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Arquivo Público do Estado de São Paulo
“O(s) uso(s) de documentos de Arquivo em Sala de Aula: Proposta de Sequência Didática”
Marina A. Leonaldo Universidade de São Paulo-USP
Tema: Movimento Constitucionalista de 1932 Título: A mulher em 1932 e sua época
2013
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“A revolução paulista transformou-se, calados os canhões, numa guerra literária. Gastaram-se mais palavras para descrevê-la do que fitas de metralhadora para
sustentá-la”. Menotti del Picchia
1. Tema
Movimento Constitucionalista de 1932
2. Justificativa
O Movimento Constitucionalista de 1932 merece atenção dentro do Componente
Curricular República, pois nos possibilita entender e trabalhar questões que se inserem
numa temática maior, a chegada de Getúlio Vargas ao poder, e a nova situação política
que a Revolução de 30 criou e que as oligarquias paulistas depararam-se. O
Movimento é episódio central na História Paulista e ocupa papel de destaque em
nossa República.
Não podemos ignorar o fato de que o movimento Constitucionalista serviu de
expressão da unidade na luta pela democracia, e uma representação na memória de
que indivíduos teriam se sacrificado em favor de uma idéia que os ultrapassava: a
defesa de princípios políticos, como a causa da Constituição e da autonomia regional
(ABREU, 2011).
A escolha do termo Revolução para designar “Revolução de 32” pode ser
problemática e envolve uma discussão maior, se a Revolução de 32 foi de fato uma
Revolução ou uma revolta, um movimento, e porque é chamada de Revolução pela
Historiografia, além de uma definição do termo Revolução, que envolve mudanças e
significações no termo ao longo da História. Para esta Sequência Didática definimos
Revolução como um processo de mudança das estruturas sociais, e por isso o termo
utilizado é Revolta Paulista ou Movimento Constitucionalista. Utilizar o termo
Revolução seria defender a hipótese de que ela trouxe profundas alterações sociais, o
que não cabe a esta Sequência. A escolha de um termo ou outro não ocorre sem
Consequências1, porém é uma escolha.
O problema que existe no termo Revolução está em seu emprego político, pois é
utilizado muitas vezes com o sentido de golpe ou reforma. Somente com a Revolução
Francesa o termo ganhou o significado que se tem hoje: mudança estrutural,
1 SILVA, Kalina Vanderlei. SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos. 2.ed. São Paulo: Contexto, 2009.
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convulsiva e insurrecional. Assim como a contextos históricos, como a Revolução
Francesa, Industrial, e outras, Revolução como categoria de análise, significa todo e
qualquer fenômeno que transforma radicalmente as estruturas de uma sociedade2.
Durante a pesquisa documental me chamou atenção diversos documentos e suas
possibilidades de trabalho, porém, como a Sequência visa ser trabalhada em Sala de
Aula e sabemos que o tempo é fator que delimita, aqui foi selecionado apenas um
tema, a mulher em 1932.
As atividades pretendem problematizar o papel da mulher em 32 e em sua época,
ela teve participação? Como? Qual era seu papel na sociedade nos anos 30? Hoje, qual
seria seu papel numa guerra? Por que tiveram destaque na imprensa?
Para isso, foram utilizados documentos de Arquivo e um texto que visa aprofundar
o tema.
Esta Sequência Didática não pretende esgotar o tema, muito menos trabalhar
todas as questões que apareceram e possibilidades de temas como o Separatismo, as
propagandas de época, as notícias de jornal, o negro na Revolução e outros, apenas
tem como objetivo trabalhar a questão da mulher, sendo este um tema atual, que
permite fazer relações com o presente, e representações do passado.
