergio Vieira. Tomou a palavra o Sr. Firmino Saraiva, e após Antonio Lobo; a seguir Fran
Paxeco fez seu pronunciamento; igual registro faz o jornal “A Pacotilha”. A palestra de Fran Paxeco
repercutiu na imprensa maranhense, merecendo várias citações, elogiando a erudição do mesmo e a
forma como expos seus pensamentos. Especial atenção que dedicou às senhoritas elegantes,
presentes ao salão do Centro Caixeiral...
A segunda palestra seria realizada a 12 de julho, tendo por tema O teatro brasileiro e Artur
Azevedo. Na edição de 13 de julho de “A Pacotilha” aparece longa crítica ao promunciamento de
Fran Paxeco, com um resumo da mesma e elogiando sua erudição; em outra coluna parace o anuncio
de uma revista da qual Fran Paxeco seria um dos responsáveis.
Nas edições de 25 e 28 de julho é anunciada nova palestra de Fran Paxeco nos mesmos
salões, ocasião em que seria inaugurada um retrato de Teofilo Braga. Também bastante elogiada,
como se vê nos jornais dos dias seguintes. Em “A Pacotilha” de 31 de julho de 1900 aparece longo
texto de Fran Paxeco rebatendo algumas criticas que recebera de sua palestra sobre Teofilo Braga...
estava se iniciando, tal como em Manaus, debates através da imprensa sobre a participação de nosso
biografado nas lides literárias...
Aparece novo anuncio de palestra, desta vez abordando a via e obra de “Eça de Queiroz e o
romace portugues” (Diário do Maranhão, 1º agosto 1900); também merecendo aplausos, por parte
dos presentes e da imprensa. Fran Paxeco aparece entre doadores de livros à Biblioteca Pública
Benedito Leite...
A 7 de agosto aparece noticia de que Teofilo Braga, instado por Fran Paxeco, publicaria as
obras completas de João Lisboa.
Na edição do Diário do Maranhão de 31 de agosto de 1900 um “A.A”.28 escreve que recebera
correspondencia de Fran Paxeco enviada ‘de seu saudoso Maranhão’ em que este comunicava que
aproveitava o ócio da convalescença de molestia que há seis meses o acometia e, em São Luis, estava
tão agradavel que pensava mesmo em lá permanecer: “sou-me tão grato que estou quase que capaz
de me deixar ficar aqui”, escrevia. Mais, que aproveitando o tempo, estava a escrever um volume de
200 paginas sobre Silvio Romero e a literatura portuguesa. Se refe às palestras que vinha ministrando
junto com “um inteligente rapaz, o Antonio Lobo, Diretor da Biblioteca Pública”:
28 Em correspondência eletrônica (13/12/2013), a Dra. Rosa Machado, neta de Fran Paxeco informa: “O AA que escreve sobre Vôvô julgo ser Alfredo de Assis (p 36). Davam-se muito bem; casou com uma prima de Vóvó, de nome Filomena. Faleceu com muita idade, e correspondia-se com minha Mãe e meu Pai.”
Em 29 de outubro é noticiado que Fran Paxexo estava de volta após viagem ao litoral do
Norte. E a 14 de dezembro aparece o livro sobre Silvio Romero:
Na edição de 31 de dezembro de 1900 do “Diário do Maranhão”, por ocasião das
homenagens ao Coronel Manoel Dias Vieira que deixava a presidencia da Camara dos Vereadores,
Fran Paxeco pede a palavra e ressalta que não estranhassem um estrangeiro falar naquela ocasião,
mas se pronunciava para agradecer a acolhida que recebera do homenageado, quando chegara a São
Luis. O que se nota que esses pronunciamentos nas mais diversas ocasiões, sejam homenagens,
saraus literários, encontros, apareciam publicados na imprensa, em forma de livretos, e distribuidos
aos mais diversos públicos, em especial encaminanhados aos jornais, que fazima a divulgação de que
os mesmos estavam a disposição do grande público; Fran Paxeco começa a ter seus trabalhos
publicados no Maranhão.
Parece-nos que Fran Paxeco fixa-se mesmo em São Luis. Tendo vindo passar uma
temporada, conforme ele mesmo afirma, para se restabelecer de doença, após seis meses na cidade já
pensava em deixar-se ficar por aqui. Sua aceitação por parte dos intelectuais maranhenses, e os
constantes convites para se pronunciar nos diversos eventos literários que ocorriam na cidade,
constituiram motivo para tal. Em março de 1901 sai a seguinte nota no Diário do Maranhão:
Nosso Patrono continuava a participar das mais variadas sociedades literárias que apareciam
em São Luis – assim como colaboração nas revistas literárias, como exemplo a Revista do Norte
- , conforme anuncio de mais uma palestra, desta vez na Associação Cívica Maranhense, durante
posse de novos ‘funcionários’ eleitos.
Em abril de 1902 Fran Paxeco publica uma serie de artigos – “Comunicado: o catão
Bethencourt”, sobre uma polemica surgida entre o ilustre –e vetusto – professor e AntoNio Lobo, na
qual Fran saiu em defesa deste. Há inclusive, uma carta esclarecendo uma briga que houvera em um
dos bondes da cidade, com agrassões mutuas, a qual Fran presenciara – sem se envolver.
Em 26 de junho de 1902 é anunciado uma serie de artigos intitulados “O Maranhão e seus
recursos”.
Fran Paxeco estava já integrado à vida maranhense... Encerro por aqui, buscando
esclarecimentos sobre a vida de Fran Paxeco nos anos em que chegou ao Brasil, tendo residido em
Belém e Manaus, antes de se fixar no Maranhão...
BIBLIOGRAFIA
CAMPOS, Humberto de. MEMÓRIAS E MEMÓRIAS INACABADAS. São Luis: Instituto Géia, 2009. CARVALHO, Marcos Antônio de. BEBENDO AÇAI, COMENDO BACALHAU: PERFIL E PRÁTICAS DA SOCIABILIDADE LUSA
EM BELÉM DO PARÁ ENTRE FINAIS DO SÉCULO XIX E INÍCIO DO SÉCULO XX. Tese de doutoramento em História apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto como requisito para obtenção do título de Doutor em História. Orientação: Profa. Doutora Maria da Conceição Coelho de Meireles Pereira. 2011 http://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/63200/2/TESEDOUTMARCOSCARVALHO000161479.pdf
Diário do Governo n.º 268, de 25 de Novembro de 1905. ITAPARY FILHO, Joaquim Salles de Oliveira. BREVES NOTAS SOBRE FRAN PAXECO. Palestra realizada na data da
abertura do II Feira do Livro de São Luís, Em 10 de outubro de 2008. SAMUEL, Rogel. FRAN PAXECO SEGUNDO HUMBERTO DE CAMPOS. In ENTRE-TEXTOS, publicado em 20/11/2011,
disponível em http://www.45graus.com.br/fran-paxeco-segundo-humberto-de-campos, entre-textos, 86963. html VAZ, Leopoldo. AINDA SOBRE FRAN PAXECO E A EDUCAÇÃO FÍSICA NO MARANHÃO. In CEV/Comunidade Educação
Física no Maranhão - Ponto de Encontro dos Profissionais, Estudantes e Pesquisadores em Educação Física e Esportes no Maranhão; quarta-feira, 17 de outubro de 2012 às 11h25min, disponível em http://cev.org.br/comunidade/maranhao/debate/ainda-sobre-fran-paxeco-e-educacao-fisica-maranhao-1/
VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. FRAN PAXECO E A EDUCAÇÃO FÍSICA NO MARANHÃO. Palestra proferida no Ciclo de Estudos e Debates do IHGM no dia 20 de fevereiro de 2013.
VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. FRAN PAXECO E A EDUCAÇÃO FÍSICA NO MARANHÃO. Revista IHGM, No. 44, março de 2013, p 12. Disponível em http://issuu.com/leopoldogildulciovaz/docs/revista_ihgm_44_-_mar_o_2013.
VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. FRAN PAXECO E A EDUCAÇÃO FÍSICA NO MARANHÃO. In VII EPCECEN – Encontro Pedagógico do CECEN: Multidimensionalidade da prática docente. São Luis, 3 a 5 de setembro de 2013. Anais... São Luis, UEMA, apresentação de trabalhos de pesquisa – 04/09/2013 – Ciências Humanas e Sociais – Interdisciplinar.
VIEIRA DA LUZ, Joaquim. FRAN PAXCO E OUTRAS FIGURAS MARANHENSES. Rio de Janeiro: Livros de Portugal, 1957. https://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Fran_Paxeco http://www.academiamaranhense.org.br/academicos/fundadores/05.php http://hemerotecadigital.bn.br/ jornal “O Pará” – 1890 a 1889 jornal “Diário do Maranhão” – 1890 a 1910 jornal “Commercio do Amazonas” – 1890 a 1889 jornal “A Federação” – 1890 a 1889 jornal “A Pacotilha” – 1900 a 1930
Projeto Maria Firmina dos Reis
9ª CONVOCATÓRIA
Para que possamos atingir as meta dos 190 poemas e dos “artigos e pesquisas, crônicas sobre
MFR” a tempo de lançarmos, na data prevista, as duas Antologias pedimos a sua adesão a esse
projeto que é uma missão de amor a essa grande brasileira que não ocupa ainda o seu devido
lugar no cenário da cultura brasileira. Assim, envie as suas poesias (em homenagem a ela e
estudos, pesquisas e crônicas sobre a vida e obra de MFR)
Ficaremos agradecidos!
“CENTO E NOVENTA POEMAS PARA MARIA FIRMINA DOS REIS”
01 de Outubro de 2014 a 15 de setembro de 2015 (ou até quando completarem 190 Poemas)
APRESENTAÇÃO
A exemplo dos “Mil poemas para Gonçalves Dias”, esta proposta expressa o objetivo de divulgar a
vida e a obra de grandes nomes nacionais, em especial maranhenses, para além das fronteiras
continentais, ratificando a importância de, pela literatura e por trabalhos científicos engajados
politicamente, contribuir para a disseminação e adoção de estratégias que resultem na mudança
social, na direção de modelos de sociedades mais equânimes.
FINALIDADE
Prestar uma homenagem, em 2015, à Maria Firmina dos Reis (1825-1917), Patrona da Academia
Ludovicense de Letras, ano em que completará cento e noventa anos de nascimento.
Por outro lado tal proposta reafirma que esta Academia deve primar pela consecução da sua
finalidade, constante no seu Estatuto, qual seja: [...] o desenvolvimento e a difusão da cultura e da
literatura ludovicense, a defesa das tradições literárias do Maranhão e, particularmente, de São Luís,
a perpétua renovação e revitalização do legado da Atenas Brasileira, o culto às origens da cidade e à
sua formação pelas letras, a valorização do vernáculo e o intercâmbio com os centros de atividades
culturais do Maranhão, do Brasil e do exterior.
A proposta expressa o objetivo de:
- Divulgar a vida e a obra de grandes nomes nacionais, em especial maranhenses, para além das
fronteiras continentais, ratificando a importância de, pela literatura e por trabalhos científicos
engajados politicamente, contribuir para a disseminação e adoção de estratégias que resultem na
mudança social, na direção de modelos de sociedades mais equânimes.
- Conhecer a vida e a obra de Maria Firmina dos Reis e reconhecer a importância das motivações que
caracterizam a sua obra, tais como o romantismo, o nacionalismo e dentro destes a valorização dos
povos que iniciaram a história do nosso país.
- Apreender a importância do conhecimento e divulgação da vida e obra dos grandes nomes
nacionais, entre eles, o de Maria Firmina, que por algum tempo não teve o reconhecimento merecido
da sua obra.
- Compreender a urgência de otimização do potencial criador da criança e do adolescente e o papel
de mediação das Academias de Letras, num trabalho conjunto com a escola nessa perspectiva.
NORMAS DOS TRABALHOS
a) ANTOLOGIA “CENTO E NOVENTA POEMAS PARA MARIA FIRMINA DOS REIS”
- Cada Poeta poderá apresentar até cinco (cinco) poemas em homenagem à Maria Firmina dos
Reis. Formato A4, Times New Roman, tamanho 12, espaço 1, e enviar, adjunto, currículo literário
resumido (no máximo seis linhas), em que conste data de nascimento, cidade e país de origem; e-
mail, com foto atualizada,
- A aceitação dar-se-á na ordem de recebimento da (s) obra(s), até completar os 190 (cento e
noventa) poemas.
b) ESTUDOS E PESQUISAS: “SOBRE MARIA FIRMINA DOS REIS”
- Cada autor ou co-autor poderá enviar até dois (02) textos, com, no máximo, 10 (dez) páginas,
formato A4, Times New Roman, tamanho 12, espaço 1, incluindo bibliografia e fotos.
- Ao enviar sua obra, esta deverá vir acompanhada de pequena bio-bliografia, com foto atualizada e
e-mail, cidade e país de origem.
- A aceitação se dará na ordem de recebimento da (s) obra(s) até completar 300 páginas.
Envio de Poesias para: dilercy@hotmail.com
Envio de Trabalhos para: vazleopoldo@hotmail.com
CUSTOS:
As antologias adotarão o sistema consorciado, na qual os custos serão rateados entre autores que
receberão em livros os valores pagos.
ENTIDADES E ÓRGÃOS ENVOLVIDOS:
Academmia ludovicense de Letras-ALL, Academia Vimarense de Letras-AVM, Academia Caxiense
de Letras , Federação das Academias de Letras do Maranhão-FALMA, Instituto Histórico e
Geográfico do Maranhão-IHGM, Instituto Histórico e Geográfico de Guimarães-IHGG, Sociedade
de Cultura Latina do Brasil-SCLB, Cercle Universel des Ambassadeurs de la Paix suisse / France -
Delegação do Maranhão e Liceo Poético de Benidorm-Espanha - Delegação do Maranhão.
CONTAMOS COM A SUA PARTICIPAÇÃO! DIVULGUE PARA OS SEUS CONTATOS
PROJETO
BIBLIOTECA COMUNITÁRIA
Apresentado por
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
DJALDA MARACIRA CASTELO BRANCO MUNIZ29
Art. 2° A Academia tem por finalidade o desenvolvimento e a difusão da cultura e da literatura ludovicense,
a defesa das tradições literárias do Maranhão e, particularmente, de São Luís, a perpétua renovação
e revitalização do legado da Atenas Brasileira, o culto às origens da cidade e à sua formação pelas
letras, a valorização do vernáculo e o intercâmbio com os centros de atividades culturais do
Maranhão, do Brasil e do exterior. (ESTATUTO DA ACADEMIA LUDOVIENSE DE LETRAS).
O presente projeto visa instituir, junto às Associações de Moradores, Bibliotecas Comunitárias.
Especificamente a Biblioteca Comunitária do Bairro Vinhais Velho, como piloto.
As bibliotecas comunitárias funcionam como um eficaz equipamento no desenvolvimento cultural
das comunidades, ajudando na formação de novos leitores. Sua importância fica clara nas palavras de
Milanesi:
“A biblioteca/centro cultural, voltando-se para a população, falando à cidade e criando
condições para que a cidade fale, está desdobrando as suas ações e ampliando o seu papel;
enfim, prestando informações a quem dela precisar, seja qual for o seu nível (MILANESI, 1997,
p. 213).”
O acesso à informação propicia antes de tudo a formação do indivíduo, mas é também fator
preponderante no resgate da cidadania, da auto-estima e na integração social, diminuindo as
diferenças culturais, raciais, econômicas e educacionais, ajudando na construção de um olhar crítico
e de uma sociedade onde a exclusão social não seja a regra. Para isso elas deverão ser munidas de
29 Graduada em História Bacharelado pela Universidade Federal do Maranhão, pós-graduada em docência do ensino superior pelo IESMA, graduanda do curso de Biblioteconomia e bolsista pelo PIBIC, membro do Diretório Acadêmico do Curso de Biblioteconomia nas gestões 2013 a 2014 e 2015, estagiaria Supervisão de Bibliotecas escolares no ano de 2014, integrante do projeto de extensão Guia da Coruja. From: ivetedjalda@hotmail.com / To: vazleopoldo@hotmail.com / Subject: Biblioteca comunitária do vinhais velho / Date: Sat, 15 Aug 2015 16:36:20 +0000 Olá , Me chamo Djalda Muniz estudante de biblioteconomia da Universidade Federal do Maranhão e me interessei em lhe ajudar na implantação da biblioteca comunitária. Tenho uma equipe de estudantes muito interessada em lhe ajudar nessa empreitada no que for possível.
acervo bibliográfico e documental, além de mobiliário adequado, possibilitando ao seu usuário, o
livre e gratuito acesso à informação.
Este espaço de informação, biblioteca comunitária, deve estar bem localizada e dispor de
horários que atendam o público em suas necessidades, possuindo um acervo que possibilite serem
atendidas as demandas, tanto de materiais de entretenimento, quanto materiais educativos, nos
diversos formatos: livros, revistas, jornais, e outras mídias como a Internet, DVD’s, CD’s e outros.
Considerando que as bibliotecas das Unidades Escolares que atendem aos alunos do entorno do
Bairro Vinhas Velho – ou Vila Velha de Vinhais, como também é conhecida – não possui recursos –
materiais e/ou humano - que possibilitem sua abertura à comunidade do bairro do Vinhais Velho e
aos demais do seu entorno, em numero de oito, que freqüentam a Unidade Escolar Oliveira Roma e
as demais escolas comunitárias existentes na área (creches comunitárias), e um contingente de alunos
que se deslocam até o Bairro de Vinhais, onde cursam o Ensino Fundamental, torna-se ainda urgente
a criação de um espaço que possa atender a toda a comunidade.
Considera-se como entorno do Vinhais Velho a área de atendimento da Paróquia de São João
Batista do Vinhais Velho, composto por oito comunidades.
Assim, a União de Moradores do Bairro Vinhais Velho entende como uma de suas atribuições
a implantação de espaço de informação no Bairro, buscando para tanto parcerias institucionais e o
apoio da própria comunidade.
Objetivo Geral: Implantar no Bairro do Vinhais Velho – e demais comunidades de seu entorno - uma
biblioteca comunitária, buscando democratizar a informação e atender às necessidades informacionais
dos usuários dessas comunidades, oferecendo livre e gratuito acesso à informação, cultura e
entretenimento, desenvolvendo também atividades periódicas relacionadas a livro e leitura. Projeto piloto
que, após avaliação, poderá/deverá ser estendido a outros bairros.
Objetivos Específicos:
• Iniciar um processo educativo de formação de leitores, despertando na comunidade um interesse
ainda maior pela leitura;
• Estimular a preservação dos acervos enquanto bem público;
• Promover a formação do indivíduo, o resgate da cidadania, a auto-estima e a integração social;
• Reduzir as diferenças culturais, raciais, econômicas, educacionais e a exclusão social.
Público – Alvo:
Cerca de 500 jovens/mês atendidos pela escola pública do bairro, além de toda a comunidade do bairro e
demais comunidades de seu entorno. Considera-se o entorno a área da Paróquia de São João Batista do
Vinhais Velho, composto por oito comunidades.
Impacto:
Formação de um rede de jovens leitores no bairro e sua adjacência, diminuição das diferenças culturais e
dos índices de exclusão social na comunidade.
Metodologia
Aprovação do Projeto junto à ALL e à Associação dos Moradores do Vinhais Velho e à do
Recanto Vinhais;
Estudo de usuários e hábitos de leitura junto à Unidade Escolar Oliveira Roma – público
prioritário, e às demais escolas (públicas preferentemente) freqüentadas pelos futuros usuários,
assim como o público adulto residente na área de abrangência do Projeto:
Associação dos Moradores do Vinhais Velho
Associação dos Moradores do Recanto Vinhais
Associação dos Moradores do Residencial Vale
Outras comunidades do entorno desses bairros (Invasões)
Divulgação do projeto
a) Junto aos Membros da ALL, para arrecadação de livros de autoria dos mesmos
b) Junto aos Membros da Federação das Academias de Letras do Maranhão – FALMA – visando
doação de livros de seus membros, propiciando a divulgação de suas obras junto aos novos
leitores, em formação;
c) Junto aos membros da Academia Maranhense de Letras - AML - visando doação de livros de
seus membros, propiciando a divulgação de suas obras junto aos novos leitores, em formação;
d) Junto aos sócios do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – IHGM - visando doação
de livros de seus membros, propiciando a divulgação de suas obras junto aos novos leitores,
em formação.
Campanha de doações de livros e formação de acervo
a) Junto aos moradores dos Bairros do entorno do Vinhais Velho, freqüentadores da Paróquia de
São João Batista de Vinhais Velho – oito comunidades do entorno do Vinhais Velho;
b) Junto à entidades culturais
Adequação e/ou reforma do espaço
Aquisição de mobiliário
Capacitação de recursos humanos (voluntários)
Inauguração do espaço
Oficinas de incentivo à leitura
Palestra, encontro, recital, lançamentos de livros dos Membros da ALL, da FALMA, com
periodicidade mensal.
Cursos
Avaliação do projeto
ALUNOS DE BIBLIOTECONOMIA VOLUNTÁRIOS PARA A IMPLANTAÇÃO:
Coordenação:
DJALDA CASTELO BRANCO MUNIZ ivetedjalda@hotmail.com
Equipe de Voluntários:
HELLEN DAYANE FERREIRA ARAÚJO
- hellen_araujo1@live.com / 9 8195-8257
JANAINA BIANQUE DO NASCIMENTO (Bibliotecária) - jannabianque@hotmail.com /
99616-9563
EMYLA MAYARA LOPES DA SILVA
- emyle-sama@hotmail.com / 98910-0622
DULCE HIRLI COSTA ALMEIDA
- dulce_hirly@hotmail.com / 982078794/989038466
JOYCE MIRELLA DOS ANJOS VIANA
- johravardd@hotmail.com. / 981856923
JANAILTON LOPES SOUSA
- janailtonlopes20@gmail.com. / 982442338
O MARANHÃO FRANCÊS SEMPRE FOI FORTE E LÍDER
ANTÔNIO NOBERTO
O Maranhão é pioneiro. Ainda nos anos mil e quinhentos, a Ilha Grande, então Upaon-Açu, era
o principal porto e lugar de comércio do Brasil setentrional. Nativos e estrangeiros, principalmente
franceses, comercializavam e patrocinavam uma linha quase regular de navegação “entre Dieppe e a
Costa Leste do Amazonas”. No último quartel daquele século, o que era apenas um posto de
comércio, sem maior raiz, tornou-se morada definitiva dos corsários gauleses, vindos de Dieppe,
Saint-Malo, Havre de Grace e Rouen, que aqui deixavam seus trouchements (tradutores) que viviam
simbioticamente com os tupinambás (escreve-se sem “s” mesmo).
Entre estes estava David Migan, o principal líder francês desta época. Ele era o “chefe dos
negros” (índios) e “parente do governador de Dieppe”. Tinha a seu dispor cerca de vinte mil
guerreiros silvícolas e residia na poderosa aldeia de Uçaguaba (atual Vinhais Velho), apelidada de
Miganville.
Vale lembrar que, nesta época, o último reduto português era a fortaleza do Natal, edificada em
1599 por Mascarenhas Homem com a participação de Jerônimo de Albuquerque. Todo o Brasil
setentrional estava completamente abandonado pelo colonizador luso e, portanto, nas mãos de
comerciantes de outras nações, aí também incluídos ingleses, holandeses, espanhóis, escoceses,
dentre outros. Este abandono fez o historiador maranhense João Lisboa declarar no livro Jornal do
Tímon que os franceses não invadiram o Maranhão.
Eles ocuparam uma terra vaga, desabitada, e que os donatários régios de Portugal e Espanha
estavam sujeitos às penas de comisso, pois já se passara mais de um século sem as terras terem sido
ocupadas. Na virada do século, segundo o padre e cronista Luis Figueira, que escreveu sua penosa
saga na Serra de Ibiapaba, os franceses no Maranhão contavam, inclusive, com “duas fortalezas na
boca de duas grandes ilhas”. Uma destas fortificações, por certo, era o Forte do Sardinha, localizado
no atual bairro Ilhinha, nos fundos do bairro Basa em São Luís. Esta, em mãos portuguesas, foi
nomeada de Quartel de São Francisco, que deu nome ao bairro. Servia de proteção ao lugar, em
especial, a Uçaguaba, reduto de Migan.
Os corsários franceses deste período não descansavam. Jacques Riffault, Charles des Vaux,
David Migan e Adolphe de Montville, na companhia de centenas de outros navegadores e selvagens
de diferentes tribos, se faziam presentes nos mais diversos recantos do Norte e Nordeste brasileiro,
geralmente entre o Potengi e o Amazonas.
O interior do Maranhão era bem conhecido por eles. O Mearim, Itapecuru, Munim, Grajaú,
Tocantins e tantos outros eram vias utilizadas que ligavam o interior maranhense com o litoral e a
Europa. Nos outros recantos, a história faz menção a eles no constante comércio com os potiguaras,
no porto do Rifoles – na margem direita do Rio Potengi, onde foi construída a Base Naval Brasileira
em 1941, nomeada inicialmente de Base Naval do Rifoles –; nos dois ataques à Fortaleza do
Cabedelo, na Paraíba, realizadas em 1591 e 1597.
Nesta última, Migan foi gravemente ferido, mas sobreviveu. Foram eles que fundaram o
núcleo urbano de Viçosa do Ceará, sendo que a cidade ainda hoje conserva os topônimos do legado
francês. As duas principais ruas da cidade são: José Siqueira ou Rua Paris e Rua Pedra Lipse, que
acessa o principal ponto turístico do município, a Igreja do Céu. O Pará e o Rio Amazonas eram
lugares bem conhecidos destes navegadores. Quando Francisco Caldeira Castelo Branco partiu do
Maranhão para fundar Belém (1615) levou consigo Des Vaux e Rabeau para auxiliarem na
navegação e nos primeiros contatos com os índios de lá.
No período fundacional a liderança continuou, desta feita, em mãos oficiais, através dos
Generais Daniel de La Touche de La Ravardière, François de Razilly e Nicolas D’harlay. No
Maranhão e terras vizinhas não se fazia guerra a outras tribos sem a aprovação dos ditos generais. A
partir da França Equinocial o Maranhão passou compreender parte do Ceará (desde o Buraco das
tartarugas – Jericoacoara), o que foi referendado pelo governador geral do Brasil e, poucos anos
depois, quando da divisão do Brasil, em 1621, estendendo o território até o Mucuripe, serviu de
marco para a criação do Estado do Maranhão, com capital em São Luís compreendendo ainda o
Ceará e o Grão-Pará. Tal divisão era praticamente igual aos limites extra-oficiais do empreendimento
capitaneado por La Ravardière.
Hoje estes lugares freqüentados pelos franceses fazem marketing de graça para o Maranhão,
pois conservam esta história através da literatura e do turismo. Na Fortaleza de Santa Catarina
(antigo Forte do Cabedelo-PB) nos panfletos distribuídos aos visitantes, constam os ataques
franceses ao lugar. Em Viçosa do Ceará (lembre-se que o Ceará não nasceu no litoral, mas em
Viçosa em razão das investidas gaulesas ao local) os principais livros de história são fiéis a este
momento. De um deles transcrevemos: “a ocupação de Viçosa teve início quando os franceses vindos
do Maranhão em 1590… estabeleceram um núcleo urbano com o apoio das tribos da Serra Grande”.
Em Belém, no Forte do Castelo, marco inicial do estado, hoje transformado em museu, um dos
painéis mostra a precedência de Daniel de La Touche na região, o estabelecimento da França
Equinocial para, em seguida, surgir a capital paraense.
E não parou por aí. No século XIX França e Inglaterra ditaram muito dos modos e costumes
dos maranhenses, que mantinham com seus gostos e gastos duas colônias estrangeiras. Vivia-se o
conforto inglês e o luxo francês. Muitos comerciantes afluíam de diversas regiões para comprar “o
que de mais novo chegava de Paris no último vapor”. O comércio caminhava a reboque dos ideais
iluministas que faziam a cabeça da população. E esse modelo alienista foi implantado porque os
jovens das famílias abastadas “iam, não raro, formar-se na Inglaterra e na França” (SPIX e
MARTIUS, 1981, p.246), prevalecendo, contudo, o modo de vida copiado de Paris.
Era de São Luís que “exalavam os ares de civilização” para toda a parte norte do Brasil, pois não era
de se admirar que os estrangeiros a vissem como a quarta cidade brasileira, “a Princesa em meio à
Plebe das cidades nortistas.” (TOURINHO, 1990, p.23), e para onde inúmeros visitantes, com os
mais diversos interesses, afluíam. Por conveniência, citamos o que nos conta George Gardner em seu
livro “Viagem ao Interior do Brasil”, onde menciona que um amigo seu, vindo de Oeiras, então
capital da Província do Piauí, “embora major do exército era negociante e tinha vindo comprar
mercadorias européias” em São Luís.
Nossa história, por si só, responde a alguns questionamentos sobre o perfil histórico dos
maranhenses, em especial, dos ludovicenses. Tanto luxo e abastança têm raízes muito antigas, não é
de hoje. Não é à-toa que temos o casario mais pomposo do Brasil colonial. Refiro-me não a
quantidade, mas a qualidade dos edifícios. Observemos os de Recife e Salvador, por exemplo. Não é
por acaso que novelas (Da cor do pecado) e filmes (Carlota Joaquina), que retratam o período
colonial, foram gravados em São Luís. O coroamento de tudo isto veio na frase do francês Paul
Adam no início do século passado ao chamar São Luís de “A cidadezinha dos palácios e porcelana”
– La petite ville aux palais de porcelana.
Nas últimas décadas, mesmo sem apoio governamental, esta história insiste em não morrer.
Como certa vez disse o historiador Mário Meireles “A maior presença de franceses em São Luís é a
prova material de que a França Equinocial nunca acabou”.
Com tantas possibilidades de geração de emprego e renda através da história e do turismo, é
contraditório andarmos “com o pires na mão” mendigando a demanda alheia, como se fôssemos um
não lugar, sem história e sem rumo.
O quadricentenário é o melhor momento para resgatarmos nosso papel de líder, ao menos no
cenário regional. São Luís tem plenas condições de ter políticas de turismo próprias, trabalhando em
parceria, porém sem esquecer que o cetro da liderança continua a nosso dispor. A um estalo de
dedos.
Um pouco de visão e coragem poderá fazer toda a diferença.
Publicação Original: http://www.netoferreira.com.br/poder/2011/11/o-maranhao-frances-sempre-foi-
forte-e-lider/
Posted on September 23, 2015 in Uncategorized
QUEM, AFINAL, FUNDOU SÃO LUÍS?
PODEMOS CONSIDER RIFFAULT, DES VAUX, E DAVI MIGAN COMO OS
PRÉ-FUNDADORES ?
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão
Academia Ludovicense de Letras
PINTO, Fulgêncio. In A Pacotilha, São Luis, 27 de novembro de 1927
"Des Vaux e Migan desempenham papéis tão ou mais vitais para
a França Equinocial quanto alguém como La Ravardière,
personagem que a historiografia optou por reter".
(PERRONE-MOISÉS, 2013) 30.
A hoje Vila Velha de Vinhais – a Uçaguaba dos Tupinamás - é ocupada desde tempos
imemoriais, pelos Tremembés, depois pelos Tupinambás, e antes, pelos povos dos sambaquis
(BANDEIRA, 2013) 31·.
Depois, chegando em 1590, e se estabelecendo em 1594, Riffault, Des Vaux, e Davi Migan...
E fundam Miganville, mais junto à aldeia de Uçuaguaba, a primeira povoação ocupada
continuamente desde então por europeus, na grande ilha do Maranhão.
O Padre Claude D'Abbeville, quem primeiro escreveu sobre o Maranhão e seus habitantes, pela
sua descrição, a aldeia de índios localizada no hoje Vinhais Velho foi o primeiro núcleo residencial
dos brancos que se estabeleceram no Maranhão. Os demais habitavam as aldeias então existentes. A
primeira a ser ocupada, foi Eussauap32.
30 PERRONE-MOYSÉS, L. CINCO SÉCULOS DE PRESENÇA FRANCESA NO BRASIL: INVASÕES, MISSÕES, IRRUPÇÕES. São
Paulo: Edusp, 2013.
FALEIROS, Álvaro. Presença francesa no Brasil. ESTUD. AV. [online]. 2013, vol.27, n.79 [cited 2015-08-24], pp. 277-280 . Available from: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142013000300020&lng=en&nrm=iso>. ISSN 0103-4014. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-40142013000300020.
31 BANDEIRA, Arkley Marques. VINHAIS VELHO – Arqueologia, História e Memória. São Luis: Ed. Foto Edgar Rocha, 2013. 32 D´ABBEVILLE, Claude. HISTÓRIA DA MISSÃO DOS PADRES CAPUCHINHOS NA ILHA DO MARANHÃO E TERRAS
CIRCUNVIZINHAS. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: USP, 1975.
Segundo Capistrano de ABREU, “EUSSAUAP - nom do lieu, c'est à dire le lieu ori on mange
les Crabes”. - Bettendorf leu em Laet Onça ou Cap, que supôs Onçaquaba ou Oçaguapi; mas tanto na
edição francesa, como na latina daquele autor, o que se lê, é EUSS-OUAP33.
Na história da Companhia de Jesus na extinta Província do Maranhão e Pará, do Padre José de
Morais34, está Uçagoaba, que com melhor ortografia é Uçaguaba composto de uçá, nome genérico do
caranguejo, e guaba, particípio de u comer: o que, ou “onde se come caranguejos”.
Ludwig Schwennhagen (1924) 35 estranha a ‘censura’ ao livro do primeiro cronista do
Maranhão, com a supressão de três capítulos, justamente os que falam da ‘cidade’ de São Luis, já
que aquele sacerdote descreve todas as aldeias instaladas na Ilha e adjacências.
Saíram a visitar a Ilha os lugares-tenentes de Daniel de La Touche, De Rasilly, o Barão de
Sancy e os padres D' Abbeville e Arséne de Paris acompanhados de um antigo morador de Upaon-
Açú, de nome David Migan:
"levaram-nos os índios, de canoa, até Eussauap, onde chegamos no sábado seguinte ao meio-
dia. O Sr. de Pizieux e os franceses que com ele aí residiam receberam-nos com grande
carinho" (D’ABEVILLE, 1975)36.
33 IN nota de pé de página em D´ABBEVILLE, Claude. HISTÓRIA DA MISSÃO DOS PADRES CAPUCHINHOS NA ILHA DO
MARANHÃO E TERRAS CIRCUNVIZINHAS. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: USP, 1975. 34 MORAES, José de. HISTÓRIA DA COMPANHIA DE JESUS NA EXTINTA PROVÍNCIA DO MARANHÃO E GRÃO-PARÁ Rio de
Janeiro : Alhambra, 1987. 35 SCHWENNHAGEN, Ludwig. São Luis na antiguidade. A PACOTILHA, São Luis, 7 de outubro de 1924.
As aldeias do Maranhão tinha até quatro cabanas, medindo de 26 a 30 pés de largura por 200 a
500 pés de comprimento, segundo o número de pessoas que nelas habitavam. Algumas aldeias
possuíam de 200 a 300 habitantes, outras de 500 a 600, e às vezes mais. As casas eram dispostas em
forma de quadrado, havendo uma praça grande e bonita ao centro.
Des Vaux é quem negocia o local onde seria instalado o forte e o convento dos religiosos, nas
colinas desocupadas, onde não se encontravam instalados os primitivos habitantes:
[...] O padre Abbeville enumera no seu livro 27 aldeias dos Tupinambás, explica a situação
geográfica de todas elas, dá todos os nomes, conta o número de habitantes de cda uma; mas o
livro não contem qualquer noticia a respeito da situação da cidade dês. Luis. Em vão
procuramos alguma indicação a respeito das colinas onde foi construído o forte e onde estavam
as habitações dos antigos moradores. Ele narra que, na sua chegada, o francês Dês Vaux tratou
longamente com o “príncipe” da ilha e com os outros principais, para lhe cederem eles um
pequeno terreno, onde pudessem fazer o forte, e entregassem a metade da colina de Santo
Antonio, para nela fundar um estabelecimento religioso. Os chefes dos índios cederam esses dois
pontos, que não estavam ocupados. Mas isso quer dizer, que as outras partes do território, onde
está hoje S. Luis, eram ocupadas pelos antigos habitantes. (PINTO, 1927) 37.
Ferro (2012, 2014) 38; e Ferro e Ferro (2012) 39 afirmam que La Ravardière não fundou sozinho
São Luís:
O cofundador da cidade, a quem esta, na verdade, deve o nome, foi o Senhor de Razilly, de
Oiseaumelle e de Vaux-en-Cuon, nascido em 1578, originário da região de Touraine.
Já na cerimônia de 1º de novembro de 1612 – de afirmação da autoridade da Coroa francesa e
cunho especificamente político e complementar àquela de 8 de setembro –, em que os indígenas
chantaram o estandarte real, contendo as armas da França, junto da cruz anteriormente cravada
no solo da Ilha do Maranhão, o mesmo personagem e seu sócio La Touche decretaram as
importantíssimas Leis Fundamentais da França Equinocial, marco legal pioneiro de
manifestação de natureza constituinte elaborada nas Américas.
Foi ainda o almirante Razilly quem, de volta à França, salvou da destruição um ou mais
exemplares, não obstante o desaparecimento de algumas partes, da obra Seguimento da História
das coisas mais memoráveis, ocorridas no Maranhão nos anos de 1613 e 1614, de Yves
d’Évreux, cuja publicação fora autorizada em 1615 para, logo em seguida, ser abortada.
E, todavia, François de Razilly é o fundador esquecido de São Luís.
