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U N I V ERSI D A D E
CANDIDO MENDES
Professora: Cristiana Mendes
DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS
NA PERSPECTIVA DA
JUSTIÇA DO TRABALHO
Profa. Cristiana Mendes
DIREITO DA PERSONALIDADE NA PERSPECTIVA TRABALHISTA. ESTUDO INTERDICIPLINAR. NOVA
TIPOLOGIA DE DANOS NO AMBIENTE DE TRABALHO. RESPALDO NA CARTA MAGNA (artigo 5º, inciso
V). EVOLUÇÃO DO INSTITUTO. APLICAÇÃO NA JUSTIÇA DO TRABALHO. PERCEPÇÃO CIVIL-
CONSTITUCIONAL.
Bibliografia:
OLIVEIRA, Paulo Eduardo Vieira. O dano pessoal no direito do trabalho. – São Paulo: LTr.
MARTINS, Sérgio Pinto. Assédio moral no emprego. São Paulo: Atlas.
SANTOS, Ana Claudia Schwenck dos. Dano Extrapatrimonial. In. MANNRICH, Nelson (Coord.). Reforma
trabalhista: reflexões e críticas. São Paulo, 2ª edição, 2018.
SANTOS, Enoque Ribeiro dos. O dano moral na dispensa do empregado. 4ª Ed. São Paulo: LTr.
SOARES, Flaviana Rampazzo. Responsabilidade civil por dano existencial. – Porto Alegre: Livraria do
Advogado Editora.
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Professora: Cristiana Mendes
Se houver lacuna da legislação trabalhista no que tange à aplicação dos direitos da personalidade, as
disposições contidas no Código Civil de 2002, referentes ao capítulo dos direitos da personalidade, devem-se
aplicar ao Direito do Trabalho, desde que em conformidade com o art. 8º, da CLT, que assim estabelece:
Art. 8º. As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de disposições legais ou
contratuais, decidirão, conforme o caso, pela jurisprudência, por analogia, por equidade e outros
princípios e normas gerais de direito, principalmente do Direito de Trabalho, e, ainda, de acordo com os
usos e costumes, o direito comparado, mas sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou
particular prevaleça sobre o interesse público.
1. DIREITO DA PERSONALIDADE
Perspectiva contemporânea do direito da personalidade e seu impacto nas relações trabalhistas em seus
aspectos material e moral, bem como também os novos danos, a saber: o estético, o psíquico, o
existencial, o dumping social e a perda de uma chance, e suas possibilidades de reparação ou
compensação pecuniária.
Direitos trabalhistas da personalidade são os direitos subjetivos destinados a garantir, numa relação de
trabalho, a integridade física, intelectual e moral do indivíduo.
CRFB Artigo 5º. [...]
(...)
Inciso X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o
direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; [...]
Os direitos da personalidade não representam rol taxativo, uma vez que a sua tutela poderá ser
estendida a novos atributos da personalidade, não necessitando, assim, do reconhecimento pelo Estado para
que tenham força normativa.
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A CLT também faz referência à proteção aos direitos da personalidade do trabalhador quando, em
seu art. 29, proíbe o empregador de proceder a qualquer espécie de anotação desabonadora acerca da conduta
do empregado em sua CTPS:
Art. 29. A Carteira de Trabalho e Previdência Social será obrigatoriamente apresentada, contra recibo, pelo
trabalhador ao empregador que o admitir, o qual terá o prazo de quarenta e oito horas para nela anotar,
especialmente, a data de admissão, a remuneração e as condições especiais, se houver, sendo facultada a
adoção de sistema manual, mecânico ou eletrônico, conforme instruções a serem expedidas pelo Ministério do
Trabalho.
(...)
§ 4º. É vedado ao empregador efetuar anotações desabonadoras à conduta do empregado em sua
Carteira de Trabalho e Previdência Social.
§ 5º. O descumprimento do disposto no § 4º deste artigo submeterá o empregador ao pagamento de multa
prevista no art. 52 deste Capítulo.
EMENTA: RECURSO DE REVISTA. ANOTAÇÃO DA CTPS, COM RESSALVA DE QUE O REGISTRO
DECORRE DE AÇÃO JUDICIAL. PRÁTICA ABUSIVA E DISCRIMINATÓRIA. DANO MORAL.
CONFIGURAÇÃO.
A Consolidação das Leis do Trabalho, no art. 29, § 4º, dispõe que “é vedado ao empregador efetuar
anotações desabonadoras à conduta do empregado em sua carteira de trabalho e previdência social”. NÃO SE
PODE PERDER DE VISTA QUE É FATO PÚBLICO E NOTÓRIO A INTOLERÂNCIA DAS EMPRESAS COM
AQUELES TRABALHADORES QUE, EXERCENDO SEU DIREITO CONSTITUCIONAL DE AÇÃO, BUSCAM
O PODER JUDICIÁRIO COM O FIM DE VER RESGATADOS DIREITOS QUE LHES FORAM SONEGADOS.
A RESSALVA DE QUE A ANOTAÇÃO DECORRE DE AÇÃO JUDICIAL REVELA CONDUTA
DESNECESSÁRIA, ABUSIVA E DISCRIMINATÓRIA, E DE CONSEQUÊNCIAS MAIS GRAVES DO QUE AS
NEFASTAS LISTAS NEGRAS, NA MEDIDA EM QUE FAZ COM QUE O TRABALHADOR TRAGA EM SUA
PRÓPRIA CTPS ESSA INFORMAÇÃO, INDIVIDUALIZADA E DE MAIS FÁCIL CONSULTA, DIFICULTANDO
OU ATÉ MESMO IMPOSSIBILITANDO SEU REINGRESSO NO MERCADO DE TRABALHO. PRECEDENTES.
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RECURSO DE REVISTA CONHECIDO E PROVIDO. DECISÃO TRABALHISTA - TRIBUNAL SUPERIOR DO
TRABALHO. 3ª TURMA - ACÓRDÃO DO PROCESSO Nº RR - 228200-38.2009.5.20.0001 - DATA: 05/02/2014.
No Direito do Trabalho brasileiro, a CLT ainda prevê norma expressa sobre direitos da personalidade
no art. 373-A, VI, introduzido pela Lei nº 9.799, de 26.05.1999, que veda a revista íntima nas empregadas
mulheres (em razão do princípio da igualdade, insculpido no art. 5º, I, da CF, a norma deve ser aplicada
indistintamente, tanto para a proteção do trabalho da mulher como do homem, com vistas à tutela da intimidade
do empregado):
Art. 373-A. Ressalvadas as disposições legais destinadas a corrigir as distorções que afetam o acesso da
mulher ao mercado de trabalho e certas especificidades estabelecidas nos acordos trabalhistas, é vedado:
[...]
VI - proceder o empregador ou preposto a revistas íntimas nas empregadas ou funcionárias.
Este é o entendimento do TST quanto à matéria: “O art. 373-A, inciso VI, da CLT, por seu turno,
traz vedação expressa à revista íntima – embora dirigido às mulheres empregadas, é passível de
aplicação aos empregados em geral, em face do princípio da igualdade também assegurado pelo Texto
Maior. …” (TST – SDI-I – E-ED-RR 90340-49.2007.5.05.0464 – Ministro Relator Alberto Luiz Bresciani de
Fontan Pereira – DEJT 1/3/2013).
Pode ocorrer violação a direito da personalidade do empregador?
Art. 482. Constituem justa causa para rescisão do contrato de trabalho pelo empregador: [...]
j) ato lesivo da honra ou da boa fama praticado no serviço contra qualquer pessoa, ou ofensas físicas, nas
mesmas condições, salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outrem;
k) ato lesivo da honra ou da boa fama ou ofensas físicas praticadas contra o empregador e superiores
hierárquicos, salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outrem;
FUNCIONÁRIO QUE OFENDE EMPRESA EM GRUPO DO WHATSAPP CARACTERIZA JUSTA CAUSA
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Segundo os autos do processo, o trabalhador publicou no grupo em resposta à postagem de um
colega de trabalho que discorria sobre uma promoção de rodízio de pizza oferecido pela empresa. A postagem
dizia:
“Esse rodízio é uma merda. so 2 horas … Pela demora q é a lanchonete. nao da de comer nem dois
pedaço kkkk”.
