View
215
Download
0
Category
Preview:
Citation preview
A EMENDA CONSTITUCIONAL 45
Emenda Constitucional 45 - art. 114, CF, I – disciplina como regra ser de competência da
Justiça do Trabalho “...as ações oriundas da relação de trabalho...”.
A EC 45 ampliou indubitavelmente a competência da Justiça Especializada, deixando
de solucionar apenas dissídios entre o empregado e empregador, passando a decidir lides
envolvendo ações oriundas da relação de trabalho – incluindo AÇÃO PENAL???????
Art. 114, V, CF – Habeas Corpus – remédio constitucional que se aplica precipuamente no
campo penal e processual penal.
Todavia, deve-se observar a Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 3.684-0 (Rel.
Ministro Cesar Peluso, DJ 03.08.2007) que reconhece a incompetência da Justiça do
Trabalho para processar e julgar ações penais. Argumento: Juiz Natural – corolário do
processo penal é garantia constitucional de que as causas penais serão submetidas a um juiz
imparcial e independente, estando assim, apto a realizar a atividade estatal pacificadora =
JURISDIÇÃO.
TÍTULO IV – CRIMES CONTRA
ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
Título IV do Código Penal – crimes contra organização do trabalho – pode ter uma ideia
de início autoritária, mas o que se deve visar é à dignidade, liberdade, segurança e higiene
do trabalho e também valores históricos conquistados pelos trabalhadores assalariados,
além de suas reivindicações na defesa de seus interesses.
Todos apresentam em seu cerne relações de Direito do Trabalho frustradas em
decorrência de um crime. Pode se ver sempre uma relação de trabalho não cumprida ou de um
direito trabalhista obstado, culminado na prejudicialidade de um bem jurídico específico de
um obreiro, numa relação penal-trabalhista.
Em princípio, o ilícito penal e o ilícito trabalhista são autônomos e sujeitos a tratamento
jurídico próprio. Direito Penal x Direito do Trabalho.
No entanto, muitas vezes o mesmo fato apresenta um ilícito penal e um ilícito
trabalhista. Por exemplo, furto – justa causa trabalhista e crime.
TÍTULO IV – CRIMES CONTRA
ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
Na exposição de motivos do Código Penal no que concerne aos crimes
contra organização do trabalho em seu item 67 (...)
A proteção jurídica já não é concedida à liberdade de trabalho,
propriamente, mas à organização do trabalho, inspirada não somente na
defesa e no ajustamento dos direitos e interesses individuais em jogo, mas
também, e principalmente, no sentido superior do bem de todos. (...) Daí o novo
critério adotado pelo projeto, isto é, trasladação dos crimes contra o trabalho,
do setor dos crimes contra liberdade individual para uma classe autônoma. =
Direito Penal do Trabalho.
ART. 197 – ATENTADO CONTRA A
LIBERDADE DE TRABALHO
ATENTADO CONTRA A LIBERDADE DE TRABALHO
Art. 197 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça:
I - a exercer ou não exercer arte, ofício, profissão ou indústria, ou a
trabalhar ou não trabalhar durante certo período ou em determinados dias:
Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena
correspondente à violência;
II - a abrir ou fechar o seu estabelecimento de trabalho, ou a participar de
parede ou paralisação de atividade econômica:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena
correspondente à violência.
ART. 197 – ATENTADO CONTRA A
LIBERDADE DE TRABALHO
Trata-se de delito semelhante ao constrangimento ilegal, difere-se
basicamente no sentido intencional do agente, pois o sujeito ativo deve praticar o
constrangimento contra os sujeitos passivos descritos nos incisos do
artigo.(TRABALHADOR)
A vítima deve ser FORÇADA, OBRIGADA ou COAGIDA.
O objetivo é proteger a livre escolha de trabalho = liberdade laboral
ART. 198 – ATENTADO CONTRA A
LIBERDADE DE CONTRATO DE TRABALHO
E BOICOTAGEM VIOLENTA
ATENTADO CONTRA A LIBERDADE DE CONTRATO DE TRABALHO
E BOICOTAGEM VIOLENTA
Art. 198 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a
celebrar contrato de trabalho, ou a não fornecer a outrem ou não adquirir de
outrem matéria-prima ou produto industrial ou agrícola:
Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena
correspondente à violência.
