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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ
FACULDADE CEARENSE
CURSO DE PEDAGOGIA
MARIA EUNICE GALVÃO FERREIRA
O LÚDICO NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM DA EDUCAÇÃO INFANTIL: A
VISÃO CONSTRUTIVISTA
FORTALEZA
2013
MARIA EUNICE GALVÃO FERREIRA
O LÚDICO NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM DA EDUCAÇÃO INFANTIL: A
VISÃO CONSTRUTIVISTA
Monografia submetida à aprovação da Coordenação do Curso de Pedagogia do Centro de Ensino Superior do Ceará, como requisito parcial para obtenção do título de pedagoga, sob a orientação do professor Humberto de Oliveira Santos Júnior.
FORTALEZA
2013
Bibliotecário Marksuel Mariz de Lima CRB-3/1274
F383l Ferreira, Maria Eunice Galvão
O lúdico no processo de aprendizagem da educação infantil: a visão construtivista / Maria Eunice Galvão. Fortaleza – 2013.
40f. Il. Orientador: Profº. Ms. Humberto de Oliveira Santos Junior.
Trabalho de Conclusão de curso (graduação) – Faculdade Cearense, Curso de Pedagogia, 2013.
1. Lúdico - construtivismo. 2. Desenvolvimento. 3. Aprendizagem. I. Santos Junior, Humberto de Oliveira. II. Título
CDU 371.694
Dedico esta monografia a Deus e aos meus
pais, pela força, incentivo e colaboração aos
meus estudos desde as séries iniciais.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus, por ter me concedido o dom da vida e me acompanhado
em todos os momentos.
Agradeço a possibilidade de realizar este estudo, que proporcionou conhecimentos
enriquecedores para a minha prática docente e, ao mesmo tempo, reflexivos, a fim de que eu
tenha subsídios não apenas teóricos do ato de fazer educação, mas também a percepção e a
crença de que é possível, no dia a dia escolar, lutar por transformações sociais no processo de
formação do indivíduo como um todo.
Agradeço aos meus pais, Francisco Alves e Elisa Galvão, meus irmãos e demais
familiares, pela compreensão das minhas ausências no meio de vocês e por estarem
juntamente comigo, torcendo e acreditando na realização deste sonho.
À congregação das Humildes Servas do Senhor, minha gratidão especial e o
reconhecimento de tudo o quanto recebi de vocês para chegar a esta conquista.
Meus sinceros agradecimentos à amiga Ir. Wanderlene, que me deu grande
incentivo para a realização desse curso, com suas palavras de motivação e solidariedade, e por
ter pedido permissão à superiora geral da congregação das Humildes Servas do Senhor para
que eu pudesse ficar hospedada na casa Madre Elisa Baldo até que esta etapa fosse concluída.
Aos colegas e professores da FAC, que caminharam ao meu lado nesta jornada.
Às equipes docente e discente do colégio Agnus, que oportunizaram a pesquisa de
campo, especialmente o diretor Alexandre e a supervisora pedagógica Josi Queiroz, que me
recebiam sempre com grande simpatia e entusiasmo.
À professora Raquel dos Santos, que nos dias de pesquisas e observações não
media esforços para me ajudar com a coleta de informações que eu tanto buscava.
Ao meu querido professor e orientador Humberto Santos de Oliveira Júnior, pelas
ricas orientações, dedicação e apoio na construção deste trabalho.
Às minhas companheiras de trabalho que fazem parte da educação da Creche
escola Madre Elisa Baldo, pelos momentos compartilhados e trocas de experiências
profissionais.
A todos que, de alguma forma, contribuíram para a construção desta pesquisa.
“A relação entre educador e educando é,
portanto, uma relação entre sujeitos
constituídos de cultura, conhecimentos
prévios, valores e, por isso, passíveis de serem
respeitados.”
(Paulo Freire)
RESUMO
Este trabalho visa investigar a utilização do lúdico no contexto escolar, tendo como base a
teoria construtivista. Diante disso, a intenção da pesquisa surge do interesse em se conhecer as
contribuições com as quais a cultura lúdica favorece o processo de aprendizagem das crianças
da educação infantil. Para obtermos esse objetivo, realizamos um levantamento teórico,
através de pesquisa bibliográfica, e no primeiro capítulo apresentamos uma análise histórica
da evolução das teorias e práticas pedagógicas que marcaram a educação do século XX, bem
como a implantação do construtivismo no Brasil. Nesse sentido, procuramos compreender,
por meio das teorias de diversos estudiosos como Piaget, Vygotsky, Teixeira, Carretero,
Santos, Almeida, entre outros, princípios que contribuíram e estão associados a uma nova
concepção de ensino. No segundo capítulo abordamos reflexões acerca dos conceitos e
importância do lúdico e do construtivismo, como também mencionamos como o jogo,
brinquedo e brincadeira tornam-se recursos de aprendizagem no ambiente escolar. No
decorrer deste estudo, procuramos verificar, através de uma pesquisa de campo no colégio
Agnus, a utilização do lúdico na práxis pedagógica, ou seja, acompanhamos no cotidiano as
estratégias utilizadas no ambiente escolar, num modelo de educação que considera o ser
humano como participante ativo de sua aprendizagem. Por isso, o terceiro capítulo destaca
alguns aspectos relevantes na escola em estudo, atividade que nos permitiu averiguar e
perceber o processo de desenvolvimento cognitivo e psicomotor das crianças no realizar dos
exercícios relacionados ao lúdico, por meio das ações desenvolvidas na Educação Infantil sob
o fortalecimento dos princípios sócio interacionistas.
Palavras-chave: Lúdico. Construtivismo. Desenvolvimento e Aprendizagem.
ABSTRACT
This work aims to investigate the usage of the playful in the school context, having the
constructivism theory as basis. In face of this, the goal of this research comes out of the
interest in knowing the contributions which the playful culture favors the kindergarten
children’s learning process with. To achieve this goal, we did a theoretical survey, through
bibliographical research, and in the first chapter we present a historical analysis about the
evolution of the pedagogical theories and practices that marked the XX century education, as
well as the implementation of constructivism in Brazil. This way, we looked forward
comprehending, through the theories of various researchers like Piaget, Vygotsky, Teixeira,
Carretero, Santos, Almeida, among others, the principles that contributed and are associated
to a new concept of teaching. In the second chapter we made reflections about the concepts
and importance of the playful and the constructivism, as well as we mentioned how the game,
the toy and playing become source of learning in the school environment. Within this study,
we made an attempt to verify, through a field research at Agnus School, the use of the playful
in the pedagogical praxis, that is, we followed daily the strategies used in the school
environment, in an educational model that considers the human being active participant in his
own learning. That is why the third chapter highlights some relevant aspects in the school
under study, activity that allowed us to investigate and understand the children’s cognitive
and psychomotor development process in the realization of the exercises related to the
playful, by means of the developed actions in the kindergarten, under the strengthening of the
socio interactionist principles.
Keywords: Playful. Constructivism. Development and Learning.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – ......................................................................................................................... 32
Figura 2 – ......................................................................................................................... 32
Figura 3 – ....................................................................................................................... 32
Figura 4 – ....................................................................................................................... 33
Figura 5 – ....................................................................................................................... 33
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 10
2 METODOLOGIA …………………………………………………………… 12
3 ANÁLISE HISTÓRICA DAS TEORIAS PEDAGÓGICAS DO SÉCULO
XX ......................................................................................................................
14
4 CONCEITUANDO O LÚDICO E A TEORIA CONSTRUTIVISTA ........ 18
4.1 A importância do lúdico no processo de aprendizagem das crianças da
educação infantil ..............................................................................................
20
4.2 Jogo, brinquedo e brincadeira como recursos de aprendizagem no
contexto escolar ................................................................................................
22
5 PESQUISA DE CAMPO NO COLÉGIO AGNUS ....................................... 26
5.1 Colégio Agnus: um breve histórico ................................................................ 26
5.2 Atividades desenvolvidas e seus papeis no ambiente escolar ....................... 26
5.3 A função do lúdico no processo de aprendizagem ........................................ 31
5.4 Rotinas observadas no cotidiano escolar ....................................................... 33
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 36
REFERÊNCIAS ............................................................................................... 38
APÊNDICES ..................................................................................................... 40
10
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho aborda a importância do lúdico no processo de aprendizagem
da educação infantil, sob a ótica da teoria construtivista, no sentido de conceber a cultura
lúdica como recurso que facilita a construção do pensamento nas várias dimensões: afetiva,
motora e cognitiva, para o desenvolvimento integral do indivíduo.
Para se chegar a essa concepção, a pesquisa teve a intenção de apontar as causas
que contribuíram de alguma forma com a educação do século XX, trazendo uma análise
histórica das tendências educacionais adotadas no Brasil, do modelo e ensino tradicional à
aplicação do construtivismo.
