View
220
Download
0
Category
Preview:
Citation preview
8/2/2019 Contraditório - Humberto Theodoro Jr e Dierle Nunes RePro 168
http://slidepdf.com/reader/full/contraditorio-humberto-theodoro-jr-e-dierle-nunes-repro-168 1/20
Revista de
PROCE~JJ
,\nt, 1·1• n. llltl I u -v . i 10ifj
Dire tor A RRU DA A LV IM
Coordenedor« TE RES A A RR UD A A LV IM W AM BIER
ISSN 0100-1981
CONSElHO INTERNACIONAL - A n dr e. P ro to Pisani Illali,1), Carlos Ferreira d a S il v, li'nrlug"I:, Fdoardo
Ricci ( l1,i li .1), Eriu.lIdo h'rrer Mdc Cr<'gor (M<'xitOI, Erlu.mln Oteiza IArgenlinal, Eli() F.1Zzal,,, i I lt ,i li ,, !,
Ernmanuel leuland rfran,••1i, Federico Carpi 111.ili,l)'Fr,lI1c",s'.()Paolo Luiso 111;\lial.Hrx torc Fix-Zarnudio
IM6xico), ltnlo r\ugusto Andolin.i 1I1;; li . ,) ' lairo ParrJ l(olhmiJi" I, Inse l.ohre de FrdlJs IPortuga(). l.inda
Mullenix (USAI. lor, C,r iieIIFr,InI; iI), 1.(1(I'n" B,l lhmaipr Winler IEspanh., i, Luigi P,wl" Cnmngliolll .i l i" i,
M,rrin Pisani 11I;\ li , ll . M,l(in Vellani lI t. il i" I, Michele Tarutfo 11I;lIi .,), Miguel Teixeir; ck- Sousa d'<Hlug"I,.
Ne i l And r r -ws Ilng1.IINr.ll, f'.,ul;) C os t, ( ' Sil"., (Portugal). Pedro [uan Bertolino IArgcnlinai, Peter (;ollwald(r\Il"m.lnh.1~, Rnh(\rtn BC'riznnce IArgf~nlinC1), Roger Flerrol (Fr,Ul(,a), Rolf Sturner iAlcn1.1lih(1), Sergio
Chi,lIlolli (11,;li.,)' Lllrich Haas (Sui,,')' Vic to r F ai ren Guillen IEsp,mha!. Vincenzo Vigorili III.ili,,;, \\',111,')
R,'( hlwrg,'r iAustri,». Wnhg,lng Grunskv (Alemanha),
CONSELHO DE RELA(OES INTERNACIONAIS - Ada Pellegrini Crinover, Aluisio Goncalves de (', lslre,
I\\t'nd('~. Antonio eif'li. Edu(lrdo C~lll1bj, lose Carlos Barbosa Moreir. l, Nelson Nerv Junior, Ronnie Pf{ 'l ISSDldrlf'. '
CONSELHO DEORfENTA(AO - TI1I' rI 'Z ., Col ina 00Ar ruda Alv irn (prc, ir ientel - Ana Cinoi rl " d" ( "unh,1
1"".11, ( " I,,, ' \nl" lI i" 1l,1IIdeir,1de ~\pllo. Cli lo Fornaci,lri lunior, E. D. Moniz ,\r ,'g, io, Edgard l.ippm.m Ir..
Fdl l" ld" R ih. .Jr" < I , . Oliveira, EIi.,n., ("Imon. F.i l im.1 N.H1cyAndrighi, Fernando da CoslaTourinho Filho,
( '; ,11( '1111 I.l( ('rci,l, C"1l1il dn C.HlnO Pinlo, Gilh,'rto Quint.milh» Riht~ir(), H61inTornilghi, Horrrurun A!herln
,\tnqlJt·:- I'nrl0, [o,io B,llistd I.opes. lnst; Ainnso Of1 S i lv a . l os ( ~ Augusto Delgado. Jose Carlos B.lrhnsd
1 \ .1 n r (l i r, " . . Ill~('"(:.lrlils I\'nn_'ir,) Alves, lost; Eduardo Car re ira A lv im, lose Ignac io Botelho do Mesquit ,l ,
l .u L ~ l u x. ~tln t , le ) Z . H i! ' . M i l lt ,, ) Lull. Pt\rPir.l, t"\O(1cvr Lobo r ia C O S ! .1 , MnzanVictor RlIS~()man(), Petronio
( .ilm. H) rilhn, S,ilvio <i ( ' Figu('m~d{) Teix(lir,11Sehasti,io e l f > 0, Castro Filho. Sergio Ferraz. Sydney S,lIlc/ws,
l"i)l"i ,'\lhil1(J Z,l\',hCki.
Ana 34 • n. 168 • fev_ 12009
Caordenadora
TERESA ARRUDA ALVIM WAMBIER
CONSElHO EDITORIAL - l.uiz N\;lI1oel Comes Ir. trespons.ivei pel" selecao e organizacao do material
j l/ ri !\ rH t l( ll ~n ci ,1 1 1 - A e Ll I\'llk~grini Grinnv,'lr, A ma ur i M a sc ar o do Nascimento. Anton io Car lo s dc Araujo
( inlr ,! . . ·\ Il toni" (·.llln~ ""Hedlo, Anltlllio 1.1I1yrDlllI'Agnn!Ir., Antonio i\1ilA.:llhciesGomes Filhn, Antonio
St .H,H1U' r e rn . .l 1fk~. Araken de Assis . Athos Gusmao Carneiro, C.indido Rcll lgel Din,1n111rCO, C,issio
I \1r'squi l. l de B,u)'os [un ior, D irceu de Mel lo , Donaldo Armel in , Edson Rih"s Malachini , Ennio Bastes
. - I I ' B,Hrns, los" Hor .icio C intra Goncalves Perei ra , lost; Roger io Cruz e Tucci , lurandvr N ilsson. 1(,12UO
Watan.l lw. Marcos Afonso Borges, Mil lon E v ar is to d o s Santos, M il ton Paulo de Carvalho, Nelson l.uizPinto. N.. lson Nerv [unior. Rodolfo de Camargo M,lncuso, Rogerio Lauria Tucci, RO'lue Komatsu, Sergio
Iknnuries, Vic('ntc' Greco Filho.
Publicncso oficial do
Instituto Brasileiro de Direito Processual - IBDP
CONSELHO DE REDA(AO - Al cides Munhoz cia Cunha, Angeli"a Muniz l.eao de Arruda Alvim,
Antonio Allrerli Neto, Antonio Carlos Matleis de Arruda, Antonio Cezar Peluso. Antonio Claudio Mariz
d" Oliveir«. Antonio Gidi, Antonio Rigolin, Carlos Alberto Alvaro de Oliveira, Carlos Alberto Carmona,
Clrln, E d ua r do d e C a rv a lh o . Carlos Roberto Barbosa Moreira. Cassie Scarpinella Bueno, Celso Antonio
1'.lChe('() Horil lo. Eduardo C amh i. E d ua rd o Pellegrini de Arruda A lv i rn , E d ua rd o T a la rn in i, E li sa b et h Lopes.
F~ihin l.uiz COI1PS, FI,;vio Cheim Jorge, FI..ivin Renaro Correia de Almeida, Flavio Yarshe!l, Francisco
1)11,111(, r-",ncisco G la u be r P e ss o a Alves, F re di e D id ie r l r. . Gilson Delgado Miranda. G i se la Z il sc h , C is cl e
111'10" " (unh. " G levdson Kleber Lopes de Olive ira, Henrique F,'gundes Filho, lames Jose ,Marins de
S""Z.I, In.rq"im Felipe Spadoni. Inst ' Eduardo Carvalho Pinto, lose Miguel Garcia Medina. 1050 Rohorto
[ kr bq ll (" J os e Sc. !I '. H1c( ' Fernandes. Leonardo lose Carneiro dil C unha , l .u iz Eds on F ac hi n, l .u iz F C'HM rf do
I kl in cl li , l ui z Cuillwrnlt' M"r innni. l u iz Paulo d, 5 ilv,1 Ara ll jo F ilho, Luiz Rodrigue'SWambier, LuizS('l'gin de SI)UZ.1 Rill.!. l .uiz Vicente Pellegrini Porto, M,lirall Mill.1 [r., Manoel Caetano. !vi.uCt.'ln Aht'lh"
l~ndrigtJ(.ls. fv\.1rn~lf) Hertoldi. ,\1c1fceio LIm., Cuerra. ,o\tlrcl:~11.)avarro Ribeiro Dantas. ,\1~HCUS Vinic ius
I'll' Alm-u S.lmp,1io, Odilnn Ferreira Nohre, Oreste ~1i."510rde Souza l .aspro. P.1trid.l !v1irclnda PilZO!,
1',11110enrique dos S.,nIOsLucon, Pedro Dinarnarco. Rita Gianesini. Rodrign cia C. Lima Freire, Ronaldo
!3f '( '\,1~ cit.' C. Dias. Rubens Lazzarini, Rui Geraldo C,101.1rgn Viana, Sergio Gilberte Porto, Sergio Ricclrrin
A. Fl'rn;Jncl,", S(;rgio S"ij i Shil11ur,l. Sidnci Agoslinhl. l Bencti, Sonia M,ireia Hase de Almeida B,'plisla.
Sud,. ( ;< 'I1( "I ,, ,s , Uhi r" la l1 do Couto M.,ur ic io , V ic tor Bornf irn Mar ins, Wil liam Santos Fer re ira, Wil lis
S.lnti:lgo Cw.·rr,l Filhn.
, . . " ' , , , ' " , , , , , , , , , , , r t , o r r ia autorizado pel« SII I' fRI (W T~IIUMi DE
I,) il/90}; pelos TIlIHt'''.\I~ RrCIIlN,lr, rH)H·\I~;
q~,J,~t!~gia(ltt~t)rtii _ \ l . ; . 2 , de9fi.O,6.!Hq~iiDI/)lli9~' 1".06.1992.
, R~$jiio WOrl~ria 1, cj!!,70,O',- (~~7, Pili II, do
H. 1 , 01) ; da ' r ,, 'Regi.io;(D/I,1 II. - a e 15,011.2001.
De,"J.t..,sll~ :no:f~?Af)?,Rf?'P'\)<J\~A iPorl.lri.l
<)97,01 dr 24.1 1.1 ' lQ71';"e pelo TRII"'NI "I
no CIA ; .~A .(fxtr,)Tn dr' Cllnvilnin OG/200'l)
CO NS EL HO DE AP OI O E P ES QUI SA - Ad ri an o P er .i ee o d e P au la , An dr e d e L ui zi Co rr ei a, Cl au di a
Ci ll l. ml i, CI ,i uc ii o l ., ri i. C lcu ni cc Pi lo mh o, Cr is ri al 10 Ch aves d e F ar ia s, Da ni el Mi li di er o. F. ,h ia nl l
C.lfv.llho, h'rnJndo Zcni, Fernjo Borha Franco. Francisco los{' Cahali. Graziela J'v'clrins, Gustavo
Hvnriqu« Righi B .ld an ;, J os e C ar lo s P uo li, lo se Sebastiao Fdgundes Cunha, Leonardo l.ins Morain ,! \\ar i,1 [ li2.111( 'lh Quc ijo. Mar ia Luc ia L im Concei<;. ]o de Medei ros, M .l ri a Thc reza Assis Moura. R ita
\',"«JllI ellos. Roher to Por tugal Bacel lar, Robson Car los de O live ira Rodrigo Bar ioni . Roger i. , Dot ti
D~Iri,), S.lndrn Gi l l) ( 'r t f v1{1I ' I in s .
EDITORA fiiIREVISTA DOS TRIBUNAlS
8/2/2019 Contraditório - Humberto Theodoro Jr e Dierle Nunes RePro 168
http://slidepdf.com/reader/full/contraditorio-humberto-theodoro-jr-e-dierle-nunes-repro-168 2/20
ISSN0100-1981
R e vis ta d e
Anti 34 • n. I u ti • rev i :WOI)
DiretorARRUDA ALVIM
CoordensdoteTERESAARRUDA AlvlM WAMBIER
© e dic ao e d istrib uic ao d a
E D IT O RA R E VI ST A D u S T K IB U N AI S L TOA .
D ite to t r es po ns « v el
CARLUS HENRqU[ DE( , IRVAU- IO FlulO
Rua do Bosque, 820 - Barra Funda
Tel . 11 3613-8400 - Fax 11 3613-8450
CE P 01136-000 - 550 Paulo
S ao Paulo - Brasil
T coos os DIRflTOS r:bH':\',o\I1U~. Pluibidll II (eprodu~z,()
total au parcial, por qualquer rneio uu processo - Lei 9.610/1998.
CENTRAL DE RElACIONA\1ENTO RT
(atendimento, em dias uteis, das 8h asl ih)
Tel . 0!lOO-702·243J
e-t tuui de atendirnento ao consumidor
sacwrt .com.br
Visite nosso site
www.rt.corn.br
editorial.revista@rLcom.br
Diagramac;:;;o eletronice: Oficina das Letras® CNPJ03.391.911/0001·H5
Impressao e ac aba r nen t o : P ro l Edi to ra C ra fi ca L td a. , CNPj 52 . 007 .01O /U l lO l ·52
EDllORA AFIL IADA
Impresso no Brasil
Su
I. DOUTRINA NACIONAL
1. A natureza jurfd ica dos embargos do devedor de acordo
com 0 atual estagio da ciencia processual brasileira
R'\FAEL VINHEIRO MONTEIRO BARBOSA .
2. A influencia do contraditorio naconviccao do juiz: lunda-
mentacao de sentence e de acordaoTERESA ARRUDA ALVIM WNvlBIER 53
II . DOUTRINA INTERNACIONAL
1. Prova nas acoes de fil iacao no direito alernao
RUBER DAVID KREILE.......................................................... (,7
I II ., DIREITO COMPARADO
1. Urna dirnensao que urge reconhecer ao contraditor io no
direito brasileiro: sua aplicacao como garantia de influen-
cia, de nao surpresa e de aproveitamento cia atividadeprocessual
~ HUMBERTO THEODORO JUNIOR E DIERLE JOSE COELHO NUNES ....\
IV. ATUALIDADES NACIONAIS
1. Sumulas vinculantes
EDUARDO CAMBI E J AIME DOMINGUES BRITO 14:~
2. A exigencia de caucao em sedede execucao
TIAGO FIGUEIREDO GON\=ALVES " 161
3. Encontro Nacional de [ovens Processualistas Civis
I B D P - INSTITUTO BRASILEIRO DE DIRElTO PROCESSUAl " ........ " -I E l2
C J
10 7
8/2/2019 Contraditório - Humberto Theodoro Jr e Dierle Nunes RePro 168
http://slidepdf.com/reader/full/contraditorio-humberto-theodoro-jr-e-dierle-nunes-repro-168 3/20
III
1
Uma dimensao que urge reconhecer
ao contradit6rio no direito brasileiro:
sua aplicacao como garantia
de lnfluencia, de nao surpresa e de
aproveitamento da atividade processual
HUMBERTO THEODORO j(INIOR___________ w ·_· • .- -__ ----- - ._ - _ --- ----- •• " -- --- -
Professor Titular da Faculdade de rlireito da UFMG. Memhro d.]