ART. 198 – ATENTADO CONTRA A
LIBERDADE DE CONTRATO DE TRABALHO
E BOICOTAGEM VIOLENTA
Contrato de trabalho que é celebrado indesejadamente,
consequentemente trata-se de constrangimento ilegal, praticado mediante
violência ou grave ameaça.
Refere-se a lei tanto a contrato individual como coletivo, a escrito ou verbal,
a renovação, modificação ou adição de contrato anterior.
*** Se a coação for para que alguém não celebre contrato de trabalho
poderá haver o crime do art. 146 CP (constrangimento ilegal).
ART. 199 – ATENTADO CONTRA A
LIBERDADE DE ASSOCIAÇÃO
ATENTADO CONTRA A LIBERDADE DE ASSOCIAÇÃO
Art. 199 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a
participar ou deixar de participar de determinado sindicato ou associação
profissional:
Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena
correspondente à violência.
Art. 5º, XVII, CF – permite a livre associação profissional ou sindical para
fins lícitos.
O art. 199, CP tutela essa liberdade de associação.
ART. 200 - PARALISAÇÃO DE TRABALHO,
SEGUIDA DE VIOLÊNCIA OU
PERTURBAÇÃO DA ORDEM
PARALISAÇÃO DE TRABALHO, SEGUIDA DE VIOLÊNCIA OU
PERTURBAÇÃO DA ORDEM
Art. 200 - Participar de suspensão ou abandono coletivo de trabalho,
praticando violência contra pessoa ou contra coisa:
Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena
correspondente à violência.
Parágrafo único - Para que se considere coletivo o abandono de trabalho
é indispensável o concurso de, pelo menos, três empregados.
ART. 200 - PARALISAÇÃO DE TRABALHO,
SEGUIDA DE VIOLÊNCIA OU
PERTURBAÇÃO DA ORDEM
• Tutela a liberdade de trabalho também garantida na CF/88.
• O sujeito ativo é a pessoa que intenta manter a paralisação do trabalho com
meios VIOLENTOS causando prejuízo a sociedade.
• Pode ser o empregado (necessário concurso de agentes – mínimo 3),
empregador ou terceiros.
• Pode haver concurso com lesão corporal ou homicídio quando violência for
direcionada à pessoa.
• Pode haver concurso com dano quando a violência for direcionada à coisa.
*** Simples ameaça durante a greve (abandono do trabalho pelos empregados)
ou lockout (abandono do trabalho pelos empregadores) não tipifica o crime deste
artigo – mas apenas o delito do art. 147, CP.
ART. 201 - PARALISAÇÃO DE
TRABALHO DE INTERESSE COLETIVO
PARALISAÇÃO DE TRABALHO DE INTERESSE COLETIVO
Art. 201 - Participar de suspensão ou abandono coletivo de trabalho,
provocando a interrupção de obra pública ou serviço de interesse coletivo:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
ART. 201 - PARALISAÇÃO DE
TRABALHO DE INTERESSE COLETIVO
• Art. 9º, caput da CF assegura o direito de greve.
• § 1º diz que lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá
sobre o atendimento as necessidades inadiáveis da comunidade.
• Lei 1.183/89 = admite a greve em serviços ou entidades essenciais.
• Delmanto: art. 201, CP – restou inaplicável
• Mirabete: não basta tratar-se de obra pública, deve caracterizar serviço
ou atividade que coloca em perigo a população.
ART. 202 – INVASÃO DE
ESTABELECIMENTO INDUSTRIAL,
COMERCIAL E AGRÍCOLA. SABOTAGEM
INVASÃO DE ESTABELECIMENTO INDUSTRIAL, COMERCIAL OU AGRÍCOLA. SABOTAGEM
Art. 202 - Invadir ou ocupar estabelecimento industrial, comercial ou agrícola,
com o intuito de impedir ou embaraçar o curso normal do trabalho, ou com o
mesmo fim danificar o estabelecimento ou as coisas nele existentes ou delas
dispor:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
• Tutela-se neste dispositivo a organização do trabalho, bem como o
patrimônio da empresa ou pessoa física.