3. Objetivos
Análise de documentos de Arquivo como possibilidade de trabalho em Sala de
Aula;
Desenvolvimento de competências leitoras e interpretativas;
Aprofundamento de tema;
Interpretação de texto, notícias e imagens;
Desenvolver leitura crítica;
Fazer relações a partir da leitura e interpretação de texto;
Conhecer documentos e diferentes suportes;
Desenvolver propostas pedagógicas, sugerir temas para criação de Sequências
Didáticas, Planos de Aulas e Atividades;
4. Componente Curricular
Brasil República – Movimento Constitucionalista de 1932
2ibid., p. 2
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5. Ano (série)
9º ano ou Ensino Médio
6. Tempo Previsto
Seis aulas
7. Desenvolvimento e conteúdo das atividades
1ª aula: As atividades propostas deverão iniciar após a aula com o conteúdo
relacionado à Revolução de 32. As atividades têm como objetivo aprofundar o tema,
pois muitas vezes pelo tempo, alguns tópicos são negligenciados em sala, mas é
necessário que os alunos tenham tido contato com o contexto da época para o bom
desenvolvimento da Sequência. Para isso será trabalhado previamente a Revolução de
30, a chegada de Getúlio Vargas ao poder e a nova situação política que o Brasil e São
Paulo se inserem. Se estes temas já foram trabalhados em ano anterior ou por outro
professor, poderá ser feito um trabalho de retomada de conteúdo.
2ª aula: Após a aula de conteúdo relacionado, a segunda aula será com
conteúdo da Revolução de 32. Esta aula pretende preencher os quesitos para
entendimento do contexto: o que foi a Revolução de 32, quando, onde, por quê?
Nomes envolvidos, M.M.D.C, São Paulo no contexto da Revolução de 30, o que a
revolta pretendia? Os objetivos foram atingidos? Esta aula se realizará com texto e
material didático e envolverá apresentação do conteúdo pelo professor.
3ª aula: Inicia com o documentário Pro Brasilia Fiant Eximia que serve como
fechamento da aula anterior e retomada para as atividades da Sequência. A escolha do
vídeo é para haver um material audiovisual que chame atenção dos alunos para que as
aulas não sejam tão maçantes e tradicionais. O vídeo escolhido encontra-se no site do
Memorial do Imigrante, na exposição de 1932: Acervos e Memórias3. Após o vídeo
haverá um debate sobre o documentário, quem são os entrevistados, os 80 anos da
Revolução e perguntas dos alunos.
Link para o vídeo: <http://vimeo.com/45768641> - 22:02 minutos.
3 Disponível em: <http://www.memorialdoimigrante.org.br/1932/home/>. Acesso em 13 de setembro de 2013.
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Resumo: Através de imagens de época e entrevistas o documentário trata a
Revolução de 32 que é conhecida por São Paulo pegar em armas contra o governo de
Getúlio Vargas em busca de uma Constituição.
4ª aula: A quarta aula entra no tema da Sequência, a Mulher na Revolta de 32 e
em sua época. Para esta aula serão utilizadas as atividades da SD e os documentos do
Arquivo.
Será entregue folhas com os documentos reproduzidos e as atividades, assim
como modelo da SD. A opção de mostrar os documentos em Power Point ou outro
suporte facilita em relação à questão de impressões, porém cada grupo analisa os
documentos em um ritmo e a aula ficaria desorganizada se cada grupo precisasse
visualizar os documentos em uma ordem e eles estivessem disponíveis para consulta
no computador ou outro suporte, por isso foi feita a escolha de trazer os documentos
impressos para cada grupo. As atividades serão realizadas em grupos de quatro alunos
(no máximo quatro), para que os alunos possam analisar e discutir as imagens e
questões.
Após a entrega dos documentos e atividades, iremos contextualizá-los juntos:
- Origem;
- Data;
- Local de Produção;
- Suporte;
- Visualizar os documentos disponíveis no site do Arquivo4;
As legendas servem como referência para localização de datas, e o que é
aquele documento/imagem. Serão mostrados os documentos em tamanho menor,
mas sua página inteira (jornal, revista) para uma melhor contextualização5. Os alunos
deverão participar desta contextualização trazendo informações.
É importante que nesta aula os alunos comecem a responder as questões, mas
seu fechamento será na quinta aula.
5ª aula: Término das atividades da SD (atividades e respostas), e fechamento
desta atividade com um debate. É importante deixar um espaço que não seja só o de
4 <http://www.arquivoestado.sp.gov.br/> 5 Serão mostrados em tamanho maior, como a página inteira do jornal aqueles documentos que não estiverem inteiros já na SD. Para ver tais documentos, ver Anexos.
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responder questões, para que os alunos falem de suas percepções, dúvidas e
curiosidades.
Entrega do texto base (Mulheres no Parlamento Brasileiro, Carlota Pereira de
Queirós, de Ricardo Oriá) para a atividade de aprofundamento (Avaliação) que deverá
ser lido em casa, pois possui sete páginas.
