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LUIZ FERNANDO EIRIN CANCELA
ATUAÇÃO DOS AGENTES DE TRÂNSITO E O PODER SANCIONATÓRIO DO ESTADO
PONTA GROSSA
2013
LUIZ FERNANDO EIRIN CANCELA
ATUAÇÃO DOS AGENTES DE TRÂNSITO E O PODER SANCIONATÓRIO DO ESTADO
Artigo Científico apresentado para a
conclusão de Curso de Pós-Graduação lato
sensu em Direito Administrativo Disciplinar
pelo Núcleo de Pesquisa em Segurança
Pública e Privada.
Orientador: Prof. Ms. Guilherme Amaral Alves
PONTA GROSSA 2013
ATUAÇÃO DOS AGENTES DE TRÂNSITO E O PODER SANCIONATÓRIO DO ESTADO
Autor: Luiz Fernando Eirin Cancela1, 2º Sargento da PMPR, Tecnólogo em Gestão Pública.
Orientador: Prof. Me. Guilherme Amaral Alves2,
Resumo:
Os agentes do Estado, através do Poder de Polícia possuem a prerrogativa de restringir e condicionar direitos fundamentais. Essa restrição ou condicionamento dos direitos fundamentais só se justifica pela tutela de direito fundamentais maiores, mais amplos, como é o caso da segurança da coletividade, da segurança viária, da vida e da integridade física das pessoas que tem morrido ou sido lesionadas gravemente no trânsito. Ademais não devemos esquecer que Poder de Polícia tem como atributo, dentre vários, a chamada de presunção de legitimidade, presunção de veracidade, presunção de idoneidade, portanto a fala do agente de trânsito, por exemplo, quando afirma que alguém estava sem o cinto de segurança, a fala do agente de trânsito é valida, claro que não é uma presunção absoluta, pois caberá prova em contrario, mas até que se prove em contrario o ônus da prova cabe ao condutor. Por isso é que se exige dos policiais um senso de responsabilidade gigantesco, porque as sanções relativas às infrações administrativas de trânsito são extremamente rigorosas, se exigindo das autoridades um cuidado que realmente deve ser adotado. O CTB fala em ordem pública no que devemos entender ordem viária, ordem de trânsito propriamente dita no sentido da segurança das pessoas, da incolumidade da vida e da própria integridade física dos cidadãos. Nesse sentido há instrumentos suficientes para proteção da sociedade, um deles é a sanção administrativa. Órgãos criados com determinadas competências deverão exercê-las. Órgãos que não possuam essa competência para agir, no caso as guardas municipais, que passem a ter, a partir do próprio texto constitucional.
Palavras-chave: Trânsito. Infração. Poder de Polícia.
1 2º Sargento da Polícia Militar do Paraná, Tecnólogo em Gestão Pública pelo Instituto Federal do Paraná, pós‐graduando no curso de Direito Administrativo Disciplinar pelo Núcleo de Pesquisa em Segurança Pública e Privada, e‐mail: cancela38@yahoo.com.br. 2 Professor Titular da Universidade Estadual de Ponta Grossa e Assessor da Procuradoria Jurídica da Universidade Estadual de Ponta Grossa, e‐mail: guilhermealves@ig.com.br.
TRANSIT OPERATIONS OF AGENTS AND POWER STATE SANCTIONS Abstract:
The agents of the state, through the police power have the prerogative to restrict and constrain fundamental rights. Such restriction or restriction of fundamental rights can only be justified by the protection of, broader biggest fundamental right, as is the case of collective security, road safety, life and physical integrity of persons who have died or been seriously injured in traffic. Moreover we should not forget that police power is to attribute, among many, the call of the presumption of legitimacy, the presumption of correctness, presumption of suitability so the speech of the transit agent, for example, when someone says that was without the belt security, speaks of the transit agent is valid, of course it is not an absolute presumption because it will be proof to the contrary, but until there is proof to the contrary the burden of proof rests with the driver. That's why it requires the police a sense of gigantic responsibility, because the penalties for administrative traffic offenses are extremely stringent, requiring the authorities if a caution that should really be adopted. The CTB speaks in public policy that we must understand in order road, traffic order itself towards safety, the safety of life and one's physical integrity of citizens. In this sense there are enough instruments for the protection of society, one is the administrative penalty. Bodies created with certain powers should exercise them. Bodies that do not have such powers to act in case the municipal guards, they shall have, from the constitutional text. Keywords: Traffic. Infraction. Police Power.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 6
2 REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................... 7
2.1 ASPECTOS ADMINISTRATIVOS DO CÓDIGO DE TRÂNSITO .......................... 7
2.1.1 Introdução de Novas Infrações Administrativas ................................................. 8
2.1.2 Fundamentação Constitucional das Infrações Administrativas .......................... 9
2.1.3 Guardas Municipais na aplicação de multas de trãnsito................................... 10
2.1.4 Excesso de competência dos Agentes Públicos .............................................. 11
2.2 COMPETÊNCIA DO CONTRAN ......................................................................... 12
2.2.1 Competência da JARI....................................................................................... 13
2.2.2 Mudanças de habito com o advento da legislação ........................................... 14
2.3 DIREÇÃO DE VEÍCULO E BEBIDA ALCOOLICA COMO INFRAÇÃO
ADMINISTRATIVA .................................................................................................... 15
2.4 DISPOSIÇÕES ESPECIAIS PENAIS DO CÓDIGO DE TRÂNSITO ................... 18
2.4.1 Dispositivos da Parte Geral do Código de Trânsito .......................................... 18
2.4.2 Da Suspenção/Proibição de se obter a Carteira nacional de habilitação ou
Permissão para dirigir ............................................................................................... 22
2.4.3 Duração da penalidade de suspensão/proibição de dirigir ............................... 24
2.4.4 Suspensão cautelar da permissão/proibição para dirigir .................................. 25
2.4.5 Comunicação da Suspensão/Proibição para dirigir .......................................... 26
3 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 26
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 27
1 INTRODUÇÃO
O objetivo do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) em 1998 foi aplacar
aquelas estatísticas avassaladoras que vinham numa sequência cada vez maior,
apontando para o recrudescimento dos acidentes de trânsito, colocando o Brasil
numa posição lamentável perante a ordem internacional, pois o país se tornou num
campeão mundial em acidentes de trânsito em 1997. Observamos que quando o
CTB entrou em vigor, em 1998, foram criadas novas infrações administrativas com
sanções mais rigorosas caminhando na direção da repressão.
As infrações de trânsito foram replicadas no CTB, as penas foram
aumentadas, foi criado um sistema de pontuação, exatamente para fazer com que
aquele condutor de veículo não mais pudesse alegar situação econômica como fator
impeditivo de ser punido, ou seja, aquele que tem dinheiro poderia cometer infrações
porque tem dinheiro para pagar multas.
Com o sistema de pontuação a pessoa passou a temer outras
consequências além do valor a pagar. Com o advento do novo código, a pessoa que
praticar uma infração administrativa gravíssima pode ser sancionada com perda da
carteira de habilitação, suspensão do direito de dirigir ou multa reparatória por danos
materiais nos acidentes causadores de morte ou invalidez de outra pessoa, tudo isso
busca desestimular a ação dos infratores.
Surgem os delitos de trânsito, assim considerados as infrações a regras de
maior gravidade, tornando obviamente muito mais grave as sanções a serem
impostas as pessoas transgressoras das regras de trânsito.
