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DIREITO PENAL II
FESP/UEMG
FADIPA
2º Semestre de 2013
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
1. O fato-punível
Conceito de crime. Elementos
2 O Injusto Típico
2.1 A ação humana
2.2 Tipicidade
2.3 Ilicitude
2.4 Causas de exclusão da ilicitude
2.5 O estado de necessidade
2.6 A legítima defesa
2.7 Outras causas de exclusão da ilicitude. Estrito cumprimento de dever legal.
Exercício regular de direito. Consentimento do ofendido.
3 Culpabilidade
3.1 Noção e evolução da ideia de culpabilidade. Culpabilidade por fato doloso
3.2 Culpabilidade e a problemática do erro. A consciência da ilicitude. Falta de
consciência da ilicitude e ignorância da lei. Erro de tipo e erro de proibição.
3.3 A culpa em sentido estrito
3.4 Causas de exclusão da culpabilidade
4 Concurso de Pessoas
4.1 Introdução
4.2 Teorias sobre o concurso de pessoas
4.3 Causalidade física e psíquica
4.4 Requisitos do concurso de pessoas
4.5 Autoria
4.6 Autoria imediata
4.7 Coautoria
4.8 Participação em sentido estrito
4.9 Concurso em crime culposo
4.10 Concurso em crimes omissivos
4.11 Autoria colateral
4.12 Participação impunível
4.13 Punibilidade em concurso de pessoas
4.14 Comunicabilidade das circunstâncias, condições e elementares
A presente apostila visa facilitar o estudo dos alunos e é composta por uma síntese de
vários autores somando-se a questões de concursos (Magistratura, MP, Defensoria
Pública etc.) e outros exercícios diversos (para fins de fixação).
Dessa forma, para fins de respeito aos direitos autorais e indicação de obra-autor,
sempre serão apontadas as iniciais do autor no início da parte na qual este foi
empregado (direta ou indiretamente) e a bibliografia completa nos padrões da ABNT
ao final de cada parte. Veja as siglas:
M.I.: Material do IESDE BRASIL S.A.
R.S.C.: Rogério Sanches Cunha.
G.S.N.: Guilherme de Souza Nucci
L.R.P.: Luiz Régis Prado
C.M.: Cleber Masson
R.G.: Rogério Greco (dentre outros que constarão das referências ao final de cada
tópico).
CRIME:
G.S.N.:
O conceito de Crime é artificial (não depende de fatores naturais, constatados por
um juízo de percepção sensorial), visto que não é possível classificar uma conduta,
ontologicamente, como criminosa.
Michel Foucault: “É verdade que é a sociedade que define, em função de seus
interesses próprios, o que deve ser considerado como crime: este, portanto, não é natural”.
Vigiar e punir, p. 87.
Conceitos de Crime:
Conceito Material: é a concepção da sociedade sobre o que pode e deve ser
proibido, por meio da aplicação (cominação) de uma sanção penal. É a
conduta que ofende um bem juridicamente tutelado, merecedora de pena.
Claus Roxin: “o conceito material de crime é prévio ao Código Penal e
fornece ao legislador um critério político-criminal sobre o que o Direito Penal
deve punir e o que deve deixar impune” (Derecho Penal – Parte general, t. I, p.
51).
Conceito Formal: é a concepção do direito (jurídica) acerca do delito,
constituindo a conduta proibida por lei, sob ameaça de aplicação de pena, em
uma ótica legislativa do fenômeno. É fruto do conceito material, só que
devidamente formalizado.
Verifica-se, assim, o respeito ao Princípio da Legalidade (reserva legal): “não
há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem lei anterior que a
comine”.
Conceito analítico: é a concepção da ciência do direito, que não difere, na
essência, do conceito formal. É o conceito formal separado, cingido em
elementos para possibilitar seu melhor estudo e compreensão.
A corrente majoritária, no Brasil e também no exterior, é a da visão
tripartida que entende ser o crime um fato típico, antijurídico e culpável.
Vejamos brevemente o que é Tipicidade, antijuridicidade e culpabilidade
(mais adiante aprofundaremos o estudo destes institutos).
a) Tipicidade: Fato real perfeitamente adequado ao tipo. Fato Típico:
Conduta + nexo causal + resultado, amoldados ao modelo legal. Tipicidade
é instrumento de adequação. Fato típico é a conclusão deste processo. Ex:
Art. 121 do CP matar alguém e a sua pena: Subsume-se o fato ao tipo e
tem-se a tipicidade. Curiosidade: Psicanálise e Neurociência sobre
assassinos seriais (constatações científicas) = Progressão Psíquica: 1) Fobia
social/agressividade; 2) urinar na cama (quando já adulto); 3)
maltratar/matar animais (começa por pequenos e vai aumentando o porte
do animal).
b) Antijuridicidade: é a contrariedade de uma conduta com o direito,
causando efetiva lesão a um bem jurídico protegido. 02 aspectos: 1)
formal: contrariedade da conduta com o Direito; 2) material: causando
lesão a um bem jurídico tutelado.
c) Culpabilidade: é um juízo de reprovação social (valor1), incidente sobre o
fato e seu autor, devendo o agente ser imputável, atuar com consciência
potencial de ilicitude, bem como ter a possibilidade e a exigibilidade de
atuar de outro modo, consoante as regras impostas pelo Direito (Teoria
Normativa Pura, advinda do Finalismo). Para Bustos Ramírez (Obras
completas, v. I, p. 1100) a culpabilidade é um juízo de valoração concreto,
razão que justifica a importância de se ter o fato típico e antijurídico,
indicando qual é o foco de realidade a ser objeto desse juízo de reprovação
social.
]
Correntes (que definem o crime, de acordo com o conceito analítico):
Visão Bipartida
Fato Típico e Antijurídico: a culpabilidade é apenas um pressuposto de
aplicação da pena, situando o dolo e a culpa na tipicidade (só há a linha de
pensamento finalista). Defensores desta corrente: René Ariel Dotti, Damásio
de Jesus, Julio Fabbrini Mirabete, Celso Delmanto, Flávio Augusto Monteiro
de Barros etc.
Fato Típico e Culpável: entendem que a antijuridicidade é ínsita (inerente)
ao próprio tipo, assim como o dolo e a culpa (só há a linha de pensamento
finalista). Principal defensor (no Brasil): Miguel Reale Júnior (entre outros
que defendem a Teoria dos Elementos Negativos do Tipo). Questão: Não
existem fatos reais que são antijurídicos e não são típicos (ex: acidente de
trânsito sem vítimas e apenas com pequeno dano patrimonial)?
]
Visão Quadripartida:
Fato Típico, Antijurídico, Culpável e Punível: Duas linhas de pensamento (ou
correntes): 1) Causalista: Dolo e culpa na culpabilidade; 2) Finalista: dolo e
culpa na tipicidade. Defensores: Basileu Garcia, Muñoz Conde, Hassemer,
Battaglini, Giorgio Marinucci etc.
Visão Tripartida:
1 Neste sentido e para aprofundamento ler Hans Kelsen in: O que é a Justiça? p. 04.
Fato Típico, Antijurídico e Punível: também conhecida como Teoria
Constitucionalista (pelos seus defensores) = a culpabilidade seria a ponte que
liga o crime à pena. Há autores que afirmam que esta corrente possui uma
forte raiz finalista, pois desloca o dolo e a culpa para a tipicidade. A
culpabilidade seria pressuposto de aplicação da pena. Defensor: Luiz Flávio
Gomes. Confira-se: “A culpabilidade, na verdade, não faz parte da teoria do
delito (do fato punível). É fundamento da pena. De outro lado, jamais existe
delito (no nosso Direito Penal) sem a ameaça de pena (sem punibilidade)”
(Luiz Flávio Gomes. Direito Penal – Parte Geral – Introdução, 2ª Ed., p. 85).
Crítica de Nucci (G.S.N.):
1 – Perda do Juízo de Reprovação social: Quando se assevera que a
culpabilidade não é parte integrante do conceito de crime, mas, sim, somente
fundamento da pena equivale a se distanciar da riqueza fornecida pelo juízo de
reprovação social gerada pela teoria da culpabilidade, em razão do fato de que
não pode haver delito sem reprovação social (valor situado temporal, espacial,
cultural e historicamente2). Neste sentido: Michel Foucault e Roberto Lyra: a
sociedade é que elege os ilícitos mais graves, quando os deseja sancionados com
pena. A sociedade aponta/indica para o legislador os seus valores
(considerando tempo, espaço, cultura e história), esperando deste (legislador) a
criação do tipo penal incriminador o qual, evidentemente, já vem
acompanhado de uma pena em abstrato (preceito sancionador). Exemplo sobre
a necessidade da culpabilidade no conceito analítico de crime: quando um
enfermo mental (alienação, por ex.) mata alguém. Claro que o fato é típico e
antijurídico, porém, o agente é inimputável (não possui discernimento entre a
conduta socialmente considerada aceitável ou inaceitável, “correta” ou
“incorreta”, em uma linguagem mais simples). G.S.N.: “Logo, inexiste crime,
mas somente um injusto penal, cuja sanção nem mesmo é a pena, mas a
medida de segurança” (Manual de Direito Penal, p. 176). Separar o crime e a
pena em lados distintos, unidos apenas pela ponte da culpabilidade pode
permitir (em um futuro próximo) retirar a culpabilidade do princípio da
reserva legal (crivo da legalidade): G.S.N.: “Não há crime – só o típico e
antijurídico? – sem prévia definição legal”. Ou mesmo o surgimento de
critérios de medição da pena que dizem respeito a quem o agente é e não ao
que ele efetivamente fez. Outra situação está na hipótese daquele que praticou
2 Neste sentido Ler: Hans-Georg Gadamer in: Verdade e Método e Lênio L. Streck.
ilícito (homicídio, por ex.) sob coação moral irresistível: se excluirmos a
culpabilidade do conceito de crime – como faz esta teoria tripartida (de L.F.G.)
e uma das bipartidas (Damásio, J.F.M. e Celso Delmanto) – consideraríamos
apenas o fato (típico e antijurídico) e quanto ao autor desconsideraríamos sua
imputabilidade (caso do doente mental que pratica homicídio, por ex.), sua
consciência potencial da ilicitude (alienado mental), possibilidade e
exigibilidade de atuar de modo diverso (caso da coação moral irresistível).
Outro exemplo: Caso do Gerente de Banco que tem a sua família feita refém,
sendo obrigado a abrir o cofre do banco para os agentes. Dessarte, a
culpabilidade é um juízo de valoração que incide sobre o caso concreto. A
tipicidade e a antijuridicidade apenas indicam o foco de realidade a ser objeto
desse juízo. Se não há reprovação à conduta (coação moral irresistível, por ex.)
não há crime, porém apenas um injusto (penal) que pode ou não dar margem a
uma sanção.
2 – Deslocamento em Erro – Confusão entre Punibilidade e Culpabilidade – A
pena está no tipo e não na punibilidade: Distinção – Punibilidade é a
possibilidade de que o Estado possa fazer valer a sanção penal. A
culpabilidade, por seu turno, é o juízo de reprovação social que incide sobre o
fato e seu autor, devendo este ser imputável. G.S.N.: “A pena em abstrato está
prevista no tipo penal incriminador e não na punibilidade” (p. 177). Tipo penal
sem pena (ainda que tenha o nomen iuris de crime) há de inevitavelmente
tornar-se insignificante na esfera penal, visto ser inaplicável e fugir do conceito
material de crime (que conforme Roxin é prévio ao próprio CP), visto que
“delito é o ilícito que a sociedade almeja ver punido com pena e não com
qualquer outro tipo de sanção” (G.S.N., p. 177).
Concepções Finalista e Causalista:
Concepção Causalista: o causalismo trabalha o conceito de conduta despido
de qualquer valoração, isto é, neutro; a conduta é uma ação ou omissão
voluntária e consciente que exterioriza movimentos corpóreos.
Dolo e culpa situados na culpabilidade.
Em razão de estarem o dolo e a culpa situados na culpabilidade, no
causalismo fica impossível adotar-se o conceito bipartido de crime (apenas
fato típico e antijurídico) (José Frederico Marques).
Concepção Finalista: teve como idealizador Hans Welzel (o qual, inclusive,
em todas as suas obras tratou o crime como um fato típico, antijurídico e
culpável). Como se trata de um juízo de realidade, e não fictício, o finalismo
entende que a conduta deve ser valorada.
Dolo e culpa deslocados da culpabilidade para o fato típico.
Culpabilidade ficou com a consciência da ilicitude.
Conduta é a ação ou omissão voluntária e consciente, a qual se volta a uma
finalidade.
Última Visão Tripartida
Fato Típico, Antijurídico e Culpável: Corrente Majoritária no Brasil e no
exterior.
Divisão: Esta corrente/teoria tripartida é a mais aceita pelas 03 concepções
existentes. Confira-se:
Finalistas. Defensores: Assis Toledo, Heleno Fragoso, Juarez Tavares, José
Henrique Pierangeli, Eugênio Raúl Zaffaroni, Cezar Roberto Bitencourt,
Luiz Régis Prado, David Teixeira de Azevedo, Rogério Greco, Bustos
Ramírez, Jiménez Martínez etc.
Causalistas . Defensores: Nelson Hungria, Frederico Marques, Magalhães
Noronha, Salgado Martins, Jiménez de Asúa, Baumann, Mezger etc.
Teoria Social da Ação: propõe ser uma tentativa de ajuste, em um mesmo
quadro, dos principais aspectos do causalismo e do finalismo. Defensores:
Jescheck, Wessels, Schmidt, Engisch, Wolff etc.
Diferença entre crime e contravenção
A diferença não é ontológica ou essencial, situando-se apenas na esfera da pena.
Crime (delito): sujeitam os autores (agentes) a penas de reclusão ou detenção.
Penas privativas de liberdade, isolada, alternativa ou cumulativa com multa.
Contravenções (espécie de infração penal): implicam em, no máximo, prisão
simples. Admite-se a possibilidade de fixação apenas de multa (situação que
não ocorre nos crimes) (art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal).
Origem no Brasil: art. 8º do CP de 1890.
Para Antolisei o único método confiável de distinguir o crime da
contravenção é o direito positivo: deve-se observar a qualidade e a quantidade
da pena atribuída à infração penal, isto é, a gravidade que o legislador
atribuiu ao fato (Manuale di Diritto penal – Parte generale, p. 190).
Sujeitos e objetos do crime:
Sujeito ativo: é quem pratica a conduta descrita no tipo penal. É quem pratica a conduta típica.
Animais ou coisas não podem ser sujeitos ativos de crimes ou mesmo autores de ações, visto que
lhes falta o elemento vontade. Há exceções ao longo da história da humanidade (comentar).
Ponto de Debate:
Pode a Pessoa Jurídica ser sujeito ativo de crime?
02 pontos de vista:
1) Objeções:
a) Pessoa jurídica não tem vontade, suscetível de configurar o dolo e a culpa
(nullum crimem sine culpa).
b) A Constituição não autoriza expressamente a responsabilidade penal da pessoa
jurídica no texto dos arts. 173, § 5º e 225, § 3º, os quais são apenas
declaratórios, cabendo às pessoas jurídicas somente as sanções civis e
administrativas.
c) As penas para as pessoas jurídicas não poderiam ser as privativas de liberdade
que são o centro das punições na esfera penal.
d) As penas são personalíssimas, podendo no caso de pessoas jurídicas atingir
um sócio inocente (que não concordou com a decisão que provocou a conduta
criminosa). Em todas as alíneas supra ver: Juarez Cirino dos Santos (Direito
Penal – parte geral, p. 431/456) e José Antônio Paganella Boschi (Das penas e
seus critérios de aplicação, p. 133).
2) Favoráveis:
a) As pessoas jurídicas têm vontade, porque tem existência real (não sendo um
mito ou mera alegoria) e porque a sua vontade é reconhecida (não no sentido
humano, propriamente) “em um plano pragmático-sociológico, reconhecível
socialmente”. Daí surge o conceito (novo) de “ação delituosa institucional”.
Ver: Sérgio Salomão Shecaira (Responsabilidade penal da pessoa jurídica, p.
94/95 e 148).
b) Mesmo que fosse descartada a tese da vontade própria e seu reconhecimento
por meio do dolo ou da culpa, no Direito Penal existem casos de
responsabilidade objetiva, incluindo aí até mesmo a pessoa física, como na
hipótese de embriaguez voluntária, mas não preordenada.
c) O Direito Penal não se limita à pena privativa de liberdade, sendo que este
ramo do Direito inclusive está, cada vez mais, procurando evitar tal tipo de
pena para a própria pessoa física, em face de comprovadamente não ser
reeducativa (na imensa maioria dos casos) e prejudicial para a ressocialização.
d) Os artigos Constitucionais 173, § 5º e 225, § 3º (este expresso) autorizam a
responsabilidade penal da pessoa jurídica.
e) Sobre o caráter personalíssimo da pena argumenta-se que a sanção incidirá
sobre a pessoa jurídica e não sobre o sócio, seja ele inocente ou não. Em caso
de prejuízo para o sócio inocente, basta lembrar que quando qualquer cidadão
comete um delito e é condenado a pena privativa de liberdade, toda sua família
também sofre as consequências, ainda que estes parentes não tenham cometido
qualquer infração penal.
É verdade que o art. 173, § 5º ainda depende de edição de Lei especificando a
situação típica da pessoa jurídica nas hipóteses de delitos contra a ordem
econômica e financeira e contra a economia popular.
Já o art. 225, § 3º da CRFB/88 é mais expresso e conta com a regulamentação
típica da Lei 9.605/98 (crimes contra o meio ambiente).
O Tribunal de Nuremberg condenou pessoas físicas e corporações inteiras por
crimes de guerra contra a humanidade (ex: Gestapo, tropas da SS etc.).
Sujeito passivo: é o titular do bem jurídico que o tipo penal incriminador visa proteger e que foi
violado.
a) Sujeito passivo formal (constante): é o Estado, pois este é o titular do interesse jurídico de
punir.
b) Sujeito passivo material (eventual): é o titular do bem jurídico lesado de forma direta pela
conduta do sujeito ativo. Pode ser uma pessoa física, jurídica ou até mesmo o próprio Estado
(aí o Estado é sujeito passivo formal e material ao mesmo tempo).
Situações não aceitas no Direito Penal pátrio :
a) Animais, coisas e mortos como sujeitos passivos (o Estado [seu interesse] é o sujeito passivo
nestes casos).
b) Levando-se em consideração uma única conduta, a confusão, em uma mesma e única pessoa, do
sujeito ativo e passivo (ex: suicídio: não se pune a pessoa que tentou suicidar, mas quem induziu
ou instigou ou prestou auxílio. Outro ex: o agente que se fere ao praticar conduta criminosa: o
Direito Penal brasileiro não pune a autolesão).
Objeto do crime: é o bem jurídico lesionado. Divide-se em 02:
a) Objeto material: é a coisa, pessoa ou até interesse sobre a qual recai uma conduta
criminosa. Pode ser de natureza corpórea [física] ou incorpórea, [imaterial ou ideal]. Para a
maior parte da doutrina e da jurisprudência (incluindo Nucci) “todo delito possui objeto
material”.