O relator levou em consideração o fato de que o grupo não era exclusivo de funcionários da empresa e
assentou que o comentário depreciativo sobre a qualidade do serviço “revela clara ofensa à honra e à boa
fama do empregador, rendendo ensejo à penalidade aplicada”. Além da justa causa, também ficou mantida
a condenação em litigância de má-fé imposta ao requerente, já que restou demonstrado que o autor orientou a
testemunha a mentir a fim de corroborar a tese da petição inicial, tendo esta afirmado em interrogatório que “o
autor chamou a depoente para testemunhar e vir dizer que o grupo era composto somente por
funcionários, o que foi recusado pela depoente pois o grupo era aberto”. (Com informações do Migalhas).
JUSTA CAUSA. ATO OFENSIVO À HONRA E À BOA FAMA DO EMPREGADOR. CONFIGURAÇÃO. A
conduta obreira de publicar comentário depreciativo sobre a qualidade do serviço do réu em grupo criado em
aplicativo de mensagens revela clara ofensa à honra e à boa fama do empregador, rendendo ensejo à rescisão
contratual por justa causa. (TRT23, PROCESSO N. 0000272-85.2017.5.23.0081 (RO) RECORRENTE:
ROBSON LEANDRO MOLINA DOS SANTOS RECORRIDO: PASQUALOTTO & PASQUALOTTO LTDA.
RELATOR: ROBERTO BENATAR. Data do julgamento: 28 de junho de 2018.)
2. Conceito de dano moral
Para Yussef Said Cahali, o dano moral é “a privação da diminuição daqueles bens que têm valor
precípuo da vida, da honra e que são a paz, a tranquilidade de espírito, a liberdade individual,
a integridade física e os demais sagrados afeto”. Dano moral, São Paulo: Revista dos Tribunais.
“RECURSO DE REVISTA. RESPONSABILIDADE DA RECLAMADA. ACIDENTE DE TRABALHO.
INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL, MATERIAL E ESTÉTICO. O Tribunal Regional manteve a
responsabilidade da reclamada pelo evento danoso (acidente de trabalho de carpinteiro com serra elétrica
circular que resultou em amputação total de três dedos da mão esquerda - polegar, indicador e médio -
, perda integral dos movimentos dos dedos anelar e mínimo e, ainda, diminuição da força muscular) e,
nesse contexto, manteve a condenação ao pagamento das indenizações por dano moral, material e estético.
Para tanto, não só adotou a teoria do risco, com responsabilidade objetiva por parte da reclamada, como
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também constatou, por meio do conjunto fático-probatório, a existência de culpa da reclamada, que não adotou
as medidas de proteção e segurança para impedir a ocorrência de acidentes. Assim, a alteração buscada pela
reclamada demanda reexame dos autos, procedimento que está vedado na fase recursal extraordinária, por
força do entendimento consolidado na Súmula 126 do TST. Recurso de Revista de que não se conhece.
INDENIZAÇÃO POR DANO MATERIAL. PARCELA ÚNICA. O Tribunal Regional considerou desnecessária a
concordância da reclamada no pagamento de uma só vez da indenização por dano moral e nenhum dos dois
julgados paradigmas apresentados traz tese divergente. (TST. RR 9746620125030112 974-66.2012.5.03.0112.
5ª Turma. Rel. João Batista Brito Pereira. j. 21/08/2013. DEJT 30 ago. 2013).”
RESPONSABILIDADE CIVIL – IMPOSIÇÃO DE USO DE ADEREÇOS E FANTASIAS EM CAMPANHAS DE
MARKETING – DANO MORAL - CONFIGURAÇÃO. Cinge-se o debate à investigação da existência de dano à
moral do trabalhador em hipóteses de imposição de uso de adereços e fantasias em campanha de marketing.
O Eg. Tribunal Regional concluiu que referida conduta acarreta dano à moral do trabalhador por si só, bastando,
para tanto, a comprovação da prática lesiva denunciada. O TST, por seu turno, vem se posicionando em idêntico
sentido, registrando tratar-se de damnum in re ipsa, ou seja, presumido desde que constatado o ato lesivo
denunciado. Precedentes. ENQUADRAMENTO – DIFERENÇAS SALARIAIS. O aresto transcrito à divergência
revela-se inespecífico. Incidência da Súmula nº 296, I, do TST. Recurso de Revista a que se nega provimento.
(TST-RR-144100-74.2012.5.13.0023, julgado em 21/05/2014, João Pedro Silvestrin, DEJT 30/05/2014).
“O dano moral caracteriza-se pela simples violação de um direito geral de personalidade, sendo a
dor, a tristeza ou o desconforto emocional da vítima sentimentos presumidos de tal lesão (presunção hominis)
e, por isso, prescindíveis de comprovação em juízo (Dallegrave Neto, José Affonso, Responsabilidade Civil no
Direito do Trabalho, 2ª ed. SP: LTr, 2007, p. 154). Daí prescindir, o dano moral, da produção de prova,
relevando destacar cabível a indenização não apenas nos casos de prejuízo, mas também pela violação
de um direito. (TST, Processo Nº RR- 400-21.2002.5.09.0017; Rel. Min. Rosa Maria Weber; DEJT 11/06/2010).
DANO MORAL. FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL.
Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar (Red. EC 45/04):
(...)
VI – as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho (Red.
EC 45/04).
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ANÁLISE INTERDISCIPLINAR
O Código Civil (2002) não traz critérios fixos para a quantificação da indenização por dano moral. Deve
o magistrado fixá-la, nos seguintes moldes doutrinários: a) a extensão do dano (artigo 944 CCB), devendo
se levar em consideração o grau de afetação dos bens constitucionalmente garantidos; b) as condições
socioeconômicas dos envolvidos (função social da responsabilidade civil); c) o grau de culpa do agente,
de terceiro ou da vítima; d) aspectos psicológicos dos envolvidos.
RESPONSABILIDADE CIVIL
-CC 2002 art. 186 Configuração da Responsabilidade Subjetiva. Teoria aquiliana ou extracontratual.
-CC 2002 art. 187. Abuso de Direito (critério objetivo-finalístico).
-CC 2002 art. 944 “a indenização mede-se pela extensão do dano”.
- Enunciado 379 da IV Jornada de Direito Civil: Art. 944 - O art. 944, caput, do Código Civil não afasta a
possibilidade de se reconhecer a função punitiva ou pedagógica da responsabilidade civil.
Doutrinadores que discordam do posicionamento de que a responsabilidade subjetiva é a regra
do ordenamento jurídico brasileiro: (Anderson Schreiber, Flavio Tartuce, Marco Aurélio Bezerra de Melo,
dentre outros). Consagração da responsabilização objetiva (mais afinada a diplomas estrangeiros)
como regra e a responsabilidade subjetiva como verdadeira exceção.
Código Civil 2002
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados
em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza,
risco para os direitos de outrem.
CAPÍTULO II
Da Indenização
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Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.
Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir,
equitativamente, a indenização.
Comentando o art. 927, parágrafo único, do Código Civil consagra a cláusula geral de
responsabilidade objetiva. A expressão 'atividade de risco' foi esclarecida no enunciado na I Jornada de
Direito Civil do CJF com a seguinte redação: 'Enunciado 38 - Art. 927: a responsabilidade fundada no risco
da atividade, como prevista na segunda parte do parágrafo único do art. 927 do novo Código Civil,
configura-se quanto a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano causar a pessoa
determinada um ônus maior do que aos demais membros da coletividade'.
PREVISÃO IMPLÍCITA SOBRE DANO MORAL?
Artigo 483 CLT: Rescisão Indireta do Contrato de Trabalho
CLT Art. 483 - O empregado poderá considerar rescindido o contrato e pleitear a devida indenização
quando:
a) forem exigidos serviços superiores às suas forças, defesos por lei, contrários aos bons costumes, ou alheios
ao contrato;
b) for tratado pelo empregador ou por seus superiores hierárquicos com rigor excessivo;
c) correr perigo manifesto de mal considerável;
d) não cumprir o empregador as obrigações do contrato;
e) praticar o empregador ou seus prepostos, contra ele ou pessoas de sua família, ato lesivo da honra e boa
fama;
f) o empregador ou seus prepostos ofenderem-no fisicamente, salvo em caso de legítima defesa, própria ou de
outrem;
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g) o empregador reduzir o seu trabalho, sendo este por peça ou tarefa, de forma a afetar sensivelmente a
importância dos salários.
§ 1º - O empregado poderá suspender a prestação dos serviços ou rescindir o contrato, quando tiver de
desempenhar obrigações legais, incompatíveis com a continuação do serviço.