A garantia do trânsito seguro passou a ser abordado como um direito de
cidadania, cabendo a todos a colaboração e a responsabilidade pela sua pratica.
No plano de organização e estrutura os Municípios passaram a controlar a
circulação no âmbito das vias sob sua jurisdição atenuando a hipertrofia
centralizadora do Estado, dando-se relevo ao fato de revelar o trânsito interesse,
sobretudo, local.
No tocante a fiscalização de trânsito evidencia-se a responsabilidade
solidária entre os Estados e Municípios para realizarem e aplicarem autuações e
medidas administrativas respeitadas os limites de competências.
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 ASPECTOS ADMINISTRATIVOS DO CÓDIGO DE TRÂNSITO
Preliminarmente, antes da abordagem proposta neste capítulo, se faz
necessário chamar a atenção para os assustadores números de acidentes no país,
os quais evidentemente nos remetem a situações de guerra efetiva.
Percebe-se que nas guerras há um alarmante número de mortes entre civis e
militares. Mas será que sabemos qual o número de mortes que temos anualmente
no Brasil em decorrência dos acidentes de trânsito?
Todavia o assunto vai ainda mais adiante porque não obstante as mortes têm
um montante enorme de pessoas vitimadas com lesões corporais que acabam
falecendo depois do acidente, porem em decorrência da casualidade. Temos ainda
pessoas vitimadas com lesão em caráter permanente, o que torna os acidentes de
trânsito e suas consequências numa verdadeira epidemia.
Visitando as metrópoles, os grandes centros urbanos e até pequenas cidades
nos vamos encontrar grandes margens de desrespeitos a regras de trânsito e
consequentemente esses desvios de comportamento geram resultados indesejáveis
para toda a sociedade.
O Código de Trânsito de 1998 substituiu o velho Código Nacional de Trânsito.
Temos, portanto, a partir de 98, o ingresso na ordem jurídica do Código de Trânsito
Brasileiro através da Lei 9.503/1997. Esta lei entrou em vigor em janeiro de 98 já
com alguns problemas de ordem em razão de problemas relacionados à vigência. O
Ministério da Justiça chegou a anunciar na imprensa uma determinada data, todavia
ela acabou entrando em vigor efetivamente numa data anterior sugerindo a
possibilidade daquilo que nos denominamos de erro de direito, erro de proibição na
modalidade erro de vigência. Houve também outro problema de caráter formal por
ocasião do projeto na Câmara dos Deputados.
Pois como se tratava de um Código ele deveria ter ido ao plenário, mas não
foi. Na verdade uma comissão especial foi elaborada e nomeada para dar conta
desse projeto e ela acabou não obedecendo rigorosamente o processo legislativo de
edição de normas jurídicas. Todavia, fato é que de alguma forma ele acabou sendo
recepcionado e entrou em vigência. Na medida em que encontramos algumas
poucas situações em que a norma é amplamente questionável, seja por problemas
de redação jurídica, problemas de técnicas jurídicas, texto mal elaborado, entre
outros, cabe ao agente policial interpretar e apresentar as devidas soluções.
2.1.1 Introdução de Novas Infrações Administrativas
A finalidade do Código de Trânsito Brasileiro foi atenuar a grande incidência
de acidentes de trânsito no Brasil, e retirá-lo das lamentáveis primeiras colocações
do ranking internacional de mortes e pessoas feridas no trânsito.
Com já fora dito no inicio deste trabalho, o Brasil se tornou campeão mundial
em acidente de trânsito em 1997, o que motivou a entrada em vigor do CTB em
1998 com a previsão de novas infrações administrativas e sanções mais severas
evidentemente para reprimir as transgressões observadas no trânsito. Mas
infelizmente, com essa ideologia, esse pensamento, não foi se dado a devida
importância com medidas profiláticas e também de caráter preventivo.
O Código de Trânsito plasmou-se tão somente pelo aspecto repressivo, aqui
uma grande falha. Um dado dispositivo do Código aponta à necessidade de conferir
o direito a educação de trânsito como um dever do Estado, quer dizer a matéria
trânsito deveria estar fazendo parte dos currículos do ensino fundamental, médio e
também superior de todo o País. Desde o advento do Código de Trânsito até hoje
não se viu noticia concreta da pedagogia de trânsito, do ensino de trânsito, quer
dizer, acidentes de trânsito não se evitam somente com medidas repressivas.
Acidentes de trânsito são evitados especialmente com educação e naturalmente
esse é um ponto muito falho e nos podemos visualizar isso diariamente e
lamentavelmente em nossas vidas.
Mas não somente isso, outro aspecto também muito grave é o aspecto da
engenharia. As engenharias das cidades devem contribuir para uma ordem no
trânsito, para aquilo que a CF/88 tem apontado de direito de cidadania o chamado
trânsito seguro, quer dizer, as cidades deveriam ser planejadas, pensando no
transporte, pensando na circulação de veículos, mas também pensando na
circulação e locomoção de pessoas.
Note-se que a engenharia de trânsito sequer se preocupa com tempo
passagem das pessoas pelas faixas de pedestres, ou seja, não existem estudos
científicos efetivos a esse respeito e quando existem são muito antigos e já
obsoletos. Por exemplo, para que uma pessoa possa transcorrer a faixa de
pedestres em média esse percurso de semáforo aberto para pedestre é de 22
segundos, mas nisso leva-se em conta um pessoa em estado normal de saúde, uma
pessoa de boa compleição física, esquece-se de vários aspectos, como os idosos
que apresentam maior dificuldade mesmo para o caminhar natural, também das
pessoas que carregam crianças de colo, pessoas portadoras de necessidades
especiais que possuem dificuldade em transpor as vias entre tantos outros fatores
que prestigiam os veículos em detrimento do pedestre. Isso é apenas para
demonstrar como o Estado tem muito trabalho a se fazer não ficando apenas nas
infrações de trânsito.
Observamos que infrações de trânsito foram reproduzidas no CTB, porém
com penas aumentadas. Foi previsto um sistema de pontuação visando impedir que
se considerasse apenas a situação econômica como penalização do infrator, ou
seja, com o sistema de pontuação, a pessoa passou a temer outras consequências
além do valor a pagar, ou seja, a perda da carteira de habilitação ou a suspensão do
direito de dirigir, isso à medida que pratica uma infração administrativa grave.
Esse aspecto de infração administrativa pode até ser elevado a um status de
um crime, tornando obviamente muito mais grave as sanções que possam ser
infringidas a pessoas que venham a transgredir regras de trânsito. Ao falar em
infrações administrativas, vale lembrar que temos algo em torno de 96 infrações
administrativas ao lado de 11 crimes de trânsito.
2.1.2 Fundamentação Constitucional das Infrações Administrativas
Em meio a essas 96 infrações administrativas é importante lembrar que todas
elas acabam tendo que em dada medida fundamentação constitucional, quer dizer, a
nossa Constituição Federal, no seu artigo 5º já menciona a vida com um bem
jurídico a ser tutelado e ao lado da vida no próprio caput do artigo 5º posiciona-se o
direito a segurança. É bem verdade que a palavra segurança tem vários sentidos.