Luiz Régis Prado discorda: “o objeto material não é uma característica comum a qualquer
delito, pois só tem relevância quando a consumação depende de uma alteração da realidade fática
ou do mundo exterior” (Bem jurídico-penal e Constituição, p. 47). No mesmo sentido: David
Teixeira de Azevedo (Dosimetria da pena: causas de aumento e diminuição, p. 33).
b) Objeto jurídico: é o interesse protegido pelo Direito Penal (ex: vida, patrimônio, fé pública
etc.).
Exemplo geral: Furto de veículo:
o Sujeito ativo: o agente (o ser humano) que praticou a conduta de subtrair o veículo.
o Sujeito passivo (material ou eventual): o proprietário do automóvel.
o Sujeito passivo (formal ou constante): o Estado.
o Objeto material: o veículo.
o Objeto jurídico: o patrimônio.
Classificação dos Crimes:
Crimes comuns e próprios:
a) Comuns: podem ser praticados por qualquer pessoa (ex: homicídio, roubo, falsificação,
lesão corporal etc.).
b) Próprios: exigem sujeito ativo com característica especial ou qualificado; só podem ser
praticados por determinadas pessoas.
Qualidades:
b.1) De fato: refere-se à natureza humana ou à inserção social da pessoa (ex: mãe no
infanticídio, mulher no autoaborto, enfermo no perigo de contágio venéreo).
b.2) De Direito: refere-se à lei (ex: testemunha em falso testemunho, perito na falsa perícia,
funcionário público nos crimes contra a administração pública [Título XI do CP]).
Subdivisão dos crimes próprios:
a) Puros: são as condutas que deixam de ser crime caso não sejam cometidas pelo
sujeito indicado no tipo penal, na hipótese de a conduta se concretizar por ato de outra
pessoa (ex: art. 321 do CP – Advocacia administrativa: só o funcionário público pode
praticar esta conduta; a ação de outra pessoa não constitui infração penal).
b) Impuros: são os crimes se transformam em figuras delituosas distintas quando não
praticados pelo agente indicado no tipo penal incriminador (ex: a mãe que mata o filho
recém-nascido, logo após o parto [sob a influência do estado puerperal], comete o
crime de infanticídio; se um estranho mata o recém-nascido, sem qualquer auxílio ou
participação da mãe, estaremos diante de um homicídio). Neste sentido ver: Nilo
Batista (Concurso de agentes, p. 96).
Crimes de mão própria: Não é subdivisão do crime próprio. O sujeito ativo deve ser qualificado
e deve cometer pessoalmente a conduta típica. Não admitem coautoria ou a autoria mediata,
apenas a participação. Ex: falso testemunho: apenas a testemunha pode de modo direto cometer o
crime quando se apresenta para o juiz para prestar depoimento e falta com a verdade. Outro ex:
Art. 338 do CP – no reingresso de estrangeiro expulso, apenas pode cometer este crime o
estrangeiro que foi expulso, reingressando ilegalmente no território nacional.
Nos crimes de mão própria o fundamental é a existência ativa do agente qualificado cometendo
o crime.
Exceção: Coação moral a testemunha – “A” (Sr. Malcaratildo da Silva) obriga “B”
(Testemunhilda Pereira) (testemunha) a relatar inverdades ao juiz. Vindo os fatos à tona, “A”
poderá ser processado por falso testemunho (situação de exceção, pois se configura a autoria
mediata) e “B”, em razão da coação moral irresistível (art. 22 do CP) não deve sofrer qualquer
sanção. Nucci (Código Penal comentado, nota 5).
Outra hipótese – diferença entre crime de mão própria e crime próprio: Peculato (art. 312,
CP) – “A” (func. Público) obriga “B” (não funcionário) a subtrair bens de uma repartição
pública. “A” poderia subtrair tais bens diretamente, mas coage “B” para tal. “A” é autor mediato
do crime de peculato, podendo ser condenado por tal conduta, pois se trata de crime próprio e
não de mão própria. E “B” pode ser absolvido, invocando a coação moral irresistível.
Crimes instantâneos e permanentes:
Crimes instantâneos: são os que a consumação se dá com uma única conduta e não produzem
um resultado que se prolonga (protrai, na linguagem de Luiz Régis Prado) no tempo. Ex: homicídio,
furto, roubo etc.
Crimes permanentes: se consumam com uma única conduta, mas a situação antijurídica gerada
é prolongada no tempo enquanto assim quiser o agente. Ex: sequestro ou cárcere privado; extorsão
mediante sequestro, porte ilegal de arma e/ou substância entorpecente etc. No caso do cárcere
privado ou do sequestro ou da extorsão mediante sequestro: A retirada da liberdade da vítima
consuma o crime, mas enquanto esta permanecer por vontade do agente no cativeiro, teremos o
prolongamento do crime.
Regra Geral (não absoluta!): o crime permanente possui duas fases seguidas (consecutivas) –
uma comissiva (ação) e outra omissiva. Claro que também se volta a bens imateriais: liberdade,
saúde pública etc.
Admite a prisão em flagrante enquanto não cessar a sua realização.
Enquanto não cessar a permanência não começa a se contar a prescrição.
Outras situações:
Crimes instantâneos de efeitos permanentes: são crimes instantâneos que tem a aparência de
permanentes em razão de seu método de execução. Ex: bigamia.
Crimes instantâneos de continuidade habitual: consumam-se por meio de uma única conduta
que provoca um resultado instantâneo, exigindo, porém, em seguida, para configurar o tipo, a
reiteração de outras condutas de forma habitual. Ex: art. 228 do CP – Favorecimento à prostituição –
“Induzir ou atrair alguém à prostituição...”. Vejamos: a mera indução (dando a ideia...) é a conduta
do agente, sendo que o resultado não depende de sua vontade, havendo a configuração assim que a
pessoa se prostitua. Como a legislação brasileira não pune o comércio do próprio corpo, apesar do
“resultado instantâneo”, para se configurar o favorecimento à prostituição, no Brasil, é necessária,
para a configuração típica perfeita, a habitualidade. Outros exemplos: arts. 230, 231, 231-A, 247, I
e II todos do CP.
Crime instantâneo de habitualidade preexistente: envolve a prática de uma única conduta
para a concretização da figura típica, entretanto exige o desenvolvimento habitual de outro
comportamento, que seja preexistente. Ex: Art. 334, § 1º, c, do CP – venda de mercadoria
estrangeira, introduzida clandestinamente no Brasil, no exercício de atividade comercial – não se
configurando a prática anterior de atividade empresarial, não há como se configurar o crime previsto
nesse tipo penal, ainda que seja um crime instantâneo.
Crime eventualmente permanente: é um crime, via de regra, instantâneo, podendo
excepcionalmente realizar-se de maneira a lesionar um bem jurídico permanentemente. Ex: furto de
energia elétrica. O furto (art. 155 do CP) concretiza-se sempre instantaneamente, sem prolongar o
momento de sua consumação; já a energia elétrica foi equiparada, pelo legislador, à coisa móvel (art.
155, § 3º do CP).
Um delito instantâneo pode vir a se transformar em permanente, bastando que a atividade
possa prorrogar-se (protrair-se) no tempo. Isto porque cada fato-crime compõe-se de uma
conduta conforme a vontade do agente e cada conduta tem uma duração (uma dimensão temporal)
que pode ser breve ou prolongar-se no tempo a depender da natureza da atividade delituosa, do bem
lesado e da vontade do agente. Ex: violência sexual. Neste sentido ver: Giovanni Grisolia (Il reato
permanente, p. 4).
Crimes Comissivos e Omissivos:
Crimes comissivos: são os cometidos por meio de uma ação (ex: estupro).
Crimes omissivos: são cometidos por meio de uma abstenção (ex: omissão de socorro).
Modalidades anômalas:
Crimes comissivos por omissão: são os de ação, mas excepcionalmente praticados por omissão
e se restringem às situações de quem tem o dever de impedir o resultado (art. 13, § 2º do CP –
Relação de Causalidade – Teoria da equivalência dos antecedentes causais – ou da
causalidade simples ou da conditio sine qua non – Considera-se causa toda ação ou omissão
sem a qual o resultado não se teria produzido. É causa tudo o que contribui, em concreto, para o
resultado). Método da eliminação hipotética: uma ação é considerada causa do resultado se,
suprimida mentalmente do contexto fático, esse mesmo resultado teria deixado de ocorrer (nas
circunstâncias em que ocorreu).
Crimes omissivos por comissão: são os cometidos, em geral, por meio de uma abstenção, mas
que podem ser, via de exceção, praticados pela ação de alguém (ex: agente que impede outra
pessoa, utilizando-se de força física, de socorrer alguém ferido).
Crimes de atividade e de resultado:
Crimes de atividade: se contentam com a ação humana esgotando a descrição típica, ocorrendo
ou não um resultado naturalístico. São também conhecidos por crimes formais ou de mera
conduta. Ex: art. 319 do CP – prevaricação. O tipo penal contenta-se em prever punição para o
agente que deixar de praticar ato de ofício para satisfazer interesse pessoal, ainda que nenhum
prejuízo efetivo se materialize (nada no mundo naturalístico).
Ainda que controversa, há distinções dentre os crimes de atividade, vejamos:
Crimes formais: são os crimes de atividade que comportariam a ocorrência de um resultado
naturalístico, contudo não haja exigência desse resultado (Ex: prevaricação).
Crimes de mera conduta: são os de atividade que não comportam a ocorrência de um resultado
naturalístico, contentando-se somente com a punição da conduta do agente (ex: algumas formas de
violação de domicílio e violação de correspondência).
Esta é a situação do Crime Exaurido: para G.S.N. é o crime que continua a produzir
resultado danoso, mesmo depois de estar consumado. É o caso do prevaricador que consumou o
crime apenas com a conduta, mas se ainda conseguir prejudicar a vítima, terá provocado o
exaurimento do delito. O exaurimento pode levar à exasperação da pena. Ex: arts. 317, § 1º e 329,
§ 1º ambos do CP.
Para R.S.C.:
Importante: Consumação é diferente de Exaurimento.
Crime exaurido (ou esgotado plenamente): trata-se dos acontecimentos posteriores ao término do
iter criminis, ou seja, quando o agente vem a alcançar o fim pretendido, além do resultado que
consuma o crime (ex: locupletamento na corrupção passiva – art. 317 CP).
M.I.: Crime exaurido é aquele em que o crime foi além da consumação prevista no tipo penal.
Assim, o iter criminis do crime encerra-se com a consumação do delito. Se, além da consumação
do delito, for o agente ainda mais à frente, estará exaurindo o crime. Exemplos clássicos são os
crimes de corrupção passiva (CP, art. 317), concussão (CP, art. 316), corrupção ativa (CP, art.
333) etc., pois além do oferecimento, da oferta ou da solicitação da oferta, ou da promessa,
quando o agente consegue obtê-la, estará exaurindo a conduta criminosa (com o locupletamento),
já consumada com a simples atividade anterior.
Classificação do crime quanto ao momento consumativo para R.S.C.:
Formal (ou de consumação antecipada): o resultado naturalístico também é descrito, mas não
precisa verificar-se para ocorrer a consumação. O crime consuma-se no momento da ação, sendo
o resultado material mero exaurimento (ex: extorsão);
Mera conduta: trata-se de delito sem resultado. O tipo legal descreve apenas uma conduta,
consumando-se o crime no momento em que esta é praticada (ex: omissão de socorro, violação de
domicílio).
Crimes de Resultados (ou materiais ou causais): são aqueles que necessariamente possuem
resultado naturalístico, sendo que não ocorrendo o resultado naturalístico o crime é apenas uma
tentativa. Ex: Furto, homicídio etc.
Para R.S.C e Davi Castro Silva:
Crime Material (de resultado ou causal): descreve o tipo da conduta e o resultado naturalístico
(modificação no mundo exterior), cuja produção é indispensável para a sua consumação (ex:
homicídio, furto).
Crimes de dano e de perigo
Crimes de Dano: são os que se consumam com a efetiva lesão a um bem jurídico tutelado. É a
ocorrência de um prejuízo efetivo e perceptível pelos sentidos humanos.
Crimes de Perigo: são os que se contentam com a mera probabilidade de haver um dano. Para
alguns doutrinadores: dirigir embriagado = há uma probabilidade de ocorrência de um dano.
Divisão dos Crimes de Perigo:
a) Perigo Individual: Nas hipóteses em que a probabilidade de dano abrange apenas uma
pessoa ou um grupo determinado de pessoas. Ex: arts. 130 a 137 do CP.
b) Perigo Coletivo: neste, a probabilidade de dano envolve um número indeterminado de
pessoas. Ex: arts. 250 a 259 do CP.
c) Perigo abstrato: quando a probabilidade de ocorrência de dano está presumida no tipo
penal, independentemente de prova do perigo. Ex: no porte ilegal de entorpecente (arts. 28 e
33 da Lei 11.343/206) é presumido o perigo para a saúde pública.
d) Perigo Concreto: é quando a probabilidade de ocorrência de dano necessita ser investigada e
provada. Ex: art. 132 do CP - expor a vida ou a saúde de alguém a perigo.
Crimes Unissubjetivos e Plurissubjetivos:
Crimes Unissubjetivos: são os que podem ser praticados por uma só pessoa. Ex: aborto,
extorsão, epidemia, homicídio, constrangimento ilegal.
Crimes Plurissubjetivos (crimes convergentes, delitos de encontro, crimes de
concurso necessário, delitos coletivos, crimes multitudinários [lembrar/comparar com o
CPC: litisconsórcio multitudinário] e/ou crimes de autoria múltipla: são os que somente
podem ser cometidos por mais de uma pessoa. Ex: rixa, quadrilha ou bando, bigamia etc.
Crimes Progressivos e Crimes complexos: Ambos integram o fenômeno da
“continência” (quando um tipo engloba outro).
Continência:
a) Explícita: quando um tipo penal expressamente envolve o outro (ou até outros), como nas
hipóteses de crime complexo (art. 101 do CP). Ex: o roubo envolve o furto, a ameaça e/ou a
ofensa envolve a integridade física.
a.1) Complexos em sentido estrito: é a autêntica forma de crime complexo. Um tipo penal
é formado pela junção (combinação) de dois ou mais tipos. Ex: Roubo.
a.2) Complexos em sentido amplo: é a forma anômala. O tipo penal engloba outro tipo
associado a uma conduta lícita qualquer. Ex: estupro – um constrangimento ilegal (crime
previsto no art. 146 do CP) associado à relação sexual (que por si só, é uma conduta lícita).
Parte considerável da doutrina critica a denominação “crime complexo em sentido amplo”;
para estes autores só há crime complexo (nos termos do art. 101 do CP) quando o tipo
penal for constituído de outros crimes.
b) Implícita: quando um tipo penal tacitamente envolve outro, que é o crime progressivo. Ex:
no homicídio (art. 121 do CP), o agente passa necessariamente pelo crime de lesão corporal
(art. 129 do CP), pois este está contido naquele.
Progressão criminosa:
É a evolução na vontade do agente, fazendo-o passar, ainda que em um mesmo contexto,
de um crime a outro, geralmente voltado contra o mesmo bem jurídico protegido.
Progressão criminosa em sentido estrito (ou propriamente dita) [Frederico Marques
– Tratado de Direito Penal, v. II, p. 474): a ocorrência de um crime progressivo cujos atos
apresentam-se, por exceção, desgarrados, temporariamente afastados. Ex: o agente pretende
lesionar a vítima; após certo período delibera matá-la. Será punido apenas pelo fato mais
grave.
Diferença entre Progressão criminosa e Crime progressivo:
a) Na Progressão criminosa a intenção inicial era a lesão, que evoluiu para o
homicídio.
b) No Crime Progressivo o agente delibera matar, mas para que isso ocorra deve
passar, necessariamente pela lesão.
c) O principal elemento de diferença entre ambos, portanto, é o dolo, a vontade, o
elemento volitivo do agente.
Fato antecedente não punível (na progressão criminosa): um delito serviu de meio para se
atingir outro. Critério da Absorção (consunção) – Art. 334 e 334, § 1º.
Fato posterior não punível (na progressão): é a sucessão de fato menos grave contra objeto
jurídico já atingido por delito mais grave. Não há motivo para dupla punição. Ex: Envenenar água
potável (art. 270) e depois entregar para o consumo (art. 270, § 1º).
Crime habitual:
Crime habitual: é aquele que somente se consuma por meio da prática reiterada e contínua de
várias ações. É um “estilo de vida” indesejado pela lei penal. Uma conduta isoladamente é
atípica, mas a punição é para o conjunto de condutas habitualmente desenvolvidas.
Requisitos:
a) Reiteração de vários fatos.
b) Identidade ou homogeneidade de tais fatos.
c) Nexo de habitualidade entre os fatos (Marino Petrone, Reato abituale, p. 17).
Crime habitual não é crime permanente e vice-versa: o delito permanente consuma-se em
uma única tentativa e o resultado prolonga-se no tempo. O habitual exige a prática de várias
condutas.
Não há no crime habitual:
a) Não admite a tentativa.
b) Não suporta prisão em flagrante (em razão de serem várias condutas a serem analisadas
em conjunto no momento da aplicação da lei penal para se comprovar se houve ou não
habitualidade). Fernando de Almeida Pedroso (Direito penal – parte geral, p. 141). A
flagrância não se dá no crime habitual porque o seu cometimento é dilatado no tempo,
não representando uma surpresa, mas apenas uma constatação. Neste sentido ver:
Mário Petrone (Reato abituale, p. 82-83). Como o flagrante deve ser um retrato fiel da
infração, o auto de prisão retrataria somente um ato e não os demais, isto é, não seria um
retrato de corpo inteiro. Fernando de Almeida Pedroso (Direito penal – parte geral –
doutrina e jurisprudência, p. 141-142.
c) Para RT 415/55: A sindicância prévia constitui um importante elemento para
configurar a habitualidade, porém não é imprescindível, mormente em se tratando de
casa de prostituição.
Crime habitual próprio (autêntico): é a habitualidade constitutiva – somente se
tipifica apurando-se a reiteração de condutas do agente, configurando um estilo
próprio de vida. Ex: favorecimento à prostituição.
Crime habitual impróprio (habitualidade delitiva): é a reiteração na prática de
crimes instantâneos ou permanentes. Ex: agente que vive do cometimento de furtos
repetidamente realizados.
Habitualidade agravante: quando no tipo penal é inserida a reiteração da prática
criminosa como causa de aumento da pena, ainda que o crime seja instantâneo ou
permanente. Ex: lavagem de dinheiro reiteradamente praticada (art. 1, § 4º da Lei
9.613/98: elevação da pena de um a dois terços).
Crimes unissubsistentes e plurissubsistentes:
Crimes unissubsistentes: são os que admitem a sua prática por meio de um único
ato. Ex: injúria verbal.
Crimes plurissubsistentes: exigem vários atos componentes de uma ação. Ex:
homicídio.
