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SÍNDROME DE DOWN - DESCOBRINDO E TRABALHANDO
COM A INCLUSÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Resumo
A inclusão de pessoas com necessidades especiais no sistema regular de
ensino é um dos mais importantes desafios vivenciados, principalmente, por
educadores, por isso, este artigo tem como base a interação entre alunos com e
sem Síndrome de Down, objetivando também práticas pedagógicas, desde a sua
Educação Infantil, pois as crianças podem evoluir tanto quanto as outras, a diferença
é somente o tempo de aprendizado e os estímulos recebidos.
O objetivo principal é realizar ações planejadas para a promoção de
relacionamentos afetivos entre família, alunos, professor e escola, tendo como
referência leis que garantem aos deficientes a inclusão, as adaptações curriculares e
principalmente, a igualdade por todos.
Palavras-chaves: Inclusão, educação e interação.
1
1. INTRODUÇÃO
1.1 O que é Inclusão?
Entendemos por Inclusão o ato ou efeito de incluir. O conceito de educação
inclusiva ganhou maior notoriedade a partir de 1994, com a Declaração de
Salamanca. No que respeita às escolas, a idéia é de que as crianças com
necessidades educativas especiais sejam incluídas em escolas de ensino regular e
para isto todo o sistema regular de ensino precisa ser revisto, de modo a atender as
demandas individuais de todos os estudantes. O objetivo deste artigo é mostrar que
o processo de inclusão necessita de muitos ajustes para que possa demonstrar uma
evolução da cultura ocidental, defendendo que nenhuma criança deve ser separada
das outras por apresentar alguma diferença ou necessidade especial. Além disso,
esta integração assume a vantagem de existir interação entre crianças, procurando
um desenvolvimento conjunto, com igualdade de oportunidades para todos e
respeito à diversidade humana e cultural. No entanto, a inclusão tem encontrado
imensa dificuldade de avançar, especialmente devido a resistências por parte das
escolas regulares, em se adaptarem de modo a conseguirem integrar as crianças
com necessidades especiais, o convívio contínuo com a família dos Down e dos
alunos considerados “normais”, e principalmente aos altos custos para se criar as
condições adequadas. Além disto, alguns educadores resistem bastante a este novo
paradigma, que exige destes uma formação mais ampla e uma atuação profissional
diferente da que têm experiência.
“... o deficiente pode aprender”, tornou-se a palavra de ordem, resultando
numa mudança de paradigma do “modelo médico”, predominante até então,
para o “modelo educacional” GLAT (1995).
A ênfase não era mais a deficiência intrínseca do indivíduo, mas sim a falha
do meio em proporcionar condições adequadas que promovessem a aprendizagem
e o desenvolvimento
A linha do construtivismo é uma forma bastante rica e de fácil assimilação de
conteúdo. Piaget afirmava:
2
“... os indivíduos nascem apenas com potencialidades (capacidade inata) a
capacidade de aprender. Assim, todo conhecimento e todo o
desenvolvimento da criança depende de exposição ao meio e dos estímulos
advindos deste” PIAGET (1974).
Para Jean Piaget, a base do conhecimento é a transferência e assimilação
de "estruturas". Assim, um conhecimento, um estímulo do meio é encarado como
uma estrutura que será "assimilada" pelo indivíduo através de sua capacidade de
aprender.
1.2 Lei 9394/96
A aprovação da Lei de Diretrizes Educacionais - LDB (Lei 9394/96)
estabeleceu, entre outros princípios, o de "igualdade e condições para o acesso e
permanência na escola" e adotou nova modalidade de educação para "educandos
com necessidades especiais."
O que era para ser tratado como Inclusão vem gerando algumas
controvérsias, tanto no meio acadêmico quanto na própria sociedade, acarretando
sentidos distorcidos.
Pesquisa realizada no Brasil (ano 2006) comprova que 80% das pessoas
com síndrome de down freqüentavam a escola no momento da pesquisa, ficando
assim distribuído:
1.2.1 30% dos estudantes freqüentam escolas especiais públicas;
1.2.2 24% estão em escolas especiais privadas;
1.2.3 46% freqüentam cursos EJA (antigo supletivo), sem estrutura e capacidade
didática para o desenvolvimento do aluno, retardando o seu ano letivo,
onde encontramos alunos com 21 anos de idade, sem interrupção de
estudos, ainda cursando o Ensino Fundamental.
