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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
ESCOLA DE FARMCIA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIAS FARMACUTICAS
AVALIAO DOS EFEITOS DO EXTRATO DE CASCA DE
UVA E DO FLAVONIDE CRISINA EM MODELO DE
HIPERTENSO EM RATOS
OURO PRETO
MINAS GERAIS - BRASIL
2011
UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
ESCOLA DE FARMCIA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIAS FARMACUTICAS
AVALIAO DOS EFEITOS DO EXTRATO DE CASCA DE
UVA E DO FLAVONIDE CRISINA EM MODELOS DE
HIPERTENSO EM RATOS
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Cincias Farmacuticas, como parte das exigncias para obteno do ttulo de Mestre em Cincias Farmacuticas.
Orientador: Prof. Dr. Tanus Jorge Nagem
Co-Orientadora: Dr Tnia Toledo de Oliveira
Leonardo Henrique Vasconcelos
Catalogao: sisbin@sisbin.ufop.br
V331a Vasconcelos, Leonardo Henrique.
Avaliao dos efeitos do extrato de casca de uva do flavonide crisina em modelo de hipertenso em ratos [manuscrito] / Leonardo Henrique Vasconcelos. 2011.
113 f.: il.; grafs., tabs. Orientador: Prof. Dr. Tanus Jorge Nagem. Co-orientadora: Profa. Dra. Tnia Toledo de Oliveira. Dissertao (Mestrado) - Universidade Federal de Ouro Preto. Escola de Farmcia. Programa de Ps-graduao em Cincias Farmacuticas. rea de concentrao: Frmacos e Medicamentos
1. Flavonides - Teses. 2. Hipertenso - Teses. 3. xido ntrico - Teses. 4. Rato como animal de laboratrio - Teses. I. Universidade Federal de Ouro Preto. II. Ttulo.
CDU: 547.972.2:616.12-008.331.1
3
Dedico esta dissertao a meus
pais, por todo amor
e dedicao.
4
AGRADECIMENTOS
Ao professor Dr. Tanus Jorge Nagem, pela orientao oferecida. Pela generosidade, esforo e
apoio quando tudo parecia perdido;
professora Dr Tnia Toledo de Oliveira pela disposio e perseverana. Seu apoio foi
fundamental na efetivao deste mestrado;
Ao professor Jorge Luiz Humberto e ao Laboratrio de Qumica Orgnica, pela amizade,
aceitao e orientao nos trabalhos iniciais;
Ao professor Srgio Pacheco pela ajuda e ateno empenhados na elaborao do trabalho
A minha famlia por todo apoio, carinho e compreenso;
A Graciene pelo amor e companheirismo. Tudo ficou mais fcil ao seu lado;
A famlia Dias e Reis, pela amizade;
equipe do Laboratrio de Pesquisa de Produtos Naturais (LAPPRONA) do Instituto de
Cincias Exatas e Biolgicas da Universidade Federal de Ouro Preto;
equipe do Laboratrio Biofrmacos II do Departamento de Bioqumica e Biologia Molecular
da Universidade Federal de Viosa;
Aos colegas da turma de mestrado, pela amizade.
5
SUMRIO
LISTA DE TABELAS..................................................................................................................... 8
LISTA DE FIGURAS .................................................................................................................. 10
ABREVIATURAS ....................................................................................................................... 12
RESUMO ..................................................................................................................................... 14
ABSTRACT ................................................................................................................................ 15
1. INTRODUO ........................................................................................................................ 16
2. OBJETIVOS ............................................................................................................................ 18
2.1 Objetivo geral ............................................................................................................. 18
2.2 Objetivos especficos .................................................................................................. 18
3. REVISO DE LITERATURA ................................................................................................ 19
3.1. Hipertenso ................................................................................................................ 19
3.1.1 Frmacos utilizados na terapia da hipertenso......................................................... 23
3.1.2 Modificaes no estilo de vida................................................................................. 24
3.2. xido Ntrico.............................................................................................................. 25
3.3 Flavonides.................................................................................................................. 30
3.3.1 Metabolismo de flavonides........................................................................ 30
3.3.2 Toxicidade dos flavonides.......................................................................... 36
3.3.3 Flavonides na presso arterial..................................................................... 37
3.3.3.1 Poder antioxidante................................................................... 39
3.3.3.2 Inibio da oxidao de LDL e da agregao plaquetria....... 40
3.3.3.3 Atividade sobre a enzima eNOS.............................................. 41
3.3.3.4 Ativao de canais de K+ no msculo liso vascular................ 42
6
3.3.3.5 Sistema renina-angiotensina.................................................... 43
3.4 Plantas pesquisadas na hipertenso.............................................................................. 47
3.5 Vinho tinto................................................................................................................... 52
3.5.1 Poder antioxidante......................................................................................... 55
3.5.2 Promoo de eNOS por Ca2+........................................................................ 56
3.5.3 Inflamao Ao antiplaquetria e antiagregante...................................... 57
3.5.4 Efeitos sobre endotelina................................................................................ 59
3.5.5 Efeitos sobre a enzima Na+,K+-ATPase........................................................ 60
3.6 Resveratrol.................................................................................................................. 62
3.7 Crisina......................................................................................................................... 67
4. MATERIAL E MTODOS ...................................................................................................... 71
4.1. Material vegetal ......................................................................................................... 71
4.1.1. Obteno da tintura dos frutos da Vitis labrusca L. var. Isabel................... 71
4.2. Animais ...................................................................................................................... 72
4.2.1. Adaptao .................................................................................................... 72
4.2.2. Induo da hipertenso ................................................................................ 72
4.2.3.Tratamentos .................................................................................................. 73
4.2.4 Testes ........................................................................................................... 74
4.2.5 Eutansia ...................................................................................................... 75
4.2.6. Aspectos ticos ........................................................................................... 75
4.3. Frmacos e Instrumentos............................................................................................ 75
4.4. Anlise estatstica ...................................................................................................... 75
5. RESULTADOS E DISCUSSO .............................................................................................. 77
5.1 Presso arterial sistlica............................................................................................... 77
5.2 Parmetros bioqumicos.............................................................................................. 80
5.2.1 Clcio............................................................................................................ 80
5.2.2. Ferro............................................................................................................. 82
5.2.3 Magnsio...................................................................................................... 84
5.2.4 Fosfato.......................................................................................................... 86
7
5.2.5 Glicose.......................................................................................................... 88
5.2.6 Colesterol...................................................................................................... 90
5.2.7 Triglicrides.................................................................................................. 91
5.2.8 HDL.............................................................................................................. 93
5.2.9 Protena......................................................................................................... 95
5.2.10 Albumina.................................................................................................... 96
6. CONSIDERAES FINAIS.................................................................................................... 99
7. CONCLUSES ...................................................................................................................... 100
8. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ................................................................................... 101
8
LISTA DE TABELAS Tabela 1- Classificao da Presso Arterial.......................................................... 20 Tabela 2- Fatores importantes para quantificar o risco cardiovascular......................................... 21 Tabela 3- Agentes anti-hipertensivos disponveis no Brasil......................................................... 23 Tabela 4- Modificaes no estilo de vida para prevenir e controlar hipertenso.......................... 24 Tabela 5- Fatores capazes de elevar ou diminuir a funo do e-NOS.......................................... 29 Tabela 6- Plantas com efeito anti-hipertensivo............................................................................. 48 Tabela 7- Efeitos do resveratrol na funo endotelial em ratos.................................................... 63 Tabela 8 - reas sobre a curva concentrao plasmtica X tempo (AUC) e recuperao urinria de crisina e metablitos aps uma dose oral nica de 400 mg de crisina...................................... 69 Tabela 9- Constituio dos grupos experimentais......................................................................... 74 Tabela 10. Valores mdios de presso arterial sistlica desvio padro de ratos machos Wistar aos 21 dias comparados a animais sadios e doentes...................................................................... 77 Tabela 11. Efeitos dos polifenis sobre a presso arterial............................................................. 79 Tabela 12. Valores mdios de clcio desvio padro de soro de ratos machos Wistar aos 21 dias comparados a animais sadios e doentes......................................................................................... 80 Tabela 13. Valores mdios de ferro desvio padro de soro de ratos machos Wistar aos 21 dias comparados a animais sadios e doentes......................................................................................... 83 Tabela 14. Valores mdios de magnsio desvio padro de soro de ratos machos Wistar aos 21 dias comparados a animais sadios e doentes................................................................................. 85 Tabela 15. Valores mdios de fosfato desvio padro de soro de ratos machos Wistar aos 21 dias comparado a animais sadios e doentes.......................................................................................... 87