Diante disso, o estudo fundamentou-se em pesquisa documental, a partir da
observação da rotina da escola visitada, por meio das teorias pedagógicas e, principalmente,
com a ajuda da teoria construtivista, favorecendo um embasamento teórico que buscou
compreender as inúmeras contribuições que servem como ferramentas para o processo de
ensino-aprendizagem. Uma delas, a importância do lúdico aplicado à prática pedagógica de
modo a refletir sobre qual é o papel da escola e dos educadores no processo de formação, foi
base para a investigação das ideias de diversos autores e pesquisadores que abordam essa
temática. Para complementar a realização deste trabalho, optamos por realizar a pesquisa de
campo no Colégio Agnus, localizado no bairro Montese, em Fortaleza, Ceará. É uma escola
de natureza privada, que direciona seu método de ensino à teoria sócio interacionista baseada
nos estudos de Jean Piaget, Lev Vygotsky e Heri Wallon, cujas abordagens refletem os
princípios do modelo de educação construtivista.
A finalidade de estudar o tema mencionado justifica-se pelo fato de que é
entendido que a utilização do lúdico no processo de aprendizagem na educação infantil, por
meio dos jogos e brincadeiras, permite a construção de soluções e aquisição de novos
conhecimentos. Por isso, este trabalho teve a intenção de realizar um estudo a respeito do
lúdico e de conhecer as propostas de trabalho e ações desenvolvidas no ambiente escolar
dentro deste contexto.
Ao refletir sobre o caráter lúdico como um método rico em ações, o fazer
pedagógico torna-se mais atraente, apesar dos incontáveis desafios e a partir de experiências
vivenciadas enquanto professora do Infantil IV, dos treinamentos, oficinas e das várias
disciplinas ministradas durante o curso de graduação. Tudo isso contribuiu para o meu desejo
de pesquisar sobre a importância do lúdico e da sua representação na formação humana como
11
um todo; e esta pesquisa contribuiu ainda para responder a meus anseios pedagógicos,
possibilitando a ampliação dos meus conhecimentos e o aperfeiçoamento da minha prática
docente. Este estudo teve como objetivo geral investigar o uso do lúdico e a contribuição da
teoria construtivista no processo de ensino-aprendizagem das crianças da educação infantil.
Os objetivos específicos são:
a) Realizar um estudo bibliográfico, fazendo análise das teorias educacionais
para compreender a implantação do construtivismo na educação.
b) Compreender a função social do brincar para o desenvolvimento e
aprendizagem da criança no espaço escolar.
c) Analisar as influências que a cultura lúdica e a teoria construtivista
proporcionam à aprendizagem das crianças da Educação Infantil.
d) Pesquisar as estratégias utilizadas na práxis pedagógica, para uma educação
lúdica no espaço escolar.
12
2 METODOLOGIA
A presente pesquisa é constituída de um estudo sobre a importância do lúdico no
contexto da educação infantil na visão da teoria construtivista. Para isso, pretende-se
encontrar suporte teórico de diversos autores e pesquisadores que abordam o tema em estudo,
como também buscar compreender, através da pesquisa de campo e documental, de
momentos de reflexão oriundos do estudo, como é estabelecida a relação da cultura lúdica no
cotidiano escolar. Entre as atividades ofertadas que são relacionadas ao lúdico e ao
construtivismo, a proposta é desenvolver uma percepção dos conceitos e influências que
contribuem para o desenvolvimento da criança como um todo.
O conteúdo teórico desta pesquisa está dividido em três capítulos, os quais
especificamos a seguir:
No primeiro capítulo, buscamos apresentar um breve histórico da educação do
século XX, mencionando as consequências que cada modelo educacional trouxe para a
organização dos sistemas de ensino no Brasil, do tradicional ao construtivismo.
O capítulo segundo apresenta uma revisão bibliográfica acerca dos conceitos do
lúdico e da teoria do construtivismo e da sua contribuição para o processo de aprendizagem na
modalidade da educação infantil. As reflexões situam-se em um modelo de ação renovada,
numa perspectiva crítica, baseado nos ideais de alguns teóricos como Oliveira, Vygotsky,
Piaget, Santos, Almeida, Paulo Freire e outros que, no decorrer desta produção, inspirem
momentos de reflexão e novos conhecimentos.
No capítulo terceiro são expostos os dados pesquisados em uma escola onde
foram realizadas as observações, através de pesquisa de campo na Educação Infantil. Por
meio desta, buscamos adquirir informações sobre a utilização do lúdico no contexto escolar,
na visão da teoria do construtivismo. Através desta perspectiva, pretende-se perceber as
relações que existem no método de ensino interacionista, ou seja, os ideais fundamentados em
ações inovadoras e democráticas. Tais ações, abertas ao diálogo, reflexão e novas mudanças,
são favoráveis a uma construção de saberes que nos é imposta pelo construtivismo. Este
entendimento se dá com a realização visitas e vivências, a fim de acompanhar na prática as
atividades desenvolvidas pelos educadores. Através da rotina escolar e do meio social,
verificamos a satisfação, as inquietações, os desafios, as curiosidades, desejos e outras
emoções que as crianças manifestam ao realizar as atividades que lhe são propostas.
13
Assim, apresentaremos um breve histórico de modo a apresentar a maneira como
as atividades lúdicas são desenvolvidas e expor como foi realizada a pesquisa que tem como
objeto de investigação a função do lúdico no contexto escolar da Educação Infantil.
No que diz respeito à coleta de dados, o trabalho de pesquisa de campo foi
realizado tendo como participantes, inicialmente, o diretor Alexandre Carlos Ferreira de
Lima, onde no primeiro encontro tivemos uma conversa na qual foi utilizada a técnica de
entrevista espontânea. Ele respondeu as minhas perguntas e sugeriu também o diálogo com a
supervisora pedagógica da escola. Esta, a supervisora Josi Queiroz do Nascimento que, após
o momento de conversas, concedeu-me a oportunidade de conhecer a equipe docente e toda a
estrutura física da escola, bem como os espaços oferecidos para as turmas da educação
infantil. Em seguida, retornamos ao diálogo no qual me foi apresentado o modelo de educação
que a escola vem desenvolvendo, bem como suas propostas, seus referenciais teóricos como o
currículo é direcionado para o desenvolvimento integral dos educandos.
Mediante a observação da rotina escolar, documentada através de fotos e
entrevista espontânea com o diretor e com a supervisora pedagógica do referido colégio, e o
contato com a educadora, Raquel dos Santos, e com o professor de Educação Física Thiago
Eliaquin, sob o acompanhamento principalmente da turma do infantil IV, foi possível coletar
informações por meio de questionamentos, diálogos, vivências em sala de aula e em outros
momentos e espaços que a escola oferece, como também por meio de entrevista e aplicação
de questionário relacionado ao planejamento, metodologia e objetivos da escola. Enfim, foi-
nos possível investigar a contribuição do lúdico para o processo de aprendizagem, levando em
consideração os pressupostos teóricos nos quais a escola se baseia, organização do seu
currículo, suas dificuldades e possibilidades, e o enriquecimento dessas abordagens para a
prática profissional e para o melhoramento da qualidade no ensino.
14
3 DO TRADICIONAL AO CONSTRUTIVISMO NO BRASIL DO SÉCULO XX: UMA
ANÁLISE HISTÓRICA
Em se tratando de uma visão abrangente sobre a organização do sistema
educacional no Brasil, buscamos compreender que a história da Educação no século XX
passou por grandes inovações. Uma das ações inovadoras foi o uso do lúdico na educação
infantil, que surgiu da preocupação em não se transmitir os conteúdos a serem abordados para
as crianças de maneira que causasse desconforto, timidez, falta de estímulo e desmotivação no
processo de aprendizagem.
Segundo Rousseau (1968), as crianças têm maneira de ver, sentir, e pensar que lhe
são próprias, e só aprendem através da conquista ativa, ou seja, quando participam de um
processo que satisfaça a sua alegria natural. Para Rousseau, a criança não deve ser
considerada um adulto em miniatura, e sim ter respeitado seu período de infância como uma
fase apropriada a ela.
Nesse sentido, os pensamentos pedagógicos da época geraram questionamentos
relacionados à maneira de ensinar, entre outros desafios que estão presentes no modo de fazer
educação.
Através de estudos e de políticas sociais voltadas ao aperfeiçoamento das práticas
pedagógicas existentes, que valorizassem mais os aspectos cognitivos do ser humano, houve
lutas a favor da evolução do pensamento brasileiro que influenciaram o desenvolvimento de
novas teorias na educação (como o construtivismo). Esse pensamento teve como suporte
principal novos modelos de ensino, pois a sociedade da época percebia que as propostas da
educação não levavam em consideração o que a criança aprende fora da escola, seus esforços
espontâneos e a construção coletiva como fator contribuinte para a aprendizagem.
