View
217
Download
0
Category
Preview:
Citation preview
1
Conferências:
Data Show ou Data Sono ???
Um data show não é uma exposição de ideias é a criação de significados na audiência...
(com base em Rick Justice, Vice-Presidente Cisco Systems)
Um data show não é mostrar, em tamanho gigante, um catálogo de ideias... é contar uma “história” á audiência...
(com base em Nancy Duarte, CEO da “Duarte Design”, Silicon Valley )
As empresas gastam milhares de euros no marketing da sua imagem, mas os seus empregados, em seu nome, provocam sono nas conferências. ... mas, conseguem alguns ouvintes fiéis:
- Os professores mostram Data Show para nos ajudar a perceber, mas apenas nos ajudam a adormecer. Leonor, 10 anos.
2
1ª Questão: A responsabilidade: Data show ou Data sono ? Numa conferência, os sponsors, os organizadores e os oradores são os responsáveis pelo resultado ser um Data Show ou um Data Sono. Estes responsáveis têm sempre grande visibilidade e a sua identificação é fácil. Por exemplo, nos dois casos seguintes, qual é proposta que, numa primeira análise, parece ter menos condições para Data Sono? Orador Organizador DataShow
3
Numa primeira análise, a segunda (Conferência do TED.COM) parece ter menos condições para provocar sono, mas qualquer que seja a resposta, o participante “gastou” esforço, tempo e dinheiro para assistir e, depois da experiência, tem sempre condições para concluir quem foi o responsável e o que fazer na próxima vez, isto é, se repete (ou não) a ida a essas conferências. Porém, há outros critérios de preferência pelas organização de conferências. Um dos mais comuns é o nível da sua potencialidade para fazer Lobby1. Nesta perspectiva, os intervalos são importantíssimos para se mostrar, estabelecer contactos, criar redes, fazer negócios. As conferências perseguem três grandes objectivos:
⇒ fornecer informação através de palestras, ⇒ criar contactos político-‐profissionais-‐sociais e ⇒ fazer publicidade (dar lucro) aos organizadores.
É óbvio que este último só é conseguido através dos dois primeiros. E neste caso, os organizadores poderão sempre, estrategicamente, não se preocupar com o primeiro e focalizar-‐se só no segundo. Baseiam-‐se no princípio que os espectadores não se importam de sacrificar o tempo de más palestras pelo tempo de bom Lobby:
Data Sonos podem ser custos aceitáveis para poder “estar” com colegas, amigos e/ou VIP’s.
A questão que se pode colocar é: até quando (e quanto) o mercado vai aguentar estas alternativas ? Normalmente, quando o programa tem anunciados Ministros e Secretários de Estado como assistentes e/ou oradores é sempre um bom aviso publicitário: “O Lobby vai ser bom, não percam os intervalos...“
1 - Significa “entrada do Hotel”, local onde se juntavam todos aqueles que esperavam os VIPs, aglomerando-se para
serem vistos, criarem contactos, meterem “cunhas”, obterem informações, detonarem grupos de pressão, fazerem pedidos, etc.
Mais tarde o termo foi usado para significar “grupos de pressão” sobre os VIPs. Definição “oficial”: “A lobbyist is an activist usually paid by an interest group to promote their positions to legislatures.“
No sentido originário, também se chamam os “emmerdeurs” (francês) ou “os Moscas” dos VIPs.
4
No “intervalo” entre os intervalos, pode sempre fazer-‐se compras nas redondezas, conversar no bar ou dormir um pouco nos Data Sono. Neste último caso, convém, perto do fim, entrar discretamente e fazer 2 a 3 perguntas ao orador para se ter uma notoriedade que compense a ida2. 2ª Questão: A Conferência/Fórum/Encontro
Uma Conferência/Fórum/Encontro não é uma mostra gigante de ideias, com uma sucessão de mini palestras. É uma constante comunicação com a audiência, numa construção interactiva de significados.