Podemos falar em segurança da ordem jurídica. Podemos falar em segurança do
Estado, da Nação. Seguranças das pessoas e de bens, por exemplo, mas
obviamente quando se fala em segurança viária, segurança do tráfego, segurança
do trânsito, está se falando em uma das possíveis manifestações e desdobramentos
desse direito fundamental. Esse direito torna-se ao mesmo tempo uma garantia, na
medida em que garantindo a segurança das pessoas torna-se efetivo o direito a
vida, a liberdade, a locomoção e outros tantos como o direito ao trabalho e o direito
a educação. Ao trabalhar, ao estudar, precisamos nos locomover, precisamos nos
transportar e obviamente o paradigma da Constituição Federal é o ponto de partida
do qual devemos olhar com bastante atenção.
Mas não somente o caput do artigo 5º, lembremos também que o artigo 144,
CF vai mencionar a estrutura do chamado sistema de segurança pública e esse
dispositivo é muito importante porque aponta as competências de determinados
órgãos em especial a polícia federal, a polícia rodoviária federal, as polícias militares
estaduais, polícias civis e também a polícia militar e civil do Distrito Federal,
atribuindo a cada um desses órgãos uma dada medida de competência
relativamente a aspectos do trânsito.
Aprofundando um pouco mais essa questão chegamos ao artigo 37 que cuida
da introdução do tema da administração pública no bojo da nossa Carta Magna e
especialmente no caput dessa disposição vai apontar os princípios da legalidade, da
impessoalidade, da moralidade, da publicidade, da eficiência, como também
diretrizes que devem ser seguidas rigorosamente pelo gestor público, pelo
administrador público, no gerenciamento das grandes cidades e naturalmente o
Código de Trânsito é uma das ferramentas na gestão do Município, do Estado e por
que não dizer da União, mas especialmente da cidade.
Vale ainda lembrar que entre as competências legislativas, referentemente a
legislação de trânsito, a Constituição Federal aponta no artigo 22, inciso XI
atribuindo à União a competência privativa para legislar em matéria de trânsito não
olvidando que Lei complementar poderá criar no âmbito dos Estados e do Distrito
Federal, legislação pertinente em matéria de trânsito naquilo que for aplicável a
essas unidades federativas.
2.1.3 Guardas Municipais na aplicação de multas de trânsito
Esse é um tema bastante controvertido. Primeiramente é necessário saber
qual a natureza jurídica do cargo guarda municipal. Ora, o guarda municipal é um
vigilante patrimonial público. Ele não integra o sistema constitucional de segurança
pública e quem diz isso é o artigo 144, § 8º da CF/88. Esse dispositivo quando
dispõe sobre as competências dos guardas municipais, e ele prevê a criação das
guardas municipais e isso é importante, mas ele estabelece que as guardas
municipais sejam criadas para proteção dos próprios municipais, dos serviços
municipais. Próprio municipal é o prédio da prefeitura, a creche do município, o
cemitério do município, a escola municipal, portanto a competência constitucional
atribuída aos guardas municipais é de tão somente fazer a proteção patrimonial e
porque não dizer, via reflexa, da proteção física das pessoas que se encontram
nesses próprios.
No entanto muitos municípios têm atribuído a seus guardas municipais a
tarefa de fiscalização do trânsito e a tarefa de aplicação de multas de trânsito.
Pergunta-se, essas multas tem validade jurídica? A resposta é não. Elas não valem.
Entenda-se, a imposição de uma multa representa um ato administrativo punitivo
decorrente de um poder de polícia, não de um poder de polícia preventivo, já um
poder de polícia na sua forma repressiva e como ato jurídico que ele é, ele tem que
conter todos os elementos integrantes do ato administrativo, quais sejam:
competência, forma, finalidade, motivo e objeto. Quando se fala em “competência’”.
Caio Tácito (1959, p. 27) nos recorda “não é competente quem quer, mas é
competente quem a Lei diz que é”. Isso quer dizer que ninguém pode se arvorar
competente, ninguém pode dizer sou competente porque quero. Competência é
matéria legal, é matéria indelegável, é matéria indeclinável. Vez outra, se a Lei
dispõe, pode haver delegação, mas não havendo previsão nem mesmo esta se
torna possível. O fato é que o Código de Trânsito Brasileiro inova em dar ao
município a possibilidade de criar cargos específicos para imposição de fiscalização
de trânsito, de ações relativas ao trânsito e mesmo de imposição de multas.
Municípios preocupados com o tema criaram órgãos no âmbito da cidade para a
aplicação dessas medidas e como tal estão agindo de acordo com a Lei, de acordo
com a Constituição Federal. Porém municípios que se atreveram a fazer com que as
guardas municipais saíssem de seu campo de atuação, da sua esfera de poder de
polícia adentrando a essa seara nebulosa, porque não dizer ilegal e inconstitucional,
tiveram quando questionados judicialmente um posicionamento bastante
contundente do poder judiciário. Assim ocorreu nos Tribunais de Justiça de SP, RJ,
SC apenas para enunciar esses Estados, quer dizer, pessoas que tiveram multas
aplicadas por guardas municipais foram a justiça e tiveram tais multas invalidadas,
porque não havendo competência o ato é nulo.
2.1.4 Excesso de competência dos Agentes Públicos
O excesso de competência de um agente público acontece quando o mesmo
avança, sai, extrapola, exorbita sua competência, podendo estar ingressando até
mesmo no plano criminal. Temos um crime no Código Penal tipificado como
usurpação de função pública que não é apenas um crime que pode ser praticado por
qualquer pessoa do povo. É verdade qualquer pessoa pode praticá-lo. Qualquer
pessoa do povo que se posicione na qualidade de agente público sem o ser,
eventualmente praticando um ato, é o que diz a jurisprudência, praticando
determinado ato pratica o crime de usurpação da função pública. No entanto, vale
lembrar que servidores públicos, agentes públicos que exorbitem de suas funções
adentrando em outras searas que não lhes pertencem poderão eventualmente
também praticar o crime de usurpação, bem verdade que isso dependerá da carga
de intencionalidade, do dolo efetivo do agente de modo que agiu, obviamente o
crime deverá ser desconsiderado.
2.2 COMPETÊNCIA DO CONTRAN
Tratando das infrações administrativas, há algumas que valem a pena serem
lembradas, não do ponto da infração propriamente dita, mas da competência relativa
a alguns órgãos, isso relativamente a alguns aspectos administrativos. O Código de
Trânsito cria vários órgãos dentre eles talvez o mais importante é o Conselho
nacional de Trânsito – CONTRAN. O Código menciona que há varias competências
do CONTRAN, não é o caso aqui discorrermos sobre todas elas, mas merecem
menção especialmente no que diz respeito ao fato da edição e emissão de carteiras
de habilitação. Diz o Código de Trânsito que cabe ao CONTRAN, a competência
para a emissão de carteiras de habilitação e também de permissão para dirigir.