Dentre os sistemas de ensino da época, seguem agora os conceitos mais
determinantes. A pedagogia tradicional é uma proposta de ensino centrada no professor. Ele
ensina os conteúdos de modo sistematizado e o aluno é passivo, ou seja, deve obedecer,
absorver o que lhe é transmitido de uma maneira extremamente mecânica, sem questionar.
Desta forma, ao sujeito que aprende não é dado um papel ativo na construção da
aprendizagem.
Para Saviani (2008), as mudanças ocorridas no sistema educacional, desde a
década de 1970 até os dias atuais, levam-nos a refletir sobre as implicações que caracterizam
15
cada período para a prática escolar, através das diferentes concepções, pois cada uma delas
nos ajuda a pensar os critérios utilizados na organização do sistema de ensino no Brasil.
Um movimento renovador, chamado Escola Nova, buscou desenvolver a
educação em contraposição ao processo de atividades nas quais eram exigidas tão somente
habilidades técnico-mecânicas, evidenciadas pela prática educacional inserida na sociedade
daquela época. Com isso, esse movimento recebeu críticas, pois abria mão dos modelos
tradicionais em detrimento do reconhecimento da espontaneidade dos alunos como amplo
horizonte estimulador da relação professor-aluno nas experiências escolares1.
Podemos citar três estudiosos que se manifestaram a este respeito: Lourenço
Filho, Fernando de Azevedo e Anísio Teixeira. Eles estão ligados a esse movimento inovador,
movimento este que assume um potencial de valorização do indivíduo como ser capaz de
construir seus saberes, como um ser crítico e autônomo, a partir das necessidades e desafios
que o processo de ensino-aprendizagem lhe apresenta no cotidiano2.
Nesse contexto político e educacional, onde ocorreram várias mudanças na busca
por algo transformador da educação brasileira, os movimentos sociais evidenciaram diversos
desafios que se tratam de rupturas por parte das políticas públicas, diante das propostas do
ensino escola nova.
Podemos destacar, dentre elas, o alto custo financeiro para as políticas públicas,
mesmo que a finalidade seja a de implantar novas posturas no sistema de ensino, pois a
sociedade passa por expectativas, já que os movimentos dependem da responsabilidade e boa
vontade dos líderes de governo, que na maioria das vezes chegam a questionarem que as
verbas não são suficientes para suprir as carências que as escolas de ensino constatam
(SAVIANI, 2008).
Também, o argumento de que o aluno é responsável pela sua aprendizagem
assegura que o responsável pela capacitação do indivíduo para a sociedade não se refere mais
à iniciativa do estado ou das instituições, e sim do seu próprio direcionamento: o professor
deixa de ser o “centro” do saber para ser um instrumento de mediação, onde apenas auxilia o
aluno no processo de aprendizagem.
Destacamos ainda a maneira como a Escola Nova aprimorou a qualidade de
ensino destinado às elites, ensino no qual se pretende denominar a qualidade do aprendizado
dentro das novas condições em que há a exigência do domínio de várias funções dos saberes.
1 SAVIANI, D. História das Ideias Pedagógicas no Brasil. 2. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2008. 2 Id.
16
De fato, não foi pensando em beneficiar os alunos de classe menos favorecidas que a Escola
Nova se posicionou. Assim, a instituição escolar vem, nesse enfoque, dar maior possibilidade
aos que têm competências e recursos de alta qualidade, para interesses pessoais e
profissionais3.
Finalmente, a reorganização interna das escolas e o direcionamento dos padrões
didáticos e pedagógicos requerem o desenvolvimento de um ambiente que favoreça incentivo
às aprendizagens significativas. Porém, faz-se necessário as escolas passarem por diversas
adaptações, seja na estrutura física, no acervo de materiais pedagógicos ou na formação do
corpo docente. É preciso grandes investimentos e uma contribuição total entre todos os
envolvidos no sistema de ensino.
Diante de tais questionamentos, surge a proposta da pedagogia tecnicista, na qual
o ensino não se limitava nem ao professor, nem ao aluno, mas ainda às técnicas de ensino, na
tentativa atender as exigências e a partir da necessidade de formar mão de obra qualificada
para a sociedade da época.
Nessa concepção, a função da escola é solicitar a formação de homens para o
mercado de trabalho, de modo que os conteúdos são vistos com regras, dando enfoque maior à
valorização da tecnologia, não sendo consideradas as relações afetivas e pessoais no processo
de formação. Por isso, os debates e reflexões são desnecessários para o resultado dos
conhecimentos.
Diante desses desafios, novas ideias sugiram e fizeram com que os movimentos
sociais organizassem lutas com a participação ativa da sociedade sobre a supervalorização da
tecnologia no ensino, e a aplicação de um método de ensino altamente controlado e dirigido
pelo professor. Numa perspectiva crítica, foi a busca por um modelo de educação que
ajudasse a superar as desigualdades sociais mais comuns começou a ser idealizada. E, tendo
em vista as teorias da educação até então mencionadas, percebe-se que as propostas para as
atividades escolares influenciam muitas práticas pedagógicas4.
Por isso, cabe lembrar que a implantação da teoria construtivista no Brasil iniciou-
se a partir da década de 1970, influenciada pela psicologia genética de Piaget. Movimento que
surgiu com grande evidência e que é caracterizado como uma teoria de ensino que permite
que o aluno seja um sujeito ativo da sua aprendizagem e do seu desenvolvimento, pois
3 SAVIANI, D. História das Ideias Pedagógicas no Brasil. 2. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2008 4 Id.
17
valoriza, em si, as questões cognitivas e a interação com meio, dando suporte maior à
aprendizagem significativa em vários aspectos5.
Ainda segundo Saviani (2008), a concepção construtivista aborda a aprendizagem
como um processo contínuo, e nesse processo os conhecimentos não devem ser dados numa
técnica de ensino ou de forma pronta. Antes, devem caracterizar-se como um conjunto de
princípios em permanente construção no processo educacional, de maneira que leve a
discussão, reflexão e propostas de ações ao auxílio dos profissionais da educação, no sentido
de que estes compreendam a importância de se priorizar, na pratica pedagógica, propostas de
ações que possibilitem o desenvolvimento de aprendizagens para a vida de cada ser e em
qualquer meio social.
Na tentativa de abordar questões sobre a possibilidade de realizar um estudo sobre
essa concepção de ensino, pretendemos apresentar alguns argumentos para reflexão dos
leitores.
Ao longo dos anos, as atividades de educação vêm buscando desenvolver, na
maioria das escolas, atividades lúdicas, o que é indispensável para possibilitar o estudo da
relação da criança com o meio social (como na formação de sua personalidade, pois as
atividades lúdicas permitem à criança estabelecer relações cognitivas, sociais e culturais). O
estudioso que teve a compreensão dessa colocação foi Teixeira, e ele afirma:
O lúdico torna-se indispensável para o processo de Ensino-Aprendizagem, uma vez que dois elementos o caracterizam: o prazer e o esforço espontâneos, sendo considerado (...) prazeroso, devido a sua capacidade de absorver o indivíduo de forma intensa e total, criando um clima de entusiasmo. (...) As atividades lúdicas integram em várias dimensões da personalidade: afetiva, motora e cognitiva. (...) O ser que brinca e joga é também o ser que age, sente, pensa, aprende e se desenvolve. (TEIXEIRA, 1995, p. 23).
Teixeira (1995) reforça a importância de se valorizar a individualidade da criança
no processo de aprendizagem, pois o lúdico utilizado como recurso que contribui no
desenvolvimento humano deve permitir que a criança participe das atividades propostas de
maneira que seja estimulada a pensar, criar e resolver situações desafiadoras em vários
aspectos. Quando tais condições e recursos são disponibilizados para a construção do seu
pensamento, percebemos o quanto as crianças podem ser criativas ao se relacionar no meio
social.
5 SAVIANI, D. História das Ideias Pedagógicas no Brasil. 2. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2008
18
4 CONCEITUANDO O LÚDICO E A TEORIA CONSTRUTIVISTA
A palavra “lúdico” vem do latim “ludus” e significa brincar. E nesse brincar estão
inclusos os jogos, brinquedos e brincadeiras. Conceituar jogo, brinquedo e brincadeira não é
tarefa fácil, pois para cada indivíduo são apresentados contextos sociais que trazem
significados diferentes. Para Kishimoto (2003), brinquedo é apresentado como instrumento da
brincadeira, ou seja, suporte que faz com que a brincadeira aconteça; brincadeira é como uma
conduta orientada com regras e o jogo deixa a criança mais livre, sendo que este último
descreve tanto o objeto, como as regras para condução da brincadeira.
