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Malumã Keren Adão Lopes
ASSASSINOS EM SÉRIE E O DIREITO PENAL BRASILEIRO
Centro Universitário Toledo
Araçatuba
2.018
Malumã Keren Adão Lopes
ASSASSINOS EM SÉRIE E O DIREITO PENAL BRASILEIRO
Trabalho de conclusão do Curso de Graduação em
Direito, da Universidade Toledo de Araçatuba do
Estado de São Paulo – UniToledo, apresentado como
requisito parcial para a aprovação no componente
curricular Metodologia da Pesquisa Jurídica. Sob
orientação da Professora Doutora Emanuele Seicenti de
Brito.
Centro Universitário Toledo
Araçatuba
2018
Malumã Keren Adão Lopes
ASSASSINOS EM SÉRIE E O DIREITO PENAL BRASILEIRO
Trabalho de conclusão do Curso de Graduação em
Direito, da Universidade Toledo de Araçatuba do
Estado de São Paulo – UniToledo, apresentado como
requisito parcial para a aprovação no componente
curricular Metodologia da Pesquisa Jurídica. Sob
orientação da Professora Doutora Emanuele Seicenti de
Brito.
Araçatuba, 01 de outubro de 2018.
Aprovado em: 01 /10 /2.018.
Nota: 10,0 (Dez).
___________________________________________________________
Orientanda: Malumã Keren Adão Lopes
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________________________
Orientadora: Professora Doutora Emanuele Seicenti de Brito
___________________________________________________________
Examinadora: Professora Mestre Leiliane Rodrigues da Silva Emoto
___________________________________________________________
Examinador: Professor Doutor Moacyr Miguel de Oliveira
Centro Universitário Toledo
Araçatuba
2018
Dedico este árduo trabalho, primeiramente a Deus, por me dar forças e sabedoria
para trilhar o caminho que escolhi; dedico também a ti, mãe querida, grande
mulher de fé e coragem.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço a Deus, por me guiar e dar forças para conquistar meus
sonhos, por me dar sabedoria e paciência quando foi preciso tomar alguma decisão, por me dar
coragem para superar os medos e grandes desafios, agradeço pela saúde, oportunidades e
proteção que o Senhor me deu, de Ti recebi bem mais do que pedi e mereci. Ao Senhor
seja dada toda honra, graça e glória, sou eternamente grata.
Agradeço também a minha família, especialmente a minha querida rainha Maria Lucia
Adão, ela que durante esses cinco anos foi mãe, amiga e conselheira, esteve presente e me
apoiando em cada escolha e passo que foi dado, me motivou nos dias que pensei em desistir,
me ensinou o valor de um sonho, com ela aprendi que não existem sonhos impossíveis.
Agradeço aos meus queridos heróis, Valdir Lopes e Luiz Carlos Francisco, meu melhor
amigo e meu segundo pai, sou grata pelo carinho e força que me dão. Agradeço também aos
meus irmãos, Wesley Gulitts Adão Lopes e Guthiérrys Henrique Adão Lopes, por estarem
sempre presentes nesta jornada em busca do meu tão desejado sonho; A minha querida tia
Mirian dos Reis, grande Psicóloga, que mesmo de longe não mediu esforços para me orientar
em algumas pesquisas; A minha cunhada Daniele Mazzucatto Ferro Adão Lopes também
grande Psicóloga, agradeço a ela por ter me dado o motivo da minha maior
alegria, minhas sobrinhas Giovanna Louise Ferro Lopes e Lorena Lis Ferro Lopes, aos meus
avós Esmelinda Conceição Adão, Antônio Adão, Josefa Lopes (em memória) e Antônio Lopes
(em memória); agradeço carinhosamente meu querido primo Wellington Luis Adão de Caires
por ser meu maior exemplo de superação, garra e fé. Minha querida tia Elenice Cristina Adão
dos Santos, por ser minha amiga, irmã mais velha e, em alguns momentos, foi minha mãe, a ela
agradeço, pois sempre esteve presente. Agradeço, de coração, a todos os meus familiares, não
citarei todos, mas saibam que de alguma forma vocês fizeram parte desta conquista.
Agradeço aos meus amigos, Gabriely Gâmba Guimarães, Camila Cristina dos Santos,
Deinesly Andrade, Leticia Carvalho Massarolli, Arthur Iassia Finati, Melina Gregatti, Nathália
Oliveira, Isabella Maneta Gomes, Keyla Belchior, José Roberto Costa Junior, Guilherme
Collangeli, Lunara Alves, Milena Eloy, Raul Teti Galvão, Caio Cintra, Heloísa Lupino, pois
sempre me motivaram e aconselharam, sou grata por me ouvirem nos dias que mais precisei.
Em especial agradeço a minha querida e grande amiga, Najla Polato por mostrar o
quanto ler um livro pode mudar tudo, sou grata pela ajuda, conselhos e orientações em algumas
pesquisas. E também sou grata a minha antiga professora de gramática Juliana Sanches, por não
medir esforços no momento de ajudar na correção deste trabalho.
Agradeço aos meus amigos de turma, Cláudio Lisías Junior, Carolina Lacerda, Tatiana
Terumi, Júlia Arriero, Bianca Massarini, Isbella Gon, Patrícia Passanezi, Letícia Melo, Bruna
Carla, Rafaela Rodrigues, Patrícia Oliveira, Bruna Lacerda, Nathalia Nahiman, Mariana Ellen,
por trilharem este árduo caminho ao meu lado, em busca do nosso tão almejado sonho.
Agradeço aos meus grandes Mestres, que durante esses cinco anos me ensinaram não
somente a matéria do direito, mas também me ensinaram grandes valores, e como ser um ser
humano melhor.
Em especial sou grata a minha orientadora Professora Doutora Emanuele Seicenti de
Brito, pela paciência, dedicação, humildade e conhecimento compartilhado no decorrer desta
pesquisa. Também agradeço a toda família UniToledo, pois parte do ser humano que sou hoje,
me tornei graças a atenção e dedicação que tiveram por mim.
Tudo o que fizerem, seja em palavre ou em ação, façam-no em nome do Senhor
Jesus, dando por meio dele graças a Deus Pai.
Colossenses 3:17
“Eu fiz a minha fantasia de vida, mais
poderosa do que a minha vida real”
JEFFREY DAHMER
RESUMO
O presente estudo examina os assassinos em série a luz da psicologia e do direito, busca analisar
seu perfil criminal, as características, a imputabilidade a luz do direito penal brasileiro,
doutrinas e demais legislações. Este trabalho tem como objetivo principal analisar e comparar
as discussões doutrinárias produzidas no Brasil, verificando a melhor resposta jurídica a ser
aplicada a tal caso. A problemática parte da análise do perfil psicológico dos assassinos em
série, que são considerados como indivíduos com transtorno da personalidade antissocial e não
doentes mentais incapazes de responder pelos seus atos. Ao final, considera-se que no Brasil
não existe uma alternativa adequada para esses indivíduos, pois a forma de pena e a medida de
segurança não são eficazes para estes casos.
Palavras-chave: Assassino em série; Transtorno de Personalidade; Imputabilidade; Medida
de Segurança.
ABSTRACT
The present study examines the serial killers in the light of psychology and law, seeking to
analyze their criminal profile, characteristics, imputability under Brazilian criminal law,
doctrines and other legislations. This research has as main objective to analyze and make a
comparative the doctrinal discussions produced in Brazil, seeking the best legal answer to be
applied. The problematic part of the analysis of the psychological profile of serial killers,
regarded as individuals with antisocial personality disorder and not mentally ill people unable
to respond for their deeds. In the end, it is considered that in Brazil there is no adequate
alternative for these individuals, since the form of sentence and the security measure are not
effective for these cases.
Keywords: Serial killer; Personality Disorder; Imputability; Security Measure.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Linha Fronteiriça.....................................................................................................20
Figura 2 – As seis fases do ciclo do assassino em série............................................................24
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Diferença entre assassinos em série organizados e desorganizados......................21
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CF – Constituição Federal
CP – Código Penal Brasileiro
CPP – Código de Processo Penal
FBI – Federal Bureau of Investigation
LEP – Lei de Execução Penal
MS – Medida de Segurança
NCAVC – National Center for the Analysis of Violent Crime
OMS – Orgaização Mundial da Saúde
QI – Quociente de inteligência
STJ – Superior Tribunal de Justiça
TP – Trantorno da Personalidade
TPA – Trantorno da Personalidade Antissocial
TPE – Trantorno da Personalidade Esquizoide
TPP – Trantorno da Personalidade Paranoide
VICAP – Violent Criminal Apprehension Program
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 15
1. BREVE HISTÓRICO ............................................................................................ 18
1.1. Quem é o assassino em série?............................................................................. 18
1.2. Características e fatores que identificam um assassino em série ....................... 20
1.3. Por que eles matam? ........................................................................................... 23
1.4. Aspectos gerais e psicológicos do assassino em série ........................................ 24
2. CLASSIFICAÇÃO DE TRANSTORNOS MENTAIS E
COMPORTAMENTAIS ............................................................................................ 27
2.1. Transtorno da Personalidade Paranoide ............................................................. 28
2.2. Transtorno da Personalidade Esquizoide ............................................................ 29
2.3. Transtorno da Personalidade Antissocial ........................................................... 30
3. ESTUDO DE CASOS: A VIDA DOS MAIORES ASSASSINOS
EM SÉRIE DO BRASIL ............................................................................................ 32
3.1. Perfil e Crimes do Serial Killer de Goiânia ........................................................ 32
3.2. Perfil e Crimes de Chico Picadinho .................................................................... 33
3.3. Perfil e Crimes de Pedrinho Matador ................................................................. 35
3.4. Perfil e Crimes do Maníaco do Parque ............................................................... 36
4. RESPONSABILIDADE PENAL ........................................................................ 38
4.1. Da Culpabilidade ................................................................................................. 38
4.3. Da Inimputabilidade ........................................................................................... 40
4.4. Semi-Imputabilidade .......................................................................................... 41
4.5. Medida de Segurança ......................................................................................... 42
4.6. Projeto de Lei do Senado – Nº 140/2010 ........................................................... 44
4.7. Direito penal brasileiro em face do assassino em série ...................................... 47
4.8. Tratamento e Ressocialização do assassino em série ......................................... 49
5. CONCLUSÃO ...................................................................................................... 51
6. REFERÊNCIAS ................................................................................................... 55
15
INTRODUÇÃO
O tema escolhido trata-se de um crime que gera um grande destaque na mídia, o crime
é cometido por assassinos em série, tal indivíduo, é considerado pela psiquiatria como
psicopata. Porém é importante ressaltar que tal crime ocorre com frequência pelo mundo todo,
mas no Brasil, ocorre em toda região, mas os crimes são tratados como casos aleatórios, até
concluir que se trata de assassinatos em série.
Este trabalho aborda o estudo do assassino em série, por se tratar de um indivíduo com
grau elevado de periculosidade para a sociedade, ao decorrer do trabalho também será analisada
a psicopatia do indivíduo, sua personalidade e características que facilitam a entender melhor o
assassino em série.
Também será analisada as sanções imputadas atualmente a esses indivíduos com base
no Direito Penal Brasileiro, bem como a dificuldade do poder judiciário de punir um assassino
em série, por não haver uma legislação especifica e apropriada para tal crime.
Por se tratar de um crime que vem criando grande discussão no mundo jurídico, o
objetivo deste trabalho não é somente apontar a dificuldade do poder judiciário, que enfrenta a
falta de legislação especifica para punir um assassino em série, mas também a dificuldade
dentro da psicologia, de poder comprovar que tal indivíduo tem ou não um transtorno mental,
e também a dificuldade no tratamento e na descoberta de uma possível cura para a psicopatia
desses indivíduos.
Este trabalho adotou como ferramenta de pesquisa o método de caráter explicativo,
exploratório e descritivo, objetivando identificar fatores que explicam o porquê das coisas, bem
como proporcionar uma familiaridade maior com o problema através de pesquisas
bibliográficas e analises de casos. Objetiva também descrever características que identificam
indivíduos que têm transtorno mental, e questionamentos que podem ajudar no levantamento
de respostas e soluções para a problemática abordada no tema deste trabalho.
O procedimento técnico adotado neste trabalho foi o de caráter bibliográfico e
documental, sendo usado como fonte primária o de caráter bibliográfico, bem como as
doutrinas, legislação vigente e projetos de leis que abordam o tema estudado.
Já a fonte secundaria é a de caráter documental, que abrange os estudos de casos, livros,
documentários, artigos científicos, teses, entrevistas e publicações especializadas no assunto
estudado.
