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Livro sobre Arqueologia biblica e as ultimas descobertas dos tempos da Biblia
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7/18/2019 Descobertas Dos Tempos Bíblicos_Alan Millard
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Descobertas dosTEMPOS BÍBLICOS
Com mais de 300
fotografias e
mais de 70 mapas
e ilustrações
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_______________ Alan Millard _______________
DESCOBERTAS DOS TEMPOS BÍBLICOS
Tesouros arqueológicosirradiam luz sobre a Bíblia
ViciaPrazer, emoção e conheciment o
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ISBN 85-7367-400-8
Categoria: Referência/Arqueologia
Esta obra foi publicada em inglês com o título D iscoveries FromBible Times porLion Publishing
Copyright do texto © 1985, 1990, 1997, de Alan MillardCopyright© 1985, 1990, 1997, de Lion PublishingCopyright desta edição © 1999, de Editora Vida
Traduzido por Eduardo Pereira e Ferreira
Todos os direitos reservados na língua portuguesa porEditora Vida, rua Júlio de Castilho, 28003059-000 São Paulo, SP - Telefax: (011) 6096-6833
As citações bíblicas foram extraídas da Edição Contemporâneada tradução de João Ferreira de Almeida, publicada pela Editora Vida,salvo quando outras fontes forem citadas.
Gerência Editorial: Reginaldo de SouzaPreparação de texto: Fabiani S. Medeiros
Revisão de provas: Rosa M. FerreiraCapa em português e editoração eletrônica: GraphBox
Impressona Malásia
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SUMÁRIOPrefácio 7
As terras da Bíblia (mapa) 8/ 9
A terra de Israel (mapa) 10
PRIMEIRA PARTE: TESOUROS DOS
TEMPOS BÍBLICOS 11
Arqueologia bíblica — os primórdios 13
Empreendedores no Egito 16
Curiosidades da Assíria 18
Na terra da Bíblia 23
Decifrando escritos antigos 25
O mistério dos hieróglifos egípcios 26
Os segredos da rocha de Beístum 28
Desenterrando o passado 32
Um dia de escavação 36
“Só pode ser o dilúvio!” 38
A história babilônica do dilúvio 42Tesouros reais de Ur 44
Manchete: a cidade perdida de Ebla 47
Ur: a cidade do deus da lua 50
O palácio dos reis de Mari 54
Os patriarcas: o argumento do silêncio 58
Um povo redescoberto: Quem eram os heteus? 60
Tratados e alianças 64Parentes dos hebreus? 65
O tesouro de Tutancâmon 68
Tutancâmon, o tabernáculo e a
arca da aliança 73Nas olarias do Egito 74
A cidade-celeiro do faraó Ramessés II 77 Algum sinal de Moisés? 80
O código do rei Hamurábi e a lei de Moisés 81
Debaixo do arado: a cidade enterrada de
Ugarite 84
Lendas e mitos cananeus 88O alfabeto 90
Cidades conquistadas de Canaã 92
E as muralhas vieram abaixo 96
O problema de Ai 99
Registro da vitória: A “Esteia de Israel” 100
Os filisteus 102
Um templo de ouro 105
As obras de Salomão 107
Uma fortuna em ouro e prata 108Palácios de marfim 109
O gravador de selos 112
Casas comuns 114
Nos tempos anteriores à cunhagem 116
Nenhum tesouro escondido:
a “Pedra Moabita” 117
O preço da proteção:
o “Obelisco Negro” 119
“E vieram os assírios...” 121
“Como passarinho na gaiola”:Senaqueribe ataca Jerusalém 124
O túnel do rei Ezequias 126
“Não vemos os sinais” 128
“Nabucodonosor, rei dos judeus” 131
A glória que foi Babilônia 135
A escrita na parede:
Belsazar — homem ou mito? 139
Esplendores persas 141
As ordens do rei —em todas as línguas 146
Das malas postais persas 148O trabalho do escriba 150
A aventura de Alexandre e o ideal grego 152
Moedas judaicas 155
Petra, a cidade oculta 157
Massada —a última fortaleza 161
Entrada proibida — exceto para judeus: a história
de uma pedra 165
A Palestina do tempo de Jesus (mapa) 168
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SEGUNDA PARTE: DESCOBERTAS DO TEMPO
DE JESUS 169
A Casa Queimada 172
As casas dos ricos 174
Um vaso de alabastro para perfume 179 Vida cotidiana 180Será que a limpeza beira a santidade? 182Talhas de pedra para água 184
Cafarnaum 185O “barco de Jesus” 186
Uma cidade que os romanos conquistaram 187 Uma sinagoga dos dias de Jesus 190
A Bíblia do tempo de Jesus 193 As línguas que eles falavam 194
O pequeno é belo 196Geena — “o fogo que nunca se apaga” 198
Paz, afinal 200
Herodes — rei dos judeus 204
Não há deus ali! 209
César Augusto 210
Herodes —o grande assassino 212
Herodes —o grande construtor de castelos 215 Herodes —o grande construtor de cidades 218
Os filhos de Herodes 221
Os governadores romanos 224
O monumento de Pilatos 226
Certamente nada santo! 228
Indícios do caráter de Pilatos 231Dinheiro e moedas 232
A imagem de César 234Exército de ocupação 236
Os turistas do templo 238
O grande templo de Herodes 242
Que pedras! 248
Diante das mesas dos cambistas 251
Por onde trilharam os santos 252
Um túnel secreto 255
Zacarias —sacerdote da ordem de Abias 256
O óbolo da viúva 258
Um tesouro de livros enterrados 259
Um mosteiro no deserto 262
O Regulamento da Comunidade 268
De quem era a voz no deserto? 270
Os manuscritos e os ensinamentos de Jesus 272
Um evangelho em Qumran? 275
Modelos de túmulos 278
Seus nomes sobrevivem 284
Será que podemos ver o túmulo de Jesus? 286
Como ele foi crucificado? 292Será que seu pai carregou a cruz? 293
Não perturbem os mortos 294
O túmulo que um peregrino viu 295
O mistério do sudário de Turim 296
Filo —filósofo de Alexandria 302
O judeu Josefo —patriota ou traidor? 306
Autores romanos 309
Escritos judaicos 311
As Bíblias mais antigas 314
Uma nova descoberta no monte Sinai 316Livros dos tempos do Novo Testamento 319
Os livros cristãos mais antigos 322
O mais antigo de todos 325
Antes dos Evangelhos 327
Em busca do texto correto 330
Uma diferença teológica 334
Erros comuns 335
Alterações deliberadas 336
O que cantavam os anjos? 337
Será que eles lavavam as camas? 338
Será que são originais? 339
Novos conhecimentos —novas traduções 342
Leitura recomendada 346
índice 347
Créditos 352
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PREFÁCIO
Há mais de cem anos se vêmescrevendo livros para mostrar o
que as descobertas arqueológicas feitasno Oriente Próximo podem revelar
acerca da Bíblia. Alguns usam aarqueologia para tentar provar que aBíblia é verdadeira; alguns aconsideram menos importante do queoutras formas de estudar os registrosantigos. Também há mais de cem anos,milhares de pessoas têm peregrinadoaté a terra santa para ver os locaissagrados — para “andar por ondeCristo andou”. No lago e nas colinasda Galiléia, é fácil imaginar as históriasdo evangelho; outros lugares estãoprofundamente modificados. Como
era viver no antigo Israel ou naPalestina do século I? Quantopodemos aprender sobre os dias de
Abraão ou de Salomão? Descobertasfeitas nos últimos quarenta anosproporcionaram um panorama muitomais vivido, em comparação comaquilo que gerações passadas tiveram,sobretudo em relação aos dias de Jesus.
Este livro é uma combinaçãode outros dois — Treasures from Bible times [Tesouros dos tempos bíblicos] e
Discoveries from the time of Jesus
[Descobertas dos tempos de Jesus]— ,os quais se ocupam de descobertasespecíficas, examinando a naturezadessas descobertas, o modo por quealgumas delas foram interpretadas nopassado e a forma em que podem sercompreendidas hoje. Muito maisdescobertas poderiam ser apresentadas
aqui, mas, se todas fossem incluídas, olivro ficaria muito extenso e talvez pordemais entediante. Além disso, ascontribuições da arqueologia à
compreensão da carreira de Paulo e daigreja primitiva extrapolam o meuobjetivo. Por razões técnicas, a uniãodos dois livros permitiu apenasalgumas revisões de menor peso nostextos anteriores; mesmo assim,embora algumas interessantesdescobertas, feitas recentemente, nãopossam ser incluídas, não vejo motivopara mudar as opiniões apresentadasantes.
Vários amigos e instituiçõesforneceram fotografias gentilmente,
pelo que lhes sou muito grato. Aexperiência de morar em Jerusalémcomo membro do Instituto deEstudos Avançados da UniversidadeHebraica, em 1984, e a bondade dosamigos de Jerusalém, especialmente ofalecido professor Nahman Avigad,estimularam a segunda parte destelivro. O dr. Walter Cockle, doUniversity College, de Londres, e o dr.
John Kane, da Universidade deManchester, leram e comentaram
vários capítulos; o professor Kenneth
Kitchen, meu amigo, deucontribuições sobre as questõesegiptológicas. Mas o incentivo e oapoio incansáveis da minha mulher éque me possibilitaram completar estaobra; acima de tudo, sou grato a ela.
Alan Millard
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Primeira Parte
TESOUROS DOS TEMPOS
BÍBLICOS
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ARQUEOLOGIA BÍBLICA — OS PRIMÓRDIOS
A, Jguém se esqueceu de fechar a portae acabou mudando a história da Europa.
Os turcos estavam atacandoConstantinopla em maio de 1453. Suasmuralhas eram fortes, e bravos seusdefensores. Alguns se esgueiraram lá parafora por uma portinha, para um ataquerápido e curto, mas deixaram de trancá-lana volta. Entrou primeiro um grupo deturcos, depois uma torrente. Destroçaramos defensores, e logo a cidade era deles.
Muitos cidadãos já haviam fugido,temendo a vitória turca. Outros, os queconseguiram, fugiram depois. Eramgregos e cristãos. Os únicos lugares emque podiam ter esperança de encontrarrefúgio eram a Itália e a França. Algunsdos que se estabeleceram nesses paíseseram eruditos, que levaram consigo aherança grega clássica. Sob a influência daantiga filosofia grega, aliada a outrasmudanças, floresceu a Renascença.
À medida que foi crescendo ointeresse pelos antigos gregos e romanos,os ricos começaram a colecionar estátuase moedas encontradas nas cidades emruínas. Estudiosos começaram a estudar e
a escrever sobre elas. Em alguns poucoscasos, era possível fazer ligações com aBíblia, sobretudo com o NovoTestamento. As pessoas começaram aperceber que conhecer mais sobre omundo antigo e o modo em que viviamos povos poderia ajudá-las a compreendermelhor os escritos antigos.
Ao longo dos séculos XVII e XVIII, jovens ricos e aventureiros viajaram àItália, à Grécia e à Turquia; exploraram,
descreveram e coletaram objetos dasruínas das cidades gregas e romanas.
Uns poucos foram mais longe, à Síriae à Palestina. Ali encontraram asespetaculares ruínas de Baalbek, Palmira ePetra, cidades romanas com arquiteturatomada de empréstimo aos gregos.
E claro que os peregrinos já vinham visitando os locais sagrados haviacentenas de anos, mas poucos seinteressaram por eles como locaishistóricos ou chegaram a estudar as ruínas
visíveis.O antigo Egito havia atraído alguns
aventureiros, que voltaram com relatosdos enormes templos, dos túmulospintados e das pirâmides. Além dosrelatos sinceros dos viajantes, essasincursões também colocaram o Egito namira dos escritores de ficção fantástica.Estes pensavam poder prever o futuro ouconhecer outros segredos com base noprojeto das pirâmides —idéia falsa aindahoje em voga.
Mas o que realmente se conheciasobre o antigo Egito era o assunto dasmúmias, os corpos de egípcios
cuidadosamente envoltos em bandagens epreservados com substâncias químicasnaturais. Pó de múmia era consideradoremédio milagroso!
Logo se escreveram livros para aplicaras novas descobertas à Bíblia. De repentenomes quase inexpressivos tornaram-sereais. Os tiranos assírios realmenteapareceram, entalhados nas paredes dospalácios, com seus exércitos e infelizesprisioneiros. Os grandes reis da Pérsia
Nomes bíblicos saltaram à vida quando arqueólogos descobriram em paredes de palácios retratos entalhados dos triunfos dos reis assírios. Essa esteia mostra o rei
assírio Tiglate-Pileser III.
O mistério das grandes pirâmides do Egito há muito assombra a imaginação dos viajantes e dos escritores de ficção fantástica.
As pesquisas meticulosas de sir Flinders Petriepuseram um ponto finai em muita especulação.
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TESOUROS DOS TEMPOS BlBLICOS
Nos séculos XVII e XVIII,
aventureiros descobriram pela primeira vez as fantásticas ruínas decidades como Palmira, cujos construtores, romanos, seguiram os estilos da arquitetura grega.
falavam por meio dos seus escritos, e os
faraós do Egito puderam ser identificados.Tudo isso proporcionou o rico cenário
da história bíblica e da história do antigoIsrael.
Ao mesmo tempo, ganhavam terrenoidéias sobre o Antigo Testamento queaparentemente negavam o que os próprioslivros dos hebreus diziam. As histórias de
Abraão e de sua família provinham,argumentava-se, dos tempos dos reis deIsrael, ou de período posterior. Muitas dasleis ligadas ao nome de Moisés se
desenvolveram ao longo de um períodobem extenso, sendo algumas delas ideais desacerdotes do tempo do exílio. Essas eoutras concepções semelhantes ficarambem populares. E o são ainda hoje.
Alguns escritores acreditavam que asdescobertas arqueológicas testemunhavamcontra essas idéias e começaram a usar aarqueologia para “comprovar” a Bíblia. Masfazer isso, como alguns continuam fazendo,é exigir mais do que a arqueologia pode dar.
A arqueologia não pode nem comprovara Bíblia nem refutar as suas principais
asserções, pois elas tratam de Deus. Aarqueologia não poderá jamais apresentarprovas que mostrem que Deus falou pormeio de Moisés, por exemplo, ou que Deusmandou Nabucodonosor destruir Jerusalém.É improvável que qualquer pessoa jamaisencontre alguma coisa relacionada a Moisés,ou escrita por ele.
A arqueologia pode, sim, ser útil em
questões de história e de costumes humanos.
Se a Bíblia, ou qualquer outro livro antigo, dizque as pessoas seguiam determinados padrõesde comportamento em certo período, asdescobertas arqueológicas podem revelar seisso é ou não verdade.
Mesmo que os resultados dasdescobertas arqueológicas concordem comos relatos de escritores antigos sobre umaprática remota, ainda assim não podemprovar que um exemplo específicomencionado num texto de fato aconteceu.Isso exigiria provas escritas independentes
a respeito dessa ocasião. Mas o fato de asafirmações bíblicas freqüentementeconcordarem com as práticas antigas é umbom motivo para uma visão positiva dosregistros bíblicos (v., p. ex., “Um templode ouro” e “Das malas postais persas”).
Situar esses registros no cenário antigoé um serviço importante da arqueologia.Possibilita que o leitor de hoje apreciemelhor esses registros nos planos históricoe cultural. Descobertas mais raras,relacionadas diretamente a passagens do
Antigo e do Novo Testamento, podem dar
sustentação ao testemunho dessaspassagens, acrescentando mais detalhes (v.,p. ex., “Nenhum tesouro escondido” e “E
vieram os assírios...”). Assim como essas descobertas
aumentam nosso conhecimento sobre omundo em que a Bíblia foi escrita, tambémpermitem que sua singular mensagemreligiosa sobressaia de forma mais ousada.
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EMPREENDEDORES NO EGITO
apoleão Bonaparte invadiu o Egitoem 1798, e a equipe de cientistas quelevou consigo praticamente fundou a
moderna egiptologia (v. “O mistério doshieróglifos egípcios”).O antigo Egito virou moda. A elite
comprava móveis decorados no estiloegípcio, e alguns importavam os entalhesantigos do próprio Egito. Os museustambém queriam objetos refinados. Assim,as pessoas iam ao Egito para trazer tudo oque conseguissem.
Um dos homens mais notáveisocupados disso foi um italiano quetrabalhara num circo em Londres,exibindo-se como brutamontes, o “gigante
italiano”. Esse homem, Belzoni, não tinhasomente músculos, mas cérebro também,e inventou uma roda-d’água muito
melhor, segundo ele próprio, do quequalquer outra usada no Egito. Em 1815ele a exibiu no Cairo, mas ninguém seinteressou. Então passou a dedicar-se atransportar monumentos de pedra doEgito para a Inglaterra.
As ações de Belzoni, abrindo túmulose saqueando templos, foram deploráveis se
julgadas por parâmetros posteriores, masassim mesmo ele fez muitas descobertasimportantes e ajudou o antigo Egito aconquistar seu lugar na imaginação daspessoas, lugar esse que jamais perdeu.
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O sol selevanta sobreo rio Nilo em NagHammadi, no Egito.
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Vários outros colecionadores e
comerciantes de antigüidades seguiram oexemplo de Belzoni. Mas algunsestudiosos trabalhavam de modo maismetódico. Uma equipe alemã, dirigidapor Richard Lepsius, ficou de 1843 a1845 investigando túmulos emonumentos e fazendo registros precisosdeles, ao mesmo tempo em que coletavaobjetos para o museu de Berlim. Lepsiuscompilou doze volumes de desenhos edescrições, Denkmãler aus Agypten, atéhoje fonte essencial de conhecimento.
Três ingleses fizeram um valioso
trabalho de cópia de pinturas e inscriçõesdepois destruídas ou danificadas. Algumasdessas descobertas forneceram materialpara um livro famoso escrito por um dostrês, sir John Wilkinson: Themanners and customs ofthe ancient Egyptians [Hábitos ecostumes dos antigos egípcios] (publicadopela primeira vez em 1837).
Mas a tarefa de pôr um pouco deordem na arqueologia egípcia coube a um
jovem francês que estava já havia algunsanos no país. Auguste Mariette fundou oMuseu do Cairo em 1858, montou um
instituto local de antigüidades e criou leis
para controlar a exportação deantigüidades do Egito. Fez também váriasescavações cuidadosas e importantes.
Posteriormente, ainda no século XIX,as escavações no Egito ganharam basecientífica e metódica, obra do ativoarqueólogo britânico sir Flinders Petrie.Nascido em 1853, Petrie foi educado pelospais e pela própria paixão por colecionar eorganizar as coisas. Seu pai era engenheirocivil e ensinou-lhe os fundamentos dapesquisa, que então aplicou aos antigosmonumentos da Grã-Bretanha.
Em 1880 foi para o Egito com ointuito de estudar as pirâmides, tarefa quelhe tomou boa parte dos dois anosseguintes. Reza a tradição que eletrabalhava somente com uma bengala eum cartão de visitas, ainda assim obtendoresultados bastante precisos. Certamenteera espartano, vivendo apenas com omínimo necessário.
Em 1883, o Fundo Egípcio deExploração, criado no ano anterior,contratou-o para trabalhar no Egito. Látrabalhou a maior parte dos anosseguintes, até 1926, e escavou cerca detrinta sítios diferentes, adotando o hábitode publicar um relato de cada trabalhodepois de um ano da sua conclusão.
Enquanto os exploradores anterioresbuscavam grandes edifícios e objetos paramuseus, Petrie dedicava-se às anotaçõesprecisas e à comparação dos pequenosdetalhes. Conseguiu proporcionar um cenáriohistórico a descobertas anteriores, resgatar
vestígios importantes desprezados pelos outrose fazer um estudo ordenado da incrível
variedade encontrada no antigo Egito.Quando Petrie deixou o Egito em1926, já não havia espaço para arqueólogosque desconsideravam modestos cacos decerâmica ou descartavam ossos de animais.
A arqueologia tornara-se um estudo preciso,científico.
EMPREENDEDORES NO EGITO
Foi sir WilliamFlinders Petriequem deu uma basecientífica e metódica às escavações no Egito, no final do século XIX.
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CURIOSIDADES DA ASSÍRIA
O nome da Babilônia nunca saiu damente das pessoas, mesmo depois de olocal ter sido engolido pelo deserto. ABabilônia representava a vida luxuosa eímpia, pois o Apocalipse da Bíblia usou seunome como sede da iniqüidade humana.
Ninguém sabia ao certo como fora acidade. Alguns europeus que iam até Bagdá
viam as colinas poeirentas de Babil epegavam tijolos com estranhas inscriçõespara levar para casa como curiosidades.
O primeiro a pesquisar e a descrever asruínas foi um jovem notável, Claudius
James Rich. Aos 20 anos chegou aBombaim para trabalhar na CompanhiaBritânica da índia Oriental, já tendo
viajado pela Turquia, pelo Egito e peloOriente Próximo. Além de francês eitaliano, também falava turco, árabe epersa, além de ler hebraico, siríaco e umpouco de chinês!
Um ano depois a companhia nomeouRich representante em Bagdá, e para lá elese foi em 1807 com a noiva de 18 anos.Em 1811, os dois fizeram uma excursão atéBabilônia. Rich passeou pelos morros,traçando esboços e planos iniciais,destinando já alguns homens para escavar
em busca de tijolos com inscrições, selos eoutros objetos.Seu Memoir on theruins ofBabylon
[Relatos sobre as ruínas da Babilônia] foipublicado em 1813 em Viena e reeditadoem Londres em 1815, 1816 e 1818,tamanho o interesse que despertou. Ele fezoutra visita em 1817, para averiguar seusresultados' anteriores, e publicou emLondres o Second memoir on Babylon
[Segundo relato sobre a Babilônia], em1818. Dois anos mais tarde, os Richesfizeram uma longa excursão, incluindo notrajeto Mossul, principal cidade do nortedo Iraque.
Na margem oriental do Tigre, defrontea Mossul, estavam as ruínas da antigacapital da Assíria, Nínive. Rich explorou-ase pesquisou-as, coletando tijolos etabuinhas de argila com inscrições. Fezanotações das viagens, mas não viveu obastante para publicá-las. Em 1821, emChiraz, a caminho das ruínas de Persépolis,foi vítima de uma epidemia de cólera emorreu, aos 34 anos.
Sua viúva, que saíra antes dele para
Bombaim, organizou seus diários,publicados em 1836 (. Narrativeofa residencein Koordistan). Em 1825, oMuseu Britânico comprou por mil libras osselos, as inscrições e os manuscritos que elecolecionara.
Os livros de Rich foram amplamentelidos. Na França, o governo foi convencidoa fornecer dinheiro para escavações naspromissoras colinas de Nínive. Paul EmileBotta foi enviado a Mossul e abriu suasprimeiras valas nas ruínas de Nínive em
dezembro de 1842. Encontroupouquíssima coisa nas seis semanas detrabalho; portanto, ficou feliz quando opovo do local falou-lhe de um lugarchamado Khorsabad, 22 quilômetros aonorte, onde se podiam ver pedrasentalhadas. Botta começou a cavar ali em1843, prosseguindo até 1845.
Pouco abaixo da superfície do soloencontravam-se as paredes de um grande
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CURIOSIDADES DA ASSÍRIA
palácio. Revestindo as paredes de tijolos
havia placas de pedra entalhada, comdesenhos e inscrições cuneiformes.Diante das portas principais viam-seenormes touros alados, de até 4,8 metrosde altura.
Botta ficou fascinado. Reuniu maishomens para colocar as peças entalhadasem carroções, levá-las até o rio Tigre ecolocá-las em balsas, navegando rioabaixo até o porto de Basra. Antes deembalá-las, Botta contratou um artistapara desenhá-las, fazendo assim umregistro delas antes que qualquer danolhes pudesse acontecer.
Quando as pedras chegaram a Paris,causaram sensação. O interesse públicoelevou-se ainda mais quando se provouque o palácio pertencera a Sargom, o reida Assíria mencionado em Isaías 20.1,cuja existência fora posta em dúvida, poisnão havia nenhuma outra referência aoseu nome.
Em 1839, um inglês de 22 anospartiu de Londres com um amigo a fimde chegar ao Ceilão (atual Sri Lanka),
onde um parente lhes arrumaria
emprego. Em 1840 alcançaram Mossul,
depois desceram o Tigre numa balsa atéBagdá. Logo após se separaram.Um deles partiu para concluir a
viagem. O outro, Austen Henry Layard,encantou-se com a região e ficou paratrás. Passou alguns meses na Pérsia,
vivendo com os povos das montanhas, edepois voltou para Bagdá. Dali foienviado ao embaixador britânico emIstambul, com mensagens políticas. Acaminho, encontrou Botta em Mossul.
O embaixador na época se interessava
por antigüidades e, por isso, depois decontratar Layard para pequenas tarefasdiplomáticas, deu-lhe recursos paracomeçar uma escavação na Assíria, com aaprovação do sultão turco.
No final de 1845, Layard pôs-se aescarvar a colina chamada Nimrud, que
vira ao sul de Nínive. Imediatamente aspás dos operários atingiram placas depedra que revestiam paredes de salões.Surgiram esculturas em relevo, inscriçõescuneiformes, objetos de metal e frágeispeças de marfim entalhado.
Layard convenceu-se de que haviaencontrado Nínive, e voltou a Londresdepois de dezoito meses de trabalho paraescrever um grande sucesso editorial: Nineveh and its remains [Nínive e os seusrestos] (1849).
O The Illustrated London Newsdivulgou muitas descobertas importantes dos primeiros arqueólogos, como foi o caso de
Austen Henry Layard.
Decorando o palácio do rei Sargom, da Assíria, em Khorsabad, havia um grande touro alado (esquerda). Paul EmileBotta foi o primeiro a escavar a colina. Quando as esculturas queencontrou foram levadas a Paris, causaram sensação.
Algumas das mais famosas esculturas assírias são as que retratam o rei
Assurbanipal e seus cortesãos caçando ematando leões.
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TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
Ribeirinhos árabes com uma carga de junco remam atravessando o rio Eufrates. Seu modo de viela na parte meridional do grande reino da
Babilônia mudou pouco ao longo dos milênios.
Retornou a Mossul em 1849 e
começou a escavar com empenho as colinasde Nínive, onde suspeitava poderencontrar mais esculturas, apesar dofracasso de Botta. E estava certo. De 1849a 1851, ele e seu ajudante local, HormuzdRassam, desencavaram salões revestidoscom quase 3 quilômetros de entalhes empedra. As esculturas pertenciam ao paláciode Senaqueribe (rei da Assíria, 705-681a. C.) e entre elas estavam as famosasimagens do rei no cerco de Laquis (v. “E
vieram os assírios...”).Num dos salões havia milhares de
pequenas tabuinhas de argila cobertas deinscrições cuneiformes, parte da biblioteca
palaciana. Tão importantes e empolgantes
quanto as esculturas, esses documentosapresentam as informações realmente vitaissobre a história, a religião e a sociedadeassíria. Todos esses tesouros foramembarcados rumo à Inglaterra, para oMuseu Britânico. Layard terminou asescavações em 1851, tornando-se político,diplomata e colecionador de objetos dearte.
A Assíria e a Babilônia então setransformaram em campo de caça de objetosraros para alimentar os museus. No sul, só seencontraram tabuinhas de argila, trabalhos
em metal e outros pequenos objetos, paradesencanto dos exploradores. A Assíria
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CURIOSIDADES DA ASSÍRIA
continuou a revelar frisos entalhados às pás
dos escavadores franceses em Khorsabad e,especialmente, a Rassam em Nínive. Ali eleencontrou o palácio de Assurbanipal, oúltimo grande rei da Assíria (669-627 a.C.).Outra grande coleção de tabuinhas de argila
veio de lá, além das magníficas cenas do reicaçando leões e outros animais selvagens,hoje tão famosas.
O ritmo das descobertas diminuiucom a Guerra da Criméia (1853-56) eoutros problemas. Os estudiosostrabalharam para interpretar e divulgar asdescobertas. Em 1872, George Smith,assistente do Museu Britânico queestudava as tabuinhas de argila, identificou
numa delas a narrativa de um grande
dilúvio, bem semelhante à história dodilúvio de Noé em Gênesis (v. “A históriababilônica do dilúvio”). Isso gerou novaonda de interesse popular, e umimportante jornal, TheDaily Telegraph, financiou novas escavações em Nínive.
Agora mais estudiosos francesestrabalhavam na Babilônia, descobrindoruínas da cultura suméria anteriores a2000 a.C. Em Tello encontraram belasestátuas de um soberano chamadoGudea, que reinou por volta de 2100 a.C.
Uma equipe da Universidade daPensilvânia, a partir de 1887, fezescavações no centro religioso sumério deNipur, recuperando milhares de tabuinhascobertas de inscrições cuneiformes, atémesmo muitas com mitos e hinos sobre osdeuses e deusas ali cultuados.
Bem no final do século, uma expediçãoalemã abriu escavações na Babilônia.Liderada por um arquiteto, RobertKoldewey, ela estabeleceu novos parâmetrosde precisão para as escavações e para adocumentação.
A arqueologia na Assíria e na Babilôniatransformara-se de caça ao tesouro emexploração científica do passado.
EmNimrud, perto de Nínive, Layard descobriu salões revestidos com placas de pedra e portas
guardadas por touros de pedra. Osárabes ficaram pasmados, quando o primeiro deles foi desenterrado.
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NA TERRA DA BÍBLIA
um americano, Edward Robinson,figura nos primórdios da arqueologia naPalestina, embora jamais tenha escavadoum sítio antigo sequer e pensasse até queos cômoros de terra (tells) que asencobriam eram montes naturais.
Em duas viagens à Palestina, em 1848e em 1852, Robinson e seu amigo EliSmith exploraram o país e, com estudocuidadoso da paisagem, identificaram umacentena de localidades citadas na Bíbliaque ainda não haviam sido corretamentesituadas. Esse trabalho fundamental, aolado da descrição da região, foi publicadocomo Biblical researches in Palestine
[Pesquisas bíblicas na Palestina] (1841) e Later biblical researches [Novas pesquisasbíblicas] (1856).
Mapear a terra com precisão foi tarefaimportante. Outro americano, W. ELynch, deu uma contribuição essencialquando ele e seus homens embarcaramno mar da Galiléia e desceram o rio
Jordão em dois barcos metálicos pré-fabricados. A jornada demorou umasemana, de 10 a 18 de abril de 1848. Elefez o primeiro mapa detalhado do curso
sinuoso do rio e descobriu que asuperfície do mar Morto fica 396 metrosabaixo do nível do mar.
O trabalho principal, o levantamentogeográfico da Palestina ocidental, foirealizado pelo Fundo de Exploração daPalestina, fundado em Londres em 1865. OFundo enviou oficiais do exército britânicopara mapear Jerusalém e o interior.
Entre 1872 e 1878, C. R. Conder eH. H. Kitchener (mais tarde lorde
Kitchener de Cartum) esquadrinharammais de 15 540 quilômetros quadradosda região, assinalando mais de dez milsítios. Seus mapas, embora substituídosem anos recentes, embasam todos osposteriores.
O Fundo de Exploração da Palestinatambém fez algumas escavações,especialmente no contorno do templo deHerodes em Jerusalém (v. “O grandetemplo de Herodes”). Mas não se fizerammuitas escavações produtivas senão em1890, quando Flinders Petrie, vindo doEgito, fez uma breve visita à região.
Durante seis semanas ele trabalhou na
colina chamada Tell el-Hesy. Ali percebeua importância de relacionar a cerâmica,comumente encontrada em sítios antigos,aos diferentes níveis do subsolo em que foiachada. Com base nas posições relativasdas peças, ele foi capaz de descobrir quaistipos eram os mais antigos, classificandoassim os objetos de cerâmica por idade.
Assim, ele fixou o parâmetro paratodo o trabalho posterior na Palestina.Onde não existem inscrições ou moedas,a cerâmica fornece algumas pistas a
respeito da data dos edifícios em que éencontrada.Na Palestina não há os enormes
templos de pedra nem os imensospalácios de tijolo do Egito e da Assíria. Ascolinas palestinas exigem muito maisatenção do arqueólogo, retribuindo commenos recompensas espetaculares.Observação e documentação são vitais.Depois do novo método de Petrie, outrospassaram gradualmente a perceber isso.
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A região montanhosa da Judéia esuas cidadezmhas compõem o cenário de boa parte do registro bíblico.
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TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
A arqueóloga Kathleen Kenyon foi uma das especialistas mais influentes que trabalharam na Palestina. Ela é
famosa sobretudo por suas escavações em Jericó.
Petriemandou que as peças de cerâmica encontradas nas suas escavações em Tell el-Hesy fossem desenhadas no local antes de recolhidas à segurança de um museu.
A vista aérea (acima, à direita) mostra o grande “tell”, ou colina- cidade, de Laquis. A Bíblia relata como a cidade foi tomada pelos invasores assírios.
Uma expedição americana começou aexplorar o sítio de Samaria em 1909 e 1910.Os empreiteiros do rei Herodes destruíramboa parte do palácio israelita quando
ergueram o novo templo (v. “Herodes —ogrande construtor...”), e por isso foi muitodifícil identificar a planta do palácio e suahistória. Felizmente, G. A. Reisner, o diretor,era um escavador meticuloso e perspicaz,com experiência no Egito. Ele observou ascamadas de solo com cuidado, para quepudesse desvendar a história. Reisner não
voltou a escavar na Palestina, e seus métodosforam desprezados por outros arqueólogos.
W. F. Albright, o grande arqueólogoamericano, começou a explorar a região em1922 e aperfeiçoou a datação da cerâmicacomparando peças de um sítio com as detodos os outros sítios, já que tinhaimbatível conhecimento deles todos.
Um dos arqueólogos mais influentes quetrabalhou na Palestina nos últimoscinqüenta anos foi uma mulher: Kathleen
Kenyon (1906-1978). Ao participar de umaexpedição a Samaria, em 1931, introduziuuma técnica de escavação que aprenderatrabalhando na Grã-Bretanha ao lado de sir
Mortimer Wheeler. Nas suas explorações em Jericó (1952-1958), ela aplicou o métodoestratigráfico de escavação e dedocumentação com resultados brilhantes,ainda que se tenham reveladodecepcionantes para os estudos bíblicos (v.“E as muralhas vieram abaixo”).
As escavações de Kenyon em Jericó esuas explorações posteriores em Jerusalém(1961-1967) treinaram ou influenciarammuitos dos arqueólogos que desde entãotrabalharam na Palestina, embora algunsespecialistas israelenses-sigamprocedimentos ligeiramente diferentes.Todos se preocupam em aprender o maispossível numa escavação, visando primeiroa conhecer mais sobre toda a história dolugar e depois a analisar seu valor para ainterpretação da Bíblia.
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DECIFRANDO ESCRITOS ANTIGOS
As línguas da Bíblia —hebraico, aramaico egrego— sempre foramcompreendidas por algumaspessoas, mas boa parte dasoutras línguas de povos queviveram nos tempos bíblicosacabou esquecida. E, claro,estão perdidas para semprese os povos que as falavamnão as escreveram em pedraou outros materiais quesobrevivem por longo tempo.
Esses dois fatoressignificam que são pequenasas possibilidades derecuperação de escritosantigos, embora estessubsistam em grande númeroem determinados lugares. Dealguns locais e povos nãotemos absolutamente nenhumdocumento escrito. É o casodos filisteus, por exemplo. Seuidioma é desconhecido,exceto uma ou duas palavras
e nomes preservados emtextos de outros povos (comoo nome filisteu “Golias”,registrado na Bíblia).
Os antigos documentosescritos que lemos hojesobreviveram por acaso. Commuita freqüência não sãoaqueles que os estudiosos dehoje escolheriam se opudessem. Os relatos deSamaria trazem informaçõessobre a administração e osimpostos no antigo Israel.Não há textos sobre o dia-a-dia da corte do rei ou o modo
de lidar com o crime, nemhinos a Baal ou cartas de reisestrangeiros.
Mesmo quando uma
grande variedade dedocumentos se achadisponível, como no Egito ouna Babilônia, são assimmesmo uma seleção efornecem panoramasincompletos e parciais.Muitas vezes se encontramcartas enviadas a certohomem, mas suas respostasestão perdidas, e, portanto,seu conteúdo é conjectural.
É bom lembrar que ostextos recuperados emcoleções ou arquivosgeralmente pertencem auma ou duas das últimasgerações de pessoas quehabitaram ou usaram oedifício. As pessoas jogavamfora documentos antigos, amenos que tivessem valorespecial —como, porexemplo, documentos legaise outros registros familiares,
Ler escritos antigos é
muitas vezes difícil porqueestão danificados ouquebrados. Pode haver maisde uma maneira depreencher a lacuna, cadaqual resultando num sentidobem diferente. Se falta partedo registro, seu propósito oudata pode ser desconhecido,ou —quem sabe?— o final deuma história esteja perdido.
Ler as línguasesquecidas do mundo bíblicodemanda tempo e muitoestudo, mas todas asprincipais são
compreendidas hoje. Hámenos de 200 anos, eramainda um mistério. Decifraros hieróglifos egípcios e os
cuneiformes babilônicos foium grande feito dosestudiosos do século XIX, eas histórias merecem sercontadas. Não há dúvidasobre a interpretação damaioria dos textos antigos.
Novas descobertas servempara verificar as concepçõesantigas, nas línguas assimcomo na arqueologia.
O autor segura na mão uma tabuinha de argila de Nuzi, datada de cerca de 1400 a. C. e escrita em texto cuneiforme babilonico.
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O MISTÉRIO DOS HIERÓGLIFOS EGÍPCIOS
Atéa descoberta da Pedra de Rosetta, ninguém fora capaz deler a antiga escrita hieroglífica que revestia as paredes dos túmulos e templos do antigo
Egito.
U,m navio de guerra afastava-se da costado Egito. A bordo estava NapoleãoBonaparte, com uma pequena comitiva deoficiais. Era agosto de 1799.
Pouco mais de um ano antes,Napoleão invadira o Egito com esquadra egrande exército. Agora abandonava seuexército, e o almirante britânico Nelson jádestruíra sua esquadra. Napoleãoalimentara esperanças de fazer do Egitopropriedade francesa, para que de lápudesse atacar os britânicos na índia. Suaaventura foi um fracasso em todos osaspectos, menos num deles.
Com o exército napoleônico seguiram
175 cientistas franceses. Sua tarefa era
mapear e descrever a terra. E a executaramintegralmente, voltando a Paris comanotações e desenhos que acabarampublicados em 24 volumes, sob o título Déscription de VEgypte(1809-1828). Essaobra serviu de alicerce da modernaegiptologia.
Em meio à grande coleção de antigasesculturas egípcias que os homens deNapoleão recolheram estava uma placa depedra encontrada perto de Rosetta, àsmargens do rio Nilo. A pedra, com orestante da coleção, foi levada para Londrescomo troféu de guerra quando o exércitoque Napoleão deixara para trás se rendeu
aos britânicos. Desenhos e moldes deestuque já haviam chegado a Paris. Lá aPedra de Rosetta gerou muita empolgação,pois parecia ser a chave dos mistérios daantiga escrita egípcia, os hieróglifos.
No alto da pedra encontram-se catorzelinhas de hieróglifos, depois 32 linhas deuma espécie de texto manuscrito egípcio, aescrita demótica, e finalmente 54 linhas de
greg°-Ler o grego não foi difícil. Era parte de
um decreto baixado pelo rei Ptolomeu V,
em 196 a.C. Mas, por mais que se tentasse,ninguém conseguia ler a escrita egípciaalém de dois ou três nomes.
Napoleão não conseguiu conquistar oEgito, mas foi um francês quem saiu
vitorioso na luta para decifrar a escrita doantigo Egito. Esse homem foi Jean-FrançoisChampollion. Nascido em 1790, revelou-seuma criança superdotada, estudando latim,grego e hebraico já aos 11anos.
Pouco depois, Champollion viu as26
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O MISTÉRIO DOS HIERÓGLIFOS EGÍPCIOS
inscrições egípcias pela primeira vez.
Quando lhe disseram que ninguémconseguia lê-las, anunciou que um dia eleo faria. Isso se tornou sua paixão.
Ele dedicou toda a sua energia a aprenderlínguas antigas e obscuras e a reunir tudo oque conseguia obter sobre a história egípcia.
Aos 17 anos foi a Paris dar seqüência aosestudos, suportando a pobreza e osproblemas políticos da turbulenta França.Quando tinha 23 anos, publicou umahistória completa do Egito (LEgyptesous les Pharaons, 1814). Embora tenha tido seu
cargo universitário cassado, jamaisinterrompeu os estudos, e tornou-se mestreem copta, a língua da igreja no Egito.
De repente, no outono de 1822,Champollion percebeu a verdadeiraexplicação da escrita. Até então pensavaque os hieróglifos tinham algum tipo designificado simbólico e eram usados comoletras só para escrever nomes estrangeiros.
Agora, examinando textos copiados emdata mais recente, reconheceu que os sinaiseram usados também para sons, não sópara palavras. Poucos dias depois já havia
conseguido decifrar os nomes de muitosreis e anunciou sua descoberta em Paris,no dia 17 de setembro de 1822.
Cópias de inscrições recém-encontradas lhe chegaram daí a poucassemanas, e ele conseguiu aplicar a elas seusistema, com sucesso. Em 1824apresentou um relato completo dadescoberta num livro que deu origem aoconhecimento moderno do egípcioantigo ( Précis du systemehiéroglyphiquedes anciens égyptiens). Ficou bem claro que ele
decifrara corretamente os hieróglifos.Champollion foi nomeado curador donovo Museu Egípcio do rei em Paris, em 1826,e liderou uma expedição ao Egito em 1828-1829. Fez muitas descobertas e trouxe maisobjetos na volta à França. Alcançou enormerespeito dos seus compatriotas, mas morreu deesgotamento em 1832, aos 41 anos.
A Pedra de Rosetta foi a chave quedesvendou os mistérios da antiga escrita egípcia. Registra um decreto do rei Ptolomeu V em três línguas: grego (embaixo), escrita demótica egípcia (no centro) e hieróglifos (no alto).
Umdos grupos de hieróglifos quedeu a Champollion a chavepara decifrar o egípcio antigo foi o nome de Ramessés. O terceiro sinal é estritamentedesnecessário, ajudando simplesmentea “soletrar” o valor do segundo.
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OS SEGREDOS DA ROCHA DE BEÍSTUM
iajantes que percorrem a estrada queliga Teerã e Kermanshah, na Pérsia, aoIraque, a oeste, passam por um grande
penhasco conhecido como rocha deBeístum (ou Bisitun).
A cerca de 90 metros do chão, podem-seenxergar homens talhados na pedra. Umafigura imponente ergue a mão em direção adez homens de pé, e dois outros estão tambémde pé atrás dessa figura. Ninguém sabia quemeram eles. As conjecturas variavam bastante: deCristo e seus doze apóstolos a um professor esua turma!
Ao lado da cena esculpida, a rocha erabem polida e lisa. Aqueles que haviam
subido até lá contavam que ela estavacoberta de marcas talhadas na pedra, emforma de ponta de flecha.
As mesmas marcas haviam atraído aatenção de estrangeiros que visitaram certasregiões da Pérsia a partir do século XVII.Os poucos europeus que as viram fizeramdesenhos delas, intrigando e deixandoperplexos os leitores. Durante o séculoXVIII, mais homens foram vê-las, e algunscomeçaram a decifrá-las.
Uma opinião era unânime: as marcaseram uma forma de escrita, e não meradecoração, como queriam algumas pessoas.No francês e no inglês cunhou-se para elaso nome “cuneiforme” (em forma decunha), palavra derivada do latim (emalemão, o nome c Keilschrifi).
O primeiro a fazer progressos foi oousado explorador Carsten Niebuhr, que seempolgara ao ler livros sobre a Pérsia.
Aprendeu árabe e chefiou uma expediçãoda Dinamarca em 1761.
Viajou pela Arábia e chegou até a índia,Bombaim, com um médico, o outro únicosobrevivente do grupo. Desanimado, partiu
para a Pérsia, onde passou três semanascopiando as inscrições nas ruínas da antigacapital, Persépolis (v. “Esplendores persas”).Depois de estudar o que vira, publicou umrelato das suas viagens e das inscrições em1774-1778 (fieisebeschreibungvon Arabien und anderen umliegenden Lãnderri).
Niebuhr acrescentou às suas cópiasuma tentativa de traduzir a escrita. Viu quehavia três tipos diferentes, sendo o maissimples um alfabeto. Das 42 letras que elereconheceu, 32 revelaram-se corretas
quando as inscrições foram finalmentecompreendidas.O trabalho de Niebuhr estimulou
vários homens a tentar melhorar acompreensão desse alfabeto cuneiforme.Um deles afirmou corretamente que osescritos eram dos reis do Império Persa:Ciro, Dario e seus sucessores —masninguém conseguia lê-los.
Quem conseguiu foi Georg Grotefend,um professor de Gõttingen, na Alemanha.Seu passatempo era resolver enigmas,especialmente enigmas com palavras. Certodia, por volta de 1800, um amigo comquem Grotefend estava bebendo fez-lhe umdesafio: ele não conseguiria decifrar a escritapersa. Em 1802, Grotefend anunciou quehavia decifrado a escrita e identificado osnomes de Dario e Xerxes com palavras como significado de “filho” e “rei”.
Infelizmente, a Universidade deGõttingen não se interessou pelo trabalhode Grotefend, e, portanto, a publicação
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OS SEGREDOS DA ROCHA DE BEÍSTUM
integral só pôde ser feita em 1805. Ele
não levou sua obra muito adiante; a tarefaficou para outros estudiosos.
Beístum e suas inscrições eram o meiode completar a decifração daquilo a quehoje chamamos “persa antigo” cuneiforme.
Ao mesmo tempo, abriram caminho paraque se decifrassem os cuneiformesbabilônicos, muito mais complicados.
Coube a um inglês “tirar água darocha”, decifrando os segredos de
Beístum. Elenry Rawlinson, homem
extremamente ativo, foi trabalhar naCompanhia da índia Oriental em 1827,aos 17 anos. Aprendeu persa e línguasindianas, serviu o exército no IRegimento de Granadeiros de Bombaim,e foi para a Pérsia em 1835 comoconselheiro militar do irmão do xá,governador de Kermanshah.
Perto da cidade havia duas inscriçõesem rochas. Ao examiná-las, Rawlinson
Gigantescas figuras esculpidas na rocha de Beístum aparecem acima da inscrição cuneiforme talhada no paredão. Henry Rawlinson, ao copiar a inscrição no seu caderno, correu um risco considerável. Mas veio a compensação: foi o primeiro a decifrar os sinais cuneiformes.
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TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
O general-de-divisão sir Henry
Rawlinson (1810-1895) foi um dos grandes pioneiros na decifração dos cuneiformes babilônicos.
Cadernos de Rawlinson, preservados no Museu Britânico, mostramcomo ele trabalhava em busca da decifração. Esseé o detalhe de uma página.
descobriu os nomes de Dario e Xerxes,
aparentemente desconhecendo aquilo queGrotefend e outros haviam feito. Depoisdirigiu-se à rocha de Beístum.
Em 1835, começou a copiar. Ao final doano estava doente e passou algum tempo emBagdá, onde evidentemente debateu asinscrições antigas com o representante dogoverno britânico. Depois de exercíciosmilitares, voltou a Kermanshah para buscardocumentos enviados pelo representante queexplicavam a obra de Grotefend.
Depois, em 1836 e 1837 e, novamente,em 1844 e 1847, Rawlinson copiou os
textos em Beístum. Não foi fácil alcançaralguns trechos deles.
Assim se referiu ao trabalho no paredãodo penhasco: “... escadas de mão sãoindispensáveis [...] e mesmo com as escadaso risco é considerável, pois a saliência deapoio é tão estreita —de cerca de 45centímetros a no máximo 61 centímetros delargura— que com uma escada comprida obastante para alcançar as esculturas não háinclinação suficiente que permita à pessoasubir; e, se a escada é encurtada para
aumentar a inclinação, as inscriçõessuperiores só podem ser copiadas se a pessoaficar de pé no último degrau da escada, semnenhum outro apoio além de firmar o corpocontra a rocha com o braço esquerdo,enquanto a mão esquerda segura o cadernoe a mão direita maneja o lápis. Nessa
posição copiei todas as inscrições superiores,
e o interesse pelo trabalho eliminoutotalmente qualquer sensação de perigo”.Noutra passagem ele conta que uma
escada que estava usando como pontesobre uma fenda acabou quebrando,deixando-o pendurado sobre umprecipício, de onde foi resgatado pelosamigos. Foi esse o preço da decifração!
Em 1837 Rawlinson enviou umprimeiro ensaio a Londres, traduzindo ecomentando 200 linhas da inscrição. Seuprincipal estudo, Memoir on thePersian version of theBehistun inscriptions [Relato
da versão persa das inscrições de Beístum],surgiu em 1846 e foi concluído em 1849.Com isso, o estudo do persa antigo foifirmemente fundado.
Rawlinson supôs que os dois outrostipos de escrita cuneiforme do paredão eramtraduções das inscrições persas. Numa dasinscrições, havia mais de cem sinais, númerogrande demais para compor um alfabeto.
Grotefend identificou alguns sinais, eum especialista dinamarquês, NielsWestergaard, identificou vários outros,
usando exemplos da mesma escritaencontrada em outros locais da Pérsia.Foi Rawlinson, novamente, quem deu
a maior contribuição. Enviou sua cópia dotexto a Londres, com tradução e notas,onde foi impressa em 1855 depois decuidadoso trabalho de edição e correçãorealizado por Edwin Norris, da RealSociedade Asiática.
