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A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA
AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO
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DESNACIONALIZAÇÃO E CONCENTRAÇÃO DA INDÚSTRIA
LÁCTEA NO BRASIL
PABLO JONAS CAMILO1
Resumo:
O presente trabalho buscara apresentar alguns dados qualitativos e
quantitativos do indelével processo de desnacionalização e concentração que
a indústria láctea do Brasil vem apresentando desde os anos de 1990. Este
fenômeno se da em grande parte pelos IED´s realizados por empresas
multinacionais que já atuam no segmento e por capitais oriundos de Fundos
de Investimento e Pensão. Suas estratégias de atuação concretizam-se via
processos de fusões e aquisições de empresas nacionais (tradicionais) e
suas respectivas estruturas de transformação e fomento. Este fenômeno esta
promovendo uma forte reestruturação deste segmento e auferindo
significativas mudanças por toda a cadeia produtiva.
Palavras Chave: Lácteos, Desnacionalização, Concentração
Abstract:
This work sought to present some qualitative and quantitative data indelible
denationalization process and concentration that the dairy industry in Brazil has
been showing since the 1990. This phenomenon is of largely by IED´s made by
multinational companies that already operate in the segment and capital arising
Investment and Pension Funds. Their strategies materialize up via mergers and
acquisitions of domestic companies acting (traditional) and their transformation
and development structures. This phenomenon is promoting a strong
restructuring of this segment and earning significant changes throughout the
production chain.
Keywords: Dairy, Denationalization, Concentration 1 Doutorando do Programa de Pós Graduação em Geografia – PPGG da Universidade Federal
de Santa Catarina – UFSC. Membro do grupo de Pesquisa - Formações Espaciais: Progresso Técnico e Desenvolvimento Econômico. Endereço eletrônico pablocamilo1@hotmail.com
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1 - Introdução
O ambiente econômico, social e institucional estabelecido no Brasil a
partir da década de 1970 foi fundamental pra promover algumas
características peculiares na indústria láctea. Entre 1930 e 1970 a consolidação
de uma grande variedade de indústrias de laticínios tiveram com principal
fomentadores as políticas de substituição de importações, proteção e
tabelamento de preços, financiamentos Federais e Estaduais, tributação
diferenciada, pouca ou nenhuma restrição de caráter ambiental. Ainda
obtiveram a formação de mercados consumidores urbanos com a
desintegração do complexo rural orientados pela formação e ampliação de
uma estrutura complexa voltada ao transporte, circulação de mercadorias e
comunicação articulação do território
Estes elementos garantiram o amadurecimento de uma indústria nacional
durante décadas que acompanhava e concorria diretamente com algumas
empresas multinacionais que aqui se instalavam. As cadeias produtivas com
suas respectivas estruturas, principalmente a produção primaria, consolidaram-
se e atualmente o Brasil destaca-se como 6º maior produtor de leite do mundo.
A partir das décadas de 1970 o ambiente político estabelecido criou o
ambiente favorável para a entrada de novas empresas multinacionais no
mercado brasileiro, marcando o inicio de uma nova faze para este mercado
com a introdução de inovações nas embalagens (descartáveis) o surgimento
do leite tipo B, as e a instalação da indústria de equipamentos. Deste período
em diante as empresas detentoras maiores volumes de capital e tecnologias
passaram a organizar economias de escopo e inovações em produto.
