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Adolfo Becker
Albertina Borges De Sampaio
Arlete Brasil
Bernadete Suili Kulaitis
Catarina Scabeni
Clarinda Dinamarquez Kulaitis
Eva Rodrigues Roden
Josefina Prestes
Autores
2
Adriele Barbosa Paisca
Ana Cristina Guarinello
Ana Paula Pinto
Fabiana de Cassia Gryczak
Fabiane Kupicki
Jéssica Spricigo Malisky
Luciane Carlin Cazzaroto
Maria Cristina Miiller Chaves
Mariana Furquim de Azevedo
Michéli Rodrigues da Rosa
Natália Ferreira Lima
Rayssa Thayana Golinelli
Renata Rodrigues dos Santos
Stefany Teodoro
Agradecimentos
3
É com satisfação que estamos lançando o primeiro ebook do grupo de
idosos que compõe a Oficina da Linguagem da Universidade Tuiuti do
Paraná. Esse grupo, que desenvolveu no ano de 2016, atividades orais, de
leitura e de escrita em torno de uma temática que envolve nuances da
velhice, pôde nos presentar com uma obra inovadora, a qual vincula o uso
de novas tecnologias computacionais com processos singulares de
envelhecimento.
Inicialmente queremos compartilhar com vocês, ainda que de forma breve, a
história dessa Oficina. Ela nasceu, em 2006, quando um grupo de pessoas
idosas explicitou o desejo de contar suas histórias de vida. Esse desejo, de
tão genuíno, nos contagiou e nos brindou com a organização de um trabalho
que tem sido reconhecido como Oficina da Linguagem. Por meio dele,
ouvimos diversos relatos pessoais, que têm nos levado a refletir sobre a
necessidade de a velhice ser ressignificada. Pois, só assim ela – a velhice -
poderá se mostrar em sua plenitude, sem que dela seja subtraída ou
acrescentada nada além do que as possibilidades e as dificuldades inerentes
à própria existência. Em outras palavras, trata-se de um trabalho que nos
permite entender a velhice como uma parte da vida que envolve dilemas,
contradições, regozijo e desejo! Sim, os mais velhos continuam a viver como
qualquer pessoa desejante!
Desde 2006, já se passou uma década, na qual acompanhamos muitos
relatos recheados de conteúdos vivenciais, que foram registrados em mais
de dez livros, os quais reuniram escritas de narrativas pessoais em torno de
assuntos diversos: músicas, imagens fotográficas, memórias, brincadeiras
de infância, entre tantos outros.
Apresentação
4
Esses livros foram elaborados por pessoas interessadas em deixar um
legado a quem se interessar pelo elo que une, de forma inexorável, passado,
presente e futuro!
Especificamente no ano de 2016, o grupo de idosos escreveu um ebook
intitulado Dê trela para a velhice. Durante a elaboração dessa obra, tivemos a
satisfação de acompanhar a trajetória de oito pessoas, com 60, 70, 80, quase
noventa anos, querendo trilhar as novidades das tecnologias atuais. Sim,
partiu do próprio grupo a vontade de se aventurar pela trilha dos recursos
computacionais e, assim, registrar dados da própria velhice!
Chama atenção o título dado a obra - Dê trela para a velhice - que
convém repetir, pelo próprio convite endereçado a você leitor. Sim, deixe o
velho falar, dê ouvidos a ele, a esse outro que é tão caro a nossa própria
existência, pois nos permite entender que, em cada um de nós convive a
criança, o adulto e o velho, unindo os desejos de ontem, de hoje e de
amanhã.
Esperamos que esse livro também te convide a uma reflexão capaz de
te permitir dar trela para as muitas velhices que fazem parte do teu cotidiano!
Boa leitura!
Giselle Massi.
Curitiba, dezembro de 2016.
5
Dê Trela para Velhice
Alongue o seu sorriso.
Sorria o dia inteiro.
Abra bem os braços. Me dê um abraço.
Não me deixe de lado.
Gire com cuidado o pescoço.
Olhe para mim seu moço.
Não sou invisível.
Faça uma caminhada em minha direção.
Me de a mão.
É hora de repouso. Sente‐se ao meu lado.
Me ouça por favor.
Fale com cuidado quando se referir á mim.
Á velhice.
Hoje é uma velha que está sentada aqui.
Amanhã poderá ser sua vez.
Então! Por que não dar trela pra mim?
Tarde fria com tons de cinza.
Clarinda Dinamarquez Kulaitis.
Prefácio
6
1. As imagens da nossa velhice.....................................................8
2. As imagens de nossos desejos.................................................25
3. As imagens de nossa juventude................................................41
4. Nossa velhice registrada...........................................................57
5. Exposição dos objetos que remetem aos nossos desejos,
velhice e juventude.......................................................................77
Sumário
7
8
Adolfo Becker
Escadaria
Lembra-me os degraus da vida que já vivi e que quero continuar
subindo as escadas da vida, em cada degrau tem uma história, um
amadurecimento. Um degrau da escada é a família, a liberdade que
a vida me deu.
As imagens da nossa velhice
9
Adolfo Becker
Degraus da vida
Essa foto representa os degraus da vida (decrescente). Já subi
até o topo dos degraus, mas agora estou descendo. Descendo que
eu digo, no sentido da minha idade, mas referente o conhecimento,
eu só tenho a subir e ganhar.
10
As imagens da nossa velhice
11
As imagens da nossa velhice
Albertina Borges De Sampaio
Saudades
Lembrança da chácara onde morava, vontade de voltar para visitar. Gostaria de terminar a vida no local de minha infância
12
As imagens da nossa velhice
13
As imagens da nossa velhice
14
As imagens da nossa velhice
Bernadete Suili Kulaitis
O pinheiro
Pinheiro, símbolo da fertilidade, uma árvore linda, produtiva. Quanto
mais velha, mais bonita, e é assim que eu quero ser, além de
remeter o envelhecer, também está relacionado com o meu desejo,
que é nunca deixar de produzir. Sempre buscar coisas novas, ou
seja, não se acomodar, porque a vida tem muito pra oferecer,
quanto mais vivemos mais a gente aprende. Depois que envelheci
passei além de desejante, sou desejada, pois adoro viver minha
independência. Meu objetivo é fazer com que as pessoas se
gostem e que têm seu valor.
