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Discurso e Identidade
CADERNO DE RESUMOS
E PROGRAMAÇÃO
Universidade de São Paulo
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
19 e 20 de abril de 2017
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
REITOR: Prof. Dr. Marco Antonio Zago
VICE-REITOR: Prof. Dr. Vahan Agopyan
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DIRETORA: Profa. Dra. Maria Arminda do Nascimento Arruda
VICE-DIRETOR: Prof. Dr. Paulo Martins
DEPARTAMENTO DE LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULAS
CHEFE: Prof. Dr. Manoel Mourivaldo Santiago Almeida
SUPLENTE: Prof. Dr. Mário César Lugarinho
PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOLOGIA E LÍNGUA PORTUGUESA
COORDENADORA: Prof.ª Dr.ª Ieda Maria Alves
VICE-COORDENADOR: Prof. Dr. Paulo Roberto Gonçalves Segundo
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Discurso e Identidade
PROMOÇÃO
Programa de Pós-Graduação em Filologia e Língua Portuguesa
COMISSÃO ORGANIZADORA
Prof. Dr. Paulo Roberto Gonçalves-Segundo
PÓS-GRADUANDOS:
Adriana Moreira Pedro - Mestranda
Agildo dos Santos Silva de Oliveira - Doutorando
Alexandre Marques Silva - Doutorando
Douglas Rabelo de Sousa - Mestrando
Letícia Fernandes de Britto Costa - Doutoranda
Sérgio Mikio Kobayashi - Mestrando
Site: http://eped.fflch.usp.br
E-mail: epedusp@gmail.com
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CADERNO DE RESUMOS
Organização e Diagramação
Alexandre Marques Silva
REVISÃO
Alexandre Marques Silva
APOIO
FFLCH – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
LAPEL – Laboratório de Apoio à Pesquisa e Ensino em Letras
Carolina Bernardi (Serviço Financeiro do DLCV)
OBSERVAÇÕES:
Os resumos das comunicações individuais deste Caderno estão organizados em ordem
alfabética por autor. Seu conteúdo e redação são de inteira responsabilidade de seus
autores.
As conferências de abertura e de encerramento, bem como as sessões de comunicação
serão realizadas no prédio do curso de Letras da FFLCH.
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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO................................................................................................ 06
PROGRAMAÇÃO................................................................................................. 08
RESUMO DAS CONFERÊNCIAS........................................................................ 10
RESUMO DAS MESAS REDONDAS.................................................................. 11
RESUMOS DAS COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS............................................. 16
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APRESENTAÇÃO
Bem-vindos ao IX EPED!
O Encontro de Pós-Graduandos em Estudos Discursivos da USP ― EPED-USP —
é um evento acadêmico anual, organizado pelos pós-graduandos da área de Filologia e
Língua Portuguesa, que visa promover o diálogo entre as distintas abordagens teóricas e
metodológicas sobre o discurso na Universidade de São Paulo.
O evento, com edições desde 2009, busca a integração entre os pós-graduandos
dos diversos programas da Universidade de São Paulo, incentivando o debate franco e
aberto acerca dos diferentes olhares epistemológicos, das distintas metodologias e dos
variados objetos de análise que caracterizam a instituição no que concerne ao estudo da
produção contextualizada de sentido.
Com um acolhimento especial dentre docentes e alunos da USP, bem como de
pesquisadores consagrados de universidades do Brasil e do exterior convidados para a
realização de mesas e conferências, seu sucesso e sua aceitabilidade no meio acadêmico
têm servido de exemplo para uma série de eventos organizados por pós-graduandos
dentro e fora da Universidade de São Paulo, na área de Letras e Linguística.
As questões metodológicas e epistemológicas do discurso sempre estiveram, direta
ou indiretamente, em pauta nas conferências e comunicações do nosso evento. Para os
debates do IX EPED, foram escolhidos os estudos sobre identidade, por se tratar de um
objeto de crescente interesse por parte dos pesquisadores da área.
Estudos contemporâneos sobre identidade apontam que ela é constituída a partir
de um jogo entre subjetividade e alteridade, o que permite sua aproximação tanto com
pesquisas voltadas à interação e ao discurso quanto com estudos ligados à história, à
estrutura social, às práticas socioculturais e aos processos psicológicos e cognitivos que
embasam sua construção, vista como dinâmica, heteróclita, processual, contraditória.
Nesse sentido, não se pode desconsiderar a importância de noções como linguagem,
7
contexto e ideologia para a abordagem de sua constituição, o que evidencia o caráter
multi ou interdisciplinar de tais pesquisas.
Em sua nona edição, a realizar-se nos dias 19 e 20 de abril de 2017, o EPED
convida pesquisadores vinculados à Universidade de São Paulo – docentes e discentes –
a debaterem as questões identitárias por meio do tema Discurso e Identidade.
Comissão Organizadora
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PROGRAMAÇÃO
8h Início do credenciamento
9h15 - 10h30
Conferência de abertura: Discurso e identidade na perspectiva da Análise de Discurso pechêuxtiana
Prof. Dr. Helson Flávio da Silva Sobrinho (UFAL)
10h30 - 11h Coffee break
11h - 12h30 Sessões de comunicação individual 01, 02 e 03
12h30 - 14h Almoço
14h - 16h
Mesa-redonda 1: Discurso e Identidade na Mídia
Coordenação: Profa. Dra. Zilda Gaspar Oliveira de Aquino (USP)
Rosana Soares (ECA-USP): Mídia impressa e estigmas sociais: identidade, visibilidade, reconhecimento
Renata Palumbo (Drummond): Mídia digital e o processo de construção de identidade: a perspectiva da Referenciação
Zilda Gaspar Oliveira de Aquino (FFLCH-USP): Mídia falada e construção de identidade: uma abordagem sociocognitiva e interacional
16h - 16h30 Coffee break
16h30 - 18h Sessões de comunicação individual 04, 05, 06 e 07
QUARTA-FEIRA – 19/04/2017
9
08h30 - 10h Sessões de comunicação individual 08, 09 e 10
10h - 10h30 Coffee break
10h30 - 12h30
Mesa-redonda 2: Identidade em outras perspectivas
Coordenação: Benjamin Abdala Junior (USP)
Maria Cristina Castilho Costa (ECA-USP): Teatro: palco de luta e de afirmação de identidades
Bianca Angelucci (FE-USP): Público-alvo da Educação Especial: ou como produzir identidades sem ancoragem no humano
Benjamin Abdala Junior (FFLCH-USP): Reflexões comunitárias supranacionais, diante de fronteiras múltiplas e identidades plurais
12h30 - 14h Almoço
14h - 15h30 Sessões de comunicação individual 11, 12, 13 e 14
15h30 - 16h Coffee break
16h - 17h30
Conferência de encerramento: Mulheres Públicas: Identidade, Poder e Gênero
Profa. Dra. Carmen Rosa Caldas-Coulthard (University of Birmingham; UFSC)
QUINTA-FEIRA – 20/04/2017
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RESUMOS DAS CONFERÊNCIAS
Conferência de Encerramento
Mulheres Públicas: Identidade, Poder e Gênero
Prof.ª Dr.ª Carmen Rosa Caldas-Coulthard (UFSC / University of Birmingham)
carmenrosacaldas@gmail.com
Noções de poder em sociedade são inseparáveis das questões de gênero e sexualidade.
Apesar de ter havido um grande avanço social em relação a mulheres contemporâneas
em posições de poder, sua representação em discursos públicos ainda é problemática,
pois os recursos semióticos usados nesses discursos tendem a categorizar estas
profissionais de acordo com discursos míticos que remetem a maternidade, a beleza e a
juventude. Neste trabalho, pretendo discutir a maneira pela quais as mulheres
profissionais são descritas e categorizadas em discursos públicos. Meu embasamento
teórico inclui a Análise Crítica do Discurso, a Análise Lexical e Modelos da Gramática
Visual. Meu interesse principal é o de demonstrar como a identidade de mulheres
profissionais é construída através de categorias discursivas que as identificam não
somente pelo que fazem e pelo que são, mas principalmente por sua aparência. Meu
argumento principal é que textos e imagens produzem efeitos avaliativos negativos que
influenciam atitudes e interpretações sociais em relação a mulheres poderosas. Pretendo
tornar visível a maneira pela qual ideologias sexistas são materializadas em recursos
semióticos que produzem estereótipos inaceitáveis na sociedade pós-moderna.
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RESUMOS DAS MESAS REDONDAS
MESA I
Discurso e Identidade na Mídia
A proposta da mesa é discutir a questão da construção da identidade, a partir do discurso
que se apresenta na mídia nas modalidades falada, escrita e digital. As discussões
tomarão por abordagem diferentes linhas teóricas, porém convergentes, para que se
possa observar a complexidade do conceito proposto.
Mídia impressa e estigmas sociais: identidade, visibilidade, reconhecimento
Prof.ª Dr.ª Rosana de Lima Soares (ECA – USP)
A comunicação se insere no campo de estudos da linguagem, buscando estudar as
mídias em perspectiva crítica. Ao tratar de questões relativas aos discursos nelas
presentes, abordaremos os modos de construção da representação do feminino em
revistas voltadas para mulheres, apontando para processos de identidade e de
reconhecimento nas mídias, e articulando questões relativas aos estigmas, estereótipos e
preconceitos nelas presentes. A temática dos estigmas sociais será pensada sob uma
vertente particular: a alternância entre estigmas de reforço e estigmas de transformação.
Em alguns casos, notamos um alto grau de redundância e de manutenção dos lugares
sociais já estabelecidos, em outros temos processos de deslocamentos e resistências,
observando que muitos dos discursos das mídias realizam em graus maiores ou menores
o movimento entre esses dois polos, articulando identidades e imaginários sociais.
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Mídia digital e o processo de construção de identidades: a perspectiva da
referenciação
Profª. Drª. Renata Palumbo (FACULDADES DRUMOND)
Neste trabalho, parte-se dos estudos acerca da Referenciação (Marcuschi, 2005,
Mondada e Dubois, 1995, Morato et.al, 2016) e os de Identidade, Discurso e Sociedade
(Charaudeau, 2009, Cooley, 1902, Mead, 1934, Hall, 2001), para se observar o modo
como se constroem identidades discursivas e sociocognitivas no Facebook via o
processamento referencial instaurado, levando-se em conta as especificidades desse
espaço de interação social, das quais pesquisas das Ciências Humanas e Sociais, bem
como, da Língua e do Discurso, passam a tomar parte com a finalidade de explicá-las.
Nessas situações, além das formulações linguísticas de papel referencial, processos de
ordem semântico-pragmática e multimodal também atuam na construção colaborativa de
objetos de discurso de modo significativo, tais como as fotografias, os frames, os
emoticons, os links, as regras da situação interacional, as características dos participantes
etc. Denominadas Âncoras Textuais por Marcuschi (2005), esses elementos de naturezas
distintas co-operam e inter-relacionam-se, a fazer que a construção de referentes se dê
com o concurso de vários processos de maneira não linear e não acabada, tendo em vista
que não há previsão para que uma conversa virtual inicie ou se encerre, ou mesmo, que
uma postagem tenha comentários e gere debate. É em meio dessas contingências
pragmáticas, contextuais e discursivas que examinamos os traços identitários atribuídos à
identidade social – juiz – de Sérgio Fernando Moro na página oficial de Luiz Inácio Lula da
Silva, a partir de uma postagem acerca do juiz e da conversa estabelecida na sequência.
Mídia falada e construção de identidade: uma abordagem sociocognitiva e
interacional
Prof.ª Dr.ª Zilda Gaspar Oliveira de Aquino (FFLCH – USP)
O objetivo do trabalho é observar de que modo ocorre o debate na mídia falada, em
especial, o debate radiofônico, tendo em vista o recente avanço da mídia digital. Busca-se
compreender o encaminhamento das interações e o processo de construção de
13
identidade, destacando-se a perspectiva de que, dada sua instantaneidade e alcance, o
rádio recorre a outras mídias que lhe servem de base para o encaminhamento da
identidade que elege a respeito de dado tema de interesse da sociedade. Recorre-se a
um corpus que tem por tópico central a discussão acerca da reforma na Previdência
Social, para observar a construção da identidade do Presidente Michel Temer e da
identidade que seu governo busca construir para os cidadãos – ambas veiculadas pela
mídia de modo geral. O embasamento teórico diz respeito a questões conceituais que
envolvem as estruturas mentais (os frames), partindo da abordagem de Lakoff (2004),
para alcançar a perspectiva de van Dijk (2008), ao tratar do encaminhamento
sociocognitivo voltado ao discurso e contexto. Em meio a esses processos cognitivos,
parece possível observar um jogo de rotinas sociais (scripts) que se entrecruzam com
frames propostos para se alcançarem objetivos governamentais. Nesse sentido, a
veiculação de determinada propaganda governamental apresentada repetitivamente
permite observar, ainda, uma utilização estratégica do discurso que opera de modo a
tentar persuadir o cidadão.
MESA II
Identidade em outras perspectivas
De modo a explicitar o caráter interdisciplinar do tema identidade, a mesa tem como
proposta discuti-lo a partir de distintas abordagens, destacadamente, a censura teatral e
seus impactos na constituição identitária de minorias; a política pública de Educação
Especial e a produção de uma identidade grupal e, por fim, da perspectiva literária, a
abordagem do comunitarismo cultural dos países de língua portuguesa.
Teatro: palco de luta e de afirmação de identidades
Profª. Drª. Maria Cristina Castilho Costa (ECA – USP)
O Observatório de Comunicação, Liberdade de Expressão e Censura da
Universidade de São Paulo - OBCOM-USP, é responsável pelo Arquivo Miroel
Silveira, sob guarda da Biblioteca da Escola de Comunicações e Artes. Esse arquivo
14
contém mais de seis mil processos de censura prévia ao teatro em São Paulo, de
1930 a 1970, resgatando a memória do teatro no estado e no Brasil. Estudando esses
processos, desde o ano de 2000, os pesquisadores ali reunidos puderam analisar a
importância do teatro na discussão política dessa época que perpassa duas ditaduras
- a de Getúlio Vargas e a Ditadura Militar - bem como na crítica social e na afirmação
de grupos sociais os mais diversos: trabalhadores, operários, estudantes, imigrantes
de diversas origens, assim como movimentos sociais os mais diversos, de feministas a
grupos étnicos e religiosos. Esse estudo mostra como o palco foi e é importante para o
debate de ideias e a expressão de minorias, permitindo uma interação ao mesmo
tempo ética, estética e política. Para melhor entendermos essas pesquisas, vamos
ilustrar nossa fala com o exemplo do Teatro Experimental do Negro, criado pelo autor e
dramaturgo Abdias do Nascimento que via no teatro a possibilidade de afirmação da
negritude e de abertura de um espaço de expressão dessa minoria étnica, sempre
relegada, no plano da produção simbólica, à subalternidade.
Público-alvo da Educação Especial: ou como produzir identidades sem ancoragem
no humano
Prof.ª Dr.ª Biancha Angelucci (FE – USP)
O trabalho consistirá na realização de uma reflexão sobre os efeitos da produção social
da identidade de um contingente populacional que, hoje, ultrapassa o montante de um
milhão: xs estudantes da Educação Especial. Para tanto, partiremos da discussão acerca
da nomenclatura utilizada na atualidade para designar as pessoas abrangidas pela
política de Educação Especial vigente, qual seja, pessoas com deficiência, com transtorno
global do desenvolvimento ou com superdotação/ altas habilidades. Tomaremos, a título
de exemplo, dois aspectos articulados: a) aspecto histórico, a fim de compreender a
maneira como a Educação Especial constituiu-se como o lugar da excepcionalidade,
conferindo uma posição nas bordas da Educação para os sujeitos por ela atendidos; b) a
medicalização da Educação, posto que os critérios de pertença à população atendida pela
Educação Especial são de ordem biomédica, fortalecendo perspectivas que, a um só
tempo, reduzem sujeitos a seus diagnósticos e distorcem os objetivos educacionais em
uma espécie de reabilitação fadada ao fracasso. Assim, partindo desse duplo exercício de
reflexão, pretendemos colocar em análise alguns dos efeitos da produção dessa
15
identidade grupal (público-alvo da Educação Especial) que se dá em função da
organização de uma política pública (Educação Especial).
Reflexões comunitárias supranacionais, diante de fronteiras múltiplas e identidades
plurais
Prof. Dr. Benjamim Abdala Junior (FFLCH – USP/CNPq)
Análise da ascensão do comunitarismo cultural, tal como ele se coloca
supranacionalmente diante da repactualização política internacional originária do crack
financeiro de 2008. A partir do lócus enunciativo, colocam-se dois enlaces principais, do
ponto de vista literário e cultural: para os países de língua portuguesa e iberoamericanos.
Tais formulações não restringem políticas de cooperação e de solidariedade, pois que, de
acordo com o autor, o mundo configura-se cada vez mais como de fronteiras múltiplas e
identidades plurais. O texto, a partir dessas configurações, centra-se no comunitarismo
cultural dos países de língua portuguesa, oriundo do hibridismo cultural das várias
margens da Bacia Cultural Mediterrânica. Levanta ainda questões de ordem política no
sentido de problematizar a atual assimetria dos fluxos culturais e as estratégias de
administração da diferença para a preservação de hegemonias estabelecidas.
16
RESUMOS DAS COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS
A construção do discurso de youtubers sobre as mulheres
Adriana Moreira Pedro (drimpe@yahoo.com.br)
Orientadora: Maria Lúcia da Cunha Victório de Oliveira Andrade
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Mestrado
Este trabalho consiste na análise de vídeos do YouTube relacionados a discursos sobre as
mulheres. Serão analisados três vídeos: “Não tira o batom vermelho”, de Jout, “Se valoriza
mulher”, de Ana de Cesaro e “Relacionamentos abusivos”, de Isabela Freitas.
