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CÂMARA DOS DEPUTADOS
DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO
NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES
TEXTO COM REDAÇÃO FINAL
COMISSÃO DE RELAÇÃO EXTERIORES E DE DEFESA NACIONALEVENTO: Audiência Pública N°: 0506/03 DATA: 14/05/03INÍCIO: 14h40min TÉRMINO: 17h32min DURAÇÃO: 02h52minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 2h51min PÁGINAS: 65 QUARTOS: 35REVISÃO: Eliana, Liz, Paulo Domingos, Rosa Aragão, Veiga, Víctor, ZilfaSUPERVISÃO: J. Carlos, Letícia, ZuzuCONCATENAÇÃO: Estela
DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO
JOSÉ VIEGAS FILHO - Ministro de Estado da Defesa Nacional.
SUMÁRIO: Esclarecimento acerca dos planos e diretrizes do Governo para a defesa nacional.
OBSERVAÇÕES
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Relação Exteriores e de Defesa NacionalNúmero: 0506/03 Data: 14/05/03
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A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Declaro abertos os
trabalhos desta reunião de audiência pública da Comissão de Relações Exteriores e
de Defesa Nacional, com a presença do Embaixador José Viegas Filho, Ministro de
Estado da Defesa, que prestará esclarecimentos acerca dos planos e diretrizes do
Governo da República para o aperfeiçoamento da defesa nacional.
Esta reunião foi convocada nos termos do requerimento de autoria minha e do
Sr. Deputado José Thomaz Nonô.
Comunico aos senhores membros desta Comissão que o Embaixador José
Viegas Filho, nosso Ministro da Defesa Nacional, disporá de 30 minutos para fazer
sua exposição, prorrogáveis por mais 15 minutos, e só poderá ser aparteado durante
a prorrogação.
Os Srs. Deputados inscritos para interpelar o expositor poderão fazê-lo
estritamente sobre o assunto da exposição, pelo prazo de 5 minutos; o interpelado
terá igual tempo para responder. É claro que, depois, poderemos ter a réplica e a
tréplica.
Vou dar início aos trabalhos.
Concedo a palavra ao Sr. Ministro da Defesa Nacional, Embaixador José
Viegas Filho.
O SR. MINISTRO JOSÉ VIEGAS FILHO - Exma. Sra. Deputada Zulaiê
Cobra, Presidenta da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional, da
Câmara dos Deputados, Sras. e Srs. Deputados, senhoras e senhores, desejo
manifestar, antes de mais nada, a especial satisfação com que compareço a esta
Comissão. Considero o diálogo com o Congresso Nacional indispensável para a
formulação das nossas políticas em matéria de defesa e segurança. Vir a este foro
para esclarecer questões de interesse nacional e trocar idéias com V.Exas. constitui
para mim não apenas uma obrigação, que cumpro com prazer, mas também um
imperativo da democracia.
Encontro-me, como sempre, à inteira disposição desta Casa.
Se estiverem de acordo, farei uma breve exposição sobre temas afetos à
Pasta da Defesa. Em seguida, responderei às perguntas que V.Exas. hajam por bem
me dirigir.
Senhoras e senhores, qualquer tentativa de entender o cenário internacional
tal como hoje se configura não pode deixar de levar em consideração 2 dados
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fundamentais. Ambos têm como centro os Estados Unidos da América. O primeiro
desses dados, de caráter macroestrutural, é a posição especial ocupada pelos
Estados Unidos no contexto das nações. O segundo, ligado à presente conjuntura,
relaciona-se com a atuação norte-americana no conflito que envolve o Iraque.
Superpotência remanescente no mundo pós-bipolar, os Estados Unidos se situam
em uma categoria singular na macroestrutura do poder internacional. Trata-se da
nação que detém os maiores excedentes de poder em todos os domínios das
relações internacionais: político, militar, estratégico, tecnológico, econômico e
financeiro. E esse fato gera extraordinário diferencial de poder com relação aos
demais atores do sistema internacional.
Aí reside um elemento central para a adequada compreensão da estrutura
internacional contemporânea.
O poderio dos Estados Unidos, contudo, contrasta com a sensação de
vulnerabilidade do país, em que tiveram lugar os trágicos atentados terroristas de 11
de setembro de 2001. Os atos terroristas deixaram traumatizada uma nação que se
mostrou insegura frente a ataques feitos no coração do seu próprio território,
ataques perpetrados contra os símbolos máximos do seu poder econômico, militar e,
por pouco, também contra o símbolo máximo do seu poder político. No pós 11 de
setembro, os Estados Unidos ergueram os temas relativos à segurança ao topo da
sua agenda externa, vale dizer, ao topo da agenda internacional.
Infelizmente, a distância não se provou longa entre essa compreensível
preocupação com os assuntos de segurança e uma atuação que privilegia o
unilateralismo em detrimento do multilateralismo. Em termos gerais, pode-se dizer
que, desde o fim da Guerra Fria, os Estados Unidos haviam buscado e logrado que
a sua atuação em matéria de paz e segurança internacional tivesse o respaldo do
Conselho de Segurança das Nações Unidas. Garantiam, assim, um grau de
legitimidade para sua ação externa. Porém, o episódio no Iraque, em que os
Estados Unidos agiram sem o aval do Conselho de Segurança, representou uma
alteração significativa no padrão de comportamento da superpotência.
Pois bem. O que isso significará para a organização das relações
internacionais, para o futuro do relacionamento transatlântico, para a OTAN e para o
próprio Conselho de Segurança são questões em aberto, que, certamente,
motivarão discussões acaloradas.
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No tocante ao Conselho de Segurança, tende a predominar, mesmo nos
meios especializados, a avaliação de que o órgão teria sido desmoralizado no
momento em que deixou de autorizar uma ação, a qual, não obstante, foi levada a
cabo pela superpotência. Embora essa avaliação seja, à primeira vista, razoável,
parece-me também que se pode olhar o problema de um ângulo distinto.
Uma das mais importantes tarefas do Conselho de Segurança, em termos
políticos, é definir, de forma tão clara quanto possível, os espaços de legalidade e
legitimidade para a atuação externa dos países nos assuntos relativos à paz e
segurança internacional. Essa tarefa, o Conselho a cumpriu no episódio do Iraque, e
de maneira muito nítida. Não creio que haja dúvida quanto ao fato de que a recusa
dos membros do Conselho de Segurança em autorizar o uso da força contra o
Iraque tenha estabelecido limites jurídicos claríssimos no plano internacional. A
decisão do Conselho de não chancelar a iniciativa norte-americana contribuiu
decisivamente para as reservas expressas inequivocamente por grande parte da
comunidade e da opinião pública internacional à atitude dos Estados Unidos.
Seguindo essa linha de raciocínio, podemos indagar sobre se, neste caso
particular, o Conselho de Segurança, ao recusar dar autorização à ação pretendida,
não se sujeitando pois à vontade da superpotência, não teria aberto o caminho
justamente para a revalorização do órgão como instância representativa da
comunidade internacional. A especulação pode ir mais além e perguntar sobre se a
recusa não apontaria para o início de uma inflexão no modo do relacionamento da
comunidade internacional com a superpotência, não no sentido clássico de operação
de uma balança de poder e formação de uma aliança para fazer face aos Estados
Unidos, mas sim no sentido bastante mais matizado, porém muito relevante, de fixar
limites e freios à aceitação de uma liderança inconteste norte-americana.
É certo que as Nações Unidas sofrem em decorrência de procedimentos
unilaterais. O que desejo enfatizar é que, em resposta a atos com viés unilateral, o
papel da comunidade internacional não deve ser o de acomodar as normas do
Direito à estrutura do poder, e, sim, o de prestigiar as normas do convívio. As
desproporções estratégico-militares existentes entre os países não devem ser
transpostas também para o plano jurídico. É necessário, isto sim, que o Direito sirva
para aplacar a força. É necessário fortalecer o multilateralismo e democratizar os
processos decisórios internacionais.
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A democracia não se esgota, não pode esgotar-se dentro das fronteiras dos
países. Sobretudo em um mundo crescentemente globalizado, os problemas de
dimensão internacional têm de ser resolvidos não pela imposição das vontades
individuais, mas sim pela ação harmônica dos Estados.
Sobre o Brasil. Estamos inseridos no mundo; portanto, a lógica do poder
internacional nos diz respeito e constitui, evidentemente, parâmetro básico da nossa
ação externa. Mas, no que tange particularmente aos interesses do Brasil em
matéria de defesa, o País não é diretamente ameaçado por fenômenos militares,
como os que acabo de descrever. Ainda que não sejamos nem possamos ser
indiferentes às grandes questões internacionais do nosso tempo, nós nos
encontramos, inegavelmente, afastados dos centros de disputa estratégica que
envolvem a superpotência. E esse é um dado sem dúvida relevante para o nosso
trabalho.
A exemplo do cenário internacional, o contexto regional tampouco apresenta,
como todos sabemos, riscos para o Brasil quanto à perspectiva de deflagração de
algum conflito interestatal em que o nosso País se veja envolvido. Vivemos em paz
com os nossos vizinhos há mais de 100 anos e não há qualquer indício que permita
supor modificação nessa situação no futuro presumível. Contudo — e tenho insistido
neste ponto em pronunciamentos públicos — não estamos completamente imunes a
diversos tipos de ameaças de caráter transfronteiriços. No que concerne ao
terrorismo internacional, estamos conscientes da gravidade do problema.
Felizmente, não há terrorismo brasileiro nem contra o Brasil, mas mantemos
constante vigilância. A tríplice fronteira tem recebido acompanhamento específico
em função das manifestações de inquietação com a possível presença na área de
pessoas ligadas a atividades terroristas em outros países. Nossos serviços de
inteligência têm trabalhado permanentemente sobre a hipótese, mas sem detectar
qualquer problema concreto. Mesmo assim, para que não sejamos surpreendidos,
continuaremos atento, prontos a investigar e esclarecer suspeitas. A propósito, peço
a V.Exas. que não deixem de nos transmitir qualquer informação sobre o tema que
lhes pareça fidedigna.
Quanto à Colômbia, o noticiário, com certa freqüência, alimenta o temor
diante das atividades das FARC em território nacional. Na realidade, foram raros os
episódios de contato na área de fronteira. Não creio que as FARC tenham intenção
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alguma de entrar em território brasileiro, mas faço questão de ressaltar que qualquer
incursão em nosso território será rechaçada com todo o rigor, e que não fiquem
dúvidas a esse respeito.
Outro tema que atrai a atenção da opinião pública se refere ao tiro de abate.
Sobre esta matéria, gostaria de dizer que estamos ponderando as implicações e as
preocupações nacionais e internacionais para regulamentar a lei aprovada pelo
Congresso Nacional. Entre outros aspectos, estamos levando em consideração as
posições dos países vizinhos amazônicos, uma vez que é natural que esta questão
seja tratada de forma coordenada.
Ainda sobre os assuntos de defesa e segurança no plano regional, merece
destaque o processo de intensificação das relações existentes entre as Forças
Armadas no contexto sul-americano. Na prioridade, atribuída pelo Presidente Luiz
Inácio Lula da Silva ao nosso subcontinente, estou buscando conferir ímpeto
renovado a este processo. No último dia 23 de abril eu me reuni, no Rio de Janeiro,
com os Ministros da Defesa dos demais países da América do Sul, por ocasião da
Feira de Defesa da América Latina. Foi a primeira vez na história que os Ministros da
Defesa deste continente se reuniram no âmbito específico da América do Sul. E o
encontro foi extremamente produtivo. Pudemos reforçar a convicção de que a nossa
região já alcançou identidade política e estratégica própria, que se estrutura em
torno de dois conceitos fundamentais — a paz e a democracia — bem como
pudemos perceber, com muita clareza, que os problemas que enfrentamos não nos
separam, antes nos unem, porque, em larga medida, são comuns a todos os nossos
países. Nesse espírito, concordamos em que deveríamos seguir trabalhando para
fortalecer os laços de confiança, que já aproximam e tendem a aproximar cada vez
mais as Forças Armadas sul-americanas.
Diante dos quadros internacional e regional, cujas linhas gerais acabo de
assinalar, há algumas prioridades em matéria de defesa que me parecem dignas de
especial atenção. Em primeiro lugar, por motivos muito mais amplos do que a
vizinhança com a Colômbia — razões que V.Exas. conhecem de sobra —, estou
determinado a conferir prioridade ainda maior à proteção da Amazônia.
O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinalou o seguinte:
“Há ações criminosas transnacionais que precisam
ser prevenidas, vazios demográficos que precisam ser
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guardados, espaços aéreos que precisam ser vigiados e
áreas marítimas que precisam ser patrulhadas. As Forças
Armadas têm um dever essencial, e, para cumpri-lo, têm
de estar preparadas, equipadas e bem treinadas.”
Realizei na Amazônia a minha primeira visita como Ministro da Defesa, onde
cumpri programação extensa. Foi emocionante ver de perto as consistentes
iniciativas das nossas Forças Armadas, sobretudo na área social. O apoio que
nossos militares prestam na Amazônia às camadas menos favorecidas da
população é merecedor de respeito e admiração. Pude testemunhar o trabalho
exemplar que desenvolvem os nosso oficiais e praças, muitas vezes em condições
especialmente difíceis, superando, com dedicação e garra, as carências materiais e
financeiras que têm de enfrentar.
Fica particularmente nítida, na Amazônia, a profunda identificação entre as
Forças Armadas e o Estado, a Nação, a sociedade e o povo brasileiro. Se a
proteção da Amazônia dependesse apenas do profissionalismo e do
desprendimento dos nossos contigentes militares, nós não teríamos nada com que
nos preocupar. Se nos preocupamos com a Amazônia e, de modo geral, com os
nossos amplos espaço é porque sabemos que a fragilidade da nossa segurança —
não do ponto de vista humano, mas do material — ficará perigosamente exposta, se
não corrigirmos o rumo em tempo. Na Amazônia, temos de ampliar paulatinamente o
número de efetivos e a quantidade de equipamentos; temos também de buscar
continuamente formas de suprir carências com melhor aproveitamento dos recursos
disponíveis, como faz o Exército, ao concentrar em certos pontos de acesso ao
território brasileiro os contingentes, numericamente escassos, de que dispõe para a
vigilância da imensa região.