A língua desse segundo tipo decuneiformes foi chamada susiana ouelamita, porque foi encontradaprincipalmente em Susã, capital do antigoElão (v. “Esplendores persas”).
Com duas das três escritas já decifradas,Rawlinson voltou-se à terceira. Essa é amais complicada das inscrições de Beístum,e foi a mais difícil de alcançar. Em 1847,Rawlinson pagou um menino curdo daregião para escalar o paredão suspenso poruma corda e enfiar calços de madeira nasfendas da rocha, que funcionariam comoapoio para os pés.
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OS SEGREDOS DA ROCHA DE BEÍSTUM
O menino alcançou a parte certa da
rocha, onde, sentado num estradosuspenso por cordas, gravou os sinaisesculpidos em grandes folhas de papelúmido. Pouco mais de um ano depois,Rawlinson achou que já compreendia osentido da inscrição. Falou sobre o seutrabalho em Londres, em janeiro de1850.
Outras descobertas de inscriçõescuneiformes já haviam sido feitas, e outroshomens tentavam decifrá-las. Numatranqüila paróquia irlandesa, um religioso
anglicano, Edward Hincks, dedicava-se aomistério. Já em 1847 publicara listas desinais com seus valores e os significados dealgumas palavras. Hincks merece grandereconhecimento, ao lado de Rawlinson,como pioneiro na decifração doscuneiformes babilônicos. Foi ele quemrevelou a Layard o significado dasinscrições que este desenterrou na Assíria(v. “O preço da proteção”).
Os trabalhos de Hincks e de Rawlinsonforam enviados a outros estudiosos quetambém se interessavam pelos cuneiformes,para que todos pudessem participar dotrabalho. Houve muitas tentativas malfadadasantes de todos aceitarem que Hincks estavacerto ao afirmar que os sinais representamsílabas{ba, ad, gu, imetc.), embora algunsdeles pudessem também ser palavras{anétambém “deus”, ilu).
Hincks também observou que os sinaisforam inventados primeiro para escrever umidioma diferente do assírio e do babilônico,ambos semíticos. Mais tarde, soube-se que
Uma das primeiras inscrições assírias a ser decifradas foi a do Obelisco Negro, que traz ilustrações de um tributo enviado por um rei identificado como “Jeú, filho de Onri”, um dos reis de
Israel (v. “Opreço da proteção”).
tal idioma era o bem distante sumério.Será que Rawlinson, Hincks e
outros estavam certos, ou decifraramerradamente os sinais?
Em 1857, Henry FoxTalbot, homeminteressado no assunto e um dos pioneirosda fotografia, propôs um teste: que umtexto fosse enviado aos decifradores paraque cada um o traduzisse
independentemente, sendo os resultadossubmetidos a uma análise independente.Rawlinson, Hincks, Talbot e um
estudioso francês, Jules Oppert,participaram do teste. As traduçõesficaram próximas o bastante para garantirque a escrita fora decifrada.
Agora a publicação e a tradução dasinscrições podiam seguir adiante. Osdocumentos da Assíria e da Babilôniapoderiam falar novamente, depois de2500 anos de silêncio.
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DESENTERRANDO O PASSADO
A ldeães escavaram o morro sobreo qual sua vila foi construída, descobrindo camadas de terra euma antiga parede de tijolos.
Histórias de tesouros enterrados sãocomuns em todo o mundo. Desde que aspessoas começaram a construir casas e amorar em cidades e vilas, passaramtambém a encontrar coisas que seusantepassados perderam ou enterraram.
Geralmente essas coisas eramencontradas por acaso, e a maioria delasdespertava tão pouco interesse quesimplesmente era jogada fora. As únicascoisas que as pessoas guardavam eram
objetos de ouro e prata ou coisas quepodiam admirar.
Isso ainda acontece hoje. Preparando oscampos, os lavradores às vezes encontramcoisas que o arado desenterra, guardandoaquelas que julgam valiosas e jogando fora oresto. Pessoas que rastreiam praias ou camposcom detectores de metal querem encontrardinheiro ou coisas de valor. Deixam de ladoos pregos e outros objetos que suas máquinaslocalizam.
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DESENTERRANDO O PASSADO
Os arqueólogos são dublês de
cientistas e caçadores de tesouros. Alegram-se quando encontram ouro eprata ou belas obras de arte. Mas tudo oque as pessoas usavam é valioso para eles.
Em determinadas circunstâncias, umúnico caco de cerâmica pode dizer aoarqueólogo mais que um anel de ouro.Se, por exemplo, a cerâmica estivermarcada como produto importado deum país distante, pode ser sinal derelações estrangeiras por meio decomércio ou guerra.
Igualmente importantes são ruínas de
edifícios, casas, templos, palácios efortalezas que os povos ergueram nopassado e os túmulos que cavaram paraos mortos.
Desenterrar antigas ruínas pode serempolgante e gratificante. Massimplesmente tirar um jarro ou uma jóiada terra ou tirar os detritos para chegar ao
L â m p a d a d o t e m p o d e H e r o d e s
( 3 7 - 3 4 a . C . ) e p a n e l a v e r m e l h a
m o s t r a m q u a n d o o s o a l h o s u p e r i o r
e s t e ve e m u s o
' o
chão de um edifício são atos que destroem
vestígios valiosos.Observar exatamente onde essas coisas seencontram, as diferentes cores e texturas dosolo e como os objetos estão dispostos nochão é algo que pode revelar muitasinformações.
A vasilha estava enterrada no chão,sobre o chão, ou misturada aos detritos quecobrem o chão? No primeiro caso, é maisantiga que o chão. No segundo ou noterceiro, é provável que pertencesse àspessoas que usavam o edifício. Se estava emcima dos escombros que tomavam a casa,
pode ser de uma data bem tardia. Mesmoque estivesse sob o nível do chão, umainspeção cuidadosa pode revelar que ela
jazia num buraco cavado a partir de umnível superior, bem depois de a construçãoter caído no esquecimento.
Do mesmo modo, a observação dascamadas ou estratos de terra pode revelar
A escavação de uma colina-cidade(“tell”) mostra as camadas de terra e as ruínas de construções anteriores, com objetos enterrados quepodem
fornecer pistas das datas.
F o s s o c a v a d o n o i n í c i o d a
I d a d e d o B r o n z e R e c e n t e
( c e r c a d e I S O O a . C . ) , t a l v e z
p a r a r e c u p e r a r t i jo l o s d e u m a
p a r e d e m a i s a n t ig a ; p e q u e n o
c â n t a r o d e C h i p r e r e v e l a s u a i d a d e
S e p u l t u r a c o b e r t a d e p e d r a s :
t i p o d e a l f i n e t e d e c o b r e e
c e r â m i c a , a l é m d a a u s ê n c i a
d e p a r e d e s , a p o n t a m c o m o
d a t a o i n i c i o d a I d a d e d o
B r o n z e I n t e r m e d i á ri a ,
c e r c a d e 1 9 0 0 a .C .
: : - í T 2v e l h o e g í p c i o d e c e r c a d e' W a . C. , a l é m d a s f o r m a s d e s t e
a f i s í t e i d a c e r â m i c a ( d if e r e n t e s
5 í a e m p l a r e s a n t e r i o r e s ) , i n d i ca m
z d a t a d e s s e s n í v e i s d e s o l o
P a r t e d e o u t r a e s t r u t u r a ,
a J é m d e o b j e t o s t í p i c o s ,
: : n o p e q u e n o j a r r o d e
s s p e r f i c i e n e g r a , l â m p a d a
c o t b o r d a l a r g a e s i n e t e h e b r e u ,
B u r a c o c o n t e n d o lâ m p a d a
d o s é c u l o V d . C . , ú lt i m o
v e s t íg i o d e o c u p a ç ã o n a c o l in a
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TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
Pedras entalhadas de construções
anteriores, como o touro (abaixo, à direita), eram muitas vezes reutilizadas no mesmo sítio ou em locais próximos por construtores posteriores.
EmNimrud, no Iraque, trabalhadores escavam e meninos carregam a terra inútil.
que uma parede foi construída antes de
outra, se a camada de solo que vai até aprimeira parede aparecer cortada pelasfundações da segunda.
Para o arqueólogo é tão vital observar eregistrar todos esses detalhes em anotações,fotografias e desenhos quanto descrever osobjetos e a construção que ele encontra.Toda escavação é destrutiva, pois revolve osolo, sendo impossível reconstituí-lo comoera antes. Tudo o que passa despercebidoao arqueólogo se perde.
Esses fatos essenciais gradualmenteforam ficando evidentes ao longo dos
últimos 150 anos. Em anos recentes,desenvolveu-se todo tipo deaperfeiçoamento, e uma ampla variedade detécnicas foram introduzidas na arqueologia,oriundas da física e da química, todas
visando a extrair o maior volume possível deinformações do que é encontrado. No finaldas contas, o olho atento do arqueólogo éainda o instrumento mais vital.
Nas terras do Oriente Próximo, onde seescreveu a maior parte da Bíblia, as pessoas
vêm construindo suas casas de pedra e de
tijolo há mais de sete mil anos. As pedras às vezes se encontram deslocadas, masgeralmente sobrevivem. Os tijolos, porém,eram feitos de barro secado ao sol, nãoqueimados num forno, portanto geralmentese desintegram bem rapidamente, a menosque estejam enterrados no chão.
Uma construção simples de tijolo de
barro, portanto, pode durar somente cercade trinta anos antes de as paredescomeçarem a ruir. Nos locais em que eraesse o material de construção normal,reformas e reconstruções totais eramfreqüentes.
Foi esse processo que ergueu os grandesmorros de cidades e de vilas em ruínas
vistas por todo o Oriente Próximo, umacasa erguendo-se sobre os restos daanterior. (O mesmo processo verifica-se emmuitas outras regiões; nas cidades daEuropa, por exemplo, as ruas do período
romano ficam de 3 a 7 metros abaixo das vias modernas. Os restos de paredes e osescombros dos tempos medievais eposteriores explicam a diferença de nível.)
A necessidade de contínua observaçãodurante o processo escavatório e anecessidade de registrar tudo o que seencontra fazem da escavação tarefa lenta edifícil. Conseqüentemente, a escavação detoda uma cidade é bem rara. As expediçõespodem concentrar-se nas construções deum período, ou, mais comumente,
trabalhar em áreas selecionadas.O arqueólogo pode decidir escavar olocal onde um lavrador desenterrou umapedra esculpida ou onde exploradoresobservaram contornos de paredes ougrandes quantidades de cerâmica. Ele podedecidir-se por uma área que sempre foi
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DESENTERRANDO O PASSADO
Escavação em curso numa sepultura suméria no norte do Iraque.
importante, talvez como quadrante maiselevado da cidade, ou por uma que estejabem situada em relação ao sol e ao vento.Por outro lado, pode deixar de lado osedifícios principais, aprendendo muitosobre as casas das pessoas mais pobres.
Assim, em face das áreas limitadaspara exploração e da destruição quesofreram as ruínas ao longo dos séculospor obra da humanidade e dos elementos,a história integral de um sítio não podeser recuperada. O que se encontra nuncapode ser mais que uma parte, umaamostra do que um dia existiu.
E importante ter isso em mente nahora de ler qualquer estudo baseado emdescobertas arqueológicas. A menos queas provas estejam bem solidamentefirmadas e sejam avaliadas à luz de outrasinformações da época e da região, podemser fator de engano. E o que vale para asdescobertas arqueológicas vale também
para os documentos escritos. Essestambém são somente amostras de tudo oque se escreveu nos tempos antigos.Embora milhares deles estejam nosmuseus da atualidade, muitos outrosmilhares se perderam.
Poucas construções, poucos textos epoucos objetos foram feitos paraatravessar os tempos e permitir quegerações distantes os examinassem. Amaioria sobrevive por acaso, sendoencontrada também por acaso. Na
verdade, algumas coisas encontradaspodem nem ser típicas do seu gênero. Issosignifica que uma nova descoberta podeforçar os estudiosos a modificarcompletamente suas opiniões aceitas ou arevisá-las.
Tomando um único exemplo, orecente achado de um palácio em Ebla,no norte da Síria, com milhares detabuinhas de argila escritas por volta de2300 a.C., está abrindo novas áreas deestudo na história e na filologia (v.“Manchete: a cidade perdida de Ebla”).
À medida que lavouras e cidadesforem-se estendendo a regiões do OrientePróximo onde ninguém viveu durante
séculos, sítios antigos correrão risco dedestruição. Escavar esses locais éprioridade, mas outros podem serestudados com calma. Ainda há muitotrabalho a fazer, e muito mais descobertasa revelar.
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UM DIA DE ESCAVAÇÃO
Ainda está escuroquando levantamos da cama.Depois de um banho rápidonuma bacia de água fria,atravessamos o pátio dacasa de tijolos de barro eentramos numa salacomprida. O recinto funcionacomo local de reunião e salade refeições do pessoal daexpedição. Na mesa háxícaras de chá, fatias de pãoe uma lata de geléia dedamasco: uma refeição antesde começar as escavaçõesdo dia. O som de vozes e osruídos metálicos no pátioinformam que os operárioschegaram para pegar suaspás, picaretas e cestos paracarregar terra.
Sonolentos, pegamos oscadernos, lápis, trenas,etiquetas, sacos de papel ecaixas e saímos atrás deles,atravessando a colina até as
escavações. O sol estáprestes a nascer. Sobre omorro a leste vê-se um brilhoróseo; logo depois o discosolar já derrama luz sobretoda a região.
Depois que os operáriosforam embora ontem,avaliamos o progresso edecidimos onde escavar maisfundo e onde parar. Agoramostramos aos doisescavadores a área detrabalho do dia. Ali vê-separte de uma parede detijolos, e queremos
acompanhá-la até o chão,depois fazer seu contornopela área da nossaescavação. No início otrabalho é uma escavaçãopesada, dura, para tirar ostijolos de barro que caíram daparede, degenerando numamassa de barro duro semnada dentro. As picaretas vãoe vêm, os tijolos de barrocedem e logo vê-se ummonte de terra solta.
Os dois homens param,afastando-se para descansar.No seu lugar vêm os quatrooperários que, com as pás,vão encher de terra oscestos que os meninosdepois carregarão. Elesenchem um balde com duasou três pás de terra. Osmeninos erguem os cestosaos ombros e se arrastamlentamente para descarregara terra no limite do morro.(As escavações são muitasvezes realizadas depois dacolheita, quando os homenstêm pouco trabalho noscampos e os meninos estãode férias escolares.)
Observamos atentos,verificando se a terra nãopassa mesmo de tijoloesfarelado, até que aspicaretas atingem um solo decor diferente. Sob os tijoloscaídos encontra-se uma
camada de entulhos. Talvezestejamos perto do assoalho.Os cavadores aguardamenquanto analisamos o chãocom espátulas. O solo escuro,cinzento, tem váriaspolegadas de espessura e seestende por alguma distância.Todos os tijolos caídos têm deser retirados antes de umaescavação mais profunda.
À medida que aspicaretas talham o solo,anotamos a mudança nocaderno, damos um númeroà nova camada e
preparamos um saco,assinalado com o número daescavação, a camada e adata, prontos para quaisquerachados. Enfim a estérilmassa de tijolos é removida.A parede aparece livre numdos lados, com trechos defina argamassa de barroainda grudada.
Agora os escavadorestrabalham com cuidado nosolo cinzento. São treinados
para detectar qualquerdureza ou objeto no chãopelo tato e pelo som daponta de metal ao tocar aterra. Muitas vezes a terra sedesgruda de uma pedra ouvasilha assim que o objeto ésolto. O saco de papelcomeça a se encher decacos de cerâmica retiradosdo chão. Agora remove-semenos terra, e os meninosnão precisam correr tãorápido!
Enquanto examinamos aspeças de cerâmica, um dosescavadores chama. Eleencontrou um quadrado pretode algumas polegadas decomprimento; é um pedaço demadeira, queimado numincêndio. Será apenas umpedaço de madeira? Não émodelado ou entalhado? Édelicado demais para serpego. Com espátula e faca,
retiramos a peça do lugar numbloco de barro, pousando-onuma caixa de papelão comfundo coberto de algodão paraser levado ao nossolaboratório improvisado.
O tratamento técnicopode enrijecê-lo antes de serestudado. Ainda que sejasimplesmente uma massainforme de madeira, osbotânicos podem identificar aárvore e os especialistas emfísica atômica podem medirsua idade pelo teste do
carbono 14. (Todos osorganismos vivos contêm umisótopo de carbono radioativo,C14, em proporção regular.Depois da morte, essasubstância começa a sedesintegrar num ritmoconhecido, de modo quemetade dela terádesaparecido depois de 5730 anos. Medir a proporçãode carbono 14 do materialpermite o cálculo da suaidade.) Há grande quantidadede cacos de cerâmica —ospovos antigos eram muitonegligentes e bemdesleixados. Enchemos doissacos e ainda precisamosrequisitar um cesto pararecolher todos os cacos.
Desenterramos muitomais madeira, pedaçosmaiores das vigas de umtelhado ou de um assoalho, eportanto precisamos retirar
mais amostras e medir aposição de cada uma,anotando tudo no esboço deuma planta. Deixando aspicaretas de lado, osoperários raspam
Umestudante de arqueologia dinamarquês peneira terra em busca de moedas no sítio de uma aldeia judia do século V d. C., nas colinas de Golã.
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UM DIA DE ESCAVAÇÃO
delicadamente com
espátulas e facas.Além de cerâmica emadeira, vemos em certoponto manchas verdes nosolo. A terra é recortada bemdevagar. Encontramos umanel de cobre completo,embora bastante corroído,com um escaravelho egípciocomo gema. Antes de oretirarmos, sua posição éanotada, pois isso podeajudar a informar por queestava justamente no localem que foi encontrado. Todosse alegram. Desenterramos
um belo “achado”.Mal acabamos de
colocar o anel numa caixacom etiqueta bem visível,quando um dos meninosvolta correndo. Aodescarregar a terra, seuolhar atento viu o faiscar deuma cor brilhante. Na palmada mão ele segura umaminúscula conta de pedravermelha polida. A conta éposta num envelope,devidamente etiquetado, efaz-se uma anotação no livro.O nome do menino é
também escrito no envelope —boa nota para ele!
Três horas já sepassaram, e estivemos bemocupados. Hora do café damanhã. De volta à sede daescavação, comemos ovos,cozidos ou fritos, pão e maisgeléia de damasco, com cháou café para beber. Temosmeia hora para descansar,debater as descobertas eprogressos, avisar oregistrador de que talvezvenham mais achados. Seu
trabalho é desenhá-los edescrevê-los para osregistros da expedição e doDepartamento Nacional deAntigüidades.
Na segunda metade damanhã o ritmo de trabalhodiminui, com a aproximaçãodo meio-dia. Logo será hora
de terminar a escavação dodia. Mas as coisas sãomesmo imprevisíveis: poucosminutos antes do final dotrabalho, um dosescavadores se levanta,segurando com cuidadoalguma coisa nas mãos, ecaminha até nós. Achou algoque jamais vira antes.
Todos se reúnem emvolta para observar umapequena massa de barromarrom. Um lado plano estácoberto de pequenas marcasgravadas. É uma tabuinha decuneiformes babilônicos,
uma descoberta notável, umdocumento escrito que talvezdê nomes e personalidadesàs mudas paredes e cacosde cerâmica. Mas, quandoavidamente pegamos a peça.vemos que duas bordasforam recentementequebradas. Será que asoutras partes ainda estão nochão, ou será que nenhumde nós as notou?
O homem mostradesapontamento e volta paraprocurar; os meninos e oshomens das pás peneiram a
terra solta. Logo todos estãoradiantes. Um pedaço estavanum dos cestos, pronto paraser levado lá para baixo; doisoutros ainda estavam nochão. As posições das peçassão registradas, e depoistodas são solenementelevadas à sede, onde anotícia se espalha semtardança.
Correndo do outro ladoda colina vem o epigrafista, oespecialista em inscrições elínguas, que passou três
tristes semanas sem umaúnica inscrição para estudar.Com pincel e alfinete elelimpa a sujeira que cobre asduas primeiras linhas, umgrão dê poeira por vez. Todosaguardam. O que estáescrito? É uma cartaendereçada a um rei, o rei da
cidade que todosacreditavam ter existido nolocal. Agora já não há maisdúvidas.
A refeição está pronta:uma interrupção, mas muitobem-vinda. O debatecontinua à mesa. Registrosde outras cidades falamdesse rei e de seus coevos,portanto podemos atribuir-lhedata aproximada. Quantotempo depois disso será quea tabuina ficou numa estantedentro da construção? Seráque estamos escavando ointerior do palácio? Será queencontraremos maistabuinhas, mais anéis?
Depois de comer, amaior parte doscomponentes da expediçãofaz uma sesta de uma ouduas horas; tomam banho,fazem a barba, escrevemcartas. Revigorados,continuamos a limpar e adesenhar os achados,
selecionando e reparando aspeças de cerâmica, traçandoplantas, tirando fotografias eestudando a tabuinha. O solse põe, acendem-se aslâmpadas de parafina. Ocozinheiro prepara um jantarespecial —pernas de rã deum rio vizinho— , uma
Artista, no próprio sitio, faz cópia cuidadosa de um retrato em relevo do faraó Tutancâmon.
mudança em relação àcomida enlatada compradana cidade a 32 quilômetrosdali. Contentes, vamos
dormir, tropeçando pelo pátioirregular sob a luz da lua;sonhamos com maistabuinhas, mais vasos,palácios, anéis e arquivos. Acolina tem muito maistesouros a revelar!
O “dia de escavação'1descreve a forma tradicionalde exploração arqueológicano Oriente Próximo. O diretorde uma pequena equipe deespecialistas da Europa oudos Estados Unidós, ou dopróprio país oriental vizinho,trabalha com mão-de-obralocal. Nos últimos anos,alguns diretores têmrecebido estudantes e outrosvoluntários para trabalharnos sítios, dispensandoquase completamente osoperários locais.
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“SÓ PODE SER O DILÚVIO!”
Leonard Woolley, o arqueólogoencarregado de Ur, instruiu seu operário a
cavar um pequeno buraco para encontrar asuperfície em que os primeiros colonoshaviam construído suas cabanas de junco.Isso assinalaria o marco zero da grande Urdos caldeus.
O operário cavou até um leito limpo deargila, sem fragmentos de cerâmica. “É ofundo, senhor”, gritou o homem. MasWoolley não se convenceu.
O operário ainda estava a mais de doismetros acima do nível do mar, e Woolley supôsque esse era também o nível original.Contrariado, o homem concordou em cavarmais fundo. Cavou, cavou, retirando 2,5 metrosde solo limpo, e depois mais peças de cerâmicacomeçaram a aparecer. Afinal alcançou o
verdadeiro solo virgem, um metro abaixo doatual nível do mar, e cerca de 19 metros abaixoda superfície do monte de ruínas.
O que significava aquela espessacamada de solo estéril?
Woolley achou que sabia e, quando viuque dois ajudantes seus não conseguiamachar resposta, voltou-se para sua mulher,que comentou: “Ora, só pode ser o dilúvio”.
Quando o solo foi analisado, provou-se serlodo depositado pela água. Com base nessa eem outras descobertas relacionadas, LeonardWoolley afirmou que havia encontrado provasmateriais do grande dilúvio narrado pelosrelatos sumério, babilônico e hebreu.
Foram vários os autores que seinteressaram pela descoberta de Woolley.
Alguns a encararam como prova do relatobíblico de Noé. Outros a viram simplesmentecomo vestígios de uma das muitas enchentes
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que submergiram as cidades da Babilônia. As notícias do nível do dilúvio em Ur
mal se haviam espalhado quando outroescavador afirmou que também encontrarauma camada de lodo deixado pelo dilúvio.Ele trabalhava em Quis, 220 quilômetrosao norte de Ur.
Começava então o debate. A camada de Ur, depositada por volta
de 4000 a.C., era muito mais antiga do
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“SÓ PODE SER O DILÚVIO!”
que a de Quis. Será que uma delas
representava o dilúvio?Escavações em outros locais daBabilônia revelaram camadas limpas comoa de Quis, pertencentes mais ou menos àmesma época, cerca de 2800 a.C.
Nenhum dos níveis de outros sítiospertencia à mesma época do de Ur.Muitos estudiosos afirmam hoje quealguns desses depósitos posterioresassinalam o período do dilúvio.
E o afirmam porque a data é coerentecom as informações preservadas nastradições babilônicas. Algumas das listas dos
primeiros reis começam com os deusesfundadores da dinastia real. Depois dealguns reinados, a seqüência é interrompida—“Então veio o dilúvio”— e se segue novoinício. Outras listas começam com oprimeiro rei depois do dilúvio, e na sualinha sucessória encontramos um soberanocujas próprias inscrições sobreviveram.
Como arqueologicamente estão datadas por
volta de 2600 a.C., podemos situar asenchentes um ou dois séculos antes.Não há dúvida de que o dilúvio foi um
acontecimento catastrófico quepermaneceu na lembrança humanaenquanto durou a civilização babilônica.
Vários escritos referem-se a ele comomarco no tempo. Foi evidentemente maisque uma pequena enchente local, o tipo decoisa que a maioria das cidades ribeirinhasde Babilônia podia esperar. No entanto,ainda não estamos seguros de que essesdepósitos de lodo e de argila sejam
vestígios do dilúvio.Em Ur, admitiu Woolley, o lodo não
cobria todo o sítio. A grande profundidadede solo limpo que ele cavou pareciaresultado de água correndo contra parte domonte de ruínas, talvez ao longo de umperíodo bem extenso. Alguns dos outrosdepósitos também não parecem ter
O cume nevado do monte Ararate, na Turquia oriental, ergue-secontra o céu. A Bíblia diz quefoi nos montes de Araratequea “arca” de
Noéveio a encalhar depois do dilúvio.
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TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
Entreos documentos das escavações de Ur, publicados em 1956, está essa ilustração vista por dentro do poço queatravessava uma espessa camada de lodo. Leonard Woolley afirmou ser ela uma prova do dilúvio.
destruído nem submergido as construções
em que foram encontrados. Talvez a senhoraWoolley estivesse errada, afinal, e fossesomente uma enchente, e não o dilúvio.
Outra descoberta empolgante sobre odilúvio foi feita bem antes das escavações emUr. Na década de 1850, sir Henry Layarddesenterrou nas ruínas de Nínive milhares depedaços de tabuinhas de argila, queformaram a biblioteca do rei assírio
Assurbanipal e foram quebrados e esquecidospor ocasião da destruição do palácio, em 612a.C. Layard levou as tabuinhas para o MuseuBritânico, em Londres. Ao longo dos anos os
estudiosos catalogaram e identificaram aspeças, divulgando seu trabalho em livros eem periódicos científicos.
Em 1872, George Smith estava absortona sua tarefa quando percebeu que osfragmentos espalhados sobre a mesapertenciam a uma história do dilúvio. Não setratava de uma enchente comum, nem erasomente a história de um dilúvio qualquer.Tinha incríveis semelhanças com a história deNoé, registrada no livro bíblico de Gênesis.
Smith divulgou sua descoberta numa
reunião da Sociedade de ArqueologiaBíblica, provocando sensação.Os relatos babilônico e bíblico
claramente tinham tanto em comum quenão podia haver dúvida de que havia entreeles um forte vínculo. Mas que vínculo eraesse? Será que a narrativa hebréia era
baseada na babilônica, a babilônica nahebréia, ou ambas tinham fonte comum?
Desde o anúncio da descoberta, aprimeira possibilidade ganhou maiorapoio. A segunda é tida como improvável,pois o relato babilônico data pelo menosde 1600 a.C., bem anterior à composiçãodo texto hebreu.
A terceira opção —de que as históriastêm uma origem comum— é sempredefendida por um número pequeno deespecialistas. A migração de Abraão de Uraté Canaã poderia ter levado o relato para ooeste; muitos estudiosos acham que os
israelitas o devem aos cananeus.Mas qual é a história do dilúvio
babilônico? Os capítulos de 6 a 9 deGênesis narram o dilúvio como parte dacontínua história das relações de Deus coma humanidade. O relato que George Smithencontrou também faz parte de umanarrativa maior. Está na décima primeira ena última tábua da Epopéia de Gilgamés.
A. epopéia conta como o antigo reiGilgamés tentou conquistar a imortalidade.Depois de muitas aventuras, alcançou uma
terra remota, onde vivia o único homemque se tornara imortal, um homemchamado Um-napishtim, o Noébabilônico. Ele contou a Gilgamés sobre odilúvio para explicar por que os deuses lhehaviam dado a vida eterna. Depois decontar a história, mostrou a Gilgamés quenão podia alimentar esperanças de tornar-se imortal e mandou-o de volta para casa.
Vários detalhes e peculiaridades fazemsupor que a História do dilúvio babilônicoa princípio não fazia parte da Epopéia deGilgamés. Graças à descoberta de outro
poema, conhecido como Epopéia de Atrakhasis, a história pode hoje ser vistadentro do cenário correto.
Como Gênesis, a Epopéia de Atrakhasisnarra a criação do homem e sua história atéo tempo do dilúvio e a nova sociedade quese estabeleceu depois dele. Aqui a razão dodilúvio é clara, ao contrário do que acontecena Epopéia de Gilgamés. A humanidadefazia tanto barulho que o deus-chefe na terra
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“SÓ PODE SER O DILÚVIO!”
não conseguia dormir. Os deuses, sempoder resolver o problema de outro modo,enviaram então o dilúvio para destruiresses perturbadores seres humanos,silenciando-os para sempre.
As semelhanças entre as históriasbabilônica e hebréia são fáceis de ver. Mashá diferenças notáveis que não devem serdesprezadas. A diferença básica é omonoteísmo do relato hebreu, em contrastecom os muitos deuses que atuam nanarrativa babilônica. Igualmente diferente éa atitude moral. Os detalhes tambémdiferem quanto à forma e o tamanho daarca (a babilônica, um cubo, dificilmente
Construções de junco, às margens do Eufrates, lembram queessa é uma região ribeirinha baixa, propensa a enchentes.
poderia flutuar), a duração do dilúvio e oenvio das aves.
As semelhanças dos relatos e oreconhecível cenário mesopotâmico levam acrer que tiveram origem comum. Os indíciosarqueológicos de enchentes na Babilônia,além da forte tradição que mostra apossibilidade de um dilúvio grande edesastroso, somados aos relatos sobre este,apontam para um acontecimentocatastrófico no início da história. Quanto setrata de interpretar esse fato, o relato bíblicoclaramente se diferencia dos outros,sustentando não ser somente uma narrativahumana, mas a revelação divina.
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A HISTÓRIA BABILÔNICA DO DILÚVIO
A história babilônica dodilúvio, como é narrada naEpopéia de Gilgamés, ocupaquase 200 versos de poesia.Os seguintes excertosrevelam a linha principal dahistória e mostram o seu tom.
Os deuses em conselhodecidiram mandar o dilúvio, eEa, o deus responsável pelacriação do homem, jurouperante o conselho que nadadiria à humanidade sobre adecisão. Porém, Ea quis avisarseu adorador, Ut-napishtim, eassim falou à casa dele:
“Cabana de juncos, cabanade juncos, parede, parede!Ouve, cabana de junco;presta atenção, parede!”
Ele na verdade se dirigia aUt-napishtim:
“Derruba a casa, constrói umbarco!Abandona as riquezas, buscaa vida!Despreza as posses parasalvar a vida!Leva a bordo a semente detodas as criaturas.O barco que construirás,Suas medidas devem sertodas iguais,A largura e o comprimentodevem ser os mesmos.”
Segue-se um diálogo sobrecomo Ut-napishtim deveexplicar o trabalho aos seusconterrâneos e comoreconhecerá o tempo do dilúvio.A solução era ocultar deles ofato e levá-los a pensar que osdeuses os abençoariam. Depoisdescreve-se a construção dobarco. Terminada a obra, Ut-napishtim falou:‘Tudo o que eu tinha pus abordo,
Toda a prata que tinha pus abordo,Todo o ouro que tinha pus abordo,Todas as criaturas vivas quetinha pus a bordo.Fiz entrar no barco toda aminha família e os meusparentes.Os animais domesticados eselvagens,Todos os artesãos, mandei-
os entrar [...]Chegou o tempo determinado [...]Olhei o céu, o tempo,O tempo era terrível de ver.Entrei no barco e fechei aporta [...]
Com o primeiro clarão daalvorada.Uma nuvem negra se ergueuno horizonte.Dentro dela, troveja o deus
Datada do século VII a. C., esta tabuinha de argila coberta de inscrições, a décima primeira da versão assíria da Epopéia de Gilgamés, contém o relato babilônico do dilúvio.
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A HISTÓRIA BABILÔNICA DO DILÚVIO
das tempestades [...]
O deus do mundosubterrâneo rompe osesteios da barragem,O deus guerreiro lidera aenchente das águas.Os deuses erguem astochas,Ateando fogo à terra comsuas labaredas.O terrível silêncio do deusdas tempestades alcançouos céus,E transformou toda aclaridade em trevas.[...] da terra
esmigalhada como um vaso.Durante um dia atempestade[rugiu]Soprou forte [...]Como uma batalha, o poderdivino desabou sobre o povo.Ninguém conseguia ver seuvizinho.As pessoas não podiam serreconhecidas do céu.Os deuses ficaramassustados diante do dilúvio.Subiram ao céu do deus-chefe,
Os deuses escondiam-secomo cães, agachando-sediante da porta.A deusa Istar berrou comomulher em trabalho de parto[...]Os deuses choraram comela [...]Durante seis dias e setenoitesO vento, o dilúvio, a tormentacastigaram a terra.Quando chegou o sétimodia, a tempestade e o dilúviocessaram a guerraNa qual haviam lutado qualmulher em trabalho de parto.Olhei o tempo: estava calmo,E toda a humanidade viraralama.A terra era plana como umtelhado plano.Abri a janela, luz brilhou nomeu rosto.Agachando-me, sentei echorei [...]No monte Nisir o barco
encalhou [...]
Quando veio o sétimo dia,Enviei uma pomba, soltando-a.A pomba foi, depois voltou,Pois não tinha onde pousar, epor isso retornou.Depois enviei umaandorinha, soltando-a.A andorinha foi, depoisvoltou,Pois não tinha onde pousar, epor isso retornou.Então enviei um corvo,soltando-o.O corvo foi e viu as águasbaixando;
Comeu, sobrevoou a região enão retornou.Levei para fora as oferendase com elas fiz um sacrifícioaos quatro ventos,Ofereci uma libação no cumeda montanha,Os deuses sentiram oaroma,Sentiram o odor agradável,Reuniram-se como moscasem torno do sacrificador.Quando afinal a grandedeusa (Istar) chegou,Ergueu o grande colar de
contas em forma de moscasque o deus-chefe fizera paradeleitá-la.‘Ouçam todos os deuses aqui:assim como jamais meesquecerei do meu colar delápis-lazúli, também sempreme lembrarei desses dias, e
jamais me esquecerei deles...’ ”
Depois da disputa acerca dossobreviventes e darecomendação de punir aspessoas pelos seus pecados,os deuses determinaram aimortalidade de Ut-napishtime de sua mulher.
O relato bíblico começa emGênesis 6. O tom e o coloridosão bem diferentes dos danarrativa babilônica.
“Viu Deus a terra, e queestava corrompida, poistodas as pessoas haviamcorrompido o seu caminho
sobre a terra.
Então disse Deus a Noé: Ofim de todos seres humanosé chegado perante mim, poisa terra está cheia daviolência dos homens.Destruí-los-ei juntamentecom a terra. Faze para ti umaarca de madeira de cipreste:farás compartimentos naarca, e a revestirás debetume por dentro e por fora.Desta maneira a farás: ocomprimento da arca será detrezentos côvados, a sualargura de cinqüenta e a sua
altura de trinta. Farás na arcauma janela e lhe darás umcôvado de altura. A porta daarca porás no seu lado; farásum primeiro, um segundo eum terceiro andares. Eutrago o dilúvio sobre a terra,para destruir tudo o que temvida debaixo dos céus; tudoo que há na terra expirará.Mas contigo estabelecerei aminha aliança, e entrarás naarca tu e contigo os teusfilhos, a tua mulher e asmulheres de teus filhos. De
tudo o que vive, de tudo o que écarne, dois de cada espécie,farás entrar na arca, para osconservares vivos contigo;macho e fêmea serão. Dasaves conforme a sua espécie,de todos os animais conforme asua espécie, de todo réptil daterra conforme as suasespécies, dois de cada espécievirão a ti, para os conservaresem vida. Leva contigo de tudo oque se come, e ajunta-o para ti; ete será para mantimento, a ti e aeles. Assim fez Noé, conforme atudo o que Deus lhe mandou [...]Assim foram exterminadostodos os seres que haviasobre a face da terra, ohomem e o animal, osrépteis, e as aves dos céus,foram extintos da terra;ficou somente Noé, e osque com ele estavam naarca. E prevaleceram aságuas sobre a terra cento ecinqüenta dias.
Lembrou-se Deus de Noé, e
de todos os animaisselvagens e de todos osanimais domésticos que comele estavam na arca; e Deusfez passar um vento sobre aterra, e as águas abaixaram.Cerraram-se as fontes doabismo e as janelas doscéus, e a chuva dos céus sedeteve. As águas se foramretirando de sobre a terra. Nofim de cento e cinqüenta diasas águas haviam abaixado, ea arca repousou, no sétimomês, no dia dezessete do
mês, sobre os montes deArarate. E as águas foramminguando até o décimomês, e no décimo mês, noprimeiro dia do mês,apareceram os cumes dosmontes.”
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TESOUROS REAIS DE UR
0 arranjo de flores e folhas de ouro para os cabelos pertenceu a uma rainha de Ur.
ir Leonard Woolley estava escavando emUr havia poucos dias, em 1923, quando umdos seus operários desenterrou um tesouro
de contas de ouro e pedra. Os homens eramnovos no trabalho, ainda sem treinamento, eWoolley temia que o surgimento do ouropudesse levar a escavações secretas e aocontrabando. Ele sabia que havia mais aencontrar, mas interrompeu a escavação nosítio por quatro anos, até 1926.
Woolley também estava inseguro quantoàquilo que o homem encontrara. Ninguém
vira jóias como aquelas antes. Um arqueólogoexperiente supôs que proviessem da IdadeMédia, tendo entre 500 e 600 anos de idade.
Woolley, porém, pensava que o tesouropudesse ser dois mil anos mais antigo,datando do período persa ou de pouco antes.
Quando Woolley colocou novamentehomens trabalhando no local, o resultadofoi impressionante. Encontraram umcemitério com centenas de sepulturascavadas ao longo de um período de váriosséculos num depósito de detritos maisantigo. A maioria dos sepulcros era bemsimples. Cada sepultura continha umesqueleto e alguns vasos, às vezes algumas
jóias, além de ferramentas ou armas.Dezesseis sepulcros eram bem
grandiosos. Grandes poços foram cavadosaté cerca de nove metros abaixo dasuperfície, para abrir um espaço de até 11x 5 metros no fundo.
Para alcançar o fundo, os construtoresdos túmulos escavaram um fosso inclinadoque descia até embaixo. No chãoconstruíram uma pequena câmaraabobadada de pedra ou tijolo para os
mortos. Mas esses grandes fossos eramplanejados para conter mais de um corpo.Para espanto do arqueólogo, dezenas de
corpos jaziam no chão de cada fosso. Pertodo pé da rampa havia esqueletos de bois,outrora arreados a uma carroça. Os arreios
já se haviam decomposto, mas algunstinham contas costuradas que aindaestavam nas linhas onde os arreios corriam.
Woolley identificou os esqueletoshumanos ao lado dos bois como condutoresdos animais. Outros corpos pertenciam aguardas com lanças e capacetes, estacionadosao pé da rampa. Mais numerosos ainda eramos servos da corte. Os músicos estavam com
suas harpas e liras, as damas ostentavam nos
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S
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TESOUROS REAIS DE UR
cabelos belos arranjos de flores e folhas
moldadas em lâminas de ouro e prata.Todos os corpos estavam tãoordenadamente dispostos, que Woolleyconcluiu que as pessoas haviam descidoandando a rampa até suas posições, ondese deitaram e tomaram veneno numpequeno copo. (Alguns dos coposestavam ao lado dos corpos.) Depois
vieram outras pessoas e arrumaram acena, matando os bois (alguns dos quais
jaziam por sobre seus condutoreshumanos) e saindo a seguir. Comgrandes cerimônias e oferendas, o fossofoi fechado com terra.
Ladrões antigos haviam aberto umtúnel até os túmulos e mexido nossepulcros centrais. Levaram tudo o quepuderam, e ainda deixaram muita coisapara os homens de Woolley. Pelo querestou, deduz-se claramente que eramtúmulos de reis. A realeza tinha dedescer à sepultura com toda a pompa deestado que havia desfrutado em vida.Seus servos tinham de ir também comeles, e provavelmente era uma honra ser
escolhido.
Os processos de decomposição haviam
destruído as roupas, a cestaria, o couro e osobjetos de madeira; porém, com brilhantestécnicas improvisadas, Woolley muitas
vezes conseguiu preservar vestígios demadeira apodrecida, ou pelo menosregistrá-los. Se os operários encontravamum buraco no chão, ele derramava aligesso de Paris. Quando o gesso sesolidificava, eles cortavam o solo em voltapara ver o que houve um dia ali. Dessa
A música, assimcomo a arte, fazia parte da vida cultural de Ur. Só a
cabeça de touro, de ouro, e a decoração em mosaico dessa lira (abaixo, à esquerda) puderam ser recuperadas, mas os registros cuidadosos de Woolley acerca dos objetos de madeira decompostos tornaram possível sua reconstrução.
Umdos tesouros mais preciosos de Ur é a figura de um bode(abaixo), decorada com ouro, prata, lápis- lazúli e conchas.
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TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
A mais famosa das peças dos túmulos reais de Ur é um mosaico de conchas, calcário vermelho e lápis-lazúli. Umlado mostra cenas de guerra, o outro (acima) exibeo banquete da vitória e o desfile da pilhagem. Vários séculos antes de Abraão, os artesãos de Ur já eram capazes de produzir obras de técnica perfeita.
Asferramentas de ouro também são dos túmulos reais de Ur.
forma recuperaram-se os formatos de harpase liras, hastes de lanças e muitos outrosobjetos de madeira.
Pela técnica e pela perspicácia deWoolley, soube-se mais sobre a cultura de
Ur por volta de 2500 a.C. do que sobrequalquer outra cidade babilônica da época.
Os túmulos reais de Ur refletem ariqueza da cidade. Reis e rainhas bebiam emgrandes copos de ouro e prata. Comoostentação, os reis usavam adagas comlâminas de ouro, e as rainhas, belíssimas
jóias de ouro e pedras coloridas. Durante osbanquetes, ouviam cantores acompanhadosde cordas e flautas.
Pedra e metais não são encontrados naBabilônia. Esses materiais chegavam ali via
comércio ou conquista de terras
estrangeiras: o lápis-lazúli, do distante Afeganistão. Em alguns dos túmulosencontraram-se selos de pedra dos donos,com os nomes e títulos gravados. Issopossibilitou que os mortos fossem
dispostos no cenário histórico.Os tesouros de Ur não têm vínculo
direto com a Bíblia. Como muitasdescobertas menos espetaculares, revelam atécnica perfeita dos artesãos e dão indíciosdas crenças da época —nesse caso, umaespécie de auto-sacrifício detestável tantoao judaísmo quanto ao cristianismo.Datam de vários séculos antes do tempode Abraão, lembrando-nos que o início dahistória de Israel está inserido não numaera de povos primitivos, mas num mundo
de homens já altamente civilizados.
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MANCHETE: A Cidade Perdida de Ebla
Semana apos semana os operárioslabutavam sob o escaldante sol sírio.
Arqueólogos italianos os contratavam por
dois meses todo ano, e esses homensescavavam as colinas que eles e seus paischamavam de Tell Mardikh. A primeiratemporada foi em 1964; outras vieramem 1965,1966 e 1967.
Obviamente uma cidade importante jazia oculta ali. Uma alta barreira em tornodo sítio assinalava o muro da cidade, e umportão robustamente construído davaacesso a ela pela face sudoeste. Um homemda região desenterrou uma pedra esculpidaao lado de uma elevação no centro da área
murada, e os arqueólogos encontrarammais bacias grandes de pedra decorandoum grande templo.
Todas essas construções datavam doperíodo intermediário da Idade do Bronze,entre 2000 e 1600 a.C. No entanto,ninguém sabia o nome da cidade. Aresposta veio em 1968. Construtores doperíodo persa, cerca de 500 a 400 a.C.,encontraram parte de uma antiga estátua ea tomaram como pedra útil. Inscrito nelaestava o nome do rei que a mandaraesculpir, mais de mil anos antes. Elededicou a estátua a Istar, deusa do amor eda guerra, a Vênus babilônica. Ao lado donome do rei estava seu título: “Rei de Ebla”.
Ebla era o nome de uma cidade queos poderosos reis babilônicos Sargom eNaram-Sin afirmaram ter conquistadopor volta de 2300 e 2250 a.C. Osestudiosos a procuravam havia anos.Geralmente a buscavam perto do rioEufrates, a 160 quilômetros de Tell
Mardikh. E claro que um rei poderia viajar bastante para erigir uma estátua emoutra cidade, mas essa única pedra não
provava que Tell Mardikh era Ebla.Em 1975, veio a confirmação. Numa
construção sob o grande templo,desenterraram-se milhares e milhares detabuinhas de cuneiformes, queidentificavam muito claramente o local.Ebla fora encontrada!
As tabuinhas jaziam numa pilha nochão de um pequeno recinto, num doslados de um pátio. Eram os arquivos de umpalácio que florescera por algumas gerações,sendo depois incendiado. A alvenaria de
tijolos foi queimada no calor das chamas,assim como as tabuinhas, que portantoganharam resistência para suportar odesgaste do tempo.
Soldados inimigos não deixam cartõesde visita, mas, como não temos motivopara duvidar das bazófias de conquistasde Sargom e de Naram-Sin, podemossupor que o exército de um deles saqueouo palácio de Ebla. Eles o pilharamapressadamente, deixando para trásmuitas coisas preciosas para o arqueólogo.Pedaços de estátuas de pedra talhadas emestilos babilônicos, restos de revestimentode ouro e objetos de madeirasofisticadamente entalhados, todoschasmuscados pelo fogo, acabaramcaindo ao chão e foram cobertos pelosescombros do edifício.
Ebla chegou às manchetes quando umimportante especialista italiano começoua estudar as tabuinhas. Tão valiosasquanto as outras descobertas, as palavras
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TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
do mar Morto, como Sodoma e Gomorra.Um dos reis de Ebla chamava-se
Ebrium. Será que esse nome era o mesmodo antepassado de Abraão, Éber,mencionado em Gênesis 10.21, ouguardava semelhança com a palavra“hebreu”?
Os jornalistas interessaram-se pelanotícia. Ebla estampou revistas de todos ostipos e foi saudada como “prova” da Bíblia.
As tabuinhas ainda não haviam sidoapresentadas a outros estudiosos. Sócirculavam os relatos do especialistaencarregado delas. Autores irresponsáveis
então imaginaram que os modernospreconceitos políticos contra o OrientePróximo estavam impedindo o fluxo deinformações, uma acusação inverídica.
As tabuinhas de Ebla são uma dasnotáveis descobertas arqueológicas dosanos 70. Lamentavelmente, a dimensão e anovidade do achado levou o especialistaitaliano a se precipitar, negligenciandoprecauções normais no trabalho com umalíngua desconhecida. Agora, uma equipeinternacional de especialistas,principalmente italianos, com
C. Cataldi Tassoni fez o desenho original das partes escavadas do palácio real de Ebla. Os arquivos
ficavam no pequeno recinto à direita dos cinco pilares.
escritas dão vida ao cenário. Datas, nomese personalidades acrescentam vivacidade aobjetos poeirentos e paredes desabadas.Logo de início as primeiras informaçõesdas tabuinhas foram intrigantes. Nosdocumentos escritos mais antigos jáencontrados no noroeste da Síria, alinguagem era mais próxima do hebraicoque do babilônico.
Então anunciaram-se os nomes dealguns eblaítas. Entre os muitosdesconhecidos estavam alguns que tinhamum som mais familiar: Ismael, Adão, Daud(Davi). Alguns nomes terminavam emeí,
palavra que significa “deus”, e outros em ya. Seria isso um padrão, como os nomesbíblicos “Miguel”, que significa “Quem écomo Deus?”, e Micaías, “Quem é como oSenhor?” (Jeová, ou Yahweh, abreviado em
Yah)? Seria esse. ya realmente o nome doDeus de Israel (v. “O gravador de selos”)?
O especialista afirmou que era issomesmo, e alguns estudiosos concordaramcom ele. E foi além: Ebla governava, ouinfluenciava, uma região muito extensa,chegando mesmo a Hazor, Megido eLaquis, em Canaã, e às cidades da planície
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MANCHETE: A CIDADE PERDIDA DE EBLA
representantes da Bélgica, Reino Unido,
França, Alemanha, Iraque, Síria e EUA,tem a responsabilidade de editar toda acoleção. Já descartaram a maioria dasrevelações sensacionalistas.
Localidades cananéias não aparecemnas tabuinhas. Ebla não tinha contatostão ao sul, muito menos com as cidadesda planície do mar Morto.
