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Gabinete do Desembargador Alan Sebastião de Sena Conceição___________________________________________
APELAÇÃO CÍVEL
Nº 262541-57.2002.8.09.0174 (200292625413)
COMARCA DE SENADOR CANEDO
APELANTE : OSMAR PONTES DE OLIVEIRA
APELADA : BÁRBARA GONÇALVES DE OLIVEIRA
RELATOR : DES. ALAN SEBASTIÃO DE SENA CONCEIÇÃO
RELATÓRIO E VOTO
Osmar Pontes de Oliveira, irresignado com a
sentença (fls. 214/220) proferida nos autos da "ação de
separação litigiosa" ajuizada em seu desfavor por Bárbara
Gonçalves de Oliveira, que julgou procedente o pedido inicial,
decretando o divórcio do casal e afastando a partilha de bens, por
entender que o bem imóvel disputado é incomunicável, interpôs-lhe
recurso de apelação (fls. 244/266).
Nas razões do recurso, o apelante, após breve
relato dos fatos, busca, em preliminar, a cassação da sentença, sob
o argumento de ter havido julgamento extra petita ao ser
decretado o divórcio entre as partes, tendo em vista que a apelada
ingressou em juízo com pedido de separação judicial litigiosa, e que
não houve acordo em audiência quanto a conversão do pleito de
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separação em divórcio.
Alega também que a procuração de fl. 23 não
confere aos advogados constituídos poderes para a conversão da
separação litigiosa em divórcio, e que o advogado que participou da
audiência não estava devidamente constituído, pois o nome dele não
consta do referido instrumento de mandato, tendo sido juntado o
substabelecimento posteriormente.
Insurge-se contra a negativa de partilha de
bens, assegurando ter direito à meação do quinhão recebido pela
apelada em decorrência da morte de seus pais, uma vez que eram
casados sob o regime de comunhão universal de bens, e que o
julgador fundamentou erroneamente a incomunicabilidade do bem
herdado em dispositivo legal referente ao regime de comunhão
parcial de bens.
Nos termos do artigo 1.830, do Código Civil,
assevera ter direito a parte do quinhão herdado pela apelada, em
razão de a morte do sogro ter ocorrido antes do decurso de dois
anos após o ajuizamento da presente ação.
Sustenta, ainda, que o imóvel onde residiu com
a apelada por mais de trinta anos na constância do casamento foi
doado ao casal verbalmente por seus sogros logo após o casamento,
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celebrado em regime de comunhão universal de bens, tendo,
durante esse tempo, trabalhado o bem como se dono fosse,
implementando diversas benfeitorias, tais como edificações,
plantações, cercas, etc.
Diante disso, entende ter garantido o direito à
partilha do imóvel, bem como às benfeitorias edificadas durante a
constância do casamento.
Frisa que a sentença recorrida vulnera o
disposto no art. 1.667, do CC/2002, e também o princípio da
dignidade da pessoa humana.
Requer, ao final, o conhecimento e o provimento
do recurso, para ser acatada a preliminar e, em consequência,
cassada a sentença, ou, em caso contrário, a reforma da sentença,
para ser reconhecido seu direito à partilha do bem imóvel rural e das
benfeitorias nele realizadas, tendo em vista que aquele foi doado
verbalmente logo após o casamento realizado no dia trinta de julho
de 1970, e onde o casal residiu por mais de trinta anos.
Requer, ainda, o pronunciamento expresso, em
razão do prequestionamento, da matéria estatuída no art. 1.667, do
CC, e art. 1º, III, e art. 5º, X, da Constituição Federal, para garantir a
interposição futura de recursos aos Tribunais Superiores.
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Trouxe com o recurso os documentos de fls.
267/268.
Isento de preparo.
Juízo positivo de admissibilidade em fl. 269.
A apelada, em fl. 270 verso, reiterou as
alegações finais apresentadas em fls. 186/189, e requereu fosse
acatado o parecer ministerial de fls. 208/213.
A manifestação do Ministério Público de
primeiro grau, pela admissibilidade do recurso, se encontra em fl.
276.