Um livro não é um tema/título, englobando capítulos construídos por páginas escritas com palavras. São significados oferecidos ao leitor através da sua leitura. Quando o escritor não presta, o livro é apenas uma manta de retalhos feita por páginas cheias de palavras, num vazio total de significado. Para além do tema/título, o autor e a editora são também um possível primeiro critério de selecção. A primeira vez que se experimenta um autor (ou editora) poderá ser um teste, mas a segunda vez é uma escolha3. Uma ida ao teatro é o mesmo problema. Independentemente do tema, como é representado ? São palavras gritadas num palco, ou uma história bem contada, um conjunto de significados, BEM ou MAL, transmitidos aos espectadores? Para além do tema/título, os actores, o encenador (às vezes, a companhia) são outro possível critério de escolha. A primeira vez que se experimenta um encenador (ou actores) poderá também ser um teste, a segunda vez é uma expectativa escolhida. Uma ida a uma conferência/fórum/Encontro é exactamente a mesma situação. Independentemente do tema, qual é a forma com que vai decorrer ? São palestras dormitivas? ... São mostras de textos gigantes em Data Show ?... São leituras monocórdicas que embalam o silêncio ?... São “monólogos” partilhados (e não participativos) de 5 pessoas entre 100 (5%), que durante 20 minutos (2m pergunta+2m resposta, cada) saltitam na inércia do grupo? ... É viver distorções nos horários, com oratórias alongando-‐se para além do atribuído, num desprezo inócuo pela assistência ? É isto que se pretende com uma ida à conferência ? É isto que ela oferece ? A resposta a estas duas perguntas dará a decisão de ida ou não àquela conferência. Aprofundando um pouco, qual o é equilíbrio Custo-‐Benefício?
2 -É o velho truque dos alunos universitários que faltam muito e, nas poucas aulas a que vão, fazem muitas
perguntas para se lembrarem deles. 3 - Ditado popular: “Na primeira cai quem não sabe, na segunda cai quem quer, na terceira cai quem é parvo”
5
9h30 Sessão de Abertura 10h15 Coffee Break 10h30 Workshops Temáticos (sessões paralelas)
- Tema 1 - Tema 2 - Tema 3
13h00 Almoço SESSÃO PLENÁRIA 14h30 Palestra 1 15h15 Palestra 2 16h00 Conclusões das Workshops Temáticos 17h00 Encerramento
Modelo habitual (referencia 2010) Custo: 300€/250€ por um dia com um tema e um programa:
(publicado na Internet) Analisando o programa conclui-‐se que cada participante usufrui de:
Uma sessão de abertura – 45 m uma sessão paralela – 90 m duas palestras seguidas – 45 m+45 m apresentação conclusões e enceramento – 60 m
Em conclusão, paga-‐se uma média de 63 € por hora para:
ouvir palestras ou dormir nas palestras, ou fazer Lobby 4 ou em alternativa comprar 15 livros (20€ cada) sobre o tema.
Para decidir o que fazer nestas 4 alternativas, é importante pensar sobre duas questões: A. Quem é a organização ? ou mais concretamente,
Como foram as suas conferências anteriores ?
Foram aborrecidas ? Prolongaram-‐se para além do horário ? Aprenderam algo? Foram sessões de leitura ? ...E fundamentalmente a pergunta crucial: sentiram-se enganados ?
Há um critério simples para concluir se gostariam ou não de repetir:
...deslocavam-se longe e esperavam na fila para entrar ?5 Um outro critério é analisar o estilo normal com que decorreram as anteriores conferências e, se dentro desse estilo, tiveram ou não realmente “estilo”, ou foi apenas um regresso à escola do séc. XIX ?
4 - ver pag. 2 5 - Caso dos adeptos do futebol ou espectáculos musicais ou teatrais.
Total de 4h 45m (com uma tarde de 2h30m sem intervalo)
(com o mesmo dinheiro)
6
Como exemplo: A – Estilo Teatro grego B – Estilo concerto musical C – Estilo debate televisivo O que fazer? Independente de preferências, é importante analisar as expectativas do seu funcionamento.
7
B - Quem são os oradores ? Qual o seu estilo ou o das organizações onde trabalham ? A publicidade de “venda” de conferências apresenta o tema e o horário com os seus sub-‐temas, incluindo o nome dos oradores. Num livro escrito por vários autores a publicidade é a mesma. Mas, apesar de terem a mesma finalidade, um livro e uma conferência têm objectivos diferentes. Uma peça de teatro de Shakespeare começa por ser um livro, e depois é uma representação. Com a mesma base (livro), o teatro que a representa pode ser bom ou mau. A publicidade ao livro e a publicidade ao teatro não podem ser as mesmas, pois, apesar de terem a mesma finalidade, os seus objectivos são distintos. Quem comprar um bilhete de teatro por 300€ (se não for apenas por causa dos intervalos com os VIPs) tem que ter informações sobre a companhia teatral e os seus actores, e não apenas sobre a peça a representar... a não ser que não se importe de dormir. A conferência aproxima-‐se mais da problemática do teatro. Na conferência existem dois grupos com objectivos diferentes. Um grupo são os organizadores e os oradores cujos objectivos oscilam entre auto-‐publicidade e/ou fazer lucro. Outro grupo são os assistentes cujos objectivos oscilam entre aprender e/ou ganharem visibilidade nos lobby. Mas, a proposta “oficial” é de ser uma conferência, e este conceito contem dois significados6:
Dissertação ou exposição pública sobre um tema;
Conversa de uma/várias pessoas com uma/várias pessoas, sobre um tema ou seja, em resumo, possibilitar à assistência a aquisição de informação sobre um tema. Também “oficialmente” é isto que a assistência quer (e eventualmente, paga). A avaliação é simples: isto acontece ?