Crimes de forma livre e de forma vinculada:
Crimes de forma livre: aqueles que podem ser praticados de qualquer modo, sendo
que o tipo penal não vincula com o método. Ex: apropriação indébita, infanticídio,
lesão corporal.
Crimes de forma vinculada: apenas podem ser cometidos por meio de métodos ou
fórmulas expressamente previstas no tipo penal. Ex: curandeirismo (art. 284, I, II e III
do CP).
Crimes vagos (multivitimários ou de vítimas difusas):
Crimes vagos (multivitimários ou de vítimas difusas): são aqueles que não possuem
sujeito passivo determinado (coletividade), sem personalidade jurídica. Ex: Art. 209 do
CP – perturbação de cerimônia funerária; art. 210 do CP – violação de sepultura.
É o delito sem vítima. Possui apenas o sujeito passivo formal (que é o Estado), mas
não há sujeito passivo material.
Neste sentido, há também a hipótese de crime sem vítima nos denominados crimes
consensuais: o indivíduo causa mal a si mesmo ou está inconformado de ter de agir
conforme determinado padrão social. Ex: autolesão, tentativa de suicídio. Ver: Ana
Sofia Schmidt de Oliveira (A vítima e do direito penal, p. 83-84).
Crimes remetidos: São tipos penais que expressamente fazem remissão a outros.
Ex: uso de documento falso (art. 304 do CP) o qual remete aos arts. 297 até 302 do
CP.
Crimes condicionados: dependem de uma condição prevista no tipo ou não.
Quando prevista no tipo = condição interna. Não prevista no tipo – condição
externa. Não admitem a tentativa os crimes condicionados. Ex: Art. 122 do CP –
induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio – depende da ocorrência do suicídio
ou, em caso de tentativa de suicídio, que haja lesões graves para a vítima.
Crimes de atentado (ou de empreendimento): são os que prevêem, no tipo penal,
a forma tentada equiparada à modalidade consumada (G.S.N.). Ex: art. 352:
Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou indivíduo submetido a medida de
segurança detentiva, usando de violência contra a pessoa.
Outras definições de crime na doutrina:
Crimes mono-ofensivos e pluriofensivos:
Essa divisão é atinente ao número de bens jurídicos atingidos pela conduta criminosa, e
guarda íntima relação com a estrutura do crime (crimes simples ou complexos).
Crimes mono-ofensivos: São aqueles que ofendem um único bem jurídico. É o caso do
furto (CP, art. 155), que viola o patrimônio.
Crimes pluriofensivos: São aqueles que atingem dois ou mais bens jurídicos, tal como no
latrocínio (CP, art. 157, § 3º, parte final), que afronta a vida e o patrimônio.
Crimes principais e acessórios:
Refere-se à existência autônoma ou não do crime.
Crimes principais: São os que possuem existência autônoma, isto é, independem da prática
de um crime anterior. É o caso do estupro (CP, art.213).
Crimes acessórios, de fusão ou parasitários: Dependem da prática de um crime anterior, tal
como na receptação (CP, art. 180), nos crimes de favorecimento pessoal e real (CP, arts.
348 e 349) e na lavagem de dinheiro (lei 9.613/1998, art. 1º).
Nos termos do art. 108 do Código Penal, a extinção da punibilidade do crime principal não
se estende ao crime acessório.
Crimes transeuntes e não transeuntes:
Essa divisão se relaciona à necessidade ou não da elaboração de exame de corpo de delito
para atuar como prova da existência do crime.
Crimes transeuntes ou de fato transitórios: São aqueles que não deixam vestígios materiais,
como no caso dos crimes praticados verbalmente (ameaça, desacato, injúria, calunia,
difamação etc.[exceto se praticados por meio escrito]).
Crimes não transeuntes ou de fato permanentes: São aqueles que deixam vestígios
materiais, tais como o homicídio (CP, art.121) e as lesões corporais ( CP, art.129)
Nos crimes não transeuntes, a falta de exame de corpo de delito leva à nulidade da ação
penal, enquanto nos delitos transeuntes não se realiza a perícia (CPP, arts. 158 e 564, III,
“b”).
Crimes à distância, plurilocais e em trânsito:
Coaduna-se com o local em que se produz o resultado.
“Crimes à distância:” Também conhecidos como crimes de espaço máximo” , são aqueles
cuja conduta e resultado ocorrem em países diversos.
Como analisado na parte relativa ao lugar do crime, o art. 6º do Código Penal, acolheu a
teoria mista ou da ubiquidade.
Crimes plurilocais: São aqueles cuja conduta e resultado se desenvolvem em comarcas
diversas, sediadas no mesmo país. No tocante às regras de competência, o art. 70 do CPP,
dispõe que nesse caso, será competente para o processo e julgamento do crime o juízo do
local em que se operou a consumação. Há contudo, exceções.
Crimes em trânsito: São aqueles em que somente uma parte da conduta ocorre em um país,
sem lesionar ou expor a situação de perigo bens jurídicos de pessoas que nele vivem.
Exemplo: ‘’A’’ da Argentina, envia para os Estados Unidos uma missiva com ofensas a
‘’B’’, e essa carta passa pelo território brasileiro.
Crimes independentes e conexos:
A classificação se importa com o vínculo existente entre dois ou mais crimes.
Crimes independentes: São aqueles que não apresentam nenhuma ligação com outros
delitos.
Crimes conexos: São os que estão interligados entre si. Essa conexão pode ser penal ou
processual penal. A conexão material ou penal, que nos interessa, divide-se em:
a) Teleológica ou ideológica: O crime é praticado para assegurar a execução de outro
delito. É o caso de matar o segurança para sequestrar o empresário.
b) Consequencial ou causal: O crime é cometido para assegurar a ocultação,
impunidade ou vantagem de outro delito. Exemplos: matar uma testemunha para manter
impune o delito, e assinar o comparsa para ficar com todo o produto do crime.
Essas duas espécies de conexão têm previsão legal. Funcionam como qualificadoras no
crime de homicídio (CP, art. 121, §2º, V) e como agravantes genéricas nos demais crimes
(CP, art.61, II, alínea’’b’’);
c) Ocasional: O crime é praticado como consequência da ocasião, da oportunidade
proporcionada por outro delito. Exemplo: Um ladrão, após praticar o roubo, decide
estuprar a vítima que estava no interior da loja, assaltada. O agente responde por ambos os
crimes, em concurso material. Trata-se de criação doutrinária e jurisprudencial, sem
amparo legal.
Crimes condicionados e incondicionados:
O critério reside na liberdade ou não para iniciar a persecução penal contra o responsável
pela prática de um crime.
Crimes condicionados: São aqueles em que a inauguração da persecução penal depende de
uma condição objetiva de procedibilidade. É o caso do crime de ameaça, de ação penal
pública condicionada à representação do ofendido ou de seu representante legal (CP,
art.147). Anote-se que a legislação penal indica expressamente a condição de
procedibilidade, quando necessária, pois a ausência de menção direta acarreta a conclusão
de tratar-se de crime de ação penal pública incondicionada.
Crimes incondicionados: São aqueles em que a instauração da persecução penal é livre.
Constituem a ampla maioria de delitos no Brasil. O Estado pode iniciá-la sem nenhuma
autorização, como ocorre no crime de homicídio, de ação penal pública incondicionada.
Outras classificações:
Crime gratuito:
É o praticado sem motivo conhecido, porque todo crime tem uma motivação. Não se
confunde com o motivo fútil, definido como aquele de menor importância,
desproporcional ao resultado provocado pelo crime.
Com efeito, a ausência de motivo conhecido não deve ser equiparada ao motivo fútil.
Destarte, o desconhecimento acerca do móvel do agente não deve ser colocado no mesmo
nível do motivo de somenos importância. Há todavia, adeptos de posição contrária, os
quais alegam que , se um motivo ínfimo justifica a elevação da pena, com maior razão
deve ser punida mais gravemente a infração penal imotivada.
Crime de ímpeto:
É cometido sem premeditação, como decorrência de reação emocional repentina, tal como
no homicídio privilegiado, cometido pelo agente sob o domínio de violenta emoção, logo
em seguida injusta provocação da vítima (CP, art.121§ 1º). Esses crimes são,
normalmente, passionais (movidos pela paixão).
Crime de circulação:
É praticado com o emprego de veículo automotor, a título de dolo ou de culpa, com a
incidência do Código Penal ou do Código de Trânsito Brasileiro (Lei 9.503/1997).
Crime de opinião ou de palavra:
É o cometido pelo excesso abusivo na manifestação do pensamento, seja pela forma
escrita, seja pela forma verbal, tal como ocorre no desacato (CP, art.331)
Crime Internacional:
É aquele que, por tratado ou convenção devidamente incorporado ao ordenamento jurídico
pátrio, o Brasil se comprometeu a evitar e punir, tal como o tráfico internacional de pessoa
para fim de exploração sexual (CP, art.231)
Crime de mera suspeita, sem ação ou de mera posição:
Nesse crime o agente não realiza conduta penal relevante, mas é punido pela suspeita
despertada pelo seu modo de agir. Essa modalidade, idealizada na Itália por Vicenzo
Manzini, não encontrou amparo seguro na doutrina.
No Brasil, ainda que de forma temerária, pode ser apresentada como exemplo a
contravenção penal tipificada pelo art. 25 do Decreto-lei 3.688/1941-Lei das
Contravenções Penais (posse não justificada de instrumento de emprego usual na prática
de furto).
Crime inominado:
Delineado pelo uruguaio Salvagno Campos, é o que ofende regra ética ou cultural
consagrada pelo Direito Penal, embora não definido em lei como infração penal. Não pode
ser aceito, haja vista que o princípio da reserva legal veda a analogia in malam partem
em âmbito criminal.
Crime habitual (já mencionado antes):
É o que somente se consuma com a prática reiterada e uniforme de vários atos que revelam
um criminoso estilo de vida do agente. Cada ato isoladamente considerado é atípico. Com
efeito, se cada ato fosse típico, restaria configurado o crime continuado. Exemplos:
exercício ilegal da medicina e curandeirismo (CP, arts. 282 e 284, respectivamente).
Crime profissional (parte da doutrina entende que é uma especificação do crime
habitual):
É o crime habitual, quando cometido com finalidade lucrativa. Exemplo: rufianismo (CP,
art. 230).
Quase-crime:
É o nome doutrinário atribuído ao crime impossível (CP, art.17) e à participação impunível
(CP, Art. 31). Na verdade, inexiste crime.
Crime subsidiário:
É o que somente se verifica se o fato não constitui crime mais grave. É o caso do dano
(CP, art. 163), subsidiário em relação ao crime de incêndio (CP, art. 250). Para Nelson
Hungria, o crime subsidiário funciona como “soldado de reserva’’.
Crime hediondo:
É todo aquele que se enquadra no rol do artigo 1º da lei 8.072/1990, na forma consumada
ou tentada. Adotou-se um critério legal: Crime hediondo é aquele que a lei define
como hediondo.
Crime de expressão:
É o que se caracteriza pela existência de um processo intelectivo interno do autor.
Exemplo: falso testemunho (CP, art.342), no qual a conduta tipificada não se funda na
veracidade ou na falsidade objetiva da informação, mas na desconformidade entre a
informação e a convicção pessoal do seu autor.
Crime de intenção:
É aquele em que o agente quer e persegue um resultado que não necessita ser alcançado
para a consumação, como se dá na extorsão mediante sequestro (CP, art.159).
Crime de tendência ou de atitude pessoal:
É aquele em que a tendência afetiva do autor delimita a ação típica, ou seja, a tipicidade
pode ou não ocorrer em razão da atitude pessoal e interna do agente. Exemplos: toque do
ginecologista na realização de diagnóstico, que pode configurar mero agir profissional ou
então algum crime de natureza sexual, dependendo da tendência (libidinosa ou não), bem
como as palavras dirigidas contra alguém, que podem ou não caracterizar o crime de
injúria em razão da intenção de ofender a honra ou de apenas criticar ou brincar.
Crime mutilado de dois atos ou tipos imperfeitos de dois atos:
É aquele em que o sujeito pratica um delito, com a finalidade de obter um benefício
posterior. Exemplo: falsidade para cometer outro crime.
Nas palavras de Juarez Cirino dos Santos:
O resultado pretendido exige uma ação complementar (a falsificação do documento e a
circulação do documento no tráfego jurídico). A intenção como característica psíquica
especial do tipo, aparece, geralmente, nas conjunções subordinativas finais para, a fim de,
com o fim de, etc., indicativas de finalidades transcendentes do tipo, como ocorre com a
maioria dos crimes patrimoniais.
Crime de ação violenta:
É o cometido mediante o emprego de violência contra a pessoa ou grave ameaça, como no
caso do roubo (CP, art.157).
Crime de ação astuciosa
É o praticado por meio de fraude, engodo, tal como no estelionato (CP, art.171).
Crime falho
É a denominação doutrinária atribuída à tentativa perfeita ou acabada, ou seja, aquela em
que o agente esgota os meios executórios que tinha à sua disposição e, mesmo assim, o
crime não se consuma por circunstâncias alheias à sua vontade. Exemplo: ‘’a’’ desfere os
seis tiros do revólver contra ‘’b’’, que mesmo ferido consegue fugir e vem a ser
eficazmente socorrido.
Crime putativo, imaginário ou erroneamente suposto:
É aquele em que o agente acredita realmente ter praticado um crime, quando na verdade
cometeu um indiferente penal. Exemplo: ’’a’’ vende um pó branco, acreditando tratar-se
de cocaína. Na verdade era talco.
Trata-se de um não “crime’’, que se divide em três espécies: a) crime putativo por erro de
tipo; b) crime putativo por erro de proibição; e c) crime putativo por obra do agente
provocador.
Crime remetido (já mencionado antes):
É o que se verifica quando sua definição típica se reporta a outro crime, que passa a
integrá-lo, como no uso de documento falso (“fazer uso de qualquer dos papéis falsificados
ou alterados, a que se referem os arts. 297 a 302’’-CP, art.304).
Crimes de responsabilidade:
Dividem-se em próprios (são na verdade, crimes comuns) e impróprios (infrações político-
administrativas). Esses últimos são apreciados pelo poder legislativo, e a sua prática
redunda na imposição de sanções políticas.
Em sentido amplo:
a) Próprios (em sentido estrito; propriamente ditos) são crimes: Comuns (previstos no
CP, arts. 312 a 326); e Especiais (previstos na legislação especial/Decreto-Lei 201/1967,
Lei 4.898/1965).
b) (Impróprios: não são crimes; são infrações político-administrativas). Lei
1.079/1950 e 7.106/1983.
Crime obstáculo:
É aquele que retrata atos preparatórios tipificados como crime autônomo pelo legislador. É
o caso da quadrilha ou bando (CP, art.288).
Crime progressivo (já mencionado antes):
É aquele que para ser cometido deve o agente violar obrigatoriamente outra lei penal, a
qual tipifica crime menos grave, chamado crime de ação de passagem.
Em síntese, o agente, pretendendo desde o início produzir o resultado mais grave, pratica
sucessivas violações ao bem jurídico. Com a adoção do princípio da consunção para a
solução do conflito aparente de leis penais, o crime mais grave absorve o menos grave.
Exemplo: relação entre homicídio e lesão corporal.
Progressão criminosa (já mencionado antes):
Quando ocorre mutação no dolo do agente, que inicialmente realiza um crime menos grave
e, após, quando já alcançada a consumação, decide praticar outro delito de maior
gravidade. Há dois crimes, mas o agente responde por apenas um deles, o mais grave, em
face do princípio da consumação.
Exemplo: ‘’a’’ decide lesionar ‘’b’’ com chutes e pontapés. Em seguida, com ‘’b’’ já
bastante ferido, vem a matá-lo. Responde apenas pelo homicídio, pois, uma vez punido
pela morte, será também punido por lesão corporal.
Crimes de impressão:
Segundo Mario O. Folchi são aqueles que provocam determinado estado de ânimo na
vítima. Dividem-se em:
a) Crimes de inteligência: são praticados mediante o engano, como o estelionato (CP,
art. 171).
b) Crimes de vontade: recaem na vontade do agente quanto à sua autodeterminação,
como o sequestro (CP, art.148); e
c) Crimes de sentimento: são os que incidem nas faculdades emocionais, tal como a
injúria (CP, art. 140).
Crimes militares:
São os tipificados pelo Código Penal Militar (Decreto-lei 1001/1969).
Subdividem-se em:
a) Crimes militares próprios (ou puramente militares): são os definidos
exclusivamente pelo Código Penal Militar. Exemplo: deserção (CPM, art.187).
b) Crimes militares impróprios: são os que encontram previsão legislativa tanto no
Código Penal Militar como também o Código Penal comum, tais como furto, roubo,
estupro e homicídio.
Podem ser ainda crimes militares em tempo de paz (COM, art. 9º) e crimes militares em
tempo de guerra (COM, art.10).
Crimes falimentares:
São os tipificados pela lei de falência (Lei 11.101/2005). Podem ser ante ou pós-
falimentares, conforme sejam praticados antes ou depois da sentença declaratória de
falência; ou ainda próprios ou impróprios, se forem cometidos pelo falido ou por outra
pessoa (exemplo: administrador judicial, contador, etc.).
Crimes funcionais ou delictia in officio:
São aqueles cujo tipo penal exige seja o autor funcionário público.
Dividem-se em próprios e impróprios.
Crimes funcionais próprios: são aqueles em que a condição de funcionário público, no
tocante de sujeito ativo, é indispensável à tipicidade do fato. A ausência dessa condição
conduz atipicidade absoluta, tal como ocorre na corrupção passiva e na prevaricação (CP,
art.317 e 319, respectivamente).
Crimes funcionais impróprios ou mistos: se ausente a qualidade funcional, opera-se a
desclassificação para outro delito. Exemplo: no peculato furto (CP, art.312§ 1º), se
desaparecer a condição de funcionário público no tocante ao autor, subsiste o crime de
furto (CP, art.155).
Crimes parcelares:
São os crimes da mesma espécie que compõem a série de continuidade delitiva, desde que
presente os demais requisitos exigidos pelo art. 71, caput, do Código Penal. Com efeito, o
ordenamento penal brasileiro filiou-se, no campo do crime continuado, à teoria da ficção
jurídica, razão pela qual os diversos delitos (parcelares) são considerados, para fins de
aplicação da pena, como um único crime.
Crimes de hermenêutica:
São os que resultam unicamente da interpretação dos operadores do Direito, pois na
situação concreta não existem provas, nem sequer indícios consistentes, da prática de um
fato legalmente descrito como criminoso. Esta expressão- “Crimes de hermenêutica”- foi
idealizada por Rui Barbosa. Ex: talvez (remota, acadêmica e hipoteticamente falando) o
caso do Goleiro Bruno.
Crimes de rua:
São os delitos praticados pelas pessoas de classes sócias desfavorecidas, a exemplo de
furtos executados por miseráveis, andarilhos e mendigos. Estes crimes são cometidos aos
olhos da sociedade, em locais supervisionados pelo Estado (parques, praças, favelas etc.), e
por esta razão são frequentemente objeto das instâncias de proteção (Polícia, Ministério
Público e Poder judiciário).