ART. 203 – FRUSTRAÇÃO DE DIREITO
ASSEGURADO POR LEI TRABALHISTA
FRUSTRAÇÃO DE DIREITO ASSEGURADO POR LEI TRABALHISTA
Art. 203 - Frustrar, mediante fraude ou violência, direito assegurado pela legislação do
trabalho:
Pena - detenção de um ano a dois anos, e multa, além da pena correspondente à
violência.
§ 1º Na mesma pena incorre quem:
I - obriga ou coage alguém a usar mercadorias de determinado estabelecimento,
para impossibilitar o desligamento do serviço em virtude de dívida;
II - impede alguém de se desligar de serviços de qualquer natureza, mediante
coação ou por meio da retenção de seus documentos pessoais ou contratuais.
§ 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço se a vítima é menor de dezoito
anos, idosa, gestante, indígena ou portadora de deficiência física ou mental.
ART. 203 – FRUSTRAÇÃO DE DIREITO
ASSEGURADO POR LEI TRABALHISTA
• Assegura os direitos trabalhistas previstos legalmente, tanto os contidos na
CF/88 quanto os contidos na CLT e leis complementares.
• Assim, estão abrangidos na proteção os direitos obtidos por meio das
convenções e dissídios, uma vez que eles são previstos em lei
• FRUSTAR: enganar ou iludir
• OBJETO: Direito trabalhista – fazendo com que o trabalhador corra o risco de
experimentar perdas ilegais
• FRAUDE ou VIOLÊNCIA: força física (não ameaça) ou ação praticada com
má fé (indução a erro).
ART. 203 – FRUSTRAÇÃO DE DIREITO
ASSEGURADO POR LEI TRABALHISTA
• ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO: Dolo específico
• NORMA PENAL EM BRANCO: depende de legislação trabalhista
• OBJETO MATERIAL: direito material trabalhista
• OBJETO JURÍDICO: organização do trabalho e sua legislação
• CRIME MATERIAL: exige resultado naturalístico consistente na efetiva
frustração do direito
• COMPETÊNCIA:
Justiça Federal – quando a questão afeta órgãos coletivos do trabalho
Justiça Estadual – quando o interesse é individual
ART. 203 – FRUSTRAÇÃO DE DIREITO
ASSEGURADO POR LEI TRABALHISTA
• OBRIGAR: forçar, constranger ou impelir
• COAGIR: constranger com força física ou ameaça
*** Obs: §1º, I - Coação para compra de mercadorias – inserido pela Lei
9.777/98 – a vítima é obrigada a comprar mercadorias, por violência ou grave
ameaça, ou até mesmo por contrato, devido a dívida contraída, tornando assim, um
vínculo obrigatório.
• USAR: empregar com habitualidade
• OBJETO MATERIAL: pessoa constrangida
• OBJETO JURÍDICO: liberdade de trabalho
• CRIME FORMAL: não exige resultado naturalístico, consistente na efetiva
vinculação do trabalhador ao emprego por conta da dívida
ART. 203 – FRUSTRAÇÃO DE DIREITO
ASSEGURADO POR LEI TRABALHISTA
• OBS: No parágrafo 1º trata-se de delito subsidiário em relação ao art. 149, CP.
Assim, o empregador que cerceia a liberdade de locomoção do empregado
em virtude de dívida responde pelo delito do art. 149 (redução à condição análoga
à de escravo). Para incidir no art. 203, §1º, I, é preciso que a conduta não envolva
restrição à liberdade de ir e vir do trabalhador.
Em verdade, neste caso (art. 203), há uma restrição moral ao empregado,
enquanto no art. 149 a restrição é física.
• IMPEDIR: significa obstaculizar-se ou opor-se, tudo por objeto o trabalhador que
pretende desligar-se do serviço.
• COAÇÃO: violência moral e física.
ART. 203 – FRUSTRAÇÃO DE DIREITO
ASSEGURADO POR LEI TRABALHISTA
• RETENÇÃO DE DOCUMENTOS: é a conduta daquele que detém em seu poder ou sob sua
guarda os documentos pessoais (RG, CPF etc) ou contratuais (CTPS), de forma a
impedir que o trabalhador arranje outro emprego, mas sem implicar em cerceamento da
liberdade de locomoção, que caracteriza o crime do art. 149, CP.
• GESTANTE: indispensável que o autor do crime tenha consciência desse estado.