Academia de Direito de 1\lin,], Gerais, do Institute de Advogado, de
Min", Gerais, do lnstituto de Direito COlllp,]rado Luso-brasileiro.
do Institute brasileiro de Direito f'rocessual e da International
8/2/2019 Contraditório - Humberto Theodoro Jr e Dierle Nunes RePro 168
http://slidepdf.com/reader/full/contraditorio-humberto-theodoro-jr-e-dierle-nunes-repro-168 4/20
lO B I < .E V IS TA DE f lR ( )CESSO 2 0 U 9 - REP IW 1 b C J
PALAVRAS-CHAVE: lsonornia - Contraditorio
- Par idade de annas - Decisoes "surpre-
sa" - Materias de ordern publica.
PA L ABRAS CL AVE : Isonomia - Contradictorio
- Paridad de arl11JS - Oec is iones
"sorpresa" - Materias de orden publico.
SUMARIO:I . Consideracoes iniciais - 2 . Anal ise h is tor ica c lo p rinc ipio
- J. l.eituras do conteiido do principio e sujeitos do contraditorio
- d o c o nt ra d it or io corno bilateralidade da a ud ie nc ia . c om o s im e tr ic a
parldade de armas e como garantia de influencia - 4.0 contraditorio
como uma garJntia de aproveitarnento cia atividade processual - 5.
Ainda sobre as decisoes de surpresa: das materias de conhecimento
oficioso - 6. 0 contruditorio e a sis temat ica do CcSd igo de Processo
Civi l bras ilei ro - 7 . Consideracoes f inals.
'1 • COt'~SIDERt\(6ES INICI/\IS
Na atual concepcao de Estado Dernocratico de Dire i to , u rg e percebcr
novas perspectivas de analise do processo.
Faz-se mister verificar q ue 0 processo dernocratico deve ser aplicado
mediante os ditames do modele constitucional de processo, conjunto
de principios e regras constitucionais q ue g ar an te m a legilimidadc c a
eficiencia da aplicacao da tutela.
A divisao de papeis e de Iuncoes a se re m d es en vo lv id as dentro do
proeesso, ja obje to cia preocupacao da doutrina estrangeira ha algum
tempo (teoria do s papeis - Rotientheorie),I
merece s er d es en vo lv id adentro de uma visao constitucicnal q ue garanta ao mesrno tempo 0
desenvolvimento do proeesso em tempo razoavel e urn debate proees-
sual q ue gere a formacao do provimento seguindo os ditames do devido
processo legal ( g i tl st o p r o c es so r . 2
1. C f. WAS S E RMANN , ud ol f. De l' s oz ia le Z iv il pr oz ef o: Zur Thecric lllld pr ax is d es
zivilprozesses im s oz ia le n r ec hs sta a t. N eu wied , D arm stad t: L uc hterh an d,
1978, p. 129 et seq.
2. C f. T H EODOROUN IOR , H umb er to . Constituicao e proeesso: desafios consti-
tucionais da reforma do processo civil no B rasil. In: C AT TO N D E O L IV EIR A ,
M arcelo A ndrade; M A CH A DO ,F el ip e D a ni el ( co or d. ). COl1s ti tu i<;ao e processo :
a c on stituic;a o d o proc esso a a co1tstituciol1alismo d em o aa ti co b ra silr ir o. Bela
Horizonte: D el Rey, 2009, p. 245.
DIREITO CO,\I!PARi\DO I O e )
No e nta nto , to rn a- se irnperiosa a a plic ac ao d a c ha rn ad a c om pa rti-
cipacao ' entre juiz e p ar te s (e seus advogados), idealizada pela doutrina
tedesca" e q ue, levada a serio, conduzi 1I a idealizacao de urna n ov a fo rm a
de implementacao da cognicao ao se perceber q ue ur n debate bern [cito
conduz a reducao do tem po processual e a fo rm ac ao de d ec is oc s m e lh or
construidas, c om a de eo rre nte diminuicao cia utilizacao de rccursos.'
Nessa renovada analise do sistema processual urn principia cons-
titu cio nal g an ha rutido des taque. Trata-se do principio do contraditorio
q ue g ara nte urna simetria de posicoes subjetivas, alern d e a ss eg ur ar aos
part icipantes do proeesso a possib ilidacle de dialogar e de excrc i tar ll111
conjunto de controles, de reacoes e de escolhas dentro desta cstrutura.'
Dentro desse enioque se verifica q ue ha muito a doutrina percebeu
q ue 0 eontradit6rio nao pode mais ser analisado tao-sorneute como mera
garantia formal de bilatera lidade c ia audien cia, m as, S i111 , como 11l11a
possib ilidacle de in flu en ci a ( Ein wi r! wn gs n1 (ig lic hh ci t) ' s ob re 0 clescn-
volvimento do processo e sobre a f ormac a o de de cisoes rac ionais, c om
inexistentes ou rec luz idas possib ilidades de surpresa .
T al concepcao signifies q ue nao se pode mais na atualidade , acre-
ditar que 0 contraditorio se circunscreva ao diaer e contradizcr Iorrnal
entre as partes, sem q ue isso gere u rn a e fe tiv a r es so na nc ia ( co ntr ib uic ao )
para a Iundamentacao d o p ro vim en to , ou seja, afastando a ideia de que
a participacao das partes no proeesso possa ser meramerue ficticia, ou
apenas aparente, e mesmo desnecessaria n o p la no s ub sta nc ia l.
3. Chamada pela doutrina alerna de "cornunidade de trabalho" (ArI)Citsgc-
meinsc!1ajt). C f. NUNE S ,D i er le j os e C oe lh o. Pmcesso jUfisciiciol1ul del11ocratiw:
um ~ analise aftica das rejormas pmcessuais. Curitiba: jurua, 2008, p. 2] 2 ct
seq.
4. Cf . 0 d esen vo lv im en to d essa doutrina no B rasil em : N UN ES , D ierle Jose
C oelh o. O p. cit.
5 . B END ER ,R olf; S TR E CK E R, h risto ph . A cc ess to ju stic e in th e F ede ral R epu blic
o f G e rm an y. I n: C A PP E LL E T TI ,M a u ro ; G ARTH ,B r ya n. Access tojustic e - {I world
survey. M i la no : G i uf fr e, 1978. vol. 1, Livro II, p. 554.
6. FA ZZA LA RI, lio. D iffusione del proeesso e cornpiti della c lo tt ri na . R il 'i sl a
trimestraie di d ir itt o e p ro ce du ra C iv il e, n . 3. M i la no : G i uf fr e, 1958, p. 869.
7. BAl'R,Fri tz . Del' A n spr uc h a uf r ec hli ch es Gehor, Arc i IivfiiI' c i v il is l ic i lC Pn l ., i' \.
11.153. Tubingen: Verlag ]. C. B. Mohr , 1954, p. 403.
8/2/2019 Contraditório - Humberto Theodoro Jr e Dierle Nunes RePro 168
http://slidepdf.com/reader/full/contraditorio-humberto-theodoro-jr-e-dierle-nunes-repro-168 5/20
110 R EV /S TA D E P R OC E 55 0 2009 - RE PR O 1 68
C om og lio esc larec e q ue na A le man ha 0 prin ctpio do contraditorio
se c on cretiz a e m p erfis c onstitu cio na is c om b ase n a de nom ina da Rechtss-
ch utze[{chti vitdt:
· 'C . . ) g ra < ;a s a uma trip lic e o rdem de situacoes subjetivas proces-
suais, na q ual a q ua lq uer parte vern reconhec idos: 1 ) 0 d ire ito d e r ec eb er
a dc q ua da s e te rn pe sti va s i l1jorma«()es , sobre 0 desencadear do ju iz o e asa tiv id ade s rc aliz ada s, a s inic iativ as em pree ndic las e os a to s d e im pulso
realiz ados pela con traparte e pelo juiz , du rante 0 in te iro curso do
processo; 2) 0 d ire ito de d efe nd er-se ativ am en te , p osic io na ndo -se sob re
cada qucstao. de [ato ou de dire ito, q ue seja relevante para a decisao
c i a con tr o v c rs ia : 3) 0 d ireito de pre tender q ue 0 juiz , a sua vez . leve
ern consideracao as suas defesas, as suas a legacoes e as suas provas, no
memento da prolacao da decisao [traducao livre}:"
Obviarncnte q ue essa visao d o p r in c ip io nao deve se limitar a urna
d isc ussao de d ire ito co rnparado (na A lem anh a, Ita lia, F ranca ," A ustria ,
P or tu ga l e ntr e outros), uma vez que el a perrnite vislumbrar e d e fe n de r ,
em lod o E stad o Democratico de Direito , como e 0 caso do Brasil, a
cxistcncia de urn juiz d ir et or ( fo rm a l e m ateria l d o processo), m as q ue
nccessariarnente exerce su a Iuncao g aran tin do as p arte s a m anu te nc ao
ci a p oss ib ilid ad e d e tambern partic ipar ativam en te do proc esso , com o se
ven t a I re n te .! ?
R. C()~I()(,uo, L u ig i P ao lo . V o ce : c on tr ad di tt or io (principio del). Enciclo l ' cdia
gillridi«(l.Rorna:
I st it ul O d el la EnciclopcdiaItaliana, 1988. vol. 8,
p.6.
L J . N ouveau code eli procedure c ivile . A rtic le 16. "Le juge doit, en toutcs
circonstances, C aire o bserver et ob server lui-m em e Ie princ ipe de la c on tra-
d ic tion . II IlC p eu t r et er ii r, dans sa d ec isio n, les m oyens, les explicatiens et
Irs docum ents invoq ues ou prcduits pa r le s parties q ue si ce ll e s- c i o n t er e,] m cm c dc n dc batrre cont radicto iremcru. II nc peut fonder sa dec ision sur
lc s IlWYCI15 de dro it q u'il a rc lc ves d 'o ffice san s avo ir a ll prea lab le invite I rs
parties i1 presen ter leurs ob servation s." C r. N OR M A ND ,acq ues. I po teri d el
g iu ciic c e d elle pa rti q uan ta a l f on dam en to d elle pre te se c on tro ve rse. Rivista
di diriUo proccssualc. P ad o va : C ed am , 1988, p. 736 e t s eq .
10. Devernos nos preocupar com 0 reforc o d o papel do juiz , m as, ao m esm o
tem po c om 0 referee do papel das partes e dos advogados, po is caso
c on tr ario d elin ea r-se -a tim sistem a antidernocratico de aplicac ao de tu te lan o q ual 0 juiz devera trabalhar pratic am en te soz in ho sem subsidio tecnico
algum do proced im ento e dos advogados.
DIREITO COMPARADO 111
2. ANALISE HIST6RlCA DO PRINCIPIO
S ob re a a ntig a p ar er nia audiatur ct a lt er a p a rt e c o st ur na - se a li ce rc a r
o princtpio do contraditono."
Desd e 0 d ir eito c om u m 0 prin ctpio e ra c on side ra clo lim sim bo lo
do s direitos naturais sendo-que a literatura europeia costumava afirrnar
q ue ele encon trava seu Iundam enro em u r n principio d e m z(io l l a t l l J ' £ d
sendo imanente ao processo."
P a ra a lg u ns , urna manilestacao importante do principio do contra-
ditorio ocorrera n o p rim e ir o periodo do processo C0111um europeu, no
q u a l e st e c o nf ig u ra v a 0 po nto c entra l. c om o urna v c rd a dc ir a me to d ol og ia
d e pe sq uisa d a v erd ad c, 1.\
Ncsse aspccto, ° contraditorio possuta como prime ira reg ra de sua
aplicacao a c om pe nsQ (':c1o em r c l a « lO { t s v or i L 1S . formas de d c s i g l H l i d a d c s
cxistcntcs no processo, levando. inc lusive, em c onsidcrac ao as rirc uns-
t an c ia s r c fe re n tc s 1 1 c ap ac ida de d os d efen sores." R ec on he cia-se . de c crta
fo rma, 11111 caratcr etico m sito no cou trad ito rio , q uando sc prcroniznva
u rn v in culo d ele c om a b usc a c la v erd ad e e a cornpcnsacao de [orcas entre
o s l it ig a n tc s .
P ic ardi de fe nde , a ssim , q ue a rran sic ao d o orig i na rio p ro cesso c om u m
(extratdo cia tradicao italiana - Sees . X lII a XV ) ao Prozcss-CJI IJ l l lmg da
Prussia ( 1 7 81 ) represents a passagem de urna ordcrn isonomica (ordinc
rsonomicc) para um a o rd e rn a ss ir ne tr ic a (ordine (lss if11 lJ1etrico)IO com a
decorrente reducao do (atualrnente charnado) pr inc tpio do contraditorio
d e fu nda rne nto etic o e j us n atural d o p ro cesso !' para um a otica H1CCQnic( l
d e c O l1 tra po si( iio d e tc se s ( diz cr c c on tr ad iz er ).
11. PIC .ARDI , i co l a . 11p ri nc ip io d el coruraddiuor io. R i v is ( 1I e li d i r iU n P I I I(C S S IHd r
3/673. Mi l a no : C e d am , ju l .- s Cl . 19HH.
12. C f. P IC A R D I,Nicola . Op. c it ., p . 673-674.
13. P IC A R D I,N ic ol a. P ro ce ss o c iv il e (diriuo modcrno). Enciclopcdia d e l diritt().
M i l an o: G i uf fr e, 1987, p. 115.
1 4. G IU L IA N I,A lessa nd ro . P ro va (filo so fia ). E nc ic lo pe dia d e l d ir it to . M i la no :
Giuffre , 1988, p. 532.
15 . P IC A R D I,N ic ol a. V o ce : P ro ce ss o c iv il e ( dir it to rnoderno) . Encic!opcdia d e l
dU·ittn. M i l an o : G i uf fr e, 1987, p. 14.
16. P I~ARD1 ,Nicola . II p rin cipia d el contraddinorio. c it ., p . 673 "674 .
8/2/2019 Contraditório - Humberto Theodoro Jr e Dierle Nunes RePro 168
http://slidepdf.com/reader/full/contraditorio-humberto-theodoro-jr-e-dierle-nunes-repro-168 6/20
112 R eV IS IA D E P I\U CE SS O 2009 - REPRO I Gil
E inegavel que a legislacao prussiana (1781) estava Iundada sobre
a imposicao hierarquica do juiz sobre as partes (desprovidas de advo-
gados).
Entrernentes, a ordern isol1omica extra-estatal do processo com um "
deve ser contextualizada na perspective estamental da sociedade des saepoca.
Desse modo, apesar da defesa que a visao do contradit6rio nos
se cu lo s X lll a XV I (dentro do periodo do processo cornum) constituiria
urna Ionte historica de algumas concepcoes paritarias de sua aplicacao
atual." nao se pede negar 0 carater de que este constituia um privilegio
de uma casta social e nao um direito de individuos e cidadaos, sendo que
a interpretacao de urna ordern isonomica hoje busca respaldo nurn pano
de fundo paradigmaiico Iastreado nurna tcoria de direitos fundamentals,
alg o im pen sav el aq uela epc ca.
No enianto, nao se pede negar a reducao do contraditorio pela
Prozess-Ordnung (1781) prussiana a um principio logico-Iormal (bila-
teralidade da audiencia, contraposicao de direitos e obrigacoes), que
contribuiu para 0 delineamento do proeesso como relacao jurtdica anos
mais tarde.'?
No fim do scculo XIX, perccbe-sc, assim, 0 cxaurimento da Iuncao
axiologica do contradi torio e mesmo de qualquer referencia com 0 direito
natural, ou seja, sua importancia etico-ideologica. Foi a principio, desse
modo, remetido a um papel secundario que 0 fez perder qualquer liarne
com a essencia do Ienomeno processual."
