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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Produção Didático-Pedagógica
Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE
VOLU
ME I
I
1
2
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................3
Unidade 1 – Identidades sociais e diferenças........................................................7
Planos de aulas........................................................................................................12
Referências...............................................................................................................15
Unidade 2 - Identidades de raça e diferenças........................................................16
Planos de aula..........................................................................................................19
Identidade negra na poesia autobiográfica de Solano Trindade.........................21
Biografias de personalidades negras em sítios....................................................23
Identidade negra nos vídeos do Youtube .............................................................25
Referências...............................................................................................................26
Unidade 3 – Identidades de gênero e sexuais.......................................................28
Planos de aula..........................................................................................................31
Identidade de gênero e sexuais em microcontos de Eduardo Galeano.............34
Referências...............................................................................................................36
APRESENTA
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
Professor PDE: Eliane Affonso
Área PDE: Língua Portuguesa
NRE: União da Vitória
Professor Orientador IES: Atílio Augustinho Matozzo-FAFIUV
IES vinculada: UNICENTRO
Escola de Implementação: Colégio Estadual Adiles Bordin
Público objeto da intervenção: Alunos/as da 1ª fase do IV
ciclo (sétima série)
Início da intervenção: Agosto de 2010
3
As salas de aula de Língua Portuguesa são espaços
privilegiados para uma releitura de si mesmo, das outras
pessoas e do mundo através da quebra de preconceitos e
estereótipos por meio da linguagem.
Segundo Moita Lopes (2002, p. 38), “as identidades
sociais construídas na escola podem desempenhar um
papel importante na vida dos indivíduos quando
depararem com outras práticas discursivas nas quais
suas identidades são reexperienciadas ou
reposicionadas”.
Novos significados podem ser construídos a partir da
discussão de conceitos que estão interligados, embora
respondam provisoriamente às nossas indagações e
estejam sempre em construção.
Conceitos defendidos por intelectuais como os de gênero,
raça e etnia, sexo, discriminação, preconceito, identidade,
cultura, racismo, estereótipo, democracia racial, entre
outros disponibilizados ao longo deste material
pedagógico, podem contribuir para a redefinição do
mundo social no nosso entorno e para a construção de
uma cidadania plena a todas as pessoas que precisam se
descobrir na relação uns/umas com os/as outras numa
sociedade plural.
Os aspectos identitários de gênero, raciais e sexuais são
alvos de discriminação nas escolas e estes “são
componentes centrais da identidade dos alunos e
A identidade expressa aquilo que somos. Contudo aprendemos o que somos em meio às relações que estabelecemos tanto com os nossos “semelhantes” quanto aos que diferem de nós. MOREIRA, apud CANDAU & MOREIRA 2008, p 41
Associamos diferença ao conjunto de princípios de seleção, inclusão e exclusão que norteiam a forma pela qual indivíduos marginalizados são situados e constituídos em teorias, políticas e praticas sociais dominantes. McCARTHI apud CANDAU & MOREIRA, 2008, p. 44
4
alunas” (MOREIRA apud CANDAU & MOREIRA, 2008,
p.40), por isso, é muito importante a reflexão sobre a
identidade e a diferença na educação exigindo que
nossas convicções e concepções a respeito das mesmas
sejam revistas.
Diante dos desafios apresentados, proponho-me, neste
material didático, a apresentar algumas possibilidades de
trabalho nas salas de aula de Língua Portuguesa com a
abordagem sobre identidade e diferença, mais
especificamente nas questões de gênero, raça e
sexualidade para que analisemos, junto aos/às alunos/as,
os processos discriminatórios e nossa forma de reação
aos mesmos, reconhecendo-os como parte de um
processo social e não natural e que, sendo assim, podem
ser contestados e transformados.
Vale lembrar que a identidade está regulada pela
diferença. Sabemos o que somos em relação ao que
sabemos não ser, há pontos que nos aproximam e nos
afastam, nos identificam e que nos distinguem uns/umas
dos/as outros/as.
"Torna-se claro que as diferenças são construídas socialmente e que, subjacentes a elas, se encontram relações de poder. O processo de produção da diferença é um processo social, não algo natural ou inevitável. mas se assim é, podemos desafiá-lo, contestá-lo, desestabilizá-lo." (MOREIRA apud CANDAU & MOREIRA, 2008, p.44)
Faz-se necessário reconhecermos que temos aspectos
identitários que são valorizados enquanto outros são
motivo de preconceitos, que há diferenças mais e menos
significativas. Nossa identidade é muitas vezes
contraditória, conflituosa, composta por fragmentos nem
sempre harmônicos que sempre estão sendo revistos e
Raça - Conceito ressignificado pelo movimento negro e teóricos e adotado pela sua conotação política, embora a biologia não admita a humanidade dividida em raças. “Raça é uma construção política e social”. HALL 2003, p. 69
Gênero - aqui tratado como “constituinte da identidade do sujeito” (LOURO, 1997, p.32). Conceito recente e ligado às lutas feministas. Termo que consiste numa construção histórica e social e que busca desnaturalizar a condição da mulher na sociedade.
5
reconstruídos na relação e por força de atos de linguagem
que produzem fatos e definem.
Podemos, em sala de aula e nos espaços da escola,
promover atividades pedagógicas que levem alunos e
alunas a perceberem o caráter inter/multicultural da
sociedade, a abundância e riqueza de culturas e
identidades, a existência de discriminação e preconceitos
pautados pelas relações de poder que afetam as relações
escolares e de toda a sociedade trazendo prejuízos
infindáveis a grupos subalternizados e ao processo de
humanização de todas as pessoas.
Há muitos recursos para se trabalhar no sentido de
viabilizar uma educação inter/multicultural e conscientizar
a respeito dos preconceitos e negação das diferenças de
forma geral, mas aqui mais especificamente focados os
aspectos raciais, de gênero e sexuais.
Estes já são amplamente utilizados nas aulas de Língua
Portuguesa, embora não com o objetivo de promover a
inter/multiculturalidade via a articulação, o diálogo e a
inclusão das diferenças, a superação de divergências e
marginalização resultantes da assimetria de poder no
sentido de ampliação dos horizontes culturais e
reconhecimento do outro/a, devido a homogeneização e
padronização que se faz ainda fortemente presente nas
práticas escolares em razão da nossa formação histórica.
No entanto, embora haja sugestões de inúmeras
possibilidades com as diferenças e identidades de raça,
gênero e sexualidade, será priorizado, neste material
didático, o trabalho com narrativas em forma de relatos,
Sexualidade - pensada na perspectiva da diversidade sexual e, segundo Louro (1997, p.27), “toda diversidade sexual é um construto instável, mutável e volátil, uma relação social contraditória e não finalizada”.
