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RELATÓRIO DA 1ª FASE DE PESQUISAS
SÃO PAULO
MARÇO 2012
SEDE NACIONAL
Rua Dona Brígida 299 - Vila Marina – São Paulo/ SP
Fone: (+ 55 11) 3105-0884 / Fax: (+ 55 11) 3107-0538
observatorio@os.org.br
www.os.org.br
Análise de déficit de trabalho
decente
Empresa MRV
ver
2
Instituto Observatório Social
DIRETORIA EXECUTIVA – CUT
Aparecido Donizeti da Silva
Vagner Freitas de Moraes
João Antônio Felício
ValeirErtle
DIRETORIA EXECUTIVA – CEDEC Maria Inês Barreto
DIRETORIA EXECUTIVA – UNITRABALHO Carlos Roberto Horta
DIRETORIA EXECUTIVA – DIEESE João Vicente Silva Cayres
CONSELHO DIRETOR – CUT Rosane da Silva
Aparecido Donizeti da Silva
Denise Motta Dau
Quintino Marques Severo
Vagner Freitas de Moraes
Jacy Afonso de Melo
João Antônio Felício
ValeirErtle
CONSELHO DIRETOR – DIEESE
Maria Luzia Feltes
João Vicente Silva Cayres
CONSELHO DIRETOR – UNITRABALHO
Francisco José Carvalho Mazzeu
Silvia Araújo
CONSELHO DIRETOR - CEDEC TulloVigevani
Maria Inês Barreto
CONSELHO FISCAL EFETIVO Alci Matos Araújo
Manoel Messias Nascimento Melo
Antônio Sabóia Barros Junior
3
CONSELHO FISCAL SUPLENCIA José Celestino Lourenço
Adeílson Ribeiro Telles
Eduardo Alves Pacheco
COORDENAÇÃO TÉCNICA
Coordenador institucional: Amarildo Dudu Bolito
Coordenadora de pesquisa: Lilian Arruda
EQUIPE TÉCNICA
Lilian Arruda
Leandro Souza
4
Sumário Introdução ..................................................................................................................................... 5
Metodologia de indicadores de Trabalho Decente ................................................................... 6
1. Oportunidades de emprego .............................................................................................. 7
2. Trabalho inaceitável .......................................................................................................... 7
3. Salários adequados e trabalho produtivo ......................................................................... 8
4. Jornada Decente ................................................................................................................ 8
5. Estabilidade e garantia no trabalho .................................................................................. 9
6. Equilíbrio entre trabalho e vida familiar ........................................................................... 9
7. Tratamento justo no emprego ........................................................................................ 10
8. Trabalho seguro ............................................................................................................... 11
9. Proteção social na empresa ............................................................................................ 12
10. Diálogo social................................................................................................................. 12
11. Trabalho doméstico ....................................................................................................... 13
1. Panorama da Indústria da Construção Civil no Brasil ............................................................. 14
1.1 Breve histórico do setor da construção civil ..................................................................... 14
1.2 Conjuntura brasileira e da Construção Civil nos cenários recente e atual ........................ 16
1.3 Trabalhadoras e Trabalhadores na Construção ................................................................ 20
2. Perfil da empresa MRV Engenharia e Participações: .............................................................. 29
2.1. Dados da empresa: ........................................................................................................... 29
2.2. Responsabilidade Social ................................................................................................... 30
3. Análise de déficit de Trabalho Decente .................................................................................. 31
3.1. Oportunidade de emprego............................................................................................... 32
3.2 Trabalho inaceitável .......................................................................................................... 34
3.3 Salários adequados e trabalho produtivo ......................................................................... 36
3.4 Jornada decente ................................................................................................................ 39
3.5 Estabilidade e garantia de trabalho .................................................................................. 40
3.6 Equilíbrio entre trabalho e vida familiar ........................................................................... 41
3.7 Tratamento digno no emprego ......................................................................................... 42
3.8. Trabalho seguro ............................................................................................................... 43
3.9 Proteção social na empresa .............................................................................................. 46
3.10 Diálogo social .................................................................................................................. 47
Considerações finais .................................................................................................................... 49
Referências .................................................................................................................................. 51
5
Introdução
O Instituto Observatório Social (IOS) tem adotado a Declaração de Princípios
e Direitos Fundamentais no Trabalho (liberdade sindical e o reconhecimento efetivo do
direito de negociação coletiva, eliminação de todas as formas de trabalho forçado ou
obrigatório, abolição efetiva de trabalho infantil, e a eliminação da discriminação em
matéria de emprego e ocupação) e as Convenções da OIT nelas incluídas como
principais referências para a construção de seus indicadores e metodologia. Mas a
própria OIT fixou como seu objetivo central a promoção de um trabalho decente para
todos os homens e mulheres em qualquer parte do mundo, combinando quatro pilares
estratégicos: a promoção de emprego com proteção social, respeito aos Direitos
Fundamentais do Trabalho (DFTs) e com diálogo social. Trabalho Decente é
definido como "oportunidades a que mulheres e homens possam obter um trabalho
digno e produtivo em condições de liberdade, eqüidade, segurança e dignidade
humana"1.
O Observatório Social, neste trabalho, amplia o escopo de abordagem em
suas pesquisas, adotando o conceito de Trabalho Decente desenvolvido pela OIT. Neste
sentido, o desafio do IOS foi adaptar os indicadores para o nível da empresa e incluir
dimensões até então ausentes na referência de análise. Para isso, criou um conjunto de
indicadores que norteiam o trabalho de pesquisa, a confecção desses indicadores está
assentada nas convenções da OIT.
A construção de indicadores tem o objetivo de monitorar o déficit de
Trabalho Decente mediante pesquisas, comparar realidades distintas no que se refere às
condições de trabalho, disponibilizar mais uma ferramenta para a ação sindical e,
simultaneamente ao processo de pesquisa, difundir o conceito de trabalho decente entre
trabalhadores e organizações sindicais.
1 ILO, Decent Work: Report of the Director General, International Labour Conference, 87
th Session.
6
Os indicadores são divididos em 10 temas, de acordo com o conceito de
Trabalho Decente: oportunidades de emprego, trabalho inaceitável, salários adequados
de trabalhos produtivo, jornada decente, estabilidade e garantia de trabalho, equilíbrio
entre trabalho e vida familiar, tratamento digno no emprego, trabalho seguro, proteção
social, diálogo social. O tema, contexto socioeconômico, embora faça parte do conceito
de Trabalho Decente, não está entre os temas abordados pelos indicadores do IOS, uma
vez que não é aplicável ao nível da empresa, condiciona, contudo, os outros aspectos
que compõem o conceito de Trabalho Decente.
Este estudo faz parte de um projeto desenvolvido com a Central Única do
Trabalhadores (CUT) que tem o objetivo, permeando formação sindical e pesquisa, de
estabelecer uma plataforma de negociação coletiva. Nesse sentido, a execução do
projeto é uma parceria entre as seguintes entidades da CUT: Secretaria Nacional de
Formação (SNF), Secretaria de Relações de Trabalho (SRT) e Instituto Observatório
Social (IOS) com o apoio da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
As empresas a serem estudados foram escolhida juntamente com os ramos e
sindicatos dos setores a serem estudados: construção civil, hotelaria, têxtil e calçados,
trabalho doméstico. Este relatório especificamente vai analisar as condições de trabalho
da MRV.
Metodologia de indicadores de Trabalho Decente
A construção de indicadores de Trabalho Decente foi um trabalho coletivo dos
pesquisadores do IOS, baseado em convenções da OIT. A partir dos indicadores foram
construídas as ferramentas da pesquisa, questionários para dirigentes sindicais e
trabalhadores, com a colaboração a SNF e SRT e, posteriormente, com a colaboração de
dirigentes sindicais presentes nos módulos de formação. As convenções da OIT foram
utilizada de acordo com os temas abordados:
As normas da OIT consultadas para compor os indicadores relacionados ao tema:
7
1. Oportunidades de emprego
- Convenio 88 sobre el servicio de empleo
- Convenio 122 sobre la política del empleo, 1964
- Recomendación 122 sobre la política del empleo, 1964
- Recomendación 169 sobre la política del empleo (disposiciones
complementarias), 1984
- Convenio 181 sobre las agencias de empleo privadas, 1997
- Recomendación 188 sobre las agencias de empleo privadas, 1997
- Convenio 142 sobre desarrollo de los recursos humanos, 1975
- Recomendación 195 sobre el desarrollo de los recursos humanos, 2004
Os indicadores relativos à existência de oportunidades de emprego para todos que
procurem trabalho, referem-se às informações sobre emprego/participação entre
mulheres, jovens (15 a 24 anos) no emprego assalariado. Além disso, verifica a presença
de trabalhadores terceirizados e informais. As informações são comparadas com a
média do setor e, se necessário, da região.
2. Trabalho inaceitável
As normas da OIT consultadas para compor os indicadores relacionados ao tema:
- Convenio 29 sobre el trabajo forzoso, 1930
- Convenio 105 sobre la abolición del trabajo forzoso
- Convenio 138 sobre la edad mínima, 1973
- Recomendación 146 sobre la edad mínima, 1973
- Convenio 182 sobre las peores formas de trabajo infantil, 1999
- Recomendación 190 sobre las peores formas de trabajo infantil, 1999
A OIT identificou duas formas de trabalho inaceitáveis: trabalho escravo e
trabalho infantil. Estas sugestões não se aplicam ao nível da empresa, sendo necessário
partir das reflexões que o IOS já acumulou para construir os indicadores. É possível,
porém, encontrar tais formas de trabalho na cadeia produtiva e na cadeia de
fornecedores. Pode haver também, situações de trabalho de menores de idade em
condições, penosas, periculosas e insalubres.
8
3. Salários adequados e trabalho produtivo
As normas da OIT consultadas para compor os indicadores relacionados ao
tema:
- Convenio 131 sobre la fijación de salarios mínimos, 1970
- Recomendación 135 sobre la fijación de salarios mínimos, 1970
- Convenio 140 sobre la licencia pagada de estudios, 1974
- Convenio 95 sobre la protección del salario, 1949
- Recomendación 85 sobre la protección del salario, 1949
Estes indicadores referem-se ao trabalho que garanta rendimentos e assegure
o bem estar do trabalhador e de seus familiares. O trabalho deve assegurar o aspecto
dinâmico da continuidade da garantia de remuneração, por exemplo, o da melhoria do
trabalho futuro via treinamento e escolarização.
4. Jornada Decente
As normas da OIT consultadas para compor os indicadores relacionados ao
tema:
- Convenio 47, sobre las 40 horas, 1935
- Convenio 14 sobre el descanso semanal (industria), 1921
- Convenio 89 sobre el trabajo nocturno (mujeres) (revisado), 1948
- Protocolo de 1990 relativo al Convenio (revisado) sobre el trabajo nocturno
(mujeres), 1948
- Convenio 106 sobre el descanso semanal (comercio y oficinas), 1957
- Recomendación 103 sobre el descanso semanal (comercio y oficinas), 1957
- Convenio 132 y Convenio 52 sobre las vacaciones pagadas (revisado), 1970-
- Convenio 171 sobre el trabajo nocturno, 1990
- Recomendación 178 sobre el trabajo nocturno, 1990
- Convenio 175 sobre el trabajo a tiempo parcial, 1994
- Recomendación 182 sobre el trabajo a tiempo parcial, 1994
- Recomendación 116 sobre la reducción de la duración del trabajo, 1962
Três aspectos do TD estão relacionados à jornada decente: horas excessivas
9
de trabalho (jornada excessiva) e jornada atípica podem ser prejudiciais à saúde física
e mental e impedem o equilíbrio entre trabalho e vida familiar; jornada excessiva é um
sinal de salário inadequado; jornada de curta duração (jornada insuficiente) pode
indicar oportunidades de emprego inadequadas.
5. Estabilidade e garantia no trabalho
As normas da OIT consultadas para compor os indicadores relacionados ao
tema:
- Convenio N.° 44, sobre el desempleo; Recomendación N.° 44, sobre el
desempleo y - - Recomendación N.° 176, sobre el fomento del empleo y la
protección contra el desempleo.
- Convenio N.° 158, sobre la terminación de la relación de trabajo;
Recomendación N.° 166, sobre la terminación de la relación de trabajo.
- Recomendación 198 sobre la relación de trabajo, 2006
Aqui se trata de estabilidade e segurança do emprego, considerado um dos
mais importantes aspectos do TD. A perda do emprego afeta os custos econômicos, a
acumulação de capital humano, os sistemas e o acesso a benefícios e pensões, bem
como a vida pessoal.
Podem ser analisados os seguintes aspectos: duração do emprego inferior a
um ano; emprego temporário, percepção da segurança no emprego no futuro
6. Equilíbrio entre trabalho e vida familiar
As normas da OIT consultadas para compor os indicadores relacionados ao
tema:
- Convenio 156 sobre los trabajadores con responsabilidades familiares,
1981
10
- Recomendación 156 sobre los trabajadores con responsabilidades familiares,
1981
Esta conciliação é uma preocupação das políticas públicas em muitos países,
é basicamente uma questão de gênero. O cuidado das crianças e de outros familiares é
central para se alcançar as Metas do Milênio da ONU.
O princípio da OIT (C. 156) é que as pessoas que tenham responsabilidades
familiares possam obter emprego, sem serem discriminadas. As responsabilidades
familiares não devem ser motivo para a demissão.