15
As imagens da nossa velhice
Bernadete Suili Kulaitis
Araucária
Verde muito verde, isso é vida, respirar ar puro, ao fundo uma
Araucária que quanto mais velha mais bonita fica.
Na minha opinião a velhice é como o pinheiro que quanto mais
velho mais bonito fica. 16
As imagens da nossa velhice
Catarina Scabeni
Mesa e livros
A mesa representa a velhice porque é durante as refeições que são
lembrados os pratos gostosos que mamãe e vovó faziam …. Os
livros registram acontecimentos antigos histórias do começo do
mundo desde adão e eva.
17
As imagens da nossa velhice
Clarinda Dinamarquez Kulaitis
Mistérios
“Silêncio” me lembra algo misterioso, como códigos e segredos.
Todos nós temos algo só nosso, fechado a sete chaves; são os
nossos segredos. Eu, idosa, sou um cofre de segredos.
18
As imagens da nossa velhice
Clarinda Dinamarquez Kulaitis
Mapa da trajetória da minha vida.
No dia do meu aniversário de 80 anos, como em todas as festas,
não podia faltar o fotógrafo para registrar tudo para a posteridade.
E ele estava lá. Meu filho Fernando procurando os melhores
ângulos e os momentos mais expressivos.
Não sou fotogênica, mas até que me sai bem na maioria delas,
graças ao esforço e a arte do fotógrafo.
Uma delas chamou a atenção pela expressão do meu rosto
sorridente, mas marcado pelo tempo. Como não tenho posses
para fazer uma plástica, ali está ao vivo e a cores o mapa da
trajetória da minha vida, todo amassado e enrugado.
Disse comigo mesma – Que bom! Envelheci e não vi!
19
As imagens da nossa velhice
Observei de perto, até com a ajuda de uma lupa, no alto notei minha frente
um tanto áspera, lembrando o deserto, não tão vasto como o Saara, mas o
suficiente para trazer á tona os momentos de solidão ao cair da tarde,
trazendo lembranças de um passado feliz á dois, depois junto á meus
filhos.
Mas minha imaginação, como o mapa do trajeto nas mãos, num piscar de
olhos transforma esse deserto em um vasto jardim florido.
Mais abaixo, vincos profundos que chamei de vale de lágrimas.
São as agruras da vida, mas num repente minha copilota (imaginação)
transformou num lindo lago azul, refletindo um pouco do brilho dos meus
olhos, também azuis.
Subindo a serra encontrei montanhas insoladas, no alto de minhas
bochechas. Ai é o monte Tabor. Lembra toas as alegrias da minha vida que
colocadas numa balança somam muito mais que tristezas e magoas já
perdoadas e esquecidas.
Se possível fosse, voltaria no tempo a beijaria á vida e as mãos que me
fustigaram na infância e adolescência.
Hoje, sinto muito orgulho de toda minha trajetória vivida e da pessoa que
me tornei.
20
As imagens da nossa velhice
Eva Rodrigues Roden
Mirante
Continuando o passeio pela a universidade chegamos ao mirante.
Senti uma emoção ao olhar ao longe e ver que o velho se mistura
com o novo e que, apesar dos anos terem passado, as lembranças
do antigo tem que se misturar com a modernidade.
21
As imagens da nossa velhice
Eva Rodrigues Roden
Passos que eu já dei
Olhando esse caminho me vêm à mente os anos que já vivi, que
por sinal foram bem vividos. Nesse caminho estou deixando as
coisas que já se foram como boas e ruins, mas que não impedem
uma velhice cheia de sonhos e histórias para contar.
22
As imagens da nossa velhice
Josefina Prestes
Inverno maravilhoso
Curtindo a terceira idade com muita alegria e com um sorriso
enorme no rosto! Apesar do frio nesse dia, estava aproveitando
muito o passeio.
23
As imagens da nossa velhice
Josefina Prestes
Recordando o passado
Esta foto me trás a sensação de paz, liberdade, tranquilidade e
saúde. Gosto de muito de passar meu tempo lidando com as
plantas, aonde tenho muito prazer e satisfação
24
As imagens da nossa velhice
25
Adolfo Becker
Mirante
Ver o horizonte, a beleza da natureza, isso me faz lembrar-me da
liberdade da minha infância e é o que busco do futuro, a liberdade.
Pois somos de nós mais velhos que buscamos a sabedoria.
26
As imagens de nossos desejos
Adolfo Becker
Recordações da juventude
Meu desejo é continuar com saúde, dando amor e recebendo
amor, contando com a compreensão de cada um.
Que esse grupo “oficina da linguagem”, assim como a vida,
cresça sempre no aspecto de confiança e fidelidade, porque amor já
temos uns pelos outros.
27
As imagens de nossos desejos
Albertina Borges De Sampaio
Superação
Eu tinha a impressão de que não conheceria uma faculdade e hoje
estou emocionada em estar aqui.
28
As imagens de nossos desejos
29
As imagens de nossos desejos
Arlete Brasil
Além do horizonte
O meu desejo é ser feliz. Esta imagem representa a felicidade, me
sinto feliz em tirar fotografia. Olhando esta paisagem sinto sensação
de liberdade. Ao olhar para o universo você se sente feliz, o
pensamento é outro. Uma sensação boa.
30
As imagens de nossos desejos
31
As imagens de nossos desejos
Bernadete Suili Kulaitis
O pinheiro
Desejo envelhecer como um pinheiro, quanto mais velho fica mais belo, frondoso e firme.