Para acontecer, o factor crítico de sucesso está na qualidade das prelecções e estas centram-‐se no prelector. Assim, o nome do orador vem em todos os programas, quem é e onde trabalha, que são sem dúvida informações importantes e necessárias na sua relação com o tema, mas não esgotam o assunto.
6 Vide etimologia
8
1-‐coincidênia de 4 ou 5 ideias: excelente 2-‐ coincidência de 3: médio 3-‐ coincidência de 2: a pensar 4-‐ coincidência de 0 e 1: a esquecer
Por exemplo, uma conferência sobre medicina, o facto de ser médico e trabalhar num Hospital é importante, mas ele não está lá como médico está como orador. Pode ser bom médico e mau orador e, vice versa, bom orador e mau médico. Uma das capacidades não desculpa a outra: a assistência dorme na mesma se é mau orador.
Este raciocínio aplica-‐se a outros casos, o facto de ser bom profissional nestas áreas:
tema automóvel e condução: é engenheiro e trabalha na marca tema economia e crise: é economista e trabalha no Ministério tema ensino e reprovações: é professor e trabalha na universidade tema ambiente e água: é director e trabalha na Câmara Municipal etc
não significa ser bom orador a seu respeito. Mas, o interessante desta situação é que origina consequências normalmente não pensadas para esse profissional. A principal diz respeito à sua posição inicial, pois se é um profissional da área a sua responsabilidade como orador aumenta. É um pouco estranho ser médico/economista/professor/etc, falar desses assuntos e não se perceber nada do que diz. A sua competência não fica muito dignificada7. Nos intervalos o comentário habitual é desculpá-‐lo: “Coitado, não tem jeito para falar...”. Um profissional “coitado” é um pouco estranho. É coitado porque não tem jeito ou é coitado porque não se preparou ? Por outro lado, tem vantagens. Se não percebe nada daquilo, e só está lá por razões de visibilidade politica, o não se perceber nada até faz parecer “intelectual”, porque como diz o ditado popular “falar difícil dá poder, até parecem doutores...”
Um teste possível
1. Previamente, cada orador escreve as 5 principais ideias que pretende transmitir sobre o tema. Não devem ser títulos ou áreas expositivas, mas sim conceitos concretos de clarificação e compreensão do tema. A assistência desconhece esta lista e não é apresentada no datashow como pontos-‐chave
2. Depois da palestra, cada assistente escreve as 5 ideias com que ficou na memória.
3. Avaliação: resultado do grupo (numa média de 60%):
7 - Quando são professores o caso é preocupante.
9
3ª Questão: A organização do espaço Se se comparar duas propostas: a) 1º caso
Imagem Publicitária Data Show Estática DataShow
Orador Neste caso, o centro do palco está vazio e estático, cheio da publicidade permanente dos organizadores e sponsors, enquanto que o espaço da conferência decorre dividido em vários cantinhos. A assistência ou olha para o orador ou para o data show, num esforço constante para integrar os dois. O orador está abandonado num espaço vazio, separado da assistência por uma “terra de ninguém!”, numa comunicação difícil, longe dos apoios à sua palestra (data show). A conferência é dominada pelo espaço central de publicidade, sendo as prelecções apenas um meio para levar lá os assistentes, manterem-‐nos sentados e olhar a publicidade dos organizadores. Para este objectivo, quanto pior forem as conferências melhor, pois os assistentes aborrecidos entretêm-‐se a olhar para a publicidade. Este efeito é ajudado pela dispersão da atenção entre os vários locais da prelecção: orador de um lado e data show do outro. Os espectadores cansados olham para o meio, para onde está a publicidade8. 8 - Neste sentido os espectadores não deviam pagar para ir às conferências, deviam era receber dinheiro por estar a
ler publicidade.