Na esfera institucional, é prioritária a promoção, sob a égide do Ministério da
Defesa, da integração crescente das forças singulares. Respeitando a
individualidade das Forças, a integração multiplica a sua capacidade pela ação
conjunta. E uma das formas de promover essa integração e o aproveitamento de
potencialidades é a organização de operações combinadas. Em junho próximo
realizaremos na Amazônia a Operação Timbó, que consistirá num exercício
combinado que envolverá as três Armas.
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Outra importante vertente da minha Pasta, a que também atribuo prioridade, é
a do relacionamento internacional do Brasil em assuntos de segurança e defesa.
Essa vertente, na qual nos coordenamos estreitamente com o Itamaraty, abarca,
além de aspectos aos quais já aludi, um sem-número de outras iniciativas. Destaco
aqui a operacionalização da participação do Brasil em missões e operações de paz;
as reuniões dos grupos bilaterais de defesa com diversos países, como Argentina e
Estados Unidos; as conferências de Ministros da Defesa das Américas; as reuniões
de Ministros da Defesa da comunidade dos países de língua portuguesa; o plano de
cooperação técnico-militar do Brasil com os países da CPLP.
Acredito que seja igualmente útil mencionar, ainda que de maneira sucinta, os
temas de alta prioridade de cada uma das três Forças. Naturalmente, a atuação de
cada uma delas é diversificada e complexa.
Limito-me, neste momento, a apontar os itens de destaque mais evidentes.
No caso da Marinha, concentram-se esforços no projeto do submarino nuclear, de
elevada densidade tecnológica, que deverá desempenhar papel de relevo na
proteção de nossas águas. No caso do Exército, saliento, além do reordenamento
de unidades na Amazônia, os projetos ligados às forças de ação rápida, a
comunicações e guerra eletrônica, bem como à renovação de carros de combate.
Quanto à Aeronáutica, sobressai, em primeiro lugar, sua contribuição para o
desenvolvimento do programa espacial brasileiro. Todos temos consciência das
dimensões e da importância do mercado de lançamento de satélites artificiais. A
retomada do programa de compras de aeronaves é outra questão fundamental.
Não posso deixar de me reportar, nessas palavras iniciais, ao tema da
segurança interna.
O debate sobre o emprego das Forças Armadas na luta contra o crime
organizado assume dramática atualidade em função de acontecimentos recentes,
em particular no Rio de Janeiro. É compreensível a tentação de certa parcela da
população de propugnar um envolvimento maior de uma instituição respeitável,
como as nossas Forças Armadas, no combate à violência urbana. No entanto —
este é o ponto central do debate —, não podemos perder de vista que as Forças
Armadas não se destinam a atividades de policiamento urbano. Esta não é uma
posição de caráter filosófico, mas de sentido essencialmente prático e pragmático.
Não sendo as Forças Armadas preparadas para patrulhar cidades, porque esse não
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é o seu mister, utilizá-las para esse fim por período mais prolongado poderia ter
conseqüências que ninguém almeja.
Consciente da gravidade do problema de segurança pública no Rio de
Janeiro, o Governo Federal tem dado demonstrações concretas de seu empenho em
cooperar para que os Governos Estaduais possam cumprir as atribuições que lhes
cabem nessa matéria. A assistência a qualquer Estado deve ser prestada em estrita
observância da Constituição da República e do princípio federativo nela consagrado.
A cooperação das Forças Armadas não escapa a essa norma.
Antes de concluir, desejo registrar iniciativa, à qual pretendo dar início em
breve: a organização de um amplo exercício de reflexão, em âmbito nacional, sobre
a necessidade de atualização do pensamento brasileiro em temas de segurança e
defesa. Para antecipar a V.Exas. o formato de um projeto ainda em
desenvolvimento, tenho em mente a realização de vários encontros para discussão
de temas selecionados com grupos de personalidades que se preocupam com o
destino estratégico do País a partir de perspectivas diversas: políticos, acadêmicos,
militares, diplomatas, jornalistas, intelectuais, membros do Governo. Tenciono
publicar em livro todas as contribuições e resultados.
A expectativa que alimento é a de que contemos, ao final do exercício de
reflexão, com um cabedal de propostas e idéias amadurecidas pelo debate livre que
fecundará a formulação doutrinária em seus diversos aspectos e em benefício de
todas as Forças. Confio também em que já colheremos frutos à medida que os
debates de desenrolem, seja pelas críticas construtivas, seja pelo próprio convívio
com personalidades cuja experiência diversificada certamente nos será
enriquecedora. Os organizadores do projeto se sentirão muito honrados com a
colaboração de Parlamentares para a realização e o êxito do exercício.
Sra. Presidenta, Deputada Zulaiê Cobra, Sras. e Srs. Deputados, agradeço
novamente pela honrosa oportunidade que me proporcionaram de me dirigir a esta
importante Comissão e reitero minha permanente disposição de retornar sempre que
V.Exas. julgarem adequado.
Coloco-me à disposição de V.Exas. para tratar das questões que considerem
pertinente suscitar.
Muito obrigado.
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A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Nós é que agradecemos,
Ministro.
Passaremos agora a palavra aos autores do requerimento.
Concedo a palavra ao Deputado José Thomaz Nonô.
O SR. DEPUTADO JOSÉ THOMAZ NONÔ - Sra. Presidenta, gostaria de
ceder minha vez ao nobre Deputado Pannunzio, que tem um compromisso urgente.
S.Exa. será, como sempre, brilhante e breve.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Pois não.
Com a palavra o Deputado Antonio Carlos Pannunzio.
O SR. DEPUTADO ANTONIO CARLOS PANNUNZIO - Nobre Deputado José
Thomaz Nonô, agradeço a V.Exa. e prometo ser bastante breve.
Sr. Ministro, cumprimento V.Exa. por esse gesto de cortesia para com esta
Comissão, que é fundamental para que ambos, Legislativo e Executivo, cumpramos
nossas missões.
A exposição de V.Exa., de um lado, nos esclarece alguns pontos bastante
importantes, e, de outro, causa-nos algumas dúvidas.
Expôs V.Exa., com muita precisão, que as FARC, na fronteira com a
Colômbia, não pretendem invadir deliberadamente o território nacional. Até aí, todos
concordamos. Por outro lado, é público e notório que as FARC utilizam o território
brasileiro como fonte de suprimentos de insumos necessários à fabricação da
cocaína, como mercado exportador da droga e também como corredor do tráfico
para a exportação. O que é pior: mantêm relações muito estreitas com brasileiros,
conforme ficou comprovado com a prisão do Fernandinho Beira-Mar em território
colombiano, em companhia de altos expoentes das FARC, depois de ter saído ferido
de um entrevero. Nesse episódio, ficou evidenciada a relação muito próxima que as
FARC têm com o crime organizado no Brasil. Portanto, eles estão já interferindo na
vida nacional.
Por outro lado, temos também informações acerca de relações íntimas,
carnais, entre as FARC e o MST. Senão todo, pelo menos um segmento do MST
treina componentes para aquilo que alguns desvairados do MST entendem como
preparação para guerrilha que eles sonham travar um dia no território nacional.
Quero saber qual o posicionamento do Sr. Ministro da Defesa em relação a
essas questões.
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Por último, para ser bastante breve, V.Exa. citou a priorização do Programa
Aeroespacial Brasileiro. Na seqüência, veio com o reaparelhamento da Força Aérea
Brasileira. Entendo que hoje não existe Orçamento no Brasil para se trabalhar
conjuntamente nessas duas frentes.
No meu modesto entender de Deputado e engenheiro, não entendo nada de
defesa. Procuro apenas ler e me aplicar. Mas julgo fundamental, antes de nos
aventurarmos no espaço sideral, que primeiro procuremos garantir a soberania
nacional no espaço aéreo brasileiro.
São essas as questões que apresento a V.Exa.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Obrigada.
Com a palavra o Sr. Ministro José Viegas Filho.
O SR. MINISTRO JOSÉ VIEGAS FILHO - Muito obrigado, Sr. Deputado
Antonio Carlos Pannunzio.
Quanto às FARC, V.Exa. concentra suas observações no que diz respeito a
atividades criminosas, portanto, de natureza policial, o que está fora do âmbito de
competência da minha Pasta.
Ao me referir às FARC, faço-o como organização armada e paramilitar. E
deixo absolutamente claro e fora de qualquer dúvida que as FARC não terão
complacência da parte do Governo brasileiro. Não tenham ilusão quanto a isso. Digo
isso enquanto Ministro da Defesa.
Do ponto de vista de repressão às atividades do narcotráfico, o assunto cai na
esfera policial do Ministério da Justiça. É evidente que, sendo o Governo brasileiro
uno, o mesmo tratamento lhes será dado. Mas não cabe a mim definir nem traçar
políticas nessa área. As políticas são compatíveis em ambas as áreas, mas são
traçadas em Pastas diferentes.
Quanto a eventuais ligações entre as FARC e o MST, desconheço sua
especificidade. Faço referência, novamente específica, ao ponto em que peço a
V.Exas. que não deixem de nos transmitir qualquer informação sobre o tema.
Do ponto de vista do reaparelhamento da Força Aérea Brasileira, parece-me
que V.Exa. faz referência, contrapondo-se ao programa de controle do espaço aéreo
da Amazônia. V.Exa. naturalmente, deduzo eu, confere uma prioridade maior à
proteção do espaço aéreo amazônico, com o que estou totalmente de acordo.
Vivemos uma situação de escassez orçamentária bem mais severa do que aquela
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que gostaríamos de estar enfrentando. Há problemas de restrição de crédito na área
do controle do espaço aéreo amazônico. Mas essa situação é enfrentada no
Governo brasileiro com uma clara noção de prioridade nesta rubrica. O Governo
brasileiro tem uma perfeita identificação sobre a importância prioritária do controle
do espaço aéreo amazônico no contexto da distribuição das despesas a que temos
de fazer face.
Espero ter respondido a suas perguntas, Deputado, no limite da minha
capacidade.
O SR. DEPUTADO ANTONIO CARLOS PANNUNZIO - Sra. Presidenta,
exercito meu direito à replica.
Primeiro, agradeço ao Sr. Ministro pela gentileza de suas respostas. V.Exa.
cita aqui mais um ponto do questionamento permanente entre a sociedade civil e a
área de defesa do Governo ou mesmo as Forças Armadas como um todo.
V.Exa. aborda como sendo um problema de natureza policial esse
intercâmbio das FARC com o crime organizado e o narcotráfico. Isso é sobejamente
conhecido e acaba sendo um problema de segurança nacional também, porque tal
não se limita a episódios isolados de atentados a direitos individuais. Hoje, a
soberania do Estado — pelo menos na nossa compreensão — vem sendo colocada
em risco. Não pretendo discutir esse tema, que é de amplitude muito grande, mas
acredito que chegará o momento em que seremos obrigados a rever esses
conceitos. O que é um problema de natureza exclusivamente policial extrapola
limites e passa a ser também problema de segurança nacional.
Muito obrigado.
O SR. MINISTRO JOSÉ VIEGAS FILHO - Estamos atento, Deputado, a essa
problemática a que V.Exa. se refere. Essa é uma matéria à qual, infelizmente, não
temos controle, mas que está sob constante exame do ponto de vista conceitual e
da condução política do Governo.
Terminei minha introdução, fazendo referência a uma série de debates que
realizaremos ao longo do segundo semestre deste ano. Tais debates serão
estruturados em torno de alguns conceitos. Um dos eixos fundamentais de
estruturação dos debates que faremos sobre segurança e defesa é a questão da
inter-relação entre os dois conceitos — defesa e segurança —, que são irmãos e se
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interpenetram. Essa interpenetração é uma das intercessões mais delicadas que
existem na estrutura de ação política do Governo brasileiro.
Essa matéria requer acompanhamento constante.
Muito obrigado, Deputado.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Com a palavra o Deputado
José Thomaz Nonô.
O SR. DEPUTADO JOSÉ THOMAZ NONÔ - Sr. Ministro, em primeiro lugar, é
um prazer revê-lo, depois de longos anos. A última vez que vi V.Exa. foi quando era
Embaixador na Dinamarca. Cuidávamos de minas antipessoais — eu, na Cruz
Vermelha Internacional, na Crescente Vermelha, e V.Exa., na sua função precípua.
Depois disso, V.Exa. viveu no Peru e na Rússia. Então, V.Exa. é um diplomata que
teve o privilégio — no tempo em que isso existia — de trabalhar no Primeiro,
Segundo e Terceiro Mundo, coisa muito rara tanto no Itamaraty como na diplomacia
internacional.
Não é à toa que a abordagem de V.Exa. quanto ao cenário internacional e a
presença norte-americana como potência remanescente — para usar a expressão
de V.Exa. — é absolutamente irretocável.
Minhas perguntas, com os cumprimentos, fazem referência à questão da
segurança. A primeira pergunta, Sr. Ministro, é sobre a eterna questão orçamentária
— e permita que eu me aprofunde um pouco sobre ela. V.Exa., salvo engano da fala
do Presidente, disse que as Forças Armadas precisam ser preparadas, equipadas e
bem treinadas, o que é uma verdade acaciana e induvidosa. Tenho absoluta
convicção de que nossas Forças Armadas são preparadas; bem treinadas, em que
pesem os sacrifícios, também são; agora, equipadas, Excelência... Aí é que começa
o problema.
Vou segunda-feira ao Pólo Sul para visitar a Estação Comandante Ferraz, um
programa da Marinha. Dedico especial atenção aos problemas da Marinha. Um
soldador de submarino — e V.Exa. citou essa categoria — ganha no mercado 6 mil
e 500 reais por mês. Na Marinha, ganha 800 reais. E, com a dificuldade de
manutenção dos serviços, mesmo que estejamos abrindo os estaleiros para reparo
de belonaves estrangeiras, mesmo assim, estamos perdendo mão-de-obra
qualificada, da melhor qualidade.
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O que pode fazer o Ministério, no sentido de estancar esta sangria de mão-
de-obra, repito, desejada e cobiçada pelo mercado civil, não pelo mercado militar?
No Pólo Sul, estamos na iminência de ter vazamento de óleo, o que seria uma
catástrofe ecológica sem precedentes. A Rede Globo de Televisão e outras redes
que tais dedicariam Fantásticos da vida a este evento...