Neste sentido, vale considerar o lúdico em todas essas dimensões: jogo, brinquedo
e brincadeira, entendendo-os, assim, como peças fundamentais que configuram o lúdico no
processo educacional.
Conforme Oliveira (1995), o lúdico é caracterizado como uma ferramenta de
comportamento social, onde a criança aprende a interagir com as outras e experimenta novas
descobertas. Na concepção do mesmo autor, o brincar não significa apenas recrear, mas ajuda
no desenvolvimento integral, através das trocas de experiências vivenciadas no contato com o
mundo e, quando se trata de uma atividade livre que não inibe a fantasia da criança, favorece
o fortalecimento da sua autonomia.
Segundo Vygotsky (1998), o que caracteriza o brincar é o momento imaginário
criado pela criança, mas devemos levar em consideração que esse brincar preenche situações
ou necessidades que se diferenciam de acordo com a faixa etária de cada criança. Por
exemplo: um brinquedo que é bastante apreciado por uma criança, pode deixar de interessar a
uma criança de idade mais avançada.
Nesse sentido, é importante ressaltar que as atividades lúdicas, numa perspectiva
construtivista, são atividades fundamentais para o desenvolvimento e formação de qualquer
indivíduo. Piaget (1976) diz que a atividade lúdica é a base principal das atividades
intelectuais da criança. Estas não são apenas uma forma de comodidade para gastar energia
das crianças, mas fatores que contribuem e enriquecem o desenvolvimento intelectual. Ele
afirma:
O jogo é, portanto, sob as suas duas formas essenciais de exercício sensório-motor e de simbolismo, uma assimilação do real à atividade própria, fornecendo a esta seu alimento necessário e transformando o real em função das necessidades múltiplas do eu. Por isso, os métodos ativos de educação das crianças exigem todos que se forneça às crianças um material conveniente, a fim de que, jogando, elas cheguem a
19
assimilar as realidades intelectuais que, sem isso, permanecem exteriores à inteligência infantil. (PIAGET, 1976, p. 160).
Para Piaget (1976), o jogo constitui-se em expressão e condição para o
desenvolvimento infantil, pois estimula nas crianças as suas percepções, suas inteligências,
suas experimentações e seus instintos sociais, já que por meio de uma brincadeira a criança
assimila ou interpreta a realidade.
O conceito de construtivismo, segundo Carretero (1993), é um conjunto de teorias
de ensino que tem como função orientar os educadores na tarefa de compreender o processo
de aprendizagem da criança. Nesse sentido, visa permitir que a criança expresse seu lado
cognitivo, sua cultura e suas individualidades, num processo de construção que vai sendo
adquirido no seu cotidiano, como resultado da interação à margem do contexto social. Esta
perspectiva pode ser descrita da seguinte maneira:
Com os outros se aprende melhor. Esta posição tem sido mantida por investigadores construtivistas que podem considerar-se a meio caminho entre as contribuições Piagetianas cognitivistas e as Vygotskyanas, por exemplo, pelos que têm mantido que a interação social produz um favorecimento da aprendizagem mediante a criação de conflitos cognitivos que causam uma mudança conceitual. É dizer, o intercâmbio de informação entre companheiros que têm diferentes níveis de conhecimento provoca uma modificação dos esquemas do indivíduo e acaba produzindo aprendizagem, além de melhorar as condições motivacionais da instrução. Em definitivo: neste enfoque se estuda o efeito da interação e do contexto social sobre o mecanismo de mudança e aprendizagem individual. (CARRETERO, 1993, p. 30).
O papel do construtivismo na aprendizagem é demonstrar que a maneira de
construir o conhecimento é muito ampla, e inclui principalmente os termos “construir”,
“inventar”, “redescobrir”, “criar”, ou seja, é uma teoria de ensino que inclui diversas ações
que de uma forma ou de outra estão ligadas à pedagogia renovada ou escola ativa. Tais ações,
embora com alguns desafios, assumem um mesmo princípio norteador de valorização do
indivíduo como ser livre, ativo, autônomo e social.
De acordo com os princípios da teoria construtivista, a criança não nasce
inteligente, mas na realidade ela deve ter papel ativo na sua própria aprendizagem. Esta teoria
tem como função tomar decisões sobre o ensino, orientando os educadores na tarefa de
compreender como se constrói o aprendizado da criança, valorizando em si todos os aspectos.
20
4.1 A importância do lúdico na aprendizagem das crianças na Educação Infantil
Atualmente percebe-se que lúdico e a teoria construtivista tornaram-se palavras
bastante utilizadas no processo de aprendizagem das crianças da Educação Infantil, na fase
dos 04 e 05 anos de idade. Em termos escolares, o lúdico está mais direcionado aos jogos e
brincadeiras que nesta fase são realizadas durante o período em que a criança vivencia a
escola, porém são vários os aspectos que podem e devem ser atribuídos ao caráter lúdico. Ou
seja, qualquer tarefa que se executa e que proporcione prazer, sendo este manifestado com
espontaneidade, permite facilidade no processo de aprendizagem, e sem dúvida constitui
incentivo para a aquisição de novos conceitos. Isto se refere tanto à criança quanto ao adulto,
pois o ser humano em todas as idades estará sempre vivenciando novas descobertas, quando
em contato com o meio que vive (CUNHA, 1994).
Vale ainda ressaltar que as atividades lúdicas, quando aplicadas de maneira certa,
tornam-se fator essencial para uma melhor qualidade de vida, no sentido de contribuir para a
promoção da saúde, estímulo da criatividade, socialização, lazer, dentre outros benefícios.
Santos conceitua a ludicidade como sendo
(...) uma necessidade do ser humano em qualquer idade e não pode ser vista apenas como diversão. O desenvolvimento do aspecto lúdico facilita a aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, social e cultural, colabora para uma boa saúde mental, prepara para um estado interior fértil, facilita os processos de socialização, comunicação, expressão e construção de conhecimento. (SANTOS, 2002, p. 12).
O lúdico aplicado à prática pedagógica, tendo como base a teoria construtivista,
consiste em um conjunto de princípios que favorece mecanismos que não apenas contribuem
para a aprendizagem da criança, como possibilitam ao educador tornar suas aulas mais
dinâmicas e atraentes. Cunha (1994) ressalta que a brincadeira transmite uma “situação de
aprendizagem delicada”, ou seja, o educador precisa ter capacidade para respeitar e nutrir o
interesse da criança, não colocando a brincadeira apenas como um passatempo, mas dando
possibilidade para o envolvimento da criança em seu processo, ou do contrário o lúdico perde
a riqueza que carrega consigo.
Vejamos o que Almeida ressalta a respeito da educação lúdica:
A educação lúdica contribui e influencia na formação da criança, possibilitando um crescimento sadio, um enriquecimento permanente, integrando-se ao mais alto espírito democrático enquanto investe em uma produção séria do conhecimento. A sua prática exige a participação franca, criativa, livre, crítica, promovendo a
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interação social e tendo em vista o forte compromisso de transformação e modificação do meio. (ALMEIDA, 1995, p. 41).
Segundo Paulo Freire (2000), ensinar exige comprometimento, respeito aos
conhecimentos dos alunos, isto é, faz-se necessário ao educador ser um agente facilitador, a
fim de estabelecer vínculos sociais que permitam à criança descobrir sua personalidade,
aceitar a sua própria identidade, valorizar o outro, preparar-se para uma vida adulta, enfim,
aprender a viver em sociedade.
Portanto, a escola precisa e deve pensar que tipo de valores ela está implantando
na vida do educando, pois se não considerar as experiências cotidianas e culturais,
dificilmente contribuirá para a construção de uma aprendizagem de modo significativo, isto é,
ajudar a criança a formar um conceito de mundo e, principalmente, ser respeitada perante os
seus direitos.
Por isso, a formação do educador é fundamental, para que o mesmo tenha
conhecimento autêntico e disposição para planejar suas propostas lúdicas e, ao incluir o lúdico
nessas atividades, tenha a possibilidade de acompanhar e avaliar o processo de aprendizagem
e desenvolvimento da criança, sendo um instrumento de mediação, permitindo à criança
adquirir conceitos significativos para seu desenvolvimento, que é função essencial do
construtivismo.
De acordo com tais levantamentos, torna-se importante ressaltar as necessidades e
os direitos atribuídos à criança perante o brincar.
O Referencial Curricular Nacional (BRASIL, 1998) aborda o brincar como
atividade de base primordial para a construção da identidade e autonomia da criança. Dessa
forma, o documento afirma que
(...) é o brincar o agente significativo no fato de a criança desde muito cedo poder se comunicar por meio dos gestos, sons, e mais tarde poder representar determinado papel na brincadeira de faz-de-conta, e que com ela se desenvolva sua imaginação. Nas brincadeiras, as crianças podem desenvolver algumas capacidades importantes, tais como atenção, imitação, memória e a imaginação. Amadurecem também algumas capacidades de socialização por meio da interação e da utilização e experimentação e regras sociais. (BRASIL, 1998, p. 22).