• ÍNDIO: a) isolados b) em visas de integração c) integrados. O art. 203, CP tem por finalidade
tutelar os direitos assegurados pela legislação trabalhista e a liberdade de trabalho,
pressuposto, pois, um contrato de trabalho existente, ao menos, no tocante à vítima.
• Obs: O índio em processo de integração não pode celebrar contrato de trabalho, sem
assistência do órgão tutelar competente.
ART. 203 – FRUSTRAÇÃO DE DIREITO
ASSEGURADO POR LEI TRABALHISTA
• PORTADOR DE DEFICIÊNCIA: O conceito de deficiência reside na incapacidade do
indivíduo par acertas tarefas, não na falta de qualquer capacidade física ou mental. A
analise isolada não poderá ser feita; pelo contrário, a deficiência deve ser sempre
correlacionada a tarefa ou atividade. As pessoas portadoras de deficiência
apresentam graus de dificuldade de integração, com uma multiplicidade de situações
que devem ser objeto de atenção rigorosa, tanto do legislador infraconstitucional, como
do administrador e do juiz.
A Constituição Federal concedeu especial atenção às pessoas portadoras de
deficiência, como se pode observar nos arts. 23, II, 24, XIV, 37, VIII, 203, IV, 208, III, 227,
§1º, II, §2º, e 244.
Com particular relevo deve-se, ainda, mencionar o art. 7º, XXXI, que proíbe qualquer
forma de discriminação no tocante ao salário e critério de admissão do trabalhador
portador de deficiência.
ART. 204 – FRUSTRAÇÃO DE LEI SOBRE
A NACIONALIZAÇÃO DO TRABALHO
FRUSTRAÇÃO DE LEI SOBRE A NACIONALIZAÇÃO DO TRABALHO
Art. 204 - Frustrar, mediante fraude ou violência, obrigação legal relativa à
nacionalização do trabalho:
Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena
correspondente à violência.
Normalmente o sujeito ativo é o empregador.
ART. 205 – EXERCÍCIO DE ATIVIDADE COM
INFRAÇÃO DE DECISÃO ADMINISTRATIVA
EXERCÍCIO DE ATIVIDADE COM INFRAÇÃO DE DECISÃO ADMINISTRATIVA
Art. 205 - Exercer atividade, de que está impedido por decisão administrativa:
Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa.
Tutela-se o interesse estatal nas funções de fiscalização exercidas por
este.
O sujeito passivo é o Estado.
ART. 206 – ALICIAMENTO PARA O
FIM DE EMIGRAÇÃO
ALICIAMENTO PARA O FIM DE EMIGRAÇÃO
Art. 206 - Recrutar trabalhadores, mediante fraude, com o fim de levá-los para território estrangeiro.
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos e multa.
A objetividade jurídica trata-se de interesse estatal na permanência do trabalhador no País.
• RECRUTAR: atrair, aliciar, seduzir.
Não é suficiente a emigração, deve haver o aliciamento, a fraude, o sujeito passivo deve
enganar os trabalhadores para que saiam do Brasil.
Se for dentro do Brasil e um local para o outro não haverá este delito, mas o descrito no art. 207,
CP.
ART. 207 – ALICIAMENTO DE
TRABALHADORES DE UM LOCAL PARA
OUTRO DO TERRITÓRIO NACIONAL
ALICIAMENTO DE TRABALHADORES DE UM LOCAL PARA OUTRO DO
TERRITÓRIO NACIONAL
Art. 207 - Aliciar trabalhadores, com o fim de levá-los de uma para outra
localidade do território nacional:
Pena - detenção de um a três anos, e multa.
§ 1º Incorre na mesma pena quem recrutar trabalhadores fora da localidade de
execução do trabalho, dentro do território nacional, mediante fraude ou cobrança de
qualquer quantia do trabalhador, ou, ainda, não assegurar condições do seu retorno
ao local de origem.
§ 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço se a vítima é menor de
dezoito anos, idosa, gestante, indígena ou portadora de deficiência física ou mental.
ART. 207 – ALICIAMENTO DE
TRABALHADORES DE UM LOCAL PARA
OUTRO DO TERRITÓRIO NACIONAL
• Aqui há o interesse jurídico do Estado como objetividade jurídica.
• O que se tutela é o equilíbrio populacional, pois a mudança dos
trabalhadores causam desajuste social e econômico.