Questões gerais relativas às políticas de emprego neste sentido: proteção do
emprego para empregados que tenham que se ausentar do trabalho para atender
contingências familiares (maternidade e cuidado de filhos); políticas por parte das
empresas para que trabalhadores conciliem trabalho e vida familiar.
7. Tratamento justo no emprego
As normas da OIT consultadas para compor os indicadores relacionados ao
tema:
- Convenio 111 sobre la discriminación (empleo y ocupación), 1958
- Recomendación 111 sobre la discriminación (empleo y ocupación), 1958
- Convenio 100 sobre la igualdad de remuneración, 1951
- Recomendación 90 sobre igualdad de remueneración, 1951
- Convenio 159 sobre la readaptación profesional y el empleo
(personas inválidas), 1983
- Recomendación 99 sobre la adaptación y la readaptación profesionales de
los inválidos, 1955
- Recomendación 168 sobre la readaptación profesional y el empleo
(personas inválidas), 1983
Este tópico refere-se principalmente às Convenções 100 e 111 da OIT. Além
delas, o significado de Tratamento Justo no Emprego compreenderia trabalho sem
assédio ou exposição à violência, autonomia no trabalho, existência de mecanismos
justos de solução de conflitos ou de tratamento de queixas (estes últimos relacionados à
existência de diálogo social).
11
Entre os indicadores sugeridos estão a 1) segregação ocupacional por sexo e
2) o percentual de mulheres em cargos de gerência e administração. Entre outros
indicadores já mencionados em itens anteriores, os principais referem-se à participação
das mulheres no emprego, diferenciais salariais em ocupações selecionadas. Duas outras
considerações para futuro desenvolvimento: Segregação por outros motivos (religião,
etnia, origem nacional etc.) e Assédio
8. Trabalho seguro
As normas da OIT consultadas para compor os indicadores relacionados ao
tema:
- Convenio núm. 121 y Recomendación núm. 121
- Convenio 81 sobre la inspección del trabajo, 1947
- Recomendación 81 sobre la inspección del trabajo, 1947
- Convenio 120 sobre la higiene (comercio y oficinas), 1964
- Recomendación 120 sobre la higiene (comercio y oficinas), 1964
- Convenio 155 sobre seguridad y salud de los trabajadores, 1981
- Protocolo de 2002 del Convenio sobre seguridad y salud de los
trabajadores. 1981
- Recomendación 164 sobre seguridad y salud de los trabajadores, 1981
- Convenio 161 sobre los servicios de salud en el trabajo, 1985
- Recomendación 171 sobre los servicios de salud en el trabajo, 1985
- Convenio 167 sobre seguridad y salud en la construcción, 1988
- Recomendación 175 sobre seguridad y salud en la construcción, 1988
- Convenio 187 sobre el marco promocional para la seguridad y salud en el
trabajo, 2006
- Recomendación 194 sobre la lista de enfermedades profesionales, 2002
- Recomendación 197 sobre el marco promocional para la seguridad y salud en el trabajo, 2006
O tema segurança e saúde no trabalho está relacionado com condições que
preservem e promovam a integridade física e psicológica do trabalhador. Algumas
questões devem ser abordadas: número de acidentes ocorridos em determinado período;
incidência de doenças ocupacionais; avaliação da atuação da CIPA
12
9. Proteção social na empresa
As normas da OIT consultadas para compor os indicadores relacionados ao
tema:
- Convenio 103, sobre la protección de la maternidad
- Convenio 102 sobre la seguridad social (norma mínima), 1952
- Convenio núm. 102
- Convenio núm. 130 y Recomendación núm. 134
- Convenio núm. 168 y Recomendación núm. 176
- Convenio núm. 128 y Recomendación núm. 131
Proteção contra as contingências da vida, tais como doenças, envelhecimento
e deficiência física e mental, bem como da pobreza.
Em estudos sobre empresas, o grau com que estas se preocupam com a
seguridade dos seus empregados poderia ser medido através de normas e sistemas
como: fundos privados de aposentadoria e pensão, plano de saúde, licença maternidade
(e paternidade). Sobre a licença maternidade, duas dimensões importantes são a duração
da licença em relação ao previsto em lei e a garantia do emprego após o retorno ao
trabalho.
10. Diálogo social
As normas da OIT consultadas para compor os indicadores relacionados ao
tema:
- Resolución N° 52 sobre los derechos sindicales y su relación con las
libertades civiles (adoptada el 25 de junio de 1970),
- Convenio 87 sobre la libertad sindical y la protección del derecho de
sindicación, 1948
- Convenio 98 sobre el derecho de sindicación y negociación colectiva,
1949
- Convenio 135 sobre los representantes de los trabajadores, 1971
- Recomendación 143 sobre los representantes de los trabajadores, 1971
- Convenio 151 sobre las relaciones de trabajo en la administración
pública, 1978
13
- Recomendación 159 sobre las relaciones de trabajo en la administración
pública, 1978
- Convenio 154 sobre la negociación colectiva, 1981
- Recomendación 91 sobre los contratos colectivos, 1951
- Recomendación 163 sobre la negociación colectiva, 1981
- Convenio 144 sobre la consulta tripartita (normas internacionales del
trabajo), 1976
- Recomendación 152 sobre la consulta tripartita (actividades de la
Organización Internacional del Trabajo), 1976
- Recomendación 113 sobre la consulta (ramas de actividad económica y
ámbito nacional), 1960
Considera-se neste tópico o quanto os trabalhadores podem se expressar no
âmbito da empresa em assuntos relativos ao seu trabalho e participar nas decisões sobre
as condições de trabalho. Distinguem formas de participação individual e coletiva,
através de representantes eleitos.
Os indicadores estão relacionados com organização sindical e à negociação
coletiva, referem-se ao respeito aos acordos e convenções coletivas, livre exercício da
ação sindical e dos trabalhadores, presença da organização no local de trabalho,
interlocução constante com a empresa.
11. Trabalho doméstico
Por fim, para subsidiar a pesquisa sobre emprego doméstico foram utilizadas
as seguintes convenções da OIT:
- Convenção (No 189);
- Recomendação (No 201) sobre Trabalho Decente para as Trabalhadoras e
os Trabalhadores Domésticos de 2011.
Neste caso, os indicadores abordam as especificidades do trabalho doméstico:
jornada excessiva, acúmulo de atividades e desvio de funções, o domicílio da família é o
local de trabalho.
14
1. Panorama da Indústria da Construção Civil no Brasil
1.1 Breve histórico do setor da construção civil
A indústria da construção civil registrou, a partir da segunda metade da
década de 1940, de acordo com dados do IBGE, ganho de participação no Produto
Interno Bruto (PIB) brasileiro2. Em análise que abrange o período histórico de 1947 a
1995, o IBGE aponta que foi em 1980 que a participação do setor da construção3 no PIB
do Brasil atingiu a maior proporção na composição total, respondendo,
excepcionalmente, por 31,29% de todo o PIB brasileiro4, enquanto a agropecuária
representou 10,11% e o setor de serviços, 48,95%5.
Desde meados da década de 1970 a atividade da construção no Brasil tem
sido responsável, analisando as contas nacionais, pela proporção que varia entre 6,3% e
9,6% de participação na economia. Em termos reais, a construção cresceu, na década de
1970, em média 10,4% ao ano, tendo o PIB crescido 8,6%, como parâmetro. Nos anos
1970 o sistema financeiro da habitação possibilitou o amplo financiamento das
edificações residenciais, as administrações públicas investiram significativamente na
melhoria da infraestrutura de transporte, saneamento, educação e saúde, com obras
viárias, construção pesada e edificações, e as empresas ampliaram substancialmente
suas instalações produtivas. Em contrapartida, na década de 1980, em virtude da
recessão e superinflação observadas, a atividade da construção cresceu à taxa de 0,95%,
com o PIB expandindo-se à taxa de 3%. No período de 1990 a 1993, o setor apresentou
2 Do mesmo modo que a construção civil, atividades como a extrativa mineral, os serviços industriais de
utilidade pública, os setores de comunicação, instituições financeiras e administrações públicas
incrementaram acentuadamente sua participação no PIB nacional a partir da segunda metade do século
XX, resultando numa intensa transformação estrutural da economia brasileira, devido, sobretudo, à forte
perda de participação da agropecuária. Esse quadro de transformação estrutural é observado até a década
de 1980, quando o peso do setor da agropecuária na economia demonstra maior estabilidade (IBGE,
2006: p. 388). 3 De acordo com a Fundação Getúlio Vargas, as empresas da construção abrangem tanto os subsetores da
construção de edifícios e obras de engenharia civil assim como obras de infraestrutura para engenharia
elétrica e de telecomunicações (TEIXEIRA, 2002: p. 18). 4 Como medida da evolução do produto real para a construção civil adotou-se, no período de 1947-1969,
o consumo aparente de cimento. Depois dessa data foram utilizados indicadores a partir da produção
física de insumos típicos da construção, originados na Pesquisa Industrial Mensal de Produção Física,
PIM-PF (IBGE, 2006: pp. 420-421). . 5 Idem, p. 389.
15
forte contração, voltando a recuperar-se nos anos seguintes6. De 1995 a 2000,
aproximadamente 20 empresas da construção civil figuraram anualmente entre as 500
maiores sociedades anônimas atuantes no mercado brasileiro e, em 2000, os
investimentos em construção totalizaram R$ 142,4 bilhões, representando mais da
metade dos investimentos gerais realizados no país7.
Numa análise macroconjuntural, constatamos que, após a introdução do
Real como moeda nacional, a queda da inflação possibilitou a expansão de 5,85% do
produto nacional em 1994 (a maior taxa de crescimento da economia brasileira na
década precedente) e o setor da construção cresceu quase 7%. No entanto, as políticas
monetária e fiscal restritivas adotadas pelo Governo Federal a partir de 1995 – com
elevações da taxa real de juros e contração do consumo interno – impactaram
negativamente no desempenho da economia nacional, penalizando as atividades
produtivas bem como o setor da construção.
Em 1997, com a redução dos juros internos anuais, houve elevação da
produção nacional, de 3,27%, e o setor da construção civil apresentou expansão de
7,62%, o melhor desempenho desde a implantação do Real até aquele momento. Essa
expansão foi devida à ampliação dos mecanismos de crédito para os financiamentos
imobiliários e à valorização da renda das famílias, em virtude da manutenção do
processo de estabilização. A crise dos mercados do sudeste asiático no final de 1997,
entretanto, repercutiu na desaceleração do ritmo de expansão do setor, tendo o governo
mais uma vez recorrido a medidas de aperto fiscal e monetário como estratégia de
enfrentamento da crise no cenário internacional. Alterações na política econômica a
partir de 1999, com redução da taxa básica de juros, a Selic, que caiu de 43,25% em
março de 1999 para 15,75% no final de 2000, impactaram positivamente sobre o ritmo
de crescimento do setor da construção e, no decorrer dos anos 2000, o setor iniciou um
processo de recuperação8, porém, com momentos de oscilação negativa.
6 RAMOS et al., 2000: pp. 1-2.
7 TEIXEIRA, 2002: pp. 4 e 7.
8 Fonte: TEIXEIRA, pp. 21-27.
16
1.2 Conjuntura brasileira e da Construção Civil nos cenários recente e atual
Em 2010 a economia brasileira manteve-se engrenada, dando
prosseguimento ao processo de aquecimento reiniciado em 2009: em valores brutos, o
PIB cresceu 7,5%, movimentando, em valores correntes, R$ 3,675 trilhões, ou cerca de
US$ 2,2 trilhões. Por sua vez, a agropecuária cresceu 6,5%, a indústria registrou alta de
10,1% e os serviços, expansão de 5,4%.
Vejamos no gráfico 1 a seguir o desempenho do setor da construção civil
de 2000 a 2010, observando, como parâmetro de análise, a taxa de crescimento do PIB
brasileiro ao longo da década:
Fonte: IBGE. Banco de dados CBIC.
Elaboração: DIEESE (abril de 2011).
Entre 2001 e 2003 houve retração no desempenho da construção civil
nacional, que apresentou taxas de crescimento negativas, em decorrência da falta de
incentivos fiscais, da restrição do crédito e do inexpressivo financiamento imobiliário.
A partir de 2004 o setor demonstrou sinais de expansão, em função do aumento dos
investimentos em obras de infraestrutura e em unidades habitacionais. Em 2010 houve
elevação significativa na taxa de crescimento da construção civil, de 11,6%,
configurando o melhor desempenho dos últimos 24 anos – esse índice expressivo deve
4,3
1,32,7
1,1
5,7
3,2 46,1
5,2
-0,6
7,5
2,0
-2,1 -2,2-3,3
6,6
1,8
4,7 4,9
7,9
-6,3
11,6
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Gráfico 1: Comparativo entre a taxa de crescimento do PIB total
(%) e o Valor Adicionado Bruto, VAB, (%)
na cadeia da Construção Civil
Brasil - PIB pm Construção Civil - VAB pb
17
levar em conta o crescimento negativo em 2009, de 0,6%, haja vista a crise financeira
que teve início em 2008 nos países de economia central e afetou, em alguma medida, os
países periféricos e semiperiféricos.
