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Número 8Setembro2013

emdebate

A população em situação de rua (PSR) tem sido um desafi o histórico à formação e exercício profi ssional do Assistente Social, seja pela sua heterogeneidade e complexidade, seja pela insufi ciência e/ou falta de políticas, serviços e equipamentos adequados para

encaminhamentos e atendimentos a estes usuários.Estes fatores são características de uma sociedade capitalista, portanto violenta e desigual

na produção e distribuição de suas riquezas, ocasionando o crescimento de uma população que sofre intensamente as suas consequências no trabalho, na família e, em suas formas de sociabilidade. Um processo de reprodução das relações sociais que tem sido determinante na sua condição de vulnerabilidade social, econômica e política, comprometendo-o no campo dos direitos, da justiça e liberdade.

A partir de um conjunto de manifestações e lutas dessa população, organizada enquanto Movimento Nacional da População de Rua – MNPR conquistou-se o Decreto nº 7.053/2009, que institui a Política Nacional para a População em Situação de Rua- PNPSR e seu Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento, trazendo a seguinte concepção: “grupo populacional heterogêneo que possui em comum a pobreza extrema, os vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a inexistência de moradia convencional regular, e que utiliza os logradouros públicos e as áreas degradadas como espaço de moradia e de sustento, de forma temporária ou permanente, bem como as unidades de acolhimento para pernoite temporário ou como moradia provisória” (Art. 1º, § único).

A partir desta referência, cabe refl etir sobre a PSR longe de seu estereótipo, como um “velho barbudo” que fi ca perambulando pelas ruas e dos preconceitos de “periculosidade” e “perturbação da ordem” que levam ao pensamento e ação pública e privada de “limpeza social”.

É preciso ampliar a noção para além desses preconceitos e estereótipos, uma vez que é uma população que chega a essa situação por várias determinações e rupturas ao longo de suas trajetórias de vida, como falta de emprego e moradia, confl itos pessoais e familiares, utilização e dependência do álcool e outras drogas, etc.

Em se tratando de homens, mulheres, crianças, jovens, idosos, é uma população heterogenia que precisa ser compreendida em suas particularidades e determinações, cujas respostas às suas necessidades não podem ser únicas e homogêneas.

Este olhar amplia a visão de população de rua para não somente o indivíduo que mora nela, mas como aquele que se utiliza desse espaço para sobrevivência permanente ou provisória.

Diante desta caracterização percebe-se que o trabalho do profi ssional de Serviço Social tende muitas vezes a uma ação restrita à tutela reiterando a perspectiva dominante de limpeza social. Não é difícil encontrar profi ssionais que diante da situação de atendimento a essa população que se encontra em extrema situação de risco e vulnerabilidade social, não consegue estabelecer relações que os impulsionem para superação de sua condição,

Atuação pro� ssional do Assistente Social com a população em situação de rua

Esta é uma publicação do CRESS 12ª Região - Gestão 2011-2014Comissão de Comunicação Responsável: Magali R. Franz (CRESS nº 1168) - conselheira, Juçara R. Silva (CRESS nº 3949) - conselheira, Fabiana L. Negri (CRESS nº 2076) - coordenadora técnica - e Cristiane S. Claudino (CRESS nº 1341) - colaboradora.Jornalista Responsável: Cassiano Ferraz (SC 3481JP)

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fortalecimento de vínculos de confi ança e, consequentemente, não responde com um atendimento qualifi cado, devido à difi culdade de perceber aquele usuário como sujeito de direitos.

Isso reforça a difi culdade da profi ssão em romper com as práticas históricas de higienização e criminalização da pobreza que vai ao encontro dos interesses do mercado de “embelezamento das cidades” com intuito de favorecer grupos privados que não aceitam de forma alguma esta população ocupando praças, viadutos e outros locais públicos próximos a empreendimentos, comércio e residências. Essa postura é reforçada quando os profi ssionais não percebem, são coniventes, ou optam por intervenções tradicionais de recolhimento forçado, recambiamento ou repatriamento (envio destes sujeitos a outros municípios), internações em comunidades terapêuticas inadequadas, internações compulsórias e outras.

A superação dessa visão passa pelo campo da compreensão e do compromisso que este profi ssional possui com a profi ssão, com os usuários enquanto sujeitos de direitos, com a Política Nacional e das escolhas que faz diante destas opções.

Destaca-se que há fatores que auxiliam e orientam ao atendimento a essa população, como os princípios de liberdade, igualdade, direito, democracia inscritos no Código de Ética profi ssional e o próprio Decreto que institui a política para a população de rua.

Além destas referências, uma das bases do atendimento a PSR é o fortalecimento do vínculo de confi ança com o usuário, reconhecimento pelo profi ssional de sua condição para que ele possa relatar os fatores de seu processo de rualização e reconstruir sua trajetória. Isto demonstraria o “empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando o respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados e à discussão das diferenças”.

REFERÊNCIASCONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL (CFESS). Código de Ética Profi ssional do Assistente Social. Resolução n. 273 de 13/03/1993. Publicada no D.O.U. em 30/03/1993.BRASIL, Decreto N. 7.053 de 23 de dezembro de 2009.PRATES, J. C. ; PRATES, F. C. ; Simone Machado . Populações em situação de rua: os processos de exclusão e inclusão precária vivenciados por esse segmento. Revista Temporalis, v. 2, n. 22, p. 191-216, 2011.SILVA, M. Lucia Lopes da. Trabalho e População em Situação de Rua no Brasil. São Paulo, Cortez, 2009.

Autores:Ciberen Quadros Ouriques (CRESS nº 4478)

Fabiana Rosa Cardoso (CRESS nº 5161)Helder Boska de Moraes Sarmento (CRESS nº 4296)

Rosana Sousa de Moraes Sarmento (CRESS nº 4295)

Organização: Comissão Ampliada de Ética e Direitos Humanos do CRESS 12ª Região

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