• Mesmo que não ocorra a migração o mero aliciamento já é crime. (crime
formal).
• Foi acrescentado a este artigo a figura do recrutamento de trabalhadores,
que não exige o aliciamento, protege o trabalhador para que não seja
explorado economicamente para obtenção de trabalho.
ART. 149 - CONDIÇÃO ANÁLOGA
À DE ESCRAVO
A CF 1988 – art. 5º, III e XLVII, assegura que ninguém será submetido a
tratamento desumano ou degradante, e também não haverá trabalho forçado. E,
ainda no art. 6º estabelece que o trabalho é um direito social e um dos princípios
basilares da ordem social. Dispõe, ainda, em seus artigos 193 e 170 que sua
valorização é fundante da ordem econômica, visando assegurar a todos, sem
distinção, uma existência digna em conformidade com os ditames da justiça social.
O trabalho humano é indispensável para a dignidade do ser humano e tem
passado por várias transformações ao longo da história mundial. No Brasil, a partir da
promulgação da CF 1988, passamos a contar com a valorização do trabalho e como
conquista dessa valorização, o trabalho adquiriu status de direito e garantia
fundamental dentro do Estado Democrático de Direito.
ART. 149 - CONDIÇÃO ANÁLOGA
À DE ESCRAVO
• CF: REGRAS – VALORIZAÇÃO TRABALHO – COMBATE À PRÁTICA DO
TRABALHO ANÁLOGO À ESCRAVIDÃO
Art. 1º/CF - A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos
Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de
Direito e tem como fundamentos: II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; e
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
Art. 3º/CF - Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I -
construir uma sociedade livre, justa e solidária; III - erradicar a pobreza e a
marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; e IV - promover o bem
de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas
de discriminação.
ART. 149 - CONDIÇÃO ANÁLOGA
À DE ESCRAVO
Art. 4º/CF - A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações
internacionais pelos seguintes princípios: II - prevalência dos direitos
humanos;
Art. 5º/CF - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País
a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: III - ninguém será submetido a tortura
nem a tratamento desumano ou degradante;
ART. 149 - CONDIÇÃO ANÁLOGA
À DE ESCRAVO
Art. 7º/CF - São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que
visem à melhoria de sua condição social:
XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde,
higiene e segurança; e
XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir
a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa.
Art. 170/CF - A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e
na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os
ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: III - função social da
propriedade;
ART. 149 - CONDIÇÃO ANÁLOGA
À DE ESCRAVO
Art. 186/CF - A função social é cumprida quando a propriedade rural atende,
simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em
lei, aos seguintes requisitos: III - observância das disposições que regulam as
relações de trabalho; e IV - exploração que favoreça o bem-estar dos
proprietários e dos trabalhadores.
Art. 193/CF - A ordem social tem como base o primado do trabalho, e como
objetivo o bem-estar e a justiça sociais
ART. 149 - CONDIÇÃO ANÁLOGA
À DE ESCRAVO
Ao mesmo tempo que o trabalho é valorizado e possui status constitucional,
surgem vários problemas, entre eles, o trabalho análogo a de escravo, numa das
forma de degradação do trabalho e que ofende diretamente os princípios
constitucionais voltados à dignidade da pessoa humana.
O fator determinante para caracterizar trabalho escravo é o cerceamento da
liberdade. A utilização do trabalho análogo ao de escravo ofende o interesse difuso
nas relações trabalhistas, violando o ordenamento jurídico e a dignidade humana.
O reconhecimento oficial do trabalho análogo ao de escravo no Brasil se deu
efetivamente em 1995, em decorrência das inúmeras denuncias ao Comitê da OIT e
apesar do longo histórico de violações, o Brasil, no cenário mundial, foi um dos
primeiros países a assumir internacionalmente a existência da escravidão
contemporânea.
ART. 149 - CONDIÇÃO ANÁLOGA
À DE ESCRAVO
Antes de 2003, a redação do artigo apenas estipulava o tipo penal sem dar-
lhe definição de sua ocorrência, considerava-se, portanto, um tipo aberto devido
ao alto grau de sua generalidade.
Mas com a nova redação o artigo 149, CP há a indicação das hipóteses de
ocorrência e configuração do que seja condição análoga à de escravo.