No começo do programa, o orçamento era de 16 milhões de reais; no ano
passado, foi de 2 milhões de reais e mais alguma coisa — e só foi executado porque
o Ministério do Meio Ambiente aportou 1 milhão de reais; comportamento tão
solidário quanto atípico. Foi a primeira vez em que isso aconteceu na História do
Brasil. Espero que se repita a solidariedade intraministerial.
Mas, com esse tipo de vicissitude, fica extremamente difícil, não obstante o
patriotismo, o treinamento e todas as virtudes inerentes às nossas Forças Armadas,
elas desempenharem suas funções.
A terceira questão — até porque é uma satisfação pessoal. Nós batalhamos
há muito tempo, desde tempos outros em que os partidos tinham outras posições e
as pessoas lembravam com mais clareza do seu passado e dos seus compromissos
— nos colocando até contra partidos hoje no Governo — pela implantação do
SIVAM. Como sou um Deputado antigo — estou completando maioridade na Casa,
21 anos —, sou testemunha ocular de uma série de coisas que hoje seriam risíveis
se não fossem trágicas. A batalha do SIVAM foi um terremoto nesta Casa. O SIVAM
é crucial para o Brasil e para a defesa nacional, e, hoje, a posteridade já nos deu
razão incontroversa. Mas com este problema, de que o SIVAM saiu da moda, para
usar uma expressão vulgar, nós não temos mais notícia de como está a efetiva
implantação da rede. E, quando vejo as restrições orçamentárias, fico em pânico. A
última vez que vi notícia sobre o SIVAM foi quando fomos ao posto do Exército de
Surucucu, na fronteira com a Venezuela, no extremo norte do País. Já havia um
atraso no cronograma, bem como dificuldades de instalar o sistema, que é excelente
para a defesa, na repressão ao narcotráfico, enfim, para preservação de nossas
riquezas.
E, por falar em preservação de nossas riquezas, essa é outra questão. Na
Amazônia, há uma estranha coincidência entre o mapa de riquezas e o
estabelecimento de ONGs e igrejas. Não quero aqui verbalizar nada anticlerical;
longe de mim, porque sou temente a Deus. Mas acho engraçado que algumas
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missões religiosas só se instalem na superfície de subsolos riquíssimos. E essa
coincidência entre o espaço celestial e o subsolo brasileiro é bastante preocupante
para aqueles que estejam preocupados com a salvaguarda dos interesses
nacionais. Igrejas e ONGs — essas as mais estranhas possíveis.
Então, gostaria de saber de V.Exa. sobre isto, se essas estranhas
coincidências também fazem parte da pauta de preocupações do Ministério da
Defesa.
Por último, Alcântara. V.Exa. pontuou, e ficamos bastante gratificados, a
questão do Programa Espacial Brasileiro. Antes, já havia pontuado a questão do
submarino nuclear, que é fundamental para o desenvolvimento e para o domínio
dessa tecnologia. Durante muito tempo foi confundido... Quer dizer, poder-se-ia
pensar que abaixo da superfície do submarino nuclear poderia haver uma bomba
atômica. Creio que essa questão já foi devidamente espancada, salvo um Ministro
do PSB, que, de vez em quando, retoma o assunto. Mas não quero que V.Exa. entre
nas futricas intraministeriais. Creio que o nosso tema é domínio da tecnologia de
submarino. Mas, repito, o programa nuclear é caríssimo para qualquer país.
Sabemos disso. Mas como fazer, então, o nosso submarino aflorar, navegando, num
mar tão escasso de dinheiro?!
Com relação à Alcântara, há uma dúvida recorrente. Já ouvi Ministro das
Relações Exteriores, Governadores e Deputados experientes, o mais velho desta
Casa, que é de lá, discutirem com muita propriedade essa questão; contudo, nunca
consegui entender direito o que a sociedade brasileira deseja com Alcântara: se
quer uma atividade de transferência de tecnologia, um posto avançado da defesa
nacional ou se quer fazer daquilo algo lucrativo para que, com os recursos, sejam
financiados — o que me parece a solução mais inteligente — outros programas de
interesse da sociedade brasileira; ou se quer fazer daquilo — e já foi dito aqui por
outro brilhante Parlamentar — um quilombo maranhense ou um Centro de Cultura
do Bumba-meu-Boi, ou qualquer coisa assim. Já sugeriram até um acampamento
dos sem-terra. Mas não chego a tanto, até porque lá está tudo cimentado e fica
difícil o cultivo. No entanto, Excelência, tenho preocupações no que diz respeito ao
futuro de Alcântara, quer dizer, futuro, mas com alguma margem de concretude.
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Portanto, essa foi a razão da subscrição do requerimento, mas é a última
questão. Confesso até que estou mais angustiado em relação às outras do que
quanto a essa última pergunta.
Aqui ficam os meus reiterados cumprimentos a V.Exa. pela maneira Zen e
positiva pela qual trouxe a debate temas tão cruciais e difíceis.
Era o que tinha a dizer.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Com a palavra o Sr.
Ministro José Viegas Filho.
O SR. MINISTRO JOSÉ VIEGAS FILHO - Muito obrigado, nobre Deputado
José Thomaz Nonô. Reciproco, com prazer, os cumprimentos que recebi de V.Exa.
Estamos, mais uma vez, do mesmo lado das boas batalhas que travamos juntos. A
América do Sul é a única região do mundo em que todos os países aderiram à
convenção que baniu o uso das minas de guerra antipessoal. E, como negociador
brasileiro, orgulho-me muito de ter articulado esse movimento e contado com o
apoio de pessoas ilustres como V.Exa.
O problema de equipamentos das Forças Armadas é realmente bastante
sério, mas não a ponto de comprometer nossa segurança. Quero deixar isso claro
para não gerar inquietações maiores do que as que — e considero justo e razoável
— possamos ter. Não estamos desprotegidos. Mas também é verdade que nossos
equipamentos já se encontram numa faixa de idade que se aproxima da velhice. É
preciso reforçar as Forças Armadas; é preciso reequipá-las — Exército, Marinha e
Aeronáutica.
Fazer a lista das prioridades não é tão difícil quanto obter recursos para que
essas prioridades possam alcançar o patamar de realidade.
O SIVAM, certamente, é a prioridade, no caso da Aeronáutica. O programa
nuclear da Marinha certamente está entre as prioridades da Marinha. O
desenvolvimento de forças de deslocamento e de ação rápida certamente é uma
prioridade do Exército. No caso da Aeronáutica, além do SIVAM, temos a questão
do reaparelhamento da Força Aérea propriamente dita, a par do programa de
Alcântara. Se somarmos tudo isso, chegaremos facilmente a cifras superiores a 1
bilhão de dólares. E o Governo tem limitações orçamentárias que têm de ser vistas
pela sociedade brasileira e, muito particularmente, pelo Congresso Nacional
brasileiro.
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A decisão que o Congresso venha a tomar sobre o rumo a ser dado na lei
orçamentária é crucial para que possamos vir a ter as Forças Armadas
razoavelmente bem equipadas. Não se trata de pedir Forças Armadas
superequipadas, mas, sim, — e estou convencido de que isto é importante para
todos nós — de que elas sejam razoavelmente equipadas. Por quê? Porque as
Forças Armadas são necessárias para que o Brasil, ou qualquer país, disponha dos
equipamentos necessários para que a população possa dormir tranqüila. Forças
Armadas servem como dispositivo de dissuasão. Elas não podem ser improvisadas
da noite para o dia, não podem ser equipadas depois que surge algum problema;
elas têm de preexistir para que não chegue a surgir problema. Então, essa
sensibilidade, essa noção de estratégia, esse pensamento de longo prazo, a
sociedade civil brasileira e, muito particularmente, o Congresso brasileiro e, em
especial, a Comissão de Defesa devem nos ajudar a desenvolver e a
instrumentalizar, dentro do contexto da necessidade imperiosa de que haja
reequipamento das Forças Armadas, necessidade essa que é reconhecida pelo
Presidente da República, sistematicamente. E já mencionei alguns exemplos.
O Deputado José Thomaz Nonô insinuou, jocosamente, que o SIVAM estaria
saindo de moda. Aceito o tom jocoso, mas acredito que ele não esteja fora de moda.
Ao contrário, o sistema foi implementado, está em execução e tem recebido
recentes e renovadas manifestações de interesse por parte dos países vizinhos.
Peru e Colômbia, em participar, desejam ter acesso a informações geradas pelo
SIVAM.
O Sistema de Vigilância da Amazônia exerce papel fundamental na geração e
na administração de informações sobre o espaço aéreo da Amazônia e tem vocação
internacional nesse sentido. O Governo brasileiro está perfeitamente disposto a
conceder acesso a essas informações aos nossos vizinhos. O SIVAM está na moda,
e tenho a convicção profunda de que ele receberá os recursos necessários para que
se mantenha em funcionamento e alcance pleno desenvolvimento nos prazos
estabelecidos.
Em relação às ONGs, também temos essa preocupação. Ouço com
freqüência a afirmação de que há coincidência entre interesses de ONGs, religiosas
ou não, e as riquezas do subsolo. O mesmo acontece com terras indígenas. Mas
esse é um assunto que não pertence à minha Pasta. O Ministério da Defesa tem
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certa interface com o assunto, mas o tema não é da nossa competência. É
compartilhado por diversas: Meio Ambiente, Minas e Energia, e até Justiça, em
alguns casos. É assunto interministerial, que abrange a Casa Civil. Trata-se de
segurança nacional e de direitos humanos. Tenho acompanhado com bastante
interesse o tema e tenho frisado a importância de que nunca tornemos vulneráveis a
presença das Forças Armadas nas nossas faixas de fronteira. Reservas indígenas e
ambientais e faixas de fronteira são temas muito próximos uns aos outros. O Decreto
nº 4.412 prevê as condições em que se dê a participação das Forças Armadas na
faixa de fronteira. É um decreto cuidadosamente escrito, que prevê a disseminação
de informações para a FUNAI e para órgãos de proteção ao meio ambiente, a fim de
resguardar os direitos indígenas. Esse decreto deve ser mantido como instrumento
do ordenamento jurídico da presença das Forças Armadas e policiais na área.
Tenho conversado com o Secretário Nilmário Miranda a esse respeito e acredito que
haja bom entendimento entre nós sobre o assunto.
Sobre Alcântara e submarino nuclear. Submarino nuclear é empreendimento
de grande importância para a Marinha. O grau de prioridade que merece é mitigado
com sua necessariamente longa duração no tempo, e ninguém espera que tenha
maturidade em 2 ou 3 anos. É projeto destinado a durar mais de uma década, e,
talvez, essa seja uma das suas vulnerabilidades, porque pode ser manejado ao
longo de 10, 12, 15 anos. Ele não só tem a finalidade especificamente militar de
dotar a Armada de um submarino capaz de navegar durante meses em águas
profundas sem voltar à superfície, mas também reforça, e muito, nosso poder de
dissuasão naval, além de gerar, em terra, conhecimento tecnológico.
Devo frisar que o programa nuclear desenvolvido em instalações da Marinha
está plenamente coberto pelas salvaguardas da Agência Atômica Internacional e da
Agência Brasileira-Argentina para a Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares
— ABACC. Na verdade, as instalações militares da Marinha são as únicas do mundo
objeto de salvaguardas da Agência Atômica Internacional. Não há a menor sombra
de dúvida sobre a finalidade exclusivamente pacífica do nosso projeto nuclear, que
sofre de carências de orçamento, que estou procurando remediar na medida do
possível, fazendo contatos, buscando maneiras de mantê-lo não somente vivo, mas
também de acelerar seu cronograma. Espero ainda estar neste mundo para ver
nosso submarino em águas, se Deus quiser!
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O Centro de Lançamento de Alcântara é o terreno a partir do qual nosso
Veículo Lançador de Satélites haverá de voar. O projeto espacial brasileiro é um
sonho de autonomia tecnológica, uma maneira de conquistar nossa participação no
mercado de satélites internacionais, tanto em lançamento quanto em uso comercial.
Como todos sabemos, a Base de Alcântara está situada em local privilegiado,
que permite lançamentos bastante econômicos, se comparados a outras. É do
interesse nacional que ela seja utilizada para lançamentos comerciais de satélites
por outras nações. Para isso, é preciso que o Governo disponha de acordos de
salvaguardas tecnológicas com os países detentores dos meios para esse tipo de
lançamento ou dos satélites a serem lançados.
Esses entendimentos são de difícil negociação. O acordo com os Estados
Unidos esteve em discussão nesta Casa e recentemente foi retirado, por não ter
encontrado possibilidade de negociação que saísse bem-sucedida. Existe um outro
com a Ucrânia aqui em discussão. Não perdemos a esperança, portanto, de obter
uso comercial viável da base de Alcântara, o que reforçaria a esperança de o Brasil
ser membro sólido do clube seleto de países lançadores de satélites, tanto em
termos de base de lançamento quanto em termos de veículo lançador, também com
finalidades plenamente pacíficas.
Não sei se respondi às perguntas de V.Exa., Deputado, mas o fiz com muito
prazer.
O SR. DEPUTADO JOSÉ THOMAZ NONÔ - Sr. Ministro, V.Exa. respondeu
com agudez e propriedade. Fico muito satisfeito, porque a razão de ser das
perguntas foi exatamente aferir até que ponto o Governo atual pretende dar
continuidade ou aprimorar programas iniciados em outros Governos, alguns
bastante remotos.
Na visão da Comissão, programas que dizem respeito às Forças Armadas
são, até certo ponto, governamentais, prioridades nacionais claríssimas, pouco
importando o matiz político, ideológico de qualquer governo. E o que ouvimos de
V.Exa. hoje nos tranqüiliza. Faço apenas duas considerações.
Quando disse que o SIVAM não estava na moda, referi-me à imprensa, não
ao programa. As matérias aqui analisadas ganham relevância fantástica na
imprensa e, depois, embora continuem importantíssimas, desaparecem. Vejam que
a mídia esteve toda voltada para a discussão sobre o superfaturamento do material,
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mas, assim que se esgotou o lado escatológico da questão, o realmente importante
sumiu.
O SIVAM é, sem dúvida, fundamental para a Amazônia, em todos os seus
aspectos.
Sr. Ministro, devo tranqüilizar V.Exa. quanto ao empenho desta Comissão,
que tem sido muito vigorosa, na última década, na defesa das proposições,
antigamente das forças isoladas consideradamente, na postulação do Ministério, no
que diz respeito a aportes financeiros às Forças.