32
As imagens de nossos desejos
Bernadete Suili Kulaitis
Qualidade de vida
Nessa foto lembro-me do ar puro que sempre respirei na minha
juventude, pois sempre estive cercada de árvores, e desejo
continuar tendo esse ar puro. 33
As imagens de nossos desejos
Catarina Scabeni
Árvore
O desejo é que mundo seja como uma arvore no meio de um
jardim cheio de flores dando frutas para todos onde não haja
discriminação nem corrupção e maus tratos mas muito respeito e
amor.
34
As imagens de nossos desejos
Clarinda Dinamarquez Kulaitis
Bicho papão com o click na mão
A tecnologia para os jovens é a maravilha do século. Nascem já
favorecidos pela ciência que veio para ficar, evoluir e facilitar a vida
humana. Já para muitos idosos, a tecnologia é um “bicho papão
com o click na mão”. Mas não deixa de ser uma maravilha, um
quase milagre, fruto de um processo histórico evolutivo. Por muito
tempo relutei, mas aceitei e hoje, já uso essa tecnologia colocando
em redes sociais poemas de autoria própria, incentivando a alegria
e felicidade que é a minha missão: ser feliz e fazer o outro feliz.
35
As imagens de nossos desejos
Clarinda Dinamarquez Kulaitis
Abra suas asas
Desejo ser feliz e fazer o outro feliz. Sou uma pessoa muito feliz
porque consegui realizar o meu maior sonho que era de ser mãe.
Como sou feliz tenho desejo e missão de auxiliar de todas as
maneiras as pessoas enviadas por Deus que se apresentam em
minha frente.
36
As imagens de nossos desejos
Eva Rodrigues Roden
Renascendo no grupo
Alguém ali podia estar representando uma alegria, uma paz, por ter
por uma hora e meia vivido com intensidade? Sem Whatsapp, sem
telefone, uma ouvindo a outra, numa mistura de velhos e jovens,
com sonhos e desejos. E ai vem à pergunta, o que desejo daí para
frente? Tenho muitos desejos: até na vida profissional, pois sei que
posso produzir muito ainda. Mas o maior desejo, é que essas
jovens que estão nos acompanhando lembre-se que o tempo, é
sempre o tempo presente.
37
As imagens de nossos desejos
Eva Rodrigues Roden
O tempo ensina
Em meio as minhas vontades na velhice, tenho desejo da preservação da natureza e o sonho de que meus netos e bisnetos
possam um dia conhecer e viver em lugares como esse, onde nossa alegria pode ser renovada, traz um novo ardor pela vida, à vontade de viver onde não se ache que está perdendo tempo em
um passeio como esse.
38
As imagens de nossos desejos
Josefina Prestes
Autoestima
Meu desejo é ter um grande jardim! E ainda, se possível, uma
floricultura! Também desejo muita cor e alegria em minha vida.
39
As imagens de nossos desejos
Josefina Prestes
Reflexo da natureza
Desejo muitas viagens, passeios, continuar com saúde até o fim da
vida, para poder ver meus netos crescerem, curtir tudo que a vida
pode me proporcionar. Fazendo com que minha velhice seja
aproveitada da melhor maneira possível, com a presença da minha
família e fazendo o que gosto.
40
As imagens de nossos desejos
41
Adolfo Becker
Carteira antiga
Lembra a minha infância, onde estudei as carteiras eram assim,
tinha um tintureiro onde molhava a caneta na tinta e escrevia, os
professores ditavam e as provas vinham de outros professores de
outros municípios e tínhamos medo de reprovar. Fomos criados
constrangidos na escola e em casa porque, além de estudar,
tínhamos que trabalhar. Trabalhávamos com porcos, batatas, mas
não fui criado pra matar bicho, sentia muita pena.
42
As imagens de nossa juventude
Adolfo Becker
A pose
Essa foto me remeteu a juventude, o tempo que eu trabalhava na
agricultura, até meus 24 anos. A pose da foto foi feita em
homenagem ao “jeca tatu”, muito conhecido por suas histórias. A
vida foi sofrida, mas tínhamos liberdade, não como hoje, que as
más intenções perduram. Era menos violência, um ar mais puro. 43
As imagens de nossa juventude
Albertina Borges De Sampaio
Voltando a ser jovem
Essa foto mostra que eu consegui superar o desejo de conhecer
uma universidade, pois hoje eu frequento a oficina da linguagem da
Universidade Tuiuti do Paraná.
As imagens de nossa juventude
Albertina Borges De Sampaio
Lembrança de brincadeiras na minha infância.
45
As imagens de nossa juventude
Arlete Brasil
Felicidade é o espirito da vida!
46
As imagens de nossa juventude
Arlete Brasil
Vida!
47
As imagens de nossa juventude
Bernadete Suili Kulaitis
Saudades
Este guarda-pó branquinho e engomado era o estilo de uniforme
escolar da época, nos idos dos meus 7 anos, linda, iniciei a minha
jornada escolar, 1° ano primário no Grupo Escolar das Mercês, que
mais tarde passou a se chamar Rosa Saporski. Que me fez lembrar
a primeira professora Glades que me lembro dela ate hoje, nunca
esqueci essa mulher, ela era linda e foi ela que me alfabetizou. A
partir de então minha paixão pela alfabetização foi crescendo e,
então na minha juventude virei professora, onde retornei a usá-lo.
48
As imagens de nossa juventude
Bernadete Suili Kulaitis
Saudade
Essa fotografia lembra o quintal da casa de minha avó paterna,
pois lá tinha um rio no qual brinquei muito e tinham muitas árvores.
Que saudades daquele tempo! 49
As imagens de nossa juventude
Catarina Scaloni
Fios
Porque na juventude andamos sobre os fios e vemos tudo colorido.
É fácil de resolver.
50
As imagens de nossa juventude
Clarinda Dinamarquez Kulaitis
A mescla
A nossa existência é contada em anos. No meu caso 84 anos. Já
para chegar ao alto do mirante, são degraus. É maravilhosa a visão
panorâmica do local que lembram os tempos áureos da minha
juventude. Grandes edifícios compartilham o espaço com casas
simples de antigos moradores. É uma mescla do velho e do novo.
