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Rio de Janeiro: Av. Lúcio Costa, 6420. Barra da Tijuca – CEP 22.630-013. Tel.: (21) 3906-3939. Fax: (21) 3906-3999 São Paulo: Rua Dr. Bacelar, 173 – Cj. 52 – Vila Clementino – CEP 04.026-100 – Tel.: (11) 5573-3595
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AUDIÊNCIA PÚBLICA Nº 017/2013
A PROTESTE – Associação de Consumidores vem apresentar suas contribuições à
Consulta Pública 17/2013, instalada pela ANEEL com o objetivo de “Obter subsídios
para a regulamentação das interrupções de longa duração nos sistemas de
distribuição, os mecanismos de publicidade das informações dessas interrupções e a
definição de Interrupção em Situação de Emergência”.
1. Antes de tudo, informa-se que esta contribuição é apresentada em caráter
complementar à contribuição da Frente de Defesa dos Consumidores de
Energia Elétrica, integrada pela PROTESTE, Fundação PROCON/SP,
Federação Nacional dos Engenheiros e IDEC.
2. Tendo em vista que a ANEEL continua envidando esforços para aperfeiçoar a
regulamentação das interrupções de longa duração nos sistemas de
distribuição, a PROTESTE pretende aproveitar esta oportunidade para, mais
uma vez, destacar seu entendimento quanto à inconveniência da alteração
promovida pela agência, por meio da Resolução 395/2009 e Módulos 1 e 8 do
PRODIST, que desborda no desrespeito aos princípios da legalidade e
eficiência, que devem ser observados pelos órgão da administração pública.
3. E assim afirmamos com base em informações divulgadas pela própria ANEEL,
que demonstram a queda inequívoca na qualidade da prestação do serviço de
distribuição de energia elétrica, coincidindo com o início de vigência do novo
sistema de avaliação do desempenho das empresas e da respectiva
penalização. Vejam os gráficos abaixo:
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Eletropaulo
Ligth
CEB
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4. Atribuímos a ineficiência do novo sistema implantado pela ANEEL também ao
fato reconhecido de que não tem meios de acompanhar integralmente as
informações relativas aos expurgos e indenizações que lhes são enviadas pelas
distribuidoras, o que fragiliza a atuação fundamental da agência de
FISCALIZAÇÃO.
5. Ao contrário do que se anunciou com a nova sistemática, ela não significou
“avanço regulatório”, nem maior exigência de qualidade, tendo em vista a
alegação de que os consumidores estariam sendo devidamente indenizados nos
casos de descumprimento dos índices de qualidade.
6. O certo é que os novos critérios para expurgos definidos pela ANEEL têm levado
a que aproximadamente 90% (noventa por cento) das interrupções na prestação
do serviço em questão amargadas pelos consumidores não se incluam como
desrespeito às regras de qualidade e, consequentemente, que as distribuidoras
não sejam devidamente penalizadas.
7. Vale, para corroborar a afirmação acima, repetir o gráfico elaborado pela
Secretaria de Energia do Estado de São Paulo, que vem acompanhando de
perto esta matéria, diante da degradação das condições de prestação da
distribuição de energia elétrica, com efeitos danosos para a economia do
estado, pois afeta atividades econômicas essenciais desenvolvidas pela
indústria e pelo próprio pode público.
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8. O quadro de gritante ineficácia regulatória expresso pelo gráfico acima é
suficiente para corroborar a afirmação de que os números relativos aos valores
pagos a título de indenização aos consumidores não se prestam a validar a
legalidade dos atos da ANEEL impugnados por essa demanda, pois se
encontram extremamente defasados com relação à má prestação do serviço
demonstrada pela Secretaria de Energia do Estado de São Paulo e percebida
pelos consumidores.
9. Dados recentes da ANEEL revelaram que foram pagas indenizações em 2011
no montante de R$ 360 milhões. Considerando-se que hoje, segundo a ANEEL,
existem 72,7 milhões de unidades consumidoras, e adotando uma média,
chega-se a R$ 4,91 de indenização por cada unidade por ano e R$ 0,41 por
mês.
