As Desigualdades Sociais No Brasil

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“A gente não quer só comida

A gente quer comida, diversão e arte

A gente não quer só comida

A gente quer saída para qualquer parte

(...)

A gente não quer só comida

A gente quer a vida como a vida quer”COMIDA – Arnaldo Antunes,

Marcelo Fromer e Sérgio Britto.

Sabemos que para viver temos que ter comida, água potável, roupas e uma moradia segura. Mas sabemos também que em nossa sociedade o caminho para ter o acesso à “comida, diversão e arte” não é nada fácil, é uma verdadeira odisséia. Então, como é possível suprir estas necessidades básicas?

Se “(...) a gente não quer só comida, a gente quer saída para qualquer parte(...)”, o que fazemos afinal, para conseguirmos garantir e resolver estas questões? O que você faz?

Questionamento: Se pudéssemos fazer uma divisão igualitária

da riqueza no Brasil isto resolveria os

problemas? Em outras palavras, cada um

que tem mais tiraria do seu e distribuiria com

os que têm menos ou que nada tem, se isso

fosse possível. O problema das

desigualdades estaria definitivamente

solucionado?

Se você responder sim ou não, justifique sua

resposta com argumentos defensáveis.

As desigualdades sociais no

Brasil

Analisando historicamente a questão

das desigualdades sociais no Brasil,

percebe-se que, com a chegada dos

portugueses, elas se instalaram e

aqui ficaram. Inicialmente, os povos

indígenas que habitavam o continente

foram vistos pelos europeus como

seres exóticos, não dotados de alma.

Posteriormente, houve a introdução do trabalho escravo negro. Até hoje seus descendentes sofrem discriminação e preconceito pelo fato de serem negros.

Dos meados do século XIX, quando já se previa o fim do trabalho escravo, até o início do século XX, incentivou-se a vinda de imigrantes europeus, sobretudo para o trabalho na lavoura de café.

À medida que a sociedade brasileira

se industrializou e se urbanizou,

novos contingentes populacionais

foram absorvidos pelo mercado de

trabalho nas cidades. Esse processo

iniciou-se nos primeiros anos do

século XX, acelerando-se na década

de 1950, quando se desenvolveu no

país um grande esforço de

industrialização, trazendo junto a

urbanização.

Com as transformações ocorridas,

houve um crescimento vertiginoso

das grandes cidades e um

esvaziamento progressivo da zona

rural. Pela não colocação de toda a

força de trabalho atraída para as

cidades, foi se constituindo uma

grande massa de desempregados,

que viviam à margem do sistema

produtivo.

As estatísticas sobre as

desigualdades sociais no Brasil

estão nos jornais e nas revistas,

e demonstram que a gravidade

do problema é tal que, se há

alguma coisa que caracteriza o

Brasil nos últimos anos, é sua

condição como um dos países

mais desiguais do mundo.

Isso não se traduz só em fome e miséria,mas também em condições precárias desaúde, de habitação, de educação, enfim,em uma situação desumana,particularmente quando se sabe que aprodução agrícola e industrial e o setor decomércio e serviços têm crescido demaneira expressiva em nosso país,demonstrando que a sociedade produzbens e serviços e riqueza, mas eles nãosão distribuídos de modo que atinjamtodos os brasileiros.

As desigualdades analisada

no Brasil

Conforme a cientista social brasileira Márcia

Anita Sprandel, em seu livro A pobreza no

paraíso tropical, a primeira tentativa de

explicar a pobreza no Brasil, a partir do final

do século XIX, consistiu em relacioná-la à

influência do clima e à riqueza das matas e

do solo. Afirmava-se que o brasileiro era

preguiçoso, indolente, supersticioso e

ignorante porque a natureza tudo lhe dava:

frutos, plantas, solo fértil, etc.

Uma segunda explicação estavavinculada à questão racial e àmestiçagem. Vários autores foramcríticos ferrenhos da mestiçagem econsideravam que os mestiçosdemonstravam a “degeneração efalência da nação” ou que eram“decaídos, sem a energia física dosascendentes selvagens, sem aaltitude intelectual dos ancestraissuperiores.”