16
Inicialmente no Capítulo I será apresentado um breve histórico resumindo a criação e
trajetória do termo serial killer, traduzido para o português como assassino em série. Também
será apresentado o conceito de assassino em série, quem é o indivíduo que pode ser considerado
como assassino em série, as principais características e fatores que possa-o identificar, bem
como os aspectos gerais e psicológicos.
No Capítulo II, será apresentado como base um estudo psicológico, apresentando a
classificação de transtornos mentais e comportamentais do assassino em série, sendo divido em
três tipos de transtornos de personalidade, sendo eles: o transtorno paranoide, esquizoide e
antissocial, estes são os transtornos mais comuns apresentados em diagnósticos de assassinos
em série.
Já no Capítulo III, será mostrado os casos dos maiores assassinos em série, e os mais
famosos do Brasil, sendo dividido em três etapas, na primeira etapa haverá a apresentação do
perfil, na segunda a infância e na terceira etapa será apresentado os crimes cometidos por eles.
Os assassinos em série apresentados neste trabalho serão: Tiago Henrique Gomes da Rocha
(Serial Killer de Goiânia), Francisco Costa Rocha (Chico Picadinho), Pedro Rodrigues Filho
(Pedrinho Matador) e Francisco de Assis Pereira (Maníaco do Parque).
E no Capítulo IV, o assunto abordado será a responsabilidade penal do agente, bem
como a sua culpabilidade e capacidade penal. A inimputabilidade por doença mental com base
no artigo 26 do Código Penal, também será objeto de estudo deste trabalho, bem como a semi-
imputabilidade do agente que está prevista no parágrafo único do mesmo artigo.
Em seguida, o assunto tratado será a medida de segurança após a reforma psiquiátrica,
este assunto está expresso no artigo 97 do Código Penal. Após abordar os assuntos mais
importantes, será apresentado um breve resumo a respeito do Projeto de Lei do Senado nº
140/2010 que tinha como intenção reformar e inserir no Código Penal Brasileiro a figura do
assassino em série.
Ainda no Capítulo IV haverá uma discussão a respeito do direito penal brasileiro em
face do assassino em série, bem como o conflito do projeto de Lei Nº 140/2010 com a
Constituição Federal vigente. E para finalizar este capítulo será apresentado os possíveis
tratamentos a serem aplicados a estes sujeitos, se há ou não uma possibilidade de
ressocialização do assassino em série.
E caso seja possível a ressocialização do indivíduo, que ele possa voltar a conviver em
sociedade sem colocar em risco a si próprio e a vida dos demais conviventes da sociedade.
17
Visando sempre resguardar um dos direitos fundamentais previsto na Constituição Federal, o
direito a segurança dos cidadãos.
18
1. BREVE HISTÓRICO
O termo Serial Killers é uma expressão norte-americana relativamente nova, cuja a
tradução para o português é “assassinos em série”, este termo foi criado em 1970, nos Estados
Unidos, por um agente especial do Federal Bureau of Investigation (FBI), Robert Ressler. O
agente especial Ressler, foi fundador da chamada Unidade de Ciência Comportamental, que
tinha como principal finalidade estudar comportamentos de assassinos e desvendar qual seria o
próximo ato a ser praticado, evitando que ocorressem outras atrocidades (CASOY, 2014a).
Assassinos em série sempre existiram, mas eles não eram chamados assim, antigamente
quando ocorria um caso de assassinato em série os noticiários da época chamavam os autores
do crime de “demônios assassinos”, “monstros sanguinários” ou “diabos em forma humana”.
O que mudou a partir do momento em que Ressler criou o termo “Serial Killer” foram os
requisitos necessários para definir quem é o assassino em série, a definição é dividida em três
elementos, sendo a quantidade de vítima, lugar da consumação e o intervalo de tempo entre um
assassinato e o outro (SCHECHTER, 2013).
Além dos três elementos citados é possível que um assassino em série deixe uma marca
ou algo em comum nos seus crimes, como uma assinatura nas vítimas ou no local do crime. As
definições servem para diferenciar um assassino único de um em série, tendo em vista que o
primeiro mata uma pessoa conhecida por algum motivo, já o segundo mata pessoas aleatórias
e desconhecidas sem nenhum motivo (TENDLARZ, GARCIA, 2013).
Em 1985, o FBI criou o Violent Criminal Apprehension Program (VICAP), um
programa de agentes especializados para avaliar e solucionar esses crimes. Também foi criado,
o National Center for the Analysis of Violent Crime (NCAVC) um Centro Nacional para a
analisar crimes violentos, onde se estuda o comportamento de tais indivíduos, realizando
investigações (BONFIM, 2010 apud. SAMPAIO, 2015).
E com o passar do tempo os estudos realizados foram ajudando a aprimorar mais o
entendimento a respeito do conceito de assassino em série, facilitando a compreensão da
personalidade e como identificar as principais características de tal indivíduo, apesar do
assassino em série se comportar normalmente, os estudos feitos ajudam a identifica-los.
1.1. Quem é o assassino em série
19
Trata-se do indivíduo que pratica uma série de homicídios dentro de um lapso temporal,
isto é, ele pratica homicídios de forma sequencial, basicamente existem três tipos de assassinos,
sendo dois tipos patológicos, os quais estão diretamente ligados a uma deformidade mental, já
no outro tipo, não há ligação com a patologia, é apenas um criminoso comum que visa ao
benefício a partir dos homicídios praticados (CASOY, 2014a).
Entre os criminosos patológicos, há àquele que mata com espaços temporais, ou seja,
ele mata de tempo em tempo, dando um intervalo nos homicídios praticados, este é chamado
de Serial Killer ou assassino em série. E tem àquele que mata várias pessoas de uma vez só,
este é conhecido como Mass Murderer ou assassino em massa. Já no caso em que não há ligação
com a patologia, o indivíduo é considerado como Hitman ou assassino de aluguel, cuja
finalidade dos homicídios visa ao benefício próprio, ou seja, é um meio de vida, espécie de
serviço para manter sua sobrevivência (BRAYNER, 2016).
O assassino que mata com um intervalo de tempo, é considerado como um assassino
serial propriamente dito, este indivíduo está ligado aos psicopatas, pois são frios e sem
consciência. Já o assassino que mata várias pessoas por impulso, está ligado a outro mecanismo
mental, este indivíduo é considerado como um assassino serial atípico (FARIAS, 2012).
Para um indivíduo ser considerado como um assassino em série deve ser destacado o
motivo que o levou a praticar o crime, esse, deve ser de cunho psicológico, e originário de
fantasias ou desejos íntimos do agressor. Tal motivo, na maioria das vezes será considerado um
absurdo para as outras pessoas, completamente irracional e ilógico para a sociedade. Outro
aspecto importante a ser destacado, diz respeito a escolha de suas vítimas, elas serão escolhidas
aleatoriamente e mortas sem um motivo justificável para nós espectadores (CORDEIRO;
MURIBECA, 2017).
Mas para a psiquiatria forense, o assassino em série vive em uma zona fronteiriça entre
a loucura e a normalidade, ou seja, ele se enquadra em um meio termo, entre uma pessoa
completamente louca e uma pessoa completamente sã, para a psiquiatria eles são considerados
como indivíduos híbridos, pois eles não têm o conhecimento completo da ação em razão de
uma deformidade mental (FARIAS, 2012; BONFIM, 2010).
20
FIGURA 1 – Linha Fronteiriça
Fonte: Elaborado pela autora
Segundo Palomba (2017a, p. 44) os indivíduos que vivem nessa zona fronteiriça entre a
loucura e a normalidade são considerados como condutopatas:
Não são doentes mentais, mas também não são normais mentalmente. Isso se explica
assim: de um lado está a loucura, do outro a normalidade mental e entre ambas, a zona
fronteiriça na qual habitam esses semiloucos, da mesma forma que entre a noite e o
dia existe a aurora, que não é nem noite e nem dia.
Palomba explica bem o conceito de condutopatas, e para facilitar a entender mais sobre
esses indivíduos, existem algumas características e fatores que podem ajudar a identificar um
assassino em série, que será demonstrado no tópico seguinte.
1.2. Características e fatores que identificam um assassino em série
Conforme o entendimento do psiquiatra e pesquisador Palomba (2016b), será
considerado como um assassino em série o indivíduo que cometer dois ou mais homicídios com
um curto lapso temporal, já Casoy (2014a) e Schechter (2013) entendem que o indivíduo deve
cometer no mínimo três ou quatro assassinatos com um intervalo temporal, além de cometer
vários assassinatos é necessário que o indivíduo possua alguns aspectos psicológico.
Alguns assassinos em série podem ser considerados psicopatas e outros não:
O assassino serial, rigorosamente falando pode ser psicopata ou não. O clássico
assassino serial propalado pela mídia, é um psicopata. Tal fato ficou estabelecido pelo
uso repetitivo da ideia, mostrando um indivíduo perverso, frio, calculista, sem
distúrbios de inteligência, às vezes sedutor, que mata suas vítimas quase sempre de
maneira semelhante (PALOMBA, 2016b).
Loucura
Assassino emsérie
Normalidade
21
Já os assassinos em série que não forem considerados psicopatas, certamente serão
considerados como psicóticos, Dalgalarondo (2008) traz o conceito de síndrome psicóticas:
As síndromes psicóticas caracterizam-se por sintomas típicos como alucinações e
delírios, pensamento desorganizado e comportamento claramente bizarro, como fala
e risos imotivados. Os sintomas paranoides são muito comuns, como ideias delirantes
e alucinações auditivas de conteúdo persecutório (JANZARIK, 2003 apud.
DALGALARRONDO 2008).
Neste caso, para entender melhor, os assassinos em série são divididos em duas
categorias, sendo os assassinos organizados (psicopatas) e os desorganizados (psicóticos),
essas duas categorias podem ser subdivididas em quatro classes de assassinos em série, neste
caso haverá o assassino visionário, o missionário, o emotivo e o sádico.
QUADRO 1 – Diferença entre assassinos em série organizados e desorganizados.
ORGANIZADOS (Psicopatas) DESORGANIZADOS (Psicóticos)
- Emotivo e Sádico
- Socialmente competentes;
- Imagem masculina;
- Sabe ser simpático;
- Forte autocontrole e autoestima;
- Possui trabalho estável;
- Controle durante o crime.
- Missionário e Visionário
- Socialmente imaturos;
- Descuidados no aspecto físico;
- Fugido, rejeita contato físico;
- Personalidade frágil, precisa de ajuda;
- Não trabalha, ou com um emprego
pouco qualificado;
- Descuidado.
- Inteligência médio-alta - Baixa inteligência
- Dispõe de mobilidade geográfica - Mora e trabalha perto do local do
crime
- Segue os meios de comunicação - Não segue os meios de comunicação
- É um preso modelo - Comportamento conflituoso
- Pode estar casado e ter filhos - Mora sozinho ou na companhia dos
pais
- Tenta ocultar o cadáver;
- Limpa a cena do crime.
- Não se preocupa com a cena do crime
- A vítima é alguém desconhecido - Mata pessoas conhecidas
- Sexualmente competente - Sexualmente incompetente
Fonte: RÁMILA, 2012 apud. BARBOSA, 2016.
O assassino em série organizado tende a ser muito inteligente, alguns com QI
superdotado, outros possuem uma inteligência elevada mas têm fraco desempenho na escola ou
no trabalho, esse tipo de assassino em série pode ser subdividido em duas classes, sendo o
emotivo e o sádico.
O assassino em série emotivo é psicopata, isto é, ele possui uma frieza e falta de
empatia, eles não sofrem alucinações nem delírios, alguns chegam a utilizar requintes sádicos
e cruéis em suas vítimas, ele age através da raiva, são completamente explosivos, diferente do
22
assassino em série sádico que também é um psicopata, mas não mata por raiva e sim por desejo,
ele disfarça perfeitamente e possui várias personalidades, pois não são completamente insanos,
e dificilmente eles perdem o contato com a realidade, ou seja, eles sabem a diferença do que é
certo e do que é errado.
O assassino em série sádico é mais comum de ser encontrado, eles matam por desejo,
torturam suas vítimas através de mutilações, estupros, alguns chegam a praticar a necrofilia, o
desejo do sádico é ver a vítima chegar ao ápice do sofrimento, ele calcula cada ato a ser
praticado.
Já os assassinos em série desorganizados agem por impulso, são completamente
insanos, e são subdivididos em duas classes, os missionários e visionários.
O assassino em série missionário é psicótico, isto é, ele possui um transtorno mental
grave, o que atinge a sua personalidade, ele sofre de alucinações e delírios, alguns chegam a
perder o contato com a realidade, eles matam determinados grupos de pessoas (por exemplo:
homossexuais, prostitutas, moradores de ruas, estupradores, pedófilos, traficantes, etc.) por
acreditarem que estão fazendo um bem à sociedade.