10. Ocorre que a própria ANEEL ensina na Nota Técnica 0248/2013-SRD/ANEEL
(itens 24 e 39) que o serviço de distribuição de energia elétrica “já incorpora as
diversas dificuldades intrínsecas em seu planejamento e operação”, em razão
do que a tarifa traz embutida um fator para garantir os investimentos obrigatórios
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para a manutenção da infraestrutura necessária para a prestação do serviço em
padrões adequados de qualidade, respeitando a continuidade.
11. Sendo assim, o que os consumidores, legítima e razoavelmente, esperam é que
a frequência e duração das interrupções na prestação do serviço sejam cada
vez menores.
12. O pagamento das irrisórias indenizações não compensa o alto valor da tarifa no
Brasil, especialmente para os consumidores residenciais e cativos, como é o
caso de 84,6% do total de unidades consumidoras existentes, bem como a falta
de correspondência entre o alto valor e a baixa qualidade do serviço percebida
pelo consumidor, que independe dos expurgos criados pela ANEEL.
13. Reforça a ineficácia regulatória ora em tela os dados informados pela própria
ANEEL, em resposta a Ofício encaminhado pelo Sindicato dos Engenheiros de
São Paulo à qual a PROTESTE teve acesso.
14. Veja-se o número de dias considerados críticos pela agência e que, portanto,
não foram considerados interrupção de serviço pela AES Eletropaulo, mas cujos
prejuízos foram efetivamente amargados pelos consumidores:
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15. Correto concluir que há milhares de consumidores que amargaram 21 dias de
interrupções não indenizadas, o que contraria frontalmente o que consta dos
arts. 37, § 6º, da Constituição Federal, 6º, da Lei das Concessões e 20 e 22, do
Código de Defesa do Consumidor.
16. O art. 6º da Lei 8.987⁄95 estabelece:
Art. 6º Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de
serviço adequado ao pleno atendimento dos usuários, conforme
estabelecido nesta Lei, nas normas pertinentes e no
respectivo contrato.
§ 1º Serviço adequado é o que satisfaz as condições de
regularidade, continuidade, eficiência, segurança,
atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e
modicidade das tarifas.
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§ 2º A atualidade compreende a modernidade das técnicas, do
equipamento e das instalações e a sua conservação, bem como
a melhoria e expansão do serviço.
§ 3º Não se caracteriza como descontinuidade do
serviço a sua interrupção em situação de emergência
ou após prévio aviso, quando:
I - motivada por razões de ordem técnica ou de
segurança das instalações; e,
II - por inadimplemento do usuário, considerado o interesse
da coletividade.
17. A Lei, por conseguinte é clara; os expurgos admitidos só podem se dar nos
casos de situação de emergência, motivados por razões de ordem técnica ou
de segurança das instalações.
18. Entretanto, a nova sistemática, violando o princípio da legalidade, extrapola os
limites definidos pelo dispositivo acima, introduzindo o conceito de dia crítico e,
pior, definindo-o de forma flexível e subjetiva, o que tem viabilizado ganhos
indevidos para as concessionárias, pois permite que um grande número de
interrupções seja expurgado do cômputo dos índices de violação da obrigação
de continuidade do serviço.
19. Isto sem falar no inconveniente de a atividade de apuração do que se denomina
de situação de emergência e dias críticos ficar sob o controle exclusivo das
concessionárias – de modo auditável pela agência, é certo, mas a posteriori.
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20. Não é à toa que os níveis de qualidade do serviço se degradaram a partir da
entrada em vigor da nova metodologia. Vale repetir o gráfico da ANEEL,
mostrando que de 2010 para 2011 o DEC Brasil continuou piorando: foi de
18,38 para 18,48, sendo que em 2004 o DEC já havia chegado em 15,81,
mantendo-se na casa de 16, até a entrada em vigor da nova metodologia,
quando deu um salto para 18,77.
21. O fato de o FEC ter apresentado melhora não serve para justificar a
manutenção dos critérios estabelecidos pela nova sistemática, pois esse
argumento é uma falácia.