Olham orador ou DataShow
10
b) 2º caso
Visão Orador organizador data show assistência O centro do palco está cheio e dinamizado pelo conjunto orador e datashow, a publicidade permanente é diminuta e discreta. A conferência é dominada pelo espaço central do palco onde se encontra a prelecção, cumprindo assim a proposta feita e não aproveitando o convite para “utilizações colaterais”. Os espectadores sem esforço focalizam o orador e o data show, integrando-‐os com facilidade. O orador não está abandonado num espaço vazio, tem vias de comunicação fácil, e está perto do seu apoio à palestra (data show): Orador perto da assistência Orador perto do seu data show
palco
11
c) As propostas de diálogo
uma conversa ..... mas onde só com binóculos a assistência consegue seguir a linguagem não verbal. A conversa tem o modelo dos diálogos de rádio: “vozes no éter”.
.... zangados ou 2 monólogos? Semelhante à anterior , com a diferença que nem os próprios interlocutores conseguem interagir... ... numa espécie de “namoro à janela”.
A distância entre os dois “conversadores” impõe um estilo de conversação, pois a gestão do espaço (proxémica9) entre as pessoas é sempre uma “proposta relacional”: dois amigos caminham juntos, 2 amigos zangados caminham afastados. A gestão do espaço e a sua relação com a audiência não é um problema de decoração, é um problema técnico de diálogo.
O facto da audiência estar a ver, em tempo real, pormenores da linguagem não verbal da “conversa”, torna a assistência um grupo de participantes activos no dialogo, não só assistindo como tomando parte nele. Bem longe da “conversa de rádio” e do “namoro à jnela”,
9 Entre outros, vide E. Hall
12
4ª Questão: O data show
Um data show sobre um Ministério, Direcção Geral, ou Empresa não é um catálogo, nem um livro digital com imagens do organograma, funções, actividades. É uma comunicação de significados sobre a sua existência, e isso não acontecerá se a assistência se aborrecer.
Uma Prelecção feita apenas por expressão oral, sem qualquer outro apoio, pode ser uma excelente forma de comunicar com a audiência: depende do orador e do conteúdo da comunicação. É difícil transmitir os significados de quadros a óleo sem os mostrar, e também é difícil transmitir o significado de um poema declamando-‐o mal.10 Ler um documento, para além da técnica oratória de leitura, obriga a que o documento tenha sido:
Escrito para ser ouvido e não
Escrito para ser lido (por ex., páginas de relatórios)
Na verdade, o raciocínio de construção de significados a partir de mensagens orais não é igual ao raciocínio com base em mensagens escritas: não falamos como escrevemos. Uma experiência interessante é alguém explicar um caminho a outrem, cuja dificuldade exija alguma pormenorização, e essa explicação ser gravada. Mesmo que o outro tenha percebido facilmente a explicação, normalmente a transcrição pura e directa da gravação parecerá um discurso desconexo, com frases e comentários inacabados e fora do contexto, e cheio de redundâncias dispensáveis, quase um discurso de um “louco” comunicativo. Simplesmente, isso não é verdade. Foi exactamente essa aparente “loucura oratória” que deu vida e “sabor” à explicação. As palavras foram integradas com a linguagem não verbal do orador que lhe deu significado e complemento e com os feed backs não verbais do ouvinte, instintivamente, percebidos pelo orador que lhe respondeu, dando resposta através desse processo aparentemente desconexo. 10 - Fazê-lo bem é uma arte que se aprende: Declamador: ” Aquele que declama, fala, interpreta determinado texto
ou poesia”.
13
Se pelo contrário, a explicação pormenorizada tiver sido escrita para ser lida, sendo depois decorada e “papagueada”, fica um discurso morto, sem comunicação e sem criar sintonia com o ouvinte. Neste caso, pode acontecer que: B. o ouvinte não percebe, C. dorme, não ouve, D. interrompe continuamente com interrogações, impedindo a emissão da “cassete”.
Na escola, nós fomos treinados a escrever para ser lidos e não para ser ouvidos. Em complemento, estamos treinados na leitura “silenciosa”, pelo que usamos essa técnica na leitura em voz alta11, o que é muito sonolento ou ridículo (a chamada leitura de “papagaio”). Não é fácil de encontrar um bom leitor de escrita para ser lida (livro ou poesia) e, normalmente, precisou de aprendizagem e/ou treino12, e a escola também não ensina estas técnicas. Em conclusão, a leitura de documentos pode ter sucesso se:
o texto tiver sido escrito para ser ouvido e não for compilação de páginas de relatórios ou livros (feitos para serem lidos);
o orador souber ler textos e não usar a técnica do “papagaio” (parafraseando a gíria do teatro) da leitura silenciosa em voz alta.
Doutro modo, é um doloroso regresso à conferência MEDIEVAL13, mas agora utilizada por oradores e assistentes vivendo no SÉC XXI, e já não habituados a leitura em voz alta.