Recebidos os autos, foi dada vista deles à
Procuradoria-Geral de Justiça. Aquela, por intermédio da Dra. Eliete
Sousa Fonseca Suavinha, em fls. 284/293, manifestou-se pelo
conhecimento e parcial provimento do recurso, para ser reconhecido
o direito do apelante tão-somente à meação das benfeitorias feitas
no imóvel durante a constância do casamento.
É o relatório.
Nos termos do art. 69, da Lei nº 10.741/2003 –
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Estatuto do Idoso -, combinado com os artigos 550 e 551, § 3º, do
Código de Processo Civil, passo ao voto.
Preenchidos os requisitos de admissibilidade,
tendo em vista a interposição de embargos de declaração pelo
apelante em fls. 224/230, e sua rejeição em fls. 238/239, tomo
conhecimento do recurso.
Como visto, cinge-se a irresignação do
requerido/apelante contra a sentença proferida nos autos da "ação
ordinária de separação judicial" ajuizada em seu
desfavor pela requerente/apelada, Bárbara Gonçalves de Oliveira,
que julgou procedente o pedido inicial, decretando o divórcio do
casal, e reconheceu a incomunicabilidade do bem imóvel havido por
sucessão, pautado na norma impeditiva disposta no artigo 1.659, I,
do Código Civil.
Analiso, inicialmente, a preliminar arguida de
julgamento extra petita, em razão de o julgador ter concedido
pedido diverso do formulado na inicial, qual seja, decretou o divórcio
das partes quando o pedido, bem como sua fundamentação, se
ateve a ação de separação judicial litigiosa.
Sem nenhuma razão o apelante.
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Infere-se, pelo termo de audiência de fl. 183,
que as partes litigantes, muito embora não tenham aceitado proposta
de conciliação, concordaram com a transformação da separação
judicial em divórcio, em razão do tempo decorrido.
Dessa forma, tendo as partes anuído quanto a
alteração do pedido, não há que se falar em julgamento extra
petita, tampouco em nulidade da sentença. Desacolho, portanto,
a preliminar deduzida.
Quanto a ausência do nome do advogado,
Ricardo Marques Brandão, que o acompanhou à audiência na
procuração de fl. 23, registre-se que o ora apelante compareceu ao
ato com aquele advogado de forma espontânea, e, mesmo que se
considerasse a apontada irregularidade de representação, que
sequer foi questionado naquele ato pelo ora recorrente, a ausência
de mandato foi sanada com a juntada de substabelecimento,
conferindo-lhe todos os poderes outorgados na procuração de fl. 23,
ou seja, com amplos poderes para o foro em geral e com cláusula ad
judicia, e dentro do prazo estipulado pelo artigo 37, do Código
de Processo Civil (fls. 184/185).
Destarte, diante do transcurso do tempo da
separação de fato dos litigantes, não há que se falar em óbice para a
decretação do divórcio, mesmo porque, não existe nenhuma
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comprovação, nem mesmo alegação, de que a decisão tenha
acarretado qualquer prejuízo às partes.
Passo à análise, agora, do alegado direito à
partilha do bem imóvel rural onde o casal residiu durante a
constância do casamento, o qual, segundo o apelante, foi doado
verbalmente a eles pelos sogros, no dia do casamento.
Segundo o artigo 538, do Código Civil:
"Considera-se doação o contrato em que uma pessoa,
por liberalidade, transfere do seu patrimônio bens
ou vantagens para o de outra."
Também o artigo 541: "A doação far-se-á
por escritura pública ou instrumento particular.
Parágrafo único. A doação verbal será válida, se,
versando sobre bens móveis e de pequeno valor, se
lhe seguir incontinenti a tradição." (Negrito não original)
Extrai-se dos artigos acima citados, que a
doação de bem imóvel, por ser contrato translativo de direito real,
exige a forma solene, qual seja, por escritura pública ou instrumento
particular, e não verbalmente como afirmado pelo apelante.