6ª aula: A última aula será de aprofundamento, que servirá como avaliação.
Esta atividade deverá ser feita em classe e individualmente, e serão exigidas leitura e
interpretação de texto. Cada aluno receberá a folha com questões a serem
respondidas e alguns trechos do texto base, pois como o texto é longo seria um
impedimento de tempo para realizar a avaliação em uma aula. O texto base, Mulheres
no Parlamento Brasileiro, Carlota Pereira de Queirós, de Ricardo Oriá. Através da
biografia de Carlota, o texto pretende resgatar a participação e luta das mulheres no
processo histórico nacional.
Carlota foi personagem da Revolução de 32 e teve importante papel na luta
pelos direitos femininos em nossa história, por isso foi escolhida como personagem
desta atividade.
A Mulher em 32 e sua época
Doc 1.
CORREIO DE S.PAULO. São Paulo, p.4, 8 ago. 1932. Acervo APESP.
7
Doc 2.
A GAZETA. São Paulo, p.1, 27 julho de 1932. Acervo APESP
Doc 3.
A GAZETA. São Paulo, p. 15, 9 jul. 1957. Acervo APESP
8
Doc 4.
TRIBUNA DE SÃO PAULO. Página Feminina. São Paulo, p.6, 11 jul.de 1957. Acervo APESP.
Excertos do texto selecionado acima
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Transcrição de trechos do texto selecionado acima:
“Em nome da mulher paulista falaram as senhoras católicas, as senhoras evangélicas, as senhoras espíritas e espiritualistas, professoras e damas do escól social. Todas no mesmo diapasão.
A mulher operária e as mães dos soldados anônimos, não puderam falar em nome da Mulher Paulista.
Mulher Paulista! Por ventura se restringe, a mulher paulista, ás categorias acima mencionadas, e
as operárias, as mulheres das classes dos humildes, serão excluídas do direito de nacionalidade?”
“Na classe dos de lá de cima, assim como na classe cá de baixo, existem mulheres de vários aspectos intelectuais. Existem as de cérebro completamente nulo que só se ocupam de cinemas, bailes e festas mundanas e existem as que se dão ao cuidado de outros assuntos. Por exemplo, nós vimos as que tão dedicadamente se preocuparam com os serviços da guerra, entregando-se á confecção de costura e á leitura de discursos inflamados pelo radio e pela imprensa, num esforço de heroínas, promovendo a campanha cívica, para que os homens não se furtassem ao sacrifício.
Mas as Valquírias denodadas, que pela imprensa e pelo radio, imprimiam valor ao verbo, atormentando-nos, noites e dias, por longas horas ao microfone, num suplício inquisitorial, não eram mães e não eram esposas, com certeza...”.
“Entre as mulheres da minha classe também existem as mulheres frívolas que de tudo tiram proveito para se divertirem e vão á missa aos domingos. Mas mesmo assim durante a guerra fratricida essas mulheres se mantiveram respeitosas ante a amargura geral de três mezes de dôr e apreensão”.
“E dentre elas, dentre as mulheres proletárias, que não podiam se manifestar
falando com o coração, pelo radio e pela imprensa, em nome da mulher paulista, surgiram as mulheres uteis, as que pensavam nas cousas graves, para gaudio da humanidade – que tem nas suas humildes criaturas a sua gloria, a sua honra, a sua esperança – e verificou-se muita dedicação pela sorte das vitimas cégas da indústria da guerra.
Nos trevosos dias dos mezes de Julho, Agosto e Setembro, enquanto as almas simples, crentes das varias religiões impostôras, se reuniam nos templos, em suas orações pró-paz, as mulheres do povo trabalhador, evoluídas para as idéas avançadas, livres dos tolos e enganosos preconceitos religiosos, sem se poderem manifestar francamente, agiram, no entanto, com mais eficiência do que as rogadoras - que ao mesmo tempo que recomendavam as orações excitavam o ódio regional – fazendo circular entre o elemento masculino uma exortação á bondade e ao pacifismo que saiu da pena generosa do grande escritor russo, já falecido, conde Leão Tolstói”.
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1. A partir das imagens acima, responda:
a) As imagens 1, 2, 3 representam atividades que as mulheres exerceram na
Revolução Paulista de 1932. Que atividades são estas?