1.3 Pesquisas realizadas com profissionais na área pedagógica e
administrativa:
Muitas pessoas com Síndrome de Down são vistas de forma distorcida,
mesclando entre pena e resignação à sua limitação. Do ponto de vista da
“informação” conhecimentos específicos são escassos, em todas as categorias
profissionais.
3
Com base no estudo da pedagoga Rita de Cássia Pereira Lima (2000),
foram coletadas informações em relação à inteligência:
“... tem uns que tem... dificuldade e facilidade para aprender (...) tem os que
têm mais dificuldade e os que têm menos dificuldade...” (curso superior completo -
terapeuta ocupacional);
“... não sabe ler, não sabe nem escrever... porque a parte intelectual deles é
comprometida. É aquela parte do cérebro que não elabora. Aquela viscosidade (...)
Não tem como! Por mais técnica que você tenha de alfabetização, de técnica
pedagógica, não elabora...” (curso superior – pedagogia);
“...chorei muito de início, chorava o dia todo, todo dia chorava... vinha do
serviço, eu chorava, eu via uma deformidade, eu chorava, sabe?” (ensino
fundamental completo - cozinheira);
“... sempre serão ajudantes, né? Estão ajudando a fazer tapetes, ajudando
na dança, ajudando na música... Eles não são oficiais, mas sempre ajudantes... e
bons ajudantes...” (curso superior completo – pedagogia);
“... eles só podem realizar serviços de produção...” (curso superior completo
- terapeuta ocupacional);
“... o futuro deles... depende muito da família...” (ensino fundamental
completo – auxiliar de serviços).
Isso é completamente contrário à idéia da educação inclusiva.
O portador da síndrome de down é capaz de compreender suas limitações e
conviver com suas dificuldades, "73% deles tem autonomia para tomar iniciativas,
não precisando que os pais digam a todo momento o que deve ser feito.". Isso
demonstra a necessidade/possibilidade desses indivíduos de participar e interferir
com certa autonomia em um mundo onde "normais" e deficientes são semelhantes
em suas inúmeras diferenças.
Por outro lado, "...atualmente, no ensino regular, a criança deve adequar-se
à estrutura da escola para ser integrada com sucesso. O correto seria mudar o
sistema, mas não a criança. No ensino inclusivo, a estrutura escolar é que se deve
ajustar às necessidades de todos os alunos, favorecendo a integração e o
desenvolvimento de todos, que tenham ou não limitações" SCHWARTZMAN (1999,
p253).
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“...a sociedade inclusiva é uma proposta que não está ligada a quem é
minoria, mas quem está em minoria.” WERNECK (1999).
1.4 Síndrome de Down
1.4.1 O que é?
A síndrome de Down é uma ocorrência genética natural e universal, estando
presente em todas as raças e classes sociais. É a alteração genética mais comum,
sendo registrada aproximadamente em 1 de cada 700 nascimentos. Não é uma
doença e, portanto, as pessoas com síndrome de Down não são doentes. Não é
correto dizer que uma pessoa sofre de, é vítima de, padece ou é acometida por
síndrome de Down. O correto seria dizer que a pessoa tem ou nasceu com a
síndrome de Down. A síndrome de Down também não é contagiosa.
1.4.2 Genética
Por motivos ainda desconhecidos, durante o desenvolvimento das células do
embrião são formados 47 cromossomos no lugar dos 46 que se formam
normalmente. O material genético em excesso altera o desenvolvimento regular da
criança. Este material extra se encontra localizado no par de cromossomos 21, daí o
outro nome pelo qual é conhecida, Trissomia do 21. Para confirmar o diagnóstico de
síndrome de Down é necessário fazer um exame genético chamado cariótipo.
Os efeitos do material genético adicional variam enormemente de indivíduo
para indivíduo. Não há exames que determinem, no nascimento, como a pessoa vai
se desenvolver. Para que ela tenha condições de desenvolver todo seu potencial é
importante que seja encaminhada, ainda bebê, a profissionais habilitados para um
programa de estimulação precoce.