Em seu último livro o Embaixador Vasco Mariz40 fala-nos da tríplice fundação do Rio de
Janeiro: Villegagnon41, Mem de Sá, e Estácio de Sá, este considerado o fundador. Mas antes do
36 D´ABBEVILLE, Claude. HISTÓRIA DA MISSÃO DOS PADRES CAPUCHINHOS NA ILHA DO MARANHÃO E TERRAS
CIRCUNVIZINHAS. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: USP, 1975. 37 PINTO, Fulgêncio. Um conto de natal. In A PACOTILHA”, de 25 de novembro de 1927 38 FERRO Ana Luiza Almeida. “O fundador esquecido”, Jornal O ESTADO DO MARANHÃO, 9 set. 2012; FERRO Ana Luiza Almeida. “O fundador esquecido II”, jornal O ESTADO DO MARANHÃO, 8 set. 2012; FERRO Ana Luiza Almeida. 1612 – os papagaios amarelos na Ilha do Maranhão e a fundação de São Luis. Curitiba: Juruá,
2014 FERRO Ana Luiza Almeida . O fundador esquecido. In ALL EM REVISTA, vol.1, n. 3, julho a setembro de 2014, disponível
em ISSUU - All em revista vol 1, n 3, julho setembro 2014 by . FERRO Ana Luiza Almeida. O fundador esquecido. BLOG DO IHGM, São Luis, quarta-feira, 10 de setembro de 2014,
disponívl em In http://ihgm1.blogspot.com.br/2014/09/o-fundador-esquecido-iii.html 39 FERRO Ana Luiza Almeida; FERRO, Wilson Pires. “São Luís, herdeira da França Equinocial”, jornal O IMPARCIAL, 8 set. 2012.
marco fixado em 1º de março de 1565, quando considerada oficialmente fundada a cidade, duas
outras ocupações urbanas existiram, sendo a primeira delas a chamada Henriville, que se situava em
terra firme – na atual Praia do Flamengo, em frente à ilha de Serigipe, onde estabeleceu o Forte
Coligny42.
Mapa francês da baía de Guanabara, c. 1555. Note-se o "Fort de Coligni" no interior da baía. https://pt.wikipedia.org/wiki/Forte_Coligny
Mariz (2015) afirma ainda que aquela vila tivera vida efêmera, resistindo pouco mais de quatro
anos, não chegando a ser uma verdadeira cidade, constituída administrativamente. Jean de Léry
negou até sua existência. Era apenas um conjunto de casas de frágil construção com um plano inicial
de urbanismo. Estava localizada entre o rio Carioca e o morro da Glória, e lá havia sessenta
franceses, renegados normandos, e indígenas; em março de 1560 a esquadra de Mem de Sá cercou a
ilha de Serigipe e a bombardeou, e, em seguida comete o erro de destruir completamente a pequena
povoação43.
Max Justo Guedes consideraVillegagnon como o pré-fundador do Rio de Janeiro, embora
alguns historiadores discordem da classificação de gênero pré. (MARIZ e PROVENÇAL, 2015;
MARIZ, 2015, p. 71) 44.
Arno Wehling lembra que a cidade de Buenos Aires tambem teve dois fundadores: Pedro de
Mendoza, em 1536, com uma efemera instalação (tal como Henriville...), e Juan de Garay, em 1580
(MARIZ, 2015, p. 71).
Conforme interpretação de Evaldo Cabral de Melo tanto o Rio de Janeiro quanto Buenos Aires
tiveram dois fundadores. Elysio Belchior considera Henriville apenas o embrião de uma cidade que
40 MARIZ, Vasco. PELOS CAMINHOS DA HISTÓRIA – nos bastidores do Brasil Colônia, Império e República. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2015. 41 https://pt.wikipedia.org/wiki/Nicolas_Durand_de_Villegagnon 42 MARIZ, Vasco. A fundação do Rio de Janeiro - Henriville existiu? Conferência sobre a existência da primitiva povoação
francesa na baía de Guanabara que antecedeu a fundação da cidade do Rio de Janeiro pelos portugueses. In IHGB: 13 de Março 2014, às 15 horas. http://www.ihgrj.org.br/agenda.html
43 MARIZ, Vasco. A fundação do Rio de Janeiro. Nem Villegagnon nem Estácio de Sá: Mem de Sá. In MARIZ, Vasco. PELOS CAMINHOS DA HISTÓRIA – nos bastidores do Brasil Colônia, Império e República. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015, p. 69-84
44 MARIZ, Vasco; PROVENÇAL, Lucien. OS FRANCESES NA GUANABARA: VILLEGAGNON E A FRANÇA ANTÁRTICA (1555 – 1567). 3ª. Ed. Revista e ampliada. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015
não veio a ser. Alguns historiadores julgam que Vilegagnon não pode ser considerdo o fundador
porque não houve continuidade na implantação (MARIZ, 2015, p. 71).
"Isle e Fort des François": ilustração do ataque português de março de 1560 ao Forte Coligny. In: THEVET, André. "La Cosmographie Universelle" (Paris, 1575). https://pt.wikipedia.org/wiki/Nicolas_Durand_de_Villegagnon
No livro de Thevet45 há dois mapas onde está assinalada claramente a localização da aldeia de
Henriville.
Mapa onde se encontra indicada a França Antártica (Thévet, "Les singularitez de la France Antarctique"), https://pt.wikipedia.org/wiki/Fran%C3%A7a_Ant%C3%A1rtica
Quando os franceses foram lançados do Rio de Janeiro (1567) passaram para Cabo Frio e daí
para o Rio Real, entre Bahia e Sergipe. Escorraçados dessas paragens, procuraram se estabelecer nas
costas da Paraíba e do Rio Grande do Norte. Diferenciando ocupação de incursão, as primeiras
tentativas de ocupação de sítios na área tenham ocorrido depois do fracasso da França Antártica -
empurrados do sul os franceses se fixaram no litoral norte-rio-grandense, especialmente no estuário
do Potengi.
De acordo com Frei Vicente do Salvador46, no Rio Grande os
"[...] franceses iam comerciar com os potiguares, e dali saíam também a roubar os
navios que iam e vinham de Portugal, tomando-lhes não só as fazendas mas as pessoas,
e vendendo-as aos gentios para que as comessem [...]".
45 https://pt.wikipedia.org/wiki/Les_singularitez_de_la_France_Antarctique 46 SALVADOR, Frei Vicente do. HISTÓRIA DO BRASIL. Edição revista por Capistrano de Abreu. Brasília: Senado Federal,
Conselho Editorial, 2010.
A Capitania do Rio Grande constituiu o segundo lote doado a João de Barros e a Aires da
Cunha, da foz do rio Jaguaribe a norte, até à Baía da Traição, a sul. Tendo o empreendimento de
ambos sido direcionado ao primeiro lote (a Capitania do Maranhão), devido às dificuldades ali
encontradas em 1535, este segundo lote permaneceu abandonado47.
O principal porto frequentado pelos franceses na Capitania do Rio Grande era o rio Potengi,
onde também se detinham navios ingleses. Naquele ancoradouro se procediam aos reparos
necessários nas embarcações e obtinham-se provisões frescas ("refrescos")48.
Dentre os corsários que estiveram por esses lados, estava Jacques Riffault que, com o passar do
tempo, o local onde ancorava a sua nau, no Potengi, passou a ser chamado de Refoles ou mesmo
Rifoles49.
Jacques Riffault negociou madeiras, como o pau brasil, que existia em abundância na margem
esquerda do rio Potengi e, principalmente pelo lado direito onde havia a chamada Mata Atlântica.
Levaram madeiras do Rio Grande do Norte e até do Rio de Janeiro. Na hoje Natal, a boa amizade
com que Riffault tratava os índios, dava-se à falta de colonização efetiva do território.
Só no final do século XVI os portugueses se armaram e expulsaram os franceses de Natal - que
nem tinha ainda esse nome. A conquista do Norte foi uma operação de limpeza contra franceses que
queriam fixar-se nestas partes da América.
Entre Pernambuco e a Amazônia estendia-se uma área que ainda não se encontrava,
propriamente, integrada na unidade da Colônia. A presença dos povoadores não se fazia, então, nessa
parte do litoral. Era preciso partir para a conquista, batendo-se com invasores e índios, seus aliados50.
Gabriel Soares de Sousa reforça que a conquista da Paraíba (a qual acrescento a do Rio
Grande) deveria ser um posto avançado que desse proteção à lavoura canavieira de Itamaracá e
Pernambuco, freqüentemente atacada pelo índios potiguares.
Essa estância pertenceu a Jacques Riffault mais conhecido por Refoles. Foi o mesmo Refoles quem negociou antes da descoberta do Brasil (sic) com os índios potiguares espelhos, tintas e outros objetos em troca de pau-brasil, de modo especial as existentes na margem direita do rio Potengí. Essa foto mostra o local onde ficava o corsário francês a negociar com os silvícolas. Longe da colonização de Natal, Jacques Riffault negociou toda sorte de suprimentos e até as mulheres índias que partiram para a França51
47 http://pt.wikipedia.org/wiki/Capitania_do_Rio_Grande 48 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CONTRIBUIÇÕES PARA A HISTÓRIA DE CAMOCIM – CEARÁ. 49 http://pt.wikipedia.org/wiki/Invas%C3%B5es_francesas_do_Brasil 50 http://www.consciencia.org/ocupacao-do-litoral.a-conquista-do-norte-e-a-penetracao-da-amazonia-historia 51 CAMARA CASCUDO, Luis da. REFOLES http://www.flickr.com/photos/alderico/7159126836/FERREIRA, Laélio. DE
RIFFAULT AO REFOLES - OS FRANCESES . Postado por Manoel de Oliveira Cavalcanti Neto http://nataldeontem.blogspot.com.br/2010/11/de-riffault-ao-refoles-os-franceses.html
A expulsão dos franceses do litoral do Rio Grande, logo depois de sua expulsão da Paraíba,
tornou-se a pedra-angular da colonização, pois só assim estaria confirmada a conquista da região
pelos portugueses, porque era o Rio Grande que eles procuravam de preferência, pela sua
proximidade dos estabelecimentos e portos paraibanos e pela cordialidade de relações com os
potiguares, cujo apoio e auxílio lhes eram valiosos.
O Governador Geral Francisco de Sousa (1591-1602) pôs em marcha os planos para expulsar
os franceses e apaziguar os índios. Para consolidar a conquista, deveria ser construída uma fortaleza.
Para cumprir a missão foram escolhidos, por Carta Régia de 15 de março de 1597, o fidalgo
português Manuel de Mascarenhas Homem, Capitão-mor de Pernambuco, e Feliciano Coelho,
Capitão-mor da Paraíba, auxiliados pelos irmãos João e Jerônimo de Albuquerque, sobrinhos de
Duarte Coelho, primeiro donatário da capitania de Pernambuco.
Da Paraíba – reconquistada em 1575 – os portugueses passaram para o Rio Grande do Norte,
onde os franceses se haviam alojado sempre apoiados nos potiguares. Em 1596, dez anos decorridos
da sua expulsão da Paraíba, Manuel Mascarenhas Homem foi nomeado capitão das forças que
deviam expulsar os intrusos do Rio Grande e submeter os potiguares.
No mês de agosto de 1597, uma esquadra francesa composta por treze naus zarpou do rio
Potengi para atacar a fortaleza de Cabedelo, em Filipéia de Nossa Senhora das Neves, atual João
Pessoa; sabe-se que a alma da ofensiva é Riffault, que frei Vicente do Salvador chama Rifot e os
portugueses Rifoles e Refoles52. Outras sete embarcações (ou vinte, dependendo da fonte) ficaram
estacionadas, “esperando ordens” para reforçar a investida. Trezentos e cinqüenta arcabuzeiros
desembarcaram. Entre os dias 15 e 18, ocorreu, por terra e mar, o ataque, prontamente rechaçado
pelos colonos da Paraíba, o que obrigou os atacantes a retrocederem para o Rio Grande.
O comandante de um dos navios foi feito prisioneiro. Segundo o seu depoimento, uma
numerosa esquadra francesa estava sendo equipada e, no ano seguinte, estaria pronta para assaltar o
litoral brasileiro. O capitão mor da Paraíba, Feliciano Coelho, responsável por conduzir o
interrogatório ficou extremamente agitado e informou às autoridades superiores. O Governador-
Geral do Brasil, Francisco de Souza, apressou as providências necessárias e cumpriu as
determinações da Carta Régia de Felipe I, Rei da Espanha e de Portugal, que exigia a ocupação da
capitania do Rio Grande.
Mascarenhas Homem organizou uma expedição marítima, formada por 12 navios (sete navios
e cinco caravelões), comandada por Francisco de Barros Rego, e uma terrestre, composta por
companhias de infantaria e cavalaria, sob o comando de Feliciano Coelho. O encontro das forças
portuguesas aconteceu na foz do rio Potengi. Participando da expedição terrestre estavam jesuítas e
franciscanos – dentre os quais havia aqueles que conheciam a língua tupi – e centenas de indígenas,
originários da Paraíba e Pernambuco, pertencentes a tribos Tupi já controladas pelos colonizadores.
Vários negros da Guiné acompanhavam a expedição como burros de carga, conduzindo mantimentos
e petrechos de guerra. A ação não foi rápida - como queriam os portugueses -, pois a guarnição mais
poderosa, sob o comando de Feliciano Coelho foi acometida de bexigas, tendo que regressar à
Paraíba.
Manuel Mascarenhas Homem entrou na barra do Rio Grande e ali se fortificou, superado o mal
que impedira o prosseguimento da viagem de Feliciano Coelho; este, passado meses, se apresta e vai
juntar-se com sua gente a Manuel Mascarenhas, que passa a dar combate aos silvícolas, derrotando-
http://nataldeontem.blogspot.com.br/2009/02/jacques-riffault-refoles.html https://pt.wikipedia.org/wiki/Fran%C3%A7a_Equinocial http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/outra-tentativa 52 http://www.natalpress.com.br/cultura.php?id=8067
http://tribunadonorte.com.br/especial/histrn/hist_rn_2b.htm
os e acabando com a esperança gaulesa de ali ficar. Era o dia de Natal. O nome de Natal só veio com
a sua "descoberta", naquele 25 de dezembro de 1599. Dai por diante, os portugueses iniciaram a
construção do Forte que levou o nome dos Três Reis Magos.
Com a retomada do Rio Grande, que já se fazia até no interior do Estado, Portugal passou a
também perseguir os franceses do território do Maranhão53.
Os franceses demoraram a serem expulsos do Rio Grande do Norte por três motivos: porque
Portugal tinha uma população diminuta e grande parte dela estava envolvida “em manter conquistas
ultramarinas desde o Marrocos à China”, pela importância do comércio de especiarias orientais e
pela tibieza do Estado português em se fazer respeitar pela coroa francesa. Outro fator era que
aliança com os índios potiguares garantia uma boa retaguarda para os franceses.
Como se vê, os corsários franceses deste período não descansavam. Jacques Riffault, Charles
des Vaux, David Migan54, e Adolphe de Montville, na companhia de centenas de outros navegadores
e selvagens de diferentes tribos, se faziam presentes nos mais diversos recantos do Norte e Nordeste
brasileiro, entre o Potengi e o Amazonas55.
Barreto (2006; 2012) 56, ao narrar a história de Viçosa do Ceará, diz que, por volta de 1590,
franceses provenientes do Maranhão estabeleceram-se na Grande Serra, firmando suas bases junto às
principais lideranças Tabajaras. Esses franceses, em número de 16 milicianos, tinham no comando o
seu compatriota de nome Adolf Montbille (Adolphe de Montville). Lideravam os nativos o índio
Jurupariaçu e o irmão de nome Irapuã, também conhecido por Mel Redondo, se bem que o primeiro
tivesse suas possessões no reduto de Biapina ou Ibiapina (p. 12).
Atraídos por notícias de existência de ouro, o reduto transformou-se em verdadeira cidade, com
cerca de 12 mil indivíduos, incluindo rabinos, calvinistas e católicos se confundindo em suas
batalhas de pregação (p. 14). Por 14 anos os franceses estiveram ali, quando chega Pero Coelho, em
janeiro de 1604, acompanhado de cerca de cinco mil indivíduos, entre militares, índios validos,
velhos, mulheres e crianças. Ao cabo de seis meses os lusos triunfam; os franceses, aprisionados e
algemados, são conduzidos a Pernambuco.
Em 1607, chega ao local a Companhia de Jesus, chefiados por Francisco Pinto e Luis Figueira.
Em 1608, a 11 de janeiro, os índios tucurijus atacam a pequena aldeia; Luiz Figueira sobrevive... (p.
16).
Todo o Brasil setentrional estava completamente abandonado pelo colonizador luso e, portanto,
nas mãos de comerciantes de outras nações, aí também incluídos ingleses, holandeses, espanhóis,
escoceses, dentre outros. Vale lembrar que, nesta época, o último reduto português era a fortaleza do
Natal, edificada em 1599 por Mascarenhas Homem com a participação de Jerônimo de Albuquerque.
Este abandono fez o historiador maranhense João Lisboa declarar no livro Jornal do Tímon 57que os franceses não invadiram o Maranhão. Eles ocuparam uma terra vaga, desabitada, e que os
donatários régios de Portugal e Espanha estavam sujeitos às penas de comisso, pois já se passara
mais de um século sem as terras terem sido ocupadas.
53 Alderico Leandro, in http://nataldeontem.blogspot.com.br/2009/02/jacques-riffault-refoles.html, acessado em 25]/07/2015 54 natural de Vienne, no Delfinado, 55 BONICHON, Philippe; e GUEDES, Max Justo. “A França Equinocial”. In. HISTÓRIA NAVAL BRASILEIRA, primeiro volume,
tomo I. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação Geral da Marinha, 1975 BITTENCOURT, Armando de Senna; LOUREIRO, Marcello José Gomes; RESTIER JUNIOR, Renato Jorge Paranhos.
Jerônimo de Albuquerque e o comando da força naval contra os franceses no Maranhão. NAVIGATOR 13, P. 76-84 56 BARRETO, Gilton. VIÇOSA DO CEARÁ – História, fatos e fotos. Fortaleza: Pouchain Ramos, 2006 BARRETO, Gilton. VIÇOSA DO CEARÁ sob um olhar histórico. Fortaleza: Expressão Gráfica Editora, 2012. 57 LISBOA, João Francisco. JORNAL DE TÍMON – apontamentos, noticias e observações para servirem à História do
Maranhão. 2 volumes. Brasilia: Alhambra, s/d.
Conquistado o Rio Grande, os franceses perderam magnífico ponto de apoio na costa brasílica.
O comércio corsário atingia, porém, o seu ponto máximo. Não podiam voltar atrás. Expulsos da
Paraíba e do Rio Grande foram mais para o Norte58:
Em princípio do século XVII estabeleceram-se no Maranhão Jacques Riffault e Charles des
Vaux, que haviam desembarcado em 1594, na aldêa de! São Luis, onde, obtendo a amisade do
gentio, fundaram uma colonia.
De regresso á França, expoz Charles des Vaux ao rei Henrique IV seu plano de ali fundar uma
grande colonia francesa, já que se haviam frustrado as tentativas anteriores, desde as de
Villegagnon.
Mandou então Henrique IV ao Maranhão Daniel de Ia Touche, senhor de La Ravardíere, que
voltando á França, opinou pela execução do plano, cujas possibilidades estudou no proprio
local.59(Grifo nosso).
Antes mesmo da fundação da França Equinocial os colonos luso-brasileiros se haviam lançado
à conquista do Ceará, etapa da conquista do Maranhão, quartel-general dos franceses. Os portugueses
(e espanhóis) resolveram atacá-los. De passagem, porém, deveriam conquistar o Ceará. Caso
contrário, ficariam dominados, de Sul a Norte, até Rio Grande. Um vazio depois, em que os
selvagens poderiam armar-se e lutar. O Maranhão ficaria isolado. A unidade estaria quebrada.
O Padre Luis Figueira, em sua Relação do Maranhão (de 1608) confirma a presença de
franceses:
Mandamos recado a outra aldea para sabermos se nos quirião la e q' viessem alguns a falar cõ
nosco, e tãbem nos queriamos emformar dos q' tinhão vindo do maranhão q' la estavão
principalmente acequa dos frãcesez que tinhamos por novas que estavão la de assento com duas
fortalezas feitas em duas ilhas na boca do rio maranhão.
É de Jacques Riffault a primeira idéia de ocupação do Maranhão. Em 1594, animado pelas
boas relações que mantinha com o chefe selvagem Uirapive, se associou a outros aventureiros, e,
com meios suficientes, recrutou e veio para o Brasil em três navios, aportando no Maranhão, longe
do local do objetivo inicial, mas decidiu fixar-se ali como base de partida para outras incursões ao
longo do litoral brasileiro60.
Sua estada na região do Maranhão tinha começado por um acidente: já fazia viagens regulares
à região havia alguns anos, e perdera ali um de seus navios e fora obrigado a deixar parte de sua
tripulação. De acordo com o sitio “NAUFRÁGIOS NO BRASIL/MARANHÃO” consta que o
naufrágio da nau de Jacques Riffault se deu em 159061.
Para Bueno (2012) 62, Riffault - em 1593 -, retornando à França depois de ter inspecionado a
então denominada ilha do Maranhão, conseguiu convencer um rico cavalheiro francês, Charles de
58 http://www.ebah.com.br/content/ABAAAgDqMAG/historia-rio-grande-norte?part=6 59 FLEIUSS, Max. OS FRANCESES NO MARANHÃO, SUA RECONQUISTA PELOS PORTUGUESES. SARNEY, José; COSTA, Pedro. AMAPÁ: A TERRA ONDE O BRASIL COMEÇA. Brasilia: Senado Federal, 1999 60 INVASÕES FRANCESAS NO RIO DE JANEIRO E MARANHÃO http://www.ahimtb.org.br/confliext2.htm DAHER, Andrea. A conversão dos Tupinambá entre oralidade e escrita nos relatos franceses dos séculos XVI e XVII. HORIZ. ANTROPOL. [online]. 2004, vol.10, n.22, p. 67-92. ISSN 0104-7183. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-71832004000200004. http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-71832004000200004&script=sci_arttext SILVA, Paulo Napoleão Nogueira da. A FRANÇA NO BRASIL. 61 “NAUFRÁGIOS do BRASIL/MARANHÃO” http://www.naufragiosdobrasil.com.br/maranhao.htm https://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_do_Maranh%C3%A3o 62 BUENO, Eduardo. BRASIL, uma História. 2ª reimpressão. Rio de Janeiro: Leya, 2012
Vaux, a investir seu dinheiro numa expedição colonizadora. Em 15 de março de 1594, Riffault e Des
Vaux partiram para o Maranhão, com cerca de 150 colonos e soldados a bordo de três navios. Um
naufrágio e uma série de outras dificuldades fizeram fracassar a empresa (p. 84).
O dia era 26 de julho, o ano 1594, o local, a Ilha de Sant’ Ana:
Sr. Redactor, amigo. – Começo esta n´um dia memorável para a província: o em que Jacques
Rifault e Charles dês Vaux, primeiros franceses vindos ao Maranhão, chegaram à nossa ilha de
Sant’ –Anna, nome que lhe pozerão, com seus quatro capuchinos, no dia desta santa.63
Desse naufrágio, os tripulantes de dois navios franceses, dos três que formavam a frota de
Jacques Riffault, ficaram perdidos na ilha de Santana, e conviveram pacificamente com os índios
Tupinambás. Des Vaux foi um dos que ficaram com a gente de Usirapive – chefe tupi com quem
Riffault tinha selado aliança64. Aqui desembarcados, fundam um estabelecimento que se tornou o
"refúgio dos piratas” 65.
Charles Des Vaux aprendeu a língua dos índios e prometeu trazer-lhes outros franceses para
governá-los e defendê-los. De volta à França, Des Vaux conseguiu do rei Henrique IV que Daniel de
la Touche, senhor de La Ravardière, o acompanhasse ao Maranhão, para verificar as maravilhas que
lhe narrara, e prometeu-lhe a conquista da nova terra para a França.66
A segunda invasão acontece no Maranhão, a partir de 1594. Depois de naufragar na costa
maranhense, os aventureiros Jacques Riffault e Charles des Vaux estabelecem-se na região.
Diante do lucro obtido com o escambo, conseguem o apoio do governo francês para a criação de
uma colônia, a França Equinocial. Em 1612, uma expedição chefiada por Daniel de la Touche
desembarca no Brasil centenas de colonos, constrói casas e igrejas e levanta o forte de São Luís,
origem da cidade de São Luís do Maranhão.67
Os companheiros de Riffault, que ficam em terra tornam-se os “truchements“ - “tradutores” -
quando da chegada dos capuchinhos:
Os tradutores são geralmente franceses que viveram muito tempo no Brasil, onde praticavam o
comércio do pau-brasil e que se associaram à aventura colonial da França equinocial. Dois
desses tradutores aparecem nos textos e são citados como sendo os interlocutores aos quais os
índios se dirigiam, trata-se de Sieur des Vaux,68 francês de Touraine que se tornou líder de
guerra no Brasil sob o apelido de Itajiba (Arm Wrestling) e de Migan, que chegou ainda criança
ao Brasil e aí cresceu. Para os líderes indígenas, esses tradutores são, por sua vez, homens
brancos, mas também homens que falam sua língua, que compartilham de seus costumes e que
estreitaram alianças com eles (CASTELNAU-L’ESTOILE, 2013).69
63 DIÁRIO DO MARANHÃO, 7 de agosto de 1881. Secção Geral – Victória. Mearim, 26 de julho de 1881 64 http://pinheiroempauta.blogspot.com.br/2012/09/distribuicao-das-sesmarias-em-cuma.html 65 http://www.consciencia.org/ocupacao-do-litoral.a-conquista-do-norte-e-a-penetracao-da-amazonia-historia 66 http://planeta-brasil-turismo.blogspot.com.br/2010/05/maranhao-historia.html 67 A invasão francesa no Maranhão. http://deywison3d.blogspot.com.br/2009/04/invasao-francesa-no-maranhao.html 68 (10) Des Vaux, natural de Sainte Maure de Touraine, companheiro de Jacques Riffault, passou muitos anos no Brasil,
ele guerreou com os Índios sob o nome de Itajiba, braço de ferro. Partiu à França a pedido de seus companheiros para pedir ao Rei da França a incorporação do Maranhão à coroa.
69 CASTELNAU-L’ESTOILE, Charlotte de. Interações missionárias e matrimônios de índios em zonas de fronteiras
(Maranhão, início do século XVII). REVISTA TEMPO, vol. 19 n. 35, Jul. – Dez. 2013: 65-82
Os tradutores, os “truchements“, podiam ser em número suficiente para contatos de comércio,
porém, para a fundação de uma colônia duradoura, os franceses levaram ao Brasil crianças que
deveriam aprender a língua indígena nas aldeias:
O melhor “truchement“ da colônia foi David Migan de Dieppe (para o prenome ver Abbeville
Historia, 32 r.), um marinheiro que vivia no Brasil desde o tempo da sua juventude (“qui dés son
enfance avoit tousiours demeuré dans ce païs” Claude, Histoire,153 v.). Migan foi o seu nome
verdadeiro, talvez um pouco alterado para se pronunciar como “mingau“, produto conhecido na
colônia (“bouillie de farine”, ver Yves d’Évreux Suitte, 4 r./Denis 12). Ele foi chamado nos
momentos de conflitos entre índios e europeus (Suitte 150 v./Denis 151 r. seguintes) e pôde
restabelecer a autoridade dos franceses. Voltou com o Padre Claude à França, sendo
provavelmente quem, com os índios, apresentou uma dança para Marguerite de Valois.
Malherbe fala dessa dança em uma carta de 15.04.1613, citada em Leite de Faria (1961, p. 192-
193). Essa dança é também ilustrada numa folha volante de que falaremos depois. Sabemos que
Migan morreu na batalha entre portugueses e franceses, em 1615.
O segundo tipo social do “truchement” é representado por Charles des Vaux, que esteve no
Brasil em 1594, com uma expedição do capitão Riffault, no Maranhão, da qual fala Abbeville no
início do seu livro. Ele ficou ali e vivia como os índios,
segundo os seus costumes “se façonnant tousiours aux moeurs e coustumes du païs” (Abbeville,
Histoire, 13 r.) Voltou à França para convencer a corte de fundar uma colônia na região. De
volta ao Brasil, foi capturado nas guerras com os portugueses e morreu na cadeia em Portugal.
Foi um outro tipo de “truchement“: pode ter sido o segundo filho de uma família nobre sem
esperança de herdar o domínio e queria fazer fortuna na América. (OBERMEIER , 2005) 70.
Des Vaux é aprisionado por Feliciano Coelho, capitão mor da Paraíba – junto com 13
companheiros aqui deixados por Riffaul em 1594, quando do naufrágio na Ilha de Sant´Ana:
Ganhando a liberdade e retornando à França, tudo fez des Vaux para divulgar as riquezas da
região e incentivar sua colonização pelos franceses. Em 1604, Daniel de la Touche, senhor de La
Ravardiere, partiu da França para o Maranhão a mando de Henrique IV, levando à bordo des
Vaux. Sua expedição durou seis meses. (AVILA-PIRES, 1989) 71.
Para Rubem Almeida (1923) 72, esta se constitui a terceira etapa da conquista do Maranhão: a
segunda foi a da tntativas malogradas, ocorridas entre 1539 e 1594:
Mais afortunado, porém, foi o Frances Riffault, a quem as próprias tespestades (sic)– diz-se –
aos portugueses tão inimigas, vieram atirar ao littoral onde dominava a forte nação dos
Tupinambás, iniciando assim, a terceira etapa – a do Maranhão preza que franceses, holandezes
e verdadeiros donos vão disputar...
É dai, parece-nos razoável affirmar, que verdadeiramente começamos a ter historia. A
colonização é obra, ora de leigos, fidalgos alguns como Ravaediére, pirats outros, como de
Vaux, ora de missionários que se entregam à catechese.
70 OBERMEIER, Franz. Documentos inéditos para a história do Maranhão e do Nordeste na obra do capuchinho francês
Yves d’Évreux Suitte de l’histoire (1615). BOL. MUS. PARA. EMÍLIO GOELDI, sér. Ciências Humanas, Belém, v. 1, n. 1, p. 195-251, jan-abr. 2005.
71 AVILA-PIRES, Fernando Dias de. Mamíferos da França Equinocial (Maranhão, Brasil). REV. BRAS. ZOOL. [online]. 1989, vol.6, n.3, pp. 423-442. ISSN 0101-8175.
72 ALMEIDA, Rubem. No decorrer de 424 anos – ligeira synthese histórica do Maranhão. IN DIÁRIO DE SÃO LUIS, 28 de julho de 1923.
As "vantagens" de colonização do Maranhão eram propagadas desde 1594, quando alguns
náufragos franceses liderados por Jacques Riffault se estabeleceram na região. Charles des Vaux,
aprisionado no Ceará, regressou à França e difundiu a idéia de que se criasse uma colônia francesa
no litoral.73
A "ilha de Maranhão", como chamavam os franceses, e suas cercanias haviam sido povoadas
tardiamente pelos Tupinambá, em grande parte originários das zonas do litoral situadas mais a leste.
Quando, em 1612, os primeiros contatos com os capuchinhos foram estabelecidos, os índios ainda se
lembravam da chegada à região. Claude d'Abbeville afirma haver encontrado testemunhas oculares
daquela primeira vaga migratória, ocorrida provavelmente entre 1560 e 1580: "Muitos desses índios
ainda vivem e se recordam de que, tempos após a sua chegada na região, fizeram uma festa, ou
vinho, a que dão o nome de cauim […]" (ABBEVILLE, 1614, p. 261) 74.
Alfred Métraux (1927, p. 6-7) 75 cita outras narrativas concordantes com a de Claude
d'Abbeville, a fim de assegurar-se do período provável dessa primeira migração (entre 1560 e 1580),
especialmente a do português Soares de Souza (Tratado Descriptivo do Brasil) que afirma, em 1587,
que a costa atlântica, do Amazonas à Paraíba, era povoada pelos Tapuia. Essa primeira migração é a
única que teve como resultado, segundo Métraux, uma nova extensão dos Tupi.
Mas para os seus planos de Riffault e Des Vaux, um simples estabelecimento não significava
grande obra; pensaram em aí fundar uma colônia: a França Equinocial.76
Tanto comércio fez com bretões e normandos se estabelecessem com feitorias na Ilha Grande,
e um desses lugares era a aldeia de Uçaguaba/Miganville (atual Vinhais Velho), misto de aldeia e
povoação européia. O porto usado nessas atividades era o de Jeviré (Ponta d'Areia) (NOBERTO DA
SILVA, 2012) 77.
Quando a esquadra de Daniel de La Touche, Francisco de Rasilly e o Barão de Sancy a 6 de
agosto de 1612 vêem fundear frente a Jeviré (ponta de São Francisco), ali encontraram as feitorias
de Du Manoir e do Capitão Guérard (BITTENCOURT, 2008)78.
Bittencourt (2008, p. 64) informa que Jacei, filha do cacique Japiaçu era casada com Guérard, e
que a outra filha, Aracei, casada com o interpetre Sebastien. Des Vaux era casado com “Lua Cheia”,
também filha de Jupiaçu.
73 http://www.infoescola.com/historia/franca-equinocial/ https://books.google.com.br/books?id=vZ1DayOctt4C&pg=RA1-PA30&lpg=RA1-
PA30&dq=jacques+riffault+%2B+maranh%C3%A3o&source=bl&ots=ew-VavOAMv&sig=E9q4gaga6KTIoI7i1pdioEAUyGo&hl=pt-BR&sa=X&ved=0CCEQ6AEwATgKahUKEwiT3Pv85bfHAhUBEpAKHbfxA1U#v=onepage&q=jacques%20riffault%20%2B%20maranh%C3%A3o&f=false
74 DAHER, Andrea. A conversão dos Tupinambá entre oralidade e escrita nos relatos franceses dos séculos XVI e XVII, HORIZ. ANTROPOL. vol. 10 no. 22 Porto Alegre. July/Dec. 2004 http://dx.doi.org/10.1590/S0104-71832004000200004
75 MÉTRAUX, Alfred. Migrations historiques des tupi-guaranis. Paris: Maisonneuve Frères, 1927 citado por DAHER, Andrea. A conversão dos Tupinambá entre oralidade e escrita nos relatos franceses dos séculos XVI e XVII, HORIZ. ANTROPOL. vol. 10 no. 22 Porto Alegre. July/Dec. 2004 http://dx.doi.org/10.1590/S0104-71832004000200004
76 HISTÓRIA DO MARANHÃO http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_do_Maranh%C3%A3o FRANÇA EQUINOCIAL http://www.coladaweb.com/historia-do-brasil/franca-equinocial BANDECCHI, Brasil OCUPAÇÃO DO LITORAL. A CONQUISTA DO NORTE E A PENETRAÇÃO DA AMAZÔNIA.
http://www.consciencia.org/ocupacao-do-litoral.a-conquista-do-norte-e-a-penetracao-da-amazonia-historia 77 NOBERTO DA SILVA, Antonio (Organizador). FRANÇA EQUINOCIAL – uma história de 400 anos em textos, imagens,
transcrições e comentários. São Luis, 2012. 78 BITTENCOURT, Joana. ITAGIBA o braço de pedra da França Equinocial. São Luis: Grafic Aquarela, 2008
Du Manoir, Riffault, Des-Vaux e os piratas de Dieppe, encontravam-se fundeados no porto,
confirmam a presença continuada dos exploradores de todas as procedências nas costas do
Maranhão, e do Norte em geral: uma companhia holandesa presidida pelo burgomestre de
Flessingue, ingleses, holandeses e espanhóis negociando com os índios o pau-brasil; armadores de
Honfleur e Dieppe; o Duque de Buckigham e o conde de Pembroke e mais 52 associados fundaram
uma empresa para explorar o Brasil; espanhóis de Palos.
É quase inimaginável que todo esse aparato comercial existisse sem uma forte proteção das
armas. Some-se que o chefe maior de tudo isso era David Mingan, o Minguão, o "chefe dos negros"
(daí o nome de Miganville), que tinha a seu dispor cerca de 20 mil índios e era "parente do
governador de Dieppe". Por fim, a localização da fortaleza está exatamente no lugar certo de
proteção do Porto de Jeviré e da entrada do rio Maiove (Anil), que protegeria Miganville.
Pianzola, em sua obra “OS PAPAGAIOS AMERELOS – os franceses na conquista do Brasil
(1968, p. 34) apresenta decalque de mapa datado de 1627, cujo original desapareceu, feito em torno
de 1615 pelo português João Teixeira Albernaz, cosmógrafo de sua Majestade, certamente feito a
partir daquele que LaRavardiére deu ao Sargento- Mor Diogo de Campos Moreno durante a trégua
de 1614. O autor chama atenção para os nomes constantes dos mapas, entre os quais muitos de
origem francesa, ‘traduzidos’ para o português. Vê-se, na Grande Ilha dentre outros, Migao-Ville,
propriedade do intérprete de Dieppe, David Migan, seguramente um psudônimo, no entender de
Pianzola:
“[...] No último quartel daquele século, o que era apenas um posto de comércio, sem maior raiz,
tornou-se morada definitiva dos corsários gauleses, vindos de Dieppe, Saint-Malo, Havre de
Grace e Rouen, que aqui deixavam seus trouchements (tradutores) que viviam simbioticamente
com os tupinambá (escreve-se sem “s” mesmo). Entre estes estava David Migan, o principal
líder francês desta época. Ele era o “chefe dos negros” (índios) e “parente do governador de
Dieppe”. Tinha a seu dispor cerca de vinte mil guerreiros silvícolas e residia na poderosa aldeia
de Uçaguaba (atual Vinhais Velho), apelidada de Miganville[...].(NOBERTO SILVA, 2011).
Fonte: PIANZOLA, 1968, p. 34
Continuemos com Noberto Silva (2011) 79:
[...] Na virada do século, segundo o padre e cronista Luis Figueira, que escreveu sua penosa
saga na Serra de Ibiapaba, os franceses no Maranhão contavam, inclusive, com “duas fortalezas
na boca de duas grandes ilhas”. Uma destas fortificações, por certo, era o Forte do Sardinha,
localizado no atual bairro Ilhinha, nos fundos do bairro Basa em São Luís. Esta, em mãos
portuguesas, foi nomeada de Quartel de São Francisco, que deu nome ao bairro. Servia de
proteção ao lugar, em especial, a Uçaguaba, reduto de Migan.