2. Responda de acordo com os documentos 1, 2 e 3:
a) Estas imagens mostram atividades do cotidiano feminino?
b) Qual imagem representa melhor o papel da mulher nos anos 30?
c) Você acha que as formas de participação da mulher estavam relacionadas
às funções que se esperavam dela na sociedade?
3. Leia atentamente o documento 4.
a) Qual é a sua data?
b) Qual o tipo de documento?
c) Onde ele foi veiculado?
d) Para quem ele se destina?
e) Qual é seu objetivo?
4. O documento 4 está na Página Feminina do jornal Tribuna de São Paulo. De
acordo com o texto qual é o papel que a mulher desempenha? Cite exemplos.
5. Ao longo dos anos as mulheres se libertaram das amarras da sociedade e
conquistaram diversos espaços e funções que antes não lhes eram permitidas.
Você pode citar algumas mudanças?
6. Faça uma reflexão a partir do seguinte texto: “Nesse contexto, a duração
imprevista da Revolução de 1932 (quase três meses), onde os paulistas acabam
lutando sozinhos contra o governo central, improvisando forças e munições,
abre às mulheres das elites uma chance única de exercício intensivo da
cidadania”.
7. Que mulheres você conhece que desempenharam importantes papéis em
revoltas e outros momentos da História?
8. Sobre o Documento 5 responder:
a) Qual a data em que foi escrito?
b) Onde foi publicado?
c) A partir do texto é possível inferir quem é o autor?
d) Quais seriam as duas classes de mulher paulistas que o autor cita? Qual a
problemática que o autor vê entre essas duas classes?
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e) O autor discursa em defesa de uma classe. Por quê?
f) Qual é a crítica que o autor faz a outra classe?
g) Qual a relação do discurso do autor com a questão da exclusão do direito à
cidadania que ele cita?
h) De acordo com o autor, de onde surgiu “as mulheres úteis”?
i) De acordo com o texto, quem é a mulher paulista e quais suas
características?
9. A partir do teor, conteúdo e forma do texto é possível inferir qual é o público
alvo do jornal?
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Aprofundamento
Esta atividade tem como objetivo aprofundar a questão da mulher na
Revolução Constitucionalista e em sua época. Para isso sugerimos trabalhar o texto
Mulheres no Parlamento Brasileiro, Carlota Pereira de Queirós, de Ricardo Oriá.
Através da biografia de Carlota, o texto pretende resgatar a participaçãoa e luta
das mulheres no processo histórico nacional.
Após a leitura do texto, responder as questões abaixo.
1. A Federação Brasileira pelo Progresso Feminino é considerada a primeira
sociedade feminista brasileira. Quais eram seus objetivos? Por quê?
2. Quais são as figuras femininas que fizeram diferença por sua atuação que são
citadas no texto?
3. Qual o percurso de conquista do voto feminino?
4. Carlota pertencia a uma família tradicional da elite local e formou-se na Escola
Normal da Praça e recebeu seu diploma de professora.
a) Até os anos 20 Carlota dedica-se a qual função? Esta função era esperada por
sua classe e formação?
b) O espaço que ela passa a ocupar profissionalmente após sua desilusão com o
magistério era comumente era ocupado por mulheres?
c) Quando inicia a participação política de Carlota? De que forma?
d) Carlota seguiu o caminho que se esperava de uma mulher nos anos 20 e 30?
5. De acordo com o texto, em qual contexto se formou a “Chapa Única por São
Paulo Unido”?
6. Nos anos 20 houve diversos eventos que contestavam a República Velha, quais
foram estes eventos?
7. De que forma a divergência entre Carlota e Bertha Lutz fez com que o projeto
do Estatuto da mulher não avançasse? Qual era a principal crítica de Carlota ao
projeto?
8. Qual foi o legado de Carlota à cidadania feminina no Brasil?
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Trechos do texto Mulheres no Parlamento Brasileiro, Carlota Pereira de Queirós, de
Ricardo Oriá
“Em 1910, seguindo uma tendência mundial do movimento sufragista, a
professora carioca Deolinda Daltro funda o Partido Republicano Feminino, defendendo
o direito de voto para as mulheres e a abertura dos cargos públicos a todos os
brasileiros, indistintamente.