9
Tabela 16. Valores mdios de glicose desvio padro de soro de ratos machos Wistar aos 21 dias comparado a animais sadios.......................................................................................................... 89 Tabela 17. Valores mdios de colesterol desvio padro de soro de ratos machos Wistar aos 21 dias comparados a animais sadios e doentes................................................................................. 90 Tabela 18. Valores mdios de triacilglicerol desvio padro de soro de ratos machos Wistar aos 21 dias comparados a animais sadios e doentes............................................................................ 92 Tabela 19. Valores mdios de HDL desvio padro de soro de ratos machos Wistar aos 21 dias comparados a animais sadios e doentes......................................................................................... 94
Tabela 20 Valores mdios de protenas totais desvio padro de soro de ratos machos Wistar aos 21 dias comparados a animais sadios...................................................................................... 95 Tabela 21. Valores mdios de albumina desvio padro de soro de ratos machos Wistar aos 21 dias comparados a animais sadios e doentes................................................................................. 97
10
LISTA DE FIGURAS Figura 1. Reao de Sntese do NO catalisada pela enzima eNOS............................................... 25 Figura 2. Mecanismo de relaxamento pelo NO do msculo liso vascular.................................... 26 Figura 3. Formao de NO via eNOS............................................................................................ 27 Figura 4 Reao de degradao do NO por radicais livres......................................................... 27 Figura 5. Ncleo fundamental dos flavonides e sua numerao................................................. 31 Figura 6. Ligao O-heterosdeo e Ligao C-heterosdeo........................................................... 31 Figura 7. Estruturas qumicas de algumas classes de flavonides................................................ 33 Figura 8. Vias de transporte e metabolismo de flavonoides no lmem e entercito do trato digestivo......................................................................................................................................... 36 Figura 9. Esquema do mecanismo de regulao do transporte de gua no tbulo rena................ 45 Figura 10 Estrutura qumica do Resveratrol............................................................................... 62 Figura 11. Mecanismos da melhora da funo vascular induzida por resveratrol........................ 64 Figura 12. Molcula de Crisina.................................................................................................... 67 Figura 13. Fluxograma da obteno da tintura.............................................................................. 72 Figura 14. Inibio da produo de NO por L-NAME.................................................................. 73 Figura 15. Valores mdios de presso arterial sistlica (mmHG) de soro de ratos machos Wistar aos 21 dias de tratamento............................................................................................................... 77 Figura 16. Valores mdios de clcio (mEq/L) de soro de ratos machos Wistar aos 21 dias de tratamento...................................................................................................................................... 80 Figura 17. Valores mdios de ferro (mEq/L) de soro de ratos machos Wistar aos 21 dias de tratamento...................................................................................................................................... 82
11
Figura 18. Valores mdios de magnsio (mEq/L) de soro de ratos machos Wistar aos 21 dias de tratamento...................................................................................................................................... 84 Figura 19. Valores mdios de fosfato (mEq/L) de soro de ratos machos Wistar aos 21 dias de tratamento...................................................................................................................................... 86 Figura 20. Valores mdios de glicose (mg/dL) de soro de ratos machos Wistar aos 21 dias de tratamento...................................................................................................................................... 88 Figura 21. Valores mdios de colesterol (mg/dL ) de soro de ratos machos Wistar aos 21 dias de tratamento...................................................................................................................................... 90 Figura 22. Valores mdios de triglicrides (mg/dL) de soro de ratos machos Wistar aos 21 dias de tratamento...................................................................................................................................... 91
Figura 23. Valores mdios de HDL (mg/dL) de soro de ratos machos Wistar aos 21 dias de tratamento...................................................................................................................................... 93 Figura 24. Valores mdios de protenas totais (g/L) de soro de ratos machos Wistar aos 21 dias de tratamento...................................................................................................................................... 95
Figura 25. Valores mdios de albumina (g/dL) de soro de ratos machos Wistar aos 21 dias de tratamento...................................................................................................................................... 96
12
ABREVIATURAS
mol = micromol
AMPc = adenosina monofosfato-cclico
ANG II = angiotensina II
ARE = elemento de resposta eletroflico dependente de transcrio de fase 2
ATP = adenosina trifosfato
ADP = adenosina difosfato
CaM = enzima clcio/calmodulina
DL = dose letal
DNA = cido desoxirribonucleico, em ingls
ECA = enzima conversora de angiotensina
eNOS = xido ntrico sintase endotelial
et al = e outros
G = gramas
GAE/L = cidos glicos equivalentes
GMPc = guanosina 3,5- monofosfato cclico
GTP = guanosina trifosfato
HDL = lipoprotena de alta densidade
Hspr90 = protena chaperona heat shock 90
ICAM-1 = molcula de adeso intracelular
Kg = kilograma
L = litros
LDL = lipoprotena de baixa densidade
L-NAME = N-nitro-L-arginina metil ster
L-NMMA = N-MonoMetil Arginina
MG = miligrama
mmHg = milmetros de mercrio
MnSOD = superxido dismutase dependente de mangans
MRP = protenas de resistncia a multidrogas
Na+ = sdio ionizado
13
NADPH = Nicotinamide Adenine Dinucleotide Phosphate (nicotinamida adenina dinucleotdeo
fosfato na forma reduzida)
NO = xido ntrico
NRF2 = fator de transcrio nuclear
O2- = nions superxidos
PA = presso arterial
PCR = protena C reativa
PAD = presso arterial diastlica
PAS = presso arterial sistlica
PVT = polifenis do vinho tinto
RNA = cido ribonucleico, em ingls
sGC = guanilil ciclase solvel
SLGT1= transportador de Na+/glicose/gua
SIRT1 = Sirtuin 1 protena desacetilase
TNF-alfa = Fator-alfa de Necrose Tumoral
VCAM-1 = molcula de adeso vascular celular
14
RESUMO
A hipertenso arterial sistmica a mais frequente das doenas cardiovasculares.
tambm o principal fator de risco para as complicaes mais comuns como acidente vascular
cerebral e infarto agudo do miocrdio, alm da doena renal crnica terminal. No Brasil so cerca
de 17 milhes de portadores de hipertenso arterial, 35% da populao de 40 anos e mais. A
hipertenso arterial apresenta custos mdicos e socioeconmicos elevados. Neste trabalho
investigou-se o efeito da tintura da casca da uva Vitis labrusca L. var. Isabel e do flavonide
crisina em ratos com hipertenso induzida com metodologia utilizada na prtica clnica para
medida da presso. Os animais utilizados foram fornecidos pelo Biotrio do Centro de Cincias
da Sade da Universidade Federal de Viosa, sendo 66 ratos da raa Wistar, machos, peso entre
210-250 g, divididos em onze grupos, sendo um grupo de animais sadios, um grupo de animais
doente sem tratamento, trs grupos que receberam trs doses de tintura das cascas da uva, outros
trs com doses de crisina e mais trs com doses de losartan. Os animais foram induzidos com
60 mg/kg de L-NAME por via intraperitoneal durante 7 dias e ento tratados por 21 dias. A
presso arterial e os parmetros sanguneos protena, albumina, clcio, ferro, magnsio, fosfato,
HDL, colesterol, triglicerdeos e glicose foram analisados ao final do tratamento. Os dados foram
analisados pelo teste de ANOVA, seguido pelo teste de Tukey e Dunnet. Os teste de Dunnet
foram realizados para o grupo de animais sadios como base de comparao e tambm para o
grupo dos animais doentes no tratados. Os valores para os ons investigados clcio, ferro,
magnsio e fosfato indicam que o metabolismo das clulas endoteliais afetado pelo tratamento
com o indutor L-NAME e pelos tratamentos com a tintura e a crisina, sendo observado que os
valores seguem as necessidades impostas a cada grupo. Os valores de HDL, colesterol,
triglicerdeos e glicose mostram um quadro em que os valores de colesterol elevados deve ser
consequncia da deficincia de NO e dos danos vasculares resultantes do desequilbrio na
homeostase do sistema vascular. Os resultados encontrados para a aferio da presso arterial
sistlica, conforme a prtica clnica, mostram que os tratamentos com tintura de uva foram os
mais eficientes, at mesmo que os tratamentos com losartan, medicamento de uso aprovado. Os
resultados do tratamento com crisina tambm foram efetivos, embora um pouco abaixo do que o
tratamento com losartan.
15
ABSTRACT
Hypertension is the most common cardiovascular diseases. It is also the main risk factor
for the most common complications such as stroke and myocardial infarction, and chronic renal
disease. In Brazil there are about 17 million hypertensive patients, 35% of the population 40
years and more. Hypertension has high medical and socioeconomic costs. In this study we
investigated the effect of the dye from the bark of grape Vitis labrusca var. Isabel and the
flavonoid chrysin in rats with hypertension induced with the methodology used in clinical
practice for pressure measurement. The animals used were supplied by Biotrio do Centro de
Cincias da Sade da Universidade Federal de Viosa, 66 Wistar rats, male, weighing 210-250 g
were divided into eleven groups, one group of healthy animals, a group of sick animals without
treatment, three groups receiving three doses of tincture of the grape skins, three doses of chrysin
and three doses of losartan. The animals were induced with 60 mg / kg L-NAME
intraperitoneally for 7 days and then treated for 21 days. Blood pressure and blood parameters
protein, albumin, calcium, iron, magnesium, phosphate, HDL cholesterol, triglycerides and
glucose were analyzed after the treatment. Data were analyzed by ANOVA followed by Tukey
and Dunnet. The Dunnett test were performed for the group of healthy animals as a basis for
comparison and also for the group of untreated animals. The values for the ions investigated
calcium, iron, magnesium and phosphate indicate that the metabolism of endothelial cells is
affected by treatment with the inducer L-NAME and by treatments with dye and chrysin, and we
observed that the values follow the requirements imposed on individual group. The levels of
HDL cholesterol, triglycerides and glucose showed a picture in which high cholesterol levels may
be due to deficiency of NO and vascular damage resulting from the imbalance in the homeostasis
of the vascular system. The results for the measurement of systolic blood pressure, according to
clinical practice, show that treatment with tincture of grape were the most efficient, even that
treatment with losartan, a medication approved for use. The results of treatment with chrysin
were also effective, although slightly lower than treatment with losartan.