FORTE DO SARDINHA
Quando da implantação da França Equinocial esse complexo passou para mãos oficiais.
Uçaguaba/Miganville passou a ser chamada pelos cronistas Claude Abbeville e Yves d'Evreux de "o
sítio Pineau" em razão de Louis de Pèzieux, primo do Rei, ter adotado o local como moradia.
Data de 1596 a visita de um Capitão Guérard, que armou dois navios, sendo um deles para o
Maranhão – Poste (atual Camocim) 80 -, – estabelecendo com regularidade as visitas à terra de
corsários de Dieppe, de La Rochelle e de Saint Malo. É nesse ano que o Ministro Signeley toma
como ponto de partida dos direitos da França nesta região, funcionando como uma linha regular de
navegação entre Dieppe e a costa leste do Amazonas81.
Datado de 26 de julho de 1603 há um arresto do tenente do Almirantado em Dieppe relativo a
mercadorias trazidas do Maranhão, ilha do Brasil, pelo Capitão Gérard. Meireles (1982, p. 34) traz
também Du Manoir em Jeviré; Millard e Moisset, também encontrados na Ilha Grande. Os
comandados de Du Manoir e Gérard chegam a quatrocentos; há esse tempo já dois religiosos da
Companhia de Jesus haviam estado no Norte do Brasil (PROVENÇAL, 2012) 82.
O interior do Maranhão era bem conhecido por eles. O Mearim, Itapecuru, Munim, Grajaú,
Tocantins e tantos outros eram vias utilizadas que ligavam o interior maranhense com o litoral e a
Europa. Nos outros recantos, a história faz menção a eles no constante comércio com os potiguaras,
no porto do Rifoles – na margem direita do Rio Potengi; nos dois ataques à Fortaleza do Cabedelo,
na Paraíba, realizadas em 1591 e 1597. Nesta última, Migan foi gravemente ferido, mas sobreviveu.
Foram eles que fundaram o núcleo urbano de Viçosa do Ceará, sendo que a cidade ainda hoje
conserva os topônimos do legado francês83. O Pará e o Rio Amazonas eram lugares bem conhecidos 79 http://www.netoferreira.com.br/poder/2011/11/o-maranhao-frances-sempre-foi-forte-e-lider/ 80 Não seria POTE - 81 PROVENÇAL, Lucien. LES FRANÇAIS AU BRÉSIL, LA RAVARDIÈRE ET LA FRANCE ÉQUINOXIALE (1612 -1615) par
Conférence du mardi 20 mars 2012. Texte intégral et illustration du conférencier mis en page par Christian Lambinet. SOCIÉTÉ HYÉROISE D'HISTOIRE ET D'ARCHÉOLOGIE
82 MEIRELES, Mário Martins. FRANÇA EQUINOCIAL. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; São Luis: Secretaria de
Cultura do Maranhão, 1982 83 BARRETO, Gilton. VIÇOSA DO CEARÁ – História, fatos e fotos. Fortaleza: Pouchain Ramos, 2006
destes navegadores. Quando Francisco Caldeira Castelo Branco partiu do Maranhão para fundar
Belém (1615) levou consigo Des Vaux e Rabeau para auxiliarem na navegação e nos primeiros
contatos com os índios de lá.
Entre 1603-1604 Jacques Riffault percorre o litoral do Ceará, quando o Capitão-mor Pero
Coelho de Souza recebeu Regimento, passado pela Coroa ibérica, que lhe determinava:
"[...] descobrir por terra o porto do Jaguaribe, tolher o comércio dos estrangeiros, descobrir
minas e oferecer paz aos gentios" e "fundar povoações e Fortes nos lugares ou portos que
melhores lhe parecerem". 84
Em 1604, Pero Coelho de Souza, passou rumo a Ibiapaba e as batalhas contra os nativos que
apoiaram os franceses e contas o franceses estabelecidos na região entre o Camocim e o Maranhão.
As Fortificações do Camocim localizavam-se na margem esquerda da foz do rio Coreaú, atual
Barreiras (município de Camocim)85. Barreto (1958)86 informa que uma fortificação neste
ancoradouro já havia sido cogitada em 1613 por Jerônimo de Albuquerque Maranhão (1548-1618),
no contexto da conquista da Capitania do Maranhão aos franceses, optando por se estabelecer,
entretanto, em Jericoacoara (p. 92).
Riffault fora buscar recursos e permissão na Europa, partindo para a França, divulgando as
grandes riquezas da terra e facilidades de conquista. Charles Des Vaux ficara em terra conquistando
a confiança dos tupinambás, para aprender a sua língua.
A falta de notícias de Riffault fez com que Charles fosse ter com Henrique IV, que então
reinava na França, e lhe expusesse o desejo que tinham, não de manter um estabelecimento, mas de
fundar uma verdadeira colônia francesa no Brasil.
A exposição interessou ao Rei que determinou a Daniel de La Touche, senhor de Ravardière,
oficial da Marinha, viesse para constatar as possibilidades da realização dos planos que acabavam de
lhe ser expostos. La Touche, aqui chegando, entusiasmou-se com a empresa e com ele Des Vaux,
retornou à França para obter o apoio oficial e decisivo.
Henrique IV havia falecido e, como seu sucessor Luís XIII era menor, governava, como
Regente, Maria de Médici, que logo apoiou a idéia e sob sua proteção determinou que se tomassem
as iniciativas para concretizar os planos de uma posse definitiva e sólida no Maranhão.
Daniel de La Touche, senhor de Ravardière, associa-se a outros comerciantes abastados, como
Nicolas de Harlay e François de Razily. A concessão dada pela Rainha-mãe o fora pela promessa de
catequizarem o gentio, trazendo em, 1612, quatro frades capuchinhos (Yves DÈvreux, Claude
dÀbbeville, Arsênio de Paris e Ambrósio de Amiens) e de anexarem à França o território
conquistado, com a ajuda dos tupinambás, sob a denominação de França Equinocial.
No entanto, encontramos em Evaristo Eduardo de Miranda (2007, p. 162) 87 que essa
concessão fora dada pela Regente Maria de Medicis, com o apoio do Conde de Danville, almirante
de França e Bretanha, a 1º de outubro de 1610 a Charles dês Vaux, para o estabelecimento de uma
BARRETO, Gilton. VIÇOSA DO CEARÁ sob um olhar histórico. Fortaleza: Expressão Gráfica Editora, 2012. 84 BARRETO, Aníbal (Cel.). FORTIFICAÇÕES NO BRASIL (Resumo Histórico). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora,
1958. 85 http://pt.wikipedia.org/wiki/Fortifica%C3%A7%C3%B5es_do_Camocim 86 BARRETO, Aníbal (Cel.). FORTIFICAÇÕES NO BRASIL (Resumo Histórico). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora,
1958 87 MIRANDA, Evaristo Eduardo de. QUANDO O AMAZONAS CORRIA PARA O PACÍFICO – uma história desconhcida da
Amazônia. 2 ed. Petrópolis: Vozes, 2007
colônia ao sul do Equador, com a extensão de 50 léguas para cada lado do forte que ai erigisse. É
Charles dês Vaux, segundo esse autor, quem se associa a Nicolas de Harlay e ao almirante Razilly...
Encontramos em “A Pacotilha”, de 25 de novembro de 1927, de Fulgêncio Pinto o que segue88
- Um conto de Natal:
“Era o ano de 1609, em Saint Malo, ilha de França, cidade dos corsários. Numa taberna
reuniam-se muitos homens a gritar, a falar alto.”
[...] De repente surge um cavalheiro de olhos azues, porte esbelto e fidalgo, vestindo um gibão
escarlate, trazendo sob a cinta de couro de serpente, um punhal de cabo de prata.
Ele chegava de longe, de outras terras, de lugares desconhecidos.
- De onde vem?
- Quem será ele?
- Para onde irá?
- Parece-me que o conheço!...
- Creio que fazia parte da tripulação de Jacques Riffault.
- Não estás enganado?
- Por Deus, que não. Não me são estranhos, este roto e esta voz.
Eram estes os commentarios em torno d figura simpatica daquele homem que ali entrara, pedira
um copo de cidra, e o esquecera em cima da mesa, entretendo-se a examinar um velho mapa.
Ele havia chegado em companhia de alguns indios, dois dias antes numa das naus que ali
estavam ancoradas no porto.
Ali viam-e homens de todos os aspectos, de todas as raças, de todas as nacionalidades, de todas
as cores, desde os mais ferozes até os mais pacíficos.
Misturavam-se as línguas; ora ouviam dialetos sonoros, ora idiomas duros e quasi
imperceptíveis.
A fumaça dos cigarros diluindo-se no éter deitava uma iaca enjoativa, acre, misturando-se com o
cheiro de alcatrão e da maresia.
Aquela velha casa onde se reunia tanta gente, era a taberna cuja porta encimava garbosamente
este letreiro’Au rendez vous dês corsaires’ sobre uma grossa chapa de ferro.
Em frente desdobrava-se uma paizagem marítima, banhada pela margem do oceano
aformoseando o horizonte, quer nas manhãs magníficas quer nas tardes silenciosas, quando o
sol com seus aparatos de riquezas sumiam-se no mundo do sonho e do nada.
Quatro mesas enormes estavam cercadas de bancos de carvalho.
Apesar da grita o homem que entrara ha pouco, esquecia-se da cidra e continuava a estudar o
mapa com muita atenção.
- Diabo! Quem será aquele cavalheiro? Gritou um corsário.
- Não o incomodeis berrou Tricon, pronto para fazer calar com um murro, o curioso.
A’ porta da taberna assomaram mais dois cavalheiros. Um era François Dupré, filho único de
um rico armador de Saint Malo, que havia conquistado nome e fortuna no Corso; o outro Raul
Renaud, antigo professor em Paris, na Universidade de Sorbona, conhecido como sábio em
sciencias naturaes.
Entram e sem dirigir palavras aos demais que ali se embebedavam, tomam assento justamente,
diante do desconhecido que lia o mapa.
- Carlos Des Vaux!... Vós aqui!
88 PINTO, Fulgêncio. Um conto de Natal. In A PACOTILHA, São Luis, 27 de novembro de 1927
Já vos tínhamos como morto!... gritou admirado Dupré.
O homem, espantado ouvia-lo o seu nome levantou a vista, e reconhecendo no jovem, o pequeno
Dupré, o garoto que deixara ainda imberbe quanto partira para as suas correrias pelo oceano,
poz-se de pé e estendeu-lhe as mãos entusiastamente.
- Bravo Dupré! Estaes um perfeito homem.
- Onde andaveis vós?
- Cruzando os mares – responde o pirata.
- O que tanto vos prende a esse papel
- Um sonho, pequeno.
- De amor?
- Não, de conquista.
- Que papel é esse Des Vaux?, Um mapa?
- Sim, um mapa.
- E que sonho de conquista será esse?
Dupré apresentou-lhe o seu velho amigo e mestre Raul Renaud.
-Ouçam-me o grande sonho – pediu Des Vaux.
Contentes achegaram os bancos de carvalho, e debruçados da mesa, quedaram-se sobre o mapa
que Carlos Des Vaux tinha entre as mãos, apontando-lhes ali, num belo discurso, os encantos de
uma terra prodigiosa e moça, para la do oceano, em que ele havia havia habitado por muito
tempo entre os índios.
Quinze anos eram decorridos, desde o naufrágio de Jacques Riffault num dos baixios ao norte do
Brasil, nas proximidades da costa do Maranhão.
Quinze anos aquele homem de olhos azues, cor bronzeada, pele queimada pelo sol caustigante
dos trópicos, que ali estava a conversar animadamente, errara pelas matas da formosa terra
moça pelos litoraes, pelos ínvios sertões, e depois de haver alcançado Victoria brilhantes ao
lado dos índios nos conflitos de Hibiapaba, resolvera fixar residência no ponto mais pitoresco
numa ilha arborizada, seguro da amizade dos Tupinambás, tornando-se o homem de confiança
de toda a tribo, que lhe adirava a bravura e a bondade do coração.
Era ali a formosa ilhados Tupinambás, ilha d sol, vivendo na exuberância da sua luz, tecendo
magníficos cortinados nas franças dos arvoredos selvagens, cheia de mistérios e explendores,
flora maravilhosa, vales rumorosos, que ao revelhar-lhes os encantos, o pirata, sentia uma certa
transfiguração de espirito, e o cérebro embriagava-se de sonhos magníficos.
Era ali que Japiassú grande grande amigo e aliado de Des Vaux, era chefe, principal, irradiando
o seu alto poder, de Juniparan, a aldeia mais notal de quantas existiam na ilha.
Terminada a narração ele o pirata explicou aos amigos que voltava à pátria afim de oferecer à
sua magestade cristianíssima Henrique IV, rei de França e senhor de Navarra, não só a posse do
território fertilíssimo como também a amizade e obrdiencia dos Tupinambas.
Os três homens esquecidos do tudo quanto os cercava, confabularam em armar uma expedição,
em demanda da terra previlegiada, expedição que mais tarde foi levada a efeito auxiliada pelo
conde de Sulley, então governador da Bastilha, conselheiro de sua magestade Henrique IV, sob o
comando do senhor de La Ravardiere, que foi ali fundar uma cidade em honra a Luis XIII, na
regência de Maria d Medicis.
[...] onde fica essa formosa terra tão linda, tão moça de Carlos dês Vaux.
[...] essa formosa terra moça e previlegiada é S. Luis é o Maranhão [...]
- É Maranhão!...
- E quem era Carlos Des Vaux?
Era um Frances, amigo do Maranhão que sacrificara tudo, para fundar aqui a França
Equinocial!
Beatriz Perrone-Moisés (2013, citada por Faleiros, 2013, em "Franceses no Maranhão: história
de intérpretes”) 89, retoma a trajetória de Charles des Vaux, jovem nobre responsável pela ideia da
fundação da França Equinocial no século XVII, assim como a história de David Migan, jovem
intérprete francês que viveu entre os índios tupi. O centro do argumento de Beatriz Perrone-Moisés é
que
"Des Vaux e Migan desempenham papéis tão ou mais vitais para a França Equinocial quanto
alguém como La Ravardière, personagem que a historiografia optou por reter".
Ao colocar o que chama de "intérpretes-embaixadores" como protagonistas da história da
França Equinocial, a antropóloga lança luz sobre estratégias fundamentais de contato e de conquista
ainda pouco visíveis para a historiografia oficial:
Depois de serem expulsos pelos portugueses da Guanabara e da costa nordeste do Brasil, os
franceses se voltaram para a região do Maranhão. Embora não atingida pela colonização
portuguesa, ela já havia sido brevemente explorada por Aires da Cunha, Diego Nunes e Luís de
Mello, a serviço do rei de Portugal. (FALEIROS, 2013).
De acordo com Beatriz Perrone-Moisés (2009, 2013) 90, para os tupis da costa, se havia
invasores, não eram os franceses, que sempre lhes pediram licença. Em meados do século XVI, já
havia dezenas de pontos no litoral brasileiro nos quais súditos do rei da França tinham instalado
bases de apoio para um comércio altamente rentável de pau-brasil e de outras madeiras, especiarias,
papagaios e micos:
No final do século XVI, uma dessas viagens de navios mercantes daria origem à segunda colônia
francesa em território hoje brasileiro: a França Equinocial. Em 1596, um nobre francês de nome
Charles des Vaux, depois de ter passado dois anos na costa norte da América do Sul, voltou à
França para promover a ideia de estabelecer ali uma colônia.
[...] A região estava “vazia” – como diziam – de ocupação europeia. Os franceses contavam
com a aliança dos nativos, que já haviam declarado a des Vaux sua disposição de receber mais
deles em suas terras. Além disso, o lugar proposto, bem próximo da linha equinocial, ou
Equador, tinha um clima abençoado, de temperaturas constantemente amenas, com muito sol e
fartas riquezas, além de muitas terras férteis, regularmente regadas por chuvas e cortadas por
grandes rios de água límpida. Uma colônia ali tinha tudo para prosperar e só poderia contribuir
para a grandeza do reino de França.
89 PERRONE-MOYSÉS, L. CINCO SÉCULOS DE PRESENÇA FRANCESA NO BRASIL: INVASÕES, MISSÕES, IRRUPÇÕES. São
Paulo: Edusp, 2013.
FALEIROS, Álvaro. Presença francesa no Brasil. ESTUD. AV. [online]. 2013, vol.27, n.79 [cited 2015-08-24], pp. 277-280 . Available from: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142013000300020&lng=en&nrm=iso>. ISSN 0103-4014. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-40142013000300020.
90 PERRONE-MOISÉS, Beatriz. Outra tentativa. REVISTA DE HISTÓRIA DA BIBLIOTECA NACIONAL. Disponível em http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/outra-tentativa, 2/10/2009,
PERRONE-MOYSÉS, L. CINCO SÉCULOS DE PRESENÇA FRANCESA NO BRASIL: INVASÕES, MISSÕES, IRRUPÇÕES. São Paulo: Edusp, 2013.
Henrique IV convocou outro fidalgo, Daniel de la Touche, senhor de La Ravardière, e ordenou-
lhe que fosse com des Vaux para a região. Partiram em 1607, e La Ravardière pôde comprovar
os relatos de des Vaux [...].
Em busca de parceiros, [La Ravardière] encontrou dois outros nobres interessados em investir
tempo e recursos numa nova colônia: François de Rasilly e Nicolas Harlay de Sancy. Em 1611, a
rainha regente nomeou-os “lugares-tenentes generais nas Índias Ocidentais e terras do Brasil”.
Comprometiam-se a fundar no Maranhão uma colônia, para “o engrandecimento da França e a
expansão da fé”. O monopólio do comércio na região, concedido pela Coroa, viabilizaria o
projeto. (PERRONE-MOISÉS, 2009).
Interessante, que a escolha para edificar o forte, segundo Meireles (2012, p. 21)91:
[...]seria escolhida justamente a Ilha da Trindade92, também então conhecida como das Vacas.
Das Vacas, possivelmente, pela tradução deturpada e literal do gentílico pessoal de Charles dês
Vaux; mas Varnhagen diz que a das Vacas não era a Upaon-açú, e sim a Upaon-Mirim, a de
Sant’ Ana.
Gaspar e Licar (2012, p. 24)93 esclarecem:
A ilha, hoje de São Luis, ou do Maranhão, como também é chamada, e que os indígenas diziam
Upaon-Açú, ilha grande, além dos nomes Trindade e das Vacas, teve os de Ilha do Ferro e de
Todos-os-Santos, como pretendeu batizá-la Alexandre de Moura. Carlota Carvalho, em seu ‘O
Sertão’ (200094), diz que, quando a ela chegou Jacques Riffault, em 1594, ela era conhecida
como de Jeviré95.
Em 1614, na célebre batalha de Guaxenduba, os franceses comandados por De Pizieuz foram
fragorosamente derrotados, apesar da superioridade numérica (quase 500 homens) e bélica,
sendo mortos 115 franceses e aprisionados nove.
Seguindo projeto feito pelo engenheiro Francisco Frias de Mesquita iniciou-se a construção de
um povoado, próximo ao forte deixado pelos franceses, sendo a primeira povoação no Brasil a ter a
sua planta previamente traçada em uma malha urbana octogonal, posicionada no sentido dos quatro
pontos cardeais.
Corroboram a afirmativa da existencia de outros fundadores – além de LaTouche e Razzily
(FERRO, 2014) – as discussões em torno de comemorações do aniversário de São Luís, ocorrida no
inicio do século passado, conforme publicação dos jornais “Diário de São Luís”, e “A Pacotilha”, de
26 de agosto de 1922. A proposta - feita pelos Professores Raimundo Lopes, Ribeiro do Amaral e
Raimundo Silva - de um marco comemorativo – projeto de Paula Barros - em que deveriam constar
o nome dos fundadores; incluo Migan; no Diário de São Luis, sob o titulo O Centenário:
91 MEIRELES, Mário Martins. HISTÓRIA DE SÃO LUIS. (Org. GASPAR, Carlos ; LICAR, Caroline Castro. São Luis : Faculdade
Santa Fé, 2012. 92 Gaspar e Licar, em nota 7, do livro de Meireles (2012) informam que o nome de Trindade, dado à ilha de São Luis, vem de 1513, desde a discutida viagem de Diogo Ribeiro a região. Ribeiro do Amaral (Diário Official, 27 out. 1911, O Maranhão Histórico) admite que o tenha sido pelos fundadores de Nazaré, em 1535, em homenagem aos três associados - João de Barros, Fernão Álvares de Andrade e Aires da Cunha. (p. 23). 93 GASPAR, Carlos ; LICAR, Caroline Castro (Organizadores). Em nota 24 em MEIRELES, Mário Martins. HISTÓRIA DE
SÃO LUIS. (Org. GASPAR, Carlos ; LICAR, Caroline Castro. São Luis : Faculdade Santa Fé, 2012. 94 CARVALHO, Carlota. O SERTÃO. Imperatriz: Ética, 2000 95 Nazaré? Os fundadores de Nazaré, em 1535, eram, os três associados, João de Barros, Fernão Álvares de Andrade e Aires da Cunha (Ribeiro do Amaral (Diário Official, 27 out. 1911, O Maranhão Histórico).
O município escolheu o dia 8 de setembro para a sua parte nas festas do centenário, por ser esse
o dia da fundação da cidade de São Luiz em 1612, pelos franceses comandados por La
Raverdiére.
Entre outras homenagens à data, o r. Coronel prefeito municipal, depois de se entender com os
srs. Dr. Antonio Lopes, professor Ribeiro do Amaral e Raimundo Silva, resolveu inaugurar na
Avenida Maranhense, em frente à CSA do Municipio, um mrco comemorativo da fundação da
cidade, que perpetue o acontecimento e lembre os nomes dos fundadores.
O projeto, elaborado pelo Sr. Paula Barro de acordo com as indicações dos professores acima,
comporta um obelisco de mármore em assente num plinto do mesmo material. Numa das faces do
plinto será gravada a flor de lis simbólica da França ao tempo da fundação. Na parte oposta, o
escudo do Estado. Nas duas outras faces inscripções, sendo uma alusiva a inauguração com a
data – 8 de setembro de 1922 – e a outra om os nomes de Charles dês Vaux, Ives d´Evreux e
Claude d´Abeville, os funddores de São Luis, e a da – 8 de setembro 1612.
O marco terá ao todo 5m, 24 de altura. 96
E na Pacotilha, sob o titulo A festa do Centenário:
Tendo o municipio escolhido o dia 8 de setembro para as suas homenagens ao centenário da
independencia nacional esta sendo elaborado um programa para esse dia, do qual sabemos
constar a inauguração do marco comemorativo da fundação da cidade de S. Luis, ocorrida no
dia 8 de setembro de 1612.
É uma ideia feliz. Não há na cidade uma lembrança do feito inicial da vida do Maranhão, essa
aventura da França Equinocialmque tanto se individua como episódio à parte da história do
Brasil.
Sabe-se o dia em que se fudou São Luis, sabe-se que o ato solene da fundação teve lugar na
esplanada hoje correpondente á Avenida Maranhense, e não há nada na cidade que rememore o
seu começo. O marco que isso lemmbre será um momento indispensável.
O marco comemorativo da fundação da cidade foi enomendado hoje. Executa-lo-a, sob projeto
do sr. Paula Barros, e dentro da brevidade do prazo daqui até 7 de setembro, o marmortista sr.
A. F. Brandão. O projeto consta de um obelisco de marmore que assentará sobre um plinto em
cujas faces se lerão uma inscrição alusiva a inauguração, com a data de 8 de setembro de 1922
e outra com os nomes de La Raverdiere, Charles des Vaux, Claude d´Abbeville e Ives d´Evreux.
Nas duas outras faces, a flor de lis simbolo da França e o escudo do Maranhão. O monumento
terá, ao todo 5,m24.
Para comemorar a tomada de São Luis pelos portugueses, ergue-se, remodelada, com a estatua
de N. S. da Vitória, a nossa Catedral. 97
Ou conforme consta no Diário de São Luis, de 20 de junho de 1946:
MARCO COMEMORATIVO DA FUNDAÇÃO DA CIDADE
Na avenida Pedro II, praça do tempo da Missão Francesa, foi levantado o “Marco
Comemorativo da Fundação da Cidade de S. Luiz”, erigido pelo município, no centenário da
independência nacional, a 8 de setembro de 1612.
Sobre uma base tosca de pedras do Esatdo foi assentado um prisma retangular revestido de
mármore, ao cimo do qual descansa uma pirâmide de granito maranhense, levantada por garras
da mesma pedra.
96 O CENTENÁRIO. DIÁRIO DE SÃO LUÍS”, de 26 de agosto de 1922. 97 A FESTA DO CENTENÁRIO. A PACOTILHA”, de 26 de agosto de 1922.
Numa face do pedestal foram gravados os nomes das proeminentes figuras da missão:
Charles dês Vaux, Rasilly, La Ravardiére, Ives d´Evreux, Claude d´Abeville – 8 de setembro de
1612.98
A partir da França Equinocial o Maranhão passou compreender parte do Ceará (desde o Buraco
das Tartarugas – Jericoacoara), o que foi referendado pelo governador geral do Brasil e, poucos anos
depois, quando da divisão do Brasil, em 1621, estendendo o território até o Mucuripe, serviu de
marco para a criação do Estado do Maranhão, com capital em São Luís compreendendo ainda o
Ceará e o Grão-Pará.
Tal divisão era praticamente igual aos limites extra-oficiais do empreendimento conquistado
por Riffault, Des Vaux, e Davi Migan, e depois capitaneado por La Ravardière...
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A LEI CAPIVARA E ARGEMIRO
AYMORÉ ALVIM
Dona Inêz, como sempre aos domingos costumava, contou-me em uma dessas vezes uma
história da qual me lembrei lendo, hoje, no jornal, uma ocorrência policial para a qual foi invocada a
Lei Maria da Penha que todos já ouviram falar.
Na década de 1930, era comum em diferentes regiões do país e Pinheiro não podia ser exceção,
o espancamento de mulheres pelos seus maridos, amantes ou coisa que o valha.
Nessa época, chegou à cidade o Argemiro, sujeito boa pinta, com a esposa, uma moça paraense
e conceituada costureira. Não sendo chegado ao trabalho, diziam que o sustento da casa e do
Argemiro eram providos por dona Militina.
Frequentador de bares e do “baixo meretrício” (sinceramente nunca ouvi falar no alto
meretrício, mas deixa pra lá). O certo é que sempre que Argemiro chegava a casa, a vizinhança ouvia
os gritos de dona Militina, mas, como em briga de marido e mulher... Todo mundo ficava calado.
Sem a atual Lei Maria da Penha muitos homens se sentiam donos de suas mulheres e achavam
que deviam dar-lhes de vez em quando um corretivo. Mas, atualmente, isso não mudou muito.
Mas, dessa vez, o couro comeu solto. A mulherzinha gritava pedindo socorro e Argemiro não
parava de bater Os vizinhos correram à delegacia e vieram dois soldados que levaram Argemiro para
falar com o delegado.
Major Estevão era um senhor de certa idade. Usava cavanhaque, gostava de mascar folhas de
fumo e, de vez em quando, não dispensava um cigarrinho de fumo de corda. Andava sempre de
tamancos. Era um homem sério, respeitável. Vivia muito bem com a esposa Rosa, com a qual teve
duas filhas: Maria Eduvirges chamada de “Duvirges”, professora municipal e Maria Eleutéria ou
Doquinha, excelente quituteira.
Daí a pouco, chega Argemiro.
- Boa tarde, delegado. O senhor mandou me chamar.
- Mandei, Argemiro. Senta aí e me diz o que houve com tua mulher.
- Delegado, o senhor sabe como é. Mulher é que nem criança. Tem que apanhar pra aprender
obedecer e respeitar o homem.
- Ah! Argemiro era de um homem como tu que eu estava precisando aqui
- É só dispor, meu delegado.
- Rapaz, eu tenho um cara aqui que não está mais respeitando ninguém e tu com essa experiência
com tua mulher tu vais me dar um jeito nele.
- É só mandar, delegado. Eu não aliso couro de gente malcriada.
- Capivara, vem cá, Capivara.
Argemiro quase morreu de susto só em ouvir falar tal nome. E, assim, surgiu na frente dele um
negão que não tinha mais tamanho.
- Mas, delegado, dizem que Capivara foi lutador.
- Eu sei. Mas é muito saliente por isso eu quero que tu dês um corretivo nele.
- Meu delegado, Capivara dá dois de mim.
- Também sei. Mas a tua mulher é também magra e baixinha. Tu dás dois dela e, no entanto, não
gostas de lhe dar uns corretivos? Capivara, o cabra é teu.
Capivara quase trucidava Argemiro. O cabra mal se mantinha de pé.
- Agora, Argemiro, tu podes ir pra casa e sempre que tu esqueceres dessa de hoje tu dás outro
corretivo em dona Militina.
Contam que, a partir de então, Argemiro se transformou num homem exemplar. Procurou até
trabalhar.
Como podem ver, parece que a Lei Capivara surtia mais efeito do que a atual Lei Maria da
Penha. Duvidas? É só conferir.
PINHEIRO DE ANTIGAMENTE
AYMORÉ ALVIM
(Do livro Contos e Crônicas de um pinheirense.)
Pinheiro era uma cidade tranquila, na década de 1940. As únicas coisas que mexiam com o
imaginário popular eram uma procissão de velas que descia do bairro de Alcântara, todas as sextas-
feiras à meia noite, e umas “mangudas” que costumavam passear pelas ruas, nas madrugadas de lua
cheia. Muita gente jurava que as havia visto. Portanto, evitar tais momentos era um imperativo para
todos.
Fora disto, era uma pasmaceira só. Lembro-me de que todas as noites a nossa casa recebia os
amigos do meu pai para conversar e ouvir rádio para ficarem inteirados das notícias do Brasil e do
mundo. A conversa corria solta, estimulada por um bom “moca”, torrado e moído, no mesmo dia,
que minha mãe mandava servir.
Como de costume, lá estavam os amigos: Leude, João Bertoldo, Macrino e Luís Estirão.
Apareciam, também, embora sem muita assiduidade, devido passarem a maior parte do tempo, nas
suas fazendas, seu Guimarães e seu Zé Grande. Manoel Praxedes ou, simplesmente, Manoelzinho
era, também, um dos freqüentadores. Mulato, risonho, nem gordo nem magro. Era um boa praça.
Gostava de contar estórias. Morava lá pras bandas do Sete, nas proximidades do Toma Fresco.
Corria, à boca pequena, que Praxedes não era chegado a um banho. Diziam que ele banhava,
duas vezes por ano, pelo Natal e na Páscoa. Fora dessas datas, só quando a chuva o pegava
desprevenido, na rua. Mas isso não o incomodava e até criava piadas com esses “aleives”, como
dizia.
Em um desses dias, ele contou um causo que se assucedeu com ele, como gostava de dizer.
Aos ouvidos atentos relatou que, em uma noite, quando ia para casa, já bastante tarde, passou,
como de costume, pela frente do cemitério. A luz elétrica já havia sido apagada e não havia lua. A
noite era um breu só. De repente, ouviu uma voz fanhosa vindo lá de dentro o chamando.
- Manoelzinho, eh! Manoelzinho.
Um frio lhe percorreu a espinha. Teve vontade de correr e não podia, de gritar e não
conseguia. Sentiu um líquido quente escorrer-lhe pela perna esquerda até os pés. O corpo tremia. E,
novamente.
- Manoelzinho, eh! Manoelzinho.
Embora apavorado, buscou coragem e falou:
- O que é, alma bondosa?
- Manoelzinho, vai tomar banho, seu fedorento
- “Vai tu, alma penada. Sua excomungada. Vai dar conselho pro cão, lá no inferno, donde não
devias ter saído”.
Ainda com muito medo, resolveu dar uma espiadela por cima do muro, mas não conseguiu
ver ninguém. Esticou mais o pescoço e apurou melhor a vista, quando um saco de urina estourou na
cabeça dele:
- O que tu queres, seu enxerido?
- Miserável, alma dos infernos, tu me lavaste de mijo.
Ouviu, então, alguém se afastando dando boas gargalhadas.
Aí, o jeito foi rumar para casa, muito chateado com a brincadeira, tomar um bom banho e pra
poder dormir.
A REVANCHE
ANTONIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO
Há circunstâncias acontecidas nas lutas pelos direitos humanos que o tempo gravou e tenta,
sempre, cobrar. Pelo muito que sofreram nessas lutas em prol de afirmação social minorias vivem
numa desordem e ausência de regras, onde tudo é permitido e considerado normal.
Vejamos antecedentes registrados pela história e disponibilizados na Internet:
[...] pessoas de cor foram marginalizadas pela sociedade da época e isso refletiu negativamente
para a realidade que temos hoje; fazemos parte de uma sociedade de preconceitos que foram
estabelecidos ao longo da nossa história; a falta de visão dos nossos governantes daria brecha a
muitas discriminações e desigualdades, sentidas até hoje; o trabalho de mulheres e crianças nas
fábricas inglesas, no auge da Revolução Industrial, pode ser considerado escravismo; essas
crianças crescem sem ter os valores que cabia à mãe ensinar e sem esses valores tornam-se
adolescentes problemáticos, adultos infratores, imaturos; tudo isso é conseqüência da
modernidade, tudo em nome dos direitos iguais; agora toda uma geração sofre as conseqüências
[...].
Dizem que, em tempos distantes, cidades foram literalmente destruídas quando o grau de
devassidão e libertinagem então praticado atingiu o máximo, e nem Deus suportou mais. Mandou um
cataclismo avassalador e castigou o mal não deixando “pedra sobre pedra”. Mais recentemente, num
fato que não acontecia há mais de quatrocentos anos, pressionado pelas forças ocultas de sempre e
bem próximas a ele, além de denúncias várias de corrupção, vazamento de informações e pedofilia
no âmbito da Igreja, um Papa renunciou.
Esses acontecimentos sem dúvida foram sinais de que, desde os tempos remotos até os dias
atuais, houve –como há- regras do que é considerado certo ou errado; dos usos e costumes exercidos
de acordo com padrões de comportamento geralmente aceitos; dos valores e crenças praticados e
devidamente respeitados.
O que está acontecendo, num movimento crescente, para que essas regras estejam sendo
desafiadas? Penso, de forma benevolente e pragmática: podemos estar diante da "velha" - ao mesmo
tempo "nova" - luta de classes nunca sepultada, mas sempre renascida. Nada de sentimentos
restritivos à liberdade e igualdade como alegados por quem tenta defender os “avanços” sociais
havidos.
Duas questões concretas e históricas, a meu ver, estão por trás de tudo: o regime escravista, que
existiu inclusive entre nós por questões econômicas circunstanciais e demorou muito até ser abolido,
e a emancipação feminina, fruto inexorável do desenvolvimento mundial e dos próprios direitos da
mulher, contudo determinante de uma grande reviravolta no seio das famílias.
Tudo isso deixou seqüelas e ressentimentos, que estão postos quase num clima belicoso.
Minorias usualmente tratadas de forma marginal e sem condições de evoluir por esforço próprio,
conquistando direitos e educação, de uma hora para outra e de uma forma mínima/filantrópica
impulsionada pelos governos e ainda subsidiadas pelo crédito fácil, descobre-se uma nova classe, que
passa a consumir e, ao mesmo tempo e sem base nenhuma, praticar atos de violência e selvageria
completamente desorientada e entendendo tudo é permitido.
Logo vêm as transgressões das regras estabelecidas pela própria sociedade em que vivem: usos
e costumes, valores e crenças definitivamente alicerçados passam a ser agredidos da forma mais
aberta possível, como se os fins justificassem os meios e tudo de “moderno” praticado devesse ser
considerado normal.
A Igreja e a Família estão duramente atingidas. São os últimos redutos a serem transpostos
antes que possam vingar essas condições extremas que muitos desejam estabelecer.
Infelizmente, tudo mudou e as nobres tarefas de ensinar e educar, de viver em sociedade,
ficaram mais difíceis; os resultados estão aí a desafiar a ordem constituída em crise de independência
entre os Poderes. Enquanto isso a criminalidade avança e a insegurança aumenta mesmo dentro das
nossas casas.
Seria uma revanche? O diretor Quentim Tarantino, no filme “Django Livre”, reserva a um ex-
escravo, eleito seu herói, “um glorioso acerto de contas”
FRANCISCO SOTERO DOS REIS
ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO
Membro da Academia Ludovicense de Letras
As Academias necessitam de tempo para “alçarem vôo”, assim entendia Joaquim Nabuco. Na
verdade, porém, é um processo de acumulação através dos tempos; as academias que nascem, como
a nossa Academia Ludovicense de Letras, apropriam-se dessa cultura acumulada e, por obrigação,
devem agregar-lhe valor.
É do meu primeiro livro “Fortes Laços” a crônica intitulada “Academia em dia de festa”: foi o
filósofo Platão quem fundou em 387 a.C., próxima a Atenas, uma escola dedicada às musas, onde se
professava um ensino informal através de lições e diálogos entre os mestres e discípulos”; uma
residência, uma biblioteca e um jardim formavam a escola, tendo esse jardim pertencido a
Academus, herói da guerra de Tróia, inspirador do termo academia.
As Academias revestem-se de procedimentos que nos foram legados pela tradição francesa: 40
cadeiras patroneadas por personalidades ligadas às letras e sua difusão, ocupadas por cidadãos no
pleno gozo dos seus direitos e que se disponham a seguir essa tradição.
A Academia Francesa foi fundada em 1635, por iniciativa de Armand Jean Du Plessis de
Richelieu, o cardeal Richelieu, e serviu de modelo à sua similar brasileira.
A Academia Brasileira de Letras foi criada na segunda metade do século XIX, no dia 15 de
dezembro de 1896, no Rio de Janeiro. Os intelectuais Rodrigo Otávio, Graça Aranha, Raul Pompéia
e Machado de Assis, entre outros, participavam dessas reuniões, “que culminaram com o surgimento
de uma sociedade civil de direito privado, ou como se chamaria hoje, como uma organização não-
governamental”. Machado de Assis foi aclamado seu primeiro presidente e fundador da cadeira nº
23.