6
autobiografias, biografias, contos que possibilitam as
pessoas que contem suas histórias de vida, teçam
argumentos e descrevam situações de suas vivências,
problematizando-as.
A partir da leitura e troca de ideias sobre narrativas,
pretende-se fazer relação com as experiências pessoais e
concretas por meio de autorrelatos e relatos, ampliar
conhecimentos com a construção conceitos mais
abstratos apresentados nos documentos e pesquisas das
diversas áreas do conhecimento, utilizar outros artefatos
culturais como a musica, cinema, artes plásticas e
elaborar ações para superação de preconceitos,
discriminação racial, de gênero e sexualidade e dos
conflitos decorrentes dos mesmos nos espaços escolares.
Mas a linguagem institui e demarca os lugares dos gêneros não apenas pelo ocultamento do feminino, e sim, também, pelas diferenciadas adjetivações que são atribuídas aos sujeitos, pelo uso (ou não) do diminutivo, pela escolha dos verbos, pelas associações e pelas analogias feitas entre determinadas qualidades, atributos ou comportamentos e os gêneros (do mesmo modo como utiliza esses mecanismos em relação às raças, etnias, classes, sexualidades, etc.). LOURO 1997, p.67
7
Nossas identidades vão se constituindo e sendo
redefinidas principalmente por atos de linguagem nas
nossas relações e espaços de convivência, pela influência
de personagens da literatura, da mídia e outros.
Enquanto alguns aspectos identitários são valorizados
nesses recursos, outros podem se alvos de opressão e
preconceito quando ausentes na representação ou
quando não são representados positivamente. Da mesma
forma, determinados enunciados proferidos repetidamente
tanto valorativos quanto depreciativos interferem na
formação da identidade.
Nas palavras escolhidas para afirmar, estão também
subentendidas as que negam. "Ou seja, a identidade
depende da diferença, a diferença depende da identidade.
Identidade e diferença são inseparáveis”. (SILVA, 2000
apud CANDAU & MOREIRA, 2008, p.43)
Daí é possível compreender a dimensão social da
disciplina de Língua Portuguesa e das praticas discursivas
para a ressignificação do mundo, reprodução e
questionamentos por meio do posicionamento dos
sujeitos e da forma como posicionam os/as demais,
construídos nas práticas discursivas.
Práticas pedagógicas podem ser renovadas e
transformadas para melhor, não sem os conflitos advindos
NÃO SOMOS
FIGURINHAS
Uma menina muito
ressabiada. Era como se
tivesse medo de gente.
Família, padrinhos,
vizinhos e professores
não conseguiam
entender o que a impedia
de viver em paz com seus
iguais.
“Mas o problema é
justamente esse”,
gesticulava ela,
amaciando com seus
dedinhos o pêlo macio de
seu gato magro, branco e
preto – o Bandidão. “Não
somos iguais, não somos
iguais, é tudo mentira. Eu
olho para a Pati, o Ivan, o
Ademir, a Tatá e só vejo
diferenças.” [...]
Claudia Werneck http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/coletaneas/nao-somos-figurinhas-543565.shtml
IDENTIDADE
Preciso ser um outro para ser eu mesmo
Sou grão de rocha
sou o vento que desgasta sou pólen sem inseto e areia sustentando o sexo das árvores
[...]
Mia Couto - Raiz de
Orvalho e Outros Poemas
8
de debates culturais de identidade e diferença, mas que
podem contribuir significativamente para um novo projeto
de escola e sociedade.
Desse modo, neste material didático, são apontadas
metas e estratégias para tratar de questões de identidade
e diferença na sala de aula segundo princípios apontados
por Moreira (apud CANDAU & MOREIRA, 2008, p.43) )
em Reflexos sobre currículo e identidade: implicações
para a prática pedagógica, que serão aplicados também
nas demais unidades deste material, com o enfoque mais
especificamente nas identidades de raça, de gênero e
sexualidade. Os princípios apontados pelo autor estão
descritos abaixo, embora tenham sido adaptados para as
finalidades pretendidas:
1- Usar diferentes artefatos culturais para que alunos
identifiquem vestígios de preconceitos e de valorização,
elementos de dominação e de subordinação visando a
ampliação da consciência sobre a existência de situações
de opressão e preconceito.
Nesta primeira unidade, há a sugestão de trabalho com
propaganda e mídia a partir da seleção de propagandas,
programas de televisão, notícias para que sejam
observadas as relações de poder e elementos de
dominação e subordinação (homens/mulheres,
brancos(as)/negros(as), ricos/pobres, entre outros).
Segundo o autor, é Importante tecer relações entre o que
observamos nos recursos apresentados e nossas próprias
experiências. Tanto o/a professor/a como alunos/as
DIVERSIDADE
[...] De pele clara
de pele escura Um fala branda
O outro, dura
Olho redondo Olho puxado
Nariz pontudo Ou arrebitado [...]
Tatiana Belinky
9
podem ilustrar situações de preconceitos e discriminação
no espaço escolar e em outros, por meio de narrativas e
autorrelatos, nos quais podem ser percebidos os múltiplos
aspectos de nossas identidades sociais.
Eis algumas sugestões de recursos que podem ser
utilizados nas leituras, discussões e compartilhamento de
experiências pessoais:
- Propagandas, programas e textos midiáticos da internet,
televisão, jornais e revistas que ditam regras de
comportamento para meninas e meninos, homens e
mulheres, que veiculem imagens apenas ou
majoritariamente de brancos, jovens, magros,
heterossexuais, classes mais abastadas.
- Noticias e reportagens que desestimulam ou incentivam
a criminalização de comunidades de favelas, dos/as
menores, dos movimentos sociais e que tratam de
situações de racismo e sexismo, preconceitos religiosos e
de classes.
- Textos da literatura e de outras artes que valorizem a
multiplicidade de nossas identidades ou que apresentem
estereótipos para que possam ser contestados.
2- Partir de artefatos culturais acima mencionados e
experiências pessoais para a construção de conceitos
mais abstratos e precisos, utilizando para isso conceitos
de diversas áreas do conhecimento e pesquisas na
perspectiva inter/multicultural defendida em pesquisas,
leituras, palestras e discussões:
- Documentos históricos;
- Pesquisas contemporâneas com a temática identidade e
diferenças;
- Dados estatísticos.
10
3- Desenvolver imagens positivas de grupos
subalternizados e novas posturas a partir do
conhecimento proporcionado pela literatura, música,
cinema e artes plásticas, servindo como exemplos:
- Literatura de cordel e poesia de Patativa de Assaré;
- Música com elementos das matrizes religiosas africanas;
- As artes plásticas de aleijadinho, Abdias do Nascimento
e outros(as);
- Festas populares;
- Filmes, documentários, curtametragens, vídeos;
- Sítios de movimentos negros, LGBTTs, feministas,
indígenas, sindicais e outros que contribuam para que,
que em nossos/as alunos/as, se consolidem imagens
positivas de grupos subalternizados.