A década de 20 do século passado assistiu importantes movimentos de
contestação à ordem vigente. Somente no ano de 1922, tivemos importantes
acontecimentos que colocavam em xeque a República Velha, a saber: Semana de Arte
Moderna, Movimento Tenentista e fundação do Partido Comunista do Brasil. Nesse
contexto, não podemos esquecer a emergência do movimento feminista, tendo à frente
a professora Maria Lacerda de Moura e a bióloga Bertha Lutz, que fundaram a Liga
para a Emancipação Internacional da Mulher, um grupo de estudos cuja finalidade era
a luta pela igualdade política das mulheres. Posteriormente, Bertha Lutz6, que irá ser a
segunda mulher a ocupar uma cadeira na Câmara dos Deputados, cria a Federação
Brasileira pelo Progresso Feminino, considerada a primeira sociedade feminista
brasileira. Essa organização tinha como objetivos básicos: “promover a educação da
mulher e elevar o nível de instrução feminina; proteger as mães e a infância; obter
garantias legislativas e práticas para o trabalho feminino; auxiliar as boas iniciativas
da mulher e orientá-la na escolha de uma profissão; estimular o espírito de
sociabilidade e cooperação entre as mulheres e interessá-las pelas questões sociais e
de alcance público; assegurar à mulher direitos políticos e preparação para o exercício
inteligente desses direitos; estreitar os laços de amizade com os demais países
americanos”.
“Vargas era simpatizante à causa feminista, sobretudo no tocante ao direito de
voto. Assim, em 1932, foi promulgado o novo Código Eleitoral, de cuja comissão de
redação Bertha Lutz havia participado, e que finalmente assegurou o direito de voto às
mulheres brasileiras”.
“Nascida na capital paulista, em 13 de fevereiro de 1892, Carlota era filha de
José Pereira de Queirós e de Maria de Azevedo Pereira de Queirós. Pertencia, portanto,
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a uma família tradicional das elites locais, sendo seu avô paterno um rico proprietário
de terras em Jundiaí, membro do Partido Republicano Paulista e um dos fundadores do
jornal “A Província de São Paulo” (hoje, jornal “Estado de São Paulo”).
Carlota fez seus estudos iniciais na então Escola Normal da Praça e em 1909
recebeu seu diploma de professora. Convidada pelo Diretor da Escola Normal passa a
trabalhar neste mesmo estabelecimento de ensino, sendo inspetora primária.
Em 1912, torna-se professora do jardim de infância, cargo que manterá por dez
anos. Até o início da década de 20, Carlota acumulou várias atividades ligadas à
educação. Desiludida com o magistério, Carlota dá uma guinada em sua vida pessoal e
profissional ao ingressar na Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, em 1920.
Em 1923, ela decide trocar de faculdade e inscreve-se no Curso de Medicina do Rio de
Janeiro, formando-se em 1926, com a tese “Estudos sobre o Câncer”.
“Recebeu, por seus estudos na área, o Prêmio Miguel Couto. Nesse mesmo ano,
assumiu a direção do laboratório da clínica pediátrica da Faculdade de Medicina de
São Paulo e viaja, em 1928, comissionada pelo governo paulista, à Suíça onde fará seus
estudos de dietética infantil”.
“Sua participação na política se deu a partir da Revolução Constitucionalista de
1932, quando São Paulo pega em armas contra a excessiva concentração de poderes
nas mãos de Getúlio e exige um novo ordenamento constitucional para o País”.
“Nesse contexto, a duração imprevista da Revolução de 1932 (quase três
meses), onde os paulistas acabam lutando sozinhos contra o governo central,
improvisando forças e munições, abre às mulheres das elites uma chance única de
exercício intensivo da cidadania”.
“Carlota organiza, juntamente com setecentas mulheres, o Departamento de
Assistência aos Feridos (DAF), subordinado ao Departamento de Assistência à
População Civil, dirigido por Olívia Guedes Penteado”.
“A Revolução de 32 é derrotada pelo governo central. No entanto, são
convocadas eleições para a elaboração de um novo texto constitucional. Como as
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principais lideranças políticas do Partido Republicano Paulista (PRP) e do Partido
Democrático (PD) encontravam-se no exílio, formou-se a “Chapa Única por São Paulo
Unido!”, que escolhe vinte e dois nomes ligados aos dois partidos. O nome de Carlota
surge por recomendação da Associação Comercial, respaldado pela Associação Cívica
Feminina e pela Federação dos Voluntários, grupo de oficiais e suboficiais paulistas que
haviam participado do movimento revolucionário de 32”.