A Academia Brasileira de Letras, “que peregrinou pelo centro velho do Rio de Janeiro”,
recebeu em doação do governo francês uma réplica do palácio “Petit Trianon de Versalhes”, sua sede
definitiva.
Na década de 40 do século passado, o Maranhão viveu a fase dos Centros Culturais, que, em
muitos casos, conviveram harmoniosamente com as Academias já então existentes, como aconteceu
com o Centro Cultural Gonçalves Dias, em São Luís; em Caxias, na mesma época, floresceu o
Centro Cultural Coelho Neto, fruto da iniciativa de homens e mulheres militantes culturais, que se
reuniam sempre aos domingos, depois da missa na Matriz de N.S. de Conceição e São José, na sala
de projeção do Cine Rex, num palco em frente à tela.
Poetas declamavam, um conjunto executava músicas de sucessos, moças representavam e
cantavam. Era um momento democrático de verdadeira confraternização; depois, em frente ao
cinema, todos engravatados vestindo terno branco e devidamente enfaixados, deixavam-se fotografar
a posteridade.
Ao ter escolhido Francisco Sotero dos Reis, Patrono da Cadeira nº 4, presto uma homenagem
póstuma ao meu pai, Antônio Brandão, que o teve também nesta condição, no Centro Cultural
Coelho Neto.
Em meados do século XX, ocorreu, no Maranhão, “o fenômeno raro do aparecimento de
verdadeiros mestres de Língua Portuguesa Clássica”. Esses mestres estavam seduzidos pela
sabedoria gramatical, vinda do século XIX, passada às gerações futuras.
Francisco Sotero dos Reis nasceu em São Luís, em 22 de abril de 1800, e morreu, também em
São Luís, em 10 de março de 1871; “um fato significativo realçando inteligência, capacidade de
iniciativa e dedicação aos diversos campos do conhecimento nos quais atuou, a par da história
construída à qual agregou imenso valor”.
Foi jornalista, poeta e escritor, e produziu uma obra estritamente vinculada a assuntos
filológicos; “suas incursões temáticas sobre a realidade regional também decorreram num contexto
de lutas políticas acirradas e instituintes do jovem Estado Nacional e de uma província inicialmente
refratária às proposições separatistas do Brasil”.
Suas principais obras foram: Postilas de gramática geral aplicada à língua portuguesa pela
análise dos clássicos (1862); Tradução de comentários sobre a Guerra Gálica de Júlio César (1863);
Gramática portuguesa (1866); e Curso de literatura portuguesa e brasileira (1866-1868),
“mencionando e consagrando as traduções das obras de Virgílio, realizadas por Odorico Mendes,
então mais divulgadas no Rio de Janeiro”.
As restrições que Sotero dos Reis fazia ao barroco “era a forma como ele enxergava a
sociedade em que ele vivia: escravos vendidos em mercados, o Maranhão agonizando pela queda nos
preços internacionais do algodão, fazendo com que os antigos casarões, símbolos da opulência, com
suas fachadas ornadas com azulejaria portuguesa de influência árabe, passassem a dividir espaço
com uma relva que subia dos telhados com seus mirantes, como uma espécie de jardins suspensos,
avistando somente o horizonte ausente de velas ao vento dos barcos que outrora atracavam no porto”.
VEREDA TROPICAL
ANTONIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO
“A pessoa capaz de sentir prazer com o próprio passado
vive duas vezes.” Marcial (40-102), poeta e aforista
hispano-latino.
As lembranças que se seguem vieram à minha mente depois de ver, mais uma vez, o
documentário sobre o grupo sensacional de músicos cubanos que tocava na antiga casa de shows
Buena Vista Social Club, em Santiago de Cuba, por volta dos anos 50. Muitos desses músicos já
eram famosos quando o regime de Fulgêncio Batista suspendeu o funcionamento da Casa; ficaram
no ostracismo por mais de dez anos, sem poder tocar seus instrumentos e levando uma vida de
profunda necessidade. Aí aconteceu quase um milagre. O produtor musical americano Ry Cooder,
em sucessivas viagens a Havana, redescobriu esses músicos levando-os à realização de gravações e
de shows memoráveis em Amsterdã e Nova York, transformando as suas vidas ainda que próximas
do fim.
Difícil não ligar aquela época de Cuba com o que acontecia em São Luís, principalmente no
Lítero Português do Largo do Carmo, nas festas animadas pelo Jazz Alcino Bílio. Regido pelo
maestro Chaminé e seu acordeão, mais o Roque e seu contrabaixo, Lauro Leite e seu piano, José
Hemetério e seu violino, além de outros músicos não menos virtuosos, o Jazz executava um
repertório que incluía boleros, rumbas, mambos, chá-chá-chás e outros ritmos latino-caribenhos.
Havia como que uma febre por esses ritmos, uma verdadeira vereda tropical que nos conduzia
sistematicamente aos sucessos daquele momento: a orquestra de Rui Rey era especializada em
rumbas e correlatos, e os boleros originalmente gravados por Gregório Barrios, Chucho Martinez,
Pedro Vargas, Bienvenido Granda e Lucho Gatica influenciavam o repertório do maestro Chaminé e,
por conseqüência, a dança “caliente” dos casais.
Quantos encontros e desencontros não foram embalados por aquele som dançado aqui como se
estivéssemos lá. Naquele tempo a gente “ficava mal” quando acabava um simples namoro e cortava
relações às vezes para nunca mais. Uma garota de cada vez: o namoro do momento teria de acabar
para poder começar outro. Mudar de namorada era como se a gente passasse a ser exclusivo de outra
e fizesse questão de cortar qualquer vínculo com o passado, fosse recente ou remoto. Quantos acertos
e quantos desacertos nesse procedimento. Foram rompimentos que certamente permitiram a cada um
acabar encontrando o seu melhor caminho, a sua alma gêmea, mas também o risco de ter perdido
exatamente essa possibilidade. De qualquer forma, era a regra do jogo, usos e costumes de uma
época áurea e sadia.
Havia situações mais complicadas: começar a namorar uma garota estando ainda namorando
outra. Infidelidade total anunciada na mensagem musical “de alguém para alguém”, nos autofalantes
da cidade. Permitir um confronto entre rivais feria de morte os brios de moças e rapazes. Quem
perdia às vezes reagia sem escolher lugar nem circunstâncias à vazão da sua ira. Rapazes
valorizados? Moças desprestigiadas? Nada disso, apenas reação de amor-próprio ferido e
supostamente perdido com aquela (e) que aparentava ser uma conquista definitiva. Começar a
namorar, então, deveria supor rapazes e moças livres de compromissos; as complicações seriam
decorrentes e circunstanciais, variações sobre o mesmo tema: namorar sendo fiel mesmo admitindo
rival, noivar quando estivesse certo da escolha, com o consentimento das famílias e pelo tempo que
fosse necessário; casar e permanecer na eternidade enquanto durasse, e até que a morte os separasse.
Hoje, como são os relacionamentos? Todos muito “modernos”: moças e rapazes vão “ficando”,
experimentando e exercitando práticas sem limites nem fronteiras, misturando e confundindo
sentimentos, o tempo passando sem ser percebido e ficando irremediavelmente perdido. Que falta
nos faz a oportunidade de voltar a bailar de “rosto-colado”, de murmurar ao “pé-de-ouvido”, que
nada até agora pode substituir a magia do abraço no prazer de dançar.
Salve, portanto, o Buena Vista Social Club e o Grêmio Lítero Recreativo Português. Salve
Company Segundo, Rubén González, Ibrahim Ferrer, Omara Portuondo, Eliades Ochoa. Salve o
maestro Chaminé, Roque, Lauro Leite e José Hemetério. Salve Ruy Rei, Gregório Barrios, Chucho
Martinez, Pedro Vargas, Bienvenido Granda e Lucho Gatica.
Salve todos esses músicos e cantores sensacionais, e seus espaços sagrados de Havana e de São
Luís, pelos momentos inesquecíveis que proporcionaram à minha geração.
A RECOMPENSA
AYMORÉ ALVIM. ALL, APLAC, AMM. IHGM.
Hoje pela manhã, ao ler um trecho do Evangelho de Matheus, deparei-me com a passagem que
trata de um jovem rico perguntando a Jesus o que deveria fazer para ganhar a vida eterna.
Após receber a resposta, o evangelista não faz nenhuma menção sobre o fato do jovem haver
acolhido ou não a orientação que o Mestre lhe havia dado.
Deixou-nos na expectativa de elaborarmos como seria o nosso modo de agir às orientações
passadas por Jesus.
Isto, porém, me fez lembrar de um caso ocorrido comigo, no final da década de 1950, quando
acabara de concluir o quarto ano primário, no Grupo Escolar Dr. Elizabeto Carvalho, em Pinheiro.
Nesse mesmo ano, até o final do primeiro semestre, eu estudava no Grupo Escolar Odorico Mendes.
Nas provas de junho, mais precisamente na de Linguagem, eu não soube responder qual o
aumentativo do copo. O certo é que dona Inez com o consentimento de seu Zé Alvim me fez retornar
ao antigo Elizabeto Carvalho onde havia cursado os três primeiros anos.
No final do segundo semestre, após as provas finais, soube que havia sido aprovado com a nota
sete.
Eufórico, corri para casa para dar a auspiciosa notícia para dona Inez.
- Mamãe, eu passei para o quinto ano com a nota sete. E agora, qual é o meu presente?
- Nenhum, meu filho.
- Nenhum, por que? Eu não passei de ano?
- Veja bem. Estudar e passar de ano é uma conquista sua. É o presente que você se dá pelo seu
esforço durante o ano se preparando para o seu futuro. Eu não posso barganhar isso com você, isto
é, eu não posso lhe prometer recompensa pela realização de um dever que é, exclusivamente, seu. É
estudando que você vai se preparando para a vida, meu filho. Não há presente que pague isto.
- Mas, mamãe....
- Nem mais nem menos. Além do que, presentear um filho é uma opção dos pais. Não é um direito
que o filho tem. Os presentes sãos dons que os pais darão se quiserem. As vitórias, os êxitos
alcançados ao longo da vida são méritos, exclusivamente, seus.
- E a bicicletinha?
- Que bicicleta? Ainda tem uma coisa, seu Aymoré, nunca se contente com vitórias pequenas se você
dispõe de um bom arsenal de luta. Nota sete demonstra o pouco esforço que você fez para sua
recuperação. Em junho, você não sabia nem o aumentativo de copo, como é que agora você se
alegra com essa aprovação? Você vai repetir o quarto ano. Aprenda a se preparar bem para a vida.
Ela exige muito de nós.
E repeti. Aprendi, assim, que a recompensa quem nos dá é a vida, é a sociedade pelo trabalho
que lhe prestamos. O esforço que dispendemos para nos prepararmos para a nossa missão cidadã não
se recompensa com presentinhos dos pais.
Então, lembrei-me disso quando o moço rico pergunta a Jesus o que devia fazer para ganhar a
vida eterna. Cumpra os mandamentos, disse-lhe Jesus. Isso eu já faço retrucou-lhe o jovem. Então,
vá e vende o que tens e dá aos pobre. Depois, vem e segue-me. Aí, o cabra amarelou, escafedeu-se,
desapareceu ou “picou a mula” como se dizia lá na minha terra.
Moral da história: Quem barganha com Deus a vida eterna (uma boa vida) em troca do
cumprimento dos seus deveres (suas obrigações sociais) é porque não a merece possuir. Presente é
um dom. O doador é livre para dar a quem quiser, se quiser e quando quiser.
Concordam comigo? É isso aí.
ZEZE CAVEIRA, LANCEADAS DE AGOSTO E O XIRI
HAMILTON RAPOSO MIRANDA FILHO
São Luís tem vocação cosmopolita e assimila todos os vícios, modismos e formas de
comportamentos alienígenas à nossa cultura. Sonha um dia em virar Paris. Somos invadidos
diariamente e resistimos bravamente a todas investidas colonialistas. Mantemos viva a nossa cultura
com sacrifício e paixão.
Em agosto, mês dos ventos e das marés altas, o céu costumava ficar mais colorido,
enfeitávamo-nos com cores e graça. Era época dos papagaios, jamantas, bodes, arraias e curicas com
seus rabos confeccionados com pedaços de algodão. Assim se fazia as tardes de sábado e de domingo
em São Luís!
A platéia costumava ficar com a cabeça e olhos para cima em direção ao céu. Todos
participavam das lanceadas, e o cuidado, o segredo dos empinadores de papagaios, dependia do tipo
do cerol, uma mistura de goma e vidro. Alguns preferiam o cerol feito com lâmpada fluorescente,
outros do vidro de leite de magnésia ou do fundo de garrafa, de preferência triturados após serem
cuidadosamente colocados nos trilhos dos bondes de São Luís; posteriormente eram diluídos em uma
cola feita de goma de tapioca e passados a seguir na linha que segurava o papagaio. O artefato lúdico
deveria ser matematicamente equilibrado e com a grife do famoso Zezé Caveira. O melhor e mais
respeitado fabricante de papagaios da ilha. O Hans Donner das pipas.
As lanceadas, verdadeiras disputas celestiais de papagaios, bodes e jamantas, formavam uma
platéia ávida por emoções. Participavam além dos lanceadores os coadjuvantes que arribavam os
papagaios, isto é, aqueles que ajudavam o papagaio a subir aos céus, os que escoravam os papagaios
e aqueles que corriam atrás dos que “morriam” ou que perdiam a lanceada. Os expert na arte das
lanceadas, contumazes vencedores, não deixavam que o derrotado caísse nas ruas, eles matavam,
cortavam e traziam na rabada os derrotados, isto é, os papagaios, bodes ou jamantas!
A resistência à nossa cultura pode até parecer enfraquecida ou diminuída, o maranhense gosta
mesmo de ser cosmopolita, porém a cultura resiste e nunca desaparecerá. O céu pode ter perdido o
colorido do mês de agosto, porém outras formas de resistência surgiram principalmente na
linguagem e na forma de expressão. O hem-hem contínua vivo, o qualira virou expressão
homofóbica mais nunca será esquecido e o xiri vai continuar sendo o órgão genital feminino.
MARIA FIRMINA DOS REIS:
poetisa, escritora e educadora maranhense99
DINACY CORRÊA100
E o mísero sofria; porque era escravo e a escravidão não lhe embrutecera a
alma, porque os sentimentos generosos, que Deus lhe implantara no coração,
permaneciam intactos e puros como sua alma. Era infeliz; mas era virtuoso; e
por isso seu coração estremeceu-se na presença da dolorosa cena, que se lhe
ofereceu à vista. (Maria Firmina dos Reis.Úrsula,1859)
Nascimento Morais Filho se ufana de ter sido o “descobridor” de Maria Firmina dos Reis
(1825-1917). Ele diz que descobriu a romancista, por acaso, no ano de 1973, época em que
procurava nos jornais antigos da Biblioteca Pública Benedito Leite textos de autores maranhenses
sobre o ciclo natalino (Natal, Ano Novo e Reis). Ficou impressionado ao encontrar informações
sobre uma mulher que no período da escravidão escrevia poesias. Depois, encontrou informações
sobre o romance Úrsula, publicado em 1859 cuja temática é a sociedade brasileira da época. [...].101
Somente a partir da edição fac-similar preparada por Horácio de Almeida e vinda a público em
1975, Úrsula passou ao conhecimento dos estudiosos. Neste ano, sai também o volume Maria
Firmina, fragmentos de uma vida, de Nascimento Morais Filho, e Josué Montello, conterrâneo da
autora, dedicam-lhe artigo no Jornal do Brasil, publicado no ano seguinte em espanhol na Revista de
Cultura Brasileña. O prefácio de Charles Martin à terceira edição (1988), o artigo de Luiza Lobo
(1993), e o estudo assinado por Zahidé Muzart (2000) complementam a escassa recepção crítica
obtida pelo livro. E mesmo um intelectual afro-descendente como Oswaldo de Camargo, em sua
coletânea O negro escrito (1987), de incontestável relevância para o resgate de escritores afro-
brasileiros do passado e do presente, passa ao largo da obra de Maria Firmina dos Reis. (Eduardo de
Assis Duarte)
99 Texto selecionado para a Antologia ‘190 POEMAS PARA MARIA FIRMINA’; substituído por outro, pela autora; o Editor decidiu replica-lo aqui, para não se perder o registro. 100 http://blog.jornalpequeno.com.br/dinacycorrea/2013/04/maria-firmina-dos-reis-poetisa-escritora-e-educadora-maranhense/, Publicado em 07/04/2013 às 12:55 por dinacycorrea, – ainda lembrando o Dia Internacional da Mulher (08.03) – 101 (Suplemento Cultural e Literário JP-Guesa Errante. Ano III, ed. 100– 28.11.2008).
Historiadores da Literatura Brasileira têm considerado Tereza Margarida da Silva e Orta
(mulher admirável, à frente do seu tempo, vida de romance) como a primeira romancista brasileira.
Entretanto, embora tenha nascido no Brasil (SP-1711), essa escritora foi levada pela família (pai
português), para Lisboa (1716), aos cinco anos. Na pátria de Camões, escreveu (1752), as “Máximas
de Virtude e Formosura” – a partir das quais os príncipes de Tebas Diófanes, Climeia e Hemirena
venceram as adversidades da vida – mais tarde intitulado de “Aventuras de Diófanes”, que poderia
ser considerado o primeiro romance brasileiro, caso a autora tivesse vivido/convivido no país
verdeamarelo. Em Portugal, também se casou (contra a vontade do pai) com o português Pedro
Jansen Prat (de ascendência alemã, com quem teve 12 filhos) e, por ordem do Marquês de Pombal
(1770), esteve presa, na torre, por 07 anos, vindo a falecer (1793) aos 82, sem nunca mais ter voltado
à terra natal.
Ressalte-se que, autoridades da nossa literatura, como Sílvio Romero, José Veríssimo, Afrânio
Coutinho, Alceu Amoroso Llima, Nelson Wernek Sodré, Antônio Cândido, Alfredo Bosi, Massaud
Moisés, José Guilherme Merquior… não relacionam Tereza Margarida na produção literária
brasileira. Assim, estamos com os que acham (Algemira de Macedo Mendes-Uespi, Eduardo de
Assis Duarte-UFMG, dentre outros) que se pode considerar, como nossa pioneira no gênero, a
maranhense Maria Firmina dos Reis – provavelmente, a primeira mulher brasileira a aventurar-se
pelos domínios da ficção literária.(Deusa Maria Costa Leite)
Busto de Maria Firmina dos Reis do escultor maranhense Flory Gama
(in: vimarense.zip.net/arch2011-02.12011-20.28.html)
Ao escrever Úrsula, Maria Firmina assinou como “Uma Maranhense” – pseudônimo que se
justifica nas limitações, nos preconceitos a que as mulheres eram submetidas e ainda no tratamento
absolutamente inovador que a autora dá ao tema da escravidão no contexto do patriarcado brasileiro.
A escritora que permaneceu no silêncio, no esquecimento do anonimato por muito tempo, admite, no
prólogo da sua obra, saber que “pouco vale esse romance, porque escrito por uma mulher e mulher
brasileira, de educação acanhada e sem o trato e a conversação dos homens ilustrados”. Essas
palavras revelam a condição social de quem não pôde estudar na Europa para ter uma educação mais
apurada, assim classificando o seu livro de “mesquinho e humilde”, mas desafiando: “ainda assim o
dou a lume”. (Luisa Caroline Campos Santos).
No romance Úrsula, desde o começo, a voz enunciadora coloca-se do lado daqueles que
almejam um Brasil liberto das desigualdades. Destaque-se, portanto, a posição corajosa de Maria
Firmina dos Reis ao denunciar a ilegitimidade e violência da escravidão, justamente aqui no
Maranhão, província considerada fortemente escravista. O fato de o vilão da história ser
caracterizado como dos mais cruéis dos senhores, não quer dizer que a escravidão fosse legítima para
os escravos pertencentes aos “bons senhores”. Trata-se como na perspicaz observação de Assis
(2004), de uma obra marcada pelo que se pode chamar, em nossos dias, de “sentimento de
brasilidade” [...]. A instigante novidade do texto firminiano reside na preocupação com a história e
as raízes negras, bem como na referência constante à África; assim, o papel atribuído aos cativos,
na trama, revelar-se-á fundamental.(Priscila da Conceição Viegas).
Nunca será demais exaltar a figura de Maria Firmina dos Reis no âmbito da educação, da
cultura e das letras. A produção significativa que legou a nossa literatura local e nacional é
argumento de autoridade a atestar essa inferência. Produção, aliás, que nem chegou a ser publicada
em seu tempo e ainda hoje é praticamente desconhecida, mercê do preconceito e de outros fatores
culturais que marcavam a sociedade maranhense no século XIX quando, então, ser mulher era
também ser submissa, subalterna ao regime patriarcal – que conferia aos seus representantes o poder
de estudar, até mesmo fora do Estado e do País. Ler, analisar, divulgar esta escritora, pioneira da
nossa literatura de expressão feminina é, pois, um privilégio, um dever de todo o maranhense.
Maria Firmina foi aquela que não se deixou intimidar, que se recusou à condição feminina de
mera subserviência, que não desistiu de suas aspirações, mas, superando suas limitações
espaciotemporais, foi além, usando a sua escritura como arma de combate, demonstrando que a
mulher é, sim, capaz de atuar produtivamente numa sociedade, sem ter que viver na subserviência,
subestimada em sua inteligência e competência. Assim, no exercício da literatura e do magistério a
que se entregou sem reservas, Firmina lutou com os recursos de que dispôs, no encalce dos seus
ideais: liberdade de expressão e direito de ser – caminho que não lhe foi fácil percorrer,
confrontando-se aos grandes escritores de outrora, formados no Sul do País ou mesmo na Europa.
Primeira literata maranhense, romancista, contista, poeta, charadista e compositora de música,
Maria Firmina dos Reis nasceu em São Luís do Maranhão (Rua de São Pantaleão, próximo à Igreja
homônima), em 11 de outubro de 1825. Afrodescendente e filha natural (bastarda) de Leonor Felipa
dos Reis e João Pedro Esteves.
Na sua educação e formação, contou com a ajuda do primo (pelo lado materno), o
escritor/educador Sotero dos Reis, vindo a ser a primeira professora concursada no seu Estado – aos
22 anos foi aprovada em concurso público para a Cadeira de Instrução Primária, cargo que exerceu
pelo resto da vida, no município de Guimarães. Dedicou sua vida a ler, escrever, ensinar.
Ao aposentar-se, fundou, em sua casa, a primeira escola mista e gratuita do Estado. Mulher de
grande atividade intelectual, matriarca espiritual de seu povo. Adotou dez crianças (seus filhos do
coração) e morreu pobre, cega e esquecida, em 11 de novembro de 1917, na cidade de Guimarães,
longe do continente (Lobo, 1966).
“Pobre, mulata e solteira”, enfrentou o preconceito social e racial próprios do seu meio e do seu
momento histórico (temática tão bem abordada por Aluísio Azevedo no seu romance O Mulato).
Mas, convicta do que pretendia alcançar, procurou expressar suas ideias e posições na tribuna
literária, quebrando todas as barreiras, superando os seus impasses de mulher numa sociedade
patriarcalista, inscrevendo-se na história da nossa literatura com os romances Úrsula (1859 – que a
consagrou) e Gupeva (Semanário Maranhense – 1870) e o conto A Escrava (Revista Maranhense –
1887), o livro de poemas de cunho lírico/político Cantos à Beira-Mar (1871) – além dos enigmas,
charadas e outros trabalhos de valor didático-pedagógico, também publicados em jornais locais.
Úrsula – Escrito quando a autora tinha um pouco mais de 30 anos (num momento em que a
nossa prosa de ficção começa a dar os seus primeiros passos), mas publicado em livro somente em
1975 (pelo escritor Nascimento de Moraes Filho que o descobriu e coletou do Semanário
Maranhense), inaugura o romance abolicionista brasileiro de expressão feminina. No livro, o negro
escravo é presença marcante, na medida em que a voz narradora “denuncia a violência do sistema
escravista e questiona a sua legitimidade, num contexto em que os escravos eram arrancados da terra
natal, transportados como animais em navios negreiros, reprimidos, sadicamente, em caso de justa
revolta e separados de suas famílias, sem qualquer respeito pelos seus sentimentos. Trabalhavam sem
descanso, alimentação, roupas ou moradia adequada” (Viegas, 2007). Trata-se de uma obra
romântica, com timbres de denúncia social, tendo o amor (impossível) entre Úrsula e Tancredo como
pano de fundo na temática abolicionista.
A narrativa inicia-se com o capítulo “Duas almas generosas”, que põe em cena o socorro
prestado por Túlio (jovem escravo) a Tancredo (jovem branco, burguês), vítima de um acidente,
durante um passeio a cavalo. O título supra referido já sugere a bondade, a generosidade, à
solidariedade, falando alto, superando preconceitos, aproximando dois seres humanos socialmente
distantes. A escravidão massacrante e odiosa não endurecera o coração do jovem negro, que cuida do
branco e abastado Tancredo, vendo-o, tão somente, como alguém necessitado de ajuda. A autora
quer patentear em sua obra que, não obstante as injustiças sofridas, os negros têm bom coração e
capacidade de amar. Por seu lado, Túlio, o jovem branco, livre e rico, experimentando, gratificado, a
bondade do seu salvador, compra-lhe a carta de alforria.
E o enredo prossegue, linearmente, em seu desenrolar. O escravo acolhe o cavaleiro ferido na
casa da sua senhora (Úrsula, coincidentemente, prima de Tancredo). A situação promove o encontro
dos dois jovens aparentados, acendendo-lhes a paixão que os transporta a breves momentos de
felicidade, para culminar com a tragédia. Úrsula cuida da mãe doente, que fora traída pelo próprio
irmão (tio da jovem), o Comendador – que, por ser contrário ao casamento da irmã, vem a assassinar
o cunhado (pai de Úrsula) e a apossar-se dos bens da família.
É o típico vilão da história, figura sádica do senhor cruel, que explora a mão de obra escrava
até miná-la nas suas forças. O desfecho de tudo se dá com o assassinato de Tancredo (pelo tio da
noiva), à porta da Igreja, na noite do seu casamento, seguindo-se o recolhimento de Úrsula, ao
convento, o tardio remorso do assassino, a conseqüente libertação dos seus escravos e a loucura,
culminando com a morte do vilão arrependido.
Em Gupeva – republicado também por Nascimento de Moraes Filho em Maria Firmina,
fragmentos de uma vida/São Luís, 1975 – é a temática do indianismo que se sobreleva, num enredo
em que o protagonista Gupeva, chefe indígena, apaixona-se por uma jovem chegada da Europa,
ignorando o fato de ambos serem irmãos, filhos de um mesmo nobre francês.
Em A Escrava, publicado no auge da campanha abolicionista, a autora reitera seu discurso, sua
postura antiescravista e republicana (já transparente em Ùrsula), ficcionando, no enredo, uma
conversa/discussão, em ambiente burguês, em que um dos convivas critica a escravidão, por ser esta
anti-humanista e degradante para a sociedade. Trata-se de uma senhora que, assumindo-se pró-
abolicionista, narra em flash back, o episódio em que tentou salvar a Mãe Joana, uma escrava fugida,
e seu filho Gabriel. Não resistindo aos sofrimentos, a escrava faleceu. Quando o senhor/açoitador
veio resgatá-la, a dita senhora, não admitindo que o filho de Joana voltasse a sofrer como escravo
comprou-lhe a carta de alforria.
Em 1889, compôs o Hino da libertação dos escravos (letra e música). Em 1895, aposentou-se
do ensino público oficial (mas continuando a lecionar em sua casa), passando a colaborar no
Jornal Diário do Maranhão; em 1897, no Pacotilha; em 1903, n’O Federalista.
Pode-se inferir que, numa visão intimista é que Maria Firmina deu à luz suas obras de teor
abolicionista, posto que, vivia e sentia, por experiência própria, o preconceito que, corajosamente,
denuncia, sublimando-o, ao escrever um dos nossos primeiros romances abolicionistas, para lembrar,
finalizando, Assis Duarte que diz:
“O livro permaneceu fora de circulação por mais de um século e seu resgate vem contribuir
para a reescrita de nossa história literária. Até porque inaugura uma perspectiva diferenciada
quanto ao trato do problema da escravidão, que não encontra na obra dos demais escritores do
período romântico. A autora – mulher, mestiça, bastarda e criada sem a presença dos pais –
assume o ponto de vista do outro, tanto no que diz respeito à representação dos escravizados,
quanto no inédito enfoque das relações de dominação patriarcal sob a perspectiva da mulher. Ao
publicar Úrsula, Maria Firmina dos Reis desconstrói igualmente uma história literária
etnocêntrica e masculina até mesmo em suas ramificações afrodescendentes. Úrsula não é
apenas o primeiro romance abolicionista da literatura brasileira, fato que, inclusive, nem todos
os historiadores admitem. É também o primeiro romance da literatura afrobrasileira, entendida
esta como produção de autoria afrodescendente, que tematiza o assunto negro a partir de uma
perspectiva interna e comprometida politicamente em recuperar e narrar a condição do ser
negro em nosso país. Acresça-se a isto o gesto (civilizatório) representado pela inscrição em
língua portuguesa dos elementos da memória ancestral e das tradições africanas. Texto
fundador, Úrsula polemiza com a tese segundo a qual nos falta um “romance negro”, pois
apesar de centrado nas vicissitudes da heroína branca, pela primeira vez em nossa literatura,
tem-se uma narrativa da escravidão conduzida por um ponto de vista interno e por uma
perspectiva afrodescendente”. (In: REIS, 2004, posfácio).
REFERÊNCIAS
CAMPOS SANTOS, Luisa Caroline (bolsista/orientanda) e CORRÊA, Dinacy Mendonça
(orientadora). Projeto Teares da Literatura Maranhense – a tessitura feminina. Pibic-
Uema/Fapema, 2006/07 – relatório final.
CORRÊA, Dinacy Mendonça (orientadora) e VIEGAS, Priscila da Conceição (bolsista orientanda).
Projeto Teares da Literatura Maranhense: romancistas contemporâneas. Pibic-Uema, 2006/07 –
relatório final.
COSTA LEITE, Deuza Maria. A Literatura Maranhense na Expressão Feminina – pequena
antologia crítica. Monografia de Conclusão do Curso de Licenciatura em Letras (sob a orientação da
Prof. Dinacy Mendonça Corrêa). São Luís-Ma: Uema, 1999.
DUARTE, Eduardo de Assis. In: Reis, Maria Firmina dos. Úrsula, 4ª. ed. – PUC/Florianópolis-
MG:Editora Mulheres (atualização do texto e posfácio).
LOBO, Luiza. A Literatura de Autoria Feminina na América Latina. Rio de Janeiro:UFRJ,
1996.
REIS, Maria Firmina dos. Úrsula. 4ª. ed. PUC/Florianópolis-MG: Editora Mulheres.
SUPLEMENTO CULTURAL E LTERÁRIO JP-GUESA ERRANTE. Ano III, ed. 100 –
28.11.2008.
A FESTA DA SEMANA DA PÁTRIA E O FIM DE UMA ÉPOCA
HAMILTON RAPOSO MIRANDA FILHO
Acabaram com desfile das escolas que acontece durante Semana da Pátria. Aos poucos a
tradição foi se perdendo no contexto da cidade. Primeiro foi as escolas tradicionais que se
ausentaram e agora veio o golpe fatal. Não sei a explicação, acho que a falta de motivação e
desinteresse afastaram as escolas desse ufanismo e arrobo patriótico.
Confesso que tenho vivido o suficiente para ter experimentado e vivido o modismo dos
tradicionais desfiles da Semana da Pátria. Tenho experiência comprovada no assunto, fui metralha,
toquei na banda e carreguei a bandeira da minha escola, o Liceu Maranhense. Fui metralha e quem é
dessa época sabe muito bem o que é ser um metralha. Quem desconhece a palavra ou queira fazer um
juízo, vou logo explicar que um metralha é aquele que desfila no último pelotão e na última fila deste
pelotão. Ser metralha é saber experimentar todo tipo de bulling e sentir-se feliz por está ali honrando
a escola responsável pela sua formação educacional. Ser metralha não é pagar mico. Quando fui para
o científico, aprendi a tocar tarol e desfilei tocando na banda, era puro êxtase. Tocar tarol na banda
dava status e ascensão. No último ano do cientifico levei a bandeira do Liceu, uma das maiores
honras que vivi durante toda a minha vida escolar. A organização, escolha dos personagens e
responsável por todo o desfile, o Professor Luís Aranha, um dos maiores educadores do Maranhão,
acompanhava o Liceu onde ele estivesse.
O desfile do Colégio Marista era o mais aguardado, o colégio preparava o seu desfile com
seriedade e com a dedicação de um dos maiores educadores e formadores de caráter do Maranhão, o
Irmão Ivo Anselmo. Cavaleiros montados em puro sangue manga-larga machador abriam a
participação do Colégio Marista. O tradicional colégio católico sempre escondia a maior sensação da
escola, o seu último pelotão: O Pelotão de Honra. Com voltas e meias-voltas e grito de Marista, o
pelotão empolgava a todos que amanheciam na Praça João Lisboa e Rua Grande a procura dos
melhores lugares para assistirem o desfile da Semana da Pátria.
O gran finale ficava por conta da Escola Técnica e sua tradicional banda de música sob os
cuidados do genial Maestro João Carlos. A última escola a desfilar, quase sempre ao meio dia, fazia
jus à fama, a banda passava e tocava para todos e todos acompanhavam a banda da Escola Técnica.
A Escola Técnica era unanimidade, estava acima das tradicionais rixas e rivalidades que existiam
como se fossem torcidas de time de futebol. Se o Marista era luxo e beleza a Escola Técnica era o
povão.
Estudava no Liceu e tinha de aguentar a gozação dos amigos que estudavam nos Maristas: “lá vem o
Liceu, atrás do Ateneu, tocando uma lata velha que o Marista deu”.
A festa passou e agora definitivamente acabou!
A LOBA ESQUÁLIDA.
AYMORÉ ALVIM.
Transcorria a década de 1940. Em um grupo escolar da rede pública, lá na minha terra,eu fazia
o quarto ano do curso primário.
Numa certa manhã, na aula de leitura, a professora nos deu um tema para ler. Cada um lia uma
parte. Soeiro, que estava à minha frente, começou a ler um trecho que dizia que “uma loba esquálida
bramia pelas ruas de Florença com o seu filhote”.
- Pára a leitura. Seu Aymoré, o que é esquálido?
- Não é esquálido, professora. É esquálida.
- Muito bem. Então nos diga o que é esquálida.
- Bem, professora, esquálida deveria ser uma “lobona” bonita passeando com seu filhote pelas ruas dessa
cidade que Soeiro falou. Agora, o que me encafifou foi por que ela bramia. Por que, professora?
A turma começou a rir...
- Seu Aymoré, você quer brincar comigo?
- Quando, professora? Hoje não dá. Vou bater uma bolinha aí na praça de tarde.
- Você deixa de ser um pequeno atrevido e insolente.
- Por que eu sou atrevido, professora? Agora, esse insolente eu não sei mesmo o que é.
- Retire-se da minha sala e vá falar com a Diretora.
Nesse ano, chegaram duas professoras normalistas. Uma era bem alta e loura, Altair. A outra,
Ivelone, era baixinha e vivia trepada num sapato salto Luiz XV(15cm) e gostava de usar saias “godê
em forma”. Mas a baixinha era braba demais. Quando de enfurecia pulava numa perna só, (rodava a
baiana como se diz hoje”.
Quando cheguei à diretoria quem estava lá era justamente a baixinha.
- O senhor por aqui outra vez, em menos de uma semana? O que foi que aprontou agora?
- Aprontar mesmo, eu não aprontei nada. A professora me perguntou por que uma loba, que andava com um
filho não sei por onde, era esquálida. Aí eu disse que com certeza o seu lobão, marido dela, deixava. A
senhora não acha também que nesses casos o marido é que manda?
- Eu não acho nada, rapaz. Eu quero saber o que foi que a professora achou?
- Aí, ela me convidou pra brincar e eu disse que hoje eu não podia porque ia jogar bola com a turma. Ela,
então, se zangou e me mandou pra cá.
- Seu Aymoré....
- Foi, assim, professora. Agora me diga o que é esse tal esquálido?
- Quem tem que lhe dizer é a professora. Fique aí de pé com a cara pra parede até o fim das aulas.
Fiquei. O que poderia fazer? Daí há algum tempo...
- Ivelone, Aymoré veio falar com você?
- Ele está aí com uma conversa fora de moda dizendo que você o convidou para brincar.
- Esse pequeno não tem jeito mesmo. Deixa que eu vou leva-lo, pessoalmente, para dona Inês. Nós
precisamos muito conversar.
No meio da caminhada...
- Professora, o que a senhora vai dizer pra mamãe?
- Eu vou dizer a ela que tu estás muito atentado, pequeno. Ninguém te aguenta mais.
- Aí eu digo pra ela que a senhora se zangou porque me convidou pra brincar e eu não quis ir.
- O que, moleque? Tu me respeitas, seu capeta.
- Todo mundo ouviu a senhora me convidar. Posso provar.
- Quer saber de uma coisa, rapaz, vá embora pra tua casa. Teus pais que cuidem de ti. Tu não tens mais jeito.
- Espere um pouco, professora. O que é mesmo esse tal esquálido?
- Pede pra teu pai ver no dicionário.
- Tá certo. Então, até amanhã, professora.
Deu-me uma rebanada. Não disse nada e foi embora.
E eu continuei na dúvida.
Vejam só...
Perolina Mariani Bensabath - FACEBOOK 26/07/2015
Pois eu estou homenageando os escritores de ARARI, esta pequena comunidade LITERÁRIA que
toma corpo na Comunidade ELOS LITERÁRIOS. O confrade e meu cunhado maçom João Francisco
Batalha Batalha, Adenildo Bezerra e o José Maria Sousa Costa e o seu chapéu enigmático. Bela
turma que idolatra sua terra e escreve sobre ela.