4- Desconstruir preconceitos e discriminações
historicamente construídos e que tem garantido privilégios
a determinados grupos por meio de conceitos referentes à
gênero, sexualidade, raça, classe social que estão
interligados em referenciais teóricos:
- Verbetes de dicionários;
- Conceitos elaborados por teóricos das temáticas e
defendidos pelos movimentos sociais nas suas lutas pelo
reconhecimento e superação;
5- Contribuir para que alunos/as analisem criticamente e
compreendam a formação e aspectos de identidades
sociais estimulados pelos meios de comunicação a partir
análise e produção de textos orais e escritos para
contrapor os modelos propostos, utilizando:
- Textos que possibilitem análise dos produtos e
estratégias dos meios de comunicação que ditam critérios
e modelos preestabelecidos de identidades;
11
- Anúncios, propagandas que reforçam o consumismo, o
individualismo, a resignação, a competência, a
competição.
6- Possibilitar novos posicionamentos e atitudes bem
como a elaboração de ações para o cotidiano da sala de
aula e escola através do diálogo e troca de ideias
considerando que as identidades são construídas, os
significados podem ser contestados e reconstruídos nas
práticas discursivas.
12
Multi/interculturalidade: identidades sociais e
diferenças
Tempo estimado - oito aulas
Conteúdo
Análise e produção de textos;
Discurso e inter/multiculturalidade;
Identidades sociais e diferenças;
Relações de poder e práticas de inclusão e exclusão.
Objetivo geral
- Sensibilizar o/a aluno/a para o caráter inter/multicultural
da sociedade, para a urgência do respeito ao/à outro/a e a
percepção de situações de opressão e das relações de
poder.
Objetivos específicos
- Desnaturalizar as diferenças construídas via discurso na
realidade social;
-Estimular o desenvolvimento de uma imagem positiva de
grupos subalternizados;
- Desenvolver posições de resistências a discursos
hegemônicos;
- Levar ao reconhecimento da multiplicidade de nossas
identidades;
- Conscientizar sobre a natureza socioconstrutivista do
discurso e das identidades sociais;
Aquisição de conceitos e informações sobre identidades
sociais na perspectiva inter/multicultural.
CONCEITOS - VERBETES DE DICIONÁRIO – VOCABULÁRIO
-Identidade -Diferença -Preconceito -Estereótipo -Discriminação - Cultura
TROCA DE IDEIAS
Conhecimentos construídos a partir de: - Questionário, autorrelatos sobre vivências e relatos de preconceito e discriminação - Livros de literatura infantil e infantojuvenil -Conceitos, dados estatísticos, propagandas, programas midiáticos e artefatos culturais das artes plásticas, música, cinema e literatura
13
1ª semana (4 aulas)
1-Iniciar com a apresentação do projeto de intervenção
pedagógica e a proposição de um questionário e
autorrelatos sobre identidade e diferenças com enfoque
nas relações etnicorraciais, de gênero e sexualidade:
Algumas questões como:
-Quem sou eu? Quem é você?
-Somos iguais ou somos diferentes?
Outras com possibilidades de:
- Autorrelatos de discriminação de gênero – raça -
sexualidade presentes nas práticas discursivas.
2-Produção de textos orais e escritos.
3-Exposição e socialização dos mesmos.
2ª semana (4 aulas)
1 - Partir de narrativas da literatura infantil e infantojuvenil
e conectar as situações mais pessoais com relatos das
vivências na escola e em outros espaços.
Ex: Não somos figurinhas – conto de Tatiana Werneck
Identidade – poema de Mia Couto
Diversidade – livro de Tatiana Belinky
2 - Analisar informações mais abstratas em conceitos da
história, sociologia, filosofia, etc. confrontando dados
estatísticos X propagandas e programas midiáticos.
Exemplos de conceitos
- Identidade
- Diferença
- Preconceito
PRODUÇÃO DE
TEXTOS Relatos orais e escritos feitos na sala de aula sobre os conhecimentos construídos nos vídeos assistidos, livros lidos e ouvidos e outros artefatos das diferentes áreas do conhecimento, nas artes e lutas sociais.
14
- Estereótipo
-Discriminação
3 - Relatos orais e escritos das observações feitas e
conceitos analisados e construídos.
15
BELINKY, Tatiana. Diversidade. São Paulo: Quinteto Editorial, 1999. CANDAU, Vera Maria & MOREIRA, Antonio Flavio (org). Multiculturalismo:
diferenças culturais e práticas pedagógicas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
HALL Stuart. Da diáspora: identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003. LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação. Uma perspectiva pós- estruturalista. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. MOITA LOPES, Luiz Paulo da. Identidades fragmentadas: a construção do
discurso de raça, gênero e sexualidade em sala de aula. Campinas, SP: Mercado
de Letras, 2002.
WERNECK, Claudia. Não somos figurinhas! - Revista Nova Escola online, edição 152, maio de 2002. Disponível em <http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/coletaneas/nao-somos-figurinhas-543565.shtml> Acesso em: 30 julho 2010.
16
A Lei 10639/03 e as Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Educação das Relações etnicorraciais e para o
Ensino da História e Cultura Afrobrasileira e Africana,
aprovada em 17 de março de 2004, resultantes de
políticas públicas e principalmente das lutas do
movimento negro brasileiro, de acordo com Gomes (apud
CANDAU & MOREIRA, 2008). devem ser lidas
conjuntamente para compreensão da sua abrangência e
dos seus limites.
Segundo Gomes (apud CANDAU & MOREIRA, 2008), a
sua implementação exige de nós professores/as um
aprofundamento teórico sobre a temática e a superação
da forma preconceituosa como aprendemos na escola
que nos reporta ao escravismo e a imagens da África,
dos/as africanos/as e seus descendentes para
construirmos uma visão de identidade como construção
social sempre em processo, permeada de contradições e
conflitos.
Nesta unidade, que trata das identidades raciais, há a
intenção de contribuir com algumas possibilidades para o
desenvolvimento de estratégias pedagógicas utilizando
principalmente as narrativas que podem ser consideradas
discurso e, como tal, são uma forma de ação no mundo,
ajudando a construir significados e identidades que,
sempre em processo, coexistem na mesma pessoa como
as de gênero, sexualidade e raça aqui em discussão.