A escolha do corpus se deu por apresentar um número significativo de acessos, mostrando que
realmente o que é dito está sendo “consumido” por milhões de pessoas.
O objetivo deste trabalho é, através da análise crítica do discurso, observar a construção desses
enunciados e a sua prática social em vídeos com opiniões, afirmações, vozes de comando e
conselhos. Em nossa metodologia, observaremos também a escolha do léxico e o poder das
palavras, junto à ideologia que os discursos carregam. Queremos analisar o que faz com que
esses vídeos sejam vistos e seguidos por tantas pessoas.
A análise se justifica na medida em que encontramos uma nova linguagem utilizada hoje com a
internet e buscamos mostrar como os indivíduos interagem por meio desses vídeos influenciando
pessoas ao tratar de assuntos de forma descompromissada, contar de suas vidas, dar suas
opiniões, como se fossem próximos dos ouvintes.
Utilizaremos como teoria para este estudo a Análise Crítica do Discurso, pautada também pela
Linguística Sistêmico-Funcional, além dos estudos sobre internet de Pierre Lévy, Andrew Keen e
Raquel Recuero, entre outros.
Em uma primeira observação, encontramos algumas características: o anúncio do que será
apresentado como algo muito importante; falam de forma como se estivessem conversando com
seus espectadores; usam aumentativos e diminutivos; vocativos. Os vídeos são todos relativos a
opiniões sobre o tema “relacionamentos abusivos”, em que dão conselhos sobre o que é certo e o
que é errado; contam a respeito de suas experiências como exemplos de vida e todas tratam do
batom vermelho como um símbolo do feminismo.
Palavras-chave: Discurso, Contexto, Identidade Feminina, Internet, Youtubers.
17
Textos de circulação de seletas escolares dos séculos XIX e XX: emolduragens
interpretativas
Agildo Santos S. de Oliveira (assoliveira.uesc@gmail.com)
Orientadora: Maria Inês Batista Campos
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Doutorado
No Segundo Reinado (1840-1889) e na República Velha (1889-1930), um dos elementos
constitutivos das aulas de Português eram compêndios literários, conhecidos como antologias
escolares, ou seletas, ou florilégios, ou crestomatias, livros compostos de excertos de textos
literários, em sua maioria, de autores portugueses e brasileiros. Esses livros eram adotados com o
intuito de servirem de paradigma para o falar, ler e escrever como os autores canonizados pelas
críticas. Assim, as antologias escolares carregam uma parte significativa da história dessa
disciplina curricular, de um dos elementos da aula de Português e das concepções de língua,
linguagem e texto literário. Por isso, na pesquisa de doutorado em desenvolvimento, no Programa
de Filologia e Língua Portuguesa, na linha de pesquisa de Linguística Aplicada do Português,
apoiada na perspectiva dialógica de Bakhtin e o Círculo, buscamos discutir a construção do
discurso didático em textos de circulação (capa, dedicatória, prefácio, preâmbulo, introdução,
epílogo, índice e outros) das seletas de parte do Segundo Reinado (1870-1889) e da República
Velha (1889-1930) com o propósito de refletir sobre as questões relacionadas à construção da
identidade nacional e cultural, naquele período. Nesta comunicação, apresentaremos os
resultados parciais de uma análise dos textos de circulação (capa, dedicatória, notas de edição,
preâmbulo, despedida do coletor, epílogo e índice) de uma antologia escolar do Segundo
Reinado: Iris Classico (1873), de José Feliciano Castilho Barreto e Noronha. A partir da
perspectiva teórico-metodológica dos fundamentos discutidos por Bakhtin e o Círculo: dupla
orientação do gênero (Medviédev, 2012); emolduragem interpretativa (Bakhtin, 2015) e discurso
alheio (Bakhtin/Volochínov 2010; Bakhtin, 2013), os resultados preliminares indicam que a
construção do discurso didático nos textos de circulação, que sustentam o conceito da obra, visa
convencer os destinatários da elite de que há uma identidade linguística comum a Brasil e
Portugal, preservada nos textos literários do cânone português.
Palavras-chave: Textos de circulação, Seleta escolar, Gêneros do discurso, Emolduragem
interpretativa, Discurso do outro.
18
Movimento Estudantil Paulista: um estudo dialógico e enunciativo sobre títulos de notícias
a respeito da Batalha da Maria Antonia
Aline Magna de Aguiar Vieira (aline.magna@live.com)
Orientador: Paulo Roberto Gonçalves Segundo
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Mestrado
Na década de 1960, em diversas localidades do Estado de São Paulo, o Movimento Estudantil
(ME) realizou memoráveis ações. Dentre elas, uma das que se tornou alvo de grande destaque na
mídia impressa foi denominada de “Batalha da Maria Antônia”, confronto entre estudantes da
Universidade de São Paulo e da Universidade Presbiteriana Mackenzie, ocorrido no ano de 1968.
Os motivos que levaram à ocorrência de tal evento foram as divergências de ideologias e
posicionamentos políticos entre esses estudantes no que tangia ao Regime Militar, governo
vigente no período tratado.
Este trabalho, inserido no âmbito de uma pesquisa de Mestrado, busca refletir sobre as relações
dialógicas e as construções enunciativas inseridas em títulos de notícias veiculadas pelos jornais
Estado de São Paulo e Folha de São Paulo, datadas de 04 de outubro de 1968, no que se refere
às ações realizadas pelo Movimento Estudantil no acontecimento acima mencionado.
Destacamos, ainda, que a escolha de se trabalhar com notícias dos jornais Estado de São Paulo e
Folha de São Paulo deve-se, principalmente, ao fato desses dois veículos já serem, no período
histórico abordado, ícones constituintes da chamada grande mídia impressa nacional. De modo
que, assim, ambos os jornais são ferramentas relevantes na formação de opinião, uma vez que se
inserem no espaço público e propagam suas ideologias, sendo essas, na maioria das vezes,
correspondentes às ideologias dos grupos sociais dominantes.
Com a finalidade de alcançar nossos objetivos, teremos como base teórica alguns conceitos
postulados por Mikhail Bakhtin (2003, 2006, 2008) e seu Círculo (VOLOCHINOV, 1929).
Abordaremos, assim, como centro de nossas reflexões, as concepções de dialogismo discursivo
atreladas às noções de enunciado concreto e gêneros do discurso, tendo em vista a importante
contribuição do estudo conjunto desses elementos da teoria bakhtiniana para a compreensão da
construção discursiva e de seus aspectos sociais.
Palavras-chave: Movimento Estudantil, Batalha da Maria Antonia, Títulos de notícias, Dialogismo,
Enunciado concreto.
19
O ethos de Frei Bartolomeu Ferreira a partir das variantes da edição de 1586 da Compilação
de todas as obras de Gil Vicente
Ana Carolina de Souza Ferreira (ana.carol1314@gmail.com)
Orientador: Manoel Mourivaldo Santiago Almeida
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Doutorado
A obra do dramaturgo português Gil Vicente (1465-1536) foi transmitida por meio de folhas
volantes e de duas edições (1562 e 1586) do livro intitulado Compilação de todas as obras de
Gil Vicente. Assim, ao as cotejarmos, podemos verificar na segunda as emendas efetuadas por
Frei Bartolomeu Ferreira, responsável pela sua censura, de maneira que, por meio da descrição
desse processo, podemos tentar visualizar sua imagem discursiva. Logo, nesta comunicação
objetivamos demonstrar, tendo por objeto de análise a peça Auto da Barca do Inferno, de Gil
Vicente, como realizamos, em nossa pesquisa de doutorado, um estudo interdisciplinar entre as
áreas da Crítica Textual e da Análise do Discurso no qual se busca retratar quantitativamente as
variantes levantadas pela colação entre edições da Compilação e, por meio desses dados,
delinear o ethos de Frei Bartolomeu Ferreira. Para tal fim, nos valemos como aporte teórico dos
trabalhos de Cambraia (2005), Blécua (2001), Amossy (2008), Orlandi (2012) e Maingueneau
(2008). Esta pesquisa se justifica na medida em que entendemos a edição de 1586 da
Compilação como uma fonte histórica e por apresentar uma análise não apenas descritiva a
respeito do processo de censura inquisitorial literária, mas também inédita por seu caráter
interdisciplinar. Em suma, os resultados parciais obtidos por meio do cotejo, evidenciam que o
procedimento editorial mais efetuado pelo censor foi a supressão, em detrimento da adição,
substituição ou alteração de ordem de palavras e versos, revelando, a princípio, um ethos de um
funcionário competente da Inquisição que procura resguardar a imagem da Igreja Católica e de
seus funcionários de críticas, ao mesmo tempo em que zela pelos valores pregados por essa
mesma Instituição.
Palavras-chave: Crítica Textual, Gil Vicente, Censura inquisitorial, Ethos.
20
Breve análise do perfil mundano das crônicas sociais: um estudo comparativo entre Jacques Pessis e Ibrahim Sued
Ana Cláudia Barreiro Nagy (ana.nagy@usp.br)
Orientador: Alexandre Bebiano de Almeida
Programa de Pós-Graduação: Estudos Linguísticos, Literários e Tradutológicos em
Francês
Iniciação Científica
A crônica mundana faz uma exposição do contexto histórico-cultural e social. Nela encontram-se
representados o modo de levar a vida da alta sociedade, seus gostos e aparências. São
elementos de um tipo de memória de um contexto social determinado; nasceram no jornal e nele
encontraram seu meio de circulação e linguagem específica apropriada. Os dois cronistas
escolhidos para a análise foram o brasileiro Ibrahim Sued e o francês Jacques Pessis. O primeiro
tinha como foco os ricos e famosos da elite nacional (especialmente a carioca) e internacional,
que povoaram sua coluna entre os anos de 1950 e 1990. O segundo construiu um tipo de crônica
mundana em que as estrelas são, especialmente, as estrelas de cinema, cantores, políticos e
famosos de um modo geral. O foco do estudo baseou-se em sua diferença. A pesquisa seguiu a
abordagem qualitativa e o corpus foram crônicas recolhidas do jornal “Le Figaro”, escritas por
Pessis entre 2001 e 2016, e do livro “Em sociedade tudo se sabe” do qual constam crônicas de
Sued publicadas no jornal “O Globo” entre 1950 e 1990. Esta pesquisa apoiou-se nos postulados
de Thérenty (2007) que propôs quatro aspectos midiáticos pertinentes ao trabalho do escritor-
jornalista – periodicidade, coletividade, rubrica e atualidade. Os dois cronistas analisados têm
visões diferentes de como retratar a vida dos famosos, porém, ambos sabem como chamar a
atenção e manter seu público leitor cativo, respeitando os critérios que fazem dos cronistas
mundanos e suas crônicas um gênero jornalístico importante. O objetivo do trabalho foi, então,
analisar e compreender o gênero “crônica mundana” e caracterizá-lo a partir da linguagem
utilizada e da intencionalidade de cada escritor.
Palavras-chave: Crônica mundana, Escritor-jornalista, Memória social.
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Form(ação) e identidade docente
Ana Luisa Feiteiro Cavalari Lotti (analucavalari@gmail.com)
Orientadora: Zilda Gaspar Oliveira de Aquino
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Egresso
A partir, principalmente da década de 1990, no Brasil, os estudiosos interessam-se pela prática do
professor e seus saberes profissionais, ao apropriarem-se de estudos de: Nóvoa (1992),
Perrenoud (2001) e Tardif (2002). Dessa forma, essa concepção de ensino e do trabalho docente
impele mudanças, também, na formação de professores e exige a criação de uma identidade
profissional por meio, entre outros aspectos, da identificação dos saberes e das especificidades
do trabalho docente. À luz dessas considerações, novos discursos vão se estabelecendo no
campo da Educação e uma outra vertente que ganha força são as investigações de Bakhtin
(1992) [1929]. Na mesma linha, concretiza-se, na década de 1980, uma mudança de paradigma
quanto ao entendimento de quais seriam as finalidades educativas. Assim, ao encontro dessa
nova compreensão, o ato de ensinar - atividade fim do professor- deve ser de levar o aluno a
aprender (Altet, 1994), então, a interação passa a ser o fulcro de estudos no campo da Educação.
Logo, ser professor é uma profissão relacional (Dubet, 1996) e ensinar é um processo interativo
(Altet, 1994). Entretanto, é mister entender a interação de maneira multimodal (corpo, mente e
objetos de aprendizagem). Diante do exposto, o papel do corpo entendido na relação entre a
prática profissional e o Habitus do professor constitui-se importante instrumento para compreender
melhor a ação do professor, o que pode contribuir para delimitação dos saberes profissionais, para
a construção de uma identidade docente, além dos processos de formação e de desenvolvimento
profissional, proposta de estudo deste trabalho - um recorte de uma pesquisa em estágio inicial de
doutorado. A fundamentação teórica apoia-se nos estudos de Bourdieu (2003), na concepção
interacionista da linguagem Bakhtin (1999) [1979], em autores da Educação como Nóvoa (1992),
Perrenoud (2001) e Tardif (2002); além de Goodwin (2003) e Schegloff (1992, 1998 [1991]).
Palavras-chave: Identidade docente, Formação de professores, Interação em sala de aula
22
A linguagem popular da periferia de São Paulo: um retrato sociolinguístico-presente na
comunidade do Jd. São Luís
Ana Luiza Bonametti (analuuh.bonametti@gmail.com)
Orientadora: Mona Mohamad Hawi
Iniciação Científica/PIBIC
Em “Mariô”¹ o músico Criolo diz “o dialeto suburbano (...) e fia, eu odeio explicar gíria.”, conhecido
por ser um rapper da periferia, esta letra nos diz um pouco da realidade linguística que se
encontra nos subúrbios das cidades. Comunidades urbanas trazem consigo novas formas de
comunicação, a partir de variações da língua portuguesa, expressões, gírias e questões fonético -
fonológicas são recriadas e reinterpretadas nos mais diversos locais do Brasil.
A influência cultural e o histórico da descendência de moradores da periferia de São Paulo
possibilitaram que novos falares do português brasileiro tomassem forma. Criando expressões
próprias a partir de sua visão de mundo, permitem maior conhecimento das relações
socioculturais das regiões. Refletindo na perspectiva do Círculo de Bakhtin e de Hanks (2008), em
que a língua é o que a sociedade produz de concreto, permitindo o pensamento ideológico, a
visão de mundo de uma comunidade que possui seus próprios valores linguísticos contribui para o
conhecimento das relações subjetivas e visão destes indivíduos, por suas próprias relações com a
cidade e com o seu bairro.
As relações desses novos falares populares entram em conflito com a norma padrão da
sociedade, criando assim, uma situação de estigmatização nos convívios externos a seus grupos.
Tais fatores são agravados nas relações aluno-professor e patrão-empregado, em que a exigência
desta normatização linguística se sobrepõe aos fatores culturais, criando uma situação de
apagamento destes valores presentes no modo de falar popular. Esta imposição acaba por gerar
uma política de higienização linguística em que a gramática padrão se torna uma exigência
excludente, desconsiderando as possibilidades de mutação em que a língua viva pode sofrer ao
ser utilizada. A dificuldade de interação interfere diretamente na troca cultural que deveria existir
em sala de aula e nas interações sociais.
Através de um grupo chamado Bloco do Beco, que hoje ocupam o espaço da associação de
bairros, iremos analisar os discursos produzidos por seus frequentadores, trabalhadores,
voluntários, país e alunos dos cetros educacionais, que incluem atividades no contra turno escolar,
como Balé, Judô e brinquedoteca, para que mães moradoras do distrito Jd. São Luís, sob os
cuidados da subprefeitura do M’Boi Mirim, possuam um local gratuito e de segurança para seus
filhos em seu período de trabalho.
Palavras-chave: Discurso, Diversidade, Linguagem.
23
Uma análise das estratégias de descortesia como mecanismos discursivos de persuasão
em interações polêmicas: o debate político
Ana Paula Albarelli (aalbarelli@yahoo.com.br)
Orientador: Luiz Antonio da Silva
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Doutorado
O presente estudo tem como propósito investigar de que modo a conjunção com o conflito se
instaura no discurso de modo a obter a adesão do auditório. Para isso, procedemos à
investigação dos atos de descortesia e de falsa cortesia no discurso político - considerados como
técnicas argumentativas, cuja finalidade é a de construir uma autoimagem crível e, em
contrapartida, de denegrir a autoimagem alheia. O fenômeno da (des)cortesia configura-se, assim,
em um procedimento específico de persuasão, por meio do qual os participantes da interação
buscam erigir um ethos ao qual o eleitorado afira confiança, mediante o estabelecimento de
relações de identificação. Entendemos que a escolha deliberada de determinados recursos de
natureza pragmático-argumentativa colaboram para promover a construção de uma identidade
comum entre aquele que busca convencer e o seu público-alvo. Nesse sentido, propomo-nos a
investigar as posições político-ideológicas veiculadas pelos diversos elementos linguístico-
discursivos que perfazem o discurso analisado. O corpus constitui-se do debate eleitoral entre
Dilma Rousseff e Aécio Neves, na ocasião das eleições de 2014, um discurso marcadamente
polarizado, por meio do qual se intenta fomentar a ideia de divisão da nação e a suposta
necessidade de integração de dois “Brasis”. Desse modo, tomamos como escopo teórico estudos
relativos à Pragmática Sociocultural, sobretudo, os de Culpeper (1996) e de Kaul de Marlangeon
(2005), assim como as contribuições da Nova Retórica, de Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005).
Palavras-chave: Face, Argumentação, (Des)cortesia, Conflito, Ethos.