Tal Iato, de certo modo, coincide com a transicao de um ideario
liberal de processo (liberalismo processual) no qual este era clominado
pelas partes iSache d er Parteien) para urn processo social, em que 0
protagon ista e 0 juiz, que exerce arnplos pocleres ativos n a e st ru tu ra
processual. 21
17. PICARDI, Nicola. Voce: Processo civile (dir iuo moderno) cit ., p. 115.
IS. GllJUANI, Alessandro. Prova (fi losofia) , ci t. , p . 532 .
1Y. P ICARDI , Nicola. I v1a l l ua l c de l processo civile. M i la no : G i uf fr e, 2 00 6, p. 210 .
20 . P ICARDI , Nicola. Autiiatllr c ( a lte ra pars le matrici storico-culturali del
couuaddittorio. Ril'islu trim cstraic eli d iruto (' p r o c cdu r a civile. Milano:
Giuffre, 2004 . p. 16-17 .
21. NuNES, Dierle Jose Coelho. Op. cit.
DIREITO COMPAI{/'II)O ll3
Os rnovimentos reforrnistas do sistema processual, iniciados no
final do seculo XL\, dernonstrarn uma nuida tendencia de iransicao
desse processo liberal, eserito e dorninado pelas partes para UI11 proccsso
que segue as perspectivas da oralidade" e do princtpio autoritario." com
o decorrente delineamento de um ativisrno judicial no tramitc proccs-sua!.
Assim, desde a OlPO (Ordenanca Processual Civil ausrnaca) de
1895, obra de Franz Klein, 0 processo passou a ser visto como "insti-
tuicao estatal de bern-estar social" ( s ta t tl iche WohIJahr tse il ll 'i ch tl ll 1 g ). " ·!
Esta visao permitiu urn acentuarnento dos poderes judiciais com a
atribuicao da direcao do processo por parte do juiz (richterliellf Prozes-
sleitul1g) entendida nao somente no aspecto formal (forme/Ie Prozesslei-
tung), de regular e promover a ordem e 0 ritmo dos atos do processo, mas
tambern em seu aspecto material (ma tc ri el le P r oz es sl ei ttmg ) ofertando ao
22. "Essa onda reforrnista corneca pelo C6digo de Procedimcnto Civil do Estndo
u n it ar io a le rn a o de Baden, de 31.12.1831 e 18.03.1864, clo E s ta do u n it ar io
alemao de Hanover, de 08.11.1850, e passu pela Ordcnanca Proccssual
Civil da Conlcderacao de estados alemaes, de 30.01.1877, l' pcio Clldigo de
Procedimento austrtaco de 1895, obra de Franz Klein, que propagnm Sl'lIS
efeuos em lima serie de outras legislacces, C0I110, por exemplo. II C()digo
hungaro cle 1911, elaborado, em grande parte, por Alexander Plusz, c nOSS(l
Codigo de P ro ce ss o C iv il (C PC ) de 1939." In : NUNES , Dink J u st ' C o el ho .
Dircito constiw ciolla l ao recurso: da (coria gcra! dos rccursos, £Ius rC/()/'/)J(/S
proccssuais c c ia cOInparticipw;cio l ias dccisucs. Rio de Janeiro: LUl l l el l Ju r is ,
2006, p. 5.
23. 0 Jdjetivo autoritarto " C . . . ) que algunos criticos superficiales han hecho
sin6nimo de reaccionario y poco rnenos que de nazilacista y que les ha
llevado a colocarse Irenre al I processo civi l austr taco I en actinides de
melodrarnauca intransigencia." CAST IL LO , Niceto Alcala-Zamora y . lnflucncia
de Wach e Klein sobre Chiovenda, In: . Esw ciios de tcoria g encral ('
h is t.o ria d el p ro cc so (1945-1972). Mexico: Unum, 1974, t. ll, p. 553, nota
16. Tal a d je t ivo , e n tr et a nt o , diz respeito ao aum cn to do s po deres [ud ic iais
e de sua colocacao como protagonists da estrutura procedimental, corn
superacao da ant iga posicao de mero espectador do duelo travado entre os
litigantes.
24 . KLEIN, Franz. Zeil - urui Geistesstrumullgcl1 illl Prozesse. F ran kfu rt am M ain :
Vittorio Klostermann, 1958, p. 25. NUNES, Dierle Jose Coelho. ProC,'SSlJ
jlll'isciiciollai democratico cii., p. 83.
8/2/2019 Contraditório - Humberto Theodoro Jr e Dierle Nunes RePro 168
http://slidepdf.com/reader/full/contraditorio-humberto-theodoro-jr-e-dierle-nunes-repro-168 7/20
114 R EV IS TA D E P RO C ES SO 2009 - REPRO 168
orgao judicial controle e iniciativa oficiosa no recolhimento do material
que Iormara 0 objeto do juizo sobre 0 merito."
Dcntro dessa breve reconstrucao, em que a exaltacao do papel ativo
do juiz Ioi clevada ao extreme, chegou-se a crer nos an o s 30 do seculo
passado. que a falta do conrraditorio (a falta da cooperacao das partes)
nao impedia a obtencao de uma decisao justa."
Detcrminada corrente doutrinaria ligada a concepcao autoritaria
d a A l crn an ha nacional-socialista chegou ao extremismo de defender a
suprcssao do contraditorio no processo civil e a absorcao do p ro cesso d e
p a r t e s no procedimento oficioso de jurisdicao voluntaria."
Apos 0 segundo pes-guerra. com a mais ampla constitucionalizacao
de gararuias processuais 0 estudo destas e 0 interesse democratico pela
colaboracao das partes proporcionarn novos horizontes de analise para 0
principio do contraditorio.
o processo, - que durante0
liberalismo privilegiava0
papel daspartes c que <1IX)S os grandes movimentos relorrnistas pela oralidade
e pcla instauracao do principio autoritario implementou urn ativismo
judicial que privilegiava a figura do juiz -, passa em urn Estado Cons-
titucional democratico, com a releitura do contraditorio, a permitir
urna mclhora cIa rclacao juiz-litigantes cIe modo a garantir um efetivo
dialogo c. cornunidade de trabalho (Arbei tsgemeinschaj t ) entre os sujeitos
processuais na Iase preparatoria do procedimento (audiencia preliminar
para fixacao dos pontes controvertidos), e na fase de problematizacao
(audicncia de instrucao e julgamento) perrnitindo a cornparticipacao na
cstrurura procedimental.
,
25 . CAPPI:LLETTI, Mauro. La tcstil11onial1za della parte net s is tema d e ll 'o ra l it ct .
M i la o: G i uf fr e, 1974. vol. I, p. 70-71. Taruffo define a d ir ec ao material
como "a smtcse do s diversos poclcres de iniciativa oficiosa. com os quais
o juiz esclarcce os temas cornroversos, integra as provas deduaidas pelas
partes e concorre, cruao, a formacao do material dccisorio" -~raduc;ao livre
- C (l ~I O( ,L 1 0, Luigi P. e t a li i. L cz io ni s ui p ro c cs so civile. Bologna: Il Mulino,
1998, p. 205.
26. BETT I . Diritro p ro cc ss ua ie c iv ilc . R om a, 1936, p. 89, apud P IC .ARDI , N ic ola. I I
p rin cip io d el c on tr ad dit to rio . R il'i st a d i d ir it to p ro ce ss ua lc 3/677, cit.
27. BAUMIlACH. Zivilprozess und Ireiewill ige Gerichtsbarkeit . Zctischrif t del 'alwdcl11icf ln ' D c ur sc h es R e ch t, 1938, p. 583 apud P ICARDI , Nicola . II principio
del contraddiuorto, cit ., p. 677.
DIREITO COMPARADO 115
A utilizacao da fase preparatoria (nosso art. 331 do CPC), levada a
serio, com a fixacao adequada de todos os pontos controvertidos pode
conduzir a uma reducao do tempo processual em face cia percepcao pelas
proprias panes (e seus advogados) que a continuidade do Ieito nao se Iaz
adeq uada e necessaria, 0 que conduzi ra urn a dv og ad o t ec ni co it busca da
conciliacao com 0 termino do processo em prazo razoavel,
Essa tendencia de utilizacao metodica da rase preparatoria para
filtragem e Iorncnto do debate das questoes endoprocessuais (pontes
controvertidos) de faro e de direito, iniciada por Franz Klein em sua
Iestejada ozro (Ordenanca Processual Civil austriaca) de 1895, e
atualmerue revigorada pclas reformas alernas da zro mediante a Vcre i l1 -
jachlingsl10velle de 1976,28 pela reforma W o o l f ) do novo processo civil
ingles, pela L e y de c n ju ic i a m e n to c i v i l espanhola III c outras europeias
conduzern a conclusao que essa fase processual pede auxiliur em multo
nurna adequacao do moddo c o g ni t iv o I na s i l c ir o para a obtencao de resul-
tados tecnicos e. consti tucionalme nte adcquados. cspecialmcn te !1P Q l .1 ( '
range a aplicacao da ccle ridade e do conrraditorio dinarnico.
Para tanto, nao sc Iariam necessaries ncm mcsrno ahcracocs legis-
lativas, bastando sornerue uma perccpcao simples que a Iasc de nossa
audicncia preliminar (an. 331, CPC) nao serve sorncntc para a 1('111;1-
tiva de obtencao de acordo e da declaracao de sanearnento, urna vcz
que essa deve buscar uma Iuncao tecnica mais importante, qual scja, a
filtragem cornpleta da discussao endoprocessual para a Iase posterior de
28. Estruturada a par ti r dos resultados praricos obt idos pc lo Modelo de Stut Ign!'1
levada a cabo pelo juiz Rolf Bender e scus pares, mspirada na prek~·;in
de Fritz Bam de 1965. Cf. BAUR, Fritz. Wcgc zu ['iniT Konzenlration del '
1 1 1 i i n d l i c i l C l l Vcrlwl1dllll1g im Prozr/~. B e rl ir n: W a lte r d e G r uii cr Sr co ., 1 9M .
29. WOOLF . A c c es s t oj u st ic c . Interim Report to the Lord Chancellor on Ihe civil
justice system in England and Wales. London, 1995. WOOLF . Acce ss to j u s t i c e .
Final Report to the Lord Chancellor on the civil justice system in England
and Wales . London, 1996. Cf. tambem BAH IA , Alexandre Gustavo Melo
Franco. Interesse publico e interesse privado nos rccursos extraordinarios:
por urna comprecnsao adequada no Estado Dernocratico de Diretto. Tese elc
Doutorado apresentada a Faculdade de Diretto da UFMG, Bela Horizontc,
2007, p. 34.
.30. MONTERO ARne" , Juan. I p ri l1 c ip i. p ol il ic i del f1lWI 'O prO(CSSO c iv il e s pa gno lo .
Napoli: Edizioni Scentifiche italiane. 2002.
8/2/2019 Contraditório - Humberto Theodoro Jr e Dierle Nunes RePro 168
http://slidepdf.com/reader/full/contraditorio-humberto-theodoro-jr-e-dierle-nunes-repro-168 8/20
116 R EV IS TA D E P RO C ES SO 2009 - REP RO 168
problernatizacao, caso 0 acordo nao seja possivel e nem tecnicamente
recornendavel."
Os sujeitos processuais, assim, devern, desse modo, assumir a
responsabilidade na utilizacao adequada da fase preparatoria do proce-
dirnento, eletivamente preparando-se para tal e nao encarando 0 proce-
dimento como urna serie de formalidades desnecessarias e descabidas
de sentido.
E da assuncao das respectivas faculdades, poderes e onus que ocor-
rera a obtencao de resultados praticos, celeres e constitucionalmente
adequados.
Nesses term os, apos a percepcao do Iomento do constituc ional ismo
no seculo XX, torna-se inaceitavel 0 entendimeruo que trabalha com
uma separacao de papeis dentro da estrutura processual, que de urn lade
possuiria 0 juiz como terceiro com acesso privilegiado ao que seria 0 bern
comum e de outro com partes que se veriam alijadas do discurso proces-sual, entregando seus interesses juridicos ao criterio de bent comwn desse
orgao judicial. 32 Nao se pede, como ja se disse, colocar 0 papel de todos
os sujeitos processuais no meS1110plano, mas, ao mesrno tempo deve-se
estabelecer que cad a urn, no exercicio de seu papel, possa influenciar na
formacao da decisao, garantindo-se debate e ao mesmo tempo processos
mais rapidos,
Ao contrario da forma como vern sendo interpretadas por boa
parte da doutrina brasileira, a garantia constitucional do contraditorio
nao constitui um obstaculo para obtencao de maior celeridade (e/ou
menores custos); pois que urn processo sem seu exercicio, em que nao
houve colocacao clara (e debates acerca) dos pontos controversos e fonte
geradora de um sem nurnero de recursos (a cornecar de embargos de
3 1. A rt. 331 , capu l , CPC: H S e nao cco rrer q ua lq uer d as h ipo teses prev ista s n as
s ec oe s p re ce de ru es , e v ers ar a causa sobre direitos q ue a d rn it am t ra n sa ca o ,
o juiz designata audiencia preliminar, a realizar-se no prazo de 30 (trinta)
elias, para a qual serao a s p ar te s intirnadas a cornparecer, podcndo Iazer-
5C represeruar por procurador ou preposlo, COI11 poderes p ar a t ra ns ig ir .
( ... ) § 2 .°. S e, pa r q ualq uer m otive , nao fo r ob tida a conc iliacao , 0 ju iz
fixara 05 pontes controvertidos, dccidira as quc s toes processuais pendentes
c determinara a s pro vas a serern produzidas, designando audiencia de
i ns tru ca o e j ul ga rn cn to , s e n ec es sa ri o" ,
32. HABERMAS ,urgen, Vcrdad y j usUf i cac i on . Ma d ri d: T r ot ta , 2002, p. 295-296.
DIREITO COMPARADO 11 7
declaracao, por vezes sucessivos e inuteis), 0 que, certamente uao auxilia
na obtencao de uma ra zo av ei d ura ca o d o p ro ce sso . Jj
3. LEITURAS DO CONTEUDO DO PRU'KIPIO E SUJEITOSDO CUNTRADIT(JI' :I () - [J()
CONTRADIT6RI0 COMO BILATERALIDADE DA l\UDIENCIA, COMO SIMl'nuc·\
PARIDADE DEARMAS E COMO GARANTIA DE INFLUENCIA
Normalmente, 0 aludido princtpio e analisado no quadro dos prin-
ctpios gerais do ordenamento processual ou no contexte das P r o ; z : c s s l I l C I -
ximcn, de modo a regular a reparticao dos poderes e das Iuncocs entre as
partes e 0 juiz. H
Como se viu acima, para alguns a transicao do processo cornum ate
o alvoreccr da socializacao processual representou a transicao de urna
ordem isonornica entre os sujeitos processuais para uma ordem assime-
trica, em que 0 protagonismo judicial e a concepcao hierarquica entre a
magistratura e as partes se imporiarn .
Conjuntamente com essa transicao, configurou-se 0 aviliamento e
o cnfraquecimcnto do debate e do contraditorio.
Este Ioi relegado a uma mecanica coruraposicao de direitos C obri-
gacoes ou, como se tornou costurneiro afirmar, l ci o- s 0l 11C ll lC ( 01 11 0 !till
J i J " e L i u de b i l a t e r a l i d c . : i l . i e d a atui i ' cncia, possibiluando 35 partes a dcvida
inforrnacao e possibi lidade de reacao.