Racismo é uma ideologia que postula a existência de hierarquia entre os grupos humanos. Programa Nacional de Direitos Humanos, 1998, p. 12
Preconceito é uma opinião preestabelecida, que é imposta pelo meio, época e educação. Ele regula as relações de uma pessoa com a sociedade. Ao regular, ele permeia toda a sociedade, tornando-se uma espécie de mediador de todas as relações humanas. Ele pode ser definido, também, como uma indisposição, um julgamento prévio, negativo, que se faz de pessoas estigmatizadas por estereótipos. SANT’ANA apud MUNANGA 2005, p. 62
A discriminação é algo assim como a tradução prática, a exteriorização, a manifestação, a materialização do racismo, do preconceito e do estereótipo. Como o próprio nome diz, é uma ação (no sentido de fazer deixar fazer algo) que resulta em violação dos direitos. SANT’ANA apud MUNANGA 2005, p. 63
17
As narrativas autobiográficas são formas de contarmos a
nossa vida e lhe atribuirmos sentidos, e quando a
historiamos também historiamos a vida do/a outro/a.
(MOITA LOPES, 2002).
A leitura e análise de narrativas autobiográficas, de
biografias e autorrelatos na sala de aula podem contribuir
para desenvolver a sensibilidade, solidariedade e
sentimento de pertencimento nos alunos/as, já que
colaboram na construção da identidade de raça e na
valorização das diferenças.
Segundo Moita Lopes (2002), os professores, além de
trabalhar com os conteúdos próprios da língua, “ao
utilizarem esse tipo de texto nas aulas podem estar, na
verdade, ajudando a construir um sentido de quem
somos no mundo social.” (MOITA LOPES, 2002, p. 64)
Escolhas podem ser feitas nesse sentido com o intuito de
possibilitar visão positiva da ascendência africana ao
mesmo tempo em que outras quebram com cânones
culturais como o mito da democracia racial no país.
Da mesma forma, narrativas podem retratar idealizações
como a harmonia entre brancos e negros, com estes
retratados em situações de inferioridade e submissão,
trazendo prejuízos à construção de identidade de raça
aos/às alunos/as negros/as, reforçando os conflitos raciais
no contexto escolar.
Para o trabalho com as narrativas, há a sugestão da
utilização da poesia autobiográfica de Solano Trindade.
Além disso, biografias de personalidades negras
Aparentemente, a violência afeta a todos em igual intensidade: qualquer cidadão, independentemente de classe social, fenótipo, idade e sexo. As mensagens veiculadas pelos meios de comunicação reforçam essa percepção. Estudos mais recentes, no entanto, mostram que nem todos são atingidos da mesma maneira pela violência.As taxas de homicídio, por exemplo, são mais altas nos bairros em que a renda média é menor e os serviços urbanos são mais deficientes.Além disso, os dados indicam que outro tipo de desigualdade caminha lado a lado com a distribuição desigual de riqueza, educação, saúde e saneamento entre brancos e negros no Brasil: os negros são os principais alvos da violência letal. Embora alta em comparação com os padrões internacionais, a taxa de homicídios de brancos e amarelos é significativamente inferior à dos pretos e pardos: a probabilidade de ser assassinado é quase o dobro para os pardos e 2,5 vezes maior para os pretos. A taxa de homicídios por 100 mil habitantes para a população negra (pretos e pardos) é de 46,3 (1,9 vez a dos brancos). Entre os pretos brasileiros, os números são piores que os da população da Colômbia, país que enfrenta longa guerra civil, num cenário agravado pela forte presença do narcotráfico e onde a taxa de assassinatos em 2004 era de 44,15 por 100 mil habitantes, segundo os dados da Presidência da República da Colômbia. Em metade dos Estados pesquisados, a incidência de homicídios para negros é mais que o dobro da verificada para brancos e, em alguns locais, essa desigualdade chega a ser seis vezes maior.[...]
Relatório do Desenvolvimento Humano Brasil 2005 — Racismo, pobreza e violência. p. 88-89 http://hdr.undp.org/en/reports/nationalreports/latinamericathecaribbean/brazil/Brazil_2005_po.pdf
18
disponíveis em sítios , bem como vídeos, textos, estudos
sobre a história, cultura e identidade negra são bons
recursos que podem contribuir para valorização da
ascendência negra na perspectiva dos seus
descendentes. No entanto, sabemos que não bastam
algumas aulas como as propostas ou com ações isoladas
que, embora sejam iniciativas significativas, devem ser
incorporadas à relação pedagógica.
A valorização das identidades e reconhecimento das
diferenças exige um trabalho pedagógico mais articulado
no qual a discussão sobre a questão racial e a
diversidade se faça presente no cotidiano escolar já que
beneficiará às pessoas de todas as ascendências
contribuindo para a sua humanização.
O resgate da memória coletiva e da história da comunidade negra não interessa apenas aos alunos de ascendência negra. Interessa também aos alunos de outras ascendências étnicas, principalmente branca, pois ao receber uma educação envenenada pelos preconceitos, eles também tiveram suas estruturas psíquicas afetadas. Além disso, essa memória não pertence somente aos negros. Ela pertence a todos, tendo em vista que a cultura da qual nos alimentamos quotidianamente é fruto de todos os segmentos étnicos que, apesar das condições desiguais nas quais se desenvolvem, contribuíram cada um de seu modo na formação da riqueza econômica e social e da identidade nacional.(MUNANGA, 2005, p. 16)
Embora só a escola não dê conta de superar o racismo,
ela tem responsabilidade nesse processo e pequenas
iniciativas são importantes até que progressivamente
componha o fazer pedagógico e o cotidiano escolar de
maneira mais abrangente, não se limitando aos conteúdos
das disciplinas.
No ranking do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), o Brasil tem um padrão mediano — estava em 73º lugar em 2002, com um índice de 0,766. Esse número, porém, oculta uma desigualdade profunda entre brancos e negros, como demonstra o Relatório de Desenvolvimento Humano Brasil 2005 — Racismo, pobreza e violência, divulgado nesta sexta-feira (18), em São Paulo, pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento). Se cada um desses dois grupos formasse um país à parte, a distância entre eles seria de 61 posições. A população branca teria IDH alto (0,814) e ficaria na 44ª posição no ranking mundial – semelhante à da Costa Rica e superior à da Croácia. Já a população negra (pretos e pardos) teria IDH médio (0,703) e ficaria em 105º lugar, equivalente ao de El Salvador e pior que o do Paraguai. “A distância entre brancos e negros, portanto, seria enorme”, observa o documento. Relatório do Desenvolvimento Humano Brasil 2005 — Racismo, pobreza e violência. http://hdr.undp.org/en/re
ports/nationalreports/latin
americathecaribbean/brazi
l/Brazil_2005_po.pdf
Em 59 horas de programação em horário nobre das três maiores redes de televisão do país, os negros figuravam em apenas 39 comerciais. Somente em nove apareciam com fala e só em quatro tinham papel relevante Relatório do Desenvolvimento Humano Brasil 2005 — Racismo, pobreza e violência. p.133 http://hdr.undp.org/en/re
ports/nationalreports/latin
americathecaribbean/brazi
l/Brazil_2005_po.pdf
19
Relações etnicorraciais: identidades e diferenças
Tempo estimado - doze aulas
Conteúdo
Análise e produção de textos;
Inter/multiculturalidade;
Identidade negra e diferenças;
História e cultura africana e afrobrasileira.