JOSÉ MARIA SOUSA COSTA, ligado no tempo e espaço, de sentimento nordestino, alma
brasileira, foi dele, recentemente, o alarme que eclodiu das ruas sulistas, da população protestando
contra os aumentos abusivos, denunciando que estava tudo mal no governo petista: “não queremos
estádios de futebol, queremos escolas”. Poeta e blogeiro. Membro da Comunidade Elos Literários.
Porf. ADNILDO BREZERRA, comunicador, orador e pesquisador atuante da Geografia, sobretudo
da Geografia do município onde nasceu, reside e trabalha: Arari. Nasceu em 25 de maio de 1979. É
licenciado em Matemática pela Universidade Estadual do Maranhão - UEMA. Durante vários anos
contribuiu com a redação do Jornal Tribuna Arariense. Um livro publicado -ARARI: espaço e
sociedade. Participou da coletânea poética Poesia Arariense, em 2014. Membro da Comunidade
Elos-Literários. Professor.
JOÃO FRANCISCO BATALHA, autor da obra “Um passeio pela História do Arari”, foi
homenageado pela Academia Ludovicense de Letras Maranhão-Brasil (ALL), durante as
comemorações do 1º ano de criação da entidade.
Francisco Batalha é autor de diversos livros, entre os quais “Família Batalha”, “Família Prazeres”,
“Passageiro da Aurora” e “Mearim, a Morte de um Gigante”. Ele é integrante da Academia Arariense
e Vitoriense de Letras. Membro fundador da Comunidade Elos Literários.
DIZEM QUE EM ARARI, ANTES DE CAMINHAR OU FALAR, O GURI ESCREVE.
OUTRO LADO DO NOSSO EU...
RAIMUNDO VIANA PROFESSOR UNIVERSITARIO; VICE – PRESIDENTE DA ACADEMIA BREJENSE DE LETRAS
MEMBRO FUNDADOR DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS – ALL
rcv@elo.com.br
Publicado em O Imparcial em 26/07/2015
O tema desta crônica resulta de uma reflexão sobre a dupla face do nosso EU: uma externa; e
outra interna. A de fora recebe todos os estímulos advindos da realidade, que nos cerca. São muitos,
e diferenciados. Tocam-nos a vida; impulsionam nossa caminhada, no dia a dia. Alguns são
transitórios. Alternam-se, ininterruptamente, entrando e saindo de nosso EU: no trabalho; na família;
nas ruas... Já outros, não! Entram e não voltam! Vêm para ficar; penetram-nos a intimidade; perdem
sua materialidade; viram sentimento – de tristeza; de dor!... Incorporam-se, por fim, até o FIM sem
fim, ao nosso modo de ser e de viver. De todos eles, um só não tem parâmetro: o da dor da morte de
um filho!... Não há obrigação mais difícil; cruel mesmo, que a de ter que sepultar o próprio filho!...
Já cumpri essa missão! Experimentei desse cálice!... Acompanhei o sepultamento de minha filha
Raquel, há doze anos falecida (2002), e nunca esquecida!...
O ocorrido, de imediato, nos impõe uma intermitente sensação de orfandade, às avessas, e
adversa, traduzida numa dor SEM FIM: a dor da saudade do ente querido, para sempre ausente de
nossa casa; e presente em nossa mente.
Lá fora, alheio a tudo e a todos, o tempo não espera por ninguém. Flui normalmente. Recolhe-
se o ombro solidário da família e dos amigos. E a vida segue com todos os seus encargos. Empurra-
nos para o enfrentamento da realidade “hic et nunc” ( aqui e agora). E hemos de assumi-la na sua
integridade, embora insossa por fora; e amarga por dentro. A partir de então, passamos a viver o luto
interiorizado, o sem rosto, que é a fase da digestão da dor; nunca totalmente digerida, em se
tratando da perda de um filho.
Nesse momento, brotam-nos do interior sentimentos estranhos: os de culpa; e os de descrença
são os mais comuns... Aqueles (os de culpa) tentam empurrar-nos para o abismo da depressão; estes
(os de descrença) atentam, não raro, contra nossa convicção religiosa. Certo é que fragilizados, não
vemos caminhos... E caminhar é preciso – com segurança, e determinação. “segura na mão de
Deus”- no-lo diz o evangelho.
A caminhada no luto não é fácil; mas, não impossível. Muito depende da capacidade de cada
um, de pés no chão, e de pensamento no altar, administrar essa separação, a nosso ver sempre
precoce. Inútil buscarmos esquecê-la. Transfigurada no sentimento da saudade nos acompanhará vida
afora. Somos de carne e osso... Essa é a nossa contingência!...
Os porquês da ocorrência, de regra, inoportunos e oportunistas, vira e mexe , procuram surfar
em nossa fragilidade, naquele momento. Apontam-nos, não raro, como solução da perda, caminhos
alternativos, que se nos abrem, quase sempre, na contramão de nossa história de vida, e de crença.
Diante dessa realidade existencial, há de concluir-se que somente iluminados pela FÉ,
projetada pela virtude da ESPERANÇA, poderemos caminhar no rumo certo, e vislumbrar o ponto
de chegada pretendido: o do REENCONTRO na RESSURREIÇÃO com nosso filho falecido.
Conheço alguns pais, e, com certeza, desconheço muitos, que vivem a mesma experiência de
dor. Com todos eles, companheiros de destino; parceiros na dor da saudade, de mim conhecidos e
desconhecidos, gostaria de compartilhar esta minha reflexão. E juntos conscientizar-nos de que
nossos filhos não vieram de NÓS, mas, por NÓS; de que não nos pertenciam, e sim ao Criador,
único detentor do dom da vida; e Senhor do destino de cada um. Com esse entendimento, se
iluminada por um espírito de Fé robusta e vivenciada, poderemos colocar a morte no horizonte da
ESPERANÇA; transformar nosso sofrimento em caminho de vida. E tirar da dor nosso próprio
crescimento. O que nos requer administrar com redobrada atenção o OUTRO LADO DO NOSSO
EU. O de dentro!...
RAZÕES DE UM NOVO LIVRO
ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Economista. Membro da Academia Caxiense de Letras e da Academia Ludovicense de Letras
Publicado em O ESTADO DO MARANHÃO, 02/08/2015
“A riqueza de uma nação se mede pela riqueza do povo e não
pela riqueza dos príncipes”.
Adam Smith (1723-1790), economista e filósofo escocês.
Nunca tive a pretensão de escrever um romance, seja baseado em fatos reais ou simplesmente
fruto de ficção; versos não sei fazer, mas aprecio quem sabe e gosta de recitá-los. Escrevo
literalmente para “vencer a perenidade dos textos jornalísticos”; depois faço uma seleção dos
melhores e os transformo em livros.
Foi assim com “Fortes Laços”, em 2007, lançado na primeira Feira do Livro de São Luís, e o
bilíngue português/francês “Crônicas de 400 anos/Chroniques de 400 ans”, em 2012, lançado sob os
auspícios da Associação de Amigos da UFMA, no Palácio Cristo Rei, para comemorar o quarto
centenário da cidade homenageando seus fundadores e colonizadores.
Os dois livros assim foram lançados em São Luís (o primeiro também em Caxias); depois
ganharam igual destaque e consequente guarda em bibliotecas de Universidades da França (Paris e
Lyon), Espanha (Salamanca) e Portugal (Coimbra e Povoa do Varzin).
Vem aí, dentro em breve, meu terceiro livro. De cunho eminentemente técnico, “Desafios à
teoria econômica” reúne quarenta artigos escritos e publicados, no “O Estado do Maranhão”, entre
dezembro de 2008 e fevereiro de 2015, escritos a partir da famosa crise da “bolha” iniciada nos
Estados Unidos e repercutida, até os dias de hoje, principalmente na eurozona e países periféricos.
O Livro é composto de três unidades integradas: contém os fundamentos teóricos da ciência
econômica que estão sendo desafiados; as projeções da conjuntura face ao que vem acontecendo na
economia mundial e nada muito alvissareiro às chamadas economias reflexas; diversos textos
inerentes ao contexto desses acontecimentos que vêm privilegiando uma verdadeira
“financeirização” da atividade econômica.
O período abrangido pelo Livro não esgota a questão da crise, pois ela continua existindo,
com efeitos diferenciados, principalmente na zona do euro e em países periféricos como a Grécia
atualmente ante a possibilidade iminente de um default de sua dívida e, ainda que remota, sua saída
da eurozona. Esse conteúdo poderá servir principalmente aos universitários interessados em conhecer
os primórdios das causas que levaram a mais um teste do capitalismo.
Aliás, com muita ênfase, escrevi mais sobre o capitalismo (três textos específicos) e suas
imperfeições e não exatamente sobre a essência do Sistema que, no dizer de Winston Churchill, “é o
melhor de todos à exceção dos demais”. Há visíveis desvirtuamentos das teorias e práticas que o
embasaram: o comportamento dos mercados e dos consumidores; o papel dos bancos centrais; o uso
da moeda fiduciária em suas funções tradicionais.
A verdade é que não temos atualmente mais uma crise gerada apenas pela essência do sistema
capitalista democrático, fruto de suas próprias contradições de concentrador e mau distribuidor da
renda, porém da sua forma de gestão que precisa ser embasada em urgentes processos de regulação.
O professor Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia, deu uma entrevista sob o título
“Mercado deve agir como mercado” (jornal Valor Econômico, encarte da revista semanal Eu & Fim
de Semana, edição do dia 26 de junho último). Ele diz textualmente:
“[... a situação atual se deve à distorção do capitalismo e não ao capitalismo]”. E prossegue:
“O problema atual [...] não está no capitalismo, mas em como o capitalismo do século XXI teria
sido distorcido por outro modelo econômico, a chamada economia pelo lado da oferta [...]”. É
ainda de Stiglitz o entendimento sobre a evolução da crise grega: “[...] A zona do euro era um
projeto econômico incompleto havia um projeto político, mas não haviam criado as instituições
para fazê-lo funcionar [...]”.
São temas abordados em alguns dos textos constantes do meu terceiro Livro, que pretendo
lançar também nos Estados Unidos. A edição está a cargo da editora da Universidade Federal do
Maranhão graças aos renovados apoios do reitor Natalino Salgado Filho e do professor Sanatiel
Pereira, diretor da EDUFMA, sempre atentos à divulgação da cultura produzida pelos recursos
humanos da UFMA.
Para festejar “Desafios à teoria econômica” os lançamentos tradicionais serão precedidos de
palestras e sessões de autógrafos, inclusive no exterior, sempre, em nome da Universidade e da
Academia, cujo prestígio de professor aposentado e de “imortal” tenho procurado honrar.
O JULGAMENTO DA RECLAMAÇÃO Nº 4335/AC PELO STF:
a necessidade ou não de expedição de Resolução do Senado Federal suspendendo
os efeitos de norma declarada inconstitucional e o controle difuso abstrativizado
ANDRÉ GONZALEZ CRUZ102
Publicado na Revista Visão Jurídica nº 108.
No dia 04/05/2006, a Defensoria Pública da União ajuizou uma Reclamação no STF em face
da decisão do Juiz de Direito da Vara de Execuções Penais da Comarca de Rio Branco, no Estado do
Acre, que indeferiu pedido de progressão de regime formulado em benefício de 10 (dez) condenados,
fundamentando a citada decisão no argumento de que a declaração de inconstitucionalidade do art.
2º, § 1º, da Lei nº 8.072/1990 [a qual estabelecia que “a pena por crime previsto neste artigo
(considerados hediondos) será cumprida integralmente em regime fechado”] teria ocorrido em sede
de controle incidental, no Habeas Corpus nº 82.959/SP, que foi julgado pelo Plenário do Pretório
Excelso no dia 23/02/2006, ou seja, com efeitos somente inter partes.
Destarte, a DPU alegou, por meio da citada Reclamação, que lá foi atuada sob o nº 4335/AC, o
descumprimento da decisão exarada pelo STF no mencionado Habeas Corpus, que afastou a vedação
de progressão de regime aos condenados pela prática de crimes hediondos, através da declaração da
inconstitucionalidade do art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/1990, conforme pontuado acima. Assim, a
Reclamante, ao fim do seu petitório inicial, requereu a concessão da progressão de regime daqueles
10 (dez) condenados.
Distribuída a Reclamação ao Ministro Gilmar Mendes, um grande constitucionalista, este
deferiu o pleito de liminar, para que, mantido o regime fechado de cumprimento de pena pela prática
de crime hediondo, fosse afastada a vedação legal de progressão de regime, isto até o julgamento
final daquela ação.
Dessa forma, a supramencionada Reclamação fora posta em julgamento na sessão plenária do
dia 01/02/2007, com o voto do seu Ministro relator no sentido do conhecimento e provimento
daquela, para cassar a decisão proferida pelo Juiz de Direito da Vara de Execuções Penais da
Comarca de Rio Branco/AC, cabendo a este avaliar se, no caso concreto, aqueles 10 (dez)
condenados atendem ou não aos requisitos da progressão de regime.
Para chegar ao dito entendimento, o Ministro Gilmar Mendes analisou a afirmação do Juiz de
Direito da Vara de Execuções Penais de Rio Branco/AC no sentido de que a decisão proferida pelo
STF no HC nº 82.959/SP “somente terá eficácia a favor de todos os condenados por crimes
hediondos ou a eles equiparados que estejam cumprindo pena”, quando o Senado Federal expedir a
Resolução suspendendo a eficácia do dispositivo declarado inconstitucional , nos termos do art. 52,
X, da Constituição Federal de 1988.
Nesse ponto, cumpre transcrever o que reza o citado dispositivo.
102 Mestre em Políticas Públicas pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Especialista em Ciências Criminais pela Universidade Gama Filho (UGF) e Especialista em Ciências Criminais pela Escola Superior do Ministério Público do Estado do Maranhão (ESMP/MA), em convênio com a Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). Analista e Assessor de Procurador de Justiça no Ministério Público do Estado do Maranhão. Membro Efetivo da Academia Maranhense de Letras Jurídicas (AMLJ) e da Academia Ludovicense de Letras (ALL).
Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal: [...] X - suspender a execução, no todo ou
em parte, de lei declarada inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal;
Sobre o assunto, já conhecido o entendimento do Ministro Gilmar Mendes, o qual critica esse
modelo brasileiro, pois, segundo ele, a interpretação literal do art. 52, X, da CF/88, configura
negação à teoria da nulidade da lei inconstitucional, em decorrência de o sistema de controle
brasileiro judicial de constitucionalidade, em que pese misto, não ter expressamente adotado
mecanismo vinculante, como acontece com o stare decisis nos Estados Unidos.
Assim, para o referido Ministro, a declaração de inconstitucionalidade pronunciada pelo
Supremo Tribunal Federal, com efeitos inter partes, não necessitaria ser examinada pelo Senado
Federal para que tivesse sua eficácia convertida em erga omnes, com a necessidade de uma nova
leitura do mencionado regramento. Segundo Gilmar Mendes, o instituto da Súmula Vinculante,
inclusive, fragiliza o instituto da suspensão de execução pelo Senado Federal, pois, por meio deste,
fica evidente que o ordenamento constitucional brasileiro entregou ao STF a competência para alterar
a eficácia inter partes do controle difuso de constitucionalidade, sem que nenhum tipo de
pronunciamento do Senado seja necessário.
Concluindo, o pensamento do Ministro Gilmar Mendes é no sentido da ocorrência do
fenômeno da mutação constitucional acerca do art. 52, X, da CF/88, para, atualmente, em face de
várias mudanças fáticas, jurídicas e políticas, o citado dispositivo sofrer uma espécie de modificação
interpretativa, conferindo-lhe exclusivamente a função de mero ato de publicação no Diário do
Congresso, para conhecimento geral da nação, de uma declaração daquela Corte de Justiça de
inconstitucionalidade em sede de controle difuso.
Este foi o entendimento proferido pelo relator da Reclamação nº 4335/AC, como já frisado
anteriormente, no sentido do seu conhecimento e provimento.
Nesta sessão plenária, datada de 01/02/2007, o julgamento fora interrompido em decorrência
de pedido de vista antecipado do Ministro Eros Grau, ocasião em que prometeu o retorno dos autos
na semana seguinte, pois, segundo alegou, tinha acabado de proferir o seu voto-vista na Reclamação
nº 4219, que cuidava de situação relativamente análoga.
Desse modo, o Ministro Eros Grau trouxe o processo para julgamento na sessão do dia
19/04/2007, seguindo os exatos termos do voto do Ministro Gilmar Mendes, o seu relator, julgando
também procedente a citada Reclamação.
Ocorre que os mencionados entendimentos, no sentido da mutação constitucional, são
minoritários no Supremo Tribunal Federal, isso de longa data. Assim é que, ainda na sessão do dia
19/04/2007, o Ministro Sepúlveda Pertence abriu a divergência nesse ponto, momento em que se
manifestou, na esteira do parecer da Procuradoria-Geral da República, no sentido do não
conhecimento da Reclamação, mas com a concessão, de ofício, de Habeas Corpus para o fim de
afastar a inconstitucionalidade do art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/1990 no caso concreto, e determinando
ao Juiz de Direito da Vara de Execuções Penais da Comarca de Rio Branco, no Estado do Acre, que
analisasse os pedidos de progressão de regime dos interessados; no que fora seguido integralmente
pelo Ministro Joaquim Barbosa.
Na oportunidade, tanto o Ministro Sepúlveda Pertence quanto ao Ministro Joaquim Barbosa
registraram que a edição de Súmulas Vinculantes seria a saída mais adequada para os casos em que
declarada a inconstitucionalidade de uma norma pelo STF, pela via incidental, na medida em que
evitaria injustiças, insegurança jurídica e a sobrecarga de processos no Poder Judiciário.
Todavia, a sessão plenária do dia 19/04/2007 fora também interrompida, em face de pedido de
vista do Ministro Ricardo Lewandowski.
Desse modo, o julgamento da demanda somente fora retomado no dia 16/05/2013, quando o
Ministro Ricardo Lewandowski apresentou o seu voto-vista, pelo não conhecimento da Reclamação,
mas concedendo o Habeas Corpus de ofício, seguindo a esteira de raciocínio já adotada pelos
Ministros Sepúlveda Pertence e Joaquim Barbosa.
Entretanto, em virtude do grande lapso temporal existente entre esta última sessão de
julgamento e a anterior, que foi superior a 06 (seis) anos, um fato específico fora observado pelos
julgadores e, em especial, pelo Ministro Ricardo Lewandowski, qual seja a existência de uma
Súmula Vinculante sobre a matéria objeto da demanda, adiante transcrita.
SÚMULA VINCULANTE Nº 26. Para efeito de progressão de regime no cumprimento de pena
por crime hediondo, ou equiparado, o juízo da execução observará a inconstitucionalidade do
art. 2º da Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990, sem prejuízo de avaliar se o condenado preenche,
ou não, os requisitos objetivos e subjetivos do benefício, podendo determinar, para tal fim, de
modo fundamentado, a realização de exame criminológico.
Diante desse fato novo no julgamento da Reclamação nº 4335/AC, o Ministro Teori Zavascki
pediu vista dos autos nesta última sessão de julgamento e, no dia 20/03/2014, trouxe o caso
novamente ao plenário do STF, com um voto brilhante, no sentido de que a demanda à lume, na
época da sua propositura, não devia ser conhecida, mas, em virtude da existência da Súmula
Vinculante nº 26, publicada no dia 16/12/2009, cujo descumprimento, sim, autorizaria o manejo
daquela via, entendeu no sentido do seu conhecimento e deferimento. E foi seguido pelos Ministros
Luís Roberto Barroso e Rosa Weber.
Nesta oportunidade, o Ministro Marco Aurélio proferiu seu voto no sentido do não
conhecimento da Reclamação, ainda que publicada a Súmula Vinculante nº 26, pois, segundo o
citado magistrado, isto apenas ocorreu após a propositura da Reclamação, tendo em vista que as
proclamações do STF têm sido no sentido da necessidade de se ter o ato, que se nomina de
inobservado, como anterior ao atacado. E verbaliza: “não podemos pretender que o autor do ato
questionado implemente premonição quanto a um pronunciamento futuro do Supremo, e dizermos
simplesmente que, porque deveria presumir esse ato futuro, o teria inobservado”. O seu voto foi
circundado, posteriormente, em manifestação do Ministro Ricardo Lewandowski.
Continuando o julgamento, o Ministro Celso de Mello também acompanhou o voto do
Ministro Teori Zavascki, para conhecer e deferir a Reclamação em tela.
Dessa forma, o extrato do julgamento constante da movimentação da Reclamação nº 4335/AC,
no site do STF, por si só, não traduz a realidade teórica descrita no citado julgado, na medida em que
os Ministros Gilmar Mendes e Eros Grau tão somente se manifestaram pelo seu conhecimento e
deferimento em decorrência de entenderem que ocorreu o fenômeno da mutação constitucional, com
a Resolução do Senado Federal tendo papel de mera publicação da decisão tomada pelo Pretório
Excelso que declarou incidentalmente a inconstitucionalidade de uma norma, gerando, desde então,
efeitos erga omnes.
Todavia, esta última tese foi rechaçada por todos os demais Ministros, em que pese alguma
consideração favorável sobre o dito raciocínio por parte dos Ministros Teori Zavascki e Luís Roberto
Barroso, que a veem como interessante e profícua, porém, ainda assim, preferem manter intacta a
atual interpretação sobre o art. 52, X, da Constituição Federal de 1988.
Desse modo, no julgamento da Reclamação nº 4335/AC, fora confirmada a tese da clara
necessidade de expedição de Resolução do Senado Federal para suspender os efeitos da norma
declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, não fazendo de letra morta a disposição
inserta naquele regramento.
Quanto ao controle difuso abstrativizado (ou à teoria da abstrativização do controle difuso),
que propõe um temperamento entre os controles de constitucionalidade concentrado e difuso, na
medida em que prega que as decisões do plenário do STF de inconstitucionalidade, ainda que
proferidos em controle difuso, devem possuir efeitos gerais, à semelhança do que já acontece na via
concentrada, máxime se veja uma tendência para a sua aceitação, como muito bem pontuado pelo
Ministro Luís Roberto Barroso, com a qual se concorda parcialmente, não fora recepcionada naquele
julgado, como equivocadamente divulgado por alguns articulistas.
Cumpre assinalar que aqui não se nega a aproximação que vem ocorrendo entre os controles
difuso e concentrado, como, por exemplo, aconteceu com a Emenda Constitucional nº 45/2004, a
qual introduziu a Súmula Vinculante em matéria constitucional (art. 103-A), bem como unificou os
legitimados para a propositura da Ação Declaratória de Inconstitucionalidade e de
Constitucionalidade, assim como o efeito vinculante dessas decisões (art. 102, § 2º), sem falar, ainda,
na repercussão geral (art. 102, § 3º). A cláusula de reserva de plenário, prevista no art. 97 da
Constituição Federal, na sua redação originária, também restou dispensada quando já existisse
pronunciamento da Corte a respeito da inconstitucionalidade, revelando, mais uma vez, aquela
tendência.
Todavia, quando a matéria está adstrita ao entendimento com relação ao art. 52, X, da CF/88,
não encontra grande ressonância no Supremo Tribunal Federal, na medida em que faria letra morta
do mencionado regramento, o qual é repetido desde a Constituição de 1934, ao mesmo tempo em que
violaria a separação dos poderes.
A partir de uma leitura inicial e rápida do caso sob comento, poder-se-ia pensar que a decisão
tomada pelo Juiz de Direito da Vara de Execuções Penais de Rio Branco/AC foi muito impensada e
desarrazoada, que redundou num conflito e num desgaste de forças junto ao STF desnecessário.
Todavia, discorda-se, e muito, desse raciocínio. Isso porque a decisão proferida no Habeas Corpus nº
82.959/SP, tomado como paradigma na Reclamação em tela, foi exarada no dia 23/02/2006, ou seja,
menos de 03 (três) meses antes da decisão do magistrado da Vara de Execuções Penais de Rio
Branco/AC, e, ainda, sem um quorum qualificado (maioria de 6 x5).
Necessário rememorar, nesse diapasão, que, na oportunidade, já existia o art. 103-A da
Constituição Federal, que retratava (e retrata) o quorum de 2/3 [08 (oito) Ministros] para a edição de
Súmulas Vinculantes, muito embora ainda não existisse, naquela época, a Lei nº 11.417/2006, de
19/12/2006, que regulamentou o supramencionado dispositivo. A história do STF demonstra como
entendimentos considerados como consolidados já foram modificados, ainda quando se trata de
decisão apertada (não se aprecia tal expressão).
Destarte, na sessão de julgamento do dia 19/04/2007, quando o Ministro Eros Grau trouxe o
seu voto-vista, a questão de fundo da Reclamação nº 4335/AC, em exame, já poderia ter sido
resolvida com a edição de uma Súmula Vinculante, caso o entendimento proferido no Habeas Corpus
nº 82.959/SP, apesar de aparentemente tranqüilo hoje, estivesse consolidado no Pretório Excelso na
oportunidade, o que seria a medida mais adequada.
Contudo, a tendência da abstrativização do controle difuso no direito brasileiro não pode servir
como argumento para o atropelamento da previsão constitucional do art. 52, X, da Constituição
Federal, sempre registrando elogios para aqueles que pensam o direito, pois não se pode querer o
engessamento, principalmente por parte dos magistrados, de entendimentos jurídicos, especialmente
quando o próprio art. 103-A da CF/88 reza acerca da possibilidade de seu cancelamento, como
disciplinado posteriormente pela Lei nº 11.417/2006.
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Academia Ludovicense de Letras convida para o aniversário de 2 anos de sua Fundação
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SEMINÁRIO DE SANTO ANTÔNIO – “IN EXTREMIS”
RAIMUNDO VIANA
Vice-Presidente da Academia Brejense de Letras
Membro Fundadorda Academia Ludovicense de LETRAS –ALL
rcv@elo.com.br
Publicado em O IMPARCIAL 08/08/2015
Estou triste! Muito triste!...Jamais, imaginei vir um dia escrever esta crônica... Faço-o até em
meio a um sentimento de revolta.
Recentemente, visitei o Seminário de Santo Antônio, ali, na Praça Antônio Lobo.
Adolescente, cheguei àquela Casa, em 1.955. Éramos cento e oitenta alunos, de princípio,
todos os candidatos à vida presbiteral. Na sua absoluta maioria egressos das paróquias do Interior. Eu
vim do Brejo, à época, reconhecidamente o coração católico do Baixo Parnaíba, mercê da dedicação
pastoral de seu então vigário, Monsenhor Pedro Santos. Eram nossos formadores os Padresda
Congregação da Missão de São Vicente de Paula, os Lazarista. Uma equipe altamente qualificada, e
com dedicação exclusiva à formação do futuro Clero da Arquidiocese.
D. Delgado, à época, nosso Arcebispo, dispensava cuidados especiais ao Seminário de Santo
Antônio. Fê-lo uma Instituição de Ensinode todos admirada, e de eficiência comprovada. A liturgia
da Casa nos induziaa uma vida de disciplina e de oração. O que viabilizava nosso crescimento
intelectual e espiritual. O estudo era uma atividade base, exercida dentro e fora da sala de aula. De
obrigação, o do Latim sobretudo, virava devoção. A Academia D. Francisco de Paula e Silva era uma
extraordinária ferramenta de que dispúnhamos para exercitar-nos na Oratória – “arsdicendi”. Da
tribuna sustentava-se uma tese, quase sempre, enfrentando sua antítese, sobre temas, de regra,
defundo teológico. O que oportunizavauma melhor capacitação dos pretensos pregadores da Igreja,
no futuro.
Desfrutávamos, não há negar, de um ambiente físico e humano propício ao desenvolvimento de
uma aprendizagem consistente e transformadora. O que conferia aos futuros padres uma formação
intelectual condizente com a dignidade dos serviços do Altar. E, de quebra, facilitava, aqui fora, a
vida dos divorciados da batina ( ex-seminaristas). Na verdade, “éramos felizes e não sabíamos”, já o
dizia nosso saudoso jornalista Bernardo Almeida (ex-seminarista).
Certo é que o Seminário de Santo Antônio, desde sua fundação, em 1.938, ocupou um lugar de
proeminência na vida cultural e religiosa de nosso Estado. Hospedou, em suas dependências, o Sumo
Pontífice, o Papa João Paulo II, quando em visita pastoral ànossa Cidade. Aquela Casa, ao longode
toda a sua história, produziu profissionais (padres ou não) de reconhecida capacidade intelectual para
a Igreja e as Instituições civis do Maranhão. Os religiosos – à frente, os cônegos Ribamar Carvalho e
Antônio Bonfim – ilustraram com sua pregação os púlpitos da Igreja Católica, e, de quebra,
marcaram – da Reitoria à Sala de aula – presença viva e atuante da Igrejana vida universitária do
Maranhão. Os médicos do exercício da Medicina fizeram um Sacerdócio. Os profissionais do Direito
enalteceram a tribuna forense. Os políticos engrandeceram a tribuna parlamentar. Os Jornalistas
fizeramhistória nas Redações país afora. Os Professores, no exercício da Cátedra, do Magistério
fizeram um Ministério de vida. Os exemplos são muitos. Impossívelnomeá-los todos no curto espaço
desta crônica.
Tudo isso repasseipela lembrança, quando recentemente visitei aquela Casa, donatária de uma
rica e bela história, hoje, infelizmente, de muitos desconhecida e de todos esquecida. Entregue às
intempéries do tempo,de Sementeira de vocações sacerdotais; de Centro distribuidor de
conhecimento; de Casa de formação intelectual e espiritual, por excelência, como de todos
conhecida, virou abrigo predileto de traças e cupins. Dói muito vê-la uma Casa de
ninguém!...Entregue à própria sorte!...Na iminência de virar escombros!...O abandono é total,
injusto, e danoso à memória daquela Casa. Uma pena! E uma vergonha também!...
Oxalá, as autoridades ( eclesiásticas e civis) do Maranhão se conscientizem de que a bonita
história do Santo Antônio faz parte de nosso patrimônio cultural. Pertence a todos ( Igreja e Estado).
O que lhes requer uma ação solidária, conjunta, no sentido de sua revitalização. E já!...Hoje, o Santo
Antônio vive agonizante, em estado terminal – “IN EXTREMIS”.
FRANCISCO SOTERO DOS REIS – II
ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO
Membro da Academia Ludovicense de Letras e da Academia Caxiense de Letras
PUBLICADO EM O ESTADO DO MARANHÃO – 23/08/2015
Sotero dos Reis tinha verdadeira idolatria à figura do Marquês de Pombal, pois ele havia
participado do que chamou de “regeneração da literatura portuguesa reformando seus estudos e
melhorando a Universidade de Coimbra, além de criar o Colégio dos nobres”.
A inspiração da Gramática de Sotero dos Reis veio das suas aulas, da explicação das diferenças
das regras entre o latim e o português. O mestre percebeu as lacunas principalmente no que se referia
à sintaxe, no que dizia respeito à análise e construção.
“Segundo provavelmente à sua própria avaliação, ele estudou 29 principais autores brasileiros e
portugueses, destacando-se: Gil Vicente, o primeiro grande dramaturgo português, além de
poeta de renome, autor do Auto da Barca do Inferno e Farsa de Inês Pereira; Luiz Vaz de
Camões, uma das maiores figuras da literatura em língua portuguesa e um dos grandes poetas
do Ocidente; Padre Antonio Vieira, religioso, filósofo, escritor e orador português da
Companhia de Jesus; Manuel Odorico Mendes, um político, publicista e humanista brasileiro,
autor das primeiras traduções integrais para português das obras de Virgílio e Homero; Antonio
Gonçalves Dias, poeta, advogado, jornalista, etnógrafo e teatrólogo, expoente da tradição
literária conhecida como indianismo e do romantismo brasileiro, autor de Canção do Exílio e I-
Juca Pirama; Antonio Henriques Leal, jornalista, médico, escritor, deputado, vereador, redator,
biógrafo, escreveu o Pantheon, a Província do Maranhão; Alexandre Herculano, escritor,
historiador, jornalista e poeta português da era do romantismo”.
Sotero dos Reis foi regente de classes; estudou latim, retórica e filosofia, além de francês e
matemática, e quase cursou medicina, na França, não fosse a morte do pai. Sem a possibilidade de
estudar no exterior, voltou-se para o seu próprio potencial de conhecimentos passando a ministrar
aulas de latim e de francês, na própria residência. A partir daí, por 43 anos ininterruptos, dedicou-se
exclusivamente ao magistério. Casou-se com Ana Cândida Compasso, em 30 de março de 1826, com
quem teve nove filhos, três dos quais faleceram quando ainda eram crianças.
Para o Colégio de Instrução, que foi fundado pelo italiano Tiago Carlos de La Rocca, situado
na Quinta das Laranjeiras, depois foi propriedade do barão de Bagé, tornando-se a “quinta do barão”
dos nossos dias atuais, Sotero foi nomeado, em 1821, pelo então governador do Maranhão, Bernardo
da Silveira Pinto da Fonseca, regente da cadeira de Gramática Latina, também da cadeira pública de
Latim. Foi essa cadeira o limitado teatro de suas humildes funções e onde adquiriu os melhores
direitos ao nosso conhecimento, assegura Antonio Henriques Leal.
Sotero esteve, sempre, inclinado à missão de preceptor da mocidade que, não se satisfazendo
com as aulas publicas, ensinava latim em sua casa, à tarde; e, à noite, gramática portuguesa e
francesa alternando essas lições com outras (também não remuneradas) que ministrava às educandas
do Asilo de Santa Tereza.
Até 1862, exerceu muitas outras atividades, na Santa Casa de Misericórdia e nos Conselhos
Gerais da Província; na política, onde ganhou fama de conservador, teve participação ativa como
vereador da Câmara Municipal de Guimarães, da qual veio a ser seu presidente, em 1864, e deputado
estadual, para esse cargo eleito em várias legislaturas. Foi crítico histórico-literário, como jornalista,
analisando, em 1848, a obra Memória Histórico da Revolução da Província do Maranhão, desde
1938 a 1940, de autoria de Domingos José Gonçalves de Magalhães – o Visconde de Araguaia,
considerado o introdutor do Romantismo no Brasil.
Com a reforma havida na instrução pública, em 1938, aumentando as disciplinas no ensino
secundário e reunindo-as, em uma única instituição; com a criação do Liceu Maranhense, em 1939,
Sotero dos Reis foi nomeado seu primeiro inspetor; as comendas de honra ao mérito Hábito de Cristo
e Ordem da Rosa foram-lhe conferidas, por serviços prestados às letras e à instituição pública.
Sotero dos Reis, embora tenha exercido funções dentro da política, do jornalismo e do
magistério, celebrizou-se pelo exercício da carreira acadêmica e, principalmente, pelas suas
produções bibliográficas; estudou a gramática da língua portuguesa, a literatura portuguesa e
brasileira,
“instruiu-se como pôde, em sua terra natal, onde passou toda a sua laboriosa vida de professor e
jornalista, grande sabedor da língua, tendo participado de política militante, como deputado
provincial em várias legislaturas e ainda que a sua obra decorra quase toda do seu ensino, no
Liceu Maranhense e no Instituto de Humanidades, a que o seu curso de literatura parece ter
dado foros de pequena Faculdade de Letras”.
Sotero dos Reis, o ilustre gramático maranhense, deixou muitas obras inéditas, dentre as quais
preleções sobre assuntos variados, como
“as obras póstumas de Gonçalves Dias, as máximas do Marquês de Maricá, a oratória de
Mont’Alverne, as obras de João Francisco Lisboa, as do visconde de Almeida Garret e ainda
sobre o romance Eurico o Presbítero, de Alexandre Herculano”.
Lamenta-se que o escritor não tivesse reunido e publicado em livro os seus poemas, a maioria
improvisados. Lamenta-se, também, o desaparecimento das traduções que fez “dos Anais de Tácito,
da Atala de Chateaubriand, da Fedra de Racine”.
Salve Francisco Sotero dos Reis, salve!
FESTA DE SÃO BENEDITO
ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO
Membro da Academia Caxiense de Letras e da Academia Ludovicense de Letras.
Publicado em O ESTADO DO MARANHÃO, 30 de setembro de 2015
“A saudade é o fogo fátuo das venturas mortas pairando sobre o
coração.” Coelho Neto, escritor caxiense, laureado como
Príncipe dos Prosadores da Literatura Brasileira.
Acontece no mês de agosto e nos diversos rincões deste Brasil onde o Santo é venerado. Uma
semana de ladainhas culminando com o grande dia da Missa solene, sempre aos domingos.
Tradicionalmente, o Largo em frente à Igreja de São Benedito, em Caxias, é o palco dessa
festa já incorporada às nossas tradições embora, em tempos idos, tenha sido deslocada para os
domínios de São Sebastião, também muito venerado por todos e particularmente grato aos Atiradores
do Tiro de Guerra 194. Quem serviu naquela unidade do exército brasileiro e graduou-se como
Reservista de 2ª categoria, sabe bem o porquê.
As lembranças da Festa são muitas: as rezas sob o fervor do calor intenso, as quermesses de
toda sorte de prendas, a roda-gigante a girar vagarosamente, os barquinhos de balanço arriscado, os
balões que não resistiam ao sumo de limão. A missa do grande dia da festa, na Igreja cheia de gente,
muitos ou quase todos de roupa nova, homens e mulheres, pois fazia parte da tradição, dos usos e
costumes daquela época.
Era um tempo em que todos se permitiam esse “luxo” e em que as economias acumuladas
demonstravam o padrão dessas sobras: para as moças roupas mais simples até as mais sofisticadas,
de organza, musselina, seda; para os rapazes ternos de linho importado e tropical super-pitex. Tudo
ficava mais bonito: ver as pessoas sentir-se mais valorizadas, sua auto-estima nas alturas e o prazer
de mostrar sua beleza.
Na nossa família, entre os homens, acontecia mais ou menos assim: tecido fornecido pela
Casa Brandão, loja do meu saudoso pai Antônio Brandão; feitio e costura a cargo do Joaquim
Gabriel, um alfaiate competente, mas impontual até certo ponto. Ele era fã do Orlando Silva e vivia a
cantarolar suas músicas enquanto costurava, e “viajava” dando formato às ombreiras do paletó:
“lábios que eu beijei mãos que eu afaguei, numa noite de luar assim; o mar na solidão bramia e o
vento a soluçar pedia que fosses sincera para mim [...]”.