A recuperação do setor da construção civil, particularmente nos três
primeiros trimestres de 2010, foi resultado do corte nas taxas de juros; da ampliação do
crédito – com o Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) financiando o setor
produtivo durante a crise financeira de 2009 – e das obras públicas de infraestrutura,
atendendo ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e de habitação,
previstas no Programa Minha Casa, Minha Vida. Lançado em março de 2010, o
Programa de Aceleração do Crescimento 2 (PAC-2) prevê investimentos no total de R$
1,59 trilhão em obras, inicialmente entre 2011 e 20149. Já no que diz respeito ao
Programa Minha Casa, Minha Vida, prevê-se que sejam destinados R$ 278,2 bilhões.
As regiões onde se observa maior dinamismo do setor da construção são
a Norte e a Nordeste do país, especialmente impulsionadas pela instalação das obras das
usinas hidrelétricas de Santo Antônio (sob responsabilidade da Santo Antônio Energia)
e de Jirau (empreendimento da Construtora Camargo e Correa), em Rondônia, ambas
financiadas pelo BNDES, e da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Ainda em se
tratando dessas obras, no que se refere à utilização da força de trabalho, elas
desencadearam expressivos movimentos grevistas, motivados sobretudo pelas
condições precárias de trabalho10
.
Na tabela abaixo visualizamos a produção bruta gerada por alguns
setores industriais anualmente, incluindo a produção de cimento, o insumo básico do
setor da construção, em período que abrange os anos compreendidos entre 2004 e 2010,
e a variação percentual de 2010 com relação a 2009:
9 Outros eixos envolvidos no PAC-2 são: PAC Cidade Melhor, PAC Comunidade Cristã, PAC
Habitação, PAC Água e Luz para Todos, PAC transportes e PAC Energia (DIEESE, 2011: p. 25). 10
Fonte: DIEESE, 2011: pp. 4-6.
18
Tabela 1: Produção de Alguns Setores Industriais
Setores 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Variação
(%)
2010/200
9
Cimento (Mil t.) 35.98
4
38.70
5
41.89
5
46.58
9
51.88
4
51.74
8
59.04
0 14,1
Fertilizantes (Mil t.) 9.734 8.534 8.772 9.816 8.878 8.373 9.340 11,6
Aço Bruto (Mil t.) 30.36
5
29.17
3
29.53
0
31.67
2
33.71
6
26.50
7
32.82
0 23,8
Alumínio (Mil t.) ¹ 1.458 1.498 1.605 1.655 1.661 1.535 1.536 0,1
Celulose (Mil t.) ² 9.620
10.35
2
11.18
0
11.99
7
12.69
7
13.31
5
14.06
4 5,6
Papel (Mil t.) 8.452 8.597 8.725 9.010 9.409 9.428 9.792 3,9
Autoveículos (Mil
Unid) 2.317 2.531 2.612 2.980 3.216 3.183 3.638 14,3
Fonte: Siacesp, IBS, Abal, SNIC, Anfavea e Bracelpa.
Elaboração: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Anuário da Indústria, 2011:
p. 47).
¹ Produção Primária.
² Inclui pastas de alto rendimento
Em 2010, a produção de cimento no Brasil foi de quase 60 milhões de
toneladas. Tendo apresentado comportamento praticamente estável em 2009 com
relação a 2008, a produção de cimento no país em 2010 expandiu-se consideravelmente,
apresentando variação de 14,1% em relação ao ano precedente. Comparativamente, a
produção de cimento, em termos percentuais, teve crescimento abaixo da taxa de
elevação da produção de aço bruto, de 23,8% em 2010 com relação ao ano anterior, e
ligeiramente inferior à expansão da produção de autoveículos, de 14,3%, conforme
indica a tabela 1. Superou, entretanto, o aumento da produtividade de fertilizantes
(11,6%), de alumínio (0,1%), de celulose (5,6%) e de papel (3,9%).
A indústria de materiais para construção tem se expandido continuamente
nos últimos cinco anos. Entre 2005 e 2009, cresceu cerca de 10% anualmente, depois de
uma estagnação que perdurou por 20 anos. Em 2006 o governo brasileiro iniciou um
conjunto de incentivos orientados à desoneração da produção de materiais de
construção, com a isenção de tributos como o Imposto sobre Produtos Importados (IPI),
ampliou a oferta de crédito e os prazos de financiamento e avançou nos investimentos
de infraestrutura. Em 2010, o volume das vendas de materiais de construção obteve
elevação de 15%, em virtude da política de gestão da economia adotada pelo governo,
recuperando, portanto, a queda acentuada que durou de 2007 a 2009, quando apresentou
crescimento negativo superior a 5,0% (retração). O aporte de financiamentos
19
imobiliários em 2010, com recursos do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de
Serviço) e da poupança, foi de R$ 83,9 bilhões, propiciando a contratação de
aproximadamente um milhão de unidades financiadas11
.
O consumo de cimento tem se elevado nas cinco regiões brasileiras nos
últimos dois anos, conforme observamos na tabela abaixo:
Tabela 2: Consumo Nacional de Cimento por Região Brasileira
em 2009 e 2010 (em toneladas)
Região 2009 2010 Variação
(%) Toneladas % Toneladas %
Norte 3.316.177 6,42 4.257.906 7,11 28,40
Nordeste 10.058.984 19,47 12.295.297 20,54 22,23
Centro-oeste 5.016.988 9,71 5.733.205 9,58 14,28
Sudeste 24.560.878 47,53 27.679.989 46,24 12,70
Sul 8.716.823 16,87 9.901.237 16,54 13,59
Total 51.669.850 100,0 59.867.634 100,0 15,87 Fonte: Sindicato Nacional da Indústria de Cimento – SNIC.
Elaboração: DIEESE, 2011: p. 8.
O consumo nacional de cimento em 2010 apresentou alta de 15,87%,
subindo de 51.669.850 toneladas em 2009 para 59.867.634 toneladas em 2010. De
acordo com a tabela 2, verificamos que a região sudeste consumiu quase a metade de
todo o cimento consumido no Brasil em 2009 e em 2010. No entanto, foram as regiões
Norte e Nordeste que ampliaram sua participação no total de cimento consumido pelo
país em 2010, registrando variação de 28,40% e 22,23%, respectivamente, em relação
ao ano anterior. O movimento de expansão no consumo de cimento nessas regiões
explica-se predominantemente pela instalação de novas plantas industriais. Ademais,
em escala nacional, a expansão observada no setor de construção sinaliza o aquecimento
da indústria brasileira de construção pesada, com investimentos previstos para a
consecução das obras de infraestrutura de transportes e logística, exploração do pré-sal,
Copa do Mundo de 2014 e Jogos Olímpicos de 2016 – com investimentos nas áreas de
energia, mobilidade urbana, readequação viária e saneamento, bem como na construção
de aeroportos, estádios e arenas esportivas12
.
Outra característica do setor da construção é seu reduzido coeficiente de
importação, quando comparado a outros segmentos econômicos, utilizando capital,
11
DIEESE, 2011: pp. 6-8. 12
Fonte: DIEESE, 2011: p. 8.
20
tecnologia e insumos predominantemente nacionais, sendo sua produção também
fundamentalmente orientada para o mercado doméstico. Como a indústria da construção
basicamente não depende de financiamentos externos, o crescimento do setor não
pressiona a balança comercial e, portanto, o balanço de pagamentos do país. Por outro
lado, é um setor substancialmente impactado pelo nível de juros e dependente de
créditos de longo prazo13
.
1.3 Trabalhadoras e Trabalhadores na Construção
O desempenho deste setor proporciona geração e distribuição de renda
ampliadas, com incremento da massa salarial e da cadeia de relações interssetoriais que
mobiliza, em função de sua diversificada demanda industrial. Quanto ao elevado
potencial de criação de empregos do setor, boa parte, contudo, se dá sob a forma de
terceirização (também denominada subempreitada). Em termos médios, a construção
responde por 6% do total dos salários pagos na economia e por 12,47% dos rendimentos
dos trabalhadores autônomos14
. A tabela abaixo (tabela 3) informa acerca da posição
ocupada pelos trabalhadores empregados na construção civil no Brasil em 2008 e 2009:
Tabela 3: Número de Ocupados na Construção Civil no Brasil
por posição na ocupação – 2008 e 2009
Posição na ocupação 2008 2009
Variação
(%)
Participação
(%)
Empregado com carteira 1.944.908 1.976.408 1,62 28,67
Empregado sem carteira 1.701.648 1.593.440 -6,36 23,11
Funcionário público estatuário 19.755 18.513 -6,29 0,27
Conta própria 2.709.138 2.753.852 1,65 39,94
Empregador 359.537 394.160 9,63 5,72
Trabalhador na construção
para o próprio uso 107.060 102.956 -3,83 1,49
Não remunerado 63.892 55.372 -13,34 0,80
Total 6.905.938 6.894.701 -0,16 100,00
Fonte: IBGE, PNAD.
Elaboração: DIEESE, 2011: p. 9.
Em 2009 havia quase 6,9 milhões de trabalhadoras e trabalhadores
empregados na construção civil no país, o que representa 7,44% dos 92,7 milhões de
trabalhadores(as) que compreendem toda a população ocupada brasileira, de acordo
13
TEIXEIRA, 2002: pp. 6-8, 20 e 28. 14
TEIXEIRA, 2002: pp.7 e 20.
21
com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD-IBGE). Com relação a
2008, observamos que houve ligeira redução, -0,16%, no número de trabalhadores
empregados em 2009 na construção civil no Brasil. Possuíam carteira assinada, em
2009, 28,67% dos trabalhadores do setor, o que significa variação positiva de 1,62% em
relação ao ano anterior. Já em se tratando dos empregados sem registro em carteira,
portanto trabalhando na informalidade, houve redução de 6,36% em 2009,
representando cerca de 23,11% dos ocupados, o que no entanto ainda é uma
participação bastante elevada. Chama-nos atenção que havia mais de 4,3 milhões de
trabalhadores que não possuíam qualquer tipo de vínculo empregatício – desassistidos
da Seguridade Social e que não puderam contar com benefícios tais como auxílio
acidente de trabalho ou auxílio-doença –, dentre os quais estiveram os empregados sem
carteira e os trabalhadores por conta própria, o que totaliza 63,05% dos ocupados no
setor, ou pelo menos 6 em cada 10 trabalhadores empregados na construção civil no
país em 2009.
As tabelas a seguir apresentam dados a respeito do total de admitidos, de
desligados e o saldo de trabalhadoras e trabalhadores na construção civil, segundo a
faixa etária (tabela 4) e o grau de instrução (tabela 5), em 2009 e 2010:
Tabela 4: Admitidos, desligados e saldo no setor da construção civil, por faixa
etária
Brasil – 2009 e 2010
Faixa etária 2009 2010
Admitidos Desligados Saldo Admitidos Desligados Saldo
Até 24 anos 485.495 400.569
84.926
639.973 521.298
118.67
5
25 a 29 anos 372.663 338.142 34.521 473.368 428.612 44.456
30 a 39 anos 554.660 515.614 39.046 695.644 644.170 51.474
40 a 49 anos 348.418 328.083 20.335 423.269 393.572 29.697
50 a 64 anos 183.721 183.139 582 225.060 213.634 11.426
65 anos ou mais 5.118 7.334 -2.216 6.683 8.532 -1.849
Total
1.950.07
8
1.772.89
3
177.18
5
2.463.99
7
2.209.81
8
254.17
9 Fonte: CAGED. Lei 4.923/65.
Elaboração: DIEESE, 2011: p. 15.
Obs. O valor dos ignorados consta do total.
22
Tabela 5: Admitidos, desligados e saldo no setor da construção civil,
por grau de instrução
Brasil – 2009 e 2010
Grau de Instrução 2009 2010
Admitidos Desligados Saldo Admitidos Desligados Saldo
Analfabeto 21.539 19.462 2.077 25.797 23.598 2.199
Fund. Incompleto 814.681 767.100 47.581 956.011 900.856 55.155
Fund. Completo 436.179 407.226 28.953 539.661 489.611 50.050
Médio Incompleto 169.680 149.917 19.763 227.658 199.197 28.461
Médio Completo 452.707 384.457 68.250 643.128 540.849 102.279 Superior
Incompleto 19.985 15.976 4.009
25.417 20.501 4.916
Superior Completo 35.307 28.755 6.552 46.325 35.207 11.118
Total 1.950.078 1.772.893 177.185 2.463.997 2.209.819 254.178 Fonte: CAGED. Lei 4.923/65.
Elaboração: NPI/DIEESE, 2011: p. 15.
Com relação à faixa etária, observamos que o saldo entre admitidos e
desligados indica que a principal faixa etária contemplada com as contratações no setor
da construção civil foi a de jovens de até 24 anos, com quase 85 mil novas contratações
em 2009 e em torno de 120 mil em 2010, equivalente a 47% do saldo total para os dois
anos. Na análise do saldo segundo o grau de instrução, constata-se que as vagas geradas
foram ocupadas sobretudo por trabalhadoras e trabalhadores que possuem o ensino
médio completo em 2009 e 2010, aproximadamente 40%. Em seguida, está a proporção
de trabalhadoras e trabalhadores com até o ensino fundamental incompleto, em
proporção equivalente a aproximadamente 28% do saldo total, em 2009 e 22,5% em
2010.