Ocorre que, esta visao de um contraditorio estatico," sorncrue pock
atender a uma estrutura procedimental monologicamenrc clirigida pcla
perspectiva unilateral de formacao do provimento pelo juiz.
3 3 . . N U N ES ,D ie rl e lo se C oe lh o; B A H I A.A lex an dre G usta vo M e lo F ran co . E fic ien cta
, p ro cq ss ua l: a lg um as q ue si oe s. RePro 167 . S ao P aulo: E d. R T, jan. 20 00 .
34. COM ( lG l IO , L u i gi P ao lo . V o c e: c on tr ad di tt or io (principio del). Enctc topai !«
gil lr idica , ci t. , p . 1.
3 5. A N DO L IN A ,l talo: V IG N ER A ,G iu seppe. I I i11ude/u C O S l i l L l Z i o l 1 ( 1 / c del p r o c e s s u
c i vi le i ta u a no . To r in o : G i a pp ic h e ll i, 1990, p. 1 54 . Perceba-se que essa visao
dinamica, recorrente na doutrina estrangeira, obtern respaldo em respei-
taveis linhas teoricas nacionais, com o, v.g., A lvaro de O liveira, que busca
o f er ta r a o s meios processuais "urn r es u lt ad o q u a li ta ti vam en te d it cr en c ia d o" ,
de m odo a prornover L Im a r e le it ur a d o p ro c es so c ivil a p a rt ir da Cc n s ti tu i ca o
(OL IVE IRA ,Carlos A lberto A lvaro de. O s direitos fundamenta ls a c letividadee a s eg ur an ca em p er sp ec t iv a dinamica, RePro 1 55 /22. S ao P aulo: E d. R T ,
jan. 2008). Tambern e recor renie, ha alguns anos, em var ies autores da
E s co la M i n ei ra de Direi to Processual d a PUC -M i n as (d. CArTUN IflE OL IVE IRA ,
8/2/2019 Contraditório - Humberto Theodoro Jr e Dierle Nunes RePro 168
http://slidepdf.com/reader/full/contraditorio-humberto-theodoro-jr-e-dierle-nunes-repro-168 9/20
118 R EV IS TA D E P R O C ES SO 2009 - REP RO 168
De princrpio fundante do processo que assegurana influencia e
cornpcnsacao das desigualdades entre as partes" - sirnetrica paridade
passou a se contentar com urna aplicacao formal, numa logica de direitos
e obrigacoes. Tal contraposicao de teses nem mesmo necessitava encon-
trar rcssonancia nas decisoes do juiz ativo e hierarquicarnente sobrepostoas partes.
E a aplicacao do denorninado direito de ser ouvido pelo juiz,
Assim, bastariam 0 dizer e 0 contradizer das partes para garantir 0 sell
respcito. mesmo que cstas acoes nao encontrassem ressonancia na estru-
lura procedimental e no corueudo das decisoes, perrnitindo, deste modo,
tao-somcnte uma participacao ficncia e aparente.
Poreru, ao notar a insuficiencia do conteudo atributdo ao contra-
diiorio, e ja 0 vislumbrando como garantia dinatnica" e como nucleo
do proccsso," a doutrina italiana tentou aproxima-lo do conteudodagarantia de clefesa e de igualdade formal.
Tal situacao e presente, por exemplo, na doutrina italiana, em
face da ausencia de texto expresso em sua Constituicao, ate bern pouco
tempo, que garal1tisse 0 contraditorio. Desta maneira, este teria sido
clcvado a perspective constitucional por Iorca da interpretacao do § 2.°
Ma r ce lo A n d ra d e. lnterpretacao jundica, processo e tu tela jur isd ic iona lsob
o paradigms do estado dcmocratico de dircito. R ev ista d a F ac utd ad e /v lin cir a
d e D i n' it o 4-/7-8/106-117. B elo H oriz on tc : P UC -M in as, 1.°/2.° scm . 20 01 ;
C A TWN IDE OL I V E I RA ,M a rc elo A nd ra de . P ro ce ss o e jurisdicao na Cons ti tu i ca ocia R epub lica Federativa do B rasil. Rcvista do Instituto de Iienl1Cl1cutica
-'uridica. Porto A legre: IH j, 20 0 8). ,
3 6. N aq u cl es , obviamente, q ue obtinharn a ce ss o a os t ri bu na is d aq u e! a s oc 'i ed ad e
cstamcrual.
3 7. A s g aran uas dinamicas perrnitem 0 e fe ti vo g oz o de direitos reconhecidos
c atrib utd os pelo tex to C on stitu cio nal, ou m elh or dizendo, c omo a ss ev e ra
Cornoglio, g aran tias em seru id o din am ico sao " (. . . ) quegli s tr um e nt i g iu ri s-
d iz io nale ch e sian o specificarn en te prev is ti - av an ti ad o rg an i d i g iustiz ia
costituz ionale od in ternaz ionalc - per assecurare condiz ioni effetive
e li g od im en to a q uals iasi d iriu o auibuito 0 ricon osc iato d a q uelle n orm e
I on de ma nta lli" . C O M O G U O,L uig i P ao lo . G ara nz ie c os titu zio na le e " giu stoprocesso" (modelli a c on lr ont o ). RePro 90 /101 . S ao P au lo : E d . R T , a br. -j un .
1998.
3 8. P IC A R DI ,N ic ola . 1 1p rin cip io d el c on rra dd ttto rio , c it., p. 6 77 .
DIREITO COMPARADO 119
de seu art. 24,34 que estabelece a garantia de defesa, e/ou do § 1.°, clo art.
3.0
, que garante a igualdade."
Essa aproximacao conceitual levou a configuracao de perfis dina-
micos para 0 contraditorio, atribuindo as partes p os sib ilid ad es d e p arti-
cipa(clo preventiva sob qualquer aspecto Iatic o ou jundico que cstejasendo discutido e julgado, cunhando-se a seguinte equacao: "defesa =
contraditorio = participacao = audicao preventiva":" (traducao nossa).
Contudo, de acordo com 0 entendirnento cle Andolina e Vignera.
ha que se fazer uma mtida dis t incao entre os conteudos da garantia do
contraditorio e da garantia de defesa: a primeira, disciplina as relacocs
dos titulares clos interesses contrapostos (as partes), ao passo q ue a
segunda estabelece lima forma organizatoria entre as relacoes destas
mesmas partes com 0juiz."
Assim, cunha-se a percepcao italiana do contradirorio que pennite
somente as partes seu exerctcio " excluindo deste 0 orgao julgador."
3 9. C ClL E S!\N T I,itto rio . P rin cip ia d el c on trn dd iu orio c pro ce dirn cn ti sp cc ia li.
Rivisla di diritto proccssuale 4/577 -619, Padova: (edam, 197'5.
40 . P ara pcrcepcao da d iscu ssao n o d ireito italian o d. ANn()II~;A, ltalo; VIGNFRA,
G iuseppe. O p. c it., p. 149-157, passim. PH.I\RPI, Nicola. 11 principio dv l
contraddittor io . cit ., p. 678.
41. ANDOL INA ,talo; V I GN [RA ,G i u se pp e. O p . c it ., p. 157.
42. ANDOL INA ,talo; V I GNERA ,G iu se ppe . O p. CiL . p. 159.
43 . F / \ ZZALARI ,lio. D iffusione del processo e c or np iti d ella domina . Hivisla
T rim esrta le d i d iritto e p ro ced ur a c iv ile .3/870-H73, cir., passim.44. C om o a firrn a G o nc alv es, v ale nd o-se dos cnsinamentos de F az za la ri, n o
direito brasileiro, U(...) 0 contraditorio e a garantin de parricipacao. em
simetr ica paridade, das partes, daq ueles a q uem se dcsunarn os eleitos c ia
sentenca, daq ueles q ue sao os 'intercssados', o u se ja , a qu elc s sujeiios do
pro ce sso q ue s upo rta ra o o s e fe ito s d o p ro vim en to c c ia m cd id a ju risd ic io na l
q ue ele v ier a irnpor. C.) a partic ipacao em contraditorio se descnvolve
'e ntre a s p arte s', p arq ue a d is pu ta se p assa p era nte e la s, c la s sa o a s d ete nto ra s
d e in tcresses q ue serao ating id os.jielo pro virn ento ". G O N~ ~A L VE S.roldo
Plinio. T cc n ic a p ro c cs su a l c te O lia d o p ro cc ss o. R io de Jan eiro : A id e, 1992.
p. 1 20 -1 21 . F az za la ri a fi rr na que: "Lautore dell'atto finale non e, invcce un
contrad itto re q uante volte sia estraneo agli in tercssi in contesa, c ioe non
s ia p arte d i q ue lla s itu az io ne (cost, il g iu dic e, l 'a rb it ro ) ( . .. ) i l g iu di ce devee sse re 'e stra ne o' ris pe tto a lla situ az io ne so sta nz ia le c he s ia p er e sse re c re ata
d a q ue! pro vv ed im en to e rispetto ai titolari d i essa, c io e ai d estinatari d eg li
e ff et ti d el la m is ura g tu ri di zio na le . T a le 'e str an eit a' (0 'terz ieta ') e la b ase su
8/2/2019 Contraditório - Humberto Theodoro Jr e Dierle Nunes RePro 168
http://slidepdf.com/reader/full/contraditorio-humberto-theodoro-jr-e-dierle-nunes-repro-168 10/20
120 [ ,E V[ ST A D E P f< OC CS SO 2009 - [ ,EPRO 168
Esta garantia exige a sim etrica paridade de armas entre as panes,
ou scja, a igualdade " c . . . ) de meios processuais dirigidos a Iazer valer as
proprias razoes":" (traducao nossa):
Ressalte-se que qualquer aproximacao entre contraditorio e defesa
nao e mais cabivel na ltalia, [ace a alteracao norrnativa do texto cons-
titucional com a ernenda de 23.11.1999 e a colocacao no § 2.0 do art.
III da assert iva de que 0 "C . . ) processo se desenvolve no contraditorio
entre as partes, diantc de urn juiz terceiro e imparcial." - traducao livre
- introduzindo de modo autcnomo a garantia.46
A lcitura do cornraditorio e clos sujeitos que 0 exerci tarn e um tanto
diversa em outros ordcnamentos.
Na Franca, 0 art. 16 do N eveau C ode de P ro ce d ur e C iv il e impede
o juiz de Iundarncntar a sua decisao sobre aspectos jundicos que de
suscitou de oftcio sern ter antecipadarnente convidado as partes a se
manifestarem acerca de suas obscrvacoes."
Assim , a garanua opera nao sornente no confronto entre as partes,
transforrnando-se tambern num dever-onus para 0 juiz que passa a ter
que provocar de oficio 0 previo debate das partes sobre quaisquer ques-
to es d e Iato au de dircuo dctcnninantes p ar a a resolucao da dernanda."
N a A l er na n ha , apes 0 s eg un do p es -g ue rr a, 0 corueudo c i a c l au s u la
esiabelecida no texto do art. 103, § 1.0, cia Lei fundamental da Republica
Federal da Alernanha como "pre tensao de audicao jundica" (AllspruclJ
c ui p og gia la 'i mp ar zi alita ' d el g iu dic e" , FAZZA l . AR I , Elio , istitllzitllli e li diiuu)
proCfSSUUit:.8. e d . M i l an o : Cedarn , 1 99 6, p . 8 6-3 13 , p assim .
45. ANo\)I.JNA, ltalo; VIGNERA, Giuseppe. Op. cit., p. L07.
46. MONTESANO, Luigi. La garanti a costituziona le del contraddittorio e i giudizi
c iv ili " di terz a v ia" . n iv is lL l d i D ir itlo P r o c e S S L W / f 4 /93 0, P ado va: C ed am ,
our-dez. 2000.
47 . Nouveau code d i- procedu re c iv ile . A rtic le 16. " 0 juiz devcem todas as
circunstaucias bur obscrvar e observur elc 111(:51110 0 principio do contra-
ditorio C .. ) e le n ao po de fu ndal' a su a d ec isao so bre q ues to es de d ir ei to q u e
susc itou de oh cio sern te l' previarnen te convocado as partes a aprescntar
a s s ua s c o ns id c ra c oe s" . Cf. COMOGLlO, L u ig i P ao lo . V o ce : c on tr ad di uo ri o
( pr in c ip io d e l) . El l c ic l opedia g iu ri cl ic a, c it ., p . 7 .
48 . COMOGLlO, L uig i P ao lo . G a ra nz ie c ostitu zic na lc e " giu sto p ro ce sso " ( mo de lli
a c on fron to) c it., p . 1 14.
DIREITO COMI'ARADO 12 1
au f Rcchtliches Gehor)49 foi interpretada cle modo a garanrir um alcancc
maior que a simples literalidade. 0 Tribunal Constitucioual Federal
(BunclcsvcrfassLll1gsgcric/lt) passoL1 a a fi rr na r que 0 dispositive nao ~(l
operava seus efeiios no conlronto entre as partes, mas, sirn, convcrua-
se ta rnbem num dever para 0 magistrado, de moclo que s e a tr ib u ia ,15
partes a possibilidade de posicionar-se sobre qualqucr qucstao de Iaro
ou de direito, de procedirnento ou de merito, de tal modo a poder i l lJ luil
sobre 0 resultado dos provimentos, 'ill Ao magistrado c imposio 0 clever
de provocar 0 debate preventive, com as partes, sabre todas as ques-
toes a scrern levadas em consideracao nos provimentos." No Brasil, a
doutrina, embora incipiente, ja contern registro de que ao contradltorio
se submetern tanto as partes, como 0 proprio juiz.?
49 . W.Al.TER, G e rh ard . I d ir itti f on da me nta li n et p ro ce sso c iv ile te de sc o. R iv istC i
eli d ir it to p r o ce ss ua le 3/734. Padova: C e dam , j ul .v se t. 2001.
50. T RO C KER , Nicoll) . P r oC fS S O c iv il e c C O S t i t l iZ i o l 1 c . Prohi c l l i i de c li r i{ (o l nl es c " c
i t a l i a n o . Milano : Giuffre, 1 97 4, p . 64 6.
51. WALTER, Gerha rd . Op. cit., p. 735. Habschcid noticiava em I L)78 csm
tend cn cia de leitu ra d o prec eito co nstitu cio nal all af irrn ar: " E m c on io r-
midade com urna decisao do BW l C l e s v c l jc l s s w l g s g c r i c !J t , 0 dirci to de SL'l'
ouvido pode assirn ser def inido: 0 t r ibunal nao dcve utilizar na su a dccisao
senao os fates e provas sobre as q uais as partes pudcrarn tomar posicao
a nter io rm en te , a saber, em nO S5 0 con tex te , dos q uais e tas puderam tel' lido
conhecimento. I sto d eu J ug ar a u ma d isc us sa o e xtre rn am en te su rp re cn dc ntc
( ... ) para sab er se ex iste um dire ito de to mar c onh ec im ento d as rc llexo cs
, ju rtdicas do tribunal, e se 0 juiz d ev e ter u ma 'c ntrev ista jundica' C(J1ll as
parjes". HA BS C H E I D , Wal the r j. A s bases do d ire ito proccssual c iv il, RePro
11-121141-142, S ao P au lo: E d. R T ,ju l.-d ez . 1 97 8.