Em comentário aos referidos artigos, veja-se a
3 AC 262541-57/ers 7
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lição do professor Carlos Roberto Gonçalves, in Direito Civil
Brasileiro, São Paulo:Saraiva, v. III, 3. ed., 2007, p. 254 e 258, in
verbis:
"Doação, define o Código Civil no
art. 538, é 'o contrato em que uma
pessoa, por liberalidade, transfere
do seu patrimônio bens ou vantagens
para o de outra'. [...] A doação é,
portanto, em geral, formal ou
solene, porque a lei impõe a forma
escrita, por instrumento público ou
particular (art. 541, caput), salvo
a de bens móveis de pequeno valor,
que pode ser verbal (parágrafo
único). A lei não tolera,
realmente, a liberdade de forma,
optando por inscrever a doação
entre os contratos formais, como
regra. Mesmo nas doações de bens
móveis de pequeno valor a tradição
é indispensável. A eficácia da
liberalidade está condicionada à
observância da forma prescrita na
lei, não produzindo efeitos
3 AC 262541-57/ers 8
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jurídicos pelo simples
consentimento (solo consensu). Na
realidade, impõe a lei forma
escrita (CC, art. 541), seja móvel
ou imóvel o seu objeto. Trata-se,
portanto, de contrato formal."
A jurisprudência caminha no mesmo sentido,
conforme se infere dos seguintes julgados:
"APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE
INDENIZAÇÃO. PROMESSA DE DOAÇÃO.
PROVA TESTEMUNHAL. CERCEAMENTO DE
DEFESA. INOCORRÊNCIA. DOAÇÃO VERBAL
DE IMÓVEL. IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA
DO PEDIDO. EXTINÇÃO DO ROCESSO SEM
RESOLUÇÃO DO MÉRITO. ART. 267, VI,
DO CPC. I - Inexiste cerceamento do
direito de defesa ante a ausência de
oitiva de testemunha, por ser
inadmissível tal prova oral para
comprovar a doação verbal de imóvel
em que a lei exige forma especial,
qual seja, escritura pública ou
instrumento particular, mormente
3 AC 262541-57/ers 9
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quando a lei permite ao juiz da
causa indeferir a inquirição de
testemunhas sobre fatos que só por
documentos puderem ser provados e
exige forma expressa para a validade
da doação do imóvel. Exegese dos
arts. 104, 107, 166, II e IV, do CC
e art. 400, II, do CPC. II - O
pedido de indenização formulado em
razão de promessa de doação verbal
de imóvel revela-se juridicamente
impossível quando a legislação nega
que tal fato possa gerar direitos,
máxime se a lei exige a forma
escrita para a prática do ato, seja
sob a forma de escritura pública ou
instrumento particular, conforme
regra expressa do art. 541, caput,
do Código Civil. Recurso de apelação
cível conhecido, mas improvido."
(TJGO, 1ª Câmara Cível, AC nº 155270-9/188,
DJ 567 de 29/04/2010, Rel. Des. João Ubaldo
Ferreira).
"EXTINÇÃO DO PROCESSO. IMPOSSIBILI-
3 AC 262541-57/ers 10
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DADE JURÍDICA DO PEDIDO. Caso em que
informada a inexistência do
documento escrito de transferência
dos direitos de compromissário
comprador, não se justifica a
declaração judicial de sua
ocorrência. Recurso improvido."
(TJSP, 9ª Câm de Dir. Privado, AC nº
4888384900, Registro de 03/03/2009, Acórdão
de 03/02/2009, Rel. Des. José Luiz Gavião de
Almeida).
"AÇÃO DE ADJUDICAÇÃO. IMÓVEL. DOAÇÃO
VERBAL. IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA.
Mera posse de imóvel não confere o
direito à adjudicação, cabendo a
ação de usucapião se transcorrido o
prazo necessário. Doação verbal de
imóvel não produz efeito jurídico,
por ser exigida a escritura pública.
Apelação improvida." (TJMG, 1ª CC, AC
nº 3646904-44.2000.8.13.0000, Publicado em
15/03/2003, Rel. Des. Vanessa Verdolim
Hudson Andrade).
3 AC 262541-57/ers 11
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Portanto, tendo em vista a ausência de
comprovação de que a suposta doação se revestiu das formalidades
exigidas, não há como encampar o pedido de partilha do bem
imóvel, em razão de tal pedido ser juridicamente impossível.
Ultrapassada a questão da doação verbal,
observa-se que o apelante pretende, ainda, a meação do imóvel
rural, em virtude do falecimento dos pais da apelada.
Para tanto, ampara seu pedido no fato de seu
casamento ter adotado o regime de comunhão universal, e, diante do
falecimento de seus sogros, teria direito à metade da herança
destinada à autora/apelada.