Todos aqui aprendemos a ver um Brasil diferente. Sou do Nordeste. A
distância que nos separa da Amazônia descobri que é imensa. Temos subversão até
de conceitos geográficos. Aprendemos desde há muito que o País vai do Oiapoque
ao Chuí. Mas descobri que não é do Oiapoque, mas de Uiramutã, ponto 80
quilômetros mais ao norte, em pleno Hemisfério Norte, mais próximo de Paris, perto
do Primeiro Mundo! (Risos.)
V.Exa., a exemplo dos seus antecessores, pode e deve usar os poucos
talentos de Deputados engenhosos, a exemplo de Francisco Dornelles, um sábio, e
outros, para aportar mais recursos e impedir que essa nova divindade onipresente
no cenário brasileiro, o ícone norte-americano chamado superávit primário, expresso
em religião singular de característica da língua muito peculiar — sumo sacerdote —,
seja exercitada, em detrimento da prioridade clara da defesa da soberania nacional.
Com meus cumprimentos e agradecimentos a V.Exa., era o que tinha a dizer.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Com a palavra a Deputada
Terezinha Fernandes, também autora do requerimento.
A SRA. DEPUTADA TEREZINHA FERNANDES - Saúdo o Sr. Ministro pela
disponibilidade de vir aqui esclarecer dúvidas que nós, Deputados, temos. A Pasta
que tem V.Exa. à frente trata de assuntos muito relevantes para o Brasil, para o
povo brasileiro. Às vezes, há informações importantes que fogem ao nosso
conhecimento.
Apresentei requerimento solicitando a presença de V.Exa. e do Ministro da
Ciência e Tecnologia nesta Comissão também para discutir o acordo de
salvaguardas tecnológicas entre Brasil e Estados Unidos, hoje, graças a Deus,
resolvido.
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V.Exa. falou há pouco da decisão de retirar o projeto de tramitação. O
Deputado João Alfredo, do PT do Ceará, e eu, do PT, apresentamos indicação ao
Governo para que o fizesse.
A Base de Alcântara passa por situação muito difícil. Tive oportunidade de
visitá-la depois de ter tomado posse nesta Casa. A conversa que tive com seu
Comandante me deixou muito preocupada. O problema financeiro que enfrenta o
País influencia inclusive na alimentação da tropa daquela organização. Mas o
programa espacial brasileiro é de fundamental importância para o Brasil. V.Exa.
pode contar com nosso apoio.
Destaco, ainda, que a comunidade que ali vive foi atingida pela edificação da
construção, desde que foi implantada, há 20 anos, e até hoje não teve sua situação
definida. Nasci no Maranhão. Realço a beleza do nosso folclore, principalmente do
Bumba-Meu-Boi. Mas afirmo que os maranhenses nunca tiveram a intenção de
transformar aquele local em parque folclórico.
Desejamos que, de fato, o projeto dê certo. Desde já parabenizo o Governo,
na pessoa de V.Exa., pela iniciativa de suspender a análise do acordo de
salvaguarda tecnológica na Casa. Se ele fosse assinado, iria ferir a soberania
nacional e colocar em risco o sucesso do nosso programa espacial, que, acredito,
mesmo com todas as dificuldades por que passa, ocorrerá em futuro não muito
distante.
O acordo de salvaguarda que tramita na Casa, entre Brasil e Ucrânia, e que já
passou por esta Comissão, é importante, porque vai possibilitar o repasse das
tecnologias de que precisamos para alavancar o projeto.
Saliento também outro aspecto, que V.Exa. e o Deputado José Thomaz Nonô
já abordaram: a Amazônia. Embora V.Exa. diga que estamos fora do foco de disputa
dos Estados Unidos, que têm alvos mais importantes no momento, temos
preocupação muito grande com relação àquela região, que detém 1/3 da floresta e
1/5 da água doce do planeta, sem falar de riquezas minerais.
Por isso, levanto dois pontos: SIVAM e Calha Norte; e este último também
está — usando o termo do Deputado José Thomaz Nonô — meio fora de moda. Não
se tem discutido o assunto. Há pouca informação sobre o Calha Norte. É projeto de
repovoamento, de promoção do desenvolvimento naquela área setentrional. A
imprensa tem falado pouco sobre ele. Portanto, gostaria de saber de V.Exa. que
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destino o atual Governo — o meu Governo, o qual V.Exa. também integra — vai dar
ao Projeto Calha Norte, que também acredito importante para coibir, da mesma
maneira que o SIVAM, uma série de atividades ilícitas que ocorrem na área.
Hoje, o Calha Norte, se minha informação é correta, está em mais de 90%
implantado.
Gostaria de saber como esse projeto está sendo utilizado, quais são as
informações que nos repassa para garantir proteção ambiental — um dos seus
objetivos —,controle da ocupação e do uso do solo amazônico, vigilância e controle
das fronteiras, prevenção e controle de endemias e epidemias, identificação e
combate às atividades ilícitas — narcotráfico, contrabando —, proteção às terras
indígenas, controle aéreo, apoio à pesquisa, e combate à pirataria da biodiversidade.
Outra preocupação que também faz parte do debate sobre o SIVAM, que
ainda permanece na cabeça de muitos brasileiros, é sobre a segurança que o
Governo tem com relação às informações captadas pelo Sistema, na vigilância do
espaço aéreo e terrestre, já que a empresa que presta serviços é norte-americana.
Qual é o controle efetivo que o Governo tem sobre essas informações? Elas não
estariam sendo desviadas para interesses outros?!
Sr. Ministro, são essas as questões que gostaria que V.Exa. esclarecesse.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Sr. Ministro, V.Exa. está
com a palavra.
O SR. MINISTRO JOSÉ VIEGAS FILHO - Muito obrigado, Sra. Presidenta.
Deputada Terezinha Fernandes, agradeço a V.Exa. as observações sobre
Alcântara. Acredito que seja necessário retornar aos comentários de natureza
política que fiz anteriormente. Mas, sim, gostaria de mencionar tema que não
abordei antes, no que diz respeito a essa questão, e de fazer isso com particular
nitidez, para deixar o assunto muito claro.
Destaco o interesse que tem o Ministério da Defesa e a Força Aérea
Brasileira em considerar, com a maior boa vontade, os pontos de vista da
comunidade local de Alcântara, para que haja a maior harmonia entre ela e o
desenvolvimento do projeto. Não há razões para diferenças, porque acredito que
todos os pontos de vista são conciliáveis, desde que, evidentemente, se conceba
como viável a presença de um centro de lançamentos naquele local. A partir dessa
aceitação, todos os demais pontos são perfeitamente equacionáveis. Com todo o
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respeito aos direitos das comunidades locais, em nome do Ministério da Defesa e
em nome da Força Aérea Brasileira isto eu lhe digo com transparência e boa
vontade.
Sobre o Projeto Calha Norte. Ele está fora de moda, como dizia o Deputado
José Thomaz Nonô, do ponto de vista da imprensa, mas não das Forças Armadas,
do Ministério. O Projeto tem recebido dotações inferiores às necessárias para seu
florescimento, na faixa de 20 milhões de reais, digamos, suficientes para que se
mantenha vivo. Seria altamente conveniente que, a partir do próximo exercício
orçamentário, o Congresso e o Executivo, juntos, pudessem reforçar essas
dotações, levando-as a um patamar superior. Não vou eu lhes dizer quanto. Se
depender de mim, vamos pensar em 60 ou 70 milhões de reais. Ele chegou a ter, no
começo dos anos 1990, mais do que isso; chegou a ter mais de 80 milhões de reais
por ano. Isso é desejável. Mas nós não estamos em conjuntura de dinheiro
abundante; estamos em conjuntura de dinheiro escasso. Mas vamos pensar em
aumentar esse patamar acima dos 20 milhões.
As emendas parlamentares são instrumentos úteis para a alocação desses
recursos, sobretudo aquelas emendas feitas por Parlamentares que se preocupam
com projetos de interesse prioritário, seja para as populações carentes do Calha
Norte, ao longo do Rio Amazonas, seja para as áreas geográficas que necessitam
especificamente de mais urgente injeção de recursos.
Temos no Ministério da Defesa um setor especificamente ligado ao Projeto
Calha Norte. Temos o Cel. Avelino, um entusiasta do Projeto Calha Norte, que a ele
se dedica diariamente e que poderá dar todas as informações necessárias.
Existe um site do Ministério da Defesa que está à disposição de todos. Eu
próprio estou à disposição de V.Exas., e tenho muito interesse em manter o Projeto
Calha Norte, não só vivo como fortalecido, porque se trata de um dos mais
interessantes projetos que temos, essencial para o desenvolvimento dessa área da
Amazônia.
O SIVAM, como a Deputada Terezinha Fernandes muito bem ressaltou, é um
projeto multiuso; não só oferece uma muito necessária e urgente proteção do
espaço aéreo nacional e do espaço aéreo amazônico contra ilícitos transacionais,
ilícitos aéreos, como também permite toda uma gama de serviços terrestres:
combate à biopirataria, detecção de focos de variação de temperatura, de incêndios,
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de mau uso ou mau gerenciamento da terra, e de desmatamento. O SIVAM deve
merecer um programa de divulgação mais sistemático por parte do Governo
brasileiro.
Daqui estou vendo a Sra. Valéria Blanc, minha assessora. Creio que devamos
combinar com o Ministro Gushiken a possibilidade de darmos especial atenção ao
projeto SIVAM, porque é preciso que exista uma consciência mais difusa na Nação
brasileira de que esse está vivo, 90% realizado, presta serviços extremamente
relevantes em termos de policiamento do espaço aéreo, como também atende a
uma gama enorme de necessidades nacionais. E o SIVAM precisa de recursos,
precisa desesperadamente de recursos para que os outros 10% dele sejam
alcançados ainda este ano, ou até meados do ano que vem, como é nosso desejo.
Quanto ao controle das informações geradas pelo SIVAM, a Sra. Deputada
fique tranqüila, porque o acesso a essas informações foi negociado por pessoas
competentes, por meio de protocolos de acesso e disseminação das informações,
que até agora não provocaram — que seja do meu conhecimento — inquietações.
Se V.Exa. tiver algo a dizer a esse respeito, por favor, fale comigo, que eu
prestarei especial atenção. Muito obrigado, Deputada.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Com a palavra o Deputado
Francisco Dornelles.
O SR. DEPUTADO FRANCISCO DORNELLES - Sr. Ministro, eu queria
cumprimentar V.Exa. pela sua atuação à frente do Ministério da Defesa. Com todas
as pessoas ligadas a sua Pasta, quando se conversa, só se ouvem elogios. V.Exa.,
pela sua reconhecida competência, conseguiu unanimidade!
A minha primeira questão está ligada à EMBRAER. No domingo, li uma
notícia bastante desagradável no jornal O Estado de S. Paulo, no sentido de que o
BNDES vai reduzir os financiamento destinados à EMBRAER. Essa notícia não foi
boa para a empresa pelo reflexo que tem sobre suas ações na Bolsa e pela
insegurança que gera ante os seus potenciais clientes. Foi bom para os
concorrentes. Felizmente, a imprensa trouxe notícias dos dias seguintes; mostrou os
resultados obtidos pela EMBRAER e algumas demandas que a empresa já tem em
carteira, como a projeção de entrega de 132 jatos, em 2003, e 136, em 2004.
Mas se essa notícia não foi boa para a EMBRAER, temos que verificar que
ela é verdadeira. O BNDES, em razão das regras de liquidez do Acordo de Basiléia,
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não pode emprestar determinado percentual acima do seu ativo a uma empresa do
setor. Assim, estamos com uma empresa brasileira, nosso primeiro exportador em
2001, nosso segundo, em 2002, nosso terceiro, em 2003, com dificuldades de obter
financiamento com o BNDES. Por outro lado, verificamos que o Eximbank está
destinando 3 bilhões de reais para a Boeing, que a CoFAS, da França, 4 bilhões e
800 milhões para o Airbus e que a nossa concorrente Bombardier está recebendo 3
bilhões e 400 milhões do EDC canadense.
Eu só vejo, Sr. Ministro, uma possibilidade de resolver esse problema de
financiamento da EMBRAER: ou a capitalização do BNDES, em razão do
incremento que se quer dar hoje às nossas exportações, ou então que essa
operação seja garantida pelo Fundo de Garantia de Exportação do Tesouro
Nacional. O BNDES entraria com os recursos e o Tesouro daria a garantia. Penso
que esse seria o grande caminho.
Sei que, se fosse somente um problema empresarial de exportação, Sr.
Ministro, V.Exa. poderia me dizer que eu procurasse o Ministro Luiz Fernando
Furlan, mas o Ministro da Defesa, através da Aeronáutica, é acionista da EMBRAER,
tem o golden share, e acredito que uma das preocupações do Ministério é que o
Brasil tenha uma empresa aeronáutica forte.
A primeira pergunta que lhe faço, na qualidade de representante do Ministério
da Defesa, é se V.Exa. está participando desta política ou desta engenharia de
possível aumento de financiamento dos aviões da EMBRAER.
Segunda. Sr. Ministro, quando visitei os Estados Unidos, em 1985, na
condição de Ministro da Fazenda, tive uma conversa com o então Secretário de
Defesa James Backer para tratar da rolagem da dívida. Na época, a primeira
pergunta que ele me fez não foi sobre este assunto, mas se havia a possibilidade de
o Brasil cancelar o acordo que havia feito com a França para a compra de
helicópteros e se não podíamos comprar diretamente da Bell americana. Considerei
extremamente positiva a intervenção do Ministro, porque penso que ele tem de
defender o interesse das empresas domiciliadas no seu país que geram renda e
emprego no seu território.
Fui muito contra a abertura da concorrência para reequipamento da Força
Aérea Brasileira, até naquela época opinei do lado do emprego. Achei que, por
questões de segurança nacional, a licitação não era necessária.