24
Associações conceptuais em testemunhos no discurso neopentecostal: uma análise
discursivo-cognitiva
Ananda Chaves Fonseca (ananda.fonseca@usp.br)
Orientador: Paulo Roberto Gonçalves Segundo
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Iniciação Científica
Por entender como expressivo o número de adeptos e, principalmente, a força política que
a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) possui hoje no país, o objetivo dessa pesquisa é
analisar as associações entre domínios conceptuais que estruturam o discurso da IURD nos
testemunhos publicados em seu site, especialmente os realizados entre os frames de
empreendedorismo, religiosidade, educação e orientação a fim de entender as possíveis razões
de sua penetração social. A análise utiliza como corpus uma coletânea de cerca de 40 textos do
gênero testemunho extraídos dos editoriais Hora da Mudança e Histórias de Vida publicados no
site oficial da instituição. Os textos são assinados, em sua maioria, por jornalistas, ou seja, não
têm como autores figuras reconhecidas da IURD e foram divididos em quatro subcategorias
temáticas a fim de sistematizar a análise, a saber: saúde, criminalidade, espiritualidade e
desmotivação, sendo a última a mais significativa em termos de números de
publicações. A pesquisa apoia-se na Análise Crítica do Discurso (ACD) e se valerá das teorias
de Fairclough (2003), Van Dijk (2008) e Ramalho (2012), que entendem o discurso como uma
prática social na qual as relações de poder são explicitadas – tanto as hegemônicas quanto as que
visam a contestação de uma hegemonia já estabelecida – através de diferentes recursos
sociossemióticos, a depender do objetivo e interesses dos agentes e das coerções estruturais que
circunscrevem os domínios de práticas, e na Linguística Cognitiva com a teoria de Fauconnier e
Turner (2002), que apresenta a noção de Mesclagem Conceptual, baseada na ideia de Espaço
Mental. Tal abordagem teórica nos permite traçar as relações das quais a própria IURD se
vale para se relacionar com a comunidade e para difundir sua doutrina. Observamos que o
principal frame utilizado pela igreja é o educacional. Assim, a instituição se coloca como um
escola portadora e transmissora do conhecimento necessário para que os fiéis, então alunos,
atinjam seus objetivos – quase sempre o sucesso financeiro e conjugal. Contudo, o discurso não
deixa claro qual é o papel de Deus nessas relações, o que traz questionamentos acerca da
relevância do divino nesse discurso na mudança proporcionada aos fiéis.
Palavras-chave: Análise crítica do discurso; Neopentecostalismo; discurso religioso; Linguística
Cognitiva.
25
Visualidades de raça e gênero em Hollywood: do blackface escrachado ao Oscar
Andréa Cotrim Silva (cotrim.andrea@gmail.com)
Orientador: Lynn Mario T. M. de Souza
Programa de Pós-Graduação: Estudos Linguísticos e Literários em Inglês
Doutorado
Visamos problematizar, dentro do campo dos Estudos de Cultura e do Letramento Crítico Visual, a
questão da representação do (a) afro-americano (a), em Hollywood, desde o uso do blackface,
passando por papéis restritos e estereotípicos, de acordo com o gênero, até os dias de hoje, com
a premiação de “Moonlight”, no Oscar de 2017. Pretendemos mostrar como os acontecimentos
históricos, mormente a escravidão, os Direitos Civis e as reivindicações do “Black Lives Matter”,
da Era Obama, pontuam não somente a trajetória de dor do negro estadunidense, mas também
seu orgulho, na desconstrução de modelos eurocêntricos e na edificação de pautas políticas que
acabam refletindo uma mudança contumaz na representação cinematográfica dos
afrodescendentes, desde a década de 1910. Analisaremos, portanto, a política de narração que
ora legitima, ora desautoriza espaços de pertencimento, de acordo com a classe social, o gênero,
a faixa etária e a cor da pele do sujeito. Pensamos que o estudo do cinema possa ser de extrema
utilidade para compreendermos a extensão de questões sociohistóricas como o racismo e outras
estruturas desiguais de poder, tanto na sociedade estadunidense como na brasileira. Em nosso
trabalho, apoiar-nos-emos nas teorias de Gianni Vattimo (2007), para quem a violência é
puramente o silenciamento do Outro e de Jacques Rancière (2010), mais especificamente, no que
concerne o conceito de “partilha do sensível” que é o modo pelo qual se determina a relação de
saberes partilhados em um conjunto comum. Se, somente a estética (da violência) em suas
diferentes formas (plástico-imagética, física, sonora, linguística ou simbólica) promulga, segundo o
filósofo francês, a (des)construção ideológica do Outro, onde o inimaginável acontece dentro dos
cenários propostos, cabe-nos, igualmente, um estudo mais aprofundado sobre a relação
“sensível” entre representação (da História e do sujeito não-hegemônico), a estética e as
conjunturas sociais.
Palavras-chave: Letramento Crítico Visual, Blackface, Raça, Gênero.
26
Análise de interações escritas em ambiente virtual: diálogos entre alunos brasileiros e
canadenses de FLE em um grupo no Facebook
Arthur Marra (arthur.mrra@gmail.com)
Orientadora: Eliane Gouvêa Lousada
Programa de Pós-Graduação: Estudos Linguísticos, Literários e Tradutológicos em Francês
Mestrado
Esta comunicação individual visa a apresentar os resultados iniciais de uma pesquisa de mestrado
que estuda a interação entre estudantes universitários de francês brasileiros e canadenses por
meio de ferramentas digitais. Nosso estudo tem como objetivo geral verificar como se dão essas
interações linguageiras entre os alunos e em que medida influenciam o processo de escrita. As
bases de nossa pesquisa encontram-se no Interacionismo social como desenvolvido por Vigotski
(1997, 2004) e no Interacionismo sociodiscursivo como proposto por Bronckart (1999, 2006). Além
disso, apoiamo-nos em teóricos que estudam a didática de línguas sob a perspectiva dos gêneros
textuais como Dionísio, Machado e Bezerra (2002); Machado, Abreu-Tardelli, Lousada (2004,
2005, 2007); Marcuschi (2008, 2011). Os alunos envolvidos em nosso projeto foram colocados em
contato através de um grupo criado no Facebook para que se conhecessem e interagissem de
maneira livre, mas sob a mediação de um aluno “tutor” brasileiro e um francês. Nesse grupo,
“pares de correção” foram determinados, em que um brasileiro e um canadense trabalharam
juntos nas etapas seguintes para que os alunos canadenses corrigissem os textos produzidos
pelos alunos brasileiros. Nesta comunicação, pretendemos apresentar apenas os resultados
relacionados à etapa inicial da pesquisa, ou seja, a interação dos alunos no grupo do Facebook.
Para tanto, vamos nos basear em conceitos de Bronckart (1999) sobre a sequência dialogal e
Kerbrat-Orecchioni (1990) sobre a análise da conversa. Nossas análises apontam para um grande
índice de adesão da parte dos alunos à atividade do Facebook. Entretanto, as postagens têm um
caráter mais descritivo e exprimem a atitude social de cumprimentar e se apresentar, objetivo da
atividade, mas a maioria mostra uma interação centrada no par aluno-tutor e não entre os alunos
da turma.
Palavras-chave: Gêneros textuais, Correção por pares, Ferramentas digitais.
27
As "ondas" do discurso: um estudo da representação da Ordem Social brasileira pelo STF
Breno Wilson Leite Medeiros (brenowilson@gmail.com)
Orientadora: Maria Lucia Cunha Victório de Oliveira Andrade
Filologia e Língua Portuguesa
Mestrado
O Supremo Tribunal Federal sempre se projetou ou foi projetado pela mídia como um ator social
tão relevante no cenário social brasileiro como ele o é hoje? Segundo da Costa (2006), ao longo
de todo o período republicano brasileiro, o STF tem sido uma “caixa-de-ressonância” dos conflitos
dos grupos de interesse que tem se projetado no cenário político brasileiro. Partindo-se deste
contexto, esta comunicação tem por objetivo geral apresentar os resultados de uma dissertação
de mestrado referente a um corpus de notícias publicadas pelo STF a respeito da ADPF 54 pela
perspectiva da Análise Crítica do Discurso de linha sociocognitiva. O objetivo final é depreender a
representação da Ordem Social brasileira. Entre os achados mais significativos, concluiu-se que o
STF exerceu a sua função de intérprete por via negativa dos valores fundamentais da sociedade
brasileira por meio da projeção de um ethos crítico e conciliador. Tal criticidade foi engendrada
através da convocação de audiências públicas durante a condução da ADPF 54, as quais, por sua
vez, permitiram a inclusão de vozes de atores sociais não previstos no texto constitucional. Além
deste achado, observamos que uma das consequências do reinicio do debate em torno da
interpretação do texto constitucional a partir de 1993 foi a emergência de uma nova dinâmica nas
relações entre os três poderes. As facetas, os limites e os contornos dessa nova dinâmica tem
sido o objeto de debates em múltiplos círculos e a mídia tem tirado vantagens deste jogo de
imagens. Por fim, a representação da Ordem Social projetada pelo STF nas notícias que foram
publicadas no período de 2004 a 2012 é a de uma sociedade inicialmente plural no discurso, mas
patriarcal na prática.
Palavras-chave: Análise Crítica do Discurso, Ideologia, Contexto, Movimento Social, STF.
28
O terremoto de 2010 e a diáspora haitiana no Brasil: a construção de uma imagem
pejorativa nos telejornais da Rede Globo
Camila Antunes Madeira da Silva (camilaantunes1@gmail.com)
Orientadora: Dilma de Melo Silva
Programa de Pós-Graduação: PROLAM-USP
Mestrado
Em 12 de janeiro de 2010 o Haiti foi assolado por um terremoto que deixou Porto Príncipe e região
em situação de emergência. Embora nesse momento o Brasil ainda não houvesse se tornado
destino da diáspora haitiana, o escopo das notícias relacionadas à tragédia é fundamental, pois
germina ideias centrais associadas ao país e a seu povo: infortúnio, incompetência, incapacidade,
infantilidade etc. Os impactos produzidos pelo terremoto são frequentemente retratados pela mídia
como parte de um fenômeno mais complexo que, cimentado na evidenciação de um quadro de
instabilidade política haitiana, impediria a reconstrução do país. Assim, a tragédia natural teria
como fator agravante a denominada “tragédia social” haitiana.
Por fim, a construção da imagem pejorativa acerca do universo haitiano é um processo gradual e
multifacetado que se utiliza de símbolos e significações particulares ao contexto brasileiro para
estabelecer vínculos que sobrepõem veladamente, como de costume no Brasil, a segmentação
entre brancos e negros às fronteiras entre brasileiros e haitianos. Isto é, a suposta discrepância
entre indivíduos negros e brancos ultrapassa as fronteiras geográficas, sendo posta no epicentro
das interações entre brasileiros e haitianos em diáspora no Brasil.
O objetivo da comunicação é analisar a construção e a estruturação das imagens pejorativas
sobre o Haiti pautadas na ideia de precariedade, o que alicerça a visão estereotipada dos
haitianos em diáspora no Brasil. Utilizaremos os estudos sobre discurso midiático de Patrick
Charaudeau, sobretudo as considerações sobre acontecimento midiático e espetacularização da
notícia, para analisar as notícias televisionadas por três noticiários da Rede Globo (Bom Dia
Brasil, Jornal Nacional e Jornal da Globo) em janeiro de 2010 acerca do terremoto em Porto
Príncipe, visando a alcançar o objetivo. Posteriormente serão analisadas notícias sobre imigração
haitiana no Brasil exibidas em janeiro de 2012 nos mesmos telejornais a fim identificar o
desencadeamento da imagem construída anteriormente.
Palavras-chave: Haiti, Terremoto, Rede Globo, Mídia, Imigração.
29
“La visión de los vencidos”: memória e representação indígena no espaço urbano da Cidade do México
Camila de Lima Gervaz (camila.gervaz@usp.br)
Orientador: Prof. Dr. Adrián Pablo Fanjul
Programa de Pós-Graduação: Língua Espanhola e Literaturas Espanhola e Hispano-Americana
Mestrado
A Cidade do México, fundada sobre a antiga Tenochtitlan, capital do império Asteca traz,
registrados nos nomes que (con)formam a cidade, traços e heranças das culturas dos diferentes
povos que ali se estabeleceram. Destacamos a forte presença das línguas indígenas na
nomeação dos espaços nessa cidade, sobretudo nas denominações oficiais do espaço público.
Para esta comunicação, que traz um recorte da pesquisa de mestrado em desenvolvimento, o que
nos interessa é o estudo dos nomes das estações de transporte metroviário dessa cidade, uma
vez que esse tipo de transporte seria o signo distintivo de uma metrópole global.
A capital mexicana possui uma vasta rede de transporte metroviário: a sua malha totaliza doze
linhas e 195 estações. Deste universo de estações, encontramos um total de trinta e sete
aparelhos com nomes apresentados como de origem indígena. É importante destacar que o
sistema metroviário da Cidade do México se configura de forma tripartida: há um nome atribuído a
cada estação, um ícone ou pictograma que a identifica e representa e, por fim, um texto
explicativo sobre o nome ou o ícone adotado. Vale mencionar a forma como a língua indígena, - e
neste caso podemos nos referir a uma língua no singular, pois encontramos que a principal
referência é a língua náhuatl -, é apresentada e representada.
Por se tratar de uma “língua de império” que constitui a identidade nacional a língua náhuatl se
apresenta como tal, isto é, como “língua”. O objetivo desta apresentação será o de configurar o
espaço de enunciação (Guimarães, 2005) com que trabalhamos, por meio de uma análise das
relações entre a língua nacional, que nomeia e institucionaliza os nomes da e na cidade, e as
línguas indígenas que são apresentadas como construção de uma memória de identidade dos
sujeitos que habitam tais espaços.
Palavras chave: Semântica Enunciativa, Memória Discursiva, Línguas Indígenas.
30
Ensino de autobiografia no Fundamental II: questão de identidade
Carolina Fernandez Achutti (carol.achutti@gmail.com)
Orientadora: Maria Inês Batista Campos
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Mestrado
As indagações que movem a presente pesquisa giram em torno do gênero autobiografia. Busca-
se entender como os alunos se apresentam em situação escolar, como se descrevem, ou ainda,
quais são os seus valores. Para tanto, são utilizadas, principalmente, três fontes teóricas: Bakhtin
(2003), para tratar dos gêneros discursivos; Lejeune (1975) para entender as características do
gênero em questão, a autobiografia; e Ricouer (1991) para falar de identidade. Não se trata
apenas de realizar uma análise discursiva de um gênero, mas também, elaborar uma sequência
didática a partir da qual seja possível (re)conhecer os jovens do fundamental II, mais
precisamente, do sétimo ano. A análise das produções buscará mapear a identidade daqueles
alunos, esperamos que ao final da pesquisa, de alguma maneira, a partir dos textos que guardam
as próprias palavras desses jovens sobre si, encontremos qual é o valor da vida para os alunos de
fundamental II. Por fim, acreditamos que a experiência de olhar para si engrandece a visão dos
jovens para que eles se percebam como sujeitos de um processo sócio-histórico, uma vez que,
quando invocamos a memória, evocamos também um contexto, uma experiência histórica
indissociável das experiências peculiares de cada indivíduo e de cada cultura.
Palavras-chave: Autobiografia, Identidade, Ensino.
31
A fundação de Belém do Pará: análise dialógica de narrativas colonizadoras
Cristiane Dominiqui Vieira Burlamaqui (crisburla@usp.br)
Orientadora: Maria Inês Batista Campos
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Doutorado
A partir de um recorte das investigações desenvolvidas na tese doutoral sobre a formação escolar
de alunos ribeirinhos em Belém do Pará, apresentamos um estudo de enunciados que compõem
o memorial discursivo inventariado sobre a fundação de Belém do Pará, problematizamos as
implicações ideológicas desses enunciados na formação do imaginário social da região e, por sua
vez, da distinção do que é central do que é periférico nas diversas esferas da vida social. Para tal,
utilizamos a teoria dialógica do discurso que, diferentemente da abordagem tradicional dos
estudos linguísticos, examina o enunciado integrado à dinâmica da atividade social e não como
uma entidade estável e isolada da comunicação cotidiana. Sendo assim, no contexto do método
sociológico bakhtiniano, realizamos a investigação sobre o discurso citado – um estudo das
formas sintáticas de citação do discurso de outrem, as quais conservam as formas primitivas do
discurso de origem (BAKHTIN, 2013) – em narrativas que, de maneira peculiar, assimilaram o
tempo e o espaço ao relatar os primeiros dias de Belém. Essas narrativas apresentam um plano
enunciativo comum: a valorização do cronotopo do colonizador e o apagamento do cronotopo da
população nativa, revestindo-se de um forte apelo ideológico fértil para uma investigação
sociodiscursiva. Integrada à dinâmica da vida citadina de Belém do Pará, a narrativa colonizadora,
um discurso monovalente de caráter oficial e central, tornou-se intangível, neutralizando as
contradições presentes no processo de ocupação da cidade e forjando símbolos e sentidos que,
situados no grande tempo, habitam o imaginário social da população sobre a sua história.
Palavras-chave: Teoria dialógica do discurso, Discurso citado, Cronotopo, Ideologia, História e
memória de Belém do Pará.
32
Ensino de língua materna e do jogo teatral: as perspectivas da interação e do contexto
Daniel de Almeida Torres de Brito (daniel.almeida.brito@gmail.com)
Orientadora: Zilda Gaspar Oliveira de Aquino
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Iniciação Científica / PROCAD
Através dos jogos teatrais de Viola Spolin (2001) e de Augusto Boal (2015), este trabalho busca
evidenciar os elementos que influenciam a construção do contexto nas interações face a face, à
luz das teorias de van Dijk (2014). O Teatro, como mimetizador das interações conversacionais do
cotidiano, é capaz de transformar as aulas de língua portuguesa em um laboratório de estudos
para a produção de textos orais, permitindo analisar os elementos constitutivos desta modalidade
da língua e possibilitando que se observem questões específicas do contexto. Trata-se de
destacar a influência do contexto na produção textual e a percepção do texto falado como
modificador do contexto.