16
1. INTRODUO
A hipertenso arterial sistmica a mais frequente das doenas cardiovasculares.
tambm o principal fator de risco para as complicaes mais comuns como acidente vascular
cerebral e infarto agudo do miocrdio, alm da doena renal crnica terminal. (Brasil, 2006)
No Brasil, so cerca de 17 milhes de portadores de hipertenso arterial, 35% da
populao de 40 anos e mais. E esse nmero crescente; seu aparecimento est cada vez mais
precoce e estima-se que cerca de 4% das crianas e adolescentes tambm sejam portadoras. A
carga de doenas representada pela morbimortalidade devida doena muito alta e, por tudo
isso, a hipertenso arterial um problema grave de sade pblica no Brasil e no mundo. (Brasil, 2006)
As doenas cardiovasculares foram responsveis por 27,4% dos bitos no Brasil em 2003,
alcanando 37% quando so excludos os bitos por causas mal definidas e a violncia. (Sociedade
Brasileira de Hipertenso, 2006)
A elevao da presso arterial representa um fator de risco independente, linear e
contnuo para doena cardiovascular. A hipertenso arterial apresenta custos mdicos e
socioeconmicos elevados, decorrentes principalmente das suas complicaes, tais como: doena
cerebrovascular, doena arterial coronariana, insuficincia cardaca, insuficincia renal crnica e
doena vascular de extremidades. (Sociedade Brasileira de Hipertenso, 2006)
A hipertenso arterial e as doenas relacionadas presso arterial so responsveis por
alta frequncia de internaes. As internaes por doenas cardiovasculares em 2005 atingiram a
marca de 1.180.184, com custo total de R$ 1.323.775.008,28. (Sociedade Brasileira de Hipertenso, 2006)
O mtodo mais utilizado para medida da presso arterial na prtica clnica o indireto,
com tcnica auscultatria e esfigmomanmetro de coluna de mercrio ou aneroide. (Sociedade Brasileira
de Hipertenso, 2006)
Os flavonides so polifenis encontrados em grande quantidade nas frutas e nos
vegetais. O termo flavonide derivado do latim flavus, que significa amarelo, recebendo este
nome por ter sido encontrado originalmente em alimentos de colorao amarelada. (Sociedade Brasileira
de Hipertenso, 2006)
Os polifenis so os princpios ativos de uma grande variedade de plantas medicinais
usadas para a proteo vascular, entretanto seus mecanismos de ao no so completamente
entendidos, embora, sabe-se que tais substncias diminuem os nveis sricos de lipoprotena de
17
baixa densidade (LDL), diminuem a agregao plaquetria e possuem conhecida ao
antioxidante. (Andriambeloson et. al 1997)
O vinho tinto contm diferentes tipos de polifenis, como catequinas, proantocianidinas,
antocianinas, flavonis e cidos fenlicos. (Andriambeloson et. al 1997)
Estudos demonstraram que a ingesto de suco de uva roxa melhora a vasodilatao
mediada por fluxo, a funo plaquetria e a resposta inflamatria dependente de plaqueta em
pacientes com doena arterial coronariana, e reduz a presso sangunea em pacientes com
hipertenso moderada. (Anselm et al 2007)
Os polifenis do vinho tinto (PVT) e suco de uvas podem induzir vasorrelaxamento
endotlio dependente, provavelmente por via da liberao de xido ntrico (NO) ou aumento da
atividade da enzima xido ntrico sintase endotelial (eNOS) levando a uma elevada acumulao
de guanosina 3,5- monofosfato cclico (GMPc). (Andriambeloson et. al 1997)
A crisina um flavonide vastamente distribudo na natureza e possui vrias atividades
biolgicas j relatadas, como efeitos antioxidantes, antiviral, antidiabtico, anti-ansioltico e
inibidor da aromatase (Zheng et al, 2003). Entretanto, os estudos sobre seus efeitos cardiovasculares
ainda so poucos. (Peng et al, 2009.
A importncia do trabalho est na anlise dos efeitos de uma qualidade de uva muito
consumida no Brasil (Vitis labrusca var. Isabel), porm, pouco estudada para a hipertenso
arterial, utilizando-se de mtodo de aferio praticado na clnica para mimetizar as condies
reais a que a populao est exposta. Diante dos resultados obtidos, verificar a possibilidade do
desenvolvimento de medicamento fitoterpico para controle da hipertenso a partir do extrato da
casca da Vitis labrusca var. Isabel.
18
2. OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral
Avaliar o efeito da tinturas obtidas dos frutos de Vitis labrusca L. var. Isabel e do
flavonide crisina na presso arterial sistlica seguindo a metodologia usada na prtica clnica e
nos parmetros sanguneos em ratos Wistar machos com hipertenso induzida por N-nitro-L-
arginina metil ster (L-NAME), aps 21 dias de tratamento
2.2 Objetivos especficos
- Avaliar o efeito na presso arterial sistlica de ratos Wistar machos, com hipertenso
induzida conforme utilizado na clnica, de trs doses de tintura obtida das cascas de Vitis
labrusca L. var. Isabel;
- Avaliar o efeito na presso arterial sistlica de ratos Wistar machos, com hipertenso
induzida, de trs doses de crisina;
- Avaliar o efeito de trs doses de tintura obtida das cascas de Vitis labrusca L.var. Isabel nos
parmetros sanguneos protenas totais, albumina, clcio, ferro, magnsio, fosfato, lipoprotena de
alta densidade (HDL), colesterol, triacilglicerol e glicose;
- Avaliar o efeito de trs doses de crisina nos parmetros sanguneos protenas totais,
albumina, clcio, ferro, magnsio, fosfato, HDL, colesterol, triglicerdeos e glicose;
- Avaliar o efeito do losartan na presso arterial e nos parmetros sanguneos protenas
totais, albumina, clcio, ferro, magnsio, fosfato, HDL, colesterol, triacilglicerol e glicose.
19
3. REVISO DE LITERATURA
3.1 Hipertenso
As doenas cardiovasculares so responsveis pela maior mortalidade nas Amricas e
esto aumentando em incidncia atravs do mundo (Shaughnessya et al, 2009). A hipertenso o
diagnstico mais comum na Amrica, com cerca de 35 milhes de visitas a consultrios
anualmente (NIH, 2004) e o fator de risco mais importante para doenas cardiovasculares, sendo, de
forma direta ou indireta, uma das principais causas de morte (Mancia et al, 2003). definida como a
presso arterial alta em 140/90 milmetros de mercrio (mmHg) ou maior, sendo um dos
principais fatores de risco para o infarto do miocrdio e acidente vascular cerebral e a causa
lder de falha renal crnica; em geral, quanto maior a presso arterial (PA), maior o risco. (Shaughnessya et al, 2009)
Numerosos fatores de risco identificados promovem a patognese das doenas
aterosclerose e trombose, incluindo fumo, dislipidemia, hipertenso, diabetes, queda nos nveis
de estrognio e elevao dos nveis de homocistena. Coletivamente, como individualmente,
esses fatores de risco podem contribuir para o estresse oxidativo do sistema cardiovascular. O
estresse oxidativo no endotlio vascular reduz a disponibilidade do NO, resultando em disfuno
endotelial que pode manifestar-se como agregao plaquetria elevada, vasoconstrio e
inflamao. Qualquer uma dessas alteraes pode resultar em incio de leso vascular e progredir
para ruptura de placa, vasoespasmo e trombose. (Hackman et al, 2008)
O endotlio vascular desempenha um papel crucial na regulao e manuteno do tnus
vascular. A disfuno endotelial, geralmente apontada como uma reduo do relaxamento
vascular mediada pelo endotlio, tem sido relatada em artrias hipertensas e diabticas (Ajay et al,
2007), sendo um evento inicial no desenvolvimento da aterosclerose, presente mesmo antes da
ocorrncia de mudanas estruturais na vasculatura. Todos os principais fatores de riscos para
aterosclerose como hiperlipidemia, diabetes, hipertenso e fumo so associados com a disfuno
endotelial (Li e Forstermann, 2009). A causa exata do desenvolvimento de hipertenso essencial continua
desconhecida. (Shaughnessya et al 2009)
A hipertenso causa um estresse sobre as paredes dos vasos sanguneos, e estas no so
capazes de resistir, especialmente se elas estiverem enfraquecidas por outras doenas como a
aterosclerose ou o diabetes melitus. O resultado um micro sangramento, ou um aneurisma, que
20
a formao de uma expanso que leva ruptura do vaso sanguneo. Tal ruptura leva morte do
paciente dentro de poucos minutos. Os microvazamentos, que podem ser difceis de se detectar,
no representam uma ameaa imediata, mas eles devem ser impedidos antes que a perda de
sangue circulante se torne perigosa, ou que o tecido em volta seja extensivamente danificado por
componentes do sangue, como as enzimas proteases e os fagcitos. O estresse mental severo
um fator agravante porque eleva a presso sangunea e aumenta a leso. No processo de
reparao, a colagenase provoca a hidrlise de protenas fibrosas, mas, simultaneamente,
enfraquece ainda mais a parede dos vasos sanguneos (Havsteen et al, 2002).
A presso arterial classificada de acordo com os nveis pressricos, conforme tabela
abaixo:
Tabela 1: Classificao da Presso Arterial Presso arterial
tima
Normal
Normal-Elevada
Hipertenso
Grau 1
Grau 2
Grau 3
Hipertenso sistlica isolada
21
das pessoas com hipertenso, especialmente aquelas acima de 50 anos de idade, ir alcanar a
meta para PAD quando a meta para a PAS for alcanada, o foco primrio deve ser atingir a meta
PAS (NIH, 2004). Em testes clnicos, a terapia anti-hipertensiva tem sido associada com redues em
eventos de derrames (mdia de 37%), em infarto do miocrdio (mdia de 23%) e em falha
cardaca (mdia acima de 50%). Estima-se que em pacientes com hipertenso em estgio I (PAS
140159 mmHg e/ou PAD 90-99 mmHg) e fatores de risco cardiovasculares adicionais, ao se
atingir uma reduo sustentada de 12 mmHg na PAS por mais de 10 anos, ir prevenir uma morte
para cada 11 pacientes tratados (NIH, 2004). Alm das intervenes farmacolgicas, as modificaes
no estilo de vida, como mudanas na dieta, (tabela 4) so consideradas crticas para prevenir e
tratar a hipertenso (Shaughnessya et al, 2009).
Diversos fatores de risco esto associados a complicaes cardiovasculares, conforme a
tabela 2:
Tabela 2: Fatores importantes para quantificar o risco cardiovascular
Fatores de risco Dano ao rgo alvo (subclnico) Eventos clnicos
Idade, sexo (masculino)
Hipertenso
Estresse
Colesterol total elevado
Fumante de tabaco, tolerncia
diminuda a glicose, diabetes
Histrico familiar de eventos
cardiovasculares
HDL colesterol baixo
LDL colesterol elevado
Triglicrides elevado
Sobrepeso/Obesidade (IMC >
25kg/m2)
Menopausa
Posio social/econmica**
Educao
Hipertrofia ventricular esquerda
Microalbuminria
Creatinina > 1.3mg/dl
Aumento da espessura da
ntima-mdia da cartida
Retinopatia hipertensiva (grau
III/IV)
Rigidez vascular aumentado
Doena coronariana
Infarto do miocrdio
Derrame
Doena arterial perifrica
Falha cardaca crnica
Doena renal crnica
IMC, ndice de massa corprea; HDL, lipoprotena de alta densidade; LDL, lipoprotenca de baixa densidade; ** Sem casa, educao primria, desempregado.Adaptado de Sanchez et. al. (2009)
Tem se tornado evidente que o estresse oxidativo desempenha um papel na hipertenso
humana e na experimental com animais (Shaughnessya et al 2009). A diminuio da produo e/ou
22
desativao do NO por nions superxidos derivados do radical do NO, tem sido implicados na
etiologia da disfuno endotelial em vasos de hipertensos e diabticos (Ajay et al, 2007).