Os crimes de rua se contrapõem aos “crimes do colarinho branco”, cometidos por aqueles
que gozam e abusam da elevada condição econômica e do poder daí decorrente, como é o
caso dos delitos contra o Sistema Financeiro Nacional, disciplinados na Lei 7.492/1986.
Nesses crimes socioeconômicos, surgem as “cifras douradas do Direito Penal” indicativas
da diferença apresentada entre a criminalidade real e a criminalidade conhecida e
enfrentada pelo Estado. Raramente existem registros envolvendo delitos desta natureza,
inviabilizando a persecução penal e acarretando a impunidade das pessoas privilegiadas no
âmbito econômico.
Crime Liliputiano:
Também chamado de “crime anão” ou crime vagabundo, é o nome doutrinário reservado
às contravenções penais.
Na verdade, não há crime (ou delito), em face da regra contida no art. 1º do Decreto-lei
3.914/1941- Lei de Introdução ao Código Penal. “Considera-se crime a infração penal que
a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou
cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina,
isoladamente, penas de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou
cumulativamente.”
QUESTÕES DE CONCURSO:
1) (Delegado de Polícia/SP-2008) No crime de rixa em que os agentes cometem
condutas contra pessoa, que, por sua vez, comporta-se da mesma maneira e é
também sujeito ativo do delito, fala-se doutrinariamente em:
(A) Crime de condutas paralelas.
(B) Crime de condutas convergentes.
(C) Crime de condutas contrapostas. .
(D) Crime de condutas dependentes.
(E) Crime de condutas monossubjetivas.
2) (Delegado de Polícia/SP-2008) O crime de evasão mediante violência contra a
pessoa (art. 352 do CP, em que a pena da tentativa é a mesma do crime consumado,
sem qualquer redução, recebe em doutrina o nomen iuris de:
(A) Crime de ensaio.
(B) Crime de encontro.
(C) Crime de empreendimento. .
(D) Crime de bipróprio.
(E) Crime de conteúdo variado.
3) (24º Ministério Público da União/MPDFT) Julgue os itens que se seguem.
I- Os crimes falimentares podem ser antifalimentares ou pós-falimentares.
II- Crimes militares puros ou próprios são aquelas condutas definidas apenas no Código
Penal militar.
III- Crime plurissubjetivo é aquele que, por sua conceituação típica, exige dois ou mais
agentes para a prática da conduta criminosa.
Assinale a opção correta:
(A) Todos os itens estão certos. .
(B) Apenas os itens I e II estão certos.
(C) Apenas os itens I e III estão certos.
(D) Apenas os itens II e III estão certos.
4) (87º MP/SP-2010) Assinale a alternativa correta:
A) Crime putativo por erro de tipo pressupõe a suposição errônea do agente sobre a
existência da norma penal.
B) Relativamente à tentativa, o Código Penal brasileiro adotou a teoria subjetiva.
C) Crimes funcionais impróprios são aqueles que podem revestir-se de parcial
atipicidade.
D) Crimes subsidiários são aqueles para cuja caracterização se faz imprescindível
outra norma definidora de suas elementares.
E) Dá-se a ocorrência de crime falho quando o agente, por interferência externa, não
consegue praticar todos os atos executórios necessários à consumação.
Qual a diferença entre erro de tipo e delito putativo por erro de tipo? - Áurea Maria Ferraz de Sousa.
07/10/2008-10:30 | Autora: Áurea Maria Ferraz de Sousa; Fonte: http://www.lfg.com.br/public_html/article.php?story=20081001132308905
Antes de expor as diferenças entre os institutos cumpre mencionar o que há em comum entre eles: em
ambos, o agente não sabe o que faz. No mais, não se confundem.
De acordo com Rogério Sanches Cunha é possível encontrar as diferenças no seguinte quadro
comparativo:
ERRO DE TIPODELITO PUTATIVO POR ERRO DE TIPO
Imagina-se agir licitamenteImagina-se agir
ilicitamente
Ignora-se a presença de uma elementar
Ignora-se ausência de uma elementar
Pratica-se fato típico sem quererPratica-se fato atípico
sem querer
Neste sentido, vale apresentar os seguintes exemplos elucidativos:
1. O agente, em caça, atira na direção de um arbusto, imaginando atingir em animal, mas acaba por
matar uma pessoa. Ou seja, o agente imagina estar agindo licitamente, pois ignora a presença da
elementar "alguém" do tipo penal descrito no artigo 121 do Código Penal, praticando assim fato típico
sem querer. Aplicável ao caso o previsto no artigo 20, CP: O erro sobre elemento constitutivo do tipo
legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei.
2. Atira-se em pessoa que já estava morta. Ou seja, o agente, imaginando agir ilicitamente, ignora a
ausência de uma elementar e pratica fato atípico, sem querer. Temos, no caso, um crime impossível
por impropriedade absoluta do objeto, ou seja, um delito putativo por erro de tipo, cuja solução penal
encontra-se no artigo 17 do Código Penal que dispõe: Não se pune a tentativa quando, por ineficácia
absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.
5) (86º MP/SP- VUNESP) Assinale a alternativa correta:
A) Os crimes instantâneos não admitem tentativa.
B) Nos crimes de ação múltipla, a pluralidade de agentes integra o tipo.
C) O crime de exercício arbitrário das próprias razões é crime de mão própria.
.
D) Os crimes unissubjetivos não admitem coautoria.
6) (84º Promotor de Justiça- MP/SP- 2005) Aponte a única alternativa na qual
todas as quatro classificações são apropriadas ao delito definido no art. 269, do CP-
Deixar o médico de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação é
compulsória.
A) Crime omissivo impróprio, norma penal em branco, crime de perigo e crime que
admite tentativa.
B) Crime omissivo puro, crime que não admite tentativa, crime de consumação
antecipada, crime de ação múltipla.
C) Crime omissivo puro, crime próprio, norma penal em branco e crime de mera
conduta. .
D) Crime próprio, crime formal, crime de ação única e crime comissivo por omissão.
E) Crime que não admite nenhuma forma de concurso de pessoas, crime que não
admite tentativa, crime permanente e crime formal.
7) (Juiz de Direito- TJ/SP-179º) Assinale a alternativa incorreta:
A) Crimes materiais descrevem a conduta e o resultado naturalístico exigido.
B) Crimes formais descrevem a conduta do agente e o resultado, que não é exigido
para a consumação do tipo penal.
C) Crimes de mera conduta são aqueles sem resultado naturalístico, mas com resultado
jurídico.
D) Crimes de mera conduta são de consumação antecipada.
8) (Juiz de Direito- TJ/SP-179º) Assinale a alternativa incorreta:
A) Crime progressivo e progressão criminosa são a mesma coisa.
B) No crime progressivo, o agente, para alcançar um resultado mais grave, passa por
outro menos grave, havendo continência de condutas.
C) O crime progressivo é espécie do gênero crime complexo lato sensu.
D) A progressão criminosa strictu sensu se realiza quando o crime progressivo se
desvincula na sua realização no tempo, ocorrendo delitos em sequência.
GABARITO:
1) C
2) C
3) A
4) C
5) C
6) C
7) D
8) A
RELAÇÃO DE CAUSALIDADE:
Art. 13 – O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem
lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria
ocorrido.
Superveniência de causa independente
§ 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando,
por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os
praticou.
Relevância da omissão
§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o
resultado. O dever de agir incumbe a quem:
a) Tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância.
b) De outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado.
c) Com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.
R.S.C e D.C.S.:
No que tange à relação de causalidade o Direito Penal pátrio emprega, via de regra, a
teoria da equivalência dos antecedentes causais (ou da causalidade simples, ou da
conditio sine qua non): é causa toda ação ou omissão sem a qual o resultado não se
teria produzido, ou seja, é causa tudo o que contribui, de modo concreto, para o
resultado.
Método da eliminação hipotética: uma ação é considerada causa do resultado se,
suprimida mentalmente do contexto fático, esse mesmo resultado teria deixado de
ocorrer (nas circunstâncias em que ocorreu).
Regresso ao infinito: a responsabilidade penal exige o dolo (ou a culpa) animando a
conduta do agente, para fins de se evitar o regresso ao infinito.
Filtro de Causalidade Psíquica: “(...) a responsabilidade penal do agente depende da
sua voluntariedade (dolo ou culpa) em relação à provocação do resultado” (R.S.C. e
D.C.S.). Trata-se de uma limitação que objetiva impedir o regresso ao infinito na
causalidade penal. Ex: alguém mata outrem com arma de fogo – se não houvesse essa
limitação poder-se-ia chegar ao absurdo de se responsabilizar, em regresso infinito, a
quem criou ou fabricou a pólvora, o aço do revólver, o revólver, ao fabricante de
armas, ao vendedor (que fez a venda dentro das especificações e limites legais) etc.,
etc.
R.S.C e D.C.S.:
Teoria da imputação objetiva: trata-se de outra teoria que se contrapõe à teoria da
equivalência dos antecedentes causais adotada pelo CP brasileiro.
Os defensores desta outra Teoria entendem que a teoria da equivalência dos
antecedentes é severa e inadequada.
A Teoria da Imputação Objetiva: a proposta é uma seleção das causas juridicamente
relevantes, utilizando-se de critérios de caráter normativo retirados da própria natureza
do Direito Penal que sejam capazes de permitir, em um plano objetivo, delimitar parte
da causalidade natural. Dispensa o recurso à análise do dolo ou da culpa (na
causalidade objetiva, ficando o dolo e a culpa somente na causalidade psíquica),
limitando o nexo causal objetivo, conferindo-lhe um conteúdo jurídico e não
meramente naturalístico.
Dessarte, mesmo quando se determina a causalidade natural, restaria ainda o tema da
imputação objetiva; a constatação da causalidade natural significaria somente uma
condição mínima, mas ainda insuficiente para a atribuição de um resultado.
No Direito Penal pátrio a imputabilidade objetiva tem lugar em algumas hipóteses
de delitos de trânsito (etc.), conforme jurisprudência que segue nas demais páginas.
Vejamos a tabela abaixo:
TEORIA DA
EQUIVALÊNCIA
DOS
ANTECEDENTES
TEORIA DA
IMPUTAÇÃO
OBJETIVA
CAUSALIDADE
OBJETIVA
- Nexo físico
(relação de causa e
efeito)
- Nexo físico
(relação de causa e
efeito).
- Nexo normativo:
a) criação ou
incremento de risco
não permitido (não
tolerado pela
sociedade);
b) realização do
risco no resultado;
c) abrangência do
tipo.
CAUSALIDADE
PSÍQUICA
- dolo e culpa - dolo e culpa
RISCO PERMITIDO E TEORIA GERAL DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA:
Risco Permitido : “De acordo com a Teoria Geral da Imputação Objetiva o
resultado não pode ser imputado ao agente quando decorrer da prática de um
risco permitido ou de uma ação que visa a diminuir um risco não permitido; o
risco permitido não realize o resultado concreto; e o resultado se encontre fora da
esfera de proteção da norma. (...) O risco permitido deve ser verificado dentro das
regras do ordenamento social, para o qual existe uma carga de tolerância genérica. É o
risco inerente ao convívio social e, portanto, tolerável.” (REsp 822517/DF, Rel.
Ministro GILSON DIPP, 5ª Turma, julgado em 12/06/2007, DJ 29/06/2007, p. 697).
Análise de Jurisprudência:
CRIMINAL. RESP. DELITO DE TRÂNSITO. RESPONSABILIDADE PENAL.
DELITO CULPOSO. RISCO PERMITIDO. NÃO OCORRÊNCIA.
IMPUTABILIDADE OBJETIVA.
MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. SÚMULA 07/STJ. INCIDÊNCIA. PENA
PECUNIÁRIA SUBSTITUTIVA. AUSÊNCIA DE CORRESPONDÊNCIA COM A
PENA SUBSTITUÍDA. RECURSO PARCIALMENTE CONHECIDO E DESPROVIDO.
I. De acordo com a Teoria Geral da Imputação Objetiva o resultado não pode ser
imputado ao agente quando decorrer da prática de um risco permitido ou de uma
ação que visa a diminuir um risco não permitido; o risco permitido não realize o
resultado concreto; e o resultado se encontre fora da esfera de proteção da norma.
II. O risco permitido deve ser verificado dentro das regras do ordenamento social,
para o qual existe uma carga de tolerância genérica. É o risco inerente ao convívio
social e, portanto, tolerável.
III. Hipótese em que o agente agiu em desconformidade com as regras de trânsito
(criou um risco não permitido), causando resultado jurídico abrangido pelo fim de
proteção da norma de cuidado - morte da vítima, atraindo a incidência da
imputabilidade objetiva.
IV. As circunstâncias que envolvem o fato em si não podem ser utilizadas para atrair a
incidência da teoria do risco permitido e afastar a imputabilidade objetiva, se as
condições de sua aplicação encontram-se presentes, isto é, se o agente agiu em
desconformidade com as regras de trânsito, causando resultado jurídico que a norma
visava coibir com sua original previsão.
V. O fato de transitar às 3 horas da madrugada e em via deserta não pode servir de
justificativa à atuação do agente em desconformidade com a legislação de trânsito. Isto não
é risco permitido, mas atuação proibida. (obs.: o agente estava fazendo “roleta-russa”
com os semáforos, em alta velocidade e embriagado).
VI. Impossível se considerar a hipótese de aplicação da teoria do risco permitido com
atribuição do resultado danoso ao acaso, seja pelo fato do agente transitar embriagado e em
velocidade acima da permitida na via, seja pelo que restou entendido pela Corte a quo no
sentido de sua direção descuidada.
VII. A averiguação do nexo causal entre a conduta do réu, assim como da vítima, que não
teria feito uso do cinto de segurança, com o resultado final, escapa à via especial, diante do
óbice da Súmula 07 desta Corte se, nas instâncias ordinárias, ficou demonstrado que, por
sua conduta, o agente, em violação ao Código de Trânsito, causou resultado abrangido pelo
fim de proteção da norma de cuidado.
VIII. Não há simetria entre a pena pecuniária substitutiva e a quantidade da pena
privativa de liberdade substituída.
IX. Recurso parcialmente conhecido e desprovido.
Grifo nosso.
(REsp 822517/DF, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em
12/06/2007, DJ 29/06/2007, p. 697)
Concausas (ou causas concorrentes):
Configura-se na pluralidade de causas concorrendo para o mesmo evento. Dentre as
várias causas concorrentes, uma será a causa efetiva.
Espécies de concausas (quanto ao momento da causa efetiva):
a) Preexistente: a causa efetiva é anterior à causa concorrente.
b) Concomitante: a causa efetiva é simultânea à causa concorrente.
c) Superveniente: a causa efetiva é posterior à causa concorrente.
Espécies de concausas (quanto à sua relação com a causa efetiva):
a) Absolutamente independente: a causa efetiva não se origina, direta ou
indiretamente, das causas concorrentes. Nesta hipótese, não se pode imputar o
resultado ao agente da causa concorrente, pouco importando se preexistente,
concomitante ou superveniente (aspecto temporal da causa efetiva).
b) Relativamente independente: a causa efetiva se origina, direta ou indiretamente,
das causas concorrentes. Nesta hipótese, será imputado ao agente da causa
concorrente o resultado, independentemente se preexistente ou concomitante. Na
situação de concausa superveniente (de acordo com a teoria da causalidade
adequada [vide abaixo]) apenas haverá imputação do fato caso, na análise do
conjunto das causas, restasse configurada que a conduta do agente, consoante as
regras de experiência comum, foi a mais adequada à produção do resultado
ocorrente (Art. 13, § 1º do CP).
Exemplos: (de R.S.C. e D.C.S.):
CAUSAS ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTES:
PREEXISTENTE:
“A” desfere golpes de faca em “B” o qual anteriormente já havia
sido envenenado (por outrem), morrendo em razão do
envenenamento. “A” responde por tentativa de homicídio.
CONCOMITANTE: Ao mesmo tempo em que “A” envenena “B”, outros agentes
entram no local e disparam contra “B” que falece em virtude dos
tiros das armas de fogo. “A” responde por tentativa de
homicídio.
SUPERVENIENTE: Após “A” envenenar “B”, um lustre despenca na cabeça de “B”,
matando-o por traumatismo craniano. “A” responde por
tentativa de homicídio.
CAUSAS RELATIVAMENTE INDEPENDENTES:
PREEXISTENTE “A” atira com a intenção de matar “B” e atinge seu pé. Ocorre que
“B” é hemofílico e falece em virtude da hemorragia. “A”
responderá pelo resultado morte (homicídio consumado).
Nota: parte da doutrina entende somente ser cabível exigir como
condição da imputação do resultado que “A” tivesse conhecimento
do problema de saúde de “B”, afastando a responsabilidade penal
objetiva.
CONCOMITANTE Em noite extremamente fria, “A” causa ferimento em “B” com a
intenção de matá-lo. Ocorre que “B” falece em virtude de um
processo de congelamento (hipotermia) favorecido pela hemorragia
a qual interferiu em seu mecanismo de resistência (alteração da
pressão sanguínea colaborando com a hipotermia). “A” responde
por homicídio consumado.
SUPERVENIENTE 1) Que
produziu o
resultado por si
só:
Desabamento do hospital para o qual foi
conduzido pessoa ferida por disparo de
arma de fogo. O Agente responderá
por homicídio tentado.
SUPERVENIENTE 2) Que não
produziu o
resultado por
si só:
Erro médico e a infecção hospitalar na
vítima ferida por disparo de arma de
fogo. O Agente responderá por
homicídio consumado.
Teoria da causalidade adequada (Art. 13, § 1º do CP): É adequada a conduta tida
por idônea (necessária + adequada [em sentido estrito]) para ocasionar o efeito.
Dessarte, apenas ocorrerá a imputação do resultado se, no conjunto das causas, a
conduta do agente for, de acordo com as regras de experiência comum (homem médio),
a mais adequada à produção do resultado ocorrente. R.S.C.
Nexo de não impedimento – Crime omissivo impróprio (impuro, comissivo por
omissão ou comissivo-omissivo) – (Art. 13, § 2º do CP): nesta hipótese, o dever de
agir é para evitar um resultado concreto. Trata-se de crime de resultado material o qual
exige um nexo de causalidade entre a ação omitida e o resultado. Ocorre que tal nexo
não é naturalístico (do nada, nada surge). É um vínculo jurídico: o sujeito não deu
causa, mas como não impediu, equipara-se, juridicamente, ao verdadeiro causador do
resultado. Chama-se “nexo de não impedimento”. R.S.C.
A quem incumbe o dever de agir?
a) A quem tenha, por lei, a obrigação de cuidado, proteção e vigilância. Ex: mãe
que deixa de amamentar recém-nascido ocasionando o falecimento deste por
inanição. Responde por homicídio doloso ou culposo, dependendo da
voluntariedade presente na sua conduta. R.S.C.
b) De outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado. Ex: babá
que não cuida da criança no banho, ocorrendo o óbito por afogamento desta.