Quando um personagem entra em cena, o ator traz informações que explicitam “de onde veio”,
“onde está”, para onde vai”, além de "mostrar quem ele é", "qual é seu objetivo em cena" e o
"conflito que precisa ser superado" - todos esses elementos capacitam o ator a improvisar seu
texto. Quanto mais o ator se apropria desses elementos, mais facilmente conseguirá desenvolver
seu discurso. A partir dos jogos teatrais que procuram explorar os elementos constitutivos do
contexto (Quem? Onde? O quê?, entre outros), é possível levar o aluno a perceber como o
contexto modifica e é modificado pelo texto produzido na interação face a face, conduzindo-o à
percepção da importância de analisar o contexto e de se situar numa dada interação. O corpus
constitui-se de interações coletadas de oficinas voltadas ao ensino médio em escola pública da
capital paulistana. Os resultados apontam para o envolvimento dos estudantes e para a percepção
da importância de levar-lhes uma concepção ampliada sobre contexto.
Palavras-chave: Ensino de língua materna, Jogo teatral, Língua falada, Contexto, Interação.
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Identidade feminina na literatura judaica ortodoxa brasileira
Daniela Guertzenstein(guertzenstein@uol.com.br)
Orientadora: Eva Alterman Blay
Programa de Pós-Graduação: Sociologia
Pós-Doutorado (PNPD / CAPES)
A geografia cultural integra-se à psicologia, à comunicação, à história, à literatura e à sociologia,
entre outras ciências, em estudos interdisciplinares, para mapear manifestações culturais, por
exemplo: expressões relacionadas à figura da mulher, ao status feminino e a maternidade na
literatura de grupos étnicos, doutrinas religiosas, culturas e nos princípios legais e/ou legislações
regionais e nacionais. A crítica literária serve para identificar a diversidade dos valores morais e
éticos, o (des)respeito à autonomia individual e as crenças que legitimam os valores sexistas, que
fundamentam os padrões de pertencimento/inclusão/exclusão de cada pessoa nas diferentes
culturas em seus ambientes sociais.
Foi realizada uma análise qualitativa, com viés de crítica literária, dos manuais de autoajuda
judaicos ortodoxos publicados em português. Essa pesquisa empírica analisou níveis de
(in)tolerância sexista e outras discriminações e (pre)conceitos relativos a sexualidade. O objetivo
principal é apresentar o "feminismo às avessas", que é o paradigma no qual a mulher utiliza a
simbologia sexista masculina para dominar o homem. O feminismo às avessas caracteriza-se pela
submissão à cumplicidade as práticas decretadas por uma literatura religiosa que apresenta
contínuos confrontos sexistas.
Essa pesquisa é importante porque revela o 'abrasileiramento' de uma literatura religiosa
contribuindo para refletir a sobreposição, as interposições e os confrontos entre valores, padrões
de identidades sexistas e dialetos característicos contrapostos a linguagem que preza pela difusão
dos direitos humanos e inclusão de seus princípios éticos nas leis civis.
Palavras-chave: Literatura brasileira, Judaísmo ortodoxo, Feminismo, Direitos humanos.
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A incorporação do discurso feminista nas propagandas de cosméticos: relações dialógicas
e engajamento
Danielle Martins Santos (danielle.martins.santos@usp.br)
Orientador: Paulo Roberto Gonçalves Segundo
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Iniciação Científica
Esta pesquisa tem como objetivo investigar como certos anúncios publicitários de cosméticos
incorporam elementos do discurso feminista e os possíveis efeitos desse dialogismo para o
público-alvo majoritariamente feminino. O corpus selecionado é composto por vinte e uma
propagandas divulgadas pelas marcas Natura (6), Avon (5), O Boticário (4), Dove (3) e Quem
Disse, Berenice? (3) em seus respectivos canais no site Youtube, essas foram selecionadas por
serem cinco das mais prósperas empresas de cosmético no Brasil e também para melhor compor
uma análise qualitativa que permita uma avaliação generalizada do cenário atual de propagandas
de cosmético no Brasil. Ademais, estas foram escolhidas por apresentarem marcas de dialogismo
com propósitos do pensamento feminista.
Para tanto, o arcabouço teórico se divide em três partes: teoria publicitária, como teorizada por
Armando Sant’Anna, Ismael Rocha Junior e Luiz Fernando Dabul Garcia (2015); teoria feminista,
principalmente com foco na terceira onda do feminismo e no mito da beleza discutido por Naomi
Wolf (1992); e a análise crítica do discurso, principalmente como descrita por Fairclough (2003),
mas também com apoio em Chouliaraki & Fairclough (2003), Resende & Ramalho (2010), Bakhtin
(1929). Para mais também serão seguidos preceitos da Linguística Sistêmico-Funcional, com foco
nas teorias do Engajamento e da Gradação, como explanadas por Martin & White (2005) e por
Ninin & Barbara (2013).
Assim, mostraremos as possíveis marcas do discurso feminista nessas propagandas, destacando
as estratégias linguísticas que são utilizadas para tal, bem como essas se articulam com as
estratégias de venda, típicas de anúncios publicitários e também as relações de engajamento que
se dão neste cenário.
Palavras-chave: Análise Crítica do Discurso, Publicidade, Feminismo, Cosméticos, Engajamento.
35
O contínuo entre o falado e o escrito: uma análise do modelo da imediatez e da distância comunicativas, de Koch e Öesterreicher
Denise Durante (denisedurante@uol.com.br)
Orientadora: Maria Lúcia da Cunha Victório de Oliveira Andrade
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Pós-Doutorado
O objetivo desta pesquisa pós-doutoral é realizar uma revisão teórica sobre o modelo das
linguagens da imediatez e distância comunicativas, de Koch e Öesterreicher (1985; 1990), visto
que ainda são poucos os estudos que se dedicam à análise dessa teoria em nosso país. Busca-se
cotejar esse modelo teórico com as obras de outros pesquisadores que consideraram a existência
de um contínuo entre a fala e a escrita, como Tannen (1985) e Biber (1988). Enfocam-se
igualmente os trabalhos de Marcuschi (2004) e Urbano (2006; 2011; 2013), autores que
retomaram em suas pesquisas o modelo teórico dos referidos pesquisadores alemães. São
analisados os parâmetros comunicativos do contínuo concepcional descritos por Koch e
Öesterreicher, assim como os possíveis limites impostos pelo meio (fônico ou gráfico) sobre a
concepção textual, aspecto indicado por Maingueneau (2002), na perspectiva da Análise do
Discurso de linha francesa. Os parâmetros comunicativos identificados pelos autores são
comparados com os parâmetros levantados pelos italianos Parisi e Castelfranchi (1977). O
trabalho se insere na pesquisa teórica básica e qualitativa. Desenvolve-se uma análise descritiva
e explicativa, baseada em pesquisa bibliográfica. A fundamentação teórica está baseada em
pressupostos da Análise da Conversação, cujos estudos descrevem as relações entre a fala e a
escrita. É discutida particularmente a obra "Lengua hablada en la Romania: español, francés,
italiano" (2007), na qual Koch e Öesterreicher expõem o modelo teórico da imediatez e distância
comunicativas. São enfocadas, na pesquisa, as ideias de Öesterreicher apresentadas em “Lo
hablado en lo escrito reflexiones metodológicas y aproximación a una tipología” (1996),
“Pragmatica del discurso oral” (1997) e “Lo hablado en lo escrito” (1998). Como resultado parcial,
observa-se que uma das limitações do modelo da imediatez e distância comunicativas pode ser a
desconsideração da possível influência do meio e/ou da mídia sobre a concepção das
mensagens.
Palavras-chave: Fala, Escrita, Contínuo.
36
Leitura do texto literário: reações dialógicas
Denísia Moraes dos Santos (denisia.moraes@hotmail.com) Orientadora: Maria Inês Batista Campos
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa Doutorado
O objetivo deste trabalho é apresentar aspectos da natureza do destinatário do discurso literário.
Para essa tarefa, focalizamos o processo de formação do leitor no Programa de leitura do
Governo do Estado de São Paulo, “Apoio ao Saber”, a fim de mostrar a validade do acesso às
obras literárias distribuídas aos estudantes das escolas de Ensino Médio da rede pública estadual
de São Paulo entre 2009 e 2015. Observamos dentro da política pública de leitura do texto literário
do Estado de São Paulo que há dois destinatários: o primeiro aparece de forma explícita e está
destinado a receber os kits literários do Programa Apoio ao Saber, compostos por três gêneros –
poesia, conto e romance; o segundo está implícito no programa de leitura do governo e é parte
constitutiva do enunciado literário. Os dois ocupam lugares diferentes com respeito ao discurso
literário. O primeiro recebe os livros em mãos, mas não é dado a ele o percurso da leitura literária;
o segundo parece se revelar como leitor que está preparado para a leitura que vai além dos muros
escolar. Para tratar desses dois destinatários, recorremos além de duas concepções do teórico
russo Mikhail M. Bakhtin (1895-1975) – destinatário do discurso literário e relações dialógicas –, a
alguns aspectos dos estudos de Lev Semenovitch Vigotski (1896-1934) sobre o tratamento dado à
educação estética na esfera escolar. A discussão proposta pretende contribuir para o intercâmbio
de experiências culturais com adolescentes no âmbito da leitura do texto literário dentro e fora da
esfera escolar. A contribuição ainda poderá ser significativa se ajudar os adolescentes a lerem o
próprio tempo nas narrativas literárias.
Palavras-chave: Programa de leitura, Destinatário do discurso literário, Relações dialógicas,
Educação estética.
37
A interação no Twitter: contrastes entre personalidades midiáticas e grande público
Douglas Lopes de Melo (douglas.melo@usp.br)
Orientador: Paulo Roberto Gonçalves Segundo
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Mestrado
O presente trabalho tem como objetivo analisar condições inerentes à interação entre os atores
sociais participantes do serviço de microblog Twitter <http://twitter.com>, bem como as relações de
poder discursivas exercidas entre eles, de acordo com condições prévias à interação, tais como a
posição social e autoridade discursiva exercidas, notadamente no domínio das mídias. Filiado à
linha de pesquisa de estudos de Linguística Textual e Análise do Discurso, a motivação para este
estudo deve-se ao fato de que, consolidada ao grande público, a Web 2.0 – o qual o microblog se
encontra – apesar de uma consciência difundida de uma potencialidade para a horizontalização
das relações entre instituições produtoras de conteúdo – e nestas atores, jornalistas e
apresentadores – e público consumidor/receptor – classicamente designado como espectador –
na realidade, ainda se observa traços de uma certa hierarquização de autoridade discursiva,
elegendo os atores sociais vinculados às mídias como detentores da credibilidade do que é dito
(ou não) a respeito de qualquer fenômeno social ou tópico que passa a integrar o Twitter através
de seus enunciados – doravante denominados tweets.
Tendo em vista a hipótese acima, o presente estudo valer-se-á, em um estágio inicial, das
propostas levantadas por MAINGUENEAU (1993) e CHARAUDEAU (2013) no tocante à
constituição das instituições midiáticas; por MARCUSCHI e XAVIER (2004) e por BAKHTIN (1997
[1979]; 2010 [1930]) a respeito da constituição de gêneros do discurso do ponto de vista de sua
funcionalidade e relações entre os participantes nele dispostos; e por DIOGUARDI (2014), a
respeito de questões inerentes suscitadas à própria constituição do Twitter, ressalvadas as
condições de domínio discursivo entre os trabalhos. Acreditamos que, a partir dos trabalhos acima
citados e em outros análogos, podemos depreender fatores e noções fundamentais a respeito dos
gêneros textuais produzidos na internet, cuja produção acadêmica no Brasil ainda costuma
carecer de volume de pesquisas.
Palavras-chave: Web 2.0, Microblog, Twitter, Mídias, Interações discursivas.
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Imigração como valor imprescindível ao capitalismo: um estudo crítico-argumentativo
Douglas Rabelo de Sousa (douglas.rabelo.sousa@usp.br)
Orientador: Paulo Roberto Gonçalves Segundo
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Mestrado
O presente trabalho busca analisar as estratégias discursivo-argumentativas empregadas no
artigo de opinião “Deixe a escória entrar, Bolsonaro. Pois faremos com ela um grande país”,
publicado no blog da revista Veja, em 23 de setembro de 2015 por Leandro Narloch. Uma das
novas vozes da direita brasileira, o colunista refuta, em seu artigo, o impedimento da entrada de
imigrantes sírios, haitianos, iranianos, bolivianos e senegaleses no Brasil, em um momento em
que há uma crise migratória mundial, ideia defendida pelo polêmico Deputado Federal, eleito pelo
Partido Progressista do Rio de Janeiro, Jair Messias Bolsonaro, em entrevista ao Jornal Opção,
de Goiás, em 17 de setembro de 2015. Para Jair Bolsonaro, os imigrantes são “escória do mundo”
e, ao chegarem ao Brasil, “engordam” o grupo do “Movimento Sem Terra” que caracteriza como
marginais e que devem ser combatidos pelas Forças Armadas. Com a finalidade de explorarmos o
modo com que Narloch contesta as teses e os argumentos de Bolsonaro, dentro de um mesmo
espectro político de direita, lançaremos mão da tipologia de argumentos proposta no âmbito da
Pragma-dialética (Van Eemeren et al, 2007), buscando a descrição do corpus ao classificar os
tipos de argumentos presentes, se analógicos, sintomáticos ou causais e as implicações que o
uso desses argumentos gera e, com a finalidade de análise e leitura crítica, recorreremos a
Fairclough (2003); Bolívar (2003); Melo (2011) e Gonçalves-Segundo e Zelic (2016), ligados aos
Estudos Críticos do Discurso, destacando conceitos como prática social e discursiva, relações de
poder, ideologias, ordens do discurso aplicados ao exame das relações entre imigração e
capitalismo no entrecruzamento das esferas política e midiática.
Palavras-chave: Imigração, Narloch, Estudos Críticos do Discurso, Pragma-dialética, Bolsonaro.
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Analogia e argumentação nos debates sobre a criminalização da homofobia
Filipe Mantovani Ferreira (filipe.mantovani.ferreira@usp.br)
Orientadora: Zilda Gaspar Oliveira de Aquino
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Doutorado
Realizou-se, em 8/12/2011, no âmbito da Comissão de Diretos Humanos e Legislação
Participativa (CDH) do Senado Federal, um debate sobre o Projeto de Lei da Câmara 122 de 2006
(PLC 122/06), que, embora propusesse criminalizar a discriminação em função de sexo, gênero,
orientação sexual e identidade de gênero, ficou conhecido como “projeto de criminalização da
homofobia”. O debate, televisionado para todo o país pela TV Senado, marcou-se por acentuado
antagonismo entre senadores favoráveis e contrários a sua aprovação. Entre os parlamentares
contrários à aprovação do projeto, destacaram-se aqueles vinculados a igrejas evangélicas, como
o senador Magno Malta (PR-ES). Este trabalho objetiva analisar o uso da analogia como forma de
persuasão. Mais especificamente, interessa-nos observar como as analogias são utilizadas para
conceptualizar negativamente o PLC 122/06. Para tanto, propõe-se uma análise qualitativa das
analogias empregadas por Malta durante o referido debate. As analogias serão analisadas
segundo uma abordagem que considera suas dimensões cognitiva e discursiva, para contemplar
seus componentes individual e social, os quais se imbricam no processo de produção de sentidos.
Com base nos pressupostos da Teoria do Mapeamento Estrutural (GENTNER, 1983; GENTNER &
FORBUS, 2011), propõe-se uma descrição do raciocínio analógico em termos de processos
mentais que levam à produção de inferências; partindo da perspectiva dos Estudos de Discurso
(VAN DIJK, 2006, 2008) e dos Estudos de Argumentação (PERELMAN & OLBRECHTS-TYTECA,
1996 [1958]), propomos a compreensão das analogias como argumentos capazes de levar ao
assentimento de um grupo, com vistas à consecução de um ou mais objetivos social, ideológica e
historicamente situados. A análise do discurso de Malta permitiu observar um uso recorrente de
analogias como base para a defesa de que a homossexualidade corresponde a uma opção (e não
em uma condição) e de que a aprovação do projeto consistiria em uma forma de privilegiar
homossexuais.
Palavras-chave: Analogia, Argumentação, Debate parlamentar, Homofobia, Mapeamento
estrutural.
40
Identidade e natureza em Les Roseaux Sauvages de André Téchiné
Frederico Rios Cury Dos Santos (fredericodesantos@gmail.com)
Orientadora: Rossana Rocha Reis
Programa de Pós-Graduação: Relações Internacionais
Doutorado
O artigo, que foi publicado recentemente na Revista da Abralin, procura abordar as construções
identitárias no filme Les Roseaux Sauvages de André Téchiné acerca dos diferentes atores
sociais da França da época da independência da Argélia. Entendido o discurso cinematográfico
como microdiscurso, isto é, como aquele que não é emanado de autoridades, nem compreende a
chamada Grande História, ele pode ser, contudo, fonte riquíssima para a compreensão das
gramáticas das práticas sociais em jogo, bem como para a elucidação de aspectos ocultados
pelas consideradas “fontes oficiais” da historiografia. Como instrumento de leitura, será feito uso
da Análise do Discurso Francesa, por se tratar de uma metodologia que permite a referência às
condições de produção fílmicas. Mais especificamente, o modelo do percurso gerativo de Greimas
aplicado ao discurso constituirá o parâmetro de análise. O objetivo é verificar se outra leitura do
filme é possível além daquela que o classifica como um drama romântico da tradição francesa do
Jeux d’amour et du hasard de Maurivaux, continuada por Éric Rohmer. Por trás de uma história
aparentemente banal, estaria implícita uma visão pessoal (pelo menos do narrador), sobre alguns
dilemas políticos de fundo vivenciados na França de Charles De Gaulle. Tomou-se como hipótese
que existe no filme um embate entre as diferentes formações discursivas vigentes naquele
período: a do burguês metropolitano, do comunista e do burguês colonial, apesar de o narrador
não pintar como negativa nenhuma personalidade, nenhum tipo social, nenhuma ideologia. Ao
contrário, são mostradas as diferentes facetas do humano em cada uma de suas perspectivas,
com seus desejos, seus medos e anseios. A pulsão sexual apresenta-se como o elemento
desencadeador de toda desagregação ideológica, do esfacelamento de limites e verdades. A
natureza está no mundo, nua e crua, e resiste a qualquer idealismo.