Os nomes terminados em ya podemser formas abreviadas, como Jimmy eTommy, ou talvez os nomes possam serlidos de outra forma. Não havia um deuschamado Ya em Ebla e nenhuma ligação
com o Deus de Israel.Ebrium era um alto funcionário, não
um rei. Seu nome pode ser o mesmo queEber, mas não há motivo para vincular osdois homens. A associação com o termohebreué improvável.
Mesmo a língua das tabuinhas poderevelar-se mais próxima de um dialetobabilônico do que do hebraico, emboraalguns cidadãos de Ebla de fato falassem umalíngua pertencente ao mesmo grupo semíticoocidental a que o hebraico pertencia.
Dez mil documentos escritos numlocal de que nada se conhecia previamentepodem muito bem revelar-se repletos dedificuldades. Longos anos de pesquisaserão necessários para resolvê-las.Enquanto isso, as tabuinhas são valorizadaspor provar que a escrita babilônica sepropagou ao norte da Síria antes de 2300a.C., por provar a prontidão em anotartodo tipo de atividade administrativa elegal, em escrever cartas e obras literárias eaté em fazer dicionários de línguasdiferentes, e ainda por testemunhar naregião a presença dos povos semíticosocidentais em data precoce.
As ruínas posteriores de Ebla ilustramos textos bíblicos mais diretamente.
O grande templo prefigura, na suaplanta, o templo de Salomão, compórtico, salão interno e recinto sagrado.
As proporções, porém, são diferentes. A realeza local era enterrada em
túmulos escavados sob o palácio domesmo período, 1800-1650 a.C. Ladrõespilharam os sepulcros, mas algunstesouros lhes escaparam. Contas de ourofinamente trabalhadas eram enfiadasformando colares. Havia braceletes deouro e um cetro com o nome de um faraógrafado em hieróglifos de ouro.
Um belo anel de ouro, coberto comminúsculas bolinhas douradas, pendera
do nariz de uma dama. Pode-se imaginarque o anel que Eliezer deu a Rebeca emHarã fosse parecido.
Ebla era uma cidade próspera nos diasdos patriarcas.
Grandes descobertas muitas vezesgeram rumores que atiçam falsasesperanças e desorientam as pessoas. Nomomento devido é possível fazer umaavaliação abalizada e ver o que é realmenteimportante. Esseé o caso de Ebla.
Quando a poeira levantada pelos
primeiros relatos já estiver assentada,Ebla será vista como um sítio-chavepara a história primitiva da Síria,proporcionando brilhantes revelaçõesacerca do nível de cultura da regiãoantes dos tempos dos patriarcas edurante seu período. As tabuinhasdarão a conhecer mais claramente asprimitivas línguas semíticas, ampliandoassim nossa compreensão dos hebreus.
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Foi a descoberta de milhares de tabuinhas de argila, os arquivos do palácio, quepermitiu identificar com certeza a "cidade perdida” de
Ebla.
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UR: A CIDADE DO DEUS DA LUA
O trem avançava ruidosamente noiteadentro, alguns privilegiados passageirosadormeceram nos beliches, outros
cochilavam em assentos duros. Com umsolavanco, o trem parou; olhos sonolentosespiavam pelas janelas. O nome da estação,“Entroncamento de Ur”, tinha um arirreal. Descemos e passamos o resto danoite numa pousada próxima. Na manhãseguinte, atravessando cerca de doisquilômetros da lisa planície, alcançamos asruínas da cidade —a Ur dos caldeus.
O local é marcado por um blocomaciço de alvenaria de tijolos, que pode ser
visto a quilômetros de distância. Era o
templo de Sin, deus da lua, o deus
principal adorado pelo povo de Ur.Embora o templo seja ainda mais
antigo, a parte principal do edifício hoje de
pé foi erguida por um rei de Ur há mais dequatro mil anos. Ele a construiu numa sériede plataformas, uma sobre a outra, cadaqual menor que a imediatamente inferior.Na terceira plataforma ficava o santuárioonde as pessoas acreditavam viver o deus.
Os babilônios chamavam a torre“zigurate”, que significa o cume de umamontanha. Esse tipo de templo era umacaracterística típica das cidades babilônicas(v. “A glória que foi Babilônia”), erguendo-se bem acima da paisagem plana, um
marco para honrar os deuses e mostrar a
O templo do deus lunar domina as ruínas de Ur. Temmais dequatro mil anos e foi construído numa sériede plataformas emdegraus, com a casa do deus no topo. A “torrede Babel” bíblica era provavelmente uma torre- templo dessetipo.
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UR: A CIDADE DO DEUS DA LUA
riqueza do rei. Na cidade em tomo do
templo encontram-se ruínas de outrostemplos, palácios e túmulos, além dascasas de famílias ricas.
Quando sir Leonard Woolley, oarqueólogo encarregado da escavação deUr, retirou os detritos e tijolos caídosdas casas, encontrou duas áreas muitobem preservadas. Um rei da Babilôniahavia destruído Ur por volta de 1740a.C., ateando fogo a algumas dasconstruções. Os habitantes fugiram, esó alguns voltaram a viver novamentenas casas. Woolley foi capaz de traçar asplantas de muitas ruas, casas, lojas epequenos santuários esparsos. A partirdessas descobertas, conseguiureconstruir seu aspecto e imaginarcomo era a vida na cidade.
Numa casa típica da cidade, a portada rua ficava num pequeno vestíbulo,talvez dotado de uma jarra de água paraos que chegassem lavar os pés. Uma portanum dos lados dava para o pátio. Havia
outros cômodos em torno do pátio, entre
eles despensas, um banheiro e umacozinha. Na cozinha, às vezes havia umpoço, uma mesa de tijolos, um forno emós para fazer farinha, além de vasos epanelas que os últimos donos deixarampara trás. Um recinto comprido nocentro de um dos lados pode ter sido umasala de recepção.
As casas árabes construídas emtempos recentes nas cidades do Iraqueseguem quase a mesma planta. Todos oscômodos podem ser no piso térreo. Ascasas da Babilônia mil anos antes dessasde Ur eram também habitações térreas.Nas casas de Ur geralmente há umaescadaria bem construída num dos ladosdo pátio. Nenhuma das paredes é alta obastante para provar que existisse umandar superior, mas parece bem provávelque houvesse cômodos no piso de cima.
A mobília não subsistiu. Esculturas,gravuras em selos de pedra e modelosfeitos em argila, provavelmente
Notempo de Abraão, alguns cidadãos abastados de Ur talvez tenham morado em sobrados construídos nesseestilo. Nocentro havia um pátio calçado, com banheiro, cozinha, capela e outros cômodos em torno dele.
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TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
brinquedos, mosrram as mesas e cadeirasdobráveis, os objetos de vime e a cestaria,
além das camas e tapetes que tornavam ascasas confortáveis.
Em casas maiores, um dos cômodos às vezes era transformado em santuário. Numdos cantos ficava um altar de tijolos debarro, cuidadosamente argamassado. Aolado, uma instalação semelhante a umalareira tinha uma chaminé que alcançava oteto, possivelmente para a queima deincenso, e um banco de tijolos de barroservia de mesa para copos de bebida epratos de comida. Nada revela o tipo de
culto executado nas casas. Masprovavelmente os donos faziam oferendas,orando aos deuses familiares e celebrando amemória dos antepassados. O sentimentofamiliar é demonstrado em vinte das 69casas desenterradas. Compartimentosabobadados no subsolo eram câmarasmortuárias. Podiam acomodar os restos
mortais de dez ou até doze pessoas, sendoos sepulcros antigos afastados para o lado
a fim de abrir espaço para os maisrecentes. Um sepultamento correto, criamos babilônios, evitava que os mortosassombrassem os vivos.
Tabuinhas de argila encontradas nascasas, algumas em pequenas salas dearquivo, revelam o que faziam osocupantes dessas habitações. Entre eleshavia mercadores que faziam negócioscom parceiros ao sul (da região do golfoPérsico), a leste (Pérsia) e a noroeste, até orio Eufrates (Síria). Havia empresários
locais, sacerdotes e outras pessoas quetrabalhavam nos templos. Os registrostratam da compra e da venda de casas eterras, escravos e bens, de adoção,casamento e herança, e de todos osnegócios de uma cidade agitada.
Em algumas casas havia quantidadesde tabuinhas de um gênero diferente. Em
Umbelo prato de ouro estava entreas preciosidades descobertas nos túmulos reais de Ur.
Umgrande lance de degraus levava ao primeiro patamar do templo.
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UR: A CIDADE DO DEUS DA LUA
bolas arredondadas de argila, achatadas
em forma de bolo, alunos haviamcopiado a escrita cursiva do professor emexercícios para aprender a formar os sinaiscuneiformes. O estágio seguinte eracopiar as inscrições de reis anteriores, ouhinos e orações a deuses e deusas, oumitos e lendas de tempos distantes.
Devemos nosso conhecimento daliteratura suméria e babilônica à atividadedesses professores e seus alunos. Parafacilitar o aprendizado da antiga línguasuméria tinham tabelas de verbos e, para
a aritmética, tabelas de raízes quadradas ecúbicas, além de números inversos.Tabuinhas de outras cidades babilônicasdo século XVIII a.C. exibem umacompreensão correta do “Teorema dePitágoras” — 1200 anos antes dePitágoras o haver formulado!
Os cidadãos de Ur entre cerca de2100 e 1740 a.C. desfrutavam de umpadrão de vida bem elevado na prósperacidade. Portanto, não é de admirar quese achassem superiores ao nômades que
viviam na região semidesértica além dasterras banhadas pelo rio Eufrates.Pessoas que não tinham “habitação fixa”,que comiam carne crua e não davam aosmortos uma sepultura decente malpodiam ser chamados seres humanos!
Os povos nômades eram chamadosamorreus e parecem ter vindo da Síria.\ ieram em números tão grandes, que osreis de Ur ergueram uma muralha portoda Babilônia para tentar mantê-losafastados.
Mais e mais amorreus vieram,
i;abando por superar a muralha e pôrum ponto-final à soberania de Ur sobrei Babilônia, por volta de 2000 a.C.
Gradualmente, os novos habitantes
adaptaram-se à vida urbana e passarama morar em locais como Ur, lado a ladocom os habitantes naturais da cidade.Esses amorreus falavam uma línguamais próxima do hebraico que dobabilônico, mas os escribas aindaescreviam babilônico, pois era umalíngua mais respeitada. Hamurábi, ofamoso rei da Babilônia (v. “O códigodo rei Hamurábi...”), pertencia a umafamília de amorreus.
Os nomes de Abraão e sua família
eram muito semelhantes ao nomesamorreus. Os relatos bíblicos fazemsupor que Abraão viveu numa data por
volta de 2000 a.C., talvez um poucoantes ou depois. O livro de Gênesis, nocapítulo 11, conta que a Ur dos caldeusera sua terra natal. Assim, é nessecenário que devemos situar a primeirafase da sua vida.
Que acentuado contraste com a vidaque ele adotou depois! Diante dochamado de Deus, Abraão deixou umacidade sofisticada, com toda a suasegurança e conforto, para tornar-se umdaqueles desprezados nômades!
No Novo Testamento, a Epístola aoshebreus (cap. 11) toca no cerne dessanotável resposta:
“Pela fé Abraão, sendo chamado paraum lugar que havia de receber porherança, obedeceu e saiu, sem saber paraonde ia. Pela fé peregrinou na terra dapromessa, como em terra alheia,habitando em tendas com Isaque e Jacó,herdeiros com ele da mesma promessa.
Pois esperava a cidade que temfundamentos, da qual Deus é o arquitetoe construtor.”
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O PALÁCIO DOS REIS DE MARI
O s nes deixam muito poucos vestígiosda sua existência para os arqueólogos.Depois de retirar as estacas das tendas e
caminhar para longe, quiçá deixem somentealgumas pedras num círculo enegrecido pelofogo. Portanto, é somente pelos contatoscom agricultores e cidadãos urbanos que seconsegue saber algo sobre os nômades, e asopiniões podem ser um tanto parciais. Umadescoberta, porém, vem revelandoinformações diretas sobre os nômades daMesopotâmia por volta de 1800 a.C.
Em 1933, um grupo de árabes abriuuma cova num monte às margens do rioEufrates para fazer uma sepultura.
Desenterraram uma estátua de pedra.Relataram o achado e antes do final do anouma equipe de arqueólogos francesescomeçou a trabalhar. Logo desenterrarammais estátuas, e leram o nome da cidade deMari inscrita em babilônico numa delas.Outros registros mostravam que Mari eraum lugar importante, mas a cidade nãohavia sido encontrada até então. Asescavações têm continuado nas ruínas, comalgumas interrupções, até o presente.
Templos, um palácio, estátuas,inscrições e um vaso de tesouro enterrado,
todos datados de cerca de 2500 a.C., sãosinais da importância de Mari na épocaem que os reis de Ur eram sepultados comtamanha pompa. Bem depois desseflorescimento, Mari teve outro curtoperíodo de poder. Por volta de 1850 a.C.o chefe de um clã tomou a cidade e atransformou no centro de um reino quecontrolava o comércio ao longo do rioEufrates, entre a Babilônia e a Síria. Com
os impostos advindos desse comércio,além de outros negócios e daagropecuária, os reis de Mari foram
capazes de erguer para si um enormepalácio, que figura como uma das maioresdescobertas do Oriente Próximo.
O palácio de Mari ocupava mais de2,5 hectares de área e tinha mais de 260cômodos, pátios e corredores. Inimigoshaviam saqueado o local e incendiado opalácio. Depois as areias do desertoencheram os cômodos até ficaremtotalmente cobertos. Assim as paredesainda tinham cinco metros ou mais dealtura quando os arqueólogos escavaramo local, e hoje há um telhado sobrealgumas partes do palácio, para protegeras paredes; assim, os visitantes podemcaminhar dentro desse edifício antigo eimpressionante.
Depois de retirar toneladas de areia decada cômodo, os escavadores esperavamgrandes recompensas. Alguns cômodosestavam vazios, outros funcionavam comodespensas: fileiras de grandes vasos estavama postos para receber azeite, vinho oucereais. Havia quartos —espaçosos para orei, suas esposas e sua família, mais
acanhados para os funcionários e servos.Podemos imaginar os artesãos ativos nassuas oficinas, os secretários nos seusgabinetes, pasteleiros nas cozinhas. Haviaaté jovens cantoras praticando para entreteros convidados estrangeiros do rei.
Como sempre, as descobertas maisinformativas são os documentos escritos.Havia tabuinhas de argila espalhadas pelochão de vários cômodos. Um deles era a
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O PALÁCIO DOS REIS DE MARI
sala de arquivo, onde ficavam guardados
esses documentos. No total, mais de vintemil textos cuneiformes aguardavam osarqueólogos no palácio de Mari.
Os escribas anotavam cada detalhe da vida do palácio. As tabuinhas registram aquantidade de víveres que entrava nopalácio —cereais, legumes e verduras detodos os tipos—, e várias centenasrelacionam os alimentos que iam à mesado rei diariamente.
Centenas de cartas levam ao rei notícias
de todo o seu reino. Um funcionário relataprogressos na fabricação dos instrumentosmusicais encomendados pelo rei, outro quenão há ouro suficiente para decorar otemplo como o rei gostaria. Um pequenogrupo de cartas dá relatos de mensagensenviadas pelos deuses aos profetas ou apessoas comuns. Alguns aconselham o rei aagir de determinado modo, outros lheasseguram proteção divina.
A estátua de um homem barbado encontrada em Mari e datada do século XVIII a. C. traz inscrito o nome Ishtupilum, rei de Mari.
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TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
O grande palácio de Mari foi reconstruído e ampliado pelo rei
Zimrilim no século XVIII a. C. O conjunto compreendesalões de recepções, apartamentos da família real, salas dos escribas e um santuário interno.
As tribos nômades e suas migraçõeseram um grave problema para os oficiaismilitares. Eles constantemente emitiamrelatórios ao rei sobre a situação. Nômadesavançando às centenas eram uma ameaça apequenas cidades agropastoris e mesmo àprópria Mari. Interrompiam o tráfego dasrotas comerciais e combatiam as forças dorei. Na tentativa de manter a paz,firmavam-se tréguas com alguns grupos,
que recebiam permissão para se estabelecerem partes do território de Mari. Esse é oretrato de uma situação que se repetiu aolongo de toda a história da Mesopotâmia.
As cartas mencionam várias das tribos.Todas se enquadram dentro do termo geral“amorreus”. Quando os estudiosos começarama estudar esses textos, ficaram empolgados aointerpretar um dos nomes como“benjaminitas”. Seria essa a tribo israelita, ou
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O PALÁCIO DOS REIS DE MARI
antepassados dela? Mais tarde os pesquisadores
concordaram que o nome era de fato“iaminitas”, que significa “sulistas” (como oIêmen, no sul da Arábia). Outro nomesignifica “nortistas”, e ambos parecem estarrelacionados com as origens das tribos. Não hárazão para enxergar aqui uma ligação bíblica.
Da mesma forma, o entusiasmo inicialda descoberta levou à afirmação de que onome Davi era corrente em Mari comotítulo de “chefe tribal”. Com base nisso,elaboraram-se teorias que diziam que o nomede Davi era outro a princípio, sendo “Davi”
adotado somente quando ele se tornou rei.Um problema de longa data poderia serresolvido por esse raciocínio. Segundo1Samuel 17, Davi matou Golias, mas2Samuel 21.19 diz que Elanã foi quemmatou o gigante. Se “Davi” era um título,Davi e Elanã poderiam ser a mesma pessoa.Hoje sabe-se com certeza que a palavra nãoera um título em Mari, e não está ligada aDavi (é uma palavra que significa “derrota”);portanto, elimina-se essa solução. (Emboraexistam dificuldades, a resposta mais simplestalvez seja supor que os filisteus tinham mais
de um herói chamado Golias.) Além de Davi, centenas de nomes
amorreus aparecem nas tabuinhas de Mari.Sobejam semelhanças com nomes hebreus,notavelmente com nomes da época patriarcal.
As vezes os nomes são idênticos, como no casode Ismael, mas isso não significa referência aomesmo nome (v. “Manchete: a cidade perdidade Ebla”), e sim simplesmente que o nome eracomum, talvez em voga na época.
O grande palácio de Mari exibe aorganização e a burocracia de um estado
pequeno, mas poderoso. Seus arquivosproporcionam uma riqueza de inesperadasinformações sobre a vida dos nômades doséculo XVIII a.C. Apesar das aliançasdiplomáticas com outros reis e com astribos, Mari foi derrotada pelos exércitos deHamurábi, da Babilônia, pouco depois de1760 a.C. Outras cidades floresceram naregião de tempos em tempos; hoje a maispróxima é Abu Kemal. Mas nenhuma delasfoi tão formidável quanto Mari.
Entreos achados de Mari havia uma estátua de uma deusa em tamanho natural. Ela segura um vaso pelo qual fluía água, e seu manto está decorado com representações de riachos onde sevêem peixes nadando. A estátua data do século XVIII a. C.
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s
OS PATRIARCAS: O ARGUMENTO DO SILÊNCIO
com um tratado de paz. Ofilho de Abraão, Isaque, teveo mesmo problema, ealcançou a mesma solução.Mas já que hoje temosacesso a vários tratadosantigos, acaso não ésurpreendente que nada sesaiba sobre esses acordosfora da Bíblia? As cidadescananéias não revelaramabsolutamente nenhum sinal
da presença de Abraão.Certa época Abraão foipara o Egito. O faraó tomou-lhe a mulher. Sara, masdepois, diante da reprovaçãode Deus, devolveu-a,despedindo Abraão comvaliosos presentes (a históriaé contada em Gênesis 12).Mais tarde, o neto de Isaque,
José, sai da escravidão noEgito para tornar-se o braçodireito de faraó. Depois levouseu pai, Jacó, e sua famíliapara viver com ele no Egito.E o que os hieróglifosegípcios têm para dizersobre esses fatos?Novamente, a resposta é:“Nadai".
O silêncio de todas asfontes extrabíblicas a
respeito dos patriarcas levaalguns autores a concluir queos patriarcas jamaisexistiram: são invenções depatriotas judeus exilados dasua terra, buscando criaruma história nacional; ou sãohomens lendários, figuras dofolclore sem nenhumfundamento real. Argumentos
Abraão e seu pai, Tera,moraram em Ur, no sul daMesopotâmia, e em Harã, nonorte. Seus nomes nãoaparecem em nenhum textoantigo, nem nessas duascidades nem em nenhumaoutra cidade babilônica. Harãnão foi escavada; as primeirascamadas jazem sob o casteloe a mesquita medievais. Ur,como já vimos, revelou
centenas de documentosescritos.Já fora da Mesopotâmia,
a história dos patriarcas sedesenrola em Canaã. Ali,segundo Gênesis 21, Abraãoteve uma disputa com o reide Gerar acerca dapropriedade de um poço deágua. A disputa terminou
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OS PATRIARCAS: O ARGUMENTO DO SILÊNCIO
a favor desse tipo de opinião
podem ocupar várias linhas.Aqueles que usam aarqueologia como plataformapara tal conclusão, porém,não analisam corretamenteas provas.
Encontrar o tratado deAbraão com o rei de Gerar,por exemplo, exigiria que osarqueólogos localizassem opalácio de Gerar edescobrissem registros quetratem do reino dessesoberano.
Para que se descubra otratado, é fundamental que
este tenha sido registradopor escrito e redigido sobreum material resistente: pedraou tabuinha de argila. MasGerar ficava no sul deCanaã, perto do Egito.Portanto, os escribas que látrabalhavam provavelmente oteriam registrado ao modoegípcio —em papiro, que sedecompõe rapidamente—, enão ao modo babilônico, emargila.
Acima de tudo, ainda, aprobabilidade de osarqueólogos encontrarem osregistros corretos ó pequena.Quando um palácio édesenterrado, como em Mari,o que se encontra geralmentepertence aos reinos dosúltimos dois ou três reis queviveram ali antes de o localter sido abandonado.Portanto, o reino do aliado deAbraão necessariamenteteria de estar situado próximoao final de um período da
história de Gerar.
Mesmo que todas essasexigências fossemcumpridas, não há garantiasde que todo documentoenterrado num arquivosobreviva intacto e legível; aexposição ao tempo, aumidade, osdesmoronamentos, aescavação descuidada —tudo isso pode destruir aescrita em tabuinhas deargila.
A possibilidade deencontrar o tratado é remota.Atualmente seria uma
descoberta acidental einesperada, pois ninguémsequer pode ter certeza dalocalização exata de Gerar!
No Egito, a fragilidade dopapiro sempre foi um graveproblema para oshistoriadores (v. “Algum sinalde Moisés?’’). Dos 500 anosque separam 2000 de 1500a.C., os monumentos dos reisem templos e túmulos e osmemoriais dos seus servossão praticamente as únicasfontes de informação.Pouquíssimos documentosem papiros escaparam aosefeitos corrosivos daumidade. Fragmentos de umdeles relatam a situação nosul do Egito, outros lidam comos negócios de uma únicacidade.
Vale a pena repetir: émuito improvável que seencontre qualquer registrosobre Abraão ou José noEgito. Diferentemente de
outros líderes, José não teve
no Egito um túmulo esculpidoou pintado com os momentossignificativos da sua carreira.Gênesis 50 afirma que seucorpo embalsamado foilevado de volta a Canaã.
Ainda que não forneçareferências diretas aospatriarcas, a arqueologiapode ajudar a estudar ocenário da vida deles. Seráque essas históriasconcordam com aquilo quesabemos sobre o período de2000 a 1500 a.C., no qual aBíblia aparentemente as
situa, ou será que revelamindícios de outra época?
Se foram escritas emmeados do primeiro milênioa.C., podiam trazerinformações sôbre osImpérios Assírio ouBabilônico, sobre o ImpérioSírio em Damasco, sobre ouso disseminado do ferro ede cavalos. Aliás, essascoisas estão ausentes,exceto pelos carros de Joséno Egito, possivelmentepuxados por cavalos.
Outros fatos apontam aprimeira metade do segundomilênio como período maiscorreto. O Egito entãorecebia um influxo constantede amorreus e de outrospovos de Canaã, e algunsdeles alcançaram postosimportantes na corte defaraó. No final, alguns dessesestrangeiros governaram oEgito por certo tempo (osreis hicsos). A carreira de
José e a emigração da sua
família enquadram-se bemnesse período.Embora o modo de vida
nômade (que as tabuinhasde Mari registraram) tenhasido difundido e fossecomum em mais de umperíodo, certamente tornapossível a datação da épocados patriarcas entre 2000 e1500 a.C.
Antigos escribas egípcioscopiaram a história de umegípcio que fugiu da corte eviveu muitas aventuras emCanaã, voltando no final para
receber as homenagens e osepultamento adequado naterra natal. As cópias datam de1800 a 1000 a.C. A históriapassa-se 150 anos antes dacópia mais antiga. Osegiptólogos asseveram que elase baseia num fato real e écoerente com o período a quese refere. O herói da história,Sinuhe, não tinha renomenacional. Sua história erapopular, ao que parece, comoconto de aventura.
Em Gênesis, osescritores hebreusapresentam as histórias daorigem da sua nação. Aarqueologia pode revelar ocenário dessas origens. Nãopode fornecer provas de quesejam verdadeiras. Nempode provar que sejamlendas infundadas. Mas podeprovar, sim, que se contavamhistórias semelhantes naépoca, e eram relatosaparentemente fidedignos.
Umnobreegípcio seorgulhava do dia, por volta de 1900 a.C., em queapresentou um grupo deestrangeiros à corteegípcia. Elemandou pintar a cena na parede do seu túmulo em Beni-Hasam. Umescriba egípcio de pele escura (à direita da ilustração exibida aqui) segura um cartaz anunciando os visitantes como asiáticos vindos da
região de Shut, trazendo galena para a maquiagem negra das pálpebras, de queos egípcios gostavam. O líder é chamado de“chefe estrangeiro Abushar”. Essegrupo do Sinai ou do sul de Canaã dá uma descrição visual da possível aparência dos patriarcas.
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UM POVO REDESCOBERTO Quem eram os heteus?
Atéo final do século XIX nada sesabia dos heteus fora da Bíblia.Sua redescoberta foi uma das proezas mais notáveis da arqueologia. Essa estátua, do século VIIIa.C., éde um dos últimos reis heteus.
“V V ede, o rei de Israel alugou os reisdos heteus e os reis dos egípcios, para viremcontra nós!”
Essa suspeita foi suficiente paraprovocar pânico no exército de Damasco.Os soldados fugiram, subitamentelibertando Samaria de um cerco quedeixara os habitantes à míngua (a história écontada em 2Reis 7).
Os antigos egípcios deixaram umamarca por demais profunda nahumanidade que jamais será esquecida.Mas quem eram os heteus? Até um séculoatrás, ninguém poderia responder a essapergunta. Os heteus, se é que existiram um
dia, desapareceram junto com os heveus, osferezeus, girgaseus e outros povosmencionados no Antigo Testamento.
No entanto, embora os heteus sejammuitas vezes mencionados simplesmentecomo uma das muitas nações que
ocupavam Canaã —nações que os israelitasdestruiriam na conquista da TerraPrometida—, o episódio mencionado
acima e mais outro, em que Salomãoexportava cavalos “a todos os reis dosheteus e aos reis da Síria”, fazem crer queeram mais importantes.
Contudo, como eram desconhecidos emuitas vezes classificados ao lado deoutros grupos desconhecidos, algunscomentaristas acreditam que deve terhavido um erro: pelo menos em 2Reis 7 ohistoriador bíblico queria dizer “assírios”.
Em 1876, porém, começou aredescoberta dos heteus, pelo trabalho de A.
H. Sayce. Especialista inglês, Sayce passouboa parte da vida viajando pelo Egito e peloOriente Próximo; montou sua base numbarco-casa no Nilo, mas voltava a Oxfordtoda primavera para dar as aulas que seucargo exigia. Sayce percebeu que a escrita
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UM POVO REDESCOBERTO: QUEM ERAM OS HETEUS?
pictográfica em blocos de pedra
reutilizados em construções medievais emHamate e em Alepo, na Síria, era a mesmaescrita esculpida em rochas na Turquia.Em 1876, ele associou essas escritas aosheteus do Antigo Testamento e aos“khetas” mencionados nos textos egípcios.
As referências egípcias não deixavamdúvida de que os khetas eram uma“grande potência”; um dos seus reis fezum acordo com faraó Ramessés II emcondição de igualdade. Os exploradoresque vagavam pela Anatólia então
começaram a prestar mais atenção a essasinscrições de pedras e às ruínas de antigascidades espalhadas pelo planalto turco.
A maior de todas as ruínas era um local
chamado Boghazkõy, cerca de 160quilômetros a leste de Ancara. Gente dolocal vendia pedaços de tabuinhas de argilaque encontrava a turistas estrangeiros. Aescrita nas tabuinhas era babilônica, mas alíngua não. Duas outras tabuinhas namesma língua foram descobertas no Egitoem 1887, com letras babilônicas, atémesmo uma de um rei heteu (v. “Parentesdos hebreus?”). Mas durante alguns anos alíngua desafiou os estudiosos.
Boghazkõy era o lugar óbvio para
descobrir mais sobre os heteus. Em 1906,uma expedição alemã, liderada por H.Winckler, começou a escavar as ruínas. O
Leões de pedra, com cerca de 3500 anos, guardam o portão da antiga capital hetèia, Hatusas, perto de Boghazkõy, na Turquia.
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TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
sucesso foi imediato. Nas ruínas incineradasde um conjunto de despensas havia mais de
dez mil pedaços de tabuinhas decuneiformes, bem endurecidas pelo fogo.Extraordinariamente, um dos documentosrevelou-se uma versão babilônica do tratadoentre Ramessés II e o rei heteu. Esse e outrostextos babilônicos provaram que Boghazkõyera a capital de um reino poderoso. Seunome antigo era Hatusas.
Das tabuinhas babilônicas surgiurapidamente um esboço de sua história e osnomes de seus reis do período de 1400 a1200 a.C. Os escribas heteus usavam essa
língua para documentos do governo ecorrespondência internacional. Eram homenscapazes, alguns deles exímios tradutores.
Além do babilônio, seis outras línguas estãorepresentadas nos textos cuneiformes. A maisimportante é a que hoje se chama hitita,escrita ao lado do acadiano em documentosdo governo e usada largamente para registrosreligiosos e administrativos.
Menos de dez anos depois dadescoberta de Winckler, o estudo dastabuinhas levou um especialista tcheco,Bedrich Hrozny, a publicar suas conclusões
de que a língua hitita é parente do grego,do latim, do francês, do alemão e do inglês,membro portanto da família indo-européiade idiomas. Outro estudioso havia chegadoà mesma conclusão alguns anos antes, arespeito das duas tabuinhas do Egito.Ninguém crera nele, e as pessoas relutavamem acreditar em Hrozny, mas novaspesquisas provaram que ele estava certo. Ohitita ocupa hoje lugar central no estudodas línguas indo-européias e da história dopovo que falava esse idioma.
As outras línguas usadas nas tabuinhasde Boghazkõy eram um idioma faladopelos habitantes pré-heteus, doissemelhantes ao hitita (um deles, o luvita,usado bem largamente) e o hurrita,corrente na Turquia oriental e no norte daMesopotâmia. Os falantes do hurritadesempenharam papel importante no reinoheteu. Poucas expressões é tudo o que restade uma sétima língua, ligada ao sânscrito.
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Em se tratando de variedade de conteúdoe línguas, as tabuinhas de Boghazkõy são
inigualáveis. Outras descobertas feitas nacidade revelam de vários modos a cultura e ahabilidade dos heteus. (As escavações deWinckler estenderam-se de 1906 a 1912;foram retomadas por K. Bittel em 1931,interrompidas em 1939, e têm continuadodesde 1952.)
A cidade de Hatusas ocupava mais de120 hectares. A cidade era cercada por umarobusta muralha de pedras e tijolos, e entreos textos dos arquivos encontram-seinstruções para as sentinelas. No flancoleste vê-se uma rocha alta, que era acidadela fortificada.
Cinco templos foram desenterrados naárea da cidade. O maior (64 por 42metros) era cercado por fileiras dedespensas, sem dúvida para guardar asoferendas levadas ao deus. Organizaçãoconsiderável era necessária para manter ostemplos, e os textos dão detalhes dos ritose cerimônias que os sacerdotesexecutavam, alguns com a participação dorei. Faziam-se celebrações longas eelaboradas para consagrar um novo
templo ou purificar as pessoas do pecado.E comum entre os estudiosos do
Antigo Testamento afirmar que as leishebréias de Êxodo, Levítico, Números eDeuteronômio são “avançadas” demais oucomplicadas demais para data tão primitivaquanto o tempo de Moisés —não posteriora 1250 a.C. Mas os textos de Boghazkõy, eoutros do Egito e de recentes escavaçõesfrancesas em Emar, às margens do Eufrates,contestam claramente esse conceito: ascerimônias que a lei de Israel prescreve não
estão deslocadas no mundo do final dosegundo milênio. Ao lado do portão da cidade havia leões
esculpidos em pedra, figuras mágicas paramanter afastados os inimigos. Num estreitodesfiladeiro perto dali, ergueu-se umsantuário para os deuses e deusas cujasimagens estão esculpidas no paredãorochoso. Outros relevos em rocha eesculturas de pedra proclamam o controle
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UM POVO REDESCOBERTO: QUEM ERAM OS HETEUS?
heteu sobre várias partes da Anatólia.
Os heteus ampliaram seu poder apartir de cerca de 1750 a.C. De cerca de1380 a 1200 a.C., o soberano heteu foi o“Grande Rei”, suserano de numerososmonarcas até o Egeu, a oeste, e atéDamasco, ao sul. Por conta desse extensoImpério, o nome dos heteus ficou famosona antigüidade. Para controlar seussúditos, os monarcas heteus faziamtratados com os reis vassalos. Duas dúziasdesses tratados, completos ou não, foramencontrados entre as tabuinhas deBoghazkõy. Uma análise de 1931 revelouo formato básico desses acordos,proporcionando base fértil para ainvestigação dos tratados do AntigoTestamento (v. “Tratados e alianças”).
Nas esculturas hetéias e nos selosimpressos nas tabuinhas de argila,podemos ver o tipo de pictografiaconhecida como hieróglifos heteus. Esseshieróglifos parecem-se com os egípcios, eos heteus talvez tenham até tomado a idéiado Egito, mas a escrita não é a mesma. Emalguns exemplos, principalmente nos selos
dos reis, os hieróglifos aparecem lado alado com os cuneiformes babilônicos paragrafar nomes e títulos reais.
Usando a escrita babilônica comochave, ficaram evidentes alguns dos
valores dos sinais hieroglíficos. Adescoberta em 1947 de textoscorrespondentes muito mais longos, emhitita e em fenício, num local chamadoKaratepe, deu base sólida à compreensãodos hieróglifos.
Hatusas e o Império Heteu chegaram
ao fim logo depois de 1200 a.C., nosdistúrbios que afligiram muitas regiões
do Mediterrâneo oriental (v. “Osfilisteus”). As tradições hetéias durarammais. Em pequenos estados da Anatóliae do norte da Síria, reis locaiscontinuaram a mandar fazer inscriçõesem hieróglifos hititas e na língua luvitaaté 700 a.C. (a data das inscrições deKaratepe). Alguns desses reis talvezremontassem ao Império Heteu,enquanto outros não tinham nada deheteus. Mas, para as outras naçõesantigas, para os assírios e os hebreus, elesainda eram heteus.
Na época em que o exército deDamasco fugiu de Samaria, havia um forterei “heteu” um pouco ao norte, emHamate, às margens do rio Orontes.Talvez representasse uma ameaça paraDamasco, especialmente se aliado a outrosreis. Essa é a realidade por trás do relato dohistoriador bíblico.
A redescoberta dos heteus é um dos
resultados notáveis da arqueologia doOriente Próximo.
Nessa escultura em relevo do século VIIIa.C., encontrada no centro heteu de Carquemis, apareceumpríncipe ainda bebênos braços da ama; ao lado vê-seuma cabra, quetalvez lhe fornecesse leite. A inscrição hieroglífica hetéia dá o nome e otítulo do príncipe.
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TRATADOS E ALIANÇAS
Os reis antigos sempredesconfiavam dos seusvizinhos. Será que eles
I atacariam para conquistar oreino? Ou será que eramvulneráveis a ataques deinimigos mais distantes?Uma forma de ganharsegurança era garantir umbom relacionamento com osvizinhos, e não ameaçar asfronteiras ou os interesses
alheios. Reis fortes podiamfirmar acordos mútuos comoiguais, por meio de “tratadosde paridade”, ou podiampersuadir ou forçar reis maisfracos a aceitá-los comosenhores, por “tratados desuserania”.
Entre as tabuinhasdescobertas nas ruínas dacapital hetéia, emBoghazkõy, estão os textosde pelo menos duas dúziasde tratados, alguns muitomalpreservados. Um deles éo famoso acordo feito entreRamessés II do Egito eHattusil III dos heteus, em
1 1259 a.C. É um tratado deparidade. Os reis são irmãos:comprometem-se a respeitaros interesses um do outro, anão atacar um ao outro, aajudar-se mutuamente contrainimigos comuns e a devolverfugitivos.
A via egípcia dessetratado estava entalhada emhieróglifos na parede de umtemplo de Karnak. A versãoegípcia contém até uma
descrição detalhada databuinha de prata, gravada
com os termos do acordo eportando com o selo real,que era exibido nela. Oshomens não podem jamaisconfiar plenamente uns nosoutros, e portantoproclamavam-se maldiçõesformais contra qualquerfuturo rei egípcio ou heteuque violasse os termos dopacto. Os deuses dos doispaíses eram invocados para
testemunhá-lo esalvaguardá-lo.Os tratados de suserania
eram mais comuns. Em trocada proteção que o GrandeRei podia oferecer, o reimenor prometia ser leal, nãomanter ligação nenhuma comos inimigos do suserano, nemcom nenhum soberanodesconhecido do Grande Rei.Se o suserano fosse àguerra, o vassalo forneceriasoldados para o exército etodo ano enviaria um impostoao Grande Rei. Deveria
também mandar de voltaquaisquer refugiados dosdomínios do Grande Rei, maseste podia manter refugiadosdas terras do rei menor.
Uma análise cuidadosadesses tratados foi levada acabo em 1931. Todos seguiamo mesmo padrão básico.Depois de uma introdução,faz-se um relato dosacontecimentos queconduziram à feitura dotratado, depois vêm asexigências do acordo, as
disposições para salvaguardá-lo e a leitura pública, os
nomes das testemunhas,bênção a todos os que oobservassem e assustadorasmaldições contra os que oviolassem. Não era umpadrão rígido; algunselementos podiam serdeixados de fora, oudispostos em ordem diferente.Mas esse é, evidentemente, omodelo normal.
Só em 1954 um
estudioso do AntigoTestamento, G. E.Mendenhall, percebeu que omodelo também se verificano Antigo Testamento. Nãohá tratados desse tipocitados ali, mas os acordossão relatados em detalhes.Os relatos do tratado, oualiança, que Deus firmoucom Israel e que estabeleceuesse povo como nação sobzelo divino sãoespecialmente extensos.Partes dele aparecem emÊxodo 20—31; e
Deuteronômio apresentauma completa renovação.Josué 24 também exibe oselementos básicos domodelo de tratado, e elesaparecem em Gênesis31.43-54 e em outraspassagens.
O surgimento dessemodelo nos textos heteus ehebreus traz à tona algosignificativo: a datação. OImpério Heteu termina poucodepois de 1200 a.C. Quandooutros tratados se tornam
acessíveis a nós, em textosassírios e aramaicos do
século VIII a.C. e posteriores,o modelo já é outro. Naquelaépoca, a introdução eraseguida pelos nomes dastestemunhas, depois pelasexigências e maldições, comvariações na ordem. Falta orelato dos acontecimentosque levam à confecção dotratado (existe uma tabuinhamuito malpreservada quetalvez contenha esse
elemento), e as bênçãospraticamente não aparecem.Apesar das várias
tentativas de miná-la,permanece o valor dacomparação entre ostratados heteus e os dosprimeiros cinco livros daBíblia. Isso não prova quetodos foram escritos nomesmo período, mas tornabem plausível essapossibilidade. Supor, comoquerem muitoscomentaristas, que ostextos bíblicos só
alcançaram a sua formaatual 600 anos mais tardeexige a sobrevivência emIsrael de um modeloantiquado, um modelodiferente daquele dostratados que os reis deIsrael e de Judá firmaramcom os reis sírios deDamasco e com os reis daAssíria e da Babilônia. Épreciso que se pesquisemais o assunto, tanto comrespeito à datação quantono que se refere à
comparação dos modelos eda linguagem.
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PARENTES DOS HEBREUS?
Uma camponesa egípciarevirava a terra dos cômorospróximos à sua vila em 1887.Procurava terra margosa,boa para enriquecer ocampo. A terra margosaeram os escombros e tijolosem decomposição de umaantiga cidade.
Às vezes, quando osaldeões escavavam ascolinas, encontravam coisas
abandonadas nas ruínasvendáveis por algum dinheiroa antiquários que as levavamaté o Cairo com o intuito devendê-las a colecionadoreseuropeus. Eles gostavam deesculturas de pedra, deobjetos decorativos de vidro,de estátuas de metal e dospequenos talismãs em formade besouro, os“escaravelhos”.
Cavando, a mulherencontrou numerosas placasde argila endurecida. Nãotinham valor para ela, e
jamais vira nada parecidoantes. Um vizinho ascomprou dela por umaninharia.
As placas de argila eram,na verdade, tabuinhas decuneiformes, e havia 400 oumais delas. Algumas foramlevadas ao Cairo, masninguém sabia ao certo seeram ou não realmenteantigas. Jamais se haviamencontrado tabuinhas decuneiformes no Egito, eportanto a insegurança e adesconfiança eram naturais.
Durante algumassemanas os comerciantesegípcios apregoaram astabuinhas pelo país, tentandovendê-las por bom preço.Bem no final de 1887, WallisBudge chegou do MuseuBritânico com instruções paracomprar tudo o queacreditasse poder seracrescentado às coleções domuseu. Ouviu rumores sobre
novas descobertas de papirose de tabuinhas incomuns, eassim tomou no Cairo umtrem para o sul; depois pegouum vapor em Assiut paracompletar a viagem atéLuxor, subindo o Nilo.
Lá um comerciantelevou-lhe algumas dastabuinhas de argila. Budgenotou que não eram o tipo detabuinhas com que estava
familiarizado, da Assíria e daBabilônia, mas convenceu-sede que não eramfalsificações. Quandorecebeu um segundo lote,percebeu que eram cartasenviadas a reis do Egito noséculo XIV a.C.
Comprou 82 delas, que
estão hoje em Londresdepois de sercontrabandeadas do Egito.Cento e noventa e novetabuinhas passaram aoMuseu do Estado, em Berlim,cinqüenta permaneceram noCairo e outras quarenta etantas foram parar em outrascoleções. O número totalconhecido hoje é de 378.
Entre a descoberta da
camponesa e o abrigo segurodessas tabuinhas nos museushouve algum prejuízo, e umnúmero desconhecido seperdeu. Conta-se a história deuma tabuinha bem grande.Seu dono a levava ao Cairo.Quando subiu no trem,ocultando a tabuinha sob o
Registros pictóricos e escritos foram descobertos em El-Amama, no Egito.
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PARENTES DOS HEBREUS?
manto, acabou escorregando,
e a tabuinha se espatifou nochão. Ele juntou a maior partedas peças, que hoje estão emBerlim. É uma lista depreciosidades queacompanhavam uma princesaestrangeira que fora casar-secom faraó.
Escavações realizadasno sítio da descoberta, El-Amarna, recuperaram maisalgumas tabuinhas, todasquebradas. Foram deixadaspara trás quando o governoegípcio voltou para a antigacapital, no reinado de faraó
Tutancâmon. Aparentemente,eram arquivos indesejáveisdo gabinete de relaçõesestrangeiras.
Reis e soberanos detodo o Oriente Próximoescreviam a faraó, e ele àsvezes respondia embabilônico. Escreviam reis daAssíria e da Babilônia, assimcomo monarcas da Síria e deCanaã, soberanos decidades como Tiro e Beirute,Hazor, Gezer e Jerusalém.Falavam de questões
internacionais, de problemaslocais, da lealdade dos reiscananeus. Aqueles quedeclaram fidelidade a faraócom mais veemência são osque acusam os vizinhos dedeslealdade!
Um problema que essesgovernantes enfrentavam eraa ameaça de estrangeirosque vagavam pelo interior,atacando as cidades. Erambandidos, criminosos,fugitivos de todos os tipos.
Não eram tribos comuns depastores nômades. Osautores das cartas oschamavam habirus. Quandose leu essa palavra nasTabuinhas de Amarna, abriu-se um debate que até hojenão terminou. Seriam esseshabirus, que combatiam oscananeus, os hebreus doAntigo Testamento?
Se os israelitas
avançaram sobre Canaã noséculo XIII a.C., como pensaa maioria das pessoas, oshabirus das Tabuinhas deAmarna não poderiam sereles, pois pertencem aoséculo anterior. Se,entretanto, a data do êxodofor recuada para 1440 a.C.,como alguns preferem, oshabirus poderiam ser oshebreus.
Não se pode estabelecernenhum elo entre os
acontecimentos e os povosmencionados nas cartas e osdo Antigo Testamento. Emboraos locais sejam bemconhecidos, os reis e soberanossão diferentes em cadadocumento. Há também umcenário diferente, pois todas ascartas da Palestina são demonarcas vassalos do Egito,que não é o cenário encontradonos livros de Josué e de Juizes.
Depois que as Tabuinhasde Amarna conferiramdestaque aos habirus,sugiram muitos outros textosque se referem a eles. Oshabirus aparecem emregistros egípcios, heteus,ugaríticos (v. “Cidadesconquistadas de Canaã”) ebabilônicos. Em grandesnúmeros poderiamrepresentar uma ameaça;como indivíduos eraminsignificantes. Os generais
Tabuinhas de El-Amarna, escritas
por reis cananeus ao faraó egípcio, mencionam os problemas de ataques de bandos errantes de estrangeiros—os “habirus". Seriam estes os hebreus do Antigo Testamento?
Desdetempos remotos o rio Nilo é a grande estrada do Egito, formando um fértil corredor através dos desertos queseestendem a lestee oeste.
egípcios os capturavam emCanaã, e eles carregavampedras ou serviam vinhocomo escravos no Egito. NaBabilônia, às vezes sevendiam como escravos emtroca de comida e de abrigo.
São muito comuns emdocumentos escritos entre1500 e 1200 a.C., masaparecem entre 200 e 300anos antes na Babilônia.
Todos esses textoscombinados revelam que“habiru” virou rótulo depessoas sem-teto, refugiadas.
Abraão e seusdescendentes enquadram-sena mesma categoria; o nomehebreu é usadoprincipalmente na primeiraparte da história de Israel, atéo reinado de Saul. Os habirusnão eram hebreus, masajudam a explicar quem eramestes!
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O TESOURO DE TUTANCÂMON
Emnovembro de 1922, Howard Carter derrubou a porta lacrada queseerguia entreele e o tesouro mais rico de todos os tempos.
Ladrões de túmulos dos séculos passados não conseguiram encontrar a câmara mortuária do rei Tutancâmon do Egito. Segurando uma vela pela abertura, Carter pôde ver “coisas maravilhosas”lá dentro. Foi o único santuário de um faraó a ser encontrado intacto.
Lorde Carnarvon era homemextremamente rico, mas já haviafinanciado a retirada de 200 mil toneladasde areia e pedras egípcias, e, depois de seis
temporadas de escavações, ainda nada foraencontrado. Continuar seria esforço inútil.Decidiu pôr fim aos trabalhos. ChamouHoward Carter à sua terra natal para lhedar a notícia. Carter é que havia proposto edirigido a escavação, pois estavaconvencido de que havia um túmulo realainda por descobrir no vale dos Reis. Aliestavam os túmulos de todos os faraós quea história mostrava que deviam encontrar-se na região, exceto um —o deTutancâmon.
Carter convenceu o patrocinador afinanciar uma última tentativa. No valequase não havia mais chão a esquadrinhar.Só uma área, que fora desimpedida paraque os turistas pudessem visitar outrotúmulo mais facilmente, ainda estava
inexplorada. Certamente valeria a penaescavar também essa área! Portanto, emnovembro de 1922, Howard Carterretomou sua tarefa —triunfando afinal.
Os operários retiraram as pedras e asruínas de cabanas que construtores de outrotúmulo haviam erguido. Sob essas, talhada narocha, havia uma escadaria que levava aosubterrâneo. Dezesseis degraus abaixoencontrou-se uma porta lacrada, e alguns dosselos ostentavam o nome de Tutancâmon.Embora em tempos antigos ladrões tenhaminvadido o túmulo, os guardiães do cemitérioreal cuidaram de fechar o buraco aberto. Seráque os ladrões haviam deixado algo de valor?
Além da porta havia um corredor de
cerca de nove metros de comprimento, edepois outra porta lacrada.
Em 26 de novembro, lorde Carnarvon,sua filha e um auxiliar se aglomeravam emtorno de Carter enquanto este seguravauma vela lá dentro, depois de abrir umburaco na barreira. O que será que via?
“Coisas maravilhosas”, respondeu.Carter estava olhando a maior de
quatro câmaras subterrâneas. Trêsrevelaram-se repletas de objetos, oequipamento de que o rei necessitaria na
existência seguinte. A quarta câmaraabrigava o corpo do rei.O buraco dos ladrões e a confusão que
fizeram ao revirar o túmulo atrás de coisaspreciosas que pudessem levar mostram queo tesouro de Tutancâmon foi quasedestruído há séculos, pouco tempo depoisde enterrado. A vigilância dos antigosguardas frustrou a tentativa. Logo depois aentrada desapareceu sob o cascalho do vale,e as cabanas dos operários posteriores a
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A ave com sua ninhada de ovos é outra das preciosidades do túmulo de Tutancâmon.