A maioria dos cientistas, políticos, juristas

e intelectuais desenvolveram teorias

racistas e deterministas para explicar os

destinos da nação brasileira, segundo a

cientista social Lilian Shwarcz, a pobreza

seria sempre um dos elementos essenciais

dessa explicação, e uma decorrência da

escravidão ou da mestiçagem. As

chamadas “classes baixas” constituíam-se

de pessoas que normalmente, nas

cidades, eram consideradas perigosas e,

no interior, apáticas, doentes e tristes.

Fome e coronelismo A partir da década de 1940 a questão das

desigualdades sociais aparecia sob novo olhar,que passava ainda pela presença do latifúndio,da monocultura e também dosubdesenvolvimento. Josué de Castro, em seulivro Geografia política da fome, publicado em1951, analisa a questão da desnutrição e dafome explicando-as com base no processo desubdesenvolvimento, o qual geravadesigualdades econômicas e sociais entre ospovos que, no passado, tinham sido alvo daexploração colonial no mundo capitalista.Defendia a educação e a reforma agrária comoelementos essenciais para resolver o problemada fome no Brasil.

Outro autor, Victor Nunes Leal, em seu livro Coronelismo, enxada e voto: o município e o regime representativo no Brasil, publicada em 1948, apresentava o coronelvinculado à grande propriedade rural como a base de sustentação de uma estrutura agrária que mantinha os trabalhadores rurais em uma situação de penúria, de abandono e de ausência de educação.

Raça e classes

A relação entre as

desigualdades e as questões

raciais voltou a ser analisada

na década de 1950, numa

perspectiva que envolvia a

situação dos negros na

estrutura social brasileira.

Ainda na década de 1960, algunstrabalhos podem ser tomados comoexemplos da continuidade dessadiscussão. Florestan Fernandes, OctávioIanni e Fernando Henrique Cardosoanalisaram a situação dos negros noSudeste e no Sul do Brasil. Com seustrabalhos demonstraram que os ex-escravos foram integrados de formaprecária, criando-se uma desigualdadeconstitutiva da situação que seusdescendentes vivem até hoje.

Formação das classes

sociais A partir da década de 1960, outras

temáticas que envolviam as

desigualdades sociais foram abordadas,

com ênfase na análise das classes

sociais existentes no Brasil. Assim se

desenvolveram trabalhos que

procuravam entender como ocorreu a

formação do empresariado nacional, das

classes médias, do operariado industrial

e do proletariado rural.

Nas décadas seguintes (1970

e 1980), a preocupação

situou-se muito mais na

análise das novas formas de

participação, principalmente

dos novos movimentos

sociais e do novo

sindicalismo.

Mercado de trabalho e

condições de vidaNo mesmo período e entrando na

década de 1990, adicionou-se um novo componente na análise das desigualdades sociais: o foco sobre as questões relacionadas ao emprego e às condições de vida dos trabalhadores e pobres da cidade.

Assim, passaram a ter

primazia nas análises dos

temas: emprego e

desemprego, mercado formal

e informal de trabalho,

estratégias de sobrevivência

das famílias de baixa renda,

mensuração da pobreza e

linha de pobreza.

A questão racial continuou presente

e a questão das classes sociais

permaneceu no foco, constatando-se

a crescente subordinação do

trabalho ao capital, tanto na cidade

como no campo. A questão de

gênero ganhou espaço, destacando

principalmente a situação desigual

das mulheres em relação à dos

homens.

Índices de desigualdade Já na década de 1990, organismos

nacionais e internacionais criaram índicessobre as desigualdades e a pobreza querevelam dados muito interessantes. NoBrasil dispomos, por exemplo, da PesquisaNacional por Amostra de Domicílios (PNAD),desenvolvida pelo Instituto Brasileiro deGeografia e Estatística (IBGE), e o Índice deDesenvolvimento Humano (IDH), que aONU publica por meio do Programa dasNações Unidas para o Desenvolvimento(PNUD).

O fundamental é quantificar os pobres,

os ricos, os setores médios e os

remediados na sociedade brasileira e

como vivem, pois o objetivo central é

descrever a realidade em números e

gráficos para orientar políticas públicas e

investimentos nesta ou naquela área.

Foi assim que nasceram vários

programas governamentais – o Fome

Zero, o Bolsa Família, o Bolsa Gás e

outros tantos.

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