52. "Embora os principios processuais possarn admitir excccoes, 0 do contra-
ditorio e absoluto, e deve sempre se r observado, sob pena de nu iidade
do processo. A de se submetern ta nto a s p ar tes como (1 proprio juiz , que
havera de respeita-lo m esm o naq uelas h ipo teses em q ue precede 0 exarnc
e delib eracao de o f ic io acerca de certas q ucs toes q ue envolvern m ate ria d e
o rd em p ub li ca " (THEODORO JUN IOR , H um berto. C urso d e d ir eu o p r o ccssL l a i
c i v i l . 49. ed. Rio d e J a ne i ro : Forense, 2008. vel. 1, n. 24, p. 32). "Isto que!'
dizer Ia exernplo d o dispo sto n o art. 1 6 d o C odig o de P ro cesso C iv il frances j
q u e, m e sm o e nf re nt an da questoes examinaveis d e o f ic io , tern 0 juiz IIdever
d e, pr ev ia me nte , en se ja r a s partes oportunidade para proc luz ircm suas
alegacces" (idem , p. 3 2, nota 45).
8/2/2019 Contraditório - Humberto Theodoro Jr e Dierle Nunes RePro 168
http://slidepdf.com/reader/full/contraditorio-humberto-theodoro-jr-e-dierle-nunes-repro-168 11/20
122 R EV IS TA D E P R OC E SS O 2009 - REP RO 168
Impce-se, assim, a le uura d o c on tra dito rio c om o g ara ntia d e in flu en cia
no desenvolvirnento e resultado do processo."
o delinearnento dessa modern a concepcao isonornica do contradi-
torio se inicia de modo mais efetivo a partir desse memento, mediante
a percepcao da cloutrina processual gerrnanica de que este nao poderia
mais SCI' analisado tao-sornente como mera garantia formal de bilate-
r al id ad c d a a ud ie nc ia , mas, sirn, como u rna poss ib i li d ade de influencia
(Eillwir!wngsmoglichkeit) sobre 0 conteudo das decisoes-" e sobre 0
desenvolvimento do processo, com inexistentes ou reduzidas possibili-
dades de surpresa."
Existiria urn d ev er d e c on su lta do juiz impondo 0 [omenta do debate
preventive" e a submissao de todos os fundarnentos ( ra ti o d e ci de nd i) da
lutura dccisao ao contraduorio."
P elo p rin cip io , e sta ri ar n asseguradas a igualdade de chances (Chan-
cengleichheit) e a igualdade de arrnas (Waffengleichheit) .58
No mesmo penodo desse resgate tedesco, a doutrina italiana
c orn ec ou a p er ce be -lo , como ja dire, como garantia de simerrica pari-
dade de armas, como em Fazzalari."
No entanto, para 0 discurso tedesco, como ja expresso, a garantia
operaria nao somente no confronto entre as partes, transforrnando-se
tam bern num dever-onus para 0 juiz, que passa a ter que provocar de
oficio 0 previo debate das partes sobre quaisquer questoes de fato ou de
d i re i to de ie rm inan t es para a re so lu ca o d a d er na nd a.
53. TROCKER,Nicolo. P ro ce ss o c iv il e e c ostitu zio ne. P ro blem i d e d iritto ted csc o
f i ta l iano, cit ., p . 371. COMOGLlO,Luig i Paolo. L a g a ra nz ia c os ti tu zi ot uu e
d dl'a zio l1 c e d iIp ro c cs so c iv il e. Padova: Cedarn, 1970, p. 118.
54. BAlJR,Fritz. Der Anspruch auf Rechliches Gehor, cit., p. 403.
55. BENDER,Rolf; STRECKER,Chr istoph. Op. cit., vol. 1, Iivro II, p. 554.
56. WALTER, Gerhard. Op. cit., 2001, p. 736.
57. BAUR , Fritz. Del' Anspruch aufrechliches Gehor, cit., p. 408.
58. BAlJR,Fritz. Ocr Anspruch auf rechliches Gehor, cit., p. 403.
5q. FAZZALARI , Elio. Diffusione del processo e compiti della dottrina, cit.
DIREtTO COMPARADO 123
o contraditorio e guindado a elemento normative estrutural da
comparticipacao.?? assegurando, constitucionalmente. 0 policentrismo
processual."
Perrnite-se, assim, a todos os sujeitos potcncialrncnte atingiclos pcla
incidencia do julgado (potencinliciade ojcllsiva) a g ar an tia d e c on tr ib uir
de forma cntica e construtiva para sua [orl11a\30. ,'2
Ao analisar 0 conteudo do preceito presente no § 139,61 entre outros,
da O rd en an ca P ro cessu al a lem a reforrnada e no Codigo de processo civil
60. COMOGLlO,Luigi Paolo. Voce: contraddittorio (principio del) cit .. p. 2.
61. NUNES, Dierle jose Coelho. P r oc e ss o j ur is di ci on a l d e ni oc ra ti co cit.
62 . TRocKER, Nicolo. I limitti soggetivi del giudicato tra tccniche di tutela
sostanziale e garanzie di di fesa processuale. Rivista el i D i ri tt o P r o u' ss u a lc ,
Padova: Cedam, p. 35-95, 1988, p. 74-85, passim.
63. ZPO - Ordenanca Proeessual Civil- 139. Direcao material clo processtl.Versao de 05.12.2005, "(1) 0 Tribunal tern de discuur com as partes a
quesiao material e lingiosa, tanto quant o ucccss.uio. em scus <1',PCC[,)S
I at ic os e j ur id ic os . e tern de colocar ques toes . Tern , entao . de pl'ov()car
que as partes se manifestem em tempo habi] e ple name ntc sobrc todos
as Iaros considcrave is, especialmentc que possam completer dcclaracocs
insuficientes para os fatos que sao levados em conta, indicar os rneios
cle prov;1 C colocar proposicces rclcvarucs. (2) No caso de a parte min
ver ou to mar como irrelevante urna opiniao [Gcsichtspullhll. so podc
o Tribunal - desde que na o se trate de urna demanda reccnvencional
IN cb cn Iord erllllg J - sustentar sua decisao se isso t iver sido indicado pOl'
ele e se river sido dada oportunidade para exposicao. 0 mesrno vale para
urna opiniao que 0 Tribunal avalie diferentemcnte das duas partes. (3) 0Tribunal tem de charnar a atencao para os equrvocos no IBccIcllllcnj que
eoncerne aos pontos que ex officio podem ser lcvados em considcracao.
(4) Avisos acerca dessas instrucoes tern de ser rransmitidos tao ccdo
quanto possivel e tern de se fazer registrar nos autos. Sua transmissao sli
pede ser provada par meio do conreudo dos autos. Contra 0 corueudo
dos ,1utOS so c adrnissrvel a prova cia falsidadc. (5) Se par,1 uma parte
nao e posstvel urna pronta explicacao para uma posicao judic ial , entao
deve 0 tribunal determinar urn prazo no qual a explicacao possa ser
dada por escrito" (traducao livre). No original: "ZPO § 139 Materielle
Prozessleitung - Fassung vern 05.12.2005 - (1) Das Gericht hat das
Sach - und Streitverhaltnis, soweit erforclerlich, mit den Parteien
nach der tatsachlichen und rechtlichen Seite zu erortern und Fragenz u stell en. Es hat dahin zu wirken, dass die Parteien sich rechtzeitig
und vollstandig uber aile erheblichen Tatsachen erklaren, insbesondere
unge.nugende Angaben zu den gel tend gemachten Tatsaehen erganzcn,
8/2/2019 Contraditório - Humberto Theodoro Jr e Dierle Nunes RePro 168
http://slidepdf.com/reader/full/contraditorio-humberto-theodoro-jr-e-dierle-nunes-repro-168 12/20
124 R E V/ 5T A DE 1 '/ ~U U S 5U lUO':! - /~EI ' /~O 1 G H
p ortu gu es reforrn ad o,? ' v islum bra -se q ue 0 dire ito de partic ipacao das
p arte s n ao c on stitu i um ac resc irn o in util ou sup erllu o.
D e m odo q ue o aum cn to e los poderes elos j ufzes nao significou a
rcducao das gararuias de defesa das partes , tanto q ue os pontes deli-
neados par estas devern ser levados em conta na fundarnentacao das
decisoes, e ao j u iz nao e c lad a a p ossib ilic la dc de C lc cidir d e o fic io sc m 0
anterior c prcvio conhecimento das partes ,
Na Austria, urn d os p on to s da reforms cl o Processo C iv il de 2002
( Ziv i/V Clfa hre ns -N ov elie 2 002 ) fo i a proibicao, no § 182a, de decisoes
de surpresa, impondo ao juiz 0 c le ve r d e discutir com as partes alega-
coes de Iato e de d ireito, evitando a obtencao de decisoes decorrcntes
dos proprios convencimen tos solitaries d o mag is tr ad o m1 0 submctidos
a necessaria discussao preventiva acerca dos e lem en tos alegados, dos
meios probatorios cleduzidos e cl as a t iv i c l ades desenvolvidas p e la s p a rt es
Oll p or e ll' proprio."
No eruaruo, a existencia recnica nas legislacoes p ro ce ssua is (n o
plano infraconstitucional) de regras com 0 teor acima expresso nada
altera 0 panoram a (talvez m esm o 0 c on so lid e), p ois 0 c orn and o c on s-
die B ewe ism it te l bez eichncn lind die sachdien lichen A nt rage stollen .
(2) A uf einen G csich tspunk t, den e mc Parte icrkennbar uberse hen odcr
[u r uncrheb lich ge h altcn hal, darf dns G erich t, sowcit n ich t nur cine
Nebenforc lerung betroffen ist , s e in e En t sc h ei c lung nur stutz c n , wcnn es
darauf h in gn :iesen u nd G elegcn heit z u r A u ge ru ng dazu gegebe n hal.
D asselbe g ill JO r e in e n Gcsichtspunk t, de n das Cericht anders beurtc ilt
als bcidc Part e i c n . (3) Das Gerich : ha t auf di e Bede nken aufmerksam Zll
machen, d i e h i ns ic h tl ic h dcr von Amt s we gc n zu berucksichtigenden
Punk te besrchcn . (4) H inw cise nach dicser V orschrif t sind so Iruh w ie
moglich Zll erre ilcn und ak tenkundig zu m ache n. Ih rc E rtc ilung k ann
nu r durch den lnhalt dcr Akten bcwiese n werdcn. Cegcn d en Inh alt
del ' Akte n ist nur der N achw eis del' Falschung zulassig. (5) 1s t ci ne r
Part ei c in e soforrige Erklarung z u cine m ge ri c ht li ch e n Hinwcis nicht
mogllch. 50 soil au f ih ren Antrag das G erich t c ine Frist bcstimmcn, in
der sie d ie E rk larung in einern S ch riftsatz n ach brin gen k ann" .
64 . ~rt. 3 .3 . do C odigo d e P roc esso C iv il po rtug ue s: " 3. 0 juiz d ev e ob se rv ar eIazer cumprir, ao longo de todo 0 processo, 0 principio clo contraditorio, nao
lh e sendo licito, s a lv o ca s o de rnanifesta desnecessidade, decidir questoes de
direito ou de fac to, mesmo que de conhecimento oficioso, sern que as partestenham lido a possibilidade de sobre elas se pronunciarem".
65. HENKE , Albert. Prime osservazioni sulla riforma del diriuo processuale
austriaco. R iv iS la d i D il' it lo P ru ce ss ua lc 3/818 . Padova: Giuffre, 2003.
125
titu cio nal q ue prev e 0 contradito rio e garan te urn E stado D ernocrauco
de D ir eito ja impoe a interpretacao do coruraditorio como gararuia de
influencia a permitir uma cornparticipacao do s sujeitos proccssuais na
formacao da s decisoes.
N ota-se q ue , urna vez q ue as poderes do ju lgador sao auruentados,
im po e-se a este 0 c lev er d e inlorm ar a s pa rte s a s in ic iativa s q ue pretc nde
exercer, de modo a penn itir a elas urn espaco de diSCllSS,\O em contra-
ditorio, devendo haver a expansao c a inst i tucional izacao do d cv c r de
e sc la re ci m en io j ud iC ia l a cada etapa do procedimento, invinbilizando
julgamentos surpresa."
A colocacao de qualquer entendirnento jundico (v.g. apl lcacao de
sumula da jur tsprudencia dorninante d os T rib un as Superiores) como
fundamento da sentence, mesmo q ue aplicada e x ( ~t fi ci o pelo juiz, scm
an terio r deba te com as partes , podera gcrar ° aludido Ienomeno da
surpresa.
Desse modo , 0 consraduono constitui l ima verdodetra gUl 'Ul1t i a de Illio
surprcsa q ue irnpce ao juiz a c le ve r d e p ro vo ca r 0 debate acerca de todas
as questoes, in clu siv e a s d e c on he cim e nto oficioso, imped indo que em
"solitaria onipotencia" aplique nO r 1 1 1 < 1 Sll ernbase a decisao sobre Iatos
cornpletamente estranhos a dialetica de fe nsiv a de Ulna Ol1 de ambas as
panes.')' Tude que 0 juiz decidir fora do debate ja ensejado as partes
corresponde a surpreende-las, e a desconsiderar 0 caraier dialetico do
processo, m esm o q ue 0 ob je to do dccisorio corresponds a materia apre-
c i av e l de oficio.
Ocorre q ue a decisao d e s ur pr es a deve se r declarada nula, por dcsa-
tender ao princtpio do contraditorio.
, Toda vez q ue 0 magistrado nao exercitasse ativamenre 0 clever de
ad ve rtjr a s pa rtes q uan ta ao espe cific o objeto r ele va nte p ara 0 contradi-
torio, 0 provimento seria invalidado, sendo q ue a relevancia ocorrc se
° ponte de fa to ou de direuo consrituiu necessaria prernissa OLl lunda-
m en to pa ra a d ec isao (ratio decidendi).
Assirn, a contraditor io nao incide sobre a existencia de poderes de
decisao do juiz, mas , sim, sob re a modalidade de seu exercicio, de m odo
a fazer do ju iz 1.1m ga ra nte c ia su a observancia, impondo a n u li cl ac le d e
66. B E NDE R , Rol f ; S T R E CKE R , Chris toph, Op. c i t. , v o l. 1, livro II, p, 554,
67, f E RR I , Corrado, Sull'efletnvita del contraddittorio. R iv is ta T ri fl lc st rale el i
Diritto e Procccil tra Civile. Milano: Giuffre, 1988, p, 781-782.
8/2/2019 Contraditório - Humberto Theodoro Jr e Dierle Nunes RePro 168
http://slidepdf.com/reader/full/contraditorio-humberto-theodoro-jr-e-dierle-nunes-repro-168 13/20
126 R EV /S TA D E P RO C ES SO 2009 - REP RO 1 68
provimentos toda vez que nao exista a efetiva possibilidade de seu exer-
cicio."
Em relacao a s partes, 0 contraditorio aglomera um feixe de direi tos
dele dccorrcntes, entre eles: (a) direito a uma cientificacao regular durante
todo 0 procedimento, ou seja, urna citacao adequada do ato introdutivo
cia dernanda e a intimacao de cad a evento processual posterior que lhe
permits 0 exercicio efetivo cia defesa no curso do procedimento; (b) 0
dircito a prova, possibilitando-lhe sua obtencao toda vez que esta for
relevante: (c) em decorrencia do anterior, 0 clireito de assistir pessoal-
mente a assuncao cia prova e de se contrapor as alegacoes de faro ou
as atividades probatorias da parte contraria ou, mesmo, oficiosas do
julgaclor; (d) 0 direito de ser ouvido e julgado por urn juiz imune it
c ie nc ia p ri va da (private injol1naZioni), que decida a causa unicarnente
com base em provas e elementos adquiridos no debate contraditorio: e
(e) dircito a LImadecisao Iundamentada, em que se aprecie e solucione
racionalmente todas as qucstoes e defesas adequada e ternpestivamente
proposias pelas partes (Iundamentacao racional das decisoes).