A década de 1990 marca um amplo processo de desnacionalização da
indústria láctea a partir de amplos processos de fusões e aquisições criando
grandes empresas capazes de condicionar de forma mais eficiente e agressiva
os setores a montante e a jusante. Assim:
O processo de globalização, na medida em que ampliou os mercados por meio de quedas das barreiras aos fluxos de bens, serviços e capitais, alterou também o ambiente institucional no qual as empresas estavam acostumadas a operar. Além disso, levou ao
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acirramento da concorrência interempresarial não apenas no Brasil, mas também no mundo. Dessa maneira, a evolução das fusões e aquisições deve ser entendida como resposta estratégica das corporações ao surgimento desse novo ambiente institucional e concorrencial proporcionado pelo processo de globalização. As principais conseqüências dessa evolução são o aparecimento de megacorporações, a concentração produtiva e a elevação das escalas mínimas de produção em diversos setores. Entre as principais motivações do movimento de fusões e aquisições, destacam-se: a penetração em novos mercados, em curto período de tempo; a consolidação do market share a nível global; as oportunidades de investimento, em função da desregulamentação dos mercados; a alteração no padrão tecnológico, proporcionando amplas escalas de produção e a redução de custos; a obtenção de sinergias de natureza tecnológica, financeira, mercadológica e organizacional; a possibilidade de ganhos de natureza financeira. (FILHO e SILVA, 1999, pg. 380)
Isto posto, serão apresentados alguns dados sobre o atual complexo
produtivo de leite do Brasil e alguns exemplos de fusões e aquisições que
ocorreram nos últimos anos.
2 - Fusões e aquisições da indústria láctea
Fusões e aquisições estão sendo o principal elemento para promover
crescimento e concentração das empresas Segundo Benetti (2004, p. 22) o
ambiente comercial agroindustrial dos países de primeiro mundo dava indícios
de estagnação desde a década de 1980, estimulando assim as empresas
multinacionais a promoverem entrada em novos mercados através da criação
de filiais2 que são os reflexos de Investimentos Externos diretos. Estas filiais
tinham como objetivo sondar o mercado nacional e verificar seu potencial.
De acordo com a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento - Unctad (1998)], o processo de fusões e aquisições é o principal motor dos fluxos de investimento direto estrangeiro. Só em 1997, as transações transfronteiriças envolvendo empresas de
2 Em 1982, das 42 multinacionais que tinham como atividade principal o leite apenas 6 tinham
atividades no Brasil, através de 16 filiais. As unidades industriais estavam distribuídas da seguinte forma: 8 da Nestlé; 1 da Beatrice Foods; 2 da Borden; 2 da BSN Gervais Danone; 1 da Snow Brand Milk Prod; e 2 da Sodima Yoplait. Após esse período outras empresas multinacionais instalaram-se no Brasil, tais como La Sereníssima, Sancor, sendo que o grande destaque foi aParmalat, que “revolucionou” o setor. (CARVALHO, 2010, pg. 02) Modificações no quadro patrimonial também se fizeram presentes, em 1993 a distribuição dentre as maiores captadoras era 33% de multinacionais, 50% de cooperativas e 17% de empresas privadas nacionais. (CARVALHO, 2010, pg. 04)
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diferentes nacionalidades . representaram 85% dos fluxos de investimento direto estrangeiro - Unctad (1998)], tendo crescido a uma taxa de 21% a.a. no período 1987-1990, de 30,2% a.a. no período 1991-1995 e de 45,2% a.a. entre 1996 e 1997.(FILHO e SILVA, 1999, pag. 381)
Sobre as vantagens de promover fusões e aquisições Belik (1994)
destaca:
Diversas razões são comumente apontadas como explicativas para o grande volume de fusões e aquisições ocorrida na última década nesta indústria. Entre elas podemos apontar a busca de “economias de escopo” por parte das empresa líderes, a busca de melhores posições em mercados emergentes, as boas possibilidades de retorno na compra de participações em empresas subavaliadas e, evidentemente, as possibilidades de introdução de barreiras tecnológicas permitindo a consolidação de determinadas lideranças de mercados. (BELIK , 1994, p.60)
A estratégia de fusões e aquisições podem garantir a eliminação de
concorrentes, contenção a entrada de novas empresas, saltar etapas no
processo de crescimento, garantir o suprimento de matérias primas, insumos e
os canais de distribuição da empresa adquirida e agilizar a entrada no
mercado3. Sem contar o fato de que através de fusão ou aquisição as
atividades são iniciadas de forma imediata e o aumento da concentração de
capital se torna elemento chave para a negociação de ativos em bolsas de
valores. Isso demonstra que:
De uma maneira geral, a trajetória das empresas multinacionais ocorre do seguinte modo: inicialmente existe uma prospecção de mercado, quando a empresa através da importação realiza uma testagem do mercado, posteriormente a empresa realiza alianças com empresas nacionais, utilizando o aparato de comercialização da empresa nacional e só depois passa para a etapa em que terá produção própria, com a sua marca. (BELIK, 1999, p.45)
3 3
A empresa Parmalat tornou-se uma das 20 maiores empresas de alimentos do mundo e
líder mundial no mercado de leite fluido, tendo-se estruturado em 30 países, através de uma gigantesca rede de 139 centros de produção, que ocupou mais de 36 mil funcionários e integrou milhares de pequenos produtores de leite. O resultado final do processo de aquisições da Parmalat no Brasil foi o desaparecimento de empresas de pequeno e médio portes operando em mercados regionais e de suas marcas e um conseqüente aumento da concentração da produção no setor de laticínios. Dados dos anos 2000 mostraram que quatro empresas respondem por 35% do mercado nacional de laticínios e que apenas duas, a Elegê (recentemente adquirida pela Lactális) e a Parmalat, por 70% do mercado gaúcho (GAZETA MERCANTIL, 2000).