Responde por homicídio doloso ou culposo, dependendo da voluntariedade
presente na sua conduta. R.S.C.
c) Com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.
Ex: pessoa que joga amigo que não sabe nadar em piscina e nada faz para salvá-lo
do afogamento. Responde por homicídio, doloso ou culposo, dependendo da
voluntariedade presente na sua conduta. R.S.C.
CÓDIGO PENAL ART. 13
QUETÕES DE CONCURSOS
01. (Promotor de Justiça – MP/BA – 2010) No trato de tema de intenso interesse prático,
como é o caso dos crimes omissivos, a doutrina brasileira colaciona o seguinte exemplo: “dois
irmãos, sem qualquer acordo prévio, estão nadando em águas profundas”. Um deles, de repente,
acometido de câimbras, começa a afogar-se. O outro nada faz para ajudá-lo. Ao avaliar um caso
desta natureza, verifica-se que:
I. Seria o irmão sobrevivente responsável pelo resultado morte.
II. O irmão omitente deve ser responsabilizado somente por omissão de socorro.
III. A simples relação de parentesco, nos termos do art. 13, § 2º, torna o agente garantidor.
IV. A relação entre irmãos gera um vínculo social de proteção maior, mas não o torna
garantidor.
V. O irmão omitente cometeu homicídio qualificado.
a) Apenas a alternativa I está correta.
b) As alternativas II e IV estão corretas.
c) Apenas a alternativa V está correta
d) As alternativas I III e V estão corretas
e) As alternativas II e V estão corretas
02. (Defensor Público – DPE/PA – 2009) Para formação do nexo de causalidade, no sistema
legal brasileiro, a superveniência de causa relativamente independente.
a) exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado, imputando-se os fatos
anteriores a quem o praticou.
b) Exclui a imputação quando em concurso com outra concausa produz o resultado,
atenuando-se a responsabilidade do autor pelo fato anterior.
c) Exclui a imputação quando produz o resultado com restrição da responsabilidade de quem
praticou o fato subjacente ao limite de sua responsabilidade material.
d) Exclui parcialmente a imputação, tornando os autores responsáveis pelo ato subjacente no
limite de suas responsabilidades.
e) Não exclui a imputação do resultado superveniente.
03. (Defensor Público – DPE/MA – 2009 – adp) No trajeto do transporte de dois presos para o
foro criminal por agentes penitenciários um deles saca de um instrumento perfurante e desfere
diversos golpes contra o outro preso. Os agentes da lei presenciaram a ação desde o início e
permaneceram inertes. Na conduta dos agentes, a omissão é penalmente relevante porque a
causalidade é normativa.
04. (Defensor Público – DPE/ES – 2009) Considere a seguinte situação hipotética. Alberto,
pretendendo matar Bruno, desferiu contra este um disparo de arma de fogo, atingindo-o em
região letal. Bruno foi imediatamente socorrido e levado ao hospital. No segundo dia de
internação, Bruno morreu queimado em decorrência de um incêndio que assolou o nosocômio.
Nessa situação, ocorreu uma causa relativamente independente, de forma que Alberto deve
responder somente pelos atos praticados antes do desastre ocorrido, ou seja, lesão corporal.
05. (Magistrado Estadual – TJ/MG – 2009 – adp) No crime omissivo, o dever jurídico de agir
inexiste àquele que apenas criou riscos para a ocorrência do resultado.
06. (Promotor de Justiça – MP/MG – 2009 – adp) O agente que, na condição de garantidor,
omite-se, ensejando a que o resultado lesivo ocorra, pratica crime omissivo impróprio.
GABARITO ART. 13 - 01-B; 02-A; 03-V; 04-F (homicídio tentado); 05-F; 06-V.
3) CRIME CONSUMADO, CRIME TENTADO, DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E
ARREPENDIMENTO EFICAZ
CRIME CONSUMADO
Art. 14. Diz-se o Crime:
Crime Consumado
I – consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal;
Tentativa
II – tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à
vontade do agente.
Pena de Tentativa
Parágrafo único – Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena
correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços.
R.S.C.:
Classificação do crime quanto ao momento consumativo:
Material: descreve o tipo da conduta e o resultado naturalístico (modificação no mundo
exterior), cuja produção é indispensável para a sua consumação (ex: homicídio, furto);
Formal (ou de consumação antecipada): o resultado naturalístico também é descrito,
mas não precisa verificar-se para ocorrer a consumação. O crime consuma-se no momento da
ação, sendo o resultado material mero exaurimento (ex: extorsão);
Mera conduta: trata-se de delito sem resultado. O tipo legal descreve apenas uma
conduta, consumando-se o crime no momento em que esta é praticada (ex: omissão de
socorro, violação de domicílio).
R.S.C.:
Importante: Consumação é diferente de Exaurimento.
Crime exaurido (ou esgotado plenamente): trata-se dos acontecimentos posteriores ao
término do iter criminis , ou seja, quando o agente vem a alcançar o fim pretendido, além do
resultado que consuma o crime (ex: locupletamento na corrupção passiva – art. 317 CP).
M.I.: Crime exaurido é aquele em que o crime foi além da consumação prevista no tipo
penal. Assim, o iter criminis do crime encerra-se com a consumação do delito. Se, além da
consumação do delito, for o agente ainda mais à frente, estará exaurindo o crime. Exemplos
clássicos são os crimes de corrupção passiva (CP, art. 317), concussão (CP, art. 316),
corrupção ativa (CP, art. 333) etc., pois além do oferecimento da oferta, ou da solicitação
da oferta, ou da promessa, quando o agente consegue obtê-la, estará exaurindo a conduta
criminosa (com o locupletamento), já consumada com a simples atividade anterior.
Material abaixo (“parte” da parte teórica extraído do referencial abaixo já mencionado
anteriormente). Parte de exercícios de fontes variadas.
M.I.:
Nos termos do artigo 14 do Código Penal há uma definição legal do que se considera crime
consumado e tentado1, ao contrário de outros institutos.
Grosso modo, considera-se o crime consumado no momento em que se expressa a
conformidade do fato externo causada pelo comportamento humano com a descrição
típica constante da norma jurídica, mas é necessário destacar que o crime consumado
pressupõe um caminho para sua prática, passando por fases até a sua consumação.
A esse fenômeno jurídico dá-se o nome de iter criminis, que nada mais é do que o
“caminho do crime”, ou seja, o transcurso das fases de um fato humano para a prática de um
crime.
O iter criminis é composto pelas seguintes fases: (a) cogitação (cogitatio), (b) atos
preparatórios, (c) atos de execução e (d) consumação.
Cogitação (cogitatio): é pensamento voltado para a prática de um fato típico
criminoso, não sendo punível, pois ainda não se projetou para o mundo exterior. É um ato/fato
interno do agente para a prática do crime, não perceptível, que o agente imagina, que elucubra,
mas não delibera ao exterior (exteriorizar).
Atos preparatórios: assim como a cogitação, não são ainda puníveis, a menos
que tenhamos algumas exceções, que a própria lei define em tipos penais autônomos como
crimes. Exemplo: se “A” quer matar “B”. A cogitação é a intenção homicida. Quando “A” toma a
posse ou o transporte de uma arma “fria”, sendo surpreendido em flagrante delito, responderá
pelo crime autônomo da posse da arma, que é crime autônomo por si só. Não responderá pela
intenção homicida, eis que esta ainda não se desenvolveu.
Logo, os atos preparatórios são aqueles fatos externos indicativos da intenção de praticar
uma conduta. No entanto, não houve uma agressão a um bem jurídico ainda, por isso não se pode
falar em crime.
Somente será considerada iniciada a execução, e punível, quando o agente, passando as duas
primeiras fases do iter criminis, alcançar a agressão ao bem juridicamente tutelado e
protegido.
São puníveis os atos de execução que são penalmente relevantes, sendo considerados o
início do crime propriamente dito, eis que são os próprios atos exteriores da ocorrência da conduta
(ação ou omissão) tipificados na norma penal, passando a ofender a legislação penal repressiva.
Na execução já há uma ofensa ao bem jurídico, sendo que a conduta será penalmente
relevante, desde que exista um liame psicológico entre esta e o resultado alcançado, embora o
crime não se tenha completado integralmente.
Teorias a respeito da diferenciação entre os atos preparatórios e de execução:
Teoria material-subjetiva: existe o ato executório no momento em que a conduta (ação ou
omissão) do agente ataca o bem jurídico, tutelado pela norma penal.
Teoria formal-objetiva: há ato de execução quando o comportamento do agente dá início à
realização do tipo penal, ou seja, só existe o começo dos atos de execução no momento em
que o sujeito inicia a realização da conduta descrita na lei, ou seja, o verbo que realiza a ação ou
omissão. No verbo “matar” alguém, por exemplo, só existiria ato de execução quando o verbo
estivesse começando a ser preenchido, com a “morte” de alguém. No caso do homicídio, se não
fosse ele atingido, seria atípico. Essa é a teoria aceita pelo Código Penal brasileiro, embora mereça
ressalvas.
Teoria objetiva-subjetiva ou subjetiva-individual: no sentido de que há uma distinção entre
o “começo da execução do crime” e o “começo da execução da ação típica”. No primeiro, o crime
está se iniciando no ataque efetivo ao bem jurídico tutelado (matar, subtrair, estuprar etc. - teoria
subjetiva-material). Já no “começo da execução da ação típica” há um critério mais amplo,
abrangendo não só a ação, mas todos os atos imediatamente anteriores ao início da execução da
conduta típica. É perfeitamente aceitável o entendimento de que também são atos executórios do
crime aqueles imediatamente anteriores à conduta que se amolda ao verbo do tipo.
A última fase da composição do iter criminis é a consumação do delito, que é a reunião de
todos os elementos do tipo penal infringido pelo agente. A consumação encerra a noção de total
conformidade do fato praticado pelo agente com a hipótese abstratamente desenvolvida pelo
legislador, insculpindo-a na norma penal incriminadora. A isso se chama de crime consumado. Se
o tipo fala “matar alguém”, o crime se consuma com a efetiva morte de uma pessoa. Se a pessoa
não morre, o crime é tentado. Porém, cada crime possui um diferente momento consumativo do
delito. Essa variação decorre da proteção jurídica estabelecida pelo legislador.
Assim, nos crimes materiais de ação e resultado o momento consumativo é o da produção
deste, nesse caso diz-se que houve o preenchimento de todo o tipo penal descrito na norma
jurídica. Ex.: roubo - o momento consumativo do crime é aquele em que a coisa alheia móvel passa
para a posse do agente.
Nos crimes culposos a consumação ocorre com a produção do resultado
naturalístico, não se pesquisando a intenção do agente no momento do
crime. Havendo o resultado exterior, que afeta a relação humana, ocorrerá a
consumação do delito. Nos crimes de lesões corporais e homicídios culposos
quando há a lesão ao bem jurídico tutelado (vida e integridade física).
Nos crimes de mera conduta, em que o tipo não faz menção ao evento, a consumação se
dá com a simples ação. Exemplo típico é o de violação de domicílio, onde o crime se consuma
com a simples entrada do agente ou a sua permanência depois de determinada a saída.
Nos crimes formais a consumação ocorre com a simples atividade, independentemente da
produção do resultado descrito no tipo.
Nos crimes permanentes a consumação se protrai no tempo desde o instante em que se
reúnem os seus elementos até que cesse o comportamento do agente.
Nos crimes omissivos a consumação se dá no momento em que o autor deveria cumprir o
dever jurídico a ele imposto, ou seja, quando ele devesse praticá-lo e não o fez. Esses se
dividem em próprios e impróprios.
Nos crimes omissivos próprios se dá a consumação do delito com o simples comportamento
negativo (ou ação diversa), não se condicionando à produção de um resultado posterior, mesmo
porque o momento consumativo ocorre no instante da conduta omissiva.
Nos crimes omissivos impróprios, ou comissivos por omissão, há necessidade de um evento
naturalístico posterior, mesmo porque é este evento externo que delimitará a conduta típica e
punível. Exemplo típico é o caso da mãe que deixa de alimentar o filho. Somente com a morte dele
é que se dará o evento típico e a modificação do mundo externo.
Nos crimes qualificados pelo resultado o momento consumativo ocorre no instante da
produção do evento mais gravemente apenado. Quando concorre uma circunstância
qualificadora, que constitui um evento naturalístico, a consumação do crime se considera realizada
no momento e no lugar de sua produção. Exemplo é o artigo 260 do Código Penal, que trata do
“perigo de desastre ferroviário”, sendo que o caput prevê o crime, enquanto que o eventual desastre
é qualificadora do crime (§§ 1.º e 2.º).
R.S.C.:
Tentativa:
O parágrafo único do art. 14 apresenta o modo de fixação da pena do crime tentado.
Para fixação da pena para o crime tentado deve-se considerar a maior ou menor aproximação
do iter da fase de consumação. Quanto mais próximo o crime tiver chegado de sua consumação
menor será o fator de diminuição da pena.
Observação: Os crimes de atentado ou de empreendimento (de evasão = fuga) (art. 352 do
CP) tem a tentativa punida da mesma forma que a consumação (em razão de ter sido adotada para
estes delitos excepcionalmente a teoria subjetiva: basta a exteriorização da vontade [a tentativa,
subjetivamente, está consumada]).
Classificação doutrinária da tentativa:
1) Quanto ao iter criminis percorrido:
a) Tentativa imperfeita (ou inacabada): o agente é impedido de prosseguir no
seu intento, deixando de praticar todos os atos executórios;
b) Tentativa perfeita (ou acabada ou crime falho): o agente, apesar de praticar
todos os atos executórios à sua disposição, não consegue consumar o crime por
circunstâncias alheias à sua vontade.
Observação: Não confundir.
a) Crime falho = tentativa perfeita
b) Quase crime = crime impossível (CP, art. 17) e à participação impunível (CP, art. 31). A
bem da verdade, inexiste crime (C.M.).
2) Quanto ao resultado produzido na vítima:
a) Tentativa branca: o golpe desferido não atinge o corpo da vítima.
b) Tentativa cruenta (vermelha): quando a vítima é atingida.
3) Quanto à possibilidade de alcançar o resultado:
a) Tentativa idônea: o resultado, apesar de possível de ser alcançado, só não
ocorre por circunstâncias alheias à vontade do agente.
b) Tentativa inidônea: aqui o crime mostra-se impossível na sua consumação
(art. 17 do CP) por absoluta ineficácia do meio empregado ou por absoluta
impropriedade do objeto material – também chamado de crime impossível (ou
quase crime). Ex: tentar cometer homicídio por envenenamento sem utilizar
substância que seja venenosa.
Não admitem tentativa (infrações penais): (R.S.C.)
a) Crimes Culposos (negligência, imperícia, imprudência): como o agente não quer o resultado (não há dolo), não é compatível com a tentativa, com o instituto do conatus (tentativa de crime: a) conatus proximus: (locução substantiva) (Direito) conjunto dos atos da realização efetiva de um crime; b) conatus remotus: (locução substantiva) (Direito) conjunto de atos que servem de preparação para a realização efetiva de um crime; c) conatus (Filosofia) tendência inata de uma “coisa” para continuar a existir e se aprimorar; esta “coisa” pode ser mente, matéria ou uma combinação de ambos.
b) Crimes preterdolosos: como há dolo no antecedente e culpa no
consequente, o agente não quis o resultado (final), sendo-lhe imputado a
título de culpa.
c) Crimes omissivos próprios: o crime consuma-se automaticamente
com a omissão.
d) Contravenções penais: o art. 4º da LCP preceitua ser impunível a
tentativa de contravenção.
e) Crimes de atentado: Grande parte da doutrina entende não haver a
tentativa. Para Rogério Sanches Cunha, há sim a tentativa, porém,
punida com a mesma pena do delito consumado (o que fica excluído é a
causa de diminuição de pena) (CP para concursos, p. 38).
f) Crimes habituais: tipificando a lei reiteração de atos, não ocorrendo,
o fato será atípico.
g) Crimes unissubsistentes: consuma-se com somente um ato.
Material extraído da fonte abaixo, já relacionada e mencionada no início deste arquivo.
M.I.:
Definição de Tentativa:
Ao contrário da consumação do delito, a tentativa é a não execução completa do
tipo penal.
A tentativa ou conatus é uma ampliação da proibição
das normas penais incriminadoras sobre os fatos que o agente não chega
a concluir, ficando aquém da constituição do tipo penal.
Normas Conjugadas para a formação do Tipo Penal na Tentativa:
A primeira é prevista na Parte Especial do Código Penal, descrevendo o fato
típico.
A segunda é prevista na Parte Geral, que descreve o que é a tentativa de
crime, especialmente o artigo 14, inciso II, do Código Penal.
São elementos da tentativa de crime:
início da execução do crime;
não consumação do crime por circunstâncias alheias à vontade do
agente.
O início da execução do crime se dá com a iniciação da conduta típica de
execução do crime, conforme aceita a teoria objetiva do Código Penal. Os
atos preparatórios são impuníveis, desde que não constituam fatos típicos
próprios.
O elemento “não consumação do crime por circunstâncias alheias à vontade do
agente” pressupõe que o agente tinha a intenção de cometer o
crime (cogitatio), passou a preparar-se para a prática da conduta criminosa (atos
preparatórios), deu início à execução dos atos tendentes a produzir o evento lesivo
externo (resultado) à sua vontade, iniciando a agressão ao bem
juridicamente tutelado, porém, nesse instante, por forças exteriores ao
desejo do agente, houve a interrupção do crime, houve a paralisação do
ato executório, não por vontade do agente, mas sim por “circunstâncias
alheias à vontade do agente”. Se a ação não se consuma por circunstâncias alheias à
vontade do agente, mas sim porque o agente assim o desejou, poderemos dizer que
houve arrependimento eficaz ou desistência
voluntária.
A tentativa se divide em:
Perfeita;
Imperfeita.
A tentativa é imperfeita ou propriamente dita quando o desenrolar dos atos
executórios do crime são interrompidos por circunstâncias alheias à vontade
do agente. O agente não consegue efetivar a materialidade do crime porque
foi interposto um obstáculo entre a sua intenção e a sua ação. Não tem a possibilidade
material de praticar o crime, sendo interrompido o processo executório da conduta
típica. Exemplo: “A” quer matar “B”, sendo que “A” desfere um primeiro golpe de faca
contra a vítima e, no momento em que vai consolidar os demais, é interrompido por
terceiro, que impede a continuação do ato.
Chama-se tentativa perfeita ou crime falho quando o agente completa
todo o caminho do crime, fazendo tudo aquilo que estava ao seu dispor,
somente não conseguindo completar a conduta típica porque o resultado
não ocorreu. No mesmo exemplo anterior, “A” desfere vários golpes de faca
contra “B”, julgando-o morto, porém, “B” é socorrido e sobrevive.
Trata-se de divisão apenas acadêmica.
O elemento subjetivo da tentativa é o dolo do delito consumado, eis que o agente
atua conscientemente e intencionalmente para a prática de uma conduta, sendo que a
mesma não veio a se realizar completamente, embora o agente tenha atuado no sentido
de seu cometimento.