Palavras-chave: Cinema, Discurso, Poder, Identidade.
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Interação digital e construção da identidade nas mídias sociais: natureza linguística e
simulação da conversação face a face no Twitter
Gabriela Dioguardi (gabriela@usp.br)
Orientadora: Zilda Gaspar Oliveira de Aquino
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Doutorado
Este trabalho tem por objetivo descrever a materialização linguística das emoticons como
elementos interacionais dos gêneros textuais digitais – especificamente no gênero textual digital
emergente – o tweet – particularizado pela produção escrita de até cento e quarenta caracteres e
que circula somente no ambiente Twitter – bem como sua transformação em ferramenta de
construção de identidade dos interlocutores envolvidos nas situações comunicativas desse
ambiente virtual digital. O corpus constitui-se de tweets do tipo argumentativo produzidos por
alunos do 1º ano do Ensino Médio de uma escola privada da cidade de São Paulo, desenvolvidos
a partir de uma sequência didática apresentada em aulas de Língua Portuguesa. Em razão de
toda produção discursivo-textual não poder ser separada de seu contexto específico de produção,
esta apresentação também examina os modelos de contextos da rede mundial digital, a Internet,
em sua concepção de produtora de ambientes virtuais nos quais circulam variados gêneros
textuais digitais emergentes Por se tratar de uma perspectiva sociocognitiva-interacionista de
reflexão linguístico-textual sobre os usos da língua em procedimentos argumentativos em
contextos digitais, o embasamento teórico deste trabalho fundamenta-se nas discussões sobre
Modelos de Contextos, propostos por Van Dijk (2016); na concepção de instâncias argumentativas
propostas por Amossy (2007); no conceito e funcionalidade de Redes Sociais e, particularmente do
Twitter, apontados por Santaella e Lemos (2010); nos postulados bakhtinianos da constituição e
transmutação de gêneros; nas acepções relativas às interações na Internet propostas por Lévy
(1999); nos entendimentos de Marcuschi 2002 (2010) e Crystal (2008) acerca das
Comunicações Mediadas por Dispositivos Móveis - CMDs -; no conceito de Análise da
Conversação, segundo Kerbrat-Orecchioni (2006); na materialização linguística dos gêneros
textuais digitais apresentadas por Marcuschi (2008) e na concepção de Marcadores
Conversacionais propostas por Koch (2004), Urbano (1997), e Marcuschi (1986).
Palavras-chave: Interação digital, Identidade, Mídias digitais, Twitter.
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C’est un navet: o ensino da argumentação em francês por meio do gênero textual resenha
cinematográfica
Gabriella Regina de Lucca Silva Moreira (gdlucca@gmail.com)
Orientadora: Eliane Gouvêa Lousada
Programa de Pós-Graduação: Estudos Linguísticos, Literários e Tradutológicos em Francês
Iniciação Científica
Esta comunicação visa a apresentar as análises de resenhas cinematográficas – que compõem o
corpus de nossa pesquisa de iniciação científica em andamento –, cujo objetivo é estudar o
gênero textual resenha cinematográfica para o ensino da argumentação aos alunos de francês
língua estrangeira (FLE) de nível B1 por meio de sequências didáticas. Baseamo-nos na definição
de Bakhtin (1992), de acordo com a qual os gêneros podem ser entendidos como tipos
relativamente estáveis de enunciados, elaborados em cada esfera de comunicação da língua.
Especificamente nesta comunicação, apresentaremos as análises de um corpus de 15 textos do
gênero resenha cinematográfica, retirados dos sites dos três jornais diários pagos e nacionais de
maior circulação na França: Le Figaro, Le Monde e Libération – de acordo com dados da OJD
(órgão que controla e fiscaliza a circulação da imprensa francesa), referentes a 2014-2015. Para
analisar os textos, seguimos o modelo de análise do Interacionismo Sociodiscursivo (Bronckart
2012), chamado de folhado textual: levantamento do contexto de produção em seus aspectos
sociossubjetivos e físicos, estudo da infraestrutura geral do texto (plano global dos conteúdos
temáticos, tipos de discurso e sequências textuais), mecanismos de textualização (conexão,
coesão nominal e verbal) e de enunciação (vozes e modalizações). O objetivo final da
análise é a produção de um modelo didático (Schneuwly e Dolz, 2004) para o futuro ensino desse
gênero textual, com o intuito de desenvolver a capacidade argumentativa dos alunos necessária
para a produção de resenhas, buscando descobrir como a resenha cinematográfica pode servir
para ensinar a argumentar e também como transferir essa capacidade discursiva para outros
gêneros textuais. Apresentaremos, inicialmente, os referenciais teóricos que embasam esta
pesquisa e, em seguida, mostraremos as análises realizadas até o momento.
Palavras-chave: Gênero textual, Produção escrita, Capacidade argumentativa, Cinema.
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Participação social e Estado: a construção interativa do Sistema Nacional de Cultura e os discursos identitários
Inti Anny Queiroz (inti.queiroz@gmail.com)
Orientador: Sheila Vieira de Camargo Grillo
Programa de Pós-Graduação: Semiótica e Linguística Geral
Doutorado
Este estudo busca abordar um fragmento da análise presente na pesquisa de doutorado sobre a
arquitetônica da esfera político-cultural brasileira refletida e refratada nos enunciados do Sistema
Nacional de Cultura (SNC). Para a análise utilizamos os preceitos teóricos Círculo de Bakhtin
principalmente os conceitos de: horizonte social mais amplo, excedente de visão, ato ético,
interação e valores axiológicos. Para esta etapa da pesquisa, analisamos a legislação relativa ao
SNC e documentos oficiais do Ministério da Cultura (MinC) entre os anos de 2003 e 2010 sobre o
tema. É possível dizer que os conteúdos dos enunciados foram elaborados em diálogo com os
fazedores de cultura brasileiros a partir dos diversos encontros, debates e conferências realizadas
pelo MinC a partir de 2003. A participação social era desde o início um dos pressupostos
constitutivos na construção do Sistema Nacional de Cultura incluído na Constituição Federal em
2012. Ao analisar os momentos de participação social e de interação na esfera político-cultural,
levamos em conta que existem dois grandes grupos de origens bem diferentes: a sociedade civil e
o Estado. Ambos, ainda que tenham um objetivo em comum, a construção de um sistema de
cultura, tem interesses diversos que estão em consonância com os interesses de cada esfera e
também com seu excedente de visão, visto de seu local de fala. Ao Estado interessa a
organização da gestão pública e à sociedade civil, o acesso à produção, à fruição cultural,
demandas territoriais e identitárias. Para chegar a um consenso, ambos deverão buscar conhecer
melhor os universos do outro, como funcionam seus processos, quais são as dificuldades, como
são as relações dentro de cada comunidade semiótica, seus modos de produção internos e as
relações identitárias das minorias envolvidas nas interações e assim construir um sistema
realmente democrático.
Palavras-chave: Interação, Ato ético, Participação social, Estado, Cultura.
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O papel dos memes na rede social Facebook
Katiuscia Cristina Santana (kathycris@gmail.com)
Orientador: Luiz Antonio da Silva
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Doutorado
O presente trabalho tem como objetivo analisar o papel dos memes utilizados nas redes sociais
da internet, em especial a rede social Facebook. O termo “meme” foi criado por Richard Dawkins
em 1976 ao escrever sua teoria sobre o processo de transmissão cultural humana. Atualmente, os
memes que conhecemos na internet são imagens acompanhadas de texto ou vídeos presentes no
mundo virtual. Pode-se observar que os indivíduos interagem nas redes sociais fazendo uso de
memes constantemente, criando um ambiente de interação descontraído. Com base nos
parâmetros teóricos da Análise da Conversação e da Pragmática, pretende-se verificar as funções
dos memes na interação virtual, principalmente aqueles que aliam o uso de imagem com recursos
fraseológicos presentes na fala popular do Português Brasileiro. A partir do levantamento de
alguns exemplos comuns de memes utilizados no Facebook em grupos públicos ou páginas do
Brasil na rede social, observou-se o jogo entre imagem e mensagem em um sentido denotativo ou
conotativo, o que gera um efeito de humor ou crítica em discussões on-line. Assim, nota-se que o
meme representa um fenômeno social nas redes sociais, fato que vai ao encontro do pensamento
de Castells (2003), segundo o qual o mundo virtual é uma nova forma de sociabilidade. Todo o
material será analisado de forma a considerar os recursos verbais e não verbais utilizados nas
interações de acordo com os aspectos situacionais e temporais.Espera-se que a análise dos
memes na interação possam contribuir para o desenvolvimento teórico das interações em meios
digitais, pois percebe-se ainda a falta de um estudo dos elementos verbais e dos elementos não
verbais nas interações on-line.
Palavras-chave: Interação virtual, Rede social, Meme.
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A dinâmica entre empatia/engajamento em audiências de instrução e julgamento
Laura Guidugli Fillietaz (laura.fillietaz@gmail.com)
Orientador: Paulo Roberto Gonçalves Segundo
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Iniciação Científica
Nosso objetivo, neste trabalho, é analisar a dinâmica do binômio empatia/antagonismo em
audiências de instrução e julgamento da Vara de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher,
que envolvem vítima, réu, juiz de direito, advogado de defesa e promotor, a fim de verificar tanto o
uso estratégico de recursos ligados a esse binômio para o alcance dos objetivos comunicativos do
gênero discursivo em foco, quanto sua possível influência na sentença que o Juiz de Direito pode
proferir, levando em conta que todo magistrado deve orientar-se à luz dos princípios do Juiz
Natural e Imparcial e da Busca da Verdade Real.
Para desenvolver esta pesquisa, baseamo-nos nos trabalhos de Cameron (2011,2013) sobre
empatia/antagonismo, considerando tanto aspectos teóricos quanto metodológicos, o que envolve
a categorização dos chamados ‘gestos de empatia’ – permitir conexão, entrar na perspectiva do
outro e mudar a relação percebida entre o eu e o outro – e nas propostas de Gonçalves-Segundo
e Ribeiro (2016) sobre as relações entre empatia/antagonismo e envolvimento, considerando os
eixos de vinculação e captação, além das narrativas de cada uma das partes sob a lógica do
conceito de narrativa e de identidade de Moita-Lopes (2002).
Nessa perspectiva, verificou-se no desenvolvimento do trabalho que o binômio
empatia/antagonismo extrapola o momento discursivo da audiência através da empatia ou
antagonismo reportados. A empatia ou antagonismo reportados foram observados em relatos de
situações em que as partes vivenciaram momentos de busca e/ou rejeição de gestos de empatia,
sendo a narrativa dessas situações capaz de despertar a empatia ou o antagonismo do
magistrado.
Palavras-chave: Empatia, Antagonismo, Audiência, Interação, Envolvimento.
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Coisa de menina - a identidade feminina no discurso voltado ao público infantil
Letícia Fernandes de Britto Costa (leticia.fernandes.costa@usp.br)
Orientadora: Zilda Gaspar Oliveira de Aquino
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Doutorado
Com o intuito de observar a construção da identidade feminina em discurso voltado ao público
infantil, propomo-nos a observar a série brasileira de desenho animado "O irmão do Jorel",
transmitida pelo canal Cartoon Network, cujo principal tema é a vida de um menino que vive à
sombra da figura de seu irmão mais velho. Para além de todas as questões da representação da
imagem do irmão caçula, o 25º episódio da primeira temporada "Fúria e Poder sobre rodas"
aborda a temática da identidade de gênero com discussões voltadas à pergunta: "o que é coisa de
menina?" Os itens lexicais, sobretudo os elementos nominais, que respondem a essa pergunta
nos diálogos das personagens se constituem como nossa principal categoria de análise. Esses
elementos foram selecionados e analisados a partir da proposta de Koch (1993) a respeito do
efeito argumentativo de determinadas escolhas lexicais, bem como os valores argumentativos que
acarretam, como propõem Perelman e Olbrechts-Tyteca (1996 [1958]). A partir dos resultados
obtidos, passamos à discussão do conceito de validades coletivas - Klein (1980) e Habermas
(1982) - e sua relação com conceitos de identidade propostos por autores como Jungwirth (2007)
e Moita Lopes (2002), para, com isso, compreendermos o modo com que a figura feminina infantil
é representada nesse discurso. A discussão dos resultados aponta para diferentes construções
identitárias da figura da menina, chamando também a nossa atenção para o fato de que tais
representações variam também de acordo com as próprias personagens que a constroem.
Palavras-chave: Identidade no discurso, Argumentação, Discurso infantil.
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O ensino contextualizado das expressões idiomáticas: uma proposta de intervenção
didática
Lígia Fabiana de Souza Silva (ligia.fabiana.souza@usp.br)
Orientadora: Mariângela de Araújo
Programa de Pós-Graduação: Mestrado Profissional em Letras - ProfLetras
Mestrado
O ensino de língua portuguesa como idioma materno tem-se pautado atualmente no
desenvolvimento da competência discursiva dos educandos, abordando-se, basicamente, quatro
“frentes” de trabalho: leitura, produção de textos, oralidade e reflexões gramaticais sobre a língua.
Há, portanto, pouco espaço para discussão sobre o ensino sistematizado do léxico em
documentos oficiais e escassas atividades em livros didáticos que tratam especificamente do
ensino do léxico. A partir do conceito de competência lexical, entendido no âmbito deste trabalho
como a capacidade do indivíduo em reconhecer as propriedades semânticas, sintáticas e
pragmáticas das palavras, suas restrições de uso, possibilidades de relacionamento com outras
unidades lexicais e conhecimento de seus processos de formação (LEFFA, 2000), é possível
desenvolver atividades com vistas a aumentar a proficiência dos alunos na produção de discursos
em seu próprio idioma. Para tanto, faz-se necessário ampliar seus repertórios e capacidade de
reflexão acerca de unidades lexicais simples e complexas (como as expressões idiomáticas),
atrelando-os às habilidades de análise de sua língua, relações entre língua e cultura e produção
discursiva. Dessa forma, a pesquisa apresentada visa ao desenvolvimento de estratégias de
ensino contextualizado, sistematizado e reflexivo acerca do léxico da língua portuguesa, com foco
nas expressões idiomáticas. Os procedimentos metodológicos de pesquisa utilizados são a
análise documental e a aplicação de sequência didática, cujos impactos serão observados na
avaliação da compreensão leitora dos alunos. A discussão teórica da pesquisa será realizada a
partir das obras de Cláudia Maria Xatara (1998), Stella Ortweiller Tagnin (2005), Maria Teresa
Biderman (2001), Vilson José Leffa (2000) e Mário Vilela (1995).
Palavras-chave: Fraseologia, Expressões idiomáticas, Sequência didática, Estratégias de ensino.
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O Dialeto Caipira: um acontecimento discursivo
Lígia Mara Boin Menossi de Araujo (ligiamenossi@gmail.com)
Orientador: Manoel Mourivaldo Santiago Almeida
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Pós-Doutorado
Esta pesquisa tem como um de seus principais objetivos investigar como se dá a construção de
sentido da obra O Dialeto Caipira (1920) enquanto acontecimento linguístico-discursivo em suas
diferentes retomadas; em outras palavras, compreender como cada novo dizer (re)constrói os
discursos ditos anteriormente e verificar como essas (re)construções dos discursos – por meio de
diferentes narrativas – sobre uma orientação de estudos brasileira passam a circular pela
sociedade e adquirir efeitos de sentidos diferentes e, assim, analisar como se constroem novas
formas de representar as contribuições de Amadeu Amaral a partir de um funcionamento
discursivo próprio de cada autor, as chamadas narrativa do acontecimento. Para tanto, estaremos
embasados teórica e metodologicamente na noção de narrativa do acontecimento, proposta por
Jacques Guilhaumou (2009), historiador linguista, inserido no campo da Análise do Discurso
francesa, domínio epistemológico no qual se funda o ferramental teórico e metodológico desta
pesquisa. Pensamos que as diferentes narrativas do acontecimento produzidas por narradores-
produtores inscritos em áreas distintas dos estudos da linguagem possibilitam a emergência de
distintos gestos de leitura acerca do acontecimento: O Dialeto Caipira e, assim, as narrativas
produzidas colaborariam para a construção da imagem do autor Amadeu Amaral como quem fala
de uma perspectiva de língua exclusivamente do português de Portugal como língua “correta” e,
por meio dessa suposta visão preconceituosa, corrobore para a produção do estereótipo do
caipira. Nosso material de análise é composto por teses, dissertações e artigos que (re)contam
algumas das conceituações de Amaral desenvolvidas na obra de 1920 construindo diferentes
narrativas do acontecimento ao produzir efeitos de sentidos distintos que (re)tomam também as
reflexões do contexto atual ao mobilizar questões que permitem um diálogo da Análise do
Discurso com a sociolinguística e a filologia. O acontecimento discursivo de cada trabalho coloca
em evidência um sujeito da enunciação, destacando seus próprios recursos interpretativos e
retomando um acontecimento histórico: O Dialeto Caipira.