11 -Um leitor treinado quando faz leitura silenciosa, mentalmente não faz entoações nem inflexões de voz, porque não
vocaliza, não articula, como faz o semi-alfabeto. 12 - Vide o treino de actores e declamadores. 13 - Quando os alfabetizados liam para os analfabetos.
14
Quando se tem em casa convidados para jantar somos responsáveis pelo seu bem estar, pela sua comodidade e por não oferecer comida requentada ou mal feita. Quando se organiza uma conferência e/ou se é prelector, a assistência é nossa convidada, pelo que somos responsáveis pelo seu bem estar, pela sua comodidade e por não oferecer “conversa” requentada ou mal feita. Do mesmo modo que o jantar não pode acabar duas horas depois, por atrasos na cozinha, também numa conferência os oradores não podem terminar fora do tempo atribuído: é uma falta de respeito e consideração pelos convidados, quer por parte dos organizadores, quer dos oradores. É o primeiro sinal de incompetência da conferência. Se ela é a primeira experiência de um principiante (organizador ou orador) é aceitável e compreensível, mas se é uma figura pública responsável é vergonhoso (quer seja organizador, quer orador). Uma simples pergunta: porque não testaram antes ? O PowerPoint tem uma função para isso. Ou pelo contrário, acharam que não merecia a pena, porque “eles” aguentam tudo ? 14 Outras perguntas possíveis15:
como foram feitos os suportes da comunicação? São fotocópias de relatórios em projecção gigante ?
Como é feita a narração? É uma leitura em voz alta desses suportes, enquando a assistência, silenciosamente, lê mais depressa ?
....e a pergunta fundamental:
quanto tempo levaram a preparar a palestra? Foi o estilo desenrascanço: “ponham-me isto em slides e aqui vou eu...” ou o estilo preparação ?
Como exemplo, a seguir se apresenta uma listagem de preparação para conferências, usada numa empresa, para que os seus colaboradores, quando oradores, não estraguem a sua imagem e a da empresa, adormecendo assistências:
14 - Este caso é tão vulgar, que alguns oradores depois da prelecção se gabam “Não correu mal, nem preparei
nada...”, cujo verdadeiro sentido deve ser entendido como: “Lá me safei...” , mostrando assim um claro tipo de ética e responsabilidade profissional.
15 - Cujas respostas se encontram facilmente assistindo às conferências e às palestras.
15
Criar um DATA SHOW 1 hora-30 slides Tempo estimado
A. 6-20 horas Pesquisa e obtenção de material
B. 1 hora
Diagnóstico e listagem das características e necessidades da audiência
C. 2 horas
Criatividade das ideias a apresentar
D. 1 hora Estruturação e organização das ideias
E. 1 hora
Obtenção de críticas de colegas e colaboradores sobre o impacto dessas ideias na audiência
F. 2 horas
Esquisso da estrutura do data show e do storyboard
G. 20-60 horas
Construção dos slides no software desejado
H. 3 horas
Treino narrativo...Treino narrativo ...Treino narrativo sobre oratória, tempo e fluidez comunicativa.
TOTAL: 39-90 horas
A avaliação da preparação é perceptível na análise de E), F), e H) nos seus aspectos particulares de saber quanto tempo se gasta no total, e onde se gasta mais e menos tempo e, se necessário, quais os slides dispensáveis e os indispensáveis (os FCS-‐ Factores Críticos de Sucesso).
16
5ª Questão: O slide
Um slide é normalmente um conjunto de texto e imagem e pode usar diversos modelos, uns mais adaptados do que outros à comunicação tipo datashow. Exemplo de modelos negativos:
Tipo Documento: página em tamanho gigante Só texto que o orador lê em voz alta e a audiência segue silenciosa e reverentemente, tipo leitura para analfabetos na Idade Média. Às vezes, para decoração, também é rodeado de pequenas imagens, tipo livros infantis.
Tipo Cábula: lista de compras Semelhante ao anterior, com menos texto e com “bullets” (tradução: balas) cuja monotonia mata qualquer audiência. É uma técnica importante pois serve de cábula ao orador, o que lhe evita preparar o discurso. Normalmente, a audiência não lê, ...desiste.
Tipo Catálogo de vendas: álbum de fotografias São imagens com uma breve explicação, modelo catálogo IKEA ou panfleto Supermercado. É uma técnica de self-‐service para a audiência: “está tudo aqui, usem o que quiserem...” acompanhado por alguns comentários tipo “vendas”. A audiência olha e ouve, mas não recebe um signifi-‐cado integrador, i.é., o “caroço” do slide. Qual é o significado do catálogo do IKEA? Não tem e não precisa ter, mas num slide show ele tem que existir, é prioritário.
