Assim falava Seu Aureliano

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Ano 7 . n°1397

Aroeiras

Assim falava Seu Aureliano

Para chegar na casa de Seu Aureliano e Dona Liduina bastaperguntar qual é a casa mais florida de Aroeiras. Não é que acasa seja rodeada de flores não, é que Dona Liduina, ou “Dudu”,como chama carinhosamente seu pai é artesã e de mão cheia!Ao longo da prosa, pudemos conhecer e principalmente sentiras grandes paixões de Seu Aureliano e Dona Liduina. EnquantoSeu Aureliano falava de sua horta – que para ele é um grandelazer, Dona Liduina mostrava orgulhosa o que conseguia fazercom as mãos – o armário da casa é pintado com flores, os potesde sorvete também, há borboleta de garrafa pet na varanda eaté a Emília do Sítio do Picapau Amarelo tem por lá, em formade biscuit. Em pouco tempo de convívio foi possível perceberque a resistência do casal para enfrentar as adversidades dequem mora no semiárido incidiam de uma enorme criatividadee uma incansável força de vontade em ver as coisas dandofrutos.

A comunidade de Aroeiras fica a 18 km do município deQuixeramobim, Sertão Central do Ceará, como todo bom pesquisador Seu Aurelianoperguntou “aos mais antigos” da região o significado do nome “Aroeiras” e descobriu que apequena comunidade ganhou esse nome “porque antigamente tinha muita mata e nessamata muita aroeira”, mas hoje não existe mais pé de aroeira na comunidade o que para ele éum contrassenso, daí hoje faz questão de cuidar do único pé de aroeira que sobrou, oconsiderando “patrimônio histórico” do lugar em que vive. É, Seu Aureliano é um grandeguardião da natureza e vive fortemente afilosofia de uma das músicas maisreproduzidas do cancioneiro popular brasileiro,aquela que diz mais ou menos assim: “Quandoa gente gosta é claro que a gente cuida”. Edesse jeito Seu Aureliano e Dona Liduina vãovivendo a vida, apesar da seca dos doisderradeiros anos a horta do casal não deixoude dar beterraba, cenoura, alface, maxixe,cheiro verde, tomate, batata doce, jerimum,pimentão, berinjela, repolho. A goiabeiracontinua firme e forte, juntamente com oscoqueirais e tem também o cajueiro, mas esseainda está esperando a hora certa de florescer.

A outra grande paixão de Seu Aurelianoé o futebol, o feirista lá das Aroeiras já jogoumuita bola na vida e hoje dá uma força danada no time da comunidade. Ele enxerga oesporte não só como uma forma de entretenimento para si, mas sobretudo para os jovens dacomunidade, que muitas vezes passam o dia no boteco por não terem outra opção de mataro tempo.

O trabalho na feira

A barraquinha de Seu Aureliano na Feira da Agricultura familiar de Quixeramobim éuma das mais requisitadas, nela o cliente vai encontrar maxixe, goiaba e batata doce, tudosem “veneno”, como ele mesmo diz. Quando indagado sobre a escassez de produtos, SeuAureliano tenta conscientizar os clientes que os tempos estão difíceis e que o seu trabalho éorgânico: “A gente tem mantido com muita coragem, o tempo é esse”. Se são tempos difíceispara os sonhadores, maiores são a garra e a vontade de vencer. A luta é e sempre foi pelaqualidade de vida e pela valorização do trabalho agroecológico, hoje Seu Aureliano e os seuscolegas agricultores da feira possuem um espaço adequado para comercializar o seuproduto, mas essa vitória foi a custo de muito suor, como diz a canção “nada vem de graça,nem o pau, nem a cachaça”. E a batalha continua, na pauta estão a melhoria desse espaçoque é cercado por um arame, o que não dá muita segurança aos feirantes, como tambémajuda financeira: “A gente nunca conseguiu um projeto, encaminhamos vários”, “Tudo é porconta de cada um, nunca tivemos ajuda financeira”, como afirma o presidente da feira, SeuFrancisco Monteiro e o vice-presidente, Seu Francisco Sérgio.

Com essas e outras, Seu Aureliano e Dona Liduina vão vivendo ou sobrevivendo,como desabafou Dudu, através da horta orgânica, da produção de lambedor que até para asbandas de São Paulo já foi e com os animais, galinhas e a pequena criação de porcos épossível viver de forma digna. Com a cisterna-enxurrada construída através do (P1 +2), SeuAureliano acredita que as coisas vão ficar bem melhores, pois a água ficará mais acessívelpara o cultivo da terra. Seu Aureliano é como Lavoisier, vive repetindo com outras palavras,mas com o mesmo sentido o que o químico francês há muito tempo falou: “Na Naturezanada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, lembrando a nós que o ouvimosatentamente que é preciso cuidar bem da Natureza.

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