22. Isto porque, se as novas regras permitem expurgos indevidos, cuja classificação
fica a cargo das prestadoras de serviço (ainda que posteriormente auditável pela
ANEEL), é fácil entender que elas utilizarão da subjetividade das regras ora
questionadas para se isentarem do dever de indenizar.
23. Nessa direção, vale repetir a transcrição de matéria jornalística que trata do
assunto:
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24. Para tentar resolver o quadro de baixa qualidade de prestação do serviço, a
ANEEL editou a Resolução 469⁄2011, por meio da qual se deu a Revisão 4 do
Módulo 8 do PRODIST, estabelecendo um limite para a duração das
interrupções nos dias críticos, diferentemente do que ocorria antes desta
alteração.
25. A definição do DICRI consta do Módulo 1, do PRODIST:
Módulo 1 (definições):
“2.122 DICRI:
(...)
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“2.135 Duração da interrupção individual ocorrida em dia
crítico por unidade consumidora ou ponto de conexão
(DICRI):
Corresponde à duração de cada interrupção ocorrida em dia
crítico, para cada unidade consumidora ou ponto de
conexão”.
26. Todavia, os limites impostos pela ANEEL representam verdadeiros presentes
para as concessionárias, como se pode verificar pela tabela introduzida no
Módulo 8. Passa-se à transcrição da tabela nº 4, pois é a que se aplica aos
consumidores residenciais. Veja-se:
Módulo 8, item 5.10.7:
“5.10.7 O limite do indicador DICRI para as unidades
consumidoras deverá corresponder ao maior valor
estabelecido para o indicador DMIC nas tabelas 1 a 5 do
Anexo I desta seção, de acordo com a localização e com a
tensão contratada”.
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27. Ou seja, a atitude da ANEEL para mostrar alguma ação diante da queda
indiscriminada da qualidade do serviço a nível nacional, foi criar o DICRI.
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28. Porém, de acordo com o limite estabelecido, a duração média de interrupção
(DMIC) por consumidor pode chegar a astronômicas 12,22 horas! Ou seja, ao
criar o DICRI a ANEEL relacionou este indicador como sendo o maior valor de
DMIC – 12,22 h.
29. Para exemplificar, vale considerar a Resolução Autorizativa Nº 1.115, de 20 de
novembro de 2007, que “estabelece as metas de continuidade dos serviços de
distribuição de energia elétrica, nos seus aspectos de Duração Equivalente de
Interrupção por Unidade Consumidora – DEC e Freqüência Equivalente de
Interrupção por Unidade Consumidora – FEC, para os conjuntos de unidades
consumidoras da área de concessão da Eletropaulo Metropolitana Eletricidade
de São Paulo S/A – Eletropaulo, para o período 2008 – 2011”.
30. Aplicando a Revisão 4, do Módulo 8 do PRODIST, ao caso da Eletropaulo, é
correto concluir que um morador de Itapecerica da Serra, cuja meta de
DEC⁄FEC para 2011 foi de 20, pode ficar, a cada interrupção ocorrida, 3,80
horas com a prestação de serviço interrompida sem ser indenizado.
31. Pode-se concluir, então, que a nova sistemática está chancelando a situação
em que o consumidor fique mais de 12 horas com o serviço interrompido, mas
não seja indenizado por isso, sempre que a concessionária enquadrar a
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interrupção como dia crítico.
32. Este ato da ANEEL se deu com base em contribuição apresentada pela
ABRADEE – Associação Brasileira das Distribuidoras de Energia Elétrica, o que
originou reação da Frente de Defesa dos Consumidores de Energia Elétrica, da
qual faz parte a PROTESTE, o PROCON⁄SP, a Federação Nacional dos
Engenheiros e o IDEC, na medida em que os critérios que terminaram por ficar
estabelecidos, nada tinham haver com a proposta de norma submetida à
Consulta Pública pela ANEEL, em razão do que as entidades participantes, ao
contribuírem, não puderam impugnar os novos limites tão prejudiciais aos
usuários.
33. Destarte, o estabelecimento do DICRI não impede os efeitos das ilegalidades
apontadas nos Módulos 1 e 8 do PRODIST.