Quanto aos reajustes salariais obtidos em 2010 a partir das negociações
coletivas, assinadas formalmente entre representantes dos trabalhadores e do patronato,
verificamos que houve aumentos reais nos salários em todas as unidades de negociação
acompanhadas, conforme analisamos na tabela a seguir:
23
Tabela 6: Distribuição dos Reajustes Salariais de Negociações da
Construção e Mobiliário, em comparação com o INPC-IBGE
Brasil – 2008 a 2010
Variação 2008 2009 2010
Nº % Nº % Nº %
Acima do INPC-IBGE 57 100,0 53 93,0 57 100,0
Mais de 5% acima - - - - 5 8,8
De 4,01% a 5% acima 2 3,5 - - 9 15,8
De 3,01% a 4% acima 5 8,8 3 5,3 5 8,8
De 2,01% a 3% acima 13 22,8 17 29,8 15 26,3
De 1,01% a 2% acima 22 38,6 10 17,5 16 28,1
De 0,51% a 1% acima 5 8,8 14 24,6 3 5,3
De 0,01% a 0,5% acima 10 17,5 9 15,8 4 7,0
Igual ao INPC-IBGE - - 2 3,5 - -
De 0,01% a 0,5% abaixo - - 2 3,5 - -
Abaixo do INPC-IBGE - - 2 3,5 - -
Total 57 100,0 57 100,0 57 100,0 Fonte: Sistema de Acompanhamento de Salários (SAS-DIEESE).
Elaboração: DIEESE, 2011: p. 19.
A tabela 6 demonstra que em 2010 os reajustes salariais em 8,8% das 57
unidades pesquisadas, a despeito do que ocorreu nos dois anos precedentes, obtiveram
ganhos acima de 5% da inflação medida pelo INPC-IBGE15
. Outras 9 unidades, o que
representa mais de 15% das negociações estudadas, conquistaram em 2010 reajuste na
faixa de 4,01% a 5% acima da inflação calculada pelo INPC-IBGE. Boa parte das
unidades, 31 delas ou 54,4% do total, observaram ganhos reais de 1,01% a até 3%
acima da inflação apurada pelo INPC-IBGE. No acumulado do último triênio, as faixas
de ganho com maior índice de reajustes foram a de 2,01% a 3% de aumento real,
verificada em cerca de 19% dos reajustes acompanhados, e a faixa que indica aumento
real acima de 10% do INPC-IBGE, que envolveu aproximadamente 16% dos
reajustes16
.
No que se refere aos pisos salariais negociados em 2010, os trabalhadores
do setor da construção e mobiliário também perceberam reajustes: dentre os 57 pisos
salariais analisados pelo Sistema de Acompanhamento de Salários (SAS-DIEESE),
somente um foi reajustado em valor igual à variação do INPC-IBGE desde a última
data-base, enquanto as demais obtiveram reajustes superiores à inflação, incorporando
15
INPC: Índice Nacional de Preços ao Consumidor. 16
Fonte: DIEESE, 2011: p. 20.
24
ganhos reais ao piso salarial17
. Observamos na tabela a seguir o menor, o maior e o piso
salarial médio em unidades de negociação da construção e do mobiliário pesquisadas,
por região geográfica e unidade da federação brasileira em 2010:
Tabela 7: Piso Salarial (menor, maior e média) um Unidades de Negociação da
Construção e Mobiliário, por Região Geográfica e Unidade da
Federação Brasileira em 2010
Região / UF Menor Piso Maior Piso Valor Médio Nº de pisos
NORTE R$ 570,00 R$ 670,00 R$ 608,77 5
Amazonas R$ 618,13 R$ 618,13 R$ 618,13 1
Pará R$ 570,00 R$ 615,70 R$ 585,23 3
Rondônia R$ 670,00 R$ 670,00 R$ 670,00 1
NORDESTE R$ 510,00 R$ 607,20 R$ 543,33 9
Bahia R$ 520,67 R$ 573,27 R$ 542,56 5
Ceará R$ 525,00 R$ 525,00 R$ 525,00 1
Paraíba R$ 535,00 R$ 535,00 R$ 535,00 1
Pernambuco R$ 607,20 R$ 607,20 R$ 607,20 1
Sergipe R$ 510,00 R$ 510,00 R$ 510,00 1
CENTRO-OESTE R$ 515,00 R$ 550,00 R$ 529,03 5
Distrito Federal R$ 541,73 R$ 541,73 R$ 541,73 1
Goiás R$ 519,20 R$ 550,00 R$ 529,47 3
Mato Grosso do Sul R$ 515,00 R$ 541,73 R$ 541,73 1
SUDESTE R$ 522,50 R$ 886,00 R$ 686,88 27
Espírito Santo R$ 550,40 R$ 564,40 R$ 557,40 2
Minas Gerais R$ 522,50 R$ 605,00 R$ 567,12 9
Rio de Janeiro R$ 581,88 R$ 792,00 R$ 667,70 5
São Paulo R$ 708,07 R$ 886,00 R$ 817,12 11
SUL R$ 511,50 R$ 719,40 R$ 637,57 11
Paraná R$ 605,00 R$ 719,40 R$ 689,70 4
Rio Grande do Sul R$ 511,50 R$ 665,00 R$ 599,38 4
Santa Catarina R$ 587,00 R$ 650,00 R$ 619,00 3
TOTAL R$ 510,00 R$ 886,00 R$ 634,00 57 Nota: Unidades da Federação com apenas um piso salarial registrado em 2010.
Obs.: Para cada unidade de negociação considerou-se somente um piso salarial, correspondente
ao menor valor fixado para o desempenho das atividades-fim das empresas.
Fonte: Sistema de Acompanhamento de Salários (SAS-DIEESE).
Elaboração: DIEESE, 2011: p. 23.
De acordo com a tabela 7, constatamos que o menor piso salarial
garantido aos trabalhadores da construção civil em 2010 foi negociado em Sergipe,
estabelecido em R$ 510,00, a rigor o valor do salário-mínimo brasileiro naquele ano. O
piso salarial mais elevado do setor da construção e de mobiliário observado pela
pesquisa foi registrado em São Paulo, a R$ 886,00. O piso salarial médio negociado no
17
Nesta análise foi considerado, pelo SAS-DIEESE, em todas as 57 negociações, o menor piso definido
para os trabalhadores alocados nas atividades fins das empresas.
25
país esteve em R$ 634,00 e somente as regiões Sul e Sudeste ofereceram pisos salariais
acima do valor médio calculado para o Brasil, R$ 719,40 e R$ 886,00, respectivamente.
Esses valores mais elevados do piso salarial, comparativamente a outras regiões
brasileiras, contudo, estão bastante aquém do rendimento médio real auferido em 2010
pelos trabalhadores assalariados em diversos setores da economia, empregados nas
regiões metropolitanas do Brasil e no Distrito Federal, cujo valor monetário calculado
foi da ordem de R$ 1.384,0018
. Isso significa que, na região Sul, o maior piso salarial do
setor da construção e mobiliário verificado correspondia a apenas 51,97% desse
rendimento médio apurado para os assalariados nas regiões metropolitanas em âmbito
nacional e, na região Sudeste, foi correspondente a somente 64,02%.
Em se tratando das mulheres trabalhadoras na construção civil, dados do
Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) apontam que em dez anos, de 1998 a 2008, o
número de trabalhadoras subiu de pouco mais de 83 mil – entre 1,094 milhão de pessoas
empregadas no setor – para 137.969 trabalhadoras – num contingente de
aproximadamente 2 milhões de trabalhadores. No período, a ampliação do número de
mulheres trabalhadoras na construção civil foi equivalente a 65%. Explicando essa
progressão, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção
Civil de Manaus (SINTRACOMEC-AM), Roberto Bernardes, afirmou que as mulheres
estão atuando em todas as atividades do segmento:
“Elas começaram atuando no setor como engenheiras e
técnicas de segurança em canteiros de obras. Agora o trabalho
se estendeu para atividades de pedreiro, ajudantes, azulejistas,
ceramistas, eletricistas e encanadores. Elas são mais dedicadas,
muitas delas são qualificadas, pois fazem cursos e acabam
superando os homens” (Roberto Bernardes, Presidente do
SINTRACOMEC-AM)19
.
Também no intuito de explicar a participação crescente das mulheres em
todas as atividades da construção civil, normalmente empresários, dirigentes sindicais e
mesmo as trabalhadoras recorrem a argumentos tais como: “as mulheres são mais
detalhistas”, “mais dedicadas”, “mais cuidadosas” do que os homens, o que
configuraria um diferencial positivo do ponto de vista das empresas. Entretanto, temos
18
Fonte: Pesquisa Emprego e Desemprego (PED). Mercado de Trabalho Metropolitano em 2010.
Divulgado em Janeiro de 2011. 19
Fonte: “Número de mulheres na construção civil cresceu 65% em 10 anos” (26/10/2010). Disponível
em: <http://sintracomec-am.blogspot.com>. Acesso em 14/02/2012.
26
de salientar que essa percepção está alinhada às representações do imaginário social
que, ao associar as habilidades das trabalhadoras a dons supostamente inerentes ao que
se denominaria uma “natureza feminina” – e não a habilidades culturalmente
construídas e desenvolvidas ao longo da vida das mulheres nas relações sociais –
desqualifica e desvaloriza o trabalho das mulheres, justificando salários inferiores
mesmo no desempenho das mesmas funções que os homens, além de fortalecer a
divisão sexual do trabalho e a múltipla jornada de trabalho enfrentada pelas mulheres
em seu cotidiano.
Com relação à sindicalização, dados da Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios, do IBGE, apontam que as mulheres constituíram 7,0% do total de
trabalhadores sindicalizados na construção civil em 2009, conforme visualizamos na
tabela 8. Como parâmetro de análise, de acordo com o Sindicato dos Trabalhadores nas
Indústrias da Construção Civil de Manaus (SINTRACOMEC-AM), no primeiro
bimestre de 2009 as mulheres ocuparam 1.629 vagas dentre mais de 14 mil
oportunidades geradas no setor, equivalente a 11,49%. Já no primeiro bimestre de 2010,
5.258 mulheres foram empregadas na construção civil, ocupando 5,9% das vagas
geradas no período20
.
Tabela 8: Trabalhadoras e trabalhadores sindicalizados por setor da economia e
sexo
no Brasil em 2009
Setor
Homens Mulheres Total
Nos
absolutos %
Nos
absolutos %
Nos
absolutos %
Agrícola 2.543.451 61,7 1.580.778 38,3 4.124.229 100
Indústria 2.224.062 73,7 794.294 26,3 3.018.356 100 Indústria de transformação 1.971.816 72,4 753.501 27,6 2.725.317 100 Construção 552.967 93,0 41.405 7,0 594.372 100 Comércio e reparação 1.130.634 57,7 829.670 42,3 1.960.304 100 Alojamento e alimentação 169.137 48,1 182.580 51,9 351.717 100 Transporte, armazenagem e comunicação 958.840 86,9 144.011 13,1 1.102.851 100 Administração pública 771.801 59,7 520.414 40,3 1.292.215 100 Educação, saúde e serviços sociais 602.128 23,8 1.932.740 76,2 2.534.868 100 Serviços domésticos 21.276 12,0 155.412 88,0 176.688 100 Outros serviços coletivos, sociais e pessoais 217.937 54,8 179.662 45,2 397.599 100 Outras atividades 1.008.174 63,6 576.144 36,4 1.584.318 100 Atividades mal definidas 2.083 47,8 2.277 52,2 4.360 100 Total 10.202.490 59,5 6.939.387 40,5 17.141.877 100 Fonte: IBGE. PNAD.
Elaboração: DIEESE, 2010/2011: p. 193.
Obs. Pessoas de 18 anos ou mais de idade, no período de referência de 365 dias.
20
Fonte: “Número de mulheres na construção civil cresceu 65% em 10 anos” (26/10/2010). Disponível
em: <http://sintracomec-am.blogspot.com>. Acesso em 14/02/2012.
27
Perspectivas para o setor da construção civil
Além das obras de infraestrutura, a fim de preparar o Brasil para sediar
os jogos da Copa do Mundo de 2014 – com a construção e reforma de estádios, ginásios
de esporte, aeroportos, hospedagens, malhas rodoviárias e ferroviárias, assim como dos
portos e do sistema de transporte urbano coletivo –, há expressivas possibilidades de
expansão do setor da construção civil nos próximos anos, em função dos programas
socioeconômicos empreendidos pelo Governo Federal – com investimentos na expansão
do setor de energia, exploração e produção de petróleo e gás, pesquisa mineral e em
combustíveis renováveis, na construção de moradias, em obras de saneamento,
mobilidade urbana e pavimentação, bem como em obras de pronto-atendimento e
unidades básicas de saúde, creches e pré-escolas, quadras esportivas nas escolas, praças
e acesso à água potável, dentre outras.
A construção de moradias figura dentre as prioridades às quais há a
necessidade de orientar projetos e desenvolver programas sociais, haja vista o déficit
habitacional que afeta famílias de baixa renda em todo o país. Em 2008, o déficit
habitacional estimado correspondia a 5,546 milhões de domicílios, dos quais 4,628
milhões, ou 83,5%, estavam localizados nas áreas urbanas do Brasil. Do total do déficit
habitacional no país, 36,9% encontravam-se na região Sudeste, o que corresponde a
2,046 milhões de unidades, das quais 1,969 milhão concentravam-se nas áreas urbanas e
76 mil, na área rural. Logo em seguida esteve o Nordeste, cujo déficit habitacional
somou, ainda em 2008, 1,946 milhão de moradias estimadas, das quais 1,305 milhão
estavam abrangidas nas áreas urbanas e 641 mil, nas áreas rurais.