Até os cinco anos o cérebro das crianças com síndrome de Down, encontra-
se anatomicamente similar ao de crianças normais, apresentando apenas alterações
de peso, que nestas crianças encontra-se inferior a faixa de normalidade, que ocorre
devido uma desaceleração do crescimento encefálico iniciado por volta dos três
meses de idade.
Esta desaceleração encontra-se de forma mais acentuadas em meninas,
onde observamos também, freqüentes alterações cardíacas e gastrintestinais.
SCHWARTZMAN, (1999, p.47), relata que há algumas evidencias de que durante o 5
último trimestre de gestação existe uma lentificação no processo da neurogênese.
Apesar da afirmação as alterações de crescimentos e estruturação das redes
neurais após nascimento são mais evidentes e estas se acentuam com o passar do
tempo.
1.4.3 Incidências
Como a maioria das mulheres que têm filhos é jovem, cerca de 80% das
crianças com síndrome de Down nascem de mulheres com menos de 35 anos. Mas
a incidência da síndrome de Down em mulheres mais velhas é maior. De cada 400
bebês nascidos de mães com mais de 35 anos, um tem síndrome de Down.
1.4.4 Características da Síndrome de Down.
As três principais características da síndrome de Down são:
1.4.4.1 A hipotonia (flacidez muscular, o bebê é mais molinho);
1.4.4.2 O comprometimento intelectual (a pessoa aprende mais devagar);
1.4.4.3 O fenótipo (aparência física).
Algumas das características físicas são: olhos amendoados, uma linha única
na palma de uma ou das duas mãos, dedos curtinhos, entre outros. Mas apesar da
aparência por vezes comum entre pessoas com síndrome de Down, é preciso
lembrar que o que caracteriza mesmo o indivíduo é sua carga genética familiar, o
que faz com que seja parecido com seus pais e irmãos.
As crianças com síndrome de Down encontram-se em desvantagem em
níveis variáveis face a crianças sem a síndrome, já que a maioria dos indivíduos
com síndrome de Down possui retardo mental leve (QI 50-70) a moderado (QI 35-
50), com os escores do QI de crianças possuindo síndrome de Down do tipo
mosaico tipicamente 10-30 pontos maiores. Além disso, indivíduos com síndrome de
Down podem ter sérias anomalias afetando qualquer sistema corporal.
Outra característica freqüente é a microcefalia, um reduzido peso e tamanho
do cérebro. O progresso na aprendizagem é também tipicamente afetado por
doenças e deficiências motoras, como doenças infecciosas recorrentes, problemas
no coração, problemas na visão (miopia, astigmatismo ou estrabismo ou) e na
audição.
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Vários aspectos podem contribuir para um aumento do desenvolvimento da
criança com síndrome de Down: intervenção precoce na aprendizagem,
monitorização de problemas comuns como a tiróide, tratamento medicinal sempre
que relevante, um ambiente familiar estável e condutor, práticas vocacionais, são
alguns exemplos. Por um lado, a síndrome de Down salienta as limitações genéticas
e no pouco que se pode fazer para sobrepô-las; por outro, também salienta que a
educação pode produzir excelentes resultados independentemente do início. Assim,
o empenho individual dos pais, professores e terapeutas com estas crianças pode
produzir resultados positivos inesperados.
As crianças com Síndrome de Down freqüentemente apresentam redução
do tônus dos órgãos fonoarticulatórios e, conseqüentemente, falta de controle motor
para articulação dos sons da fala, além de um atraso no desenvolvimento da
linguagem. O fonoaudiólogo será o terapeuta responsável por adequar os órgãos
responsáveis pela articulação dos sons da fala além de contribuir no
desenvolvimento da linguagem.
1.4.5 Como se vive com a Síndrome de Down?
Hoje pessoas com síndrome de Down têm apresentado avanços
impressionantes e rompido muitas barreiras. Em todo o mundo, e também aqui no
Brasil, há pessoas com síndrome de Down estudando, trabalhando, vivendo
sozinhas, se casando e até chegando à universidade. A melhor forma de combater o
preconceito é através da informação e da inclusão de TODAS as pessoas, na
família, na escola, no mercado de trabalho e na comunidade.