§ 2º - No caso de morte do empregador constituído em empresa individual, é facultado ao empregado rescindir
o contrato de trabalho.
§ 3º - Nas hipóteses das letras "d" e "g", poderá o empregado pleitear a rescisão de seu contrato de trabalho e
o pagamento das respectivas indenizações, permanecendo ou não no serviço até final decisão do processo.
CONCORRÊNCIA DE CULPAS. Culpa recíproca.
CC Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indenização será
fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano.
CLT Art. 484. Havendo culpa recíproca no ato que determinou a rescisão do contrato de trabalho, o
tribunal de trabalho reduzirá a indenização à que seria devida em caso de culpa exclusiva do
empregador, por metade.
RECURSO DE REVISTA. ACIDENTE DO TRABALHO. -MOTOBOY-. DANO MORAL E ESTÉTICO.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA. TEORIA DO RISCO DA ATIVIDADE. 1. Tese regional, fulcrada na
exegese dos artigos 2º da CLT e 927, parágrafo único, do Código Civil, a afirmar a responsabilidade objetiva,
nas atividades em que um dos contratantes exponha o outro a risco, bem como a assunção, pelo empregador,
dos riscos da atividade econômica. 2. Prevalecendo nesta Corte compreensão mais ampla acerca da
exegese da norma contida no caput do art. 7.º da Constituição da República, revela-se plenamente
admissível a aplicação da responsabilidade objetiva à espécie, visto que o acidente automobilístico de
que foi vítima o trabalhador - que laborava na função de -motoboy- -, ocorreu no exercício e em
decorrência da atividade desempenhada para a reclamada, notadamente considerada de risco.
Precedentes. 3. Inviolados os arts. 7º, XXVIII, da Constituição da República e 186 e 927 do Código Civil.
Inespecífico o aresto paradigma coligido. Aplicação das Súmulas 23 e 296 do TST. (...) Destaque-se que o
reclamante era 'moto boy' e sua atividade era, sabidamente, uma atividade de risco, mas este risco não pode
ser suportado pelo empregado, pois que pelo contrato de trabalho ele vende a sua força de trabalho e não
partes de seu corpo. Pela alienação da força de trabalho, cumpre ao empregador assumir os riscos da atividade,
conforme define o artigo 2º., da CLT. (...)
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Firmou-se a jurisprudência desta Corte no sentido de que a previsão constitucional de responsabilidade
subjetiva do empregador, no inciso XXVIII do art. 7º da Carta Política, não afasta a incidência do art. 927,
parágrafo único, do Código Civil - a responsabilizar o empregador de forma objetiva pelos danos
sofridos pelo empregado no desenvolvimento da atividade laboral -, à luz da norma insculpida no caput
de aludido dispositivo.
Nessa esteira, o Superior Tribunal de Justiça, determinou que
Sempre que ocorrer ofensa injusta à dignidade da pessoa humana restará configurado o
dano moral, não sendo necessária a comprovação de dor e sofrimento.
Trata-se de dano moral in re ipsa (dano moral presumido). Segundo doutrina e
jurisprudência do STJ, onde se vislumbra a violação de um direito fundamental, assim eleito pela CF,
também se alcançará, por consequência, uma inevitável violação da dignidade do ser humano.
A compensação nesse caso independe da demonstração da dor, traduzindo-se, pois, em
consequência in re ipsa, intrínseca à própria conduta que injustamente atinja a dignidade do ser
humano.
Aliás, cumpre ressaltar que essas sensações (dor e sofrimento), que costumeiramente
estão atreladas à experiência das vítimas de danos morais, não se traduzem no próprio dano, mas têm
nele sua causa direta. STJ. 3ª Turma. REsp 1.292.141-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 4/12/2012
(Inf. 513 STJ)
Pela natureza da atividade de pedreiro que teve hérnia de disco em função de esforço repetitivo no
serviço, a Subseção I Especializada em Dissídios Individuais (SDI-1) do Tribunal Superior do Trabalho decidiu
que
Há responsabilidade civil objetiva do empregador pelo dano e não depende da comprovação de
sua ação ou omissão no evento que causou a doença ocupacional. A decisão da SDI-1 corresponde à tese
defendida pelo ministro Alexandre Agra Belmonte, a quem coube a relatoria do processo.
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“Considerando as funções desempenhadas no exercício da atividade de pedreiro, é inegável o risco
ergonômico a que está exposto o trabalhador pela execução de movimentos repetitivos próprios da natureza
da atividade, como no caso, em que o autor desenvolveu hérnia de disco. Comprovados o dano e o nexo causal
entre a doença e a função desempenhada, cuja execução representa risco para o empregado, faz jus o autor
à indenização pleiteada, independentemente de culpa da empresa”, registrou o relator. Processo: TST E-RR-
89900-22.2008.5.15.0082.
RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE DE TRÂNSITO. MORTE. DANO MORAL.
QUANTUM INDENIZATÓRIO. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. CRITÉRIOS DE ARBITRAMENTO
EQUITATIVO PELO JUIZ. MÉTODO BIFÁSICO. VALORIZAÇÃO DO INTERESSE JURÍDICO LESADO E
DAS CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO.
1. Discussão restrita à quantificação da indenização por dano moral sofrido pelo esposo da vítima falecida em
acidente de trânsito, que foi arbitrado pelo tribunal de origem em dez mil reais.
2. Dissídio jurisprudencial caracterizado com os precedentes das duas turmas integrantes da Segunda Secção
do STJ.
3. Elevação do valor da indenização por dano moral na linha dos precedentes desta Corte, considerando as
duas etapas que devem ser percorridas para esse arbitramento.
4. Na primeira etapa, deve-se estabelecer um valor básico para a indenização, considerando o interesse
jurídico lesado, com base em grupo de precedentes jurisprudenciais que apreciaram casos semelhantes
5. Na segunda etapa, devem ser consideradas as circunstâncias do caso, para fixação definitiva do valor
da indenização, atendendo a determinação legal de arbitramento equitativo pelo juiz.
6. Aplicação analógica do enunciado normativo do parágrafo único do art. 953 do CC/2002.
7. Doutrina e jurisprudência acerca do tema.
8. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. (RECURSO ESPECIAL Nº 959.780 - ES (2007/0055491-9 - RELATOR:
MINISTRO PAULO DE TARSO SANSEVERINO).
ANTES DA REFORMA TRABALHISTA:
- A Emenda Constitucional 45/2004, que alterou dispositivo do artigo 114 da Constituição Federal de 1988,
dispõe que a Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar as ações decorrentes de dano moral
ou patrimonial no âmbito das relações de trabalho.
- CONCRETIZAÇÃO DO PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO DO OPERÁRIO, “PRÓ-OPERÁRIO”, entretanto a CLT
não regulamentava os critérios objetivos para a formulação de indenizações pelo dano extrapatrimonial.
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Exemplos na reparação por danos morais ou extrapatrimoniais (SILVA, Américo Luiz Martins da. O
Dano Moral e sua Reparação. p. 313), a saber:
a) O empregado que é difamado ou caluniado por seu empregador (por exemplo, uma justa causa gravíssima,
com fortes adjetivos, como de furto, fato suficientemente grave para abalar os alicerces do trabalhador-cidadão,
repercussões seríssimas na sua família e que depois de longos anos de discussão na Justiça do Trabalho
descobre-se finalmente que tudo não passou de uma “justa causa fabricada”);
b) As informações passadas pelo empregador às outras empresas, com intuito de prejudicar seu empregado,
taxando-o de indisciplinado, baderneiro, enfim, de individuo perigoso, o suficiente para fechar as portas do
mercado de trabalho, colocando-o assim à margem de dificuldades que produzem abalos irreversíveis na sua
personalidade, no âmbito familiar, quiçá, na sociedade.
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Conceito
Entende-se por assédio moral toda conduta abusiva, a exemplo de gestos, palavras e atitudes que se
repitam de forma sistemática, atingindo a dignidade ou integridade psíquica ou física de um trabalhador. Na
maioria das vezes, há constantes ameaças ao emprego e o ambiente de trabalho é degradado.
Obs: No entanto, o assédio moral não é sinônimo de humilhação e, para ser configurado, é necessário que se
prove que a conduta desumana e antiética do empregador tenha sido realizada com frequência, de
forma sistemática. Dessa forma, uma desavença esporádica no ambiente de trabalho não caracteriza assédio
moral. CNJ.