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Escutei um discurso do Deputado Luiz Antonio Fleury que muito me
impressionou. S.Exa. disse que, baseada na Lei de Licitações, a Força Aérea
adquiriu aviões de transporte e helicópteros com dispensa de licitação e não
entendia por que fazer licitação para a compra dos aviões da EMBRAER. Afirmou
também S.Exa. que estava em curso uma aquisição de aluguel, por 95 milhões de
dólares, de 12 aviões israelenses da marca Kfir para serem utilizados pela Força
Aérea Brasileira e que esses mesmos aviões haviam sido vendidos por 32 milhões
de dólares ao Sri Lanka. Entretanto, o valor do aluguel à Força Aérea Brasileira era
três vezes maior do que aquele de venda.
Defendo, Sr. Ministro, que nas compras do Estado o País tem que dar
preferência às empresas brasileiras. Esse problema do reequipamento da
Aeronáutica é complexo, tanto que não foi resolvido pelo ex-Presidente Fernando
Henrique. E o Presidente Lula, com sua reconhecida competência política,
encontrou uma saída; declarou que não tomaria uma decisão, porque os recursos
seriam utilizados no Programa Fome Zero. Politicamente, todos aplaudiram a
decisão, mas aqueles que conhecem os detalhes orçamentários sabem que uma
coisa não tem nada a ver com outra. Os recursos do Fome Zero estão de um lado e
os recursos do reequipamento da Aeronáutica referem-se a financiamentos.
O ilustre Deputado Paulo Delgado defendeu a compra dos reequipamentos
dos aviões da Aeronáutica pela EMBRAER. Afirmou S.Exa. que, se chegássemos a
ponto de deixar de lado todas as questões de política de transferência de tecnologia,
de política industrial, de política de comércio exterior, de política de defesa nacional
e fizéssemos o reequipamento da Aeronáutica fora dos quadros de uma empresa
brasileira, no caso a EMBRAER, seria o caso de a Bombardier utilizar como slogan:
“Faça como o Brasil, não compre da EMBRAER”.
De modo que gostaria de perguntar a V.Exa., Sr. Ministro, quais são as
verdadeiras razões que adiam o processo de tomada de decisão do reequipamento
da Força Aérea Brasileira.
Existe dentro da Aeronáutica alguma pretensão ou mágoa em relação à
EMBRAER, por problemas de privatização ocorridos no passado? Qual é a
verdadeira razão da não-tomada de decisão? Passa pela cabeça de alguém que
esse reequipamento das Forças Aéreas seja feito fora da EMBRAER?
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Sr. Ministro, desejo relembrar que hoje o Brasil não tem mais navegação
marítima. Estamos numa situação em que, quanto maior o nosso comércio exterior,
maior o nosso déficit na conta de serviço, pela conta frete.
Também tenho receio de o Brasil ficar sem navegação aérea. O grande
desastre ocorrido no campo da navegação aérea ocorreu no Governo Collor,
justamente quando ele fez o acordo com os Estados Unidos — que considero
extremamente danoso para o Brasil — e abriu campo para verdadeiras operações
de dumping de empresas americanas contra empresas brasileiras.
Sem querer fazer história, atualmente a situação é complexa. É difícil a
situação das empresas brasileiras e nós tomamos, por algum tempo, a posição de
lavar as mãos e deixar que o mercado resolvesse o problema. No entanto, isso não
vai acontecer. Não podemos, por fidelidade às leis do mercado, abandonar a
realidade, pois o Brasil poderá ficar sem companhias aéreas de navegação, o que
seria um verdadeiro caos.
Sr. Ministro, V.Exa. poderia nos dar alguma luz sobre a situação das
companhias brasileiras de navegação aérea? Seria possível nos dar detalhes sobre
a atual situação? V.Exa. vê uma saída para esse setor? A fusão Varig/TAM
realmente é uma saída ou o Governo admite e tem como política a defesa e a
preservação das companhias aéreas de navegação nacional?
Muito obrigado, Sr. Ministro.
O SR. MINISTRO JOSÉ VIEGAS FILHO - Muito obrigado, Deputado
Francisco Dornelles, especialmente pelas suas observações iniciais, que certamente
não mereço.
Tenho conversado com a alta Direção da EMBRAER — hoje mesmo, às 19
horas, quando sair daqui, vou conversar com o Dr. Maurício Botelho — e do BNDES.
Ontem mesmo estive com o Carlos Lessa, Vice-Presidente do BNDES, e, a
propósito da reunião de ontem, notei vivo interesse do Banco em reforçar sua
posição em relação às linhas de financiamento de exportações para a EMBRAER.
De maneira que há consciência da importância desses financiamentos. V.Exa.
mesmo mencionou a existência de certos limites, de tal forma que se trata de obter o
melhor equilíbrio possível entre limitações, tanto de existência de recursos e de
impedimentos legais, quanto de interesse político e impedimento financeiro reais em
apoiar uma empresa brasileira claramente exitosa, a primeira exportadora em 2001,
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a segunda, em 2002, a terceira, em 2003. Que essa empresa repita o feito em 2003
não é nada mal, porque o setor de aviação civil está em crise no mundo inteiro.
O fato de a EMBRAER ter conseguido manter-se entre os 3 primeiros
exportadores do Brasil num ano péssimo, do ponto de vista das vendas do setor de
aviação civil internacional, revelam robustez por parte dessa empresa, que é digna
de menção.
Quanto à garantia do Tesouro, não vou seguir o seu conselho de falar com o
Ministro Furlan, mas vou falar com o Ministro Palocci, que é com quem eu tenho de
falar para obter uma garantia do Tesouro. Mas temos consciência, sim, de que é
importante prestigiar a nossa ação exportadora.
Com relação à concorrência FX, pedirei desculpas ao Deputado por não
abordar reflexões sobre o porquê da concorrência internacional neste caso e da
dispensa de concorrência em outros casos, inclusive porque essas decisões não
foram tomadas pelo Governo ao qual pertenço, mas pelo Governo anterior. Tanto
por questões éticas quanto pelo fato de que não estudei com a devida profundidade
os assuntos anteriores, acho que não seria prudente da minha parte tecer esse tipo
de julgamento, embora acredite que tais decisões certamente foram corretas.
Quanto à compra de Kfir , não as confirmo. Tampouco eu tinha conhecimento
de que houvesse tal desproporção de preços como aquela a que V.Exa. fez
referência. Sim, ouvi referências à ultima cifra que V.Exa. citou, mas não à primeira
delas, os 30 milhões. Acredito que, se fosse verdadeira essa desproporção —
V.Exa. sabe melhor do que eu que a imprensa publica muitas vezes dados
inverídicos —, ela invalidaria qualquer cogitação, ainda que preliminar, com relação
à validade dessa operação, que não confirmo.
Não há mágoas, felizmente, por parte da Força Aérea com relação à
EMBRAER. Há uma boa relação. Há uma relação melhorada entre a Força Aérea e
a EMBRAER. Há a disposição de continuar, de prosseguir, de ampliar um trabalho
conjunto. Estamos realmente trabalhando bem uns com os outros.
Quanto à navegação civil, o paralelo que V.Exa. estabelece entre a Marinha
Mercante e a aviação civil é interessante, é cabível. Não é difícil imaginar que no
futuro pudesse ocorrer na aviação civil situação similar a que se configurou na
Marinha Mercante. Hoje em dia, o Brasil transporta ínfima proporção do seu
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comércio internacional por via marítima em bandeira brasileira, enquanto no
transporte internacional de cargas e passageiros ainda temos razoável participação.
Sabemos todos que o setor de aviação civil está em crise no mundo inteiro,
como mencionei há 3 minutos. Esta crise, no caso brasileiro, tem componentes que
a tornam um tanto mais grave. Cito dois: a desvalorização cambial, que incide
particularmente sobre esse setor, muito dependente de insumos internacionais, e a
variação do preço dos combustíveis, especialmente forte no caso do querosene, que
subiu várias centenas por cento no espaço de 1 ano e tornou os custos das
empresas de aviação civil particularmente altos. O fato é que a maioria das
empresas brasileiras de aviação civil vem operando com perdas. Isso se deve a um
aumento de custos não induzido por elas próprias, não induzido por erro de gestão,
mas por problemas do próprio funcionamento do setor e também por erros de
gestão.
Muitas das empresas sobredimensionaram-se. Existe excesso de oferta de
aviões, de assentos, de linhas. Existe uma guerra, uma concorrência predatória que
leva ao agravamento da situação financeira de diversas empresas.
A visão do Governo brasileiro a respeito da aviação civil pode ser resumida
com alguns comentários básicos. Primeiro, o Governo brasileiro reconhece que o
setor tem importância estratégica, tem importância internacional e nacional
considerável e não é apenas um setor de atenção aos consumidores. A aviação civil
não pode ser regulada exclusivamente pelas leis do mercado; precisa de linhas que
não se viabilizem apenas pelo funcionamento do livre jogo de mercado e que tem de
merecer algum tipo de apoio.
O funcionamento de companhias nacionais na aviação civil internacional
confere aporte de divisas do qual a Nação dificilmente poderia abrir mão.
O Governo, diante da situação de crise do setor, vê-se na necessidade de
adotar 3 tipos de medida. Uma, medidas de caráter empresarial, que não competem
ao Governo mas sim às empresas tomarem. Tenho procurado deixar claro esse
ponto. Talvez V.Exa. tenha visto declarações que tenho feito com freqüência à
imprensa no sentido de que o Governo não poderia cogitar de aportar recursos ao
setor antes que ele se regenere, antes que ele encontre condições empresariais
capazes de torná-lo auto-suficiente, rentável; ou seja, não é politicamente concebível
que o Governo brasileiro venha a injetar recursos no setor antes de prepará-lo, de
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maneira que esse dinheiro simplesmente se desfizesse em um mar de prejuízos que
não ajudaria ninguém. Isso não vamos fazer. Mas existe necessidade de correção
empresarial. Esta é uma das premissas que temos de pensar.
Segunda medida, há necessidade de correção institucional e normativa do
setor. Para isso, estamo-nos preparando. Há um grupo de trabalho que se reúne
regularmente, várias vezes por semana, no meu Ministério, com ampla participação
do setor, do sindicato patronal, do sindicato dos trabalhadores, dos diversos setores
da aviação civil, a fim de chegarmos a um marco regulatório, processo que está
avançado e que tem como filosofia fundamentalmente o seguinte: quem
regulamenta o funcionamento da aviação civil, as linhas regulares, é o mercado. O
órgão regulador do Governo, DAC, futuramente ANAC, regulará os máximos e os
mínimos. O DAC intervirá quando a concorrência predatória gerar situação nociva
para todos, inclusive para as próprias companhias; ou vice-versa, quando houver
abuso do poder econômico nocivo ao usuário.
Nós regularemos as pontas e deixaremos o mercado regular as situações de
normalidade — a filosofia é essa. Vou dar exemplo: onde não houver companhia
operando, outra que quiser pode voar. Em locais onde houver companhias
instaladas, para outra funcionar, vamos consultar se a demanda está insatisfeita.
Não autorizaremos novas companhias onde não houver demanda insatisfeita,
porque isso gerará pressão sobre a oferta excessiva.
Essa é a filosofia que estamos adotando, que não é novidade para ninguém,
uma vez que foi adotada no passado. Precisamos apenas azeitar certas porcas e
parafusos, e o DAC está sendo instruído para fazer isso — acredito que tenha
condições de fazer isso.
O terceiro aspecto do problema é o social, o nível de empregos. Se, por um
lado, o setor está sobredimensionado, há excesso de aviões e a frota tem de ser
diminuída, o que provocará desemprego, por outro, também é preciso reduzir o
desemprego a índices mínimos e se pactuar com empregadores, empregados e
sindicatos planos de demissão voluntária.
O esforço de regular a aviação civil deve valer também para organizar um
segmento de aviação regional bem estruturado, capaz de absorver excedentes de
mão-de-obra das grandes empresas.
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Este é o arcabouço que estamos trabalhando com o objetivo de gerar
condições estruturais para o segmento ser produtivo. Se as empresas fizerem seu
dever de casa e alcançarem estruturas gerenciais de boa qualidade, estaremos,
como o BNDES, entrando nesta máquina no seu devido tempo, uma vez que o setor
dê provas de sanidade. Teremos, então, um setor em condições de fazer um vôo
livre, competitivo e lucrativo. Esse é nosso desejo, Deputado.
O SR. DEPUTADO FRANCISCO DORNELLES – Sr. Ministro, gostaria de
mostrar minha satisfação em saber que V.Exa. está conversando com o Presidente
do BNDES, economista da maior competência e espírito público, procurando
solução para as exportações da EMBRAER.
Espero e desejo que o Ministério da Defesa dê preferência às empresas
nacionais por ocasião das compras e que o equipamento aeronáutico seja feito
através da EMBRAER.
Também cumprimento V.Exa. pela afirmação de que não permitirá o emprego
das Forças Armadas em operações policiais de combate ao narcotráfico. Como não
querem investir na Polícia, desejam utilizar as Forças Armadas para fazer operação
tipicamente policial.
Com relação às empresas aéreas, vamos observar posição muito agressiva
das empresas estrangeiras diante dessa crise. Neste momento, todas elas estão
recebendo apoio e subsídios de seus países e vão jogar pesado em operações de
dumping.
Infelizmente, no Brasil nossa legislação anti-dumping e de direitos
compensatórios abrange o segmento das mercadorias, mas não está entrando com
eficiência na área de serviços.
De modo que deixo a V.Exa. esse ponto: acompanhar as operações de
dumping, visto que nossa legislação trata bem desse sistema na área de
mercadorias, os direitos compensatórios são para mercadorias, mas até agora
estamos sem um instrumento para atuar contra práticas de dumping na área de
serviços.
Agradeço a V.Exa. e reitero minha mais profunda admiração.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Tem a palavra o Deputado
Coronel Alves.
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O SR. DEPUTADO CORONEL ALVES - Sra. Presidenta, Sr. Ministro, Sras. e
Srs. Deputados, começo minha fala pedindo ajuda para esclarecer uma dúvida
levantada pelo Deputado José Thomaz Nonô.
Todos estudamos um pouco de Geografia na escola, e me ensinaram que era
do Oiapoque ao Chuí. Claro que veio uma novidade, S.Exa. cita outro nome e
V.Exa., que é de Roraima, vai me ajudar. A novidade é o Monte Caburaí, sendo
Oiapoque a única cidade no extremo norte do País, uma vez que este Monte ainda
não tem uma cidade ou um Município. Não é isso, Pastor?