Os cortes de tecido eram entregues com muita antecedência, pois ninguém queria correr o
risco de não poder vestir roupa nova, no dia da Festa; seguiam-se várias sessões de provas, de
ajustes, até que tudo ficasse moldado ao corpo de cada modelo, mas acreditem: toda essa
antecedência não era o bastante para o Joaquim Gabriel, que acabava entregando o terno (paletó e
calça curta) em cima da hora. Aí era vestir de qualquer jeito mesmo que às vezes o paletó ficasse
apertado e a calça, frouxa, fora de prumo, e rumar para o Largo de São Benedito, para a solenidade
das 9 horas.
Certa vez minha mãe resolveu trocar o homem da tesoura, para alegrar uma amiga de longas
datas, Zéfinha, antiga colaboradora da nossa casa revezando-se, sempre, com a Cota e a Condessa;
não me lembro de nenhuma outra, fosse lavadeira, copeira ou cozinheira. A Zéfinha tinha um filho
empregado da Usina Dias Carneiro, do “seu” Nachor Carvalho, pioneiro nessa atividade empresarial,
em Caxias; o Zé “macaco”, como era conhecido o filho da nossa colaboradora, na verdade era
eletricista de formação, mas, segundo a mãe dele, conhecedor do ofício da alfaiataria. Imaginem a
compatibilidade das profissões.
E aí, com a mesma antecedência de sempre, entregamos os cortes de linho ao dublê de
eletricista-alfaiate, para a confecção das nossas roupas da Festa. Que desastre! Como foi mais rápido
do que o antecessor, o Joaquim Gabriel, o Zé não poderia ter caprichado tanto, pensei. Dito e feito, as
roupas não serviram nem para vestir, pois o paletó ficou frouxo e a calça, apertada; não havia
conformidade entre as peças. Destino do paletó: virou uma camisa gandola (aquela que tem dois
bolsos, um de cada lado, e termina abotoada à altura da cintura), feitio muito em moda naquela
época. Quem não teve uma?
Estas são memórias, lembranças de um tempo bom de pessoas cheias de vontade, ingênuas
até certo ponto, apenas desejando ganhar o seu dinheiro honestamente, sem depender, como hoje, das
ações da filantropia... Tempos em que Caxias fazia questão de cultuar suas mais caras tradições da
forma mais digna possível.
Durante a Festa eram feitos convites especiais aos que faziam a vida da Cidade, a setores da
administração municipal importantes nos seus grandes objetivos; associações de classe, clubes de
serviço, conselhos comunitários e a sociedade civil organizada, também eram convidados. Era uma
confraternização geral.
Continuamos necessitando da união de esforços, de compreensão e integração de propósitos,
para podermos honrar nossas tradições. E de muita Fé em São Benedito.
Salve o glorioso Santo, salve!
O INVENTOR DO BRASIL
JOÃO BATISTA ERICEIRA
Publicado em O IMPARCIAL DE 2 de setembro de 2015
7 de setembro de 1822,o príncipe Pedro, herdeiro do trono português soltou o grito
“Independência ou Morte”, que aprendera com José Bonifácio de Andrada e Silva, o articulador da
emancipação do Brasil. Enquanto os outros países da América do Sul tiveram como líderes da
libertação generais como Bolívar, San Martin, O’Hinggs, o nosso patriarca era bacharel em Direito,
cientista, acadêmico. Retornara ao Brasil em 1819, após viver 36 anos na Europa, 26 deles em
Portugal. Morou na França, presenciou os acontecimentos da Revolução Francesa. Deixou-se
influenciar pelas ideias de Rousseau, estudou mineralogia na Alemanha. Na Europa estudou as
instituições políticas, preparou-se para o papel que exerceria na ruptura com a metrópole portuguesa
de quem era funcionário. Próximo de Dom João VI, que depois se refugiaria no Rio de Janeiro
fugindo à invasão das tropas napoleônicas em Portugal. Desembarcou com a Biblioteca de 6.000
volumes e uma completa coleção de minerais.
Funcionário da Coroa portuguesa desempenhou várias missões oficiais. Chegando a terra natal,
pediu a Dom João VI que o desobrigasse de encargos públicos. Rumou para a casa da família em
Santos. Em 26 de abril de 1821, Dom João VI, forçado pela crise política, retornou a Portugal,
deixou no Brasil o herdeiro, dando-lhe o conselho: “antes que algum aventureiro lance mão da coroa
brasileira, coloca-a na tua cabeça”. Sabia que as capitanias estavam unidas ao reino, enquanto
pululavam os movimentos de independência nos vizinhos colonizados pela Espanha.
O príncipe Pedro precisava dos conselhos de um homem erudito, prudente e hábil. José
Bonifácio foi convocado para exercer a função de conselheiro, aliou-se a esposa de Pedro, a austríaca
Leopoldina, mulher lida e esclarecida, sua cúmplice na execução do plano da Independência.
Tinha em mente um plano avançado para o país de 5 milhões de habitantes, distribuídos entre
2.800.000 homens livres; 1.300.000 escravos; 900.000 índios. Pretendia extinguir o tráfico de
escravos, abolir a escravatura e fazer a Reforma Agrária. Republicano, entendia ser a monarquia a
única forma de preservar a unidade nacional. A prática demonstrava, as capitanias relacionavam-se
diretamente com Lisboa. A sua monarquia era constitucional, com um primeiro-ministro
efetivamente eleito, e não como o presidencialismo coroado criado pela Constituição de 1824. Do
programa constava a instalação da Universidade do Brasil.
Grão-Mestre da Maçonaria Grande Oriente, passou o cargo ao príncipe Pedro, mas logo a
disputa com outros membros da instituição o obrigou a fundar outra organização, “Apostolado da
Nobre Ordem dos Cavaleiros de Santa Cruz ”, para enfrentá-los, coibir os excessos, ao tempo em que
desafiava os liberais das cortes de Lisboa. Estes se esqueciam, desde1815, o país detinha o status de
Reino Unido a Portugal e Algarves. Queriam reduzi-lo a várias colônias. Percebeu que a manobra
transformaria as capitanias em republiquetas, como seriam as da América Hispânica.
Possuía a visão de estadista. Os liberais das cortes de Lisboa não enxergavam da mesma
forma, a Guerra da Independência era inevitável. Em 1823criou a Marinha de Guerra. Contratou o
inglês Thomas Cochrane para chefiá-la, destacou-o para as capitanias do Norte, dentre elas, o
Maranhão, onde era imensa a resistência a Independência. Aqui, promoveu considerável saque nas
propriedades dos portugueses. José Bonifácio enfrentava ainda a resistência palaciana comandada
por Francisco Gomes da Silva, áulico apelidado de Chalaça, aliado de Domitila Castro, amante de
Pedro, depois nomeada Marquesa de Santos. Cortejadores, bajuladores, aproveitavam-se do
temperamento oscilante, vacilante, e às vezes violento do príncipe.
De baixa estatura, compleição franzina, sem recursos retóricos, José Bonifácio agigantou-se na
tarefa de criar o Brasil, de preservar a unidade nacional consolidada no Segundo Reinado de Pedro
II. Formulou a bandeira nacional, estabeleceu a meta de construção da capital no Planalto Central do
país.
Dissolvida a Assembléia Constituinte em novembro de 1823, o Imperador coroado no ano
anterior, manda prendê-lo.Condena-o ao desterro, embarca-o no veleiro “Leucônia”, rumo a França.
Retorna seis anos depois. Em 1831, elege-se deputado, propõe ousadamente o voto feminino.O
Imperador dele reaproxima-se.Abdica do trono no mesmo ano, retorna a Portugal, nomeando-o tutor
do futuro imperador Pedro II. Em 1833,os inimigos capitaneados pelo padre Feijó o destituem da
Tutoria. Movem-lhe processo judicial acusando-o de tramar a proclamação da República. Defende-
se, é absolvido sob aplausos populares. Retira-se da política.
Nascido rico morre pobre em Niterói aos 74 anos de idade. Seu melhor biógrafo, Gondin da
Fonseca, no livro “A Revolução Francesa e a Vida de José Bonifácio”, lhe dá o epitáfio definitivo: o
inventor do Brasil. Nas comemorações da Independência, convém lembrar, como fazem falta
estadistas para este país.
Matéria com ANTONIO NOBERTO no Jornal O Imparcial. Caderno dos 403 anos de São Luís.
Nossa capital pode sair do marasmo sem criatividade em que vive e se transformar em uma luz para
o Brasil. O nome da cidade já é uma senha para isso.
O FUNDADOR ESQUECIDO IV
ANA LUIZA ALMEIDA FERRO Promotora de Justiça, Doutora e Mestre em Ciências Penais (UFMG),
sócia efetiva do IHGM, membro da ALL e autora do livro 1612
alaferro@uol.com.br
Publicado em O ESTADO DO MARANHÃO de 13 de setembro de 2015
“No dia aprazado, depois da missa na Capela de São Francisco, [...] saíram todos de lá rumo ao
forte, em procissão solene e fastuosa, encabeçada por fidalgos franceses, carregando objetos e
símbolos religiosos, entre os quais um crucifixo, com a assistência de dois jovens nativos, parentes
de grandes morubixabas da ilha, seguidos pelos quatro capuchinhos, acompanhando a cruz, e, em
sequência, por François, Senhor de Razilly, Aumelle e Vaux-en-Cuon, e pelos demais nobres
católicos, os mais graduados à frente, e, por último, pelos outros gauleses, soldados, marinheiros,
colonos, misturados com os indígenas e seus respectivos caciques. [...]
Ao atingirem a praça da fortaleza, onde repousava um madeiro em forma de cruz, de
consideráveis proporções, entoaram o tradicional Te Deum laudamus. [...] Ali no forte, antes da
ereção do supremo símbolo cristão, houve uma prédica aos franceses sobre a importância do seu
feito aos olhos divinos e mundanos.
Ao final, Charles des Vaux explicou aos nativos, particularmente aos seus principais, a
significação do sermão e da solenidade
[...] Benzida a cruz, que era grande e certamente muito pesada, foi esta erigida na praça do forte
[...]. E, no ápice da cerimônia, foi adorada, sucessivamente, pelos missionários, por Razilly e
pelos outros membros da nobreza, pelos demais franceses e, finalmente, pelos chefes tupinambás
e seus liderados, os nativos em claro esforço de imitação das atitudes dos europeus. Todos
desfilaram e se puseram, respeitosamente, em posição genuflexa, perante a cruz, enquanto era
entoado o hino Vexilla regis prodeunt. Esta magnífica cena de adoração religiosa foi tema de
famosa gravura do alemão Leonhardt Golter (1561-1641 ou 1635), que viveu e morreu em Paris
e se tornou conhecido como Léonard Gaultier [...]
Após a cruz ser benzida, chantada e adorada, igualmente foi benzida a Ilha Grande, ao som
festivo de tiros de canhão disparados da fortaleza e dos navios, e Razilly [...] batizou a fortificação de
Forte Saint Louis (São Luís), em honra ao soberano francês Luís XIII, ainda menor, e o ancoradouro
ao pé da fortaleza de Porto de Sainte Marie (Santa Maria), possivelmente hoje Cais da Praia Grande,
em homenagem tanto a Nossa Senhora quanto à Rainha-Regente Maria de Médicis” (FERRO. 1612,
p. 254-259). Esta narrativa se baseia na História da missão dos padres capuchinhos na ilha do
Maranhão, de Claude d’Abbeville.
E assim nasceu São Luís, a 8 de setembro de 1612, por obra de Daniel de la Touche, de quem
a cidade tem, com justiça, reverenciado a memória, e de François de Razilly, o seu fundador
esquecido, aquele que foi o “senhor da colônia” nos meses em que esteve nesta ilha, nas palavras de
Lucien Provençal; que participou, como figura mais proeminente, da cerimônia de tomada de posse
oficial da terra e fundação da França Equinocial; e que batizou de São Luís, em homenagem ao seu
soberano, o forte que legaria o seu nome à cidade. Ele não merece o esquecimento que lhe dedica a
cidade.
Programa do Marcos Saldanha, Rádio Timbira, dia 18 de setembro de 2015
Tema: Turismo no cemitério/a morte e os mortos na pauta da sociedade mundial. O Confrade Noberto
e o Confrade escritor Padre Meireles. Timbira Debate Turismo em cemitérios setembro 18, 2015
O historiador Antônio Noberto e o padre Raimundo Gomes Meirelles, da Academia Ludovicense de Letras discutiram aspectos histórico, cultural e filosófico sobre a barreira que separa os mundos dos vivos e dos mortos. Ouça abaixo:
“Turismo em cemitérios - Bloco 1” Audio Player 00:00 00:00 Use Up/Down Arrow keys to increase or decrease volume. 1. “Turismo em cemitérios - Bloco 1” 10:01 2. “Turismo em cemitérios - Bloco 2” 10:01 3. “Turismo em cemitérios - Bloco 3” 10:03 4. “Turismo em cemitérios - Bloco 4” 10:02 5. “Turismo em cemitérios - Bloco 5” 10:01 6. “Turismo em cemitérios - Bloco 6” 10:02 7. “Turismo em cemitérios - Bloco 7” 12:53
SOBRE TUPIS E TAPUIAS103
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão
Academia Ludovicense de Letras
A "ilha de Maranhão", como chamavam os franceses, e suas cercanias haviam sido povoadas
tardiamente pelos Tupinambá, em grande parte originários das zonas do litoral situadas mais a leste.
Quando, em 1612, os primeiros contatos com os capuchinhos foram estabelecidos, os índios ainda se
lembravam da chegada à região. Claude d'Abbeville afirma haver encontrado testemunhas oculares
daquela primeira vaga migratória, ocorrida provavelmente entre 1560 e 1580:
"Muitos desses índios ainda vivem e se recordam de que, tempos após a sua chegada na região,
fizeram uma festa, ou vinho, a que dão o nome de cauim […]" (ABBEVILLE, 1614, p. 261) 104.
Alfred Métraux (1927, p. 6-7) 105 cita outras narrativas concordantes com a de Claude
d'Abbeville, a fim de assegurar-se do período provável dessa primeira migração (entre 1560 e 1580),
especialmente a do português Soares de Souza (Tratado Descriptivo do Brasil) que afirma, em 1587,
que a costa atlântica, do Amazonas à Paraíba, era povoada pelos Tapuia. Essa primeira migração é a
única que teve como resultado, segundo Métraux, uma nova extensão dos Tupi.
Em A Pacotilha (30 de maio de 1925) 106, de autoria de Ludovico Schwennhagen é publicado
artigo com o seguinte título: MINHAS PESQUISAS ARQUEOLÓGICAS NO MARANHÃO.
Realizando pesquisas em vários estados do Brasil, deteve-se no Piauí e no Maranhão. Sobre o
Maranhão, em seu relato, sustenta a tese de que a cidade de São Luís – como Tutóia - foi fundada
por navegadores fenícios:
As duas cidades, porém, não eram cidades fenícias; somente os fundadores e organizadores
eram gente que chegara ao Mediterrâneo. A grande massa dos habitantes eram tupis: em Tutóia,
tabajaras, em Tupaón, tupiniquins. (SCHWENNHAGEN, 1925) 107.
Chegados por estas terras por volta do ano 1.000 a.C - relacionaram-se com os habitantes da
terra – tupis – fundando Tu-Troia – Tutóia – e Tupaón –Upau-açú:
OS FENICIOS E OS TUPIS
Os fenícios já estavam desde muito tempo em relações com os povos tupis; mas estes não tinham
portos de mar, querendo viver só em terras altas e solidas. Entretanto, ficou terminada, no
Mediterrâneo, a guerra de Tróia, em 1080 A.C. Caiu em poder dos aliados pelasgo-gregos a
grande fortaleza que dominava o estreito dos Dardanelos e a entrada para a Ásia.
103 Publicado no BLOG DO LEOPOLDO VAZ, em 12 de setembro de 2015, disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2015/09/12/sobre-tupis-e-tapuias/ 104 DAHER, Andrea. A conversão dos Tupinambá entre oralidade e escrita nos relatos franceses dos séculos XVI e XVII, HORIZ. ANTROPOL. vol. 10 no.
22 Porto Alegre. July/Dec. 2004 http://dx.doi.org/10.1590/S0104-71832004000200004 105 MÉTRAUX, Alfred. Migrations historiques des tupi-guaranis. Paris: Maisonneuve Frères, 1927 citado por DAHER, Andrea. A conversão dos
Tupinambá entre oralidade e escrita nos relatos franceses dos séculos XVI e XVII, HORIZ. ANTROPOL. vol. 10 no. 22 Porto Alegre. July/Dec. 2004 http://dx.doi.org/10.1590/S0104-71832004000200004
106 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. FENÍCIOS NO MARANHÃO? In BLOG DO LEOPOLDO VAZ, sábado, 5 de setembro de 2015, disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2015/09/05/fenicios-no-maranhao/ 107 Ver também SCHWENNHAGEN, Ludwig. ANTIGA HISTÓRIA DO BRASIL. Rio de Janeiro, Cátedra, 1970. 152p., il., 2a ed.
Os fenícios, os carios e muito outros povo da Ásia Menor eram amigos ou aliados de Tróia,
mesmo as briosas guerreiras e cavaleiras amazônicas, das quais morreram centenas no vasto
campo troiano.
Os sobreviventes dos povos vencidos andavam em navios dos fenícios, procurando nova pátria, e
por isso aparecem, cerca do ano 1000 a.C., em diversos países, cidades com o nome de Tróia
Nova ou Tróia Rediviva. Para o norte do Brasil chegaram também sobreviventes da grande
guerra e fundaram Tu-Troia, ajudaram a fundar Tupaón, e os sobreviventes da Amazonas
fundaram no Brasil uma sociedade de mulheres montadas amazônicas, que deu finalmente seu
nome ao grande rio. Essas são as deliberações que indicam o tempo de 1000 anos a.C. para a
fundação de Tutoia e de Tupaón (S. Luis). (SCHWENNHAGEN, 1925).
Oliveira, Barradas, Macedo, e Silva (2013) 108, baseados em Martin (1996):
[...] A perspectiva acerca do estudo da arte rupestre no Brasil possui as seguintes linhas
dominantes: a) a interpretação dos textos bíblicos; b) as navegações dos fenícios e; c) o mito da
ilha de Atlântida descrita por Platão (MARTIN, 1996).
Esses autores observaram que as primeiras referências acerca das pinturas ruprestes
apareceram no periódico “Nova Gazeta Alemã” entre 1514 e 1515; e também o governador Feliciano
de Carvalho da capitania da Paraíba, descreve gravuras rupestres no rio Açaí e na descrição do
capuchinho francês Yves d’Evreux no Maranhão, ambos no século XVII (PROUS, 2007)109,
atribuindo as tribos indígenas a responsabilidade na confecção daquelas pinturas e gravuras
(MARTIN, 1996) 110.
Trazem, ainda, que o Padre Francisco Telles de Meneses realizou um estudo dos registros
rupestres no Nordeste do Brasil, a partir de suas compilações “Lamentação Brasílica”, onde
pesquisou na região entre o Ceará e o Rio Grande do Norte em busca de informações de tesouros
perdidos no final do século XVIII e início do XIX (MARTIN, 1996).
Também se referem que, nas décadas de 1920 e 1930, o filólogo austríaco Ludwig
Schwennhagen estudou as pinturas rupestres de Sete Cidades, no atual município de Brasileira que
seriam evidencias da presença dos fenícios:
[...] Destarte, o envoltório místico que Sete Cidades é interessante, tendo em vista que suas
pinturas apresentam diferenciações acerca das pinturas do Parque Nacional Serra da Capivara,
logo, atribuindo-se as Tradições rupestres Geométrica e Agreste (MARTIN, 2008)111. Em
outrora, o Parque Nacional Serra da Capivara localizado na região Sudeste do Piauí dentro dos
municípios de São Raimundo Nonato, João Costa, Coronel José Dias e Brejo do Piauí tem
catalogado 1158 sítios arqueológicos, sendo 800 sítios com pinturas e/ou gravuras rupestres em
uma arena de 130.000 hectares e 214 km de superfície, logo, o maior enclave sítios
arqueológicos do mundo (GUIDON, BUCO, 2010)112.
108 OLIVEIRA, Gabriel Frechiani de; BARRADAS, Ana Clélia Correia; MACEDO, Cleiton Damasceno; e SILVA, Jaionara Rodrigues Dias da. DA
ANTROPOLOGIA PRÉ-HISTÓRICA PARA A ANTROPOLOGIA VISUAL: DAS IMAGENS AS MEMÓRIAS NAS PINTURAS RUPESTRES DO PARQUE NACIONAL SERRA DA CAPIVARA – PI. In XXVII SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, Natal-RN, 22 a 26 de julho de 2013, ANAIS... 109 PROUS, A. Arte Pré-Histórica do Brasil. Belo Horizonte: C/ Arte. 2007. Citado por Oliveira, Barradas, Macedo, e Silva (2013) 110 MARTIN, G. A Pré-história do Nordeste. Pernambuco: Editora UFPE 1996; Citado por Oliveira, Barradas, Macedo, e Silva (2013) 111 MARTIN, G. A Pré-história do Nordeste. Pernambuco: Editora UFPE 2008, Citado por Oliveira, Barradas, Macedo, e Silva (2013) 112 GUIDON, N.; BUCO, C. A.. “O estado da arte”: as pesquisas arqueológicas e o desenvolvimento regional do Parque Nacional Serra da Capivara. In:
PELEGRINI S.;PINHEIRO, A. P. TEMPO, MEMÓRIA E PATRIMÔNIO CULTURAL. Teresina: EDUFPI, 2010, Citado por Oliveira, Barradas, Macedo, e Silva (2013)
Oliveira, Barradas, Macedo, e Silva (2013) 113, utilizando-se das palavras de Martin (1996),
trazem que:
O mito das sete cidades, também relacionado com a ilha Brasil, surgiu na própria Península
Ibérica. No século VII, um bispo católico, fugindo da invasão sarracena – que em algumas
versões é o próprio rei D. Rodrigo, último da dinastia visigoda derrotada pelos árabes –
embarcara em Lisboa rumo ao oeste chegando a um país desconhecido, uma ilha, onde fundara
sete cidades.
O filólogo austríaco Ludwig Schwennhagen (1924) afirma que a Ilha do Maranhão tem um
grande passado histórico114. Que “Pinson, o companheiros de Colombo, tinha noticias duma grande
ilha, que era o centro da nação dos Tupinambás, um trato de terra muito rico e populado”.
Chegando às Antilhas, desligou-se de seu companheiro para procurar o continente, situado ao Sul,
“onde a Ilha do Maranhão devia ser, conforme as antigas histórias que viviam ainda na memória
dos índios, a cabeça de ponte para entrar no continente”. Não sabemos se Pinzon realmente esteve
nesta ilha, “mas fora de duvidas que a procurou”. Outros tentaram chegar a Ilha do Maranhão,
informa, dentre eles Luis de Melo, Aires da Cunha e João de Barros; “a idéia sempre ficou”. Surgiu
ainda em projetos a partir de Pernambuco, para descobrir a falada ilha do Maranhão: Pedro Coelho
de Sousa e Martins Soares Moreno; as expedições terrestres de Francisco Pinto e Luis Figueira:
[...] Entretanto, o instituto marítimo de Dieppe, o centro intelectual da Normandia, tinha por sua
vez estudado a questão da ilha afamada do Maranhão, e os veleiros dos normandos franceses
procuraram, já desde decênios, esse ponto milagroso da antiga civilização dos povos Tupis, dos
filhos e Tupan, do grande Deus.
Quando os normando entraram, em 1612, na ilha, estava ela já, desde muitos séculos, em
decadência, mas sempre superava de muito todos os outros pontos marítimos dos Tupis, entre
Pernambuco e a foz do Amazonas. Os primeiros viajantes europeus que andaram por terra, perto
do litoral, de Recife à Ilha do Maranhão, encontraram nessa grande distancia somente 8 aldeias
de índios, em quanto esta ilha tinha 27 aldeias bem organizadas, com seus chefes, com casas
comuns para suas reuniões, com comerciantes e operários, e com cemitérios.[...]
O Padre Abbeville contou em algumas aldeias até mil habitantes, o que nos leva a pelo menos
27 a 30.000 habitantes; mantinha um grande comercio com o interior, de couros, mantimentos e
pedras preciosas, etc. Não só Abbeville, mas os padres português que sucederam aos capuchinhos
franceses, contaram:
[...] que os índios da ilha mostravam um alto grau de inteligência e usavam na sua língua as
formas duma educação relativamente altiva. Não só com os estrangeiros, também entre eles
mesmos usavam sempre palavras cerimoniosas e de respeito. Eles davam a impressão de
fidalgos pobres, que tivessem conservado os costumes de sua antiga nobreza.
Para Schwennhagen (1924) todos os momentos geográficos e etnográficos indicam que a ilha
do Maranhão:
[...] constituía, na primeira época das grandes navegações, isto é, entre 3500 a 1000 anos antes
da era christã, um empório marítimo e comercial. Essa época começou naquele momento em que
se completou o desmoronamento do antigo continente Atlantis e que os povos que lá se
refugiaram no ocidente, quer dizer na America Central, ou no oriente, nos países ao redor do
113 OLIVEIRA, Gabriel Frechiani de; BARRADAS, Ana Clélia Correia; MACEDO, Cleiton Damasceno; e SILVA, Jaionara Rodrigues Dias da. DA
ANTROPOLOGIA PRÉ-HISTÓRICA PARA A ANTROPOLOGIA VISUAL: DAS IMAGENS AS MEMÓRIAS NAS PINTURAS RUPESTRES DO PARQUE NACIONAL SERRA DA CAPIVARA – PI. In XXVII SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, Natal-RN, 22 a 26 de julho de 2013, ANAIS...
114 SCHWENNHAGEN, Ludwig. “São Luis na Antiguidade”, in A PACOTILHA, São Luis, 4 de setembro de 1924.
mar Mediterrâneo. Sabemos que as frotas dos Fenícios navegavam desde 3500 a.C. entre a
Europa, a África e a América, e sabemos que também os povos do México e do Norte do Brasil
tinham uma extensa navegação. Os mapas marítimos, encravados em grandes placas de pedra
calcareas, os quais existem hoje ainda em Paraíba e Amazonas, são documentos inegáveis.
Prossegue:
A migração dos povos Tupi ao Norte do Brasil pode ser calculada para a data de 3000 a 2000
a.C. As ultimas levas entraram quando se quebraram as terras do golfo do México e do mar
Caraibico. Assim se pode colocar a ocupação e cutivação da ilha do Maranhão na época de
2000 anos a.C., ou 3500 anos antes da chegada dos europeus.
Para esse professor do Liceo de Parnaíba, onde está hoje São Luis, ‘devia estar 3000 anos
antes a Acrópole da ilha do Maranhão’. Pode ser que navegadores estrangeiros, ‘talvez Fenícios, lhe
dessem o impulso inicial para fazer daqui um empório comercial’
Por volta do ano 1.000, os territórios amazônicos haviam sido conquistados pelos movimentos
de expansão dos povos tupi-guaranis, aruaques e caribes, principalmente. É por essa época que a
Amazônia provavelmente atingiu uma das maiores densidades demográfica. (MIRANDA, 2007, p.
15) 115.
O termo "tupis" possui dois sentidos: um genérico e outro específico. O sentido genérico do
termo remete aos índios que habitavam a costa brasileira no século 16 e que falavam a língua tupi antiga116. Considera-se como Civilização Tupi-guarani todo elemento cultural que esteja de alguma
forma relacionado com os idiomas do tronco linguístico tupi117. Tronco tupi é um tronco lingüístico
que abrange diversas línguas das populações indígenas sul-americanas118. O tupi ou tupi antigo era
a língua falada pelos povos tupis que habitavam o litoral do Brasil no século XVI (tupinambás,
tupiniquins, caetés, tamoios,
Tapuia é um termo que foi utilizado, ao longo dos séculos, no Brasil, para designar os índios
que não falavam a língua tupi.
Há diversos entendimentos das origens do termo, mas, em geral, observa-se que seria de
procedência tupi e que teria significado semelhante a "forasteiro", "bárbaro", "aquele que não fala
nossa língua", "inimigo"119:
O termo "Tapuio" não é expressão designativa de uma etnia. É tão somente "Um vocábulo de
origem tupi, corruptela de tapuy-ú – o gênio bárbaro come, onde vive o gentio. [...] É um dos
termos de significação mais vária [diversificada] no Brasil. No Brasil pré-cabraliano, assim
chamavam os tupis aos gentios inimigos, que, em geral, viviam no interior, na Tapuirama ou
Tapuiretama – a região dos bárbaros ou dos tapuias". Tomislav R. Femenick, 2007120
[...] Tapuia significa "bárbaro, inimigo". De taba – aldeia e puir – fugir: os fugidos da aldeia.
José de Alencar, Iracema, 1865121
115 MIRANDA, Evaristo Eduardo de. QUANDO O AMAZONAS CORRIA PARA O PACÍFICO. 2 Ed. Petrópolis: Vozes, 2007. 116 https://pt.wikipedia.org/wiki/Tupis 117 https://pt.wikibooks.org/wiki/Civiliza%C3%A7%C3%A3o_Tupi-Guarani/Introdu%C3%A7%C3%A3o 118 https://pt.wikipedia.org/wiki/Macro-tupi 119 https://pt.wikipedia.org/wiki/Tapuias 120 http://www.tomislav.com.br/artigos_imp.php?detalhe=&id=280 121 https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_de_Alencar
No período colonial, dividiam-se os índios brasileiros em dois grandes grupos: os tupis
(tupinambás), que habitavam principalmente o litoral e os tapuias, que habitavam as regiões mais
interiores e que falavam, principalmente, línguas do tronco macro-jê122. O tronco macro-jê é um
tronco linguístico cuja constituição ainda permanece consideravelmente hipotética. Teoricamente,
estendem-se por regiões não litorâneas e mais centrais do Brasil 123. Também conhecidos por
"Bárbaros", habitavam, dentre outras regiões, os sertões da Capitania do Rio Grande do Norte,
divididos em vários grupos nomeados de acordo com a região onde moravam – Cariris (Serra da
Borborema), Tarairiou (Rio Grande e Cunhaú), Canindés (no sertão do Acauã ou Seridó), e eram
chefiados por vários reis e falavam línguas diversas, e entre os mais destacados eram os reis Janduí e
Caracar, cujo poder real não era hereditário. Os Tapuias eram fortes, possuíam semblante ameaçador,
corriam igual as feras, por isso eram muito temidos. Eles eram inconstantes, fáceis de ser levados a
fazer o mal, eram endocanibalistas, isto é, devoravam até mesmo os de sua tribo quando da sua
morte. Os Tapuias eram nômades. Eles paravam onde havia abundância de alimentos e gostavam de
viver ao ar livre. Não construíam casa (por isso as suas habitações eram toscas e feias).124
Para Fernandes (2012)125, a origem dos índios brasileiros é controversa e o que é mais aceito,
hoje em dia, é o modelo de origem baseado nas quatro migrações:
# a primeira foi uma migração africana/aborígine, como atesta o crânio da Luzia com seus
traços negróides, de 11.000 anos atrás,
# as três últimas migrações foram mongólicas vindas pelo estreito de Behring, também a partir
de 11.000 anos, que dá o DNA dos nossos índios atuais,
# porém a maior das dúvidas/controvérsias retroage há 48.000 anos atrás com as fogueiras da
Toca do Boqueirão no Piauí, até hoje não explicadas convincentemente.
Pesquisa da revista científica Nature": cientistas analisaram quase 400 mil variantes de uma
única "letra" química do DNA, a partir de amostras do genoma de 52 povos nativos, entre eles
caingangues e suruís do Brasil, por exemplo. A comparação dessas variantes nos indígenas com
as versões de outros povos do mundo permitiu mostrar que, conforme o esperado, a maior parte
do genoma dos nativos das Américas foi legado por imigrantes vindos da Sibéria, há pelo menos
15 mil anos. No entanto, os esquimós e outros povos do Ártico parecem ter herdado cerca de
50% de seu DNA de outra onda, mais recente, vinda da Ásia. E um povo canadense, os
chipewyan, derivam 10% de seu genoma de uma terceira onda, estimam os cientistas. (FSP:
12/7/12).
Existiam também povos Tapuias em alguns pontos da Região Nordeste do Brasil. Viviam na
Amazônia, antes dos Tupis e dos Nuaruaques, provavelmente desalojados por esses grupos, passaram
a ocupar o Xingu (região a partir da qual emigraram, atingindo vários Estados brasileiros, como Pará,
Maranhão, Ceará, Pernambuco, Piauí, Mato Grosso, Paraná, Santa Catarina e outros) 126.
Os estudos indicam que as diversas migrações tenham ocorrido há pelo menos 40.000 anos.
Ou mais... Nativos americanos pré-históricos tardios, como os índios, apresentam uma morfologia
craniana semelhante à dos homens norte asiáticos modernos; já os crânios sul-americanos mais
antigos tendem a ser mais semelhantes aos australianos, melanésios e africanos subsaarianos atuais
(morfologia paleoamericana) (MIRANDA, 207, p. 39-40).
122 https://pt.wikipedia.org/wiki/Tapuias 123 https://pt.wikipedia.org/wiki/Macro-j%C3%AA 124 Os Tapuias - Dialetico.com www.dialetico.com/historia_1/tapuias.pdf 125 FERNANDES, Anibal de Almeida. ESCRAVIDÃO de ÍNDIOS e NEGROS no SÉCULO XVI no BRASIL. www.genealogiahistoria.com.br, Disponível em
http://www.genealogiahistoria.com.br/index_historia.asp?categoria=4&categoria2=4&subcategoria=50 126 https://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20080910142552AAXkxKq
Povos mongolóides vindos da America do Norte chegaram à America do Sul através do Istmo
do Panamá, começando a colonização da Amazônia por norte-americanos de origem, encontrando-se
sítios com cerca de 15 mil anos (Venezuela), 11.800 anos (Peru), 11.300 o sitio de Pedra Pintada no
Pará. (MIRANDA, 207, p. 39-40).
Teoria mais recente levante a hipótese de ter ocorrido também uma migração anterior de povos
aparentados com os africanos e aborígenes australianos. De lá, eles provavelmente desceram ao
longo do continente americano até atingir o extremo sul da América do Sul. Um desses povos
diferenciou-se dos demais e desenvolveu uma língua proto-tupi, no sul da Amazônia, por volta do
século V a.C. (provavelmente na região do atual estado brasileiro de Rondônia. Embora uma
hipótese alternativa aponte a região dos rios Paraguai e Paraná como o centro original da dispersão
tupi-guarani127.
Outros estudos demonstram que os tupis teriam habitado originalmente os vales dos rios
Madeira e Xingu, que são afluentes da margem meridional do rio Amazonas. Estas tribos, que
sempre foram nômades, teriam iniciado uma migração em direção à foz do rio Amazonas e, de lá,
pelo litoral para o sul. Supõe-se que esta migração, que teria também ocorrido pelo continente
adentro no sentido norte-sul, tenha principiado no início da era cristã. Numa hipótese alternativa, o
folclorista Luís da Câmara Cascudo aponta a região dos rios Paraguai e Paraná como o centro
original da dispersão dos tupis-guaranis (incluindo os povos guaranis junto com os tupis128.
Alguns autores suspeitam que, nesta trajetória, os tupis tenham enfrentado os tupinambás, que
já habitariam o litoral; outros sustentam que apenas se tratava de levas sucessivas do mesmo povo, os
posteriores encontrando os anteriores já estabelecidos. Certo é que, nesse processo, as tribos tupis
derrotaram as tribos tapuias que já habitavam o litoral brasileiro, expulsando-as, então, para o interior
do continente, por volta do ano 1000129.
De lá, ele se expandiu no início da era cristã pelo leste da América do Sul, dividindo-se em
várias tribos falantes de línguas derivadas desse idioma proto-tupi e que constituiriam o tronco
linguístico tupi: tupinambás, potiguares, tabajaras, temiminós, tupiniquins, caetés, carijós, guaranis,
chiriguanos etc.130.
Outra proposta 131 considera que a migração no sentido sul dos povos que formariam os
guaranis e os tupinambás teria ocorrido em duas levas em separado:
[...] a de povos protoguaranis e a de povos prototupinambás. A primeira, dos protoguaranis,
teria se dividido algumas vezes. Um ramo entrou na Bolívia. Outro seguiu para o sul até a bacia
dos rios Paraná e Uruguai. Deste segundo ramo, alguns grupos acompanharam os rios
Paranapanema e Uruguai para o leste, chegando enfim ao litoral. Já os prototupinambás teriam
descido o rio Paraguai, mas rumaram para o leste, um pouco mais ao norte do que os guaranis.
Eles teriam seguido os rios Grande e Tietê, alcançando o litoral onde hoje é São Paulo, e depois
ocupado a costa do sul para o norte. Por essa versão, os povos tupis-guaranis que não saíram da
Amazônia migraram para o leste, mas não pelos grandes rios, e sim por seus afluentes (que
muitas vezes quase se emendam), chegando ao Maranhão e ao Centro-Oeste (KNEIP, MELLO,
2013).