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Para se ter ideia, no mundo segundo a Rabobank (2013) em 2012
ocorreram 111 transações de empresas lácteas, e em 2013 foram 124, e o
maior número desde 2007. Até meados de 2014 , já foram feitas e confirmadas
41 transações no mercado de lácteos e 14 das 20 maiores companhias de
lácteos fizeram fusão, aquisição ou estabeleceram uma join-ventures com uma
ou mais companhias nos últimos 12 meses. Além disso muitas outras
empresas ainda estão em processo de negociação.
Dentre as 12 maiores empresas de lácteos atuantes no Brasil 5 são
multinacionais captando aproximadamente 25 % do leite produzido. As 20
maiores empresas processadoras em 2013 captam 40 % de do leite recolhido
no mundo, destas 4 estão presentes no Brasil. International Farm Comparison
Network –IFCN, (2014). Observe o quadro na sequencia com a relação das
maiores empresas de lácteos do Brasil e do Mundo.
* Multinacional classificada entre as 20 maiores do mundo que estão presentes no Brasil.
** Multinacional presente no Brasil *** Dados não revelados
Quadro 01 – Maiores empresas de laticínios do Brasil e do Mundo. Fonte: Para o Brasil - LEITE BRASIL, CNA, OCB, CBCL, VIA LÁCTEOS e EMBRAPA/Gado de
Leite; Para o Mundo - Rabobank International Food & Agribusinees Research and Advisory. Global Dairy Top. 20.
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A formação de grandes industrias tem a capacidade de impelir os
Estados Nacionais a criarem as condições institucionais e legais para sua
formação e ainda fazer uso de seus recursos financeiros através de bancos
públicos para adquirir capital via financiamentos. Segundo Bukarin (1928, p.
155 “Uma oligarquia financeira instalou-se no poder e dirige a produção,
reunida pelos bancos em um só feixe. Este processo de organização da
produção partiu de baixo para vir a consolidar-se nos quadros do Estado
modernos, intérpretes fiéis dos interesses do capital financeiro”. Neste sentido
podemos perceber que as novas faces do modo de produção capitalista
atribuem ao Estado um papel de subordinação em relação ao capital e as
grande empresas.
Para demonstrar de forma pratica tem-se o exemplo da constituição da
empresa Lácteos Brasil – LBR. Segundo informações do site sua formação se
deu em 2008 quando a GP investimentos (fundos de investimentos) adquiriu a
LeitBom que acabara de se transformar em S.A. no mesmo ano foram
adquiridos a marca Poços de Caldas e ativos a ela relacionados. Em junho de
2010, a LeitBom licenciou a marca Parmalat no Brasil. No final do mesmo ano,
as duas empresas, LeitBom e Bom Gosto, apoiadas pelo BNDES, constituíram
a LBR. Com os processos de fusões e aquisições de plantas por quase todo o
Brasil a LBR deteve o direito de uso das marcas Parmalat, Poços de Caldas,
Boa Nata, Bom Gosto, Líder e LeitBom e Cedrense. Chegou a capacidade de
produzir mais de 2 bilhões de litros de leite por ano, empregando 5,8 mil
pessoas e abrangendo uma cadeia de 56 mil produtores de leite.