Através de convênios o citado órgão federal repassa aos Estados a competência
legal que terá a devida estrutura administrativa para a emissão da CNH e também
da PD. Importante distinguir a carteira de habilitação da permissão para dirigir. A
partir do Código de Trânsito Brasileiro o novo motorista, aquele que ingressa na
atividade de condução de veículo, uma vez aprovado em todas as baterias de
exame: psicotécnico, psicológico, médico, de condução e de conhecimento das
normas de trânsito. Uma vez vencida toda essa etapa a pessoa passa a ter a
permissão para dirigir por um ano. Durante um ano esse condutor não pode ter
infrações graves e não pode ter também um volume de infrações sob pena de
perder o direito de dirigir na medida em que ele se coloca numa espécie de estagio
probatório que antecede a sua maturação, a sua consolidação como condutor de
veículo o que só ocorrerá a partir de um ano, vencido esse um ano,
satisfatoriamente, ele adquire a carteira nacional de habilitação. Mas essa carteira
de habilitação não deve ser entendida como autorização, ou seja, não é um ato
discricionário do poder público, não é um ato que se leve em conta sua conveniência
e oportunidade. É um ato de licença que é vinculado que tendo o cidadão
preenchido todos os requisitos para a sua obtenção, o estado é obrigado a
conceder. Todavia essa pessoa pode a vir a perder a sua carteira de habilitação e o
próprio Código vai apontar as situações em que isso é possível. Por exemplo, se
houver um extrapolamento da pontuação permitida, acima de 20 pontos. Pode
também haver a suspensão do direito de dirigir com sanções aplicáveis a espécie.
O CONTRAN também tem a competência e/ou atribuição de fazer o cadastro
nacional de todos os motoristas e também o cadastro de todos os veículos
automotores em circulação no Brasil, o chamado RENAVAN, essas competência
também são objetos de convênios com os Estados/DF para que se torne efetiva a
gestão desse volume imenso que representa tanto as carteiras de habilitação quanto
as permissões para dirigir como também o próprio número de veículos postos em
circulação.
2.2.1 Competência da JARI
Com relação à JARI. O Código de Trânsito Brasileiro cria órgãos, estruturas
administrativas com determinadas competências. Ele cria a JARI que é a Junta
Administrativa de Recursos de Infrações.
Essas juntas administrativas representam uma instância para conhecimento
das infrações de trânsito. Isso quer dizer que toda vez em que uma pessoa é
multada, tem o direito como cidadão de se defender dessa acusação que contra si é
feita pelo Estado.
Para exercer esse direito deve encaminhar a JARI do local que a multa foi
infringida, se numa rodovia estadual ao Estado, se numa rodovia federal a União, se
no município a JARI do município, para que esse órgão colegiado conheça do seu
pedido e verifique da pertinência e da viabilidade, a partir de o conhecendo, declinar
a sua condição.
Obviamente que se a JARI anula aquela punição e a faz por decisão
fundamentada, temos ali o pedido do condutor, supostamente infrator, atendido. Se
esse mesmo condutor que não se julgou infrator, recorre a JARI e ela mantém essa
decisão. Esse condutor tem o direito de ainda percorrer mais uma instância e a essa
instancia haverá coisa julgada administrativa.
Oportuno salientar que devemos tomar cuidado com a expressão “coisa
julgada”, porque a coisa julgada como nos a conhecemos só pode ser aquela
decisão de caratê judicial de caráter irrecorrível que só compete ao poder judiciário
ditar. O fenômeno da coisa julgada como instituto que impede qualquer tipo de
recurso somente é possível no âmbito do poder judiciário. A coisa julgada
administrativa significa tão somente a decisão de caráter administrativo que não
mais comporta recurso na via administrativa, porque ainda a coisa julgada
administrativa pode ainda vir a ser objeto de desfazimento, ainda pode ser objeto de
anulação, não mais na via administrativa é claro, porque já teria percorrido todo o
seu inter, todavia ela pode sim no âmbito do poder judiciário, até porque pelo
principio do acesso à justiça, nada pode deixar de ser objeto de conhecimento do
poder judiciário em especial se temos lesão de direito ou ameaça de lesão isso é um
preceito constitucional previsto no artigo 5º, XXXV e como tal esse artigo se coloca
como direito fundamental como garantia do cidadão, se preferir, no sentido de que
as decisões de caráter administrativo ainda poderão ser conhecidas pelo poder
judiciário, obviamente obedecendo as próprias regras de direito, valendo-se dizer há
um prazo para que se faça isso, ou seja, normalmente esses prazos se reportam a
prescrição quinquenal, quer dizer os cinco anos que medeiam entre a aplicação da
pena, em especial a publicidade dessa pena para o infrator até os cinco anos que
passarem a contar dali, passado esse tempo, vencida essa prescrição quinquenal,
obviamente não se manifesta mais possibilidade jurídica de que os Estado venha
decretar a nulidade de um ato administrativo e essa é a posição majoritária. Regis
Fernandes Oliveira (2001, p. 131-132) aponta que ato nulo, no âmbito administrativo,
pode ser decretado a sua condição de nulidade a qualquer tempo, mas é uma
posição isolada conquanto respeitável.
2.2.2 Mudanças de habito com o advento da legislação
Uma ênfase que foi dada no Código de Trânsito que mudou o comportamento
dos motociclistas, o lamentável modo de agir dos condutores de motocicletas, era o
de conduzir tais veículos sem capacete. O Código de Trânsito rigorosamente
determinou que todos os condutores de motocicleta deveriam usar capacete
efetivamente. Nisso, do ponto de vista pedagógico no nosso país caminhou numa
boa direção. Como também houve com relação a crianças nos bancos de trás. Ainda
com relação ao uso do cinto de segurança entre outros tantos aspectos que nesse
sentido devemos aplaudir o aspecto pedagógico que o Código de Trânsito
proporcionou.
Tivemos também o advento da Lei 12. 436/2011 sancionada pela presidente
Dilma Roussef, apesar de não se dirigir diretamente a questão do trânsito, mas
reflexamente com muita efetividade porque proíbe que motociclistas possam ser
submetidos aos seus empregadores a competições de entrega rápida, que os
empregadores, sejam pessoas físicas ou jurídicas, que sejam proibidos de
estabelecer prêmios pelo cumprimento de metas porque o sistema de entrega, seja
de documentos, seja de alimentos, seja do que for, muitas vezes ele coloca em risco
a própria vida do motociclista quando não a de terceiros envolvidos no aspecto do
trânsito. As estatísticas demonstram o aumento da mortandade de motociclistas e
ciclistas nos grandes centros urbanos. Isso se deve porque nossas cidades foram
elaboradas, desenhadas para prestigiar o veículo de 4 rodas em detrimento do
pedestre, da bicicleta que hoje é um veículo de circulação extremamente importante.
Municípios mais adiantados, mais preocupados com a cidadania no transporte têm
viabilizado alguns eixos de circulação especiais para o trânsito de bicicletas.
Nos também vivenciamos um aspecto negativo no nosso dia a dia. Em janeiro
de 1998 quando o CTB passou a vigorar não tínhamos na realidade do cidadão a
utilização do aparelho celular. No entanto hoje em dia notamos, principalmente nos
grandes eixos metropolitanos muitos condutores fazendo uso de aparelhos celulares
na condução de veículos automotores e parece não haver uma preocupação maior
com essa questão. Todavia o CTB deixa bem claro que não somente a utilização do
aparelho celular como também do fone de ouvido do aparelho celular na condução
do veículo automotor representa uma infração administrativa grave, apesar disso,
generalizando é claro, não se tem visto uma preocupação com essa norma, ou seja,
existem muitas transgressões dessa natureza, lamentavelmente.