51
As imagens de nossa juventude
Clarinda Dinamarquez Kulaitis
Medo X coragem
Essa foto lembra um pouco do sofrimento que passei na minha
adolescência quando órfã de pai e mãe, interna em um colégio,
rejeitada pelas colegas que eram ricas e não trabalhavam no
trabalho escravo como eu precisava fazer. Até certo ponto a minha
vida era como esconderijo, na escuridão como um oco de uma
árvore, mas consegui transformar mágoas e sofrimentos da minha
infância e de todo o meu passado em lixo reciclável e fertilizante
que só me deixou mais forte, guerreira, combativa, perspicaz e
saudável.
52
As imagens de nossa juventude
Eva Rodrigues Roden
Livros e carteiras
Remetem-me a juventude, porque senti que o conhecimento e a
vivência de hoje não precisa de diploma ou de certificado, pois as
lembranças da minha juventude fluirão naturalmente ao ver as
carteiras antigas, livros e a organização. Embora tenha mexido com
meu íntimo, pois gostaria de ter cursado uma graduação e por falta
de oportunidade não foi possível, mas nem por isso deixei para trás
o gosto pela leitura e a vontade de buscar sempre saber mais.
53
As imagens de nossa juventude
Eva Rodrigues Roden
Espelho
Na minha juventude eu ia até a casa de minha avó e lá tinha muitas
biqueiras de água que eram usadas para brincar e para consumo,
como lavar roupa. Era uma água pura e o som da água caindo da
biqueira me traz todas essas lembranças, mexendo com os
momentos vividos na adolescência e juventude.
54
As imagens de nossa juventude
Josefina Prestes
Matando a saudade
Essa imagem me remete a juventude, pois me lembro de que em
minha época as pessoas faziam filas para usar os telefones
públicos. E eu sempre enfrentava essa fila para poder conversar
com as pessoas que eu tinha saudades.
55
As imagens de nossa juventude
Josefina Prestes
A colônia
Na minha infância, o lugar onde morava era uma colônia de
Russos, onde as casas tinham este estilo. Essa imagem traz a
lembrança da família, do que vivemos neste lugar.
56
As imagens de nossa juventude
57
Adolfo Becker
Com a chegada da velhice as coisas vão mudando, não só na aparência
(a qual eu não me incomodo nenhum pouco). Eu, às vezes, me sinto
deixado de lado, pelo desgaste físico, porque não tenho estrutura física
nem pra arrumar algo em casa e as pessoas também começam a dizer
que isso, e aquilo é “coisa de velho”.
Vivi muito bem até a velhice, mesmo com vários obstáculos. Quando eu
era mais jovem, estudei o quanto eu pude, ajudei meus pais, mas
conforme o tempo foi passando, fui me afastando da convivência familiar
e da sociedade. Não que eu quisesse, mas a vida foi me dando
responsabilidades. Fui me tornando adulto, formando minha família, e
não foi só a vida que mudou, eu também mudei. Com avanço da idade,
eu saio menos de casa, acabo tendo pouco contato com outras pessoas
e, assim, menos diálogo.
Eu, de filho virei tio, pai, sogro e avô. Sou o mesmo Adolfo, o que mudou
foram as relações que eu tinha com as pessoas, pois a vida é uma
corrente de mudança, ela não para independente se as mudanças forem
boas ou ruins. Mas, nunca me esqueci das coisas boas. Temos que
aprender a viver com a mudança, hoje pode ter sido ruim, mas amanhã
pode ser muito bom.
Sinto-me como uma árvore, criei minhas raízes, germinei, dei frutos.
Queria ter tido aos 50 anos o conhecimento que tenho hoje, pois eu teria
feito muita coisa diferente.
58
Nossa velhice registrada
Devemos entender também que todos têm suas responsabilidades,
não tendo tempo de dar atenção ao outro, nossa nação vive com pressa,
mas outros realmente não querem dar atenção, e com o aumento da
tecnologia (Celular, Whatsapp) deixou mais evidente, ainda, a falta de
contato.
Depois dos 50 anos a gente entende que o tempo é precioso,
devemos aproveitar as coisas simples da vida, como um vento, um canto
dos pássaros, um abraço, um beijo, uma boa companhia. Temos que
aprender a ser feliz com o pouco, pois de nada adianta ter muito. Não
fiquei velho me importando com aquisições materiais e bens financeiros,
pois não vou levar nada comigo.
O melhor reconhecimento é ser confiável pelo seu caráter, que é
construído dia a dia, desde uma caneta que você empresta e devolve.
A velhice é boa e eu não esperava que ela fosse assim. E não acho
que a velhice tem seu lado ruim, porque me sinto mais respeitado do que
quando eu era mais novo, e as doenças... Ah! Essas são tanto para os
velhos quanto para os novos.
Estou vivendo a velhice, mas cheguei nela com ótimas histórias do
tempo que eu era jovem, em que sempre tive muito respeito, amor e
carinho aos mais velhos. E, assim, é meu desejo para velhice, que as
pessoas convivam comigo, me aceitem, me respeitem, me deem amor e
carinho.
Quero uma sociedade mais unida e igualitária independente da
idade.
59
Nossa velhice registrada
Albertina Borges De Sampaio
Minha infância não foi nada fácil, nós éramos em sete irmãos. Somente o pai
trabalhava para sustentar a todos nós. Ele ia para a roça e quem ficava
cuidando das crianças era a minha mãe. Quando eu tinha, mais ou menos,
um ano de idade meu pai sofreu um acidente. Então, ficamos dependendo da
ajuda dos tios e vizinhos. Éramos muito unidos, os melhores pedaços do
frango minha mãe guardava para meu pai.
Aí veio o tempo de ir para a escola, não tínhamos dinheiro para comprar
material, íamos descalços. Comíamos o que tinha em casa. Produzíamos
milho, feijão, aipim, trigo, batata doce e arroz. Também criávamos frango,
cabrito e porco.