Observe-se que não temos o crime de trabalho escravo, porque não
reconhecemos a figura do “escravo” nem do “crime de escravidão” mas
somente a redução à condição análoga à de escravo.
ART. 149 - CONDIÇÃO ANÁLOGA
À DE ESCRAVO
Art. 149 - Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer
submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, que sujeitando-o
a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio,
sua locomoção em razão de dívida contraída com empregador ou preposto.
Elementos trazidos de forma exaustiva (não exemplificativa) – análise
CRITICA!
• JORNADA EXAUSTIVA: é o período de trabalho diário que foge à regras da
legislação trabalhista, exaurindo o trabalhador, independentemente do
pagamento de horas extras ou qualquer tipo de compensação.
ART. 149 - CONDIÇÃO ANÁLOGA
À DE ESCRAVO
Necessário se faz o descumprimento da legislação trabalhista e para que
se configure o trabalho em condições degradantes, faz-se necessário apurar-se
o grau de insalubridade e periculosidade a que o obreiro se encontra exposto.
A legislação do artigo 149 do CP é mais abrangente do que a prevista na
Convenção n 29 da OIT, quando amplia o conceito de trabalho em condições de
escravidão e não se limita a dar um enfoque de cerceio de liberdade do
trabalhador e da liberdade da pessoa humana do trabalhador, posto que, o
trabalhador ao estar em condições laborais degradantes tem afetação de sua
dignidade humana.
ART. 149 - CONDIÇÃO ANÁLOGA
À DE ESCRAVO
O artigo 149, CP ficaria melhor inserido no capítulo que trata dos crimes
contra organização do trabalho, ainda que a tipificação atente contra a liberdade
individual, posto que, a nova redação dada em 2003 faz incidir as expressões
“empregador”, “trabalhador”, “trabalhos forçados” e “jornadas exaustivas”.
Ou seja, as condutas descritas na lei penal, quando ocorridas, denotam a
existência de exploração abusiva da força de trabalho.
ART. 299 – FALSIDADE
IDEOLÓGICA
FALSIDADE IDEOLÓGICA
Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele
devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da
que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou
alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e
reclusão de um a três anos, e multa, se o documento é particular.
Ocorre quando o empregador deixa de assinar a CTPS do obreiro
caracterizando assim, omissão de declaração com o fim de prejudicar direito ou criar
obrigação.
ART. 216-A – ASSÉDIO SEXUAL
ASSÉDIO SEXUAL
Art. 216-A - Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou
favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior
hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou
função.
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos.
• Aurélio: Assédio é a insistência importuna, junto de alguém, com perguntas,
propostas, pretensões, etc” – vinculado direta e exclusivamente ao sujeito
ativo do ilícito.(diferente de “flerte”).
ART. 216-A – ASSÉDIO SEXUAL
• Houaiss: Constrangimento é a violência física ou moral exercida contra alguém;
Coação situação moralmente desconfortável; embaraço, vergonha, vexame, falta
de coragem diante de outras pessoas; acanhamento, encabulamento, timidez;
algo desagradável que não se pode evitar, aborrecimento, descontentamento” –
elemento circunstancial da conduta do agente agressor que pode e deve ser
analisado em conjunto com o comportamento do pretenso ofendido para se
concluir pela caracterização ou não do delito.
Observe-se que mesmo com o advento da Lei 10.224/2001 que introduz no
Código Penal o artigo 216-A, caput, as ocorrências têm sido resolvidas no âmbito
civil, trabalhista ou administrativo, ante as dificuldades na realização da prova na
esfera criminal.
ART. 216-A – ASSÉDIO SEXUAL
A posição de quem assedia é determinante na caracterização do assédio,
posto que haverá o abuso do poder deixando o assediado em posição
desconfortável e sem condições de reagir às propostas efetivadas ou
insinuadas.
O assédio sexual resolve-se em reiterados constrangimentos que não
precisam ser diários, mas, constantes.
Não é necessário que a vantagem, entendida como proveito ou algum
favorecimento, agrado, sexual seja consumado, mas que seja o assediado
importunado por ações, gestos ou palavras oral ou escrita.