Com base nesse documento, a brincadeira contribui para o desenvolvimento
infantil, por permitir a manifestação e transformação da criança na elaboração de novos
conceitos. Assim, destacamos que, quando a criança brinca, ela representa de forma
simbólica, outro ser, na maioria das vezes uma pessoa mais madura, o papel da mãe, do pai ou
22
das pessoas que estão diariamente no seu convívio, e ainda passa a transmitir a realidade na
qual está inserida em diversas situações. Por exemplo, situações familiares, crenças, dentre
outras ações, pois, ao brincar, sem perceber a criança fornece variadas informações a seu
respeito. Por isso, o brincar estimula seu desenvolvimento integral, seja no ambiente familiar,
na escola ou onde quer que esteja, pois pelas ações e características do papel assumido, a
criança passa a utilizar de objetos substitutos.
De acordo com Vygotsky (1998), a brincadeira cria para a criança o termo
chamado “zona de desenvolvimento proximal”, ou seja, a aprendizagem vai acontecer numa
troca de experiências e complementação de informações que se estabelece entre o
conhecimento que a criança já tem e que possivelmente vai adquirir. Compreende-se, assim,
que a educação é uma maneira de intervenção no mundo, e que o educador é um agente
facilitador, como já explicamos antes.
4.2 Jogo, brinquedo e brincadeira como recursos de aprendizagem no contexto escolar
Para mergulharmos no universo lúdico faz-se necessário analisar o que é o
brincar, e para isso é fundamental conceituar e compreender os termos jogo, brinquedo e
brincadeira, de modo a facilitar o entendimento dos educadores da educação infantil tendo em
vista a realização do seu trabalho da melhor forma possível, visualizando as atividades lúdicas
dentro e fora do contexto escolar.
Os jogos e brincadeiras educativas como recurso de aprendizagem na educação
infantil surgiram com o objetivo de oferecer um ensino que fosse realizado de modo
prazeroso e num ambiente que oferecesse à criança um clima harmônico. Por isso, o lúdico
aplicado à prática pedagógica deve ser encarado com seriedade. Para Almeida (1994), o
sentido autêntico, funcional da educação lúdica estará garantido se o educador estiver
preparado para realiza-lo e se a escola adotar esse paradigma no seu projeto de ensino.
Santos (2001) orienta a reflexão sobre os jogos infantis como tarefa primordial da
escola, a fim de que possam estruturar uma proposta pedagógica que valorize, respeite e
propicie o desenvolvimento das crianças de maneira completa. Nesta visão, o mesmo autor
destaca que é necessário que façam parte da proposta da escola momentos consideráveis
oferecidos ao jogo livre, possibilitando a interação social de forma espontânea entre alunos e
objetos.
23
Sob esse aspecto, deve-se ser levada em consideração a orientação dos Parâmetros
Curriculares Nacionais (1998), no trecho a seguir:
Cabe à escola, espaço fundamental de convivência, afirmar valores que estão de acordo com esses princípios. É preciso estimular o desejo de participação que valoriza a ação e amplia a corresponsabilidade, fazendo com que se compartilhe os destinos da vida coletiva da instituição. Se o aluno precisa ser participante ativo na construção de sua aprendizagem, o professor precisa trilhar esse caminho junto com ele, efetivando sua própria participação no espaço escolar. (PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, 1998, p. 76).
Lembrando, ainda, que os recursos devem ser organizados para facilitar o
desenvolvimento das brincadeiras e jogos: os materiais devem ser disponíveis, o espaço
destinado deve ser adequado para que garanta segurança, e o ambiente deve ser propício ao
desenvolvimento das habilidades da criança.
Percebe-se que no desenvolver dos jogos e brincadeiras livres, o faz-de-conta
aparece em atividades simbólicas, sob a criação e imaginação das crianças como forma de
criatividade e expressão individual de cada participante. Desta forma, o professor deve
considerar e planejar, dentro da demanda curricular, situações para intervir nas brincadeiras
de faz-de-conta, pois através delas as crianças manifestam seus interesses e sentimentos.
Dentre os princípios essenciais do faz-de-conta na Educação Infantil, Santos
destaca que o professor pode assumir três tarefas:
A primeira delas é a função de “observador”, na qual o professor procura intervir o mínimo possível, de maneira a garantir a segurança e o direito à livre manifestação a todos. A segunda função é a de “catalizador”, procurando, através da observação, descobrir as necessidades e os desejos implícitos da brincadeira, para poder enriquecer o desenrolar de tal atividade. E, finalmente, de “participante ativo” nas brincadeiras, atuando como mediador das relações que se estabelecem e das situações surgidas, em proveito do desenvolvimento saudável e prazeroso das crianças. (SANTOS, 2001, p. 98).
Dessa forma, o ato do brincar é fundamental para o professor levar em conta os
aspectos da imaginação, criação e simbolismo da criança, pois no decorrer da brincadeira,
quando o professor assume o papel de observador, além de propiciar maior segurança à
criança, esta terá mais liberdade de expressar o seu desejo preferido na atividade lúdica.
Sendo catalizador, o professor tende a procurar meios para conduzir a brincadeira,
agradando a todos os participantes; e como participante ativo, faz a mediação, estimulando a
interação através dos objetos e recursos oferecidos para as crianças brincarem livremente.
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De acordo com Kismoto (2002), o jogo que antes era tido como recreação agora é
visto como uma maneira de relaxamento em relação às atividades que exigem maior esforço
físico ou intelectual, em se tratando das atividades educativas.
Segundo o autor, é fundamental respeitar as iniciativas da criança para que exista
uma interação saudável professor-aluno, estimulando a construção do conhecimento e o
desenvolvimento da aprendizagem de forma prazerosa. Ele especifica esse entendimento no
trecho abaixo:
Embora o jogo ocorra sob a supervisão do professor, permite-se a escolha do mesmo para que seja respeitada a vontade da criança e se manifeste o prazer na ação desenvolvida; os autores entendem a recreação como um espaço para a criança expressar, criar e desenvolver. A proposta é uma recreação. (KISMOTO, 2002, p. 110).
Kismoto (2002) reforça, nesta citação, a importância dos jogos, especialmente o
jogo simbólico, que é chamado de faz-de-conta. Através dele, a criança manifesta sua
capacidade de representar diversas ações. O fazer de conta significa uma manifestação
imitativa, onde a criança, por meio da brincadeira, expressa atitudes comportamentais,
procura soluções para os desafios e transforma sua maneira de apreender a realidade. Por
exemplo: no momento em que ela pega areia molhada e diz que está fazendo um bolo,
significa que tem capacidade de simbolizar, pois a areia molhada representa uma realidade
que auxilia a criança a separar objeto de significado. Isso permite que a criança se aproprie de
situações concretas e imediatas para separar e representar algo com sua imaginação.
E ainda tratando das brincadeiras de faz-de-conta, muitas vezes são colocadas
nelas situações de regras e normas que a criança deve seguir para que continue na brincadeira.
As regras assumidas no brincar, às vezes, estimulam as crianças a se comportarem de modo
mais avançado do que aquele que na sua idade seria cabível. Porém, quando a criança brinca
de casinha, bonecas ou de fazer comidas, ela representa o papel de uma pessoa adulta.
Oliveira (2002) reforça que, ao brincar, a criança representa sua realidade
cotidiana e cultural, expressa suas conquistas, necessidades e resolve situações conflituosas. E
por meio do contato com o meio social, o pensamento vai se desenvolvendo. Por isso, o
brincar, juntamente com outras funções de representação, deve ser objeto de observação e
interesse de todos os envolvidos no processo educacional, quer seja família, escola ou
sociedade.
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Santos (2001) diz que escola e família necessitam de conhecimentos específicos
quanto aos brinquedos e brincadeiras que podem contribuir para o desenvolvimento da
criança.
Nesta perspectiva, faz-se necessário um trabalho em conjunto, a fim de que os
pais ou responsáveis pela criança sejam orientados sobre quais atividades recreativas podem
tornar-se fatores significativos no aprendizado e na formação como um todo. E ainda temos
que ter cuidado para não considerar o brincar como único recurso na estratégia escolar. No
entanto, é claro que tem sua importância no que concerne à imaginação, criatividade,
equilíbrio, expressão corporal, musicalidade, participação prazerosa durante a aprendizagem,
entre outros fatores no desenvolvimento humano.