Este caso representa claramente a atuação do Estado na tentativa de
promover a formação de grande grupos nacionais, segundo Fiegenbaum e
Rohenkohl, (2012, p. 13) “existe uma estratégia por parte do BNDES em
capitalizar grandes empresas nacionais no setor de lácteos, para que as
mesmas possam atuar no exterior”. Em outras palavras, apesar de promover a
reprodução do capital financeiro e a consolidação de grandes empresas de
caráter monopólico. O Estado esta atuando estrategicamente no sentido de
colocar no mercado nacional e mundial uma empresa de lácteos de origem
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brasileira a altura dos grandes grupos multinacionais já consolidados. Para
tanto Rangel aponta:
Não passa sem consequências a escolha entre desmantelar ou controlar os monopólios ou formações a este aparentadas (os oligopólios). Casos há em que o monopólio emerge como um imperativo de ordem técnica ou econômica, de tal modo que seu desmantelamento evolveria a própria desnutrição da indústria ou do serviço ou, no melhor dos casos, um sério retrocesso tecnológico, com graves repercussões sobre os custos. Esses casos aumentam de número, à medida que a economia progride, que a tecnologia avança. Em tais casos, o disciplinamento do uso dou próprio exercício do poder monopólio pelo poder público surge como única solução para o problema, sem alternativa possível. (RANGEL, 1963, p. 621)
Apesar de a empresa não divulgar dados oficiais estima-se que entre
2011 e 2014 a LBR tenha ficado entre as 3 maiores empresas de lácteos do
Brasil em volume de captação, concorrendo com as multinacionais Nestle,
Danone e Vigor. Porem atualmente encontra-se em recuperação judicial e 17
de suas plantas industriais foram adquiridas pela multinacional francesa
Lactális4, sua derrocada possibilitou que mais uma grande empresa
multinacional se estabelecesse no Brasil.
O organograma apresentado na sequência mostra como a multinacional
Lactális tornou-se detentora de uma ampla gama de unidades industriais,
marcas e empresas, pois adquiriu empresas que desde o início da década de
1990 vinham praticando processos de fusões e aquisições. Assim
considerando as fusões realizadas pelas empresas adquiridas pela Lactális
constitui-se uma complexa estrutura.
4 Segundo a revista Exame em reportagem exibida em 04/09/2014 A multinacional francesa
Lactalis esta entre as maiores empresas de lacteos do mundo, possuindo 200 unidades industriais em 145 países, sendo atualmente proprietária de 83% da Parmalat na Itália. Conta com 61 mil funcionários e movimenta 16 bilhões de euros, opera em 8 divisões de negócios. A Lactális também adquiriu por 1,8 bilhões o setor lacteos da BRF formada pela fusão da Elegê (Avipal S.A. Sadia) e Batavo (Perdigão).
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* Os métodos utilizados para a elaboração deste organograma não fazem distinção entre unidade industrial, marca ou empresa.
ORGANOGRAMA 01 – Principais fusões e aquisições realizadas por empresas adquiridas pela Lactalis.
Fonte: Elaborado pelo autor com base em pesquisas em diversas reportagens e homepage de empresas.
O que se pode perceber por parte dos proprietários das empresas
nacionais é que estes realizam fusões e aquisições visando aumentar a
concentração e receitas ampliando assim a capacidade de atrair investimentos
e negociarem ativos no mercado financeiros. Uma vez estando formada uma
grande empresa a partir de fusões e aquisições de empresas nacionais
menores, estas companhias são postas a venda para grupos de investidores
e/ou fundos de pensão que estão buscando entrar no mercado brasileiro de
forma agressiva e especulativa.