Segundo Vólia Bomfim Cassar, o assédio é “o termo utilizado para designar toda conduta que cause
constrangimento psicológico ou físico à pessoa”. Enquanto o assédio moral é por ela caracterizado em face de
“condutas abusivas praticadas pelo empregador direta ou indiretamente, sob o plano vertical ou horizontal, ao
empregado, que afetem seu estado psicológico”.
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Conforme informa Vólia Bonfim Cassar, o assédio moral pode ser também denominado de “bossing,
mobbing, bullying, harcèlement, manipulação perversa, terrorismo psicológico, epsicoterrosimo.”
(CASSAR, Vólia Bonfim. Direito do Trabalho. 7 ed. Niterói: Impetus, p. 913).
Sérgio Pinto Martins, ensina que assediar significa “importunar, molestar, aborrecer, incomodar,
perseguir com insistência inoportuna”. Assédio quer dizer cerco, limitação”. Já o assédio moral, segundo
o mesmo autor, consiste em: “uma conduta ilícita, de forma repetitiva, de natureza psicológica, causando
ofensa à dignidade, à personalidade e à integridade do trabalhador. Causa humilhação e constrangimento ao
trabalhador. Implica guerra de nervos contra o trabalhador, que é perseguido por alguém.” MARTINS, Sergio
Pinto. Assédio Moral. Revista da Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo, São Paulo, n. 13, p. 434,
jan/dez. 2008.
EMENTA: ASSÉDIO MORAL. DIREITO AO TRABALHO. ESVAZIAMENTO DE FUNÇÕES.
CONFIGURAÇÃO. O esvaziamento de funções, no qual o empregador impõe o ócio ao empregado, ofende a
moral do trabalhador e faz nascer o dever de reparação. Tal situação representa desrespeito à dignidade
da pessoa humana, ensejando a condenação em danos morais. (TRT da 3.ª Região; Processo: 0001060-
69.2014.5.03.0014 RO; Data de Publicação: 16/11/2015; Disponibilização: 13/11/2015, DEJT/TRT3/Cad.Jud,
Página 140; Órgão Julgador: Terceira Turma; Relator: Cesar Machado; Revisor: Camilla G. Pereira Zeidler).
ASSÉDIO MORAL. COMPENSAÇÃO POR DANOS MORAIS. QUANTUM ARBITRADO. MAJORAÇÃO. NÃO
PROVIMENTO. A egrégia Corte Regional concluiu que restaram caracterizados atos ofensivos ao autor
e ao ambiente de trabalho, embora não em grau suficiente para se configurar o assédio moral, sendo o
reclamante, contudo, submetido a tratamento desrespeitoso. Assim, a condenação da reclamada ao
pagamento de compensação por danos morais no valor de R$ 5.000,00 revela-se consentâneo com os
princípios da proporcionalidade e da razoabilidade, tendo sido considerados também outros
parâmetros, tais como o ambiente cultural dos envolvidos, as exatas circunstâncias do caso concreto,
o grau de culpa do ofensor, a situação econômica deste e da vítima e a gravidade e a extensão do dano.
Agravo de instrumento a que se nega provimento. (TST - AIRR - 506-91.2012.5.06.0412, julgado em
25/06/2014, Guilherme Augusto Caputo Bastos, 5ª Turma, DEJT 04/08/2014).
Notícias do TST
Gerente comete assédio moral ao dizer que colega estava fazendo “corpo mole”
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EMBORA TENHA OCORRIDO SOMENTE UMA VEZ, A CONDUTA CAUSOU CONSTRANGIMENTO
PÚBLICO!
A Segunda Turma do Tribunal Superior do Trabalho condenou o Banco Bradesco S.A. a pagar
indenização por assédio moral porque uma gerente geral disse a um colega adoentado que a doença
dele era “frescura” e que ele estava fazendo “corpo mole”. O valor de R$ 10 mil a título de reparação
pela agressão verbal será pago ao espólio do empregado.
Uma vez
O Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região (RJ) manteve a sentença em que se havia julgado
improcedente o pedido de indenização por danos morais. Para o TRT, o assédio moral se configura pela
prática de condutas abusivas do empregador ou de seus prepostos, como perseguição, injusta pressão
ou depreciação da pessoa do empregado, de forma sistemática e frequente durante tempo prolongado.
No caso, o Tribunal Regional considerou que não houve prova concreta de que a gerente geral tenha
destratado o empregado de forma repetida. “O simples fato (revelado pela testemunha) de, em uma
única oportunidade, a gerente ter dito que o colega estava fazendo ‘corpo mole’ e que a sua doença era
‘frescura’ não configura assédio moral”, concluiu.
A viúva recorreu ao TST alegando que havia se desincumbido do ônus de comprovar o assédio moral
sofrido pelo marido. Acrescentou que o depoimento da testemunha comprovara que ele havia sido
desmoralizado pela gerente geral na frente de outros colegas de trabalho e clientes.
Constrangimento público
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Para o relator do recurso de revista, ministro José Roberto Pimenta, não é admissível que o ambiente
de trabalho “seja arena de manifestações de desrespeito e que não se observe o mínimo exigido para
que as pessoas sejam tratadas com dignidade”. Segundo ele, “é inquestionável que as palavras
depreciativas geram desconforto pessoal e constrangimento público” - e, em relação a esse ponto, não
há controvérsia no processo. Por unanimidade, a Turma deu provimento ao recurso e fixou a
indenização por dano moral em R$ 10 mil. Processo: ARR-10171-58.2015.5.01.0027.
Assédio sexual
O assédio sexual, na definição da Organização Internacional do Trabalho (OIT), pode acontecer por atos,
insinuações, contatos físicos forçados, convites inconvenientes, que apresentem as seguintes características:
condição clara para manter o emprego, influência em promoções na carreira, prejuízo no rendimento
profissional, humilhação, insulto ou intimidação da vítima.
TST eleva em dez vezes condenação de empresa por assédio sexual de funcionário
O processo tramita em segredo de justiça, a fim de preservar a dignidade da trabalhadora, mas foi
destacado em sessão da 1ª Turma do TST como alerta para a gravidade do problema do assédio sexual
e da função corretiva da Justiça do Trabalho.
“A mulher, no Século XXI, ainda é tratada como objeto”, destacou o relator, ministro Walmir Oliveira da
Costa.
No caso julgado, testemunhas confirmaram o tratamento “vexatório, humilhante e obsceno” do superior
em relação à trabalhadora, inclusive com contato físico. O juízo de primeiro grau fixou a indenização
em R$ 20 mil, mas o Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região (RJ) reduziu-a para R$ 2 mil, equivalente
a três salários da ex-empregada. No recurso ao TST, ela alegou que o valor era irrisório, diante da
gravidade e das circunstâncias em que ocorreram os fatos.
Em se tratando de questão jurídica que envolve a aferição do grau de violação da intimidade e da privacidade
da empregada, em circunstâncias de extrema delicadeza, revela-se prudente homenagear a avaliação
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realizada no primeiro grau de jurisdição, mais próximo das partes e das peculiaridades fáticas da controvérsia”,
frisou, propondo o restabelecimento da indenização definida na sentença.
ASSÉDIO SEXUAL POR INTIMIDAÇÃO. CONFIGURAÇÃO. REPARAÇÃO PECUNIÁRIA POR DANOS
MORAIS. DEVIDA. O assédio sexual por intimidação, também denominado assédio sexual ambiental,
caracteriza-se por incitações sexuais inoportunas, solicitações sexuais ou outras manifestações da
mesma índole, verbais ou físicas, com o efeito de prejudicar a atuação de uma pessoa ou de criar uma
situação ofensiva, hostil, de intimidação ou abuso no ambiente de trabalho em que é intentado.
Evidenciado, no caso concreto, que a reclamante era importunada sexualmente por seu superior hierárquico, o
qual pegava em suas partes íntimas, inobstante a sua recusa, criando um ambiente de trabalho hostil e ofensivo,
além de acarretar abalo moral à trabalhadora, agravado pelo fato de o marido dela também trabalhar na
reclamada, fica caracterizado o assédio sexual por intimidação, fazendo jus a trabalhadora à indenização por
danos morais, nos moldes dos artigos 186 e 927, do Código Civil. (TRT da 3.ª Região; PJe: 0011045-
18.2014.5.03.0061 (RO); Disponibilização: 10/09/2015, DEJT/TRT3/Cad.Jud, Página 223; Órgão Julgador:
Sétima Turma; Relator: Fernando Luiz G.Rios Neto).