As espcies reativas de oxignio, tais como os nions superxidos (O2-), so gerados na
vasculatura e nos rins, primariamente, por nicotinamida adenina dinucleotdeo fosfato na forma
reduzida (NADPH) oxidases encontradas nas clulas endoteliais e inflamatrias ou clulas
tubulares renais (Chaudhuri et al, 2007). Estas espcies reativas de oxignio (O2-, OH e oxignio
singleto) so geralmente os agentes peroxidantes in vivo. Eles so constantemente gerados em
nosso corpo devido ao metabolismo normal por extravazamento de eltrons da cadeia de
transporte de eltrons e pelas atividades de enzimas oxirredutases. Os cidos graxos
poliinsaturados nas membranas celulares so especialmente susceptveis a danos por peroxidao
lipdica. Portanto, as clulas e tecidos evoluram os seus sistemas antioxidantes enzimticos e no
enzimticos para combater esses estresses oxidativos. No entanto, tais antioxidantes endgenos
no so suficientes em condies extremas de estresse oxidativo, tornando-se necessrio invocar
os antioxidantes exgenos (Chaudhuri et al, 2007).
Uma excessiva produo de espcies reativas de oxignio esgota a capacidade dos
mecanismos de defesa antioxidante, implicando em condies patofisiolgicas impactantes ao
sistema cardiovascular. As avaliaes das atividades antioxidantes e dos subprodutos da
peroxidao lipdica em hipertensos indicam que existe nos tecidos uma quantidade excessiva de
espcies reativas de oxignio. Isto leva a uma reduo na atividade dos mecanismos de defesa
dos antioxidantes naturais, tanto no sangue como em diversos tipos de clulas (Sez et al, 2004). Pelo
fato de sistemas antioxidantes endgenos como as superxido dismutases serem regulados para
baixo na hipertenso, o O2- acumula e induz danos oxidativos na maquinaria celular, contribuindo
para a patofisiologia da hipertenso. O O2- tambm reage com o NO removendo-o e formando
peroxinitrito. Nas artrias de ratos expontaneamente hipertensivos propensos ao derrame, um
modelo de hipertenso essencial humana sensvel a sal, essa inativao oxidativa do NO leva
disfuno endotelial e vasoconstrio, que eleva a PA. Nos rins, a perda de NO altera a
reabsoro tubular de Na+, resultando na reteno de Na+, tambm contribuindo para a patologia
da hipertenso sensvel a sal. Mais danos ocorrem ao endotlio arterial e ao tubuloepitlio renal
conforme a hipertenso progrida, levando a um crculo vicioso de estresse oxidativo. (Shaughnessya et
al, 2009)
23
O tratamento anti-hipertensivo objetiva reduzir os valores de PA e tambm os danos a
rgos induzidos pela hipertenso. Relatos prvios demonstraram que a diminuio da PA leva
reduo do estresse oxidativo. (Sez et al, 2004)
3.1.1 Frmacos utilizados na terapia da hipertenso
H disponveis diversos medicamentos anti-hipertensivos no Brasil, relacionados abaixo: Tabela 3: Agentes anti-hipertensivos disponveis no Brasil
Adaptado de Sociedade Brasileira de Cardiologia (2004)
Bloqueadores dos canais de clcio
Fenilalquilaminas
Verapamil Coer
Verapamil Retard
Benzotiazepinas
Diltiazem SR ou CD
Diidropiridinas
Amlodipina
Felodipina
Isradipina
Lacidipina
Nifedipina Oros
Nifedipina Retard
Nisoldipina
Nitrendipina
Lercanidipina
Manidipina
Inibidores adrenrgicos
Ao central
Alfametildopa
Clonidina
Guanabenzo
Moxonidina
Rilmenidina
Alfa-1 bloqueadores
Doxazosina (urodinmica)
Prozosina
Trimazosina (urodinmica)
Betabloqueadores
Atenolol
Bisoprolol
Metoprolol
Nadolol
Propanolol
Pindolol (com ASI)
Diurticos
Tiazdicos
Clortalidona
Hidroclorotiazida
Indapamida
Indapamida SR
De ala
Bumetamida
Furosemida
Piretanida
Poupadores de potssio
Amilorida (associao)
Espironolactona
Triantereno (associao)
Inibidores da ECA
Benazepril
Captopril
Cilazapril
Delapril
Enalapril
Fosinopril
Lisinopril
Quinapril
Perindopril
Ramipril
Trandolapril
Antagonistas do receptor AT1 da
Angiotensina II
Candesartan
Irbesartan
Losartan
Telmisartan
Valsartan
Vasodilatadores diretos
Hidralazina
Minoxidil
24
3.1.2 Modificaes no estilo de vida
A adoo de um estilo saudvel de vida fundamental no tratamento de hipertensos. Os
principais fatores ambientais modificveis da hipertenso arterial so os hbitos alimentares
inadequados, principalmente ingesto excessiva de sal e baixo consumo de vegetais,
sedentarismo, obesidade e consumo exagerado de lcool, podendo-se obter reduo da presso
arterial e diminuio do risco cardiovascular controlando esses fatores (Sociedade Brasileira de Hipertenso,
2006).
Tabela 4: Modificaes no estilo de vida para prevenir e controlar hipertenso
Modificao Recomendao Reduo PAS aproximada
Reduo de peso Manter peso corporal normal (ndice de
massa corprea 18.5-24.9 kg/m2)
5-20 mmHg/10kg
Adotar padro alimentar Consumir dieta rica em frutas, vegetais, e
laticnios com baixa gorduras e reduzido
teor de gordura saturada e total
8-14 mmHg
Reduo da ingesto de sdio Reduzir a ingesto diria de sdio para no
mais que 100 mmol por dia (2-4 g de sdio
ou 6 g de cloreto de sdio)
2-8 mmHg
Atividade fsica Iniciar atividade aerbica regular, como
caminhadas (pelo menos 30 min por dia, na
maior parte dos dias da semana)
4-9 mmHg
Moderao no consumo de lcool Limitar consumo para no mais que 2
drinques/dia para homens e 1 drinque/dia
para mulheres e homens de baixo peso.
2-4 mmHg
Para reduo de riscos cardiovasculares em geral, no fumar. Adaptado de NIH, 2004
25
3.2 xido Ntrico
Uma srie de estudos na dcada de 1980 identificou o fator de relaxamento endotlio-
dependente como sendo o NO, que sintetizado pela eNOS, a partir do aminocido catinico L-
arginina, na presena de oxignio molecular e outros co-fatores, resultando em L-citrulina, sendo
o NO um subproduto desta reao (fig. 1).
Figura 1 Reao de Sntese do NO catalisada pela enzima eNOS
O NO um mediador qumico envolvido em processos fisiolgicos, tais como o
relaxamento do msculo liso, a lise celular de tumor, a destruio de microorganismos, sendo o
principal regulador do tnus, entre outros processos, ento o que nos interessa a isoforma
endotelial, eNOS, a meta molecular mais importante para os flavonides (Lpez et al, 2006).
O xido ntrico liberado do endotlio difunde-se para as clulas musculares lisas
adjacentes e leva ativao da guanilato ciclase, elevao do GMPc e, por ltimo, ao
relaxamento do msculo liso vascular (fig. 2) (Ajay et al, 2007).
26
Figura 2 Mecanismo de relaxamento pelo NO do msculo liso vascular
Sendo a eNOS uma enzima dependente de Ca2+/calmodulina (CaM), a eNOS regulada
por sua associao protena da membrana plasmtica caveolina. Como mostrado na figura 3,
uma modificao ps-transducional ocorre via fosforilao por protena quinase e tambm por
uma interao com a protena de choque trmico 90 (Hspr90). A complexao da eNOS com a
caveolina-1 mantm a enzima em um estgio inativo. No entanto, uma elevao no Ca2+
intracelular leva os agonistas vasoativos a promoverem a associao de CaM com a eNOS e
dissociao da ligao da enzima com a caveolina-1. Alm da ativao da eNOS dependente de
Ca2+, o estresse provocado pela ao da enzima Hsp90, pela adenosina, pelos agonistas 2-
adrenoreceptores, pelo 17-estradiol e pelas isoflavonas estimulam a produo de NO via
fosforilao da enzima eNOS mesmos em nveis basais de Ca2+. Alguns estudos mostram a
rpida dissociao entre a enzima eNOS e a caveolina-1 e a associao da enzima Hsp90 (figura
3). (Mann et al, 2007)
O local de fosforilao mais importante inclui o stio que contm Serina 1177 no domnio
redutase e treonina 485 e 497 no domnio de ligao CaM. A protena quinase A e a protena
p38mapk transferem o grupo fosfato para a enzima no stio Serina 1177. A fosforilao que ocorre
no stio da treonina 495 antagoniza a ligao de CaM ao eNOS, inibindo a ativao da enzima (Mann et al, 2007).
27
Ativao da enzima eNOS e produo de NO em clulas endoteliais Ca2+-dependente e Ca2+-independente. Agonista Ca2+-dependente estimula ativao da enzima eNOS Ca2+/calmodulina dependente. Estmulos Ca2+-independentes como estrognios e isoflavonas estimulam de forma aguda a fosforilao da enzima eNOS em nveis basais de Ca2+ citoslico, envolvendo a ativao de vias de sinalizao ERK , PI(3)-quinase/Akt e/ou PKA. A ativao da enzima eNOS requer a rpida dissociao da enzima da caveolina-1 (Cav-1) que a liga membrana e sua associao com Hsp90 e metabolismo do aminocido L-arginina em NO e L-citrulina. Adaptado de Mann et. al. (2007).