Destarte, não existe crime culposo tentado, pois a tentativa é a intenção da prática do
crime doloso, ao passo que o crime culposo decorre de um fato externo, sem a intenção
dirigida para esse fim.
Também não há tentativa no crime preterdoloso tentado. O crime preterdoloso ou
preterintencional é a conjunção de dois tipos penais num único tipo. A intenção do
agente, num primeiro momento, é um crime doloso, com toda a intenção de praticar a
conduta. Porém, num segundo momento, o que caracteriza o resultado não desejado, é
a ocorrência de outro evento totalmente diverso. Nesse segundo resultado, não
desejado, não esperado, agrava-se a pena pelo resultado, por mera culpa do agente.
Como esse resultado ocorreu sem a vontade consciente e dirigida para a prática do
crime, dir-se-á que houve um crime culposo, subsequentemente ao primeiro, portanto,
também não haverá condições de punição para esse tipo híbrido.
Também não são admissíveis as formas tentadas nas contravenções (LCP, art. 4.º),
nos crimes omissivos próprios; nos crimes permanentes; nos crimes continuados; nos
crimes complexos; nos crimes unissubsistentes, pois esses se realizam numa única
conduta, num único ato (ex.: a injúria, a difamação etc.); nos crimes que a lei pune
somente quando ocorre o resultado, como a participação em suicídio (CP, art. 122); nos
crimes habituais.
A pena no caso de tentativa
Diante do crime tentado, o juiz poderá diminuir a pena do crime consumado entre o
grau máximo ou mínimo.
A punição da tentativa é abraçada por duas teorias:
Na teoria subjetiva a vontade do agente é perfeita, a razão da punibilidade da
tentativa. Imperfeito é o crime sob seu aspecto objetivo, pois
não chega a consumar-se, a pena do conatus deve ser a mesma do delito consumado.
Para a teoria objetiva a sua punibilidade deve cingir-se ao perigo a que
é exposto o bem jurídico. Não sendo atingido o resultado final desejado pelo agente,
deve ser fixada a reprimenda dentro de um critério lógico por aquilo que o agente
efetivamente fez. Aliás, é essa a teoria do
Código Penal, prevista no parágrafo único do artigo 14. Quanto mais
o agente se aproximar da consumação do delito, menor será a diminuição da pena.
Quanto menos o agente se aproximar do crime maior
será a diminuição da pena, estabelecendo o juiz o critério previsto no
artigo 59 do Código Penal.
O Código Penal fala em “salvo disposição em contrário” (art. 14, parágrafo único),
pois em determinadas situações a própria norma penal prevê pena de tentativa idêntica
à do crime consumado, sem qualquer diminuição legal. Exemplo é o artigo 352 do
Código Penal, quando trata da evasão de presos, ou do Código Eleitoral que, no artigo
309 diz “votar, ou tentar votar mais de uma vez, ou em lugar de outrem” etc.
Desistência voluntária
Quando o agente não teve a intenção de prosseguir na ação típica, abandonando-a
por completo, seria injusta a condenação desse agente. Assim,
por razões de “política criminal”, deixa o agente de ser punido. É denomina-
da de tentativa abandonada, pois o agente teria condições de prosseguir na
conduta típica, alcançar o fim proposto, mas assim não o fez, interrompendo
a série de acontecimentos, abandonando por completo a conduta.
A desistência voluntária é uma causa de exclusão da adequação típica, na qual há o
retorno da situação jurídica anteriormente existente, como se não tivesse havido o
crime. Ora, se o status quo ante está preservado, não se poderá dizer que houve um fato
típico, antijurídico e culpável, inexistindo a ação ou a omissão não há que se falar em
crime, motivo pelo qual é uma causa que exclui a adequação típica da conduta.
Porém, é importante observar que a desistência voluntária tem que ser desejada pelo
agente, não podendo a mesma ser coagida ou forçada.
A desistência voluntária é parte integrante do iter criminis, percorrendo o agente o
“caminho do crime”, o transcurso das fases de um fato humano para a prática de um
crime. Podemos situá-la entre as fases da execução do crime e a consumação do delito,
depois de já ultrapassadas as fases da cogitação (cogitatio) e dos atos preparatórios.
Por sinal, é essa a posição apontada pelo Código Penal, mesmo porque apresenta
outro fenômeno jurídico quando o agente já ultrapassou os atos preparatórios,
praticou alguns atos de execução da conduta típica almejada, porém, ainda não
concluiu o crime. Nos termos do artigo 15, parte final, o agente responderá “pelos atos
já praticados”.
A esses “atos já praticados”, se os mesmos vierem a constituir um crime, de per si,
evidentemente o agente não deixará de ser responsável por eles.
A esse fenômeno jurídico damos o nome de tentativa qualificada, eis que o agente
efetivamente agrediu um bem jurídico tutelado pela norma penal, seja ele em maior ou
menor gravidade que aquele que o agente tinha em mente quando iniciou a execução
do fato típico. Exemplo clássico é o do agente que invade uma residência para subtrair
e não o faz, sendo assim responderá somente pela violação de domicílio.
Não haverá desistência voluntária no caso do agente suspender a ação
criminosa para continuar a praticá-la mais adiante ou posteriormente,
aproveitando-se dos atos já executados. Exemplo típico é o sujeito que primeiramente,
numa noite, corta os arames de uma propriedade rural; no dia
seguinte, desparafusa os canos de irrigação da lavoura; no outro dia sub-
trai os canos e os esconde em um canto da propriedade, empilhando-os, e,
somente no quarto dia, é que efetivamente os leva embora, valendo-se de
uma condução. Se for interrompido o processo de subtração, não poderá o
agente valer-se da desistência voluntária, eis que todos os atos praticados
tinham um único fim e a ação de subtrair foi apenas dividida em pequenas
etapas, a fim de não despertar suspeitas. Por cada dia, haveria a suspensão
da conduta típica, antijurídica e culpável, já iniciada, sendo, pois, punível
cada conduta isoladamente.
Arrependimento eficaz
O arrependimento eficaz está expresso no artigo 15 do Código Penal na
frase “impede que o resultado se produza”, vale dizer, é a vontade do agente que,
tendo se arrependido, efetivamente, da prática da conduta, procura evitar, com
sucesso, que o resultado provocado por sua ação inicial se produza. Se o iter
criminis é o caminho do crime, o arrependimento eficaz é a contramão do
caminho do crime, no sentido de voltar atrás, evitando que o resultado se
configure.
O arrependimento eficaz é diverso da desistência voluntária, no sentido de que nesta
o agente ainda não alcançou o resultado. Já no arrependimento eficaz, o processo de
execução da conduta típica já está encerrado, sendo que o agente retorna ao caminho do
crime, praticando nova conduta, a fim de evitar que o crime venha a se consumar.
Exemplo clássico de arrependimento eficaz é aquele em que o agente procura matar
a vítima ministrando-lhe veneno, que é ingerido por ela. Ao perceber que sua ação
levará, efetivamente, à prática do crime, arrepende-se e ministra antídoto à vítima,
evitando que a mesma faleça. Logicamente, se a vítima vier a falecer, mesmo depois de
ministrado o antídoto, restará consumado o crime qualificado.
A diferença primordial entre a desistência voluntária e o arrependimento
eficaz reside no fato de que na desistência o agente deixa de atuar, deixa
de agir, pratica um ato negativo. No arrependimento, ao revés, retorna pelo
caminho, recompondo a sua conduta, voltando para deixar as coisas no
mesmo estado em que estavam anteriormente, fazendo a contramão da
ação. Trata-se de ato positivo, voltado para o sucesso de sua ação, evitando
que o resultado aconteça.
Questões para debates
1. Diferencie o arrependimento eficaz da desistência voluntária.
2. Quais teorias existem sobre a pena da tentativa?
3. É possível a tentativa de crime culposo?
Atividade de aplicação
1. (Cespe) Em relação aos pressupostos teóricos da figura da desistência voluntária, assinale
a opção correta.
a) Para que se possa falar em desistência voluntária, é preciso que o agente já tenha ingressado na
fase dos atos de execução do delito, pois, caso o agente se encontre praticando atos preparatórios, sua
conduta será considerada um indiferente penal.
b) A desistência voluntária, para configurar-se, necessita que o ato criminoso não ocorra em
circunstâncias que dependam diretamente da vontade do autor do delito.
c) A concretização da desistência exige tanto a voluntariedade da conduta
do agente quanto a espontaneidade do ato.
d) Segundo a fórmula de Frank, quando, na análise do fato, se verificar que o agente pode prosseguir
mas não quer, o caso é de crime tentado e quando o agente quer prosseguir, mas não pode, o caso é de
desistência voluntária.
Dica de estudo
Observar que o arrependimento eficaz e a desistência voluntária levam, no
mais das vezes, à ausência de punição, diferentemente da tentativa do crime, que
é punível, eis que o agente chegou a praticar um ato voluntariamente, somente
não o consumando por circunstâncias alheias à sua vontade.
Gabarito - Questões para debates
1. O arrependimento eficaz se diferencia da desistência voluntária, pois no
arrependimento eficaz o iter criminis está concluído, ou seja, o processo de
execução da conduta típica já está encerrado, sendo que o agente re torna ao
caminho do crime, praticando nova conduta, a fim de evitar que o crime venha a
se consumar, ao passo que na desistência voluntária o agente ainda não alcançou o
resultado, encerrando sua atividade criminosa.
2. A punição da tentativa é abraçada pela teoria subjetiva onde a vontade
do agente é perfeita, a razão da punibilidade da tentativa, pois o crime
não chega a se consumar por uma deficiência qualquer de ação, e, ainda,
pela teoria objetiva por conta da exposição de ofensa ao bem jurídico,
embora não atingido o resultado final desejado pelo agente.
3. Não é possível a tentativa de crime culposo, eis que nesse tipo de delito
não há a vontade do agente na prática de uma conduta, sendo que o
agente apenas praticou um fato que gerou um resultado não desejado
pelo agente. Se não há direcionamento da vontade não há como punir.
Gabarito - Atividade de aplicação
1. A
QUESTÕES PARA CONCURSO – CÓDIGO PENAL – ART. 14
01. (magistrado Trabalhista – TRT1ª – 2010) Acerca dos crimes consumado e tentado,
assinale a opção correta.
a) a tentativa abandonada pressupõe resultado que o agente pretendia produzir dolosamente,
mas de que, posteriormente, desistiu ou se arrependeu, evitando-o; tal instituto é
incompatível com os crimes culposos.
b) Se um indivíduo desferir cinco tiros em direção a seu desafeto, com intenção apenas de o
lesionar, e, no entanto, por má pontaria, nenhum projétil atingir a vítima, ocorrerá a
denominada tentativa cruenta.
c) Em relação à definição do início da execução de uma conduta criminosa, o critério que o
ordenamento jurídico brasileiro adotou foi o subjetivo, cujo enfoque não é a descrição da
conduta típica, mas o momento interno do autor.
d) Em relação à punição da modalidade tentativa de crime, a teoria que o Código Penal
adotou foi a subjetiva, segundo a qual a tentativa deve ser punida da mesma forma que o
crime consumado, com redução da pena.
e) Considere a seguinte situação hipotética. Silas, com intenção homicida, desferiu cinco
tiros de pistola contra Matias, que ficou gravemente ferido. Por sugestão de Laura, Silas
arrependeu-se e levou Matias a um hospital, sendo certo que essa atitude foi decisiva para
salvar-lhe a vida. Nessa situação, como a desistência não foi espontânea, pois decorreu de
sugestão de terceiro, não há que se falar de desistência voluntaria.
02. (Procurador do Estado – PGE/PA – 2009) Assinale a alternativa CORRETA a respeito de
tentativa e consumação do crime:
a) Pune-se a tentativa com a pena correspondente ao consumado, diminuída de um a dois
terços, portanto a pena do crime tentado é sempre menor que a do crime consumado.
b) Os crimes culposos não admitem tentativa, inclusive na omissão imprópria, assim como
nos crimes unissubsistentes, que são aqueles que se realizam em um único ato.
c) Pode haver tentativa no crime preterdoloso ou preterintencional, porque nesta espécie de
crime há dolo no antecedente e culpa no consequente.
d) A adequação típica de um crime tentado é de subordinação mediata, ampliada ou por
extensão, já que a conduta humana nessa espécie de crime não se enquadra prontamente
na lei penal incriminadora.
03. (Defensor Público – DPE/MT – 2009) O art. 14,§ único, do Código Penal dispõe que
“salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime
consumado, diminuída de um a dois terços.” O percentual de diminuição de pena a ser
considerado levará em conta.
a) o inter criminis percorrido pelo agente
b) a periculosidade do agente
c) a reincidência
d) os antecedentes do agente
e) a intensidade do dolo.
04. (magistrado Estadual – TJ/MT – 2009) com relação à tentativa, analise as seguintes
afirmações:
I. os crimes unissubsistentes, os crimes omissivos próprios e as contravenções penais,
entre outros, não admitem a figura da tentativa:
II. nosso Código Penal adotou a teoria objetiva como fundamento para a punição do
crime tentado conforme se observa no art. 14, parágrafo único: “pune-se a tentativa
com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços”.
III. O crime de cárcere privado é um exemplo de crime que não admite a tentativa
Está correto o contido em
a) I, somente
b) I e II, somente
c) I e III, somente
d) II e III, somente.
e) I, II e III
05. (Defensor Público –DPE/BA – 2010) Na tentativa perfeita, ou tentativa propriamente
dita, o agente não consegue praticar todos os atos executórios necessários à consumação
do crime, sendo o processo executório interrompido por interferências externas, alheias à
vontade do agente.
06. (magistrado Estadual – TJ/PR – 2010 – adaptado) A pena para o crime tentado é a mesma
aplicada para o crime consumado diminuída de 1/6 a 1/3.
07. (Magistrado Estadual – TJ/PR – 2010 – adaptado) Ocorre tentativa quando, antes de
iniciar a execução, o agente é impedido de levar adiante a idéia de praticar o delito por
circunstâncias alheias à sua vontade.
08. (Promotor de Justiça – MP/SC – 2010 – adaptado) A tentativa imperfeita ocorre quando
iniciada a execução, ocorre a sua interrupção por circunstâncias alheias à vontade do
agente.
09. (Defensor Público – DPE/ES – 2009) A tentativa incruenta não é punível, pois considera-
se que o agente não iniciou a fase executória do iter criminis.
GABARITO DO ART. 14 – 01-A; 02-D; 03-A; 04-B; 05-F; 06-F; 07-F; 08-V; 09-F.
Referências
FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de Direito Penal - Parte Geral. 10. ed. Rio de Janeiro:
Editora Forense, 1986.
GARCIA, Basileu. Instituições de Direito Penal. Volume 1, Tomo I. 4. ed. São Paulo: Ed.
Max Limonad, 1958.
HUNGRIA, Nélson. Comentários ao Código Penal. Volume 1, Tomo I. Rio de Janeiro:
Forense, 1953.
JESUS, Damásio Evangelista de. Direito Penal. Volume I, Parte Geral. 31. ed. São Paulo:
Saraiva, 2010.
MAGALHÃES NORONHA, Edgard de. Direito Penal. Volume I. 2. ed. São Paulo:
Saraiva, 1963.
MARQUES, José Frederico. Tratado de Direito Penal. Campinas: Bookseller,
1997.
MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. 24. ed. São Paulo: Atlas,
2008.
PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. Volume I, Parte Geral, arts.
1.º a 120. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006.
ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Manual de Derecho Penal - Parte General. Buenos Aires:
Ediar, 1977.
CRIME IMPOSSÍVEL, CRIME DOLOSO E CRIME CULPOSO
Do crime impossível
Art. 17. Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por
absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.
Por definição do artigo 17 do Código Penal1 não será considerado punível o fato
quando, por total ausência de condições do meio usado ou quando o objeto material
do crime for absolutamente inconsistente e ineficaz para que o crime ocorra. É o
chamado crime impossível, também chamado de quase-crime, tentativa
inidônea, tentativa impossível ou tentativa inadequada.
Em todos os casos do artigo 17, o agente se utiliza de meios e condições
tendentes à prática de uma conduta inicialmente típica. Porém, os meios que
utiliza ou a condição que emprega, ou até mesmo o “objeto” do tipo penal, são
absolutamente imprestáveis.
O crime impossível é, na realidade, uma conduta (ação ou omissão) do agente,
que tem a intenção deliberada de praticar um crime qualquer. Não obstante sua
intenção e sua vontade deliberada para a prática do crime faltam-lhe requisitos
indispensáveis à sua conduta, que é exatamente o resultado desejado.
Por mais que o agente tente, utilize os meios de que dispõe para a consecução
do seu crime, não haverá possibilidade de alcançá-lo porque o objeto material do
crime é impróprio ou o meio que buscou para alcançá-lo é inadequado. Tenta o
agente, mas não há idoneidade em sua conduta. Se houvesse, ou se fosse relativa,
haveria crime.
Exemplo clássico da absoluta ineficácia do meio é aquele em que “A” quer
matar “B”. “A” arma-se de revólver, encontra-se com “B”, saca a arma e dispara.
Porém, percebe que não há qualquer munição (bala) no tambor do revólver.
Não há condições de matar, embora fosse o desejo de “A”.
Exemplo clássico da absoluta impropriedade do objeto é aquele em que “A”
tenciona matar “B”, seu desafeto, e o vê deitado numa cama. “A” desfere
diversas punhaladas em “B”, julgando tê-lo matado. Porém, o laudo de exame
necroscópico realizado provará que “B” já estava morto antes do ataque de “A”
em decorrência de um infarto fulminante. Logo, não é crime matar um morto.
Absolutamente impróprio o objeto material do crime, que é a vida.
É importante lembrar que o texto fala em ineficácia do meio e
impropriedade do objeto, ambos de maneira absoluta, ou seja, se as espécies
mencionadas forem relativas haverá a tentativa punível.
Teorias do crime impossível
Há várias teorias que surgiram para classificar o quase-crime e sua punibilidade,
discutindo-se acerca de sua necessária persecução criminal a fim de que situações,
aparentemente desvinculadas do fato, pudessem ter ligação com o crime. São aceitas
as seguintes:
Teoria sintomática, que diz que dever-se-ia aplicar pena no agente, em razão
de sua periculosidade e indícios fortes e seguros de sua temibilidade penal. Com a
Reforma Penal de 1984 a medida de segurança deixou de existir para os “perigosos”
sendo a mesma aplicada aos inimputáveis, nos termos do artigo 26 do Código Penal.
Teoria subjetiva, considera-se a finalidade buscada pelo agente na
condução de seu ato, motivo pelo qual deveria ser condenado pela
mesma pena aplicada à tentativa do crime. Não obstante a adoção da
teoria finalista da ação pelo nosso Código Penal torna-se impossível a
aplicação da mesma pena ao agente porque não foi afetado um bem
jurídico. Portanto, não se pode confundir tentativa perfeita ou imperfeita com crime
impossível.
Pela teoria objetiva não haveria necessidade de reprimir a conduta
do agente, mesmo porque não existiram os elementos que compõem
a tentativa e o bem jurídico não corre risco algum.