Dispensa discriminatória
TST Súmula 443.
SUM-443 DISPENSA DISCRIMINATÓRIA. PRESUNÇÃO. EMPREGADO PORTADOR DE DOENÇA GRAVE.
ESTIGMA OU PRECONCEITO. DIREITO À REINTEGRAÇÃO - Res. 185/2012, DEJT divulgado em 25, 26 e
27.09.2012
Presume-se discriminatória a despedida de empregado portador do vírus HIV ou de outra doença grave
que suscite estigma ou preconceito. Inválido o ato, o empregado tem direito à reintegração no emprego.
PROFESSOR EDITOR ACOMETIDO DE ESCLEROSE MÚLTIPLA. CIÊNCIA DO EMPREGADOR. DISPENSA
ARBITRÁRIA RECONHECIDA. DISPENSA DISCRIMINATÓRIA CARACTERIZADA. PAGAMENTO EM
DOBRO DA INDENIZAÇÃO PREVISTA NA LEI 9.029/95 DEVIDO. Trata-se de empregado acometido de
esclerose múltipla, cuja dispensa foi reconhecida como arbitrária e obstativa do direito à estabilidade, mas não
discriminatória. O Tribunal Regional julgou procedente o pagamento equivalente aos salários desde a dispensa
até o trânsito em julgado por entender que a discriminação não foi cabalmente demonstrada, ou, como expresso
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no acórdão regional: "...não houve prova cabal de que foi despedido em razão da doença". Contudo, tal
entendimento contraria o disposto na primeira parte da Súmula 443 desta Corte, visto que é evidente que a
dispensa se deu em razão da doença, tanto que reconhecido que a despedida foi arbitrária e obstativa da
estabilidade assegurada em norma coletiva para os empregados "...acometidos por doenças graves e
incuráveis...", resultando, portanto, discriminatória a despedida por conferir tratamento injusto ao empregado
em razão do seu estado como pessoa natural. Desse modo, tomando-se que o conceito de "estado civil" não
está limitado ao "estado de família de uma pessoa", pois envolve os seus atributos individuais capazes de lhe
definir uma situação jurídica com direitos e deveres e considerando o arcabouço constitucional (v.g., arts. 1º, III
e 3º, IV, da Constituição Federal) e legal brasileiro que vedam toda e qualquer forma de discriminação, vedação
ressaltada no caput do artigo 1º da Lei 9.029/95 ("Fica proibida a adoção de qualquer prática discriminatória
e limitativa para efeito de acesso a relação de emprego, ou sua manutenção, por motivo de... estado
civil..."), não há como afastar o direito à dobra da indenização relativa ao período de afastamento prevista no
artigo 4º do mesmo diploma legal, uma vez caracterizada a dispensa discriminatória em razão da condição
pessoal do empregado portador de doença estigmatizante que o coloca em posição jurídica do dever de
proteção por toda a sociedade, incluindo o empregador. Recurso de revista conhecido por contrariedade à
Súmula 443 do TST e provido. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. PRETENSÃO DE MAJORAÇÃO DO
VALOR DA REPARAÇÃO PECUNIÁRIA. Infere-se do acórdão regional que a indenização foi fixada em juízo
de equidade a partir de critérios aferidos e cotejados com sensatez, equanimidade, isenção e imparcialidade.
Desse modo, inexistindo elementos na decisão recorrida para aferir, por exemplo, a capacidade econômica do
ofensor, requisito que também é considerado para a fixação da reparação pecuniária, não se constata violação
dos artigos 5º, V, X, da Constituição Federal; 159 e 1553 do Código Civil de 1916 e 944 do Código Civil 2002.
Os arestos apresentados, além de inespecíficos, nos termos da Súmula 296 desta Corte, encontram óbice na
alínea "a" do artigo 896 da CLT e na Súmula 337, I, "a", do TST. Recurso de revista não conhecido. (TST - RR
- 90500-33.2002.5.02.0044, Julgado em 04/02/2015, Alexandre de Souza Agra Belmonte, 3ª Turma, DEJT
06/02/2015).
DISPENSA DISCRIMINATÓRIA - EMPREGADO PORTADOR DE DOENÇA GRAVE - DANOS MORAIS. A
responsabilidade por danos morais, reconhecida pelo art. 5º, V e X, da Constituição Federal e que
encontra guarida também no Código Civil, art. 186, decorre de uma lesão ao direito da personalidade,
inerente a toda e qualquer pessoa. Diz respeito à ordem interna do ser humano, seu lado psicológico,
seja em razão de uma dor sofrida, tristeza, sentimento de humilhação ou outro qualquer que venha a
atingir seus valores e repercutir na sua vida social. Desnecessário se faz, nesse caso, que aquele que
se diz ofendido comprove a sua dor, o sentimento de tristeza. Deve provar, entretanto, que o ato do
empregador foi suficientemente agressivo a ponto de ofender a sua honra ou de que foi submetido a
uma situação vexatória e humilhante. Reconhecido que a reclamada praticou ato discriminatório ao
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proceder a dispensa do reclamante, quando ele, portador de doença grave, ainda se encontrava em
tratamento médico, não há como se olvidar, no caso, da negligência da empresa, que a ele dispensou
tratamento desumano. O dano é incontestável, pois presumível o sentimento de tristeza e humilhação
em face da demissão em um momento de grande abalo emocional, decorrente da própria doença.
Presentes os pressupostos legais para a caracterização do dano moral, o dever de indenizar se impõe.
(TRT - 03 00044-2014-063-03-00-0 RO; Data de Publicação: 02/06/2014; Quarta Turma; Relator: Julio
Bernardo do Carmo; Revisor: Maria Lucia Cardoso Magalhaes; Divulgação: 30/05/2014. DEJT Pág. 114).
RESTRIÇÃO AO USO DO BANHEIRO. A restrição ao uso do banheiro pela empresa não pode ser
considerada conduta razoável, pois configura afronta à dignidade da pessoa humana e à privacidade,
aliada ao abuso do poder diretivo do empregador. Há precedentes (TST-RR-355900-13.2009.5.12.0003, j.
em 9.10.13, Augusto César Leite de Carvalho, DEJT, 11.10.13).
Você sabe quais são os limites da revista pessoal no trabalho?
A mera revista visual e geral nos pertences do empregado, como bolsas e sacolas, não configura, por si só,
ofensa à intimidade da pessoa, constituindo, na realidade, exercício regular do direito do empregador, inerente
ao seu poder de direção e fiscalização. Processo: RR - 3695400-90.2007.5.09.0010 Data de Julgamento:
06/04/2011, Relatora Ministra: Dora Maria da Costa, 8ª Turma.
A fiscalização feita com moderação e razoabilidade não caracteriza abuso de direito ou ato ilícito,
constituindo, na realidade, exercício regular do direito do empregador. A fiscalização de bolsas dos
empregados, sem que se proceda à revista íntima, mas apenas visual, e em caráter geral, relativamente
aos empregados de mesmo nível hierárquico, não configura excesso do empregador. Processo: RR -
458000-74.2009.5.12.0026 Data de Julgamento: 23/03/2011, Relatora Ministra: Kátia Magalhães Arruda,
5ª Turma.
Esta Corte Superior tem se posicionado no sentido de que a revista visual de pertences dos
empregados, feita de forma impessoal e indiscriminada, é inerente aos poderes de direção e de
fiscalização do empregador e, por isso, não constitui ato ilícito.
No presente caso, o quadro fático delineado no acórdão regional não evidencia abuso de direito no
procedimento de revista adotado pela ré. Não se registrou, por exemplo, a existência de contato físico
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com os empregados, nem a exposição indevida destes durante a revista, ou então a adoção de critérios
discriminatórios, para a realização da inspeção. Assim, não se há de falar em ato ilícito da reclamada.
Recurso de revista de que se conhece parcialmente e a que se dá provimento. Processo: RR - 306140-
53.2003.5.09.0015 Data de Julgamento: 15/12/2010, Relator Ministro: Pedro Paulo Manus, 7ª Turma.
DANO MORAL COLETIVO E DANO SOCIAL
DISTINÇÃO
CASO TRAGÉDIA EM BRUMADINHO (2019)
- Quem são as vítimas da tragédia?
- RESPONSABILIDADE NO SISTEMA JURÍDICO. DANOS INDIVIDUAIS E COLETIVOS.