Ainda seguindo esses autores 132, estudos arqueológicos, por sua vez, apontam para outra
direção: 127 CIVILIZAÇÃO TUPI-GUARANI/HISTÓRIA. HTTPS://PT.WIKIBOOKS.ORG/WIKI/CIVILIZA%C3%A7%C3%A3O_TUPI-GUARANI/HIST%C3%B3RIA 128 TUPIS. HTTPS://PT.WIKIPEDIA.ORG/WIKI/TUPIS 129 TUPIS. HTTPS://PT.WIKIPEDIA.ORG/WIKI/TUPIS 130 CIVILIZAÇÃO TUPI-GUARANI/HISTÓRIA. HTTPS://PT.WIKIBOOKS.ORG/WIKI/CIVILIZA%C3%A7%C3%A3O_TUPI-GUARANI/HIST%C3%B3RIA 131 KNEIP, Andreas e MELLO, Antônio Augusto S. BABEL INDÍGENA. REVISTA DE HISTÓRI.COM. IN http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/babel-indigena, 1º DE ABRIL DE 2013
A partir da análise de cerâmicas, indicam como centro de origem da família tupi-guarani a
região de confluência do rio Madeira com o Amazonas, ainda dentro dos limites daquele que
hoje reconhecemos como o estado do Amazonas. A partir desse local, uma cisão teria resultado,
grosso modo, em duas rotas de expansão. Um grupo origina os tupinambás. Eles migram em
direção ao leste, pela boca do Amazonas, até encontrar o oceano. De lá, descem pela costa até o
litoral de São Paulo, ou seja, do norte para o sul. Outro grupo, que daria origem aos guaranis,
teria de início subido o rio Madeira para o interior da Amazônia e, então, descido pelo rio da
Prata, até chegar ao litoral sul do Brasil. (KNEIP, MELLO, 2013).
Apresentam, então, uma terceira visão, lingüística:
Apesar de Rondônia ter a maior diversidade linguística do tronco tupi, há apenas um
subconjunto tupi-guarani, e com línguas bastante semelhantes. A maior diversidade linguística
da família tupi-guarani está mais para o leste amazônico, portanto, seguindo esse raciocínio,
teria partido de lá a dispersão. A migração de tupinambás deve ter se dado no sentido norte-sul,
novamente, por povoações não muito afastadas umas das outras, formando uma área contínua,
em conjunto com outros grupos tupis-guaranis localizados no leste amazônico e no meio-norte.
De fato, quando os europeus começaram a povoar a América do Sul, os tupinambás ocupavam
cerca de três quartos do litoral que hoje corresponde ao Brasil: do Maranhão até São Paulo. As
diferenças lingüísticas entre o norte e o sul eram mínimas, o que sugere uma rápida dispersão.
(KNEIP, MELLO, 2013).
Estudo de 2008 aponta que a saída de índios tupis-guaranis da Amazônia remonta há 2.920
anos133:
A saída de índios tupis-guaranis da Amazônia não é um evento tão recente como se imaginava.
Um novo estudo encontrou evidências do povo na região onde hoje está o município de
Araruama, no Rio de Janeiro, há 2.920 anos – mais de mil anos antes do que as evidências
indicavam até então.
Os resultados do trabalho foram publicados nos Anais da Academia Brasileira de Ciências. De
acordo com a primeira autora, Rita Scheel-Ybert, [...] o aparecimento de datas cada vez mais
antigas no Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil, nos últimos anos, tem mudado o paradigma a
respeito da ocupação.
Segundo ela, a hipótese mais aceita até o momento, baseada em dados lingüísticos, considerava
que a saída dos tupis-guaranis da Amazônia não poderia ter ocorrido antes de cerca de 2.500
anos atrás.
“A datação anterior existente para o sítio Aldeia Morro Grande, em Araruama, de 1.740 anos,
já era considerada bastante recuada, sendo inclusive a mais antiga para o Estado do Rio de
Janeiro. As novas datas, de cerca de 2.900 e 2.600 anos, seriam, por essa razão, completamente
inesperadas”, disse à Agência FAPESP.
[...] As novas datas, acredita ela, não questionam a origem amazônica dos tupis-guaranis, pois,
para isso, seria necessário um número maior de evidências.
Nossa hipótese é que a multiplicação dos estudos e um maior investimento em datações, tanto na
Amazônia como no resto do Brasil, tenderão a revelar outras datações tão ou mais antigas como
132 KNEIP, Andreas e MELLO, Antônio Augusto S. BABEL INDÍGENA. REVISTA DE HISTÓRI.COM. IN http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/babel-indigena, 1º DE ABRIL DE 2013 133 ALCANTARA, Alex Sander. MIGRAÇÃO (BEM) ANTERIOR. IN GENTE DE OPINIÃO, 30/12/2008, DISPONÍVEL EM
HTTP://WWW.GENTEDEOPINIAO.COM.BR/LERCONTEUDO.PHP?NEWS=39964
essas e permitirão uma melhor compreensão dos processos de ocupação do nosso território”,
disse, salientando que outros autores já haviam sugerido que a expansão tupi-guarani a partir
da Amazônia possa ter começado há bem mais de 2.000 anos.
Para Neves e Outros (2011) 134 pode-se dizer que a ideia de que esses povos, que ocuparam
grande parte do território brasileiro e parte da Bolívia, do Paraguai, do Uruguai e da Argentina,
tiveram sua etnogênese na Amazônia e dali partiram para o leste e para o sul, por volta de 2.500 anos
antes do presente, é bastante aceita entre os especialistas, embora uma dispersão no sentido oposto,
isto é, do sul para o norte, com origem na bacia do Tietê-Paraná, não seja completamente descartada.
Entre os arqueólogos que consideram a Amazônia como berço desses povos, alguns acreditam que
esse surgimento se deu na Amazônia central. Outros acreditam que a etnogênese Tupiguarani
ocorreu no sudoeste da Amazônia, onde hoje se concentra a maior diversidade linguística do tronco
Tupi. (NEVES, e Outros, 2011).
De acordo com Feitosa (1983)135, não é possível determinar a origem dos primeiros habitantes,
havendo várias teorias que supõem o aparecimento do homem com duas hipóteses explicativas: a
monogenica (o homem descendente de um único casal original) e a poligenica. Dentre as diversas
teorias, temos: Africana, Monogenismo Americano, Australiana, Atlante, Cartaginesa, Chinesa,
Egipcia, Grega, Ibera, Irlandesa, Malaio-Polinesia, e por fim a Mista. Ainda a Paleo-Asiática,
Viking...136
134 NEVES, Walter Alves; Bernardo, Danilo Vicensotto; OKUMURAI, Mercedes; ALMEIDA, Tatiana Ferreira de; STRAUSS, André Menezes. Origem e
dispersão dos Tupiguarani: o que diz a morfologia craniana? BOL. MUS. PARA. EMÍLIO GOELDI. Cienc. Hum., Belém, v. 6, n. 1, p. 95-122, jan.- abr. 2011
135 FEITOSA, Antonio Cordeiro. O MARANHÃO PRIMITIVO: UMA TENTATIVA DE RECONSTITUIÇÃO. São Luis: Augusta, 1983. 136 DOMINGUES, Virgilio. O TURIAÇU. São Luis: SIOGE, 1953 LOPES, Raimundo. A civilização lacustre do Brasil. In COSTA, Cássio Reis. A BAIXADA MARANHENSE, no plano do Governo João Castelo. São Luis:
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–MA, p. 7-12. LIMA, Olavo Correia; AROSO, Olair Correia Lima (1989). PRÉ-HISTÓRIA MARANHENSE. SIOGE São Luís-MA. CARVALHO, J. B. de. Nota sobre a arqueologia da Ilha de São Luís. REVISTA DO IHGM, Ano VII, n. 6, dezembro de 1956 LOPES, Raimundo. O TORRÃO MARANHENSE. Rio de Janeiro: Typ. Do Jornal do Commercio, 1916 LOPES, Raimundo. ANTROPOGEOGRAFIA. Rio de Janeiro: Museu Nacional, 1956. (Edição fac-similar comemorativa ao centenário de fundação da
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http://www.fla.matrix.com.br/pavelino/lopes.htmlfala - LOPES, Raimundo. UMA REGIÃO TROPICAL. Rio de Janeiro: Cia. Editora Fon-fon e Seleta, 1970. 197p. Coleção São Luís, volume 2.
CORREA, Alexandre Fernandes. A ANTROPOGEOGRAFIA DE RAIMUNDO LOPES SOB INFLUÊNCIA DE EUCLIDES DA CUNHA in http://teatrodasmemorias.blogspot.com/2009/12/antropogeografia-de-raimundo-lopes-sob.html CORREA, Alexandre Fernandes. AS RELAÇÕES ENTRE A ETNOLOGIA E A GEOGRAFIA HUMANA EM RAIMUNDO LOPES. CAD. PESQ .. São Luís. v. 14. n. 1.
p.88-1 03. jan.!jun. 2003disponivel em http://www.pppg.ufma.br/cadernosdepesquisa/uploads/files/Artigo%206(16).pdf MAUSO, Pablo Villarrubia. As Cidades Perdidas do Maranhão. IN REVISTA SEXTO SENTIDO, postado em 2010-06-11 13:25, no sitio
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EVREUX, Ives d´. VIAGEM AO NORTE DO BRASIL FEITAS NOS ANOS DE 1613 A 1614. São Paulo: Siciliano, 2002. ABBEVILLE, Claude d´. HISTÓRIA DA MISSÃO DOS PADRES CAPUCHINHOS NA ILHA DO MARANHÃO E TERRAS CIRCUNVIZINHAS. Belo Horizonte:
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Correia Lima e Aroso (1989) 137 apresenta as correntes migratórias das Américas, segundo
Canals-Pompeu Sobrinho, em número de cinco: Australóides, Protossiberianos, Paleo-siberianos,
Protomalaios, e Protopolinésios. Os australoides deram descendentes em ambas as Américas, sendo
que na do Sul, aparecem os Lácidas, Huarpidas, Patagônicos.
Os Lácidas, paleossiberianso, atingem o Brasil e o Maranhão; assim como os nordéstidas e os
fueguinos, sendo que os primeiros atingem o Brasil e o Maranhão.
Durante a expansão dos Tupis-Guaranis – descendentes dos protomalaios, e desembarcados nas
costas ocidentais do istmo do Panamá, deslocaram-se para o suleste, atravessando os Andes, e
atingindo o Amazonas, onde fizeram seu centro de dispersão. Migravam com muita freqüência,
surpreendentemente rápidos. Desceram o Rio Amazonas e se embrenharam em seus afluentes:
Madeira, Tapajós, Xingu, Tocantins, Araguaia e ainda Gurupi, Mearim, etc. Passaram ao rio
Paraguai e seus afluentes do Paraná, chegando ao Atlântico.
Marginaram-se em direção ao Norte, parando no Maranhão, para reencontrar seus irmãos
amazonenses. Sua migração pela costa nacional é recente e se fazia sempre ás custas dos velhos
ocupantes, notadamente os Lácidas. Os quais eram empurrados para o interior. Deixaram sempre
ocupantes por onde passam, a exemplo dos Tupinambás, na Ilha de São Luis.
Dos Tupis, hoje, restam os Guajajara – Tenetehára – com uma história longa e suingular de
contato, a partir de 1615, nas margens do Rio Pindaré, com uma expedição exploradora francesa. Os
Awá-guajá – se autodenominam Awá, também chamados Wazaizara (Tenetehara), Aiayé
(Amanayé), Gwazá. O termo Awá significa ‘homem’, pessoa’, ou ‘gente’; sua origem é obscura,
acreditando-se originários do baixo Tocantins. Acredita-se que a partir da Cabanagem (1835-1840)
tenha inicado a migração rumo ao Maranhão. Já os Ka´apor (Urubu-Kaapor, Kaáporté) surge como
povo distinto à cerca de 300 anos, provasvelmente na região entre os rios Tocantins e Xingu. Talvez
os conflitos com colonizadpores luso-brasileiros e outros povos nativos, iniciaram longa e lenta
migração, por volta de 1870, do Pará ao Maranhão, atraves do Gurupi. Foram pacificados em 1911.
138
Correia Lima e Aroso (1989) 139 traz que a ocupação do território maranhense se deu através
de três correntes migratórias - Lácidas, Nordéstidas e Brasílidas, nessa ordem. Embora os traços
mais antigos da presença do homem no continente americano datem de 19 mil anos, as teorias mais
recentes o dão como procedentes da Ásia a 20 ou 30 mil anos. Esses autores, ao adotarem a
sistemática de Canals (1950) - Pompeu Sobrinho (1955), afirmam que caçadores australóides do
nordeste asiático - Sibéria, de acordo com Aquino, Lemos & Lopes (1990, p.19) 140 - ingressaram no
Alasca há pelo menos 36 mil anos e durante os 20.000 anos seguintes consolidaram sua cultura e se
expandiram pelo território, tendo seus descendentes atingido Lagoa Santa há 7.000 +/- 120 anos
(VAZ, 1995, 1996, 2001, 2011, 2012) 141.
PUXADA DO MASTRO AGITA OLIVENÇA. In CIA DA NOTÍCIA, disponível em http://www.ciadanoticia.com.br/v1/tag/derrubada-de-toras/, 08/01/2011,
acessado em 23/01/2011 137CORREIA LIMA, Olavo; AROSO, Olir Corria Lima. PRÉ-HISTÓRIA MARANHENSE. São Luis: Gráfica Escolar, 1989. CORREIA LIMA, O.; AROSO, O. C. L. Ameríndios maranhenses. REVISTA IHGM, Ano LIX, n. 08, março de 1985 38-54 CORREIA LIMA, O. Homo Sapiens stearensis – Antropologia Maranhense REVISTA IHGM Ano LIX, n. 9, junho de 1985 33-43 CORREIA LIMA, O. Província espeleológica do Maranhão REVISTA IHGM Ano LIX, n. 10, outubro de 1985 62-70 CORRIA LIMA, O.; AROSO, O. C. L. Cultura rupestre maranhense – arqueologia, antropologia REVISTA IHGM Ano LX, n. 11, março de 1986 07-12 CORREIA LIMA, O. Parque Nacional de Guaxenduba REVISTA IHGM ano LX, n. 12, 1986 ? 21-36 CORRÊA LIMA, O. No país dos Timbiras REVISTA IHGM Ano LXI, n. 13, dezembro de 1987 82-91 CORREIA LIMA, O. Mário Simões e a arqueologia maranhense REVISTA IHGM Ano LXII, n. 14, março de 1991 23-31 138 Associação Carlos Ubbiali; Instututo Ekos. OS ÍNDIOS DO MARANHÃO. O MARANHÃO DOS ÍNDIOS. São Luís: Associação Carlos Ubbiali, 2004 139 CORREIA LIMA, Olavo & AROSO, Olir Correia Lima. PRÉ-HISTÓRIA MARANHENSE. São Luís: Gráfica Escolar, 1989. 140 AQUINO, Rubim S.L; LEMOS, Nivaldo J. F. de & LOPES, Oscar G.P. C. HISTÓRIA DAS SOCIEDADES AMERICANAS. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico,
1990. 141 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A corrida entre os índios Canelas. In Painel apresentado na III JORNADA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA EDUCAÇÃO FÍSICA
DA UFMA, 1995;
Sander-Marino (1970, citados por Correia Lima & Aroso, 1989, p. 19) registram entre 40 e 21
mil anos a presença dos superfilos MACRO-CARIB-JÊ, uma das correntes pré-históricas povoadoras
das Américas. Para Feitosa (1983, p. 70) 142 há um consenso quando da "determinação temporal" da
chegada dos australóides no Novo Mundo, com as estimativas variando de 20.000 a.C. (RIVET);
28.000 a.C. (CANALS); 40.000 a.C. (VAZ, 1995, 1996, 2001, 2011, 2012) 143.
De acordo com pesquisas mais recentes, realizadas em São Raimundo Nonato - Piauí, foram
encontrados fosseis com datação de 41.500 anos (FRANÇA & GARCIA, 1989)144.
Os Lácidas, descendentes dos australóides, atingem o Maranhão. Das famílias lingoculturais
suas descendentes, destaca-se a JÊ, grupo mais populoso; de maior expansão territorial; e de melhor
caracterização étnica. Os Jês caracterizam-se pela ausência da cerâmica e tecelagem, aldeias
circulares, organização clânica e grande resistência à mudança cultural, mesmo depois de contato,
como se observa entre os Canelas, ou RANKAKOMEKRAS como se denominam os índios da aldeia
do Escalvado (DICKERT & MEHRINGER, 1989, 1989b, 1994) 145.
Para Miranda (2007)146:
A partir da chegada dos humanos, cuja data os arqueólogos tendem a multiplicar em diversos
eventos, origens e a recuar no tempo, progressivamente o espaço natural da Amazônia passa a
ser objeto de uso, controle, acesso, exploração, mudanças, disputa, transferência e até
transmissão entre grupos humanos cada vez mais numerosos e organizados, com diferentes
histórias e patrimônios culturais.
Uma coisa é certa: a mais antiga e permanente presença humana no Brasil está na Amazônia:
Há cerca de 400 gerações, e segundo autores controversos, há mais de 2.000 anos, diversos
grupos humanos ocupam, disputam, exploram e transformam os territórios e seus recursos
alimentares.( MIRANDA, 2007, p. 41)
Na época da chegada dos portugueses ao Brasil, os povos que viviam ao longo da costa eram
os Tupi. Estes tinham escorraçado os povos de língua e cultura Jê para o interior, vivendo, em geral,
na região dos cerrados.
Teixeira e Papavero (2009) 147, ao narrarem a “Viagem do Capitão de Gonneville” – viagem
de Binot de Paumier ao Brasil (1504) traz um passo curioso, de porque foram os brancos bem
recebidos em certas tribos do litoral:
VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A corrida entre os índios canelas – contribuições à história da educação física maranhense. In SOUSA E SILVA, José Eduardo
Fernandes de (org.). ESPORTE COM IDENTIDADE CULTURAL: COLETÂNEAS. Brasília: INDESP, 1996, p. 106-111. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A corrida entre os índios canelas – contribuições à história da educação física maranhense. In REVISTA “NOVA ATENAS” DE
EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA, São Luís, v.4, n. 2, jul/dez 2001, disponível em www.cefet-ma.br/revista. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A corrida entre os índios canelas. REV. IHGM 36, MARÇO 2011, p 128. Revisto e ampliado para apresentação no IHGM em
2011. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A corrida entre os índios canelas. In XIII Congress of the International Society for the History of Physical Education and
Sport and; XII Congress of the Brazilian Society for the History of Physical Education and Sport, Rio de Janeiro, 142 FEITOSA, Antonio Cordeiro. O MARANHÃO PRIMITIVO: UMA TENTATIVA DE RECONSTITUIÇÃO. São Luís: Augusta, 1983. 143 VAZ, obras citadas. 144 FRANÇA, Martha San Juan & GARCIA, Roberto. Os primeiros brasileiros. SUPERINTERESSANTE v. 3, n. 4, p. 30-36, abril de 1989. 145 DIECKERT, Jurgen & MEHRINGER, Jakob. A corrida de toras no sistema cultural dos índios brasileiros Canelas (relatório de pesquisa provisório).
ZEITGSCHIFT MUNCHER BELTRDZUR VULKERKUNDE, julho, 1989. DIECKERT, Jurgen & MEHRINGER, Jakob. Cultura do lúdico e do movimento dos índios Canelas. REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS DO ESPORTE,
Campinas, v. 11, n. 1, p. 55-57, set. 1989. DIECKERT, Jurgen & MEHRINGER, Jakob. . A corrida de toras no sistema cultural dos índios brasileiros Canelas. REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS DO
ESPORTE - v.15 - n.2 - 1994 146 MIRANDA, 2007, obra citada, p. 40-41.
[...] Durante os reparos da nau souberam os visitantes que se formara uma espécie de
confederação das tribos daquele setor do litoral contra as tribos do sertão que as hostilizavam.
Os amigos dos normandos pertenciam, assim como os vizinhos imediatos, ao ramo Tupi, que do
Paraguai, segundo dizem especialistas, subiram a costa até além de Pernambuco, e, com
interrupções, atingiram a região da marcha do silvícolas do sul para o norte, em que
deslocavam outros indígenas e provocavam lutas contínuas [...]. (p. 152).
Correia Lima e Aroso (1989) trazem que os Lácidas foram os primeiros povoadores do
Maranhão, como o foram do Brasil. Vieram através de correntes migratórias interioranas e se
localizaram de preferencia na parte setentrional e maranhense do Planalto Central do Brasil. Eram
representados por um povo, os Tremembé (Tatamembé, Trememmbé) que ocuapava inicialmente a
costa maranhense, antes da chegada dos brasílidas. Na época do contato, viviam da fronteira do Pará
(Rio Caeté) à do Piauí (Tutóia), sendo sua área preferida o Delta do Parnaíba e a Baia de Turiaçú.
Os Nordéstidas chegaram ao Maranhão pela corrente litoranea local, ocupando todo o litoral,
sendo os primeiros a usar essa corrente, vindo do Nordeste. Apenas os Muras seguiram para o
Amazonas, tornando-se fluviais.
Correia Lima e Aroso (1989) ao analisarem as estearias maranhenses, área ocupada pelos
brasilidas, que atingiram também o Maranhão através de duas correntes migratórias, interiorana –
Nu-Uraques (Uraques), depois os caraíbas, e finalmente os Tupi-Guaranis - e pela litoranea, e às
vesperas e durante o contato, chegaram os ultimos Tupis, representados pelos Tupinambás. Com a
invasão dos Tupis-Guaranis perderam a Ilha de São Luis e seus arredores.
Ainda dos Macro-jê temos os Canelas (Rankokamekrá; Apanyekrá); são remanescentes das
cinco nações Timbira Oriental, sendo os Rankakomekrás descendentes dos Kapiekran, como eram
conhecidos até 1820. Os primeiros contatos, indiretos, se dão por forças militares no fim do século
XVII, ocorrendo incursões contra essas populações na ultima decada do seculo XVIII, dizimados por
volta de 1814. Os Krikati se localizam ao sul do Maranhão, com os primeiros contatos por volta de
1814. O Gavião (Pukobyê) teve contato a partir do século XVIII, por volta de 1728. 148
Os Jê são conhecidos no Maranhão com a denominação de "TIMBIRAS", e dividem-se em
dois ramos principais, segundo seu habitat - Timbiras do Mato e Timbiras do Campo -, estes
apelidados de canelas finas "pela delicadeza de suas pernas e pela velocidade espantosa que
desenvolvem na carreira pelos descampados", conforme afirma Teodoro Sampaio (1912, apud
CORREIA LIMA & AROSO, 1989, p. 41), confirmando Spix e Martius (1817, citados por
CORREIA LIMA & AROSO, 1989, p.59) quando afirmam, sobre os Canelas, "... gaba-se a sua
rapidez na corrida, na qual igualariam a um cavalo.".
Os Timbira são um povo física, lingüística e culturalmente caracterizado como da família Jê,
que disperso, habitava o interior do Maranhão e partes limítrofes dos Estados do Pará, Goiás e Piauí.
Esse povo existe ainda parcialmente, compondo-se hoje das seguintes tribos (NIMUENDAJÚ, 2001) 149:
Timbira orientais:
Timbira de Araparytiua
Kukóekamekra e Kr˜eyé de Bacabal
Kr˜eyé de Cajuapára
147 TEIXEIRA, Dante M.; PAPAVERO, Nelson. A viagem do Capitão de Gonneville.In OS PRIMEIROS DOCUMENTOS SOBRE A HISTÓRIA NATURAL DO
BRASIL (1500-1511) – viagens de Pinzón, Cabral, Vespucci, Albuquerque, do Capitão de Gonneville e da Nau Bretoa. 2 ed. Belém: Museu Paraense Emilio Goeldi, 2009, p. 151-153.
148 Associação Carlos Ubbiali; Instututo Ekos. OS ÍNDIOS DO MARANHÃO. O MARANHÃO DOS ÍNDIOS. São Luís: Associação Carlos Ubbiali, 2004 PREZIA, Benedito; HOORNAERT, Eduardo. ESTA TERRA TINHA DONO. 6 ed. Revs. E atual. São Paulo: FTD, 2000 149 NIMUENDAJÚ, Curt. A corrida de toras dos timbira. MANA v.7 n.2 Rio de Janeiro oct. 2001
Kre/púmkateye
Pukópye e Kr˜ikateye
Gaviões
Apányekra (Canellas de Porquinhos)
Ramkókamekra (Canellas do Ponto)
Krahó
Timbira ocidentais:
Apinayé
Seus parentes mais próximos são os Kayapó do norte, os Suyá e os hoje extintos Kayapó do
sul.
Hoje, os Tremembé são um grupo étnico indígena que habita os limites do município brasileiro
de Itarema, no litoral do estado do Ceará, mais precisamente na Área Indígena Tremembé de
Almofala (Itarema), Terras Indígenas São José e Buriti (Itapipoca), Córrego do João Pereira (Itarema
e Acaraú) e Tremembé de Queimadas (Acaraú). Originalmente nômades que viviam num território
que estendia-se nas praias entre Fortaleza e São Luís do Maranhão. Foram aldeados pelos Jesuítas no
século XVII nas missões de Tutoya (Tutóia-Maranhão) 150, Aldeia do Cajueiro (Almofala) e Soure
(Caucaia). Foram declarados como não existentes pelo então governador da Província do Ceará (José Bento da Cunha Figueiredo Júnior), após decreto de 1863. Antes disto, em 1854, os índios perderam
o direito da terra pela regulamentação da Lei da Terra. Estes ressurgem no cenário cearense nas
décadas de 1980 e 1990, quando são reconhecidos pela FUNAI. 151
Retornamos com Schwennhagen152
O MARANHÃO. REPUBLICA DOS TUPINAMBAS
Mas o Maranhão existia como a republica dos tupinambás, já antes da fundação de Tupaón. O
sete povos tupis, que tomaram posse do norte do Brasil, cerca de 1500 anos A.C., entram pela
foz do rio Parnaíba, procurando as serras em ambos os lados desse rio. Do lado oriental ficam
os tabajaras, do lado ocidental os tupinambás; os outros cinco povos estenderam-se para o sul e
sudeste. Todos os sete povos formaram uma confederação e as Sete Cidades (no Piauí) era a
capital federal, isto é, o lugar, onde se reuniam todos os anos o Congresso dos Sete Povos.
(SCHWENNHAGEN, 1925).
O CONGRESSO DO MULUNDÚS
Mas a harmonia não ficou sempre intacta; por quaisquer motivo desligaram-se os tupinambás
da confederação e constituíram seu próprio congresso, ao lado ocidental do Parnaíba, em
Mulundús.
Os tupinambás já eram grandes senhores, tinham ocupado a maior parte do interior do
Maranhão, tinham fundado mais de cem colônias no Grão Para, Amazonas e Mato Grosso e
precisavam dum centro nacional para conservar a unidade da nação dos tupinambás. Esse
centro era Mulundús, onde se reuniam todo ano os delegados de todas as regiões, ocupadas
pelos tupinambás. Nas cartas e relatórios do padre Antonio Vieira encontram-se muitos indícios
desses factos. Ele relata que alguns dos seus amigos tupinambás lhe contaram que no interior do
150 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. “BREVE DESCRIÇÃO DAS GRANDES RECREAÇÕES DO RIO MUNI DO MARANHÃO, Pelo Padre João Tavares, da Companhia
de Jesus, Missionário no dito Estado, ano 1724”. REVISTA DO IHGM, No. 37, junho de 2011 – Edição Eletrônica, p 176-186 http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_37_-_junho_2011
151 http://pt.wikipedia.org/wiki/Trememb%C3%A9s 152 SCHWENNHAGEN, Ludovico, MINHAS PESQUISAS ARQUEOLÓGICAS NO MARANHÃO. IN A PACOTILHA, São Luis, 30 de maio de 1925
Maranhão se reúnem os delegados de todas as aldeias que falam a mesma língua geral, e
pediram ao padre mandasse para lá um sacerdote católico para celebrar missa, dentro d grande
reunião do povo. Assim o antigo congresso de Mulundús ficou transformado numa festa cristã,
dedicada à memória de São Raimundo, como ainda agora se faz. Sempre, porém, essa festa
conservou o caráter dum congresso popular, para onde vêem de longe, de Goiás, Mato Grosso e
Pará amigos, parentes e comerciantes daquelas regiões que pertenciam antigamente ao grande
domínio dos tupinambás.
Ludovico Schwennhagen
Bandeira (2013) 153 traz que a ocupação do Vinhais Velho data de pelo menos 3.000 anos de
duração:
As datações obtidas para as ocupações humanas que habitaram o Vinhais Velho possibilitaram
construir uma cronologia para a presença humana nesta região da Ilha de São Luis, que data
desde 2.600 anos atrás se estendendo até a chegada dos colonizadores (1590-1612?). [...] Essas
datações se relacionam com os três períodos de ocupação humana no Vinhais Velho em tempos
pré-históricos: ocupação sambaqueira / conchífera, ocupação ceramista com traços amazônicos
e ocupação Tupinambá. (p. 75).
[...] A presença dos grupos sambaquieiros na região durou até 1.950 atrás, com uma
permanência de 650 anos. (p. 76).
[...] Em torno de 1840 anos atrás essa região foi novamente ocupada por grupos humanos
bastante diferentes dos povos que ocuparam o sambaqui. Esses grupos produziam uma cerâmica
muito semelhante às encontradas em regiões amazônicas, sendo prováveis cultivadores de
mandioca. (p. 76).
[...] Esses grupos habitaram a região do Vinhais Velho até o ano 830 antes do presente,
totalizando uma ocupação de 1.010 anos. A provável origem dos grupos ceramistas associados à
terra preta é a área amazônica, possivelmente o litoral das Guianas e do Pará. (p. 76).
A ultima ocupação humana [...] ocorreu em torno de 800 anos antes do presente e durou até o
período de contato com o colonizador europeu, já no século XVII.
Tratam-se de povos Tupinambás, que ocuparam essa região, possivelmente vindos da costa
nordestina, nas regiões do atual Pernambuco e Ceará [...]
[...] a ocupação Tupi, a julgar pelas datações durou pouco mais de 800 anos [...] (p. 76).
153 BANDEIRA, Arkley Marque. VINHAIS VELHO: ARQUEOLOGIA, HISTÓRIA E MEMÓRIA. São Luis: Edgar Rocha, 2013.
Revista Poética Brasileira
Poesia, poetas, literatura, liberdade, felicidade, emoção...
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ANA LUIZA FERRO
O NÁUFRAGO E A LINHA DO HORIZONTE, vertente poética de extraordinária concepção
filo-sensorial, analisando cada momento, cada lampejo, cada insigth que acontece ao seu
derredor. Escolhi um poema visceral da Doutora e Mestra, Ana Luiza Ferro.
Felicidade
é um quando sem ter porquê
é um onde sem ter como
é um estar com aquele quê
é um sentir sem qualquer assomo
é um fazer muito do pouco
é um sorrir iluminante do rosto
é um agir com algo de louco
é um manjar provado com gosto
é um contentar-se e ainda querer mais
é um amar sem carecer de um amor
é um guerrear ao abrigo da paz
é um pintar a vida de forma e cor
é um sol que não se cansa de brilhar
é uma frase que recusa ponto final
é um rio que não quer ser mar
é um bem que não pode ser mau
é um barco que não teme tempestade
é uma chama que não se extingue
é uma alegria que não tem idade
é uma pugna sem vencido ou ringue
é um conquistar sem prévio dividir
é um rir sem aparente motivo
é um eterno explorar e descobrir
é um viver instigante e nativo.
Felicidade
é um paraiso divino
no coração humano
um paraiso que não foi
que não pode ser
que jamais será
irremediavelmente perdido
inequivocadamente atingido
(São Luís-Ma, 2009).
Somos confrades na Academia Maranhense de Letras Jurídicas.
Seja bem-vinda!
(Mhario Lincoln)
"A amizade é como o mar..."
DILERCY ADLER
CHEIROS E CHEIROS
Parafraseando "Almas perfumadas"
Ana Cláudia Saldanha Jácomo
Que cheiro bom
cheiro de passarinho
de sol
de árvore
de colo de Deus
de banho de mar
mar de São Luís ...
água morna e massageante
que deixa gosto de quero mais
na gente...
e cheiro de noite e manhã de natal?
uma
irradiando expectativa
outra
transpirando a alegria
frente ao presente
recebido ou não!
cheiro de estrelas
cafuné sem pressa...
cheio de carinhos plenos
cheiro de passeio no jardim...
com todos esses cheiros tão bons
não tem porquê ter cheiro ruim!
DIAGNÓSTICO
Sentimentos difusos
pulsações arrítmicas
desejos obtusos
por todos os lados
se espalham
palavras neuróticas
maníaco- depressivas
exoticamente travestidas
em versos e versos...
ah! essa louca mania
de escrever poesia!
KÓRKÉP
Dilercy Adler
Homályos érzelmek
szivdöbbenetek
fátyolos vágyak
folynak egyre szerte
búskomor különc
elcsúfitott
neurótikus szavak
versben, versben...
ah! mily emberien
beteges szenvedés
a verselés!
Versão húngara por Lívia Paulini, Presidente Emérita da Academia Feminina Mineira de Letras.
DIVAGANDO EM LEMBRANÇAS
Lembrei-me hoje...
e era como se fosse ontem...
sentado estavas numa cadeira confortável
no terraço
olhavas o pôr-do-sol
enquanto o vento
brincava com os teus cabelos
teus cabelos que cuidavas
com tanto esmero!
lembrei-me hoje...
e era com se fosse ontem...
sentia-te vendo a vida passar
sem viver intensamente
o que ela te oferecia de bom
perdendo os teus momentos
preciosos de vida
curtindo fossas e problemas mal resolvidos
lembrei-me hoje
das tuas carências
e também das exigências
que fazias aos outros
por causa delas
lembrei-me hoje também
dos teus gestos carinhosos
embora às vezes meio sem jeito
do pai “durão”
que receia demonstrar seu lado mais afetivo
por medo de ser interpretado
como fraco...
também pudera
“só as mulheres são frágeis
podem chorar...
... e demonstrar carinho francamente!”
lembrei-me hoje...
e como gostaria
que estivesses aqui
com todos nós ainda
sentado em tua cadeira
cuidando do teu cabelo
ou das rosas que plantavas
vendo o pôr-do-sol
sentindo a brisa leve
vinda do mar
discutindo coisas sérias
com toda sabedoria
que te era peculiar
ou simplesmente rindo
das colocações traquinas
que eu fazia
para te tirar do sério!
lembrei-me hoje...
com saudade...com amor
mas fiques certo pai
que
apesar da temporalidade
da vida
serás eterno
em nossa lembrança!
In: Cinquenta vezes dois mil Humana(s) idade(s), 2000
AYMORÉ ALVIM
NA ESTRADA DA VIDA
O meu amor
Perdeu-se,
Na imensidão etérea,
Por um imenso tempo
Em busca de quimeras
Num espaço diáfano, irreal.
Errando qual um nômade
Sem destino,
Qual viajor
Perdido em seu caminho,
Eu vou andando e,
Aos poucos,
Pressentindo
Haver chegado a tudo isto
Um fim.
Qual uma flor
Que num jardim floresce,
Um novo amor,
Desabrochando, cresce,
Reflorescendo
A minha vida, enfim.
E, assim, caminho,
Fazendo a minha estrada,
Com os meus sonhos,
Lembranças,
Sem mais nada
Mas tendo tudo
Por te levar em mim.
NO ALVORECER DE UM SONHO.
Anoiteceu.
No céu,
Um novo clarão
Eu vi surgir
Prenunciando,
Na dimensão deste momento,
Um novo amanhecer.
Tudo é intenso,
Lindo, fulgurante.
Em revoadas, pássaros dançantes
Serpenteiam pelo profundo anil...
Como cupidos,
Em festas multicores,
Milhões de abelhas voam entre mil flores,
Na polinização de um novo amor.
Nuvens!
Ah! Discretas nuvens
Tentam, às vezes,
Toldar a luminosidade que nos envolve.
Ventos!
Alísios ventos,
Surgidos da nossa cumplicidade,
As fazem dissipar.
Translúcido,
Transparente,
Permiti aos teus olhos
Perscrutar o meu eu.
Que mais te posso dar?
Que mais podes querer?
Eu entreguei a ti meu coração
E, em troca, eu nada de pedi.
Expus-me para que me conhecesses.
E, na confiança que nos une,
Apenas desejei viver contigo
Um novo sonho.
Num radiante e intenso amanhece
MEU PAI.
Papai,
Assim chamei por ti, tantas vezes,
no silêncio das minhas madrugadas,
e já estavas, há tempo, ao meu lado.
Quantas vezes corri para ti,
na insegurança dos meus dias de infância,
e com o teu sorriso me acolheste.
Mas, tu te foste tão cedo!
Senti-me só, neste mundo,
sem o referencial da minha inspiração,
na pré-adolescência.
Perdoa-me, pai.
Naquela noite em que partiste
fiquei contente quando deveria ter ficado triste.
Disseram-me que tu apenas dormias
porque tinhas ido falar com Deus, lá no céu.
Como eu esperei por ti!
Mas, não voltaste. Então, chorei.
Pensei que tivesses gostado mais do céu
do que da nossa casa e me abandonado.
Hoje, na minha maturidade,
vejo o quanto foi árdua a luta.
Perdi algumas batalhas,
Ganhei muitas outras.
Eu venci, pai.
Nos momentos das minhas fragilidades
encontrei, no exemplo que me legaste,
a força necessária para prosseguir
e o guia seguro a me orientar e conduzir.
Qual um escudo protetor,
escondeste-me das vilezas do mundo.
Agora, estou aqui, meu pai,
na realização dos teus sonhos com os meus irmãos.
Trilhando, nas vias que nos abriste,
pelos caminhos da vida.
Eu sou feliz, pai,
Nós estamos muito felizes.
Agradeço-te, pai.
Venerando teu nome te retribuo tudo o que dispensaste
na minha formação e na orientação que me deste.
Com meus filhos preservarei a tua memória
que eles perpetuarão na tua descendência.
Que a luz do Senhor te envolva, nas dimensões do eterno.
Obrigado, pai!
DOCES LEMBRANÇAS! Aymoré Alvim.
Desde criança que te quero tanto
Nunca pensei de ti me separar
Em busca de uma outra cujo encanto
Talvez jamais pudesse me encantar.
E foi verdade, sim. Hoje o meu canto,
Cheio de recordações tenta alcançar
O tempo que em teus campos, qual um manto
De relva, cheios de luz, ia brincar.
Os dias, no entanto, se passaram
E hoje no meu peito só restaram
Doces lembranças de beleza eterna
De uma infância que p’ra mim foi linda
De uma vida que queria infinda
Junto de ti, Pinheiro, minha terra.