2. DESENVOLVIMENTO DA ANÁLISE PEDAGÓGICA
2.1 Pensamento Pedagógico
Todo o conjunto pedagógico precisa ser levado em consideração:
2.1.1 Organização administrativa e disciplinar;
2.1.2 O currículo do período letivo;
2.1.3 Métodos pedagógicos;
2.1.4 Recursos humanos (professores habilitados para o desenvolvimento destes
alunos);
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2.1.5 Materiais da escola.
A figura mais importante neste estudo é do professor. O professor é o
mentor, formador de opinião, e a pessoa que irá desenvolver ou não as habilidades
destes alunos.
A empatia deve prevalecer, conhecimento real da inclusão destes alunos,
quais sejam, lidar com as diferenças e preconceitos por parte de pais e alunos; com
as expectativas e possíveis frustrações dos familiares portadores da síndrome; com
as limitações e alcances dos próprios portadores, dentre outras.
O professor deve ser o detentor de conhecimentos teóricos específicos com
fundamentos médicos, psicológicos, pedagógicos e sociológicos.
Crianças especiais como as portadoras de síndrome de Down, não
desenvolvem estratégias espontâneas e este é um fato que deve ser considerado
em seu processo de aquisição de aprendizagem, já que esta terá muitas dificuldades
em resolver problemas e encontrar soluções sozinhas.
As dificuldades ocorrem principalmente por que a imaturidade nervosa e não
mielinização das fibras pode dificultar funções mentais como: habilidade para usar
conceitos abstratos, memória, percepção geral, habilidades que incluam imaginação,
relações espaciais, esquema corporal, habilidade no raciocínio, estocagem do
material aprendido e transferência na aprendizagem. As deficiências e debilidades
destas funções dificultam principalmente as atividades escolares.
A educação da criança é uma atividade complexa, pois exige adaptações de
ordem curricular que requerem cuidadoso acompanhamento dos educadores e pais
SCHWARTZMAN (1999, p. 233).
E o ensino das crianças especiais deve ocorrer de forma sistemática e
organizada, seguindo passos previamente estabelecidos. O ensino não deve ser
teórico e metódico e sim deve ocorrer de forma agradável e que desperte interesse
na criança. Normalmente o lúdico atrai muito a criança, na primeira infância, e é um
recurso muito utilizado, pois permite o desenvolvimento global da criança através da
estimulação de diferentes áreas.
A fase da Educação Infantil tem por objetivo promover à criança maior
autonomia, experiências de interação social e adequação, permitindo que esta se
desenvolva em relação a aspectos afetivos, volitivos e cognitivos, que sejam
espontâneas e antes de tudo sejam "crianças".
8
2.2 Métodos pedagógicos aplicados aos Downs
2.2.1 Material Dourado - Montessori
O método multissensorial MONTESSORI (1948) busca combinar diferentes
modalidades sensoriais no ensino da linguagem escrita às crianças. Ao usar as
modalidades auditiva, visual, cinestésica e tátil, esse método facilita a leitura e a
escrita ao estabelecer a conexão entre aspectos visuais (a forma ortográfica da
palavra), auditivos (a forma fonológica) e cinestésicos (os movimentos necessários
para escrever aquela palavra).
Figura 1 – Material Dourado
2.2.2 Informática
Sabe-se que uma pessoa com Síndrome de Down tem limitações em sua
capacidade de abstração e velocidade com que aprende, principalmente comparada
com outras pessoas da sua idade.
Isso não faz com que essa pessoa possua uma estrutura mental diferente,
nem que aprenda a partir de um processo diferenciado em relação às outras
pessoas.
Sendo isso verdadeiro, não existe diferença entre software educacional
(“aberto” ou “fechado”) utilizado por uma criança com Síndrome de Down, na
Educação Infantil.9
“...um software desenvolvido para uma criança com Síndrome de Down, vai
servir igualmente para outra criança sem Síndrome de Down, que esteja na
mesma etapa em seu processo de desenvolvimento cognitivo, ou vice-
versa” GALVÃO FILHO (2008).