Como já previsto na Súmula 37, STJ, a reparação por danos extrapatrimoniais pode ser pedida
cumulativamente com a indenização por danos materiais decorrentes do mesmo ato lesivo (art. 223-F,
caput, CLT), sendo que se houver cumulação de pedidos, o juízo, ao proferir a decisão, discriminará os
valores das indenizações a título de danos patrimoniais e das reparações por danos de natureza
extrapatrimonial (art. 223-F, § 1º).
Tragédia em MG põe em xeque teto para indenização por dano moral
- CLASSIFICAÇÃO DOS DANOS MORAIS, CHAMADOS DE “EXTRAPATRIMONIAIS”:
PUROS (diretos) se exaurem nas lesões, ou seja, esgotam-se em apenas um aspecto,
atingindo aos chamados atributos da pessoa, como a honra, a intimidade, a liberdade etc.;
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REFLEXOS (indiretos) constituem-se como efeitos de lesão, isto é, são aqueles surgidos
como consequência e são reflexos daquele dano;
A indenização em pecúnia dos danos extrapatrimoniais conta com dois sistemas diversos possíveis na
esfera judicial: o sistema tarifário e o sistema aberto. O sistema tarifário consiste na pré-estipulação, por
parte da lei ou da jurisprudência, dos limites do valor indenizatório a ser fixado pelo juiz. Neste sistema,
o juiz aplica a regra existente ao caso sub-judice com observância dos limites do valor previamente
fixados, o que retira do magistrado parcela do seu poder discricionário para estabelecer o valor correto
para a indenização do caso concreto, conforme suas especificidades. Por outro lado, o sistema aberto
de ressarcimento confere ao juiz a atribuição de determinar o valor hábil a reparar o dano sofrido pela
vítima, com base nos fatos narrados e nas provas produzidas nos autos” (SANTOS, Ana Claudia
Schwenck dos. Dano Extrapatrimonial. In. MANNRICH, Nelson (Coord.). Reforma trabalhista: reflexões e
críticas. São Paulo, 2ª edição, 2018, p. 147).
O STF, ao julgar a “tarifação” dos danos morais fixada na Lei de Imprensa (Lei 5.250/67, art. 52),
entendeu que a regra legal é incompatível com a CF (art. 5º, V e X) (2ª T – RE 396386 / SP – Rel. Min.
Carlos Velloso – j. 29/6/2004).
Os danos sociais “são lesões à sociedade, no seu nível de vida, tanto por rebaixamento de seu
patrimônio moral – principalmente a respeito da segurança – quanto por diminuição na qualidade de vida”
(AZEVEDO, Antonio Junqueira de. Por uma nova categoria de dano na responsabilidade civil: o dano social.
In: O Código Civil e sua interdisciplinaridade, p. 370-377).
O dano social envolve uma ou várias “condutas socialmente reprováveis” (= comportamento
exemplar negativo) não podendo ser confundido com o dano moral coletivo, como bem acentua Flavio Tartuce
(Manual de direito civil, p. 439):
(a) o coletivo, atinge vários direitos da personalidade, enquanto o social causa um rebaixamento no nível de
vida da coletividade;
(b) o coletivo atinge direitos individuais homogêneos em sentido estrito, sendo que a indenização é destinada
para as próprias vítimas. No social, os direitos violados são difusos, logo, toda a sociedade é vítima da conduta,
devendo, assim, a indenização ser direcionada para um fundo de proteção ou instituição de caridade
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DANO MORAL COLETIVO. INDENIZAÇÃO. O Tribunal Regional concluiu ter sido configurada a conduta
discriminatória e antissindical por parte do réu da ação civil pública, consistente, dentre outros atos,
no estorno de empréstimo bancário e na preterição de promoção funcional em virtude da filiação e da
integração à diretoria de sindicato. 3. Assim, configurados a conduta antijurídica do agente, a ofensa a
interesses jurídicos fundamentais, titularizados por determinada coletividade, a intolerabilidade da
ilicitude, diante do contexto e da repercussão social, bem como o nexo causal entre a conduta e o dano
correspondente à violação do interesse coletivo, a decisão regional que reconheceu ser devida a
indenização por dano moral coletivo não viola o art. 186 do Código Civil, ao contrário, confere plena
eficácia ao preceito legal que rege a responsabilidade civil subjetiva (TST-AIRR-102840-
24.2005.5.13.0003, j. em 3.4.13, Walmir Oliveira da Costa, DEJT, 5.4.13).
OPERAÇÕES DO ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL EFETUADAS EM NOME DO EMPREGADO.
ABUSO DO PODER DIRETIVO PATRONAL. O uso do nome do autor em operações do estabelecimento
rural do réu, de forma reiterada, é suficiente para a consideração de que o reclamante sofreu danos
morais daí diretamente decorrentes. Os riscos da atividade econômica devem ser suportados pelo
reclamado, conforme artigo 2o da CLT, e a transferência deste ônus para o autor, através do uso de seu
nome para operações relativas ao estabelecimento rural, certamente trouxe ao reclamante angústia,
afetando seu estado emocional, tratando-se de claro abuso do poder diretivo patronal. Ao "emprestar
seu nome", o reclamante corria o inerente risco de ter comprometido o seu "bom nome na praça" e de
ter exposta a sua confiabilidade perante o comércio local, o que, como se sabe, acaba por estender-se
a uma exposição perante toda a sociedade, destacando-se que os débitos eram feitos em pequena
cidade do interior, em que a referida exposição ocorre mais facilmente. Vê-se, portanto, que o
reclamante passava, de forma reiterada, pelo temor quanto ao comprometimento de elemento referente
à sua própria personalidade, de natureza indisponível, pelo que manifesto o abuso da conduta
empresária. Percebe-se, assim, a direta afetação da dignidade do trabalhador e o desrespeito a sua
intimidade, vida privada, honra e imagem (incisos V e X artigo 5º, X e inciso XXII artigo 7º da Constituição
Federal), pelo devida a indenização pelo assédio moral sofrido. (TRT 3ª Região. Segunda Turma.
0000066-69.2011.5.03.0071 RO. Recurso Ordinário. Sebastião Geraldo de Oliveira. DEJT 25/07/2012
P.48).
REFORMA TRABALHISTA:
TÍTULO II-A DO DANO EXTRAPATRIMONIAL
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Art. 223-A. Aplicam-se à reparação de danos de natureza extrapatrimonial decorrentes da relação de trabalho
apenas os dispositivos deste Título.
Art. 223-B. Causa dano de natureza extrapatrimonial a ação ou omissão que ofenda a esfera moral ou
existencial da pessoa física ou jurídica, as quais são as titulares exclusivas do direito à reparação.
Atenção: A controvérsia deste dispositivo é que o dano extrapatrimonial só será fixado às partes
envolvidas diretamente, não abrangendo quem possa ser atingido de forma secundária por algum
prejuízo que o determinado dano acabou por gerar.
Para exemplificar, um trabalhador que se acidenta durante sua jornada, sendo ele a única fonte de
renda de sua família e ficando impossibilitado de trabalhar devido à negligência de seu empregador, terá
prejuízos de ordem material e moral diretamente, pois, seguindo de modo restrito este artigo, sua família não
será abrangida em uma eventual condenação por dano extrapatrimonial.
Os dois artigos seguintes, o 223-C e 223-D, especificam as modalidades de ofensas que podem
gerar o dano extrapatrimonial, tanto para pessoa física como para pessoa jurídica. Vejamos:
Art. 223-C. A honra, a imagem, a intimidade, a liberdade de ação, a autoestima, a sexualidade, a saúde,
o lazer e a integridade física são os bens juridicamente tutelados inerentes à pessoa física.
Art. 223-D. A imagem, a marca, o nome, o segredo empresarial e o sigilo da correspondência são
bens juridicamente tutelados inerentes à pessoa jurídica.
CONSAGRAÇÃO DA SOLIDARIEDADE A TODOS QUE CONTRIBUÍRAM PARA O EVENTO
DANOSO. LITISCONSÓRCIO PASSIVO FACULTATIVO.
Art. 223-E. São responsáveis pelo dano extrapatrimonial todos os que tenham colaborado para a
ofensa ao bem jurídico tutelado, na proporção da ação ou da omissão.
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CUMULAÇÃO DE PEDIDOS COM PRETENSÃO DE DANO MORAL
Art. 223-F. A reparação por danos extrapatrimoniais pode ser pedida cumulativamente com a
indenização por danos materiais decorrentes do mesmo ato lesivo.