O estado de São Paulo respondia pela necessidade de 1,060 milhão de
novas unidades habitacionais em 2008, o que equivalia a 8,2% dos domicílios
particulares permanentes abrangidos naquele ano no estado; deste total, 510 mil
domicílios necessários deveriam estar na Região Metropolitana de São Paulo. O
segundo estado classificado por necessidade de novos domicílios foi a Bahia, com cerca
de 485 mil moradias em déficit habitacional. Em contrapartida, em todo o país, em
2008, havia 7,542 milhões de imóveis vagos, dentre os quais 72% localizavam-se em
áreas urbanas. Desses imóveis vagos, 6,307 milhões estavam em condições de servirem
de moradia21
, o que evidencia a preponderância dos interesses vinculados à especulação
21
Estatísticas: Ministério das Cidades, 2008: pp. 29-30 e 43.
28
imobiliária, que mantém imóveis desocupados na expectativa de que estes sejam
supervalorizados e de que seja possível auferir maiores rendimentos no médio e longo
prazos.
Não obstante o déficit habitacional que afeta sobretudo as famílias de
baixa renda em todo o país, especialmente nas grandes cidades, há os atrasos que vêm
sendo observados na construção e entrega de moradias para a classe média – que utiliza
recursos da caderneta de poupança – bem como as previstas no programa Minha Casa,
Minha Vida e em linhas de financiamentos atrelados ao FGTS. É crescente, nos últimos
anos, o número de consumidores que têm apresentado reclamações ao PROCON contra
construtoras e incorporadoras por atrasos superiores a um ou até dois anos na entrega
dos imóveis. Apenas o PROCON de São Paulo registrou aumento de 1.572 para 1.981
reclamações contra construtoras e incorporadoras entre o primeiro semestre de 2010 e o
primeiro semestre de 2011, das quais um terço queixam-se de descumprimento do
contrato. As construtoras, por sua vez, têm alegado dificuldades para a contratação de
mão de obra ou atrasos na entrega de materiais de construção e na obtenção das cartas
expedidas pelas prefeituras, exigidas para a entrega das chaves.
Diante deste cenário, o Ministério Público Estadual (MPE) e o Sindicato
da Habitação (SECOVI) assinaram um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), pelo
qual as construtoras deverão indenizar os compradores em casos de atrasos superiores a
seis meses em relação ao prazo estabelecido em contrato assinado a partir de 26 de
novembro: as construtoras estarão sujeitas a terem de devolver no mínimo 2% do valor
já pago do imóvel por atraso superior a seis meses, mais 0,5% a cada mês de espera. A
devolução será feita mediante desconto no valor devido pelo comprador, em até 90 dias
após a entrega das chaves ou a assinatura da escritura definitiva de compra e venda.
Entretanto, o acordo previsto pelo TAC não é obrigatório, mas sujeito à adesão
voluntária da empresa da construção civil22
.
22
Fonte: Estadão. “Atrasos na construção civil” (27/10/2011). Acesso em 17/11/2011.
29
2. Perfil da empresa MRV Engenharia e Participações
Com sede em Belo Horizonte, Minas Gerais, a MRV Engenharia foi fundada no
dia 1º de outubro de 1979. Desde então atua no segmento imobiliário, definindo-se
como umas das principais construtoras e incorporadoras do país no atendimento à classe
média, ofertando casas e apartamentos em 18 estados e mais de 100 cidades.
A empresa afirma ter desenvolvido, ao longo do tempo, a especialização
necessária no ramo da construção da civil, que “é uma construtora que investe,
permanentemente, no aprimoramento e gestão da qualidade de seus imóveis”,
conseguindo assim efetuar, relata, a comercialização de 135 imóveis por dia.23
2.1. Dados da empresa:
A MRV, em 2008, empregava 10.493 trabalhadores, em setembro de 2011,
28.422 trabalhadores. É uma empresa com status jurídico de Sociedade Anônima (S.A)
– portanto, com capital aberto - tendo ações na Bolsa de Valores, cuja administração
ocorre principalmente mediante deliberação de um Conselho de Administração,
escolhidos em Assembléia pelos acionistas, em cumprimento à Lei de Sociedade
Anônima.
Em 2010, a MRV Engenharia e Participações obteve uma Receita Líquida de R$
881,10 milhões, um aumento de 95,82% se comparado ao ano anterior, posto que, em
2009, conseguiu a cifra de R$ 449,93 milhões em Receita Líquida.24
Ainda no que tange aos números da empresa obtidos em site na internet, até
setembro de 2011 seu lucro líquido foi de R$ 551 milhões ante R$ 482 milhões,
considerando o mesmo período de 2010. No ano de 2011, as vendas contratadas
chegaram ao patamar de R$ 4,3 bilhões, tendo sido lançados 41.825 novos
23
As informações dos primeiros parágrafos estão disponíveis em: http://www.facebook.com/mrvengenharia?sk=info. Acesso em 23/02/2013 24
As informações destes primeiros parágrafos estão disponíveis em: http://www.securities.com/Public/company-profile/BR/Mrv_Engenharia_pt_2385476.html. Acesso em 24/02/2012.
30
empreendimentos no mesmo ano. Até o momento, diz a empresa, estão sob sua gerência
340 canteiros de obra.
2.2. Responsabilidade Social
Em seus informes, na rede social Facebook, a MRV procura dar ênfase a
diversos reconhecimentos obtidos, notadamente, por seus pares da construção civil.
Entre tais prêmios, constam: o “Top of Mind 2009 – Liderança do Segmento
Construtora” e o “Prêmio Top Imobiliário (2010)”, de que “ficou entre as 4 maiores
empresas ligadas ao setor de construção das Américas em valor das Américas”etc.
Em continuação, alega que com propósito de produzir de forma adequada e
atendendo as exigências do mercado, procura obter certificações. A empresa destaca
que conquistou, em 2001, a certificação no nível A do Programa Brasileiro de
Qualidade e Produtividade na Habitação – PBQP-H, que entre seus vários pontos, exige
de quem o possui a constante qualificação dos seus trabalhadores, redução nos índices
de desperdício, padronização e verificação constante preventiva dos processos,
eliminação dos desperdícios e do retrabalho, assim, priorizando, diz a empresa, a tão
propalada “melhoria de qualidade e produtividade do setor da construção civil”. Sobre
esse campo de certificação, a MRV também enfatiza possuir a ISO 9001, cujas
intenções são as criações de parâmetros ao negócio, atendendo as expectativas dos seus
clientes, implementado ações de cunho gerencial qualificando sua hierarquia,
racionalizando recursos humanos e materiais para as operações dos negócios.25
Em outras palavras, respeitando os termos da Norma 14001, internacionalmente
reconhecida, ao materializar parâmetros do Sistema de Gestão Ambiental,
compatibilizando a rentabilidade almejada pela empresa e a redução dos impactos
ambientais.26
Por definição, a “missão” das organizações empresariais refere-se a um
instrumento de gestão empresarial que visar conceber, com base nos pressupostos das
Teorias de Administração, o papel a ser desempenhado por estas em relação aos seus
negócios. Procura-se, além do aspecto informativo, demonstrar ao conjunto da
sociedade, bem como a seus trabalhadores, diretrizes, compromissos e clareza nas
25
Disponível em: http://www.facebook.com/mrvengenharia?sk=info. Acesso em 24/02/2012. 26
Disponível em: http://www.bsibrasil.com.br/certificacao/sistemas_gestao/normas/iso14001/. Acesso em 24/02/2012.
31
estratégias dos rumos que nortearão o empreendimento.27
. Na esteira de tais
pressupostos, demonstra-se ser essencial que conheçamos as intencionalidades das
organizações e, no caso concreto da MRV Engenharia, sua “missão” prevê:
“Diminuir o déficit habitacional oferecendo imóveis com a melhor
relação custo/benefício do mercado. Gerar resultados crescentes e sólidos
para os acionistas. Promover o desenvolvimento constante dos
colaboradores e das comunidades, contribuindo para a preservação do
meio ambiente.”28
A empresa relata que, no momento, é “a maior operadora atuante no Minha
Casa, Minha Vida, na faixa de 3 a 10 salários mínimos, a MRV oferece qualidade a
preços baixos”.29
Vale esclarecer que o Minha Casa, Minha Vida é um programa
habitacional do Governo Federal destinado prioritariamente às famílias cuja renda bruta
chegam até R$ 1.600, mas pode contemplar famílias que tenham renda de até R$ 5.000.
Trata-se também, conforme cartilha disponível em sítio na internet, de um programa
habitacional que é realizado, em conjunto, entre a União e outros entes federados
(Estados e Municípios), bem como de movimentos sociais e demais parceiros, tendo por
meta a construção de 2 milhões de habitações nos próximos anos.30
3. Análise de déficit de Trabalho Decente
A análise de déficit de Trabalho Decente foi feita mediante pesquisa que incluiu
oficina sindical31
, pesquisa de campo com trabalhadores e análise de documentos.
A oficina sindical foi realizada com quatro dirigentes sindicais do Sindicato dos
Trabalhadores na Indústria da Construção Civil e Montagem do Espírito Santo
27
Referência disponível em: http://www.strategia.com.br/Estrategia/estrategia_corpo_capitulos_missao.htm. Acesso em 1º/03/2012. 28
Disponível em: http://www.facebook.com/#!/mrvengenharia?sk=info. Acesso em 1º/03/2012. 29
Disponível em http://www.mrv.com.br/minhacasaminhavida/sobre.aspx. Acesso em 1º/03/2012. 30
Disponível em http://downloads.caixa.gov.br/_arquivos/habita/mcmv/CARTILHACOMPLETA.PDF. Disponível em 1º/03/2012. 31
Oficina sindical é uma técnica de pesquisa utilizada pelo Observatório Social na qual os dirigentes sindicais são reunidos e instigados a abordar temas de condições de trabalho de determinada empresa.
32
(Sintracosnt), filiado á CUT, no dia 27 de fevereiro de 2012, localizado na cidade de
Vitória (ES).
A pesquisa de campo foi realizada em uma obra da MRV localizada no
município de Serra, Região Metropolitana de Vitória. Esta obra foi escolhida por
indicação do sindicato, que facilitou o acesso através de representante sindical que atua
na obra, ao todo foram entrevistados nove trabalhadores. Em virtude do tempo escasso e
o difícil acesso ao local da pesquisa e aos trabalhadores para serem entrevistados, optou-
se fazer uma análise qualitativa, na qual a análise da informação é mais aprofundada.
3.1. Oportunidade de emprego
De acordo com dirigentes sindicais, na base do sindicato de 5 a 10% são mulheres
que estão concentradas na área administrativa, acabamento e rejunte. Na obra
pesquisada há apenas uma mulher. Nenhuma mulher foi entrevistada para esta pesquisa.
Segundo dirigentes sindicais a idade dos trabalhadores é diversificada, não há
predominância de uma faixa etária: “Os novos estão estudando e não querem saber de
obra”.32
Com efeito, entre os trabalhadores entrevistados no canteiro de obra fazem
parte de faixa etária diversificada: 4 estão na faixa de 18 a 24 anos, 3 na faixa de 25 a 29
anos e 2 na faixa dos 40 aos 49 anos.
No quesito cor/raça, apenas um trabalhador se autodeclara branco, dois se
autodeclaram pretos e seis se autodeclaram pardos
Entre os trabalhadores entrevistados quatro têm ensino fundamental incompleto,
quatro ensino médio incompleto e um ensino médio completo.
De acordo com representantes sindicais , na MRV há muitas empresas terceirizadas:
Plabo Henrique Empreendimentos e Instalações, JJ, ABN, APM, Ferrobras. As empresas
terceirizadas são também chamadas de empreiteiras, “gato” e “gata”, geralmente são
empresas pesquenas que fazem todo tipo de serviço na obra. De acordo com dirigentes
sindicais, a MRV trabalha com mão de obra barata, , muitos trabalhadores são oriundos de
outros estados, trabalham de quatro a cinco, seis meses para enviar dinheiro para família,
muitas vezes o salário combinado com trabalhador não é assegurado. Segundo dirigente
sindical:
32
Oficina sindical realizada em 27/02/2012. Sintraconst-ES
33
As empreiteiras deixam o trabalhador na mão, a [empreiteira Pablo] não pagou os
trabalhadores, gente do Piauí reclamou que na APM, o trabalho acordado não foi cumprido
(foi acordado alavenaria, chegou aqui era para colocar bloco), não pagou passagem, retém
documentação. A empresa Morá foi embora, levou carteira de trabalho, deixou trabalhador
sem carteira, deixou trabalhador no alojamento sem refeição, sem água potável e sem
salário, o Sintraconst está forçando empresa pagar direitos, para trabalhadores irem embora.