De acordo com o artigo 1.667, do Código Civil:
"O regime de comunhão universal importa a
comunicação de todos os bens presentes e futuros
dos cônjuges e suas dívidas passivas, com as
exceções do artigo seguinte."
Entretanto, é incontroverso nos autos que, no
momento da abertura da sucessão do sogro (06/06/2003) e da sogra
(01/04/2005), o apelante encontrava-se separado de fato da
autora/apelada há mais de um ano no primeiro caso e há muito mais
no segundo, levando-se em conta o ajuizamento da ação, que
3 AC 262541-57/ers 12
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ocorreu em 16/04/2002, situação, inclusive, relatada por ambos os
litigantes.
Desse modo, tendo a sucessão sido aberta
após a separação de fato dos litigantes, é certo que não existe o
direito do apelante à partilha do imóvel inventariado.
Neste sentido, confiram-se os seguintes
julgados, in verbis:
"DIREITO CIVIL. FAMÍLIA. SUCESSÃO.
COMUNHÃO UNIVERSAL DE BENS.
INCLUSÃO DA ESPOSA DE HERDEIRO, NOS
AUTOS DE INVENTÁRIO, NA DEFESA DE
SUA MEAÇÃO. SUCESSÃO ABERTA QUANDO
HAVIA SEPARAÇÃO DE FATO.
IMPOSSIBILIDADE DE COMUNICAÇÃO DOS
BENS ADQUIRIDOS APÓS A RUPTURA DA
VIDA CONJUGAL. RECURSO ESPECIAL
PROVIDO. [...] 2. Não faz jus à
meação dos bens havidos pelo marido
na qualidade de herdeiro do irmão,
o cônjuge que encontrava-se
separado de fato quando transmitida
a herança. 3. Tal fato ocasionaria
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enriquecimento sem causa, porquanto
o patrimônio foi adquirido
individualmente, sem qualquer
colaboração do cônjuge. 4. A
preservação do condomínio
patrimonial entre cônjuges após a
separação de fato é incompatível
com orientação do novo Código
Civil, que reconhece a união
estável estabelecida nesse período,
regulada pelo regime da comunhão
parcial de bens (CC 1.725). 5.
Assim, em regime de comunhão
universal, a comunicação de bens e
dívidas deve cessar com a ruptura
da vida comum, respeitado o direito
de meação do patrimônio adquirido
na constância da vida conjugal.
[...]." (STJ, Quarta Turma, REsp
555771/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe
18/05/2009).
"CIVIL E PROCESSUAL. SOCIEDADE
CONJUGAL. SEPARAÇÃO DE FATO. AÇÃO
DE DIVÓRCIO EM CURSO. FALECIMENTO
3 AC 262541-57/ers 14
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DO GENITOR DO CÔNJUGE-VARÃO.
HABILITAÇÃO DA ESPOSA. IMPOSSIBILI-
DADE. I - Não faz jus à sucessão
pelo falecimento do pai do cônjuge-
varão, a esposa que, à época do
óbito, já se achava há vários anos
separada de fato, inclusive com
ação de divórcio em andamento. II -
Recurso especial conhecido e
provido, para excluir a recorrida
do inventário." (STJ, Quarta Turam, REsp
226288/PA, Rel. Min. Aldir Passarinho Júnior,
DJ 30/10/2000, p. 161).
E mais:
"APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE SEPARAÇÃO
LITIGIOSA C/C ALIMENTOS.
EXONERAÇÃO. AUSÊNCIA DE PROVA.
IMPOSSIBILIDADE. PARTILHA DE BENS
ADVINDOS DE HERANÇA. ASSISTÊNCIA
JUDICIÁRIA. ÔNUS DE SUCUMBÊNCIA.
[...]. 2 - Os bens adquiridos por
um dos cônjuges, mediante herança,
na constância do casamento sob o
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regime da comunhão universal, são
partilháveis entre os cônjuges,
enquanto que os herdados por um
deles após a separação de fato do
casal, não integram a meação do
outro.[...]. Apelação conhecida e
desprovida." (TJGO, 6ª Câmara Cível, AC
nº 200693799277, DJe 679 de 13/10/2010, Rel.