Algo, porern, deve ser ressaltado: a s p er sp ec tiv a s o ra t ra b a lh a da s, de .
lc iru ra d in am ic a do contraditorio, ncw podem ser vis lumbradas com urn
oiJjct iV() protctatorio c jonnalista pela parte que sucumbiu nas decis6es,
pois a analise do contradit6rio ha rnuito deixou de possibilitar urna mera
enunciacao formal. Ao contrario, as referidas perspectivas demonstrarn
que a indicacao preventiva dos pontos relevantes da controversia cons-
titui urn instrumento insubstituivel para uma decisao correta. Porern,
ta l risco e b a st an te reduzido quando se leva a serio a fase tecnica de
prcparacao do procedimento e quando se irnpoe a necessidade de
dcmonstracao pcla parte sucumberue do dano e da porencialidade de
manifcSla«lo em senticlo que altere 0 conteudo da decisao.' ,
Ocone que a submissao de todos os aspectos potencialrnerue rele-
vantes d a d cc is ao ao c o nt ra d it or io a pr e se n ta -s e como u rn a man if es ta c ao
da pcrcepcao de que 0 poder do juiz no processo nao e absolute, em
face de sua Ialibilidade e do faro de que a discussao sera muito mais
adequada (e legttirna) se tcdos souberern os aspectos mais importantes
da demanda. Havera, assim, a garantia de que mesmo os aspectos que
passaram despercebidos pelas partes serao submetidos ao debate."
68. FERnl, Corrado. Op. cit., p. 782.
69. NORMAND,jacques.Op. cit., p. 740.
D IR EIT O C OM PA RA DO 127
Resgata-se, desse modo, a importancia tecnica e legitimadora do
processo. urna vez que este irnplernentara a baliza discursiva necessaria
(contraditorio) para 0 debate participativo.
4. 0 CONTRADIT()RIO COMO UMA GARANTIA DE APROVEITAMENTO DA ATIVIDADE
PROCESSUAL
Ademais, na o se pode olvidar que a a plic ac ao d in am ic a do contra-
ditorio em nada atrapalha a busca de eliciencin. pclo contrario, < I Iorta-
Ieee.
E nesse aspecto, pod e -s e v is lu rn b ra r que todo 0 sistema de nuli-
dades previsto no Codigo de Processo Civil brasilciro pcrmite a utili-
zacao do contra duoru: com o U lna ,g arm itia d e a prow ita mcl1 to cia a livid ac/c
pvocessual, caso a parte prejudicada icnha obtido a porcncialidade de
se valer do contradit6rio dinarnico, como Iaculdade que c , e ainda nao
tenha se manilestado (art. 245, CPC).:·()Ale mesrno em grau de apelacao,
o Codigo apos a reforma cia Lei 11.276/2006, ruanda ao Tribunal clili-
genciar para que a pane tenha oportunidade de sanar 0 vicio ocorrido
em l ." instancia, e que poderia, se nao alastado. invalidar a sentence
recorr ida (art. 515, § 4.°, CPC). Todo IIsistema de nulidades, portanto,
esta legalmente programado para salvar 0 processo. mediante dialogo e
cocperacao entre 0juiz e as partes, enderecados a salvaguardar e faci litar
o julgamento definitivo do merito da causa, em lugar da inval idacao
(evitavel) do processo, a qual, em regra, atrita com a efetividade espe-
rada da tutela jurisdicicnal.
Mas, essa percepcao do contraditorio nao c a mais imporrante
quando se pensa em aproveitamento.
Ha de se perceber que tanto nos litigios de baixa intensidade, quanto
nos de alta intensidade (Iingios de massa) Iaz-se mister a implerncntacao
de pelo m enos um a etapa de cognicao h em r ca li za da (com cont radiiorio
pleno), eis que caso 0 debate nao ocorra pelo rnenos urna vez, sobre
todas as nuances relevantes do caso e dos Iundarnentos das decisoes,
porencial iza-se a util izacao de recursos, e autornaticarnente, a chance de
70. Para urna analise eritiea do sistema ele nuliclades: c r. CABRAL,ntonio doPasso. Nulidades no p ro ces so m od er no . C on tr ad ito rio , p ro tc r; :a o cia c oniia nc a c
val idadc prima facie d os a la s p ro ce ss ua is . Rio deJaneiro: Forense, 2009, no
prelo.
8/2/2019 Contraditório - Humberto Theodoro Jr e Dierle Nunes RePro 168
http://slidepdf.com/reader/full/contraditorio-humberto-theodoro-jr-e-dierle-nunes-repro-168 14/20
128 R E VI S/ A D E fJ kU (£ SS O 200') - I 'EPI . ! . () I e ,g
seu acatarnenro pelas instancias revisoras, com au men to consideravel do
espaco-ternpo prccessual.
Ao passe que, como ja se percebeu ha rnuito na doutrina e jurispru-
dencia cornparada, caso ocorra urn debate proftcuo para a formacao das
decisoes, contraditorio dinarnico, dirninui-se 0 tempo do processo, eisque se dirninuem os recursos, ou se reduz consideravelmente a chance
de seu acatarnentc, viabilizando-se a utilizacao de decisces com execu-
tividade imediata.
Nesses termos, ha de se perceber que 0 discurso reforrnista de
exterminio de recursos" somente obtera exito casu se invista nurna
cognicao em contraditorio dinarnico no juizo de prirneiro grau, pois,
casu contrario, 0 direito fundamental do contraditorio como garantia
de influencia viabilizara a utilizacao de outros meios de impugnacao
as decisoes (sucedancos recursais), de modo a assegurar 0 debate e 0
controle de decisoes equivocadas ou solitariarnente construidas.
Scm a utilizacao e respeito, da perspectiva ora defendida, do contra-
ditorio, a simples supressao de recursos nao gerara 0 efeito de eficiencia
almejado.
Perceba-se que a profusao de utilizacao de c la us ula s g er ais , de
normas de tessitura aberta e de princfpios jurtdicos, vem viabilizando
uma utilizacao dessas normas como jargoes de Iundarnentacao que em
varias hipoteses garantem uma aplicacao dinarnica dos direitos funda-
mentais, mas, em outras, somerue autorizarn 0 subjetivismo do julgador,
representando urn mandato em branco para que este decida com base
em seus entendimentos particulates (decisionismc), muitas vezes 1110di-
ficando para pior 0 sistema jurtdico, ao descumprir os direitos funda-
rnentais dernocraticos,
Devido a esta percepcao, 0 contraditorio como garantia de influencia
e de aproveitarnento viabiliza que todos esses jargoes C'proporcionali-
dade", "superioridade do interesse publico"72 etc.) sejam objetivados
pelo debate e pel as peculiaridades do casu em discussao.
71. Obviamente com a ressalva dos recursos absolutamente incongruentes
como os embargos infringentes.
72. Sobre a utilizacao do principio da proporcionalidade e da doutrina da
suprernacia do interesse publico sobre 0 privado a justificarem limitacoesaos recursos extraordinarios, d. BAHIA,Alexandre Gustavo Melo Franco.
Os recursos extraordinarios e a co-originalidade dos interesses publico eprivado no interior do processo: reformas, crises e desafios a junsdicao
DIREITO COMPARADO 129
lmpedern-se, deste modo, adulteracoes ilegitimas desses principios
e clausulas mediante 0 limite constitucional do contradit6rio e da funda-
mentacao racional das decisoes.
5. A IND A S OB RE A S D ECIS OE S D E S UR PR ES ,,\ - D AS M A TE RIA S D E C ON HE CIM EN TO
OFICIOSO
Para a dernonstracao cabal do atual perfil comparticipativo que 0
princtpio possui em sua releitura dernocratica, Iaz-se necessaria a analise
pormenorizada do ja aludido Ienomeno intitulado d e a sao de SlIrprcsa,
ou d ec isio ne d ella te rza v ia , ou Oberraschungsentscheiclungen, que atribui
a nulidade de decisoes fundadas sobre a resolucao de questoes de Iato
e de direito nao submetidas a discussao com as partes e nao indicadas
preventivamente pelo juiz.P
a ambito das decisoes de surpresa possui interesse especialmente
para as questoes jundicas, das quais 0 juiz podera conhecer de oficio.Na verificacao do direito estrangeiro, percebe-se que nao e recente
a preocupacao com essas decisoes. Pollak, em 1931, ao cornentar a zp aaustrtaca, afirmava que 0 Tribunal nao deve surpreender as partes na
sentenca com pontos de vista juridicos nao analisados na lase preliminar:
sea Tribunal viola Possedever, 0 procedimento e viciado.?"
Denti afirrnava que 0 Ienorneno nao era estranho a varies orde na-
mentes de diversas tradicoes e pressupostos ideologicos. mesrno aqucles
em que havia ocorrido um notavel aurnento dos poderes clo juiz na
direcao do processo e na obtencao dos materials para a decisno."
Defendia a posicao de que a individuacao cia norma pclo juiz,
divers,; da suscitada pelas partes, dava lugar a necessidade do contradi-
desde uma cornpreensao procedimental do estado dernocratico de direuo.
In: CATTONIEOLlVElRA,Marcelo A.; MACHADO,elipe D. Amorim (coord.),
C o n st it ui (d o e p ro c es so , CiL,p. 363-372; Idem. Interesse publico e interesse
privado nos recursos extraordinarios, cit.
73. CIV1N1Nl,aria Juliana. Poteri del giudice e poteri delle parti nel processo
ordinario di cognizione. Rilievo ufficioso delle questioni e contraddittorio.
II foro Italiano, parte V, voL 122.. Roma: II foro italiano, 1999, p. 4.
74. Apud CAPPELLETTI,auro. L a te stim o nia nz a d ella p ar te tiel s i st ema de ll 'o ra li e c! .
Milano: Giuffre, 1974, vol. 2, p. 509.
75. DENTI,Vittorio. Quesrioni rilevabili d'ufficio e contradclittorio. Rivista el i
Diritto Processuale. Padova: Cedam, 1968, p. 229.
8/2/2019 Contraditório - Humberto Theodoro Jr e Dierle Nunes RePro 168
http://slidepdf.com/reader/full/contraditorio-humberto-theodoro-jr-e-dierle-nunes-repro-168 15/20
130 R E II IS TA D E P ROC E 55 0 2009 - R EP RO 168
torio, se da aplicacao da referida norma surgisse u ma q ue sta o p ote nc ia l-
m en te id on ca a d efin ir a c on tro versia .76 Porern, restringia a aplicacao de
sua lese a questoes juridicas prejudiciais."
Bender e Strecker afirrnarn que a decisao de surpresa e urn cancer
na adrninistracao da justica, visto que subverte a confianca daqueles
que procurarn justica no direito. E a razao principal, pOl'que na Repu-
blica Federal urn numero desproporcional de julgarnentos da primeirainstancia erarn impugnados pela via recursa!'
o coruraditorio deve ser desenvolvido em todo 0 iter processual,
em relacao tanto as atividades das partes quanta as atividades judiciais,
de modo que "0 exerctcio de poderes oficiosos constitua expressao de
urn principio ele colaboracao e nao de autoridade no processo" (traducao
livre)."
o debate da referida questao na Italia ja chegou as mais altas
Cortes, C0l110 no reverenciado precedente da Corte de Cassacao, 14.637,
de 21.11.2001, em que se decidiu que "e nula a sentence que se funda
sabre urna qucstao conhecida de oficio .e nao submetida pelo juiz ao
contraditorio das partes" (traducao livre)."
Na referida decisao, a Corte declarou a nulidade do provimento
impugnado, no qual 0 juiz tinha conhecido de uma questao de nuli-
dade ou incxistcncia de uru ato administrativo sem haver provocado sua
discussao na fase preliminar do procedirnento e sem te-la submetido it
discussao cndoprocessual. Afirrnou-se, ainda, que, na hipotese de 0 juiz
pcrceber urna questao de fato ou nao considerada pelas partes depois da
Iase prcparatoria, deve permitir que sobre a questao as partes possuam a
oportunidadc de discuti-la.
Com base no rcferido prccedente, Luiso propugnou que 0 contra-
d iio rio p oss ui significado na o somente por garantir as partes aquzir
aquilo que 0 juiz nao pede conhecer de oficio, mas ta rn be rn p elo ' I ato
7(), Dl'~TI, Vittorio. Op. cit., p, 225.
7 7. T al concepcao restritiva f o i c ri ti ca d a por p arc ela d a d ou trin a (d. T : \Rz IA ,
Giuseppe. Parita delle armi tra Ie parti e poteri del g iudice nel processo
c ivile. P ro hlem i d el p ro cc sso d i c og n iz io n c, P a do v a: Cedarn, 1989, p. 318).
7H. CIVININI, Maria Juliana. Op. cit., p. 6.
79. hAL1.·\ ,Corte de Cassacao, Secao I. 21.11.2001, n. 14.637, Pres. Criscuolo,Provinc ia de Pesaro e Urbino. I n: G i us ti zi a civile. Rivista lvIcnsilc di
Giul'ispl'lIe1cllza 52/1611-1612. M i la no : G i uf fr e, 2002, t. II, parte 1 .
DIREITO COMPARADO 131
de garantir que uma questao submetida a discussao sera mais bern deci -
dida do que quando posta e analisada solitariamente pelo magistrado.
Afirma, en tao, que toda decisao proferida sol itariamente iria de eneontro
ao contraditorto."
N um a p osic ao m ais I lexivc l. C hiarlo ni, em c crta m edid a altc ran do
entendirnento anteriormentc esposado." nao acredi ta em analise abstrata.na possihiliclade de defesa da nulidacle da dccisao surpresa (te rza v ia ) em
qualquer caso. Porern, defende, sua aplicacao em concreto. s z
P ropu gna, desse modo, que, para a ocorrencia cia nulidade cia
decisao, 0 conhecimento solitario do juiz cleve haver violado 0 dire iio de
defesa da parte prejudicada, de modo que existiria a necessidade de esta
conveneer 0 Tribunal de que 0 seu direito de defesa foi violado.
Tal so lu ca o ja h av ia sido defendida antes por Civinini, que afirrnava
a possibilidade de irnpugnacao da decisao de surprcsa na hipotese e l l ' a
parte defender que a [alta de indicacao das quesioes as ten ha impedido
de exercer pcderes processuais que poeleriam alterar a decisao.
Parece ser essa a tendencia cIe uniformizacao clo entendirnento'"
perante a Corte de Cassacao ltaliana, uma vez que se afirmou, em prece-
dente de 2005, que 0 recurso deve ser acompanhacJo cia indicacao cia
atividade processual que a parte pocleria tcr realizado se tivesse sido
provocada a discutir a questac."
80. LUISC l , F ran cesco E Q uestio ne rilevata di u ffic io c co ntradd itto rio : 111 l1~1
se ntc nz u r iv olu zio na ria ? G iu su aia c ivile. Ril'i\/a ,\hlls;lr iii C;lllrL,prlldcl1::u
52/1614.2002, t. II. parte I, cit.