A VELHA DAMA
Aymoré Alvim.
Sabes que gosto de ti.
Lembro-me com que carinho me acolheste,
No verdor, ainda, da minha adolescência.
Mas, que posso fazer por ti?
Nada ou quase nada.
Hoje eu vejo com tristeza
Que o mar que te rodeia
Desmancha-se em lágrimas aos teus pés.
Ah!, Minha nobre e velha senhora quatrocentona.
A brisa mansa que sopra do Atlântico
Já não traz o frescor que permeava
Com a sua aragem teus velhos casarões.
Agora, espalha apenas o mau cheiro
Que do teu corpo exala.
Como gosto de ouvir tuas histórias.
Dizem que eras bela, verde e radiante..
Criada por índios,
Cobiçada por ingleses e espanhóis
Amada por franceses e portugueses
E por holandeses foste deflorada.
Eras quieta, fascinante, linda,.
Cantada por poetas e seresteiros,
Criando os filhos que em ti eles deixaram.
Envelheceste. Teus filhos não cuidam de ti.
Aproveitam-se apenas da tua herança.
Teus becos, vielas e ruas estão vandalizados.
Tuas praças já não acolhem mais. Afastam.
O medo das tuas antigas carruagens
Puxadas por mulas sem cabeça
Transformou-se em pavor.
Para os teus filhos.
O que infligiste no passado
Àqueles que esperavam de ti guarida,
Recai, agora, sobre os que abrigas.
O chicote transformou-se em balas
Que fazem cair teus filhos
Que diariamente choras.
Agora, estás só, desamparada,
Vestes rasgadas, mal cheirosas, agredida.
Os que dizem querer cuidar de ti, te proteger,
Apenas te exploram .
Ah! Querida e velha dama,
Que futuro te espera?
O JURAMENTO.
Caso um dia me perguntem,
Juro. Nada eu direi.
E, assim, eu calarei
Tudo o que tu me contares.
Não revelarei jamais
Sequer um dos teus segredos.
Isso tudo para mim
É um compromisso sagrado.
Ao entrar em tua casa
Afirmo-te: nada eu verei.
Se me confias teus males
Paciente, escutarei.
E comigo hei de guardar
Por juramento de honra,
Nem que custe a minha vida
Afirmo-te: Não temerei.
Se, então, não acreditas,
Os deuses hei de invocar
Por Apolo e Esculápio
Panacea, hei de jurar;
Ate mesmo a deusa Higea
Se necessário chamar.
Porém nunca esquecerei
Do Juramento que fiz.
E se necessário for,
Novamente, eu o farei.
Eu não favorecerei
O crime de jeito algum.
Prejuízos não darei
A paciente nenhum.
E jamais hei de aceitar
Qualquer morte para alívio,
E tampouco os abortivos.
Que vidas venham ceifar.
Estes são os compromissos
Que com meu Deus eu assumo
Pra servir a sociedade
Com dignidade e honra.
Para que a minha vida
Ganhe a glória merecida
E a desfrute entre os homens.
Mas se deles me afastar
O contrário a mim virá
Infligindo-me a desonra.
ANA MARIA FÉLIX GARJAN
TRIBUTO À ‘CANÇÃO DO EXÍLIO’, DE GONÇALVES DIAS
Onde havia teus pássaros, belas aves e palmeiras cantadas por ti, Gonçalves Dias,
Há queimadas, tuas palmeiras já morreram, os teus sabiás estão quase mudos;
Nosso céu está cinzento, a poluição é grande no Maranhão e no nosso planeta
Mas ainda vemos estrelas que miram os seres da terra; imaginamos o teu céu;
Nossos bosques estão desmatados, nada pode ser feito, não há lei, não há paz;
As leis não impedem queimadas das florestas, e os homens maltratam os animais;
Eu também fico a cismar, até onde o homem destruirá nossa natureza, teus Sabiás...
Ainda há várzeas, rios, palmeiras onde cantavam as aves que gorjeavam aqui, e lá;
Nossas vidas, nossos amores estão na corrida contra o tempo das contradições, Dias!
Os prazeres dos homens são perigosos para os inocentes, há muita violência no mundo;
Os governos, as religiões, pessoas, grupos e instituições sofrem perturbações
O mundo está confiante na renovação, não queremos guerras, pedimos paz às nações;
Em nossa terra ainda buscamos ‘primores’, desejamos ouvir o canto dos teus Sabiás,
Queremos que mil poemas corram o mundo, que haja tempo de renovar tua memória!
O teu ‘Canto do Exílio’ é uma declaração de amor e respeito à natureza daqui e de lá.
Tua vida, nossas vidas estão escritas neste livro, onde poetas cantam versos para ti!
Que Deus permita que possamos viver nossos amores e artes, ao som de ventos e brisas
E que possamos renascer e contribuir com a natureza, para salvarmos nosso planeta!
Caxias segue seu destino, há teus seguidores que cantam e morrem de amores!
São Luís completou 400 anos, e teu nome e histórias fazem parte da cultura brasileira.
Há muitos escritores, poetas e artistas que cantam novas ‘canções do exílio’, como eu.
E Deus escutou tua prece... “Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá’.
E ainda avistastes as terras e palmeiras do teu Maranhão.
Que Deus não permita que haja mais violência nas florestas, vilas, ruas e cidades!
Que possamos sempre voltar para nossa casa;
Que no mundo haja justiça e paz para a humanidade!
POETISAS MARANHENSES: LÚCIA SANTOS
DINACY CORREA
http://blog.jornalpequeno.com.br/dinacycorrea/
Dêem lugar, pois vai passar o que dá sentido à vida: a poesia. E se não arredarem, serão
atropelados pelos cascos dos cavalos selvagens tangidos por esta amazona do meio-norte. Ah!
Suas bestas, queriam dinheiro? Pois tomem de graça algo que não se compra nem se vende:
estado de poesia.
Queriam fama? Pois tomem permanência. É assim que a vida continua em versos curtos como
cutiladas. […]. A luz de Lúcia é pra segurar pela mão e seu grito é pra ouvir com lupa. Abaixem a
televisão. Quem tem flor que regue. É um bom começo pra entender Lúcia. (chico
césar/quaseverão2003)
Maranhense da Baixada, Lúcia Maria Coelho Santos (1964), escritora e poeta, é natural da
cidade de Arari, às margens do Mearim, onde nasceu (sob o signo de escorpião) e conviveu até aos
10 anos de idade quando, então (1974), acompanhando os pais – o popular Tonico Santos, ex-
professor do Colégio Arariense, farmacêutico e enfermeiro, cognominado “o médico de Arari” e a
também ex-professora da referida instituição de ensino, Socorro Santos – e os irmãos: Virgínia,
Hilda, Abdomacir, José Reinaldo, e José de Ribamar (todos Coelho Santos), muda-se para São Luís,
fixando-se, com os familiares, no Monte Castelo. Sob o céu ludovicense, dá continuidade aos estudos
(do fundamental ao superior – embora, “por notável falta de vocação acadêmica”, não tenha
concluído os três cursos universitários com os quais esteve envolvida por um bom tempo: serviço
social, letras e filosofia), encontrando-se, nesse percurso, por “entre marés, luares e telhados” (como
diria o saudoso Odylo), alvoradas e pores-de-sol desta Ilha-Poesia, com a grande Musa,
sintonizando-lhe a frequência, obedecendo-lhe ao chamado, descobrindo-se/revelando-se a poetisa
sensível e delicada, mais uma estrela a brilhar no set das nossas Letras e Artes. Ei-la que diz:
“Difícil dizer de que é feita a poesia. Qualquer coisa pode ser impactante para o olhar atento do
poeta: uma pedra, para Drumond ou João Cabral, uma lesma para Manoel de Barros, um gato
para Ferreira Gullar, uma pescaria para Adélia Prado… Coisas simples, corriqueiras, podem
conter muita poesia. Precisa observação, inquietação, ou qualquer sentimento que nos mova,
seja ele bom ou ruim. Não acredito numa atmosfera propícia para que surja um bom poema. Ele
pode surgir do caos, do descompasso, até mesmo da falta do que dizer. A lapidação do poema,
sim, carece de bom tempo”. (Lúcia Santos)
Habituada a ler, desde a mais tenra infância, seguindo o exemplo dos pais, professores,
sempre às voltas com livros, já escrevendo versos, desde menininha, sua iniciação ou “batismo de
fogo” na “Ordem das Musas” vem a se dar por volta dos anos 80 e sob os influxos de Mestres como
Paulo Leminski, de quem aprendera, de cor, muitos poemas, deleitando-se com o seu poder de
síntese, seu jeito irreverente e bem humorado. A propósito (ela o atesta), foi a biografia de Bashô,
escrita por esse ídolo, cultuado por toda uma geração, que a despertou para os haicais, sendo, pois,
Leminski e Bashô duas das suas fortes referências nesse processo descoberta/revelação poética.
Outros cultores da Magna Arte como Pessoa, Baudelaire, Quintana… atiçaram-lhe as brasas da
paixão pela Poesia – que antes considerava uma coisa chata, que a gente era obrigado a decorar do
livrinho da escola.
As poetisas, por sua vez – Cecília Meirelles, Hilda Hilst, Alice Ruiz, Laura Amélia Damous –
são-lhe um capítulo à parte: a poesia feita por mulheres é diferente da que é feita por homens. Não é
menor (como querem alguns machistas de plantão), apenas diferente. Não é “coisa de mulherzinha”;
é um outro olhar e ponto. Assim, descobri a elegância e simplicidade de uma Adélia Prado, com sua
feminina devoção: “Eu peço a Deus alegria pra beber vinho ou café, eu peço a Deus paciência pra
fazer um vestido novo e ficar na porta da livraria oferecendo meu livro de versos, que pra uns é flor
de trigo, pra outros nem comida é” – ela diz.
Outro livro a lhe tocar fundo: Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres (Clarice
Lispector), escrito em prosa, mas poesia pura, do qual cada frase é um achado, é pra parar e ficar
pensando. Ou sentindo. Essas são as suas referências livrescas; mas, como ela mesmo o admite,
influências podem vir de todos os cantos: da infância, no interior do Nordeste, do rádio ligado, da
cultura popular, das viagens, das conversas de rua, do ônibus, da TV, do cinema, da música e até
mesmo de um livro…
Espírito aventureiro, dado a viagens, já tendo “ciganeado” por vários pontos da Federação
(Belo Horizonte, São Paulo… mas atual e temporariamente fixada em São Luís), versada em outras
artes, como dança, teatro… sempre envolta com projetos culturais e recitais performáticos, no enlace
da “escrita poética com a poesia falada, cantada, ilustrada e teatralizada”, a poetisa vai imprimindo
seus passos na calçada da nossa história e tradição literária. Tem publicados: Quase Azul Quanto
Blue (1992); Batom Vermelho (1998); Uma Gueixa Pra Bashô (2006), além de figurar em
Antologias como: Mulheres Emergentes (BH), Circuito de Poesia Maranhense, Afluências (RS),
Ekos (RS) e no Dicionário Crítico de Escritoras Brasileiras, de Nelly Novaes Coelho. Inéditos:
Amor Armadilha Dália; A Poderosa Poodle (infantil), e ainda crônicas e outros escritos à espera
de publicação. Sobre o seu último livro editado, a palavra de entendidos como
Sergio Natureza: “Num universo – sem paralelo – de forma e fundo, Lúcia Santos nos
apresenta seu mundo diverso/de versos calcados numa poética minimalista de inegável tônus e
personalidade. Pode-se dizer que o texto de Lúcia Santos, não preso à estrutura formal do haikai
tradicional, presta, três séculos depois, sutil homenagem ao mestre Bashô – algo como a arte da
espada e a dança dos leques adequados ao ethos ocidental contemporâneo, enfocando temas
recorrentes do modus vivendi de uma mulher sensível e consciente do seu papel no mundo deste
início de século XXI. Híbrida de guerreira e gueixa dos dias de hoje, Lúcia Santos, cheia de si, plena
de chi nos lega momentos poéticos de lúcida reflexão, imprimindo habilmente seu ritmo – com
talento, fluência e desenvoltura de quem balança… mas haicai” (In: Uma gueixa pra Bashô – aba
direita da obra)
Celso Borges: “[…]. Ainda bem que chega agora Lúcia Santos, que de forma corajosa nos
presenteia este prato de delícias irônicas e eróticas. Nem sempre há rigor na forma, é certo, mas dá
até vontade de comê-los quase todos.. Chega de bons samaritanos. Lúcia não é. Que bom. Irônica,
lírica, sexuada, atira-se nos braços de Bashô, como se dissesse para os rigorosos ‘intelectuais de
plantão’: Melhor gozar, gente, nem que seja com versos”. (Idem)
E ei-la, numa pequena mostra de sua verve poética…
vinho tinto
quando a solidão sangra
ou o amor deleita
um poema pinta
escorre das veias
o vinho, a tinta
jorra das tetas
o leite, as letras
que às vezes uivam
às vezes uva
inédito
esqueça
os seus amores pretéritos
relembre
as nossas noites homéricas
receba
o meu amor quilométrico
os meus desejos exóticos
minha visão esotérica
e ainda
todos os créditos
dos meus poemas inéditos
entrego a você
pague pra ver
filosofia barata
a vida te arremessa da placenta
e te promessa imerso em água benta
o padre te confessa na comunhão santa
o diabo se atravessa e te tenta
a vida te envelhece e ainda é por enquanto
o coração que endurece é cocada fora do ponto
a solidão que apodrece é fruta de esperar tanto
o amor se nos parece
uma massagem com unguentos
haicais
aos trinta
não uso truques de paus
só brincos de ouro
dias de sol me esquecem
flores guardadas nos livros
permanecem
do povo rude
entender não pude
o sábio cismar
nem deuses nem malditos
a gente cresce
desfaz os mitos
do fundo do olho do espelho
uma lágrima me assalta
falta
é sexta-feira
depois das dez
só dou bandeira a dois
pipa que dança ao sol
sentimento criança
cerol não alcança
REFERÊNCIAS:
SANTOS, Lúcia. Uma Gueixa pra Bshô. São Paulo: Babel, 2006.
http://antologia momentoliteráriocultural.blogspot.com/2010/02/1
lúcia-santos-entrevist,.html(25/08/11http://balangandãs.worpress,com/conexões-2(25/08/11)
O SÃO JOÃO BATISTA DO MODERNISMO
FERNANDO BRAGA
in “Toda Prosa”, Tomo III, do livro “Travessia” [Memórias de um aprendiz de poeta e outras mentiras],
de Fernando Braga, em fase de organização.
Numa certa tarde, no Rio de Janeiro, um senhor entra numa livraria e encontra a folhear um
livro, uma bonita mulher. De repente, o referido senhor aproxima-se dela e pergunta-lhe:
- A jovem é casada?
E a jovem mulher bonita responde, reconhecendo aquele senhor magro, meio curvado,
trajando terno escuro, de óculos grandes e lentes grossas por causa da miopia:
“- Sim, professor, sou casada, por quê?”
E o mestre, sem embaraço, fulminou:
“- Por nada, foi apenas uma idéia malsã...!”
Este senhor era o poeta Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho, nascido em Recife, em 19
de abril de 1896 e falecido no Rio de Janeiro em 13 de outubro de 1968. Fez o curso de
Humanidades no Colégio Pedro II, na velha capital da República, e em São Paulo o curso de
Arquitetura o qual veio a abandoná-lo devido à tuberculose que o fez perambular por Itaipava,
Campanha, Teresópolis, Maranguape, Uruquê e Quixeramobim, em busca de um melhor clima até
que, em 1913, foi para a Suíça., onde conheceu, também internado, o Dr. Odorico Carmelito Amaral
de Matos, maranhense e um dos grandes pediatras brasileiros e se fizeram grandes e queridos amigos
para o resto da vida...
Seu primeiro livro foi “Cinza das Horas”, que foi publicado em 1917, seguido por
“Carnaval”, em 1919. Se Junta ao movimento Modernista em 1922 engajado de logo às experiências
renovadoras, fazendo publicar em 1924 “Ritmo Dissoluto” já dentro dos padrões da estética
moderna. Desse ano até 1930 seus poemas seguem a linha dessa combatividade formal, publicados
com o título de “Libertinagem”; depois, “Estrela da Manhã”, 1936: “Mafuá de Malungo”, 1948;
“Opus 10”, 1952; “Apresentação da Poesia Brasileira”, 1944; “Itinerário de Pasárgada”, 1957.
Escreveu também traduções e ensaios de Literatura Universal e Crítica. E como diz o professor
Ébion de Lima, tem “várias outras Poesias Completas, que o tempo se foi encarregando de
completar.” A Editora José Aguillar fez publicar “Poesia e Prosa”, 1958, que dá uma visão total de
sua obra.
Manuel Bandeira é um dos mais radicais poetas modernistas da primeira fase, passando da
estética tradicional para um lirismo extremado, revelando-nos a herança inconteste do lirismo
português, com um lirismo que alguns autores dizem semelhante ao de Gonçalves Dias, de quem
Bandeira traçou-lhe o perfil literário em belo ensaio:
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
Este poema é um protesto de Bandeira contra a poética tradicional, no qual termina por fazer
apologia à liberdade de expressão poética.
Manuel Bandeira era um artista desencantado e amargo, revelações que faz desde seu livro de
estréia:
Eu faço versos como quem chora
de desalento... De desencanto
[...].
- Eu faço versos como quem morre.
Embora o substrato melancólico permaneça na essência e no temperamento do poeta, ele
procura em sua obra transfigurar o cotidiano e o vulgar buscando a vivência poética, a anedota, o
poema-piada e nas recordações da infância como nas “Vocações do Recife”.
No poema “Infância”, Manuel Bandeira nos deixou esta beleza de construção lírica: “Uma
noite a menina me tirou da roda de coelho-sai, me levou imperiosa e ofegante, para um desvão da
casa de Dona Aninha Viegas, levantou a sai e disse: mete!”
Sobre Manuel Bandeira, o crítico Otto Maria Carpeaux assim se manifesta na sua “Pequena
Bibliografia Crítica da Literatura Brasileira”: “Depois dos inícios simbolistas de sua poesia, logo
apreciada pelos conservadores, tornou-se Manuel Bandeira o porta-voz lírico do modernismo (1ª
fase), sendo combatido e exaltado. Superando, depois, as particularidades de qualquer movimento ou
grupo, guardando, porém, as liberdades que convém à expressão de sua emoção lírica, chegou
Manuel Bandeira a ser o maior poeta moderno do Brasil”.
Não se tendo formado em Arquitetura e nem ter tido um filho de seu, frustrações reveladas no
poema “Testamento”, Manuel Bandeira dedicou-se ao Magistério, lecionando no Ginásio Carioca, no
Pedro II e na Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil, hoje integrada à Universidade
Federal do Rio de Janeiro.
Foi, sem dúvida nenhuma, Manuel Bandeira, um grande mestre e um dos maiores poetas
brasileiros de todos os tempos.
A ARTE POÉTICA DE LENITA ESTRELA DE SÁ
MHARIO LINCOLN
REVISTA POÉTICA BRASILEIRA154
Poesia, poetas, literatura, liberdade, felicidade, emoção...
http://www.revistapoeticabrasileira.com.br/#!lenita-s/c18nw
http://www.revistapoeticabrasileira.com.br/
Lenita é uma daquelas mulheres fortes, antes de ser intelectual. Lenita é uma daquelas mulheres
sábias, antes de ser poeta. Lenita é uma das mulheres que intensifica o verbo ao caracterizá-lo como
frase, calcando com a ponta do seu talento, seus insights, nas páginas da vida.
Eis Lenita Estrela de Sá. Impecável na construção hermenêutica da vibração polissimétrica de seu
pensamento. Mágica na mistura do roteiro, quando escreve prosa. Irresistível de ler quando lhe
brotam poesias. Tecnicamente perfeita quando emana toda energia na pesquisa. É envolvente como
palestrante. É emotiva quando amiga. É realista quando produz. E não pára de produzir.
Exemplo disso é o lançamento neste dia 10 de setembro, na Livraria Leitura do Shopping São
Luís, às 19 horas, de sua obra "A Estrelinha Aparecida", com sensível prefácio do imortal Jomar
Moraes, ex-presidente da Academia Maranhense de Letras, (AML). Diz ele, com muita propriedade:
"Desde de adolescente, Lenita Estrela de Sá percorre seu caminho literário, tendo começado a
escrever crônicas em O Imparcial por volta dos quinze anos de idade. Não demorou muito e lançou
o primeiro livro de poesia, Reflexo, prefaciado por Josué Montello. Assim deu início a uma
produção literária que se expressa em diversos gêneros com a mesma desenvoltura: teatro, poesia,
conto, roteiros de cinema e televisão.
Mas é sobre a produção de Lenita em literatura infantil que pretendo me manifestar. Com as
mesmas graça e leveza que caracterizam seus textos, a exemplo da aliciante história A filha de Pai
Francisco – bumba-meu-boi para crianças, um aproveitamento do auto do bumba-meu-boi
permeado pela preocupação com a preservação ecológica de nosso ecossistema; e de A Lagartinha
Crisencrise – uma história sobre as transformações da existência e as dificuldades do crescimento
humano, a lagartinha estabelece diálogos com personagens do seu meio, que tentam, senão resolver
as situações normais do ciclo da vida que a assustam, pelo menos empenham-se em ajudá-la
a entendê-los e, assim, amenizar suas angústias, tornando menos dolorosa sua metamorfose. Lenita
Estrela de Sá traz agora de presente para as crianças de todas as idades, esta A Estrelinha
Aparecida, que me prendeu a atenção do começo ao fim pela leveza da narrativa, em muitos
momentos poética, pela originalidade no tratamento do tema, pela convincente caracterização
dos personagens, numa fábula sobre a importância de a autoestima das pessoas estar sempre em
equilíbrio, para levá-las a concretizar suas habilidades.
A Estrelinha Aparecida, que se estatelou no chão enquanto passeava pela Via Láctea, que tinha o
hábito de andar com as duas pontas laterais sempre recolhidas junto ao corpo para não brilhar
demais e, assim, não incomodar os outros, cumpriu na Terra a nobre missão de
infundir autoconfiança ao pequeno Davi, que, de conformidade com seu homônimo bíblico, terminou
vencendo o Golias abrigado em seus medos, para tornar-se um menino livre de inibições, capaz
154 Editor Sênior: Jornalista Mhario Lincoln (mtb-Ma1015) - Contatos: mhario@globo.com / Twitter @MharioLincoln #domeulivro ML/Acervo www.mhariolincolndobrasil.com
também de dar dribles enviesados nos rivais do time de futebol da turma B,e, finalmente, encantar a
torcida com um belíssimo gol."
Livros publicados:
Ana do Maranhão (Prêmio Arthur Azevedo, concedido pela Universidade Federal do Maranhão, 1980, e
Prêmio Brasília de Teatro, concedido pela Fundação Cultural do DF, Governo do DF, Secretaria de educação
e Cultura do DF e INL - Instituto Nacional do Livro -- por unanimidade, em 1981);
A Filha de Pai Francisco, peça de teatro infantil, publicada em 1995, com prefácio de Ferreira Gullar (Prêmio
Apolônia Pinto, concedido pela Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão, em 1988; e Prêmio Alice Silva
Lima, concedido pela União Brasileira de Escritores – UBE – em 1997, em virtude da publicação do texto, o
que, por sua vez, ensejou Moção de Aplausos da Câmara Municipal de São Luís, em 13.05.97);
Reflexo, poesia – prefácio de Josué Montello, 1979;
No Palco a Paixão -- Cecílio Sá, 50 Anos de Teatro (pesquisa, 1988);
A Lagartinha Crisencrise (história infantil, 2005);
Cinderela de Berlim e outras histórias (contos), Prêmio Gonçalves Dias de Literatura, concedido pela
Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão, 2009;
A Filha de Pai Francisco – bumba-meu-boi para crianças (conto infantil, 2015);
Pincelada de Dalí e outros poemas, 2015 (Prêmio Sousândrade de Poesia, 2010, concedido pela Fundação
Municipal de Cultura – FUNC – apresentação de Ferreira Gullar).
Participação em antologias:
Antologia Guarnicê, Edições Guarnicê, 1984;
Novos Poetas Do Maranhão, São Luís, UFMA, 1988;
As Aves que Aqui Gorjeiam – Vozes Femininas na Poesia Maranhense, organizada por Clóvis Ramos, São
Luís, SIOGE, 1993;
Circuito de Poesia Maranhense, CEUMA, 1995;
Dicionário Crítico de Escritoras Brasileiras, organizado por Nelly Novaes Coelho, São Paulo: Escritura
Editora, 2002.
Referências bibliográficas à autora:
COÊLHO, Nely Novaes. Dicionário de Escritoras Brasileiras. São Paulo: Escrituras Editora, 2002.
CUNHA, Carlos. As Lâmpadas do Sol. São Luís: Editora Fon-Fon, 1980,p.110-111.
DANTAS, José Maria de Souza. Didática da Literatura. Rio de Janeiro: Editora Forense-Universitária,
1982.p.152-153.
LEITE, Aldo. História do Teatro Maranhense. São Luís, EDUFMA, 2007.
MARQUES, Oswaldino. Prefácio Fulminado. In: Acoplagem no Espaço. São Paulo: Ed. Perspectiva;
[Brasília-DF]: INL,1989. – (Coleção Estudos; v.110).
REIS, José de Ribamar. Perfil do Maranhão. São Luís: Editora Prelo comunicação, 1980.p.256.
"Mimo"
Rogo que durmas assim como o Bacanga dorme
de coração atado ao sol que ondula em suas águas
quando o dia vai cansando de si mesmo
já que os saveiros se recolhem a alguma luz de lamparina
para ouvir dizer de assombrações e ritos.
No terreiro da Casa das Minas, os atabaques
celebram a noite, cuja ideia intacta persiste
a fermentar no mangue
onde se confundem num mesmo universo os caranguejos e os homens.
Noutro ponto da cidade, se encolhem as meninas medrosas
ainda se arrasta na rua uma carruagem de fogo.
"--É Ana Jansen, que de tão má com os negros se encantou em mula-sem-cabeça."
Todas as noites, cuidarei que durmas
longe dos segredos que passam na porta.
* De "Pincelada de Dalí e outros poemas", Prêmio Sousândrade de Poesia - Fundação Municipal de Cultura de São Luís.
* ISBN 9788561742157 *
HEROTÍLDES DE SOUZA MILHOMEM
À BARRA DO CORDA
Em meio ao sertão maranhense
Eis que surge garbosa e sutil
Uma ilha de cantos e encantos
De sabores e saberes mil
Decantada pelos amantes
Como “Princesa “do sertão bravio.
Para orgulho dos Cordinos
Tens filhos muito guerreiros
Berço de poetas e doutores
De pescadores e carpinteiros
Teus escritores marcam épocas
No território Brasileiro.
Tens filhos adotivos
Que marcaram uma geração
Amam tanto esta cidade
Que fazem dela uma atração
Postam nas redes sociais
O que lhes vem no coração.
És cercada por dois rios
Ladeados por gameleiras
Vão descendo caudalosos
Empunhando uma bandeira
Em defesa de seus leitos
Pra não se tornarem poeiras.
Sabemos que o Mearim
Tem suas águas mornas e escuras
Enquanto que o rio Corda
Tem suas águas frias e claras
Descem banhando a cidade
E se juntam no Guajajara.
A ilha que dantes serviu
De lazer, desporte e pic-nic
Após grandes enchentes
Foi perdendo seus limites
E hoje o que avistamos
São galhos perdidos no infinito.
A rampa , Porto seguro
Dos banhistas e embarcações
No final da rua Aarão Brito
Tinha grande repercussão
A toda hora se via
Grande movimentação.
Entre curvas e remansos
Avistamos pescadores
Vimos até bonitas lanchas
Transportando seus valores
Os botes abarrotados
Levando nossos sabores.
Sinto muita saudade
Dos festejos e quadrilhas juninas
Do bate papo na porta
Do namoro na esquina
Das noites enluaradas
E das brincadeiras de menina.
Uma figura inesquecível
Que me ensinou a pensar
O grande amigo Uchoa
Que costumar nos visitar
Dizendo o Apo chegou
Caneta e papel no ar.
Aí vocês já sabem
A sabedoria imperava
Sua imaginação parecia
Um grande livro com asas
Narrava histórias da Barra
E no caderninho eu registrava.
Tudo isto após instruções
Dele e de meu pai querido
Que iam relatando fatos
E tudo parecia bonito
A história foi desfilando
Num ritmo bem divertido.
Tenho boas lembranças
Das quermesses na Matriz
Da resina do Mororó
Que nos fazia feliz
Da punga e do Calvário
E dos desfiles estudantis.
Tínhamos na adolescência
Um lugar para os encontros
Esquina da rua Formosa
Balcão elétrico era o “Point”
Com picolés quadrados
E música a toda prosa.
Quanta saudade eu sinto
De minha terra adotada.
Creiam, não menos amo
O meu querido torrão Natal
Onde nasci e vivi parte da infância
Paraibano –Ma, bem longe da Capital.
Terra do babaçu,
Arroz e beneficiamento
Onde meus ancestrais
Trouxeram seus conhecimentos
Formaram pequenas vielas
E defenderam seus sustentos.
Recordo-me muito bem
Dos amigos da escola
Das tertúlias dançantes
Das serenatas amorosas
Do badalar dos sinos
E até do cheiro de rosas.
O programa da alvorada
Do Frei Carmelo no ar
Tinha como vinheta
Uma música a nos cativar
Ao ouvi-la mesmo distante
Começávamos a cantarolar.
O Mestre Galeno Brandes
Ensinava cálculos e a cantar
João Pedro grande professor
Ensinava História e a marchar
José Americano e Aciran
Na geografia vinham imperar.
Frei Marcelino de Milão
Muito bem conceituado
Sérgio Bícego era seu nome
Conhecido no estado
Diretor, professor e médico
E pároco muito amado.
Criou asas e voou bem alto
Para outras cidades mudou-se
Por ordens da CNBB se tornou
Um Bispo de alta imagem.
E com leptospirose perdemos
Nosso ídolo de coragem.
Recordo-me ainda meus amigos
Das aulas de Português
Também de Educação física
Nas madrugadas por sua vez
Com a querida professora Helena
Marco da educação com altivez.
Laura e Delta Martins
Vera Soares e Espírito Santo
Professor Mário na matemática
Ensinavam sem espanto
Estes fizeram história no ginásio
Na escola normal e tanto.
No primário recordo enfim
Do convento das irmãs
Aonde eu ia estudar
Contente todas as manhãs
Irmã Valéria, Toinha do Jaldo
“Didica Machado” sou sua fã.
Com os hormônios a flor da pele
Era difícil controlar
Em faze de namoro
Queríamos muito beijar
Frei Marcelino dizia
Ma vá, ma vá, estudar.
Daí refreava-se o desejo
A vontade de abraçar
Contentávamos com gentilezas
E uma piscada no ar
O máximo permitido
Era a mão nos beijar.
És um celeiro de vida
“Que dá abrigo a passarada
Que vem migrando
Cansadinha e sem alento.
Só pelo tanger do vento
A Procura de morada.”
.Recordo-me muito ainda
Do caminho da escola
Entre os transeuntes
Em frente as Pernambucanas
Moça elegante sentada
Com jornais numa sacola.
Afro descendente desprovida de memória
Quem se lembra da Verônica
Mariano o mano da história
“João Popó” DV divertido
Maria Tamanquinho penteada
Balançava seu vestido.
Sinto saudades ainda
Dos bolos do Carlos Lopes
Do cuscuz de Dona Inês
Do cheiro verde da Dona Iria
De descer do Porto dos Ingleses
Pelo nosso rio de Água fria.
As brincadeiras de rua
Era nosso passa tempo
Corrida e esconde-esconde
Queimada e passa anel
Sempre em lua cheia
Tinha sabor de mel.
Havia uma brincadeira
De meninas e meninos
Numa roda bem traçada
Sempre sobrava uma cadeira
Que nos deixava embaraçada
E com voz de conquista ouvia-se
Meu lado direito está desocupado.
Adivinhem o que acontecia
A cadeira era marcada.
Pra o nosso bem querer
Ficava sempre reservada
Mas a colega teimosa
A brincadeira estragava.
Era um tal de disputar
Os meninos cortejados
Lado direito não esquentava
E ficávamos de lado
Eles iam pra lá e pra cá
E alimentavam nossos sonhos dourados.
Barra do Corda querida
Muitos dos teus filhos
Aventuram-se partir
Conhecer outros lugares
E na vida progredir
Em buscas de ideais
E de um novo porvir.
Sempre que podem voltam
Pra rever velhos amigos
Tomar café da manhã no mercado
E o gostoso mocotó
Jogar conversa fora
Jamais sentir-se só.
Herotíldes de Souza Milhomem
Brasília –DF
14 / 09 / 2015-
ANA MARIA FELIX GARJAN
“Anima”, grafismo para Firmina dos Reis Por Ana Felix Garjan
Minha homenagem a Maria Firmina dos Reis em seus 190 anos.
Ela não possuía anéis nos dedos. Mas as letras, a poesia e sua alma jorravam por suas mãos negras,
sensíveis e abolicionistas.
“ANIMA IN FIRMINA OU POÉTICA SIMBÓLICA”
No “Hino à liberdade dos escravos”, Maria Firmina dos Reis cantou:
“Salve Pátria do Progresso”!
Salve! Salve Deus a Igualdade!
Salve! Salve o Sol que raiou hoje,
Difundindo a Liberdade!
Quebrou-se enfim a cadeia
Da nefanda Escravidão!
Aqueles que antes oprimias,
Hoje terás como irmão”!
DIÁLOGO NO TEMPO, COM FIRMINA:
A tua Pátria que cantaste em verso e prosa já possui 200 milhões,
São brasileiros nascidos aqui, e tantos do mundo de outras regiões.
Em teu tempo e no nosso desejamos Justiça, Liberdade e Paz.
Em nossa Pátria Gentil ainda há preconceitos e seus filhos morrem,
E muitos lutaram e lutam pela Liberdade que cantaste em tua poesia
À Beira Mar da Ilha de São Luís, em seus 403 anos que o tempo marcou.
A Pátria sonhada ainda escraviza, mata jovens nas esquinas e no asfalto,
Mães e crianças querem escolas nas vilas e sonham viver sem violência
Mas os sistemas não avançam e centenas morrem sem realizar seus sonhos.
Nas antigas escolas e nos teus livros ainda há a cor de tua alma revolucionária
Que sentiu dor em sua carne, lutando com nome da justiça e da liberdade,
E teu legado renasce, floresce na luta do povo do teu e do nosso país.
Firmina: Tua alma de mulher negra, pobre, sem anéis nos dedos deixou marcas
Nas antigas cidades de São Luís e Guimarães, onde teus versos ainda ecoam.
Hoje teu nome figura como Patrona da Academia Ludovicense de Letras,
Na cidade em que nasceste, onde miravas o mar e tua alma cantava poesia.
Ave, Firmina!
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Mirabilis,Desenho por Ana Felix Garjan
ANIMA E SÍNTESE DE MARIA FIRMINA DOS REIS (1825-1917)
Ela não possuía anéis nos dedos. Mas as letras e poesia jorravam pelas mãos.
Mulher negra, nas lutas seculares pela Justiça e Igualdade,
Firmina foi criança, estudou, sofreu e sonhou com a Liberdade,
Defendeu os escravos que sofriam dores nas duras e frias senzalas.
Passeou pela música, defendeu a abolição com poemas, romances e canções.
Firmina dos Reis foi exemplo de educadora e abolicionista com sensibilidade.
Mulher mestra das primeiras letras dedicou-se a educação e política,
defendendo, em sua literatura,as mulheres negras, perseguidas de sua época.
Seu livro, “Úrsula” (1859), escrito aos 34 anos,representa a marca
de uma mulher afro-brasileira que escreve, sob a forma de romance,
denúncia política e social, inaugurando a produção abolicionista,
a partir do olhar feminino de uma mulher negra e sofrida,
Mas liberta dos grilhões da sociedade escravocrata.
E a música de sua alma escreveu “Gupeva”, de temática indígena e social,
Compôs o “Hino à Libertação dos Escravos”, importante poesia política e lírica.
Em 1880, Maria Firmina dos Reis fundou a primeira escola mista gratuita.
E sua missão foi cumprida, após muitas dores do seu mundo.
Firmina dos Reis faleceu aos 92 anos, em 11 de novembro de 1917.
O resgate do seu legado engrandece a literatura maranhense.
Ave, Maria Firmina dos Reis!
ANIMA LUDOVICENSE, ANIMA FIRMINA!
A cor da Alma livre dos poetas
É como a luz do sol de São Luís
Que abraça a cidade a cada dia
Para inspirar a arte da poesia
Dos artistas
Dos escritores
E poetas eternos
Dos lugares
Sagrados da ilha.
Ave arte da poesia de todos nós!
ADÃO LOPES DE SOUZA.
MINHA ÚLTIMA FILHA. Música em homenagem a Aldaíres Brito ,sua última filha a casar-se.
Hoje acabei de entregar
Para o seu novo lar
Minha última filha .
Não sei se certo e errado
Mas Deus está por perto
Limpando-me a trilha.
Antes nos era melhor
Ao nosso redor
Ressonados além.
Hoje chamamos aflitos
Por nomes bonitos
E não responde ninguém.
O que nos resta
São livros jogados
Diplomas passados
E o mais nada vejo .
Vai minha última filha
É tão grande esta casa pra dois
Assim começamos a viver
OH ! minha velha.
E assim romperemos depois.
Antes nos era melhor
A casa era cheia e
Com muita alegria
Nunca estávamos sós.
E a tagarela era
Das louças na pia.
Não queríamos vê-los sofrendo
Nem se submetendo
Ao rancor de ninguém.
E se hoje o ninho é vazio
E o nosso leito é frio
É por falta de alguém.
Vai minha última filha
É tão grande esta casa pra dois
Assim começamos a viver
Oh! Minha velha
Assim romperemos depois.
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