Surgiu a dúvida e pensei que havia me esquecido, mas era só para fazer um
esclarecimento: o Oiapoque continua sendo, no Norte do Amapá, a única cidade no
extremo norte do País. Feito esse esclarecimento que julgo oportuno, cada vez que
V.Exa. vem a esta Comissão — as perguntas são feitas das mais diversas formas —
por mais que V.Exa. se esforce, traga dados para esclarecer este Plenário e todos
os que estão aqui, verifico que o problema das nossas Forças Armadas é
orçamentário, aquilo que desejamos fazer e aquilo que podemos fazer.
Sabemos que não é possível treinar as Forças Armadas de um ano para o
outro. Treinamento, cursos, equipamentos modernos — foi citada a questão das
aeronaves —, submarino nuclear, tudo isso leva tempo. Portanto, focalizo a questão
orçamentária das Forças Armadas. Num país plural, gigante como o nosso,
precisamos definir o que queremos. No meu entendimento, para manter a tão falada
e debatida soberania nacional, as Forças Armadas têm de estar nesse contexto.
Sobre a importantíssima presença das Forças Armadas na nossa sociedade,
na garantia da nossa soberania, no combate ao narcotráfico e na proteção das
fronteiras, gostaria que V.Exa. esclarecesse um pouco mais o que é a Operação
Timbó, porque no tempo em que passei na caserna havia uma gigantesca operação
dessa, envolvendo as 3 grandes Forças, órgãos civis federais, estaduais e
municipais. Também são levadas às comunidades atingidas por essa operação
ações sociais. Timbó, para quem não sabe, é um planta amazônica utilizada pelos
nativos para pescar. Eles a esmagam e ela solta um sumo que é jogado na água. O
peixe fica embriagado. Ela tem alto poder tóxico. Inclusive, essa pesca é predatória,
porque pega tanto o peixe grande quanto o pequeno.
Feitos esses esclarecimentos — conheço o timbó e sei que é utilizado na
região —, gostaria que V.Exa. falasse um pouco mais sobre essa operação.
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Muito obrigado, Sr. Ministro.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Tem a palavra o Sr.
Ministro.
O SR. MINISTRO JOSÉ VIEGAS FILHO - Muito obrigado, Deputado Coronel
Alves. A Operação Timbó será realizada no mês de junho. Ela não é a primeira
operação combinada que faremos na Amazônia. Já no ano passado fizemos uma.
As operações combinadas são um fator novo da vivência das Forças Armadas
brasileiras, fruto já da existência do Ministério da Defesa. A operação combinada se
diferencia da conjunta na medida em que tem um comando único de uma das 3
Forças sobre as 3 Forças.
A Operação Timbó se realizará nos afluentes sul do Rio Solimões, nas bacias
hidrográficas dos Rios Japurá, Alto Solimões, Juruá e Javari, o que abrange a
porção oeste do Acre, não na fronteira com a Bolívia, mas na fronteira com o Peru e
a área fronteiriça à Colômbia, no Estado do Amazonas. Essa operação, portanto,
desenvolve-se ao longo dos rios, envolvendo efetivos da Marinha, Exército e
Aeronáutica em exercícios que são naturalmente construídos através de cenários,
com inimigos fictícios. Elas envolvem também o que chamamos de ACISOS, ações
cívico-sociais.
Recentemente, tive um contato com o ex-Deputado Nilmário Miranda e
acertamos que já nessa Operação Timbó faremos registro civil das populações não
registradas que encontrarmos. Essas são regiões particularmente distantes,
relativamente despovoadas. As pessoas que vivem ali vivem num estado de virtual
isolamento. Muitas vezes encontram-se famílias inteiras que não são registradas.
Então, ao se fazer operações combinadas desse tipo, não só se faz o adestramento
da tropa, como também se faz o teste concreto da intercomunicação entre as
Forças.
Por exemplo, nas operações do ano passado, detectamos que houve falhas
nos sistemas de comunicação das diferentes Forças. Temos que aperfeiçoar e
interligar melhor, para que haja uma comunicação eficaz de sistemas, de pessoas e
de códigos entre as 3 Forças, como também se faz o contato com a população civil,
que é extremamente útil para o conhecimento mais profundo da região.
É com muito prazer que respondo a sua pergunta.
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O SR. DEPUTADO CORONEL ALVES - Obrigado, Sr. Ministro. Dou-me por
satisfeito, mas gostaria de ressaltar que, muitas vezes, se imagina que uma
operação militar visa somente à questão militar do treinamento e adestramento, mas
fiz a pergunta, provocando-o, para que V.Exa., que é o Ministro da Pasta, pudesse
dizer também das ações anexas às ações de treinamento.
Pelo que V.Exa. está dizendo, essa operação é no Estado do Amazonas,
próximo à divisa com o Acre. Conheço a região, já morei lá e sei que uma ação
dessa leva uma contribuição enorme para a população. Juntos vão médicos,
dentistas, IBAMA, FUNAI e outros órgãos civis, representando um grande benefício
ao Estado — nesse caso, Estado na concepção maior.
Fico grato pela sua resposta e me dou por satisfeito.
Muito obrigado.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Tem a palavra o Deputado
Alberto Goldman.
O SR. DEPUTADO ALBERTO GOLDMAN - Sra. Presidenta, Sras. e Srs.
Deputados, Sr. Ministro, quero cumprimentá-lo pela exposição, muito tranqüila,
consciente, feita por quem conhece bem a matéria.
Gostaria de fazer algumas observações.
Falou-se muito em Orçamento. Os orçamentos são todos abaixo do que se
deseja, do que é necessário. O Orçamento do Ministério da Defesa envolve recursos
da ordem de 28 bilhões, aproximadamente. Os recursos do Orçamento para todos
os Ministérios totaliza pouco menos de 300 bilhões. Portanto, quase 10% do
Orçamento vai para a Defesa. Ainda que não sejam números suficientes, diria que
são bastante expressivos. Num país como o Brasil, que não tem um contencioso
militar expressivo, 10% do Orçamento apenas para o setor da Defesa não é,
evidentemente, pouco.
Observo que, dentro desses 28 bilhões e 84 milhões, os recursos para
investimentos são apenas de 1 bilhão e 550 milhões, um pouco mais que 5% do
orçamento total, o que significa que as Forças Armadas Brasileiras, na realidade,
sobrevivem apenas com as folhas de pagamento. O que se gasta em defesa no
Brasil é com o pagamento de pessoal e, evidentemente, um pouco com custeio e
algumas despesas. Mas o elemento essencial da defesa em qualquer país é
exatamente o investimento. Não me parece correto imaginar que possamos ter
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Forças Armadas apenas pagando a folha de pessoal. Portanto, parece-me que algo
está errado na distribuição desses recursos. É pouco recurso? É pouco, não se tem
muito, é muito menos do que se precisa, no entanto, tem que haver um mínimo de
equilíbrio entre as despesas em geral com pessoal e custeio e as despesas com
investimento, caso contrário, não vamos ter Forças Armadas de fato, mas apenas
uma folha de pagamento de militares. Considero importante que se reveja tudo isso.
Em segundo lugar, faço uma observação sobre o que acontece com o pouco
recurso destinado a investimento. Tenho em mãos um levantamento feito em 1º de
maio, passados quatro meses deste Governo. Verifico todas as rubricas e as
diversas funcionais programáticas. Por exemplo: Instalação de Equipamentos de
Sítios Operacionais do SIVAM — gasto: zero. Sistema de Aeronaves do Sistema de
Vigilância da Amazônia — gasto: zero. Aquisição de Aeronaves — gasto: zero.
Essa leitura parece até a apuração do concurso de escolas de samba do Rio
de Janeiro. Só que lá se fala “Dez! Nota dez!”. Aqui é “zero”.
Continuo: Modernização e Revitalização de Aeronaves Nacionais, cujo
orçamento é de 270 milhões — gasto: zero. Desenvolvimento do AMX Nacional —
gasto: zero. Implantação do Sistema de Aviação do Exército Nacional — gasto: zero.
Modernização da Força Terrestre Nacional — gasto: zero. Obtenção de Meios
Específicos — gasto: zero.
A partir daqui já aparece alguma coisa. Cooperação com Construção de Infra-
Estrutura Nacional — gasto: 1 milhão, 136 mil reais, que correspondem a 5,74% do
total orçado. Tenho impressão de que se destina ao Calha Norte, pois se trata de
construção de infra-estrutura nacional.
Temos alguns itens maiores: Implantação do Sistema de Controle do Espaço
Aéreo Brasileiro, de cujo orçamento de 105 milhões foram gastos 5 milhões, tudo
isso em quatro meses de Governo. Mesmo com o pequeno orçamento para
investimento, o gasto é nada.
Recordo que, nos primeiros dias de Governo, o Presidente Lula fez uma
declaração bombástica à Nação: “Nós não vamos dar dinheiro para comprar avião,
porque nós não temos dinheiro para a fome. Vamos tirar o dinheiro dos aviões e
vamos dar dinheiro para a fome”. Todo mundo aplaudiu. Foi algo
“marketologicamente” bem trabalhado, foi manchete em todos os jornais: “Enquanto
o meu povo tiver fome, não vou construir avião, não vou comprar avião”.
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Pois tenho todos os levantamentos do Orçamento. Nada, orçamentariamente,
foi transferido para o Fome Zero nem me parece que tenha sido necessário fazê-lo.
Trouxe os gastos com o Fome Zero: de um pouco menos de 1,8 bilhão de reais
orçados para o Fome Zero, até o final do terceiro mês — e não tenho aqui o último
mês — haviam sido gastos menos de 3% do total. Portanto, também não se gasta
com o Fome Zero. Não se reequipa as Forças Armadas, o que seria importante
também para a indústria nacional porque geraria empregos etc., mas também não
se realoca esses recursos para o Fome Zero. Logo, aquela foi uma frase de efeito,
sem nenhuma conseqüência.
Pergunto-me como é possível um Presidente pronunciar frases de efeito. Na
oposição, no palanque, tudo bem, as frases de efeito fazem efeito; entretanto, não
pode um Presidente dizer que vai pegar os recursos destinados aos aviões da Força
Aérea, destinados ao seu reequipamento — e a Força Aérea precisa disso —, e
realocá-los para o Fome Zero. Foi aplaudido por todos aqueles que, evidentemente,
não entendem bem o que se passa. Depois vimos que o Fome Zero não recebeu
esse recurso — se o tivesse recebido não o teria utilizado, porque não tem sequer
capacidade de aplicar os expressivos recursos que já lhe destina o Orçamento.
Gostaria que V.Exa. comentasse essa questão.
Há uma velha discussão no Brasil sobre o transporte aéreo civil de
passageiros e cargas. Não conheço país do mundo em que o transporte civil esteja
no Ministério da Defesa, sob a direção do Comando da Aeronáutica. No período em
que fui Ministro dos Transportes, em várias reuniões internacionais, no momento em
que se discutia transporte aéreo, tive o desagrado de ter de retirar-me. Eu era o
único Ministro que se retirava, porque no meu País o transporte aéreo não é do
Ministério dos Transportes, mas do Ministério da Aeronáutica. Não me parece lógico,
compatível, não há sentido. Ainda bem que o transporte marítimo é do Ministério dos
Transportes, não do Ministério da Marinha. Poderia ser, caso se seguisse a mesma
lógica.
O Ministério da Defesa não tem nenhuma posição sobre isso, mas deveria ter,
até porque está discutindo agora questões do transporte aéreo civil.
Na Câmara dos Deputados temos um projeto — aprovado na Comissão
Especial, não no Plenário — que cria a Agência Nacional de Aviação Civil. Qual é a
posição do Governo sobre isso? No começo o Governo queria acabar com todas as
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agências. As agências eram o grande mal deste País. Contudo, parece que já
reformulou a idéia: “Não é bem assim. Vamos arrumar, dar um jeito, consertar”. Não
se pretende destruir, parece-me, as agências.
Entretanto, há uma aparente obstrução à criação da Agência Nacional de
Aviação Civil, que é extremamente importante. Não vejo qualquer interesse do
Governo. O Governo anterior, sim, pressionou muito para que essa agência saísse.
Fui Presidente da Comissão Especial que discutiu a criação da ANAC. A pressão do
Ministério da Defesa e de outros comandos no sentido de apressar a resolução e
criar a agência era muito grande. De lá para cá, contudo, morreu, acabou. No
Governo Lula não há ação alguma neste sentido, não sabemos se por inação ou por
oposição à idéia.
Eu gostaria de ouvir V.Exa.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Com a palavra o Sr.
Ministro.
O SR. MINISTRO JOSÉ VIEGAS FILHO - Muito obrigado.
O Orçamento do Ministério da Defesa previsto para este ano, efetivamente,
era de cerca de 28 bilhões de reais, dos quais aproximadamente três quartas partes
destinavam-se ao gasto com pessoal. Posteriormente, houve um contingenciamento,
do qual os gastos de pessoal naturalmente ficaram fora, o que aumentou a
participação dos gastos de pessoal no total do orçamento real. A cifra de 1,55 bilhão
para gastos em investimento, que o Deputado Alberto Goldman mencionou, seria
verdadeira se tomássemos o orçamento original de 28 bilhões. Na verdade, essa
cifra, depois dos contingenciamentos, é consideravelmente menor, tendo em vista
que o efeito dos contingenciamentos se exerce com particular violência sobre os
gastos com investimento, mais vulneráveis. Sabemos que o contingenciamento não
afeta os gastos com pessoal e encontram grande resistência nos gastos com
custeio, muitos dos quais são inflexíveis. Onde o contingenciamento encontra maior
penetrabilidade é justamente nos gastos com investimento.
Estou de acordo com o Deputado Alberto Goldman quando S.Exa. diz que o
investimento na Força Armada é a alma do negócio. Exorto esta Casa a nos apoiar
na luta por um Orçamento que nos permita dispor de recursos efetivos para o devido
reaparelhamento das nossas Forças Armadas, em benefício da segurança do nosso
povo.
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Quanto aos dados dos gastos a que V.Exa. fez referência, Deputado Alberto
Goldman, não sei de sua procedência, mas efetivamente V.Exa. leu o papel errado.
Os dados não correspondem nem poderiam corresponder à realidade dos fatos.
Acho bastante ilógico pensar que, depois de quatro meses, o Governo tenha gasto
zero em defesa. Com muito prazer, farei chegar a V.Exa. um resumo das folhas de
gasto do Ministério da Defesa.