Des. Jeová Sardinha de Moraes).
"APELAÇÃO CÍVEL EM AÇÃO DE
SOBREPARTILHA. BENS ADQUIRIDOS POR
HERANÇA DURANTE A SEPARAÇÃO DE
FATO. I - Não integra o patrimônio
partilhável, os bens havidos por
herança após a separação de fato,
que serviu de pressupostos para o
divórcio judicial. Recurso
conhecido e improvido." (TJGO, 4ª
Câmara Cível, AC nº 64347-2/188, DJ 13.951
de 24/01/2003, Rel. Dr. Camargo Neto).
A separação de fato caracteriza-se tanto pela
existência de elemento subjetivo, quando de elemento objetivo. "O
elemento objetivo é a própria separação, passando
3 AC 262541-57/ers 16
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os cônjuges a viver em tetos distintos, deixando,
por outras palavras, de cumprir o deve de
coabitação, no mais amplo sentido da expressão. O
elemento subjetivo é o animus de dar como encerrada
a vida conjugal, comportando-se como se o vínculo
matrimonial fosse dissolvido." (GOMES, Orlando, Direito
de Família, 14. ed., Rio de Janeiro:Forense, 2001. p. 25).
Nesse contexto, sua configuração implica o fim
do affectio maritalis entre os cônjuges, que passam a se
portar como se casados não fossem. Logo, mostra-se desprovido de
bom senso mantê-los vinculados pelo regime patrimonial, quando
desejosos de romper todas as relações próprias da vida conjugal.
Por um lado, autorizar a comunicação dos bens
adquiridos no período de separação de fato - sobretudo na espécie,
em que já transcorrido termo necessário ao divórcio direto (art. 40 da
Lei 6.515/77) - representaria enriquecimento sem causa daquele que
não participou de sua aquisição, visto que, com a ruptura da vida em
comum, os acréscimos patrimoniais, via de regra, passam a ser
amealhados individualmente, sem qualquer contribuição do outro
cônjuge.
Deveras, a comunhão de bens, mesmo no
regime da comunhão universal, pressupõe a colaboração recíproca
3 AC 262541-57/ers 17
Gabinete do Desembargador Alan Sebastião de Sena Conceição___________________________________________
de ambos os cônjuges.
Vale registrar a lição de Cristiano Chaves de
Farias e Nelson Rosenvald, acerca da controvérsia:
"É sempre oportuno lembrar que o
estado de comunhão universal
somente perdura enquanto o casal
estiver convivendo e, via de
consequência, houver colaboração
recíproca. Cessada a ajuda mútua
pela separação de fato, não mais se
comunicam os bens adquiridos
individualmente, bem como não se
dividem as obrigações assumidas por
cada um. O Superior Tribunal de
Justiça vem conferindo efetividade
a este entendimento, assegurando
que o cônjuge separado de fato 'não
faz jus aos bens adquiridos
posteriormente a tal afastamento,
ainda que não desfeitos,
oficialmente, os laços mediante
separação judicial' (STJ, Ac unân.
4ª T., REsp 32218/SP, rel. Min.
3 AC 262541-57/ers 18
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Aldir Passarinho Jr., j. 17.5.01,
p. 224, in Revista dos Tribunais
796:200). Ademais, o art. 1.723, §
1º, do próprio Código Civil,
reconheceu a possibilidade de
constituição de união estável entre
pessoas ainda casadas, porém
separadas de fato. Em acréscimo, o
art. 1.725 mandou aplicar as regras
da comunhão parcial nas uniões
estáveis. Diante desse quadro,
considerando que o separado de fato
já pode estar em união estável,
inclusive comunicando os bens
adquiridos onerosamente, somente se
pode concluir que a simples
separação de fato é suficiente para
cessar a comunhão de bens." (FARIAS,
Cristiano Chaves de e ROSENVALD, Nelson, in
Direito das Famílias, Rio de Janeiro:Lumen
Juris, 2008, p. 262/263).
Desse modo, a comunicação de bens e dívidas
deve subsistir apenas durante o período de convivência do casal,
cessando com o fim da vida comum, ainda que não oficializada
3 AC 262541-57/ers 19
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mediante separação judicial.