2.3 DIREÇÃO DE VEÍCULO E BEBIDA ALCOOLICA COMO INFRAÇÃO
ADMINISTRATIVA
Ainda se falando em infrações administrativas, há uma que tem sido razão de
tormento em função de uma novidade que hoje parece ainda ter se mantido e que
decorre do advento, ainda em 2008, da chamada “Lei Seca”. Nesse momento cabe
abordar a infração administrativa de condução de veículo automotor sob influencia
de substância alcoólica. Vários dispositivos no Código de Trânsito tratam dessa
matéria em especial o artigo 165 que menciona especificamente a infração de
trânsito e diz textualmente que dirigir veículo automotor sob a influência de bebida
alcoólica, naturalmente também vai gerar a possibilidade da imposição de sanções
administrativas. Vale lembrar que esse artigo não pode ser aplicado isoladamente,
ou seja, ele tem que ser conjugado com outros dois dispositivos para termos um
espectro completo da sua amplitude.
O art. 165, portanto afirma é infração administrativa conduzir o veículo
estando o condutor sob a influência de substância alcoólica ou de substância
psicoativa que tenham efeitos análogos. Repare que nesse momento, não se
menciona a questão da quantificação. Mais adiante no artigo 277 do CTB é afirmado
categoricamente que todo condutor de veículo automotor que for identificado como
suspeito de estar dirigindo embriagado, ou ainda, que numa operação/blitz policial
seja identificado como tal deverá ser submetido a exame da constatação da
embriagues. É recomendado o exame de etilômetro, vulgarmente conhecido como
bafômetro, o exame hematológico, conhecido como exame de sangue, enfim, se
recomenda o uso de metodologia técnica para a aferição dessa condição. Daí a
pergunta sobre a obrigatoriedade de se submeter ao exame e a resposta é não e
nem poderia ser.
Apesar do artigo 277, CTB obrigar, ou seja, da Lei obrigar, tal dispositivo é
tido como uma infelicidade do legislador e um problema de técnica de redação
legislativa que não levou em conta que a Lei deve se submeter aos parâmetros
constitucionais e também aos Tratados Internacionais de Direitos Humanos ao qual
o Brasil faz parte como signatário. É sabido que o Brasil, como Estado, subscreveu o
pacto de São José de Costa Rica, também chamado de Convenção interamericana
de Direitos Humanos, nessa convenção em seu artigo 8º há uma disposição
expressa segundo a qual nós nos obrigamos a reconhecer que ninguém será
obrigado a reconhecer prova contra si mesmo. Ninguém é obrigado a se auto
incriminar e como tal esse é um paradigma que tanto a doutrina brasileira tem
tratado, como a jurisprudência tem prestigiado.
Todavia um alerta para os condutores deve ser colocado diante do artigo 277,
não no seu caput, quando ele fala na obrigatoriedade do bafômetro, quando ele fala
na obrigatoriedade dos exames técnicos, mas no § 2º que dispõem o seguinte: “a
infração prevista no artigo 165, poderá ser caracterizada pelo agente de trânsito
mediante obtenção de outras provas em direito admitidas acerca dos notórios sinais
de embriagues, excitação ou torpor apresentados pelo condutor”.
Conclui-se que o Estado, para a proteção da sociedade, através de seus
agentes no exercício do poder de polícia, no exercício da atividade de segurança da
coletividade, não está preso tão somente aos exames que dependem de uma
contribuição do condutor, podendo de valor de outras provas em direito admitidas,
como por exemplo, a prova testemunhal, ou seja, a prova do testemunho policial que
confere na sua fala, na sua dicção a assertiva que o condutor estava exalando odor
etílico, estava dirigindo embriagado, estava dirigindo em zigue-zague, estava
comprometendo a segurança viária é suficiente para infração administrativa e
aplicação de uma medida de caráter penal.
Daí a pergunta, não se estaria havendo uma restrição a direito fundamental?
Não estaria havendo um condicionamento de um direito e que é previsto lá no
Capitulo V da CF como direito de liberdade? A resposta é não, pois devemos
entender a natureza jurídica do poder de polícia. O conceito que encontramos nos
grandes doutrinadores do poder de polícia é o exatamente de prerrogativa da
administração pública de restringir, de condicionar direitos fundamentais e essa
restrição ou condicionamento de direito fundamentais só se justifica pela tutela de
direito fundamentais maiores, mais amplos, como é o caso da segurança da
coletividade, como é o caso da segurança viária, como é o caso de direto
fundamental que tem morrido no trânsito ou que tem se tornado lesionadas
gravemente e como tal só essa pré-condição justifica o poder de polícia.
Ademais não devemos esquecer que poder de polícia tem como atributo,
dentre vários, a chamada de presunção de legitimidade, presunção de veracidade,
presunção de idoneidade, portanto a fala do agente de trânsito, por exemplo,
quando afirma que alguém estava sem o cinto de segurança, a fala do agente de
trânsito é valida, claro que não é uma presunção absoluta, pois caberá prova em
contrario, mas até que se prove em contrario o ônus da prova cabe ao condutor.
Por isso é que se exige dos policiais um senso de responsabilidade
gigantesco, porque as sanções relativas às infrações administrativas de trânsito são
extremamente rigorosas.
No caso do artigo 165 o valor chega próximo de R$ 2.000,00. Este dispositivo
fala da suspensão do direito de dirigir por um ano que também acompanha a
infração administrativa. Fala ainda do recolhimento da carteira de habilitação e da
retenção do veículo até a entrega para pessoa que se encontre efetivamente
habilitada para dirigir, além dos 7 pontos na carteira. Por isso que se exige das
autoridades um cuidado que realmente deve ser adotado.
Diante do exposto atentamos ao fato que temos um novo Código de Trânsito,
e esse novo Código de Trânsito tem sofrido alterações legislativas, algumas
precárias, algumas dificultando a sua interpretação e aplicação. Todavia os
interpretes e aplicadores do direito em qualquer condição que se encontrem devem
dar uma medida satisfatória, dar efetividade, dar concretude, dar condições de
realização da norma sob pena não poderem proteger a sociedade. Obviamente que
a Administração pública tem instrumentos eficazes, suficientes para evitar
transgressores da ordem.
O CTB fala em ordem pública no que devemos entender ordem viária, ordem
de trânsito propriamente dita no sentido da segurança das pessoas, da incolumidade
da vida e da própria integridade física dos cidadãos. Nesse sentido há instrumentos
suficientes para proteção da sociedade. Órgãos criados com determinadas
competências deverão exercê-las. Órgãos que não tem competência para agir, que
passem a ter a partir do próprio texto constitucional.
2.4 DISPOSIÇÕES ESPECIAIS PENAIS DO CÓDIGO DE TRÂNSITO
Parte geral do Código de Trânsito: a partir do artigo 291 até o 312 do Código
de Trânsito nos temos as disposições penais, as disposições criminais.
Estas disposições têm uma divisão. Do artigo 291 até o 301 nos temos aquilo
que nos chamamos de parte geral, ou seja, as normas gerais que serão aplicáveis
aos crimes de trânsito e do artigo 302 até o artigo 312, encontraremos os crimes,
portanto a parte especial do Código de Trânsito.
Os aspectos administrativos versam sobre competência, desvio de função,
possibilidade jurídica da realização de determinados atos jurídicos, atos punitivos. Já
a parte especial entra na área propriamente dita dos crimes especialmente na parte
geral.
2.4.1 Dispositivos da Parte Geral do Código de Trânsito
Será que se aplicam sem quaisquer restrições aos crimes de trânsito as
expressões da Lei 9.099/95? O artigo 291 do Código de Trânsito Brasileiro diz:
Art. 291. Aos crimes cometidos na direção de veículos automotores, previstos neste Código, aplicam-se as normas gerais do Código Penal e do Código de Processo Penal, se este Capítulo não dispuser de modo diverso, bem como a Lei nº. 9.099, de 26 de setembro de 1995, no que couber.