O SR. DEPUTADO ALBERTO GOLDMAN - Desculpe-me interrompê-lo, mas
o zero refere-se a alguns itens que citei, mas a média do investimento no Ministério
da Defesa é de 1,34% do orçamento de 1 bilhão e 550 milhões.
O SR. MINISTRO JOSÉ VIEGAS FILHO - Farei chegar ao Deputado o estado
atual dos gastos, que não se aproximam dos valores citados por V.Exa.
Quanto aos recursos do Programa Fome Zero, com relação ao
reaparelhamento da Aeronáutica, jogos de palavras à parte, sabemos todos que não
se trata de uma transferência de recursos de financiamentos internacionais que
seriam alocados para a compra de aviões, que foi postergada para o ano que vem,
para um programa orçamentado para o ano de 2003, mas sim de demonstração
clara de uma prioridade a ser dada pelo Governo brasileiro aos gastos de natureza
social, sobretudo no primeiro ano de Governo.
A expressão orçamentária, que é secundária e não primária desta opção
política expressada pelo Presidente no dia 02 de janeiro, seria aproximadamente a
seguinte: o valor da concorrência, que foi postergada por um ano, é de 760 milhões
de dólares; a incidência do juro internacional sobre esse valor é variável ano a ano,
porque as nossas taxas de juros são flexíveis. Digamos que uma operação dessas
estivesse sujeita a uma taxa de juros de 8%. Então, temos aí uma incidência anual
de 70 milhões de dólares. No primeiro ano de pagamento, que certamente não é o
ano de 2003, teríamos um gasto de 70 milhões de dólares. Esse gasto, em vez de
ser feito no ano x, será feito no ano x mais 1. Esta é a incidência orçamentária.
Nunca se tratou de uma incidência sobre o orçamento de 2003.
Em termos de 2003, trata-se de uma demonstração da prioridade política a
ser dada ao desenvolvimento social, prioridade essa que, aliás, se faz bastante
presente no esquema de atuação do Ministério da Defesa, que tem desenvolvido
com muita nitidez a atuação das Forças Armadas em favor do desenvolvimento
nacional, em atenção a diversas demandas que temos recebido de diferentes partes
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do território nacional, em situações de calamidade pública, em situações de defesa
civil, nos Estados do Amapá, Roraima, Rio de Janeiro, Minas Gerais e em outras
ocasiões em que isso se faça necessário.
Quanto à criação da ANAC, ela continua nos planos do Governo. A ANAC,
possivelmente, será a primeira agência a ser criada já em moldes compatíveis com
uma nova concepção de agência nacional, que creio possa ser descrita, em síntese,
da seguinte maneira: a Agência Nacional, no caso, a ANAC, regula um setor cuja
formulação política é feita pelos representantes do Executivo, no caso específico
pelo CONAC — Conselho de Aviação Civil. O CONAC é um órgão colegiado
composto por Ministros de Estado que estabelece as diretrizes políticas do setor de
aviação civil. Essas diretrizes políticas são então implementadas pelo órgão
regulador, que é a ANAC. Essa é a filosofia que inspira a criação da futura agência,
que continua nos planos do Governo.
Obrigado, Sr. Deputado.
O SR. DEPUTADO ALBERTO GOLDMAN - Só mais um instante, Sra.
Presidenta, para eu dar um dado ao Sr. Ministro.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Estamos sendo chamados
ao plenário, mas V.Exa. tem a palavra rapidamente.
O SR. DEPUTADO ALBERTO GOLDMAN - Vou citar um dado do SIAFI do
dia 1º de maio, portanto, o mesmo dado que nós temos, o acesso é o mesmo. São 1
bilhão e 550 milhões para investimentos, dos quais 58 milhões e 379 mil foram
empenhados, 22 milhões e 648 mil liqüidados e 20 milhões e 771 mil pagos, o que
dá 1,34 bilhão de pagamentos. Se adotássemos o critério do empenho, poderíamos
chegar talvez a 3% de investimento. Realmente é um valor bastante irrisório,
principalmente em relação às necessidades das Forças Armadas.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Vou conceder a palavra
rapidamente a três Deputados. Não gosto de assim proceder, Sr. Ministro. Prefiro
que a resposta seja dada individualmente a cada Deputado. Mas como estamos
sendo chamados ao plenário, pois já estamos em processo de votação, concedo a
palavra ao Deputado Pastor Frankembergen e, em seguida, aos Deputados
Leonardo Mattos e Paulo Delgado. Os três farão suas perguntas e o Ministro as
responderá de uma vez só.
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O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Saúdo a Sra. Presidenta,
o Exmo. Sr. Ministro da Defesa e os demais colegas Parlamentares.
Sr. Ministro, V.Exa. é sabedor da existência de um conflito fundiário no Estado
de Roraima a partir da expedição da Portaria nº 820, de 1996, que homologa a
demarcação da área indígena conhecida como Raposa/Serra do Sol. Com a
efetivação do que determina essa portaria, 57% do nosso Estado passaria a ser
área indígena, sem contar as reservas ambientais e outras áreas de preservação.
Com a demarcação feita na reserva São Marcos e com a homologação da Portaria
nº 820, cerca de 90% da nossa área de fronteira ficaria desabitada, porque os
brasileiros que ali vivem teriam de ser despejados. Tal fato já ocorreu na
demarcação da reserva de São Marcos.
V.Exa. teve oportunidade de conhecer o local quando, com o objetivo de conhecer
mais de perto o trabalho do Exército no Projeto Calha Norte, esteve em visita ao
Município de Uiramutã, que está dentro da reserva a ser homologada —
acreditamos que não será homologada; precisamos conversar e tomar uma decisão
mais adequada à situação. Próximo àquela região está a Vila do Mutum, dentro da
referida área indígena, onde a divisa do Brasil com a Guiana Inglesa se faz pelo Rio
Cotingo, onde há grande incidência de tráfico de drogas, porque, na Guiana, a
maconha é liberada tanto para o uso quanto para a plantação. Isso nos traz grandes
dificuldades.
Em se concretizando a homologação dessa reserva, toda a região vai ficar
desabitada, ou seja, vamos estar à mercê dos cuidados dos índios. Esperamos que
pelo menos o Exército continue ali. V.Exa. deve saber que, por causa dessa
homologação, algumas ONGs manifestaram-se contrariamente ao estabelecimento
de pelotão do Exército no Município de Uiramutã. Há também grupo de ONGs que
defende a transformação dessas áreas indígenas em uma nação indígena, com isso,
talvez o Brasil perca até o direito de comandar a região.
Graças a Deus, o Exército brasileiro, que é um marco representativo de nosso
povo naquela região, tem-se mantido firme. Talvez a reserva ainda não tenha sido
homologada definitivamente por causa do intervenção do Exército, que se recusa a
sair da região. Gostaria de saber do Sr. Ministro que solução o Governo, por
intermédio do Ministério da Defesa ou como um todo, pretende dar ao problema.
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Concluo salientando outra dificuldade que tem enfrentado o Estado de
Roraima.
Após a fusão — o me que parece mais uma confusão — entre a Varig e a
TAM, o único vôo diário que parte da Capital Boa Vista, que antes era no início da
noite, passou a ser de madrugada. Assim, quando ocorre alguma falha, partimos
somente às 3h da manhã. Além disso, alteraram também as conexões. Muitas vezes
somos obrigados a ir a São Paulo e lá aguardar para vir a Brasília. Gostaria de
contar com o Ministério da Defesa e com os demais órgãos competentes — DAC e
INFRAERO — para encontrar uma solução para esse problema.
Muito obrigado.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Com a palavra o Deputado
Leonardo Mattos.
O SR. DEPUTADO LEONARDO MATTOS - Sra. Presidenta, quero agradecer
ao Sr. Ministro e a todos os Deputados que nos contemplaram com suas
intervenções os esclarecimentos prestados.
Tenho 1 ou 2 curiosidades a satisfazer.
Sr. Ministro, V.Exa. começou seu pronunciamento citando ações do exército
norte-americano. V.Exa. sabe como andam essas questões, tanto no Oriente Médio
quanto na Coréia e em outros países? V.Exa. tem alguma informação suplementar
àquela que já recebemos dos meios de comunicação?
V.Exa. também citou o problema da restrição orçamentária de seu Ministério.
Pergunto: que valor seria indispensável para termos uma sociedade realmente
confiante em seus mecanismos de defesa?
V.Exa. mencionou ainda o programa brasileiro de construção de um
submarino nuclear. Na última semana tivemos oportunidade de votar convênio entre
o Governo brasileiro e, se não me engano, o Governo francês no sentido de
desenvolver tecnologia nuclear. Existe alguma participação do Ministério da Defesa
nesse convênio?
Por fim, gostaria de saber sobre a vinculação desses exercícios. Parece-me
que tem circulado na Internet novo mapa do Brasil que exclui a Amazônia. Gostaria
de saber qual o posicionamento do Ministério para com essa questão. A veiculação
se dá de forma anônima. Mas seria importante que descobríssemos a fonte. Isso
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não deixa de ser evolução da subjetividade dentro da objetividade mundial acerca da
Amazônia.
Eu soube que caíram 2 aviões num curto intervalo de tempo. Pergunto: Como
está a manutenção dos nossos equipamentos aéreos, que são um patrimônio
exageradamente caro para o País? Surpreende-nos de forma negativa ver 2 dessas
peças eliminadas em acidentes, com vítima fatal.
São esses os pontos sobre os quais gostaria de ouvir V.Exa.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Com a palavra o Deputado
Paulo Delgado.
O SR. DEPUTADO PAULO DELGADO - Obrigado, Sra. Presidenta.
Sr. Ministro da Defesa, quero cumprimentar V.Exa. pela exposição, assim
como os colegas que o convidaram. Registro o acerto do Presidente Lula ao colocar
um diplomata no Ministério da Defesa. Não há maior sinal do que são os nossos
planos e diretrizes para a defesa — que é o objeto desta audiência — do que a
presença de V.Exa. à frente do Ministério da Defesa.
As minhas 2 questões estão relacionadas com o processo de consolidação do
Ministério da Defesa com um Ministério Civil que congregue, organize e direcione a
ação das 3 Forças do País.
O centro da guerra é a capacidade de combate. Aliás, a capacidade de
combate é o que leva aos apelos por equipamentos, como elementos centrais de
uma política de defesa. No meu entender, não é esse o tema central. Na verdade,
discutimos uma política dissuasória, não de defesa no sentido de combate.
Precisamos de força militar para respaldar interesses políticos — essa a
verdadeira política brasileira, esse o sentido clássico de política de defesa em
regimes democráticos como o nosso. É evidente que, com problemas de
equipamento, podemos ter uma compreensão menos real da capacidade de defesa
do País, no caso de um hipotético combate, o que não haverá. Há mais de 100 anos
não temos problemas de fronteira.
A primeira questão é: apesar do recém-desmontado conceito de segurança
nacional da estrutura legislativa legal brasileira — faz pouco tempo que revogamos a
Lei de Segurança Nacional —, ainda predomina a compreensão, mesmo aqui na
Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional, de que segurança e defesa
podem ser intercambiadas.
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Ora, um cidadão em confronto com a lei, um bandido, por exemplo, é um
cidadão bandido, um patriota equivocado, que tem de ser preso e, se tiver atentado
contra a vida, condenado a 30 anos de cadeia; se o crime tem agravante, deve ter
sua pena agravada. Isso não é um problema de defesa, mas de segurança pública,
mas sempre há confusão no sentido de se requerer a intervenção das Forças
Armadas nos problemas de segurança pública. Problema de defesa é quando se
trata um outro cidadão como inimigo da Nação.
Pergunto: Como o Ministério da Defesa vê a distinção entre segurança e
defesa? Como desestimular a recorrente idéia de usar as Forças Armadas para
combater os problemas de segurança pública, o que acho um erro? O que pode ser
feito para diminuir o custo do agressor para a política de segurança? Os bandidos de
hoje acham o sistema policial incapaz de lhes impor qualquer perda, o que tem
levado a criminalidade a enfrentar as forças policiais.
Vamos à segunda questão. Antes de mais nada, cumprimento V.Exa. por
estar dando seqüência, de maneira extremamente competente e articulada com
todas as Forças, às operações combinadas, inclusive continentais, com o
desenvolvimento de exercícios que podem envolver forças vizinhas.
Como o Ministério da Defesa, do ponto de vista prospectivo, trabalha o
conceito não só de operações combinadas mas também de armas combinadas e de
comandos combinados? Quando teremos, no Brasil, prospectivamente, um
Ministério da Defesa Civil no comando das forças militares?
Obrigado.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Com a palavra o Sr.
Ministro. Peço-lhe brevidade, se possível.
O SR. MINISTRO JOSÉ VIEGAS FILHO - Pois não.
Parte do problema levantado pelo Sr. Deputado ilustra muito bem a
necessidade de a Nação não colocar restrições à presença de nossas Forças
Armadas em nossas faixas fronteiriças. Insisto em dizer que, sejam nossas faixas
fronteiriças terras de proteção ambiental, sejam reservas indígenas, sejam terras
comuns, é essencial que nossas Forças Armadas — assim como também as forças
policiais — possam por elas trafegar livremente. Isso é matéria já regulada em lei e
que não deve ser posta em discussão. Existem leis e decretos que legislam essa
questão. Para mim, essa é matéria pacífica.
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O Sr. Deputado fez referência à tolerância que existe, no Brasil, para com o
cultivo de drogas lícitas e ilícitas em países vizinhos. Se passássemos a uma
interpretação de que terra indígena é território no qual as Forças Armadas e policiais
não podem entrar, estaríamos abrindo um perigoso precedente a que pudesse haver
espaços não governados dentro do território brasileiro. Ora, isso não é compatível
com os interesses nacionais, não pode ser visto como algo desejável pela Nação.
Decorre disso, com nitidez, que a possibilidade da presença das Forças Armadas e
das forças policiais na faixa de fronteira é indiscutível; aliás, como previsto nos
decretos competentes, entre os quais o de nº 4.412.
O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Sra. Presidenta, permita-
me solicitar ao Sr. Ministro um esclarecimento. Há 2 semanas, uma comitiva de
Deputados Federais acompanhou o Comando da Amazônia, junto com um general e
outra equipe, em visita a uma localidade de nome Surucucu — creio que o Sr.