Figura 3 Formao de NO via eNOS
Como a hipertenso arterial pode ser caracterizada pela produo de uma quantidade extra
de espcies de oxignio reativo que interagem com o NO, reduzindo a sua biodisponibilidade
atravs de sua oxidao a peroxinitrito, (fig. 4), a sua biodisponibilidade pode ser mantida por
inibio do estresse oxidativo com o uso de agentes com propriedades antioxidantes. O uso
desses agentes melhora a regulao do tnus vascular (Gumanova et al, 2007), portanto, Os antioxidantes
so necessrios para manter a atividade da eNOS, protegendo o NO e tambm o desacoplamento
da enzima eNOS. (Leighton et al, 2006)
Adaptado de Barreto et. al., 2005
Figura 4 Reao de degradao do NO por radicais livres
28
A endotelina-1, um mediador de vasoconstrio, ope-se vasodilatao induzida por
NO. A eNOS tem papel central na patognese da sndrome metablica. A obesidade, a resistncia
insulina, a dislipidemia e a hipertenso so todas condies patognicas que tm sido
exploradas no contexto da sndrome metablica. Fatores endcrinos, um estado pr-inflamatrio
e a atividade do sistema renina-angiotensina, tambm tm relao com patognese da sndrome
metablica e da hipertenso. (Leighton et al, 2006)
possvel que a sndrome metablica seja uma conseqncia de uma nica modificao
gnica que afete a produo de eNOS. H evidncias que apiam o papel central dos defeitos na
produo de NO na patognese de muitos dos fatores de risco cardiovasculares, que esto
presentes na sndrome metablica. Cook et. al.(2003)por referencia fizeram uma observao em
camundongos sem eNOS, que apresentaram diversas mudanas fenotpicas que mimetizaram os
fatores de riscos presentes na sndrome metablica humana (hipertenso, resistncia insulina,
hipertrigliceridemia, fibrinognio elevado e diversas outras mudanas). Os mesmos autores
tambm mostraram que uma dieta com muita gordura causa um aumento na presso sangunea e
na resistncia insulina em camundongos com e sem a enzima eNOS. Estudos em humanos
associam os polimorfismos da enzima eNOS com diversos sinais caractersticos da sndrome
metablica. Foi tambm demonstrado que a disfuno ertil ocorre na sndrome metablica,
quando da reduo da concentrao de NO. (Leighton et al, 2006)
A evidncia ligando a atividade da eNOS com a sndrome metablica e com os fatores de
riscos individuais que a caracterizam, sugerem que a pesquisa para uma teoria unificadora para a
sndrome metablica deve focar sistematicamente na atividade da eNOS e seu papel funcional. A
enzima eNOS uma protena cardioprotetora e sua atividade influenciada por lcool e
polifenis. (Leighton et al, 2006)
29
Tabela 5: Fatores capazes de elevar ou diminuir a funo do e-NOS Potencializadores da atividade e-NOS
Depressores de e-NOS Diminuio de e-NOS causa:
Dieta mediterrnea
Vinho Antioxidantes
cidos graxos -3
Exerccios
HDL Estrgenos
Estresse oxidativo
Fumo
Homocistena
LDL oxidado
Dietas gordurosas
Triacilgliceris
cidos graxos livres
Gordura abdominal
Hipertenso
Resistncia a insulina
Diabetes
Sndrome metablica
Disfuno endotelial
Aterosclerose
Trombose
Inflamao
Vasoconstrio
Adaptado de Leighton (2006).
Em um experimento com ratos usando o modelo de hipertenso com L-NAME, anlogo
enantiomtrico da L-arginina, que na via de produo do NO, compete com o aminocido,
levando a inibio da sntese de NO (Pereira et al, 1998), os animais ficaram deficientes em NO. Aps
trs semanas, houve a interrupo da aplicao do L-NAME e as molculas da enzima eNOS
foram completamente reativadas. Deste modo, a atividade final da eNOS, expressada
exageradamente durante a hipertenso, maior que nos controles. O aumento da atividade eNOS
no grupo de recuperao foi devido a um aumento no nmero de molculas de eNOS no tecido
renal. Outros estudos mostraram que a hipertenso deficiente de NO durante quatro meses
induziu uma elevao significante de sntese proteica, com elevao dos nveis de cido
desoxirribonucleico (DNA), cido ribonucleico (RNA) e a incorporao de [14C]leucina em
protenas do rim. Pode ser possvel que, durante a hipertenso deficiente de NO, a elevao da
sntese proteica tenha causado uma expresso aumentada de molculas de eNOS, que no pde
exibir sua atividade enzimtica devido presena do inibidor L-NAME. A expresso aumentada
de molculas de eNOS, durante a hipertenso deficiente de NO, tambm foi confirmada em
outros modelos experimentais de sobrecarga de presso sangunea (Javorkov et al, 2003).
30
3.3 Flavonides
3.3.1 Metabolismo de flavonides
Os polifenis so compostos orgnicos sintetizados por plantas, incluindo taninos,
lignanas e flavonides (Mann et al, 2007). Os flavonides representam um dos grupos fenlicos mais
importantes e diversificados entre os produtos de origem natural. Essa classe de compostos
amplamente distribuda no reino vegetal, sendo encontradas principalmente em abundncia em
angiospermas, apresentando enorme diversidade estrutural (Simes et al, 2003). So vastamente
distribudos na dieta humana, primariamente em alimentos e bebidas derivados de plantas, como
frutas, vegetais, gros, legumes, soja, chs, cervejas e vinhos (Actis-Gorettaa et al, 2003). O
amadurecimento de frutos e outros fatores ambientais anteriores colheita podem influenciar o
contedo de flavanides. Variedades de uvas apresentam diferenas quantitativas quanto a
catequinas, dmeros e procianidina total de sementes e casca entre as vrias estaes. Pelo fato do
vinho tinto ser produzido por amadurecimento de suco de uva com sementes e cascas, enquanto
que o vinho branco feito por separao do suco da semente e da casca, os nveis de flavanides
do vinho tinto podem ser significativamente maiores que os nveis no vinho branco. O
processamento de alimentos tambm pode influenciar significativamente o contedo total de
flavanis e o perfil de monmeros e oligmeros, ambos de formas favorveis ou desfavorveis (Hackman et al, 2008).
Os flavonides podem ser encontrados em diversas formas estruturais, sendo que a
maioria possui 15 tomos de carbono em seu ncleo fundamental, constitudo de duas fenilas
ligadas por uma cadeia de trs carbonos entre elas. Nos compostos triclclicos, as unidades so
chamadas ncleos A, B e C e os tomos de carbono recebem a numerao com nmeros
ordinrios para os ncleos A e C e os mesmos nmeros seguidos de linha () para o ncleo B
(figura 5) (exceto chalcona, que apresenta numerao diferenciada) (Simes et al, 2003).
31
O
O
2
34
5
6
7
8
9
10
1'2'
3'
4'
5'
6'
A
B
C
Adaptado de Simes et. al. (2003) Figura 5. Ncleo fundamental dos flavonides e sua numerao.
Os flavonides de origem natural apresentam-se frequentemente oxigenados e um grande
nmero ocorre conjugado com acares, sendo denominada forma conjugada ou heterosdeo.
Quando no esto conjugados com acares, so denominados de aglicona ou genina, sendo
tambm chamados de forma livre (Simes et al, 2003). Identificaram-se numerosos derivados destes
constituintes fundamentais, distintos pelo nmero e posio de grupos hidroxilas e metoxilas nas
suas molculas. Algumas vezes aparecem quantidades relativamente elevadas dos respectivos
compostos aglicnicos no estado livre, nas cascas, razes e rizomas, e conhecem-se alguns casos
particulares de flavonas e chalconas que no aparecem combinadas com acares. (Alosio, 2002)
Quando conjugados, a ligao semi-acetlica ocorre, geralmente, por uma nica hidroxila
da molcula do constituinte aglicnico, preferentemente o carbono C(7) dos heterosdeos; algumas
vezes tambm pelo C(3) em particular nos heterosdeos de flavonis. Mas a ligao pode realizar-
se por qualquer outra hidroxila. Pode tambm ocorrer ligao de duas hidroxilas da mesma
molcula da genina combinados com os correspondentes grupos glicdicos sob a forma de di-
heterosdeos, tambm pode-se encontrar hetersidos no hidrolisvel com ligao C-heterosdeo (Alosio, 2002)
Figura 6. Ligao O-heterosdeo e Ligao C-heterosdeo
32
A nomenclatura mais vulgarizada para os hetersidos faz seguir o nome da genina do
nome do acar com a terminao osdeo, indicando assim a existncia da ligao semi-acetlica;
os ndices numricos intercalados indicam as posies das hidroxilas substitudas (por exemplo,
quercetina-3-galactosil) (Alosio, 2002).
Emprega-se tambm outra regra: menciona-se o grupo glicdico com a terminao il
seguido do nome da genina; o ndice numrico refere-se hidroxila substituda (por exemplo,
glucosil-8-apigenina) (Alosio, 2002).
Os flavonides so divididos nas seguintes classes: Flavonas, Flavonis,
Antocianocdeos, Chalconas, Auronas, Flavanonas, Di-hidroflavonis, e outras estruturas (Simes et
al, 2003).
33
Figura 7. Estruturas qumicas de algumas classes de flavonides
A flavona e o flavonol so geralmente classificadas juntas por terem origens biossintticas
muito prximas, sendo o flavonol uma flavona substituda em C-3 por uma hidroxila. Suas cores
variam do branco ao amarelo e geralmente so encontradas em sua forma conjugada. A apigenina
e a luteolina, agliconas ou conjugadas (heterosdeos) so as flavonas mais abundantes
encontradas nas plantas. Os flavonis mais encontrados em vegetais so canferol, quercetina e
miricetina (Dornas et al, 2007).
34
Antocianidinas so pigmentos vegetais responsveis pelas cores laranja, azul, roxa e
tonalidades de vermelho ou violeta encontradas em plantas, sucos de frutas e vinhos. So
compostos solveis em gua e instveis em altas temperaturas (Dornas et al, 2007).