2.2.3 Brincadeiras em grupo
Por meio das brincadeiras, as crianças podem manifestar certas habilidades
que não seriam esperadas para a sua idade. Segundo VYGOTSKY a partir dessa
manifestação de habilidades cria-se o conceito de “zona de desenvolvimento
proximal” que consiste na distância entre aquilo que a criança consegue e sabe
fazer sem o auxílio de um adulto e o que é capaz de realizar com ajuda de um adulto
ou uma criança mais velha, que depois realizará sozinha. É nesse contexto que o
jogo pode ser considerado um excelente recurso a ser usado quando a criança entra
na escola, já que é parte essencial de sua natureza, podendo favorecer tanto os
processos que estão em formação, como outros que serão completados. Em relação
à criança com deficiência intelectual, em especial a Síndrome de Down, o jogo vivido
pela criança permite a redução dessa distância KISHIMOTO (2007).
O jogo de faz-de-conta, “... recebe várias denominações: o jogo imaginativo,
jogo de faz-de-conta, jogo de papéis ou sociodramático. A ênfase é dada à
“simulação” ou faz-de-conta, cuja importância é ressaltada por pesquisas que
mostram sua eficácia para promover o desenvolvimento cognitivo e afetivo-social da
criança”.
Tabela 01
Temas AtividadesAtividades domésticas Brincar de casinha, cuidados com a prole, brincar de
famíliaAcontecimentos sociais
domésticos ou micro-sociaisCasamentos, batizados, aniversários, velórios, enterros, etc.
Acontecimentos sociais não domésticos ou macro-sociais
Missas, passeatas, festa junina, rodeios, etc.
Papéis sociais Profissões, médico, professora, etc.Aventura Brincadeiras de heróis, tesouro, monstros, guerra, polícia
e ladrão, etc.Transportes Dirigir carros, avião, ônibus, trem, etc.
Esportes Jogos como futebol, camping e pescariaEdificações Construção de casas, castelos, bolos, estradas
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Temas AtividadesManipulação de objeto/brinquedo
com indícios de faz-de-contaQuando a criança manipula o objeto ou brinquedo temáticos, utilizando as suas funções padronizadas socialmente, não se percebendo um tema explícito que indique a imersão dela em um episódio de faz-de-conta.
Representações apoiadas em imagens e letras
Inclui episódios de leitura simulada (revistas em quadrinhos e livros infantis) que têm imagens e letras, conversa com a imagem no espelho (quando não conseguimos deduzir qual papel está sendo representado pela imagem no espelho, apesar de notarmos pelo gestos e expressões faciais da criança-participante uma interação com a mesma) e conversa com gravuras e fotos das revistas (apenas imagens de objetos, animais, pessoas, etc.).
Ref.: COSTA (2008)
2.3 Ações a serem consideradas para a evolução e quebra de resistências
dos alunos com Síndrome de Down
2.3.1 As experiências devem ser adquiridas no ambiente próprio do aluno;
2.3.2 Situações que possam provocar estresse ou venham a ser traumatizantes
devem ser evitadas;
2.3.3 A criança deve ser respeitada em todos aspectos de sua personalidade;
2.3.4 A família da criança deve participar do processo intelectivo.
Os pais das crianças com Síndrome de Down se defrontam com dilemas
quando seus filhos atingem a idade de freqüentar a escola.
A entrada dos filhos, tanto na Educação Infantil, quanto no Ensino
Fundamental é um momento marcante para os pais pois carregam temores quanto à
adaptação e a integração.
Quando a inclusão é bem feita, a socialização começa a se dar de maneira
natural.
2.4 A Interação Professor x aluno
O atendimento por parte do profissional deve desta forma, ocorrer de forma
gradual no sentido de proporcionar uma experiência de aprendizado afetiva. Isto
porque, quando uma nova informação é bem assimilada, dificilmente uma criança
Down esquece o que aprendeu, fator este que compensa o processo muitas vezes
lento, da aprendizagem. Dentre as pessoas com deficiência mental, as com
síndrome de Down, de forma geral, apresentam mais habilidades que as demais
para executar atividades que já sejam de seu repertório, e este fator deve ser
11
sempre lembrado pelos educadores que poderão se utilizar de conhecimentos já
adquiridos para atingir novos objetivos.