26
5 PESQUISA DE CAMPO NO COLÉGIO AGNUS
5.1 Colégio Agnus: breve histórico
O colégio em estudo faz parte de uma rede de ensino composta por três escolas:
Agnus, Rosa Gattorno e São Tomás de Aquino. Cada uma é caracterizada por sua história
particular, mas todas elas procuram assumir um mesmo plano de ensino.
Todos os anos, o diretor, juntamente com a equipe docente, escolhe uma temática
a ser trabalhada durante todo o ano letivo pelos alunos do Agnus. No ano de 2013, o tema
escolhido foi “atitude positiva”, no qual são abrangidas as diversas atitudes e valores do ser
humano: a paz, o amor, a amizade, a alegria, o respeito, o companheirismo, etc. Há um
destaque desses valores na ornamentação da escola, pelos pátios, nas portas das salas de aula,
dentro das salas, nos uniformes dos funcionários, enfim, a linguagem é sempre focada na
temática escolhida. Assim, o trabalho educativo busca ser direcionado a esses valores,
constituindo um elo entre as disciplinas e os princípios cristãos. O próprio nome do colégio
surgiu do vocábulo latino que significa cordeiro, em virtude de a pessoa de Jesus Cristo ser
reconhecida como o cordeiro de Deus (Agnus Dei).
O colégio Agnus vem desenvolvendo seu trabalho na modalidade infantil e
fundamental, nos turnos manhã e tarde, há 14 (catorze) anos. Este trabalho educativo é
direcionado por princípios sócio interacionistas, de acordo com os segmentos lançados por
Jean Piaget, Vygotsky e Henri Wallon, que em seus estudos apresentam princípios
favorecendo a ligação entre o lúdico, a teoria construtivista e a aprendizagem infantil. Estas
informações foram coletadas no site da escola: www.colegioagnus.com.br.
5.2 Atividades desenvolvidas e seus papeis no ambiente escolar
Nesta pesquisa, foram vários os momentos observados que colaboraram como
fator essencial para compreendermos a função do brincar no desenvolvimento e aprendizagem
da criança na sala de aula e no espaço escolar. Nos dias de observações, acompanhei o dia a
dia das crianças, sua rotina, e também observei a estrutura física da escola e os procedimentos
utilizados pelos professores e demais colaboradores.
As atividades desenvolvidas (e descritas no planejamento dos professores)
procuram ser direcionadas ao desenvolvimento integral da criança para o exercício da
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cidadania, levando-as a despertar para todos os valores fundamentais em direção a uma vida
mais justa, tendo em vista os desafios oferecidos pela sociedade.
Segundo a supervisora Josi Queiroz , as atividades idealizadas para aplicação
procuram subsídios favoráveis, a fim de estimular a criança a participar de suas propostas,
inclusive das datas comemorativas mais importantes para a família, a escola e a comunidade,
propiciando hábitos e atitudes de bom relacionamento.
Com base nessas ações por parte dos profissionais, percebe-se que há muita
influência da educação lúdica, no sentido de buscar promover a interação social. Porém, deve-
se ter o cuidado para que ela não seja vista apenas como diversão, mas como fator
indispensável à promoção do aprendizado e do desenvolvimento como um todo.
A estrutura física do colégio é bem ampla, o espaço na modalidade da educação
infantil se propõe a ser um ambiente de boa qualidade: atraente, educativo, estimulante,
arejado. Oferece espaços diversificados como parquinho, brinquedoteca, quadra de esportes,
salão de jogos, sala de multimídias, sala de leitura com diversos livros de literatura infantil,
além dos espaços para aulas recreativas com recursos de televisão, DVD, Datashow e lousas
digitais que estão sempre à disposição de qualquer turma para serem utilizada, a critério dos
professores.
Vale ressaltar este aspecto, pois para o desenvolvimento de atividades lúdicas se
faz necessário um ambiente que corresponda às necessidades dos envolvidos no ato das
atividades, como também a disponibilidade de materiais, como descreve Gonçalves no trecho
abaixo:
Em um ambiente favorável, dispondo de material lúdico, muitas crianças inventam jogos ou brincadeiras, através das quais se comunicam e aprendem. Infelizmente, porém nem todas são assim. O brincar é uma ação espontânea e, por isso mesmo, só ocorre quando não estamos dominados por nossos instintos nem bloqueados pela ansiedade. (...) Quem brinca de fato consegue fazê-lo porque, de algum modo, conquistou uma unidade e um campo relaxado para agir. (GONÇALVES, 1998, p. 112).
De acordo com Gonçalves (1998), para que as crianças exerçam suas práticas
lúdicas, é preciso que inicialmente lhes seja disponibilizado um ambiente favorável. Isso não
deve se restringir somente à disponibilidade de material lúdico, mas, antes de tudo, ao
atendimento de que alguns aspectos cognitivos não devem intervir negativamente no
desenvolver das atividades, como: a redução de atenção e concentração ou a falta de
motivação, diminuindo assim a aquisição de habilidades comuns a algumas crianças, pois
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cada uma manifesta características individuais e variadas. Por isso, diante dessas situações,
torna-se fator fundamental a estimulação por parte do professor e sua compreensão através do
diálogo e, caso não seja possível entender os anseios da criança, deve-se procurar investigar o
que está acontecendo a partir das ações apresentadas.
Seguindo ainda o raciocínio da mesma autora, Gonçalves (1998), a comunicação
contribui no sentido de as ideias e sentimentos se transmitirem de uma pessoa a outra,
tornando possível a interação social, como também a motivação favorece a participação das
crianças de maneira coletiva e satisfatória.
A inserção das datas comemorativas às quais nos referimos anteriormente
acontece de várias maneiras, dentro e fora do ambiente escolar, e isso fica a critério da
metodologia dos educadores.
No inicio do ano letivo são realizadas oficinas de frevo no horário nos recreios,
com som e danças. As crianças vestem suas fantasias para o carnaval de rua que acontece nas
ruas do bairro, juntamente com os professores e amigos da escola, levando alegria e
descontração, e resgatando a cultura brasileira.
Acreditamos que essa atividade não pode ser caracterizada como aspecto lúdico,
pois o fato de ser apresentado o recurso da música ou das danças em si, e principalmente por
ser no horário do recreio, não faz com que o momento seja lúdico. Igualmente, entendemos
que tal momento deveria ser mais destinado à recreação livre.
De acordo com Almeida (1995), a educação lúdica no desenvolvimento global da
criança pode vir a proporcionar relações reflexivas, inteligentes e coletivas, tornando o papel
de educar em um compromisso sério, permeado pelo prazer e pela satisfação individual. Caso
contrário, perde a riqueza que o lúdico representa.
Continuando com o relato das atividades desenvolvidas no mês maio para o
evento da festa do dia das mães, a escola realiza eventos nos quais se comemora a semana da
família, através de palestras, filmes e oficinas, com a presença e participação das mães ou
outros responsáveis dentro do espaço escolar, oportunizando a interação escola-família,
fazendo com que a criança sinta a figura da mãe na pessoa que está sendo responsável por ela
(em alguns casos são os avós, tios ou outros os representantes da criança).
No ano de 2012, para comemorar a semana do trânsito, as aulas abordadas para as
turmas da educação infantil foram ministradas na quadra de esportes, por ser um local
espaçoso, o que facilitou melhor a explanação, assimilação, interesse e satisfação das crianças
a respeito do assunto, como nos mostra a figura 1:
29
Figura 1
Nesta atividade, percebe-se que a metodologia utilizada corresponde ao papel da
teoria construtivista, no sentido de mostrar que o modo de transmitir os conhecimentos pode
ser muito amplo e nele se inserem as competências de mediar, criar e construir ações que
estão ligadas às transformações na maneira de ensinar, ou seja, é possível ensinar brincando,
utilizando a alegria natural da criança no processo de aprendizagem.
De acordo com o Referencial Nacional para a Educação Infantil (Brasil, 1998), o
educador como mediador nas brincadeiras educativas, disponibilizando de recursos adequados
no ato do brincar, favorece as habilidades imaginativas, criativas e organizacionais de modo
criativo e divertido.
Para a comemoração do dia da pátria, numa perspectiva de cultura lúdica, todos os
anos o colégio Agnus promove pelas ruas do bairro em que o referido colégio está localizado,
o tradicional desfile estudantil, representando o povo brasileiro, nossos símbolos, escritores,
região, ou seja, resgatando nossa cultura, fora do ambiente escolar e com questionamentos
políticos e éticos.
Figura 2
Figura 3
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No mês de outubro, a semana da criança é sempre muito divertida, pois as
atividades realizadas oferecem bastante descontração e novidades. Diversos recursos são
disponibilizados, como: brincadeiras com exercícios psicomotores, danças, mímicas, pula-
pula, piscina de bolas, teatros, passeios com banho de piscinas, dentre outras atrações, como
podemos observar nas figuras 4 e 5.