Tipo Burocrata: enciclopédia de bric-‐à-‐brac Está tudo lá, arrumado e organizado, mas ninguém percebe ou lê, não serve para nada. É uma técnica que permite ao orador ler alguns pormenores, fazer alguns comentários, tipo diversões numa conversa ou cultura de enciclopédia.
17
Um teste possível: Qual o nº de palavras por slide16.
Se tiver mais que 75: Documento em tamanho gigante Se tiver cerca de 50 : Cábula em tamanho gigante Se tiver cerca de 30, com imagens e gráficos: catálogo em tamanho gigante
Todos estes slides podem ter informação importante e neste caso devem ser entregues como documentos aos participantes e não sujeitá-‐los e técnicas de adormecimento com a desculpa de que “tem que ser dito”. Mas este não é o critério, o critério é “o que pode ser dito, para ser ouvido”, pois se é dito e não é ouvido é apenas auto terapia para o orador (alongando o tempo de notoriedade e visibilidade social17) e “lixo” (ruído) para a assistência.
Apresentar um data show não é pôr palavras e imagens no ar, é expressar significados através de uma mensagem áudio-‐visual: é uma linguagem.
Mas, escrever também é uma linguagem, pelo que não é só pôr palavras num papel, há vergonha em redigir mal, pelo que as organizações não consentem que os seus colaboradores o façam. Mas não há vergonha em ter maus data shows, pelo que as organizações não se importam que os apresentem em seu nome.18 Os Data Sonos são normais e consentidos, esquecendo que um data show é uma escrita em linguagem áudio visual, e o seu objectivo é transmitir significados.
Quando quem escreve não cumpre as regras da escrita, quem lê não percebe o que ele diz. Se quem escreve não conhece as regras, nem sequer percebe que apenas balbuciou palavras em frases sem sentido. Se não fosse triste, era anedótico . O que quer dizer:
“O João tinha um cão e a mãe do João era também o pai do cão.”? (ver explicação no fim)
Quem não sabe escrever não percebe a existência de pequenos erros e não compreende que o que escreve é disparate, apesar da escrita ser bonita e sem erros, mas a frase é um disparate. Os Data Sonos estão cheios destes pequenos erros e os seus oradores “inocentes” andam felizes e contentes com o que apresentam. Por sua vez quem ouve pode também não perceber os erros, mas sabe que não percebeu nada e ... adormece. 16 - ver Nancy Duarte, Tufte, etc 17 - difundindo auto-imagens negativas, mas não faz mal, pois ele não se importa e/ou não tem consciência. 18 - Organizações responsáveis, Universidades, Institutos de Formação, Ministérios e seus Organismos, grandes
Empresas, etc não só os consentem, como a isso são indiferentes... mas preocupam-se em que os seus oradores usem fato completo e gravata.
18
A linguagem audiovisual usa 3 tipos de raciocínio, em simultâneo:
Visual Parte do todo para o detalhe, tipo leitura de um quadro a óleo.
Instantaneamente (tempo zero) o significado global é percebido, neste caso: jantar de amigos. Se existe informação prévia poderá ser: A ceia de Cristo. Se tem mais informação anterior pode acrescentar: de Leonardo da Vinci. Depois pesquisam-‐se detalhes: são só homens ? Existem mulheres? Quantas são ? Quais as atitudes ? Porque estão todos do mesmo lado da mesa? etc e começa a exploração dos detalhes, num processo em que “primeiro se viu a floresta e só depois se vê as árvores”.
Sequencial Parte do detalhe para o todo, tipo ler um livro. Começa-‐se pelos detalhes (uma letra) depois acrescenta-‐se outra dando sílabas que se juntam em palavras e estas em frases, num processo sucessivo e temporalizado. As frases juntam-‐se em páginas e estas em capítulos e estes em livros. No final, encontra-‐se a estrutura global, num processo em que “primeiro se viram as árvores e só depois se encontrou a floresta”. Ler um texto de 300 pag. obriga a maior treino e esforço de estruturação de detalhes do que se tiver 10 pag.
Por isso quem lê mal, normalmente não gosta de livros, o esforço é grande. Talvez não seja um problema de gosto, mas apenas de capacitação de leitura. A diferença entre um semi-‐alfabeto e um leitor treinado está na rapidez de passagem do detalhe à estrutura. O semi-‐alfabeto lê sílabas, junta-‐as e faz palavras e a sequência destas dá as frases. O leitor treinado vê frases, ou seja, vê em conjunto uma sequência de palavras, logo o significado é quase instantâneo: é mais rápido e cansa-‐se menos19, pois o olho dá menos saltos.