Objetivo geral
- -Possibilitar ao aluno estudar, adquirir e aprofundar seus
conhecimentos sobre a sua ascendência africana:
história, cultura e identidade para a desconstrução de
estereótipos, desnaturalização das desigualdades e a um
posicionamento político contra a discriminação racial.
Objetivos específicos
- Ampliar a consciência sobre a existência de opressão e
preconceito em artefatos culturais e racistas;
-Tecer relações entre as observações nos recursos
trabalhados e as próprias experiências em situações de
preconceito e discriminação racial no espaço escolar e em
outros;
- Analisar conceitos referentes à questão racial
elaborados por pesquisadores e movimentos sociais e
construir conceitos mais abstratos e precisos utilizando
conceitos de diversas áreas do conhecimento na
perspectiva inter/multicultural;
OS CABELOS DE LELÊ [...] Descobre a beleza de ser como é Herança trocada no ventre da raça Do pai, do avô, do além- mar até [...] Valéria Belém
MENINAS NEGRAS [...] Luanda Menina bonita de corpo tão forte, Menina do tom do chocolate. Dança como ninguém, Aprende o que lhe convém. Na escola a professora fala do povo e da cultura dos que vieram da África. [...] Madu Costa
20
- Desenvolver imagens positivas sobre a questão racial e
posição de resistência a discursos, novas posturas sobre
a herança negra através de artefatos culturais.
3ª semana – 4 aulas
1-Troca de ideias - Análise de narrativas- partindo de
textos lidos (literatura infantil e infantojuvenil, poesia
autobiográfica), e de relatos de alunos sobre a temática.
2-Análise de conceitos referentes à questão racial
elaborados por pesquisadores e movimentos sociais
dados estatísticos e conceitos.
3-Pesquisa de concepções de termos e vocabulário da
cultura afrobrasileira em verbetes de dicionário.
3-Produção de textos- relatos orais e escritos das
observações feitas e conceitos analisados e construídos
com socialização das mesmas.
4ªsemana – 4 aulas
1-Troca de ideias - vídeos com documentários sobre artes
plásticas, música, cinema e literatura africana e
afrobrasileira.
2- Pesquisa de biografias de negros/as nas diferentes
áreas do conhecimento, nas artes e lutas sociais.
5ª semana – 4 aulas
1-Apresentações e debates das biografias pesquisadas.
2- Produção escrita sobre a temática das aulas e
proposições de ações de mudanças na sala de aula e
escola.
PRODUÇÃO DE TEXTOS
Relatos a partir de: -Pesquisas de biografias de negros/as nas diferentes áreas do conhecimento, nas artes e lutas sociais; -Vídeos assistidos, livros lidos e ouvidos; -Ideias e relatos orais feitos na sala de aula.
TROCA DE IDEIAS
A partir de escuta e leitura de narrativas e de relatos na sala
de aula Exemplos: - Biografias e autobiografias - Livros de literatura infantil e infantojuvenil -Vídeos com documentários de personalidades negras, artes plásticas, música, cinema e literatura africana e afrobrasileira
CONCEITOS - VERBETES DE DICIONÁRIO –
VOCABULÁRIO DA CULTURA AFROBRASILEIRA -Raça/etnia -Racismo -Negro -Zumbi -Identidade negra
21
O destaque à poesia autográfica de Solano trindade se
deve ao fato do poeta, apontado pelos críticos como o
criador da poesia negra brasileira, por meio de
memórias e experiências pessoais retratar sua
identidade e raízes negras bem como por sua militância
em favor da cultura negra e brasileira associando a
política e a arte. Também se fez a escolha por ser negro
e pelo olhar na sua própria perspectiva.
Embora tenha sido premiado e reconhecido pela
contribuição a cultura brasileira, ainda não tem o espaço
merecido sendo hoje mais reconhecido pelo povo e
movimento negro do que pela academia.
Na sua poesia narrativa, tradição milenar de seus
ancestrais, conta a história do povo negro, denuncia a
opressão e exploração, mostra a solidariedade, os
valores e a tradição da cultura africana, o passado e o
presente, a exclusão e a resistência vividas pela
descendência africana no Brasil.
A literatura negra de Solano trindade, fortemente
marcada pela música e cultura popular brasileira, oferece
boas possibilidades de ampliar o trabalho com outras
expressões artísticas, já que seus poemas são cantados
por intérpretes da música popular brasileira e cito como
exemplos o Trem sujo de Leopoldina e Mulher barriguda
ORGULHO NEGRO Eu tenho orgulho de ser filho de escravo... Tronco, senzala, chicote, Gritos, choros, gemidos, Oh! que ritmos suaves, Oh! como essas cousas soam bem Nos meus ouvidos... Eu tenho orgulho em ser filho de escravos.. Solano Trindade
SOU NEGRO A Dione Silva Sou Negro meus avós foram queimados pelo sol da África minh'alma recebeu o batismo dos tambores atabaques, gonguês e agogôs...
TRINDADE apud SOUZA 2006, p. 90
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gravados pelos Secos & Molhados, partindo pra outros/as
poetas/ compositores/as/ intérpretes.
A sua obra incorpora a pluralidade cultural, folclore
popular nordestino como o maracatu rural, o Bumba-meu-
boi entre outros, a religiosidade de origens africanas,
como o candomblé, que podem ser trabalhadas com a
utilização de vídeos, textos, música, etc.
Outros poemas, além dos trechos apresentados no
material didático, podem ser encontrados na tese de Elio
Ferreira de Souza intitulada Poesia negra das Américas:
Solano Trindade e Langston Hughes, publicada em 2006,
podendo ser utilizado com fins pedagógicos, além de um
estudo aprofundado da obra de Solano Trindade em
diálogo com outros poetas negros das Américas.
CONGO
[...]Congo meu Congo aonde nasci
jamais voltarei disto bem sei
Congo meu Congo aonde nasci...
TRINDADE apud SOUZA
2006, p. 45
CANTO DOS PALMARES
Eu canto aos Palmares Sem inveja de Virgílio de
Homero e de Camões
porque o meu canto é o grito de uma raça
em plena luta pela
liberdade![...]
TRINDADE apud SOUZA 2006 p.29
CONVERSA COM LUCI [...] Falando em flores, querida, eu digo Luci. Fui ao Festival de Varsóvia, e lá encontrei gente de todas as cores e de todas as raças, todos cantando uma canção de paz todos desejando universidades para você Luci, para meus filhos, para os filhos dos outros, amada... Até amanhã Luci... TRINDADE apud SOUZA
2006, p. 84-85
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Pode ser muito interessante o trabalho em sala de aula
com a leitura e debate, pesquisas e diferentes formas de
socialização e trocas de experiências sobre biografias de
personalidade negras encontráveis na internet, bem
como nos livros da biblioteca escolar.