Primeiramente faz-se necessário fazer um contraponto naquilo que a Lei diz e
essa pergunta. A Lei diz da possibilidade da aplicação da Lei 9.099. Mas será que
em qualquer circunstância a Lei 9.099 será aplicada nos crimes de trânsito. É bom
lembrar que a Lei dos juizados especiais criminais diz respeito aos crimes de menor
potencial ofensivo, ou seja, ao rito sumaríssimo que será seguido se de fato tivermos
um crime de pequeno potencial ofensivo. Então a resposta não pode ser aplicada
em toda sua amplitude em todos os crimes de trânsito. Vejamos que o crime mais
grave do Código de Trânsito é o homicídio culposo no trânsito. O condutor de
veículo automotor que venha, sem observar regras de cuidado, de uma forma
desatenta, de uma forma descuidada, de uma forma imprudente, causar morte na
condução de um veículo automotor. Esse não receberá nenhum beneficio da Lei
9.099. Não receberá porque o legislador cuidadosamente previu para o crime de
homicídio culposo uma pena no seu mínimo de 2 anos e uma pena no seu máximo
de 4 anos. É sabido que crime de menor potencial ofensivo, de acordo com a
redação da Lei 9.099 e alterações que se seguiram só podem ser identificados nos
delitos cuja pena máxima seja de até inclusive 2 anos. Assim ultrapassando tal
margem já não temos crimes de menor potencial ofensivo.
Com relação ao instituto que fala da suspensão processual, da suspensão
condicional do processo encontrado no artigo 89 da Lei 9.099 que estabelece:
Artigo 89 - Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal).
Será que nem esse instituto pode ser aplicado ao homicídio culposo no
trânsito já que é aplicado no homicídio culposo no Código Penal. Concluímos que no
Código Penal é possível, já no Código de Trânsito não. Temos aqui uma tratativa
jurídica distinta. Enquanto no Código Penal temos uma pena mínima que permite a
concessão de tal beneficio o mesmo não ocorre no âmbito do Código de Trânsito
porque no Código de Trânsito sabemos que a pena mínima do crime de homicídio
culposo é justamente de 2 anos, um fator impeditivo da concessão da suspensão
condicional do processo.
O crime de lesão corporal culposa em regra admite praticamente todos os
benefícios, todos os institutos, todos os consectários da Lei 9.099. Admite, portanto,
a composição civil na medida em que como regra é um crime de ação penal pública
condicionada a representação. A lesão corporal culposa admite transação penal. A
lesão corporal culposa exige representação, obviamente pela natureza da ação
penal pública condicionada a representação do ofendido ou seu representante legal.
Todavia, como o artigo 291, em dada medida e em dado momento, não vai
permitir sequer a transação penal. Sequer a composição civil. Sequer a
representação do ofendido ou de seu representante legal, isso nas circunstâncias do
parágrafo 1º, incisos I, III e III do próprio artigo 291.
Observamos que o artigo 291 inaugura a parte geral do Código de Trânsito
Brasileiro e ele começa já afirmando que o crime de lesão corporal culposa como
regra se sujeitará a incidência, se sujeitará a aplicação do Código Penal , do Código
de processo penal e também da Lei 9.099/95. Mas reforçando a reprimenda da Lei
11.705/2008 (Lei Seca) confrontada com a legislação anterior diz agora o legislador:
em três circunstâncias não caberá a Lei 9.099 e ele diz isso no parágrafo primeiro
afirmando “aplica-se aos crimes de lesão corporal culposa nos crimes de trânsito o
disposto no artigo 74 da Lei dos juizados especiais. Temos nesse dispositivo a
possibilidade da composição civil. Aplica-se no crime de lesão corporal culposa a
possibilidade do artigo 76, ou seja, a transação penal. Também se aplica o artigo 88
que se refere à representação”. Daí surge às exceções, ou seja, são ditadas as
hipóteses em que não caberá nenhum dos institutos da Lei 9.099, a não ser a
suspensão condicional do processo que caberá em qualquer hipótese, tanto na
lesão corporal culposa do Código Penal comum, tanto na lesão corporal culposa do
Código de Trânsito inclusive nas hipóteses dos três incisos do artigo 291.
No artigo 291, inciso I, do CTB, fala da lesão corporal culposa no trânsito sob
influência de álcool ou qualquer outra substância psicoativa que cause dependência,
que determine dependência. Portanto se o condutor de veículo automotor estava
bêbado, estava embriagado, ou seja, causou lesão corporal embriagado. Nesse
tocante, não terá direito, não fará jus as benesses da Lei 9.099.
Na segunda hipótese prevista no artigo 291, inciso II do CTB, que diz:
“participando de corrida, de disputa ou competição automobilística”. É aquilo
conhecido vulgarmente por racha. Tecnicamente é uma corrida não autorizada, uma
competição automobilística para a qual não foi conferida a autorização. Observe-se
que pode haver uma corrida pública na via com autorização em situações
excepcionais e o CTB foi sensível a essa possibilidade. Mas o racha é uma situação
totalmente diferente, o racha é uma situação em que, normalmente pessoas mais
jovens, normalmente desprovidas do senso de respeito para com o próximo, de
menosprezo com a vida alheia, se colocam na direção de veículo automotor
competindo, acirrando disputa por qualquer que seja o motivo. Se por ventura o
condutor do racha, o condutor do pega, o participante dessa competição vier a
causar lesão corporal que não seja em si mesmo, obviamente, pois a auto lesão não
se verifica punível, mas em terceira pessoa. Nesse caso o infrator não terá direito as
benesses da Lei 9.099, não terá direito a transação penal, não terá direito a
composição civil, não terá direito a representação, ou seja, a ação se tornara pública
incondicionada. Somente terá direito ao sursis processual.
Na terceira hipótese, artigo 291, inciso III do CTB, transitando em velocidade
a máxima permitida para via em 50 quilômetros por hora. Imaginemos. A velocidade
para a via é de 50 km/h e o condutor está a 100 ou a velocidade permitida para a via
é de 120 e o veículo está a 170, se tal condutor vier a ferir alguém, machucar
alguém terá cometido um crime de trânsito tipificado como lesão corporal culposa e
não se aplica a Lei 9.099, pois se trata de uma exceção a regra. Aplica-se o sursis
processual é claro, mas as benesses maiores contidas nos artigos 74; 76 e 88 da Lei
9.099/95 não fará jus.
Todavia a outros crimes previstos no Código de Trânsito. Todos os demais
crimes do CTB, por regra, há aplicação da Lei 9.099/95 em toda a sua amplitude
com exceção ao crime de embriagues na condução do veículo automotor porque a
recente alteração de 2008 decorrente do advento da Lei 11.705, a vulgarmente
chamada “Lei Seca” fez com que, e propositalmente, tivesse essa preocupação qual
seja, não incidência da tratativa da Lei 9.099 no crime de embriagues, obviamente
este crime está fora do alcance, em especial pelo plus de sua pena, ou seja, a pena
de embriagues no trânsito a pena máxima é de 3 anos e como tal ela está fora do
alcance dos chamados crimes de menor potencial ofensivo na medida em que a
própria Lei os define como delitos cuja pena será no máximo até inclusive 2 anos.