Empreiteiro vai ao Piauí, contrata os trabalhadores, eles chegam aqui é outra realidade. O
sindicato tem que pressionar para resolver questões de terceiros.33
Na MRV os terceiros desempenham todas as funções, pedreiro, carpinteiro,
eletricidade. De acordo com dirigentes sindicais, a mão de obra da MRV é 95%
terceirizada, quarteirizada. Representantes sindicias relatam que muitas vezes o trabalhador
sabe trabalhar bem e tem liderança, por exemplo o Plabo era eletricista da MRV, mas não
tem estrutura administrativa, então a MRV dá estrutura para trabalhar como empreiteiro, até
uniforme é oferecido pela MRV. Segundo dirigene sindicais, empreiteira “ acaba colocando
um monte de pião sem carteira... obra para os lados da Tubarão, Porto Canoa tinha pessoal
sem carteira assinada e até um menor e aposentado por invalidez”
Na obra pesquisada há 155 trabalhadores, destes 26 são funcionários diretos da
MRV,o restante são terceirizados. Dos 26 diretos da MRV, 16 trabalham no administrativo
e apenas 10 trabalham no canteiro obra. Entre os trabalhadores entrevistados a situação é a
seguinte:
Tabela 7: Função trabalhadores entrevistados
FUNÇÃO DIRETO TERCEIRIZADO
Ajudante de limpeza 1
Pedreiro 1 1
Auxiliar de obra 1
Ajudante geral 2
Betoneiro 1 1
Operador de bobcat 1
Fonte: Pesquisa IOS
Em relação ao ajudante de limpeza, sua função é limpar banheiros e tirar entulhos
da obra.
A função do betoneiro é a produção de massa, juntar cimento, água e areia, cada
componente é jogado na sua hora e a betoneira é colocada para funcionar. Depois a
33
Oficina sindical realizada em 27/02/2012. Sintraconst-ES.
34
massa é transferida para um recipiente. Segundo terceirizado, para esta função não há
diferenças entre as condições de trabalho entre diretos e terceirizados. Trabalhador
direto entrevistado tem outra visão: para a função é necessário usar luvas, óculos. botina
e avental, mas segundo o entrevistado, os terceirizados não fazem o uso do material. As
empresas terceirizadas Balbino, FMC que prestam os serviços de betoneiro.
Os outros entrevistados trabalham na área de alvenaria: dois ajudantes, um
auxiliar de obra e dois pedreiros.
Os ajudantes são terceirizados (empreiteiras JJ e ABM) e sua função é encher balde
com massa e passar para o pedreiro, entregar bloco e limpar área. Um ajudante
terceirizado considera que as suas condições de trabalho são iguais às condições dos
diretos, uma vez que usa os mesmos equipamentos de proteção, o outro terceirizado
afirma que “os empreiteiros algumas vezes não são bem tratados”.34
Entre os pedreiros um é direto e o outro é terceirizado, sua função é levantar
paredes, deixar vãos prontos para receber portas e janelas, deixar no ponto para receber
a laje, assentar o bloco, conferir alinhamento, conferir medidas. Na área onde o pedreiro
terceirizado trabalha só há trabalhadores terceirizados.
Quanto ao auxiliar de obra, sua função é distribuir material, segundo o
entrevistado, há terceirizados na área que trabalha e para ele não há diferenças nas
condições de trabalho entre eles.
Outro entrevistado é operador de bobcat, sua função é limpeza de entulho,
deslocamento de materiais. Na área em que ele trabalho há terceirizados, ele considera
que as condições dos terceirizados são piores uma vez que as cobranças sobre eles são
maiores, os salários são mais baixos e há mais problemas de saúde e segurança do
trabalho.
3.2 Trabalho inaceitável
No dia 22 de novembro de 2011, o portal de notícias R7, informou que a MRV
responde a dois processos judiciais por força de ações civis públicas impetradas pelo
Ministério Público do Trabalho (MPT). O motivo do ajuizamento das ações adveio da
prática de trabalho escravo em canteiros de obras de responsabilidade da MRV nos
municípios de Americana e São Carlos no Estado de São Paulo.
34
Entrevista realizada em 28/02/2012. Obra da MRV, Serra (ES).
35
Em Americana, o MPT pede indenização à companhia no montante de R$ 10
milhões, referente aos possíveis danos causados trabalhadores reduzidos à condição
análoga à escravidão no empreendimento denominado “Beach Park”, ocorrida
supostamente em fevereiro de 2011. No município de São Carlos, a ação pleiteia
indenização em razão do mesmo motivo no valor de R$ 1 milhão, por conta da obra do
condomínio “Spazio Monte Vernon”. 35
De acordo com a reportagem36
, o MPT relata que, em Americana, a construtora se
valia da utilização de empreiteiras na intermediação de mão-de-obra, isentando-se das
responsabilidades de cunho trabalhista. Na obra, diz a reportagem, o MPT constatou
diversos problemas: 60 trabalhadores não tinham recebido seus salários, bem como
estavam em alojamentos e moradias em desacordo com os padrões legais, sem as
mínimas condições. Constatou-se, ainda, aliciamento de trabalhadores. Especificamente,
no que se refere às condições a que estavam submetidos os trabalhadores em São
Carlos, pela reportagem foi relatado que se verificou um canteiro de obras que
descumpriam as normas legais de segurança e saúde no trabalho e de que detritos
acumulados faziam parte da paisagem do canteiro de obras. A obra, em Americana,
ainda de acordo com a reportagem da Agência Brasil, informa que o empreendimento
ali construído fazia parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), incluso no
programa “Minha Casa, Minha Vida”, ambos do Governo Federal. Em São Carlos,
registrou-se também a inexistência de conservação e higiene de colchões, não
fornecimento de armários, roupas de cama e travesseiros. Foram encontrados em tais
precariedades em torno de 10 a 12 trabalhadores.
De acordo com dirigentes sindicais escutados para esta pesquisa, em obra da MRV em
Porto Canoa (ES) houve caso de menor trabalhando. Havia três menores trabalhando, a
obra era da MRV, mas os menores trabalhavam para empresa terceirizada. A denúncia
chegou no sindicato em março de 2011, segundo dirigentes sindicais “era menor trabalhado
como adulto”, denúncias de trabalho de menores é recorrente no setor, menor é auxiliar de
obras, é faz tudo, trabalho de pedreiro, opera máquina. Está sujeito aos mesmos riscos do
trabalho”.37
35
Disponível em: http://noticias.r7.com/economia/noticias/construtora-mrv-nega-pratica-de-trabalho-escravo-20111122.html. Acesso em 1º/03/2012. 36
Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2011-11-21/ministerio-do-trabalho-flagra-trabalho-escravo-em-obras-da-construtora-mrv-no-interior-de-sao-paulo. Acesso em 1º/03/2012 37
Oficina sindical realizada em 27/02/2012. Sintraconst-ES.
36
Na obra pesquisada, um trabalhador terceirizado entrevistado confirmou que
presenciou menor trabalhando na obra de Porto Canoa
3.3 Salários adequados e trabalho produtivo
Na MRV o salário da maioria dos trabalhadores é o piso, previsto na Convenção
Coletiva de Trabalho 2010/2012:
Tabela 8: Tabela de salários CCT-2010-2012
CARGO SALÁRIO HORA SALÁRIO MÊS
Auxiliar de obras R$ 2,50 R$ 550,00
Mensageiro R$ 2,50 R$ 550,00
Auxiliar de escritório R$ 2,50 R$ 550,00
Vigia R$ 2,50 R$ 550,00
Ajudante prático R$ 2,88 R$ 634,52
Oficial (almoxarifado,
apontador operador de
equipamentos e demais
funções já enquadradas)
R$ 3,41 R$ 749,89
Oficial pleno R$ 4,01 R$ 882,08
Oficial polivalente R$ 4,42 R$ 973,42
Encarregado R$ 4,74 RS 1043,12
Fonte: Convenção Coletiva de Trabalho 2010-2012 – Sintraconst - ES
A tabela corresponde aos salários executados no ano de 2010, ano que o salário
mínimo nacional equivalia a R$ 510,00.
O salário do trabalhador terceirizado é condicionado à produtividade (ou produção).
A tendência é ganhar mais, mas, se por algum problema o trabalhador não tem
condições de trabalhar (más condições de tempo, por exemplo), ele não recebe.
Segundo dirigentes sindicais, todos terceirizados trabalham por produção e o trabalho é
dobrado.
37
Entre os trabalhadores diretos entrevistados um afirmou receber salário bruto de
até um 1 salário mínimo (R$ 605,00 bruto e R$ 505,00 líquido), 4 recebem de 1,01 a 2
salários mínimos (R$ 623 a R$ 1244,00).
Entre os terceirizados dois trabalhadores afirmaram receber até R$ 622,00 ( até 1
salário mínimo), os dois outros afirmaram receber entre R$ 623,00 e R$ 1244,00 ( 1,01
e 2 salários mínimos). Os terceirizados, contudo informam que “recebem por
produção”, e não o que está registrado na carteira de trabalho, a lógica é “quanto mais se
produz mais se ganha”.38
Em relação à PLR (Participação nos Lucros e Resultados), dirigentes sindicais
explicaram como esta funciona:
A PLR aqui é PR e usa um sistema de assiduidade, as empresas querem
produtividade. Aqui se fala PR porque no ponto de vista do sindicato se o trabalhador
trabalha, ele tem direito ao resultado, se a empresa tem prejuízo é por causa da
administração, a culpa não é do trabalhador. A construção civil cresceu muito no ES, é
difícil fiscalizar a PR.39
Dos diretos entrevistados, nenhum recebeu a PR, um entrevistado relatou que
não sabia se tinha “direito a receber PR”40
. Entre os terceirizados, nenhum deles
afirmou conhecer ou receber a PR.
De acordo com dirigente, as empresas não garantem todos os benefícios que os
trabalhadores têm direito: “Tem gato que não dá vale-transporte, ou você pode escolher
o vale transporte ou o almoço na obra, ou vale-transporte ou a cesta básica, você vai
querer o quê? Ele tem direito aos dois, pelo menos o vale-transporte e a cesta básica é
garantida na convenção”. 41
Na Convenção Coletiva de Trabalho (CCT 2010-2012) os benefícios em relação à
alimentação são os seguintes: a) Alimentação pronta para o consumo; ou, b) Ticket,
cartão-refeição ou cartão-alimentação no valor mensal de R$ 110,00; ou, c) cesta
alimentação mensal composta dos seguintes itens: 15kg de arroz tipo um, 4 kg de feijão
tipo um, 1kg de fubá, 2 kg de farinha de mandioca, 3 latas de óleo de soja, 2 latas ou
sacos de elite em pó integral, 6 kg de açúcar cristal, 1 kg de farinha de trigo, 1 kg de
charque dianteiro, 2 kg de macarrão, 400 g de biscoito tipo maisena, 1 kg de café em pó,
38
Entrevista realizada em 28/02/2012. Obra da MRV, Serra (ES). 39
Oficina sindical realizada em 27/02/2012. Sintraconst-ES. 40
Entrevista realizada em 28/02/2012. Obra da MRV, Serra (ES). 41
Oficina sindical realizada em 27/02/2012. Sintraconst-ES.
38
2 tubos de creme dental (com 90g cada), 1 kg de sabão em barra, 3 sabonetes de 9og
cada, 400 g de biscoito cream-cracker.42
Os entrevistados relataram benefícios diferenciados: entre os diretos um
trabalhador relatou que recebe cesta básica e vale-transporte, já outro relata que tem
apenas o vale-transporte, não tem cesta básica porque almoça no refeitório do canteiro,
segundo o entrevistado quem traz almoço de casa recebe a cesta básica, quem almoça
no refeitório não recebe a cesta. O restante de trabalhadores diretos entrevistados
afirmou que não recebe benefícios.
Entre os terceirizados, um entrevistado afirmou que recebe cesta básica em
forma de mantimento, não recebe vale-transporte pois mora em alojamento da empresa
(casa alugada pela empreiteira, é transportado por uma van para chegar ao trabalho),
outro acredita que os benefícios recebidos pela empresa são FGTS e Seguro-
Desemprego. O restante dos trabalhadores terceirizados afirmou que não recebe algum
benefício.
Em relação à qualificação na MRV, os dirigentes sindicais afirmaram que
reivindicaram cursos, “mas a empresa não quer, terceirizado, empreiteiro, não tem
cultura de formação, operador trabalha sem formação, situação que aumenta os riscos,
trabalhador vai operar, ganha um pouco mais, mas não sabe dos riscos”43
. Se ajudante
está operando sindicato obriga empresa a colocá-lo como profissional e dar curso
referente à função. Sindicato exige que quem esteja operando máquinas tem que ter o
certificado no local de trabalho, assim, operadores diretos ou terceirizados tem que ter
formação para operar aparelhos.
Em relação ao plano de cargos e salários (PCS) nenhum entrevistado tem
alguma informação sobre plano de cargos e salário, um entrevistado afirmou que só
sabe que se tiver Carteira Nacional de Habilitação (CNH) pode passar para a função de
operador de bobcat, trabalhador relatou que não há política de qualificação pois “a
empresa não tem interesse”. Entre terceirizados dois entrevistados acreditam que há
PCS “porque conforme vai aprendendo vai mudando de função”ou “pois quanto mais
aprende vai sendo promovido, ganha classificação”.44
42
CCT 2012-2012. Cláusula 8- Da alimentação, p. 16 43
Oficina sindical realizada em 27/02/2012. Sintraconst-ES. 44
Entrevista realizada em 28/02/2012. Obra da MRV, Serra (ES).