As chalconas so os precursores da via biossinttica dos flavonides. Juntamente com as
auronas, apresentam pigmentao amarela e esto presentes, em geral, nas mesmas plantas, tendo
um papel importante na polinizao, em funo das cores que produzem nos vegetais, que atraem
insetos e pssaros (Simes et al, 2003).
As flavanonas, os di-hidroflavonis e as di-hidrochalconas so todos di-hidroflavonides
com funo de proteo de plantas contra doenas causadas por microorganismos (Simes et al, 2003).
Para os flavonides em geral supe-se que eles so aborvidos como agliconas aps a
hidrlise dos glicosdeos por todo o trato gastrointestinal. Pequenas quantidades de agliconas
tambm podem estar presentes na dieta (Walle, 2004).
Um dos primeiros estudos da biodisponibilidade de agliconas de flavonides em humanos
ocorreu em 1975, quando quercetina em uma dose oral de 4 gramas (g) e uma dose intravenosa
de 100 miligramas (mg) foram administradas. Da dose intravenosa pde ser determinada que a
meia-vida plasmtica foi 2,4 horas para quercetina e que seu volume de distribuio foi baixo
(0.34 L/kg). Aps a dose oral, nenhuma quercetina no modificada foi detectada no plasma ou
urina. As fezes continham 53% da dose como quercetina, que pode ser um reflexo da dose muito
alta utilizada, que claramente no foi solvel. Aps a dose intravenosa, a quercetina pde ser
detectada na urina, em particular aps hidrlise com -glicuronidase/aril sulfatase. Um estudo
subseqente examinou doses intravenosas de quercetina to altas quanto 1700 mg/m2 em
pacientes com cncer. Usando doses orais mais razoveis de quercetina (8-50 mg) e metodologia
analtica de Cromatografia Lquida de Alta Eficincia molecularmente mais especfica, Erlund et
al (2000), citado por Walle (2004), demonstraram nveis plasmticos mensurveis de conjugados
de glicurondeos e/ou sulfatos de quercetina, mas, como em outros estudos, nenhum ou quase
indetectveis nveis de aglicona de quercetina. Um estudo subseqente da disposio de aglicona
[14C]quercetina aps doses tanto oral quanto intravenosa forneceu informao adicional
importante sobre o destino biolgico da quercetina. Em uma comparao dessas duas rotas de
administrao pde ser estabelecido que a absoro oral foi to alta quanto 36-54%. Entretanto, a
biodisponibilidade foi perto de zero. A meia-vida plasmtica para a radioatividade total foi muito
longa, de 20-72 horas, que pde ser em parte devido recirculao enteroheptica. Isso pode
35
incluir metablitos de quercetina com atividade biolgica. A principal rota de excreo da
quercetina foi como dixido de carbono, 23-81% da dose, medida por captura do ar exalado. Isso
enfatiza a importncia de bactrias na parte baixa do intestino como a etapa final de eliminao
desse e provavelmente de muitos outros flavonides. Observaes similares foram previamente
realizados aps a administrao de [14C]quercetina para ratos. A ligao plasmtica de quercetina
excessivamente alta, 99.1%. Isso poderia servir para a posterior reduo dos nveis de atividade
farmacolgica da quercetina. Pode ser importante examinar a ligao plasmtica de metablitos
farmacologicamente ativos (Walle, 2004).
A extenso da absoro e da biodisponibilidade de drogas conhecida h tempos ser
afetada por transportadores de membranas, principalmente os transportadores de efluxo, em
adio ao metabolismo. Os transportadores de efluxo tradicionais para drogas, como a P-
glicoprotena, no pareciam estar envolvidos no transporte de flavonides, principalmente por
causa das diferenas na estrutura qumica. Entretanto, outros transportadores que podem ser
importantes foram encontrados. Isto foi reconhecido principalmente atravs do uso de
monocamadas de clulas Caco-2 do intestino humano ou o uso de preparaes intestinais de rato.
Esses transportadores incluem o transportador de Na+/glicose/gua (SGLT1), identificado tanto
em clulas Caco-2 quanto no intestino delgado de ratos. Tambm foi identificado o transportador
monocarboxilato de absoro, recentemente identificado para o flavonide do ch ECG. A
protena de resistncia a multidrogas (MRP2), mas provavelmente tambm outras isoformas do
MRP, tm sido demonstrados ser um importante transportador de efluxo para o caso dos
conjugados glicurondeos e o sulfato de flavonides. Mais inesperado o achado que o MRP2,
um transportador aninico, pode efluxar glicosdeos flavonicos, que no so de natureza
aninica. Tambm flavonides do ch mostraram ser substratos de ambos os transportadores
MRP1 e MRP2 (Walle, 2004).
36
Flavonoides (GF), aglicona do flavonide correspondente (F), transportador de glicose sdio dependente 1 (SGLT1, em ingls) e protenas de
resistncias associadas a multidrogas 2 e 3 (MRP2 e MRP3) so transportadores de membranas. BSG, -glicosidase de amplo espectro; LPH,
lactase floridzina hidrolase; Bact, enzimas de bactrias; UGT, UDP-glicuronosiltransferase; SULT, sulfotransferase; Fg, glicorondeo de
flavonide; Fs, sulfato de flavonide. Adaptado de Walle, 2004
Figura 8. Vias de transporte e metabolismo de flavonoides no lmem e entercito do trato
digestivo
3.3.2 Toxicidade dos Flavonides
Por injeo de grandes quantidades de agliconas de flavonide em soluo em sangue de
ratos, foi possvel determinar o valor de dose letal (DL50) para esse animal, de aproximadamente
2 g/kg do peso corporal. Devido baixa solubilidade das agliconas de flavonides em gua, ao
curto perodo de permanncia de flavonides no intestino, e ao baixo coeficiente de absoro, no
possvel para os humanos sofrererm de efeitos txicos agudos do consumo de flavonides, com
a exceo de uma rara ocorrncia de alergia. As concentraes de flavonides no sangue aps a
infuso de flavonides solveis diretamente no sangue para o propsito do controle da presso
sangunea ou a fortificao de vazamentos dos vasos sanguneos alcanou nveis mximos de 2-3
ordens de magnitude abaixo do nico valor de DL50 registrado para ratos. A margem de
segurana para o uso teraputico de flavonides em humanos, portanto, muito grande e
provavelmente no superada por nenhuma outra droga de uso corrente. Entretanto, uma
preocupao necessria contra o uso de extratos de flavonides impuros de material de planta
para injeo intravenosa. Tal aplicao seria irresponsvel, desde que as substncias presentes em
37
extrato impuro podem ocasionar choque anafiltico ou outras crises imunolgicas agudas, por
isso somente flavonides isolados e purificados devem ser injetados na circulao sangunea (Havsteen, 2002).
Os flavonoides podem formar complexos com ons de metais pesados. Os tomos de
metal pesado que so essenciais ao sistema bioqumico so Fe2+, Cu2+, Zn2+, Co1+, Mn2+ e Ni2+.
Entretanto, outros ons de metais pesados so fortes inibidores de grupos sulfidrilas em stios
ativos de enzimas anablicas e protetoras, como cido -levulinico sintase, porfobilinognio
sintase, ferroquelatase, todas quinases e desidratases. Exemplos de tais ons de metais pesados
danosos so Hg2+, Zn2+, Sn2+, e os ons mencionados acima quando presentes em excesso. Os
elementos livres correspondentes a esses ons so menos txicos por um fator de 102-103. A razo
que esses metais, na forma elementar, so insolveis e quimicamente inertes. Entretanto,
espcies ativas de oxignio e outros oxidantes fortes no organismo so capazes de oxidar os ons
em taxas lentas. Ademais, os metais pesados na forma elementar tem uma marcada tendncia de
acumular em tecidos adiposos e no fgado. Destes locais, eles so difceis de serem mobilizados
devido sua baixa reatividade e inacessibilidade de extrao por solventes, que pode ser ainda
mais txico aos rgos que os metais pesados (Havsteen, 2002). Portanto, os flavonoides, por
formarem complexo com os ons essenciais ao sistema bioqumico, podem diminuir os nveis
destes no organismo, e ao formarem complexos com os metais pesados danosos, proteger o
organismo da ao destes.
3.3.3 Flavonides na Presso Arterial
Vrios estudos epidemiolgicos tm demonstrado associaes entre o consumo regular de
alimentos ricos em flavonides e uma diminuio do risco de doenas cardiovasculares. (Mann et al,
2007). Em termos de sade cardiovascular, uma classe de flavonides, os flavanis (flavan-3-ols)
esto recebendo cada vez mais ateno. O cacau, os chs e as uvas so exemplos de plantas
comestveis que so ricas em flavanis. Estudos de interveno diettica em humanos e animais
indicam que os alimentos e as bebidas ricos em flavanol podem exercer efeitos cardioprotetores
em relao funo vascular e atividade plaquetria. Em adio, foi recentemente mostrado
que o consumo regular de alimentos ricos em flavanol incluindo produtos de cacau, ch e vinho
tinto podem ser associados com uma diminuio da presso arterial em humanos (Actis-Gorettaa, 2006).