34. A ANEEL, na Ação Civil Pública ajuizada pela PROTESTE questionando a nova
sistemática, afirmou em sua contestação, que:
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35. Os argumentos da ANEEL devem ser considerados levando em conta que a
prática adotada pelas distribuidoras é, nas situações de dia crítico num
determinado conjunto elétrico, a de reforçar o número de equipes de
atendimento de emergência redirecionando recursos pessoais e materiais
vinculados a outras atividades (manutenção preventiva, construção de rede,
combate a perdas, serviços comerciais, etc.).
36. Também ocorre que equipes vinculadas a determinado conjunto elétrico, onde
as ocorrências de situações de emergência não sejam tão constantes sejam
deslocadas para o conjunto vizinho. Os dados relativos à Eletropaulo,
informados pela ANEEL em resposta ao SEESP, demonstram que as situações
de cada conjunto elétrico são bem diferentes.
37. E assim se dá, pois não tem nenhuma razoabilidade se pretender que as
distribuidoras estivessem obrigadas a manter para cada conjunto elétrico uma
equipe composta de modo que as demandas de cada dia fossem
potencialmente dia crítico.
38. Ou seja, não se pretende que as concessionárias sejam obrigadas a
disponibilizar um número de equipes dedicadas a essas operações acima do
necessário, criando custos e comprometendo a modicidade tarifária, mas sim,
que a ANEEL considere um dimensionamento adequado de recursos para o
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atendimento emergencial em dias típicos e de sistemas ágeis e eficazes de
ativação de turmas complementares, próprias ou contratadas, apenas quando
necessário.
39. Sendo assim, o argumento da ANEEL para justificar a manutenção do expurgo
relativo a dias críticos no sentido de que a extinção implicaria em
superdimensionamento de equipes não se sustenta, pois não está adequado à
realidade e às práticas das empresas, que reforçam suas equipes e recursos,
pontualmente, para as épocas do ano em que a ocorrência de dias críticos se
concentram numa ou noutra área.
40. Aduza-se, ainda, que as equipes de manutenção não são dimensionadas por
“conjuntos”, mas sim por “regiões” que podem congregar, em alguns casos, 10
ou mais conjuntos.
41. O conceito de “dia crítico” se encontra distorcido, pois sua definição foi
estabelecida para identificar eventos que excedem os limites operativos de um
determinado sistema elétrico, por exemplo, uma condição atmosférica extrema.
Mas esses eventos são esporádicos, ou seja, não ocorrem em grande
quantidade e nem simultaneamente.
42. Na verdade, o dia crítico é apurado pelo número de ocorrências de um
Conjunto (região geoelétrica atendida por uma subestação de alta tensão) e as
equipes de atendimento da Concessionária são dimensionadas para
atendimento simultâneo de vários Conjuntos. Em outras palavras, o fato de
poderem estar sendo exigidos serviços de reparos de várias ocorrências em um
único conjunto não significa que o dimensionamento da estrutura para a rede
elétrica não seja suficiente.
43. Mas os problemas não se restringem à ilegalidade das disposições dos Módulos
1 e 8 do PRODIST. A ANEEL também peca no acompanhamento dos
enquadramentos dos fatos como dias críticos feitos pelas distribuidoras.
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44. Vale enumerar os seguintes exemplos de situações que as distribuidoras têm
enquadrado como situação de interrupção em situação de emergência, porque
fugiriam ao seu controle e que têm sido aceitas pela ANEEL:
• Interrupções causadas por pipas (brinquedo infantil);
• Interrupções causadas por precipitações pluviométricas intensas;
• Interrupções devido à queda de galhos de árvores ou ventos;
• Interrupções decorrentes de descargas atmosféricas;
• Impedimento de acesso por motivos diversos;
• Interrupções causadas por vandalismo na rede;
• Interrupções causadas por abalroamento de um veículo num poste;
• impedimento de acesso por simples alagamentos (não confundir com enchentes);
• Incêndios na proximidade de linhas de transmissão / distribuição.
45. Ora, muitos desses fatos são corriqueiros em centros urbanos e não podem ser
tidos como excepcionais, nem se enquadrar no que dispõe o art. 393, do Código
Civil, até porque as concessionárias assumiram contratualmente o encargo de
prestar os serviços por sua conta e risco de forma contínua, só se justificando o
alívio de responsabilidade quando se tratar de fatos necessários, cujos efeitos
não possam ser previstos ou evitáveis.