39
Em relação à avaliação, apenas dois trabalhadores diretos afirmaram ser
avaliados, um foi avaliado pelo engenheiro, mas não soube precisar os critérios. Outro
trabalhador afirmou que o encarregado “cobra se o serviço está sendo feito
adequadamente”45
. Entre os terceirizados, um entrevistado relata que é avaliado pelo
chefe da empreiteira e atua na obra, às vezes é chamado para falar sobre o trabalho.
Outro terceirizado entrevistado relata que o encarregado faz avaliação, mediante
conversa com trabalhador, outro ainda acredita que a avaliação é feita pelo controle de
qualidade.
No que diz respeito a treinamento, um entrevistado afirmou ter recebido
treinamento sobre prevenção de acidentes. Outro entrevistado afirmou que foi o próprio
encarregado que ensinou a operar a máquina bobcat. O restante dos trabalhadores
diretos entrevistados não tem qualquer informação sobre treinamento. Entre os
terceirizados um passou por treinamento que durou meio dia
3.4 Jornada decente
De acordo com representantes dos trabalhadores, a jornada de trabalho é de 2ª a
5ª-feira das 7 às 17h e 6ª das 7 às 16h. Consta na CCT “ 44 horas semanais, sendo nove
diárias de segunda a quinta-feira e de 8 horas na sexta-feira, sendo o sábado
compensado pelas horas excedentes trabalhadas nos primeiros quatro dias da semana”46
.
Os dirigentes não têm informação da quantidade de horas extras. Pelo que se saiba, não
há trabalho noturno.
De forma geral, a jornada de trabalho no canteiro pesquisado é de 44 horas
semanais, o que varia são os horários de entrada e saída: pode ser de 2ª a 5ª-feira das 7
às 17h e 6ª das 7 às 16h ou das 7 as 12 e das 13 as 17 de segunda a sexta, dependendo
da empresa que presta o serviço. Um terceirizado relatou que sua jornada é de 48 horas
semanais porque trabalha por produção, “quanto mais trabalhamos vamos ganhar
mais”.47
Dois entrevistados afirmaram que a jornada é de 40 horas semanais.
No acordo com os dirigentes a hora extra de 2ª a 6ª tem o acréscimo de 75% a
100%, sábado 100% e domingo 150%. Ainda segundo os dirigentes, “empresa não avisa
com antecedência, sexta-feira avisa que vai haver hora extra no sábado e retalha quem
45
Entrevista realizada em 28/02/2012. Obra da MRV, Serra (ES). 46
CCT 2010-2012. Cláusula 12 – Da jornada de trabalho, p.20. 47
Entrevista realizada em 28/02/2012. Obra da MRV, Serra (ES)
40
não quer fazer hora extra”48
. De forma geral, trabalhadores são escalados de um dia para
o outro para fazer hora extra, ou no final da jornada.
Nem todos entrevistados realizam horas extras. Segundo trabalhador direto
entrevistado, elas são realizadas de acordo com a necessidade da obra, cerca de 3 horas
semanais. Trabalhador direto afirmou ter sido avisado com um dia de antecedência a
necessidade de hora extra. Trabalhador terceirizado afirma que é avisado no mesmo dia
a necessidade de horas extras que ocorrem no final do dia, às vezes trabalha aos
sábados, mas nunca trabalhou aos domingos. Dois trabalhadores diretos afirmaram
trabalhar aos sábados, um deles afirmou ter trabalhado no domingo apenas uma vez.
Todos que fazem hora extra afirmam que esta é remunerada, não há banco de horas.
Todos afirmaram que é possível recusar horas extras, um terceirizado afirmou
que “a chefia não gosta” que recuse, os demais não apontaram problemas na recusa de
horas extras. Outro direto afirmou que a empresa “já informou que na contratação de
que haveria horas extras. Caso sejam recusadas, seria ruim para o trabalhador”.49
Para um terceirizado, que trabalha por produção, a noção de hora extra não é
utilizada, afirma que não faz hora extra, que não recebe e nem há banco de horas, uma
vez que trabalha por produção. Ele costuma trabalhar aos sábados.
3.5 Estabilidade e garantia de trabalho
Os representantes sindicais relatam que na MRV não há rotatividade, mas nas
empreiteiras sim. A MRV mantém um quadro de funcionários que é pequeno. Dados da
composição de trabalhadores no canteiro pesquisado confirmam afirmação de dirigente
(p. 31). No Estado do Espírito Santo o contrato de experiência é de 30 dias conforme a
CCT. A MRV atua no estado há cerca de cinco anos. Dirigentes sindicais não têm
informações sobre temporários e/ou reestruturações na empresa nos últimos três anos.
Os trabalhadores entrevistados estão há pouco tempo contratados, tanto diretos
como terceirizados: apenas um trabalhador está na faixa de 1 a 2 anos trabalhando na
empresa, o restante está há menos de um ano na empresa.
Dos entrevistados, apenas dois têm expectativa de estar na empresa transcorrido
um ano após a data da entrevista. Um trabalhador relata “nem todo mundo se sente
48
Oficina sindical realizada em 27/02/2012. Sintraconst-ES. 49
Entrevista realizada em 28/02/2012. Obra da MRV, Serra (ES).
41
seguro”, deu o exemplo de uma obra em Caburi que foi interrompida pela empresa e
todos trabalhadores foram transferidos50
. Entrevistado relatou que no contrato
individual de trabalho há uma cláusula que prevê deslocamento de local de trabalho.
Outro trabalhador afirmou que se manteria na MRV em uma função melhor, mas não na
função que estava desempenhando no momento.
Trabalhador terceirizado não pretende estar na empresa um ano após a entrevista
pois o salário é muito baixo para a área que trabalha (alvenaria). “Nesse mês foi um
pessoal embora da JJ porque ganha muito pouco”.51
No que se refere à reestruturação, além da citação de Caburi, outro trabalhador
relatou que veio transferido da obra de Porto Canoa.
3.6 Equilíbrio entre trabalho e vida familiar
Dirigentes sindicais chamam atenção para o extenso período que o trabalhador fica
fora de cada em função do trabalho: “Trabalhador sai de casa 5 horas, chega 20h, pode
haver problema familiar, conjugal, se não tem final de semana desgasta convivência
familiar”. 52
No CCT há tabela para folga de campo, prevê dias de folga além do fim de semana,
com pagamento de passagem e lanche; ou passagem de avião sem lanche. De acordo
com CCT os trabalhadores têm direito às folgas periódicas “no período máximo de
cinco dias úteis incluindo o tempo de viagem, a cada 90 dias, que serão compensados
em horário além da jornada normal de trabalho”. 53
Os empregadores têm que obedecer o quadro de folgas abaixo, conforme distância
da cidade de origem do trabalhador.
50
Entrevista realizada em 28/02/2012. Obra da MRV, Serra (ES) 51
Entrevista realizada em 28/02/2012. Obra da MRV, Serra (ES) 52
Oficina sindical realizada em 27/02/2012. Sintraconst-ES. 53
CCT 2010-2012. Cláusula 20 – Das folgas periódicas, p. 26.
42
Tabela 9 – Tabela de folga de campo
DISTÂNCIA QUANTIDADE DE FOLGAS
De 200 a 300 km 1 dia
De 301 a 600 km 2 dias
De 601 a 1000 km 3 dias
De 1001 a 1500 km 4 dias
Acima de 1500 km 5 dias
FONTE: Convenção Coletiva de Trabalho 2010-2012 – Sintraconst - ES
Mas, de acordo com dirigentes sindicais, empresas não respeitam o quadro. Em obra
da MRV, ainda segundo os dirigentes. “tem gente que está aqui há oito meses e nunca
foi pra casa.”54
Entre os trabalhadores entrevistados, os que moram em Vitória vêem a família todos
os dias, entre os terceiros há trabalhadores de outros estados que relataram: trabalhador
terceirizado oriundo de Estado do Nordeste brasileiro vê família apenas de seis em seis
meses, segundo ele “é difícil ficar indo e vindo”55
, outros dois trabalhadores
terceirizados afirmaram que as empreiteiras que eles trabalham não dá direito a folga de
campo. Apenas um trabalhador terceirizado, que também é de um estado do Nordeste,
relatou que tem direito a folga de campo e que vê a família com freqüência.
3.7 Tratamento digno no emprego
Para dirigentes sindicais, o tipo de discriminação mais freqüente é por participação
sindical: “O dirigente sindical é marcado na MRV, engenheiro falou que quer dirigente
no sindicato e não na obra”.56
Mas não há discriminação por raça ou com trabalhadores
de outro estado ou de estado do Nordeste, o Espírito Santos é um estado receptivo. Às
vezes há discriminação por orientação sexual. Entre trabalhadores entrevistados na obra
não há relatos de discriminação (de ter sofrido ou presenciado).
54
Oficina sindical realizada em 27/02/2012. Sintraconst-ES. 55
Entrevista realizada em 28/02/2012. Obra da MRV, Serra (ES). 56
Oficina sindical realizada em 27/02/2012. Sintraconst-ES.
43
Sobre assédio moral, de acordo com dirigentes sindicais, encarregados da APM
ameaçava e batia em operários, a humilhação é de preferência na presença de outros
colegas de trabalho. De acordo com relato de dirigente, a humilhação está relacionada
ao esquema de produção:
Ele é humilhado por causa da produção, eles ficam querendo tanto a
produção e são humilhados pela produção, vocês têm quem fazer. Empresa
coloca trabalhador contra sindicato “colaboradores, o sindicato não está
deixando você ganhar dinheiro”, mas trabalhador passa por humilhação porque
não quer perder a produção.57
Entre os trabalhadores entrevistados da MRV, nenhum relatou ter sofrido
assédio moral. Um trabalhador da MRV, contudo presenciou trabalhador de empreiteira
ser humilhado por encarregado. Trabalhador terceiro relatou ter presenciado
perseguição de encarregado sobre trabalhador, “o encarregado dizia que trabalhador não
fazia trabalho corretamente e [trabalhador] foi retirado da área”.58
Outro terceirizado
fala de ex-mestre que não respeitava os trabalhadores, “queria mostrar quem manda”.59
Em relação à cota de Pessoas com Deficiência (PCDs), de acordo com dirigentes
sindicais, a MRV contrata por obra e cada obra tem uns 20 trabalhadores. No registro
em carteira não está MRV, mas um nome de um condomínio, é CNPJ diferente, não há
vínculo trabalhista com a MRV, o vínculo é com o condomínio, e com um número
pequeno de trabalhadores, não é possível fazer cota.
3.8. Trabalho seguro
Na visão dos dirigentes sindicais equipamentos de proteção coletiva (EPC) é
prioridade e empresa é obrigada tê-los (por exemplo, tela metálica, guarda corpo). O
sindicato fiscaliza, se a empresa não estiver de acordo sindicato dá prazo de 10 dias para
regularização. Na MRV a segurança é de acordo com obra, umas são regulares, outras
são péssimas: prioridade é uso de bota, uniforme, capacete, óculos e luva. É necessário
verificar se a empresa está fornecendo área de vivência, chuveiro, banheiro. O
alojamento tem que ter norma da NR 18. Quem se aloja são os terceirizados que são
originários de outras regiões do Brasil. Trabalhador terceirizado entrevistado reclamou
57
Oficina sindical realizada em 27/02/2012. Sintraconst-ES. 58
Entrevista realizada em 28/02/2012. Obra da MRV, Serra (ES). 59
Entrevista realizada em 28/02/2012. Obra da MRV, Serra (ES).
44
de alojamento “uma casa de cinco cômodos para 12 pessoas, os colchões são finos, não
vai pessoa limpar e é quente”. 60
Os trabalhadores avaliaram o local de trabalho de acordo com o
desenvolvimento de suas funções. Muitos dos itens não estão relacionados com a área
em que o operário trabalha:
Tabela 10-Avaliação local de trabalho
AVALIAÇÃO BOA REGULAR RUIM
a. Andaimes e escadas de mão. 3 4
b. Elevadores e acessórios de levantamento: 3 2
c. Veículos de transporte e maquinaria de movimento
de terras e manipulação de materiais
6 1 1
d. Ferramentas manuais 5 3
e. Trabalhos em altura 4 2
f. Escavações, poços, terraplanagem, obras
subterrâneas e túneis
6
g.Trabalhos em superfície da água 1
h. Demolição, 2
i. Iluminação e eletricidade, 5 1
j. Explosivos, 1
k. Incêndios 3
l. Banheiros 4 2 3
m. Refeitórios 5 3 1
o. Dormitórios 2 1 1
p. Outros
FONTE: Pesquisa IOS
60
Entrevista realizada em 28/02/2012. Obra da MRV, Serra (ES).
45
Segundo os dirigentes, em caso de acidente a empresa deixa o trabalhador em casa e
dá remédio:
Quando volta, o trabalhador não está bom. Trabalhador não abre CAT61
porque,
segundo a empresa, CAT é invenção do sindicato. Na MRV um trabalhador que ia
ao trabalho de bicicleta foi atropelado e quebrou o pé. É acidente de percurso, a
MRV não quis emitir CAT, alegando que paga vale-transporte e que o trabalhador
não poderia vir de bicicleta. O que ela fez? Fechou o quartinho de guardar bicicleta.