Com nove anos de idade, saí da escola para cuidar de quatro sobrinhos, para
minha irmã poder trabalhar.
A mãe e o pai ficaram muito felizes quando comecei a trabalhar, pois ajudava
bastante, comprava roupas para todos.
Com meu primeiro namorado, já casei, aos 23 anos.
Depois de um ano, veio o primeiro filho e meu marido passou a frequentar
bares, chegava em casa alcoolizado e quebrava as louças. Muitas vezes,
batia em mim.
Passados anos, tive o meu segundo filho e a minha vida foi trabalhar,
assumindo a responsabilidade da casa e dos filhos.
Agora viúva, com 65 anos, voltei a estudar, concretizando um sonho antigo.
Sinto-me mais leve, pois vivo o presente, livre de cobranças e de certas
responsabilidades.
60
Nossa velhice registrada
Por isso, na velhice, me sinto feliz. Saio, passeio, vou almoçar na
casa de minhas amigas!
Quero superar minhas dificuldades: escutar mais, ser menos ansiosa
e confiar mais.
61
Nossa velhice registrada
Arlete Brasil
Minha mãe, quando soube que estava grávida, ficou feliz da vida! Nasci e,
com meu primeiro choro, todos ficaram felizes. Pois eu era uma menina,
em uma família em que só tinham meninos.
Andei, aprendi a falar, trepei nas árvores, joguei coquinho nos outros...Tive
uma boa infância!
Aí veio a juventude, cresci e vim do nordeste, onde nasci, para o Paraná!
Tive muitos namorados, cada homem lindo!!!!
Aproveitei tudo que pude!
E as maiores alegrias que Deus me deu foram as minhas netas!
Agora, na velhice, é engraçado, pois não consigo me sentir velha, me sinto
jovem, me sinto uma pessoa gostosa!
Eu gosto de mim... Me acho linda e maravilhosa!
Às vezes, me sinto só. Mas, aí lembro que tenho minha amiga Zezinha, que
me faz companhia. Sento, converso com ela e me sinto melhor! Quem é a
Zezinha? Minha bengala! Esse é o nome dela.
Quero saúde e paz, para mim e para os outros. É o que desejo!
E vou chegar aos 100 anos. Uma velha sadia!
62
Nossa velhice registrada
Bernadete Suili Kulaitis
Eu não estou muito preocupada com a velhice. Naturalmente ela chegará,
quero viver intensamente o hoje, pois é agora que estou vivendo, me
exercitando, dançando, caminhando no parque Barigüi, quase todas as
manhãs, das 8 às 10 horas, com sol ou com chuva, isso me faz muito bem,
viver bem fazendo o que gosto.
Essa tal de velhice, melhor idade, que chegue e que me traga muita paz, muita
sorte, saúde, força, vontade de viver e novas experiências!
Faço parte de uma geração que está envelhecendo, graças a Deus, feliz e
muito esperançosa de dias melhores, com muita coisa boa me acontecendo sob
todos os aspectos de vista. Creio nisso. Com muita liberdade, independência
financeira, faço o que quero, se quero. Não preciso dar satisfação para
ninguém, sou dona do meu nariz.
Os filhos, Alber e Adriana, casados, vivendo suas vidas com suas famílias, me
deram 4 netos maravilhosos, uma verdadeira paixão. Aliás, estou vivendo
minha fase de vó, que é encantadora.
Meus netos, Leonardo com 14, Julia 13, Eduardo 9 e o Guilherme 7, não me
deixam namorar. E a última do Eduardo, meu terceiro neto:
Vovó, você pode namorar, eu deixo. Mas tem que achar um namorado velho
como o meu pai.
Hahaha, adorei a permissão, meu filho tem 43 anos. Alguém conhece um
namorado velho assim?
Sinto-me abençoada a agradeço a Deus por cada dia vivido até aqui e quero
mais, uma velhice tranquila.
63
Nossa velhice registrada
Gosto da pessoa que me tornei, pois as experiências de vida só ensinam
e a cada dia você aprende mais.
O envelhecimento te traz mudanças, mutações biológicas visíveis, mas
você entende mais os problemas de todo mundo e tem mais condições de
ajudar com palavras e atos. Você sempre tem uma palavra amiga, na hora
certa. Não basta ficar velho, mas garantir maior longevidade com felicidade e
satisfação com a vida.
A velhice é poder fazer um balanço de tudo que você fez na vida,
podendo contar para os jovens como você chegou até ela. Confesso que não
foi fácil, não, chegar até aqui. Mas cheguei com muito trabalho, esperança e
Deus no coração. Estou caminhando para a felicidade, dias melhores, com
minha vontade de viver, dançar, namorar, fazer novas amizades, caminhar
bastante, viajar, ajudando a cuidar dos meus netos, mas principalmente me
cuidando com alimentação, fazendo muito exercício, controlando as
guloseimas, cultivando uma boa qualidade de vida.
Minha filosofia de vida é ser muito feliz e, assim sendo, distribuir
felicidades mil a quem estiver a minha volta. Acredito que cada um de nós tem
uma missão. Tudo que acontece em nossa vida tem uma razão de ser. Nada
acontece por acaso e envelhecemos, ficamos velhos incríveis, mais libertos,
mais sábios.
Ficar velho, para mim, é um presente que recebemos, como se fosse uma
criança ganhando um brinquedo tão desejado. E, se Deus me deu esse
presente, quero curtí-lo ao máximo, passando para as pessoas que é bom viver
com flacidez, os pneus, os seis caídos, os óculos para leitura, pois não tenho
mais trinta anos e estou envelhecendo com muita sabedoria.
64
Nossa velhice registrada
Enquanto envelheço, me torno mais condescendente com tudo e tendo
mais histórias para contar. Pois, escrevendo sobre a velhice, me lembrei da
linda Rua das Flores, antiga Rua XV, que agora só as pessoas podem passar
por ela. Mas, sou do tempo que passavam carros e ônibus, por ela.