19 - Os textos em colunas possibilitam a leitura vertical, e a diferença entre letras de design “serif” ou “sans serif”.
19
Auditivo Alterna, e simultaneamente tem, o todo e o detalhe, tipo conversar com outrem. Aqui, em tempo zero existem mensagens constantes e fluidas de significados globais pela entoação , inflexão de voz , dicção, intensidade e implicação, etc, do narrador, que facilitam ou dificultam a apreensão de significados pelo ouvinte. Simultaneamente várias palavras são ditas numa sucessão de detalhes, cujo conjunto dá frases que expressam significados. Estes dois processos ao contrário dos anteriores são fluidos, mudam e alteram-‐se constantemente, opondo-‐se, complementando-‐se ou confundindo-‐se. Obriga a concentração, e memória, a uma “caça” permanente ao fluir de sinais, pois às vezes diz-‐se um significado e expressa-‐se outro. É algo vivo cuja dinâmica é atraente, dá prazer e é motivante para a audiência. A dicção “papagaio” é uma dicção morta.
Na verdade, um slide show não é uma sucessão de slides lidos para uma audiência, não é uma prova de leitura para o orador, é uma narrativa contada ao vivo com o apoio de sucessivas imagens e palavras/frases chave. Essa narrativa é um acompanhamento ao longo da caminhada, fazendo conexões entre as sequências de imagem/texto de modo a desvelar/construir significados na conversa com a audiência: um slide show é uma conversa que flui ao longo de 3 pólos, construindo significados:
Assim, as animações dos slides não são para animar, divertir ou entreter a assistência, e muito menos para os manter atentos. Não são uma espécie de palhaços no meio de uma peça de Shakespeare para manter os espectadores no lugar. O que deve manter a assistência interessada são os significados que, ao longo da narrativa (voz, imagem, texto) encontram, descobrem e motivam, tal como acontece numa peça de Shakespeare se for bem representada, porque se for mal representada nem com palhaços se salva. O papel do orador (voz) é facilitar este caminhar ou, pelo menos, não o destruir.
20
A sua função é a partir de imagens estáticas (slide: fotos, gráficos, texto), eventualmente com sucessões animadas (as animações), criar sequências de raciocínios que terminem num significado. É uma espécie de guia turístico que ao mostrar a “catedral” a faz ter vida e passar de “edifício” a memória histórica significativa, através de uma narrativa com sentido. Não é um “papagaio” a mostrar evidências, nem um sinalizador a apontar o óbvio... e muito menos um leitor para quem sabe ler. As animações dos slides são para facilitar, apoiar e sustentar a compreensão e descoberta dos significados, fomentando e apoiando raciocínios.20 Exemplos:
- o zoom não é para chamar a atenção, é para reforçar a ligação desse detalhe dentro do todo a que pertence. Cria a conexão todo-‐detalhe.
-‐ a cor não é para ser bonito é para criar estruturas de significado no slide, de tal modo que uma cor signifique, por exemplo, prejudicar a saúde e outra signifique saudável. Assim, apresentando as ementas normais de uma escola, com os alimentos numa ou outra cor, rapidamente, o significado alimentar das refeições na escola é claro. O orador não tem que explicar a listagem, a audiência é inteligente, vê e pensa, a conversa pode continuar.
-‐ a entrada da imagem e depois texto, ou primeiro texto e depois imagem, não é para quebrar monotonias, é para criar fixações no raciocínio que se segue. Se a imagem é óbvia e forte, e vai funcionar como memorizante de apoio à narrativa, deve entrar primeiro, mas se o texto precisa de uma conclusão então deve entrar depois para mnemónica. Todavia estas indicações não são dogmas, pois a imagem pode entrar primeiro para ser explorada e por raciocínio público sobre ela fazer nascer o texto, seguindo-‐se então a imagem “logotipo” da conclusão.
-‐ os atrasos (delays) nas entradas de alguns elementos do slide não são para alongar o tempo de exposição, porém podem ser para:
criar um espaço de pausa e silêncio (inclusive do próprio orador) para
a audiência poder pensar sobre isso (não exceder 2s) ou
criar um espaço de expectativa sobre a última entrada que permita à audiência tirar algumas conclusões (certas ou erradas, não é importante) ou ficar à espera do que se segue. O importante é criar um ponto de partida ancorado na assistência (ancrage).
20 - Como analogia, a maquilhagem não é para enfeitar ou animar os rostos, é para criar expressão (significados),
inclusive e, principalmente, nos palhaços.