Por outro lado, os assassinos em série visionários são completamente insanos, vivem
em um mundo criado por eles mesmos, ouvem vozes dentro de sua cabeça, chegam a sofrer
delírios e alucinações, eles costumam obedecer às vozes que escutam, e acreditam friamente
serem reais.
Alguns fatores ajudam a identificar um assassino em série e surgem na infância, como
distúrbio emocional, instinto destrutivo, prazer sexual ao praticar crueldades, satisfação por
atear fogo, entre outros fatores. Os distúrbios emocionais frequentes são problemas com sono,
excesso de timidez, rendimento escolar baixo, urinar na cama com frequência, ansiedade e
tristeza (SCHECHTER, 2013).
O distúrbio mais constante é a urina na cama, apesar de não ser preocupante na infância,
mas deve se tornar preocupante se ocorrer com frequência na puberdade do indivíduo. Já o
instinto destrutivo é praticado na infância, o ato mais comum é provocar incêndios em alguns
objetos, animais ou em latas de lixo.
Há também, a prática de crueldade em animais, este é o distúrbio mais costumeiro
praticado na infância, pois de alguma forma serve para aprimorar as formas de tortura, para
Edmund Kemper (assassino em série americano) a prática de crueldades em animais não era
apenas uma fase de sua vida, mas servia como um ensaio. Já Jeffrey Dahmer (assassino em
série britânico) também praticava crueldades com animais, ele costumava estrangular gato para
saber quando tempo levaria para o animal morrer, ambos praticavam seus atos cruéis em
23
animais, para que mais tarde pudessem praticar em suas vítimas (CASOY, 2014a; SILVA,
2014; SCHECHTER, 2013; ROLAND, 2014).
1.3. Por que eles matam?
Há diversas teses a respeito desta pergunta, uma delas envolve a cultura, isto é, como
esta influência na maneira do ser humano ver as coisas. Segundo a teoria de Aristóteles o
“homem é um animal político, porque os seres humanos tendem naturalmente à convivência
com os outros homens”. Já Maquiavel, tem um entendimento contrário, “os homens tendem, a
ser mau por natureza”, ou seja, o homem é mau por natureza, já na teoria de Hobbes a natureza
humana é má, ou seja, o homem nasce mau e não sabe conviver em sociedade (PINZANI,
2004).
Mas Freud, em 1926, já explicava com sua teoria de onde surgia a maldade do homem:
A maldade é a vingança do homem contra a sociedade, pelas restrições que ela impõe.
As mais desagradáveis características do homem são geradas por esse ajustamento
precário a uma civilização complicada. É o resultado do conflito entre nossos instintos
e nossa cultura (FREUD, 1926b).
Pode-se notar que, segundo a teoria de Freud a bondade do homem é corrompida por
causa das restrições impostas pela sociedade, fazendo com que o indivíduo desperte o pior
instinto que há dentro de si. Neste caso, fica visível que não há uma resposta objetiva, isto é,
um motivo concreto para um indivíduo cometer assassinatos em série, muitas teorias foram
apresentadas, mas nenhuma teve uma explicação real e exata. Ainda assim, algumas das teorias
que foram apresentadas ao longo do tempo ajudaram a explicar um pouco sobre as causas que
incentivam o indivíduo a praticar assassinatos em série, a teoria mais comum diz respeito a
danos cerebrais, os quais podem ser causados de diversas maneiras (PALOMBA, 2016b).
O dano cerebral pode ser causado por traumas ou doenças ao longo de sua infância, ou
o indivíduo pode herdar uma doença mental hereditária, como também, o feto pode ser gerado
com uma má formação cerebral. Outra teoria diz respeito aos abusos infantis, a grande maioria
dos indivíduos que se tronam assassinos em série já sofreram abusos físicos e psicológicos na
infância, é raro um assassino serial que não tenha uma história de abuso e negligência dos pais.
(CASOY, 2014b)
Isso não significa que toda criança que tenha sofrido algum tipo de abuso seja um
matador em potencial. Esses abusos e maus tratos são decorrentes de criações familiares
24
abusivas, que resultam em alguns danos cerebrais, tornando-se o motivo da agressividade e
frieza do assassino em série (SCHECHTER, 2013; CASOY, 2014a; PALOMBA, 2016b)
1.4. Aspectos gerais e psicológicos do assassino em série
Os aspectos principais do assassino em série está composto dentro do ciclo que ele segue
para cometer o crime, esse ciclo é composto por 6 (seis) fases. Segundo o entendimento de
Casoy (2014a, p. 21) o indivíduo ultrapassa seis fases até cometer um novo assassinato, sendo
a fase áurea a primeira fase, onde o indivíduo começa a se afastar da realidade, a segunda é a
fase de pesca, onde ele passa a procurar e escolher sua próxima vítima. A terceira fase o agente
seduz ou engana sua vítima atraindo ela para uma armadilha, a quarta fase é a de captura, nesta
a vítima cai na armadilha do assassino em série. Na quinta fase, denominada como fase do
assassinato ou totem, o indivíduo está no auge da sua emoção, é nesta fase que ele realiza todas
as suas fantasias antes de matar a vítima. Após matar sua vítima, vem a fase da depressão, sendo
esta a sexta e última fase do ciclo.
FIGURA 1 – As seis fases do ciclo do assassino em série
Fonte: Elaborado pela autora.
Nota-se que após a última fase o assassino engatilha novamente o início das fases,
iniciando novamente todo processo, voltando a primeira fase (áurea), tornando assim um ciclo
rotativo e contínuo.
Há diversos aspectos psicológicos a respeito da ação dos assassinos em série, alguns
aspectos são visíveis na infância, mas isso não significa que esses aspectos que surgem na
FASE ÁUREA
FASE DA PESCA
FASE DA CONQUISTA
FASE DA CAPTURA
FASE DO TOTEM
FASE DA DEPRESSÃO
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infância o defina como assassino, existem outros aspectos que dizem respeito ás ações que eles
praticam, como condutas dissimuladas, roubos, isolamento social, entre outros. O mais comum
de acontecer é a chamada tríade terrível ou tríade psicopatológica, trata-se do sadismo precoce,
enurese e destruição, a maioria dos assassinos em série ao relatar a infância citaram os três atos
da tríade, alguns relataram que praticavam o sadismo precoce como um treinamento. Jeffrey
Dahmer, em uma entrevista disse que asfixiava os animais para saber quanto tempo eles
levavam para morrer, deste modo ele teria noção de quanto tempo sua vítima levaria para falecer
(SCHECHTER, 2013; SILVA, 2014).
Outro aspecto muito importante é a fantasia, o assassino em série usará suas fantasias
como um divertimento ou fuga da realidade, neste caso a vítima será apenas um elemento da
fantasia do assassino em série. A fantasia é o aspecto mais importante para ser analisado, pois
todo assassino gosta de se sentir no controle, a fantasia aumenta a sensação de domínio sobre
as vítimas, alguns assassinos em série chegam ao clímax através das fantasias sexuais e desejos
compulsivos, outros só atingem esse ponto culminante com a morte da vítima. Eles são
extremamente obsessivos, e vivem a procura de vítimas que possam saciar suas fantasias, é por
esse motivo que o assassino em série cria um perfil para escolher as suas vítimas (ROLAND,
2014; CASOY, 2014a).
É importante lembrar, que alguns assassinos em série não demonstram que são maus,
agressivos ou loucos, eles simplesmente possuem diversos perfis, eles conseguem ser educados,
atenciosos, convencem as suas vítimas com um charme sem explicação, eles são bons em
dialogar, e extremamente inteligentes. Mas em algumas situações eles são complemente
imprevisíveis, ou seja, em qualquer momento eles podem perder o controle emocional da
situação, podendo chegar ao extremo, e cometer mais um homicídio, o simples fato de tirar eles
do sério ou deixá-los em situações desagradáveis, já é um motivo para que eles cometam mais
um assassinato (SILVA, 2014; PALOMBA, 2017a).
Não tem como falar dos aspectos gerais e psicológicos do assassino em série sem falar
da psicopatia. A psicopatia nada mais é do que um distúrbio psíquico, que afeta a interação
social do indivíduo, ou seja, ela é causada por uma anomalia orgânica cerebral, em outras
palavras é um transtorno mental psicológico ou neurológico (DSM-5, 2014; KAPLAN,
SADOCK, RUIZ, 2017).
Para Palomba (2016, p.197) a definição de psicopatia é:
Psicopatia é uma perturbação a saúde mental que se caracteriza por transtorno de
conduta, ou seja, a deformidade do indivíduo está no comportamento anormal. A
psicopatia não é propriamente doença mental, pois esta pressupõe ruptura com a
realidade, mas também não é normalidade mental. Fica, portanto, na zona fronteiriça
entre ambas. Por analogia, é como se tivéssemos de um lado a noite; do outro o dia; e
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no meio, a aurora, tal qual de um lado está a doença mental, do outro a normalidade e
entre ambas encontra-se a psicopatia (PALOMBA, 2016b).
A psicopatia também pode surgir através de fatores biológicos ou genéticos, no caso de
Pedrinho Matador (o maior assassino em série brasileiro) a sua psicopatia foi causada por
fatores de má formação cerebral. Durante a gravidez a mãe de Pedrinho foi espancada diversas
vezes por seu marido, pouco antes de dar à luz, ela sofreu fortes agressões, tanto é que Pedrinho
nasceu com o crânio fraturado, o que pode ter sido a causa de seu distúrbio cerebral, que acabou
resultando neste quadro de psicopatia (CASOY, 2014b; SILVA, 2014; DSM-5, 2014).
Também é muito importante diferenciar psicopatas de psicóticos, pois existe uma
grande diferença entre eles. A medicina diferencia os dois, pode-se dizer que os psicopatas não
são completamente insanos, apesar de possuírem distúrbios mentais graves, eles sabem a
diferença do que é certo ou errado, os psicopatas possuem uma falta de emoção, têm
comportamento antissocial.
A falta de empatia de um psicopata é notável, pois ele enxerga as outras pessoas como
um simples objeto, não se importa com ninguém, ele é extremamente egoísta, não sabe amar,
não sente pena, e só se importa consigo mesmo. Já o psicótico também tem um transtorno
mental grave, mas diferente do psicopata, o psicótico sofre delírios, na maioria das vezes ele
não sabe o que está fazendo, pois escuta vozes e confia friamente nas suas alucinações, o
psicótico por viver em um mudo criado por ele, não sabe o que está fazendo, mas pode matar
(BARROS, 2010).
Portanto, é raro encontrar um assassino em série psicótico, pois a maioria dos assassinos
em série são psicopatas. Porém, há registro de uma exceção, Herbert Mullin foi um assassino
em série paranoico esquizofrênico, chegou a cometer 13 homicídios (SCHECHTER, 2013).
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2. CLASSIFICAÇÃO DE TRANSTORNOS MENTAIS E COMPORTAMENTAIS
O conceito de saúde mental é amplo, pode-se dizer que a união de alguns elementos faz
com que o indivíduo possua uma saúde mental adequada, os elementos essenciais são: o
equilíbrio emocional, capacidade de amar e estar bem consigo, ou seja, saúde mental é a
capacidade que o indivíduo tem de reconhecer seus limites, sabendo controlar sua vida,
emoções e mudanças do cotidiano. Portanto, a saúde mental nada mais é do que a ausência de
psicopatologia. Mas a Organização Mundial de Saúde (OMS) vem conceituando a saúde mental
como bem-estar físico, mental e social, isto é, a saúde deve ser completa, composta por esses
elementos e não somente a ausência de psicopatologia (DSM-5, 2014; KAPLAN, SADOCK,
RUIZ, 2017; OMS, 2014).
Já o transtorno mental, é um distúrbio que o indivíduo tem, ou seja, é uma anormalidade,
alteração mental que afeta o comportamento do indivíduo. O transtorno mental por se tratar de
uma alteração na mente, tem vários tipos, o mais comum é o transtorno da personalidade (TP),
também denominado como perturbações da personalidade. A OMS define o transtorno mental
como um distúrbio formado por grandes problemas e diversos sintomas, mas o que realmente
define um transtorno mental é a combinação de pensamentos anormais, algumas emoções e
comportamentos em relacionamentos com outras pessoas (DSM-5, 2014; OMS, 2014).
Para Kaplan & Sadock (2017, p.1.418) o transtorno mental é definido como uma:
Doença psiquiátrica ou enfermidade cujas manifestações são caracterizadas
primeiramente por prejuízo comportamental ou psicológico da função, medida em
termos de desvio de algum conceito normativo; associado a sofrimento ou doença,
não apenas a uma resposta esperada a um evento particular ou limitado a relações
entre uma pessoa e a sociedade.