O apoio a uma criança portadora da síndrome de Down requer além de
preparo intelectual, paciência e dedicação por parte do educador, para reconhecer
não somente suas dificuldades e limitações, mas principalmente suas habilidades e
potenciais. Assim, o trabalho de intervenção deve estar direcionado aos seus
talentos e capacidades, de forma que favoreça o real conhecimento de suas
possibilidades.
Para o professor que está na sala de aula, é importante que selecione um
material que não se diferencie muito daquele que usam o resto dos companheiros.
Deste modo, o aluno não se sente diferente e seus companheiros também o
percebem de outro modo.
Por outro lado, é importante ser criativo e não limitar o ensino à sala de aula,
ampliando os espaços (pomar, jardim, sala de psicomotricidade, visita a lugares fora
da escola, etc.) Um método muito eficaz é o de envolver um ou vários alunos no
processo de ensino, de maneira que uns alunos sejam tutores ou guias de outros.
Os alunos com síndrome de Down têm uma grande capacidade de imitação,
fato que os favorece estar em contato com alunos melhor dotados, que servem de
modelo adequado para eles.
2.5 A Interação da Família com a Escola
A relação escola x família deve ser estimulada, pois é muito importante que
seja “falada a mesma língua”.
O aluno precisa desenvolver segurança para tomar suas atitudes e aceitar
seus erros, além de críticas, por isso que o que ele desenvolve na escola deve ter
continuidade no seu lar.
O comprometimento da família deve ser constante para acompanhar o aluno
de forma sistemática em reuniões individuais e coletivas sempre que houver
necessidade. Deve ser esclarecida, também, a proposta pedagógica da Escola,
desde as regras coletivas até o processo de avaliação. Tudo deve ser esclarecido
para os pais e o aluno, desde a sala onde o aluno freqüentará as aulas, que passará
por uma análise realizada pela equipe pedagógica em articulação com os
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professores, levando em consideração, entre outros fatores, a sua idade
cronológica.
Um cuidado muito grande deve ser direcionado aos pais da criança com
Down. Na visão da mãe, a criança aparece ora quase totalmente destituída de
potencialidades, ora enquanto ser superior. Há uma oscilação entre estes pontos
opostos (visão bipolar), impossibilitando situar a criança em algum lugar
intermediário SIGAUD (1997).
Sobre a questão maternalista ou paternalista, FÉDIDA (1984) afirma que "a
negação da deficiência, sob qualquer forma que seja, falsifica a relação com o outro,
induz patologias relacionais crônicas e, sobretudo, caminha no sentido de formações
relativas de caráter, que levam o Eu a suas próprias deformações".
A classe deverá ser informada, além dos pais dos outros alunos, sobre o
processo de inclusão, para que todos se sintam confortáveis, seguros, confiantes e
realistas diante das novas possibilidades que irão surgir.
A idéia é que sejam promovidos encontros, seminários e palestras que
visam gerar uma consciência crítica e cooperativa de todos envolvidos no cotidiano
escolar, envolvendo todos em uma única realidade, que é a inclusão.
A entrada da criança na pré-escola suscita nos pais temores ligados a sua
adaptação e proteção, visto que ela sairia do seu ambiente e teria que enfrentar a
"vida como ela é" do lado de fora. Em contrapartida, sabemos que a entrada, da
criança com síndrome de Down, na educação infantil regular é muito positiva,
principalmente quando a inclusão é bem feita, pois a sua socialização começa a se
dar de maneira muito fluida. Por exemplo, ela terá que brigar pelos brinquedos e
tentar se expressar, nas mesmas condições das crianças consideradas "normais" e
isto ajuda muito no seu desenvolvimento, principalmente no que diz respeito à
cognição, a linguagem, as habilidades motoras e a socialização. Acreditamos que
colocar uma criança com síndrome de Down em uma escola regular é dar-lhe a
mesma chance que todas as crianças têm de desenvolver o seu potencial cognitivo
e sócio-afetivo.