§ 1º. Se houver cumulação de pedidos, o juízo, ao proferir a decisão, discriminará os valores das
indenizações a título de danos patrimoniais e das reparações por danos de natureza extrapatrimonial.
§ 2º. A composição das perdas e danos, assim compreendidos os lucros cessantes e os danos
emergentes, não interfere na avaliação dos danos extrapatrimoniais.
CRITÉRIOS OBJETIVOS NA AFERIÇÃO DO DANO MORAL
Súmula 281 do STJ: A indenização por dano moral não está sujeita à tarifação prevista na Lei de Imprensa.
Art. 223-G. Ao apreciar o pedido, o juízo considerará:
I. a natureza do bem jurídico tutelado;
II. a intensidade do sofrimento ou da humilhação;
III. a possibilidade de superação física ou psicológica;
IV. os reflexos pessoais e sociais da ação ou da omissão;
V. a extensão e a duração dos efeitos da ofensa;
VI. as condições em que ocorreu a ofensa ou o prejuízo moral;
VII. o grau de dolo ou culpa;
VIII. a ocorrência de retratação espontânea;
IX. o esforço efetivo para minimizar a ofensa;
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X. o perdão, tácito ou expresso;
XI. a situação social e econômica das partes envolvidas;
XII. o grau de publicidade da ofensa.
§ 1º. Se julgar procedente o pedido, o juízo fixará a indenização a ser paga, a cada um dos
ofendidos, em um dos seguintes parâmetros, vedada a acumulação:
I. ofensa de natureza leve, até três vezes o último salário contratual do ofendido;
II. ofensa de natureza média, até cinco vezes o último salário contratual do ofendido;
III. ofensa de natureza grave, até vinte vezes o último salário contratual do ofendido;
IV. ofensa de natureza gravíssima, até cinquenta vezes o último salário contratual do ofendido.
§ 2º. Se o ofendido for pessoa jurídica, a indenização será fixada com observância dos mesmos
parâmetros estabelecidos no § 1º deste artigo, mas em relação ao salário contratual do ofensor.
§ 3º. Na reincidência entre partes idênticas, o juízo poderá elevar ao dobro o valor da indenização.
Questão Interessante: SEGUNDA VARA DO TRABALHO de Volta Redonda, Processo 0000177-
65.2014.5.01.0342, RJ. A indenização por danos morais foi arbitrada no valor de R$ 26.656,55 (vinte e
seis mil, seiscentos e cinquenta e seis reais e cinquenta e cinco centavos), apresentando o MM. Juízo
a quo a seguinte fundamentação: Classe [...] levando-se em consideração o caráter didático-
pedagógico-punitivo da condenação, bem como os parâmetros do art. 223-G, em especial a natureza do
bem jurídico tutelado; a intensidade do sofrimento ou da humilhação; a possibilidade de superação
física ou psicológica; os reflexos pessoais e sociais da ação ou da omissão; a extensão e a duração
dos efeitos da ofensa; as condições em que ocorreu a ofensa ou o prejuízo moral; e o grau de dolo ou
culpa; a situação social e econômica das partes envolvidas; e ainda o princípio da proporcionalidade e
da razoabilidade, e considerando a gravidade da lesão – lesão de natureza média para fins do art. 223-
G, §1º, CLT -, arbitro como indenização por danos morais a quantia de 5 vezes o limite máximo dos
benefícios do Regime Geral de Previdência Social; (MP 88/2017) – R$5.331,31 - totalizando R$ 26.656,55.
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DANO TARIFADO E ATRELADO AO SALÁRIO DO TRABALHADOR. VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA
ISONOMIA. INCONFORMIDADE CONSTITUCIONAL.
Caso concreto: Na qualidade de Advogado (a), pleitearia dano moral no atraso reiterado
de salário pelo empregador?
TST - Atraso de salário não dá direito à indenização por danos morais. Processo Relacionado: 29900-
05.2007.5.04.0662. Oitava turma.
. ELEMENTOS DO DANO EXISTENCIAL
1.1 Prejuízo ao projeto de vida
1.2 Prejuízo à vida de relações
Fundamento no Direito Italiano
(década 1970)
chamado de “danno alla vita di relazion”
Para o TST, Ministro Maurício Godinho Delgado, a gestão empregatícia que submete o indivíduo a reiterada
jornada extenuante, muito acima dos limites legais, com frequente supressão do repouso semanal, agride
alguns princípios constitucionais e “a própria noção estruturante de Estado Democrático de Direito”, por afastar
o tempo destinado à vida particular. A situação, a seu ver, caracteriza o dano existencial, possibilitando a
indenização prevista no artigo 5º, incisos V e X, da Constituição Federal, e 186 do Código Civil.
“O dano existencial constitui espécie de dano imaterial ou não material que acarreta à vítima, de modo parcial
ou total, a impossibilidade de executar, dar prosseguimento ou reconstruir o seu projeto de vida (na dimensão
familiar, afetivo-sexual, intelectual, artística, científica, desportiva, educacional ou profissional, dentre outras) e
a dificuldade de retomar sua vida de relação (de âmbito público ou privado, sobretudo na seara da convivência
familiar, profissional ou social).” (FROTA, 2011, online)
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Desfrutar os prazeres propiciados por atividades recreativas, extra-laborativas as mais variadas,
como praticar esportes, fazer turismo, pescar, frequentar cinema, teatro ou clubes etc..., interferindo
decisivamente no seu estado de ânimo.
O dano ao projeto de vida atinge as expectativas de desenvolvimento pessoal, profissional e
familiar da vítima, incidindo sobre sua liberdade de escolher o seu próprio destino.
RECURSO DE REVISTA. DANO MORAL. DANO EXISTENCIAL. SUBMISSÃO A JORNADA EXTENUANTE.
PREJUÍZO NÃO COMPROVADO. O dano existencial é espécie de dano imaterial. No caso das relações
de trabalho, o dano existencial ocorre quando o trabalhador sofre dano/limitações em relação à sua vida
fora do ambiente de trabalho em razão de condutas ilícitas praticadas pelo empregador,
impossibilitando-o de estabelecer a prática de um conjunto de atividades culturais, sociais, recreativas,
esportivas, afetivas, familiares, etc., ou de desenvolver seus projetos de vida nos âmbitos profissional,
social e pessoal. Não é qualquer conduta isolada e de curta duração, por parte do empregador, que pode ser
considerada como dano existencial. Para isso, a conduta deve perdurar no tempo, sendo capaz de alterar o
objetivo de vida do trabalhador, trazendo-lhe um prejuízo no âmbito de suas relações sociais. Na hipótese dos
autos, embora conste que o Autor se submetia frequentemente a uma jornada de mais de 15 horas
diárias, não ficou demonstrado que o Autor tenha deixado de realizar atividades em seu meio social ou
tenha sido afastado do seu convívio familiar para estar à disposição do Empregador, de modo a
caracterizar a ofensa aos seus direitos fundamentais. Diferentemente do entendimento do Regional, a
ofensa não pode ser presumida, pois o dano existencial, ao contrário do dano moral, não é "in re ipsa",
de forma a se dispensar o Autor do ônus probatório da ofensa sofrida. [...]. Recurso de Revista
conhecido e provido. (TST-RR 14439420125150010, Relatora Maria de Assis Calsing, Data de julgamento
15/04/2015, Quarta Turma, Data de publicação DEJT 17/04/2015).
RECURSO DE REVISTA DA RECLAMADA – DANO EXISTENCIAL – DANO À PERSONALIDADE QUE
IMPLICA PREJUÍZO AO PROJETO DE VIDA OU À VIDA DE RELAÇÕES – NECESSIDADE DE
COMPROVAÇÃO DE LESÃO OBJETIVA NESSES DOIS ASPECTOS – NÃO DECORRÊNCIA IMEDIATA DA
PRESTAÇÃO DE SOBREJORNADA – ÔNUS PROBATÓRIO DO RECLAMANTE.
O dano existencial é um conceito jurídico oriundo do Direito civil italiano e relativamente recente, que se
apresenta como aprimoramento da teoria da responsabilidade civil, vislumbrando uma forma de proteção à
pessoa que transcende os limites classicamente colocados para a noção de dano moral. Nessa trilha,
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aperfeiçoou-se uma resposta do ordenamento jurídico àqueles danos aos direitos da personalidade que
produzem reflexos não apenas na conformação moral e física do sujeito lesado, mas que comprometem
também suas relações com terceiros.