A MRV não queria que mais ninguém de bicicleta.
Entre os entrevistados do canteiro de obras, um trabalhador sofreu acidente de moto
no percurso para o trabalho e, neste caso, a empresa emitiu CAT. Outro trabalhador
relatou que em alguns casos a MRV não emite CAT, cita exemplo de colega que caiu do
andaime e a empresa não emitiu CAT. Trabalhador terceirizado cortou o dedo, no caso
dele a empresa não emitiu CAT. Os outros trabalhadores não sofreram acidente,
tampouco sabem se as empresas emitem CAT.
De acordo com dirigentes sindicais, os principais problemas de saúde vividos
pelos trabalhadores da construção civil são de coluna, “de trabalhar abaixado e torto,
empresa não treina adequadamente”, vista, respiração devido à poeira, de surdez devido
ao barulho, “muitas vezes em virtude do ritmo de trabalho trabalhador acaba não usando
protetor”, e mental, é muita correria no esquema de produção, então há problemas de
alcoolismo e consumo de drogas. Além disso, em virtude do esquema de produção,
operário “tem que trabalhar muito”, o que afeta a saúde.62
O ritmo de extenuante de trabalho é citado pelos trabalhadores: trabalhador
terceirizado considera o ritmo de trabalho muito cansativo, dois entrevistados afirmaram
que afeta a saúde física, entrevistado disse que gera streess, mas o restante não
considera ritmo de trabalho prejudicial à saúde.
Os problemas de saúde relatados pelos trabalhadores depois que começaram a
trabalhar na empresa são: problemas de coluna, doença de pele, doenças respiratórias,
dores musculares, cansaço nos braços e pernas, estresse (4 relatos) e dependência
química ao cigarro.
Um trabalhador terceirizado deixou de revelar que estava doente no trabalho,
estava com dor de cabeça e garganta, mas não falou para o chefe; outro teve problema
dor de estômago, mas também não revelou.
61
Comunicação de Acidente de Trabalho 62
Oficina sindical realizada em 27/02/2012. Sintraconst-ES.
46
Entre os entrevistados, apenas um trabalhador se afastou do trabalho por seis
meses em virtude do acidente de percurso com moto.
Todos, diretos e terceirizados, afirmaram utilizar EPIs (equipamentos de
proteção individual) e consideraram adequados: luvas, óculos, capacete, máscara, cinto
de segurança, botina, abafador de concha, máscara de proteção e avental. Segundo um
entrevistado, técnico de segurança pediu para usar avental.
Quanto aos EPCs (equipamentos de proteção coletiva), apenas dois entrevistados
sabem o que é e consideram adequados. Outro entrevistado da MRV afirmou que “às
vezes” a empresa usa EPCs.
De acordo com dirigentes sindicais a CIPA (Comissão Interna de Prevenção de
Acidentes) no segmento de edificação “não funciona direito”. A partir de 20
trabalhadores tem que ter CIPA. Se há 50 empresas trabalhando no canteiro, tem que ter
CIPA, e o técnico de segurança também para as 50 empresas. As opiniões sobre a CIPA
são discrepantes, dois entrevistados afirmam que não há CIPA no canteiro, “a CIPA
nunca chegou aqui63
”, três entrevistados afirmaram que a atuação da CIPA é regular e
eficiente, o restante não soube avaliar ou informar se há CIPA.
3.9 Proteção social na empresa
Segundo representantes sindicais, muitas vezes o trabalhador não tem conhecimento
se tem estabilidade e empresa demite. Sindicato verifica, quando vai homologar se
trabalhador tem estabilidade. Na MRV não há casos de demissão de trabalhador com
estabilidade, às vezes há casos nas empreiteiras. Sindicato não negocia estabilidade de
45 dias de doença. Há casos de trabalhadores que querem ser demitidos no período,
sindicato explica que não pode haver demissão. Na visão do sindicato, cipeiro também
não pode abrir mão da estabilidade, pois esta estabilidade foi concedida pelos
trabalhadores
Entre os trabalhadores entrevistados nenhum necessitou tirar licença.
Três trabalhadores entrevistados não sabem avaliar se a empresa respeita ou não os
direitos dos licenciados. Outro entrevistado, terceirizado, disse que a empresa adota as
licenças paternidade/maternidade (não sabe quanto tempo), não sabe se há garantia de
63
Entrevista realizada em 28/02/2012. Obra da MRV, Serra (ES).
47
emprego no retorno e “acha” que a empresa respeita o direito dos trabalhadores
licenciados. Um trabalhador afirmou que a empresa não adota licença
maternidade/paternidade e de que não há garantia de retorno após essas licenças. O
restante afirmou que a empresa cumpre o direito de licença apresentados.
3.10 Diálogo social
De acordo com dirigentes sindicais, empresa não aceita que representantes
sindicais entrem na obra. Na MRV, o sindicato impôs resolver questões dentro da obra,
se problema chega ao sindicato é encaminhado para o Ministério do Trabalho.
Dirigentes sindicais entram na obra da MRV, pessoal administrativo aceita porque ele
está dentro da lei, “mas não é de boa vontade”.64
Toda segunda-feira há reunião no sindicato com trabalhadores para discutir
condições de trabalho. Esta reunião não é chamada, mesmo assim tem presença
garantida de trabalhadores toda segunda-feira. A dificuldade de organização reside na
diversidade de empreiteiras atuando, estas trazem trabalhadores de outros estados
(trechero) que permanecem pouco tempo no estado. Além disso, a diversidade de
relações de trabalho dificultam a ação sindical.
As informações sobre filiação sindical revelam falta de informação entre os
trabalhadores sobre o que é estar sindicalizado. Entre trabalhadores diretos um
trabalhador afirmou que é filiado ao sindicato, pois pagou imposto sindical, não se
recordou do nome do sindicato; outro trabalhador disse que não é filiado ao sindicato.
Outro informou que não sabe se é sindicalizado. Trabalhador terceirizado, por sua vez,
afirmou que é filiado a sindicato no Ceará, mas não se recorda qual é. O restante dos
trabalhadores afirmou que não são filiados ao sindicato.
Entre os diretos, nenhum deles participou das atividades sindicais no sindicato
local. Um terceirizado afirmou que participou de reunião sindical, mas no Ceará. Não
recebe informações e não tem conhecimento em relação ao sindicato local.
Trabalhadores afirmaram receber informações lendo boletins, panfletos ou
jornais do sindicato; conversando com colegas de trabalho; conversando com diretores
do sindicato; conversando com chefes ou gerentes; pelo carro de som. Um trabalhador
64
Oficina sindical realizada em 27/02/2012. Sintraconst-ES.
48
afirmou que também se informa pela televisão. O restante afirmou que não recebe
informação sobre atividades sindicais.
Todos trabalhadores afirmaram não ter conhecimento sobre OLT, dois
trabalhadores diretos reconheceram, contudo, o representante sindical que atua na obra
(“um de bigodão”, “o Bigode”)65
. Um entrevistado afirmou que tem um grupo que
discute a organização do trabalho, “o dono da empresa esclarece dúvidas”.66
De acordo com dirigentes sindicais, ainda não houve greve na MRV, foi
mandado aviso de greve em dezembro de 2011, representantes da empresa ficaram
“desesperados” para falar com representante do sindicato que atua na MRV. Empresa
chegou a acordo antes de iniciar a greve. O motivo do aviso é que “havia peão sem
carteira assinada”67
. A maior parte dos trabalhadores entrevistados não tem informação
sobre greve ou conflitos, um trabalhador relatou que houve um problema com um dos
empreiteiros, a MRV ficou de arcar com as despesas, mas não pagou os valores, apenas
registrou os trabalhadores.
De acordo com dirigentes sindicais a negociação coletiva segue o seguinte
roteiro: o sindicato patronal passa a proposta, é levada para os trabalhadores em
assembléia, na assembléia são tirados representantes dos trabalhadores que vão
acompanhar o processo. É possível negociar diretamente com a empresa, coisas simples
são negociadas sem presença de trabalhadores que não são dirigentes sindicais, mais
complexas são negociadas com a presença de trabalhadores que não são dirigentes
sindicais, em primeiro lugar é negociada a estabilidade do trabalhador por 3 ou 4 meses,
é colocada cláusula em acordo, isto é para manter a transparência para os demais
trabalhadores, tem coisas que denúncias que já são tratadas diretamente com a empresa
Desde que estão trabalhando na empresa, nenhum dos trabalhadores
entrevistados relatou casos de demissões de dirigentes sindicais ou cipeiros, conflitos ou
greves, ou informação de descumprimento de clausulas da CCT ou ACT.
Todos trabalhadores entrevistados afirmam que sindicalistas tem acesso ao local
de trabalho, dirigentes afirmaram que são liberados para entregar jornal
65
Entrevista realizada em 28/02/2012. Obra da MRV, Serra (ES). 66
Entrevista realizada em 28/02/2012. Obra da MRV, Serra (ES). 67
Oficina sindical realizada em 27/02/2012. Sintraconst-ES..
49
Considerações finais
A terceirização do trabalho na construção civil mediante as chamadas
empreiteiras é o fator mais impactante na análise de déficit de trabalho decente.
No quesito oportunidades de emprego verifica-se ainda a pequena presença de
mulheres, em âmbito sindical e no canteiro de obras, refletindo o contexto do setor
(tabela 8, p. 24). A presença de empresas e trabalhadores terceirizados é excessivamente
alto, na obra pesquisada cerca de 83% dos trabalhadores são terceirizados, contratados por
várias empresas (número não precisado de empresas) atuando em todas funções, inclusive
relativas à atividade-fim da construção civil.
Na obra pesquisada, não foram relatados casos de trabalho inaceitável, em outras
obras da empresa foram relatados trabalho de menor nas mesmas condições de adulto
(Porto Canoa) ou denúncia de trabalho escravo (São Carlos-SP e Americana-SP). Todos
casos estão relacionados à ação de empresas empreiteiras.
Em relação ao tema salários adequados e trabalho produtivo uma questão a ser
resolvida é o trabalho por produção, em que a remuneração do trabalhador, em geral
terceirizado, está atrelada à produção. Com isso, o salário registrado em carteira de trabalho
e apenas uma formalidade, uma vez que o trabalhador pode ganhar mais ou menos,
dependendo da produtividade.
Em relação ao PCS, treinamento, benefícios, os trabalhadores, tanto diretos como
terceirizados demonstraram pouco conhecimento, inclusive em relação à PR. Há casos
também de opção de benefícios, se o trabalhador escolhe um (cesta básica) não tem direito a
outro (refeição no local de trabalho).
O trabalho por produção também impacta na Jornada decente, a jornada máxima
legal, que é de 44 horas, não faz sentido para quem trabalha por produção, tampouco a
contabilização de horas extras
Em relação à estabilidade e garantia de trabalho trabalhadores entrevistados
revelam que estão há pouco tempo trabalhando na empresa, e as perspectivas de continuar
trabalhando depois de um ano após a entrevista são pequenas por vários motivos: salários
baixos e insegurança em relação às transferências e mobilidade que ocorrem entre obras.
Equilíbrio entre trabalho e vida familiar : entre os trabalhadores terceirizados,
boa parte oriundos de estados do Noredeste, de forma geral, não têm direito a folga de
campo, portanto, podem ficar seis meses sem ver a família segundo relatos.
50
Tratamento digno no emprego produção: neste quesito, os casos de humilhação
podem estar relacionados com à cobrança de produtividade no esquema de trabalho por
produção.
Trabalho seguro: emissão de CATs e atuação da CIPA são duas questões que
merecem destaque, uma vez que a atuação de várias empresas dificulta o monitoramento e
trabalhadores entrevistados mostraram desconhecimento se as empresas emitem CAT ou
sobre atuação da CIPA.
Diálogo social : a contratação de terceirizados, oriundos de vários estados, impacta
também na ação sindical uma vez que as relações de trabalho são sazonais.Neste sentido, o
envolvimento de trabalhadores terceirizados nas atividades e informações sindicais é
dificultado. Mesmo assim , represetantes sindicais tem acesso livre à obra.
51
Referências
Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos – DIEESE.
Anuário dos Trabalhadores 2010/2011. 11ª edição. São Paulo, 2011.
Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos – DIEESE.
Estudo Setorial da Construção – 2011. Estudos e Pesquisas, Nº 56 – abril de 2011.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Estatísticas do Século XX. Rio
de Janeiro, 2006.
Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Habitação. Déficit Habitacional no
Brasil 2008. Brasília, Abril de 2011.
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Secretaria do
Desenvolvimento da Produção. Anuário da Indústria. 2011
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Secretaria do
Desenvolvimento da Produção. Anuário Estatístico. 2011.
Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED). Mercado de Trabalho Metropolitano em
2010. Divulgação: Janeiro de 2010.
RAMOS, Roberto Luís Olinto; CONSIDERA, Cláudio Monteiro; MAGALHÃES,
Kepler Mauro Mendonça; FILGUEIRAS, Heloísa Valverde; SOBRAL, Carlos
Bittencourt. O Macrossetor da Construção. Junho de 2000. Disponível em:
http://www.cbicdados.com.br. Acesso em 10/11/2011.
TEIXEIRA, Luciene Pires. Análise do Desempenho Econômico-Financeiro do Setor
da Construção Civil no Período Pós-Real. Monografia. UFMG, Belo Horizonte,
2002.
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