A valorização de pessoas negras da própria comunidade
pode ser feita por meio de pesquisas e produção de
pequenas biografias, convites para autorrelatos em sala
de aula, objetivando a valorização e reconhecimento da
ascendência africana principalmente dos alunos e
alunas.
O Brasil é a segunda maior nação negra, e negros/as
brasileiras trouxeram e trazem grande contribuição à
cultura brasileira destacando-se em diversas atuações,
entretanto, os livros didáticos e o discurso da escola
brasileira trazem, quase na totalidade, imagens e
histórias de personalidades brancas, tirando a
possibilidade dos/as alunos/as negros/as de
representação de ascensão social e da contribuição
negra à sociedade brasileira.
Dessa forma, o trabalho com biografias de negros/as
ABDIAS DO NASCIMENTO Abdias Nascimento é Professor Emérito da Universidade do Estado de Nova York e Doutor Honoris Causa pelas Universidades de Brasília, Federal e Estadual da Bahia, Estado do Rio de Janeiro, e Obafemi Awolowo da Nigéria.
Participou da Frente Negra Brasileira nos anos 1930 e ajudou a organizar o Congresso Afro-Campineiro em 1938. [...]
http://ipeafro.org.br/home/p
ersonalidades/27/abdias-
nascimento/
LÉLIA ALMEIDA GONZÁLEZ
Nasceu em Minas Gerais, filha de pai negro e mãe índia, era a caçula de 13 irmãos. Lélia Gonzalez, militante constante da causa da mulher e do negro, em todos os espaços que atuou, se fez digna representante. [...]
http://www.criola.org.br/nnh/nnh_lelia_almeida_gonzalez.htm
AQUALTUNE
Era uma princesa africana, filha do importante Rei do Congo. Numa guerra entre reinos africanos, foi derrotada, juntamente com seu exército de 10 mil guerreiros e transformada em escrava. Foi levada para um navio negreiro e vendida ao Brasil, vindo para o Porto de Recife. [...] http://www.criola.org.br/nnh/nnh_aqualtune.htm
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nas diferentes áreas do conhecimento, nas artes e lutas
sociais, além de vídeos com documentários sobre artes
plásticas, música, cinema e literatura africana e
afrobrasileira, contribuem para desenvolver a
sensibilidade, sentimento de solidariedade e
pertencimento nos/as alunos/as, já que colaboram na
construção das identidades de raça, conforme o intuito
deste material didático.
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EXPOSIÇÃO 90 ANOS
ABDIAS PARTE 1 DE 2
MP4
http://www.youtube.com/watch?v=24
C3JCnJ-A8
EXPOSIÇÃO 90 ANOS
ABDIAS PARTE 2 DE 2
MP4
ABDIAS DO
NASCIMENTO -
ESPELHOS–PARTE 1
KIRIKU E A FEITICEIRA
– (PARTE 1/8)
BRUNA E A GALINHA
D’ANGOLA
EXPOSIÇÃO 90 ANOS
ABDIAS PARTE 1 DE 2
MP4
MULATA EXPORTAÇÃO
- ELIZA LUCINDA
EXPOSIÇÃO 90 ANOS ABIAS
DO NASCIMENTO – PARTE
1 DE 2
http://www.youtube.com/watch?v=40
zwstqc4po&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=hc
D3Z5YxOoE
http://www.youtube.com/watch?v=gx
UiV9-R26k&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=fvS
vdDwvVaw&feature=PlayList&p=B31A
A6CFD59D12D6&playnext_from=PL&in
dex=0&playnext=1
http://www.youtube.com/watch?v=24
C3JCnJ-A8
http://www.youtube.com/watch?v=GD
4PoGwg5Ew
http://www.youtube.com/watch?v=vg
QM3omcdto
ENTREVISTA COM
RAQUEL TRINDADE
SOBRE SOLANO
TRINDADE
26
BÉLEM, Valéria. Os cabelos de Lelê. São Paulo: Companhia Editora Nacional,
2007.
CANDAU, Vera Maria & MOREIRA, Antonio Flavio (org). Multiculturalismo:
diferenças culturais e práticas pedagógicas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
COSTA, Madu. Meninas Negras.Belo Horizonte: Mazza, 2006.
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Etnicorraciais
e para o Ensino de História e Cultura Afrobrasileira e Africana (2005). Brasília:
Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial/ Secretaria de
Educação Continuada/ Alfabetização e Diversidade, jun.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade / Stuart Hall; tradução de Tomaz Tadeu da Silva, Guacira Lopes Louro – 10. Ed. – Rio de janeiro: DP&A, 2005. HALL Stuart. Da diáspora: identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003. LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação. Uma perspectiva pós- estruturalista. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. MOITA LOPES, Luiz Paulo da. Identidades fragmentadas: a construção do
discurso de raça, gênero e sexualidade em sala de aula. Campinas, SP: Mercado
de Letras, 2002.
MUNANGA, Kabengele (org.). Superando o Racismo na escola. 2ª edição revisada. [Brasília]: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2005.
SOUZA, Elio Ferreira de. Poesia negra das Américas: Solano Trindade e
Langston Hughes / Elio Ferreira de Souza. – Recife : O Autor, 2006. 369 folhas.
Tese (doutorado) – Universidade Federal de Pernambuco. CAC. Letras, 2006.
Disponível em <http://www.ufpe.br/pgletras/2006/teses/tese-elio-ferreira.pdf> Acesso
em: 30 julho 2010
GOUVÊA, Maria Cristina Soares de. Imagens do negro na literatura infantil brasileira: análise historiográfica* Universidade Federal de Minas Gerais Disponível em <http://www.scielo.br/pdf/ep/v31n1/a06v31n1.pdf> Acesso em: 30 julho 2010
27
PROGRAMA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS. Gênero e Raça – todos pela
igualdade de oportunidades: teoria e prática. Brasília: MTb-a / Assessoria
Internacional, 1998.
PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO. Relatório de
Desenvolvimento Humano Brasil 2005 – Racismo, pobreza e violência. 2005.
Disponível em
<http://hdr.undp.org/en/reports/nationalreports/latinamericathecaribbean/brazil/Brazil
_2005_po.pdf> Acesso em 30 julho 2010
28
Como afirma Louro Lopes (1997, p.25) “o gênero institui a
identidade do sujeito (assim como a etnia, a classe ou a
nacionalidade, por exemplo) pretende-se referir, portanto,
a algo que transcende o mero desempenho de papéis. A
ideia é perceber o gênero fazendo parte do sujeito,
constituindo-o.”