Palavras-chave: Narrativa do acontecimento, Dialeto caipira, Estereótipo.
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Escola Sem Partido: o papel da evidencialidade na construção discursivo-argumentativa
Lucas Pereira da Silva (lucas.pereira.silva@usp.br)
Orientador: Paulo Roberto Gonçalves Segundo
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Iniciação Científica
O programa Escola sem Partido, idealizado por Miguel Nagib, tem como cerne propor uma
suposta neutralidade no que tange aos modos de conduta no ambiente escolar, em especial por
parte dos professores. A fim de discutir o que denominam “assédio ideológico”, a proposta
circulava por grupos isolados de pais e responsáveis, ganhando notoriedade, porém, em 2015,
quando passou a ser debatida em câmaras municipais, assembleias legislativas e no Congresso
Nacional em forma de projetos de lei.
O presente estudo tem como propósito analisar a estruturação discursivo-argumentativa
(GONÇALVES-SEGUNDO, 2014, 2017) de um conjunto de 30 textos opinativos circulantes em
plataformas online, como portais de revistas e jornais, além de blogs formadores de opinião, sobre
tal Projeto de Lei. Para isso, toma-se como base os pressupostos teóricos concernentes à
abordagem cognitivista da Análise Crítica do Discurso (HART, 2010, 2014) e os estudos referentes
à evidencialidade (BEDNAREK, 2006; CARIOCA, 2011; HANKS, 2014; MONTSERRAT
GONZÁLEZ et al, 2017; MARÍN-ARRESE, 2011a, 2011b; GONÇALVES-SEGUNDO, no prelo), de
modo a viabilizar o estabelecimento de correlações entre os posicionamentos ideológicos
materializados e o grau de comprometimento, o estatuto de realidade e o modo de acesso ao
conhecimento que embasa as construções materializadas nesses textos. Com base em tais
dados, será possível posteriormente discutir os modos de funcionamento da ideologia no
ambiente não só da sala de aula, mas no escolar como um todo, além de questionar o propósito
subjacente ao Projeto, tendo como preliminar a ideia de manutenção de uma ordem social com
base no silenciamento de possíveis vozes resistentes. Por ora, apresentar-se-ão os resultados
quantitativos da etapa descritiva da pesquisa e as inferências iniciais acerca de sua relevância em
termos discursivos.
Palavras-chave: Linguística Cognitiva, Análise Crítica do Discurso, Evidencialidade, Escola sem
Partido.
50
Uma análise crítico-discursiva da figura feminina nas propagandas em revistas impressas
da década de 50 no Brasil
Lucimar Regina Santana Rodrigues (lucimar.rodrigues@usp.br)
Orientadora: Maria Lúcia da Cunha Victório de Oliveira Andrade
Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Doutorado
O presente trabalho é um recorte de um projeto mais amplo sobre as propagandas de revistas do
século XX e XXI na perspectiva multimodal e crítico discursiva. O objetivo deste estudo é
examinar as especificidades discursivas utilizadas na construção da figura feminina em
propagandas veiculadas na revista Seleções Digest, no Brasil, da década de 50. O corpus
compreende 5 propagandas impressas. A análise será realizada a partir das marcas textuais
presentes no discurso da mídia que revela legitimação do poder, relação de dominação, ideologia,
persuasão e que remete a estratégias discursivas utilizadas na construção da figura da mulher
dos anos 50, no país. O discurso da mídia veicula enunciados que tecem ideologias e confrontam
os leitores ora com uma mulher submissa, do lar, preocupada, exclusivamente, com os seus filhos
e o esposo ora com uma mulher independente que trabalha fora, que dirige, que fuma, pinta as
paredes de sua casa. As análises revelam a mulher recatada e o sexismo circulando nas
propagandas, dependendo dos interesses da classe dominante. Os anunciantes trazem em seus
discursos, escolhas léxico-gramaticais e imagens que remontam um discurso dominador,
ideológico e altamente persuasivo. Considerando o papel crucial do contexto, a relação entre
linguagem e poder e respectivas marcas ideológicas, a fundamentação teórica está centrada,
principalmente, nos postulados da análise crítica do discurso proposta por Van Dijk (1997) e Pedro
(1997). Teorias da multimodalidade também serão abordadas a partir dos pressupostos de
Dionisio (2005) e Ribeiro (2016).
Palavras-chave: Discurso da mídia, Estratégias discursivas, Propaganda, Figura feminina.
51
O réu como não-cidadão: a desconstrução da identidade em “Contra Timarco”.
Luiz Guilherme Couto Pereira (guile108@hotmail.com)
Orientador: Christian Werner
Programa de Pós-Graduação: Letras Clássicas
Mestrado
Poucas obras de Ésquines, orador ateniense do Período Clássico, chegaram até nós. Seu
trabalho mais importante é “Contra Timarco”, no qual ele invoca uma ação de escrutínio público
(δοκιμᾶσία) em face do orador que dá nome ao discurso. Sob a acusação de que Timarco teria
atuado como prostituto na adolescência, Ésquines pede a cassação dos seus direitos (ἀτιμία).
Mais do que a perda da legitimidade para falar em assembleia – seu objetivo primário, uma vez
que o próprio Timarco fizera antes uma acusação de corrupção contra Ésquines – o réu deixaria
de ser considerado cidadão ateniense, sendo excluído de uma elite bastante significativa. Não por
acaso, em face do impacto da pena, Ésquines se esforça em demonstrar como Timarco não se
adequa ao comportamento esperado do cidadão ateniense – não só pela sua atuação como
prostituto, mas pelo acúmulo de práticas desmedidas e irresponsáveis, tanto no âmbito público
como na administração dos próprios bens. Há na sua argumentação uma narrativa de tamanho
considerável da vida de Timarco, elencando as diferentes práticas tipificadas e capazes de
justificar a pena, tais como negar o sustento aos progenitores e a dilapidação da herança.
Observando o tema do encontro, “Discurso e Identidade”, e tendo por base os estudos recentes
acerca da moral grega do Período Clássico e seu uso na retórica – especialmente Dover (1989) e
Fisher (2001), a comunicação pretende analisar o processo de desconstrução da identidade do
réu como cidadão ateniense por parte do orador, e as implicações decorrentes do resultado final
de tal estratégia, a condenação e perda da personalidade civil do réu.
Palavras-chave: Oratória clássica, Estudos de gênero, Retórica clássica.
52
Historicidade e Manifestações de rua: desdobrando simulacros de “verdade” e “realidade”
Marcos Rogério Martins Costa (marcosrmcosta15@gmail.com)
Orientadora: Norma Discini de Campos
Programa de Pós-graduação: Linguística
Doutorado
Em meados de junho de 2013, as tarifas de transporte público de São Paulo e de outras capitais
brasileiras foram reajustadas. Este deveria ser, à primeira vista, um fato do cotidiano. Não foi.
Eclodiram diversas manifestações por todo o país, inicialmente organizadas pelo Movimento
Passe Livre (MPL). Depois da queda do reajuste, os movimentos de rua não cessaram e eles
foram intituladas, mais tarde, como as “Jornadas de Junho”. Compreendendo esse acontecimento,
procuramos investigar como o conceito de historicidade se relaciona com a (re)criação discursiva
do corpo actorial do manifestante das Jornadas de Junho. Para tanto, utilizamos, como arcabouço
teórico, os estudos da semiótica da Escola de Paris (GREIMAS; COURTÉS, 2008; FONTANILLE;
ZILBERBERG, 2001) e os da filosofia bakhtiniana (BAKHTIN, 2010; 2015). Partindo, desse modo,
de um prisma teórico interdisciplinar que respeita a epistemologia de cada disciplina, analisamos
as reportagens dos dias 13 e 21 de junho de 2013, observando como a mídia impressa dos jornais
Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo construíram figura e tematicamente o ator
manifestante. Como resultados dessa pesquisa que está em desenvolvimento, pode-se apreender
que o acontecimento polêmico que embalava as ruas de São Paulo - SP, principalmente, era
atenuado pelo e no discurso da grande mídia, o qual, a partir de simulacros de “verdade” e de
“realidade”, recontava e recortava a historicidade das manifestações de rua, ora disforizando-a,
ora euforizando-a. Daí a caracterização do ator do enunciado manifestante ser afetada
contundentemente pela meta persuasiva do ator da enunciação da grande mídia.
Palavras-chave: Historicidade, Semiótica, Manifestações de rua, Simulacros, Ator.
53
Fanatismo e carisma: estratégias discursivas de Adolf Hitler na construção da concepção
de mundo nazista.
Maria de Fátima Rollemberg de Faro Mello Borelli (fatimaborelli@yahoo.com.br)
Orientadora: Lineide do Lago Mosca
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Mestrado
Essa pesquisa examina de que maneira as definições relacionadas à concepção de mundo do
Partido Nazista, presentes no livro Mein Kampf, contribuíram para construir um discurso do
fanatismo com vistas à adesão dos alemães ao discurso de Adolf Hitler. São analisados os
capítulos “Doutrina e partido”, “Concepção do mundo e organização” e “Povo e raça” e um
discurso público, realizado em 1934, em um dos comícios do partido. Analisar a relação discursiva
entre orador e auditório, o uso de noções e a interpretação dada aos argumentos, em virtude do
contexto em que se dão os discursos, pode contribuir para discussões sobre a intencionalidade e
os meios de que se vale o orador para conseguir a adesão do auditório. O referencial teórico para
a pesquisa será a Retórica, de Aristóteles, Introdução à Retórica, de Olivier Reboul e a Nova
Retórica, de Perelman e Tyteca. No que diz respeito às obras interdisciplinares, o filósofo Marx
Weber será de grande relevância, pois apresenta três tipos de autoridade em que se definem as
dominações como a oportunidade de encontrar uma pessoa determinada pronta a obedecer a
uma ordem de conteúdo determinado, e Aristóteles, com a obra Retórica das paixões, com a qual
é possível estabelecer relação com o fanatismo. Esse trabalho tem por objetivo analisar os
valores, as definições e os argumentos constituintes da concepção de mundo do partido nazista,
presentes em Mein Kampf, demonstrar a adequação do discurso a um auditório particular,
apontando as técnicas e recursos argumentativos utilizados a partir da intencionalidade do orador
e discutir elementos que restabelecem a identidade do auditório como fator de adesão ao
discurso.
Palavras-chave: Fanatismo, Autoridade carismática, Identidade, Adesão.
54
Aspectologia: uma revisão crítico-teórica no português
Maria Gabriela Rodrigues de Castro (magabriela.rc@hotmail.com)
Orientador: Paulo Roberto Gonçalves Segundo
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Iniciação Científica
A presente pesquisa de Iniciação Científica realizou um levantamento e uma revisão teórica
acerca dos estudos que tratam do Aspecto. O objetivo foi organizar e apresentar o quadro teórico
das teorias aspectológicas, visto os díspares conceitos que tal categoria já recebeu na vasta
bibliografia da área. Para realizar tal tarefa, selecionamos obras que serviram de aporte teórico
para as demais pesquisas realizadas posteriormente e que representaram as principais etapas
pelas quais o quadro aspectológico passou, a saber: Castilho (1968), Travaglia (1981), Cunha e
Cintra (1985) e Castilho (2012). A tipologia bastante controvertida do Aspecto é nossa primeira
observação a partir da análise das obras. A variedade de métodos e interpretações contribui para
o pouco consenso entre os muitos linguistas que se detiveram no estudo da aspectualidade. Tal
como Godoi (1992) propõe, as contraditórias classes sugeridas ao Aspecto apenas demonstram
que tal categoria é, na verdade, mal compreendida. Os estudos aqui analisados comprovam tal
ideia e motiva, ao mesmo tempo, uma organização do quadro aspectológico no português
brasileiro. Travaglia (1981), por exemplo, propõe um total de quatorze Aspectos promovendo uma
supersegmentação, já Cunha e Cintra (1985), propõem apenas três categorias básicas, mas
acabam por não explicar cada uma. Castilho (2012) revisita sua primeira obra e não mais prevê a
existência de um Aspecto Indeterminado, como anteriormente, mas deixa em aberto ainda a
questão da influência do Aspecto no discurso. A propósito, no que concerne ao âmbito discursivo,
observamos que todos os autores supracitados optam por tratar do Aspecto isoladamente e não
em um contexto. Nesse sentido, consideramos que, mais do que tratar do Aspecto centrado
exclusivamente no Verbo, seria necessária uma maior atenção à ideia de uma aspectualização,
isto é, analisar o Aspecto sob um olhar mais amplo considerando sua interface com todos os
elementos dos complexos oracionais.
Palavras-chave: Aspecto, Aspectologia, Português.
55
Os conceitos básicos de comparação discursiva nos estudos do Grupo de pesquisa
Cediscor
Maria Glushkova (maria.glushkova@yahoo.com)
Orientadora: Sheila Vieira de Camargo Grillo
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Pós-Doutorado
O objetivo deste trabalho é apresentar os estudos de um grupo de pesquisa francês para o público
brasileiro do evento. O Cediscor (Centro de Pesquisa sobre os discursos cotidianos e
especializados, sediado na Université Sorbonne Nouvelle, Paris 3) existe há mais de 20 anos e
tem uma grande experiência em análises comparativas, linguísticas, culturais e discursivas. Um
dos conceitos desenvolvidos pelo grupo é o conceito de Tertium comparationis, ou seja, a terceira
parte da comparação, que também é usado no Brasil. O gênero é o elemento mais utilizado pelo
Cedisor como tertium comparationis, por sintetizar os lugares de articulação mais imediatos da
língua com a cultura. Nos números do periódico "Les Carnets du Cediscor", encontramos
pesquisas sobre culturas diferentes, baseadas na comparação de duas, três, quatro ou mais
línguas e culturas. Primeiramente, o grupo compartilha os princípios da Análise do Discurso que
estuda o funcionamento da língua, a circulação dos corpora analisados e as relações entre as
manifestações linguísticas e os fenômenos extralinguísticos. Posteriormente, os pesquisadores
efetuam a Análise contrastiva do discurso: a comparação de diferentes culturas discursivas,
entendidas como manifestações discursivas sobre representações sociais, sobre objetos e sobre
os discursos desses objetos circulando em uma dada comunidade. A análise adquire uma
perspectiva interdisciplinar. Os pontos centrais da análise contrastiva - conceito de cultura e a
relação entre língua, discurso e cultura - mostram as diferenças entre os pesquisadores do
Cediscor: Sophie Moirand, Jean-Claude Beacco, Francine Cicurel, Georgeta Cislaru, Patricia von
Münchow, Florimond Rakotonoelina, e outros.
Palavras-chave: Estudos discursivos, Análise discursiva, Comparação discursiva.
56
Discurso e identidade política na revista Mundo Peronista
Mayra Coan Lago (mcoann@hotmail.com)
Orientadora: Maria Helena Rolim Capelato
Programa de Pós-Graduação: História Social
Doutorado
Nesse estudo inicial pretendemos analisar o discurso da revista Mundo Peronista, produzida pela
Escola Superior Peronista, entre julho de 1951 e setembro de 1955. Procuraremos observar as
construções e consolidações das autoimagens do discurso oficial sobre o peronismo, tomado em
sua dimensão mais ampla, enquanto governo, movimento, sentimento, identidade e partido
político, diretamente vinculado aos seus líderes, Juan Domingo Perón e Eva Perón. Para
lograrmos o objetivo, utilizaremos os aportes teórico-metodológicos oferecidos por Patrick
Charaudeau nos estudos sobre o discurso político e a conquista da opinião pública, como os
variados tipos de discurso político, os ethos, os imaginários sócio-discursivos e a constituição e
manipulação da opinião pública.
Embora a revista contenha um rico material para a compreensão deste período da história política
argentina e para a análise da conformação de uma das identidades e culturas política do país, o
peronismo, na vasta historiografia sobre o período, a revista tem sido mais mencionada e citada
do que estudada como objeto, especialmente no Brasil.
A partir da análise podemos perceber que a revista foi um dos mais importantes órgãos de difusão
da propaganda e do ideário peronista, contribuindo para a consolidação de imagens mais amplas
como da identidade peronista, do consenso político, da legitimidade e do apoio ao governo e da
participação política, por parte dos argentinos. A revista também propiciou a consagração de
imagens mais específicas, como do “velho” e do “novo” tempo, do “amor”, da “bondade” e do
“sacrifício” em torno de Perón e Evita, do “novo” trabalhador, da relação dos líderes com os
trabalhadores e do elo que deveria ser estabelecido entre eles, que baseariam a noção de “Nova
Argentina”.
Palavras-chave: Mundo Peronista, Propaganda política, Peronismo, Perón, Evita.
57
A representação do Brasil segundo os haitianos: vozes na notícia impressa
Milton Francisco da Silva (miltonchico@yahoo.com.br)
Orientadora: Maria Lúcia da Cunha Victório de Oliveira Andrade
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Egresso
Neste trabalho vinculado à linha de pesquisa Linguística Textual e Teorias do Discurso no
Português, refletimos sobre a representação discursiva (imaginária ou real) que imigrantes
haitianos constroem sobre o Brasil e os brasileiros em notícias da Folha de S.Paulo. Como
justificativa temos: compreender essa representação ajuda a identificar a situação de minoria
desses imigrantes em território brasileiro e, possivelmente, a mitigar (a partir de ações discursivas
ou não discursivas) suas condições à margem da sociedade. Temos como referencial teórico os
conceitos de representação discursiva real e imaginária, práticas sociais e ordem social, ordem do
discurso, recontextualização (Fairclough, 2003, 2012), elite simbólica (van Dijk, 2010) e vozes
sociais (Bakhtin, 2010). Metodologicamente, empreendemos a leitura de 52 notícias da Folha de
S.Paulo publicadas de 2011 a 2015, usando categorias relativas à representação discursiva.