É nesse momento que se dá o assédio sexual.(crime formal)
ART. 216-A – ASSÉDIO SEXUAL
Observe-se que o assédio sexual prejudica a imagem do empregador e compromete sua
produção e resultado e poderá ser responsabilizado civilmente com a condenação judicial por
dano moral resultado de assédio sexual praticado por seu preposto.
A providência imediata, uma vez constatado o fato, é a dispensa do empregado
assediador, por ter cometido ato de incontinência de conduta, previsto no art. 482, b, da CLT, ou
seja, conduta de vida irregular, imoral, desonesta ou de má fé, comprometedora, capaz de
quebrar o respeito e a confiança, incompatível com o comportamento que deve ser do
empregado ou de qualquer cidadão, necessários para a manutenção do contrato de trabalho.
Já ao assediado é facultado rescindir indiretamente o contrato de trabalho sob o
argumento jurídico de que o empregador, por si ou por seu preposto, praticou ato lesivo a sua
honra ou boa fama (art, 4863, letra e), pleiteando o pagamento das verbas rescisórias tal como
se demitido fosse, bem como, por ferir o assédio sexual seu direito subjetivo confere-lhe, daí,
direito à indenização civil.
ART. 49/CLT E 299/CP –
ANOTAÇÃO EM CTPS
CTPS: é documento de extrema relevância – identificação profissional –
comprovação do contrato de trabalho e tempo de serviço.
Uma vez apresentada a CTPS o empregador tem o prazo de 48 horas para
anotar a data de admissão, a remuneração e as condições especiais, se
houver (art. 29, CLT) - sob pena de lavratura de auto de infração pelo Auditor
Fiscal do Trabalho.
A CLT dispõe que para efeitos de emissão, substituição ou anotação de
CTPS deve-se considerar como crime de falsidade, com as penalidades
previstas no art. 299, CP.
ART. 49/CLT E 299/CP –
ANOTAÇÃO EM CTPS
Art. 49 - Para os efeitos da emissão, substituição ou anotação de Carteiras de Trabalho e
Previdência Social, considerar-se-á, crime de falsidade, com as penalidades previstas no art.
299 do Código Penal :
I - Fazer, no todo ou em parte, qualquer documento falso ou alterar o verdadeiro;
II - Afirmar falsamente a sua própria identidade, filiação, lugar de nascimento, residência,
profissão ou estado civil e beneficiários, ou atestar os de outra pessoa;
III - Servir-se de documentos, por qualquer forma falsificados;
IV - falsificar, fabricando ou alterando, ou vender, usar ou possuir Carteira de Trabalho e
Previdência Social assim alteradas;
V - Anotar dolosamente em Carteira de Trabalho e Previdência Social ou registro de
empregado, ou confessar ou declarar em juízo ou fora dele, data de admissão em emprego
diversa da verdadeira.
ART. 49/CLT E 299/CP –
ANOTAÇÃO EM CTPS
art. 299, CP: Omitir, em documento público ou particular,
declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir
declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim
de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre
fato juridicamente relevante:
Pena: reclusão de 1 a 5 anos, e multa, se o documento é público,
e reclusão de 1 a 3 anos, e multa, se o documento é particular.
ART. 49/CLT E 297/CP –
ANOTAÇÃO EM CTPS
De forma mais específica, como se observa do artigo 297, § 4º,, CP, em tese, a omissão na
CTPS da vigência do contrato de trabalho é considerada crime de falsificação de documento público,
com previsão de pena de reclusão, de 2 a 6 anos e multa.
Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público
verdadeiro:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
§ 1º - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se
a pena de sexta parte.
§ 2º - Para os efeitos penais, equiparam-se a documento público o emanado de entidade
paraestatal, o título ao portador ou transmissível por endosso, as ações de sociedade comercial, os
livros mercantis e o testamento particular.
§ 3o Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz inserir:
ART. 49/CLT E 297/CP –
ANOTAÇÃO EM CTPS
I – na folha de pagamento ou em documento de informações que seja destinado a fazer prova
perante a previdência social, pessoa que não possua a qualidade de segurado obrigatório;
II – na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empregado ou em documento que deva
produzir efeito perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter sido escrita;
III – em documento contábil ou em qualquer outro documento relacionado com as obrigações da
empresa perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter constado.
§ 4o Nas mesmas penas incorre quem omite, nos documentos mencionados no § 3o, nome do
segurado e seus dados pessoais, a remuneração, a vigência do contrato de trabalho ou de prestação de
serviços.