Ministro a conhece —, onde há extensão do Exército brasileiro. Uma equipe de
Parlamentares, juntamente com oficiais do Exército brasileiro e o Governador do
Estado de Roraima foram impedidos de entrar em uma comunidade indígena pela
FUNAI e outros organismos que se encontram na região. Isso aconteceu há duas
semanas, e fatos dessa natureza estão acontecendo. Os Deputados Coronel Alves,
Perpétua Almeida e outros estavam presentes nessa comitiva e são testemunhas do
que aconteceu. O fato foi muito estranho.
Tenho certeza de que o Sr. Ministro tem razão em relação a esse assunto.
Mas devemos estar atentos, porque a influência externa é muito grande e tem
impedido que nós, brasileiros, andemos dentro de nosso próprio País.
O SR. MINISTRO JOSÉ VIEGAS FILHO - Obrigado, Sr. Deputado.
Não trabalhamos com o conceito de nação indígena. Existe apenas uma
nação, que é a Nação brasileira, que é habitada por povos indígenas. O conceito de
nação indígena nos é estranho. A Nação brasileira é una e indivisível. Por isso, o
Exército brasileiro não tem intenção de sair de Uiramutã ou de Surucucu.
Quanto à questão da malha viária e da presença da aviação civil em Boa
Vista, que tive oportunidade de mencionar brevemente ao responder à indagação do
Deputado Francisco Dornelles, um dos aspectos que o DAC e, futuramente, a ANAC
terá de considerar, ao regular o setor, será a necessidade de dar assistência às
populações de cidades menores, cujas linhas aéreas domésticas não subsistem
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apenas com o jogo das forças do mercado. Ou seja, vôos como os de Boa Vista
para Brasília talvez não possam subsistir durante todo o ano somente pela força da
demanda. Então, precisaremos criar mecanismos de compensação. Esses
mecanismos estão sendo estudados e serão postos em execução no momento da
reformulação do setor da aviação civil.
O Deputado Leonardo Mattos perguntou sobre o acordo de tecnologia nuclear
firmado com a França na área de defesa. Desconheço tal acordo. Não tenho
qualquer informação a respeito, mas procurarei informar-me melhor — se é que tal
acordo existe.
Quanto à presença na Internet de mapas do Brasil sem a Amazônia, devo
dizer que também já vi mapas da América do Sul sem a Argentina. Isso não tem a
menor relevância. São bobagens que a Internet publica e que não estão num limiar
de seriedade que justifique qualquer providência de nossa parte.
Com relação aos aviões que caíram, esse foi um evento sério e que, em certa
medida, reflete o estado de envelhecimento de Força Aérea Brasileira. Parece-me
que, em um dos casos, houve falha humana e, em outro, falha mecânica.
Certamente, essa falha mecânica está relacionada com o envelhecimento dos
aviões, o que mostra a necessidade urgente do reaparelhamento da Força Aérea.
Os aviões em questão eram um T-25, avião de treinamento antigo, mas ainda
utilizado pelos cadetes da Academia da Força Aérea, e um Xavante, avião dos anos
70 — ambos muito velhos, com cerca de 30 anos de idade.
O Deputado Paulo Delgado me honrou com perguntas de caráter conceitual.
S.Exa. citou a necessidade de força para respaldar a política. É isto mesmo:
precisamos das Forças Armadas para respaldar uma ação política consistente.
Considero que fazer política de defesa é exatamente isso. É claro que não se trata
de fazer guerra — e todos nós devemos ter clareza a esse respeito. Não precisamos
fazer guerra nem construir cenários de guerra para ter uma política de defesa; muito
ao contrário, temos de ter uma política de defesa para não precisarmos fazer
cenários de guerra.
O convite permanente que faço a esta Casa e a esta Comissão é para que
juntos desenvolvamos esse esforço e essa política.
O ciclo de debates que faremos no segundo semestre sobre os temas defesa
e segurança está relacionado exatamente com a idéia de formarmos uma base
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conceitual sólida, coerente e consensual com a Nação brasileira. Dessa forma,
teremos uma política de defesa reconhecida pela sociedade brasileira e pelo
Congresso Nacional como legítima, sólida e merecedora dos investimentos do País
— esse gasto real deve ser encarado como necessário, pois com ele estaremos
conquistando nossa tranqüilidade, serenidade e uma situação internacional de
conforto, harmonia e liderança em relação a todos os nossos vizinhos.
Segurança e defesa são os temas centrais de nosso ciclo debates. E tenho
certeza de que o Deputado Paulo Delgado poderá dar sua contribuição naquela
ocasião. A inter-relação entre segurança e defesa é um dos aspectos mais intensos,
delicados e complexos da arte de governar o Brasil. Podemos vê-la com nitidez em
cenários complexos, como no caso do Rio de Janeiro, e recônditos, embora também
complexos, como a fronteira do Brasil com a Colômbia. Esses são dois exemplos
distantes um do outro, mas que estão muito presentes nas preocupações do
Governo brasileiro, do Ministério da Defesa, de outros órgãos do Poder Executivo e,
tenho certeza, também do Poder Legislativo. Esse tema não pode ser abordado em
5 minutos, pois merece uma discussão mais específica e longa, porque é cheio de
ramificações.
Em síntese, não se pode pedir às Forças Armadas que façam o papel de
polícia. Existem fortíssimas carências policiais em nosso País, que causam pressão
de curto prazo da sociedade brasileira. Essas pressões de curto prazo não podem
ser atendidas pelas Forças Armadas — temos de ser realistas a esse respeito. No
máximo, as Forças Armadas podem tapar buraco, como fizeram no Carnaval, mas
elas não são a solução. A solução é o reaparelhamento e o reforço de nossas
instituições policiais. Não há alternativa: temos de investir em polícia para aumentar
nossa segurança urbana. Não há outra saída. A intervenção do Exército e do
restante das Forças Armadas em situações urbanas e de maneira não-policial não é
desejável — aliás, ninguém deve desejar isso.
Enfim, esse é um tema que requer reflexão e muita interação com a
sociedade e com o Congresso Nacional. Precisamos trocar idéias, porque a questão
é cheia de implicações e de problemas conexos, que devem ser objeto de muita
investigação e debate.
Quanto à indagação sobre a possibilidade de o Ministério da Defesa
efetivamente comandar as Forças Armadas, a resposta é que isso já existe.
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Evidentemente, o Ministro da Defesa não é um militar, mas um civil. Se por comando
o Sr. Deputado entende a ordem militar específica — o capitão faz isso e o major faz
aquilo —, devo lembrar que essa é uma competência intransferível do chefe militar;
se por comando o Sr. Deputado entende a atribuição de dar prioridade a tal e qual
Força e ao setor de defesa como um todo, essa atribuição é minha e eu a exerço.
Obrigado.
O SR. DEPUTADO PAULO DELGADO - Sra. Presidenta, permita-me um
esclarecimento. Sr. Ministro, não tenho qualquer dúvida quanto ao comando. Minha
pergunta foi feita no contexto do conceito de exercícios combinados. Perguntei se o
Ministério da Defesa tem prospectivamente, como um de seus desafios, levar as
Forças Armadas não só a exercícios combinados, como os que já fazem, mas a
comandos combinados e a compras combinadas, de tal maneira que um
equipamento da Marinha possa, em determinado exercício, estar articulado a um
equipamento da Aeronáutica ou do Exército — esse é o conflito moderno. Hoje
esses departamentos ainda andam em ritmo mais lento do que o ritmo político que
produziu o Ministério da Defesa. Gostaria de esclarecer isso, porque tenho total
afinidade com essa idéia que V.Exa. expressa tão bem e que até clareia a minha,
que foi mal formulada.
O SR. MINISTRO JOSÉ VIEGAS FILHO - Muito obrigado, Sr. Deputado.
Peço licença para falar, Deputada Zulaiê Cobra.
Operações combinadas são um veículo fundamental para que cheguemos à
situação descrita pelo Deputado Paulo Delgado, de que no futuro tenhamos
comandos combinados permanentes. É um assunto que está em discussão.
Uma das possibilidades é que tenhamos, sim, estruturas de comandos
permanentes, como, por exemplo, a de um comando combinado permanente na
Amazônia. Essa é uma possibilidade que pode ser considerada em prazo
relativamente curto. Temos um modelo americano, com diversos comandos
combinados com atribuições geográficas, que não é, digamos, uma doutrina
universalmente aceita; trata-se de doutrina até muito específica e que supõe noção
do uso da força que se desenvolve por todo o mundo, numa extensão geográfica
muito diferente da nossa, e que talvez não seja um modelo a ser seguido por nós.
Teríamos de estudar com maior profundidade outras doutrinas para sabermos como
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vamos desenvolver esta linha. Entendi o sentido da sua pergunta, ela é muito
profunda. Vamos trabalhar nesse sentido.
Quanto a compras combinadas, o Ministério da Defesa está iniciando, ainda
neste mês de maio, uma profunda reavaliação do seu sistema de gestão
administrativa, de dentro para fora, a partir de uma revisão dos sistemas de
aquisição, dos nossos sistemas gerais de administração e de compras. Um dos
aspectos que desenvolveremos é exatamente este: o da unificação, onde for
desejável, das compras das três Forças. Onde ela render economia certamente será
adotada como critério. Muito obrigado, Sr. Deputado.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Antes de encerrar, quero
dizer ao Exmo. Sr. Ministro que nos sentimos muito honrados com sua presença.
V.Exa. pode agora ter conhecimento da necessidade que esta Comissão tinha da
sua presença. Esta Comissão não poderia tratar de todos os assuntos que deverá
tratar no decorrer deste ano sem ouvir V.Exa., sem muitas de suas explicações. Hoje
temos o prazer de contar com a presença de um Embaixador, homem que se dedica
a um dos principais objetivos desta Comissão, que é o relacionamento exterior da
Câmara dos Deputados do Brasil com os diversos países. V.Exa. encarna também
esta questão.
Já tivemos nesta Comissão o Ministro Celso Amorim, que nos deu a razão do
Governo Federal com relação a essa política. Mas V.Exa. explica hoje essa relação
com a defesa nacional. Sua fala foi de extrema importância. Sou originariamente da
área de segurança pública e hoje estou certa de que neste Congresso Nacional
teremos de lutar sempre pela segurança, pelo aparelhamento das polícias estaduais
e da Polícia Federal, que não têm nada a ver com a defesa nacional.
Hoje V.Exa. nos deu verdadeira aula daquilo que mais precisamos: o que nós,
da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional, podemos fazer para
prestigiar o seu Ministério. Certamente tínhamos conhecimento desse Ministério e
sabíamos do que ele tratava, mas não tínhamos tido a possibilidade, dada por
V.Exa., de nos entrosarmos melhor. Os Deputados da Comissão querem ajudar
V.Exa. a desenvolver as Forças Armadas. Isso é muito importante para nós.
Portanto, Sr. Ministro, quero que V.Exa. entenda porque ansiávamos por sua
presença nesta Comissão. V.Exa. com certeza estava se perguntando por que a
Presidenta desta Comissão insistia tanto no seu comparecimento. No mês de junho
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tivemos oportunidade de ouvir V.Exa. e ficamos assustados. V.Exa. veio hoje a esta
Comissão em uma situação emergencial. Quero deixar bem claro aos Srs.
Deputados que não estava na pauta do Sr. Ministro sua visita a esta Casa, mas
S.Exa. fez uma concessão à Comissão de Relações Exteriores e de Defesa
Nacional e aqui compareceu neste momento extraordinário para todos nós,
Deputados. Faço esses elogios porque V.Exa. merece. V.Exa. veio aqui por vontade
própria, com a determinação de atender à reivindicação desta Comissão. Só agora,
Sr. Ministro, poderemos desenvolver o nosso trabalho. Sem a sua presença, não
poderíamos. Há várias reivindicações para que possamos ouvir todos os comandos
das Forças Armadas, mas não poderíamos hierarquicamente fazer inverter as
funções do Governo Federal. V.Exa. era o primeiro dessas reivindicações.
Para encerrar, quero agradecer mais uma vez a V.Exa. sua fala, sua
determinação e seus ideais.
Com a palavra o Sr. Ministro.
O SR. MINISTRO JOSÉ VIEGAS FILHO - Muito obrigado, Sra. Deputada.
Agradeço muitíssimo a V.Exa. a expressão de apoio em nome dos seus colegas
integrantes da Comissão. Precisarei muitíssimo desse apoio. Muitíssimo. Temos
muitas coisas em comum. O Projeto Calha Norte não vive sem a cooperação direta
dos Parlamentares aqui envolvidos. As batalhas orçamentárias que temos de
enfrentar requerem intenso grau de cooperação da sua Comissão, porque seus
membros estarão mais sensíveis aos problemas da defesa nacional. Fico muito feliz
de encontrar nesta Casa a expressão de apoio muito necessário ao
desenvolvimento do nosso trabalho.
Estarei sempre à disposição desta Comissão, como sempre estive. Uma
única vez, Sra. Deputada, tive que me escusar por não poder comparecer, porque o
horário que foi designado para a minha presença coincidiu, infelizmente, com o de
convocação do Sr. Presidente da República. Já não me lembro mais o motivo, mas
foi uma única vez. Em duas outras ocasiões, o adiamento não se deveu a nós, a
mim ou ao Ministério de Defesa.
O importante é que V.Exa. saiba, e digo isso publicamente, que estarei
sempre à disposição desta Comissão e do Congresso Nacional, não só porque este
é meu dever, mas porque este é meu interesse e meu prazer. Muito obrigado.
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A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Muito obrigada. Quero
encerrar a sessão, cumprimentando a Deputada Angela Guadagnin, que preside
também a Comissão de Seguridade Social e Família desta Casa.
Convoco todos os Deputados para comparecerem amanhã, às 9 horas, à
Sala da Presidência, onde estarão presentes técnicos do comércio exterior e, às 10
horas, para um reunião de audiência pública com o Embaixador Clodoaldo e o
Subsecretário-Geral de Integração Econômica e Comércio Exterior.
Sras. e Srs. Deputados quero também registrar a presença da Presidenta da
Comissão de Desenvolvimento Urbano e Interior neste plenário. São duas
Deputadas Presidentas. Estamos hoje numa festa maravilhosa. Muito obrigada a
todos os presentes.
Está encerrada a reunião.
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