Figura 4
Figura 5
Tratando-se do modelo educacional a que escola se propõe, percebe-se que é um
espaço intenso de descobertas e crescimento multidisciplinar em várias circunstâncias no
cotidiano escolar, pois essas atividades lúdicas estimulam o raciocínio lógico, a socialização,
comunicação e, sendo bem aplicadas, propõem ações interessantes e desafiadoras na
construção de novos conhecimentos.
Analisando os eventos e ações da escola, verificamos que os mesmos buscam, a
partir de referenciais teóricos, conceitos implicados na questão do lúdico e interação na
educação infantil como ferramenta promovedora de aprendizagem e desenvolvimento.
Na pesquisa de campo, observamos e dialogamos com uma professora. Nesta
conversa, surgiram algumas falas importantes de serem destacadas:
O lúdico permite à criança aprender e adquirir novos conhecimentos através da brincadeira, levando a criança a ser questionadora do saber e preparar a criança para
31
um mundo de diversidades, com mais independência e autonomia. A escola se baseia nas teorias de Jean Piaget, Vygotsky e Henri Wallon, no sentido de preparar a criança a vivenciar o social, a afetividade e estimular o cognitivo, através de suas vivências, familiar e com o meio em que ela interage. Esses teóricos têm como suporte o conhecimento que o aluno traz dentro de si e acredita que esse conhecimento vá se expandir através do outro e com os objetos contidos em nosso cotidiano, dentre eles os recursos lúdicos. (informação verbal).
E assim, todas as atividades desenvolvidas têm por finalidade focar nas aplicações
concretas dos princípios mencionados: o lúdico e o construtivismo.
5.3 A função do lúdico no processo de aprendizagem
A proposta pedagógica de ensino é fundamentada em um modelo de educação
renovado em que todos que fazem parte do sistema de ensino são agentes ativos na construção
do saber. Diante disso, a proposta curricular da escola citada é um fator planejado e discutido
coletivamente com os que compõem a equipe docente, para em seguida planejar de acordo
com os diálogos estabelecidos os diversos segmentos da comunidade escolar.
Neste sentido, busca-se direcionar o currículo à cultura de modo geral,
valorizando cada ser como agente e sujeito ativo no seu processo de aprendizagem, de uma
maneira lúdica e interativa, como foi sugerido após as inúmeras discussões que surgiram a
partir dos estudos e teorias desenvolvidos pelos referenciais em que a escola se baseia.
A equipe de professores da Educação Infantil é de Graduados em Pedagogia e está
sempre em contínua formação. A escola desenvolve um trabalho em parceria com uma rede
de ensino já citada anteriormente, onde há uma interação em vários eventos para formação
dos professores (oficinas e palestras, afixação de textos reflexivos nos armários dos
professores, reuniões pedagógicas com diretor, supervisora e os professores, rodas de
conversas e troca de experiências), eventos nos quais são tratados assuntos direcionados ao
planejamento e rotinas de sala de aula.
Os professores são incentivados a participarem de cursos que são oferecidos para
educadores por outras entidades, livrarias, e outras instituições. Para isso, o colégio Agnus
contribui com 50% referente ao valor da parcela, a fim de colaborar com a formação e
aperfeiçoamento dos professores, em busca de atingir seus objetivos e estarem sempre
direcionando suas atividades em sintonia com a proposta da escola.
Um ponto que nos chamou atenção e deve ser ressaltado é a parceria escola-
família, algo constante nas atividades escolares propostas pela referida escola. Diversos são os
32
eventos em que os pais e responsáveis pela criança participam em conjunto, possibilitando a
interação entre ambos. Um desses eventos acontece a cada bimestre, no qual são realizadas
reuniões temáticas com os pais e responsáveis e, dependendo da necessidade observada pelos
profissionais dentro e fora da sala de aula, o tema a ser ministrado será refletido e definido.
Assim, a formação a que a escola se propõe deverá possibilitar aos pais e responsáveis a
reflexão sobre a educação que estão dando aos seus filhos.
Nesse sentido, a escola procura sempre desenvolver um trabalho em conjunto,
onde todos os envolvidos no processo de ensino tenham oportunidade de participar e
colaborar com o projeto educativo, cabendo aos responsáveis pela criança serem os primeiros
educadores, acompanhando seu processo de crescimento, em parceria com a escola.
Enfim, o fazer educação é realizado pela escola sempre em parceria com a família
e, juntas, estas asseguram um melhor aprendizado para os alunos. O próprio lema da escola é
“Aprendendo com Prazer”, acreditando que é possível estabelecer vínculos que possam
valorizar e respeitar as necessidades cognitivas, sociais e culturais das crianças, em busca de
um conhecimento que se dê de forma agradável e estimulante para nossas crianças que terão,
sem dúvida, um futuro melhor.
Segundo Cunha (1994), a criança que não usufrui dos princípios de um lar e de
uma família estruturada, de modo geral, sofre a carência de estímulo e necessita de ajuda para
suprir as defasagens afetivas e socioculturais em seu processo de desenvolvimento.
Para esse autor, são muitas as consequências, que prejudicam o desenvolvimento
das crianças. Frequentemente percebem-se aquelas relacionadas à afetividade, e muitas vezes
efeitos físicos, falta de apetite, agressão, incapacidade de manifestar e receber carinho,
dificuldade na aprendizagem por falta de motivação e estimulação, enfim, falta de um
acompanhamento adequado no processo de desenvolvimento.
Vejamos a fala de uma professora:
As crianças são avaliadas através da sua interação com o meio em que vivem, observando sua forma de agir, sua socialização entre colegas, professores, funcionários, dando oportunidade ao aluno de expressar suas ideias e opiniões diante dos fatos surgidos. Trabalhando o lúdico em sala de aula, tornam-se as aulas prazerosas, alunos participativos e dinâmicos, onde há trocas de ideias e experiências entre professor e aluno. (informação verbal).
O relato acima manifesta o entendimento de Oliveira (1995), segundo o qual a
utilização do lúdico é uma ferramenta importante que ajuda a criança a interagir no meio
social e a experimentar novas descobertas no seu processo de aprendizagem.
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5.4 Rotinas observadas no cotidiano escolar
No que podemos perceber e acompanhar, o plano semanal de ensino da Educação
Infantil se constitui através de vários momentos e se divide de várias formas, das quais
trataremos a seguir.
Acomodação é o momento que as crianças chegam à escola e, acompanhadas
pelas professoras, entram na sala de aula para guardarem seus materiais.
“Rodinhas” é um momento no qual a professora forma trenzinho com as crianças
e se dirige à quadra de esportes, pátio ou outro local fora da sala de aula, e todos sentam no
chão, formando um círculo para atividades de socialização e interação social, sejam músicas,
estórias, teatro de fantoches, apresentação do conteúdo a ser estudado, ou seja, atividades que
estão dentro do seu planejamento.
As professoras também oferecem água a todas as crianças, e em seguida leva-as
ao banheiro, acompanhando duas crianças por vez. Após esses momentos, que se repetem
diariamente, a professora prossegue com seu planejamento.
No primeiro dia de observação, numa segunda-feira, quando as crianças chegaram
à sala de aula, houve o momento de acolhida e boas vindas, e a professora indagou a respeito
do fim de semana das crianças. A professora do infantil IV, Raquel dos Santos, disponibilizou
um tempo para que eu me apresentasse. Em seguida, seguimos formando trenzinho para a
quadra de esportes, e ali, em círculos, houve momentos musicais com variadas canções
infantis. Ao retornar para a sala de aula, a professora apresentou a atividade de matemática a
ser realizada. A tarefa se tratava de coordenação motora fina e, antes, foi sugerido que as
crianças andassem em cima de linhas marcadas no chão com fita adesiva colorida (cada linha
era uma cor primária). Todos da sala participaram com grande satisfação, e com essa
brincadeira era reforçado o conteúdo das cores estudadas.
No segundo momento aconteceu a aula de Ed. Física com o professor Tiago.
Foram ministradas diversas brincadeiras: pular corda, carrinho de mão, amarelinha, andar
imitando variados animais, entre outras. Essas atividades, segundo o professor, têm o objetivo
de estimular a socialização, percepção, coordenação motora, equilíbrio, ritmo e criatividade, e
assim cada aula é planejada de acordo com os conteúdos que estão sendo abordados em sala
de aula. Já em outra aula de recreação que acompanhei, foram trabalhadas coreografias
através de músicas e expressão corporal, e as crianças cantavam e faziam os gestos da música:
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“cabeça, ombro, joelho e pé”. Nesta atividade, o professor reforçava o conteúdo estudado
sobre as partes do corpo humano.