“No processo constituinte, Carlota participou dos trabalhos da Comissão de
Educação e Saúde onde elaborou o primeiro projeto sobre a criação de serviços sociais
no país. Sua iniciativa colaborou para o estabelecimento da obrigatoriedade de verbas
destinadas à assistência social, possibilitando, assim, a construção da Casa do
Jornaleiro e do laboratório de biologia infantil, anexo ao Serviço de Menores.
Como deputada federal, Carlota posicionou-se contrária à proposta da então
deputada Bertha Lutz sobre a criação de um “Departamento Nacional da Mulher”, no
contexto da “Comissão Especial de Elaboração do Estatuto da Mulher”.
Segundo ela, o modelo burocrático proposto para esse órgão acarretaria
superposição de atribuições e competências com três Ministérios da Administração
Pública Federal. Em seu lugar, ela propôs que o Departamento a ser criado ficasse
subordinado ao Ministério da Educação e Saúde. Outro ponto de discordância entre as
duas parlamentares acerca da criação do órgão devia-se ao fato de que Carlota se
mostrava contrária à idéia de que os cargos do referido Departamento fosse
preenchido apenas por mulheres. Segundo ela, essa proposta continha um viés
nitidamente sexista. Em decorrência das divergências entre Carlota e Bertha, o projeto
do Estatuto da Mulher avançou muito pouco e foi atropelado pela implantação do
Estado Novo”.
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Anexos
1. Analise as imagens abaixo:
Imagem 1.
A Liberdade guiando o povo, 1830. Eugène Delacroix.
Imagem 2.
Bittencourt, Waldemar; FILHO, Eduardo Silva. Bandeirantes. Marcha
Patriótica. [S.I], [193-]. Acervo APESP. Fundo Instituto Histórico Geográfico
de São Paulo. Pasta 010.
O quadro A Liberdade guiando o povo de 1830 (Imagem 1) é
uma representação da Revolução Francesa e trás a
representação da figura feminina como um símbolo da virtude
que carrega a Liberdade.
a) Relacione as Imagens (1 e 2) com o contexto da
Revolução de 32 e com a representação feminina.
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8. Bibliografia
ABREU, Marcelo Santos de. A Revolução Constitucionalista de 1932: memorialismo, historiografia, produção do silêncio. Anais das Jornadas de 2007. Rio de Janeiro, p. 1-14, 2007. ABREU, Marcelo Santos de. Luto e culto cívico dos mortos: as tensões da memória pública da Revolução Constitucionalista de 1932 (São Paulo, 1932-1937). Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 31, nº 61, p. 105-123, 2011. CRUZ, Heloísa; PEIXOTO, Maria do Rosário da Cunha. Na oficina do historiador: conversas sobre história e imprensa. Projeto História, São Paulo, n.35, p. 253-270, dez. 2007. DOMINGUES, José Petrônio. Os “Pérolas Negras”: A participação do negro na Revolução Constitucionalista de 1932. Revista Afro-Ásia. Bahia, nº 29/30, p. 199-245, 2003. FLORINDO, Marcos Tarcisio. A grande repressão de 1932 em São Paulo. Revista Brasileira de História & Ciências Sociais. Rio Grande do Sul, vol. 4, nº8, p. 291-316, 2012. KNAUSS, Paulo. Documentos históricos na sala de aula. Primeiros Escritos, nº1, jul./ago.1994. MAUAD, Ana Maria. Através da imagem: fotografia e história-interfaces. Revista Tempo, v.1, nº2, pp.73-98, dez. 1996. ORIÁ, Ricardo. Mulheres no Parlamento Brasileiro: Carlota Pereira de Queirós. Revista Plenarium. p. 240-246, s.d. SÃO PAULO, Arquivo Público do Estado de. Exposições virtuais. Revolução de 1932. Disponível em:<http://www.arquivoestado.sp.gov.br/exposicao_1932/index.php>. Acesso em: 13 de setembro de 2013. SÃO PAULO, Museu da Imigração do Estado de. 1932 Acervos e Memórias. Disponível em: < http://www.memorialdoimigrante.org.br/>. Acesso em 15 de setembro de 2013. SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos. 2.ed. São Paulo: Contexto, 2009.
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