Destarte, em que pese a inexistência do direito
do apelante à meação do imóvel rural, deve-se ponderar que ele,
durante o longo tempo em que naquele residiu, edificou diversas
benfeitorias, conforme alegado em fls. 201/202, fazendo jus à sua
meação, a ser oportunamente apurada em liquidação de sentença.
Pelo exposto, já conhecido o recurso, dou-lhe
parcial provimento, para reconhecer o direito do apelante tão-
somente à meação das benfeitorias feitas no imóvel onde residiu
durante a constância do casamento.
É como voto.
Goiânia, 25 de agosto de 2011.
ALAN SEBASTIÃO DE SENA CONCEIÇÃO
RELATOR
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COMARCA DE SENADOR CANEDO
APELANTE : OSMAR PONTES DE OLIVEIRA
APELADA : BÁRBARA GONÇALVES DE OLIVEIRA
RELATOR : DES. ALAN SEBASTIÃO DE SENA CONCEIÇÃO
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. SEPARAÇÃO
JUDICIAL. JULGAMENTO EXTRA PETITA.
IRREGULARIDADE DE REPRESENTAÇÃO.
INOCORRÊNCIA. BEM IMÓVEL. DOAÇÃO
VERBAL. INADMISSIBILIDADE. CASA-
MENTO. REGIME DA COMUNHÃO
UNIVERSAL. SEPARAÇÃO DE FATO. BEM
IMÓVEL HAVIDO POR HERANÇA.
COMUNICABILIDADE. IMPOSSIBILIDADE. I -
Constatado que as partes, considerando o
tempo decorrido, concordaram com a
transformação da separação judicial em
divórcio, não há que se falar em concessão de
pedido diverso do formulado na inicial, ante a
decretação do divórcio, tampouco em
julgamento extra petita. II - Sanada a
irregularidade de representação do advogado
dentro do prazo estipulado pelo artigo 37, do
3 AC 262541-57/ers 1
Gabinete do Desembargador Alan Sebastião de Sena Conceição___________________________________________
CPC, torna-se inócua qualquer alegação de
nulidade dos atos por ele praticados, mormente
se o próprio representado nada questionou no
ato. III - A doação de bem imóvel deve,
obrigatoriamente, ser precedida das
formalidades legais, de conformidade com a
regra expressa do art. 541, caput, do Código
Civil, sendo juridicamente impossível o pedido
de partilha de bem que não atendeu às
formalidades pertinentes. IV - Em regime de
comunhão universal, a comunicação de bens
cessa com a ruptura da vida em comum. Dessa
forma, comprovado nos autos que o casal já
estava separado de fato quando transmitida a
herança pela morte dos pais da mulher/apelada,
não faz o marido/apelante jus à meação dos
bens havidos por aquela na qualidade de
herdeira dos pais. V - Realizadas benfeitorias no
imóvel, havido por herança, durante a
constância da vida conjugal, deve ser respeitado
o direito de meação daquelas ao cônjuge-
varão/apelante, a serem oportunamente
apuradas em liquidação de sentença.
RECURSO DE APELAÇÃO CONHECIDO E
PARCIALMENTE PROVIDO.
3 AC 262541-57/ers 2
Gabinete do Desembargador Alan Sebastião de Sena Conceição___________________________________________
ACÓRDÃO
VISTOS, relatados e discutidos estes autos, em
que são partes as retro indicadas.
ACORDA o Tribunal de Justiça do Estado de
Goiás, em sessão pelos integrantes da Primeira Turma Julgadora da
Quinta Câmara Cível, à unanimidade de votos, em conhecer do
recurso e lhe dar parcial provimento, nos termos do voto do relator.
FEZ sustentação oral o Dr. Orimar de Bastos
Filho, pelo apelante.
VOTARAM com o relator, que também presidiu
a sessão, o Drº. Roberto Horácio de Rezende (substituto do Des.
Geraldo Gonçalves da Costa) e o Des. Hélio Maurício de Amorim.
REPRESENTOU a Procuradoria Geral de
Justiça a Dra. Laura Maria Ferreira Bueno.
Goiânia, 25 de agosto de 2011.
ALAN SEBASTIÃO DE SENA CONCEIÇÃO
RELATOR
3 AC 262541-57/ers 3
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