38
O consumo de suco de uva roxa rica em flavanol por 14 dias foi associado com uma elevao
significativa no fluxo sanguneo, e com menor oxidao de LDL. A ingesto de vinho tinto
desalcoolizado rico em flavonides e tambm o ch preto melhoraram o fluxo sanguneo em
artrias braquiais em humanos sadios e doentes cardiovasculares (Hackman et al, 2008). Em estudos de
Heiss et al. (2003), cacau rico em flavanol aumentou o fluxo sanguneo mais significativamente
que o cacau pobre em flavanol 2 horas aps a ingesto de uma nica dose em pacientes que
tinham fator de risco cardiovascular (Heiss et al, 2003). Vlachopoulos et al. (2005), em estudo de 3
horas sobre os efeitos da alimentao aguda de chocolate rico em flavonides sobre a funo
endotelial foi realizado em voluntrios sadios, mostrou uma elevao significativa no dimetro da
artria braquial (Vlachopoulos et al. 2005). Estudo de Heiss et al. (2007) com uma semana de ingesto
diria de cacau rico em flavanol (trs doses dirias de 306 mg de flavanol cada) resultou em um
aumento no fluxo sanguneo. Essas melhorias desapareceram aps um perodo de 15 dias de
catabolismo (Heiss et al, 2007) . Os estudos crnicos de Engler et al. (2004) com um grupo de
indivduos sadios consumindo chocolate rico em flavanol por duas semanas tambm mostrou um
maior fluxo sanguneo quando comparados ao grupo controle (Engler et al, 2004) . Um teste de seis
semanas, realizado por Wang-Polagruto et al. (2006), em mulheres ps-menopausa
hipercolesterolmicas tambm mostrou que aquelas consumindo uma bebida de cacau rica em
flavanol (446 mg flavanol) obtiveram melhorias significativas no fluxo sanguneo. Aquelas que
consumiram bebida pobre em flavanol (43 mg) no obtiveram melhorias (Wang-Polagruto et al. 2006).
A administrao crnica de flavonides antioxidantes reduziu a presso sangunea, bem
como aumentou o relaxamento endotlio-dependente em vrios modelos animais de hipertenso
arterial (Shaughnessya et al, 2009). A quercetina exerceu efeitos vasodilatadores sistmicos e coronrios
in vitro e reduziu a presso sangunea, a hipertrofia cardaca, a disfuno endotelial, o
remodelamento vascular e os estados oxidativos em diversos modelos de ratos com hipertenso
induzida. (Cogolludo et al, 2007). Duarte et al (2001) relataram que o tratamento com quercetina
melhorou a PAS e a funo vascular em ratos espontaneamente hipertensivos (Duarte et al, 2001).
Machha (2005) relatou que quatro semanas de tratamento de quercetina, baicalena e flavona
elevaram significativamente a resposta de relaxamento da aorta acetilcolina, demonstrando
melhorias na funo endotelial dos animais hipertensivos (Machha et al, 2005).
Os flavonides podem influenciar a hipertenso em uma variedade de mecanismos.
39
3.3.3.1 Poder antioxidante
Estudo de Hughes (1977) demonstrou que os flavonides agiram como poderosos
quelantes de metal, como seqestradores de radicais livres e como antioxidantes. Eles atuaram
como quebradores da cadeia, ou seja, finalizaram a cadeia de formao de espcies pr-
oxidantes, atravs da doao ou da aceitao de um tomo de hidrognio ou um eltron(Hughes et al,
1977).
A alta capacidade antioxidante dos flavonides est provando que eles so altamente
eficazes para vrias doenas mediadas por radicais livres e, portanto, gradualmente emergindo
como alternativas viveis aos medicamentos convencionais. Esses compostos contm um ou mais
grupos hidroxilas aromticos, que seqestram os radicais livres e so responsveis pela atividade
antioxidante. (Chaudhuri et al, 2007)
Estudos de Ulker et. al. (2003) e Levine et. al. (1996) demonstraram melhoria da funo
endotelial seguida de intervenes com antioxidantes. Os flavonides baicalena e quercetina
foram potentes antioxidantes e sequestradores de espcies reativas de oxignio. Tais aes
antioxidantes, por elevao da biodisponibilidade do NO derivado do endotlio, contribuiram
para restaurar a funo endotelial nos animais hipertensivos (Ulker et al, 2003) (Levine et al, 1996).
Em estudo com um pr-tratamento com flavona verificou-se que este preveniu
significativamente a atenuao induzida por -NADH do relaxamento por acetilcolina em aorta
de rato Wistar Kyoto. A flavona inibiu a atividade basal de NADH/NADPH-oxidase, a maior
fonte enzimtica de nions superxido endgeno, e/ou seqestrou nions superxidos. O -
NADH induziu contraes em aorta de ratos e a flavona inibiu a breve contrao por -NADH,
que provocada por remoo da atividade relaxante do xido ntrico basal atravs da liberao de
nion superxido induzido por NADPH oxidase(Ajay et al, 2007).
Os polifenis tambm foram implicados na transcrio de gene mediada por elemento de
resposta eletroflico dependente de transcrio de fase 2 (ARE) e regulao para cima da
expresso de superxido dismutase dependente de mangans (MnSOD) em clulas vasculares
(Mann et al 2007).
Estudos de Mann (2007) relataram o papel do NO na expresso do gene antioxidante
mediado por fator de transcrio nuclear (Nrf2). Este gene induz a transcrio de enzimas de
detoxicao de fase 2 e enzimas antioxidantes na parede vascular. Em condies basais, o Nrf2
40
interage com um repressor citoslico, a protena keap1, limitando a expresso gnica mediada
pelo Nrf2. Em clulas expostas oxidao ou ao estresse xenobitico, o Nrf2 liberado de keap1
e transloca para o ncleo, ativando a ARE e enzimas defensivas antioxidantes como NADPH,
quinona-oxidurredutase, glutationa peroxidase, glutationa-S-transferase e hemeoxigenase-1. O
papel dos flavonides aumentar a atividade destas enzimas antioxidantes e tambm influenciar
a atividade da eNOS e a expresso do gene da redox (Mann et al, 2007).
3.3.3.2 Inibio da oxidao de LDL e da agregao plaquetria
A interao dos flavonoides com as membranas celulares, que geralmente servem de
metas para a peroxidao lipdica, constituem uma importante rea de pesquisa. Alguns estudos
foram relatados indicando o efeito protetor dos flavonides contra danos oxidativos em
membranas intactas de clulas vermelhas do sangue. No entanto, h necessidade de mais
pesquisas sobre os locais de ligao dos flavonides e outros aspectos relevantes do processo de
ligao deles com as membranas. O que se espera dessas aes determinar a eficincia relativa
dos diferentes derivados de flavonides como antioxidantes em membranas de clulas vermelhas
do sangue. Em estudo de Chaudhuri et. al. as atividades antioxidantes dos flavonides fisetina,
quercetina, crisina, e morina, mostraram ser significantes inibidores da peroxidao lipdica. As
atividades antihemolticas destes flavonides ocorreram pela interao com as membranas dos
eritrcitos, atravs da insero dessas substncias na bi-camada lipdica, com conseqente
proteo da lise hipotnica (Chaudhuri et al, 2007).
Mudanas no fluxo sanguneo e consequentemente a alterao da presso arterial, foram
correlacionadas com uma diminuio nos nveis da molcula de adeso celular vascular (VCAM-
1), que associada com a ligao precoce de moncitos ao endotlio e ativao endotelial (Wang-
Polagruto et al. 2006). Tambm foi verificado por Grassi et al. (2005) que as mudanas no fluxo
sanguineo podem estar associadas com melhorias na presso sangunea, pois ratos com
hipertenso essencial tratados com chocolate preto rico em flavanal (88 mg) e chocolate branco,
durante 15 dias, tiveram reduo significativa na PA quando tratados com o chocolate escuro,
enquanto os que consumiram o chocolate branco no apresentaram reduo. O grupo de ratos que
ingeriu o chocolate escuro tambm mostrou melhoria significativa no fluxo sanguineo, na
sensibilidade insulina e na diminuio srica do LDL. Estes resultados foram explicados pela
41
regulao pelo flavanol do metabolismo da sntese de NO vascular nas clulas endoteliais (Grassi et
al. 2005) . Pesquisa de Shanmuganayagam et al. (2002) realizada com sangue total humano
incubado com extrato de semente de uva composto de uma grande quantidade de procianidinas,
mostrou reduo significativa na agregao plaquetria induzida por colgeno. Quando este
extrato foi administrado em ces, o extrato de semente de uva isolado no influenciou a
agregao plaquetria. Mas quando se associou o extrato da semente com o extrato da casca rico
em procianidinas, um declnio significativo da agregao plaquetria ocorreu (Shanmuganayagam et al.
2002). Quando Vitseva et al. (2005) analisou as plaquetas humanas isoladas, verificou que elas
tiveram uma agregao diminuda se incubadas com extrato de semente de uva ou extrato de
casca de uva (Vitseva et al. 2005). Pearson et al. (2002) mostrou que ingesto de cacau rico em flavanol
reduziu a agregao plaquetria estimulada por adenosina difosfato (ADP)/colgeno e
epinefrina/colgeno durante horas aps consumo. Esses efeitos antiagregatrios foram associados
com a reduo na expresso da protena de superfcie GPIIa/IIIb de plaquetas induzidas por ADP
e epinefrina em uma extenso um pouco menor do que aquela obtida por baixa dose de aspirina
(81 mg) (Pearson et al. 2002).
3.3.3.3 Atividade sobre a enzima eNOS
Para Lpez (2006), evidncias sugerem que extratos de flavonides (luteolina e
cinarosida) provenientes de Cynara scolymus L. (alcachofra), foram capazes de aumentar a
atividade promotora da enzima eNOS, assim como a expresso de RNA mensageiro desta
enzima. Assim, aumentou a produo de xido ntrico em culturas de clulas endoteliais
humanas. Estudo de Duarte (2001) demonstrou que o flavonide crisina reverteu a contrao
induzida por noradrenalina em anis de aorta com endotlio intacto. A remoo do endotlio,
como tambm o L-NAME, inibiram este efeito relaxante causado pelo flavonide, de modo que
este um vasorrelaxamento dependente do endotlio e de NO. (Hughes et al, 1977)
Estudos realizados por AJAY et al (2007) mostraram os efeitos da flavona na cascata
xido-sGC-GMPc (ou seja, aumento na bioatividade do xido ntrico) juntamente com seu efeito
na elevao da sntese do xido ntrico do endotlio. Os flavonides acumularam no gap
interespacial entre o endotlio e as clulas musculares lisas vasculares, interagindo com
processos intracelulares nas clulas endoteliais ou nas clulas musculares lisas vasculares. Os
42
resultados deste estudo demonstraram que a flavona aumentou o relaxamento induzido por
acetilcolina e pelo nitroprussiato de sdio. Tambm atenuou a contrao induzida por fenilefrina
em anis articos isolados de ratos espontaneamente hipertensivos. Este foi um achado similar ao
observado em aorta normal de rato Wistar Kyoto.