Os TP’s formam uma classe de transtornos, contendo vários tipos, para entender mais o
assassino em série será apresentado alguns transtornos mentais, sendo eles: o transtorno da
personalidade paranoide, o transtorno esquizoide e o antissocial (CID-10, 2011).
Os TP’s se manifestam simultaneamente em duas ou mais áreas especificas, como a
cognição, a afetividade, o funcionamento interpessoal e o controle de impulsos. Na área da
cognição o que é afetado são as formas de perceber e interpretar outras pessoas ou a si mesmo.
Já na área da afetividade, as partes prejudicadas são: a variação, a intensidade e a
resposta emocional do indivíduo, ou seja, alguns sentimentos poderão ser mais ou menos
intensos que os outros. O funcionamento interpessoal, refere-se aos comportamentos esperados
pela sociedade, isto é, se o indivíduo está dentro dos padrões sociais, se ele é uma pessoa
proativa, ou seja, um indivíduo resiliente que evita situações negativas, com isso, se espera que
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o indivíduo saiba interagir e viver em sociedade, e saiba lidar com as pessoas no trabalho, em
casa, no cotidiano, pois as relações interpessoais devem ser boas e produtivas. E por fim tem o
controle de impulso, neste caso o indivíduo perde o controle em algumas situações, ou seja, ele
acaba sendo explosivo em alguma ocasião (DSM-5, 2014; KAPLAN, SADOCK, RUIZ, 2017).
Nota-se que nenhum fator isolado será a causa da psicopatia de um indivíduo, ou seja,
para que o indivíduo seja diagnosticado com psicopatia deve haver a junção de vários fatores,
sendo os fatores biológicos, sociais e ambientais.
2.1. Transtorno da Personalidade Paranoide
Os TP’s são comprometimentos graves do caráter da pessoa, e quase sempre é associado
a uma ruptura das regras e boa convivência social, os indivíduos com transtorno da
personalidade possuem comportamentos inflexíveis e sentimentos disfuncionais. O sujeito que
tem transtorno da personalidade paranoide (TPP) possui desconfiança e suspeita constantes das
pessoas, eles têm uma incapacidade enorme de confiar, de acreditar na integridade e na palavra
das outras pessoas, ou seja, eles não enxergam a realidade de forma saudável e nem como ela
é, mas sim de uma forma distorcida. (DSM-5, 2014).
A pessoa que tem TPP é extremamente vulnerável, pois acredita que todas as outras
pessoas estão manipulando e engando ela, por esse motivo, são pessoas completamente
reservadas e vivem na defensiva, isto é, não dão liberdade para que outras pessoas se aproximem
dela, pois não sabem aceitar a falha do outro.
Existem alguns critérios que definem a pessoa que tem TPP, um deles é a suspeita sem
fundamento de que as pessoas estão explorando, maltratando e enganando-a. Outro critério diz
respeito a confiabilidade e lealdade de seus colegas, o indivíduo com TPP tem suspeitas
recorrentes acerca da fidelidade do seu parceiro, ele reluta a cofiar nos outros, pois acredita que
mais tarde as pessoas possam usar o que sabem sobre ele para prejudica-lo, ele também é
implacável com insulto e deslize (MAZER; MACEDO; JURUENA, 2016).
A maioria dos assassinos em série têm TPP, pois é possível notar a desconfiança que
eles têm de todas as pessoas que se aproximam deles, não conseguem confiar em ninguém ao
seu redor. Os assassinos em série vivem achando que as pessoas a sua volta estão tramando
algo contra elas, é por isso que quando desconfiam que alguém está tramando algo ou
conspirando contra, eles acabam cometendo outro assassinato sem hesitar. Além do TPP, é
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possível que o assassino em série seja diagnosticado com mais algum tipo de transtorno da
personalidade o que é muito comum acontecer, neste caso o assassino em série é considerado
uma pessoa com dupla personalidade.
2.2. Transtorno da Personalidade Esquizoide
O indivíduo que tem Transtorno da Personalidade Esquizoide (TPE), tem uma ligação
maior com o mundo interno e não com o mundo externo, essas pessoas se distanciam da
realidade social. Pode-se observar um grande distanciamento da vida social, eles não possuem
e nem desejam desfrutar de relações, sejam elas de qualquer tipo, eles preferem fazer atividades
reservadas e solitárias, como leituras, jogos, assistir programas de televisão, seriados, entre
outros. Os indivíduos com TPE não podem ser confundidos com os indivíduos que tem
esquizofrenia ou autismo, pois são transtornos completamente diferentes, que não possuem
qualquer tipo de assimilação direta (DSM-5, 2014).
As pessoas com esse transtorno, são pessoas reclusas, que têm seus sentimentos presos,
não possuem qualquer tipo de expressão sentimental, são pessoas frias, e totalmente indiferentes
em relação a críticas e elogios, eles não têm relações amorosas e nem amizades, pois não
conseguem se relacionar, as pessoas mais próximas que eles vão ter serão os parentes de 1º grau
(MAZER; MACEDO; JURUENA, 2016).
Eles também não podem ser comparados a pessoas tímidas, pois há uma diferença entre
eles, os tímidos são pessoas receosas, inseguras e sentem vergonha na frente de outras pessoas,
já o indivíduo que tem transtorno da personalidade esquizoide não são tímidos, não sentem
vergonha e nem são inseguras, eles simplesmente não sentem vontade de ter relações sociais.
O assassino em série que tiver TPE possivelmente terá outro transtorno mental, como o
transtorno da personalidade antissocial e o transtorno da personalidade paranoide, esses são os
transtornos mais comuns diagnosticados em assassinos em série, além de serem considerados
como psicopata.
Outro ponto importante a respeito dos indivíduos que tem TPE é sua inteligência, uma
característica muito visível e comum nos assassinos em série. A grande maioria dos indivíduos
que tem TPE certamente possuirá um quociente de inteligência (QI) bem acima da média, mas
como comprovado eles terão uma capacidade de interagir muito baixa.
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2.3. Transtorno da Personalidade Antissocial
Hoje em dia não se utiliza mais o termo psicopatia, pois ele é cunhado como transtorno
da personalidade antissocial (TPA). Neste caso, para ser considerado como uma pessoa com
TPA são necessários alguns requisitos como, atos antissociais contínuos, inabilidade para seguir
regras sociais (pessoas que não reconhecem as regras mínimas) vivem inconsequentemente,
anormalidades mentais neste transtorno não está presente, ou seja, o indivíduo com esse
transtorno antissocial não sofre de delírios ou alucinações ele age completamente consciente
(DSM-5, 2014).
Este transtorno terá início na adolescência seguindo na fase adulta de forma crônica,
geralmente atinge mais homens do que mulheres. Mas o fato de ter início não adolescência não
significa que ele será diagnosticado com TPA, a certeza desse diagnostico só é dada depois dos
18 anos completos. O indivíduo com transtorno antissocial terá dificuldade para percepção do
outro, isto é, tem dificuldade para pensar nas pessoas ao seu redor, pois não pensa nas
consequências de seus atos. Ele terá uma impulsividade em relação ao futuro, e uma
agressividade intensa em algumas situações, principalmente quando algo planejado não saia
como eles queriam.
Provavelmente este indivíduo terá negligencia pela própria segurança ou a segurança
das pessoas ao seu redor, são inteligentes e um grande poder de persuasão, eles levam grande
vantagem em quase tudo pois sabem convencer as pessoas do ponto de vista deles, isto e, eles
seduzem as pessoas.
Apesar de serem extremamente inteligentes, eles terão uma irresponsabilidade
profissional, muitos iniciam o trabalho, mas acabam saindo por causa de seu comportamento
irresponsável. Eles têm manifestações diferenciadas de emoções, ou seja, não sentem remorso
quando causam algo negativo a alguém, eles não conseguem reconhecer que estão causando
um sofrimento ao outro, possuem dificuldade para aprender com as experiências (MAZER;
MACEDO; JURUENA, 2016).
A pessoa com TPA sente prazer em enganar e agredir alguém seja de forma verbal ou
fisicamente, esse indivíduo pode se sentir diferente, mas ele gosta dessa diferença e sente prazer
com seus comportamentos negativos.
Já em relação aos seus relacionamentos, eles serão sempre conflituosos, muito instáveis,
a relação com seus familiares será bastante perturbado, e por fim esse indivíduo levará uma
vida completamente instável e sem grandes construções.
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Este transtorno é o mais comum de ser diagnosticado nos criminosos, principalmente
em assassinos em série, pelo simples fato deles não conseguirem seguir as regras sociais
básicas, eles possuem frieza e indiferença excessiva em relação as leis morais e jurídicas.
Crimes violentos e de grande repercussão são praticados por assassinos em série, a
crueldade dos atos é em algumas vezes confundida com uma mente em desequilíbrio, e na
maioria das vezes esse transtorno é confundido com algum sofrimento mental ou loucura.
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3. ESTUDO DE CASOS: A VIDA DOS MAIORES ASSASSINOS EM SÉRIE DO
BRASIL
Neste capitulo será apresentado os maiores casos de assassinatos em série que já
ocorreram no Brasil, casos atuais e importantes. Também será mostrado um breve resumo sobre
a história dos assassinos em série citados, descrevendo como era a infância deles, a convivência
com seus familiares, amigos e no local de trabalho, e também os métodos que eles utilizavam
para cometer os crimes.
Outro assunto muito importante que também será abordado no decorrer deste capitulo
diz respeito a personalidade psicológica de cada um deles, assunto fundamental para entender
mais sobre eles.
3.1. Perfil e Crimes do Serial Killer de Goiânia
Um dos assassinos a ser apresentado será Tiago Henrique Gomes da Rocha, o caso mais
atual no Brasil, Tiago praticou diversos crimes entre o ano de 2011 até o ano de 2014. Seus
assassinatos chocou a população do município de Goiânia-GO, a maioria das vítimas foram
mulheres. Tiago chegou a cometer crimes contra homossexuais e moradores de rua, atualmente
ele está preso, foi condenado por diversos homicídios, mas ainda há processos para serem
julgados.
Tiago, mais conhecido como “Serial Killer de Goiânia”, assassino em série mais famoso
da atualidade, réu confesso de aproximadamente 39 vítimas. Tiago foi criado pela mãe e avós,
ele nunca conheceu o pai, sempre foi um menino muito quieto e tímido, mas muito inteligente,
não saía muito de casa na infância.
Na sua adolescência, Tiago sofria violência psicológica na escola, era vítima de
bullying, sofreu abuso sexual, e teve relacionamentos homossexuais. Durante toda adolescência
Tiago conviveu em sua casa com visitas de mulheres, travestis e homossexuais, ele sempre
culpou sua mãe por não ter conhecido seu pai. Já adulto, Tiago passou a trabalhar como
vigilante, porém, ele levava uma vida dupla, em seus períodos de folga do trabalho ele cometia
assaltos e assassinatos (TOLEDO, 2012).
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Tiago possuía mais de 5 tipos de personalidade, mas o perfil que o define é o de um
psicopata com transtorno da personalidade antissocial, porém muito inteligente, manipulador,
frio em todas as suas ações e extremamente calculista. Tiago possui uma deformidade afetiva e
sempre agia seguindo sua razão e não a emoção.
Uma das personalidades de Tiago era seu lado agressivo, nos primeiros assassinatos ele
matava homossexuais, através de atos cruéis, como facadas e estrangulamentos, ele não sentia
remorso nem piedade, simplesmente achava que estava fazendo um bem para a sociedade
tirando a vida dos homossexuais.
A segunda personalidade de Tiago mostrava um lado menos agressivo, pois ele
proporcionava que suas vítimas tivessem uma espécie de “eutanásia”, matava moradores de rua
com apenas um tiro na cabeça, pois achava que estava livrando eles de tanto sofrimento e
miséria.
A terceira personalidade de Tiago mostrava toda sua raiva, e extremo ódio que sentia
pelas mulheres que lembravam a sua mãe fisicamente, ele matava suas vítimas com apenas um
tiro no peito, sem hesitar e sem piedade nenhuma.
A quarta personalidade de Tiago mostrava-o como uma pessoa extremamente fria, nos
assaltos que praticava ele não alterava a voz e nem apressava as vítimas, ele agia com intensa
tranquilidade e frieza.
Já em sua quinta personalidade ele era apenas uma pessoa tímida e quieta, trabalhava
como vigilante, não tinha muitos amigos, porem era muito educado e atencioso com as outras
pessoas, ninguém poderia imaginar que por trás de uma pessoa como ele poderia existir várias
personalidades e um assassino cruel.