O TESOURO DE TUTANCÂMON
ocultaram çompletamente. Foi assim que
o túmulo de um faraó pouco importanteescapou ao saque que sofreram todos ostúmulos dos maiores reis do Egito.
O túmulo de Tutancâmon dá um vislumbreda glória de que os reis do Egito desfrutavamquando a nação era poderosa. O ouro afluía àtesouraria do país como saque ou tributo depaíses estrangeiros e das minas de ouro no sul doEgito. O túmulo de Tutancâmon mostra comose usava o ouro para honrar o rei.
O rei Tutancâmon, o jovem faraó egípcio do século XIV a. C., é
conhecido hoje pela espetacular máscara de ouro confeccionada para a múmia real, um dos tesouros do seu túmulo.
Umcachorro, representando Anúbis, o deus egípcio da mumificação e do renascimento, guardava uma porta
no túmulo do rei Tutancâmon.
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TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
O lado interno do encosto do trono do rei Tutancâmon exibefaraó esua rainha. O trono ê de madeira revestida de ouro cintilante, prata,
faiança azul, calcita e vidro. E um dos tesouros mais valiosos do
Egito.
No primeiro relance, Carter viu umacama de madeira dourada, uma estátua
dourada e ainda outras peças de mobiliáriodecoradas com ouro. Ao esvaziar otúmulo, os arqueólogos mostravam-seincessantemente espantados diante da
variedade de objetos que encontravam, aalta qualidade da técnica e o elevado nívelartístico.
Achou-se, por exemplo, um trono demadeira com as pernas terminando empatas de leões, encimado na frente porcabeças de leões, tudo revestido de ouro.Os braços são entalhados como serpentes
aladas, protegendo o rei, e a lâmina de ourodas costas do trono mostra a rainhaatendendo o rei sentado. O brilho do ouroé abrandado por detalhes realçados emprata e vidro colorido de azul, verde emarrom-avermelhado.
Quatro carruagens foram desmontadase inseridas no túmulo. A armação demadeira de uma delas era revestida deouro batido, e viam-se gravadas ilustraçõesde inimigos do Egito amarrados. O reimorto também possuía muitas jóias finas,de ouro e de pedras semipreciosas. Tinha
uma adaga de ouro maciço, e outra maiseficaz, com lâmina de ferro, raridade naépoca. O túmulo também abrigava 29arcos, alguns deles orlados ou revestidosde ouro. O catálogo dessas preciosasposses parece não ter fim.
Mais magníficos, porém, e tambémmais famosos, são o esquife de ouro maciçoe a máscara de ouro que encerravam ocorpo do faraó. Dentro dos quatrosantuários (v. “Tutancâmon, o tabernáculoe a arca da aliança”) estava um caixão
amarelo de pedra. Dentro desse caixãohavia outro, em forma de múmia, demadeira revestida com lâmina de ouro. Umsegundo caixão de madeira revestida deouro encaixava-se dentro do primeiro e,quando aberto, revelou-se o impressionanteesquife de ouro. O metal tem espessura de2,5 a 3 milímetros, batido no formato docorpo e incrustado, como o segundo, com
vidro e pedras coloridas. O corpo fora
mumificado, e, sobre ele, entre as camadasde bandagem colocadas cuidadosamente,
havia dezenas de amuletos e jóias de metalprecioso.
Para todos os efeitos, o túmulo realestava equipado com tudo de que o reinecessitara ou ó com tudo o que usara em
vida, para que seu espírito pudesse mantero mesmo padrão de vida no além. Paragarantir o bem-estar do espírito, váriostextos mágicos estavam gravados notúmulo, onde havia também imagensesculpidas de deuses e deusas. Grande foio zelo para que tudo ficasse perfeito em
benefício do falecido Tutancâmon.Ele morreu por volta de 1350 a.C.,cem anos antes dos dias de Moisés. Nostesouros do seu túmulo, portanto,podemos ver o estilo da corte egípcia daépoca, em que Moisés foi educado, e oluxo que o cercava. Embora os egípcioscomuns não partilhassem dessas riquezas,um número considerável de funcionários,soldados e administradores reais gozavamdesse privilégio, como demonstram váriasdescobertas.
Podemos supor que foi principalmente
dessas pessoas que os israelitas “tomaramemprestado” o ouro e a prata levados aodeixarem o Egito depois da décima praga.
Êxodo 12 registra: “Fizeram, pois, osfilhos de Israel conforme a palavra deMoisés, e pediram aos egípcios jóias deprata e jóias de ouro, e roupas. O Senhordeu ao povo graça aos olhos dos egípcios,de modo que estes lhes davam o quepediam; assim despojaram os egípcios”.
Mais tarde, no deserto, segundo Êxodo38, os israelitas deram quase trinta
talentos de ouro para a decoração dotabernáculo (v. “Tutancâmon, otabernáculo e a arca da aliança”) e o seuaparelhamento. Considerando que umtalento eqüivale a mais ou menos 30quilos, o total chega perto de 900 quilos.
Algumas pessoas mostram-se céticasdiante de quantidade tão elevada, mas emface do tesouro de Tutancâmon ela ganhaplausibilidade. O esquife interno de ouro
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TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
Umbaú de madeira do túmulo do rei Tutancâmon, em Tebas, é decorado com cenas da sua vida. O rei no seu carro de guerra persegue os inimigos. No tampo ele aparececaçando.
maciço pesa cerca de 110 quilos, pouco maisde 3,5 talentos, e no túmulo havia muitosoutros objetos feitos de ouro ou revestidos dometal. É impossível pesar o revestimento deouro, mas, se 180 quilos é um palpite razoávelpara o peso total do ouro encontrado notúmulo, isso representa um quinto daquantidade que os israelitas levaram.
O tesouro de Tutancâmon é a maisespetacular de todas as descobertasarqueológicas. Embora não haja vínculodireto entre essa descoberta e o AntigoTestamento, ela ilustra a riqueza do Egito eo cenário da narrativa de Êxodo.Demonstra também a quantidade de ourodisponível e como ele era usado.
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TUTANCÂMON, O TABERNÁCULO EA ARCA DA ALIANÇA
Os tesouros deTutancâmon ajudam aentender mais claramenteduas descrições da Bíblia.Ambas pertencem ao tempodo êxodo, ou seja, um séculodepois do sepultamento deTutancâmon.
A primeira é a dotabernáculo, a tenda-santuário sagrada onde Deus
se fazia presente. Era umaestrutura pré-fabricada quepodia ser desmontada,carregada em partes de umlugar para outro e depoisremontada. As paredes eramuma série de pilares demadeira ligados por travessasque corriam por argolasfixadas aos postes verticais.
Todas as partes demadeira eram revestidas deouro, e os postes seapoiavam em encaixes deprata. Um conjunto de dez
cortinas, brilhantementeadornadas, pendia dos ladose por cima da estrutura.
Para resistir à prova dasintempéries, estendia-seuma cobertura de pelessobre o conjunto.
Os artesãos já faziampavilhões e santuários pré-fabricados havia muitosséculos. Um deles repousouno túmulo de uma rainhadesde o tempo dosepultamento, por volta de2500 a.C., até a escavação
que o revelou, em 1925.Uma armação de madeirarevestida de ouroproporcionava à rainha umaproteção cortinada durantesuas viagens.
No túmulo de Tutancâmon,quatro santuários de madeirarevestida de ouro protegiam ocorpo do rei. O maior com 5metros de comprimento, 3,3metros de largura e 2,3 metros
de altura. Um segundosantuário encaixava-se dentrodo primeiro, um terceiro, dentrodo segundo e ainda um quarto,dentro do terceiro. Cada ladoera feito de uma armação demadeira coberta de painéisentalhados, revestidos dedelgadas lâminas de ouro.
Os homens encarregadosdo sepultamento levaram as
partes separadamente,passando pelo corredor de1,6 metro de largura que davaacesso ao túmulo, e depoisas montaram na câmaramortuária. Na pressa,acabaram não encaixandotodas as partes corretamente!
Cobrindo o segundosantuário havia um véu delinho decorado commargaridas de bronzedourado representando o céuestrelado. O teto de dois dossantuários imita um modelo
bem antigo. São feitos demadeira com revestimento deouro, mas, bem antes, nosprimórdios da história egípcia,o santuário de uma deusaimportante tinha uma levearmação de madeiraencimada com pele de animal,e é esse modelo que os doissantuários reproduzem commateriais mais nobres.
Nenhuma dessas coisasé idêntica ao tabernáculoisraelita. Todas mostram quea idéia em si e os métodos
de construção usados eramcomuns no Egito na épocado êxodo.
O segundo elemento queo túmulo de Tutancâmonilustra é a descrição bíblica daarca da aliança. Esta era umacaixa que continha osdocumentos básicos daconstituição de Israel, as leisde Deus a que o povo juravaobedecer, sendo guardada no
recinto interior do tabernáculo.Havia uma argola de ouro emcada um dos cantos, onde seinseriam as traves paracarregar a arca.
Também entre as possesde Tutancâmon havia um baúde madeira, uma bela peçade marcenaria que tinhatraves para ser carregada.Provavelmente foi feito paraos pesados mantos reais.Havia quatro traves, duas emcada extremidade: quando o
baú não estava sendo
transportado, as travesficavam embutidas,
deslizando por argolasfixadas debaixo da caixa.Cada trave tinha uma gola naextremidade interna, paraque ninguém pudesse retirá-la da base da caixa. Embora
esse baú fosse um pouco
mais sofisticado que a arca,
exibe um modelo semelhantede construção.
Umbaú demadeira com argolas e traves para transportá-lo, descoberto no túmulo do rei Tutancâmon, ilustra a “arca da aliança" bíblica, a caixa sagrada na qual secarregavam as leis de Deus.
Notúmulo do rei Tutancâmon, quatro relicários revestidos de ouro protegem o corpo embalsamado, cada qual encaixado dentro do outro, e todos feitos para ser desmontados — como o Tabernáculo israelita.
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NAS OLARIAS DO EGITO
O
Miniaturas encontradas em túmulos antigos mostram os egípcios fazendo tijolos, quasedois mil anos antes de Cristo.
s turistas em visita ao Egitomaravilham-se diante das grandespirâmides nos arredores do Cairo, depois
viajam 322 quilômetros para o sul,subindo o Nilo, para admirar os grandestemplos de Karnak. Esses imensosmonumentos são feitos de pedra.Organizavam-se grupos de homens paraextrair as pedras dos montes quecircundam o vale do Nilo e transportá-lasem carros e barcaças até o local da obra. Láos pedreiros cortavam e modelavam asrochas, preparando-as para o uso.
Embora as estruturas de pedra aindaimpressionem o turista (e há muito tempoos turistas as visitam —a Esfinge e as
pirâmides já eram atração no tempo deMoisés), o material de construção maiscomum no antigo Egito era o tijolo.
Todo ano o rio Nilo sobe cerca de 7,5metros, alagando o vale. A enchentecomeça em julho e as águas vão recuandogradualmente a partir do final de outubro.
Ao descer das montanhas da Etiópia, o riotraz toneladas de lama suspensa na água.Esse fértil solo negro deposita-se no chãoà medida que a água passa a se movermais devagar pelo Egito, formando uma
nova carnada que torna a terra bastantefértil para a lavoura. Com lama por todaparte, era natural que os egípcios ausassem na construção.
Seus abrigos mais primitivos talveztenham sido feitos simplesmente de juncosentrelaçados e argamassados com lama.Construções desse tipo foram feitas durantelongo período, até que se descobriram as
vantagens do tijolo, antes ainda de 3000
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a.C. A idéia pode ter vindo da Síria ou daPalestina, onde os tijolos já eram comunsbem antes, assim como na Babilônia.
Fazer tijolos era simples. Ostrabalhadores extraíam o tipo certo debarro e o levavam até uma área aberta,onde o misturavam com água, pisoteandoou remexendo a mistura com uma enxadaaté obter a consistência correta. Basta obarro para fazer um tijolo, mas o acréscimode palha picada dá resistência e deixa oproduto menos propenso a esfacelar-se.Hoje, são necessários cerca de 20 quilos depalha para cada metro cúbico de barro, emuitas vezes também se acrescenta areia.
Depois de misturar e remexer, os
homens levavam a massa aos fabricantes detijolos. Estes a prensavam em armaçõesretangulares de madeira apoiadas em soloplano. A seguir, retiravam as armações edeixavam o tijolos secando. Depois de doisou três dias sob sol forte, os tijolos ficavamduros e prontos para a construção.
O trabalho não era dos mais limpos,mesmo quando os tijolos já estavam secos.Um antigo escriba egípcio considerava suaprofissão superior a todas as outras. Ooperário da construção, disse ele, tinha
uma triste sina: “O operário carrega barro[...] Fica mais sujo do que [...] porcosdepois de pisotear a lama. Suas roupasficam duras de barro...”.
Os tijolos encontrados no Egito muitas vezes ainda exibem pedaços de palha.Quando ainda moles, os tijolos destinadospara uma obra especial podiam sermarcados com um sinete. Gravado nosinete de madeira ia o nome e os títulos de
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NAS OLARIAS DO EGITO
um faraó ou alto funcionário (v. tb. “A
glória que foi Babilônia”). Os tijolos paraas casas medem mais ou menos 23 x 11,5x 7,5 centímetros. No caso dasconstruções mais imponentes, podiam sermaiores, até 40 x 20 x 15 centímetros.
Diversos registros trazem relatórios dofabrico de tijolos para fins oficiais. Listamturmas de doze operários, cada qualcapitaneada por um capataz. Num doscasos, 602 homens fabricaram 39118tijolos. Isso dá somente 65 tijolosper capita; o volume moderno para um grupode quatro homens é de três mil tijolos pordia. Outros relatos dão os números detijolos de vários tamanhos —23 603 decinco palmos, 92 908 de seis palmos—,num total de 116 511 tijolos. Um relatodetalhado do século XIII a.C. relacionaquarenta homens com a meta “dois miltijolos” ao lado de cada um. Depoisaparecem os números efetivamentealcançados; num dos casos, “total de 1360; déficit de 370”. Não se especificamas penalidades para o fracasso!
Tudo isso retrata o mesmo quadro que
a Bíblia traça em Êxodo (caps. 1e 5)
quando se refere ao trabalho dos israelitas
no fabrico de tijolos para faraó, antes doÊxodo.“Então puseram sobre eles feitores de
obras, para os afligirem com as suas cargas. Assim os israelitas edificaram para Faraócidades-celeiro, Pitom e Ramessés. Masquanto mais os egípcios afligiam o povo deIsrael, tanto mais este se multiplicava e seespalhava; de maneira que os egípcios seinquietavam por causa dos filhos de Israel,e os faziam servir com dureza. Assim lhesamarguravam a vida com dura servidão,em barro e em tijolos, e com toda a sortede trabalho no campo; com todo o serviçoem que na tirania os serviam. [...]
“Depois foram Moisés e Arão edisseram a Faraó: Assim diz o Senhor, oDeus de Israel: Deixa ir o meu povo, paraque me celebre uma festa no deserto. MasFaraó respondeu: Quem é o Senhor paraque eu ouça a sua voz, e deixe ir a Israel?Não conheço o Senhor, nem tampoucodeixarei Israel partir. Então eles disseram:O Deus dos hebreus nos encontrou.Portanto deixa-nos agora ir caminho de
três dias ao deserto, para que ofereçamos
Gravado no alto do tijolo de barro (acima) vê-seo nome do faraó
Ramessés II, em cujas grandes obras éprovável queos israelitas tenham trabalhado como escravos.
Pintadas nas paredes de túmulos do antigo Egito encontram-secenas de
fabrico de tijolos. Uma mistura de barro e palha ê colocada nos moldes de madeira. Depois de secados ao sol, os tijolos são levados aos canteiros de obras. O fabrico de tijolos era um
trabalho sujo —obviamentereservado a mão-de-obra escrava.
Uma "olaria” moderna nas cercanias do Cairo ainda usa os antiqüissimos métodos e materiais: barro do Nilo e sol quente para secar os tijolos.
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TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
sacrifícios ao Senhor e ele não venha sobrenós com pestilência e com espada. Então
lhes disse o rei do Egito: Moisés e Arão,por que fazeis o povo cessar das suas obras?Ide às vossas cargas. Disse mais Faraó: Opovo da terra já é muito, e vós os fazeisabandonar as suas cargas.
“Naquele mesmo dia Faraó deu ordemaos exatores do povo e aos seus oficiais:Daqui em diante não torneis a dar palha aopovo, para fazer tijolos, como fizestesontem e anteontem; vão eles mesmos, ecolham palha para si. Mas exigireis deles amesma quantidade de tijolos que dantes
faziam; nada diminuireis dela. Eles estãoociosos; é por isso que clamam, dizendo: Vamos, sacrifiquemos ao nosso Deus. Agrave-se o serviço sobre estes homens,para que se ocupem nele, e não confiemem palavras de mentira.
“Então saíram os inspetores do povo eseus capatazes, e falaram ao povo: Assimdiz Faraó: eu não vos darei palha. Ide vósmesmos, e tomai palha onde a achardes,mas nada se diminuirá de vosso serviço.
“Então o povo se espalhou por toda aterra do Egito, a colher restolho em lugarde palha. Os inspetores os apertavam,dizendo: Acabai a vossa obra, a tarefa dodia no seu dia, como quando havia palha.Foram açoitados os oficiais dos filhos deIsrael, que os inspetores de Faraó tinhamposto sobre eles. E lhes perguntavam: Porque não acabastes a vossa tarefa nem ontemnem hoje, fazendo tijolos como antes?
“Pelo que os oficiais dos filhos deIsrael foram e clamaram a Faraó,dizendo: Por que tratas assim a teus
servos? Palha não se dá a teus servos, enos dizem: Fazei tijolos. Os teus servos
são açoitados, mas o teu povo é que tema culpa. Disse Faraó: Estais ociosos,estais ociosos; por isso dizeis: Vamos,sacrifiquemos ao Senhor. Ide, pois,agora, trabalhai. Palha porém não se vosdará, contudo dareis a conta dos tijolos.Então os oficiais dos filhos de Israel
viram-se em aflição, porque se lhes dizia:Nada diminuireis de vossos tijolos, datarefa do dia no seu dia.”
Aí estão o barro e a palha, os moldes, os
oficiais e os capatazes, e as cotas diárias. Anarrativa bíblica ilustra o sofrimento e alabuta humana por trás dos números dosrelatos egípcios. Não é de admirar que opovo de Israel quisesse fugir!
Seu clamor era pela permissão de sairpara adorar seu Deus. Isso é coerente;relatos da época informam que muitos dosoperários que esculpiam os túmulos dosfaraós no vale dos Reis tiravam dias defolga para festivais e cultos religiosos.
A palha faz tijolos melhores: osoperários israelitas tiveram de encontrarpalha por conta própria depois defazerem o pedido ao faraó. Umfuncionário egípcio destacado para umremoto posto fronteiriço reclamava:“Não há homens para fazer tijolos, nempalha na região”.
Há milhares de anos os homens fazemtijolos no Egito; o relato de Êxodo e asfontes egípcias traçam quadros vividos dosprocessos e das dificuldades existentes nosegundo milênio a.C.
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A CIDADE-CELEIRO DO FARAÓ RAMESSÉS II
Quando os reis egípciosqueriam honrar os deuses eperpetuar o próprio nomecom alguma grande obra,sempre a construíam empedra, pois os edifícios detijolos de barro nem de longeduravam tanto. A pedra tinhade ser extraída nas colinas elevada até as cidades.
Era uma empreitadabastante dispendiosa para
quaisquer obras localizadasno delta do Nilo, no norte doEgito. Portanto, quando umdos faraós do período emque o país se achavaenfraquecido, por volta de900 a.C., quis fazer obras emduas cidades do delta, viu
que não podia arcar com oscustos de novas pedras.Assim, seus homensretiraram as pedrasnecessárias das ruínas depalácios e templos antigos.
As novas construçõesforam erguidas em Tânis eem Bubastis. Escavaçõesrealizadas em Tânis, hojechamada San el-Hagar,desenterraram grandesquantidades de pedrasentalhadas das construçõesde Osorkon II (cerca de 874-850 a.C.). Em muitos dessesblocos aparecem os nomes etítulos do grande faraóRamessés II, que reinou 400anos antes.
Quando foramdescobertos os blocos, oexplorador concluiuprecipitadamente que opróprio Ramessés haviaerigido esses importantestemplos e palácios. Sabia-seque ele construíra uma novacidade no delta (cujo nome,Pi-Ramessés, homenageia opróprio) e acreditava-se quea “Ramessés” que osisraelitas construíram (v.Êxodo 1.11; a identidade dooutro lugar, Pitom, é incerta)era do mesmo faraó.
Mas as pedrarias deRamessés em Tânisclaramente não estão naposição original. Algumas
Blocos de pedra com inscrições do nome de Ramessés IIforam transportados para Tânis ereutilizados ali, confimdindo os arqueólogos quetentavam identificar o local das cidades- celeiro do faraó.
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A CIDADE-CELEIRO DO FARAÓ RAMESSÉS II
'das inscrições encontram-se
de cabeça para baixo, ouviradas para o lado de dentroda parede. Em lugar nenhumde Tânis se encontraramfundações das obras deRamessés II, ou qualquerbloco na posição correta.
Depois das escavaçõesde Tânis, outro trabalho foifeito num local trintaquilômetros ao sul, hojechamado Qantir. Atualmentenão há quase nada para veracima do chão.
De tempos em tempos,
desenterravam-se na regiãotijolos e azulejosreluzentemente vidrados.Alguns haviam decorado umpalácio de verão que o pai deRamessés, Seti I, mandaraconstruir. Boa parte pertenciaa uma grande reconstruçãodo palácio conduzida porRamessés. Seu nome etítulos sobressaíam em azulcontra fundo branco e embranco contra fundo azul,com cenas das suas vitóriasem outras cores, e figuras de
estrangeiros derrotados nosdegraus do trono.
Obviamente fora um belopalácio, compensando a faltadas pedras esculpidas,encontradas nos paláciosmais ao sul, com o usodecorativo dos tijolos.
Estudos revelaram que opalácio de Qantir fazia partede uma cidade —a cidadechamada Pi-Ramessés.
Havia templos para os
deuses principais, e um paraa deusa cananéia Astarte,casas e escritórios para aequipe de governo ealojamentos militares.Pequenas casas e oficinasacomodavam grande númerode servos, artesãos eoperários.
Um canal desviava aságuas de um braço do Nilo aoutro, fazendo assim dacidade uma ilha. Navios doMediterrâneo podiamnavegar facilmente até o
porto construído à margemdo canal. Construíram-searmazéns para guardar bensimportados e exportados epara recolher os impostosque os agentes aduaneirosdo faraó arrecadavam.
Tudo isso foram obras deRamessés, algumas delasfeitas às pressas. Comohavia uma cidade antiga,Avaris, ao lado da nova,Ramessés mandou que setransportassem as colunasdos templos antigos para
completar um dos seusnovos templos, assim comoum rei posterior, por sua vez.pegou os blocos de pedra ecolunas de Ramessés parasuas obras em Tânis.
Pi-Ramessés eraclaramente um centrocomercial. Era também umcentro militar bem-situado.No reino de Ramessés II, oEgito mantinha sob controle
Canaã e parte do Líbano.
Depois de vinte anos debatalhas e campanhas naSíria e na PalestinaRamessés firmou um tratadode paz com o rei heteu cujoexército marchara atéDamasco, ao sul (1259 a.C.).
De Pi-Ramessés haviafácil comunicação, via terra emar, com os governadoresegípcios em Canaã, e o Niloabria caminho ao restante doEgito, dando acesso àsantigas capitais —Mênfis eTebas— rio acima.
Não se encontraramrelatos da construção de Pi-Ramessés. As obras,extensas e trabalhosas,certamente exigiramnumerosos operários parapreparar os canteiros deobras, fabricar tijolos eerguer as paredes. Umagrande comunidadeestrangeira morando nascercanias seria a soluçãoideal como mão-de-obrabásica. E é exatamente issoque o livro de Êxodo
menciona.Mesmo sem detalhes
precisos acerca da mão-de-obra do Egito, podemosperceber como a descobertade Pi-Ramessés esclarece orelato bíblico e o endossa.De Pi-Ramessés osoprimidos israelitas nãotiveram de caminhar muitoaté a fronteira para fugir pelodeserto do Sinai.
A cabeça de Ramessés II, faraó cuja imagem domina tantas das grandes ruínas do antigo Egito.
Uma estátua colossal de Ramessés II repousa entreas palmeiras de
Mênfis.
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ALGUM SINAL DE MOISÉS?
Um dos acontecimentosmais importantes da históriabíblica é a saída de Israel doEgito — o êxodo. Sem elenão existiria a nação deIsrael nem a Bíblia. E semum grande líder para guiá-los e encorajá-los, osescravos fugitivos não seteriam unido para sobreviverno deserto e abrir caminhoem meio a outro país.
Moisés, relata o livro de
Êxodo, foi criado comoegípcio na família real doEgito. Fugiu do país depoisde matar um egípcio queespancava um dos hebreus,o povo de Moisés.
Depois de longaausência, voltou e assumiu aliderança do seu povo,tentando convencer o faraódo Egito a permitir que oshebreus deixassem a terra.
Quando o faraó lhenegou permissão, Moisés,como agente de Deus,deflagrou uma série depragas, a décima delasmatando o primogênito detoda família egípcia. Então ofaraó cedeu, e os hebreussaíram, mas ainda nãotinham deixado o territórioegípcio quando o rei mudoude idéia e mandou que seuexército os impedisse.
Assim que os carros deguerra surgiram nohorizonte, as águas do marVermelho se abriram. As
tribos hebréias cruzaramem segurança; mas,quando os inimigos osperseguiam pelo leito secodo mar, as águas voltarame afogaram os egípcios.
É de esperar queacontecimentosespetaculares como essesdeixem provas arqueológicas.Há um século ou mais as
pessoas vêm procurandoessas provas, e já fizeramvárias asserções.
Alegou-se que o corpode um dos faraós estavacoberto de sal emconseqüência do afogamentono mar. Mas logo se viu queera um sal químico produzidodurante o embalsamamentodo corpo.
Grandes construções detijolos foram
entusiasticamenteidentificadas como as“cidades-celeiro” em que oshebreus trabalharam antesdo êxodo, mas nada seencontrou que provasse queos tijolos tenham sido feitospor israelitas, e não porquaisquer outros operários.
Vários faraós foramidentificados como oopressor dos israelitas, pornão terem sido sucedidospelo seu primogênito. Masem tempos em que muitosbebês morriam, não seriaincomum que o primogênitomorresse antes do pai, porisso esse fator não podeidentificar o faraó do Êxodo.
Quando procuramosinformações nas milhares deinscrições egípcias quesobreviveram, novamentenada se encontra que possaser relacionado a Moisés eao Êxodo.
Como uma terra tão ricae bem conhecida como o
Egito não apresenta nadaque possa ser claramenteassociado ao relato bíblico,algumas pessoas supõemque esse relato não tem basehistórica. Acham inconcebívelque desastres tamanhospudessem atingir um povotão bem-organizado como oegípcio sem deixar nenhumregistro escrito.
Os grandes faraósgravavam seus feitos nasparedes dos templos, seusservos mandavam escreversuas biografias nos túmulos.Administradores etesoureiros registravam asrendas e os gastos depalácios e templos, esecretários faziam listas dosoperários, anotando seusdias de trabalho, folgas edoenças. Portanto, sem
dúvida parece esquisito, àprimeira vista, que não hajanos registros remanescentesdo Egito nada acerca dosacontecimento do êxodo.
Mas é errado concluirprecipitadamente que a faltade provas no Egito impliqueque a história bíblica não temfundamento. O que issomostra de fato é quesabemos muito pouco sobrea história desse país, e que émuito pequena a quantidadede escritos antigos querealmente sobrevive.
Os reis mandavamgravar em pedra seus títulos,as listas dos inimigosconquistados, relatos dasbatalhas que venciam.Alguns desses registrosperduram até hoje, masmuitos foram destruídos porsoberanos posteriores.
Foi esse o destino quecoube a um grande palácioque o faraó Ramessés IIconstruiu em Qantir, a oestedo delta do Nilo (v. “A cidade-celeiro do faraó Ramessés II”).
Inúmeras inscrições reaisdesapareceram assim. Noentanto, ainda que asrecuperássemos todas, nãodeveríamos esperar ler emnenhuma delas que oexército do Egito sucumbiuno mar. Os faraós, e isso nãoé surpresa, não apresentam
descrições das derrotassofridas diante dos seusvassalos ou sucessores!
Se os monumentos reaisnão podem ajudar, osdistúrbios vividos pelo Egitocom as pragas e a perda damão-de-obra poderiam tergerado mudançasadministrativas. Comoqualquer estado centralizado,o governo do Egito consumiagrandes quantidades de
papel (papiro), e boa parteda documentação eraarquivada para consulta. Masisso também não ajuda, pois,como já vimos, praticamentetodos os documentospereceram, e a probabilidadede recuperar algum quemencione Moisés ou asatividades dos israelitas noEgito é risível.
Portanto, uma vezcompreendidas as razões, acompleta ausência deMoisés e seu povo dos textosegípcios não devesurpreender. Certamente nãoserve de fundamento parasustentar que ele não existiu.
De fato, líderes famososda história primitiva demuitos povos sãoconhecidos, como Moisés,somente por documentosherdados da tradiçãonacional, mas cada vez maishistoriadores começam atratá-los como homensnotáveis. As próprias atitudes
céticas de outrora estãodando lugar a umaabordagem mais positivadaquilo que dizem astradições, havendo ou nãosustentação arqueológicapara elas.
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O CODIGO DO REI HAMURABI EA LEI DE MOISÉS
A,arqueólogos franceses que em 1901 e1902 escavaram a antiga cidade de Susã.na Pérsia oriental, fizeram uma descoberta
surpreendente. Em meio às ruínas deconstruções abandonadas no final dosegundo milênio a.C., encontrarammonumentos de pedra finamenteesculpidos centenas de anos antes. Nãoeram esculturas locais elamitas, masmemoriais que reis famosos da Babilôniaergueram em suas próprias cidades.
Num breve momento de triunfo, umrei de Susã invadira Babilônia e carregaraalgumas dessas peças como troféus,relatando a vitória nas suas inscrições e
escrevendo seu nome em alguns dos troféus. As pedras foram embarcadas para Paris,onde hoje adornam o Museu do Louvre.
Eminente entre esses monumentos éuma coluna de pedra negra. Tem 2,25metros de altura e um relevo de 60centímetros no alto. Centenas de linhas deescrita cuneiforme estão cuidadosamentegravadas no restante da pedra. Detalhes dessadescoberta, com a tradução do texto, forampublicados daí a um ano, e assim o mundo
veio a conhecer o Código de Elamurábi.
Elouve grande empolgação, pois aliestava uma série de leis bem parecida emmuitos aspectos com as “leis de Moisés”.
Abaixo seguem traduções dos parágrafosque guardam semelhança mais estreitacom Êxodo 21—23.
“Se um filho bater no pai, deve ter amão cortada.” (na195)
“Quem ferir a seu pai, ou a sua mãe,
A esteiade Hamurábi, da Babilônia, traz inscritas as leis do rei. Embora estetenha vivido vários séculos antes de Moisés, os dois códigos instigam a comparação. Asdiferenças são tão notáveis quanto as semelhanças.
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TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
certamente será morto.” (Êxodo 21.15)“Se um cidadão roubar o filho de
outro, deve ser morto.” (na14)“O que raptar algum homem, e o
vender, ou for achado na sua mão,certamente será morto.” (Êxodo 21.16)
“Se um cidadão atingir outro numabriga e o ferir, esse cidadão deve jurar: ‘Eunão o feri intencionalmente’, pagando otratamento médico.” (n=206)
“Se dois homens brigarem, e um ferir ooutro com pedra ou com o punho, e estenão morrer, mas cair de cama, se ele tornar
a levantar-se e andar fora sobre o seubordão, então aquele que o feriu seráabsolvido; somente lhe pagará o tempoperdido e o fará curar-se totalmente.”(Êxodo 21.18,19)
“Se um cidadão machucar a filha deoutro, e ela vier a abortar, ele deve pagardez siclos de prata pelo aborto. Se a mulheracabar morrendo, a filha do cidadão devemorrer.” (n“ 209, 210)
“Se homens pelejarem, e ferirem umamulher grávida, e forem causa de que
aborte, porém se não houver morte,certamente o ofensor será multadoconforme o que lhe impuser o marido damulher, e pagará segundo o arbítrio dos
juizes. Mas se houver dano grave, entãodarás vida por vida, olho por olho, dentepor dente, mão por mão, pé por pé,queimadura por queimadura, ferida porferida, golpe por golpe.” (Êxodo 21.22-25)
“Se um cidadão vazar o olho de outro,deve ter seu olho vazado. Se um cidadão
quebrar o osso de outro, deve ter seu ossoquebrado. Se um cidadão arrancar o dentede outro, deve ter seu dente arrancado.”(n“ 196,197,200)
“Olho por olho, dente por dente, mãopor mão, pé por pé.” (Êxodo 21.24)
“Se um boi chifrar um cidadãoenquanto esse estiver caminhando pelaestrada, provocando sua morte, nesse caso
não deve haver punição. Se o boi pertencea um cidadão que foi informado pelas
autoridades de que o animal tinhapropensão a atacar, mas não lhe cortou oscornos nem o manteve sob controle, e esseboi chifrar outro cidadão, matando-o,então deve pagar meia mina de prata(trinta siclos).” (n25250,251)
“Se um boi escornear um homem ouuma mulher, que morra, o boi seráapedrejado, e a sua carne não se comerá.Mas o dono do boi será absolvido. Se,porém, o boi dantes era escorneador, e oseu dono, tendo sido advertido disso, não o
guardou, e o boi matar homem ou mulher,será apedrejado, e também o seu dono serámorto. Se lhe for imposto resgate, entãodará como resgate da sua vida tudo o quelhe for exigido. Quer tenha escorneado umfilho, quer tenha escorneado uma filha,conforme este estatuto lhe será feito. Se oboi escornear um escravo, ou uma escrava,dar-se-ão trinta siclos de prata ao seusenhor, e o boi será apedrejado.” (Êxodo21.28-32)
“Se um cidadão roubar um boi, ou
uma ovelha, ou um jumento, ou um porco,ou uma cabra, se o animal for propriedadedo templo ou da coroa, ele deve devolvertrinta vezes o valor; mas, se for propriedadede um servo, deve devolver dez vezes o
valor. Se o ladrão não tiver como repor o valor, deve ser morto. Se um cidadãocometer roubo e for pego, deve ser morto.”(n“ 8,22)
“Se alguém furtar boi ou ovelha, e oabater ou vender, por um boi pagará cincobois, e pela ovelha quatro ovelhas. Se um
ladrão for achado arrombando uma casa, efor ferido de modo que morra, o que oferiu não será culpado do sangue. Se,porém, já havia sol quando tal se deu,quem o feriu será culpado do sangue. Oladrão fará restituição total, mas se nãotiver com que pagar, será vendido por seufurto. Se o furto for achado vivo na suamão, seja boi, ou jumento, ou ovelha,pagará o dobro.” (Êxodo 22.1-4)
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O CÓDIG O DO REI HAMURÁBI E A LEI DE MOISÉS
Hamurábi foi rei da Babilônia por
volta de 1750 a.C., vários séculos antes dotempo de Moisés. Suas leis tratam demuitos dos mesmos delitos porque osbabilônios eram na maioria agropecuaristasque viviam em pequenas cidades, comoseriam também os israelitas. Algumas dassemelhanças são tão impressionantes queresta pouca dúvida de que as leis hebréiasse baseiam numa tradição largamenteconhecida.
Isso torna-se mais evidente nas leissobre o boi perigoso. Outra coleção de
leis babilônicas, ligeiramente mais antigaque a de Hamurábi, traz uma norma queo rei não inclui, a qual, porém,assemelha-se a um mandamento bíblico:
“Se um boi chifrar e matar outro boi,os proprietários devem dividir entre si o
valor do boi vivo e o corpo do boimorto.” (“Leis de Esnuna”, ns53)
“Se o boi de alguém ferir de morte oboi do seu próximo, então se venderá oboi vivo, e o dinheiro dele se repartiráigualmente, e também o morto se
repartirá igualmente.” (Êxodo 21.35)
As diferenças entre essas leisbabilônicas e as bíblicas são tãoimpressionantes quanto as semelhanças.
Nas leis babilônicas, a propriedade e osbens são tão importantes quanto aspessoas. Crimes relativos a pessoas ouposses recebem indiferentemente asmesmas penalidades.
Nas leis bíblicas, só os crimes contra apessoa implicam penalidades físicas;
delitos contra posses recebem penalidades
em dinheiro ou bens.Na lei de Hamurábi, o destino do
ladrão que não pode restituir o bemroubado é a morte, enquanto Êxodo22.1-3 manda que ele seja vendido comoescravo. As leis dos hebreus conferemmais valor ao homem que as babilônicas.
As leis de Hamurábi, pelo quesabemos hoje, jamais foramefetivamente impostas. Embora osescribas babilônicos ainda as copiassemnos tempos de Nabucodonosor, bem
mais de mil anos depois de Hamurábi,nenhum relato de casos jurídicos serefere a elas. Sua influência talvez sebaseasse nos seus princípios, mais quena sua prática.
Nisso, também, são curiosamentesemelhantes às leis do Antigo Testamento.Embora os relatos afirmem que foramdadas por Moisés, os estudiososgeralmente afirmam haver poucos
vestígios delas nos livros históricos deSamuel e de Reis. Talvez tenham existidopor séculos, como as de Hamurábi.
Esse famoso monumento mostra queas leis hebréias têm muitos pontos decontato com as babilônicas, maisantigas. As leis hebréias podem terherdado dos babilônicos certas soluçõespara problemas específicos. Ascomparações também revelam distinçõescrônicas em conceitos de vida e de
valores humanos, chamando atençãopara um aspecto do pensamento hebreuque ainda influencia a modernasociedade civilizada.
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DEBAIXO DO ARADO: A Cidade Enterrada de Ugarite
Um lavrador arando a terra atingiu umagrande pedra. Quando a tirou do caminho,
viu uma passagem que levava a uma câmara
subterrânea. Era um túmulo antigo, queainda guardava os pertences do morto. Olavrador tomou os objetos e os vendeu a umantiquário.
Vazaram os rumores da descoberta,chegando à autoridade do governoencarregada de monumentos antigos, quemandou um dos seus funcionáriosinspecionar o túmulo. O relatório dessefuncionário, aliado a estudos mais antigosda região e a tradições locais de que houveraali uma grande cidade um dia, levou àdecisão de fazer escavações.
Essa é a forma clássica em que se dão asgrandes descobertas —e foi o queaconteceu.
O país é a Síria; o sítio fica na costa doMediterrâneo, ao norte do porto deLatakia; o ano da descoberta foi 1928. Osfranceses controlavam a Síria na época,portanto foi uma equipe francesa, lideradapor Claude Schaeffer, que começou asescavações em 1929. Com uma interrupçãosomente, de 1939 até 1948, houvetrabalhos nas cercanias quase todo ano,
continuando ainda hoje.Sob o campo do lavrador espalhavam-se
as ruínas de uma cidade portuária. Láestavam as casas e escritórios de mercadores,com seus túmulos sob o chão, as fábricas earmazéns de um porto movimentado.Nesses locais encontraram-se centenas de
vasilhas de cerâmica, jarros e vasos,incluindo algumas peças importadas deChipre, de Creta ou das ilhas gregas. Eram
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evidentes os contatos com o Egito em virtude dos estilos dos machados debronze e das caixas de cosméticos feitas de
marfim. Todo o lugar fora abandonado derepente; os edifícios ruíram ao longo dosséculos e foram cobertos por algunscentímetros de terra. A deduzir pelo estilodas cerâmicas, Schaeffer situou o portoentre os anos de 1400 e 1200 a.C.
Nesse sítio havia muito para encontrare estudar, mas, após apenas cinco semanasde escavações, Schaeffer levou seushomens a um teU do qual se podia ver oporto, distante dali 1200 metros. Nesselocal, segundo lhe disseram as pessoas daregião, foram encontrados objetos de ouroe minúsculas esculturas de pedra. O tell éuma grande colina, de até 18 metros dealtura, que se estende por uma área demais de 20 hectares. Seu nome moderno éRas Shamra.
Começando pelo ponto mais elevadoda colina, os escavadores logodesenterraram as paredes de um grandeedifício. Blocos de pedracuidadosamente talhados formavam asparedes, e lá dentro havia pedaços deesculturas de pedra. Num deles lia-se o
nome de um faraó egípcio, noutro haviauma dedicação, escrita em egípcio, a umdeus: “Baal de Zefom”. Perto do edifícioerguera-se uma coluna de pedra quetrazia uma representação do deus dastempestades, Baal. Esses objetos, juntocom a planta do edifício, revelavam quenão fora uma casa nem um palácio, masum templo, presumivelmente dedicadoao culto de Baal.
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DEBAIXO DO ARADO: A CIDADE ENTERRADA DE UGARITE
Pouca distância a leste dali viam-se as
paredes e colunas de outro edifício. Era umabela casa, com pátio central ao ar livre erecintos calçados ao redor. Uma escadaria depedra fazia supor a existência um dia de umandar superior. Sob a soleira da porta da casaencontrou-se um conjunto de 74ferramentas e armas —espadas, pontas deflechas, machados e uma trípode decoradacom romãs, cada uma pendendo de um laço(como os ornamentos das vestes dos sumossacerdotes israelitas, descritos em Êxodo28.33,34).
Foi num cômodo dessa casa, em1929, que Schaeffer fez a descoberta maisimportante. Espalhadas pelo chão havia
inúmeros tabuinhas de argila cobertas de
inscrições cuneiformes. Felizmente, odiretor do instituto de monumentosantigos, Charles Virolleaud, era umespecialista em babilônico. Ele percebeude imediato que algumas das tabuinhastraziam as listas de palavras pertencentes aescolas babilònicas. Mas nem todas astabuinhas estavam escritas em babilônico.
A escrita cuneiforme de 48 delas era deum tipo desconhecido. Virolleaudrapidamente fez desenhos dos sinais, queforam publicados menos de um ano
depois da descoberta, para que outrosestudiosos pudessem debruçar-se sobreeles. A honra de decifrar a escrita recém-
A cidade portuária de Ugarite, na costa síria, floresceu nos anos imediatamente anteriores ao èxodo. Foi subitamente abandonada, desaparecendo por completo. ClaudeSchaeffer começou as escavações que
revelaram muitas descobertas notáveis. Entreos achados estava uma tigela de ouro (esquerda) com a representação de uma caçada a um touro selvagem.
A deusa sentada de Ugarite, modelada em bronze(abaixo), data aproximadamentedo século XIV a. C.
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TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
As ruínas da entrada do palácio de Ugaritedão alguns indícios da sua antiga glória. Os reis viviam ali com sofisticação, usando belo mobiliário incrustado com marfim entalhado, trazido por princesas estrangeiras como parte do dote.
Uma tabuinha de argila (abaixo) mostra o alfabeto da escrita ugarítica. Mil e quinhentas tabuinhas que usam essetipo deescrita já foram descobertas.
descoberta pertence a Virolleaud, a outroespecialista francês, E. Dhorme, e a um
alemão, Hans Bauer.Trabalhando independentemente, com
Virolleaud recebendo os resultados dosoutros dois, conseguiram descobrir os
valores dos trinta sinais diferentes usados naescrita. Os três pensavam que a língua fossesemítica, e assim selecionaram as letras maisusadas para iniciar ou terminar palavras naslínguas semíticas ocidentais, como ohebraico. O método gerou traduçõescoerentes (um teste vital!) e deu certo comoutras tabuinhas encontradas mais tarde.
Virolleaud tinha a guarda das tabuinhas erapidamente as traduzia assim que eram
desenterradas. A língua que elas preservam éconhecida como ugarítica, pois mostravam
que o nome da cidade era Ugarite. Em quasetoda temporada de escavações, maistabuinhas eram descobertas, de modo quehoje se conhecem mais de 1500 delas emescrita e língua ugarítica, além de grandenúmero em babilônico (v. “Lendas e mitoscananeus”).
Com o aparecimento dessesdocumentos, a história e a cultura dacidade começaram a vir à tona.Entusiasmado, Schaeffer passou a escavaroutras áreas da colina. Por toda parte as
construções em ruínas jaziamimediatamente abaixo da superfície do solo.Num local havia casas e oficinas de
tecelões, canteiros, ferreiros e joalheiros,com muitas das ferramentas e produtoslargados exatamente onde seus donos osabandonaram quando os inimigosincendiaram a cidade. Em outras parteshavia casas mais suntuosas para os ricos deUgarite. Algumas tinham seus própriosarquivos de tabuinhas de cuneiformes.
Até os fictícios tesouros da tradiçãolocal tornaram-se reais. Escondidas em
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DEBAIXO DO ARADO: A CIDADE ENTERRADA DE UGARITE
diversas casas, encontraram-se jóias de
ouro e de prata e estatuetas de cobre dedeuses e deusas, revestidas ou decoradascom ouro. Uma escavação, aberta em1933, desenterrou um prato e uma tigelade ouro com elaboradas figuras emrelevo. Tigelas de prata e de ourotambém surgiram em escavações datemporada de 1960.
De longe, a mais imponente dasconstruções de Ugarite era o palácio real.Como o resto da cidade, fora incendiado.Embora o madeiramento tenha-sedesintegrado, as paredes de pedra ainda seelevam dois metros ou mais acima do chão.
Uma entrada com degraus e duascolunas sustentando o lintel conduzia aum pequeno vestíbulo, depois a umgrande pátio. Ali um poço fornecia águapara que os visitantes pudessem lavar-seantes de se apresentar ao rei. No chãohavia uma laje de pedra, onde os visitantesficavam para lavar as mãos e os pés; a águaescorria por um dreno.
Os vários reis foram acrescentandonovos pátios e conjuntos de salas ao longo
dos dois séculos, mais ou menos, em queo palácio ficou de pé. Os arqueólogosdetectaram doze estágios de construção.
Já no final desse processo, plantou-se um jardim num dos pátios, e noutroconstruiu-se um espelho d’água grande eraso, onde podemos supor que se criavampeixes. Vários recintos funcionavamcomo depósitos dos registros palacianos.
As tabuinhas de cuneiformesbabilônicos e ugaríticos revelam osnegócios do dia-a-dia do governo.
Algumas relatam negóciosinternacionais, acordos firmados comreis vizinhos (ou impostos pelos heteus)e até o caso de uma princesaestrangeira, casada com o rei deUgarite, que foi executada,provavelmente por adultério.
As princesas estrangeiras levavamconsigo valiosos dotes, minuciosamente
discriminados em algumas das tabuinhas.
No palácio havia pedaços de alguns dosmóveis descritos. Uma cama tinha cabeceirade marfim, entalhada com animais e cenasde caçadas, e com ilustrações do rei e darainha abraçados, ladeando uma imagem dadeusa-mãe amamentando dois pequeninosdeuses. Uma mesa redonda tinha elaboradaincrustação de marfim trabalhado,retratando animais fantásticos, esfinges eleões alados.
Outros móveis tinham pernas e pés demarfim no formato de pernas e patas deleões. Bem excepcional é um pedaço depresa de elefante cortado como suportede um móvel e entalhado como cabeçahumana, talvez à semelhança de um reiou rainha de Ugarite.
A riqueza de Ugarite vinha docomércio. A cidade ficava na extremidadede uma rota que partia da Babilônia,subia o Eufrates e cruzava oMediterrâneo. De Ugarite as embarcaçõesnavegavam até Chipre e Creta, à costameridional da Turquia e à costa de Canaãe ao Egito. Não é de admirar que
influências de todas essas regiõesapareçam na arte e na cultura de Ugarite.
Mas essas influências são mais óbviasna escrita, pois, além do babilônico e dougarítico, o hitita e o hurrita tambémeram escritos em cuneiformes, e o egípcioaparece em metal e em pedra (sendocertamente mais comum em papiros),além de também se encontrarem emUgarite hieróglifos heteus e uma escritasilábica de Chipre.
O arado do lavrador abriu um
repositório inexaurível de preciosidadesnas ruínas de Ugarite. Embora a cidadeesteja situada fora dos limites de Canaã,fornece um panorama expressivo da vidaque floresceu em Canaã antes da chegadados israelitas. Era uma sociedade deopulentos reis e cortesãos proprietários deterras, bem como de uma multidão decamponeses.
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LENDAS E MITOS CANANEUS
Baal era o deus cananeu da chuva e da tempestade. Emcontrastecom o deus principal, El, era vigorosamenteativo, desafiando deuses rivais com o auxílio de sua irmã, Anat.
Uma tabuinha com inscrições ugaríticos contém uma sériede
fórmulas mágicas para encantar serpentes.
Os livros que as pessoaslêem e as canções quecantam muitas vezesrevelam suas esperanças ecrenças. Nos temposbíblicos, só as idéias dealgumas poucas pessoasforam escritas, e dessaspouquíssimas sobreviveram.