Ao alimentar ratos machos com protena de soja rica em genistena e daidzena,
conhecidas por interagir com receptores de estrognio, houve aumento dos nveis de RNA
mensageiro da enzima eNOS e enzimas antioxidantes. Em contraste, uma dieta deficiente de
isoflavona desde a concepo e seguida por toda a vida adulta foi associada com diminuio nos
nveis de RNA mensageiro da enzima eNOS, MnSOD (gene antioxidante) e citocromo c oxidase,
diminuio do relaxamento endotlio-dependente e elevao da presso arterial in vivo. Desde
que uma dieta balanceada de isoflavonas em ratos, da concepo at seis meses de idade, tem
somente benefcios marginais para a funo endotelial, a suplementao com isoflavona deve
somente recondicionar a reatividade vascular em animais com idade avanada ou indivduos com
doenas cardiovasculares. Contudo, a proteo vascular provida por dietas com isoflavona de
soja pode ser relacionada com um aumento na atividade e/ou expresso da enzima eNOS e
biodisponibilidade de NO (Mann et. al. 2007).
3.3.3.4 Ativao de canais de K+ no msculo liso vascular
Reviso de Cogolludo et. al. (2007) sobre os mecanismos de ao nos efeitos vasculares
de flavonides parecem mostrar a inibio de protenas quinases, como a protena quinase C e a
cadeia leve de miosina quinase, por alguns flavonides. O relaxamento endotlio dependente foi
relatado para diversos flavonides; entretanto, a maioria dos estudos com quercetina indicaram
que a remoo do endotlio no mudou significativamente seus efeitos vasodilatadores. Em
adio, os efeitos vasodilatadores de alguns flavonides foram inibidos pelo bloqueador no-
especfico do canal de K+ e o bloqueador especfico do canal BKCa em artria mesentrica
pequena de ratos ou aorta de rato (Cogolludo et al, 2007) . Kuhlmann et al. (2005) demonstraram que a
quercetina hiperpolarizou clulas endoteliais por provocar ativao nos canais BKCa (Kuhlmann et al,
2005). O flavonide floretina ativou os canais BKCa em fibras de nervo mielinizadas de Xenopus
laevis. A adio do bloqueador de canal BKCa seletivo, a iberiotoxina, aps a exposio
quercetina, reverteu a elevao na corrente induzida pela quercetina. Em outros experimentos,
43
iberiotoxina, adicionada antes da exposio quercetina, reduziu significativamente a contra-
corrente em clulas polarizadas de membranas celulares e preveniu completamente a elevao da
polaridade da membrana induzida por quercetina. Os canais de K+ tm um papel chave na
regulao do potencial e do tnus da membrana arterial em repouso. A ativao dos canais de K+
no msculo liso vascular leva sua hiperpolarizao, com diminuio da atividade de canais de
Ca2+ tipo L regulados por voltagem, reduzida concentrao intracelular de Ca2+ e
vasodilatao. A alta condutncia dos canais Ca2+ ativados por K+ (BKCa), formados por uma
subunidade condutora de on e uma subunidade 1 regulatria, so ativados por despolarizao
e por elevao da concentrao intracelular de Ca2+. A elevao local da concentrao
intracelular de Ca2+ perto na membrana plasmtica (descarga de Ca2+), causada pela liberao de
Ca2+ do retculo sarcoplasmtico, so funcionalmente acopladas aos canais BKCa, cuja ativao
produz correntes externas transientes expontneas, hiperpolarizao e vasodilatao. Os canais
BKCa podem ter papel chave na regulao da presso sangunea. O camundongo deficiente do
gene 1 (kcnmb1) mostrou elevada presso sangunea. Ainda mais, a regulao para baixo da
subunidade 1 foi reportada em modelos de ratos hipertensos e mutaes da subunidade 1 foram
associadas com uma menor prevalncia de hipertenso diastlica e risco cardiovascular. Em
adio, o tnus da artria coronria fortemente dependente da atividade dos canais BKCa. O
envelhecimento est associado com a expresso e a densidade reduzida de canais BKCa em
artrias coronarianas de ratos e de humanos, o que consistente com uma maior freqncia de
atividade contrtil espontnea e do risco aumentado de vasoespasmos coronrio em pessoas mais
velhas. Ainda mais, a atividade dos canais BKCa reduzida em artrias coronrias durante a
hipertrofia ventricular esquerda, o que pode contribuir para a reserva coronariana reduzida
observada em tais casos. Assim, os canais BKCa foram sugeridos como novos potenciais alvos
de drogas para o tratamento de doenas cardiovasculares. Infelizmente, os ativadores conhecidos
dos canais de BKCa no so muito seletivos (Cogolludo et al, 2007).
Estudos clnicos de Walker et. al. (2001) e Chin-Dusting (2004), mostraram que as
isoflavonas mostraram modular agudamente a reatividade vascular em mulheres ps-menopausa
in vivo (Walker et. al. 2001) (Chin-Dusting 2004). Reviso de Mann et. al. (2007) relatam estudos em que uma
infuso de genistena em artria braquial foi testada nas mesmas concentraes consumidas pela
populao com uma dieta rica em isoflavona. Verificou-se que elas causaram um aumento do
fluxo de forma dependente da concentrao e de forma endotlio-dependente no antebrao.
44
Grande parte da dilatao mediada por genistena foi insensvel ao N-monometil arginina (L-
NMMA). Isto pode ser explicado porque as isoflavonas tambm modularam o tnus vascular por
inibirem o influxo de Ca2+ via canal de Ca2+ tipo L em clulas de msculo liso vascular(Mann et. al.
2007).
3.3.3.5 Sistema renina-angiotensina
O sistema renina- angiotensina um importante componente na regulao da presso
arterial, tanto a curto quanto a longo prazo. Os fatores que reduzem a presso arterial, como as
redues do volume sanguneo efetivo, causadas, por exemplo, por uma dieta com baixo teor de
sdio. Por diurticos, perda de sangue, insuficincia cardaca congestiva, cirrose heptica ou
sndrome nefrtica) ou redues da resistncia perifrica total, provocadas , por exemplo, por
vasodilatadores, ativam a liberao de renina pelos rins (Goodman e Gilman, 2005).
A renina uma enzima que atua sobre o angiotensinognio para catalisar a formao da
angiotensina I. A angiotensina I ento clivada pela enzima conversora de angiotensina (ECA),
dando origem a angiotensina II.
A angiotensina II atua por mecanismos diversos, porm coordenados, para elevar a
presso arterial para valores normais. O aspecto mais importante pra a regulao da presso
arterial pela angiotensina II a inibio da excreo de Na + e de gua pelos rins (Goodman e Gilman,
2005).
A angiotensina II aumenta a resistncia perifrica total por efeitos sobre os vasos
sanguneos, dentre eles a vasoconstrio direta por constrio das arterolas pr-capilares, por
aumento da neurotransmisso noradrenrgica perifrica por liberao de norepinefrina das
terminaes nervosas com a intensificao resposta vascular norepinefrina, por efeitos sobre o
sistema nervoso central e por liberao de catecolaminas pela medula supra-renal (Goodman e Gilman,
2005).
A angiotensina exerce efeitos pronunciados sobre a funo renal, reduzindo a excreo de
Na+ e de gua, enquanto aumenta a excreo de K+. Os mecanismos so diversos como efeitos
diretos da angiotensina II sobre a reabsoro de sdio no tbulo proximal, a liberao de
aldosterona pelo crtex supra-renal que atua nos tbulos distais e coletores causando reteno de
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Na+ e excreo de K+ e H+ e alteraes na hemodinmica renal por constrio direta do msculo
liso vascular renal e aumento do tnus simptico renal (Goodman e Gilman, 2005).
C subunidade cataltica do PKA; R subunidade regulatria do PKA. G protena G, R receptor de angiotensina, AC Adenil ciclase. Adaptado de Havsteen, (2002). Figura 9. Esquema do mecanismo de regulao do transporte de gua no tbulo renal.
Alguns flavonides se ligam ao receptor de angiotensina II nos rins, inibindo a ligao da
angiotensina II, impedindo a recaptao de gua e sais (Havsteen, 2002).
Os flavanis tambm atuaram na ECA, como mostra estudos em que a incubao de ECA
purificada na presena de alimentos ricos em flavanis resultou em uma inibio concentrao
dependente da atividade da enzima. (Actis-Gorettaa et al, 2006). Estudo de Hackl et al (2002) analisou
a ao da quercetina na atividade da ECA atravs da avaliao do efeito da angiotensina I e da
bradicinina na presso arterial de ratos anestesiados. Estes resultados sugeriram que a quercetina
46
potencializou o efeito hipotensor da bradicinina e reduziu o efeito hipertensor da angiotensina I
atravs de ao inibitria sobre a ECA, portanto apresentando um mecanismo de ao semelhante
ao captopril. Muitos medicamentos para hipertenso tem como mecanismo de ao inibir a ECA,
diminuindo assim a presso arterial sem alterar a freqncia cardaca. Muitos flavonides, dentre
eles a quercetina, tem este mesmo mecanismo de ao. Neste estudo ento foi verificado que a
quercetina inibiu a ECA e inibiu tambm a degradao da bradicinina (Hackl et al, 2002).
Com relao relevncia fisiolgica da inibio da ECA por flavanis e procianidinas,
importante considerar a concentrao plasmtica desses compostos e a possibilidade da inibio
da ECA in vivo. A presena de (+)-catequina, (-)-epicatequina e dmeros tem sido determinada
em plasma humano em concentraes micromolares baixas e nanomolares. Entretanto, estudos
em humanos demonstraram que as procianidinas do chocolate so estveis durante o trnsito
gstrico e no degradam em monmeros e oligmeros menores, permitindo assim a presena de
concentraes maiores dessas procianidinas no intestino. A ECA, sendo uma enzima ligada
membrana, e os flavanis, sendo capazes de serem adsorvidos em interfaces lipdeos-gua,
tornam possvel que um enriquecimento local des
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