O parágrafo 2º do artigo 291 do CTB diz que nas hipóteses do parágrafo 1º
deve ser instaurado inquérito policial, totalmente desnecessário dizer isso porque no
âmbito da Lei 9.099 normalmente não se instaura inquérito policial, mas sim o termo
circunstanciado. Essa é a regra da lesão corporal culposa. Então se diz que não se
aplica os institutos da Lei 9.099, por obvio entende-se que não se instaura termo
circunstanciado e sim o inquérito policial. Mas porque o legislador colocou esse
dispositivo. Aparentemente quis ele espancar qualquer duvida a respeito, ou seja,
quis deixar mais cristalino do que evidente o fato de que nessa hipótese, uma das
hipóteses do parágrafo 1º, incisos I, II e III, não é o caso de se valer do termo
circunstanciado, mas sim é o caso de se utilizar o inquérito policial.
2.4.2 Da Suspensão/Proibição de se obter a Carteira nacional de habilitação ou
Permissão para dirigir
Ao comentar o artigo 292 temos a seguinte redação: “a suspensão ou a
proibição de se obter a permissão ou habilitação para dirigir veículo automotor pode
ser pode ser imposta como penalidade principal, isolada ou cumulativamente com
outras penalidades”. Isso é uma novidade que trouxe a parte especial do Código de
Trânsito porque se formos ao Código Penal, ao Código comum, observaremos que
no preceito primário, ou seja, quando se descreve a conduta proibida, por exemplo,
matar alguém segue-se o preceito secundário – pena – normalmente privativa de
liberdade ou uma pena pecuniária. Como regra é o que temos no Código Penal
comum – pena de homicídio 6 a 20 anos – pena privativa de liberdade. Se for pra
outro delito, pena de tanto a tanto e multa ou multa, portanto na técnica normal do
Código Penal nós nos valemos de pena privativa de liberdade e de penas restritivas
de direito somente em caráter substitutivo. Aqui o que fez o legislador no Código de
Trânsito. Ele inovou criando a possibilidade da pena cumulativa, ou seja, o juiz de
direito pode além de aplicar a pena privativa de liberdade que já esta prevista na
norma, ele pode aplicar, e esse é um poder discricionário do julgador, quer dizer ele
não está obrigado a aplicar essa medida cumulativa. Ele pode fazer inclusive de
forma isolada ou de forma cumulativa com outras penalidades. Todavia, não
podemos esquecer, que em alguns crimes de trânsito, mais precisamente em cinco
deles, o juiz não fará o juízo discricionário, porque nesse caso ele obrigado a seguir
o que diz a norma. A norma diz nesse caso que além da pena privativa de liberdade
ele deverá aplicar a pena de suspensão de direção de veículo automotor ou de
proibição de dirigir veículo automotor. Mas qual a diferença entre suspensão para
direção de veículo automotor de proibição para direção de veículo automotor. A
suspensão é uma medida que se impõe a um condutor habilitado, ele já é habilitado,
já passou pelos processos de habilitação e, portanto, está licenciado para dirigir,
então nesse caso se suspende, ou seja, o juiz aplica a penalidade de suspensão do
direito de continuar dirigindo. Já a proibição se destina aquele que não é habilitado,
que estava dirigindo sem carteira de habilitação. Não sem portar, mas sem tê-la,
sem nunca ter tido tal carteira de habilitação, portanto um não habilitado estará
proibido de dirigir. Quais são os cinco crimes que o juiz é obrigado a aplicar tais
penalidades? O juiz é obrigado aplicar no homicídio culposo porque no homicídio
culposo no trânsito esta pena já está prevista no preceito secundário, juntamente
com a pena privativa de liberdade. Ela também está prevista no crime de lesão
corporal culposa de trânsito. Tanto no homicídio como na lesão corporal culposa
vemos a previsão da suspensão ou proibição para dirigir. O mesmo ocorrerá no
crime de embriagues. Ocorrerá também na competição não autorizada conhecida
como racha. Ocorrerá ainda no crime de violação da determinação de não dirigir, ou
seja, desobediência qualificada do condutor que tendo sido proibido de dirigir,
continua dirigindo. Portanto nesses cinco crimes o juiz é obrigado. Em todos os
demais crimes do CTB o juiz terá a faculdade, o poder discricionário de avaliar se
aplica ou não, em caráter cumulativo, essa nova pena ou penalidade. É chamada de
nova pena “em of” porque o Código Penal já previa esta hipótese apresentando-a,
não como pena, muito menos como pena acessória e saliente-se que devemos
evitar esse termo pena acessória, pois a pena acessória não existe no ordenamento
jurídico penal. Esse termo pena acessória foi banido na reforma de 1984. Então
devemos usar o termo “efeitos da condenação” previstos no artigo 92 e seguintes do
Código Penal, o juiz já podia aplicar essa medida, como também como pena
alternativa previstas no artigo 44 e seguintes do CP pode também o juiz impor pena
alternativa. A novidade então, do CTB, está na cumulatividade, ou seja, na
possibilidade de cumular a pena privativa de liberdade com a pena restritiva de
direito.
Interessante dizer que isso não avilta um direito fundamental. Afirma-se que
não só não avilta, como ainda é consentâneo de tratados internacionais. A
Convenção de Viena, no seu artigo 42, do qual o Brasil é signatário permite também
que se possa retirar a autorização para se dirigir e diga-se são medidas frequentes
em muitos outros Países como Suécia, EUA, Noruega e de todo o Reino Unido
especialmente quando se cuida da infração, de se detectar a condição de
embriagado de quem conduz um determinado veículo.
2.4.3 Duração da penalidade de suspensão/proibição de dirigir
O artigo 293 do Código de Trânsito Brasileiro traz uma nota na qual devemos
tomar cuidado. Ele diz: “a penalidade de suspensão ou de proibição de se obter a
permissão ou habilitação para dirigir veículo automotor tem a duração de 2 meses a
5 anos”. Então a norma diz que essa nova penalidade tem que ter um prazo, lógico,
pois o CP é inspirado pelo principio da legalidade. Alias o direito penal é inspirado
pelo principio da legalidade. E o principio da legalidade possui desdobramento e
corolários. Um dos desdobramentos ou corolários do principio da legalidade é o
principio da taxatividade, segundo o qual a pena tem que ser clara, precisa, objetiva
e concisa. Mas acima de tudo clara, para que o cidadão possa saber de antemão o
que poderá ocorrer com ele caso ele venha a transgredir a norma. Diz, portanto a
Lei agora que a pena tem que ter um mínimo e um máximo. O mínimo de 2 meses e
o máximo de 5 anos. A pergunta é a seguinte: seria possível admitir que uma
pessoa condenada a pena de lesão corporal culposa no seu mínimo, seis meses, e
punida no máximo relativamente a penalidade de suspensão para continuar dirigindo
em cinco anos? Seria isso possível? A resposta é que em tese sim. A Lei abre essa
possibilidade dentro da discricionariedade judicial. Todavia devemos nos lembrar
das lições primarias de elaboração de pena. As lições primeiras a respeito da
dosimetria da pena e não nos esqueçamos da importância do principio da
proporcionalidade segundo o qual se o juiz aplica a pena privativa de liberdade no
seu mínimo por obvio ele também deverá aplicar a pena restritiva de direito ou no
seu mínimo ou próximo do mínimo, não sendo razoável, mas vilipendiador do
principio da proporcionalidade aplicar-se uma pena mínima privativa de liberdade e
uma pena máxima restritiva de direito. É preciso buscar o equilíbrio da decisão e
obviamente se por ventura o magistrado equivocadamente impuser a decisão
destoante dessa orientação essa medida pode ser, com toda certeza, corrigida pelas
instancias superiores, haja vista que o principio implícito da proporcionalidade assim
o recomenda.