Dos povos que viveramem Canaã antes dosisraelitas quase não há
informações desse tipo,provavelmente porqueusavam o papiro comomaterial de escrita (v. “O
alfabeto”).Ao norte, em Ugarite, era
mais comum o uso detabuinhas de argila. Muitas
sobreviveram, e algumastrazem histórias sobredeuses e heróis, rituais eorações para o culto nostemplos.
Embora Ugarite estejaalém dos limites de Canaã, ospovos das duas regiõescultuavam os mesmos deusese deusas. Existiam variaçõeslocais das crenças, mas éseguro supor uma
semelhança genérica.El, o deus principal (seu
nome significa simplesmente“deus”), era imaginado umvelho —completamenteembriagado em certaocasião— cujo posto dedeus vigoroso e ativo foi
ocupado por Baal. Esse era odeus da chuva e datempestade, que tinha doisrivais.
Um era Iam, o mar. Iamtinha um palácio, ao contráriode Baal. Um dos mitos relatacomo Baal conseguiu para sium belo palácio, talvezdepois de derrotar Iam.
A irmã de Baal, Anate,era seu principal esteio.
Certa feita ela esmagou oshabitantes de duas cidades:
“Eis que Anate combateu novale,Combateu contra as duascidades,Açoitou as multidões dolitoral (?),Calou os homens do leste.Sob seus pés as cabeçaseram como bolas,As palmas das mãos comogafanhotos em torno dela,As mãos dos guerreiros
como montes de trigo (?).Ela pendurou as cabeças àcintura,Amarrou as mãos ao cinto.Afundou até os joelhos nosangue dos heróis,A bainha das suas saiassujas de sangue seco dosheróis.Afastava os velhos com suavara,Com a corda do seu arco [...]Ela lutava bravamente,depois olhava em torno,Anat golpeava e ria.
O coração pleno de alegria...”
Depois de terminar a luta,Anate forçou El a permitirque Baal mandasse construirum palácio onde pudessereinar.
Baal tinha outro inimigo paraenfrentar: Mote, a “morte”. Umatabuinha quebrada conta como
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LENDAS E MITOS CANANEUS
Mote conquistou poder sobre
Baal, que desceu ao mundosubterrâneo. Anate pranteou seuirmão, encontrou o assassinodele, Mote, esmagou-o comotrigo, queimou-o e espalhouseus pedaços sobre a terra.Enquanto isso, a deusa Aserá,mulher de El, sugeriu que outrodeus assumisse o lugar de Baalno trono. Ele assim agiu, masera pequeno demais parasentar-se corretamente no trono!Baal, ao entrar no mundosubterrâneo, fecundou umavaca, que imediatamente deu à
luz um menino. Morto Mote,Baal reapareceu, matou osfilhos de Aserá e reconquistouo trono.Sete anos mais tarde, Motereapareceu para reabrir adisputa. Nenhum deles venceu,pois El interveio, impondo Baalcomo rei.Deuses como esses nãoatraem as pessoas de hoje.Para os israelitas,representavam um desvioperigoso em relação a seuDeus único. Os deuses
cananeus não tinhamescrúpulos morais.Comportavam-se e agiamcomo bem quisessem.
Os seguidores de Baalexecutavam todo tipo deritual para conquistar seusfavores, geralmente por meiode sacrifícios. Uma oraçãopara momentos de perigoestá preservada numatabuinha:
“Se um inimigo poderosoatacar teu portão,
Se um forte atacar tuasmuralhas,Ergue os olhos a Baal:‘0 Baal, afasta os poderososdo nosso portão,Os fortes das nossasmuralhas.
Consagramos um touro a ti,ó Baal,A ti oferecemos, ó Baal,aquilo que prometemos,
A imagem de Baal é feita de bronzee data de cerca de 1400-1200 a. C.
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Consagramos a ti um touro
castrado, ó Baal,A ti oferecemos um sacrifício,ó Baal,A ti oferecemos libações, óBaal,Subimos até teu templo, óBaal,Trilhamos os caminhos até acasa de Baal’.Então Baal ouvirá tuasorações;Ele afastará os poderosos doteu portão,Os fortes das tuas muralhas”.
Entre os antigos heróisdas lendas de Ugarite estavao rei Querete. Ele perdeumulher e família, e ospranteava quando o deus El,“pai da humanidade”, oprocurou num sonho pararesolver o problema.
Querete deveria reunirum exército para marcharcontra a cidade de um reique tivesse uma bela filha,exigindo sua mão emcasamento. Depois de longa
jornada e demoradas
conversações, arranjou-se ocasamento. No tempo certo,a princesa deu-lhe muitosfilhos e filhas.
No entanto, nem tudoestava bem. Quereteadoeceu, e desceu sobre aterra a seca. Mas El acabouintervindo novamente paracurá-lo, ou pelo menos paraprolongar-lhe a vida.
O filho de Quereteesperava ser rei, e assimtentou persuadir o pai aaposentar-se, pois já não eracapaz de governar: “O st nhornão julga o apelo da viúva,nem faz justiça ao oprimido”.Mas Querete teve forçasuficiente para amaldiçoar ofilho e manter-se no poder.
Essas histórias, ediversas outras, exprimemos problemas da vida. Baal,Iam e Mote personificam asforças da natureza. A mortede Baal significa o
desaparecimento anual da
chuva e da água sob o calordo verão, voltando depoiscom as chuvas do outono.
Instruções gravadasnas tabuinhas provam queas histórias eram lidas emvoz alta. talvez emfestividades anuais, paragarantir a volta de Baal.
A lenda de Queretemostra que o deus sepreocupa com o rei, e comoa prosperidade do paísdepende da sua saúde e doseu sucesso. Rivalidades
familiares e o problema davelhice também têm seupapel, embora falte o final dahistória, que talvez revelassecomo essas questões foramresolvidas.
Esse resumo dá umapequena prova da literaturacananéia. Mesmo a leitura detudo o que sobreviveu sópode proporcionarconhecimento parcial, poisdiversas tabuinhas foramdestruídas em temposantigos, e muitas das
histórias eram preservadassó oralmente, jamais sendoescritas.
Apesar disso, o que há ésuficiente para mostrar o tipode crenças que os israelitasencontraram em Canaã.
Os registros quesubsistem são tambémvaliosos em outros aspectospara o estudo dos hebreus. Alíngua dos cananeus ésemelhante ao hebraico etem ajudado a compreendermais claramente algumaspalavras e passagens doAntigo Testamento.
A forma de poesia comparelhas de versos, osegundo quase repetindo oprimeiro, é comum nas duasliteraturas, mostrando queos poetas hebreusassimilaram estilos bemconhecidos ao escrever ossalmos e os hinos para oseu Deus. _________________
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O ALFABETO
A inscrição na esfingede pedra do deserto do Sinai é um exemplo de escrita alfabética primitiva.
A maioria das línguasescritas no mundo hoje éexpressa por um alfabeto. Asexceções são os caractereschineses e japoneses e suasimitações. À primeira vista, é
difícil acreditar que osalfabetos romano, árabe eetíope estejam ligados. Noentanto, todos descendemde um pai comum. Uma dascontribuições da arqueologianas regiões da Palestina eda Síria foi a descoberta dosprimórdios da história doalfabeto.
Nos montes da regiãosudoeste do deserto do Sinai,os antigos egípcios tinhamminas de onde extraíam umapedra azul, a turquesa, queusavam nas suas jóias.(Ainda hoje é uma pedramuito apreciada, como “pedrada sorte” para afastar o “mau-olhado”.) Os egípcios eramresponsáveis pela produção
de turquesa. Os operáriosdas minas eram nômades daregião ou homens trazidos deCanaã. Tanto os supervisoresquanto os operários faziamoferendas à deusa-mãe e aoutras divindades.Celebravam momentosespeciais com inscrições empedra.
As inscrições egípciasseguem os padrões normais.Além delas há outras que,quando descobertas em1905 por sir Flinders Petrie,ninguém conseguiacompreender. Nelas haviacerca de trinta sinaisdistintos, cada qual umafigura como os hieróglifosegípcios, só que figurasdiferentes.
Depois de alguns anos, oeminente egiptólogo britânicosir Alan Gardiner percebeu
que esses caracterescompunham uma espécie dealfabeto. E avançou nas suasdescobertas supondo quecada sinal representava osom inicial do seu nome. Ascrianças quando aprendem oalfabeto dizem: “a deabacate, d de dado”.Gardiner raciocinou que ossinais que estava estudandoteriam sido criados segundoo inverso desse princípio, ouseja, “abacate é a, dado é d”.
Em 1915, Gardineranunciou que haviadescoberto os valores denove dos sinais. Estudiososmenos cuidadososprecipitaram-se, um delesalegando que havia elosentre as inscrições e Moisés.Mesmo o especialista maisrespeitado que tentasse lertodos eles via seusresultados recebidos comgrande ceticismo. Ainda hoje
não é possível dizer o querelatam as inscrições,principalmente porque todaselas são muito curtas.Claramente são dedicaçõesà deusa, além de outrosregistros religiosos.
Encontrar essasinscrições, cerca de trintadelas, no deserto do Sinai foium acaso arqueológico.
Quando as minas foramabandonadas não havianada além das intempéries edos visitantes esporádicospara danificá-las. O mesmotipo de escrita foi usado naprópria Canaã, segundo nosassegura um punhado deparcos exemplos. Um ou doisdeles talvez sejam maisantigos que os do Sinai,outros, ligeiramenteposteriores. A partir dessasparcas fontes, pode-se
deduzir a história primitiva doalfabeto, pelo menos emlinhas gerais.
Entre 2000 e 1500 a.C.,surgiram pujantes cidadespor toda a Síria e Canaã,geralmente nas ruínas deoutras cidades destruídas nofinal do terceiro milênio. Comas cidades veio umcrescimento do comércio portodo o Oriente Próximo, comnovos contatos entre povosque falavam muitos idiomasdiferentes. Os cuneiformesbabilônicos e a escritaegípcia eram as formascomuns de grafia paracomunicações internacionais.Ambas eram complicadas,com centenas de sinais,alguns com mais de umsignificado.
A costa da Síria-Palestina era um local deencontro de todas essaslínguas. Foi lá, talvez no
movimentado porto deBiblos, que um escriba teve aidéia do alfabeto. Era umgênio, que vislumbrou umaforma de escrever bemsimples e adaptável. Suainvenção também exibe umaabordagem avançada da suaprópria língua. Os escribasbabilônicos examinavam seuidioma para fazer listas desílabas e das fo rmas verbais.O inventor desconhecido doalfabeto separou cada somdistinto da sua língua para oqual ele pôde traçar umafigura conforme o padrão “dde dado".
Sua língua era do ramosemítico ocidental, que gerouo fenício. Nessa línguapalavra nenhuma começavacom vogal, e por isso ele nãocompôs sinais para os sonsvocálicos.
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O ALFABETO
O calendário de Gezer é o mais antigo texto contimio escrito no alfabeto encontrado na terra de Israel. Provavelmentedata do tempo do rei Salomão.
Eles tinham de seracrescentados pelo leitordepois de cada consoante,segundo o sentido. Issoainda é assim em doisdescendentes dessealfabeto: no árabe e nohebraico —as vogaissimplesmente não sãografadas, ou então sãoindicadas por diacríticoscomplementares acima ouabaixo das letras.
Se essa explicação écorreta, o inteligente escribamuito provavelmente já eraespecialista na escritaegípcia com pena e tinta empapiro. Isso explicaria por
que a nova escrita corria dadireita para a esquerda: erao modelo egípcio (aindaadotado no árabe e nohebraico). Isso explicatambém por quesobreviveram tão poucosexemplares do alfabeto emseus estágios primitivos.Eram grafados quase todosem papiro, e por issoqualquer um que tenha
ficado nos escombros deedifícios em Canaã já sedecompôs.
Em Ugarite, o sistemababilônico de escrita emargila era comum; o papirotinha de ser importado doEgito, o que o tornava maiscaro. Quando se espalhou oconhecimento do alfabeto,um escriba treinado natradição babilônica viu suasvantagens e criou umaimitação, usando sinais emforma de cunha sobretabuinhas de argila. Astabuinhas que sobreviveramem Ugarite dão testemunhode quanto os escribas de lá
gostavam de usar essealfabeto cuneiforme paratodo tipo de registro. Não hárazão para duvidar de que oalfabeto original fosse usadocom igual liberdade emCanaã, ao sul.
À medida que Israel foiconquistando Canaã, oalfabeto foi assumindo formafixa, para que pudesse sercompreendido onde quer
que fosse usado. Os textosmais antigos, além dos bemcurtos de 1600-1200 a.C.,são fenícios. Foramgravados em Biblos sobrelajes de pedra, estátuas eum caixão, mais ou menosno tempo em que Davi eSalomão reinavam emIsrael. Dessa época emdiante, várias inscrições empedra, metal e cerâmicapermitem identificar osurgimento de formas locais
do alfabeto: aramaico,hebraico, moabita, fenício.
O advento do alfabetonão disseminou a todos aalfabetização, mas
realmente facilitou a leitura ea escrita, tornando-asportanto acessíveis a umnúmero muito maior depessoas do quesimplesmente os escribas,que escreviam emcuneiformes e em egípcio.
Nos séculos após 1000a.C. os gregos adotaram oalfabeto fenício. Mas como ogrego tem muitas palavras
que começam com vogais,precisaram escrever tambémas vogais além dasconsoantes. Para fazer isso,os gregos tomaram as letrasdos sons fenícios que nãousavam, empregando-aspara denotar as vogais dasquais precisavam (porexemplo, o som guturalchamado 'ayin foi utilizadocomo “o”).
Desse alfabeto grego, viaRoma, nasceram asmodernas letras romanasusadas hoje em todo omundo ocidental.
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Sinais nas formas encontradas em fenício por volta de1000 a. C. (1), emMoabe(2, pedra deMesa, ver Nenhum tesouroescondido,1e no prezoprimitivo, de cerca de700 a. C. (3).
Sinais nas formas encontradas nas minas do Sinai (1) e na escrita cananéia dos séculos XIII e XII a. C. (2 e 3).
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CIDADES CONQUISTADAS DE CANAÃ
.Evscavando os montes de ruínas daPalestina, os arqueólogos encontraram umnível de construções destruídas pelo fogo.Sítio após sítio, os relatos são os mesmos:“uma espessa camada de cinzas mostra que onível foi destruído por um grande incêndio[...] antes do final do século XIII a.C.” ou
a fortaleza [...] foi completamentearrasada pelo fogo. A espessura da camadadestruída era de 1,5 metro. A cidadeaparentemente foi destruída na segundametade do século XIII a.C.”.
Várias cidades destruídas por volta damesma época revelam um maciço ataqueinimigo. A data condiz com a época maisprovável da entrada dos israelitas em
Canaã. Muitos tiraram a conclusão óbvia:foram os soldados israelitas queincendiaram esses lugares.
Infelizmente para os arqueólogos, osexércitos inimigos deixaram as ruínasfumarentas e seguiram adiante. Raramentedeixaram um aviso ou monumentodeclarando “Nós, israelitas, destruímos estacidade, chamada Betei”, ou qualquer coisado tipo. Portanto, é impossível saber aocerto se essas ruínas foram obra dos homensde Josué. Há ainda outro complicador: além
dos israelitas, os filisteus avançavam dolitoral na tentativa de conquistar Canaã, e ossiros desciam da Síria, ao norte. Qualquerum desses povos pode ter atacado as vilas ecidades cananéias. Tampouco os egípciosdevem ser esquecidos. As forças do faraóMerenta estavam ativas no final do séculoXIII a.C. (v. “Registro da vitória”). Semprovas escritas não temos comoresponsabilizar um grupo e não outro.
Os estilos da cerâmica e de algunsobjetos inscritos com nomes de reisegípcios fazem supor as datas dasdestruições. Mas tal datação não é muitoprecisa, pois uma moda pode durar maisnum lugar que em outro, e talvez faltemalgumas provas.
O quadro que temos hoje é de diversosataques contra os cananeus, algunsarrasando diversas cidades ao mesmotempo, outros ocorrendo esporadicamente,a intervalos de vários anos. Isso condiz coma época de desordens a que se refere o livrobíblico de Juizes. Exércitos diversos,israelitas, filisteus e outros, atacavam eincendiavam uma cidade aqui, outra ali.
Na época da primeira invasão, osisraelitas não incendiaramindiscriminadamente as cidades cananéias.
Afinal, precisavam delas para ter ondemorar! Segundo a Bíblia, somente Jericó,
Ai e Hazor foram queimadas por Josué.Nas cinzas e ruínas muitos bens jazem
onde seus donos os deixaram. Objetos decerâmica são sempre os mais comuns. Osoleiros cananeus fabricavam uma
variedade de tigelas e pratos, canecas e jarros. Embora no final do século XIII
a.C. os artigos não fossem tão bonsquanto haviam sido alguns séculos antes,os oleiros ainda gostavam de pintaranimais e aves em algumas das peças queconfeccionavam.
Uma espécie de jarro de duas asas, de57 centímetros de altura, era usado paraexportar azeite e vinho cananeu. Esses
jarros eram levados via comércio outributação para o Egito, chegando até
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CIDADES CONQUISTAD AS DE CANAÃ
Micenas e Atenas, na Grécia. Em troca,
Canaã recebia desses países artigos típicosde cerâmica.Notabilíssimas são as vasilhas pintadas
com faixas horizontais vermelhas oumarrons, produzidas pelos oleiros daGrécia. Eram de bom gosto entre oscananeus ricos, e portanto os oleiroslocais faziam imitações de segunda classepara os mais pobres. As modas dessesartigos micênicos importados são umachave importante para datar os locais emque são encontrados, pois a guinada de
uma moda a outra pode estar ligada aosreinados de certos faraós.Os artesãos cananeus eram hábeis na
fundição e gravação de metais —prata eouro para jóias, cobre e bronze paraferramentas, armas e outros utensílios.Como em Ugarite, alguns delestrabalhavam o marfim com grandeperícia, e outros poucos confeccionavamselos de pedra. Na sua arte, os cananeusexibem seus instintos de colecionadorescompulsivos, misturando idéias do Egitoe da Babilônia, da Turquia e da Síria.
Vê-se também combinaçãosemelhante de idéias locais e estrangeirasna religião cananéia. Pequenas imagens dedeuses às vezes usam coroas egípcias; asdeusas podem ter as madeixas da deusa-mãe egípcia, Elator. Ao mesmo tempo, ossacerdotes cananeus tentavam prever ofuturo ao modo babilônico, examinandoo fígado dos animais sacrificados.Encontraram-se modelos de fígado emargila, usados para ensinar a artedivinatória.
Os templos em que se faziam ossacrifícios e se adoravam os deuses foramdesenterrados em vários sítios. Em Laquis,um pequeno santuário fora dos muros dacidade foi reconstruído três vezes. Cadanovo templo enterrava o anterior e tudo oque nele havia. Numerosas vasilhas dentroe em volta do templo continham asoferendas, provavelmente de pães defarinha assados em fornos próximos. Umcesto à esquerda do altar estava cheio de
ossos de animais, os sacrifícios dados ao
deus e aos seus sacerdotes. Quase todoseram ossos da perna dianteira direita deuma ovelha ou cabra —a coxa que era aparte do sacerdote nas ofertas pacíficas dosisraelitas (mencionadas em Levítico 7.32).O santuário e a cidade foram queimados,talvez alguns anos depois de 1200 a.C.
Outra cidade cananéia queimada pelosinimigos foi Hazor. A destruição dela podeser situada em data um pouco anterior. Asescavações de Yigael Yadin, de 1955 a1958, desenterraram diversos templos
usados durante a Idade do Bronze Recentee violentamente destruídos. Um deles eraum recinto único com um nicho do ladooposto ao da entrada. Ao entrar nosantuário, o fiel via diante de si uma toscalaje de pedra que funcionava como mesade oferendas. Atrás dela, no nicho, ficava aestátua de pedra de um homem sentado, edez pedras se viam de pé enfileiradas. Napedra do meio estavam entalhados umalua crescente e um disco, com um par demãos estendidas em direção a eles.Parecem os símbolos do deus da lua e de
sua consorte.
EmLaquis desenterrou-seum pequeno templo. Foi incendiado,
junto com o resto da cidade, provavelmente pouco depois de
1200 a. C.
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TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
Asescavações de Yigael Yadin em Hazor revelaram um santuário cananeu. A credita-sequeos entalhes na pedra vertical central sejam símbolos do deus da lua ede sua consorte. Os templos ativos durantea Idadedo Bronze Recenteforam violentamentedestruídos.
Deus prometeu ao seu povo uma terra “quemana leite e mel" —a
terra de Canaã. Do monteTabor sedescortina o fértil valede fezreel.
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CIDADES CONQUISTAD AS DE CANAÃ
As outras pedras talvez fossem
monumentos erigidos a pessoas mortasou a grandes acontecimentos. As colunastiveram esse propósito em muitosperíodos e lugares, do “travesseiro” de
Jacó (em Gênesis 28) até o presente.Para os cananeus, haviam-se tornadoobjetos de culto, e portanto Israelrecebeu ordens de destruí-las: “Não teinclinarás diante dos seus deuses, nem osservirás, nem farás conforme as suasobras. Antes os destruirás totalmente, equebrarás de todo as suas colunas”.
Um templo bem maior tinha trêsrecintos principais, um pórtico, um salãocentral e um santuário, disposição quelembra o templo de Salomão, embora asproporções sejam diferentes. Entre ascinzas do chão do santuário viam-semesas de pedra com cavidades paralibações, um altar para incenso, bacias,
vários selos de pedra e imagens de bronze,uma pequena estátua de pedra de umhomem sentado e parte de uma estátuamaior, de um deus. O professor Yadin oidentificou como deus da tempestade —
Hadade ou Baal para os cananeus.Nessas cidades cananéias, as novas
construções que se erguiam sobre as cinzasdas ruínas eram geralmente bem diferentesdas antigas. Somente nas vilas militares
egípcias, como Bete-Seã e Megido, é que a
vida continuou como antes durante oséculo XII.Os habitantes que passavam a viver
em cima das ruínas não davamimportância à religião antiga. Ostemplos não eram reconstruídos, e asimagens cananéias de deuses e deusas,feitas de metal ou de cerâmica, logodesapareciam por completo.
Os estilos cananeus de cerâmicacontinuaram em voga, com técnicainferior, mas as construções eram muitopiores, às vezes pouco mais que cabanasde posseiros, com muitos poços de 2metros ou mais usados para armazenaralimentos. Essas camadas pobresacabaram dando lugar a casas mais bemconstruídas, com cerâmica mais fina.
Confrontando todas essas provasarqueológicas com os registros bíblicos,parecem restar poucas dúvidas de quepelo menos algumas dessas mudançasassinalam a chegada dos israelitas. Eleseram menos acostumados à vida urbanae supostamente tinham uma religião
bem diferente da dos cananeus —Deusúnico e ausência de templos locais. Nãohavia espaço para cidades-estadosisoladas se uma única nação detinha ocontrole da terra.
Essa placa de bronzede um cananeu foi encontrada em Hazor.
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E AS MURALHAS VIERAM ABAIXO
Os muros antigos lembram que Jericó é uma das cidades mais velhas do mundo, remontando a período anterior a 6000 a. C.
A Bíblia nos diz que, no tempo daconquista israelita de Canaã, os soldados de
Josué marcharam em torno de Jericó e,quando os muros caíram, mataram seushabitantes, tomaram tudo o que havia de
valor e atearam fogo à cidade. Se há umacontecimento da história de Israel quepode ser reconhecido pela arqueologia,certamente é esse!
Jericó foi um dos primeiros locais daPalestina a atrair os primeiros arqueólogos.
A primeira equipe enviada de Londres peloFundo de Exploração da Palestina, umgrupo de engenheiros militares liderado porCharles Warren, escavou poços profundosno monte de ruínas em 1868. Todos
esperavam grandes entalhes em pedra comoaqueles encontrados havia pouco tempo empalácios assírios. Depois de nada encontraralém de terra e tijolos de barro, osescavadores decidiram que não valia a penaprocurar mais, e seguiram adiante.
Quarenta anos se passaram até quenovas escavações se fizessem em Jericó.Nesse intervalo, houve algum progressorumo a uma melhor compreensão dasantigas cidades da Palestina. Arqueólogosalemães, dirigidos por E. Sellin,
desenterraram parte do muro e de casas dacidade entre os anos de 1907 e 1909. Nadaacharam que pudessem considerar comoresultado do ataque de Josué.
Isso ficou para a terceira expedição, de1930 a 1936. Liderados por JohnGarstang, da Universidade de Liverpool, osexploradores tinham como principal metaa busca das ruínas da Jericó de Josué.Depois de algumas semanas de escavações,
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Garstang surpreendeu o mundo.Desenterrou massas de tijolos de barro e osrestos de uma muralha. Ele afirmou queesses muros eram os mesmos que caíramdiante de Josué e seus homens. Adescoberta de Garstang foi aceita poroutros arqueólogos e tornou-se umexemplo popular de como a arqueologia“prova” os relatos da Bíblia.
Desenterraram-se dois muros, paralelos,com um espaço de 4,5 metros entre eles.Um dia houve construções assentadas sobreo topo desses muros. Um violento incêndioarrasara a cidade. Segundo Garstang, issoaconteceu por volta de 1400 a.C., datadeterminada com base em escaravelhos
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E AS MURALHAS VIERAM ABAIXO
egípcios encontrados em túmulos que ele
abriu em torno de Jericó. Nenhum dessesescaravelhos era posterior ao reino dofaraó Amenófis III, situado então de1411 a 1375 a.C. Essa data confere com amais remota das datas propostas para oêxodo (v. “Parentes dos hebreus?”).
Além de a cidade pertencer à Idade doBronze Recente, o trabalho de Garstangprovou que Jericó fora lugar importanteem períodos bem anteriores, na Idade do
Bronze Intermediária, na Idade do
Bronze Primitiva (c. 3000-2300 a.C.) eno Período Neolítico, quando o homemainda não usava o metal. Foi sobre esseperíodo bem remoto que as quatro sériesde escavações em Jericó tiveram mais arevelar, mas também trouxeramnovidades sobre a “Jericó de Josué”.
Em 1952, Kathleen Kenyon, daUniversidade de Londres, abriu novasescavações em Jericó. Ela queria esclarecer
O grande còmoro, tudo o queresta da antiga Jericó, aparecenitidamentena vista aérea.
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TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
alguns problemas acerca das conclusões deGarstang. Outras escavações na Palestina
haviam gerado resultados que nãoconcordavam inteiramente com os deGarstang, independentemente da questãoda data da destruição da cidade. Bempoucos estudiosos aceitam a data queGarstang usou, cerca de 1400 a.C.,preferindo data posterior, no século XIII.
Kathleen Kenyon examinou os muros ecasas que Garstang encontrou, e conseguiudemonstrar que ele as havia datadoerroneamente. Depois de um estudo árduoe minucioso das camadas de terra sob as
construções, ao nível das construções eacima delas, e também dos cacos decerâmica dessas camadas, ela provou que osmuros eram mil anos mais antigos do quepensara Garstang. Terremotos os fizeramruir bem antes do tempo de Josué. Osescombros das construções posteriores seacumularam sobre as ruínas, e asescavações de Garstang não as separaram.
Kathleen Kenyon encontrou osmesmos indícios de destruição pelo fogoque Garstang. Munida de melhorconhecimento acerca dos estilos das
cerâmicas, fruto de vinte anos a mais depesquisas realizadas por muitos
arqueólogos, ela demonstrou que oincêndio aconteceu algumas décadasantes de 1500 a.C. Depois disso, Jericoficou deserta até cerca de 1400 a.C., oulogo depois.
E muito difícil dizer que construçõesexistiam na época e por quanto tempoficaram de pé. Certamente jamais houvenovamente uma grande cidade em Jericó. Aolongo de muitos séculos, o vento e a chuvaaçoitaram o monte, diluindo as ruínas dosmuros de tijolos de barro. A cidade que foi
queimada antes de 1500 a.C. tinha umagrande barreira circundante encimada poruma muralha de tijolos. A erosão haviacorroído completamente essa muralha, excetonum dos cantos, e ali só as fundações haviamescapado. Em outros pontos, tambémhaviam desaparecido até seis metros da alturada barreira inclinada. Em face dessas provas,Kathleen Kenyon pôde aventar a hipótese deque a erosão removera quase todos os
vestígios da Jericó perdida.Entretanto, ela encontrou a pequena parte
de uma construção, que situou em data anterior
A seção transversal mostra a principal escavação de Kathleen Kenyon em Jericó. A erosão removeu quasetodos os vestígios da Jericó perdida.
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E AS MURALHAS VIERAM ABAIXO
O PROBLEMA DE AIDepois da queda de
Jericó, o livro bíblico deJosué narra a marcha dosisraelitas contra Ai e aconquista da cidade depoisde um fracasso inicial.
Em 1838, EdwardRobinson, o pioneiroamericano na exploração daPalestina, apresentou paraconsideração a possibilidadede Ai ser um imponentecômoro chamado Et-Tell,embora preferisse outro lugar.
Outro grande estudioso
americano, W. F. Albright,argumentou a favor de Et-Tellem 1924, e seus argumentosconvenceram a maioria daspessoas.
Uma equipe francesaescavou a colina de 1933 até1935, e uma equipeamericana, de 1964 a 1970.As duas escavaçõesdescobriram as ruínas deuma grande cidade, com umaforte muralha que ainda se
elevava a sete metros dealtura em certo ponto. Dentroda cidade havia um belotemplo, casas e umreservatório. Sua vidacomeçou por volta de 3000a.C., e foi destruída em cercade 2400 a.C. Nenhuma dasexpedições encontroucerâmicas ou construçõesque pudessem ser situadasentre aquela época e cercade 1200 a.C
Aqui a arqueologiaapresenta um problema para
o historiador: como ele podeexplicar o registro antigo?Três respostas são possíveis.• Et-Tell pode não ser aantiga Ai. Não existeminscrições que provem suaidentidade. No entanto, atéagora as tentativas deencontrar outro sítio que seajuste à descrição bíblica deAi também não foram bem-sucedidas.• A história pode ser uma
lenda, uma explicaçãopopular para as pessoas queali habitavam depois de 1200a.C. de como os murosgrandes e antigos que elaspodiam ver se transformaramem ruínas. Isso elimina adificuldade arqueológica,mas nega à narrativa hebréiaqualquer base factual.• O antigo nome Ai significa“ruína”, assim como Et-Tell.Mesmo hoje os muros dacidade, erguidos antes de2400 a.C., são
impressionantes. Há três milanos ou mais, certamenteapresentavam-se emmelhores condições. Situadaestrategicamente no alto deum morro, essa área muradapoderia ser uma fortalezapara os habitantes da regiãoem caso de ataque de povosoriundos do vale do Jordão.
Para este autor, esta é aexplicação mais satisfatóriapara o problema de Ai.
a 1300 a.C.; e Garstang já havia encontradocerâmicas pertencentes ao mesmo período,talvez um pouco posterior. E o bastante paramostrar que havia gente em Jericó por volta daépoca do ataque de Josué. Mas não se podesaber como era o local.
Jericó é um bom exemplo daslimitações que os arqueólogos podemenfrentar. As escavações nadarevelaram que realmente concorde com
a história bíblica. O melhor que sepode dizer é que a erosão destruiu asruínas da Jericó de Josué. Mas aausência das ruínas é usada por algunsestudiosos do Antigo Testamento parasustentar sua opinião de que o relatobíblico é lenda ou folclore, uma
história que não tem necessariamentenenhum conteúdo factual.
No caso de Jericó, a arqueologia nãopode trabalhar nem contra nem a favordessa concepção. Para o historiador,porém, é uma idéia perigosa, pois abrecaminho para tratar registros antigossegundo os caprichos de cada um. Cadapessoa poderia até remodelá-los para quese ajustem a suas teorias.
O livro de Josué preserva o relatona sua forma antiga. Como qualqueroutro relato antigo, merece sériaconsideração histórica. Areinterpretação das descobertasarqueológicas adverte que nãopodemos tratá-las como provas cabais.
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REGISTRO DA VITÓRIA:
A ‘Esteia de Israel’
O nomede Israel está claramenteregistrado numa lajede pedra (direita) encontrada em Tebas, queregistra o triunfo militar do faraó
Merenta. E a prova mais antiga da existência de Israelfbra da Bíblia.
“Canaã foi pilhada da formamais cruel,Ascalom foi levada cativa,Gezer foi capturada,Jenoã foi destruída.Israel está devastado, delenão resta semente,A Síria está viúva por causado Egito.Todas as terras estão unidasem paz,Todos os que erravam, ele ossubjugou,
O rei do Egito [...]Merenta.”
Essas palavras encontram-se no final de uma inscriçãoegípcia sobre uma laje depedra. O monumento foiencontrado em 1896, emTebas, onde se erguia notemplo em honra ao faraóMerenta. Em virtude daocorrência da palavra“Israel”, a pedra é chamada“Esteia de Israel”.
Merenta era filho dogrande faraó Ramessés II, eo sucedeu no trono do Egitopor volta de 1213 a.C. Nãofoi um grande guerreiro ouconstrutor como o pai, e,embora o Egito tenhadesfrutado vários anos depaz, ainda havia inimigos noestrangeiro.
Os líbios ameaçaram oEgito pelo oeste, e Merentaos derrotou. A inscriçãocelebra essa vitória decisiva,
alcançada no quinto ano doseu reinado. No fim vêm aslinhas citadas, como notafinal de louvor ao rei,mencionando uma vitóriaanterior.
Não resta dúvida de que
o nome “Israel” esteja na laje,apesar de uma tentativa decontestação. Também nãoresta dúvida de que tenhahavido embates militaresentre as forças de Merenta eos povos e cidades de
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REGISTRO DA VITÓRIA: A ‘ESTELA DE ISRAEL’
Canaã, embora alguns
estudiosos tenham tentadoargumentar que nada dissoexistiu. Em outra inscrição, omesmo faraó recebe o título:“aquele que agrilhoa Gezer”.
A “Esteia de Israel” évaliosa porque fornece aprova mais antiga daexistência de Israel fora daBíblia, As próximasinscrições que mencionamIsrael são assírias emoabitas, escritasaproximadamente 400 anosdepois (v. “Nenhum tesouroescondido” e “O preço da
proteção”). Sem o AntigoTestamento, a história deIsrael durante quase quatroséculos permaneceriadesconhecida.
Eis um exemplo doelemento acaso nadescoberta arqueológica;sem a “Esteia de Israel” eafora o Antigo Testamento,não haveria indícios de que
Israel já existia por volta de
1200 a.C.As palavras da esteia
não deixam claro se o nomeIsrael era aplicado a um povoestabelecido num territóriodefinido ou a um gruponômade. Israel claramenteestá localizado em Canaã, eé muito sensato situar oconflito no período em queIsrael se fixava na terraprometida, depois da mortede Josué. Os termos“destruída, está devastado,não resta semente” sãomodos usuais de afirmar
uma vitória completa. Nãodevem ser interpretadosliteralmente.
Aliás, o reino de Merentadurou somente dez anos, edepois o poder do Egito sedebilitou; portanto, o sucessoegípcio não foi duradouro notocante a Israel. Talvez sejaessa uma das razões pelasquais os autores bíblicos não
relataram esse episódio.
Pode ter sido uma únicabatalha, pela qual osegípcios repeliram Israel deuma região de Canaãdurante curto período.
Mas a “Esteia de Israel”fornece outro elemento. SeIsrael estava em Canaã porvolta de 1213 a.C.. ou logodepois, o êxodo do Egitopode muito bem teracontecido em épocaanterior.
Antes da descoberta daesteia, alguns historiadoresafirmavam que o êxodo
acontecera no reinado deMerenta. A não ser que acronologia bíblica estejaerrada, ou errada a hipótesede que Israel partiu do Egitocomo um só grupo rumo aCanaã, Merenta não poderiaser o faraó do êxodo. Háforte possibilidade de queesse faraó fosse de fato o paide Merenta, Ramessés II.
O faraó Merenta ou seu pai, Ramessés II, invade a fortaleza de Ascalomno sul de Canaã. E um exemplo tipico das cidades bem fortificadas queJosué e seu exército enfrentaram.
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OS FILISTEUS
A cabeça de um soldado filisteu foi entalhada em Tebas, no Egito. Data do século XII a. C.
O faraó Ramessés III estava radiante.Seu exército alcançara grande vitória.Durante anos bandos de estrangeiros
vinham atravessando o Mediterrâneo até o
Egito. Alguns se haviam estabelecidopacificamente, outros se haviam aliado a
velhos inimigos do Egito, os líbios, a oeste.O poderoso Ramessés II derrotara umgrupo de agressores bem no início do seureinado, e obrigara alguns deles a lutar peloEgito na grande batalha de Cades, quandoo faraó enfrentou os heteus, em 1275 a.C.Depois de Ramessés, Merenta tambémcapturou alguns desses estrangeiros.
Os dois reis relatam os nomes de tribosou grupos desse povo: sherden, sheklesh,
lukka e aqaiwasha. Todos eramapresentados como “estrangeiros do mar”.Diferentemente dos egípcios, não eramcircuncidados. Os estudiosos modernosreferem-se a eles como “povos do mar”.
Ramessés III enfrentou uma ameaçamaior que os faraós anteriores, e portantoseu sucesso foi maior. Não sabemosquantos matou ou capturou do povo domar; Merenta matou mais de dois mil,Ramessés III matou mais de doze mil líbiosnuma guerra de um ano. Foi no quintoano do seu reinado, por volta de 1175a.C., que entrou em combate contra opovo do mar. Eles chegavam de navio nodelta do Nilo e avançavam por terradescendo a costa da Síria e de Canaã emcarroções puxados por bois. Vinham maistribos do que antes. Algumas eram jáconhecidas, e havia também outraschamadas tjekker, weshesh e peleset. Osegípcios provavelmente não sabiam ao
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certo quem eram esses povos. Para eles,eram forasteiros e inimigos, e hoje sabemospouco mais que isso. O único nome quepodemos identificar com certeza é o último
da lista, “peleset”, que eram os filisteus daBíblia.
Ainda que fossem inimigos estranhos edesprezados, os egípcios documentaram suaaparência e equipamentos. Ramessés queriaum registro do triunfo, e assim mandoufazer representações da batalha nas paredesdo seu templo. Turistas que visitam MedinetElabu, na margem oposta do Nilo, emLuxor, podem vê-las ainda hoje.
Uma cena representa a região debatalha. Muitos soldados do povo do mar
jazem mortos ou moribundos sob os pésdos seus companheiros, que combatem em vão as fileiras da infantaria egípcia. Nocampo de batalha, aparecem aqui e alicarros leves e cavalos egípcios, e os pesadoscarroções e bois do povo do mar.
Os artistas do faraó tomaram o cuidadode assinalar claramente as diferenças entreos soldados egípcios e seus adversários. Osegípcios carregam escudos oblongos,arredondados na parte de cima, pesadasmaças pontudas e adagas curtas; os carrosde guerra levam arqueiros. Emcontrapartida, o povo do mar tem lanças eespadas longas e afiladas e escudosredondos, além de penas na cabeça, oucabelos eriçados e altos. Um dos grupos,que combate no lado egípcio nasilustrações, usa capacetes com um par dechifres no alto.
Outra cena ilustra a guerra no mar. Osarqueiros egípcios, em navios dotados de
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OS FILISTEUS
remo e vela, usados para subir e descer o
Nilo, atiram contra o povo do mar, queataca em embarcações a vela. Uma delasnaufragou, e a água está coalhada deinimigos se afogando, figuras com ambosos tipos de adornos nos cabelos —masnão se vê um egípcio sequer.
As esculturas de Ramessés III e suaslegendas proclamam claramente que oshomens de capacete cornudo eram ossherdens, que alguns autores vinculam àSardenha. Entre os que usavam o arranjoemplumado na cabeça estavam osfilisteus.
Depois da derrota, o povo do marevidentemente se dispersou. As unidades
do exército egípcio absorveram alguns,
como já ocorrera antes, e esses talveztenham sido transferidos para Canaã,onde, aparentemente, outros clãs dopovo do mar já se haviam estabelecido.O Antigo Testamento refere-se àpresença dos filisteus no sudoeste deCanaã, no litoral, e o próprio nome“Palestina” é prova de que um diamarcaram forte presença na região. Por
volta de 1100 a.C., um viajante egípcioencontrou membros de outro grupo,denominado tjekker, um pouco ao norteda costa, em Dor.
Dificilmente haveria melhor prova dachegada dos filisteus e da ocupação de
A Bíblia refere-se não poucas vezes aos filisteus como inimigos de Israel. Eramum dos “povos do mar” que invadiram o próprio
Egito. Filisteus capturados, usando
arranjos emplumados na cabeça, aparecem num relevo egípcio que registra a vitória do faraó.
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TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
Umesquifede argila antropóide(acima) encontrado em Bete-Seã,
Israel parece exibir um penteado semelhanteao dos filisteus nos relevos egípcios.
O estilo característico de cerâmica ilustrado pela jarro (direita) está associado aos filisteus.
parte de Canaã por esse povo. Há bastantetempo os arqueólogos já vêm relacionandoesses acontecimentos a uma série dedescobertas em sítios espalhados por toda aregião do Mediterrâneo oriental.
Na Turquia, o império dos heteus ruiu,atacado por inimigos do oeste e do leste.Em Ugarite, cartas escritas pouco antes de acidade ser incendiada falam de todos osnavios que navegaram a oeste para ajudaros heteus e do dano que algumasembarcações inimigas provocaram. DeUgarite para o sul, grandes depósitos decinzas e construções abandonadas às pressasem várias localidades sustentam umaobservação do texto egípcio de Ramessés IIIde que o povo do mar destruiu os heteus,
além de Carquemis, Chipre e a terra dosamorreus.Ugarite e outras cidades não se
recuperaram. Nos locais em que de novo seergueram cidades sobre as ruínas geralmentese confirma uma mudança na população. As
construções têm plantas diferentes e, maisnotável, encontram-se novos estilos de
cerâmica, intimamente ligados ao estilosentão correntes na Grécia, em Creta eChipre.
As cidades que floresceram antes dasdestruições haviam importado estilos maisantigos dessa cerâmica. Agora existiammuitos outros, e as imitações locais eramquase tão boas quanto os originais. Umestilo marcado pela representação de aves erapopular e tornou-se a característica pela qualse reconhece esse tipo de cerâmica. Essacerâmica é encontrada principalmente naregião em que a Bíblia situa os filisteus, e
por isso é chamada cerâmica filistéia. Esse éum dos poucos casos em que um tipoparticular de cerâmica pode ser associado aum povo específico.
Esse fato incomum praticamenteesgota o conhecimento arqueológicosobre os filisteus. Eles não deixaramescritas reconhecíveis, e nas suas cidadesnão se encontraram vestígios suficientespara montar um panorama da suacultura. Outro tipo de objeto encontradona região filistéia é um esquife de argila
(comumente chamado “filisteu”) comrosto e mãos modelados em relevo.
Acima do rosto vêem-se listas horizontaiscom linhas verticais irradiando-se delas,algo que lembra o penteado do povo domar. Restos mortais encontrados naTransjordânia e no sul do Egito talvezsejam vestígios de esquadrões do povo domar em guarnições egípcias. Essesesquifes de argila obviamente imitam asmúmias egípcias.
Segundo o historiador israelita, os filisteus
controlavam a fundição do ferro na região, epode ser que tenham introduzido essa técnica. A época da sua chegada e da destruição detantas cidades coincide, da perspectivaarqueológica, com o final da Idade do Bronzee o início da Idade do Ferro.
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UM TEMPLO DE OURO
O templo construído pelo reiSalomão como casa de Deus na suacapital, Jerusalém, não era muito grande.
Mas sem dúvida era espetacular, pois ládentro tudo era ouro. Havia pratos ebacias, lâmpadas, castiçais e pinças deouro. As armações da porta eram de ouro,assim como a mesa para o pão sagrado.
Os povos sempre ofereceram ouro paraseus deuses. As catedrais da Europa e da
América do Sul, templos e santuários da Ásiaainda exibem cálices, lâmpadas e outrosobjetos de culto feitos de ouro maciço.
Mas o templo de Salomão tinhamais que um tesouro em mobiliário e
objetos de ouro. Os sacerdotes, ao subiros degraus que davam acesso ao templo,nada viam que não fosse ouro — além
de uma belíssima cortina naextremidade oposta.
A descrição bíblica no Primeiro livrode reis, capítulo 6, diz: “Assim edificouSalomão aquela casa [...] cobriu as paredesda casa por dentro com tábuas de cedro[...] cobriu a casa por dentro de ouro puro[...] também cobriu de ouro o soalho dacasa, tanto na parte mais interior como namais exterior”.
Um templo de ouro! A idéia é detirar o fôlego.
O templo do rei Salomão, como estesantuário em miniatura do rei Tutancámon, era um esplendor deouro.
Uma reconstituição anistica do templo do rei Salomão, baseada nas medidas e na descrição apresentadas na Bíblia. O edificio era bempequeno —apenas 27 x 9 x 13,5 metros no interior. Foi construído como habitação para Deus, e não como uma grandiosa catedral na qual o povo se reuniria.
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TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
Será queos buracos de pregos nessas pedras constituem evidência de quebavia lâminas de ouro fixadas às paredes do templo e do palácio, de modo a brilharem como o sol'?
Erigir novos templos e reformar osantigos era atividade constante para os reis
da antigüidade. Eles queriam conquistar ofavor dos seus deuses e popularidade juntoao povo, além de angariar fama para simesmos. Quanto mais poderosos e ricoseram, mais prodigamente decoravam asconstruções que erigiam.
Ao longo dos séculos, os povospilharam as ruínas desses grandestemplos em busca de tijolos e pedras. Ebem antes disso todos os móveis eobjetos de algum valor já haviam sidoretirados. No entanto, ainda hoje,restando somente as paredes básicas, os
visitantes das torres-templo de antigascidades babilônicas como Ur, ou dostemplos egípcios de Karnak, não deixamde se impressionar pela grandeza dasproporções e do projeto.
Às vezes os reis que mandavam ergueresses templos deixavam inscrições quefalavam da sua obra. Ao lê-las, temos delembrar que foram escritas para impressionarseus leitores, em especial para dizer às futurasgerações como eram excelentes e piedososseus antepassados. Em alguns casos talvez
tenham exagerado, ou feito afirmações queiam além da verdade, mas não temos motivopara duvidar delas inteiramente.
Não precisamos duvidar da palavra dosreis da Assíria e da Babilônia quando se
vangloriam de ter coberto as paredes dostemplos com ouro como argamassa, ou detê-las revestido com ouro para queresplandecessem como o sol; nem dos faraósque afirmavam colocar lâminas de ouro nasparedes dos seus templos no Egito.
No Egito também parece haver algum vestígio material das lâminas de ouro que
cobriam partes dos templos. Um temploconstruído pelo faraó Tutmés III, por volta de 1450 a.C., traz inscrições queregistram seu esplendor: certos vãos deporta, colunas e santuários eramrevestidos de ouro.
Um eminente egiptólogo francês, aoexaminar minuciosamente as ruínas doedifício, observou fendas estreitasincomuns em algumas das colunas depedra, nas bases em que se assentavam enos capitéis que as encimavam. As fendassão estreitas demais para servir para
qualquer coisa na construção, e nadaacrescentam aos entalhes ornamentais. Suafunção, deduziu o egiptólogo, era servir deponto de fixação para as bordas daslâminas de ouro, que eram marteladassobre a pedra e dobradas em torno dacoluna. Outros blocos de pedra exibemfileiras de pequenos orifícios que talveztenham abrigado pregos de fixação daslâminas de ouro às paredes planas.
Aquilo que as inscrições egípciasdescrevem parece encontrar apoio nas
pedras dos templos; o ouro estava ali,adornando suas paredes, não comocamada dourada para ressaltar detalhesarquitetônicos, mas como lâminas quecobriam superfícies inteiras.
Portanto, bons indícios da mesmaépoca mostram que a descrição bíblica dotemplo dourado do rei Salomão não eramera fantasia, nem mesmo exagero.Enquadra-se no modelo conhecido daspráticas da época.
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AS OBRAS DE SALOMÃO
As mais notáveis das
obras atribuídas ao tempo deSalomão são portões nasmuralhas de três cidades.
Não há pedras fundamentaisnem documentos que digamquem os construiu. Mas a
cerâmica encontrada alipode ser situada no reino de
Salomão, mostrando que as
construções certamente
estavam em uso na época.Um deles foi descoberto
em Gezer, em escavações
entre 1902 e 1909, outro emMegido, em 1936-1937, e oterceiro em Hazor, em 1955-
1958.
O progresso nas
técnicas de escavação e um
conhecimento mais
avançado dos tipos de
cerâmica levaram YigaelYadin a atribuir à época de
Salomão o portão que
desenterrou em Hazor.Depois examinou novamenteas ruínas de Gezer e
especialmente as de Megido,que os primeiros
escavadores não associaram
de nenhum modo a
Salomão.Yadin foi capaz de
mostrar que os três portões
têm planta praticamenteidêntica e dimensões bemsemelhantes. Os cacos de
cerâmica pertencentes ao
período de construção e de
uso dos portões são da
época de Salomão —
meados do século X a.C.Yadin voltou a atenção a
Gezer e a Megido depois da
descoberta do portão deHazor, por lembrar-se de umapassagem da Bíblia que relata
as obras de Salomão em
cidades importantes do reino.1Reis 9.15 registra: “Este é orelato do trabalho forçado que
o rei Salomão impôs para
edificar a casa do Senhor e asua própria casa, os terraços
de apoio, o muro deJerusalém, como também a
Hazor, a Megido, e a Gezer”.