No Brasil, até 1984, vigorou essa teoria, porém, a teoria objetiva temperada, em
face do anterior regime da medida de segurança. Atualmente, o Brasil adotou a
teoria objetiva pura no sentido de que não é punível a conduta quando houver a
absoluta impropriedade do objeto ou a absoluta ineficácia do meio, pois deixou
de existir a medida de segurança para os agentes reconhecidamente perigosos.
Crime putativo
O crime putativo, também chamado de crime imaginário ou crime de
ensaio, é aquele crime em que o agente imagina que está praticando uma
conduta típica, mas, em verdade, o fato típico só existe na sua imaginação.
Houve um erro de interpretação do agente, que se supõe um delinquente
quando não o é, naquele caso.
Exemplo típico é o caso de “A” imaginar-se praticando um crime de incesto
com sua irmã “B”, maior e capaz. Porém, não existe tal dispositivo em nossa
legislação penal. Há o exemplo do agente que, tendo direito a uma parte da
herança de seu pai, subtrai para si uma quantidade de bens, imaginando-se
larápio. Porém, descobre-se que o mesmo tinha direito exatamente àquela
quantia subtraída. Há a exclusão de ilicitude nos termos do artigo 156, § 2.º,
do Código Penal.
Por todos esses fatos percebe-se que o agente efetivamente praticou uma
conduta, imaginando ser essa conduta criminosa. Ocorre que, em realidade,
havia uma má interpretação das normas legais puníveis, havendo um “erro”. Não
há dispositivo penal sobre o crime putativo.
Crime putativo provocado ou crime provocado
Chama-se crime provocado ou crime putativo provocado quando o
agente é induzido, carregado, provocado, a praticar uma conduta típica,
mas, em verdade, já existiu uma preparação anterior tornando-se
impossível a realização do resultado esperado pelo agente. Cumpre
diferenciar o crime provocado do crime esperado.
O crime é provocado quando o agente, embora deliberado na prática da
conduta, é induzido e levado a provocar a conduta típica como se fosse real.
Porém, o resultado de sua conduta não se concretiza porque já existia uma
predisposição para que o resultado efetivamente não se configurasse. Exemplo: a
polícia deixa um veículo apreciado pelo gatuno no seu local desejado
e diversos policiais à paisana no derredor do local, apenas esperando o mo-
mento em que o agente vai subtraí-lo. Ao adentrar no veículo, soando um
dispositivo previamente instalado pela polícia, fica o mesmo trancado no
automóvel, sem condições de fugir, sendo autuado em “flagrante”. Flagrante
inexistente. Pela Súmula 145, do Supremo Tribunal Federal, não existe o
crime no caso de preparação do flagrante por parte da polícia.
Já o crime esperado se dá quando a polícia sabe que o agente é
delinquente e está praticando condutas ou na iminência de praticá-las.
Assim, procura aguardar o momento em que o agente irá agir para
prendê-lo. A polícia não teve qualquer outra participação na conduta
criminosa do agente, apenas aguardou o momento oportuno para que o
mesmo praticasse sua deliberada e prévia ação, conseguindo prendê-lo.
Aqui o flagrante é certo.
Não se pode confundir com o crime exaurido, principalmente quando a
vítima ainda quer uma prova maior da corrupção ativa do agente público.
Nesse caso, filma o momento em que entrega o dinheiro ao sujeito. Nesse
caso já existiu a consumação do crime no momento em que o agente pediu
a “propina”, sendo a entrega do dinheiro mero exaurimento do crime que
não interfere na persecução do primeiro crime.
QUESTÕES PARA CONCURSOS – ART. 15
01. (Analista – TER/MT – 2010 – adaptada) Presentes os pressupostos legais da configuração
do arrependimento eficaz, o efeito será a redução da pena de um terço a dois terços.
02. (Promotor de justiça – MP/SC – 2009 – adaptado) Para que surtam os efeitos previstos no
art. 15 do CP, tanto a desistência voluntária quanto o arrependimento eficaz devem ser
voluntários e espontâneos.
03. (magistratura Estadual – TJ/PR – 2010 – adaptado) na desistência voluntária o agente que
praticou o ato responde por tentativa.
04. (magistrado Estadual – TJ/PR – 2010 – adaptado) o agente que impede a produção dos
efeitos de sua ação faz, agindo assim, com que, o crime não se consume, ocorre desse
modo, o arrependimento eficaz.
05. (magistratura Estadual – TJ/SC – 2009 – adaptado) A desistência voluntária comunica-se
entre autores e partições, de forma que, se apenas um deles desistir voluntariamente de
prosseguir na prática delituosa, todos são beneficiados da causa geral de redução de pena.
06. (Defensor Público – DPE/PI – 2009 – adaptado) O instituto da desistência voluntária
comunica-se entre autores e partícipes, de forma que, se apenas um deles desistir
voluntariamente de prosseguir na prática delituosa, todos são beneficiados da causa geral
de redução de pena.
07. (Defensor Público – DPE/PI – 2009 – adaptado) Se o agente desiste de continuar prática
de um delito por conselho de terceira pessoa, resta descaracterizada a desistência
voluntária.
08. (Promotor de Justiça – MP/PR – 2009 – adaptado) A desistência voluntária pode se
materializar em hipóteses de tentativa acabada ou de tentativa inacabada.
GABARITO DO ART. 15 – 01-F; 02-F; 03-F; 04-V; 05-V; 06-F; 07-F; 08-F.
QUESTÕES PARA CONCURSOS – ART. 16
01. (Magistrado Estadual – TJ/PR – 2010 – adaptado) O agente que, voluntariamente, desiste
de prosseguir na execução ou impede que o resultado se produza só responde pelos atos já
praticados, ocorrendo assim a hipótese de arrependimento posterior.
02. (Promotor de justiça – MP/SC – 2009 – adaptado) No crime de roubo qualificado pelo
emprego de arma de fogo, reparado o dano ou restituída a coisa até o recebimento da
denúncia ou queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços
nos termos do art. 16 do CP – arrependimento posterior.
03. (Promotor de justiça – MP/PB – 2009 – adaptado) Não se admite aplicação do
arrependimento posterior no crime de furto qualificado pela destruição ou rompimento de
obstáculo, em razão da violência empregada pelo agente na subtração.
04. (Magistrado Estadual – TJ/SC – 2009 – adaptado) O arrependimento posterior, causa
obrigatória de diminuição de pena, ocorre nos crimes cometidos sem violência ou grave
ameaça à pessoa, em que o agente, voluntariamente, repara o dano ou restitui a coisa até o
oferecimento da denúncia ou queixa.
05. (Promotor de justiça – MP/CE – 2009 – adaptado) É admissível o arrependimento
posterior no crime de extorsão.
GABARITO DO ART. 16 – 01-F; 02-F; 03-F; 04-F; 05-F.
QUESTÕES DE CONCURSOS DO ART. 17
01. (Magistrado Estadual – TJ/SC – 2009 – adaptado) ”Não se pune a tentativa quando, por
ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível
consumar-se o crime.” O excerto transcrito se refere ao crime impossível, causa de isenção
de pena.
02. (Defensor Público – DPE/PI – 2009 – adaptado) A jurisprudência do STJ pacificou-se no
sentido de que a presença de sistema eletrônico de vigilância no estabelecimento comercial
torna o agente completamente incapaz de consumar o furto, a ponto de reconhecer
configurado o crime impossível, pela absoluta ineficácia dos meios empregados.
03. (Defensor Público – DPE/PI – 2009 – adaptado) Em relação à punição do fato que
caracteriza crime impossível, o CP adotou a teoria subjetiva.
04. (Promotor de justiça – MP/PR – 2009 – adaptado) A tentativa inidônea, também conhecida
como crime impossível, pode ocorrer por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta
impropriedade do objeto.
GABARITO DO ART. 17 – 01-F. 02-F; 03-F; 04-V.
Crime doloso e crime culposo
A definição geral de ambos encontra-se nos artigos 18 e 19 do Código
Art. 18. Diz-se o crime:
I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo;
II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou
imperícia.
Parágrafo único. Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato
revisto como crime, senão quando o pratica dolosamente.
Art. 19. Pelo resultado que agrava especialmente a pena, só responde o agente que o
houver causado ao menos culposamente.
Penal Brasileiro, mas que devem ser analisados separadamente2.
Do crime doloso
O conceito de dolo é integrante do elemento subjetivo do tipo penal, adotado pelo Código
Penal. É que, em certos tipos penais não basta apenas que exista o dolo, há necessidade de
se saber a verdadeira carga subjetiva da conduta, a fim de saber a extensão da finalidade
da conduta do agente. Havendo intenção, há o dolo. Diante disso, a conduta passa a ser
dolosa, falando-se, então, em ação ou omissão dolosa.
É o dolo a mais grave forma de culpabilidade, pois se trata da manifestação da vontade do
agente de desejar o resultado ou assumir o risco de produzi-lo. É a constituição do elemento
subjetivo do tipo penal.
Sobre o dolo surgiram diversas teorias destacando-se:
Pela teoria da representação o dolo seria a representação subjetiva da previsão do resultado
danoso, sendo este considerado como possível.
Pela teoria do consentimento (volição) o dolo exigiria um
consentimento prévio tendente a causar um resultado danoso, devendo
este ser considerado, também, como possível. Não há necessidade do
agente querer o resultado, basta que dê sua aquiescência para a realização
do resultado.
Pela teoria da probabilidade (cognição) o dolo estaria presente na
simples probabilidade de sua ocorrência, não mais na possibilidade de
vir a ocorrer o evento danoso.
Pela teoria da vontade o dolo é a intenção mais ou menos perfeita de
praticar um fato que se conhece contrário à lei. Pela teoria da vontade,
em realidade o dolo é mesmo a intenção dirigida para um determinado
resultado, consciente o agente da natureza do fato e sua vontade
destinada a causá-lo.
O nosso Código Penal adotou a teoria da vontade na primeira parte do artigo
18, inciso I (quis o resultado) e a teoria do assentimento na segunda parte do
mesmo artigo (assumiu o risco de produzi-lo).
Elementos do dolo
São elementos do dolo:
Consciência, que é o conhecimento do fato e que constitui a ação típica,
sendo o elemento cognitivo ou intelectual, ou seja, a consciência da
realização dos elementos objetivos do tipo penal;
Vontade, que é o elemento volitivo, intencional, desejo incondicionado à
realização dos elementos objetivos do tipo penal. É a intenção e a vontade
de praticar a conduta descrita no tipo.
Assim, o dolo é composto de duas fases distintas, sendo a primeira o
objetivo que o agente pretende alcançar, aliado aos meios empregados e às
consequências de sua atuação. Há duas situações nessa primeira fase da
conduta: uma interna - que é o pensamento do agente. Ex.: propor-se a matar
um inimigo (fim). A outra é externa, quando seleciona os meios para realizar
essa finalidade (escolhe uma determinada arma, por exemplo).
A segunda fase é a exteriorização da conduta, ou seja, é a realização da
atividade. Ex.: o agente pensou em liquidar seu desafeto e agora passa a agredi-
lo. Como já escolheu a arma, desfere tiros contra a vítima.
Espécies de dolo
A doutrina distingue as formas de dolo:
Dolo direto ou determinado, quando estiver presente na ação ou
omissão do agente a intenção, a vontade, o querer o resultado, o
desejar que, de sua ação ou omissão, exista um resultado esperado. É
a intenção que move a conduta. No matar alguém, por exemplo, a
intenção é matar, sendo assim o dolo é determinado, direto.
Dolo indeterminado ou indireto, quando o elemento volitivo da
conduta não se dirige a um resultado certo e esperado.
Dolo será alternativo quando, existindo uma conduta, o agente
pouco se importa com qual dos resultados venha a alcançar. O
exemplo clássico é do agente que se dirige ao seu desafeto e desfere
tiros contra ele, pouco se importando com o resultado alcançado. Para
ele, tanto faz a morte como a lesão corporal. O fim alcançado é o dano
à pessoa de seu desafeto.
Dolo eventual, quando o agente assume o risco de produzir o
resultado, ou seja, sabendo ele que o resultado de sua conduta pode
ocasionar dano, com ele pouco se importa, acabando por,
efetivamente, causá-lo. É uma equiparação legal do artigo 18, II, 2.ª
parte.
Com relação ao dolo eventual prevalece no nosso Direito Penal a
teoria do assentimento, pois o agente tem a consciência exata de
sua conduta, sabe que dela advirá um resultado, mesmo assim,
voluntariamente, prossegue nessa conduta, produzindo
efetivamente o resultado.
Há uma linha divisória tênue entre o dolo eventual e a culpa
consciente, pois enquanto no dolo eventual o agente sabe da
possibilidade da ocorrência de um resultado, preferindo arriscar-
se a produzi-lo, ao invés de renunciar à ação, na culpa consciente, ao
contrário, o agente não admite a existência de resultado, repelindo-
o, embora inconsideradamente, e empreende a ação na esperança
ou persuasão de que este não ocorrerá.
Dolo de dano é aquele em que o agente deseja atuar para causar
um dano a outrem, podendo esse dano ser eventual ou
diretamente voltado para o resultado. O dano não tem a mesma
significação que prejuízo, frise-se. O dano poderá ser à pessoa ou ao
bem móvel, como é o caso da subtração, como é o caso do estelionato,
ou mesmo do homicídio, onde o agente quer produzir um dano à vida.
Dolo de perigo é diverso, a intenção do agente não se destina ao maior
mal, que é o dano, contentando-se o agente somente com a exposição
ao perigo. É o caso, por exemplo, dos crimes previstos nos artigos 132,
133 etc. Não quer o agente um mal maior, basta a ocorrência do perigo
para que o agente com ele veja encerrada sua conduta, assumindo o
risco da produção de um resultado ou produzindo-o dolosamente.
Dolo genérico é aquele em que o agente simplesmente realiza a
conduta descrita na tipificação penal, sem indagar qualquer outro
elemento
que componha o tipo penal. A vontade do agente encontra-se prevista na
própria conduta, como está previsto na tipificação do homicídio,
“matar alguém”, não especificando a norma qualquer outro elemento
para a composição do tipo. A grande maioria dos tipos penais prevê a
forma genérica de dolo.
Dolo específico, ao contrário, exige, além da conduta, um especial fim
de agir, uma finalidade voltada para a consecução do resultado,
prevista pelo agente no momento da realização do crime. Assim, no crime
de perigo de contágio de moléstia grave, descrito no artigo 131, só
existirá o delito se cometido com o fim de transmitir a doença.
Entretanto, atualmente os doutrinadores afirmam não mais existir esse tipo
de dolo, não obstante descrito nos diversos tipos penais.
Dolo geral ou erro sucessivo é aquele em que o agente pratica nova
ação, após já ter realizado outra conduta, sendo que a primeira
conduta já havia produzido um evento lesivo. Porém, a segunda é que
causou o evento desejado pelo agente. Ex.: “A” imagina ter matado “B”,
em razão de ter desferido golpes de faca. Em seguida, joga “B” num rio,
sendo que o exame necroscópico irá constatar que o crime de homicídio
deu-se em razão do afogamento, não em razão das facadas.
Do crime culposo
O legislador pátrio não fez uma definição própria da culpa, descrevendo
somente suas modalidades.
Cuidar-se-á da culpa em sentido estrito (strictu sensu). Ao contrário do que existe nos
crimes dolosos, onde se faz o processo de adequação típica da conduta, no delito culposo
não há essa possibilidade, eis que o crime culposo não descreve a conduta. Define-se
somente com o jargão “se o crime é culposo”, sem descrição da intenção do agente ou da
sua vontade. Por isso, se diz que os crimes culposos são tipos penais abertos.
Na aferição do cuidado objetivo, deve-se atentar para o cuidado
comum, do homem com discernimento e prudência, aquele cuidado
que todo o homem comum (homus medium) deve ter.
Chama-se esse cuidado objetivo exigível ao homem médio de
previsibilidade objetiva. Além dessa previsibilidade objetiva, há também
que se considerar a capacitação do agente para a não realização do
resultado. Essa é a previsibilidade subjetiva, que é a capacidade do
agente de poder responder pelo resultado, em razão de suas aptidões
pessoais e, dentro dessa capacitação, a possibilidade de prever o
resultado como possível.
Assim, o crime culposo é a falta de previsibilidade subjetiva do
agente em relação à previsibilidade objetiva do homem médio.
Elementos do tipo culposo
O crime culposo se compõe de cinco elementos:
Conduta humana voluntária, ação ou omissão do agente, não se
questionando a vontade; apenas a conduta é um fator integrante da
forma como o sujeito agiu.
Não observância do dever de cuidado, que é comum a qualquer
homem, conscientemente sabedor da obrigação de não causar dano a
terceiros. O legislador se contenta com a falta de dever de cuidado
objetivo.
Resultado involuntário, consiste no fato de que o agente não deseja
que o resultado lesivo aconteça, havendo a modificação do mundo
exterior.
Previsibilidade objetiva eis que todo homem mediano sabe da
possibilidade da existência de um perigo com a conduta descuidada,
desde que tenha discernimento suficiente, compreendendo o seu ato.
Tipicidade: é a descrição do fato como infração penal.
Das modalidades da culpa
Chamam-se modalidades de culpa as formas como o crime culposo é
cometido, estando explicitamente declaradas no artigo 18, inciso II, do Código
Penal: imprudência, negligência e imperícia.
A imprudência consiste na ação do agente que atua precipitadamente,
sem consideração, sem cautelas, deixando de usar os poderes que tinha para
inibir a ação.
É, geralmente, uma ação positiva. Por exemplo, o sujeito que continua na
marcha de seu veículo, mesmo vendo uma pessoa saindo à rua para galgar o
passeio público do outro lado. O exemplo típico é o sujeito que resolve limpar
uma arma (municiada / carregada) na proximidade de outras pessoas, vindo a
disparar a arma contra uma delas.
A negligência é inércia psíquica, a falta de cautela necessária exigida para
que o resultado não se realize. É a displicência, a indiferença, a falta de
realização de outra conduta que, se fosse feita, impediria o resultado. É
negativa.
Exemplos típicos são os do agente que abre uma valeta na rua e deixa de
sinalizá-la, vindo alguém a cair na mesma. Outro exemplo é o do agente que
deixa o veículo estacionado sem acionar o comando de freio adequadamente.
A imperícia é a falta de aptidão ou de conhecimentos técnicos no exercício
de sua profissão ou arte, ou a falta de experiência ou o desleixo na
realização de sua condição profissional, provocando o resultado, quando
o agente se dispõe a fazê-la, mesmo sendo carecedor de conhecimento
técnico, teórico ou prático para tanto, ou, ainda, fazendo-o sem se louvar
desses conhecimentos.
Ex.: o médico que não tem conhecimento apurado
sobre cirurgia e assim mesmo a faz; o motorista profissional que não consegue
manter-se no leito carroçável da pista de rolamento, permitindo que,
por sua imperícia, o veículo saia da pista e capote etc.