Tiago Henrique Gomes da Rocha foi condenado por diversos homicídios, e assaltos,
contra ele havia mais de 42 processos, sendo 35 por homicídios, Tiago confessou cerca de 39
homicídios, mas ainda restam processos para serem sentenciados.
3.2. Perfil e Crimes de Chico Picadinho
Outro caso a ser apresentado será do assassino em série Francisco Costa Rocha, cometeu
dois assassinatos cruéis no ano de 1.966, e o segundo em 1.976, dez anos após ser liberado da
prisão. Francisco cumpriu a maior pena na história do Brasil, atualmente devido a um processo
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civil de interdição, Francisco está em um hospital de custódia tendo tratamento psiquiátrico,
apesar de ter cumprido 30 (trinta) anos de prisão (tempo máximo de pena previsto no Brasil)
ele ficará internado por tempo indeterminado.
Francisco, mais conhecido como “Chico Picadinho”, um dos assassinos em série mais
conhecido do Brasil. Chico teve uma infância bastante conturbada, costuma enxergar e
conversar com assombrações, ele gostava de histórias de terror, como vampiros e lobisomens,
Chico gostava de brincar com fogo e matar gatos para saber se eles realmente teriam sete vidas.
Sofreu de enurese até seus seis anos de idade. A mãe de Chico exercia como profissão a
prostituição, ela atendia seus clientes em casa, Chico com apenas oito anos de idade,
presenciava sua mãe sendo agredida e tendo relações com seus clientes, Chico cresceu sem uma
figura masculina em casa, sem a presença de um pai (CASOY, 2014b).
Aos treze anos Chico incentivado por um tio, é levado a um cabaré e tem seu primeiro
relacionamento sexual com uma prostituta. Com o passar do tempo, aos dezessete anos Chico
começou a se relacionar com homens. Quando completou 18 anos, ele tentou ser policial
militar, mas não conseguiu, então decidiu trabalhar como corretor de imóveis, era o trabalho
perfeito para manter sua vida de sexo e drogas.
Para a psiquiatria forense, Chico é diagnosticado como um psicopata, na época em que
foi preso ele também foi diagnosticado com o transtorno da personalidade antissocial e
transtorno da personalidade sádica. Hoje em dia, o DSM-5 não apresenta mais o transtorno da
personalidade sádica, ele foi incluído ao transtorno do sadismo sexual e no transtorno do
masoquismo sexual (DSM-5, 2014).
Chico sempre se apresentou como uma pessoa manipuladora, dissimulado e muito
sedutor, ele sabia como conquistar as suas vítimas. Sua primeira vítima foi assassinada de forma
cruel, ela foi estrangulada e esquartejada. Chico, após esquartejar a vítima, tentou sumir com
os pedaços do corpo, mas não conseguiu. Ele foi condenado a aproximadamente 20 anos de
prisão, mas não cumpriu muito tempo de pena, logo ele foi liberado por bom comportamento,
assim que completou 8 anos de pena a justiça entendeu que ele já estava apto para voltar a viver
em sociedade (MOREIRA, 2016).
Logo após ser solto, Chico foi atrás de sua segunda vítima, ela foi estuprada e
estrangulada, mas não morreu, a vítima apenas desmaiou, ao perceber que ela estava viva, Chico
deixou o local e fugiu, ele sabia que se cometesse outro crime seria reincidente. A vítima
sobrevivente da tentativa de homicídio denunciou Chico.
Em 13 de setembro de 1976, a empregada doméstica Rosemeire, de 20 anos, conheceu
Francisco na Lanchonete Elenice, onde ele a convidou para acompanha-lo ao Hotel
Carnot, juntamente com mais um casal.
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Enquanto estavam tendo relações sexuais, Francisco começou a ter um
comportamento bastante violento.
Mordeu sua parceira várias vezes além de tentar esganá-la. Segundo o depoimento da
moça ela desmaiou e quando voltou a si percebeu que Francisco tentava morder a sua
“veia do pescoço”.
Ao levantar-se, sangue escorreu por entre suas pernas. [...] Rosemeire, que estava no
início de uma gravidez, perdeu o bebê. Em 15 de setembro foi instaurado um processo
contra Francisco Costa Rocha por lesão corporal dolosa.
Entre a saída da prisão e a fatídica noite de outubro de 1976, quando Francisco
cometeria seu segundo crime, ele mesmo notou a escalada de violência em que se
encontrava. A cada relação sexual que praticava, seus instintos sádicos estavam mais
exacerbados.
Por volta de meia dúzia de mulheres sentiram a agressividade dos “quase”
estrangulamentos, mas como a excitação sexual por privação de oxigênio (hipoxifilia)
é prática comum em relações de sadomasoquistas, não reclamaram.
Quando a condição sádica é severa, e quando está associada ao transtorno de
personalidade antissocial, o indivíduo pode ferir gravemente ou matar suas parceiras.
Francisco sabia que esse dia não estaria longe (CASOY, 2014, p. 97).
Mesmo foragido Chico foi atrás de outra vítima, sua terceira vítima foi seduzida assim
como a primeira, ele fez uso do mesmo modus operandi que utilizou contra a primeira vítima,
estrangulou e esquartejou ela, e de forma cruel ele tentou sumir com os pedaços da vítima,
algumas partes ele colocou em uma mala, outras ele jogou no vaso sanitário e deu descarga, o
restante dos pedaços ele colocou em sacos plásticos.
Chico em seu segundo crime foi condenado a aproximadamente 30 anos de prisão, em
2017 o advogado de Chico fez um pedido para que ele fosse liberado, tendo em vista que ele
está internado a mais de 40 anos, Chico foi interditado civilmente.
3.3. Perfil e Crimes de Pedrinho Matador
O caso do Pedro Rodrigues Filho também é bastante interessante e atual, ele diz ter
cometido mais de 100 (cem) assassinatos dentro e fora do sistema penitenciário, Pedro foi preso
no ano de 2011, atualmente ele está cumprindo pena, a qual tem previsão de término no ano de
2019.
Pedro, mais conhecido como “Pedrinho Matador”, considerado o maior assassino em
série do Brasil, Pedrinho em uma entrevista exclusiva à Marcelo Rezende para o programa
Repórter Record, afirmou que já matou mais de cem pessoas, a maioria delas dentro do sistema
prisional. Em relação a negligencia de seus pais, Pedrinho teve uma infância muito parecida
com a de Chico Picadinho, mas diferente de Chico, Pedrinho teve uma figura paterna na sua
infância, mas seu pai era muito controlador, e frequentemente praticava violência doméstica,
quem sofria mais era a mãe de Pedrinho que sempre foi muito maltratada (TOLEDO, 2012).
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Quando Pedrinho tinha 14 anos ele cometeu seu primeiro homicídio, matou duas
pessoas por vingança, após cometer seu primeiro crime Pedrinho se mudou. Na cidade em que
foi morar, ele se envolveu com tráfico de drogas e mais homicídios, entre seus 15 anos de idade
até ser preso, Pedrinho cometeu mais de 30 homicídios fora do sistema prisional, mas dentro
do sistema prisional ele cometeu dezenas de homicídios (CASOY, 2014b).
Pedrinho, logo após alguns anos de prisão, fez exames clínicos psicológicos, foi
diagnosticado como um encefalopata, isto é, ele tem uma alteração patológica em relação ao
encéfalo, e tem transtorno da personalidade antissocial, ele não apresenta outras personalidades,
sempre se mostrou muito frio e explosivo, nunca respeitou as regras sociais, Pedrinho tinha
suas próprias regras, sempre agindo pela razão e não pela emoção.
Em todos os crimes que Pedrinho cometeu ele sabia perfeitamente o que estava fazendo,
cometia assassinatos de forma fria e sem hesitar, ele não tinha piedade das suas vítimas, suas
armas preferidas para assassinar eram as armas brancas, como madeira, facas, pedaço de
mármore, entre outros, mas ele também já utilizou armas de fogo ou estrangulamento.
Pedrinho foi condenado a aproximadamente 400 anos de prisão, ele chegou a cumprir
30 anos. Foi liberado em 2007, mas quatro anos depois voltou a cometer homicídios, foi
condenado novamente e permanece preso até a atualidade.
3.4. Perfil e Crimes do Maníaco do Parque
E para completar será apresentado o caso do Francisco de Assis Pereira, ele praticou
diversos assassinatos até o ano de 1.998, Francisco praticava os assassinatos da forma mais
cruel possível, seu foi o mais chocante do Brasil, pelo jeito que ele praticava os crimes, todas
as vítimas foram mulheres.
Francisco de Assis Pereira, mais conhecido como “Maníaco do Parque”, assim como
Pedrinho e Chico Picadinho, Francisco também teve uma infância conturbada, foi criado por
sua mãe e uma tia, ele não teve um exemplo paterno. Francisco relata que na sua infância e até
mesmo depois de adulto ele tinha diversos pesadelos, não conseguia dormir direito, ainda
menino, Francisco era molestado sexualmente por essa tia que ajudou cria-lo. Quando
adolescente Francisco começou a trabalhar, ele teve um patrão que o assediava, após esses
assédios ele começou a se interessar por relações homossexuais (PEREIRA, 2015).
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Francisco foi diagnosticado como um condutopata, ou seja, a patologia e a deformidade
se encontram nas condutas praticadas por ele, isto é, ele é um psicopata extremamente egoísta,
ele também foi diagnosticado com o transtorno da personalidade antissocial (PALOMBA,
2017a).
Para seduzir as suas vítimas, ele se mostrava muito atencioso e educado, ele conseguia
conquistar elas de uma maneira cruel, ele atacava o “querer ser” da vítima, isto é, ele atacava
os sonhos das suas vítimas, Francisco se apresentava como um agente de modelos de uma
empresa multinacional, com isso ele conseguia atrair as mulheres.
Seus crimes eram praticados de forma completamente cruel, Francisco atraia suas
vítimas para uma mata, ele agredia elas com socos, pontapés e canibalismo, estuprava e para
finalizar ele estrangulava suas vítimas, em algumas vezes ele usava um cadarço ou um cordão
para mata-las.
Após matar suas vítimas Francisco arrumava o corpo delas em uma posição de decúbito
genu-peitoral, ele é considerado um assassino em série organizado, pois planejava todos seus
ataques e arrumava os corpos de suas vítimas no local do crime. Ele costumava voltar dias
depois no local do crime para visita-las e praticar necrofilia. Francisco foi condenado por 9
homicídios, ocultação de cadáver, estupro e atentado ao pudor, somando todas as condenações
chega a 268 anos de prisão, atualmente Francisco encontra-se preso (PEREIRA, 2015).
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4. RESPONSABILIDADE PENAL
No capítulo anterior foi apresentado um breve estudo a respeito do perfil e principais
crimes de alguns assassinos em série brasileiros, o que facilita e ajuda a entender se há
responsabilidade penal do agente ou não, neste capitulo será demonstrado quando vai haver a
responsabilidade penal.
Haverá responsabilidade penal nos casos que houver capacidade penal do agente, a
capacidade penal é composta por um conjunto de condições. Deste modo, para que o sujeito
seja titular de direitos e obrigações na esfera penal é necessário que ele possua capacidade penal.
Uma das condições da capacidade penal é a culpabilidade do agente, ou seja, o indivíduo será
culpado por praticar alguma infração penal, a outra condição é a imputabilidade do agente, que
diz respeito ao entendimento do agente (BITENCOURT, 2015; CAPEZ, 2015; GRECO, 2015;
NUCCI, 2015).
4.1. Da Culpabilidade
A culpabilidade é a capacidade que o agente tem para decidir livremente entre o certo
ou o errado, portanto só haverá culpabilidade quando existir liberdade de decisão do agente, é
a culpabilidade que distinguirá a conduta do indivíduo normal do indivíduo insano. Para Capez
(2015, p.317), a culpabilidade será atribuída ao indivíduo que praticar um fato típico e ilícito,
isso não significa que é um elemento do crime, mas sim um pressuposto que será usado na
imposição da pena (BITENCOURT, 2015; CAPEZ, 2015).
A culpabilidade também é considerada como uma reprovação pessoal que recai sobre o
agente, decorrente da conduta típica e ilícita praticada por ele, alguns doutrinadores entendem
que há uma responsabilidade moral do agente, ou seja, o indivíduo possui livre arbítrio para
fazer suas próprias escolhas, ele é voluntariamente livre, mas se praticar uma conduta típica e
ilícita ele sofrerá sanções penais imposta pelo Estado. Parte da doutrina entende que o agente
deve ser imputável, neste caso ele vai agir com sua própria consciência, e no final, caso ele não
respeite as regras impostas pelo direito, consequentemente ele responderá por seus atos
juridicamente (GRECO, 2015; NUCCI, 2015).