Nesse contexto, novos agentes ganham relevo enquanto articuladores estratégicos do controle de grandes empresas nacionais: os investidores institucionais, em especial os fundos de pensão, e os investidores externos. Alianças estratégicas também são formadas entre grupos nacionais, estabelecendo-se arranjos societários envolvendo a participação desses atores. Enfim, são novas formas de governança corporativa na economia brasileira. .(FILHO e SILVA, 1999, pg. 339)
Corlac
Glória
Lactis
Poços de Caldas
Lacesa - RS
Saga Agroindustrial Friolat - SP
Boa Nata Via Láctea - SP
Comleite Laticínios Teixeira
Alimbra - BH
Lavisa - BH
Alpha - RJ
Suprema - MG
Santa Helena - GO
Go-GO - Goiás
Mocóca - GO
Planalto - MG e RJ
SPAM - RJ
Avaré
Naturalat/leiteSol - SP
Bethânia
Ouro Preto
Ivoti - RS
Batavo - PR
Queijo Minas - MG
Mococa - SP e PR
Cilpe
Sodilac - RS
Fiorlat
Yolat - SP
COTRIJUC
Parmalat
Lat. Dobon
Lat. Sta Rosa
El Vaquero
COAGRISOL
COMTUL
COOLAN
COOPERMIL
COOPIBI
COTRIFRED
COTRIJAL
Cedrense
Lider
Batavia S.A
Cotochés
Morrinhos
Pulista
Nestle (1 unidade)
Coroada
CCLPL - Coop. Central de Laticínios
Elegê (Avipal)
Leite Bom
LACTALIS
São Gabriel
LBR
COTRISOJA
COTRIBÁ
SANTA CLARA
COCPELL*
BOM
GOSTO
Da Matta
Ibituruna
Sarita
Bom Gosto
COTRIJUI
COTRICAMPO
COTRIMAIO
COTRIPAL
2º Colocado
2,6 Bilhões de litros
(estimativa)
1,3 Bilhões de litros da
BRF e 1,3 Bilhões de
litros da LBR
(estimativa)
Obs. Ocupa a segunda
colocação por divulgar
apenas o volume
captado pela BRF.
BRF (Sadia e
Perdigão)
COTRIROSA
COTRISAL
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Outra forma de organização empresarial no modo de produção capitalista
são as cooperativas, que no mercado de lácteos estabeleceram-se entre as
maiores empresas de laticínios entre 2008 e 20135. Porem estas empresas
estão aderindo as condições impostas pelos novos padrões de atuação do
capital.
Segundo informações extraídas da homepage da Itambé, a cooperativa
figurou entre as quatro maiores em 2012, obteve este patamar ao estabelecer
parceria em 2002 com a Sertrading (empresa de serviços de comércio exterior
e distribuição de produtos), fundando a Serlac, join-venture voltada para
exportação de lácteos. Como resultado a exportação passou de 13 para 63
países, tornando-se a maior exportadora de lácteos do Brasil. De acordo
informações da Sertrading (2012), em 2004 as exportações da Serlac
representaram 33% das exportações de lácteos do Brasil.
Recentemente a Itambé tornou-se S.A. e teve 49% de seus ativos
adquiridos pela multinacional Vigor, esta por sua vez possui desde 1986 uma
join-venture com a dinamarquesa Arla Foods, à razão de 50%, por meio da
qual criaram a Dan Vigor Indústria e Comércio de Laticínios Ltda, em 1990 a
Dan Vigor adquiriu a Leco e a Lat. Serrabella. Em meados de 1990 a Dan
Vigor foi adquirida pela Bertin. Por fim, ao final dos anos 2000 a FB
participações (Fundos de Investimento) financiou a aquisição da Bertin pela
JBS. Logo a Mineira Itambé e a Laticínios Vigor são 50% e 100%
respectivamente da multinacional JBS.
Isso demostra que as empresas lácteas de caráter cooperativista também
estão aderindo a novas estratégias para garantir maiores concentrações de
capital, aquisição de tecnologias e reposicionamento do mercado. Isso significa
que mesmo sendo cooperativa as empresas atuam como grandes instituições
capitalistas e que por tanto irão condicionar suas cadeias produtivas para que
os agentes a ela relacionados sejam enquadrados de forma a garantir a
maximização da exploração das atividades.