Nossos resultados são: a representação imaginária positiva dos haitianos sobre o Brasil (baseada
no sonho de recomeçar a vida e na sensação inicial de acolhimento) se tornou representação real
negativa à medida que tentavam integrar-se à sociedade brasileira. Tal mudança ocorreu em
função, por exemplo, do não domínio da língua portuguesa, a baixa escolaridade, os baixos
salários oferecidos, o alto índice de desemprego e o preconceito em relação ao imigrante negro e
pobre. No âmbito jornalístico, os haitianos foram tomados como objeto da notícia e sua voz,
sobretudo, relata o passado recente. Em geral, o enunciador mantém sem voz quem não a tem e
com voz quem a tem, por exemplo, ao tratar de possíveis soluções de problemas relativos aos
haitianos, privilegia-se a voz de governos e igrejas. Assim, o enunciador, recontextualizando a
assimetria social, não provoca nenhuma luta hegemônica em prol dos haitianos nem busca mudar
as (parte das) estruturas sociais.
Palavras-chave: Imigração haitiana, Representação discursiva, Práticas e ordens sociais, Ordens
do discurso.
58
Fazendo humor com as palavras: a desagregação vocabular como procedimento discursivo
de constituição de sentido na trova humorística
Pedro da Silva de Melo (prof.pedromelo@gmail.com)
Orientadora: Elis de Almeida Cardoso
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Doutorado
Parte de uma tese em andamento, este trabalho fundamenta-se em pressupostos teóricos da
Lexicologia, Estilística e Análise do Discurso e tem por objetivo analisar como a segmentação de
unidades lexicais produz efeitos de sentido em textos de humor. Nossa hipótese inicial é que há
uma profunda relação entre o humor e o uso expressivo do léxico, isto é, a criatividade lexical
valoriza um enunciado, tanto no plano da expressão quanto no plano do conteúdo. Quanto à
desagregação vocabular, trata-se de um processo em que um significante é segmentado em duas
ou mais partes, como se formasse novas lexias. A intenção é sugerir outra possibilidade de leitura
para uma determinada lexia ou para pôr em relevo um componente mórfico, dando-lhe visibilidade
além da formação da unidade propriamente dita. Entre as diversas possibilidades de uso do
léxico, postulamos que a desagregação vocabular é uma exploração lúdica que ocupa um papel
relevante na expressividade do enunciado e constitui uma estratégia discursiva muito eficiente
para produção de efeitos de sentido humorísticos. Para a Estilística, a ideia de estilo, entre
diversas acepções, pode ser “surpresa” ou “desvio” (MARTINS, 2008). Essa acepção sustenta
teórica e metodologicamente o nosso trabalho. Na tese, analisamos pormenorizadamente dezoito
ocorrências de desagregação vocabular em trovas humorísticas, cujos efeitos de sentido são
produzidos por esse recurso: a separação entre partes de lexias, não necessariamente de seus
elementos mórficos, provoca o estranhamento e o riso do enunciatário. Para este trabalho,
apresentamos um recorte com seis dessas ocorrências, com segmentação tanto entre
componentes mórficos (prefixos e bases, por exemplo), quanto entre partes de uma lexia sem
essa motivação mórfica. Um estudo como este justifica-se pela necessidade de uma investigação
que analise as relações entre Humor, Léxico e Expressividade. O exame detalhado não só da
desagregação vocabular quanto de outros processos estilísticos confirma a nossa hipótese inicial.
Palavras-chave: Humor, Léxico, Desagregação vocabular, Expressividade.
59
Cortesia, atenuação pragmática e problemas de intercompreensão: um estudo intercultural
entre cordobeses e paulistanos.
Ramiro Carlos Humberto Caggiano Blanco (ramirocaggianob@gmail.com)
Orientadora: María Zulma Moriondo Kulikowski
Programa de Pós-Graduação: Língua Espanhola e Literaturas Espanhola e Hispano-Americana
Doutorado
A comunicação intercultural supõe um desafio porque nela entram em cena elementos culturais
próprios de cada interactante, tanto dos falantes no ato da emissão quanto dos ouvintes na
decodificação-interpretação. Isso faz que os falantes de uma língua empreguem táticamente
estrategias discursivo-argumentativas, entre elas, a intensificação e atenuação pragmáticas,
conforme sua necessidade de aproximação social ao outro. Por tal motivo, Haverkate (2004) e
Briz (2007) estabeleceram uma classificação num continuum em cujos extremos colocaram as
sociedades de aproximação e distanciamento. À luz destes conceitos, foi realizada uma pesquisa
intercultural, no âmbito de mestrado em Letras (USP), no qual se desenvolveram comparações
das táticas de atenuação pragmática de atos ameaçadores da imagem (FTAs), específicamente
de enunciados assertivos não corteses (Haverkate, 1994) e respostas não preferidas (Ferrer e
Sánchez Lanza, 2002) com estudantes universitários das cidades de São Paulo, Brasil, e
Córdoba, Argentina. Como resultado dessa pesquisa evidenciou-se que: os universitarios
paulistanos ao realizar os FTAs empregavam mais procedimentos linguísticos de atenuação
(variação sintagmática), e optavam por formas mais atenuantes quando empregados os mesmos
procedimentos linguísticos de mitigação (variação paradigmática) que os cordobeses, que o maior
emprego de atenuação pragmática (distanciamento linguístico para conseguir uma aproximação
social [Briz, 2010]), colocou os paulistanos mais próximos das sociedades de distanciamento que
seus pares cordobeses, e que, também, tais variações produziram mudanças semânticas
significativas nos enunciados dos paulistanos na interpretação realizada pelos cordobeses,
originando problemas de intercompreensão entre eles, justificando, assim, a continuidade e
aprofundamento do estudo das relações entre atenuação pragmática e interpretação do ato
ilocucionário no atual doutorado com o intuito de melhor entender as diferenças discursivas e
abandonar estereótipos culturais. A pesquisa tem como base teórica, principalmente, as obras de
Diana Bravo (1999, 2001, 20014) acerca dos aspectos socioculturais da pragmática e da
(des)cortesia, de Charadeau (2008) quanto aos papéis dos sujeitos do ato de linguagem, de
Antonio Briz que estabelecem os conceitos da atenuação pragmática e de Marta Albelda e Antonio
Briz (2014) que apresentam a ficha metodológica de análise dos elementos linguísticos de
atenuação do projeto ES.POR.ATENUAÇÃO para o estudo da atenuação pragmática em
diferentes padrões regionais de Português e Espanhol.
Palavras-chave: pragmática, atenuação, cortesia, ES.POR.ATENUACIÓN.
60
A identidade autoral manifesta na estrutura gramatical do discurso setecentista
Renata Ferreira Munhoz (renatamunhoz2000@yahoo.com.br)
Orientador: Thomas Finbow
Programa de Pós-Graduação: Linguística
Pós-Doutorado
Esta comunicação pretende demonstrar como a organização linguística de textos manuscritos
setecentistas pode revelar marcas identitárias de seus autores. O mapeamento de
correspondências que tratavam de questões administrativas na segunda metade do século XVIII
apresentou um interessante padrão sintático: a recorrência do emprego clítico/verbo (cl/V) nas
orações finitas em cujo contexto antecedente haja pronomes de tratamento. Acredita-se que a
adoção das tratativas que se referem aos interlocutores hierarquicamente superiores como termos
proclisadores denote mais do que um padrão linguístico recorrente. Infere-se que a distribuição da
ordem linear cl/V, apresentando as tratativas honoríficas como palavras atrativas que justificam a
próclise, aponte ao conteúdo semântico dos discursos. Nesse sentido, os autores revelariam sua
própria identidade como subordinada a seus interlocutores. Como objetos de estudo, analisam-se
dois corpora de documentos ascendentes distintos: um produzido por mãos hábeis e outro, por
mãos inábeis. Além das diferenças de ordem paleográfica, o nível de letramento dos autores
denota alternâncias nas estruturas gramaticais, de acordo com o proposto por Marquilhas (2000).
Dentro de um padrão sincrônico de análises, este estudo demonstra que a recorrência do uso da
próclise no contexto estudado apresenta pormenores interessantes, na esteira dos trabalhos de
Martins (1994), Galves (2001), Paixão de Sousa (2004), capazes de auxiliar na compreensão do
português empregado na colônia portuguesa na América entre os anos de 1765 e 1775, quando o
Morgado de Mateus governou a capitania de São Paulo. Infere-se, portanto, que o profícuo
fenômeno de colocação dos pronomes clíticos nos registros coloniais possa conduzir a uma
melhor compreensão da Língua Portuguesa grafada em território brasileiro naquele período.
Palavras-chave: Identidade autoral, Manuscritos setecentistas, Colocação de pronomes clíticos.
61
O artigo de opinião no livro didático de português para o ensino médio
Rita de Nazareth Souza Bentes (ritasbentes@yahoo.com.br)
Orientadora: Maria Inês Batista Campos
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Doutorado
Este trabalho, ligado à linha de pesquisa Linguística Aplicada ao Português, do Programa de Pós-
Graduação em Filologia e Língua Portuguesa (FFLCH/USP), objetiva analisar o artigo de opinião
em dois capítulos dos livros didáticos de Língua Portuguesa do terceiro ano do Ensino Médio –
“Ser Protagonista: Língua Portuguesa” de Rogério de Araújo Ramos e “Português: língua e
cultura” de Carlos Alberto Faraco – ambos editados em 2013 e aprovados no PNLD de 2015. A
pesquisa se justifica em razão da discussão atual sobre o livro didático ser um espaço de
construção de opiniões e criticidade nas aulas de Língua Portuguesa. O referencial teórico-
metodológico se fundamenta na abordagem dialógica do discurso do Círculo Bakhtiniano
(BAKHTIN, 2016, VOLOSCHINOV, 2014). Trata-se de uma análise comparativo-descritiva para
verificar: as abordagens de ensino do gênero discursivo ou de texto, as formas, os estilos que são
apresentados, as condições de produção do gênero, as formas de trabalhar o enunciado verbal e
o visual na construção de sentidos. Os resultados mostram que os autores apresentam
abordagens diferentes do ensino do gênero “artigo de opinião”, formas distintas de nomear o
objeto de ensino – estratégia argumentativa e articulação – e uma rica relação entre as linguagens
verbais e visuais.
Palavras-chave: Livro didático, Artigo de opinião, Teoria dialógica do discurso.
62
Identidade e gênero social: representações do sujeito no filme Boi Neon
Rodrigo S. Fontanini de Carvalho (rodrigosfc@uol.com.br)
Orientador: Ricardo Gaiotto de Moraes
Programa de Pós-Graduação: Linguagem, Mídia e Arte / PUC-Campinas
Mestrado
Este estudo trata de práticas interdisciplinares (linguagem, mídia e arte) baseadas na linguagem
discursiva e poética sobre questões implicadas na e pela relação do sujeito com seus processos
culturais, históricos e identitários. Pretende uma análise a respeito do discurso verbal e não verbal
marcado no cinema brasileiro contemporâneo – especificamente no filme Boi Neon (2016), de
Gabriel Mascaro – a partir das representações de gênero social e identidade.
O filme Boi Neon explora a história e o espaço contraditório e profundo do sertanejo brasileiro do
século XXI, possibilitando questionamentos sobre o universo do nordestino em transformação,
sobretudo, no que tange as discussões de diluição dos estereótipos masculino e feminino.
A mídia, incansável fonte de informação, permite a representação de um mundo multifacetado,
onde espaços discursivos disseminaram-se, modificando a possibilidade de interação entre os
sujeitos. Nesse contexto, a linguagem tem papel fundamental no confronto de valores identitários
e culturais presentes nas relações humanas, gerando identificação, resistência ou reinvenção
social.
Dentro de uma perspectiva analítica discursivo-desconstrutivista – apoiada em autores como
Foucault, Derrida, Deleuze e Guattarri, dentre outros – são abordados aspectos contemporâneos
que envolvem a constituição do sujeito pós-moderno e sua consequente relação com processos
sociais e de subjetivação.
Palavras-chave: Discurso, Identidade, Gênero, Cinema.
63
Leituras da poesia de Arnaldo Antunes na Era do Antropoceno
Sandra Mina Takakura (sandramita@hotmail.com)
Orientadora: Elis de Almeida Cardoso
Programa de Pós-Graduação: Língua Portuguesa e Filologia
Doutorado
Arnaldo Antunes é um ex-Titãs, músico, compositor e poeta contemporâneo. Sua escolha por um
estilo influenciado pelo punk, rock e pop e depois pela música concreta transcendendo às
composições de poemas concretos resultaram em uma vasta produção clipes de músicas, CDs,
DVDs, poesia digital, instalações artísticas e antologias com ou sem CDs. Sua relação com a
tecnologia pode ser explorada em sua obra enquanto produção na era do Antropoceno
(CRUTZEN & STOERMER, 2000, ZALASIEWICZ et al, 2010, ZALASIEWICZ et al, 2008), pois, é
possível traçar as relações e interações de uma era na qual o ser humano passou a transformar o
globo terrestre. A investigação parte dos traços encontrados em seus enunciados, em suas
criações neológicas estilísticas, que de acordo com Cardoso (2004) não são incorporadas ao
acervo lexical da língua, fazendo parte das marcas estilísticas de um determinado autor, resultado
de suas escolhas. A linguagem híbrida está presente na obra, transcendendo os limites das
linguagens nacionais, misturando a língua portuguesa a outras línguas apontando os fluxos
migratórios que ocorreram no país. A linguagem híbrida na literatura para Bakhtin evidencia
relações outrora ocultas na linguagem híbrida da história. Longe do hibridismo figurar como
espaço de interação entre os grupos, descrito por Bhabha (1993), este estende-se ao corpo do
autor que aliado à tecnologia, à caneta, ao vídeo, ao microfone, à câmera permite a interação
entre o humano e o não humano, este considerado antes como mero instrumento tecnológico. A
leitura a partir da era do Antropoceno demanda uma reflexão da questão da agência e intenção
comunicativa, aliando a teoria do ator em rede (ANT) de Bruno Latour (2005), às discussões do
círculo bakhtiniano, estendendo o estudo do discurso, à política, natureza, cultura e tecnologia.
Palavras-chave: Neologismo, Antropoceno, Bakhtin, Teoria do Ator em Rede.
64
A participação das mídias na oficialização de uma imagem de língua e a formação do
professor de língua portuguesa
Sandro Luis da Silva (vitha75@gmail.com)
Orientador: Valdir Heitor Barzotto
Programa de Pós-Graduação: Educação - FEUSP
Pós-Doutorado
Esta apresentação objetiva a socialização de um projeto de pós-doutorado, que está em
andamento, o qual procura examinar a participação das mídias na oficialização de uma imagem
de língua e a formação do professor de língua portuguesa. A pesquisa dialoga com dois Projetos
coordenados por Barzotto: “Imagens da língua: sujeito, deslocamento, conhecimento e tempo” e
“Estudos discursivos sobre mídia na Universidade de São Paulo (USP) e na Universidade do
Porto (UP): implicações teóricas e práticas”. Em nossa pesquisa, consideraremos as mídias como
uma instância argumentadora, dada a importância que elas assumem socialmente. Neste estudo,
interessa-nos as pesquisas de mestrado e doutorado que examinam, à luz da análise do discurso,
os efeitos discursivos do texto midiático em sala de aula. E tal interesse se pauta no fato de que,
no campo educacional, torna-se cada vez mais necessário o preparo do professor para lidar com
a grande quantidade de informações introjetadas pelas mídias nos jovens. A discussão da
presença delas na formação de professores contribui significativamente para um ensino
significativo para os sujeitos nele envolvidos, uma vez que na formação docente encontra-se o
momento em que se prepara o futuro docente para a prática em sala de aula. Espera-se contribuir
com discussões a respeito de diversos fatores implicados com o tema proposto por nós,
proporcionando subsídios para o desenvolvimento de estratégias para a formação inicial e
continuada do professor de língua portuguesa, a fim de torna-lo mais reflexivo em relação ao
ensino de língua portuguesa na escola básica.
Palavras-chave: Discurso, Mídias, Língua, Formação de Professor.
65
A constituição da identidade na cadeia de gêneros do Meme “Bela, Recatada e do Lar”
Sergio Mikio Kobayashi (kobayashisergio@gmail.com)
Orientador: Paulo Roberto Gonçalves Segundo
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Mestrado
Com o advento da internet, as informações passaram a circular com uma velocidade até então
inimaginável, podendo fazer com que em poucos minutos uma informação viralize em todo o
mundo. Por conta disso, a linguagem passou a se materializar em novos gêneros discursivos,
além de transformar os já existentes, adequando-os às condições do mundo digital. A própria
criação de hiperlinks e opções como “assuntos relacionados” são fatores fundamentais para a
constituição destas mudanças linguísticas nos textos digitais. É dentro deste conceito que surge o
gênero “Meme”.
Este trabalho, inserido em uma pesquisa de Mestrado em andamento, tem por objetivo
compreender a constituição da identidade nas cadeias de gênero do Meme em contexto de
campanha. Para isso, realizaremos uma análise do Meme “Bela, Recatada e do Lar”, surgido a
partir da publicação de mesmo nome da Revista Veja, em abril de 2016. Apresentaremos,
portanto, os resultados parciais já obtidos, como a relação dialógica existente entre os gêneros
desta cadeia e representação da mulher na constituição do gênero Meme e, consequentemente,
na campanha por ele gerado.
Para dar conta destes objetivos, este trabalho ancora-se na Análise Crítica do Discurso, sobretudo
no trabalho de Fairclough (2003), tomando como abordagens complementares as proposições de
Shifman (2013) sobre a constituição de Memes na Cultura Digital e os postulados de Recuero
(2006) acerca das redes digitais.