Mais adiante, a doutrina se sofisticou para compreender também a possibilidade de tutela do
sujeito não apenas quanto às relações concretas que foram comprometidas pelas limitações
decorrentes da lesão à personalidade, como também quanto às relações que potencialmente poderiam
ter sido construídas, mas que foram suprimidas da esfera social e do horizonte de alternativas de que
o sujeito dispõe.
[...] Embora exista no âmbito doutrinário razoável divergência a respeito da classificação do dano
existencial como espécie de dano moral ou como dano de natureza extrapatrimonial estranho aos contornos
gerais da ofensa à personalidade, o que se tem é que dano moral e dano existencial não se confundem, seja
quanto aos seus pressupostos, seja quanto à sua comprovação. Isto é, embora uma mesma situação de
fato possa ter por consequência as duas formas de lesão, seus pressupostos e demonstração
probatória se fazem de forma peculiar e independente. [...] (TST, 7ª Turma, RR-523-56.2012.5.04.0292,
julgado em 26/08/2015).
PERDA DE CONVIVÊNCIA
Hardcase
Frigorífico pagará dano existencial a empregados por deslocamento longo
Ação Civil Coletiva 0001095-87.2017.5.12.0009
Se o tempo que os funcionários de uma empresa gastam no expediente somado ao deslocamento até
o local de trabalho superar as oito horas mais duas horas extras previstas na CLT, cabe condenação por dano
existencial.
Foi esse o entendimento do juiz Carlos Frederico Fiorino Carneiro, da 1ª Vara do Trabalho de Chapecó
(SC), ao condenar um frigorífico a pagar horas extras a seus trabalhadores. Por fim, o juiz ainda garantiu o
pagamento de dano existencial aos trabalhadores, uma vez que “a realização de jornada muito extensa,
acima de 2 horas extras diárias, afeta o convívio e a integração familiar e social, bem como impede
vários projetos de vida e o desenvolvimento pessoal (como por exemplo a realização de cursos de
capacitação para ascensão profissional e o ingresso em uma universidade), ofendendo a dignidade da
pessoa humana”. Em sua defesa, o frigorifico argumentou que existe atualmente uma linha de ônibus que
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passa em frente ao posto de trabalho e que a Lei 13.467/2017, que instituiu a reforma trabalhista, exclui a
previsão do pagamento das horas in itinere.
O dano existencial, nas relações de trabalho, é aquele sofrido pelo trabalhador ao ser privado de seus projetos
de vida e de suas relações, quando impedido de usufruir o seu tempo livre. Decorre das exigências exacerbadas
do empregador por excesso de sobrejornada, pela exigência além das forças de trabalho, pela não concessão
de férias ou qualquer outro ato que impeça o trabalhador de poder realizar um projeto de vida ou mesmo de
viver suas relações sociais. A realização de horas extras, por si só, não enseja a reparação moral, além da
reparação material determinada n r. sentença. TRT/SP 15ª Região 0010989-46.2016.5.15.0104 RO – Ac. 1ª
Câmara PJe. Rel. Hélio Grasselli. DEJT 20 abr. 2017, p. 3068.
OUTROS TEMAS RELEVANTES.
TRAVESTIS E TRANSEXUAIS NO MERCADO DE TRABALHO
Sexo, Identidade de Gênero e Orientação Sexual
O fato de um indivíduo se sentir homem ou mulher (sua identidade de gênero) não tem,
necessariamente, relação com seu sexo biológico (identidade sexual); nem tampouco com sua orientação
sexual (que pode ser heterossexual, homossexual, bissexual). Contudo, no Ocidente, o conceito de gênero está
colado ao de sexualidade/reprodução, o que promove uma imensa dificuldade de separar, segundo o senso
comum, a problemática da identidade de gênero da de orientação sexual. (LIMA, 2011, p. 169).
Dispõe sobre o uso do nome social e o reconhecimento da identidade de gênero de pessoas travestis e
transexuais no âmbito da administração pública federal direta, autárquica e fundacional. Veja Decreto 8.727,
de 28 de abril de 2016.
Embora seja necessário o Brasil avançar na questão LGBT, observamos no presente artigo conquistas
de direitos e políticas públicas. O Brasil é país membro da Organização Internacional do Trabalho (OIT)
desde a década de 1950. Em 1965, o país ratificou a Convenção nº 111 da OIT sobre discriminação em
matéria de emprego e profissão. Segundo esta Convenção, os países membros que são signatários devem
proteger as pessoas contra a discriminação no ambiente de trabalho.
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Princípios de Yogyakarta
Tratam-se de princípios que "refletem a aplicação da legislação de direitos humanos
internacionais à vida e à experiência das pessoas de orientações sexuais e identidades de gênero
diversas e nenhum deles deve ser interpretado como restringindo, ou de qualquer forma limitando, os
direitos e liberdades dessas pessoas, conforme reconhecidos em leis e padrões internacionais,
regionais e nacionais."
São 29 os princípios:
1. Direito ao Gozo Universal dos Direitos Humanos
2. Direito à Igualdade e a Não-Discriminação
3. Direito ao Reconhecimento Perante a Lei
4. Direito à Vida
Direito à Segurança Pessoal
6. Direito à Privacidade
7. Direito de Não Sofrer Privação Arbitrária da Liberdade
8. Direito a um Julgamento Justo
9. Direito a Tratamento Humano durante a Detenção
10. Direito de Não Sofrer Tortura e Tratamento ou Castigo Cruel, Desumano e Degradante
11. Direito à Proteção Contra todas as Formas de Exploração, Venda ou Tráfico de Seres
Humanos
12. Direito ao Trabalho
13. Direito à Seguridade Social e outras Medidas de Proteção Social
14. Direito a um Padrão de Vida Adequado
15. Direito à Habitação Adequada
16. Direito à Educação
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17. Direito ao Padrão mais Alto Alcançável de Saúde
18. Proteção contra Abusos Médicos
19. Direito à Liberdade de Opinião e Expressão
20. Direito à Liberdade de Reunião e Associação Pacíficas
21. Direito à Liberdade de Pensamento, Consciência e Religião
22. Direito à Liberdade de Ir e Vir
23. Direito de Buscar Asilo
24. Direito de Constituir uma Família
25. Direito de Participar da Vida Pública
26. Direito de Participar da Vida Cultural
27. Direito de Promover os Direitos Humanos
28. Direito a Recursos Jurídicos e Medidas Corretivas Eficazes
29. Responsabilização (“Accountability”).
STF RE 845779. MINORIA MARGINALIZADA. O direito de transexuais serem tratados
socialmente de forma condizente com sua identidade de gênero. PROIBIÇÃO DO USO DE BANHEIRO
FEMININO EM SHOPPING CENTER.
ASSÉDIO MORAL
Empresa é condenada por obrigar transexual a usar banheiro de deficiente. TRT 2 Processo
00033651520135020038.
Homofobia e Transfobia
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Suspenso julgamento sobre omissão do Legislativo para criminalizar homofobia
Voto do ministro Celso de Mello, relator da ADO 26, tomou toda sessão desta quinta-feira e deverá
ser concluído na próxima sessão. "Preconceito, discriminação, exclusão e até mesmo punições: eis o
extenso e cruel itinerário que tem sido percorrido pela comunidade LGBT."
As ações
Na ADO 26, o Partido Popular Socialista (PPS) pede que o STF declare a omissão do Congresso
Nacional por não ter elaborado legislação criminal que puna todas as formas de homofobia e de
transfobia. Segundo o partido, a conduta pode ser enquadrada como racismo, pois implica
inferiorização da população LGBT, ou como discriminação atentatória a direitos e a liberdades
fundamentais. A pretensão é exigir que os parlamentares votem lei sobre a questão, especialmente em
relação a ofensas, homicídios, agressões e discriminações motivadas pela orientação sexual ou pela
identidade de gênero da vítima. O relator da ADO 26 é o ministro Celso de Mello, decano do Tribunal.
A Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgêneros (ABGLT) é a autora do MI 4.733. Assim
como na ADO 26, a entidade pede o reconhecimento de que a homofobia e a transfobia se enquadram
no conceito de racismo ou, subsidiariamente, que sejam entendidas como discriminações atentatórias
a direitos e liberdades fundamentais. Com fundamento nos incisos XLI e XLII do artigo 5º da
Constituição Federal, a ABGLT sustenta que a demora do Congresso Nacional é inconstitucional, tendo
em vista o dever de editar legislação criminal sobre a matéria. O ministro Edson Fachin é o relator da
ação.
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