5 Ver tabela 01 - As empresas Itambé, Batavo e Frimesa são cooperativas.
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3 – Conclusão
A cadeia produtiva do leite do Brasil ao longo de muitos anos foi
condicionada pela forte presença de empresa multinacionais. Em um primeiro
momento a presença destas empresas foi fundamental para o desenvolvimento
de técnicas de produção e transferência de tecnologia de suas matrizes.
A partir da década de 1980 figurou entre o setor produtivo um amplo
processo de fusões e aquisições na industria láctea que culminaram na década
de 1990 num processo de desnacionalização do setor. A participação do capital
financeiro para este processo foi maciço e atribuiu ao setor produtivo novas
dinâmicas de atuação na cadeia produtiva. Grandes empresas se formaram e
deram origem a processos que se caracterizam em ambientes oligopolistas e
monopsôlistas.
Esta atual figuração esta provocando profundas alterações nas relações
comerciais existentes entre indústria e fornecedores, principalmente na
produção primária. Da mesma forma o mercado consumidor esta a vulnerável
ao controle de preços e indução de preferencias praticado pela industria.
Por outro lado não se descarta o fato de que a consolidação de grandes
empresas dentro das cadeias produtivas tem perfil estratégico no âmbito
internacional. Capaz de condicionar toda a cadeia produtiva para o
desenvolvimento estrutural e superestrutural. Considerando que os atuais
níveis de crescimento da produção nacional e consumo mundial o leite pode
ser um importante recurso gerador de divisas. Sendo assim, os ensinamentos
de Rangel apontam para o papel fundamental do Estado fomentando o
surgimento de grandes empresas mas controlando suas ações para inibir a
formação de oligopólios e oligopsônios.
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4 – Referências BELIK, Walter. Agroindústria e reestruturação industrial no Brasil:elementos para uma avaliação. Cadernos de Ciência & Tecnologia, Brasília, v.11, n.1/3, p.58-75, 1994 BENETTI, Maria Domingues. Globalização e desnacionalização do agronegócio brasileiro no pós 1990. Documentos FEE n. 61. Porto Alegre, outubro de 2004. BUKARIN, Niolai I. O Imperialismo e a Economia Mundial. Editora Melso S.A. Rio de Janeiro. 1915 CARVALHO, Glauco Rodrigues ; Oliveira, Clesiane de. Indústria de Laticínios do Brasil Contexto Internacional. REVISTA AGROANALYSIS – Revista de Agronegócios FGV. Agoto de 2010. Disponível em: http://www.agroanalysis.com.br/materia_detalhe.php?idMateria=870 CARVALHO, Marcelo Pereira. Retrato do Setor Lácteo. In Revista de Laticínios – Entrevista. Postado em 09/2011. Edição número 92. Disponível em: http://revistalaticinios.com.br/wp-content/uploads/2011/09/Revista-iL92_008a015.pdf. CARVALHO, Vera Regina F. Mudanças patrimoniais na indústria de laticínios do Rio Grande do Sul: os principais grupos econômicos nas décadas de 80 e 90. Faculdade UNIVATES, Lageado RS. 2010. FIEGENBAUM, J.; ROHENKOHL, J. E. A expansão da indústria do leite: uma análise das estruturas de mercado no Brasil entre os anos de 2004 a 2010. In: CONGRESSO DA SOBER, 50., 2012. Anais. Vitória - ES, 2012. FILHO, Pascoal José Marion. MOURA, Ana Carolina. BRITES, Marindia. LORENZONI, Rodrigo Klein e SCHAEFER, Roberto Osvino. Concentração e Centralização do Capital na Indústria de Laticínios Brasileira (2000-2011). Revista de Administração e Negócios da Amazônia, v.5, n.3, set/dez. 2013. pp. 33-48 GAZETA MERCANTIL). São Paulo, 13 abr. 2000. p.C-1. IFCN – International Farm Comparison Network. Top 20 milk processor list 2014 – ranked by milk intake IFCN. Dairy Research Center. Disponível em: http://www.ifcndairy.org/en/start/index.php
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