ART. 49/CLT E 299/CP –
ANOTAÇÃO EM CTPS
Não se trata de crime contra organização do trabalho mas crime contra fé
pública (bem jurídico tutelado), mais especificamente de falsidade documental e
ideológica.
OBS IMPORTANTE: Súmula 62 do STJ previa que “Compete a Justiça
Estadual processar e julgar o crime de falsa anotação na Carteira de Trabalho e
Previdência Social, atribuído a empresa privada” – Entendimento SUPERADO –
pois esse crime envolve interesse da Previdência Social, mais especificamente
da autarquia previdenciária INSS, integrante da administração federal indireta –
falsificação de DOCUMENTO PÚBLICO – competência JUSTIÇA FEDERAL.
TESTE DE GRAVIDEZ
Sob pena de caracterizar-se discriminação, é vedado às empresas, por
expressas previsão legal, exigir testes de gravidez de suas empregadas durante
os exames admissionais ou ao longo do contrato de trabalho. Lei 9.029/95 (Lei
Benedita da Silva)
Art. 1º - É proibida a adoção de qualquer prática discriminatória e limitativa
para efeito de acesso à relação de trabalho, ou de sua manutenção, por
motivo de sexo, origem, raça, cor, estado civil, situação familiar, deficiência,
reabilitação profissional, idade, entre outros, ressalvadas, nesse caso, as
hipóteses de proteção à criança e ao adolescente previstas no inciso XXXIII
do art. 7o da Constituição Federal.
TESTE DE GRAVIDEZ
Art. 2º Constituem crime as seguintes práticas discriminatórias:
I - a exigência de teste, exame, perícia, laudo, atestado, declaração ou qualquer
outro procedimento relativo à esterilização ou a estado de gravidez;
II - a adoção de quaisquer medidas, de iniciativa do empregador, que configurem;
a) indução ou instigamento à esterilização genética;
b) promoção do controle de natalidade, assim não considerado o oferecimento de
serviços e de aconselhamento ou planejamento familiar, realizados através de instituições
públicas ou privadas, submetidas às normas do Sistema Único de Saúde (SUS).
Pena: detenção de um a dois anos e multa.
TESTE DE GRAVIDEZ
Parágrafo único. São sujeitos ativos dos crimes a que se refere este
artigo:
I - a pessoa física empregadora;
II - o representante legal do empregador, como definido na legislação
trabalhista;
III - o dirigente, direto ou por delegação, de órgãos públicos e entidades
das administrações públicas direta, indireta e fundacional de qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
TESTE DE GRAVIDEZ
Neste sentido, também a CLT prevê no art. 373-A:
Art. 373-A - Ressalvadas as disposições legais destinadas a corrigir as
distorções que afetam o acesso da mulher ao mercado de trabalho e certas
especificidades estabelecidas nos acordos trabalhistas, é vedado:
IV - exigir atestado ou exame, de qualquer natureza, para comprovação de
esterilidade ou gravidez, na admissão ou permanência no emprego;
TESTE DE GRAVIDEZ
• Pacífico que não pode exigir: ADMISSIONAL e DURANTE o CONTRATO
• Dúvida: DEMISSIONAL? – falta disposição expressa!!!!
• Favor: interpretação estrita da Lei 9.029/95 – o dispositivo não se manifesta
de forma expressa sobre a proibição da solicitação de teste de gravidez no
ato de demissão da empregada. Assim, poderia o empregador solicitar o
teste no exame demissional, com o objetivo de evitar futuras ações judiciais,
já que a gestante tem estabilidade garantida desde a concepção até cinco
meses após o nascimento de seu filho.
TESTE DE GRAVIDEZ
• Contra: Trata-se de atitude discriminatória, pois o procedimento é uma violação da
intimidade e da privacidade da empregada, mesmo que no momento da demissão.
• Observe-se que para realização:
a) deve haver a concordância da empregada em fazer;
b) manifestação seja reduzida a termo;
c) exame deve ser custeado pela empresa;
d) resultado seja mantido restrito ao empregador e empregada;
e) que a solicitação de exame esteja no plano de demissão da empresa como
opcional e extensivo a todas as empregadas que se desligarem da companhia.
Recommended