O artigo 293 do CTB continua dizendo que transitado em julgado a sentença
condenatória o réu será intimado a entregar ao poder judiciário em 48h a carteira
nacional de habilitação ou a permissão para dirigir. Obviamente que despojado
desse documento, despido dessa licença o condutor já encontra transgredindo a
norma se por ventura for encontrado na direção de veículo automotor, portanto já de
plano terá problemas com a fiscalização.
O parágrafo 2º continua afirmando que a penalidade de suspensão não vai
ser começada, não terá inicio enquanto o condenado estiver preso. É obvio que se o
condutor estiver preso não poderá dirigir dentro do presídio e ainda que fizesse
dentro do presídio ali não é via pública. Mas de qualquer forma o inicio desta pena
poderá ser computado a partir do momento em que o condenado preso é posto em
liberdade. Podendo dirigir fica vedado o exercício na medida em que esta submetido
a pena restritiva de direito.
2.4.4 Suspensão cautelar da permissão/proibição para dirigir
O artigo 294 do CTB traz uma inovação muito interessante que é o fato de
que agora, ou seja, a partir do advento do Código de Trânsito o magistrado pode
impor a medida de proibição de dirigir ou de suspensão do direito de dirigir como
medida cautelar em qualquer fase pré-processual ou intra-processual. Uma fase
inquisitorial, ou seja, no inquérito policial ou mesmo na fase processual propriamente
dita ainda que não tenha havido trânsito em julgado e isso é chamado de medida
cautelar. Será que existe aqui um problema? Sabendo do advento da Lei
12.403/2011 que tem causado um alvoroço nos meios jurídicos, entre aqueles que
estudam o direito penal e o direito processual penal porque essa Lei inovou a ordem
jurídica penal trazendo a noticia de novas medidas cautelares além das medidas
cautelares no processo penal. Há um dispositivo nessa Lei que elenca, que enuncia
quais são as medidas cautelares e começa-se ali falando do comparecimento
obrigatório perante ao juiz; proibição de frequentar determinados lugares; proibição
de estar próximo a determinadas pessoas; recolhimento domiciliar; aplicação de
fiança também reconhecida como medida cautelar e a grande novidade que é a
monitoração eletrônica. Será que esta nova Lei das medidas cautelares em algum
momento afeta o Código de Trânsito em face do fato em que ela já preconiza, já
dispõem quais são as medidas cautelares. A resposta aqui é negativa porque não
podemos nos esquecer de que esta é uma Lei de caráter exemplificativo. O rol que
se encontra nas Leis das novas medidas cautelares é um rol exemplificativo. Não é
um rol exaustivo, não se trata de numerus clausus, quer dizer, existem outras
medidas cautelares previstas em Leis especiais, por exemplo: proibição de dirigir,
suspensão do direito de dirigir nos crimes de trânsito. Será que somente esse
exemplo? Vejamos a Lei Maria da Penha. Na Lei Maria da Penha há um rol de
medidas de proteção à mulher. Há um rol de medidas que se impõem ao agressor
da mulher que também são medidas cautelares que continuam em vigor, portanto a
Lei geral não revogou as especiais e nem poderia fazê-lo por questão de preceito
primário de interpretação da norma jurídica que “Lei geral não revoga Lei especial”.
Assim as medidas cautelares continuam plenas e em vigor. O artigo 294, parágrafo
único do CTB fala do recurso em sentido estrito, como recurso cabível da decisão
que decreta essa medida cautelar.
2.4.5 Comunicação da Suspensão/Proibição para dirigir
O artigo 295 do Código de Trânsito diz: “a suspensão para dirigir veículo
automotor ou a proibição de se obter tal permissão ou habilitação será sempre
comunicada pela autoridade judiciária aos órgãos administrativos, ao CONTRAN e
tudo mais”. Isso nada mais é que uma medida de controle do cidadão.
3 CONCLUSÃO
Foram abordados nesse estudo os agentes do Estado que atuam no trânsito
e através do poder de polícia, possuem a prerrogativa de restringir, de condicionar
direitos fundamentais. Essa restrição ou condicionamento de direito fundamentais só
se justifica pela tutela de direito fundamentais maiores, mais amplos, como é o caso
da segurança da coletividade, da segurança viária, do direito fundamental a vida,
uma vez que muitas pessoas têm morrido no trânsito ou ficado lesionadas
gravemente.
Ademais não devemos nos esquecer de que o poder de polícia tem como
atributo, dentre vários, a chamada de presunção de legitimidade, presunção de
veracidade, presunção de idoneidade, portanto a fala do agente de trânsito, por
exemplo, quando afirma que alguém estava sem o cinto de segurança, a fala do
agente de trânsito é valida, claro que não é uma presunção absoluta, pois caberá
prova em contrario, mas até que se prove em contrario o ônus da prova cabe ao
condutor.
Por isso é que se exige dos policiais um senso de responsabilidade
gigantesco, porque as sanções relativas às infrações administrativas de trânsito são
extremamente rigorosas, se exigindo das autoridades um cuidado que realmente
deve ser adotado.
O CTB fala em ordem pública no que devemos entender ordem viária, ordem
de trânsito propriamente dita no sentido da segurança das pessoas, da incolumidade
da vida e da própria integridade física dos cidadãos. Nesse sentido há instrumentos
suficientes para proteção da sociedade. Órgãos criados com determinadas
competências deverão exercê-las.
É com essas ponderações que se conclui o trabalho de análise dos preceitos
do Código de Trânsito e a atuação de seus agentes. Obviamente que foi se
debruçado nos aspectos mais importantes, mais relevantes, ou seja, àqueles que
têm gerado mais questionamentos, discussões e polêmicas.
Cabe salientar que o objetivo do trabalho não foi estancar o assunto, encerrar
as discussões possíveis sobre o tema, mas despertar uma reflexão, uma análise
crítica, ou seja, um pensamento voltado para a leitura do direito com o olhar na
Constituição Federal. É somente com essa dimensão global que teremos uma
interpretação adequada do direito e uma declinação de justiça efetiva para o caso
concreto.
REFERÊNCIAS ALVES, L. da S. Ajustamento de conduta e poder disciplinar: controle da disciplina sem sindicância e sem processo. Coleção Léo da Silva Alves, v. 2. Brasília: Cebrad, 2008. BACELLAR FILHO, R. F. Processo administrativo disciplinar. 3.ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
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FERREIRA, D. Teoria Geral da Infração Administrativa a partir da Constituição Federal de 1988. Belo Horizonte: Fórum, 2009.
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MEIRELLES, H. L. Direito Administrativo Brasileiro. 38. ed. atual. São Paulo: Malheiros, 2011. MELLO, C. A. B. de. Curso de Direito Administrativo. 29. ed. São Paulo: Malheiros, 2012. OLIVEIRA, Régis Fernandes. Ato administrativo. Ed. RT: São Paulo, 200. TÁCITO, Caio. O abuso de Poder Administrativo no Brasil – Conceitos e Remédios. Edição do Departamento Administrativo do Serviço Público e Instituto Brasileiro de Ciências Administrativas, Rio de Janeiro, 1959.
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