O comportamento social da pessoa com Síndrome de Down é influenciado
pelo ambiente, onde os resultados dessa interação podem limitar ou ampliar as
oportunidades do seu desenvolvimento e de suas possibilidades de integração
social.
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2.6 Estudo de Caso – Aluno Denis Feldman1
Aluno Denis Feldman é um jovem de 18 anos e tem o Ensino Fundamental II
completo no ano de 2008. O seu quadro foi diagnosticado como retardo mental
moderado.
2.6.1 Relação aluno x família
A família realiza todos os desejos do aluno, que gosta de ser tratado como o
“bebê” da casa. Pelo poder aquisitivo alto da família, ele faz fisioterapia três vezes
por semana para suprir as deficiências decorrentes da pessoa com down.
O aluno ainda possui todo acompanhamento médico necessários, além de
terapia para o aluno e para a família.
2.6.2 Relação aluno x escola regular
Os professores se dedicam ao aluno ao extremo, no ponto do mesmo
também obter todos os seus desejos satisfeitos, um exemplo disso foi quando ele
não quis fazer a prova de matemática. Ele falou que estava com dor de cabeça. Foi
levado para a diretoria e, além da diretora, a professora de matemática, a professora
de educação física e a inspetora de alunos, estavam conversando com ele,
cercando de cuidados com palavras amorosas e fizeram chá para ele melhorar da
dor de cabeça, até a sua mãe vir buscá-lo. A mãe viu isso como um carinho, e ri
quando conta.
A piedade não pode ser parte integrante da educação de um Down. Ele
precisa de incentivos e não “caridade”.
2.6.3 Relação aluno x Escola de Capacitação Profissional
Aluno foi matriculado em Escola de Capacitação onde são trabalhadas as
habilidades de convivência em grupo, preparação para o mercado de trabalho e
cursos de capacitação.
Quando os pais vieram conhecer a escola ficaram com medo de dar toda
essa “liberdade” para o filho. O mesmo não se alimentava na escola, trazia lanches
1 Foi colocado nome fictício neste caso, para preservação da identidade do aluno.14
de casa dizendo: “... os nutrientes que tem aqui na escola não são suficientes para
mim...”
Ele começou fazendo curso de informática e apresentou vários problemas,
tais como, relacionamento com os colegas, sem controle de tom de voz para poder
chamar a atenção, dificuldade de trabalhar em equipe, ocorrendo em alguns casos,
quando o aluno não era atendido, descontrole emocional (choros) para poder ser
“notado” a sua maneira.
Com paciência e pedagogia direcionada, o professor impôs para o aluno as
regras a serem, respeitando as limitações e colocando acima de tudo que o aluno
precisa se desenvolver como cidadão e não como um ser dependente.
O seu desenvolvimento no curso foi feito com didática voltada a exemplos
simples e reais, para facilitar a fixação do conteúdo.
Em três semanas de curso o aluno já estava se adequando as regras da
Escola e os pais também notaram a diferença, com a seguinte observação: “... ele
mudou bastante em casa, esta até mais calmo...”, mas não pode continuar os
estudos, pois os pais não queriam ensinar o aluno a andar de ônibus sozinho, e
quando o aluno não queria ir à aula, para continuar dormindo, seus pais realizavam
sua vontade, com isso, prejudicando o comprometimento do aluno com o curso.
A mãe colocava sempre que ela tinha condições de trazer o filho à escola, e
faria isso sempre.
Os pais precisam estar em sintonia com a escola, caso contrário, o que ele
aprender na escola fará o inverso no seu lar, prejudicando a educação do aluno que
não terá um parâmetro único para seguir.
2.7 Estudo de Caso – Aluno Fábio Cavalcante2
Aluno Fábio Cavalcante é um jovem de 23 anos e tem o Ensino Médio
completo no ano de 2008. O seu quadro foi diagnosticado como retardo mental leve.
2.7.1 Relação aluno x família
A família é de classe média a baixa. Sem poder aquisitivo, a família tratou na
educação do filho na APAE e na escola de ensino regular da cidade de São
2 Foi colocado nome fictício neste caso, para preservação da identidade do aluno.15
Bernardo do Campo. Para a conclusão do Ensino Médio, aluno foi matriculado no
EJA.