39
Ao longo do tempo, a culpabilidade foi evoluindo e, com a sua evolução, surgiram novas
teorias, mas a que prevalece hoje, explica que a culpabilidade é um elemento importante do
crime, segundo a teoria psicológica ela é vista como um elemento subjetivo, o qual representa
o dolo ou a culpa do agente. Neste caso, a doutrina que adota essa teoria entende que a
imputabilidade do agente é um pressuposto fundamental, ou seja, o indivíduo deve ser
imputável mentalmente (sã) e possuir mais de 18 anos. Portanto, o indivíduo que agir com dolo
e ser considerado imputável, consequentemente possuirá culpabilidade, tornando-se
responsável pelos atos praticados na infração penal (NUCCI, 2015).
4.2. Da Imputabilidade
Tendo em vista que a imputabilidade do agente é um pressuposto fundamental para que
haja a responsabilidade penal do indivíduo, existem diversos conceitos a respeito da
imputabilidade, conforme o entendimento do doutrinador Greco (2014, p. 448), a
imputabilidade penal nada mais é do que a possibilidade de atribuir, imputar o fato típico ilícito
ao agente.
A imputabilidade é constituída por dois elementos: um intelectual (capacidade de
entender o caráter ilícito do fato), outro volitivo (capacidade de determinar-se de
acordo com esse entendimento). O primeiro é a capacidade (genérica) de compreender
as proibições ou determinações jurídicas. Bettiol diz que o agente deve poder prever
as repercussões que a própria ação poderá acarretar no mundo social”, deve ter, pois,
a percepção do significado ético-social do próprio agir. O segundo, a capacidade de
dirigir a conduta de acordo com o entendimento ético-jurídico. Conforme Bettiol, é
preciso que o agente tenha condições de avaliar o valor do motivo que o impele à ação
e, do outro lado, o valor inibitório da ameaça penal (SANZO BRODT, 1996 apud.
GRECO, 2014).
Nota-se que para o psiquiatra Palomba (2016, p.135) o conceito de imputabilidade é a
atribuição do crime ao indivíduo:
Imputar é atribuir alguma coisa a alguém. Imputabilidade penal é a atribuição do crime
ao indivíduo. Portanto, se um indivíduo comete um crime e é normal mentalmente,
esse crime lhe é imputado penalmente, e será julgado responsável pelo ato praticado.
Por outro lado, se um indivíduo comete um crime e é doente mental, e há nexo causal
entre ambos, o crime praticado é inimputável ao indivíduo que é absolvido do crime
e julgado irresponsável. Disso deflui que a imputabilidade está no ato, e a
responsabilidade está no indivíduo, donde ser erro dizer “esse indivíduo é
inimputável”, como a maioria diz e consta até mesmo do Código Penal. O indivíduo
não é inimputável; inimputável é o crime que ele cometeu. O indivíduo é irresponsável
(PALOMBA, 2016b).
40
E para Dámasio de Jesus (2014b) a imputabilidade nada mais é do que a atribuir a
alguém a responsabilidade de alguma coisa:
Imputabilidade penal é o conjunto de condições pessoais que dão ao agente
capacidade para lhe ser juridicamente imputada a prática de um fato punível.
Imputável é o sujeito mentalmente são e desenvolvido, capaz de entender o caráter
ilícito do fato e de determinar-se de acordo com esse entendimento (JESUS, 2014
apud. BAPTISTA, 2015).
Tendo em vista que a imputabilidade (sanidade mental e maturidade), do agente é um
pressuposto fundamental para que haja responsabilidade penal, é importante dizer que uma das
formas de excluir a culpabilidade será por meio da inimputabilidade. Neste caso a
inimputabilidade pode ser por doença mental ou por idade.
4.3. Da Inimputabilidade
O Código Penal, em seu artigo 26, apresenta duas hipóteses de inimputabilidade, sendo:
I- inimputabilidade por doença mental;
II- inimputabilidade por imaturidade natural.
Para este trabalho, o importante é entender a inimputabilidade por doença mental ou
desenvolvimento mental incompleto ou retardado. A doutrina traz diversos conceitos a respeito
da inimputabilidade por doença mental, e apresentam alguns critérios que nos ajuda a verificar
se o agente é inimputável.
A inimputabilidade por doença mental nada mais é do que a falta de sanidade mental do
agente, ou seja, são os indivíduos que ao tempo ou momento da ação criminosa não apresentava
capacidade de entendimento e/ou não apresentava determinação por doença mental. Caso a
inimputabilidade esteja presente e seja comprovado por uma avaliação psiquiátrica o agente
não responde pelo crime praticado, pois a ele não pode ser atribuído responsabilidade pelo
cometimento de um ilícito penal, mas a pena do agente inimputável será substituída por uma
medida de segurança (NUCCI, 2015).
Para o doutrinador Greco, a inimputabilidade por doença mental existe somente se
houver a junção de dois critérios, sendo:
I- Existência de uma doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou
retardado;
41
II- A absoluta incapacidade de, ao tempo da ação ou da omissão, entender o caráter
ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Portanto, isso significa que o Código Penal, pelo seu art. 26, caput, adotou o critério
biopsicológico para a aferição da inimputabilidade do agente (GRECO, 2015, p.448-449).
O critério biopsicológico surgiu da junção de dois critérios, isto é, a junção do critério
biológico e psicológico, significa dizer que não basta somente a comprovação da doença mental
ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado do agente, também será necessário a
verificação e comprovação, de que no momento da ação do ato ilícito, o agente era inteiramente
incapaz de entender a ilicitude do fato (GRECO, 2015).
Neste caso, para comprovar que um indivíduo tenha transtorno mental, é necessário que
seja confirmado por meio de uma perícia médica, ou seja, o indivíduo deverá fazer exames
clínicos.
Caso haja a comprovação total da inimputabilidade do agente, isto é, se comprovado
que o indivíduo tem doença mental, ele será absolvido, conforme a redação expressa no inciso
VI do art. 386 do Código de Processo Penal, ao invés de cumprir pena privativa de liberdade
em uma penitenciária, ele será submetido a uma medida de segurança.
Contudo, de acordo com a Lei nº 11.690, de 9 de junho de 2008, o agente inimputável
será submetido a um tratamento para o transtorno mental, que será de cunho obrigatório.
4.4. Semi-Imputabilidade
O parágrafo único do artigo 26 do Código Penal, faz referência às pessoas semi-
imputáveis, essas pessoas são vistas pela psiquiatria como indivíduos fronteiriços, que vivem
em uma zona entre a loucura e a sanidade mental, conforme expressa o referido artigo, nota-se
que:
A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente em virtude de perturbação
da saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado, não era
inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo
com esse entendimento (BRASIL, 1940a).
De acordo com o que está expresso na lei, os semi-imputáveis não serão isentos da pena,
mas terão suas penas reduzidas de um a dois terços, a lei também faz referência aos agentes que
42
praticam crimes em virtude de uma perturbação da saúde mental, ou por desenvolvimento
mental incompleto ou retardado, ou seja, indivíduos com transtornos mentais.
É na semi-imputabilidade que os assassinos em séries se enquadram, eles vivem em uma
linha intermediaria entre a imputabilidade e a inimputabilidade, neste caso o indivíduo semi-
imputavel possui culpabilidade, e responderá pelos atos que praticar.
O item 2.4 deste trabalho, refere-se às pessoas que possuem transtorno de personalidade
psicopática (psicopatia), conforme estudado anteriormente, os indivíduos com psicopatia têm
total capacidade para compreender seus atos, eles sabem o que é certo ou errado, portanto basta
o entendimento para serem responsáveis pelos crimes praticados.
Neste caso, não há o que se falar em isentar o indivíduo semi-imputável da pena, embora
ele viva em uma zona fronteiriça, e não tenha total capacidade de discernir o valor ético social,
para a psiquiatria ele é capaz de entender a gravidade dos seus atos e discernir o certo do errado,
mas infelizmente eles não conseguem se controlar.
Neste caso seria possível o tratamento especial do indivíduo semi-imputável, e a pena
reduzida de um a dois terços, poderá ser convertida em Medida de Segurança com a internação
do indivíduo em Casa de Custódia, conforme expressa o artigo 98 do Código Penal.
4.5. Medida de Segurança
Após a reforma psiquiátrica que ocorreu em 06 de abril de 2001 por meio da lei nº
10.216, a legislação penal brasileira passou a aplicar a medida de segurança para os agentes
inimputáveis que praticassem um fato típico, ilícito, mas não culpável. Conforme expressa o
artigo 59 do Código Penal, a pena tem como finalidade reprovar e prevenir a pratica de infrações
penais (GREGO, 2014).
Desde então a finalidade da Medida de Segurança (MS) é totalmente diferente da pena.
Pois trata-se de uma forma legal que a justiça encontrou para tratar pessoas com transtornos
mentais que infringiram a lei. Neste caso o indivíduo não será considerado como um criminoso,
mas sim como o sujeito ativo da infração penal, a MS tem caráter preventivo, pois visa impedir
que o infrator volte a delinquir. Por esse motivo, o indivíduo é submetido a um tratamento
durante o tempo em que estiver cumprindo a medida de segurança (COHEN, 2006).
Palomba (2016, p. 149) define a Medida de Segurança como:
43
Medida de Segurança é a sanção penal imposta pelo juiz nos casos de
inimputabilidade, que implica o reconhecimento de que o agente é portador de
periculosidade social. Em outras palavras, indivíduos cujos atos delituosos não lhes
foram imputados, por serem portadores de transtornos mentais, presume-se que sejam
portadores de periculosidade, e o juiz aplica medida de segurança, em vez de pena
restritiva de liberdade (PALOMBA, 2016b).
Para que a pena seja substituída por uma medida de segurança é necessário que haja
alguns critérios cumulativos, como a prática de um fato típico e antijurídico, deve ser cometido
pelo indivíduo inimputável, comprovação da incapacidade absoluta do agente por causa de uma
doença mental ou, um desenvolvimento mental incompleto ou retardado (GRECO, 2014).
Neste caso caberá ao juiz com base no artigo 386, inciso VI do Código de Processo
Penal (CPP) determinar a absolvição do réu mencionando a causa que isentará o réu da pena. É
importante ressaltar que a doença por si só não isentará o indivíduo da pena, é necessário que
em decorrência da doença mental o sujeito não tenha capacidade no momento do fato de
entender o que é certo ou errado. Caso falta um desses critérios não há o que se falar em medida
de segurança (MIRABETE, 2015).
O artigo 97 do Código Penal (CP) traz expressamente que: “se o agente for inimputável,
o juiz determinará sua internação (artigo 26). Se, todavia, o fato previsto como crime for punível
com detenção, poderá o juiz submetê-lo a tratamento ambulatorial”.
Deste modo, o juiz determinará a internação do indivíduo conforme com o que está
descrito no artigo 26 caput do CP:
É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental
incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz
de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento (BRASIL, 1940a).
O Código Penal, em seu artigo 96, também cita as medidas de segurança possíveis para
os indivíduos inimputáveis sendo elas:
I – Internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, em outro
estabelecimento adequado;
II – Sujeição a tratamento ambulatorial (BRASIL, 1940a).
Quanto a esta segunda espécie de medida de segurança, o tratamento ambulatorial, no
artigo 101 da Lei de Execuções Penais (LEP) dispõe que: “Será realizado no Hospital de
Custódia e Tratamento Psiquiátrico ou em outro local com dependência médica adequada.”
(BRASIL,1984).
44
A espécie de medida de segurança imposta e o prazo mínimo dependerão de alguns
fatores, como o tipo de crime praticado:
Art. 97 – Se o agente for inimputável, o juiz determinará sua internação (art. 26,). Se,
todavia, o fato previsto como crime for punível com detenção, poderá o juiz submetê-
lo a tratamento ambulatorial (CP).
§1º – A internação, ou tratamento ambulatorial, será por tempo indeterminado,
perdurando enquanto não for averiguada, mediante perícia médica, a cessação de
periculosidade. O prazo mínimo deverá ser de 1 a 3 anos (BRASIL, 1940a).
Essa determinação do tratamento em função do tipo de delito (internação para crimes
punidos com reclusão e tratamento ambulatorial para crimes punidos com detenção), baseado
em prazos fixos (mínimo de 1 a 3 anos), é totalmente incompatível com os princípios da Lei
10.216/01.
Outro aspecto importante da Medida de Segurança é o critério de periculosidade. Para
Correa, Lima e Alves (2007) a natureza reducionista da compreensão do ser humano ao eleger
a periculosidade como a única expressão possível do sujeito compromete o cuidado integral a
saúde da pessoa com transtorno mental e a garantia dos seus respectivos direitos (p. 1998).