Cada dia letivo se constitui através de momentos rotineiros. Nas terças-feiras, as
turmas da educação infantil desenvolvem atividades artísticas, nas quais cada turma vai ao
pátio expor para as demais os seus trabalhos de artes. Tive a oportunidade de presenciar
danças, músicas, mensagens em homenagem ao dia do professor e realizadas pelas próprias
crianças. Esse dia é chamado de “terça-feira da arte”.
O tempo da aula refere-se aos momentos em que as atividades estão sendo
ministradas pela professora, momentos esses que acontecem em sala de aula, mas, na maioria
das vezes, são realizados em outros espaços da escola. Por exemplo, para contar estórias, a
professora procura o jardim ou sala de leitura; para exercícios psicomotores, são utilizados a
quadra, o pátio ou a brinquedoteca.
Na quarta-feira, as disciplinas estudadas pela turma do infantil IV foram
matemática e sociedade. Na aula de matemática, o conteúdo se tratava dos numerais de 01a
05. A professora fez a leitura coletiva dos numerais expostos na sala, mostrando nos dedos e
apresentando objetos, fazendo a representação quantitativa referente aos numerais. Em
seguida, em círculo e com as crianças sentadas no chão, a professora distribuiu diversas
cartelas com numerais variados para que as crianças identificassem cada numeral que fosse
apresentado. E, continuando a aula, a atividade do livro era para circular somente o numeral
05. Na aula de sociedade, o assunto estudado era sobre os tipos de moradias, em forma de
linguagem oral e gravuras. Foram citados e apresentados vários exemplos de moradias e,
depois, foram oferecidas folhas de oficio, canetinhas e outros materiais escolares para que
cada criança representasse sua casa através de desenhos e do desenvolvimento de suas
criatividades.
O dia de quinta-feira é dedicado aos hábitos saudáveis. Todos os lanches que as
crianças consomem, sejam trazidos de casa ou vendidos na cantina, só podem ser alimentos
naturais e saudáveis, como sucos, frutas, saladas de frutas, levando as crianças a perceberem e
a serem orientadas sobre o fato de que determinados alimentos que consumimos são
prejudiciais a nossa saúde. Assim, as atividades ministradas procuram, de alguma forma,
contribuir com essas ideias. Diante disso, o conteúdo de higiene pessoal e saúde do corpo foi
colocado no planejamento da matéria de ciências e estudado, e a metodologia utilizada pela
professora foi colocar vários objetos para as crianças verem, a fim de que as crianças
identificassem somente os produtos utilizados na higiene pessoal.
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Sexta-feira é o dia de ciranda de leitura, e fica a critério do professor e de sua
metodologia a maneira como a aula do dia será ministrada. Um dia, a professora se
caracterizou como um personagem para contar histórias; em outra atividade, acompanhei a
realização do jogo de memória, onde a professora solicitava que as crianças reconhecessem a
letra P em rótulos, embalagens e fichas com várias palavras. Nessa atividade, uma criança se
recusou a fazer a tarefa, isolando-se no cantinho e dizendo que não iria fazer o que estava
sendo proposto. O outro momento foi direcionado à recreação livre, pois neste dia o uso dos
brinquedos prediletos das crianças é livre: cada criança traz o brinquedo de casa para
compartilhar o momento de recreação com os demais colegas e interagir com os outros
brinquedos e jogos.
Diante da metodologia das rotinas observadas, a professora destaca:
Acreditamos que o professor esteja apto a criar em suas aulas lúdicas, estratégias que chamem a atenção e estimulem o interesse do aluno por meio das aptidões pedagógicas. Em algumas escolas, acredito que a dificuldade que encontram para trabalhar o lúdico seja a falta de material didático, a compreensão da família em envolver o brincar como uma forma de aprendizagem, pois alguns acreditam que as crianças estão só brincando e que isso não é favorável ao processo do aprender. (informação verbal).
Nesse sentido, percebe-se que a escola, bem como a metodologia utilizada pelos
educadores, está oferecendo e viabilizando espaços diferenciados para as atividades no
processo da aprendizagem.
Sobre o uso de tempo livre na sala de aula, após as atividades realizadas no livro
didático, a professora disponibilizou um tempo extra, onde eram oferecidos materiais como
folhas de papel ofício, giz de cera, massinha de modelar. Percebeu-se que algumas crianças
não se limitavam ao tempo disponibilizado para executarem algo com os recursos oferecidos,
mas, começavam entre elas alguma brincadeira de faz-de-conta. Como por exemplo: duas
meninas brincavam de mãe e filha. O tempo livre refere-se ao tempo disponibilizado para as
crianças, no qual elas brincam livremente, tempo este que também engloba o recreio, e outros
momentos do cotidiano escolar.
Finalmente, sobre o recreio, o espaço oferecido na hora dele é um ambiente
reservado para as turmas da educação infantil. Nele há um parquinho com escorregadores,
uma casinha de plástico com portas e janelas, e recipientes de plásticos (baldes, pás e
peneiras). E há ainda um corredor, que é bastante utilizado pelas crianças maiores do infantil
V para as brincadeiras que exigem maior liberdade para correr, pular ou dançar.
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A realização deste estudo sobre o lúdico no processo de aprendizagem da
educação infantil nos levou a uma reflexão acerca da importante função que os educadores
têm ao desenvolver um trabalho educativo neste aspecto, favorecendo possibilidades e
oportunidades para que a criança, no ato do brincar, aprenda dentro de um contexto planejado
e adequado às competências em prol do seu desenvolvimento.
Pesquisar as influências com as quais os recursos lúdicos relacionados à teoria
construtivista contribuem para a aprendizagem e compreender a importância de um ambiente
escolar nesse processo nos exigiu, em primeiro lugar, a apropriação dos conceitos do lúdico e
de construtivismo, como também o entendimento do papel de todos os envolvidos com o
sistema educacional para o desenvolvimento da criança nos meios educacional, cultural e
social.
A técnica de coleta de dados nos permitiu observar como as atividades são
realizadas nas turmas da Educação Infantil, quer seja em sala de aula, quer seja em outros
momentos de brincadeiras espontâneas, como o recreio no parquinho ou brincadeiras
orientadas nas aulas de recreação, no momento da acolhida, nas rodas de conversas e de
música. Serviu, de modo geral, para acompanharmos a função do brincar no cotidiano escolar
e, sobretudo, investigar como a escola vem desenvolvendo seu currículo, verificar como a
criança se dispõe dos procedimentos e recursos oferecidos para realização das atividades
propostas e a relação com a meta pedagógica almejada pela referida escola.
A partir das nossas observações, consideramos que a proposta de ensino
desenvolvida pela escola faz com que as atividades realizadas alcancem os objetivos
esperados.
No que diz respeito às rotinas observadas, as mesmas fazem com que as crianças
sejam estimuladas como participantes ativos de sua aprendizagem, pois, ao brincarem,
manifestam interesses e diversão no ato de participar, criar, socializar-se e inventar livremente
ações, de acordo com as atividades que lhe são propostas.
As atividades desenvolvidas e a sua finalidade no ambiente escolar confirmaram a
importância de levar em consideração a aprendizagem da criança nos aspectos afetivo,
cultural e social.
Quanto à disponibilização de recursos, verificou-se que as crianças apoiavam-se
nas manifestações lúdicas, principalmente a brincadeira do faz-de-conta, tendo sido
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observadas duas crianças brincando, uma fazendo o papel de mãe e a outra de filha. Isso ajuda
o educador a perceber de algum modo a realidade familiar e social em que as mesmas estão
inseridas.
Outro aspecto interessante que percebemos é a parceria escola-família, que gera
momentos de compartilhar as preocupações da escola sobre o desenvolvimento da
aprendizagem, mostrando quais iniciativas vêm sendo planejadas pela escola no intuito de
melhorar o processo de aprendizagem.
Esses momentos são os encontros de formação chamados de “reuniões temáticas”,
em que a família tem a oportunidade de participar da estratégia da escola, pois a escola
procura ressaltar a importância da família no acompanhamento educacional.
Diante das reflexões teóricas e dos diálogos, através da entrevista com a
professora, podemos considerar que o colégio Agnus desenvolve um trabalho voltado para um
modelo de educação renovada que é oriundo da perspectiva da teoria construtivista.
Portanto, considera-se que a pesquisa teve a importância de compreender a função
e a as influências da cultura lúdica na abordagem construtivista como recursos possíveis para
a construção da aprendizagem de forma significativa para o desenvolvimento humano.
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REFERÊNCIAS
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APÊNDICE A – INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS
QUESTIONÁRIO
1. Quais as contribuições que o lúdico oferece à aprendizagem das crianças?
2. Em que pressupostos teóricos a escola se baseia e por quê?
3. Como as crianças são avaliadas durante a aplicação de atividades lúdicas?
4. Que desafios são enfrentados para se trabalhar com o lúdico em sala de aula?
5. Qual a importância do lúdico para a sua prática profissional?
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