Além da planta uniforme
dos portões das três cidades,
Yadin descobriu que osmuros contíguos também
tinham projeto idêntico. Eram
as chamadas “casamatas” —ou seja, uma linha dupla demuros com paredes
tranversais, perfazendo uma
série de recintos compridos e
estreitos.
Em cada um dos sítios a
alvenaria de pedra dosmuros acima do nível do
chão era de qualidade
excelente. Os blocos de cadalado dos muros foramcuidadosamente aplainados
e assentados, dando uma
imponente solidez àsestruturas.
As semelhanças entreesses três portões e aqualidade da alvenaria levama crer que foram construídos
segundo um projetodeterminado por uma
autoridade central com
recursos consideráveis à
disposição. As cerâmicasremetem ao século X como
data da construção.
Quando esses elementossão comparados ao relatobíblico, torna-se quase
inevitável a conclusão de que
esses portões são de fatoobra de Salomão. Afora a
existência de inscrições naspróprias pedras, seria difícil
arrumar argumentos
melhores.Em Megido havia
vestígios de grandes obras
dentro da cidade,
pertencentes à mesma data.
Infelizmente, a alvenaria depedra era tão boa, que
construtores posteriores
demoliram os muros para
reutilizar os blocos,resultando que os palácios,
escritórios e casas da época
são pouco conhecidos.Também em Gezer e em
Hazor, muito pouco se pode
saber sobre as cidades
salomônicas, pois habitantes
posteriores revolveram edestruíram suas ruínas.
A Bíblia diz queo rei Salomão reconstruiu três cidades —Gezer, perto de Jerusalém, Megido e Hazor. Yadin descobriu queas três cidades têm casamatas e portões idênticos nos muros. A planta de
Hazor mostra claramentea estrutura característica, também visível na fotografia de Megido.
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UMA FORTUNA EM OURO E PRATA
0 faraó Sisaqueinvadiu judá e pilhou o templo de Jesuralém. Estebraceletepertencente ao filho do
faraó pode ter sido feito com o ouro do templo.
Logo após a morte do reiSalomão, o livro bíblico de
Reis relata: “Sisaque, rei doEgito, subiu contra Jerusalém.
Tomou os tesouros da casado Senhor e os tesouros da
casa do rei. Tomou tudo...”Esse é o acontecimento
mais antigo da história de
Israel que documentosextrabíblicos tambémregistram.
Sisaque foi o fundador deuma nova dinastia de reis no
Egito, a vigésima segunda. Emanos anteriores, a terra ficara
dividida entre reis, chefes de
clãs locais e sacerdotes. O
novo faraó reunificou o Egito
sob seu comando, depois saiupara conquistar os vizinhosJudá e Israel, que um dia já
haviam formado a província
egípcia de Canaã.Enquanto Salomão
permaneceu no trono, Israelera provavelmente fortedemais para que Sisaque oatacasse. Mas uma vez
dividido em dois (Judágovernado por Roboão, filho
de Salomão, e Israel sob odomínio do rebelde
Jeroboão), o antigo reino deSalomão ficou fraco demais
para defender-se.Os homens de Sisaque
marcharam sobre a terra evisitaram, às vezesdestruindo, até 150 cidades e
vilas. Tendo voltado vitorioso
para casa, Sisaque dedicou-
se à construção de templosem Mênfis, no norte, e emTebas (Karnak), no sul. Só os
tebanos sobreviveram.Ali há ainda hoje uma
extensão de muro em tornode um grande pátio. Perto deum portão, vê-se entalhada
nas pedras uma imensailustração do faraó triunfante.Ao lado dele estão os nomesdas cidades e vilas que ele
conquistou em Israel. Sisaqueafirma que as colocou
novamente sob controleegípcio, repetindo o que já
ocorrera 200 anos antes. Paralembrar ao povo conquistadosua vitória, Sisaque mandouerigir em Megido uma laje de
pedra com seu nome e títulosgravados. Um pequenopedaço dela foi encontrado
nas ruínas de Megido,
felizmente um pedaço que
trazia o nome de Sisaque,para garantir sua identidade.
Sisaque morreu cerca de
um ano depois dessa vitória.Seu filho não foi forte obastante para seguir seu
exemplo de conquistador.Uma inscrição danificada
detalha os presentes que o
filho de Sisaque ofereceu aosdeuses do Egito. Eles reúnem
quantidade muito maior de
ouro e prata do que qualqueroutro faraó jamais registraracomo oferenda. O peso totalalcançava cerca de 200
toneladas de ouro e prata.O estudo de outros
documentos egípcios mostra
que não há razão para supor
que as quantidades sejam
exageradas. Outros faraóstambém deram presentes
magníficos aos deuses,ainda que nenhum delestenha sido tão
impressionante quanto esse.
Nada indica a origemdessa riqueza, mas parecerazoável supor que boa parte
dela era o ouro que Sisaque
levou do templo de Salomãoe do palácio de Jerusalém.
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PALÁCIOS DE MARFIM
A»L.joelhamos no solo seco e poeirento,trabalhando devagar com canivetes epincéis. Enterradas no barro do chão deuma despensa do palácio havia dezenas depedaços de marfim trabalhado. Estavamquebradiços, depois de ficar ali durantequase três mil anos, e o peso dos tijoloscaídos os havia arrebentado. Cada umtinha de ser removido separadamente,
junto com o bloco de terra a seu redor.Mas, assim que retirávamos um deles,outros surgiam debaixo ou ao lado.
Assim, o serviço demorou longo tempo.Na sede da expedição removemos
delicadamente o barro com escalpelos e
agulhas, limpando as superfícies lisas com
algodão úmido. Ficamos admirados ao veraquelas magníficas obras de arte emminiatura emergindo do barro. As peçaseram de um branco cremoso, entalhadas epolidas. Algumas tinham incrustações depedra ou vidro de cor azul ou vermelha.
Algumas ainda traziam lâminas de ourogrudadas.
Mas o que eram essas esculturas emmarfim?
Outra despensa esclareceu a questão. Ali descobriram-se quinze ou maisespaldares enfileirados no chão. Grandesplacas de marfim haviam sido fixadas àarmação de madeira ou ao espaldar, de
modo que a madeira não aparecia. Os Marfins entalhados com esfinges mostram a influência do Egito.
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TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
Móveis incrustados com marfim
trabalhado foram carregados como saquepara a Assíria. Era o fino da moda entre os ricos de Israel, alvo das reprimendas dos profetas de Deus pela extravagância epela exploração dos pobres.
O marfim de uma mulher à janela é típico do estilo fenício.
móveis pareciam feitos de marfim. Algumas partes eram simplesmente
faixas de marfim lavradas e polidas, paraproporcionar uma superfície lustrosa àsbeiradas de camas e cadeiras. Algumaspeças eram blocos maciços de marfimentalhados ou trabalhados num tornocomo suportes e remates decorativos.
A maioria das peças se compunha deplacas que se encaixavam numa armaçãocomo ornamento. A maior parte dessas eraentalhada em relevo. Os desenhos eramescolhidos pelos valores mágicos esimbólicos, bem como pela beleza. Figuras
com uma planta ou árvore na mãorepresentam a fertilidade. O disco alado dosol representa o zelo divino. Homens emdisputa com dragões retratam o triunfo daordem sobre o caos.
Muito freqüentemente os entalhesexibem claros sinais de influência egípcia.Há esfinges, copas de palmeiras e flores de
lótus, além de deuses e deusasinequivocamente egípcios. Mas os
fragmentos que desenterramos não jaziamnas ruínas de um palácio egípcio, e simnuma cidade assíria.
Era evidente que a maior parte dosmóveis de marfim fora parar na Assíriacomo saque, ou como tributo de paísesconquistados pelos exércitos assírios. Ossoldados mandavam a mobília para queseus reis a usassem. As dependências reaiseram adornadas com muitos desseprodutos caríssimos. Por sinal, havia tantosdeles que enchiam também váriasdespensas do palácio.
Os reis assírios deixaram registros decidades conquistadas ou soberanos vassalosque lhes enviavam camas e cadeiras demarfim. Ezequias, de Judá, foi um deles,segundo Senaqueribe (v. “Como passarinhona gaiola”). A mobília de marfim eraobviamente cara, um luxo para as casas dosmuito ricos, um símbolo de status que oinimigo certamente quereria levar.
Veja como ela aparece no AntigoTestamento. O rei Salomão mandava trazermarfim para Jerusalém quando sua oceânica
“frota deTársis” saía em viagem (IReis 10).Ele usou o marfim para confeccionar umtrono, que seria uma armação de madeirarevestida totalmente de marfim.
Dois séculos mais tarde, a mobília demarfim estava na moda entre os nobres deSamaria. Eles extorquiam cada centavo, oumais, dos seus devedores para gastar todo odinheiro em ostentações extravagantes.
“Ai de vós que dormis em camas demarfim”, gritava Amós, o pastor de Judáque virou profeta, “a vós só restará o canto
de um divã ou a perna de uma cama”, restosinúteis da riqueza que desperdiçaram.Os soberanos de Israel, um deles pelo
menos, incentivava a moda. 1Reis 22 relataque o rei Acabe fez uma “casa de marfim”.Talvez fosse uma casa revestida de marfim,ou mais provavelmente uma casa decoradacom mobiliário de marfim. As descobertasna Assíria exemplificam esse tipo dedecoração —painéis de marfim finamente
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PALÁCIOS DE MARFIM
entalhados, alguns ornamentados com
pedras coloridas e cobertos com lâminasde ouro.
As pessoas de hoje, o efeito talvezpareça exagerado e afetado, mas eradisso que os povos antigos gostavam.Em O cântico dos cânticos, uma moçadescreve o amado com corpo de marfimincrustado de safiras.
Em Samaria, desenterraram-se asruínas de um palácio israelita. Nelas,esmigalhados e espalhados pelo chão,havia mais de 500 fragmentos de marfim,
sendo mais de 200 deles trabalhados. Alguns estudiosos acham que pertencemao reino de Acabe, cerca de 860 a.C.Outros situam as ruínas no século anterior.Sejam ou não dos tempos de Acabe,mostram o tipo de mobília que ele teriatido, exatamente semelhante à de muitosoutros exemplos encontrados na Assíria.
Artesãos fenícios estabeleceram o estiloprincipal de escultura em marfim. E aesposa de Acabe, Jezabel, veio da cidadefenícia de Sidom. Foi na Fenícia que osconceitos cananeus locais misturavam-se a
alguns do Egito e de outros lugares paraproduzir os desenhos nos marfins.Importados para Israel, esses estilos pagãoscertamente não ajudaram o povo de Deusa lembrar-se do mandamento de não fazerimagens esculpidas.
Quando os invasores saquearam ospalácios de Samaria, e mais tarde da
Assíria, acabaram despedaçando osmóveis de marfim. Não podiamcarregar grandes quantidades de divâse cadeiras, e portanto retiraram orevestimento de ouro, deixando paratrás as partes de madeira e de marfim.O que o arqueólogo encontra hoje é,nas palavras de Amós, somente “o
canto de um divã ou a perna de umacama”. No entanto, mesmo isso jábasta para mostrar como eraesplêndida a mobília nos tempos emque ela exibia toda a sua beleza na“casa de marfim” de Acabe.
Uma cabeceira de marfim de Nimrud lembra vividamente as palavras de Amós, o profeta-pastor queproclamou a condenação de
Israel. “Ai de vós que dormis emcamas de marfim. "A queda do reino diante dos assírios foi vista como castigo de Deus.
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O GRAVADOR DE SELOS
Os artesãos israelitasocupavam-se atendendo àsdemandas das pessoascomuns. Havia carpinteiros eferreiros, tecelões etintureiros, oleiros epedreiros. Seu trabalho eraessencial, mas praticamentetodas as suas obrasdesapareceram, destruídaspelo homem ou pelanatureza. Só os produtos dosoleiros ainda são
abundantes.Ao lado das peças
comuns de artesanato, otrabalho dos especialistastambém desapareceu.Poucas foram as jóiasisraelitas descobertas, e osperfumes e cosméticos
viraram pó há muito tempo.Mas pelo menos um tipo deobjeto feito pelosespecialistas acabousobrevivendo em grandesnúmeros: os selos de pedra.
Antes de os babilônioscriarem os sinetes cilíndricos,as pessoas entalhavamdesenhos em pequenaspedras como marca deidentificação pessoal, paraque pudessem assim gravar
seu selo num pedaço de argilae lacrar uma caixa ou um jarro.No Egito e em Canaã, esseformato de selo era normal, eos israelitas também oadotaram.
Qualquer um que tivessedinheiro poderia comprar um
selo do joalheiro. Seria umapequena pedra, às vezesuma pedra semipreciosa durae com belo colorido, como aametista, a ágata ou acornalina. Selos mais baratoseram feitos de calcário daregião.
O gravador, ou seuaprendiz, poliam a pedra,lapidavam-na para dar a elaum formato oval ouarredondado numa das
faces, e poliam essa facetaaté deixá-la quase plana. Nomeio da pedra, ou na outraextremidade, ele perfuravaum orifício para que elapudesse ser pendurada numcolar ou fixada num anel.
Agora a pedra estava
pronta para o gravador. Eleprecisava trabalhar numasuperfície polida,normalmente de menos de2,2 centímetros de largura.Com brocas finas eminúsculas rodas dotadas debordas afiadas, ele entalhavana pedra o desenhoescolhido.
O freguês queria umdesenho que ele e os outrospudessem reconhecer como
seu, distinto dos das outraspessoas. Assim, o gravadoroferecia suas opções: seráque o cliente gostaria dafigura de um grifo, umaesfinge, um escaravelho aoestilo egípcio, ou uma planta,uma pessoa em postura de
A mão do autor dá uma idéia do tamanho dos minúsculos selos sobreos quais os antigos gravadores trabalhavam com muita perícia.
Selos datados dos séculos VIII a VI a. C. trazem gravada a antiga escrita hebraica; muitos deles são depedras semipreciosas. Carregam o nomedo dono e eram usados para gravar as massas de argilã queselavam recipientes e rolos de papiro. Vários desses selos aparecem à direita.
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O GRAVADOR DE SELOS
adoração ou um deus ou
deusa? Tudo isso pode servisto entre as centenas deselos das coleçõesmodernas.
Algumas pessoasqueriam um selo que fossesomente delas, que ninguémmais pudesse usar. Paraisso, teriam de mandarinscrever seu nome napedra, supondo quesoubessem ler.
Até hoje já se descobriramquase mil selos que levam onome dos donos grafados noantigo alfabeto “fenício”, selos
feitos entre os séculos X e IVa.C. Os selos pertencem amembros de todas as naçõesda região: sírios e fenícios daSíria e do Líbano, amonitas,edomitas e moabitas daTransjordânia, israelitas efilisteus da Palestina.
Muitas vezes o gravadorde selos acrescentava onome da pessoa numa bordaem torno do desenho;portanto, a maioria dossinetes tem uma figura oudesenho e ainda umainscrição.
A maior parte dos selosque podemos identificarcomo hebreus é diferente. Sótrazem uma inscrição.Embora haja selosaramaicos sem desenhos, evários da Transjordânia, aproporção é muito maiorentre os selos hebreus. Arazão talvez seja a tentativa
de obedecer ao mandamento
registrado em Êxodo 20:“Não farás para ti imagem deescultura”.
Geralmente o selo traziao nome do dono e de seu pai.Às vezes um títuloacompanhava o nome dodono: “servo do rei”,“administrador de Fulano”.Os poucos selos gravadospara mulheres seguem omesmo padrão: “filha deFulano”, ou “esposa deBeltrano”.
Mas como podemossaber se um selo é ou não
hebreu? O estudo da escritapode apresentar indícios,mas os próprios nomes são omelhor guia. Israel e seusvizinhos adoravam Deuscomo El (“deus”), usandoesse nome para formar oseu; por exemplo, “Ismael",que significa “Deus ouviu” , eElnatã, “Deus deu” . Nomescomo esses tanto podiam serhebreus como pertencer auma nação vizinha.
Quando o nome dapessoa inclui o nome
especial de uma divindadenacional, a origem do donodo selo é clara. “Camos-Sedeque” e “Camos-Natã”eram evidentementemoabitas, pois Camos era oprincipal deus de Moabe.Selos de “Jeremias",“Joacaz", “Gedalias” com amesma certeza são hebreus,pois o nome de Deus foi
abreviado para “-ias” ou “Jo-” ,ou “Yaw”.
Nesses selos, mais queem quaisquer outros objetosescavados, entramos emcontato com os homens ecom as mulheres do antigoIsrael. A perícia do gravadormanteve vivos seus nomes.
Os selos erampendurados emcolares ou fixados em anéis. O selo- anel (alto) pertenceu a umhomemchamado Safate.
Umselo quesobreviveu (acima) pertenceu a “Neemias, filho de Micaias”, nomes familiares emvirtudedos relatos bíblicos eobviamentecomuns na época
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CASAS COMUNS
A
A típica casa israelita consistia em cômodos construídos em torno de um pátio central. Uma eira plana com parapeito proporcionava mais espaço.
l s luxuosas “casas de marfim” dos reisgeram descobertas empolgantes, quearrebatam a imaginação e trazem famaàqueles que as desenterram. Menos
sensacionais, mas igualmente valiosas parao nosso conhecimento dos tempos antigos,são as ruínas de casas que um diapertenceram à gente comum das cidades.
Os escavadores desenterraram ruínas decasas construídas durante o período dos reisem muitos locais de Israel. Elas confirmam asinformações fornecidas pelos registros escritose, aliadas à observação da recente vida ruralno Oriente Próximo, proporcionam umquadro surpreendentemente completo.
Na maioria das cidades israelitas as casaseram construídas segundo uma mesma plantabásica, mas a disposição dos cômodosnaturalmente dependia do formato do terreno.Moravam na típica casa “israelita” aqueles cujotrabalho lhes dava um meio de vida satisfatório,
fazendo-os razoavelmente prósperos. (Ospobres moravam em casebres de um ou doiscômodos, que poucos vestígios deixaram.)
As casas ficavam em ruas lamacentas,
não-pavimentadas; a porta de entrada davapara um pequeno pátio, talvez calçado comparalelepípedos. Num dos lados, umafileira de colunas de pedra toscamenteesquadrejadas sustentava um teto baixo,formando um estábulo onde os animaispodiam ser confinados à noite. (Nãopodiam ficar soltos nos campos, ondelobos, ursos ou outros animais selvagenspoderiam apanhá-los.) Outra fileira decolunas talvez se erguesse do lado oposto,com pedras ou tijolos entre elas para fazeruma parede; ou talvez ainda houvesseapenas uma parede, com uma porta quedava para um cômodo comprido e estreito.
Ao final do pátio, a largura da casaacomodava mais dois cômodos. É aí queficavam as salas e os quartos principais.Todos os cômodos podiam ser divididospela inserção de paredes divisórias.
No pátio, o dono da casa podiacolocar uma lareira e um forno, sequisesse. Os fornos eram muitas vezesconstruídos de tijolos de barro, e pordentro tinham paredes argamassadas e
lisas. Bolos chatos de massa úmida,espetados nas paredes internas do forno,eram assados pelo calor que as paredesabsorviam de um fogo aceso no fundo.
Cozinhar era uma tarefa diária emtoda casa. A maioria tinha suas própriasprovisões de cereais, guardadas empequenos buracos perfurados no chão,revestidos de pedras ou vime. Um
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CASAS COMUNS
almofariz de pedra bastava para
transformar cevada ou trigo em farinha.Outros mantimentos básicos tambémficavam armazenados nas casas. Grandes
vasos assentados no chão, ou em pedestais detijolos, podiam conter azeite, vinho ou água,ou mesmo secos. O azeite era extraído dasazeitonas em prensas especiais de pedra.
Um grupo dessas prensas encontradonuma cidade faz supor que certa famíliaabastecia vários dos seus vizinhos. Outraspessoas transformavam algodão e linhoem fios, e com eles faziam tecidos. Pesosde argila para os fusos e para manter osfios esticados nos teares foramencontrados nos soalhos.
Os telhados das casas eram planos. Arvores altas eram incomuns, e portantoas vigas do telhado eram bem curtas,tornando os cômodos um tanto estreitos,raramente com muito mais de dois metrosde largura. Galhos e ramos eramestendidos sobre as vigas, e depois vinham
várias camadas de argamassa de barro,compactadas com um cilindro de pedra.
A argamassa de barro também era
usada nas paredes de pedra e de tijolo. Aplicava-se nova camada todo verão, paradeixar a construção impermeável. Issotambém proporcionava uma superfície quepodia ser decorada, ou pelo menos caiada(Ezequiel 13 refere-se à prática). Os tijolosde barro não eram cozidos em forno, masapenas secados ao sol, e sem cuidadoscorretos logo se esfarelavam, ruindo aparede. Uma casa bem cuidada poderiaficar de pé por trinta anos ou mais.
No verão, as eiras planas mostravam-
se adequadas para todo tipo de atividadesdomésticas. Josué (cap. 2) registra que,em Jericó, Raabe estendia ali o linho. Nasnoites quentes, a família muitas vezesdormia no terraço. Uma lei sábia(registrada em Deuteronômio 22) exigiaque toda casa tivesse um parapeito emtorno do terraço, para evitar que alguém,caminhando ali à noite, acabasse caindo.
Podiam-se construir cômodos noterraço para ampliar a casa, mas algumas
habitações tinham de fato um andarsuperior, talvez erguido acima dos cômodosao final do pátio. As escadarias que levavamaos cômodos superiores partiam do pátio,ou, num caso ou noutro, do lado de fora dacasa. Foi um quarto desse tipo que amulher rica preparou para o profeta Eliseu(o relato está em 2Reis 4). Ela o mobilioucom cama, mesa, cadeira e lâmpada, queeram provavelmente os móveis quequalquer quarto teria.
As lâmpadas eram pratos rasos decerâmica, afilados num ponto da borda,formando um bico. No bico ficava umpavio de junco ou trapo, mergulhado noazeite armazenado no prato. A cerâmica
era simplesmente de barro ou terracota.Não se usavam peças vitrificadas, mas asde melhor qualidade eram bem polidasantes de ir ao forno. Isso proporcionavauma superfície bem lisa, facilitando alimpeza.
Os oleiros faziam vasilhas e bacias detodos os tamanhos: grandes e fundas paracozinhar; pequenas e abertas para comer.Fabricavam grande variedade de jarrospara azeite, vinho e água, além depotinhos para perfumes, necessários no
clima quente. Embora a cerâmica fosselisa, era feita com perícia, e os formatossimples têm verdadeira beleza.
Embora ninguém possa afirmar “Estaera a casa de Eliseu” ou “Aquela era a de
Jeremias”, as ruínas que se encontraramlembram-nos que o Antigo Testamentodescreve os feitos de gente real que umdia esteve viva, mostrando a espécie decasa em que moravam e como satisfaziamsuas necessidades básicas.
Cada casa tinha sua lâmpada simples de cerâmica (acima), alimentada com azeitede oliva.
Casas perfiladas ao longo de uma
rua estreita na Berseba da Idadedo Feiro (esquerda).
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NOS TEMPOS ANTERIORES À CUNHAGEM
Para comprar algumacoisa no antigo Israel, erapreciso ter algo para dar emtroca, pois não havia dinheirocunhado (v. “Moedas
juda icas”). Mesmo que o
lojista fixasse preços emsiclos de prata, podia aceitaruma ovelha ou uma camisade mesmo valor.
Para pagar em prata, aspessoas precisavam debalanças e pesos paraverificar as quantidades. Aprata podia ser fragmentosde metal, anéis ou outras
jóias. Portanto, eranecessário haver um sistemade pesos que todosconhecessem.
Em Jerusalém e em
outras cidades,encontraram-se váriospesos antigos. Esses pesossão principalmente depedra, lavrados ecuidadosamente aiisadosnum formato arredondado,com base plana e topoabobadado. Frações
minúsculas de um siclopodiam ter apenas umcentímetro de altura ediâmetro, pesando dois outrês gramas; emcompensação, pesos de
4500 gramas podiamrepresentar 400 ou 500siclos.
Embora os pesospareçam bem-feitos, mesmoaqueles que deveriam pesara mesma coisa variam. Porconseqüência, não se sabeao certo o peso exato de umsiclo. Provavelmente era de11,4 gramas.
A fim de identificá-losmais facilmente, os pesosmenores tinham muitasvezes seu valor inscrito.
Podia ser um número com osinal de “siclo”, ou talvez onome de um peso menor. Ainscrição provavelmente eraobra do gravador de selos.
Além do siclo, doisoutros pesos mencionadosno Antigo Testamento sãoidentificáveis entre os
achados. O primeiro é obeca, o meio siclo que cadaadulto israelita pagava comoimposto ao santuário deDeus.
Ninguém conhecia o
segundo peso, até queexemplares vieram à luz eforam relacionados a umversículo bíblico. Nessespesos está gravada apalavra pim, que significa“dois terços” de um siclo.Essa palavra aparece notexto hebraico de 1Samuel13.21, mas ninguém acompreendia. A Versãoautorizada e a Versãorevisada inglesas atraduzem por “lima”, comuma nota de dúvida.
Com o conhecimentodesses pesos, o significadoda passagem ficou claro, eas traduções hoje dão “Ocusto era de dois terços desiclo”, imposto pelosfilisteus aos israelitas para oreparo das suasferramentas de ferro.
Antes do surgimento do dinheiro cunhado, o pagamento em prata era feito por peso. Isso implicava um sistema de peso quetodos conhecessem. Os pesos de bronzeem
forma de leões, da Assíria (alto), trazem inscrições do nome do rei para quem foram feitos.
O valor dos pesos (acima) está assinalado neles em hebraico. O segundo a partir da direita é um pim.
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NENHUM TESOURO ESCONDIDO
A Pedra Moabita’
Ovelhas —centenas ecentenas de ovelhas! Ossecretários do rei foramencarregados de verificarse chegara o númerocorreto, e eis a quantidadetotal: cem mil ovelhas. Alémdas ovelhas, havia lã deoutros cem mil carneiros. Orei de Israel ficou satisfeito.Tudo isso era tributo de umvassalo seu, o rei deMoabe.
Naturalmente osmoabitas se ressentiammuito desse imposto.Ressentiam-se do jugo deIsrael. Finalmente chegava omomento em que podiamrejeitá-lo.
O homem que colocaraMoabe nessa situação eraOnri, o rei de Israel quehavia construído a novacapital de Samaria. Acabe,seu filho, manteve o jugo,
mas ao final do seu reinadoele se juntou a outros reisnuma batalha inacabadacontra os assírios, e logodepois foi morto quandocombatia o rei de Damasco.O filho que o sucedeu caiude uma janela e morreu.
Aí estava a oportunidadeideal de Moabe conquistarsua independência. Mesa, reide Moabe, insurgiu-se contraIsrael. O segundo filho deAcabe, Jorão, agora rei deIsrael, conduziu uma
campanha para sufocar arevolta. Embora seu exércitoalcançasse a capital moabita,suas forças retiraram-se sema tomar. Moabe estava livre.
A Bíblia e os registrosassírios é que dão essainformação. E mais notíciasvêm do lado moabita.
Mesa, rei de Moabe,conseguiu sacudir o jugo desrael, reconquistar parte do
território moabita ereconstruir algumas das suascidades. Ficou tão orgulhosodas suas proezas, quemandou gravar a histórianuma laje de pedra. Depoiserigiu a esteia na cidadela deDibom, sua terra natal.
Como muitas outrasinscrições antigas, começaapresentando o rei: “Eu souMesa, filho de [...], rei de
Moabe, o dibomita”. A
narração segue quaseintegralmente na primeirapessoa. “Eu combati, eumatei, eu tomei, eu construí.”
Mas o rei não acreditavaque vencera somente comsuas forças. Explica queconstruiu o lugar alto ondese erguia a esteia paraCamos, o deu nacional deMoabe. O rei estavahomenageando seu deus
“porque ele me livrou de
Pensando quepudesseencerrar um tesouro, gente da região usou fogo e água para abrir a “Pedra Moabita”. Mas o “tesouro”era a própria pedra e sua inscrição.
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TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
Nos tempos antigos muitas vezes era função dos escribas contar e registrar os tributos. Esses dois escribas são da Assíria.
todos os reis e porque mepropiciou a vitória sobretodos os meus inimigos”.
Diz ele que Israel subjugaraMoabe porque Camos se haviairritado com Moabe no passado.Então Camos lhe disse quecombatesse Israel paraarrancar a cidade de Nebo dasmãos dos israelitas. Mesa saiuà noite, combateu a manhãinteira, tomou a cidade e matousete mil pessoas. Dedicou-a
como oferenda ao seu deus.Objetos pertencentes aYahweh, o Deus de Israel,Mesa os levou como presente aCamos. O rei conquistou outraslocalidades, e os prisioneiroscapturados foram forçados atrabalhar na cidadela de Dibom.
A inscrição está grafadaem antigas letras fenícias,também usadas para escrevero hebraico. Sua língua é muitosemelhante ao hebraico doslivros de Juizes, de Samuel ede Reis. As idéias são
semelhantes às cultivadaspelos antigos israelitas.
Quando seu Deus seirritava com eles, inimigoscomo os filisteus osatacavam e subjugavam.Depois Deus inspiravalíderes para libertar seu povo
—os juizes, Saul e Davi.Como Mesa, os reis
israelitas também forçavam
os prisioneiros inimigos atrabalhar nas suas obras.
Assim como Mesa dedicou acidade de Nebo a Camos,também Josué separouJericó. Tudo o que nela haviapertencia a Deus.
A inscrição de Mesaapresenta alguns problemaspara o estudioso moderno.Isso não é incomum quandose lêem textos antigos,comparando dois relatos defatos descritos segundoperpsectivas diferentes.Mesa não identifica o rei quegovernava Israel por ocasião
da sua vitória. Paradesespero dos historiadores,suas palavras são vagas:“Onri tomou o território deMedeba e (Israel) viveu alidurante seus dias e metadedos dias do seu filho,quarenta anos”. Onri reinou12 anos (c. 884-873 a.C.),seu filho Acabe, 22 anos (c.873-853 a.C.) —bem menosque o total de quarenta anos.Será que devemosinterpretar “quarenta anos”como um número redondo,
ou como uma “geração”?Será que as palavras “filho” e“metade” não significamsimplesmente “descendente”e “parte”?
Na verdade, quarentaanos contados a partir de umponto qualquer do reinado deOnri terminam no reinado deJorão (c. 852-841 a.C.), ofilho de Acabe que nãoconseguiu reconquistarMoabe. Mesa pode tererigido seu monumento logodepois disso.
O monumento de Mesa,hoje conhecido como“Pedra Moabita”, está noLouvre, em Paris. Aprincípio tinha mais de 1,15metro de altura e 68centímetros de largura nabase. Hoje é uma reuniãode fragmentos danificadosde basalto negro. Noentanto, quando foi
encontrado estavapraticamente perfeito. A
história da sua descobertailustra a vida perigosa demuitos monumentosantigos.
Em 1868, um missionárioalemão viu a pedra nasruínas de Dibom.Provavelmente foraincorporada a um edifícioposterior. No ano seguinteum estudioso francês emJerusalém pediu a um árabeque copiasse algumas linhasda escrita. Isso o fezperceber a importância da
pedra. A seguir mandougravar uma impressão empapel de toda a pedra edispôs-se a tentar comprá-la.
Para o povo da região,era somente uma pedra. Ainscrição nada significavapara eles. Deveria haveralgum tesouro lá dentro,pensaram. Então aquecerama pedra com fogo, depois
jogaram água f ria sobre ela.A laje se espatifou, comoeles pretendiam, mas nãohavia nenhum tesouro
escondido lá dentro.O francês Clermont-
Ganneau determinou-se areunir todos os pedaços queconseguisse, comprando-osdos habitantes da região.Embora tenha recuperadosomente cerca de trêsquintos deles, foi capaz derestaurar as partes faltantesa partir da impressão empapel, e assim pôde ler ahistória do triunfo de Mesa.
De toda a região deIsrael, Judá, Edom, Moabe
ou Amom, a “Pedra Moabita”é o único monumentoconhecido de seu gênero. Seexistiram outros, o que éprovável, ainda estãoenterrados ou então já foramdestruídos, como quaseaconteceu ao de Mesa.
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O PREÇO DA PROTEÇÃO
O “Obelisco Negro”
A escavação jácomeçara havia alguns dias.Nada de interessante haviasurgido. Era novembro de1846. Henry Layard, quedirigia os trabalhos, teve dedeixar o monte das ruínaspara uma tarefa qualquer.
Antes de sair conversoucom os operários. Eleshaviam cavado um fosso de
mais de 15 metros decomprimento. O solo era duroe seco, e os homensmostravam-se desanimados.Layard disse-lhes quecavassem um dia ainda, atéele voltar. Depois partiu acavalo.
Mal tinha deixado omonte, quando um operárioofegante o alcançou. Haviamencontrado algo naescavação. Ele tinha de ir láolhar.
Layard voltou, apeou, e
desceu até o fundo do fosso.Ali jazia um bloco de pedranegra polida, entalhada ecom inscrições. Sob o olharatento de Layard, mãosávidas o içaram para foracom cordas. Era uma colunaou obelisco de quatro lados,de dois metros de altura,com cinco painéis depequenas figuras em cadaface, além de linhas e linhasde sinais cuneiformesgravados com precisão.
O próprio Layard fezdesenhos meticulosos dasfiguras e das inscrições;depois embalou o obe lisco eo despachou para aInglaterra. Hoje está noMuseu Britânico, emLondres, ao-lado de outrosmonumentos que Layarddesenterrou.
Se ele tivesse dadoouvidos aos seus homens e'lterrompido a escavação
antes de partir naquele dia, o“Obelisco Negro” ainda podiaestar enterrado nas ruínasda antiga cidade assíria deCalá (hoje chamada Nimrud).
Quando encontrou oobelisco, Layard nãoconseguiu ler as inscrições,nem ninguém mais. Mandouimprimir rapidamente osdesenhos, enviando-os a
estudiosos que tentavamdecifrar a escrita cuneiforme.Quase ao mesmo tempo,dois deles conseguiram leralgumas das palavras dapedra.
O primeiro foi umretraído religioso da Igreja daInglaterra, Edward Hincks,que morava na Irlanda. Eletrabalhava silenciosamentena sua paróquia, e vez poroutra no Museu Britânico. Osparoquianos provavelmentenão sabiam que seu
sacerdote, que passava tantotempo debruçado sobregrandes livros em línguasestrangeiras, estavadeslindando um dosmistérios mais persistentesda história antiga. Hincks eLayard eram amigos, e foiHincks quem conseguiurevelar a Layard o significadode muitas das inscriçõesencontradas.
O outro grandedecifrador da época eraHenry Rawlinson (v. “Ossegredos da rocha deBeístum”).
Ambos descobriram queo “Obelisco Negro” registraos triunfos de um rei assírio,triunfos descritos pelasinscrições gravadas acimade cada fileira de figuras.
Estudando o texto, osdecifradores descobriramque a primeira fileira depainéis está identificada
como o tributo de um rei donoroeste da Pérsia. Esse rei,ou seu embaixador, apareceajoelhado diante do reiSalmaneser, atrás do qual sevêem seus áulicos.
Nos outros painéis,servos conduzem um cavaloe dois camelos, ecarregadores levam outrascoisas como exemplares do
tributo que esse rei dá àAssíria.
A segunda linha defiguras revelou-se maisempolgante. No primeiropainel, outro homem seajoelha para beijar o chãoaos pés do rei da Assíria.Treze homens acompanham
Em1845, os homens quetrabalhavam para Henry Layard no sítio da antiga cidade assíria deCalá (Nimrud) desenterraram um bloco de pedra negra polida, entalhada e com inscrições.O “Obelisco Negro" registra os triunfos do rei assírio Salmaneser.
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TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
O primeiro painel na segunda linha de figuras (acima à direita) provocou sensação. O texto acima da figura ajoelhada enumera tributos entregues ao rei por “Yaua,
filho de Humri”, ou seja, Jeú, quese apoderou do trono no lugar deum descendente de Onri, rei de
Israel. O monumento assírio lança novas luzes sobreo reinado de umsoberano bíblico.
O “Obelisco Negro” é o único monumento descoberto até hoje quemostra os israelitas (representados acima) levando tributo a um rei assírio.
os cortesãos assírios,carregando o tributo. Acimadas figuras lê-se a inscrição:“Tributo de Yaua, filho de
Humri: recebi prata, ouro, umvaso de ouro, um copo deouro, cálices de ouro,cântaros de ouro, chumbo,um bordão real, um dardo”.
Não foi difícil identificar onome do rei que mandou ospresentes. Yaua é a formaassíria de Jeú, rei de Israel, eHumri é Onri, que fundou acapital israelita em Samaria.
Eis um elo importanteentre um monumento assírioe a Bíblia —fato que Hincks eRawlinson perceberam
imediatamente.Antes de examinar outros
detalhes dessa questão, éimportante analisar as outrasilustrações. Não aparece maisnenhum mensageiroajoelhado, mas vê-se umavariedade de tributos. Aterceira linha traz doiscamelos, três animais decornos, um elefante, doismacacos e dois chimpanzés.Todos esses vinham do Egito,sendo talvez rinocerontes osanimais cornudos, os quais
eram destinados ao zoológicoreal. Os reis assíriosadoravam colecionar animaise plantas incomuns.
Depois da cena de um
leão matando um veado, aquarta linha de figuras ilustrao tributo de um rei que viveuna seção mediana do rio
Eufrates. Assemelha-semuito às duas primeirasrepresentações de tributos,com o acréscimo de roupasdobradas.
Na linha final a procissãode carregadores traz o tributode um estado da costa daSíria, bastante sim ilar aotributo de Jeú.
Os entalhadores depedra assírios talvez jamaistivessem visto antes algunsdos animais enviados peloEgito, e portanto podem não
ter esculpido com muitaprecisão as figuras na pedra.Mas tiveram, sim, o cuidadode dar a cada grupo detributários roupas diferentes,e é provável que estivessemtentando representar osdiversos costumes nacionais.
Nas 190 linhas deinscrições no alto e na baseda coluna, Salmaneser relataos triunfos do primeiro aotrigésimo primeiro ano doseu reinado (857-826 a.C.).Foi no décimo sexto ano, 841
a.C., segundo explicamoutros registros deSalmaneser, que Jeú pagouseu tributo. Ora, Jeú não eraum príncipe de Israel. Era um
soldado, que matou o reiJorão, descendente de Onri.Jeú também matou o rei deJudá. O Segundo livro de
reis, capítulo 9, narra ahistória.
Os outros registros deSalmaneser e os relatosbíblicos, se reunidos, indicamque os assassinatosperpetrados por Jeú contraos dois reis e sua ascensãoao trono de Samariaaconteceram no mesmo anoda homenagem prestada àAssíria. Ele pode muito bemter pensado que teria umaposição mais segura secontasse com a proteção da
Assíria. A Bíblia nada dizsobre esse aspecto doreinado de Jeú; não erarelevante para os propósitosdo historiador hebreu.
O “Obelisco Negro” éainda o único monumentoque traz esculpidas cenasem que israelitas levamtributo a um rei assírio.Desde os tempos dosprimeiros estudosempreendidos por Hincks eRawlinson, ele tem ocupadoum lugar de destaque entre
os documentos assíriosrelacionados ao AntigoTestamento, além de serpor si só uma importanteobra de arte.
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“E VIERAM OS ASSÍRIOS...”
Numa caixa de vidro do MuseuBritânico, em Londres, há um prisma ocode argila marrom. Em cada uma das suas
seis faces vêem-se linhas e mais linhas debela escrita cuneiforme. Essa peça decerâmica de aparência grosseira, de quase37,5 centímetros de altura, é uma dasmuitas inscrições que registram os sucessosdo rei Senaqueribe, que governou a Assíriade 705 a 681 a.C. O representante dogoverno britânico em Bagdá, certo coronelTaylor, adquiriu o exemplar em Nínive em1830, e a peça entrou no museu em 1855,passando a ser conhecida como “Prisma deTaylor”.
Os reis assírios mandavam escreveresses registros para enterrá-los nasfundações dos templos, palácios e portõesde cidades que construíam oureformavam. Esperavam que seussucessores os encontrassem no futuro, e,lendo-os, percebessem que grandeshomens haviam sido eles. Dessa forma amemória de um rei como Senaqueribe semanteria viva. Isso explica o tom dasinscrições. Soam bastante vaidosas earrogantes, nada falando senão das proezase vitórias que o rei alcançara, dos inimigosque executara e do saque que levara paracasa.
Um estudo mais atento leva a crer queesses reis não eram de fato os imperialistasruidosos e valentões que parecem àprimeira vista. Justificavam suas guerrasmuito freqüentemente com a alegação deque seu deus nacional lhes ordenara lutar.Muitas vezes, também, saíam à guerrapara sufocar reis vassalos rebeldes. Essa é a
razão de todas as guerras de Senaqueribedescritas pelo “Prisma de Taylor”.
Entre aqueles que Senaqueribe atacou
estava Merodaque-Baladã, rei daBabilônia. Depois de batalhas anteriores,ele aceitara a presença assíria naBabilônia, mas, quando Senaqueribetornou-se rei, ele já havia feito umaaliança com inimigos da Assíria a leste.Também tentou ganhar o apoio de outros
vassalos da Assíria, inclusive o reiEzequias, de Judá, bem a oeste.
O livro bíblico de Reis conta queEzequias recebeu com honras osmensageiros de Merodaque-Baladã, e
pode ser que sua visita tenha sido uma
Notempo do rei Ezequias, de Judá, os assírios bateramàs portas da própria
Jerusalém. A capital não caiu —mas Laquis, ao sul, foi tomada depois deum cerco. O rei Senaqueribedecorou as paredes do seu palácio em Nínivecom cenas do dramático desfecho. Aqui os habitantes saemsob a chuva dos projéteis.
O embaixador do rei Merodaque- Baladã, da Babilônia (o rei retratado abaixo), recebe as boas- vindas na cortedo rei Ezequias. Umséculo mais tardeera Babilônia, enão mais a Assíria, a principal ameaça.
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TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
das razões da rebelião de Ezequias contra a Assíria, pois Ezequias de fato se insurgiu, e
Senaqueribe, depois de tratar da questãobabilônica, marchou rumo ao oeste.
O rei assírio relata que desceu pela
O poder da orgulhosa Assíria está expresso nessa estátua do rei
A ssurbanipal II, do século IX a. C.
costa do Mediterrâneo em 701 a.C.,encontrando vários reis locais que se
inclinaram diante dele. Acaboualcançando território filisteu, a sudoestede Israel e de Judá.
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“E VIERAM OS ASSÍRIOS..
Certo soberano, o rei de Ascalom,
recusou-se a submeter-se, e assimSenaqueribe o depôs, despachando-o paraa Assíria com toda a sua família. Umhomem que já governara antes Ascalom,sob proteção assíria, foi feito rei.
Outra cidade filistéia, Ecrom,também se revoltou. Alguns dosprincipais cidadãos haviam amarrado seurei, que era leal à Assíria, entregando-o aEzequias, rei de Judá, em Jerusalém. Osrebeldes chamaram o Egito para ajudá-los, mas o exército assírio venceu abatalha em Elteque, e Ecrom foi
conquistada. Senaqueribe executou oslíderes da rebelião e levou cativos seusdefensores, deixando livres os outros.Depois colocou de novo no trono o reique fora aprisionado em Jerusalém.
Embora as inscrições de Senaqueribealudam a esses acontecimentos um apóso outro, a libertação do rei de Ecrom
pode ter ocorrido só depois do estágio
final da campanha.Um dos rebeldes permaneceurevoltoso. Ezequias, de Judá,evidentemente o líder da revolta, resistiana sua capital, Jerusalém. Senaqueribeconquistou todo o território de Judá ecercou a capital. Seu registro narra ahistória (v. “Como passarinho na gaiola”).
São vários os pontos notáveis.Embora suas tropas tenham cercado
Jerusalém de modo que ninguémpudesse entrar ou sair da cidade, não hárelato de ataque contra a cidade, como
há contra as “46 cidades fortementemuradas”, ou contra as outras cidadesrebeldes. Senaqueribe afirma queEzequias acabou rendendo-se, pagandopesado tributo, embora não relate queseus soldados tenham entrado em
Jerusalém, nem que ele mesmo tenhaencontrado Ezequias.
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TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
“COMO PASSARINHO NA GAIOLA”
Senaqueribe ataca Jerusalémde Asdode, a Padi, rei deEcrom, e a Sil-Bel, rei deGaza, reduzindo assim oreino de Ezequias. Além dotributo anual anterior,ímpus-lhes novo tributoadequado à minhasuserania sobre eles. Otemor do meu imperiosoesplendor esmagouEzequias. Os guerreiros etropas de elite que eleconvocou para fortalecer
sua cidade, Jerusalém,não combateram. Elemandou para mim emNínive, minha cidade real,trinta talentos de ouro,800 talentos de prata, omelhor antimônio,grandes blocos de pedravermelha, camasdecoradas com marfim,cadeiras decoradas commarfim, couro e presasde elefante, ébano,madeira de buxo,preciosidades de todotipo, e suas filhas,
mulheres do seu palácio,cantores e cantoras.Mandou seu mensageiropagar tributo e prestar-me homenagem.”
O ataquedo rei Senaqueribecontra Jerusalém está registrado no
“Prisma de Taylor”.
Senaqueribe legou aos reisposteriores um relato doseu ataque contra Judá. Eisabaixo a tradução:
“Quanto a Ezequias, o judeu que não se submeteuao meu jugo, cerquei-o econquistei 46 das suascidades fortementemuradas, além deincontáveis pequenaspovoações em torno delas,
por meio de rampas deterra e máquinas de sítio,além de ataque deinfantaria, escavações,invasões e escaladas. Leveideles, contando comodespojo, 200150 pessoasde todas as posições,homens e mulheres, alémde cavalos, mulas,
jum entos , cam elos, gado eovelhas. O próprio rei,confínei-o em Jerusalém, acapital do reino, comopassarinho na gaiola.Cerquei-o com sentinelas
para que ninguém pudesseentrar ou sair da cidade. Ascidades que saqueei, tirei-as do território de Judá eentreguei-as a Mitinti, rei
O fato mais intrigante vem no final.Ezequias enviou a Senaqueribe seumensageiro e todo o tributo “mais tarde, paraNínive”. O exército assírio não o carregoupara casa tri infante, da maneira usual.
Também o Antigo Testamento dá a
conhecer esse episódio. A história énarrada em detalhes duas vezes, em 2Reis18 e em Isaías 36 e 37 (e de modoresumido em 2Crônicas 32). A leitura dorelato bíblico lado a lado com o deSenaqueribe revela que são muitas asdiferenças. No entanto, ambas claramentetratam dos mesmos acontecimentos.
As diferenças não são surpreendentes,pois os relatos vêm de lados opostos. Além
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disso, nenhum deles segue necessariamentea cronologia correta dos fatos.
Segundo os autores hebreus,Senaqueribe ameaçou Jerusalém, tentoupersuadir os habitantes a abrir osportões e tentou intimidar Ezequiaspara levá-lo à rendição, mas fracassou.
Jerusalém permaneceu intacta. Ezequiasrecebia a garantia de Deus, por meio doprofeta Isaías, que o encorajava aresistir. E ele não caiu!
Um versículo famoso expõe ainterpretação do historiador hebreu: saiu oanjo do Senhor, e feriu no arraial dos assírios acento e oitenta e cinco mil deles. Levantando-se os assírios pela manhã cedo, viram que
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“E VIERAM OS ASSÍRIOS.
todos estes eram cadáveres. AssimSenaqueribe, rei da Assíria, levantou oacampamento e partiu. Voltou e ficou emNínive” (2Rs 19.35,36).
O que realmente aconteceu não
podemos descobrir. Não temos bonsmotivos para duvidar desse relato de umacatástrofe que encerrou abruptamente acampanha assíria. E compreensível queSenaqueribe não tenha deixado registrosde tamanho desastre para seus sucessores,pois isso o desabonaria.
Uma queda aguda e abrupta daforça do seu exército, levando a umarápida retirada, explicaria por queSenaqueribe não afirma ter conquistado
Jerusalém e por que recebeu a submissão
de Ezequias por meio de um mensageiro,em Nínive.
Ainda outro fato faz supor queSenaqueribe não conseguiu conquistar
Jerusalém. No seu palácio, em Nínive, umdos cômodos estava decorado com lajes depedra entalhadas que ilustravam a
campanha contra Judá. As ilustraçõesconcentram-se na conquista de uma cidade,que não é Jerusalém, mas sim a fortaleza deLaquis, ao sul. Se os assírios tivessemconquistado Jerusalém, a proeza certamentefiguraria nas paredes do palácio. Mas não:foi Laquis que ganhou destaque.
O “Prisma de Taylor” de Senaqueribee seus paralelos são o exemplo maisextenso de um fato da história hebréiacontado segundo a visão do inimigo. Ébastante valioso como auxílio para a
compreensão dos textos bíblicos e acabaconcordando com eles.
Nessa cena da época da maior influência assíria, o rei Assurbanipal lidera uma caçada aos leões.
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O TÚNEL DO REI EZEQUIAS
O túnel serpenteia pela rocha da fonte ao tanque.
Em1880, um menino notou algumas palavras gravadas na parede do túnel queconduzia ao tanque. A inscrição relata queduas turmas de operários, partindo de extremidades opostas, cavaram a rocha e se encontraram no subterrâneo.