Então, a velha Rua XV é, hoje, a Rua das Flores, o “point” moderno da
minha linda cidade de Curitiba. A Rua das Flores, a famosa e velha Rua XV,
com suas flores, pessoas caminhando, suas lojas, seus restaurantes, seus
artistas de rua, vida, vida e muito bem vivida. Seus bancos de praça, onde
ainda sento para conversar e apreciar o movimento.
Mas quando eu era adolescente, lembro que, por ali, passavam ônibus e
carros. Então, lá se foram cinquenta anos e ELA continua linda, oferecendo o
mesmo prazer e satisfação, quando lá passo..
Por que me lembrei da velha e maravilhosa Rua XV? Porque ela
envelheceu, ficou moderna e proporcionando o mesmo prazer e satisfação, a
mesma alegria de quando era jovem!
65
Nossa velhice registrada
Catarina Scabeni
Que vamos ficar velhos, disso todos nós sabemos! Saber encarar essa
realidade é que é bem complicado. Eu, porém, encaro muito bem.
Não sei se é porque tive muitos momentos bem difíceis na minha
juventude, ou se vem mesmo de família. Do exemplo da minha vó
Francisca, que ficou viúva muito cedo, grávida de 6 meses e com 7 filhos
pequenos para criar.
Nunca mais se casou, viveu 98 anos e não reclamava de nada. Sua maior
alegria era reunir seus netos e bisnetos, oferecendo um docinho que ela
mesma fazia.
Também, o nono Lorenzo e a nona Palmira contavam o que passaram
quando vieram da Itália. O nono Lorenzo, com 10 anos de idade, já tinha
um diploma de sapateiro. Viajaram 6 meses dentro de um navio, sem ter
certeza se iriam chegar no Brasil. Quando conseguiram desembarcar, no
Rio de Janeiro, havia pessoas querendo se jogar no mar, pois faziam três
dias que estavam sem água e sem comida.
O nono não tinha mãe, pois ela havia falecido na Itália e ele veio para o
Brasil, com o pai e duas irmãs. Para piorar a situação, o pai dele faleceu
logo que chegaram aqui.
Mas, mesmo com muitas dificuldades, eles nunca desistiram de lutar
honestamente por seus objetivos. Aceitaram os desafios, confiaram em
Deus e seguiram em frente.
E essa maneira dos meus pais e avós viverem a própria velhice, me
ajudou a encarar bem o meu próprio envelhecimento.
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Nossa velhice registrada
Eu não encaro a velhice como um problema.
Eu digo que envelhecer é uma vitória porque eu consegui ficar velha.
Entendo que, se tenho dificuldade em algumas coisas, isso não é por conta
da velhice. Na juventude também tive muitas dificuldades... Mais do que
uma vez achei que não conseguiria me levantar.
A morte do meu pai, que foi tão novo levado por um câncer no
intestino... Foi terrível... Não tem explicação tamanha perda.
Não recolhi meus cacos, mas sim juntei minhas cinzas para continuar,
pois tinha dois filhos para criar.
A velhice me privou, sim, de algumas coisas, naturalmente: a saúde
debilitou, as forças diminuíram bastante, a agilidade foi para o brejo...
Mas trouxe muitas coisas boas, que hoje posso aproveitar:
experiência, calma, tranquilidade tempo para mim, e o que mais me faz
feliz, minha liberdade.
Confio em Deus e me entrego inteiramente a Ele, aceitando as
transformações da velhice com muita fé e coragem.
Sinceramente sou feliz. Sinto que tenho cumprido bem a minha
missão.
Muito obrigada a todas as pessoas do Grupo da Oficina de
Linguagem onde aprendi muito e me senti muito bem!
Um abraço, com todo o meu carinho.
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Nossa velhice registrada
Clarinda Dinamarquez Kulaitis
O que significa a velhice
A velhice, para mim, é mais um estado de espírito que uma etapa da vida. Os
anos enrugam o rosto. Mas o que faz enrugar a alma é o desgosto, a
depressão, a tristeza. A não aceitação dos limites que a velhice impõe. A
finitude da vida que a criança ignora e passa despercebida ao jovem é
lembrada constantemente à pessoa que avança na idade. Na velhice o
momento urge e o tempo passa. Não é fácil envelhecer, principalmente, se a
saúde for frágil e precisar de cuidados especiais. Mas, se estiver lúcido,
detesta ser infantilizado e detido em seus limites. Ele sabe até onde pode ir.
Dizer que a velhice é a melhor idade é simplesmente simular uma mentira.
É claro que na velhice podemos desfrutar muitas coisas boas. A maioria,
nessa idade, já é aposentada. Sentem-se mais tranquilos e despreocupados
com os filhos, já bem encaminhados na vida. Tem tempo suficiente para
curtir os netos e bisnetos. É quando aparecem as avós corujas e os vovôs
corujões.
É um estágio da vida em que você colhe o que plantou: respeito, amor,
carinho, cuidados, etc. Até certa veneração. Por que não? Tudo isso somado
à experiência e sabedoria que o velho acumulou durante sua existência.
O que desejo na velhice
Desejo ser feliz e fazer o outro feliz.
Praticamente não me falta nada. Sou uma pessoa feliz. Digo pessoa e não
uma velha, porque, por incrível que pareça não me sinto velha, apesar dos
meus 84 anos. 68
Nossa velhice registrada
Entretanto, quando me olho no espelho, percebo a passagem do
tempo.
Mesmo parecendo impossível, consegui realizar meu maior sonho:
ser mãe.
Antes, não sei o porquê, ainda muito jovem e inocente, fui parar lá
no convento. De joelhos repetia o que de cor eu sabia: conjugar o verbo
amar! Amei, amo, amarei!
Cumpri votos, regras, promessas. Fui até santa milagreira. Dei
gargalhadas com as freiras. Mas meu verbo decorei: amei, amo, amarei!
O tempo passou como tudo na vida passa. Meu coração em
pedaços, repetiu o que ele quis: amei, amo, amarei. Até que um dia eu
disse: “basta!”. Arrumei a minha pasta e falei: “fui!”. Agora não só vou
conjugar, mas vou viver o verbo amar. Amei, amo, amarei!