A medida de segurança perdura enquanto não for averiguada a cessação da
periculosidade, não bastando a estabilização do quadro patológico diagnosticado anteriormente.
Essa circunstância de perpetuar a restrição de ir e vir da pessoa com transtorno mental, configura
uma situação de desrespeito aos princípios dos direitos humanos.
A perícia médica de averiguação de cessação da periculosidade deve ser realizada ao
termo do prazo mínimo fixado e deverá ser repetida de ano em ano, ou a qualquer tempo, se o
determinar o juiz da execução (Art. 97, §2º CP).
4.6. Projeto de Lei do Senado – Nº 140/2010
A lei nº 140/2010 foi proposta pelo Senador Romeu Tuma, tal projeto tem como objetivo
a inserção da figura do assassino em série no direito penal brasileiro, visando um tratamento
adequado para esses indivíduos que possuem um transtorno de personalidade.
A intenção de Tuma era inserir no artigo 121 do Código Penal novos parágrafos, esses
parágrafos teriam como objetivo conceituar a definição de assassinos em série, além de aplicar
uma pena mais severa, e tratamento adequado para tais indivíduos.
45
Na atualidade, o direito brasileiro ainda não possui um conceito especifico para
assassinos em série, o que dificulta muito na aplicação da pena e no tratamento devido para os
assassinos em série.
Em 2010, quando o projeto de lei do Senador Tuma foi apresentado, ele trazia um
conceito, uma pena mais severa e o tratamento adequado para o agente, conforme demonstra
os parágrafos do projeto de lei:
§6º – Considera-se assassino em série o agente que comete 03 (três) homicídios
dolosos, no mínimo, em determinado intervalo de tempo, sendo que a conduta social
e a personalidade do agente, o perfil idêntico das vítimas e as circunstâncias dos
homicídios indicam que o modo de operação do homicida implica em uma maneira
de agir, operar ou executar os assassinatos sempre obedecendo a um padrão pré-
estabelecido, a um procedimento criminoso idêntico.
§7º – Além dos requisitos estabelecidos no parágrafo anterior, para a caracterização
da figura do assassino em série é necessário a elaboração de laudo pericial, unânime,
de uma junta profissional integrada por 05 (cinco) profissionais:
I – 02 (dois) psicólogos;
II – 02 (dois) psiquiatras;
III – 01 (um) especialista, com comprovada experiência no assunto.
§8º – O agente considerado assassino em série sujeitar-se-á a uma expiação mínima
de 30 (trinta) anos de reclusão, em regime integralmente fechado, ou submetido à
medida de segurança, por igual período, em hospital psiquiátrico ou estabelecimento
do gênero.
§9º – É vedado a concessão de anistia, graça, indulto, progressão de regime ou
qualquer tipo de benefício penal ao assassino em série (BRASIL, 2010).
Como é possível notar, este projeto de lei apresentava possíveis soluções para a omissão
do Código Penal Brasileiro, os tratamentos seriam aplicados de uma forma mais rígida, a pena
apresentada no projeto de lei era extremamente mais severa do que as penas aplicadas hoje em
dia para um assassino em série.
Além das possíveis soluções apresentadas, o parágrafo 6º do projeto de lei trazia um
conceito para assassinos em série, apresentando requisitos específicos para compreender e
determinar quem é o assassino em série, além de todos os requisitos apresentados, o indivíduo
só poderia ser considerado como assassino em série, se houvesse um laudo pericial
comprovando tal situação do indivíduo.
O parágrafo 7º tratava do laudo pericial, além de apresentar os profissionais necessários
para validar o laudo, sendo eles os profissionais: dois psicólogos, dois psiquiatras e um
especialista com experiência no assunto.
Já o parágrafo 8º apresentava a pena que seria aplicada ao assassino em série, após a
comprovação de que o indivíduo era mesmo um assassino em série, ele seria submetido a uma
pena de 30 (trinta) anos de reclusão, em regime integralmente fechado, a pena também poderia
46
ser substituída por uma medida de segurança por igual período, tal medida deveria ser cumprida
em hospital psiquiátrico ou outro estabelecimento do gênero.
Percebe-se, que a pena apresentada no projeto de lei é o limite máximo de pena que um
indivíduo pode ficar preso no Brasil, ou seja, trata-se da pena máxima aplicada, a qual seria
cumprida em regime integralmente fechado.
Quanto ao parágrafo 9º, ele apresentava as vedações, bem como qualquer concessão de
anistia, graça ou induto. Também era vedado a progressão de regime ou qualquer tipo de
benefício penal para o assassino em série, como foi apresentado no parágrafo anterior, o
indivíduo iria cumprir sua pena em regime integralmente fechado, não tendo direito nenhum a
progressão de regime.
Uma das causas que mais motivou a propositura do projeto foi o repúdio da sociedade
em relação a tal delito, por se tratar de um crime muito cruel, o legislador fez um projeto
adotando medidas extremas, medidas que entrava em conflito com a Constituição Federal (CF)
de 1988.
A proposta feita no projeto de Lei do Senado entra em conflito com a Constituição
Federal vigente, que não permite a aplicação de penas de caráter perpetuo, conforme expressa
o artigo 5º, inciso XLVIII da CF, caso o projeto fosse sancionado estaria ferindo o Princípio da
Limitação das Penas, tal projeto também entra em conflito com a legislação penal vigente que
não permite cumprimento de penas restritivas de liberdade acima de 30 anos. Como é possível
notar no artigo 75, §1º do CP, diz que:
Art. 75 – O tempo de cumprimento das privativas de liberdade não pode ser superior
a 30 (trinta) anos.
§1º – quando o agente for condenado a penas privativas de liberdade cuja soma seja
superior a 30 (tinta) anos, devem elas ser unificadas, para atender ao limite máximo
deste artigo (BRASIL, 1940a).
Ou seja, o indivíduo poderá ter uma condenação maior do que 30 (trinta) anos, mas ele
só cumprirá 30 (trinta) anos de pena no máximo. Mesmo que não esteja expressamente previsto
no Código Penal, tal medida foi adequada à proibição constitucional. Também é importante
lembrar que a 5ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu na Súmula nº 527 que:
“O tempo de duração da medida de segurança não deve ultrapassar o limite máximo de pena
abstratamente cominada ao delito praticado” (BRASIL, 2015b, on-line; BITENCOURT,
2015).
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4.7. Direito penal brasileiro em face do assassino em série
Atualmente, crimes de assassinatos em série estão sendo tratados como crimes
continuados, neste caso aplica-se o artigo 71, parágrafo único do Código Penal, o qual expressa
que:
Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes
da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras
semelhanças, devem os subsequentes se havidos como continuação do primeiro,
aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas,
aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços.
Parágrafo único – nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com
violência ou grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os
antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e
as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave,
se diversas até o triplo (BRASIL, 1940).
Observa-se que o parágrafo único tem uma pena maior, para crimes contra vítimas
diferentes, e cometidos com violência á pessoa, neste caso a pena do crime será aumentada até
o triplo.
Neste caso, também pode ser aplicado o artigo 69 do Código Penal, o qual expressa que:
Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes,
idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade em
que haja incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão e de
detenção, executa-se primeiro aquela (BRASIL, 1940).
Este artigo faz referência ao concurso material de crimes, onde o agente pratica mais de
uma conduta para consumar o crime, dependendo do concurso aplicado a pena do agente será
somada, isto é, o agente será julgado por seus crimes, e por fim a pena aplicada a cada um dos
crimes praticados será somada. Diferente do crime continuado onde a pena é aumentada
(GRECO, 2014; NUCCI, 2015).
A Lei nº 7.210 de julho de 1984, denominada como Lei de Execução Penal (LEP),
também faz referência a soma ou unificação das penas, conforme expressa em seu artigo 111,
pode-se notar que:
Quando houver condenação por mais de um crime, no mesmo processo ou em
processos distintos, a determinação do regime de cumprimento será feita pelo
resultado da soma ou unificação das penas, observada, quando for o caso, a detração
ou remição.
Parágrafo único – Sobrevindo condenação no curso da execução, somar-se-á a pena
ao restante da que está sendo cumprida, para determinação do regime (BRASIL,
1984).
48
Neste caso, cada crime será tratado de forma independente e não como crime
continuado. Mas observando os elementos de conexão do crime, isto é, o modus operandi,
locus, o tempus, ritual e assinatura que o indivíduo usa. O modus operandi é basicamente as
seis fases do ciclo que o assassino em série passa até consumar o crime, o locus trata-se dos
locais em que ele deixa os corpos das vítimas, o tempus é o intervalo que ele dá até cometer
outro crime.
Já o ritual nada mais é do que a realização de todas as fantasias que o assassino em série
tem em mente, este ritual pode acontecer antes ou depois de matar a vítima. E por fim a
assinatura, trata-se de como ele deixa o local do crime, esses elementos definem a existência de
um crime continuado.
Atualmente no Brasil a sanção penal aplicada ao assassino em série é a pena do crime
de homicídio qualificado, previsto no artigo 121, §2º do Código Penal, o qual expressa que:
Art. 121 – Matar alguém:
Pena – Reclusão, de seis a vinte anos.
§2º – Se o homicídio é cometido:
I – Mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II – Por motivo fútil;
III – Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso
ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
IV – À traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que
dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;
V – Para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:
Pena – reclusão, de doze a trinta anos (BRASIL, 1940a).
Nota-se que a pena mínima do homicídio qualificado é o dobro da pena mínima do
homicídio simples, isto é, o indivíduo condenado pelo crime de homicídio qualificado terá uma
pena mínima de 12 (doze) anos, podendo chegar a 30 (trinta) anos de reclusão.
No tópico 4.4 o assunto tratado foi a respeito do projeto de Lei nº 140/2010, fazendo
uma breve recapitulação a respeito da pena proposta na lei vimos que a pena mínima era 30
(trinta) anos de reclusão, sendo 30 (trinta) anos o valor da pena máxima aplicada no Brasil.
Conforme expressa a súmula nº 527 do STJ, caso o tempo de duração da medida de
segurança for maior do que 30 (trinta) anos, estará ferindo o Princípio da Isonomia ou
Igualdade, um dos princípios constitucionais previsto no Art. 5º da CF, o referido artigo
expressa que, “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”, portanto
não seria constitucional aplicar uma pena mais grave a um indivíduo inimputável (BRASIL,
1988).
Portanto é notável a ineficácia do direito penal brasileiro em face do assassino em série,
uma vez que já foi comprovado que a ressocialização desses indivíduos não é possível, pois
49
mais cedo ou mais tarde eles serão reincidentes. Neste caso, não há o que se falar em sanções
normais e ressocialização, deve ser aplicado as eles um tratamento especifico e aprofundado
com acompanhamento de psicólogos, psiquiatras e especialistas no assunto.
4.8. Tratamento e Ressocialização do assassino em série
Conforme o entendimento de Casoy (2014a), a agressão nasce dos conflitos internos do
indivíduo, já a Escola Clássica defende a ideia de que os indivíduos cometem seus crimes
utilizando o seu livre arbítrio, ou seja, o indivíduo toma uma decisão consciente. Mas a Escola
Positivista, defende que os indivíduos não têm controle sobre suas ações, ou seja, eles são
influenciados por algum fator, sendo este fator genético ou social (p.19).
Nos casos dos assassinos em série, o fator que leva esses indivíduos a cometer crimes é
o fator genético, portanto, eles não deveriam ser encarcerados em uma penitenciaria sem
nenhum tratamento psicológico ou psiquiátrico. Isso colocaria em risco a integridade física dos
outros presos e também dos próprios indivíduos com transtornos mentais.
É de total importância falar sobre o tratamento imposto aos assassinos em série no
Brasil, tal tratamento é falho aos olhos da sociedade, pois ao invés de tratar e ressocializar o
indivíduo acaba deixando ele pior.
Após esses indivíduos serem diagnosticados com transtornos mentais são submetidos a
cumprir suas penas em uma casa de custódia, por outro lado, caso não sejam diagnosticados
com nenhum transtorno mental, eles cumprem a pena em uma penitenciaria.
Conforme está expresso no artigo 10 da LEP: “A assistência ao preso e ao internado é
dever do Estado, objetivando prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em
sociedade”, ou seja, deve haver um tratamento para recuperar a moral e a dignidade do apenado
enquanto durar a pena ou sanção penal imposta a eles (BRASIL, 1984).