Durante anos asmulheres de Jerusalém
lavaram roupa no tanque ao
sul da cidade. A água vinhade um túnel, e as criançascostumavam brincar dentro
do tanque. Alguns dos
meninos gostavam de entrar
na escura passagem.
Um dia, em 1880, umdeles, levando um lampião,avançou mais que o usual. À
luz bruxuleante da chama,ele notou algumas palavrasentalhadas na parede
rochosa. Voltando, contou
sua descoberta.
Ninguém havia vistoantes essa inscrição, e logo
ela foi estudadacuidadosamente. A água que
corria pelo túnel deixaradepósitos calcários sobre a
inscrição, mas depois delimpa a parede, apareceram
seis linhas de clara escrita
hebraica.Elas relatam como duas
turmas de operários cavaram
um túnel na rocha. As turmas
começaram trabalhando em
extremidades opostas e
acabaram se encontrando no
subterrâneo. O texto diz que
uma turma ouvia as picaretas
da outra na rocha, sabendo
assim que caminho seguir.
O túnel vai de uma fonte
situada no lado oriental dacidade, no vale de Cedrom,
até o tanque. As pessoas já oconheciam havia muitotempo, desde que EdwardRobinson, famoso explorador
americano da Palestina, fez aprimeira sondagem
meticulosa do túnel em 1838.
Ele provou que a água corria
da fonte da Virgem até o
tanque, e não o contrário,
como alguns pensavam.Com seus amigos, ele
conseguiu atravessar toda aextensão do túnel. Em alguns
locais, tinha de 4,5 a 6
metros de altura, e em outrosera tão baixo, que os
exploradores tinham de secontorcer para passar,
deitando-se no chão earrastando-se sobre oscotovelos. Desde então tem-
se limpado o limo do leito, e já não é tão d ifícil caminhar
pelo túnel.Robinson acreditava que o
túnel tivesse cerca de 366
metros, numa linha quase reta.Por isso ficou surpreso ao
medir 534 metros. A razão éclara: o túnel serpeia como ums. Há outra curvatura duplaperto do trecho médio,
evidentemente o ponto em queas duas turmas de operários
se encontraram. Caso não
tivessem ouvido as picaretasuns dos outros, o plano faz crer
que de fato poderiam não ter-
se encontrado!
Não se sabe ao certo por
que o túnel tem uma
trajetória tão sinuosa. Apesar
da carência de bússolas, os
antigos engenheiros
poderiam ter mantido uma
linha reta pela simples
observação a partir das
extremidades. Talvez tenham
seguido um curso de água
subterrâneo e as falhas da
rocha em partes do trabalho.
O túnel foi aberto para
levar água de uma parte da
cidade a outra. Isso é óbvio.A inscrição que o menino
encontrou praticamentecinqüenta anos depois da
sondagem de Robinson
indica a época em que o
túnel foi feito e a razão dasua abertura.
A inscrição entalhada éum belo exemplo da antigaescrita cursiva hebraica
corrente antes do exílio.
Desde a época dadescoberta, os estudiosos a
ligaram ao rei Ezequias, de
Judá, pouco antes de 700a.C. Em anos recentes, a
recuperação de outros
antigos documentoshebraicos mostrou que oformato das letras pertence a
essa data. Entre eles está a
gravação em argila de umselo que pertenceu a um dos
funcionários de Ezequias,
“Jeoserá, filho de Hilquias,
servo de Ezequias”. (Hilquiasé mencionado em 2Reis 18.)
O elo com Ezequias
deriva de registros do AntigoTestamento que afirmam ter
Ezequias feito uma piscina e
um canal em Jerusalém. Em2Reis 20.20 lê-se: “Ora, orestante dos atos de
Ezequias, e todo o seu
poder, e como fez a piscina eo aqueduto, e como fez vir aágua à cidade, porventura
não está escrito no livro dascrônicas dos reis de Judá?”.
O Segundo livro de
crônicas, capítulo 32, nos
versículos de 3 a 4, diz:"...
teve [Ezequias] conselho
com os seus príncipes e os
seus homens valentes, paraque se tapassem as fontes
das águas que havia fora da
cidade, e eles o ajudaram.
Assim muito povo se ajuntou
e tapou todas as fontes,
como também o ribeiro que
corria pelo meio da terra”.
O versículo 30 acrescenta:“Foi Ezequias quem tapou o
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O TÚNEL DO REI EZEQUIAS
!|ÉI $
manancial superior das águas
de Giom, e as canalizou para
baixo para o ocidente dacidade de Davi. Ezequias
prosperou em tudo o que se
propôs a fazer”.Hoje o tanque fica aberto
ao ar livre, fora da muralhaturca de Jerusalém. Quando
os homens de Ezequias ocavaram, o tanque talvez fosse
aberto, alcançado por degraus
entalhados nas bordas, ou
talvez totalmente subterrâneo.
Na época ficava dentro dosmuros da cidade, pois a partemais antiga de Jerusalém foi
construída acima da fonte da
Virgem, a fonte de Giom do
Antigo Testamento, quefornecia água aos habitantes.
Um grego, que queriaficar rico vendendo ainscrição, cortou-a da rochaem 1890, quebrando-a. As
autoridades turcas, que
controlavam Jerusalém,
confiscaram a inscrição, hojeexibida no museu deantigüidades de Istambul.
O reservatório chama-se
tanque de Siloé, mas não sesabe ao certo se é o mesmo
tanque mencionado noevangelho de João, no
capítulo 9, como aquele emque Jesus mandou o cego selavar. Talvez fosse outrotanque, ligeiramente ao sul.
Para proteger Jerusalém contra um cerco, o rei Ezequias mandou cavar um túnel em rocha maciça a fim de trazer água da fonte de Giom(acima à esquerda) para dentro dos muros da cidade. Depois o curso de água doi tapado.
O túnel hoje canaliza a água para o tanquede Siloé(acima).
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“NÃO VEMOS OS SINAIS”
minúsculo reino de Judá estava emapuros. Seu piedoso rei Josias fora mortonuma batalha que jamais deveria terpelejado. Seu conquistador, o rei do Egito,impôs como rei vassalo o filho de Josias.
Apenas quatro anos mais tarde, oexército da Babilônia derrotou os egípciosem Carquemis, bem ao norte. Osbabilônios então desceram ao sul paraconquistar as cidades da Fenícia, dosfilisteus e de Judá. Então o rei de Judápassou à condição de vassalo do rei daBabilônia.
Embora contasse com poderososexércitos, a Babilônia era distante. O Egito,entretanto, era vizinho a Judá. Depois deos babilônios terem voltado para casa,
Jeoiaquim, rei de Judá, deu ouvidos aosmensageiros do faraó que com ele insistiampara que rompesse o acordo que o prendiaà Babilônia, passando novamente para olado egípcio. Em Jerusalém, o profeta
Jeremias tentava convencê-lo a não entrarem acordo, mas sem sucesso. Renovou-se aaliança egípcia.
Como o profeta havia advertido, o reiNabucodonosor, da Babilônia, agiu rápido.
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Enviou tropas locais para submeter orebelde. Mas, como esses ataques nãosurtiram efeito duradouro, o exércitobabilônico marchou até Jerusalém paraacertar as contas.
Jeoiaquim morreu em Jerusalém, e seufilho, Joaquim, tornou-se rei. Este reinousomente por três meses, pois os babilônioslogo o capturaram, tomando a capital.Levaram cativos o jovem rei e seusprincipais homens para Babilônia, pondono trono Zedequias, tio de Joaquim.
Por incrível que pareça, Zedequias fezexatamente o que fizera Jeoiaquim.Deixou-se levar pelas intrigas egípcias, e lá
vieram novamente os babilônios.
Nabucodonosor já não podia deixar que opovo de Judá tivesse um rei. Era precisopôr fim a essa contínua insolência.
Seu exército deitou cerco a Jerusalém ea tomou. Os soldados derrubaram osmuros da cidade, pilharam o templo deSalomão e o incendiaram. AgarraramZedequias quando ele tentava fugir,mataram seus filhos à vista dele e depois ocegaram. Todas as pessoas ricas e hábeisforam levadas para o exílio na Babilônia,ficando encarregado da cidade um
governador local sob supervisão babilônica.Essa é a história dos últimos 25 anos doreino de Judá, segundo nos contam aBíblia e os documentos babilônicos.
A arqueologia pode acrescentar algo aesses relatos. De 1932 a 1938, uma equipebritânica escavou o impressionante cômorosituado entre Hebrom e Ascalom. Crê-seque as ruínas são da antiga cidade deLaquis (v. tb. “E vieram os assírios...”).
o
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“NÃO VEMOS OS SINAIS”
Num ponto na beirada do cômoro, as páslogo atingiram restos de muros de pedra.Eram as ruínas do portão da cidade. Ochão da sala da guarda estava coberto deentulho e cinzas, provas de destruiçãopelo fogo. O incêndio havia tambémconsumido algumas casas toscas ali perto.
Em face do estilo dos vasos quebradosque jaziam sob os portões, é quase certoque a destruição foi resultado de um dos
assaltos babilônicos contra Judá. Amaioria dos arqueólogos crê que esse foi oúltimo ataque, aquele no qual Jerusalémfoi saqueada. Os muros queimados e os
vasos quebrados são lembranças dodesastre que a invasão trouxe às pessoascomuns de Laquis. Suas casas jamaisforam reconstruídas.
Alguns cacos de cerâmica encontradosno recinto contíguo ao portão dão vida ao
Nesse“tell”, as ruínas da antiga Laquis, muros queimados e vasos quebrados são uma lembrança do desastroso ataquequeseus habitantes sofreram em mãos assírias.
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TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
Emcacos de cerâmica encontrados no recinto contíguo ao portão lêem- se relatórios de um soldado judeu ao seu comandanteem Laquis. As
notícias eram enviadas via sinais de fumaça.
passado. Um oficial subalterno do exército judeu havia enviado relatórios do seu postoavançado ao comandante em Laquis. Erammensagens curtas escritas com tinta sobrecacos de cerâmica. A língua é um bomhebraico, como o do Antigo Testamento. Aescrita revela como era o hebraico daépoca. As profecias de Jeremias e deEzequiel teriam sido escritas em linguagemsemelhante. A parte uma lista de nomes
descoberta em cacos de cerâmica em Jerusalém, eram os primeiros exemplos daantiga escrita comum hebraica que sedesenterravam em Judá. De lá para cádescobriram-se outros em locais diferentes.
As cartas são simples. Numa delas, ooficial parece dizer que não é tão estúpidoquanto acredita seu comandante —afinal,ele sabe ler! Outra registra a chegada de umgeneral a caminho do Egito, eco das tramasentre Judá e o faraó. Há também mençãode um aviso profético que chegara porcarta e que o autor está enviando.
Ao todo são dezoito cartas,algumas muito malconservadas —a
tinta desbotou ou foi apagada. Umatalvez venha dos últimos momentos daguarnição. O oficial relata queescreveu tudo o que fora instruído aanotar numa tabuinha ou na colunade um pergaminho, que determinadohomem fora levado à cidade (talvez
Jerusalém) como prisioneiro, etermina dizendo que “estamosesperando orientação de Laquis,seguindo os sinais que o senhor nosdeu, mas não vemos Azeca”.
Essas últimas palavras parecem referir-sea um sistema de transmissão de informaçõesde um local para outro via sinais de fumaçaou de fogueira. Azeca está identificada comolugar cerca de 15 quilômetros ao norte deLaquis. O oficial estava num posto do qualpodia ver as duas cidades. Sinais de fumaçaseriam especialmente importantes comoalerta de invasão. (Em 1803 a Grã-Bretanhaimplantou uma cadeia de sinalizadoresexatamente para o mesmo fim, em caso deum ataque de Napoleão.)
O profeta Jeremias aconselhou o rei
Zedequias a mudar suas políticas nummomento em que “o exército do rei daBabilônia pelejava contra Jerusalém, e contratodas as cidades de Judá, que ficaram deresto, contra Laquis e contra Azeca. Estascidades fortificadas foram as únicas queficaram dentre as cidades de Judá”.
E tentador pensar que esse caco decerâmica aparentemente insignificantecarrega uma mensagem desses últimosdias, quando as tropas babilônicasfechavam o cerco.
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NABUCODONOSOR, REI DOS JUDEUS”
Os exploradores que escavaram asruínas dos palácios de Senaqueribe e deoutros reis assírios contam todos a mesma
história. Os magníficos salões e pátiosornados com lajes de pedra esculturadasforam saqueados e queimados, ficandodestruídos. Aquilo que os saqueadoresnão conseguiram levar, deixaram para osanimais selvagens e as intempéries.Extinguiu-se a glória da Assíria.
Em lugar da Assíria, ergueu-se odomínio da Babilônia. Encontram-sereferências a esses acontecimentos numaspoucas tabuinhas babilônicas, na Bíblia eem alguns relatos gregos. Depois de 640
a.C., a Assíria enfraqueceu-se. Do leste,das montanhas da Pérsia, atacaram osmedos e seus aliados. Do sul, vieram asforças babilônicas, comandadas pelossucessores de Merodaque-Baladã, o reique Senaqueribe havia derrotado.
Depois de várias batalhas, essas forçasuniram-se para pôr fim ao poder assírio,conquistando Nínive em 612 a.C. Os
vitoriosos dividiram o Império Assírio —os medos tomaram a região montanhosaa leste e ao norte, e os babilônios ficaramcom a Mesopotâmia, a Síria e a Palestina.
Uma terceira força, o Egito, tentouficar com alguns dos espólios, mas osbabilônios esmagaram os egípcios emCarquemis, em 605 a.C. O comandantedo exército babilônico naquela batalha foiNabucodonosor. Ele tornou-se rei daBabilônia no mesmo ano e reinoudurante 43 anos, até 562 a.C.
Nabucodonosor não deixou longasdescrições das suas vitórias nas paredes
dos templos e palácios que construiu,como fizeram os reis assírios. Asinscrições que deixou falam quase
exclusivamente do que fez pelos deusesque adorava. Conseqüentemente, ahistória do seu reinado não é muito bemconhecida. Algumas inscriçõesidentificam localidades do Império,revelando como era extenso, e doisgrupos de tabuinhas de cuneiformescontêm informações mais detalhadas.
O primeiro grupo são as Crônicasbabilônicas. Duas tabuinhas relatamacontecimentos do reinado do pai deNabucodonosor, e duas de acontecimentos
do seu próprio reinado (outras tabuinhas
Os “jardins suspensos”da Babilônia figuravam entreas sete maravilhas do mundo antigo.
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TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
tratam de reis anteriores e posteriores). As duastabuinhas de Nabucodonosor, infelizmente, só
se referem aos primeiros onze anos do seudomíniq. Dos restantes 32 anos praticamentenão há registro. E possível que se encontremoutras tabuinhas algum dia. Essas que seconhecem hoje foram compradas pelo MuseuBritânico no final do século XIX, mas as duassobre Nabucodonosor só foram publicadas em1956.
Não se explica por que as tabuinhasforam escritas; parecem excertos de umrelato mais completo dos acontecimentosde cada ano. Essas crônicas não são
descrições vangloriosas de carnificina e vitória, como os monumentos dos reisassírios. São despojadas, factuais e, segundoconcordam os estudiosos, confiáveis.Narram a ascensão da Babilônia e a quedada Assíria, a batalha de Carquemis e ossucessos babilônicos na Síria e na Palestina.
Um curto relato diz: “No sétimo ano,no mês de quisleu, o rei da Babilônia
reuniu suas tropas e marchou rumo à Síria. Acampou diante da cidade de Judá e, nosegundo dia do mês de adar, tomou acidade e capturou seu rei. Colocou ali umrei de sua escolha, tomou pesado tributo elevou-o até Babilônia”.
Temos conhecimento suficiente paratraduzir essas datas com exatidão. O mês dequisleu, no sétimo ano, corresponde adezembro de 598 a.C. O segundo dia de adarfoi 15/16 de março de 597 a.C. Eis aqui orelato babilônico do ataque a Jerusalém, depois
do qual Nabucodonosor impôs Zedequiascomo rei em lugar do jovem Joaquim, que foilevado prisioneiro para a Babilônia (v. tb. “Não
vemos os sinais”). Esses reis estavam sobcontrole de Nabucodonosor. Ele era de fato“Nabucodonosor, rei dos judeus”, como diz acantiga de ninar inglesa!
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‘NABUCODONOSOR, REI DOS JUDEUS:
Os soldados babilônicos transportaram
Joaquim e seus áulicos para a Babilônia, queali viveram vigiados no palácio real. Duranteas escavações do palácio, encontraram-sealgumas tabuinhas de cuneiformes querelacionam as rações fornecidas a toda sortede gente que morava ali. As tabuinhas sãodatadas segundo os anos do reinado deNabucodonosor, entre 594 e 569 a.C.
Entre os que recebiam grãos e óleoestavam medos e persas, egípcios e lídios,todos com seus nomes característicos.Eram homens de cidades fenícias —
Biblos, Arvade e Tiro— , da filistéia Ascalom, e alguns de Judá. A maioria secompunha de funcionários e artesãos,marinheiros, construtores de embarcaçõese carpinteiros, e um egípcio era guarda demacacos (v. tb. “O preço da proteção”).
De Ascalom havia filhos do rei, mas de Judá, o próprio rei. Quatro tabuinhas listamrações para “Joaquim, rei de Judá”, para seuscinco filhos e, provavelmente, para quatrooutros judeus —um deles era jardineiro e tinhao inconfundível nome hebreu “Selemias”.
Nabucodonosor manteve Joaquim no
palácio durante todo o seu reinado. Seufilho, conforme 2Reis 25, libertou-o edeu-lhe lugar privilegiado à mesa.
Nabucodonosor transformou a Babilônianuma cidade esplêndida (v. “A glória que foiBabilônia”). Tinha um palácio enorme,fortemente protegido, na extremidade norteda cidade. A entrada principal dava para umgrande pátio de quase 66 metros decomprimento por 42 de largura. Em cadaextremidade havia acomodações para guardase outros funcionários. Defronte à entrada
principal o visitante passava por um salão eentrava no segundo pátio, um pouco menor,com muitos recintos nas extremidades. Umadependência na extremidade sul talvez tenhafuncionado como escritório em que os altosfuncionários recebiam os solicitantes.
Desse pátio abria-se a oeste um portalmonumental (de quase 60 metros decomprimento por 55 de largura) que davapara o pátio principal. O muro sul dopátio principal era coberto de tijolos
revestidos de esmalte azul, decorados comdesenhos de árvores e flores em amarelo,branco, vermelho e azul. Sob as árvores
corria um friso de leões.Uma porta no centro dessa parede davapara a sala do trono do rei, um salão de 52metros de comprimento por 17 de largura.O trono do rei provavelmente ficavadefronte a essa porta principal, parcialmenteembutido na parede. Nesse recinto,presumivelmente, podemos imaginar queestivesse sentado Belsazar quando a mãoescreveu sua sentença na caiadura daparede. Além do pátio central e da sala dotrono havia mais dois pátios, com muitomais cômodos. Talvez as mulheres da cortemorassem em alguns deles.
No canto nordeste do palácio haviauma estrutura com espessas paredes detijolos e câmaras compridas, estreitas eabobadadas. (As tabuinhas das rações de
Joaquim foram encontradas ali.) Talvezfossem despensas, mas as paredesespessas fazem supor que se tratava deconstrução alta. O escavador propôsidentificá-las com os “jardins suspensos '.
Os historiadores gregos explicam queum rei babilônico criou um jardim
imenso para agradar à sua esposa daMédia. Ela vinha de uma regiãomontanhosa e nas planícies da Babilôniasentia saudades da terra natal. As câmarasabobadadas teriam sustentado terraços dealvenaria de tijolos para esses jardins.
Nabucodonosor teve um longoreinado para gozar sua glória. Menos de25 anos depois de sua morte, os persasconquistaram a Babilônia e a cidadegradualmente perdeu importância.
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Nabucodonosor investiu em obras quefizeram da Babilônia uma cidade esplêndida. Atéos tijolos (acima à esquerda) eram estampados com seu nome.
O rei Nabucodonosor dava a devida atenção às coisas da religião. Reconstruiu vários templos, até mesmo o do deus Marduque(acima). Talvez tenha sido esseo deus que ele homenageou com uma estátua de ouro de 27 metros dealtura, segundo o livro de Daniel.
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A GLÓRIA QUE FOI BABILÔNIA
0 portal de Istar (esquerda) ergue-secomo monumento à glória quefoi
Babilônia.
A planta (p. 137) e a reconstituição artística da “grande Babilônia” do tempo do rei Nabucodonosor dão somenteum vislumbredo seu esplendor.
Durante centenas de anos os povos que viviam às margens do rio Eufrates, no Iraque,escavaram as colinas da antiga Babilônia embusca dos duros tijolos cozidos usados nas
velhas construções. A maior parte das vilas àsmargens daquele trecho do rio, além dacidade de Hilla, fora construída basicamentecom tijolos babilônicos. Mesmo saqueadadessa forma, porém, a cidade era tãograndiosa, que muito restou.
Em Babilônia as principais escavaçõescomeçaram sob patrocínio alemão, em 1899.
Robert Koldewey foi o encarregado dotrabalho, no verão e no invemo. durantedezoito anos. Seus homens desenterraram osmuros da cidade, paládos, templos e casas.Neles havia vasilhas e panelas, objetas de metal,esculturas de pedra e inscrições cuneiíòrmes.Quase tudo pertencia ao período caldeu, 626-539 a.C., quando reinou Nabucodonosor.
As ruínas de construções mais antigas jazem sob essas, mas a proximidade do riotorna o lençol ffeático elevado demais,dificultando uma escavação-adequada.
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sul da cidade —a face oeste era protegidapelo rio. Muros semelhantes cercavam o
subúrbio.Fora dos muros, um fosso de cerca de80 metros de largura dava mais proteção.
As muralhas externas eram ainda maiores(7,12; 7,8 e 3,3 metros de espessura),ladeadas por outro grande fosso.Encerravam uma área de formatotriangular ocupada por subúrbios e outropalácio real. Seu comprimento eraligeiramente superior a oito quilômetros.
Quem entrasse na cidade interior passavapor portões admiráveis que atravessavam essasmuralhas. De longe o mais esplêndido era oportal de Istar, ao lado do palácio, ao norte.
TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
Mais de 200 figuras de animais decoravam o grandioso portal de Istar, revestido de azulejos, à entrada
da avenida processional queconduzia aos templos dos deuses.
Conseqüentemente, o que os visitantes do sítio vêem hoje é obra de Nabucodonosor e de
construtores posteriores. Foi o trabalho desserei que marcou mais fortemente Babilônia.Quando Nabucodonosor tornou-se rei,
levou adiante a reconstrução que seu paicomeçara. Babilônia ficava na margemoriental do Eufrates, com um subúrbio dooutro lado do rio.
Duas linhas de muralhas a protegiam. Alinha interna era constituída de dois murosparalelos de 6,5 metros e 3,72 metros deespessura, respectivamente, com um espaçoentre eles de 7,2 metros, que funcionavacomo rua. Esses muros corriam por cercade seis quilômetros nas faces norte, leste e
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A GLÓRIA QUE FOI BABILÔNIA
Esse portal dominava uma avenida
processional que conduzia ao temploprincipal. Nabucodonosor reconstruiu oportal de Istar em três ocasiões. Em todas astrês, os muros tinham decoração de animaismágicos moldados em relevo na alvenaria detijolos, mas no estágio final os tijolos eram
vidrados —animais amarelos e marronscontra fundo azul.
Embora os caçadores de tijolostenham demolido todos os muros
vidrados, sobraram soltos no chão tijolossuficientes para a reconstrução que hojese vê no Museu do Estado em Berlim. Os
muros mais antigos, não vidrados, aindapodem ser vistos em Babilônia.
Ladeando a rua que conduz aoportal, os muros também eram cobertoscom tijolos vidrados, com leõesmodelados em relevo. No pavimento darua, assentavam-se lajes de pedracalcária, cada qual com mais de 1metro
quadrado, com lajes raiadas de vermelho
e branco nas laterais. Essa rua seguiadireto do portal de Istar até os templosdo deus de Babilônia, ao longo de quase900 metros. O deus era Marduque,comumente chamado Bel, “Senhor”.
Pouco se pôde descobrir acerca dosdois templos centrais de Babilônia. Umdeles era uma torre construída emestágios recuados. Essa grande massa detijolos de barro foi uma bela fonte dematerial de construção para os habitantesda região. Nada resta da torre além de umgrande buraco no chão e algumas
fundações. Sua base era um quadrado decerca de 91 metros de lado, e na face suluma comprida escadaria em ângulos retosdava acesso aos patamares superiores.
Outras informações sobre a torre vêm das tabuinhas babilônicas, que dãoas medidas de cada patamar, e dasdescrições gregas. As faces dos
1 Portal de Istar
2 Portal de Sin
3 Portal de Marduque
4 Portal de Zazaba
5 Portal de Enlil
6 Portal de Urash
7 Portal de Samas
8 Portal de Adad9 Portal de Lugalgirra
10 Templo de Adad
11 Templo de Belitnina
12 Templo Ninmah
13 Templo de Istar
14 Templo de Marduque
15 Templo de Gula
16 Templo de Ninurta
17 Templo de Samas
18 Torre-templo
19 Avenida processional
20 Palácio de
Nabucodonosor
21 Esagila
22 Cidadela do Norte
23 Cidadela
24 Cidadela do Sul
25 Muro exterior
26 Muro interior
27 Muro exterior de
Nabucodonosor
28 Canal
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TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
patamares eram pintadas de coresdiferentes; o santuário no topo, talvez
190 metros acima do chão, era cobertocom tijolos vidrados azuis. Um grandepátio cercava a torre, com dezenas dedepósitos e cômodos para sacerdotes,além de santuários para deuses menosimportantes.
O segundo templo era chamadoEsagila. Koldewey não conseguiu escavá-lo adequadamente, pois está enterradosob quase 21 metros de escombros, e emcima do monte construiu-se umsantuário muçulmano. Os própriosregistros de Nabucodonosor e o relato doautor grego Heródoto mostram que eraum lugar magnífico.
O rei babilônico cobriu de ouro asparedes do lugar sagrado e equipou-o comuma grande cama e um trono revestidos deouro para o deus. Segundo Heródoto,
havia duas estátuas de ouro de Marduque,uma sentada e outra de pé. Os sacerdotes
locais disseram a Heródoto que mais de vinte toneladas de ouro foram usadas notemplo e na mobília.
Cinzeladas nas pedras quepavimentavam a avenida processional, eestampadas em muitos dos tijolos,
viam-se inscrições proclamando: “Eusou Nabucodonosor, rei da Babilônia,filho de Nabopolassar, rei da Babilônia”.
A afirmação encontra eco no livrobíblico de Daniel, 4.30: “Não é esta agrande Babilônia que eu edifiquei...?”.
As ruínas revelam em que se baseavaa bazófia do rei. O período de loucuraque veio depois não aparece nos registrosbabilônicos, mas, como já observamos,praticamente não existe nada que faledos últimos trinta anos do reinado deNabucodonosor.
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A ESCRITA NA PAREDE
Belsazar — Homem ou Mito?
O livro de Daniel éfamoso por suas históriasde heróis. Eram homensque defendiam com unhas edentes aquilo queconsideravam correto.Foram protegidos pelopoder de Deus quando reispagãos os perseguiram. Opróprio Daniel teve a vidasalva na cova dos leões.
Seus três amigos saíramvivos da fornalha de fogoardente...
Outra história éigualmente famosa — ahistória da escrita naparede. Tornou-se tãoconhecida, que a expressão“a escrita na parede”*incorporou-se à línguainglesa.
Belsazar, rei daBabilônia, deu um banquetepara seus cortesãos.Comiam e bebiam, usandoos cálices de ouro e pratatrazidos do templo de Deusem Jerusalém.
Enquanto festejavam,apareceu uma mão.
A mão escreveu naparede, diante do rei. Aspalavras que escreveu nãofaziam sentido: m e n e , m e n e ,
T E Q U E L , P A R S IM.
Os sábios do reitentaram descobrir osignificado, mas fracassaram.Daniel foi chamado.Percebeu imediatamente oque significavam as palavras,
fez ao rei um alerta e lhedisse que seu reinado estavaprestes a terminar.
Parece que as palavraseram o equivalente a “Libras,pence” —unidadesmonetárias ou de peso. Ainterpretação de Daniel
jogava com o significado donome de cada unidade(assim como, em inglês,pound, “libra", passa a verbo
com o significado de “bater,triturar”). Esse era um dosmétodos que os babilôniosusavam para interpretarlivros antigos, com os quaistentavam prever o futuro.
“Mene (número): ContouDeus o teu reino, e oacabou.”
“Tequel (peso): Pesadofoste na balança, e foste
achado em falta.”“Parsim (divisões):Dividido foi o teu reino, edado aos medos e aospersas.”
A profecia cumpriu-se.Os antigos historiadoresregistram que Ciro, o persa,desviou o curso do rioEufrates e conduziu seushomens pelo leito seco do riopara tomar a inexpugnávelcidade de Babilônia.
Belsazar é lembrado peloseu banquete. Rembrandt eoutros grandes artistasretrataram o festim, e sirWilliam Walton usou o temano seu famoso oratóriomoderno intitulado Banquete de Belsazar. No entanto, onome de Belsazar não eraencontrado fora do livro deDaniel.
Conseqüentemente,alguns estudiososdefendiam a idéia de quetoda essa história erafantasiosa. Fora inventada,sustentavam eles, comoestímulo a que os judeus
lutassem pela suaindependência no século IIa.C. De fato, segundoafirmavam essesespecialistas, todo o livro deDaniel seria escrito nessaépoca, e não temfundamento histórico. Osuposto rei Belsazar seriaum dos vários erroshistóricos cometidos peloautor.
Um eminente alemãoescreveu no seu comentárioao livro de Daniel queBelsazar era simplesmenteuma criação da imaginaçãodo autor. Esse comentário foipublicado em 1850.
Em 1854, um cônsulbritânico explorava ruínasantigas no sul do Iraque emnome do Museu Britânico.
Ele escavou uma grandetorre construída de tijolos debarro nas ruínas de umaantiga cidade. A torre eraparte do templo do deus dalua. e dominava a cidade.Enterrados na alvenaria detijolos ele encontrou diversospequenos cilindros de argila.Cada um tem cerca de dezcentímetros de comprimentoe traz cerca de sessentalinhas de escrita babilônica.
Quando o cônsul levouseus achados a Bagdá, seusuperior foi capaz de ler asinscrições, pois, felizmente,era sir Henry Rawlinson, umdos que decifrou a escritacuneiforme babilônica.Rawlinson imediatamentepercebeu a importância doscilindros de argila.
As inscrições haviamsido feitas por ordem deNabonido, rei da Babilônia,555-539 a.C. O rei haviareformado a torre-templo,e os cilindros de argilacelebravam o fato. Aspalavras que trazem
provaram que a torre emruínas era o templo dacidade de Ur. As palavraseram uma oração quepedia vida longa e boasaúde para Nabonido —epara seu filho mais velho.O nome desse filho,escrito claramente, eraBelsazar.
Ali estava uma provaclara de que houve um
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TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
importdnte babilôniochamado Belsazar;
portanto, pelo menos elenão era uma pessoatotalmente imaginária. Masa oração falava delesomente como príncipe-herdeiro. De 1854 para cá,desenterraram-se váriosoutros documentosbabilônicos que se referema Belsazar. Em todos elesele é o filho do rei, ou opríncipe-herdeiro; jamaisrecebe o título de “rei”.
Aliás, outros registrosdeixam claro que Nabonido
foi o último rei legítimo daBabilônia. Belsazar jamaissubiu ao trono. Assim, a maiorparte dos estudiosos concluiuque o autor de Daniel haviade fato cometido um erro aochamá-lo rei —embora o erronão fosse tão grave quanto sepensava antes.
No entanto, mesmo issotalvez não esteja correto.Alguns autores chamaramatenção para a recompensaque Belsazar ofereceu aDaniel se conseguisse
interpretar a escrita naparede: “Serás vestido depúrpura, terás cadeia deouro ao pescoço e no reinoserás o terceiro dominador”.
Se Belsazar era rei,por que não podia dar aDaniel o segundo posto,como José, no Egito? Mas,
se o rei era o pai deBelsazar, este era o
segundo, não podendooferecer mais que o postoseguinte a Daniel.
Os textos babilônicossustentam essa idéia.Revelam que Nabonido eramonarca excêntrico.Embora não desprezasseos deuses da Babilônia, nãoos tratava como devia, edava muita atenção ao deusda lua de duas outrascidades, Ur e Harã.
Por vários anos do seureinado Nabonido não morou
em Babilônia, mas no distanteoásis de Teima, no norte daArábia. Durante esse tempoBelsazar governou aBabilônia. Segundo um dosrelatos, Nabonido “confiou-lheo reino”.
Sendo esse o caso, ébem acertado chamá-lo “rei”em documentos não oficiaiscomo o livro de Daniel. Eleagia como rei, ainda quenão o fosse legalmente, e adistinção seria irrelevante,servindo apenas para
confundir o leitor.Os cilindros de Ur e
outros textos babilônicosnada falam sobre o“Banquete de Belsazar".Mas falam, sim, sobreBelsazar. Mostram queDaniel não estava apenasnarrando fábulas. E, se
anotou corretamente essesdetalhes singulares, talvezdevêssemos também daratenção à sua mensagem:Deus comandava. Mesmodos reis, Deus sabia o fimdesde o princípio.
Os registros identificam Nabonide(acima) como o último rei de
Babilônia. Mas então será que Belsazar, queapareceno livro bíblico de Daniel, não passa de um mito?
* “The writing on the wall”, em inglês,
expressão que alude a sinais de desastre
iminente, infortúnio. (N. do T.)
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ESPLENDORES PERSAS
T JL rês mercadores da Asia central viajavam para a índia em maio de 1880. Ao entrar pelo norte do Afeganistão comsacos de dinheiro para comprar chá eoutras mercadorias na índia, ficaramsabendo que o chefe local estavacobrando um pesado imposto de todos os
viajantes. O chefe queria dinheiro parareforçar seu exército. (E conseguiu obastante para isso, tornando-se mais tardesoberano do Afeganistão.)
Nada tirou, porém, dessesmercadores. Alguém lhes disse que haviaum tesouro à venda, um tesouro deobjetos de ouro e de prata. Osmercadores o compraram e coseram osobjetos em embrulhos, para queparecessem mercadorias e assim pudessemescapar aos olhos cobiçosos do chefelocal. Tudo ia bem. Cruzaram o país,passaram por Cabul e seguiram emfrente. Rumavam ao desfiladeiro de
Ninguém sabeonde o “Tesouro do Oxo”persa foi encontrado. A história da sua descoberta é bem pitoresca, compreendendo chefes locais, mercadores e bandos de
ladrões. Não é de admirar que vidas setenham perdido na luta pela possede tesouros tamanhos como estebelo braceletede ouro (esquerda).
Acima das linhas de figuras humanas na escada do palácio de Persépolis, vêem-seentalhados os símbolos da religião. A esfingebarbada (abaixo) era um dos preferidos dos escultores.
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TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
Estátuas de touros barbados, seguindo tradição assíria, guardam o pórtico de Xerxes
(página ao lado) na capital persa, Persépolis.
Persépolis foi pilhada por Alexandre, o Grande, e
abandonada. Mas tem revelado alguns tesouros para os arqueólogos, entre eles um bodede prata (abaixo à direita).
A vasilha de ouro batido (abaixo) ê outra das preciosidades do Oxo. Data de cerca do século V a. C.
Khyber e a Peshawar.Então lhes sobreveio a desgraça. De
algum modo haviam-se espalhado rumoressobre sua carga de ouro. Ladrões osatacaram, levando os mercadores e seusembrulhos. Mas um servo fugiu, encontrouum representante do governo britânico edeu parte do assalto.
Levando consigo dois homens, aautoridade apanhou os bandidos de surpresaà meia-noite. Eles haviam brigado peladivisão do roubo: quatro jaziam feridos nochão. Entregaram a maior parte do saque aoinglês. Ele soube de um plano para atacá-lo,escondeu-se a noite inteira, voltou ao seu
acampamento e ameaçou mandar seushomens perseguir os ladrões. Assustados, eleslhe entregaram mais ouro: somente cerca deum quarto se perdeu. O inglês devolveu otesouro aos três mercadores, retendo umamagnífica armila que os três não poderiamrecusar-se a vender-lhe em gratidão.
Finalmente os três homens chegaram aPeshawar, seguiram para Rawalpindi e ali
venderam o tesouro a comerciantes locais.Desses, um general britânico e outrocolecionador compraram tudo o quepuderam, e o tesouro acabou indo pararno Museu Britânico.
Ninguém sabe exatamente onde otesouro foi encontrado. Os mercadoresdisseram que vinha de um lugar onde umrio que deságua no caudaloso Oxo (AmuDarya) corta as ruínas de uma antigacidade. Em 1877 as águas do riodesenterraram os objetos, e a gente do
local se maravilhou ao encontrá-los naareia. Não se sabe quantas peças foramachadas. Algumas se perderam, outrasforam fragmentadas para que pudessemser divididas. O que resta se chama“Tesouro do Oxo”.
Não se trata de jóias nem de umaparelho de mesa; é uma coleção mista.Lado a lado com três vasilhas de ouro euma jarra de ouro, encontram-se umabainha de adaga de ouro, dezesseis figurasde homens e animais de ouro e de prata,cerca de trinta braceletes e colares de ouro,uma série de lâminas de ouro com figurashumanas e vários outros objetos. A fontemais provável de tal coleção é um templo.
As pessoas deixavam esses objetos comooferendas ao deus ou deusa. Seja qual for
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TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
Visitantes privilegiados quebuscavam audiência com o rei persa em Persépolis subiam uma grande escadaria revestida de esculturas elaboradas. Guardas
persas conduziam a grande procissão até o trono.
Acompanhando os guardas e os nobres vinham representantes de todas as partes do Império Persa, quelevavam tributos ao grande rei.
Esculpido no paredão de Beístum vê-seum retrato imponentedo rei persa Dario I.
seu propósito, esses objetos revelam aperícia dos ourives da época do Império
Persa. Não há dúvida de que todas as peçaspertencem aos séculos V e IV a.C.Outros exemplos de artesanato persa em
ouro surgiram de tempos em tempos. Elesmostram claramente a referência do livrobíblico de Ester: “dava-se de beber em coposde ouro”. Isso ilustra a tremenda riqueza doImpério Persa. Quando Alexandre, o Grande,
marchou rumo a Susã, uma das capitais, diza tradição grega que recolheu 40 mil talentos
de ouro (cerca de 1200 toneladas). E aindahavia mais nas outras cidades persas.Os reis persas foram grandes
construtores. Seu Império se estendia daíndia à Grécia e ao sul da Etiópia;portanto, podiam contar com as técnicas erecursos de cada região. O rei Dario (522-486 a.C.) mandou fazer uma inscriçãosobre o palácio que construiu em Susã.Disse que os babilônios fizeram os tijolos,que homens da Jônia e de Sardesesculpiram as pedras, que os assíriosforneceram madeira de cedro do Líbano,que de Sardes e do leste veio ouro para sertrabalhado por medos e egípcios...
Pouco se pode ver hoje do esplêndidopalácio de Susã. A descrição do capítuloprimeiro de Ester soa verdadeira em vistadaquilo que se conhece. O rei dá umbanquete nos jardins do palácio: “Ascortinas eram de pano branco, verde eazul-celeste, atadas com cordões de linhofino e de púrpura a argolas de prata e acolunas de mármore. Os leitos eram deouro e de prata, sobre um pavimento de
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ESPLENDORES PERSAS
pórfiro, de mármore, de alabastro e de
pedras preciosas”.Bem mais restou do novo palácio queDario começou a erguer em Persépolis.Ele provavelmente o planejou comocentro do festival anual do Ano Novo.Era também um centro de administraçãoe de armazenagem de riquezas. Depois desaqueado pelos soldados de Alexandre,ficou abandonado até que os arqueólogoscomeçassem a estudá-lo. Uma importanteexpedição da Universidadç de Chicagotrabalhou lá de 1931 a 1939, e novosestudos e trabalhos de restauração foram
desenvolvidos desde então.Para causar o maior impacto possível,
Dario ergueu seu palácio num terraço depedra parcialmente lavrado na rocha,parcialmente construído artificialmente.Os visitantes subiam uma larga escadariade pedra até um portão, depois entravamnum grande pátio. Sobre esse pátio haviaoutra plataforma de pedra de 2,6 metrosde altura, que sustentava o salão deaudiências. Para alcançá-lo, osprivilegiados visitantes subiam mais
escadarias. Estas tinham elaboradasesculturas nas paredes.Em baixo-relevo, longas filas de
homens caminhavam rumo ao centro.Eram guardas reais, cavalos e carros,nobres dos persas e dos medos, e aindarepresentantes de todas as províncias doImpério Persa, cada qual carregando
produtos típicos da sua terra comotributo ao grande rei. Árabes levavam umdromedário, etíopes carregavam presas deelefantes, um indiano levava jarrosprovavelmente cheios de pó de ouro.
No alto da escadaria havia um pórticocom colunata que dava para o salão deaudiências. O salão era quadrado, comlados de 60,5 metros, e o teto erasustentado por delgadas colunas de pedrade 20 metros de altura, encimadas porcabeças de touro esculpidas.
Ali sentava-se, imponente, o granderei, como mostra uma famosa escultura.
O salão era brilhantemente colorido,com pinturas e tecidos pendentes dasparedes, além de tapetes nos polidosassoalhos de pedra. Os cortesãosmoviam-se em dramas cerimoniais,trajando mantos pesadamente adornadose maciças jóias de ouro. Nos banquetes,sentados em divãs cobertos de ouro,comiam e bebiam usando pratos e jarrasde ouro e de prata, como aqueles doTesouro do Oxo.
Quase nada restou dos tesouros
guardados em Persépolis. Mas asconstruções em si e os belos trabalhos embronze e vasos de pedra que osamericanos encontraram nas escavaçõesrevelam o alto padrão de tudo o que erafeito para o palácio. Mostram por que aPérsia representava o mais elevado graude luxuosidade para os antigos gregos.
Esseguarda persa vem das paredes do palácio do rei Dario em Susã. O Império Persa era vasto —estendia- seda índia à Grécia e chegava até a Etiópia, ao sul.
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AS ORDENS DO REI — EM TODAS AS LÍNGUAS
Onde quer que estivesseo rei persa, lá estava ogoverno, pois tudo dependiados seus decretos. Suapalavra era lei. Assim,quando fazia um anúncio,este tinha de ser levado atoda parte do império queseria afetada.
Rotas usadas duranteséculos ligavam as antigascidades que Ciro conquistara
dos babilônios em 539 a.C.Quando assumiu o
controle do oeste da Turquia,
Mensageiros cruzavam velozmente as grandes estradas do império persa, levando as ordens do rei a toda parte dos seus domínios. Os povos que ele governava falavam muitas línguas diferentes. A esteia do templo de Xanto (direita) traz inscrições em grego ena língua lícia local.
O túmulo de Mausolo em Halicarnasso, decorado com belas esculturas, era uma das setemaravilhas do mundo antigo. A estátua mostrada abaixo pode ser do próprio Mausolo.
os agrimensores persasplanejaram nova estrada deSardes, a capital da Lídia, atéPersépolis, numa extensão demais de 2 600 quilômetros.Era chamada Estrada Real.
Por essas estradas umbem-organizado serviço demensageiros ligava todas asprincipais cidades. Empostos regulares a cada 25ou 30 quilômetros havia
hospedagens com estábulos.Ali, cavalos descansadosaguardavam os mensageiros,para que pudessem avançarcom rapidez, ou entregarsuas mensagens a umemissário descansado.
Por esse meio as ordensdo grande rei podiam fazer-se manifestas em todo oImpério. Igualmente, notíciassobre o estado de coisas emcada província podiamalcançar rapidamente osouvidos do rei. Os agentes
espalhados pelo Império omantinham bem-informado.Eram conhecidos como “osolhos e ouvidos do rei”.
Os reis persas dividiramem províncias seu grandeImpério, que se estendia daíndia à Grécia. Cada umadelas tinha um governadorou sátrapa. Esses homenspassavam parte do temponas províncias e parte com o
rei. Quando estavam com orei, mais mensageiros tinhamde fazer o percurso entreeles e as províncias.
O rei e os principaissátrapas eram persas, masgovernavam um império queabrangia uma mistura depovos falantes de diferenteslínguas. Sempre havia muitotrabalho para os intérpretesno Oriente Próximo. Sãomencionados em Ebla já em2300 a.C. (v. “Manchete: acidade perdida de Ebla”).
No Império Assírio, oproblema da língua reduzira-se com a disseminação doaramaico. Essa língua eracorrente na Síria e espalhou-se largamente quando osassírios conquistarampequenos reinos comoArpade, Hamate e Damasco.
O Segundo livro de reis,no capítulo 19, registra asameaçadoras palavras do rei
assírio ao rei Ezequias deJudá: “Certamente já tensouvido o que os reis daAssíria fizeram a todas asterras, destruindo-astotalmente. E tu te livrarias?Porventura as livraram osdeuses das nações, a quemmeus pais destruíram, asaber, Gozã, Harã, Rezefe,e os filhos de Éden queestavam em Telassar? Queé feito do rei de Hamate, dorei de Arpade, do rei dacidade de Sefarvaim, de
Hena e de Iva?”.Sob o domínio persa, o
aramaico tornou-se a línguafranca dos funcionários reaisde todo o Império. É por issoque tanto as cartasprocedentes dos reis persasquanto as enviadas a elesestão em aramaico emEsdras de 4 a 7.
Uma descoberta feitapor arqueólogos francesesem 1973 é um bom exemplodo modo em que oaramaico era usado. Os
escavadores estavamexplorando um templogrego em Xanto, nosudoeste da Turquia. Ali, aopé de uma parede,encontrou-se um bloco depedra cuidadosamentetalhado e trabalhado. Tem1,35 metro de altura, quase60 centímetros de largura eaproximadamente 30
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AS ORDENS DO REI — EM TOD AS AS LÍNGUAS
centímetros de espessura.A princípio estava
exposto em algum lugar dotemplo. Em três lados dapedra vêem-se inscrições
finamente cinzeladas.Numa das faces mais
largas, a escrita e a línguasão gregas. Os estudiososfranceses conseguiramentendê-las imediatamente.
Essa pedra era aescritura de fundação doculto de dois deuses. Oscidadãos de Xanto (atualGünük) concordavam emconstruir um altar para eles,nomear um homem e seusdescendentes comosacerdotes perenes e dar a
propriedade e umasubvenção anual paramanter o santuário.Sacrificariam uma ovelha pormês e um boi por ano. Oscidadãos juravam cumprirsuas promessas eamaldiçoavam qualquer umque violasse o disposto.
Na face oposta da pedraa inscrição aparece na língualocal, o lício. Descobertas
anteriores davam exemplosdo lício, principalmenteinscrições tumulares, masbem pouco se compreendiadessa língua.
Lendo o monumento, osestudiosos logo perceberamque os textos grego e líciodiziam quase a mesma coisa.Por conseqüência, a língualícia está-se tornando menosmisteriosa; revelou-se umdesenvolvimento tardio dalíngua que os heteus falavam(v. “Um povo redescoberto”).
Essa inscrição líciaparece ser o contrato originalacerca do novo santuário,mais tarde traduzido porcausa dos gregos que
moravam na Lícia.Qualquer novo culto
como esse tinha de obterpermissão do governo persa.Um local público de reunião,sustentado com recursospúblicos, podia facilmentetransformar-se num centrode rebeldes e de agitadores.
Portanto, os cidadãos deXanto levaram seu contratoao governador persa, para
que fosse aprovado. Ele nãoera persa. Era irmão deMausolo, cujo famoso túmuloem Halicarnasso era umadas sete maravilhas do
mundo antigo.Apesar das suas
ligações locais, o sátrapaagia como representante dorei persa. Deferiu o pedidodos cidadãos, e assim onovo santuário seestabeleceu.
A aprovação do sátrapaé a terceira inscrição sobre apedra de Xanto. Aparece emaramaico, entre os textosgrego e lício, no lado maisestreito da pedra.
Começa assim: “No mês
de sivã, ano primeiro deArtaxerxes, na cidadela deXanto [...] o sátrapa disse...”.
Segue-se um resumo dopedido dos cidadãos, depoisa anuência do sátrapa: “Estalei ele escreveu”. Oito linhasde maldições dos deuses deXanto e de outros lugaresalertam a todos sobre osperigos de viola r o acordo.
Esse documento oficial
persa é proclamado na
língua oficial do Império, coma devida atenção àscircunstâncias locais.
Quando os judeusestavam reconstruindo otemplo em Jerusalém, noreinado de Dario, ogovernador Tatenai quisimpedi-los. Perguntou a Dariose os judeus tinhampermissão oficial, e o reirespondeu “sim”, ordenandoa Tatenai que os ajudasse detodas as formas.
Ao final dessa carta,
registrada no capítulo 6 deEsdras, Dario amaldiçoa todoaquele que atrapalhar oudestruir a obra. e invoca oDeus de Jerusalém: “O Deusque fez habitar ali o seunome derrube a todos os reise povos que estenderem amão para alterar o decreto epara destruir esta casa deDeus, que está emJerusalém. Eu, Dario, baixeio decreto. Com diligência seexecute”.
Os estudiosos não
podiam aceitar que o reipersa reconhecesse adivindade judaica econcluíram que os escribas
judeus haviam alterado otexto. O decreto de Xantomostra que eles estavamerrados.