Saí do convento com 35 anos. Casei com 41, tive meu primeiro filho
com 42 e segundo com 44 anos. Vivi 15 anos com o grande amor de
minha vida. Quando ele faleceu, fiquei cuidando dos guris, como ele dizia,
atendendo ao seu pedido.
Tenho dois filhos amados,
Duas noras queridas,
Que me deram lindos netos,
A razão da minha vida.
Creio que, o que eu esperava ter na velhice, eu tenho. Qualidade de
vida. Um relacionamento maravilhoso com a família de minhas noras.
Muitas filhas e netas do coração. Dos grupos que faço parte, sou chamada
de “mãezona”. Em geral, sou a mais velha.
Sou feliz e sei que sou. Continuo minha missão: fazer o outro feliz!
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Nossa velhice registrada
O que desejo da velhice
Para muitos, principalmente jovens, a velhice não consta em seus
calendários. São os anos dourados da juventude. No momento que
descobrem os primeiros cabelos brancos, alguns vincos na pele, é que
se dão conta que a velhice está vindo ao seu encontro. O tempo não
poupa ninguém.
Quanto a mim, órfã muito cedo, interna num colégio de freiras muito
rígidas, fui impedida de desfrutar dessa idade de ouro por esses reveses
da vida.
Se o mundo gira, e a vida dá muitas voltas, não percebi. Pois envelheci
e não vi. Não só desejo, mas exijo da velhice tudo o que tenho direito.
Condições de viver a velhice com saúde, disposição, autonomia,
independência e liberdade. Enfim, com qualidade de vida.
Sei que o velho torna-se criança. O tempo avança, mas quero sorrir,
brincar, sem sentir as consequências. Dançar, e até os chinelos arrastar.
Mas o que mais desejo de você, velhice, é o direito de amar e ser feliz.
O que desejo com a velhice
Como a velhice é um cabedal de sabedoria e experiências, com ela
posso superar com mais facilidade os problemas enfrentados no dia a
dia. Pois já passei por eles. Se o peso da idade aumenta, o enorme
peso da responsabilidade diminui. A velhice nos proporciona mais tempo
para viagens, passeios, diversões, curtir os netos. É maravilhoso!
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Nossa velhice registrada
Com a velhice se aprende que a vida continua. Que ser útil faz parte
dessa vida. Repito: aprendi viver e não morrer. Quanto mais velha eu fico,
mais coisas eu quero inventar e fazer.
Quando escrevo, brinco com as letrinhas, como costumo dizer. Para
mim, elas estão vivas e vão continuar a me representar com prazer.
Lembro-me que numa viagem fiz um relato sobre minha cidade natal. Muito
pacata! Comparei-a à bela adormecida que guarda em seu seio algo
imorredouro. Meu filho, Fernando, estava lendo, quando parou e disse:
“Esta palavra está em desuso, não seria melhor trocar por ‘imortal’? “Lucas,
meu netinho de 6 anos, deixou de modelar a massinha, apontou o dedinho
para o pai dizendo: “Papai, deixe a vovó colocar estas palavras antigas.
Quando eu crescer, vou ler e aprender muito mais.” Aprendi muito com
esse meu netinho querido. Chamo-o de professor. Obrigada, Luquinhas.
Como a arte não tem idade, é nessa fase da vida que surgem muitos
escritores, poetas e inventores, concretizando sonhos e realizando grandes
desejos. Eu mesma me dediquei mais à escrita e à poesia depois que me
aposentei.
Velhice é uma dádiva. Chegar lá é um privilégio que não é dado a
todos. Tem muito que oferecer à sociedade. Velhice, cabedal de sabedoria
e experiência. É uma obra de arte exposta na galeria da vida. No rosto do
modelo está o mapa da trajetória da sua vida. Rugas, vincos profundos,
lembram tristezas e mágoas. Bochechas ainda coradas, as alegrias da vida.
Já a testa enrugada, as preocupações que agora na velhice são apenas
recordações.
O autor desta obra é o grande criador. O artista é você, meu velho! O
instrumento de trabalho é a vida.
A vida é bela. A felicidade existe. Procure que você acha. Está dentro
de você! 71
Nossa velhice registrada
Eva Rodrigues Roden
Querida professora Giselle Massi,
Acho que vou te chamar de profe, assim como as meninas. Pois, se tem uma
coisa que aprendi, nestes dois anos, é que podemos tudo, tudo aquilo que
nos faz feliz e que deixa nossos amigos felizes, ainda mais com a felicidade
que sinto em fazer parte desse grupo “oficina da linguagem”.
Devemos muitas descobertas a você que dedica muito de sua vida A esse
projeto de viver e conviver com pessoas que já alcançaram os seus 60 anos.
Aos sessenta anos... Para mim, porta de entrada de velhice, aprendemos
juntos a alegria de envelhecer com muita consciência. Agradeço a Deus pela
oportunidade que me deu de te conhecer, você tem um dom maravilhoso, o
de escutar e estar presente de corpo e alma em nossas reuniões, ou melhor,
em nossas rodas de conversa, sempre atenta. Sinto-me livre e segura para
dizer o que penso, o que faz falta, o que sei e o que não sei.
Sabe profe, a partilha que fazemos juntos de nossa infância, adolescência e
juventude, a mim traz saudades, saudades de amigos, professores, da escola
que estudei, da diretora. Lembro-me de quando conheci a Ana Maria, minha
amiga, há mais de meio século.
Sinto que Deus nos leva pela mão, nos conduz, colocando em nossa vida as
pessoas que vão ser importantes. E é assim que vejo você e esse grupo de
pessoas com sede de contar e escutar.
Como é bom viver primeiro, para depois contar, vejo que isso é envelhecer de
maneira saudável, com a mente ativa, com lucidez, não impondo e nem
reclamando, mas entendendo e compreendendo, que hoje a situação é outra.