O tratamento ao assassino em série é completamente possível, devendo ser um
tratamento ambulatorial, o qual deve ser realizado em um Hospital de Custódia e Tratamento
Psiquiátrico. Neste caso, o indivíduo deve ter um acompanhamento médico e tratamento
adequado, conforme o que está previsto nos artigos 97 do Código Penal e artigo 101 da Lei de
Execução Penal.
Mesmo que o indivíduo com transtorno mental cumpra sua sanção penal em Hospital
de Custódia, não significa que ele estará apto para voltar a conviver em sociedade futuramente,
50
pois o tratamento fornecido não tem sido totalmente eficaz, tendo em vista que a situação do
sistema carcerário e dos hospitais de custódia do pais não está em boas condições, e também o
transtorno mental que eles têm, é incurável, ou seja, não há como reverter, pois, eles não se
enquadram em nenhuma linha de pensamento especifica, neste caso, não há cura.
Conforme o entendimento do doutrinador Greco (2014), o indivíduo inimputável
mesmo após anos de tratamento, não pode voltar a conviver em sociedade:
Estamos cientes de que o Estado não fornece o melhor tratamento para seus doentes,
devemos deixar de lado o raciocínio teórico e ao mesmo tempo utópico de que a
medida de segurança vai, efetivamente, ajudar o paciente na sua cura.
Muitas vezes o regime de internação piora a condição do doente o que justifica a
edição de novo diploma legal que proíbe a criação de novos manicômios públicos.
Contudo, a situação não é tão simples assim. Casos existem em que o inimputável,
mesmo após longos anos de tratamento, não demonstra qualquer aptidão ao retorno
ao convívio em sociedade, podendo-se afirmar, até que a presença dele no seio da
sociedade trará riscos para sua própria vida (GRECO, 2014, p. 757).
Deste modo, a volta deste indivíduo a convivência social traria riscos a ele e também a
sociedade, temos como exemplo o caso do Chico Picadinho, ele ficou 10 (dez) anos preso, e
após ser solto cometeu um crime idêntico ao primeiro. Chico está preso a mais de 30 (trinta)
anos em um hospital de custódia. (CASOY, 2014b)
Antes era possível o tempo de uma medida de segurança ultrapassar 30 (trinta) anos no
Brasil, mas após a reforma psiquiátrica e discussões nos tribunais, isso não pode mais acontecer,
antes a medida de segurança era a sanção penal que se encaixava ao doente mental, hoje o
judiciário sofre para encontrar um meio eficaz para solucionar esse problema.
Sendo assim, é de responsabilidade da penitenciaria ou do hospital de custódia fornecer
o tratamento adequado ao indivíduo, até que ele cumpra a sua pena. O agente deve ser
acompanhado durante todo tratamento, ele também deve ser orientado de forma correta, pois
ele precisa compreender que em breve voltará a reintegrar à sociedade.
51
5. CONCLUSÃO
A luz de todas as discussões expostas no decorrer deste trabalho, foi possível concluir
que o assassino em série vive em uma zona fronteiriça entre a loucura e a normalidade, para a
psiquiatria forense esses indivíduos são considerados como sujeitos híbridos. Deste modo, o
assassino em série poderá ser considerado como um psicopata ou psicótico, que comete dois ou
mais crimes com um lapso temporal entre eles.
O assassino em série organizado certamente será diagnosticado como um psicopata,
podendo ser emotivo (mata por raiva) ou sádico (mata por desejo), estes indivíduos não sofrem
alucinações e nem delírios, possuem diversas personalidades. Já o assassino em série
desorganizado será diagnosticado como indivíduo psicótico, podendo ser missionário (sofre
alucinação) ou visionário (sofre delírio).
O indivíduo utilizará um modus operandi, que se trata das seis fases do ciclo que o
assassino em série leva para consumar o crime. O modus operandi será composto pelas
seguintes fases: a áurea, da pesca, a da conquista, de captura, do totem/assassinato e por fim a
fase da depressão. Após atingir a última fase (depressão) o indivíduo irá iniciar novamente o
ciclo retornando a fase áurea e assim seguirá um ciclo rotativo e contínuo. Logo após atingir a
execução do crime, o indivíduo sempre deixará uma assinatura no local do crime, e também
levará consigo um pertence da vítima como se fosse um troféu.
Conclui-se também que existem vários aspectos gerais e psicológicos comuns na vida
dos assassinos em série, como: abusos na infância, condutas dissimuladas, isolamento social,
sadismo precoce, enurese, mania de destruição, violência contra animais entre outros. Além dos
aspectos gerais e psicológicos, existe também os fatores que podem ser a causa da psicopatia
de um indivíduo, neste caso deve haver a junção de alguns fatores, sendo eles: os biológicos,
sociais e ambientais. Deste modo, a junção destes fatores poderá predispor o desenvolvimento
de um transtorno da personalidade, podendo ser um transtorno da personalidade paranoide,
esquizoide ou antissocial.
Dentre os três transtornos estudados, o mais comum de ser diagnosticado em um
assassino em série é o transtorno da personalidade antissocial, o sujeito com esse transtorno não
sofre alucinações e nem delírios. Estes indivíduos não têm empatia com o próximo, dificilmente
pensam nas consequências, e seja qual for a situação eles não se arrependem de seus atos, além
de não conseguirem obedecer às regras sociais básicas e as demais regras impostas a eles.
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Em relação a responsabilidade penal do agente, só haverá se houver a capacidade penal
do indivíduo, neste caso, deve haver o conjunto de duas condições, sendo a culpabilidade e a
imputabilidade do agente. A culpabilidade será atribuída ao indivíduo que agir dolosamente e
cometer um fato típico e ilícito. Ao modo que, a imputabilidade nada mais é do que a capacidade
de entender o caráter ilícito do fato praticado, ou seja, haverá imputabilidade do agente, quando
o mesmo for mentalmente são no momento em que praticar a infração penal. É de grande
relevância notar que o artigo 26, parágrafo único do Código Penal refere-se aos indivíduos
semi-imputáveis, são aqueles que estão na zona fronteiriça entre a loucura e a normalidade
mental, a esses indivíduos a pena será reduzida de um a dois terços.
É importante observar que a culpabilidade poderá ser excluída se houver
inimputabilidade do agente, trata-se da falta de sanidade mental do indivíduo no momento da
prática da infração penal. De acordo com o artigo 26 caput do Código Penal, haverá
inimputabilidade por doença mental ou desenvolvimento metal incompleto ou retardado. Para
que a inimputabilidade seja confirmada, deve haver a comprovação mediante perícia médica de
que o indivíduo no momento do ato ilícito era inteiramente incapaz.
Neste caso, a doutrina adota o critério biopsicológico. Ao modo que, o critério biológico
refere-se à comprovação da doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou
retardado, e o critério psicológico trata-se do agente que era no momento do fato inteiramente
incapaz de compreender o ilícito penal.
Atualmente no Brasil é aplicado a esses casos o artigo 121 do Código Penal, em razão
da inexistência de um artigo especifico para tal crime, neste caso o indivíduo pode ser
considerado como imputável, semi-imputável ou inimputável.
No caso de o indivíduo ser considerado imputável seria aplicado a ele o artigo 121, com
um limite máximo de 30 anos de pena, com direito a progressão de regime e liberdade
condicional. Caso o indivíduo fosse considerado semi-imputável, seria aplicado a ele o artigo
26, parágrafo único do Código Penal, com uma redução de um a dois terços da pena ou poderia
ser aplicado uma medida de segurança, dependendo do caso.
Nota-se que o indivíduo na semi-imputabilidade não seria isento da pena, mas teria a
redução da pena. Já no caso de o indivíduo ser considerado doente mental, seria aplicado a ele
a inimputabilidade penal nos termos do artigo 26 caput do Código Penal, sendo imposto a ele
uma Medida de Segurança, a qual a sanção penal será a internação ou tratamento ambulatorial,
neste caso o indivíduo seria isento da pena, porem seria submetido a uma sanção penal. A
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medida de Segurança não deveria ser limitada ao tempo, mas sim ser limitada a recuperação do
indivíduo, isto é, deveria durar até ser notável a melhora do sujeito.
Deve-se observar também as leis vigentes, as hipóteses de exclusão da imputabilidade,
e sanções adequadas, para que seja aplicado aos indivíduos nos casos em que eles forem
considerados como pessoa com transtornos mentais ou não. E caso seja comprovado que o
indivíduo é inimputável, que possa ser aplicado a ele um tratamento ambulatorial especifico e
adequado, devendo este tratamento, ser acompanhado por profissionais qualificados e que
entendam do assunto.
Resta observar que o assunto gera uma grande comoção social, o que levou a criação de
projetos para reformar a legislação vigente, bem como o Projeto de Lei do Senado nº 140/2010.
O projeto de lei demonstrava uma grande preocupação com o assassino em série, tinha como
finalidade diferencia-los dos criminosos comuns, bem como a preocupação de proteger a
sociedade vitima desses indivíduos.
Mas tal projeto de lei foi arquivado por haver conflitos com a Constituição Federal e
Legislação penal vigentes. Tal conflito com as normas vigentes diz respeito aos anos de
cumprimento da penal, o que hoje é previsto 30 (trinta) anos de tempo máximo para um
indivíduo cumprir a pena, no projeto foi apresentado 30 (trinta) anos como tempo mínimo a de
cumprimento da pena, que seria imposto ao sujeito considerado assassino em série.
É de extrema importância a criação de uma política criminal, tendo em vista que o
Brasil não possui uma lei especifica a respeito de tal crime, sendo aplicado a tal caso o artigo
121 do Código Penal, cumulado com o artigo 71, parágrafo único do mesmo código. O artigo
71 traz um aumento de pena até o triplo. Se os crimes cometidos forem idênticos aumenta-se
até o triplo somente um dos crimes, ao modo que, nos crimes diversos somente aplica-se esse
aumento de pena até o triplo, no crime considerado mais grave. Nota-se, que não ocorre o
aumento de pena até o triplo em todos os crimes, mas sim, em somente um deles, isto é, no
crime diverso ou no mais grave.
Não seria a punição que diminuiria a criminalidade, e também não será as sanções a
possível chave para curar os assassinos em série, mas sim novas medidas de tratamentos para
recuperar esses indivíduos, tendo como base novas reformas políticas e sociais especificas.
Mas como foi apresentado no decorrer deste trabalho, esses indivíduos são
considerados para o direito como pessoas normais capazes de entender o resultado de seus atos,
e para a psiquiatria e psicologia eles são considerados como pessoas doentes, o que gera um
conflito, e acaba prejudicando na aplicação da sanção.
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Deste modo, é necessário que haja uma união entre os profissionais do direito, da
psiquiatria e da psicologia, para que possam chegar a um consenso e atingir o devido tratamento
do assassino em série e atingir uma solução para esse problema.
Em outros países esses indivíduos são considerados como psicopatas e totalmente
responsáveis pelos seus atos. Mas no Brasil caso eles sejam considerados como seres
imputáveis, será aplicado a eles penas com a finalidade de uma possível ressocialização futura.
Mas caso seja atribuído a inimputabilidade ou semi-imputabilidade será aplicada uma sanção
penal ou diminuição da pena.
Neste caso, se esses indivíduos não são acometidos de transtornos mentais, não deve ser
aplicado a eles uma medida de segurança, mas sim uma pena e tratamento adequado, com
acompanhamento e supervisão de um profissional especializado. E aos que são acometidos de
transtornos mentais, deve ser aplicado a eles a medida de segurança apropriada, com o devido
acompanhamento e supervisão de profissionais capacitados.
É de extrema importância observar os direitos dos cidadãos, até mesmo as pessoas que
não tem transtornos, neste caso, é necessária uma atenção maior, muita cautela com esses
indivíduos e mais estudo para saber o quanto, e o que é preciso para manter esses sujeitos em
segurança de si mesmos e das pessoas que os cercam.
Esses transtornos são internos, não dá para perceber sem uma observação constante e
alguns testes psicológicos. Ficando assim, mais difícil de perceber e tomar a medida correta.
Mas é um motivo de grande preocupação, pois a sociedade está cada vez mais ansiosa, nervosa
e sem limites. E não precisa ser um assassino em série para matar. Tendo em vista que a
ansiedade, os estresses constantes podem estimular e causar um transtorno mental.
Vale ressaltar que não é possível que haja a ressocialização desses indivíduos, tendo em
vista que não há cura e também não há uma explicação concreta para tal problema. Portanto a
única solução possível no momento seria um tratamento aprofundado, contínuo, específico e
supervisionado por profissionais qualificados. Este tratamento, também deveria durar até o
cumprimento da pena ou sanção imposta a eles. O que dificilmente ocorre hoje em dia nas
penitenciárias e casas de custódias do Brasil, por falta de alguns recursos.
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