Daí a importância da escola na formação de nossas
identidades sociais construídas socialmente pelos
discursos que precisam passar a contemplar a
heterogeneidade e as diferenças buscando referenciais
nos movimentos sociais e estudiosos que defendem a
multi/interculturalidade.
No entanto, a escola segundo Moita Lopes (apud
CANDAU & MOREIRA, 2008), educa fazendo o
apagamento do corpo, naturalizando os ideais de
branquitude, masculinidade e heterossexualidade sem
considerar as diferenças e multiplicidade de identidades
raciais, sexuais e de gênero, embora seus significados
estejam tão presentes nos discursos do contexto escolar
por força do caráter monocultural da sociedade.
No discurso defendemos posições, mas podemos nos
familiarizar com outros discursos que questionem a
normatividade em relação à sexualidade, os mecanismos
Homens e mulheres certamente não são construídos apenas através de mecanismos de repressão ou censura, eles e elas se fazem, também, através de práticas e relações que instituem gestos, modos de ser e de estar no mundo, formas de falar e de agir, condutas e posturas apropriadas (e usualmente, diversas). Os gêneros se produzem, portanto, nas relações de poder. LOURO 1997, p.41
Quando afirmamos que as identidades de gênero e as identidades sexuais se constroem em relação, queremos significar algo distinto e mais complexo do que uma oposição entre dois pólos; pretendemos dizer que as várias formas de sexualidade e de gênero são interdependentes, ou seja, afetam umas as outras. LOURO 1997, p. 49
29
de controle e as desigualdades nas relações de gênero
em defesa das diferenças.
“Considero a sexualidade como um traço de nossa identidade socialmente construída em termos de como aprendemos a nos representar à luz de como os outros nos representam e vice-versa nas práticas discursivas onde atuamos”. (MOITA LOPES 2002, p. 100)
Nós professores, temos um papel importante na
construção das identidades de nossos alunos e é possível
por meio de práticas pedagógicas, contribuir nas
mudanças de práticas de exclusão no contexto escolar
passando de uma visão essencialista da sexualidade e
gênero, ambos geralmente confundidos, para uma visão
de mundo pluralista.
De acordo com Moita Lopes (2002), gênero e sexualidade
são dois traços distintos de nossas identidades sociais e
por esse motivo se propõe um trabalho em sala de aula
envolvendo ambas as temáticas já que “a sexualidade
não pode ser entendida fora das relações de gênero”
(MOITA LOPES 2002, p. 111), embora constitua área
própria.
Nesta unidade que aborda relações de gênero e
sexualidade, há a proposta de se trabalhar, na sala de
aula, traçando metas e estratégias para tratar de questões
de diferenças e identidade de gênero e sexuais com os
artefatos culturais já apontados na unidade um, de acordo
com os princípios defendidos por Moreira em Reflexos
sobre currículo e identidade: implicações para a prática
pedagógica, indicados para a aplicação nas três
unidades deste material.
Quem confia nos dicionários (e desconfia do que ali não está) talvez tenha resistências em iniciar este diálogo. No sentido muito específico e particular que nos interessa aqui, gênero não aparece no Aurélio. Mas as palavras podem significar muitas coisas. Na verdade, elas são fugidias, instáveis, têm múltiplos apelos... Louro, p 14
Ora, é evidente que essas identidades (sexuais e de gênero) estão profundamente inter-relacionadas; nossa linguagem e nossas práticas muito freqüentemente as confundem, tornando difícil pensá-las distintivamente. No entanto, elas não são a mesma coisa. Sujeitos masculinos ou femininos podem ser heterossexuais, homossexuais, bissexuais (e, ao mesmo tempo, eles também podem ser negros, brancos, ou índios, ricos ou pobres, etc.). LOURO 1997, p. 26 - 27
A homofobia, o medo voltado contra os/as homossexuais, pode se expressar ainda numa espécie de "terror em relação à perda do gênero", ou seja, no terror de não ser mais considerado como um homem ou uma mulher "reais" ou "autênticos/as". Por tudo isso, Judith afirma que é "crucial manter um aparato teórico que leve em consideração o modo como a sexualidade é regulada através do policiamento e da censura do gênero". LOURO 1997, p. 28-29
30
Há ainda a indicação de trabalho com as narrativas nesta
unidade já que, segundo Moita Lopes (2002),
desempenham papel importante na construção das
identidades culturais e, por historiarem a vida social,
possibilitam reflexão e posicionamento estas.
Assim, contar e ouvir histórias serão priorizados com a
intenção de ajudar nossos alunos e alunas a atuarem uns
sobre os outros, a descobrirem quem são no mundo a
partir da forma como vêem os outros. (MOITA LOPES,
2002)
Há muitas outras possibilidades no trabalho com
narrativas, mas optou-se pelos contos e microcontos e a
crônica poética de Eduardo Galeano, livros da literatura
infantil e infantojuvenil e outras expressões artísticas que
podem tratar especificamente das temáticas de gênero e
sexualidade ou não, já mesmo as que pretendem
desnaturalizar comportamentos femininos ou masculinos
muitas vezes acabam ainda por reforçá-los.
Também se repetem as atividades já propostas com
verbetes de dicionários e conceitos elaborados por
teóricos e defendidos pelos movimentos sociais, agora
com as temáticas de gênero e sexualidade, apresentados
mais detalhadamente a seguir.
31
Relações de gênero e sexualidade: identidades e
diferenças
Tempo estimado - doze aulas
Conteúdo
Análise e produção de textos;
Inter/multiculturalidade;
Identidades de gênero e sexuais;
Objetivo geral
- Possibilitar aos alunos e alunas a reflexão e construção
de saberes para a promoção da igualdade de gênero e da
diversidade sexual, a consciência da influência dos
padrões de comportamento e estereótipos de gênero
vigentes na escola e sociedade bem como a superação
de discursos hegemônicos.
Objetivos específicos
- Conscientizar para a superação da naturalização de
ideais corpóreos de gênero como masculinidade e de
sexualidade como heterossexualidade;
- Ampliar a consciência sobre a existência de opressão e
preconceito sexista em artefatos culturais questionando
os discursos normalizadores dos gêneros e das
sexualidades;
-Tecer relações entre as observações nos recursos
trabalhados e as próprias experiências em situações de
MENINO BRINCA DE
BONECA?
[...] Essa diferença,
preste atenção, a gente
vi encontrar de pessoa
pra pessoa, e não por
ser homem ou mulher.
Não é por serem
meninos que todos vão
ser iguais.
Ou, por serem meninas,
que todas terão o
mesmo jeito. [...]
Marcos Ribeiro
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preconceito e discriminação de gênero e
orientação/diversidade sexual no espaço escolar e em
outros;
- Analisar conceitos referentes às questões de gênero e
sexualidade elaborados por pesquisadores e movimentos
sociais e construir conceitos mais abstratos e precisos
utilizando conceitos de diversas áreas do conhecimento
na perspectiva inter/multicultural sobre a temática.