46. Sendo assim, se a qualidade da prestação do serviço vem caindo, como está
incontroverso pelos dados apresentados pela ANEEL, é direito inquestionável
do consumidor ter pleno conhecimento deste fato, a fim de se garantir o direito à
correspondente reparação.
47. Esta afirmação está respaldada pelo que dispõe o art. 20 do Código de Defesa
do Consumidor ao estabelecer as hipóteses de caracterização de vício na
prestação do serviço:
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Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios
de qualidade que os tornem impróprios ao consumo ou lhes
diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da
disparidade com as indicações constantes da oferta ou
mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir,
alternativamente e à sua escolha:
(...)
III - o abatimento proporcional do preço.
§ 2° São impróprios os serviços que se mostrem
inadequados para os fins que razoavelmente deles se
esperam, bem como aqueles que não atendam as normas
regulamentares de prestabilidade.
48. Ou seja, são impróprios não só os serviços que não atendam os parâmetros
estabelecidos pela ANEEL, mas também os que se mostrem inadequados aos
padrões que razoavelmente se pode esperar.
49. Aliás, nesse diapasão a PROTESTE discorda do que consta no item 41, da Nota
Técnica ora em tela, pois interrupções ordinárias, sob o ponto de vista jurídico,
inclusive por conta do que está consignado nos itens 24 e 39 da mesma Nota
Técnica, não podem ser entendidas como Caso Fortuito ou de Força Maior.
50. Ora, se as concessionárias já prestaram o serviço de distribuição de energia
elétrica em padrões de qualidade muito superiores aos que vêm apresentando a
partir de 2009, é razoável que os consumidores esperem melhores condições de
prestação de serviços e, consequentemente, que sejam reparados pela
prestação de serviço inadequada e que não corresponda aos padrões
praticados entre 2005 a 2009.
51. O art. 22, do Código de Defesa do Consumidor também respalda a pretensão de
que se acabe com os expurgos por dias críticos, na medida em que garante que
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os serviços devem ser prestados em condições adequadas e quando se tratar
de serviços essenciais, como é o caso, a continuidade é requisito fundamental a
ser cumprido.
52. Mas a introdução de expurgos por dias críticos têm funcionado como chancela
ao desrespeito reiterado à obrigação de continuidade da prestação do serviço
de distribuição de energia elétrica.
53. Aduzimos, ainda, que a atribuição legal de garantir o acesso e a adequação do
serviço público é do Poder Público, nos termos do art. 175, da Constituição
Federal:
Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei,
diretamente ou sob regime de concessão ou permissão,
sempre através de licitação, a prestação de serviços
públicos.
Parágrafo único. A lei disporá sobre:
I - o regime das empresas concessionárias e
permissionárias de serviços públicos, o caráter especial
de seu contrato e de sua prorrogação, bem como as
condições de caducidade, fiscalização e rescisão da
concessão ou permissão;
II - os direitos dos usuários;
III - política tarifária;
IV - a obrigação de manter serviço adequado.
54. Se assim é, está clara a ilegalidade das normas baixadas pela ANEEL que,
como se viu acima, contraria o que dispõe o art. 6º, da Lei de Concessões, pois
extrapola os critérios legais de isenção de responsabilidade por interrupção na
prestação do serviço, bem como o que dispõe o Código do Consumidor.
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55. A doutrina de Agostinho Alvim, amplamente aceita nos tribunais do país, a
respeito da configuração do caso fortuito e a atividade empresarial é
fundamental para as reflexões aqui expostas:
“O fortuito interno é o fato imprescindível e inevitável que se relaciona com os riscos da atividade desenvolvida pelo transportador. É ligado à pessoa, à coisa ou à empresa do agente. Pode-se citar como exemplo o estouro de um pneu do veículo, a quebra da barra de direção, ou o mal súbito do motorista. Mesmo sendo acontecimentos imprevisíveis, estão ligados ao negócio explorado pelo transportador, razão pela qual o fortuito interno não o exonera do dever de indenizar. Já o fortuito externo
se caracteriza também por ser um fato imprevisível e inevitável, porém é
alheio à organização do negócio do transportador. São fatos da natureza tais
como as enchentes, os raios, terremotos, etc.[...] Sendo denominado por
alguns como força maior. Apenas o fortuito externo, ou força maior, tem o
condão de excluir a responsabilidade do transportador”1.