Em Xanto os deuseslocais eram invocados paraproteger seus própriosinteresses; o rei fazprecisamente o mesmo emEsdras.
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DAS MALAS POSTAIS PERSAS
O governador persa doEgito estava morando naBabilônia, mas na suaprovíncia havia todo tipo deproblemas. Ele teria deenviar seu imediato para pôrordem nas coisas.
Era uma longa jornada, epodia ser perigosa. Esdraspensou em pedir ao rei umaescolta ao partir da Babilôniapara Jerusalém. Diz ele (no
cap. 8): “Tive vergonha depedir ao rei soldados ecavaleiros para nosdefenderem do inimigo nocaminho, porque tínhamosdito ao rei: A mão do nossoDeus é sobre todos os que obuscam para o bem”.
Três outros membros daequipe do governadordeveriam também ir ao Egito,e portanto todos viajariam
juntos, com os dez servos doimediato.
O governador escreveu
uma carta aos funcionáriosdas principais cidades docaminho. Ordenou-lhes querecorressem aos recursosdele para fornecermantimentos ao grupo. Osviajantes deveriam receberfarinha, vinho ou cerveja euma ovelha por dia. Mas, separassem por mais de um diaem qualquer lugar, nãopoderiam receber mais
rações.Sabemos disso porque a
ordem do governador eraguardada numa sacola decouro, com algumas outrascartas, e um egípcio aencontrou em algum lugarpor volta de 1930. A ordem,além de quinze ou maiscartas, foi escrita emaramaico sobre couro, aindana Babilônia. A sacola talveztenha sido a mala postal emque o imediato carregaraalgumas das ordens até o
Egito, e depois ele ou outrapessoa a usou para guardartambém outras cartas.
Nas cartas o governadorperguntava sobre a rendadas suas propriedades,sobre o pessoal quetrabalhava nelas e sobre umescultor que deveria fazer aestátua de um cavaleiro eseu cavalo.
Essas cartas dão um
vislumbre dos negócios deuma administração persa.Também mostram que tipode cartas se escreviam naBabilônia no século V a.C. ecomo era a língua aramaicafalada na época. Nenhumadas cartas de couroenterradas no solo úmido daBabilônia poderia durar tanto.Por meio dessas, é possívelimaginar as cartas relatadasno livro bíblico de Esdras.
Outra coleção de cartasaramaicase documentos
legais confere maior nitidez àimagem. Estas estavamescritas em papiros e foramdescobertas, por incrível quepareça, numa ilha no meiodo rio Nilo.
A ilha é Elefantina, quefica defronte à modernaAssuã, 700 quilômetros aosul do Cairo, pouco ao norteda famosa grande barragem.Foi um posto fronteiriço
durante toda a históriaegípcia, guardado porsoldados recrutados emmuitos lugares.
Durante o século VI a.C.,alguns dos membros daguarnição eram judeus esírios, e suas famíliasmoraram ali até cerca de 400a.C. Os documentos empapiros pertenciam a eles.
Documentos queregistram vendas de casas,casamentos e presentes decasamento, divórcios,
Diantedos conflitos com os egípcios da região, os judeus de Elefantina pediram ao governador persa permissão para reconstruir seu templo. Desenvolvem-seescavações no sítio, no Egito.
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DAS MALAS POSTAIS PERSAS
donativos e empréstimoscompõem a maior parte dascoleções encontradas nasruínas das casas. Hátambém cartas e algumaliteratura.
Vários dos judeus tinhamnomes encontrados noAntigo Testamento,especialmente os que trazemo nome de Deus (v. “O
gravador de selos”).Nem todos os judeus deElefantina eram ortodoxosnas suas crenças religiosas.Adoravam outros deuses —herdados dos cananeus (adeusa Anate, por exemplo),tomados de outros povos ouinventados por eles mesmos.
Tais situaçõesprovocaram a indignação doprofeta Jeremias (no cap. 44de seu livro): “Provocaram-me à ira, indo queimarincenso, e servir a outros
deuses, que nuncaconheceram, eles, vós, e
vossos pais. Eu vos envieitodos os meus servos, osprofetas, madrugando eenviando, para vos dizer:Ora, não façais esta coisaabominável que aborreço”.Mesmo assim, o deusprincipal ainda era o Deus deIsrael.
O que surpreende o
leitor dos textos é descobrirque esses judeus do sul doEgito tinham um templo emque adoravam o Deus deIsrael. Ofereciam sacrifícios,holocaustos, flor de farinha eincenso. Era um belo edifício
—com telhado de cedro,armações das portas feitasde pedra lavrada e pratos deouro e prata— , e os judeusse orgulhavam disso.
O culto judeu irritou osegípcios da região e, em 400a.C., os sacerdotes doprincipal deus egípcio deElefantina, Cnum, destruíramo santuário judeu e roubaramseus tesouros.
O ataque aconteceuquando o governador persa
estava fora com o rei. O atoia claramente contra apolítica oficial, mas os líderes
judeus de Elefantina tiveram
de esperar alguns anos até
obter permissão parareconstruir o templo.
Eles escreveram aogovernador persa deJerusalém sobre o caso, eaos filhos de Sambalá,governador de Samaria, bemcomo ao sumo sacerdote emJerusalém.
Depois de três ou quatroanos, os filhos de Sambaláresponderam, aconselhando-
A malapostalde couro foi umdia uma mala diplomática usada para comunicações oficiais dentro do império persa.
os a recorrer ao governadordo Egito. Não seria umtemplo como o que tinham,mas uma “casa de altar”onde ofereceriam somenteflor de farinha e incenso —mas não, ao que tudo indica,holocaustos.
As cartas de papiros e osrascunhos de cartas quesustentam esse relato traçamuma esclarecedora analogiacom a história de Esdras.
Os judeus que tentavamreconstruir o templo deJerusalém enfrentavamhostilidades na região, eSambalá, de Samaria, era
forte inimigo. Eles tiveram deapelar ao grande rei, e eletomou a mesma atitudeencontrada na situação deElefantina: a população localteria permissão de adorarpacificamente comoquisesse, sobretudo se
seguisse um precedente bome já bem firmado. (Esdras5.6—6.7 registra a
correspondência com o rei.)Outro papiro exemplifica
a mesma atitude. Surgiu umproblema em Elefantinaquanto à observação daPáscoa, talvez um problemarelativo à data exata. A cartarelata a decisão do rei sobrea questão, dando as datas
O aramaico, língua na qual a carta fòi escrita, era usado pelos oficiais do rei através do Império Persa, fato queserefletena forma em queas cartas
do rei persa estão registradas no livor bíblico de Esdras.
exatas para a observaçãotanto da Festa da Páscoaquanto da dos Pães Asmos.
As palavras da cartalembram as de Êxodo 12 e13, que registram ainstituição dessas festas, eevidentemente foramapresentadas ao rei para suaaprovação, de modo muitosemelhante ao do acordo deXanto (v. “As ordens do rei —em todas as línguas”).
Diante disso, parece sercoerente com a prática persao fato narrado com detalhesem Esdras 6, no qual o reiDario escreve uma cartasobre o templo deJerusalém.
Antes da leitura dessespapiros, os estudiososafirmavam impositivamenteque os documentos citadosem Esdras eram invenções
juda icas ou adaptações de
documentos persas.Hoje não há razão paraduvidar de que sejam cópiasdas cartas oficiais.
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O TRABALHO DO ESCRIBA
Cópias feitas por escribas eramconferidas pela contagem do número de palavras ou linhas.
Podia-seassim localizar e corrigir os erros. Nestetratado aramaico gravado em pedra, as palavras que
foram omitidas aparecem escritas entre as linhas.
Saber ler e escrever eraqualificação rara no mundodo Antigo Testamento. Oshieróglifos egípcios e oscuneiformes babilônicosexigiam longo treinamento eprática freqüente do meninoque deveria tornar-seescriba.
Quando o alfabetofenício se disseminou (v. “Oalfabeto”), escrever ficou
mais simples, mais fácil emais comum. Mesmo assim,grandes contingentes depessoas —a grandemaioria— jamaisaprenderam a ler ou aescrever; não tinhamnecessidade. Se queriam lerou escrever algo, chamavamum escriba profissional.
Portanto, os escribaseram homens poderosos. Erapreciso confiar neles para lerou escrever corretamente,pois a pessoa não tinha
como confe rir—e incluíam-se aqui muitos reis, além daspessoas comuns.
Essa habilidade davaaos escribas a oportunidadede controlar em larga medidaos negócios do estado, e suafunção antiga reflete-se hojeno título moderno de“secretário de estado”.
Esdras era um dessesescribas, um empregado
judeu do governo persa queganhou o favor do reiArtaxerxes e liderou uma
importante reforma emJerusalém.
Segundo a tradição judaica, Esdras operougrande mudança nohebraico: incentivou os
judeus a escrever sua línguacom as letras usadas paraescrever o aramaico,deixando de lado asantiquadas letras fenícias.
Como o aramaico erausado em todo o ImpérioPersa, essa medidapossibilitou que judeus dequalquer lugar pudessem leras Escrituras com maisfacilidade. Já não tinham deaprender um estilo diferentede escrita.
Descobertas recentesem Israel revelam a mudançaem curso no início do século
V a.C. Encontraram-se poracaso mais de setentapequenos blocos de argilaque foram vendidos acolecionadores particulares.
Num dos lados de cadaum deles vê-se a impressãode um selo. O selo parece terpertencido a governadoresde Judá e a gente próximadeles, pouco antes do tempode Esdras. Em alguns delesestá gravada a antiga escritahebraica, em outros, aaramaica.
Em Samaria, ao norte,as antigas letras do tipofenício ainda eram usadas.Compõem o nome deSambalá, governador deSamaria, no selo do seufilho, e acabaram por tornar-se escrita característica dossamaritanos.
Na Bíblia, Esdrasdesempenha outra dastarefas dos escribasaltamente qualificados namaioria dos impérios antigos.Traduzia ou interpretava um
antigo texto escrito, para queos ouvintes pudessemcompreendê-lo.
O aramaico disseminou-se como língua oficial, masos idiomas locais tambémprosperavam, e por isso osdecretos reais tinham de sertraduzidos e explicados (v.“As ordens do rei —em todasas línguas”). O povo de
Elefantina, no sul do Egito àsmargens do Nilo, leu umaversão aramaica da inscriçãoque Dario mandou gravar emBeístum em três outraslínguas.
A tradução ia além dosdocumentos oficiais,incluindo também literatura elivros religiosos. EmElefantina, os escribas liamos sábios dizeres de Ahiqar,
membro da corte assíria, emaramaico e em egípcio. Como passar dos anos, a lei
judaica foi vertida para ogrego.
Uma das tarefasimportantes dos escribas eraa cópia precisa de livros edocumentos antigos. Ésurpreendentemente fácilcometer erros quando vocêcopia páginas e maispáginas de um livro. Osescribas aprenderam a liçãobem no início da história da
escrita e logo assimilaramregras que poderiam ajudar aevitar esses erros.
Na Babilônia, o escribapodia conferir o trabalho docolega, ou contava as linhasda sua cópia para garantirque tivesse o mesmo númerodo original.
Muito mais tarde, osescribas judeus seguiam amesma idéia, contando onúmero de palavras dosoriginais e das suas cópias.
A menos que se
encontrem cópiasextremamente antigas dasEscrituras hebraicas, éimpossível medir a precisãodos copistas que trabalharambem antes da era cristã.Vários indícios do próprioAntigo Testamento e deoutros escritos mostram queeles tentavam ser precisos. Éclaro que havia escribas
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O TRABALHO DO ESCRIBA
ruins, negligentes e
preguiçosos. Nenhum delesera perfeito. Realmentecometiam erros.
Manuscritos antigos einscrições gravadas empedra nos permitem perceberalguns dos erros e enxergaralgumas das correções —porexemplo, palavras escritasacima da linha da qual foramomitidas.
Um manuscrito quesofreu grandes correções é ofamoso rolo de Isaías,encontrado entre os
manuscritos do mar Morto (v.“A Bíblia do tempo deJesus”).
Um assunto um tantoobscuro provou que osescribas judeus erambastante precisos em algunscasos. É sabido que osnomes mudam quandopassados de uma línguapara outra. Muitas vezes, osestrangeiros os alteram paraajustá-los ao padrão fonéticoda sua fala (compare, porexemplo, Londres em lugar
de London, Leghorn emlugar de Livorno).
Vários nomes não-hebreus do AntigoTestamento nos sãoconhecidos de documentosescritos quando tais nomeseram correntes. Osdocumentos escritos noalfabeto aramaico sãoutilíssimos para acomparação com o AntigoTestamento, pois ele é muitopróximo da escrita hebraica.
Os escribas do aramaico
tinham de escrever os nomesestrangeiros com o seualfabeto, e é evidente quetentavam representar aquiloque ouviam. Quandocomparamos as formas deescreverem os nomes dosreis assírios com as grafiasdos mesmos nomes no textohebraico, percebe-se notávelsemelhança.
Letras nas formas usadas na escrita cursiva hebraica por volta de 600 a.C. (1) nas cartas de Laquis (ver “Não vemos os sinais”), e a escrita aramaica em pedra (2) e papiro (3) do século V a. C.
Em ambos os casos, osnomes de Tiglate-Pileser eSargom, por exemplo, estãografados TGLTPLSR e SRGN(as vogais são incertas). Nodialeto da Babilônia, osnomes eram reproduzidos emdocumentos aramaicos comoTKLTPLSR e SHRKN. Noentanto, segundo a opiniãoconsensual, foi na Babilôniaou sob governo babilônicoque os livros judeus quecontinham esses nomesforam mais tarde revisados.
A prova das fontesaramaicas mostra que, sejao que for que os escribasposteriores fizeram aostextos legados a eles,certamente mantiveramesses nomes nas formasantiquadas do dialeto assírio,copiando-os fielmente.
A cópia fiel tambémcaracterizava os escribashebreus que preservaram olivro de Ester.
Entre os nomes persasdo livro estão alguns que
soam tão esquisitos aosexegetas (e cópias da antigatradução grega do AntigoTestamento os grafam deforma tão diferente), que seacredita terem suas formasoriginais sido perdidas pornegligência dos escribas.
Na verdade, um dosnomes suspeitos,Parsandata, um filho do
ímpio Hamã. é umareprodução perfeita de umbom nome persa. Um selo,cinzelado para um cidadãopersa do século V a.C., trazseu nome em letrasaramaicas. É PRSHNDT.idêntico ao mesmo nome emEster. Os copistas judeusfizeram um trabalho perfeitonesse caso.
Exemplos como essesocupam lugar bem restritono texto do Antigo
Testamento. São o únicomeio, porém, de conferir otrabalho dos escribas nosséculos que antecederam acomposição dos nossosmanuscritos mais antigos.Provam que eles podiamcopiar com grande precisãoe, pelo menos no tocanteaos nomes estrangeiros,freqüentemente o faziam.
A importância da lei de Deus, salvaguardada pelos escribas, é vividamente ilustrada nas cópias usadas na testa e no braço dos
judeus ortodoxos. Ummenino judeu, no seu Bar Mitsvá, usa as caixinhas de couro (fdactérios) que encerram cópias de versículos do livro de Deuteronômio.
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A AVENTURA DE ALEXANDRE E O IDEAL GREGO
A ./ Alexandre, rei da Macedônia, tinha 21anos quando liderou seu exército de 45 milsoldados gregos na investida sobre oOriente Próximo para conquistar a Pérsia.Ele avançava irresistivelmente, parando
somente às margens do rio Indo. Obrilhante e jovem general era não apenasum conquistador, mas queria disseminar a.cultura e as idéias gregas. Para fazer isso,dava aos soldados veteranos terras nesseslugares remotos, convencendo-os a seestabelecer ali, casar-se com moças daregião e construir sociedades baseadas nosideais gregos.
A ambição de Alexandre foi em largamedida saciada. O grego tornou-se línguatão disseminada quanto o aramaico, ascidades-estados organizavam-se segundo opadrão das cidades gregas e muitas usavam
valores monetários gregos. A leste doEufrates, as línguas e os costumes locais
reafirmaram-se em muitos lugares daí a umséculo mais ou menos, mas ainda restaram
vestígios das influências gregas. Na Síria ena Palestina, o impacto dos gregos foi maisforte. Os generais de Alexandre, que
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A AVENTURA DE ALEXANDRE E O IDEAL GREGO
governaram a região depois de sua morte,
sustentaram-no até a chegada dosromanos.
As conquistas de Alexandre acabaramdeixando uma marca mais forte nosregistros arqueológicos do que qualqueroutro acontecimento, afora a construçãodas mesquitas depois da expansão doislamismo pelo Oriente Próximo em 634d.C. Novas concepções artísticasintroduziram o naturalismo e aindividualidade em lugar de estilosformais e convencionais. As moedas
trazem belos retratos de reis; estátuas eoutras formas de arte tambémcaracterizam personalidades. Acima de
tudo, a atitude grega revela-se em cidades
planejadas segundo um padrão regular egeométrico, com os principais edifíciosconstruídos de acordo com projetosgregos. Essas características começaramantes do tempo da soberania romana noOriente Próximo, persistindo durantetodo esse período.
Escavações feitas durante algumassemanas em 1900 em Tell Sandahanna,entre Ascalom e Hebrom, desenterraramtoda uma pequena cidade destruída por
volta de 40 a.C. Uma inscrição num
túmulo próximo ao sítio, além decomentários em livros antigos, provamque o nome do lugar era Maressa.
0 40 80 metros
0 40 80 jardas
A grande ambição de A lexandrenão era apenas conquistar\ mas disseminar a cultura e as idéias gregas. O busto (página ao lado) data do século II a. C.
As conquistas de A lexandremudaram o mapa. Deixaram uma marca ainda mais forte nos registros arqueológicos na forma de estilos gregos de arte e de
arquitetura. A escultura do “sarcófago de A lexandre" (página ao lado), do cemitério real de Sidom, mostra o rei sobre um cavalo. Data do século IV a. C.
A cidade de Maressa era planejada segundo uma planta gradeada. Há
fortes elementos gregos no estilo da cerâmica e na arteda escultura de pedra. As inscrições também seacham em grego. Aqui, como em tantos outros lugares, realizou-seo ideal grego de Alexandre.
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TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
Um muro com torres quadrangularesencerrava uma área de aproximadamente
158 por 152 metros. Dominando aextremidade oriental, havia um grandeedifício que se julgou ser um templo, e,perto do centro, em torno de dois grandespátios, via-se algo que parecia ter sido ummercado e uma estalagem. As outrashabitações eram variadas —de mansõescom pátios centrais a casas com poucoscômodos encaixados na área disponível. Acidade era claramente planejada segundouma planta gradeada, embora nos estágiostardios algumas das ruas fossem bloqueadaspor construções particulares. A cerâmica e
as esculturas de pedra têm fortes elementosgregos no estilo, e a maioria das inscriçõesestá em grego. Os achados mais incomunsforam dois grupos de fórmulas mágicas ealguns túmulos ricamente decorados.
Os cidadãos de Maressaencomendavam pequenas imagens dechumbo dos inimigos. Eram torcidas eamarradas, sendo deixadas no templo. Emtabuinhas de pedra, os próprios cidadãos,ou um feiticeiro, cinzelavam as palavras deuma maldição: “Que o deus castigue
Fulano e Beltrano com mudez eimpotência, pois fizeram Sicrano perder oemprego”. Várias dezenas dessas fórmulasmágicas foram encontradas, sendo algumasem hebraico de difícil leitura. Outras sãoorações que rogam o auxílio dos deuses.
Os nomes das pessoas angustiadasexibem a variedade da população dacidade. Nomes egípcios e semíticosencontram-se lado a lado com muitosgregos e alguns romanos. Tamanha misturaera provavelmente normal em todas ascidades maiores fora de Judá. As formaspagãs de magia também eramprovavelmente típicas.
Existiam alguns homens bastante ricosem Maressa no século II a.C. Sua riquezarevela-sc nos túmulos singulares. Umgrande salão subterrâneo era escavado narocha e, nas paredes, abriam-se covas
horizontais suficientemente grandes paraconter um caixão. Do salão abriam-se
câmaras menores, que abrigavam maissepulturas. Nas paredes rochosas haviapinturas bem-elaboradas. Uma delas retrataum homem caminhando, tocando flautas,enquanto uma mulher o segue com umaharpa.
No túmulo maior vê-se uma longaprocissão de animais, não somente animaisda região, mas alguns exóticos e selvagens.Um rinoceronte e um hipopótamo, umcrocodilo e um elefante aparecemcaminhando; um burro selvagem lutacontra uma serpente, e um leão espreita sua
presa. As letras gregas ao lado de algumasdas criaturas informam seus nomes. Tãoexótica era a girafa, que recebeu um nomeinventado: “tigre-camelo”.
Além desses animais reais, havia osimaginários: um grifo com corpo de leão easas de águia, um leão com rosto humano,e Cérbero —o cão de muitas cabeças que,segundo a crença grega, guardava a portado mundo dos mortos. Todos esses animaiseram pintados num estilo oriundo doEgito, mas a inspiração vinha
primordialmente do filósofo grego Aristóteles. Não se sabe por que decoravamum túmulo. Talvez representem o domínioda morte sobre todas as criaturas.
Os túmulos traziam os nomes dosmortos e a história da família. Os ricosproprietários vieram de Sidom e ali seestabeleceram, vivendo em Maressa entre300 e 100 a.C. Misturaram-se à gente dolocal, de modo que as crianças nascidas alitinham nomes locais, alguns deles idumeus(edomitas) e, com o passar do tempo, cada
vez mais nomes gregos.Maressa ilustra muito bem a cultura
mista de muitas localidades palestinaspouco antes do nascimento de Cristo. Vilase cidades do Oriente Próximo sempreexibiram uma mescla de raças e crenças. Aaventura de Alexandre inseriu ingredientesnovos e bastante influentes no amálgama.
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MOEDAS JUDAICAS
Os arqueólogos vibramao encontrar moedas nassuas escavações, poispodem dar uma data exata eajudar assim a determinar aépoca e a história de umedifício.
Nas ruínas de Qumran,por exemplo, os escavadoresencontraram dois pequenosmealheiros de moedas decobre que os judeus emitiram
durante sua revolta contraRoma, As moedas sãodatadas, muitas do ano 2 ealgumas do ano 3 da revolta,ou seja, 67 e 68 d.C. (v.“Diante das mesas doscambistas").
Como não se encontrounenhuma posterior ao ano 3,e das 72 moedas só quatroexibiam essa data, sendo orestante do ano 2, osarqueólogos deduziram que68 d.C. foi o ano em que osromanos dominaram o local.
Por outro lado, nafortaleza de Massada, ondeos rebeldes armaram suaúltima resistência contraRoma, encontraram-sealgumas moedas com datasdos anos 4 e 5 — 69 e 70d.C. Essas moedasconcordam com os relatoshistóricos de que os romanosnão conquistaram a fortalezaantes de 73 d.C., depois daqueda de Jerusalém, ondese cunhavam as moedas.
As moedas dão também
outras informações. Desde aépoca em que as primeirasforam cunhadas, talvez porvolta de 600 a.C., na Lídia ena Turquia ocidental,revelaram-se um bom meiode comunicação. Em temposanteriores ao advento dos
jornais e das t ransmissõesde rádio ou de televisão,governos e reis tinhamdificuldade em divulgar suas
políticas. Uma moeda com onome de um rei estampadoou o símbolo de uma cidadeestabeleciam a autoridadedo rei ou da cidade.
Um novo rei podiaanunciar-se emitindo grandequantidade de novas moedascom seu nome ou umamensagem sobre a suasoberania. As moedasgregas e romanas dãoseguidos exemplos do usodo dinheiro para a divulgaçãode propaganda política.
Depois das conquistasde Alexandre, o Grande, asmoedas começaram atornar-se comuns. Nos 300anos anteriores, eram feitasde prata ou de ouro somente,e portanto a maioria daspessoas não precisava usá-las. Quando se cunharammoedas de cobre ou debronze, com valores menorese em quantidades muitomaiores, gente de todas asclasses começou a usá-laslargamente. Soberanos de
O denário de prata era o salário deum trabalhador no tempo deCristo.
Uma moeda de ouro traz o nome e a imagem de Augusto, em cujo reinado como imperador de Roma nasceu Jesus Cristo. O censo que
Augusto decretou tinha por objetivo arrecadar mais impostos.
A moeda de Ptolorneu V, soberano do Egito, data do século IIa.C.
Os judeus cunharam suas próprias, moedas durantea revolta judaica contra Roma no século Id.C.
As moedas de bronzedatam do período hasmoneano.
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TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
Moedas encontradas numa escavação podem muitas vezes
fornecer uma data exata. O pote de bronzee as moedas de prata são dos últimos séculos a. C. e do século I d. C.
estados pequenos erelativamente pobres podiamcunhar moedas de cobre eassim proclamar suaexistência, ainda que nãopudessem bancar a
cunhagem em prata.Foi isso que fizeram ossumos sacerdotes judeusquando os reis gregos daSíria lhes permitiramgovernar a Judéia, depois daGuerra dos Macabeus. Oprimeiro a fazê-lo foi JoãoHircano (135-104 a.C.). Suaspequenas moedas de cobretrazem as palavras “João, osumo sacerdote, e oConselho dos Judeus”grafadas na escrita dohebraico antigo. Tanto aspalavras quanto a escrita
afirmam a natureza judaicado estado, e o título assinalaseu fundamento religioso —o
sacerdote dividia o podercom o Conselho (que maistarde tornou-se o Sinédrio,conselho diante do qual opróprio Jesus foi julgado).
Governantes sucessivos
emitiram moedinhassimilares, usando-as parafazer propaganda pessoal.Alexandre Janeu (103-76a.C.) percebeu o valor dasmoedas para esse fim. Fez-serei, depois mandou cunharmoedas com seu nome etítulo —em hebraico num doslados, e em grego no outro.
O grego nas moedasrevelava sua origem aospaíses vizinhos. É tambémsinal da profunda penetraçãodo grego na sociedade
judaica.
Quando Herodesassumiu o poder, asinscrições em hebraico foram
omitidas. Só reapareceramnas moedas dos rebeldes
judeus em 66-70 d.C. e em132-135 d.C.
As grandes quantidadesde toscas moedinhas de
cobre emitidas pelos sumossacerdotes, e depois porHerodes, seus filhos e osgovernadores romanos,fazem supor que tinhampequeno valor. Ilustram comoera paupérrima a viúva quecolocou as duas únicas quepossuía na caixa de coletado templo. Vendo suadoação, Jesus comoveu-se edisse: “Em verdade vos digoque esta viúva pobredepositou no gazofilácio maisdo que todos os ofertantes.Todos deram do que lhes
sobrava, mas esta, da suapobreza, deu tudo o quetinha, todo o seu sustento”.
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PETRA,A CIDADE OCULTA
(^ ueimar incenso era ato comum deadoração em templos e santuáriosantigos. Acreditava-se que a fragrânciaforte e agradável subia até a divindadecultuada. A fumaça do incenso tambémmascarava o odor capitoso dos animaistostados e queimados em sacrifício.Queimava-se também incenso paraadocicar o ar na presença dos reis assíriose persas, e outras pessoas talvez também otenham usado para esse fim.
Eram necessárias enormesquantidades de incenso para suprir asdemandas do mundo grego e romano. Oingrediente básico era o olíbano, a seiva
de uma árvore que cresce no sul da Arábia. Caravanas de mercadores comfileiras de camelos e jumentos cruzavamlentamente o deserto de sul a norte,transportando carregamentos de incensoaté Gaza e Damasco, de onde eramexportados para todo o Mediterrâneo.Levavam de volta, em troca, finos objetosde metal, cerâmica e vidro das fábricas doEgito, da Síria e da Grécia. No sul da
Arábia, os estados de Sabá, Ma’in eQataban enriqueceram-se com esse
comércio.Nas viagens, as caravanas paravam ondehavia água e abrigo. Alguns desses locais deparada transformaram-se em cidadesimportantes. A mais famosa delas é Petra.Essa cidade foi erguida num vale entrepenhascos de arenito vermelho e róseo,onde o elevado platô do deserto desce aogrande vale alongado ao sul do mar Morto.
Nos séculos entre 300 a.C. e 150d.C., uma das principais rotas do incenso
passava ao lado de Petra ou por dentrodela, guinando a oeste rumo à cidadecosteira de Gaza. Os cidadãos vendiammantimentos e ofereciam acomodaçõesaos viajantes, e os reis impunhamimpostos. Assim a cidade enriqueceu.
O povo de Petra, os nabateus, erauma tribo árabe que se havia assentado,passando a viver segundo os ditames damoda da época, sob influência grega. Semo trabalho dos arqueólogos em Petra e emoutras cidades, pouco se saberia acercadesse povo.
Os nabateus eram exímiosassimiladores de cultura estrangeira. Suas
cidades, templos e túmulos têm projetos eornamentos de inspiração egípcia efenícia, grega e romana. Sua língua eraárabe, mas tomaram emprestado oalfabeto aramaico para escrevê-la. Dosnabateus, esse alfabeto passou aos árabes,tendo-se alterado os formatos das letrascom o passar dos séculos.
Depois que os romanos conquistaramPetra em 106 d.C., a cidade perdeu opoder. O povo viveu ali durante séculosainda, mas os terremotos e o abandono
levaram os edifícios à ruína, até nenhumacasa restar de pé, sendo enfim esquecida acidade. Os exploradores de nossos diasdescobriram-na, identificando-a comoPetra, em 1812. Algumas escavaçõesforam feitas por arqueólogos americanos,britânicos e jordanianos, mas ainda hámuito para descobrir sobre a cidade.
No seu auge, durante a primeirametade do século I d.C., o reino nabateucontrolava boa parte daTransjordânia e a
Letras nas formas usadas na escrita cursiva hebraica do tempo de
Herodes (1), nas inscrições nabatéias (2), na escrita cursiva nabatéia (3) eno árabe(4).
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TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
Petra,, a “cidade vermelho-rósea, quasetão antiga quanto otempo ”, ergue-senum valeentrepenhascos de arenito vermelho e
' cor-de-rosa. A magnífica fachada do Tesouro (página ao lado) provoca instantânea admiração. É na verdadeum túmulo escavado na rocha.
Noalto de um grande rochedo, bem acima da cidade, fica um “alto”semítico, projetado segundoo antiqüíssimo costumede culto com sacrifício de animais. O
Antigo Testamento não raro menciona esses lugares altos, alertando o povo de Deus contra
formas idólatras de culto.
Outrora local de parada de caravanas do deserto, Petra foi colonizada por árabes nabateus queadotaram o modo de vida grego, em voga na época. A cidade
floresceu nos tempos do Novo Testamento, mas perdeu seu poder depois da conquista romana em 106 d. C. Abaixovê-seuma sériede túmulos escavados nos rochedos.
região mais meridional da Palestina (oNeguebe). No reinado do seu soberano
mais poderoso, Aretas IV (cerca de 9 a.C.até 40 d.C.), a nação chegou a controlarDamasco por certo tempo. (O apóstoloPaulo fugiu do “que governava sob o rei
Aretas” em Damasco, sendo baixado domuro da cidade num cesto.)
Nessa época, segundo revelam estudosrecentes, uma grande rua cruzava o centro dePetra, e ergueram-se edifícios esplêndidos nosterraços que a ladeavam. A rua dava numtemplo quadrangular, construído segundo oantigo modelo de pórtico, lugar santo e
santuário que o próprio Salomão seguira.Espalhadas ao longo do vàle, de cada
lado da rua principal, ficavam as casas eoficinas da cidade. Algumas eram
construídas com pedras finamentelavradas, e a argamassa das paredesinternas era decorada com molduras epinturas.
Numa área os nabateus eramespecialistas: a fabricação de cerâmica. Osartesãos nabateus aprenderam a fazerobjetos finos como porcelana, mas feitos àmão na roda do oleiro, e não em fôrmas.Os pratos eram especialmente finos,pintados em marrom com desenhos florais.
Esse tipo de cerâmica fina quebra-se
facilmente, e por isso são bem rarosexemplares inteiros. Mas tantos são oscacos encontrados nos sítios nabateus, queé evidente ter sido a cerâmica bem comum—e não fabricada por um único artesãopara clientes ricos.
A cidade de Petra era protegida poruma muralha dotada de torres e pelosrochedos e penhascos que a cercavam. Napedra macia desses rochedos, o povo dePetra esculpiu os monumentos que deramfama à cidade. Eles queriam enterrar seusmortos de modo que jamais fossem
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TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
esquecidos, e perceberam que o arenito erabem apropriado ao entalhamento.
Seus canteiros abriam na rocha umaporta que dava para um grande recinto. Alipodiam-se colocar algumas sepulturas, epodia-se também escavar outras câmarasmortuárias a partir do recinto principal. Aoque parece, alguns dos recintos eramplanejados para que os parentes pudessem
visitar os túmulos e executar ali rituais emhomenagem aos mortos.
O paredão rochoso fora do túmulo eratambém preparado para o entalhamento.Na maioria dos casos era alisado, lavradopara que parecesse haver ali uma porta feita
de pedra e, acima, um telhado.Os cidadãos mais ricos, a família real e
gente ligada a ela tinham túmulos aindamais magníficos. Para eles, a rocha eraesculpida em forma de templo romano.
Os visitantes de Petra vêem primeiro omais belo. Ao avançar pelo estreitodesfiladeiro de dois quilômetros decomprimento que conduz à cidade, nada se
vê senão paredões rochosos. De repentesurge à frente, ao final da garganta, umamaravilhosa escultura cor-de-rosa.
Acima de uma entrada com pilares, vêem-se colunas entalhadas na pedra comdelicadas imagens em relevo entre elas. Noalto, no frontão que fica trinta metrosacima do solo, há um grande vaso depedra. E maciço, mas o povo da regiãoatirou nele durante anos, esperandoquebrá-lo para encontrar ouro lá dentro.
O túmulo é ainda chamado Tesouro doFaraó, El-Khazne. Ninguém sabe de quemé o túmulo; um importante estudiosoafirma que foi construído para Aretas IV.
Os espetaculares túmulos escavados narocha em Petra e as pedras caídas de umacidade que já foi grande um dia revelam ofausto e a técnica que os nabateus exibiam
no tempo em que o rei Herodes erguia seusesplêndidos edifícios (v. “Herodes —o
grande construtor de castelos”). Além dotemplo construído ao final da rua principal,havia outros lugares sagrados em Petra, e umdeles é de especial interesse. Dezenas demetros acima da cidade, no topo de umgrande rochedo, ergue-se um alto. Não éum templo no estilo grego ou romano, masum “lugar alto” semítico, construídosegundo um costume antiqüíssimo.
Uma avenida processional escavada narocha, com degraus cuidadosamenteesculpidos, conduzia ao cume do monte. Alio fiel chegava a uma área sagrada. Duas
colunas de pedra a delimitavam, não feitasde blocos de pedra, mas criadas pelalapidação da rocha, até que se erguessemisoladas. Cada uma tem cerca de seis metrosde altura, e entre elas há um espaço de
vários metros — portanto, retirou-se grande volume de rocha. Essas colunas lembramaquelas encontradas nos templos cananeus(v. “Cidades conquistadas de Canaã”).
Além das colunas, o cume do rochedofoi eliminado. Abriu-se uma área planade cerca de 14 por 6 metros, com um
banco lavrado na rocha em três lados. Noquarto lado, voltado a leste, fica o altaresculpido na rocha, ao qual se chega porum lance de três degraus. A esquerda doaltar outros degraus sobem até uma baciacircular escavada na rocha. Um drenoque sai da bacia faz supor que os animaiseram abatidos ali. Embora o altar sejagrande o bastante para que uma pessoa sedeite sobre ele, não há indícios de que osnabateus sacrificassem seres humanos.
Por muitos séculos, os nabateus e suacidade ficaram esquecidos. Sua redescobertaé outra proeza da arqueologia e umacontribuição aos antecedentes culturais doNovo Testamento.
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MASSADA —A ÚLTIMA FORTALEZA
A vista lateral de Massada mostra claramentea grande rampa queas tropas romanas tiveram deconstruir para alcançar os maciços portões einvadir os muros da
fortaleza. Não houve rendição. Ossoldados invasores foram saudados por um macabro silêncio.
Os nabateus sentiam-se seguros na suacidade oculta. O rei Herodes, cuja mãe vierade Petra, queria segurança. Herodes
convivera com o medo toda a vida. Sabiaque ninguém realmente lhe queria bem. Sealguém conseguisse tomar-lhe a coroa e a
vida, o povo faria do assassino um herói. Porisso Herodes matava todo aquele quesupussese ser um rival —até dois dos seuspróprios filhos e os menininhos de Belém,pois um deles poderia ser o rei-criança queos magos procuravam (v. “Herodes —ogrande assassino”). Só o fato de Herodescontar com a proteção de Roma impedia os
judeus de insurgir-se contra ele. Seu medo
levou-o a construir castelos fortificados:Maquero e Heródio, a cidadela de Jerusaléme outros mais —mas, acima de tudo,Massada.
Esse rochedo isolado, que se erguia nodeserto a oeste do mar Morto, era uma
fortaleza natural. Herodes a usou paramanter sua família em segurança quando
viajou até Roma para granjear o apoio do
homem que se tornaria César Augusto, eMassada resistiu a um cerco naquelaoportunidade. Ao voltar, ele a fortificoupesadamente, e continuou a reforçá-ladurante seu reinado para que ficasse o maissegura possível, além de confortável.
Depois da morte de Herodes, emmarço de 4 a.C., Massada ganhou umaguarnição. Depois os rebeldes judeus acapturaram em 66 d.C. e fizeram dela seuúltimo foco de resistência. Os militaresromanos armaram acampamento no sopédo monte e, ao final, conseguiramconquistar o forte ajuntando terra epedras para fazer uma grande rampanuma das encostas. Quando invadiram osmuros, os defensores preferiram matar aspróprias famílias e a si mesmos a cair emmãos romanas. Tudo isso nos conta Josefoem sua História da guerra judaica, concluída em 79 d.C.
O rochedo de Massada foi um dossítios que Edward Robinson identificou em1834. Diversos exploradores posteriores o
visitaram e escreveram sobre ele, mas só
depois das notáveis descobertas dosarqueólogos israelitas dirigidos por Yigael
Yadin, em 1963-1965, o local começou aser bem-compreendido.
Um bom suprimento de água é vital para qualquer um que pretenda morarno cume de um monte no deserto.Massada era bem suprida de reservatóriosescavados na rocha, com canais eaquedutos que os abasteciam de água.
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TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
Mesmo assim, homens e jumentostinham de carregar água das cisternasmais baixas até as mais elevadas. Acapacidade de resistência de Massadadependia em larga medida do seu sistemade abastecimento de água.
Em torno do cume plano do monte,bem na beirada, corria um muro duplo comtorres intervaladas e quatro portões, de ondesaíam trilhas que desciam até o sopé do
morro. Dentro dos muros havia casernas,armazéns e alojamentos para o pessoal docastelo. Havia também dois palácios.
Um deles ficava no alto do monte,perto da encosta ocidental. Esse era paraocasiões oficiais. Um salão pavimentadocom belo mosaico dava para umapequena sala do trono, e não longe dalihavia uma pequena sala de banhosquentes e frios.
A vista aérea dá idéia de como era
inexpugnável a fortaleza de Herodes em Massada. Eleconstruiu seu palácio nos terraços que aparecem em primeiro plano. Ali abrigou-seo último foco da resistência judaica contra o poder de Roma, e um suicídio em massa no final privou o inimigo do pleno sabor da vitória.
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MASSADA — A ÚLTIMA FORTALEZA
A planta mostra as despensas e os palácios de Herodes, conquistados pelos zelotes judeus como seu último refugio.
Para descansar, porém, Herodes ergueu um
segundo palácio, palácio de lazer, na face nortedo monte. Na beirada do monte ficavam oscômodos íntimos, com pisos de mosaico preto ebranco e paredes pintadas. Havia ali tambémum pórtico semicircular com colunata de onde orei e seus amigos admiravam as colinas estéreis.
Em plano inferior à superfície do cumenessa extremidade setentrional, vintemetros abaixo das acomodações privativas,
havia um terraço com uma construção
arredondada. Restaram somente asfundações e pedaços de pedras e colunasesculpidas —vestígios insuficientes paraque os arqueólogos pudessem determinar afunção do edifício. Ao lado dele há ruínasde outros recintos, incluindo um salãocom pinturas.
Ainda quinze metros abaixo, bem naextremidade do monte, vê-se outro terraço.
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TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
Sobre uma plataforma quadrangularhavia pórticos com paredes pintadas e
colunas douradas, aparentemente localpara reuniões e conversas. No mesmoterraço havia outra sala de banhos, paraconforto e bem-estar de Herodes e seusprivilegiados convidados. Em váriosedifícios encontraram-se jarros de vinhoquebrados com a inscrição em latim“para Herodes, o rei dos judeus”, além dadata e do local da vindima na Itália. Eisaqui mais uma prova do amor deHerodes ao luxo.
A última fase de Massada comofortaleza foi quando os zelotes judeus
armaram ali resistência contra osromanos. E desses anos (66-73 d.C.) que
vêm as descobertas mais surpreendentes.Os rebeldes remodelaram algumas dasconstruções. Ergueram uma pequenasinagoga para o culto, como em Heródio,e fizeram dois tanques para banhos rituaisem outras partes do monte, construídossegundo as regras preservadas na tradição
judaica posterior.Os pisos e os telhados do palácio de
Herodes, na extremidade norte,
forneceram boa quantidade de madeira. As outras construções e os recintos dentrodo muro que contornava o monte foramtransformados em alojamentos e oficinas.
A maioria deles foi incendiada. Nosescombros acharam-se vasilhas, panelas eobjetos de vidro quebrados, além deferramentas e armas, pilhas de tâmaras erestos de outros alimentos. Escondidosem alguns dos recintos havia pequenosmealheiros dos siclos de prata emitidospelos rebeldes.
A atmosfera quente e seca da costa domar Morto permitiu que sobrevivessem
coisas incomuns. Na sinagoga e nasimediações, os escavadores encontraramfragmentos de rolos de couro. Algunstrazem textos bíblicos, partes de Gênesis,de Salmos, de Ezequiel e de outros livros.Há também trechos de Eclesiástico e delivros encontrados em meio aosmanuscritos do mar Morto.
Na casa de banhos no mais baixo dosterraços setentrionais havia o esqueleto deum homem, de uma mulher e de umacriança. Ao lado deles, fragmentos de ummanto de oração de lã, as sandálias de
uma mulher e seus cabelos trançados.Cacos de cerâmica haviam servido depapel de rascunho; encontraram-se váriascentenas de pedaços. Dezenas delestraziam uma ou duas letras hebraicas. Oescavador julgou que fossem tíquetesusados numa espécie de sistema deracionamento de comida.
Outros cacos traziam nomes, ou eramrótulos para o dízimo ou para uso sagrado.Doze deles traziam escrito um único nome,sendo um desses nomes aparentemente o
do comandante dos rebeldes. Yadin julgouserem esses os cacos com os nomes dosúltimos defensores; segundo Josefo, eleslançaram a sorte para decidir quem deveriamatar os outros e depois a si mesmo.Estudos posteriores mostram que talvezfossem símbolos, como muitos outrosencontrados ali —talvez tíquetes derefeição, para garantir rações iguais duranteo cerco. Seja como for, em Massada aarqueologia lança um dos seus raios mais
vividos de luz sobre a história.
Entreos objetos quesobreviveram da ocupação dos zelotes judeus em
Massada estavam essas espátulas de cosmético para as pálpebras, uma tampa de espelho, sandálias e um pente.
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ENTRADA PROIBIDA — EXCETO PARA JUDEUS
A H is tór ia de u m a P edra
Houveum tumulto quando os judeus pensaram queo apóstolo Paulo havia levado um dos seus amigos gregos para dentro do pátio do templo. Issoera estritamenteproibido. Avisos, escritos em grego
para queos estrangeiros os compreendessem, vedavam a entrada a todos quenão fossem
judeus, sob pena de morte. Em1871, um desses avisos, gravado em pedra calcária, foi encontrado em Jerusalém. Partede outro veio à luz em 1936.
A j l \ . guarnição romana em Jerusalém erausada para cuidar dos tumultos. Para os
judeus, religião e nacionalismo andavam de
mãos dadas —e isso era encrenca na certa.Os soldados tinham o claro dever demanter a ordem, controlar o povo e tentargarantir que se fizesse justiça.
Num dia do ano 59 d.C., eclodiu umtumulto dentro do próprio templo. Logoque tomou conhecimento, o comandanteromano convocou dois dos seus homens emarchou rapidamente até o local. Antes dechegar, a turba havia saído do templo paraas ruas, e as pesadas portas orladas de metal
já estavam fechadas.
Os líderes do tumulto estavamatacando um homem, obviamente com ointento de matá-lo. Quando viram que seaproximavam os soldados e o tribuno,pararam e simplesmente continuaramsegurando a vítima até a chegada dos
romanos. A turba acalmou-se assim que ohomem foi acorrentado. Todos começarama gritar novamente quando o magistrado
perguntou o que estava acontecendo. Orelato completo está registrado no NovoTestamento, em Atos dos Apóstolos,capítulo 21.
A vítima era Paulo, apóstolo epregador. Foram judeus que já o haviamencontrado na Ásia Menor que começaramo tumulto, e pretendiam silenciá-lo. Agora,em Jerusalém, viram-no circulando comum amigo grego. Certamente Paulo olevara consigo para dentro do pátio dotemplo. Finalmente tinham um bom
motivo para armar um tumulto.Desde o início da existência de Israelcomo nação, os israelitas sabiam ser eles opovo de Deus. Ninguém poderia adorar aDeus corretamente a não ser que setornasse judeu e obedecesse à lei de Moisés.Ninguém que não fosse judeu poderiaentrar no recinto sagrado do templo.
O rei Herodes reconstruiu o templode Jerusalém entre 19 e 9 a.C. Ele o fezmuito maior do que era antes (v. “Ogrande templo de Herodes”). Havia umgrande pátio aberto, com colunatas nas
laterais, no qual qualquer pessoa dequalquer raça poderia entrar. Era ali queos mestres caminhavam e ensinavam seusdiscípulos, e também era ali que se faziatoda espécie de negócio.
No meio do pátio ficava uma cerca oumuro baixo de pedra, de aproximadamenteum metro e meio de altura. O muro cercavao edifício do templo, e só os judeus podiampassar dali. Para deixar isso bem claro, havia
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TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
avisos ao longo do muro. Josefo, ohistoriador judeu do século I d.C., diz que
eram escritos em grego e em latim.Há pouco mais de cem anos, em1871, descobriu-se em Jerusalém umdesses avisos, escrito em grego. Estágravado num bloco de pedra calcária de57 centímetros de altura e 85 centímetrosde comprimento. Parte de outra cópia veioà luz em 1936, e mostra que a princípio asletras, cada qual com 3,8 centímetros dealtura, eram pintadas em vermelho paraque se destacassem bem sobre a pedrabranco-creme.
Na inscrição lê-se: “Nenhum
estrangeiro pode passar a barreira e o
muro que cerca o templo. Qualquer umque for pego fazendo isso será ele mesmo
culpado por sua conseqüente morte”.Ninguém poderia duvidar do significadodisso. E qualquer um que desobedecesseseria quase com certeza linchado.
A força do alerta era amplamentereconhecida. Josefo relata que o generalromano Tito, mais tarde imperador,admitiu que a regra valia até mesmo paraos cidadãos romanos. A autoridade deRoma era soberana, e só o governadorromano poderia ordenar uma execução.No entanto, os romanos respeitavam areligião judaica e deixavam o controle da
área do templo a cargo dos sacerdotes.
A reconstituição mostra os muros ocidental e meridional do grandetemplo de Herodes, construído para conquistar as graças do povo judeu,
queo odiava.
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ENTRADA PROIBIDA — EXCETO PARA JUDEUS: A HISTÓRIA DE UMA PEDRA
Portanto, uma afronta ostensiva às leisreligiosas, como a entrada de um não-
judeu na área restrita, poderia ser punidaimediatamente.
Mas, no caso de Paulo, o magistradonão conseguiu avaliar bem a situação, eentão levou-o sob custódia; no final, oapóstolo foi conduzido a Roma para ser
julgado.Essa cópia do aviso está hoje num
museu de Istambul, na Turquia.(Jerusalém fazia parte do Império Turcona época em que a pedra foi encontrada.)Também para Paulo, o melhor lugar para
ela seria um museu. Para ele, o avisohavia perdido sua força.
Ao que parece, Paulo tinha essainscrição em mente quando escreveu paraos cristãos de Éfeso e de outras cidades da
Ásia Menor. Disse-lhes que a distinçãoentre judeus e não-judeus já não existia.
Jesus Cristo a havia desfeito. “Pois ele [...]
destruiu a parede de separação.” Emconseqüência, qualquer um podeaproximar-se de Deus por meio dele. Todosos que fazem isso são como pedrasassentadas no templo único de Deus.
Tanto a pedra que está em Istambulquanto o fragmento hoje num museu de
Jerusalém parecem ter sido gravadas noreinado de Herodes. Devem ter ficado notemplo durante toda a história doevangelho. Estão entre as coisas maisinteressantes dentre as poucas que aindapodemos ver com a certeza de que Jesus eseus discípulos também as viram. E ainda
hoje nos passam uma mensagem: nãocomo parede de separação, isolando judeude não-judeu, mas como testemunha denova mensagem.
Jesus derrubou a parede divisória.Somente por Jesus Cristo é que povos dediferentes nações, raças e culturas podem“tornar-se um”.
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