81. CHIARL()~I, Sergio. Qucstioni r ilevabil i dufficio. dir iuo didi [csa c "Iorrnalismo
d el le g ar an z ie ". IlivistCl Tiuncstralc e li D irit/o c Pnl ( fdurr I Civile. Milano:
Giuffre. 1987, p, 570-584.
82. CHIARLONI, S e rg io . L a s en te ri za "della te rz a v ia " in cassazione: un altro G1SO
di Iorrnalismo delle garanzie? G iu ris p n ld c l1 za i la lia l1 £1 . Torino: Utct , 2002, p.
1364.
83. Cf. hAllA, Corte de Cassacao, sentenca 21.108, de 31.12.2005, Terceira
secao civil, Pres. P . V itto ria , re l. P re de n, I te m 2.1 da f unda rn en ta c ao , 2005.
84. hAllA, C orte de Cassacao, sentenca 21.108, de 31.12.2005, cit., Item 2.l . cia
fundarnentacao. Rorna,jun. 2005. Disporuvel em: - cwwwcor ted ic as saaione .
it>. Acesso em: 10.02.2006 ..
8/2/2019 Contraditório - Humberto Theodoro Jr e Dierle Nunes RePro 168
http://slidepdf.com/reader/full/contraditorio-humberto-theodoro-jr-e-dierle-nunes-repro-168 16/20
132 R EV IS TA D E P R O C ES SO 2009 - REP RO 1 68
Tal uniformizacao parece tam bern dizer respeito a analise da deno-
minada d ec isio ne d ella terz a via , pois, no referido precedente, a Corte,
a po s u rn retrocesso," decidiu:
"A corte, andando em conhecido contraste com a Casso n. 15.705,
afirma que 0 juiz que entenda, depois da delimitacao do thema deci-
dendum, ocorrida no curso da audiencia preliminar, de levantar uma
questao conhecivel oficiosamente e nao considerada anteriormente ,deve submete-la as partes para lhes permitir a intervencao em contradi-
torio. A falta de indicacao comporta a violacao do dever de colaboracao
par parte do juiz e deterrnina a nulidade da sentenca par violacao 'do
direito de defesa das partes. Se ocorrida em primeiro grau e suscitada em
apelo, comporta a remessa com prazo para ° seu desenvolvimento, no
processo de apelacao, das atividades cujo exercicio nao foi possivel em
primeiro grau. Se verificada em apelo (. .. ), a sua deducao em cassacao
determina a cassacao da sentenca com reenvio, com a finalidade de que
o juiz do reenvio oferte espaco para as at ividades processuais ornitidas."(Traducao livre)
A visao do contraditorlo como garantia de influencia e de nao
surpresa tambern recebe a chancela nos Tribunais superiores de Por tugal.
Em precedente jurisprudencial do Supremo Tribunal de justica portu-gues, afirmou-se:
"0 acordao recorrido nao poderia ter decidido a questao da legi-
timidade com um Iundamento frontalmente diverso e nao ponderado
na sentenca da 1." instancia, sern, antes, ter convidado 0 recorrente a
pronunciar-se e tornar posicao sobre essa questao,
1. Tomando como pararnetro a lei fundamental, 0 Tribunal Consti-
tucional tern vindo a considerar a corisagracao do principio do contradi-
85. Cf. ITALlA, Corte de Cassacao, n. 15.705, 07/2005, na qual a Corte Iazia
uma interpretacao dogrnatica no plano da infraconstitucionalidade: "Nao
pede, de faro, ser pronunciac la a nulidade par inobservancia dos atos do
processo -Ieia-se na motivacao da reclamada pronuncia - se a nulidade nao
e corninada pela lei: uma disposican em tal sentido falta no an. 183Codigode Processo Civil i taliano como sancao cia ornissa indicacao as partes das
questoes eonheciveis de oficio" (Traducao livre). No original: "Non puc,
infatti , essere pronunciata la nulli tta per inosservanza di att i del processo
- si legge nella motivazione della richiamata pronunzia - se la nulli ta non e
comminata dalla legge: una disposizione in tal senso manca nel!'arLl83 cod.
proc. civ. come sanzione dell'ornessa indicaz ione aile parti delle questionirilevabili cliufficio",
DIREITO COMPARADO 133
torio como algo integrado no direito de acesso aos tribunals, consagrado
no art. 20.0 da Constituicao da Republica Portuguesa. 0 direito de
aeesso aos tribunais e, na verdade, dominado por urna ideia de igual-
dade, uma vez que 0 principio da igualdade vincula todas as Iuncoes
estaduais, jurisdicao inclutda (acordao do TC 147/1992. Acordaos do
Tribunal Constitucional, 21.° vol., p. 623 e 5S.) - vinculacao que signi-
fica igualdade perante os tribunais, donde decorre que 'as partes tern quedispor de identicos meios processuais para litigar, de identicos dircitos
processuais' (acordao do TC 223/1995, DR, II serie, de 27.06.1995) 0
principio do contraditorio - escreveu-se no acordao do TC 177/2000,
DR, II serie, de 27.10.2000 -, enquanto principio reitor do processo civil,
exige que se de a cada uma das partes a possibilidade de deduzir as suas
razoes (de facto e de direito), de 'oferecer as suas provas', de 'controlur as
provas do adversario' e de 'discretear sobre 0 valor e resultados de umas
e outras' (efr. Manuel de Andrade, Nocoes elernentares de processo civil,
1956, p. 364).
2. Nao se duvida que a norma transcrita - n. 3 do art. 3.0, iniro-
duzida pela Reforma de 1995/96 - veio ampliar 0 ambito tradicional do
princrpio do contraditorio, C01110 garantia de uma discussao dialectica
au polernica entre as partes no desenvolvimento do processo. A uma
concepcao, valida mas restri tiva, substi tui-sc hoje Ulna nocao mais lata
de contraditoriedade, com origem na garantia constitucional do rccheli-
ches Gcho r germanico, entendida como garant ia da participacao efeetiva
das partes no desenvolvimento de todo 0 litigio, mediante a possibilidade
de, em plena igualdade, influtrem em todos os elementos (Iactos, provas,
questoes de direito) que se encontram em ligacao com 0 objecto cia causa
e que em qualquer Iase do processo aparecarn como potcncialrnente rclc-, va~tes para decisao. 0 escopo princi.pal clo p~incipio cia c~ntradit(ll:io
deixou assim de ser a defesa, no sentido neganvo de opo5lC,;aoou 1"C515-
tencia a actuacao alheia, para passar a ser a influencia, no senticlo posi-
tivo de direito de influir activarnente no desenvolvimento e no exi t o do
processo' (lose Lebre de Freitas, lntroducao ao processo civil, concciros
e principios gerais a luz do Codigo revisto, 1996, p. 96, e C6digo de
P r oc es so C i vi l a n ot ad o , vol. 1, 1999, p. 8). Pando 0 enfoque no plano das
questoes de direito, a norma protbe, como este autor logo sublinha. as
decisoes-surpresa, isto e, as decisoes baseadas 'em fundamento que nan
tenha sido previamente considerado pelas partes'. Proibicao, pois, dasdecisoes 'surpresa, enquanto violadoras do principio do contraditorio,
eonforme este Supremo Tribunal tern tido oportunidade de decidir (clr.,
8/2/2019 Contraditório - Humberto Theodoro Jr e Dierle Nunes RePro 168
http://slidepdf.com/reader/full/contraditorio-humberto-theodoro-jr-e-dierle-nunes-repro-168 17/20
134 REV IS TA . DE P ROCES SO 2009 - REPRO 168
entre outros, os acordaos de 18.11.1999, Proc. 794/1999, 16.02.2000,
Proc. 732/l999, 05.12.2000, Proc. 3.247/2000, e de 05.07.2001, Proc.
2 .0 38 12 00 1). ( . .. )
Terrnos em que se anula 0 acordao recorrido e se determina que
os autos voltern ao Tribunal da Relacao de Lisboa, para que at, se
possrvcl com intervencao dos mesmos Senhores Desembargadores, se de
cumprimento ao principio do contradit6rio e, apos, se proceda a julga-
mentc.?"
Percebe-se mesmo que tal concepcao corneca a obter ressonancia
ernbrionaria em nosso sistema jundico, como em precedente do STF, em
que se propugnou que, no ambito de procedimento administrativo:
"Nao e outra a avaliacao do tema no direito constitucional cornpa-
rado Apreciarido 0 chamado A nspnlch a uf rectul iches Geh6r (pretensao
< 1 tutela jundica) no direito alernao, assinala 0 Bundesverfassungsgericht
que essa pretcnsao envolve nao so 0 direito de manifestacao e 0 direito
de informacao sohre 0 objeto do processo, mas tarnbern 0 direito de ver
os seus argumentos conternplados pelo orgao incumbido de julgar (Cf.
Dccisao da Corte Constitucional alerna - BVerfGE 70, 288-293; sobre 0
assunto, ver, tambern, Pieroth e Schlink, Grundrechte - Staatsrecht II.
Heidelberg, 1988, p. 281; Battis, Ulrich, Gusy, Christoph, Einfuhrung in
das Staatsrccht. 3. ed. Heidelberg, 1991, p. 363-364).
Dai afirrnar-se, correnternente. que a pretensao a tutela jundica,
que corresponde exatamente a garantia consagrada no art. 5.° LV,da CF,
contcm os seguintes direitos:
86. PORTUGAL. Supremo Trihunal de justica, Recurso 10.361101, reI. c.Onselheiro
Ferreira Ramos, j. 15.10.2002, Data do acordao: 15.10.2002, Li~boa.
Disponivcl em: -ewwwstj.pt». Acesso em: 23.02.2006. Em sentido identico:
"1. Como dccorrencia do principio do contraditorio, consagrado, entre
outros, no art . 3.0, n. 3, do Codigo de Processo Civil, e proibida a decisao-
surpresa, isto e, a decisao baseada em fundamento que nao tenha stdo
previamente considerado pelas partes. 2. A violacao do principio do contra-
ditorio inclui-se na clausula geral sobre as nulidades processuais constants
do art. 201.", n. 1, do Codigo de Processo Civil, nao constituindo nulidade
de que 0 Tribunal conhece oficiosarnente, pelo que se tern por sanada se
nao for invocada pelo interessado no prazo de 10 dias apos a respectivaintervencao em algum acto praticado no processo (arts. 203.°, n. 1 e 205.°,
11 . 1, do rnesmo diploma)". (Portugal, 51], Recurso de Revista 8802/02, reI.
Consclheiro Araujo Barros, 2005.)
DIREtTO COMPARADO 135
1) direito de informacao ( R ech t au J l nJ o rma t io n ) , que obriga 0 orgao
julgador a informar a parte contraria dos atos praticados no processo e
sobre os elementos dele constantes;
2) direito de manifestacao ( Re ch t a u J A u ss en m R) , que assegura ao
defendente a possibilidade de manilestar-se oral mente ou por escrito
sobre os elementos Iaticos e juridic os constantes do processo;
3) direito de ver seus argumentos considerados (Rech t au f Bcrf ic l i -
sichtigung), que exige do julgador capacidade, apreensao e iscncao de
animo (AuJnahmeJiih igkeit und AuJnahmebereilscl lClJ t) para contcrnplar as
razces apresentadas (Cf. Pieroth e Schlink, Grundrechte - Staatsrecht II.
Heidelberg, 1988, p. 281; Battis e Gusy, Einfuhrung in das Staatsrechi.
Heidelberg, 1991, p. 363-364; Ver, tarnbem, Durig: Assmann, in: Maunz:
Durig, GruncJgesetz - Kornmentar, art. 103, vol. 4, n. 85-99),
Sobre 0 dire .ito de ver os seus argumentos coruernplados pelo orgao
julgador (R ec ht a u] Bcr i i chs i ch t i gung ) , que corrcsponde, obviamcnte , an
dever do juiz au cia Adrninistracao de a ell'S conlcrir atcncao (Beac:hl( ' lls-
pjlicht), pcde-se afirrnar que cnvolvc nan S() 0 clever de tornar conhe-
cimento (Kel1ntnisnahmepjl icht) , como tarnbem 0 cle considerar, s tria
e detidarnente. as razoes apresentadas (E rwagungsp{ l i ch t ) (Cf. Durig;
Assmann, in: Maunz: Durig, Grundgesctz - Kornmeutar, art. 103, vol.
4, n. 97).
E da obrigacao de considerar as razocs apresentadas que deriva 0
dever de fundamentar as decisoes. (Dccisao cia Corle Constitucional
- BVerfGE 11,218 (218); Cf. Durig: Assmann, in: Maunz: Durig. Grund-
gesetz- Kornmentar, art. ] 03, vol. 4, n. 97)." (Brasil, ST~ MS 24.268/l'v lG,
Plene, j. 05.02.2004, rel. Min. Gilmar Mendes, DJ 17.09.2004, p. 53).
Nada obstante, no ambito jurisdicional, 0 entcndimento corri-
queiro do STF apresenta-se. paradoxalrnente, lastrcado nurna perspcc-
tiva formal, cujo resultado e impedir a analise de rccursos extraordina-
rios que aleguem of ens a ao principio (antes mesmo cia introducao cia
repercussao gera l) , sob 0 argumento de que seria necessario 0 exarne
de materia infraconstitucional para a verificacao da aludida desconfor-
midade, 0 que representaria, em certa medida, urna ofensa refl exa (nao
direta) a Constituicao," transferindo ao Superior Tribunal de justica a
analise da materia.
87. "0 S1F deixou asseritado que, em regra, as alegacoes de desrespeito
aos postulados cia legalidade, do devido rroccsso legal, da rnotivacao
DIREITO COMPARADO
8/2/2019 Contraditório - Humberto Theodoro Jr e Dierle Nunes RePro 168
http://slidepdf.com/reader/full/contraditorio-humberto-theodoro-jr-e-dierle-nunes-repro-168 18/20
136 R EV IS TA D E P RO C ES SO 2009 - REP RO 168
Nao se percebe, nesse discurso jurisprudencial do STF, realmente,
que 0 contraditorio, na alta modernidade, constitui urn dos principais
eixos estruturais da dernocracia ao assegurar urn direito fundamental de
participacao em processos de formacao da opiniao e da vontade, agre-
gando, ao mesmo tempo, 0 exerctcio da autonomia publica e privada
em seu dimensionarnento e proporcionando a criacao de um direito
legitimo. E que os principios constitucionais rnaximos como 0 devidoprocesso legal, 0 contraditorio , a arnpla defesa e a legalidade, sem cuja
observancia e impossivel realizar a garantia fundamental da tutela efetiva
a que se refere 0 art. 5.", XXXv, da CF, somente sao implementados ill
concreto se se respeitarern as regras constitucionais na disciplina dos
procedimentos judiciais.