6ª semana - 4 aulas
1-Troca de ideias - Narrativas- partindo de textos lidos e
de relatos - Microcontos dos livros Mulheres e Espelhos
de Eduardo Galeano.
2-Apresentação dos microcontos e relatos orais ou
escritos do grupo sobre suas observações.
7ª semana - 4 aulas
1-Analisar conceitos referentes às questões de gênero e
sexualidade elaborados por pesquisadores e movimentos
sociais e construir conceitos mais abstratos e precisos
utilizando conceitos de diversas áreas do conhecimento
na perspectiva inter/multicultural.
2-Pesquisa de concepções de termos e vocabulário em
verbetes de dicionário.
3-Relatos orais ou escritos sobre os conceitos analisados
e construídos.
8ª semana – 4 aulas
1-Debater sobre as observações nos recursos
trabalhados e as próprias experiências em situações de
TRABALHO COM CONCEITOS E VERBETES
DE DICIONÁRIO -Homofobia -Sexualidade -Gênero -Sexismo -Machismo -Homem -Mulher -Identidades sexuais -Identidades de gênero
TROCA DE IDEIAS A partir de escuta e leitura de narrativas e de relatos na sala de aula Exemplos: - Contos e microcontos - livros de literatura infantil e infantojuvenil Vídeos com documentários de personalidades femininas artes plásticas, música, cinema e literatura africana e afrobrasileira
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preconceito e discriminação de gênero e
orientação/diversidade sexual no espaço escolar e em
outros.
2-Relatos orais e escritos das observações feitas e
conceitos analisados e construídos com proposições de
aços de transformação nas relações de gênero e sexuais
na sala de aula.
PRODUÇÃO DE TEXTOS
Relatos a partir de: -Pesquisas de personalidades femininas nas diferentes áreas do conhecimento, nas artes e lutas sociais; -Vídeos assistidos, livros lidos e ouvidos; -Ideias e relatos orais feitos na
sala de aula.
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Algumas obras do escritor Eduardo Galeano servem
bem ao propósito de se trabalhar com relatos que
deixam falar as vozes silenciadas pela história oficial: as
de mulheres, que terão evidência já que tratamos de
identidades de gênero e sexuais, de imigrados/as,
negros/as, e de outras da história mundial contadas pelo
autor e que podem ser encontradas em diversos sítios
da internet.
Na obra Mulheres há microcontos que relatam histórias
de mulheres e suas lutas, a opressão e a desigualdade
sofrida.
Em Espelhos, há seiscentas pequenas narrativas no tom
de crônicas poéticas também com histórias do mundo
contadas na perspectiva dos vencidos: a voz feminina de
diversas culturas, a dos escravos da antiga Grécia e
Roma que tem similaridades com os da atualidade que
podem também ser vistos nos espelhos de Galeano.
O autor aborda inúmeros temas como racismo,
escravidão, guerras, revoluções entre outros muito
interessantes para o trabalho com identidades e
diferenças na perspectiva inter/multicultural proposta
neste material didático.
Ao se escrever, é possível oferecer o testemunho de nosso tempo e de nossa gente, para agora e para depois, apesar das perseguições e da censura. Pode-se escrever como que dizendo, de certa maneira:" Estamos aqui, aqui estivemos; somos assim, assim fomos (GALEANO, 1978 p.13).
A AUTORIDADE
Em épocas remotas, as
mulheres se sentavam
na proa das canoas e os
homens na popa. As
mulheres caçavam e
pescavam. Elas saíam
das aldeias e voltavam
quando podiam ou
queriam. Os homens
montavam as choças,
preparavam a comida,
mantinham acesas as
fogueiras contra o frio,
cuidavam dos filhos e
curtiam as peles de
abrigo. [...]
Eduardo Galeano – Mulheres -2000
MUDANÇA DE NOME Aprendeu a ler lendo números. Brincar com números era o que mais a divertia e de noite sonhava com Arquimedes. O pai proibia: - Isso não é coisa de mulher - dizia. Quando a Revolução Francesa fundou a Escola Politécnica, Sophie Germain tinha dezoito anos. Quis entrar. Fecharam as portas na sua cara: - Isso não é coisa de mulher - disseram. [...]
Eduardo Galeano – Espelhos - 2008
35
Certamente em outras obras de Eduardo Galeano, bem
como em muitos outros escritores e escritoras podemos
encontrar narrativas com a possibilidade de refletir sobre
as identidades de gênero e sexuais. Cito para
exemplificar, o miniconto de Marina Colasanti da obra
Contos de Amor Rasgados intitulado Nunca descuidando
do dever .
SE ELE TIVESSE NASCIDO MULHER
Dos dezesseis irmãos de Benjamin Franklin*, Jane é a que mais se parece com ele em talento e força de vontade. Mas na idade em que Benjamin saiu de casa para abrir seu próprio caminho, Jane casou-se com um seleiro pobre, que a aceitou sem dote, e dez meses depois deu à luz seu primeiro filho. Desde então, durante
um quarto de século,
Jane teve um filho a
cada dois anos. Algumas
crianças morreram e
cada morte abriu-lhe
um talho no peito. As
que viveram exigiram
comida, abrigo,
instrução
e consolo. [...]
Eduardo Galeano – Mulheres -2000
NUNCA DESCUIDANDO
DO DEVER
Jamais permitiria que
seu marido fosse para o
trabalho com a roupa
mal passada, não
dissessem os colegas
que era esposa
descuidada. Debruçada
sobre a tábua com olho
vigilante, dava caça às
dobras, desfazia pregas,
aplainando punhos e
peitos, afiando o vinco
das calças. [...]
Marina Colasanti –
Contos rasgados -1996
36
CANDAU, Vera Maria & MOREIRA, Antonio Flavio (org). Multiculturalismo:
diferenças culturais e práticas pedagógicas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
COLASANTI, Marina. Contos de amor rasgados. Rio de Janeiro: Rocco, 1986.
GALEANO, Eduardo. Espelhos. São Paulo: L&PM, 2008.
__________. Mulheres. São Paulo:L&PM, 2000.
__________. Vozes e crônicas. São Paulo: Global/Versus, 1978.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade / Stuart Hall; tradução de Tomaz Tadeu da Silva, Guacira Lopes Louro – 10. Ed. – Rio de janeiro: DP&A, 2005. LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação. Uma perspectiva pós- estruturalista. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. MOITA LOPES, Luiz Paulo da. Identidades fragmentadas: a construção do
discurso de raça, gênero e sexualidade em sala de aula. Campinas, SP: Mercado
de Letras, 2002.
RIBEIRO, Marcos. Menino brinca de boneca? Rio de Janeiro: Salamandra, 2001.
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