Palavras-chave: Análise Crítica Do Discurso, Cadeias de gênero, Campanha, Identidade, Meme.
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Abordagem cognitiva no desenvolvimento de competências linguísticas, discursivas e
textuais no ensino de escrita acadêmica
Solange Ugo Luques (luquesol@hotmail.com)
Orientadora: Zilda Gaspar Oliveira de Aquino
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Pós-Doutorado
Com o objetivo de abordar enfoques cognitivos que envolvem a construção de sentido e de
conhecimento específico em situações de ensino e aprendizagem, apresentamos a análise de um
conjunto de atividades referentes a uma produção do gênero textual-discursivo artigo científico
realizadas em consequência de práticas interativas para o ensino de escrita acadêmica em língua
portuguesa. Ao analisar a produção inicial do aluno, os comentários do professor e a posterior
reescrita dessa produção, ações que têm como propósito desenvolver competências linguísticas,
discursivas e textuais entre os alunos, buscamos observar a maneira como se dá mentalmente a
construção de sentido, um processo mediado pela linguagem, esta que, segundo Silva (2004), é
parte integrante da cognição. Estamos, portanto, alinhados a autores que buscam observar a
linguagem como meio de descobrir o funcionamento de nosso sistema conceitual, assim como
Lakoff & Johnson (1980), com a Teoria da Metáfora Conceptual, e Fauconnier e Turner (2002),
criadores da Teoria da Mesclagem Conceptual, segundo os quais a capacidade humana única de
fazer integrações conceituais e avançar no processo cognitivo é uma atividade mediada pelo
pensamento e pela linguagem. Os resultados de nossa análise vão ao encontro das posições
desses estudiosos da cognição, levando-nos ainda a afirmar que, quanto mais se desenvolve a
competência linguístico-discursiva - e a aprendizagem de produção de texto acadêmico promove
o desenvolvimento de tal competência - mais conexões mentais para o avanço do processo
cognitivo são estabelecidas, favorecendo tanto a construção de conhecimentos linguístico-
discursivos como a de saberes específicos de cada área do conhecimento, numa relação
dialógica.
Palavras-chave: Abordagem cognitiva, Escrita acadêmica, Ensino e aprendizagem, Práticas
interativas, Língua portuguesa.
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Vozes do cotidiano e cultura popular: identidade e estilo na literatura de expressão
amazônica
Sueli Pinheiro da Silva (suelipinheiro2011@gmail.com)
Orientadora: Sheila Camargo Vieira Grillo
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa Doutorado
A literatura paraense (ou literatura de expressão amazônica) é permeada por vozes advindas da
cultura popular e da ideologia do cotidiano que são refletidas e refratadas em diversos elementos
da composição literária: no estilo, na construção composicional, no conteúdo temático, nas
ênfases valorativas etc. Nosso objetivo é analisar numa perspectiva dialógica, a presença de
elementos que marcam identitariamente os sujeitos a partir de seus modos de dizer em diferente
esferas e gêneros. Assim, partimos do texto literário a fim de identificar tais marcas e comparar as
manifestações ali impressas com sua transposição para o texto não literário. Importa-nos situar
os sujeitos ali envolvidos, à luz da perspectiva bakhtiana: um sujeito dialógico, situado e
consciente de suas escolhas as quais resultam de sua constituição identitária, da qual o Outro
impreterivelmente também faz parte . Selecionamos para análise duas obras da literatura
amazônica - um romance “Menina que vem de Itaiara”, de Lindanor Celina e uma crônica
“Promessa em azul e branco” de Eneida de Moraes. Para tanto, nos reportamos a Bakhtin (1987,
2004, 2013, 2015, 2016) e Volochínov (2006, 2013) em relação aos conceitos de gênero do
discurso, ideologia do cotidiano, estilística, cultura popular, a Caretta (2016), em relação a estilo e
a Cândido (2016) e Campos (2011) no que se refere aos estudos acerca de identidade nas
crônicas. Os resultados parciais acenam para questões relacionadas a estilo, já que as
manifestações resultam de escolhas do sujeito, bem como a um fenômeno ricamente estudado
por Bakhtin ainda não descrito nas gramáticas brasileiras: o das orações subordinadas sem
conjunção.
Palavras-chave: Identidade, Gênero do discurso, Crônica, Estilo, Cultura popular.
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Entre Vossler e Bakhtin/Volochinov: proximidades e distanciamentos entre as filosofias idealista e marxista da linguagem
Taciane Domingues (tacianedomingues@gmail.com) Orientadora: Sheila Camargo Vieira Grillo
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Iniciação Científica
Esta pesquisa compara as filosofias marxista e idealista da linguagem, representadas pela
corrente do Círculo de Bakhtin e seu e pela Idealistische Neuphilologie (Filologia Idealista
Moderna), escola de Karl Vossler, herdeiro das ideias românticas e idealistas e influenciado pelo
linguista alemão Wilhelm von Humboldt. Na obra base Marxismo e Filosofia da Linguagem:
problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem (MFL),
Bakhtin/Volochinov (1929[2014]) propõem a filosofia da linguagem marxista como síntese do
confronto com a Idealistische Neuphilologie (tese) e a Escola de Genebra (antítese), justificando
nossos interesses comparativos. Investigamos a influência da tese na síntese a partir das relações
entre pensamento e língua, estilo e estilística em Bakhtin/Volochinov, Vossler e Humboldt, sendo
nosso referencial teórico as obras MFL e Gesammelte Aufsätze zur Sprachphilosophie (Escritos
Reunidos para uma Filosofia da Linguagem, Karl Vossler, 1923). A comunicação apresentará a
comparação entre esses tópicos, filiando-nos à análise do discurso e aos estudos comparados.
Como metodologia, comparamos os textos de Bakhtin/Volochinov e de Vossler e Humboldt nas
concepções gerais de linguagem e língua (em sua relação dialética com o pensamento) e no estilo
e análise estilística aplicada. Os resultados apontam uma inversão do ponto de origem do
movimento dialético, que para os idealistas alemães é a consciência individual e para os russos é
o seio da interação social, que adentra a consciência individual por meio do signo ideológico. As
consequências são: para os idealistas, a consciência imprime suas leis no mundo, tornando a
concepção do estilo autoral e o texto literário um monólogo do gênio artístico criador. Para os
marxistas, a investigação linguística torna-se dialógica, sendo todo enunciado um produto da
interação social que carrega em si vozes alheias. Na análise literária surge o conceito de
heterodiscurso social, concatenado pelo autor na estrutura narrativa do romance segundo seu
estilo.
Palavras-chave: Círculo de Bakhtin, Idealismo alemão, Karl Vossler, Wilhelm von Humboldt,
Dialogismo.
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A escrita engajada no jornalismo lusófono: uma análise de perfis discursivos de escritores
africanos no período colonial (séculos XIX e XX)
Tércio de Abreu Paparoto (tpaparoto@usp.br)
Orientadora: Maria Lucia da Cunha Victório de Oliveira Andrade
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Pós-Doutorado
O presente tema para pesquisa intenta, como objetivo central, propor um estudo que visa à
investigação, à descrição e à análise de determinadas estruturas linguísticas presentes em
artigos, editoriais, informes e panfletos publicados em jornais africanos lusófonos –
especificamente os de Angola e os de Moçambique-, durante o correr dos séculos XIX e XX,
textos estes de autoria de escritores, poetas e intelectuais da África sob o período de colonização.
A partir dessas fontes, este trabalho busca uma observação minuciosa das referidas estruturas
(como as estruturas narrativas e discursivas, as formulações/organizações discursivas, as
enunciações e relações intertextuais etc.), baseando-as em estudos insertos no contexto da
Análise Crítica do Discurso (ACD – apoiando-se nos postulados teóricos de Teun van Dijk, Wodak
entre outros) e nas inter-relações próprias da diacronia, possibilitando estabelecer paralelos entre
perfis reconhecidamente ideológicos, bem como o de propiciar a apresentação de modelos de
análise de Retórica que certifiquem o caráter do que se entende por discurso “engajado”.
Periódicos como O Progresso, O Africano, O Brado Africano e O Itinerário, de Moçambique, de
Angola, A Aurora, A Civilização da África Portuguesa, Jornal de Luanda, O Futuro de Angola ou O
Pharol do Povo, Echo de Angola, A Província de Angola, Jornal de Angola, Voz d’Angola, entre
outros, são as fontes de onde parte o exame científico aqui desejado. Dessa forma, poder-se-á
edificar um material que vise a contribuir com a diminuição de possíveis lacunas existentes na
direção pretendida por esta pesquisa que tem como fulcro a conjugação do pensamento literário-
jornalístico sob a África colonizada de língua portuguesa com os estudos linguísticos que pensam
a complexa natureza dos fenômenos discursivos.
Palavras-chave: Linguística, Análise do Discurso, Jornalismo, Angola.
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Identidade autoral no contexto iluminista
Thaïs Chauvel (thais.chauvel@usp.br)
Orientadora: Verónica Galíndez
Programa de Pós-Graduação: Estudos Linguísticos, Literários e Tradutológicos em Francês
Mestrado (bolsista Fapesp)
A comunicação intitulada “Identidade autoral no contexto iluminista” propõe uma reflexão acerca
das possibilidades de enunciação e de reinvindicação autoral na época do absolutismo francês.
Tendo em vista o contexto político europeu do século XVIII, é válido questionar de que meios se
valeram os filósofos iluministas para veicular suas reflexões político-filosóficas num ambiente
autoritário e também repressivo. A referência bibliográfica empregada para auxiliar na
contextualização do Antigo regime francês é a História da literatura francesa, De Fénélon a
Voltaire, assinada por René Pomeau e Jean Ehrard – editor da edição eruditada das Cartas
persas publicada em 2004 pela Oxford Foundation. Dado a abrangência do tema – para o qual
não faltam exemplos de autores – a comunicação proposta concentra-se no exemplo de
Montesquieu, primeiro filósofo do iluminismo francês, que publicou (com uma exceção apenas) a
totalidade de sua obra de forma anônima. O objetivo da apresentação é compreender como esse
autor elabora a questão da enunciação em seu romance intitulado Cartas persas de forma a
ocultar sua identidade, escapando à censura vigente. Sendo assim, a proposta visa analisar a
introdução do autor às Cartas persas, na qual sustenta que as missivas provenientes da Pérsia
são autênticas, colocando-se como mero tradutor. Segundo a argumentação de Pauline Kra, a
fragmentação da voz autoral possibilitada pela forma epistolar cria um efeito polifônico que
permite, num primeiro momento, ocultar a identidade de Montesquieu. Vale ainda notar que a
enunciação livre e sincera não passa de uma quimera também para as personagens do próprio
romance, inseridas numa ficção que representa um meio repressivo e hostil, como bem o
demonstram Catherine Volpilhac-Auger e Philip Stewart em sua Introdução à nova edição de
referência das Cartas persas mencionada anteriormente. Dessa forma, nota-se que Montesquieu
emprega subterfúgios retóricos tanto na diegese como no mundo real. Assim, suas estratégias
autorais são constitutivas dessa nova linguagem, crítica e codificada, propícia à reflexão e
escapando à repressão, que permite a emersão do pensamento e o surgimento do que se
chamou o Iluminismo.
Palavras-chave: Iluminismo, Autoritarismo, Enunciação.
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Kararaô: um registro de identidade
Wenceslau Otero Alonso Júnior (w.alonso.jr@hotmail.com.br)
Orientadora: Márcia Santos Duarte de Oliveira
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Doutorado
A presente pesquisa, está relacionada com os estudos desenvolvidos pela Profa. Dra. Márcia
Santos Duarte de Oliveira, do PPGFLLP da USP, sobre o Português Vernacular Brasileiro da
região Norte do Brasil. Os conceitos de PB (Português Brasileiro) e PVB (Português Vernacular
Brasileiro) fundamentados em (LUCCHESI, 2008, 2009), e na tese de doutorado do Prof. Ednalvo
Apóstolo Campos, intitulada “A sintaxe pronominal na variedade afro-indígena de Jurussaca: uma
contribuição para o quadro da pronominalização do português falado do Brasil”, orientada pela
Profa. Dra. Márcia Santos Duarte de Oliveira, servem de apoio para estudar os aspectos
linguísticos típicos do falar do Norte registrados no romance Kararaô, de Walter Freitas. Como a
passagem do PVB para o PB implica a existência de um continuum linguístico, a identidade torna-
se ela também uma construção relativa, sendo tal como a língua que lhe serve de algum suporte,
uma realidade datada, portanto fluida. O registro do falar do Norte existente no romance Kararaô,
refere-se a aspectos morfológicos e fonológicos do falar do homem rural e ribeirinho do Norte do
Brasil que começaram a desaparecer com o advento da televisão e das outras mídias
comunicativas. As fontes desses aspectos que constituem parte significativa da identidade do
homem rural e ribeirinho do Norte ainda estão sendo pesquisadas, mas já são suficientes para
construir parcialmente a identidade cultural da região. Essa identidade que se dá, é certo, em um
processo interativo é, na pesquisa, investigada também pela ótica da ideologia no sentido
marxista do termo, com o que se pretende evitar a noção, que pode ser ingênua, de que a
identidade, tal como está no imaginário dos falantes, seja uma construção entre sujeitos de um
mesmo poder persuasivo, isto é, uma construção dialogal integralmente democrática.
Palavras-chave: Linguagem, Identidade amazônica, Tempo, Ideologia.
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Reflexões socráticas acerca das influencias psicológicas da retórica no Górgias de Platão
Yasmin Jucksch (yasminjucksch@hotmail.com)
Orientador: Roberto Bolzani Filho
Programa de Pós-Graduação: Filosofia
Doutorado
No Górgias de Platão, Sócrates argumenta em prol da sua crítica mordaz ao tipo de retórica mais
comum entre os criadores de discursos públicos: a oratória bajuladora e maliciosa. Este tipo de
oratória despreza o fim precípuo da retórica, que, segundo o filósofo, deveria ser o de sanar a
injustiça e a ignorância na alma dos ouvintes, para, em vez disso, manipulá-la como um artifício
para defender injustiças e alimentar a vaidade e o desejo pelo poder. A questão espinhosa
levantada por Sócrates, neste ponto, considera o seguinte: se o objeto visado pela retórica não é
o discurso em si mesmo, mas a justiça e a injustiça, o bem e o mal (pois a persuasão tem como
fim criar convicção a respeito de um certo valor), como resolver a contradição florescida no fato de
que, a despeito de o retórico ocupar-se da justiça e da injustiça (e portanto de conhecê-las,
devendo presumivelmente agir de acordo com a primeira), possa usar a retórica injustamente para
fins escusos, por meio da adulação e da manipulação? Nossa comunicação visa seguir o
argumento que Sócrates constrói para compreender esta dificuldade: de um lado, o filósofo tece
sua crítica à retórica vazia comparando-a à culinária, por manifestarem-se ambas como rotinas de
adulação, uma da alma, outra do corpo, o que leva a reflexões sobre a relação entre o bom e o
aprazível, a empiria e a ciência, por outro lado, visa a possibilidade mais cara de uma persuasão
voltada a tornar melhores os cidadãos (517b-c), algo belo (503a) que se distingue com
contundência da adulação e oratória da pior espécie, e que é aquele que o filósofo afirma ser, de
fato, o verdadeiro dever do homem político (515c).
Palavras-chave: Sócrates, Retórica, Górgias, Justiça.
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A relação entre imagem e atenuação na análise de materiais de PLE
Yedda Alves de Oliveira Caggiano Blanco (yeddablanco@hotmail.com)
Orientador: Luiz Antonio da Silva
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Doutorado
O ensino do Português como segunda língua pressupõe vários aspectos, entre eles as relações
pragmáticas do discurso, que são reproduzidas no texto dos livros didáticos de PLE, muitas vezes
sem explicações. Portanto, o presente projeto que se filia ao curso de Letras, Filologia e Língua
Portuguesa (Linguística Textual e Teorias do discurso), procura analisar as nuances presentes nos
materiais de PLE, à luz de estudos da pragmática e mostrar que os conhecimentos da pragmática
sociocultural, da cortesia e da atenuação pragmática podem revelar novos caminhos para o
entendimento da elaboração deste material. O estudo se justifica porque estas relações são
negligenciadas no aspecto didático dos materiais apresentados, uma vez que dentro deles
deparamos com situações discursivas diversas, próprias do âmbito social e coloquial da fala, que
não são abordadas. A pesquisa tem como base teórica as obras de Antonio Briz que estabelecem
os conceitos para a compreensão da cortesia conversacional e das estratégias de atenuação, nas
de Diana Bravo (2004) sobre os estudos a (des)cortesia em língua espanhola, nas de Marta
Albelda e Antonio Briz (2014) com a apresentação da ficha de análise dos elementos atenuadores
criada pelo projeto ES.POR.ATENUAÇÃO que apresenta um quadro metodológico comum para o
estudo da atenuação pragmática em diferentes padrões regionais de Português e Espanhol.
Metodologicamente, a pesquisa é dedutiva, pois aborda conceitos gerais quanto ao uso dos
procedimentos da atenuação, bem como da teoria da elaboração do livro didático, para depois,
tornar-se mais específica na aplicação da ficha elaborada pelo projeto ES.POR.ATENUAÇÃO na
análise dos diálogos escolhidos. É também quantitativa e qualitativa, pois faz um levantamento de
como os diálogos são apresentados e explicitados. Buscamos como resultado salientar que a
atenuação pragmática deve ser vista como um elemento dinâmico que aliado a outras teorias
criam possibilidades de entender o discurso dentro do seu uso individual e social, revelando uma
imagem social que também precisa ser compreendida e decodificada pelo aprendente nos
materiais didáticos.
Palavras-chave: Pragmática, Atenuação, Materiais de ensino, ES.POR.ATENUACIÓN, Imagem.
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