56. A jurisprudência a respeito do fortuito interno confrontado à atividade econômica
e a responsabilidade objetiva também está de acordo com a tese defendida pela
PROTESTE. Veja-se:
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo
APELAÇÃO: 0047200-06.2010.8.26.0114
Voto no 16.841
Julgado em 28 de junho de 2012
AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO CUMULADA COM
DANOS MORAIS
“(...) Responsabilidade objetiva da empresa, que se beneficia do sistema de
vendas por telefone, e deve, portanto assumir os riscos Ocorrência de 1. Da inexecução de suas obrigações e suas consequências, Editora Saraiva, São Paulo, 1980, pág. 34.
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fortuito interno, que se incorpora ao risco da atividade de fornecimento de
serviços de massa.(...)
No caso em apreço, a responsabilidade objetiva não deriva propriamente da
atividade de risco, ou perigosa, mas sim do risco da atividade. A empresa que, no âmbito de sua organização, ocasiona danos com uma certa regularidade, deve assumir o conseqüente risco e traduzi-lo em um custo. Em uma sociedade de produção de bens e serviços de massa, os defeitos acontecem inevitavelmente, são previsíveis, evitáveis e estão quantificados em probabilidades. Acabam sendo encarados como metas de erros, que geram danos, assumidos como risco do negócio. É inviável hoje, nas grandes corporações e conglomerados de venda de
produtos, verificar condutas individuais. O que interessa é o resultado das
atividades. Os elevados níveis de gestão e governança corporativa
convertem os danos causados a terceiros em conduta puramente racional,
com cálculo de riscos e prevenção embutidos no preço.
Razoável que a ré, que se beneficia dos menores custos de manutenção de estabelecimento físico e funcionários, vendendo seus produtos por contato telefônico, e não procurando, sequer, entregar seus produtos diretamente àqueles em nome de quem a venda foi realizada, se responsabilize pelos danos causados.
57. O mesmo se pode afirmar para as distribuidoras de energia elétrica, que
preferem não investir no aterramento de suas redes e, portanto, devem assumir
as consequências da assunção dos riscos que a rede aérea implica.
58. Está claro, portanto, que a nova sistemática aqui atacada anda em sentido
contrário o que dispõe o ordenamento jurídico do país, especialmente a
Constituição Federal e o Código de Defesa do Consumidor, que impõem a
responsabilidade objetiva para os fornecedores de serviços públicos.
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59. Mais importante e eficiente seria a ANEEL, a despeito do que consta do item 25
da Nota Técnica que instrui esta Consulta Pública, se articular com os
municípios que concentram situações críticas para definir um plano de
investimento factível e coerente de aterramento das redes. São Paulo, por
exemplo já conta com lei e decreto municipal prevendo o aterramento das redes.
60. É esta a tendência nos países mais avançados e o Brasil não poderá se furtar
desse caminho, que é o mais racional.
II – O DIREITO À INFORMAÇÃO – ART. 6º, INC. III, DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR
61. Com relação a este ponto a PROTESTE felicita a ANEEL ao se propor a criar
mecanismos de informação que minimizem os enormes prejuízos que a nova
sistemática ora em tela tem causado aos consumidores.
62. Um dos pedidos da PROTESTE na ação civil pública já referida, aguardando
sentença desde julho de 2013, é de que a ANEEL seja compelida a divulgar
mensalmente em seu sítio eletrônico relatórios, por distribuidora, com as
informações por conjuntos elétricos, informando a frequência e duração das
interrupções, destacando o que foi expurgado e o fundamento do expurgo.
63. Esta Consulta Pública representa um grande avanço frente às alegações da
agência no processo, no sentido de que já há informações suficientes nas
faturas e que, nos casos em que o consumidor discordar do que consta da
fatura, tem o direito de receber esclarecimentos das distribuidoras.