21
Ao consultar o programa TV, encontram-‐se propostas de filmes e séries. Normalmente essas propostas contêm um curto resumo (2/3 frases) do conteúdo. Esse resumo , bem ou mal feito, pretende ser o “caroço” do filme ou série. Qualquer autor de séries, filmes ou livros tem sempre esse “caroço” (núcleo, mote, estrutura base) bem claro e definido na sua cabeça e funciona como uma espécie de linha melódica que orienta, enquadra e sustenta toda a história. Doutro modo, é uma “manta de retalhos” sem qualquer estrutura significativa. Um data show é o mesmo: tem que ter um “caroço” que lhe dê coluna vertebral. Na maior parte das vezes, quando perguntamos ao orador qual é esse núcleo, recebemos respostas “à La Palisse”, ou seja, diz o título, a área, o assunto, o índice e até pormenores do seu conteúdo. Mas o núcleo, mesmo que tenha, ele não sabe qual é. Então neste caso, como construiu a estrutura que expressa um núcleo que desconhece? Só por milagre, e só por milagre esse núcleo é comunicado a uma audiência sem esta adormecer. Um exemplo: Imagine-‐se que se perguntava ao Shakespeare qual era o “caroço” do Hamlet e que ele respondia:
-‐ É uma peça de teatro -‐ É um drama -‐ É a história de um Príncipe -‐ Acontece na Dinamarca
Seriam apenas respostas tipo “la Palisse”, não expressavam o significado nuclear da história. Ou então diria:
É uma história de traição, injustiça, obsessão, vingança. E o seu “caroço” é:
Um Príncipe a quem o espectro do pai conta querer vingança, pois foi morto pelo irmão, agora Rei e casado com a mãe. O Príncipe, obcecado, tudo sacrifica a essa vingança.
22
Com isto claro na sua mente, começaria por iniciar a narrativa pondo a audiência do lado do Príncipe e da sua vingança, fazendo com que as primeiras cenas do 1º acto fossem para dar plena expressão à obsessão do Príncipe pela vingança e à sua monomania na reparação do crime. Seria esta a linha melódica e com base nela faria o desenvolvimento da história. Foi isto que Shakespeare fez, ele não se limitou a pôr palavras no papel, ele ofereceu significados à audiência, em torno deste núcleo duro. Um data show tem o mesmo modelo: o autor cria o “caroço”, sobre ele desenvolve a narrativa e sobre esta constrói os slides. Um esquema possível é: Como conclusão, outro critério para detectar a potencialidade em ser Data Show ou Data Sono é existir ou não um “caroço” (núcleo duro significativo) que dê consistência à conferência, seja claro e crie a “coluna vertebral” do data show.
Skakespeare: traição, injustiça, obsessão, vingança
Skakespeare: monomania de vingança do Príncipe
Data Show Ambiente: diferença solo morto e solo vivo
Data Show Ambiente: Composto
23
Conclusão Final
Quem organiza e/ou participa numa conferência é responsável pela qualidade da apresentação que oferece aos seus convidados.
Qualquer profissional como prelector tem como principal função ser orador, é para isso, e por isso, que ele lá está. Se não funciona a sua eficácia é zero.
Apresentando um curriculum de profissional no tema (formação e actividade), este agudiza a responsabilidade da qualidade da sua apresentação, e não serve de desculpa para incompetências.
Uma conferência é um equilíbrio de 3 factores: Tema, Narrativa, Data Show.
Tal como no teatro, o Orador é o Factor Crítico de Sucesso. Ensaiar é a palavra chave para a sua responsabilidade:
Um data show é uma mensagem em linguagem audiovisual.
Um data show não é uma sucessão de slides bonitos ou bem escritos, são expressão audiovisual de significados, cujo conjunto faz um “todo” integrado.
Um mau actor mata qualquer boa peça de teatro com um bom tema. Um bom actor consegue alguma sobrevivência numa má peça de teatro.
Um texto não é uma sucessão de palavras com boa caligrafia. Não basta não dar erros, é preciso redigir bem.
24
Vocalizar a narrativa não é dizer palavras, seguindo ou não uma cábula quer escrita quer em teleponto, é expressar sentidos utilizando linguagem verbal e não verbal.
Fazer uma conferência é estabelecer uma relação de “conversa” com a assistência, é ter um diálogo sobre um tema com um grupo de convidados. Não é um discurso Ex Cathedra de um instrutor sobre os recrutas.
Anexo Solução “O João tinha um cão e a mãe do João era também o pai do cão.” A frase correcta é: O João tinha um cão e a mãe. Do João era também o pai do cão. Se mesmo com a frase correcta, o seu leitor a lê de forma errada, quem ouve continua a não perceber e a concluir que é um disparate.
Recommended