2.7.2 Relação aluno x escola regular
Os professores da Educação Infantil e do Ensino Fundamental tiveram
sucesso na educação do aluno, o mesmo não aconteceu no Ensino Médio, onde a
Diretoria indicou para a família que o aluno fosse matriculado no EJA.
O ensino foi precário, pois o EJA é realizado em tempo menor que o Ensino
Regular, e os professores não tiveram a mesma dedicação que poderiam ter, além
de limitações de materiais pedagógicos.
2.7.3 Relação aluno x Escola de Capacitação Profissional
Aluno foi matriculado em Escola de Capacitação onde são trabalhadas as
habilidades de convivência em grupo, preparação para o mercado de trabalho e
cursos de capacitação.
Os pais foram chamados para que fosse realizada uma identificação mais
especifica das limitações do aluno e também fizeram terapia para poder acompanhar
o ritmo da educação do mesmo.
Aluno toma condução sozinho e já trabalhou em várias etapas na escola de
capacitação, tais como, produção, administração e cozinha.
Realizou cursos de capacitação em informática, garçom e administração.
Tudo acompanhado com terapeutas da própria escola.
O maior problema que o aluno enfrentou, foi o curso de Excel, pois não
estava conseguindo assimilar o conteúdo direcionado à realidade, por isso, o aluno
foi indicado a refazer o módulo.
Aluno conseguiu ser encaminhado ao mercado de trabalho com três anos na
escola de capacitação.
Este período de três anos é considerado longo para um aluno com
deficiência intelectual leve, mesmo assim obteve sucesso.
3. CONSIDERAÇÕES GERAIS
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Os conhecimentos teóricos são muito importantes, mas ainda sim, deve ser
considerada a identificação de limites e alcances cognitivos, motores e afetivos,
ainda que para conhecer as dificuldades dos processos de ensino/aprendizagem
das pessoas com síndrome de down, necessitamos da ciência médica, psicológica,
sociológica e pedagógica.
Os conhecimentos teóricos trazem contribuições importantes e permitem ao
professor fundamentar suas ações. A ausência destes conhecimentos limita as
mudanças, restringindo também os papéis que a criança portadora da síndrome
pode representar tanto na escola como na sociedade.
Ter acesso aos outros profissionais, como fonoaudiólogos e fisioterapeutas
envolvidos no desenvolvimento deste indivíduo, com certeza trazem contribuições
significativas para as ações do professor em sala de aula.
O ponto importante deste artigo é a relação humana PROFESSOR X
FAMÍLIA X ESCOLA. Um melhor planejamento da formação de profissionais
envolvidos, com vistas a criar uma cultura de base a respeito da Síndrome e outros
tipos de deficiência e, também, dos referenciais teóricos tocantes à inclusão é a
chave para o sucesso da inclusão, com isso os professores alcançam novos
patamares de qualidade no decorrer do processo de inclusão.
É muito importante que conheçamos a família e a ligação da escola com a
mesma precisa ser direta e construtiva para a formação do aluno como cidadão
independente, além disso, devemos considerar as limitações deste aluno, suas
dificuldades, potencialidades e quais as expectativas com relação à Escola.
À medida que os profissionais convivem e adquirem maiores informações
sobre a condição especial do portador de síndrome de Down, maior é a tendência
em aceitá-los, por isso a inclusão é tão importante.
Pessoas com síndrome de Down têm apresentado avanços impressionantes
e rompido muitas barreiras. Em todo o mundo, há pessoas com síndrome de Down
estudando, trabalhando, vivendo sozinhas, se casando e chegando à universidade.
O esclarecimento é fundamental para que a população encare o indivíduo
com síndrome de Down como outro, um cidadão com limitações, mas com vontades
próprias que devem ser respeitadas. Os portadores não podem ser considerados
“anormais” ou “desviantes”, muito menos serem “dignos de piedade”. Não podem ser
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vistos como um conjunto de imagens negativas favorecendo a segregação, mas sim
como uma pessoa que tem capacidade de se tornar independente.
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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