Nada impede que, num mesmo tipo culposo, exista a conjugação de
modalidades de culpa, como a imprudência e a negligência, a imprudência e a
imperícia, a imperícia e a negligência, ou todas ao mesmo tempo.
Questões para debates
1. Diferencie os tipos de dolo que existem.
2. Descreva o que é um crime impossível.
3. Quais são as teorias sobre o crime impossível?
4. O que é um crime putativo?
5. Diferencie as modalidades de culpa.
6. Por que se diz que o crime culposo é um tipo penal aberto?
Atividade de aplicação
1. (FCC) Entre os elementos do crime doloso não se inclui a:
a) consciência do resultado.
b) noção da conduta.
c) imprudência, a imperícia e a negligência.
d) consciência do nexo causal entre conduta e resultado.
e) vontade de praticar a conduta e alcançar o resultado.
Dica de estudo
Sempre procurar recordar das diversas modalidades de dolo e de culpa
existentes no sistema penal. O crime impossível é verdadeiro “balão de
ensaio”.
Referências
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal. V. 1. Saraiva. São Paulo.
NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal comentado. 11ª ed. São Paulo, RT, 2012.
FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de Direito Penal - Parte Geral. 10. ed. Rio
de Janeiro: Editora Forense, 1986.
GARCIA, Basileu. Instituições de Direito Penal. Volume 1, Tomo I. 4. ed. São
Paulo: Ed. Max Limonad, 1958.
GOMES, Luiz Flávio; MOLINA, Antônio García-Pablos de. Direito penal: parte
geral. V. 2. RT. São Paulo.
HUNGRIA, Nélson. Comentários ao Código Penal. Volume 1, Tomo I. Rio de
Janeiro: Forense, 1953.
JESUS, Damásio Evangelista de. Direito Penal. Volume I, Parte Geral. 31. ed.
São Paulo: Saraiva, 2010.
MAGALHÃES NORONHA, Edgard de. Direito Penal. Volume I. 2. ed. São
Paulo: Saraiva, 1963.
MARQUES, José Frederico. Tratado de Direito Penal. Campinas: Bookseller,
1997.
MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. 24. ed. São Paulo: Atlas,
2008.
PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. Volume I, Parte Geral,
arts. 1.º a 120. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006.
ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Manual de Derecho Penal - Parte General.
Buenos Aires: Ediar, 1977.
Gabarito - Questões para debates
1. São tipos de dolo os seguintes: dolo direto ou determinado, quando es
tiver presente na ação ou omissão do agente a intenção, a vontade, o
querer o resultado, o desejar que, de sua ação ou omissão, exista um re
sultado esperado. Dolo indeterminado ou indireto é quando o elemento
volitivo da conduta não se dirige a um resultado certo e esperado. Dolo
alternativo é quando, existindo uma conduta, o agente pouco se impor-
ta com qual dos resultados venha a alcançar. Dolo eventual é quando o
agente assume o risco de produzir o resultado, ou seja, sabendo ele que o
resultado de sua conduta pode ocasionar dano, com ele pouco se impor
ta, acabando por, efetivamente, causá-lo. Dolo de dano é aquele em que
o agente deseja atuar para causar um dano a outrem, podendo esse dano
ser eventual ou diretamente voltado para o resultado. Dolo de perigo é
diverso, a intenção do agente não se destina ao maior mal, que é o dano,
contentando-se o agente somente com a exposição ao perigo. Dolo genérico é
aquele em que o agente simplesmente realiza a conduta descrita
na tipificação penal, sem se indagar mais qualquer outro elemento que
componha o tipo penal. Dolo específico, ao revés, exige, além da condu
ta, um especial fim de agir, uma finalidade voltada para a consecução do
resultado, prevista pelo agente no momento da realização do crime. Dolo
geral ou erro sucessivo é aquele em que o agente pratica nova ação, após
já ter realizado outra conduta, sendo que a primeira conduta já havia
produzido um evento lesivo.
2. Crime impossível é o “quase-crime”, “tentativa inidônea”, “tentativa
impossível” ou “tentativa inadequada”, e se dá quando o agente tem a
intenção deliberada de praticar um crime qualquer, mas lhe faltam
requisitos indispensáveis à conduta, que é exatamente o resultado
desejado. Por mais que o agente tente, utilize os meios de que dispõe
para a consecução do seu crime, não haverá possibilidade de alcançá-lo, ou
porque o objeto material do crime é impróprio ou o meio que buscou para
alcançá-lo é inadequado.
3. As teorias sobre o crime impossível são as seguintes: a) Sintomática no
sentido de que se deveria aplicar pena no agente, em razão de sua
periculosidade e indícios fortes e seguros de sua temibilidade penal. b)
Teoria subjetiva, que se tem em mente a finalidade buscada pelo agen te
na condução de seu ato. c) Teoria objetiva, que diz que não have ria
necessidade de reprimir a conduta do agente, pois não existiram os
elementos que compõem a tentativa e o bem jurídico não corre risco
algum. No Brasil, até 1984, vigorou essa teoria, porém, a teoria objetiva
temperada, em face do anterior regime da medida de segurança,
modificando para a teoria objetiva pura no sentido de que não é punível a
conduta quando houver a absoluta impropriedade do objeto ou a ab
soluta ineficácia do meio, pois deixou de existir a medida de segurança
para os agentes reconhecidamente perigosos.
4. O crime putativo é um “crime imaginário” ou “crime de ensaio”, ou seja,
é aquele crime em que o agente imagina que está praticando uma conduta
típica, mas, em verdade, o fato típico só existe na sua imaginação.
Houve um erro de interpretação do agente, que se supõe um
delinquente quan do não o é, naquele caso.
5. As modalidades de culpa são as seguintes: a) Imprudência consiste na
ação do agente que atua precipitadamente, sem consideração, sem
cautelas, deixando de usar os poderes que tinha para inibir a ação. É,
geralmente, uma ação positiva. b) Negligência é inércia psíquica, a falta de
cau tela necessária exigida para que o resultado não se realize. É a
displicência, a indiferença, a falta de realização de outra conduta que,
se fosse feita, impediria o resultado. É negativa. c) Imperícia é a falta
de aptidão ou de conhecimentos técnicos no exercício de sua profissão
ou arte, ou a falta de experiência ou o desleixo na realização de sua
condição profissional, provocando o resultado, quando o agente se dispõe a
fazê-la, mesmo sendo carecedor de conhecimento técnico, teórico ou prático
para tanto, ou, ainda, fazendo-o, sendo que o faz sem se louvar desses
conhecimentos.
6. Se diz que o crime culposo é um tipo penal aberto porque depende da
descrição da modalidade da culpa em que o agente tenha ocorrido para
a configuração do delito, não bastando, como no crime doloso, mera des
crição do fato típico. É necessário esclarecer de que forma agiu culposa
mente o agente que se acusa.
Gabarito - Atividade de aplicação
1. C
Breves Comentários sobre o Art. 18 Código Penal, por Rogério Sanches e Davi Castro Silva.
E questões de concursos.
Art. 18 – Diz-se o crime:
CRIME DOLOSO
I – doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo;
CRIME CULPOSO
II – culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia.
Parágrafo único – Salvo os casos expressos em lei ninguém pode ser punido por fato
previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente.
1. BREVES COMENTÁRIOS
O dolo é o elemento subjetivo implícito do tipo. Consiste na vontade consciente
dirigida à finalidade de realizar (ou aceitar realizar) a conduta prevista no tipo penal
incriminador.
Logo percebemos os elementos que estruturam o dolo:
A) Elemento intelectivo <-> consciência
B) Elemento volitivo <-> vontade
O Código Penal, ao definir dolo, adotou duas teorias:
A) Teoria da vontade -> “...quando o agente quis o resultado...”
B) Teoria do assentimento -> “...assumiu o risco de produzi-lo”
A teoria da vontade define o dolo direto:
. O agente prevê o resultado e seleciona meios para vê-lo realizado. Ex: Atirar
para matar.
A teoria do assentimento define o dolo eventual:
. O agente assume o risco de produzir o resultado, apesar de não corresponder
diretamente àquilo que propôs realizar de início. Exemplo: Roleta russa para
testar a sorte dos subordinados, racha etc.
Espécies de dolo:
Dolo direto de primeiro grau – O agente prevê resultado determinado e
seleciona meios para vê-lo realizado. Não existem efeitos colaterais necessários á
consecução da vontade do agente em razão dos meios escolhidos. Exemplo: “A”
quer matar “B”, para tanto, atira contra sua cabeça.
Dolo direto de segundo grau – O agente prevê resultado determinado e seleciona
meios para vê-lo realizado. A vontade do agente abrange os efeitos colaterais
necessários, em virtude dos meios escolhidos pelo agente, para realizar o fim
almejado. Exemplo: “A” quer matar “B”, que é motorista de ônibus. Para isso,
corta os cabos de freio do veículo em que “B” viajará, deixando-os na iminência
de se romperem. O dolo, quanto a B, é direito de primeiro grau, e quanto aos
demais passageiros que morrerão no acidente, é direito de segundo grau.
Dolo indireto alternativo – O agente prevê pluralidade de resultados, dirigindo
sua conduta para realizar um ou outro, com igual intensidade de vontade. Pode
ser objeto ou subjetivo. Objetivo quando se refere ao evento pretendido (o agente
atira para matar ou ferir “A”). Subjetivo quando se refere á vitima a ser atingida
(o agente atira para matar “A” ou “B”, que estão próximos um do outro).
Dolo indireto eventual – O agente prevê pluralidade de resultados, mas sua
intenção se dirige a realização de um, aceitando, porém, o outro(quero ferir, mas
aceito matar). Não se confunde com dolo direto de segundo grau.
Dolo normativo – Adotado pela teoria neokantista, essa espécie de dolo integra a
culpabilidade, trazendo, a par dos elementos consciência e vontade, também a
consciência atual da ilicitude (elemento normativo).
Dolo natural – Adotado pelo finalismo, compõe a conduta, despido da
consciência e vontade.
Dolo de dano – a vontade do agente é causar efetiva lesão ao bem jurídico
tutelado (ex: art. 121 do CP).
Dolo de perigo – O agente atua com a intenção de expor a risco o bem jurídico
tutelado (ex: art. 132 do CP).
Dolo genérico – O agente tem vontade de realizar a conduta descrita no tipo
penal, sem um fim específico.
Dolo específico – O agente tem vontade de realizar a conduta, visando um fim
específico.
Dolo geral (erro sucessivo) – Ocorre quando o agente, supondo já ter alcançado
um resultado por ele visado, pratica nova ação que efetivamente o provoca.
Crime culposo (art. 18, inc. II):
O crime culposo consiste numa conduta voluntária que realiza um fato ilícito não
querido pelo agente, mas que foi por ele previsto (culpa consciente) ou lhe era
previsível (culpa inconsciente) e que podia ser evitado se o autor atuasse com o
devido cuidado.
ATENÇÃO: No crime doloso, pune-se a conduta dirigida objetivamente a fim
ilícito; no crime culposo, pune-se a conduta mal dirigida, pó falta de cuidado do
agente.
São elementos estruturais do crime culposo:
A) Conduta inicial voluntária – ação ou omissão (a vontade limita-se a realização da conduta,
e não a do resultado naturalístico).
B) Violação de um dever de cuidado objetivo, podendo manifestar-se das seguintes formas
(modalidades de culpa):
1) Imprudência – O agente atua com afoiteza, ignorando os cuidados que o caso requer
( ex: a limpeza de arma carregada);
2) Negligência – é a ausência de precaução (deixar remédios ao alcance de uma criança).
3) Imperícia – é a falta de aptidão técnica para o exercício de arte ou profissão (ex:
acidente de trânsito causado por motorista sem habilitação).
C) Resultado naturalístico involuntário – logo todo crime culposo é material, ou seja não
haverá crime sem resultado lesivo a um bem jurídico tutelado.
ATENÇÃO: O art. 38 da lei 11.343/06 (Lei de Drogas), na modalidade “prescrever”,
caracteriza hipótese excepcional de delito culposo que prescinde do resultado
naturalístico, consumando-se com a simples entrega da receita ao paciente.
D) Nexo causal entre conduta e resultado;
E) Previsibilidade – é preciso que o agente tenha possibilidade de conhecer o perigo que a
sua conduta gera para determinado bem jurídico;
F) Tipicidade – salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto
como crime, senão quando o pratica dolosamente (art. 18, parágrafo único).
ESPÉCIES DE CULPA:
A) Culpa consciente (ou com previsão) – o agente prevê o resultado, mas espera que ele
não ocorra, supondo poder evitá-lo com a sua habilidade ou sorte.
B) Culpa inconsciente (ou sem previsão) – o agente não prevê o resultado, que,
entretanto, lhe era previsível.
C) Culpa Própria – é aquela em que o agente não quer e não assume o risco de produzir o
resultado.
D) Culpa imprópria (culpa por extensão por assimilação, por equiparação) – prevista
no art. 20, parágrafo 1, 2 parte, do CP, nesta espécie de culpa o agente, por erro evitável,
fantasia certa situação de fato, supondo estar agindo acobertado por uma excludente de
ilicitude (descriminante putativa), e, em razão disso, provoca intencionalmente um
resultado ilícito ( exemplo:supondo, erroneamente, que seu desafeto vai agredi-lo, o
agente saca de uma arma atirando ate matar o agressor). Apesar de a ação ser dolosa, o
agente, considerado a evitabilidade do erro, responde por culpa.
ATENÇÃO: A estrutura do crime é dolosa, porém, por razões de política criminal, é
punível como se o culposo fosse. Por esse motivo, há doutrina admitindo tentativa nessa
modalidade de culpa (imprópria).
2. QUESTÕES DE CONCURSOS
01. (Magistrado Trabalhista – TRT¹ - 2010) Com referência ao dolo e á culpa, assinale a
opção correta.
a) Em relação ao dolo, o Código Penal brasileiro adotou a teoria da representação,
segundo a qual a conduta dolosa é o comportamento de quem tem consciência do
fato e de seu significado, e, ao mesmo tempo, a vontade de realizá-lo.
b) A teoria naturalista ou causal da conduta adotava a espécie de dolo denominada
natural, que, em vez de constituir elemento da conduta era considerado requisito da
culpabilidade, como três elementos: elementos, vontade e consciência da ilicitude
(dolus malus).
c) Considere a seguinte situação hipotética. Um jovem desferiu, com intenção
homicida, golpes de faca em seu vizinho, que caiu desacordado. Acreditando ter
atingido seu objetivo, enterrou o que supunha ser o cadáver no meio da mata. A
perícia constatou, posteriormente, que o homem falecera em razão de asfixia
decorrente da ausência de ar no local em que foi enterrado. Nessa situação, ocorreu
o que a doutrina denomina de aberratio causae, devendo o agente responder pelo
delito de homicídio simples consumado, por ter agido com dolo geral.
d) Considere a seguinte situação hipotética. Paulo, chefe de família, percebeu que
alguém entrou pelos fundos, á noite, em sua residência, em local com altos índices
de violência. Pensando tratar-se de assalto, posicionou-se, com a luz apagada, de
forma dissimulada, e desferiu golpes de faca no suposto meliante, com intenção de
matá-lo, certo de praticar ação perfeitamente lícita, amparada pela legítima
defesa.Verificou-se, posteriormente, que Paulo ceifou a vida de seu filho de doze
anos de idade. N essa situação, Paulo agiu com culpa inconsciente, devendo
responder por homicídio culposo.
e) No ordenamento jurídico brasileiro, de acordo com a doutrina majoritária, a ausência
de previsibilidade subjetiva – a possibilidade de o agente, dadas suas condições
peculiares, prever o resultado – exclui a culpa, uma vez que é seu elemento.
02)( Promotor de justiça – MP/MG – 2010) Sobre a diferenciação entre dolo
eventual e culpa consciente, é INCORRETO afirmar que,
a) De acordo com a teoria intelectiva da representação, não existe culpa consciente,
pois a diferença entre dolo e culpa reside no conhecimento do agente quanto aos
elementos do tipo objetivo.
b) De acordo com a teoria intelectiva do perigo a descoberto, existe dolo eventual
quando a sorte ou o acaso decidem a ocorrência do resultado.
c) De acordo com a teoria volitiva da indiferença, o dolo eventual pode ser visto
como expressão de dolo de perigo resultante de infração a medidas
regulamentares de segurança.
d) De acordo com a teoria volitiva da assunção, para a configuração do dolo
eventual, basta a previsão ou conhecimento do resultado.
03) (Promotor de justiça – MP/PB – 2010 – Adaptada) No dolo direto de
primeiro grau ou imediato, o resultado típico é uma conseqüência necessária dos
meios eleitos, que devem ser abrangidos pela vontade tanto quanto o fim
colimado, razão pela qual é doutrinariamente reconhecido como dolo de
consequências necessárias.
04) (Promotor de justiça – MP/SC – 2009- Adaptada) Enquanto no dolo
eventual não é suficiente que o agente tenha se conduzido de maneira a assumir o
risco de produzir o resultado, exigindo-se que tenha ele consentido com sua
produção, na culpa consciente, o agente não prevê o resultado, que é previsível.
Já na culpa inconsciente, o agente prevê o resultado, mas espera que ele não
aconteça.
05) (Promotor de justiça – MP/SC – 2009 – Adaptado) O dolo pode ser direto
(ou determinado) ou indireto (ou indeterminado). Nesta última hipótese (dolo
indireto), pode ser eventual (o agente, conscientemente, admite e aceita o risco
de produzir o resultado) ou alternativo (a vontade do agente visa a um ou outro
resultado).
06) (Analista – TER/MT – 2010 – Adaptado) O Código Penal, em sua parte
geral estabelece, como regra, a possibilidade de o sujeito ativo do crime
responder por crime culposo quando a lei não prevê a punição a título doloso,
sem necessidade de previsão expressa do tipo culposo na parte especial.
07) (Defensor Público – DPE/AL – 2009) São elementos do fato típico culposo:
conduta, resultado involuntário, nexo causal, tipicidade, ausência de previsão,
quebra do dever de cuidado objetivo por meio da imprudência, negligência ou
imperícia e previsibilidade subjetiva.
08) (Magistrado Federal – TRF – Adaptado) Nos crimes culposos, o tipo
penal é aberto, o que decorre da impossibilidade do legislador da antever todas as
formas de realização culposa; assim, o legislador prevê apenas genericamente a
ocorrência da culpa, sem defini-la, e, no caso concreto o aplicador deve
comparar o comportamento do sujeito ativo com o que uma pessoa de prudência
normal teria, na mesma situação.
09) (Promotor de Justiça – MP/PR – 2009 – Adaptada) O autor A faz explodir
eletronicamente bomba previamente instalada no veículo do motorista B, com a
finalidade de matá-lo, e a explosão da bomba produz, também, a morte de C, que
o autor sabia que estava no veículo: a morte de B é atribuível ao autor a título de
dolo direto de primeiro grau, e morte de C, representada como necessária pelo
autor, é atribuível a este a título de dolo direto de segundo grau.
GAB: 1C, 2D, 3F, 4F, 5V, 6F, 7F, 8V, 09V.
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