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Nossa velhice registrada
Afinal, de que me adianta ficar presa a um passado que não volta?
Preciso seguir, sempre dando o meu melhor, vendo e aprendendo,
filtrando tudo para colher apenas o que é bom.
Um dos meus desejos é ver outros grupos como esse se formarem
para que mais pessoas possam envelhecer com dignidade. Grupos em
que seja possível esclarecer que qualidade de vida não é ter coisas de
luxo, a melhor casa, tudo na mão. Qualidade de vida é ser respeitado (a),
amada, poder ir e vir, conforme a possibilidade física, é ser incentivada a ir
em frente. Qualidade de vida está relacionada ao reconhecimento familiar
do potencial que existe no velho, “não ser tratado como um cristal”.
Sabe profe, tenho uma grande preocupação com algumas questões.
Uma delas diz respeito à deficiência auditiva, pois estamos convivendo,
nesse grupo com pessoas que têm essa deficiência. E a outra está ligada
ao esquecimento, quando falamos varias vezes a mesma coisa, e nos
deparamos com a impaciência.
Você pergunta: como é viver a velhice, hoje? Para mim é ter
saudade, doce saudade. É ter sabedoria para orientar aqueles que nos
procuram e que depositam confiança em nós, é ter medo, medo das
coisas que vêm acontecendo no mundo, como a violência, a falta de
emprego e etc... Mas o meu maior medo é o individualismo, a partir do
qual cada um vive por si, sem pensar no outro.
Mas, tenho certeza que nosso Pai do céu, vai providenciando de
tempos em tempos, pessoas que se colocam à disposição de formar
grupos de convivência que vão proporcionar momentos de felicidade para
muitos que se encontram no tempo da velhice.
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Nossa velhice registrada
Eu sou muito grata a você, a Ana Cristina, outra profe, e as meninas
estudantes de fonoaudiologia, pois com elas já foi possível entender um
pouco mais os jovens e até valorizá-las mais. Elas também nos mostraram
que podemos conviver com a tecnologia. Essas meninas farão a diferença na
vida de muitas pessoas em um futuro próximo.
Com essa convivência me foi possível ultrapassar grandes barreiras,
impostas por uma educação severa e de proibições. Sim, eu consegui fazer
tanta coisa depois de tantas conversas nossas que me abriram horizontes e
fui me enchendo de vontades. Pela primeira vez na minha vida, em uma
sexta-feira, deixei tudo e fui para o cinema com minha neta Isabelle de 15
anos, assistimos um filme romântico.
Que legal! Só de falar sobre isso, sinto uma satisfação dentro de mim!
Sabe aquela coisa que enche nossos pulmões e deixa peito fica inchado? Isso
é a pura alegria. Enfim, para mim, viver a velhice é ir além, realizar, sonhar,
ter fé, esperança, decidir e entender as limitações.
É ter curiosidades, estar com a porta da mente sempre aberta, é fazer
amigos e compreendê-los, mesmo que isso custe muito. Pois, cada um tem
sua própria personalidade e para sermos amigos verdadeiros, muitas vezes
temos até que nos contrariar.
Em uma carta convencional terminamos dizendo: “sendo o que se
apresenta para o momento-atenciosamente...” Eu quero encerrar dizendo que
ficará para sempre em minha memória, os momentos aqui vividos e que cada
um sempre estará em meu coração.
Obrigada por tudo, desejo que alcancem tudo o que vocês almejam na
vida!
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Nossa velhice registrada
Josefina Prestes
Curitiba, 15 de Agosto 2016.
Dia chuvoso e frio. Propício para ficar em casa costurando, lendo, escrevendo
e comendo! Dia em que a chuva molha as plantas e enriquece a natureza.
Gostaria de escrever, aqui, somente coisas bonitas e lindas: a natureza, os
animais, as crianças, passeios pelo Brasil, viagens, praia, mata, viver com
alguém. Mas, não é assim a vida. Ela é cheia de altos e baixos, permeada por
enfermidades e mortes.
Eu não acho que a velhice é a melhor idade. Pois, a maioria dos idosos, hoje, é
desprezada pela família. Os jovens acham que o idoso não tem credibilidade,
que ele não entende e não acompanha mais as coisas da vida. Poucos são
aqueles que cuidam dos seus idosos com muito amor.
Eu quero que meus netos leiam esse texto e, quando crescidos, lembrem o
que estou escrevendo.
Quero alertá-los que, na minha opinião, hoje, o que predomina no mundo é o
dinheiro. Assim, muitas famílias que têm dinheiro, colocam seus idosos em
asilos e os abandonam.
Acho, também, muito triste acompanhar os idosos que perdem a memória, a
visão, a mobilidade nas pernas, etc.
O que eu espero da velhice é permanecer lúcida e forte para que eu não
dependa de ninguém.
Eu, Josefina, peço a Deus para ter uma velhice boa, andando com minhas
pernas, comendo o que eu gosto, enxergando todas as maravilhas do mundo:
as flores, as plantas, as pedras, os animais e as crianças a correr na praça.
Bom é ter uma companhia, sem depender dela fisicamente.
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Nossa velhice registrada
Eu fui cuidadora de idosos há 10 anos e tenho lembranças boas,
outras ruins. A parte boa pode ser relacionada a ter saúde, passear, viajar,
trabalhar, namorar, dançar. A ruim é ter doenças, ter que passar por
cirurgias, ficar em hospitais.
A velhice só é boa, quando é possível considerar as experiências da
vida. Hoje, eu gostaria de ter 50 anos, com a experiência dos 67. Pois, eu
já não consigo mais correr, carregar peso, trabalhar o dia todo, escutar
bem.
Quero, até o fim da vida, poder ouvir as minhas músicas preferidas.
Sou apaixonada por músicas sertanejas e românticas.
A velhice representa dias bem vividos, nos quais dançamos,
namoramos, trabalhamos e dias sofridos, com doenças e perdas.
Quero terminar os meus dias com alegria e felicidade!
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