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64. O direito à informação ampla – inc. III, do art. 6º, do Código de Defesa do
Consumidor, é um dos principais instrumentos encontrados pelo legislador para
compensar o desequilíbrio na relação entre fornecedores e consumidores, tendo
em vista a vulnerabilidade destes no mercado de consumo, estabelecida como
princípio, nos termos do art. 4º, da mesma lei, que trata da Política Nacional das
Relações de Consumo.
65. Sendo assim e considerando-se que, de acordo com a nova sistemática, a
penalização das concessionárias se dá por meio da compensação diretamente
ao consumidor na fatura relativa à cobrança pela prestação do serviço de
distribuição de energia elétrica, é fundamental que se estabeleçam instrumentos
efetivos para que o consumidor possa, de fato, controlar as informações
lançadas na fatura pela concessionária, bem como o acerto dos descontos
promovidos ou não pelas distribuidoras para compensá-los pela violação dos
parâmetros de qualidade da prestação do serviço.
66. O estabelecimento de um mecanismo eficiente no sentido de instrumentalizar o
consumidor para verificar a exatidão ou não dos procedimentos de
compensação pode funcionar como estímulo para a melhoria nas condições de
prestação do serviço.
67. Todavia, ele não é suficiente. Os poderes/deveres de regulação e fiscalização
da agência são os fatores preponderante para levar ao cumprimento das metas
de qualidade.
68. Nessa direção, temos à disposição ferramentas tecnológicas poderosas para a
fiscalização. Se a ANEEL afirma que não tem condições de dar tratamento ao
volume de dados que recebe das 63 distribuidoras a respeito das interrupções
na prestação do serviço, poderia se utilizar de acompanhamento on-line e em
tempo real com os sistemas das empresas.
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69. Por este aspecto, queremos destacar a afirmação contida no item 59, da Nota
Técnica para deixar claro que as informações devem estar acessíveis
especialmente para a ANEEL que deve ter acesso direto aos sistemas de
aferição de metas de qualidade das distribuidoras.
70. Esta atividade garantiria não só a possibilidade de a agência ter acesso a fatos
crus e não distorcidos pelos interesses das empresas, mas também viabilizar
aos consumidores, depois de definida a metodologia, padrão confiável para as
informações a serem disponibilizadas aos consumidores.
71. Entendemos, ainda, que os relatórios a serem disponibilizados devem seguir
modelo definido pela ANEEL e devem estar disponíveis fisicamente, nas lojas
de atendimento e na internet, não só no sítio eletrônico das empresas, mas
também da ANEEL; valendo a consulta às entidades de defesa do consumidor,
antes de fixação do modelo.
72. Por fim, rechaçamos totalmente a hipótese levantada no item 88 da Nota
Técnica de se cobrar do consumidor pela obrigação das empresas de prestar
contas. Cobrar por informação ao consumidor contraria o art. 6º, do CDC. A
informação é um direito básico e não pode ser tarifada. Os custos de
administração dos serviços já estão embutidos na tarifa.
73. Pelo exposto, a PROTESTE reitera seus pedidos já apresentado em ação
judicial movida em 2011, para que:
a) a ANEEL divulgue mensalmente em seu sítio eletrônico relatórios, por
distribuidora, com as informações resumidas por conjuntos elétricos, informando
a frequência e duração das interrupções, destacando o que foi expurgado e o
fundamento do expurgo, e
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b) para suspender a eficácia da nova sistemática inaugurada com a Resolução ,
mantendo-se os expurgos apenas para as hipóteses de caso fortuito e força
maior, nos termos do art. 6º, da Lei de Concessões.
Esperando estarmos contribuindo para o aperfeiçoamento da metodologia de aferição
dos indicadores de qualidade do serviço público essencial de distribuição de energia
elétrica e para a promoção do direito básico do consumidor à informação ampla, a
PROTESTE aguarda sejam levadas em conta suas contribuições.
FLÁVIA LEFÈVRE GUIMARÃES CONSELHO CONSULTIVO DA PROTESTE
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