No entanto, contra 0 aludido entendimento da ofens a ref lexa dos
principios processuais constitucionais, recenternente, 0 STF, para alento
da melhor doutrina, se manifestou em terrnos:
"Principios da legalidade e do devido processo legal - Normas legais
- Cabimento. A intangibilidade do preceito constitucional que assegllrao devido processo legal direciona ao exame da legislacao C0I1111m. Daf
a in su bsistc nc u: c ia lese de que a ofensa a Car ta da Rep li b li c a s li ji c iC l lc e a
c nsc ja r 0 c onh ec im en to d e e xtra ord ina rto hc t d e se r d ir eta e f ro llta l. Case a
casu, compete ao Supremo apre ciar a materia, distinguindo os recursos
protelatorios daqueles em que versada, com procedencia, a transgressao
a te xr o do Diploma Maior, muito em bora se tome necessar ia, ate mesrno,
dos atos decisorios, do contraditorio, dos l imites da coisa julgada e da
prestw;:ao jarisdic iol la l podem cO . 11 fi gura l ; quando muito, s itl la r; oc s d c ojensa
m era men te rejiex a uo tex to d a C on stitL Ii(a o, c irc unsta nc ia esse! q Lle im ped ea utiliza ,ao do recurso e xtr ao rd in ar io . P re ce de 11 ce s" . (Brasil, STF , AgIn no
AgRg 360265/Rj, 2." T., j. 13.08.2002, reI . Celso de Mello, gri fei) . No
mesrno sentido: "( ... ) esta Corte firmou entendimento no sent ido de
que, em regra, a analise da ofens a aos principios da ampla defesa, do
contradit6rio e do devido processo legal ensejaria 0 exarne da legislacao
infraconstitucional. A of ens a a Constituicao Federal, Sf existente, seria
refle xa" . (B rasil, S TF , R E 405321/DF, j. 0 2.0 3.20 05 , rel. Min. GilmarMendes). "A violacao aos principios do contraditorio e da arnpla defesa
nao dispensa 0 exarne da materia sob 0 ponto de vista proeessual, 0 que
caracteriza ofensa reflexa a Constituicao e inviabiliza 0 recurso extraor-
dinario" (Brasil, STF , AgRg no RE 491923/DF, I." T ., j. 19.09.2006,
rel. Min. Ricardo Lewandowski). Sabre 0 tema ve r B AH I A , Alexandre.Interesse publico e interesse privado nos recursos extraordinarios eit. , p. 96et seq.
137
partir-se do que previsto na legislacao comum. Entendimento diverso
implica relegar a inocuidade do is princlpios basicos em um Estado
Dernocratico de Direito: 0 da legalidade e 0 do devido processo legal,
com a garantia da ampla defesa, sempre a pressuporern a consideracao
de normas estritamente legais [Destacamos]. "~8
Esse precedente talvez represente urn novo e auspicioso passo na
interpretacao do STF que vislumbre a verdadeira importancia dos prin-
cipios processuais em perspectiva dinarnica.
Nessa otica, 0 contraditorio (na perspectiva constitucional do
Estado Democratico de Direito) perrni te que 0 cidadao assuma a Iuncao
de autor-destinatario dos provimentos (jurisdicionais, legislativos e
adrninistrativos), cujos efeitos sofrera.
A decisao nao pode mais ser vista como expressao apenas cla
vontade do decisor e sua fundamentacao ser vislumbrada t : lO-SO como
mecanisme formal de legit ima<;ao de urn entendimento que este possum
antes mesrno da discussao endoprocessual, mas deve buscar legitimi-
dade, sobretudo, na tom ada de consideracao dos a spec tos relevances e
racionais susci tados pOl' todos os participantes, infonnando razoes (na
fundamentacac) que sejarn convincentes p~!ra.todosos interessados no
espa<;;opublico, e apl icar a normatividade existente sern inovacocs soli -
tarias e voluntansticas.t"
A garantia da fundarnentacao racional das decisoes (art. 93, IX,
CF/1988 ) pode ser explorada como desfgnio constitucional de que 0
juiz respeire, no julgamento, de forma real, a participacao das partes na
formacao do provimento jurisdicional."
, E , na verdade, nos espac;:os publicos que os £luxos cornunicativos
sao fomentados, filtrados e sintetizados, de modo a se condensarem em
opinioes publ icas enfeixadas em ternas especif icos, corporificando uma
88 . BRAS I L , STF,RE 428.991/RS, l." T ., j. 26.08 .2008 , DJe 206 , 3 0 . 1 0 .2008 .
89. Cf. B AH I A , Alexandre Gustavo Melo Franco. Os recursos extraordinarios e a
co-originalidade dos interesses publico e privado no interior do processo,
cit.
90. Decisao mOlivada nao e outra coisa senao aquela que contenha adequadaanalise dos argumentos das partes e chegue racionalmente a urna coriclusao
congruente com essa analise.
8/2/2019 Contraditório - Humberto Theodoro Jr e Dierle Nunes RePro 168
http://slidepdf.com/reader/full/contraditorio-humberto-theodoro-jr-e-dierle-nunes-repro-168 19/20
138 R EV IS TA D E P RO C ES SO 2009 - REPRO 168
estrutura cornunicacional do agir orientado ao entendimento.?' nao a
fins estraregicos.
o arnbiente propicio para tal espaco publico e 0 processo consti-
rucionalmente entendido, que irnpedira decisoes solitarias. ao quebrar
o privilegio cognitivo dos agentes estatais e ao impor a estes a devida
fundameruacao racional de argumentos produzidos e construidos endo-
processualmente.
Desse modo, como explica Picardi:
"0 processo nao vern construido sobre uma posicao de suprernacia
do juiz. sobre urna ordern assimrnetrica. 0 contraditorio, em sentido
forte, possui uma Iuncao cornpensadora das desigualdades que, pela
natureza das coisas , existern entre as partes (por ex: govern antes e gover-
nados, ricos e pobres). Ele permite que 0 processo assegure reciprocidade
e igualdade, e, cntao, seja assentado sobre a base de relacoes paritarias,
sobre aquilo que Io i chamado ordern isonomica." (Traducao l ivre)."
A assuncao dessa concepcao normativa do principio do contradi-
!(irio pcrrninria a instauracao de uma rcnovada perspectiva isonornica de
sua atuacao processual.
Esta nao buscaria uma identidade entre as Iuncoes desernpenhadas
pm todos os sujeitos processuais, mas, sim, 0 estabelecimento d a 6tic a
d u c o ns id c va c a« C do i l1 t cr d cpc nd cJ 1 c ia entre eles, uma vez que, na hipo-
lese de assuncao dcsta concepcao do contraditorio como garantia de
influencia, assegura-se lima correcao normativa das decisoes, que miti-
gara 0 uso de argumentos estrategicos de vies autoritario, persuasive, e
sc permitira que, na irnensa maioria das situacoes, somente argumentos
normativos (decorrentes do debate) sejam utilizados no momenta da
Iundamentacao.
A percepcao da interdependencia dos sujeitos processuais, caso
fosse levada a serio, permitiria novos horizontes para 0 sistema de
91. l-IAnERMAs,jt::trgcn.alaz iWt und Ge1tung. Frankfurt: Suhrkarnp, 1994, p. 436.
92 . No original: " II processo non va eostruito su una posizione di supremazia
del g iu dicc , su u n ordine a ss im rn et ri co . 1 1contraddittorio in senso forte ha
una [unzione cornpensativa delle inegualianze che, per la natura delle cose,
csistono Ira le parti (ad. es. fra governanti e governan; Eraricchi e poveri):
esso comporta che it processo assicuri reciprocita ed ugualianza e, quindi,
sia impostato sulla base di rapporti paritetici, su quello che e state chiarnato
ordine isonornico ". PICARDI,icola. M a nu ale d el p m ce ss o civile cit., 2006, p.
2.12.
DIREITO COMPARADO 139
aplicacao, que garantmam que a estrutura normativa processual e a
sua cognicao, imperfeita por essencia, impusessern urn fluxo discursive
predominanternente performativo (vocacionado ao entendimento)." 0
que garantina provimentos leguimos, e nao meramente funcionais.
6. 0 CONTRADITORIO E A SISTEMATICADO CODIGD DE PROCESSO CiVIL
BRASILEIRO
Por firn, e de ponderar-se que a dirnensao do contraditorio prcco-
nizada pela ideia de comparticipacao efetiva dos sujcitos processuais
no desfecho da causa nao atrita sequer com 0 sistema vigente do nosso
Codigo de Processo Civil .
Apesar da ausencia de urn dispositive legal em nosso Codigo de
Processo Civil (desnecessario, como ja dito, em face da previsao cons-
titucional) similar aos existen tes nas legislacoes proccssuais de out ros
parses. percebe-se, por meio de urna leitura sistematica. a prescnca entre
nos da v in cu la ca o e c or np ro m etim e nto do legislador ordinario com a
garantia do contraditorio, em mcldes dinamicos.
Ernbora a doutrina tradicional brasileira nao tenha, de m ancira
geral, se detido no exarne do carater dinarnico do contradiiorio como
garantia de nao surpresa para as partes." e facil detectar essa dimensao
dentro nao so da garantia constitucional do devido processo legal,
como tarnbern dentro do proprio sistema do Codigo de Processo Civil.
Assim e que, v.g., ao disciplinar 0 procedimento ordinario, 0julgamento
conforme 0 estado do proeesso, que pede reclundar na sua exuncao sern
exame do merito da causa, nao sera proferido, scm que antes se enseje
oportunidade ao autor de pronunciar-se sobre as arguicoes do adversario
sobre questoes de ordem publica como a falta de pressuposros proces-
suais e condicoes da acao (art. 327, CPC).95
Pelomenos na par tic ipacao do ju iz , u rn a v ez que as partes tendem a t r abalha r
em perspectiva estrategica. No entanto , se a participacao do juiz tambern
for vocacionada exclusivamente a fins estrategicos. v.g. como a busca da
alta produtividade a qualquer custo, nao havera a menor potencialidade de
alcance social das decisoes.
E de se registrar, entretanto. que essa moderna visao do contraditorio
mereceu destaque por parte de Carlos Alberto Alvaro de Oliveira em estudo
recente (Op. cit., p. 11-26).
lgual observacao se pode fazer ern torno dos vicios da peticao inicial , que
podern levar ao indeferimento por iniciativa do juiz, o qual, cntrctanto, nao
93.
;
l~
tl"
c94.
fI~:
f 95
;.
~.'
~~~,
i".
8/2/2019 Contraditório - Humberto Theodoro Jr e Dierle Nunes RePro 168
http://slidepdf.com/reader/full/contraditorio-humberto-theodoro-jr-e-dierle-nunes-repro-168 20/20
140 R EV IS TA D E P RO C ES SO 2009 - REPRO 168
Ve-se, pois, que, embora enfocando materia apreciavel de oftcio
(art. 267, § 3.°, CPC), 0 juiz, por expresso mandamento legal, nao deci-
did. sem respeitar 0 efetivo contraditorio. Esse, portanto, e 0 criterio
que, na sistematica do nosso processo civil, havera de prevalecer, nao
so no julgamento previsto no art. 329, CPC, como em apreciacao de
qualquer ques t ao ao longo do curso do processo, que possa representar
efeito potencialmente ofensivo aos interesses de qualquer das partes."
7. CONSIDERA<;:OES FINAlS
As ponderacoes delineadas neste breve ensaio demons tram que
a leitura dinamica da garantia do contradit6rio, como incentivador ao
aspecto dialogico do procedimento, impoe uma efetiva cornparticipacao
dos sujeitos processuais em todo 0 iter formative das decis6es.
Cria-se, assim, uma nova tendencia e uma nova leitura paritaria
entre os sujeitos processuais, sern confundir seus papeis, mas, de modo
a se implementar uma participacao real com a assuncao da co-responsa-bilidade endoprocessual por todos.
lnsta, desse modo, registrar que 0 papel do julgador de garant idor
de direitos fundamentals, diretor tecnico do processo, irnpoe a este
dialogar com as partes para encoritrar a melhor aplicacao (normativa)
da tutela mediante a debate processual e , nao, atraves de urn exercicio
solitario do poder.
A cornparticipacao advinda da leitura dinamica do contraditorio (e
de outras garantias processuais constitucionais) importa uma democra-
t izacao do sistema de aplicacao de tutela.
Ass im, chegaremos a uma aplicacao de tutela com resultados uteis
e de acordo com as perspectivas de urn Estado Democratico de Diret to.
No entanto, urna ultima consideracao deve ser realizada. Nao se
pode olvidar que a lei tura do sistema processual a part ir da Constituicao
Co ' a uto riz ad o p elo C od ig o de Processo Civil senao depots de convocada a
parte a se pronunciar e, sendo posstvel, a sanear-lhe as deficiencias (arts.284 e 616, CPC).
96. E por isso q ue, em 110550 Curse, restou consignado que, por forca do
principio constitucional do contraditorio, 0 juiz, rnesmo que nas materias
apreciaveis e x o f fi ci u, nao deve decidir sern previa submissao da questao ao
debate das partes (THEODORO JUNIOR, Hurnber to . C ur sa d e d ir eito p ro ce ss ua l
civil, cit, vol. 1, n. 24, p. 32).
DIREITO COMPARADO 141
e uma vertente irnportantissima da visao comparticipativa aqui utilizada,
mas nao a unica, eis que ja se chegou ao momenta de se perceber que
nao serao tao-sornente com a mudanca legislativa e com a rekitura
constitucional da legislacao que se gerarao os irnpactos de eficiencia e
legitimidade almejados pela tutela jurisdicional e fe ti va c ompan v el com
o moderno pr oc e ss o j u st o .
Necessitamos ampliar a debate em torno das questoes processuais
nao nos preocupando prioritariarnente com as mudancas da legislacao,
mas, concomitantemente, com a divulgacao de como aplica-las em
perspectiva constitucional," ao lado do delineamento de uma politica
publica de dernocratizacao processual (acesso a justica) que contc com a
comparticipacao ampla de todas as inst ituicces envolvidas (!BDP, OAB,
judiciario, Ministerio Publico, Universidades), scm sobreposicao dc
ideias e cornpeticao entre as ent idades e profissoes, como e corriquciro
no discurso juridico brasileiro.
Enfim, a obtencao de urn paradigma processual constitucional-
mente adequado nao resultara tao-sornenre de iniciativas pontuais e
desgarradas de uma intervencao macro-estrutural, Em outros termos, ha
de se perceber que somente ocorrera a geracao de impacto na eficiencia
e na legit imidade, caso se estabeleca uma polit ica publica de dernocrati-
zacao processual, arnplamente debarida, que problematize a questao da
aplicacao constitucional das normas processuais (como 0 contraditorio).
das refonnas processuais, da gestae processual e da inlra-estrutura do
Poder judiciario, de modo conjuntc."
97 . N ao ha como se trabalhar com ur n quadro d e a te cn ia dos o pera dorc s d odircito gerado pelo aumenta da cornplexidade do sistema Iruto de inumerosIatores, entre os quais, ressalte-se aqui, as constanres reforrnas legislativas.,
98. As'reformas legislativas cumprcm 0 papel de desobstruir 0 procedimento
legal de entraves burocrancos incornpanveis com a garanlia constitucional
de celeridade na realizacao da tutela dos direitos em jU iZO . lsto, como c
notorio, nao e suficiente para superar a cornplexa crise de morosidade queassola ajustica em proporcoes universals. 0 grosso do combaie as cronicasdeficiencies da prestacao jurtsdicional ha de ser travado no plano politico-administrative, que transcende a regulamentacao legislativa e envolve
a organizac;ao e gerenciamento d05 services judiciaries. Nesse terrene,
entretanto, e completarnente inocua a obra de renovacao das leis proccssuais
(THEODORO JUNIOR, H u mb erto . C ele rid ad e e e fe tiv id ad e na p re st ac ao [ ur is di -
cional. lnsufic ienc ia da reforma das leis processuais. RePro 1 25 /6 L-7 8. S ao
Paulo: Ed. RT,jul. 2005).
Recommended