View
16
Download
2
Category
Preview:
Citation preview
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS NATURAIS E
MATEMÁTICA
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL
MONOGRAFIA
METODOLOGIA DE PROBLEMATIZAÇÃO PARA PROMOÇÃO DA
PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA NO PROCESSO DE SANEAMENTO BÁSICO
EM ÁREAS PERI-URBANAS: O CASO DO DISTRITO MUNICIPAL
KAMAXAKENI
Domingas da Glória Guilherme Matlombe
Maputo, Outubro de 2017
Domingas da Glória Guilherme Matlombe
METODOLOGIA DE PROBLEMATIZAÇÃO PARA PROMOÇÃO DA
PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA NO PROCESSO DE SANEAMENTO BÁSICO EM
ÁREAS PERI-URBANAS: O CASO DISTRITO MUNICIPAL KAMAXAKENI
Monografia apresentada ao Departamento
de Educação em Ciȇncias Naturais e
Matemática, como requisito parcial para a
obtenção do grau de Licenciatura em
Educação Ambiental sob a orientação do
Prof. Doutor Engo. Elias Sete Manjate.
Supervisor: Prof. Doutor Engo Elias Sete Manjate
Maputo, Outubro de 2017
i
DECLARAÇÃO DE HONRA
Declaro por minha honra que esta monografia é da minha autoria e que nunca foi apresentada
para obtenção de qualquer grau académico ou para qualquer Instituição, e constitui o resultado
da minha própria investigação.
_______________________________________________
(Domingas da Glória Guilherme Matlombe)
ii
DEDICATÓRIA
Este trabalho, é dedicado a três pessoas muito especiais para mim. Primeiramente ao meu pai e
a a minha mãe, que muito contribuíram para que este sonho se tornasse realidade. Que com toda
dificuldade enfrentada, sempre procuraram proporcionar o melhor a mim e aos meus irmãos.
Por sentirem a necessidade de me matricular numa escola e desde cedo fizeram-me perceber a
importância que isso teria para mim.
Dedico este trabalho, de igual forma a minha querida avó Domingas Jessenão (em memória),
minha segunda mãe, minha melhor amiga, mulher de fibra, mulher de valor, meu orgulho. A
mulher que em vida soube passar valores e sabedorias que muito contribuíram para a formação
desse ser que hoje sou.
Palavras são poucas para expressar a tamanha gratidão que tenho por vocês, Papá, Mamã e Vovó.
iii
AGRADECIMENTOS
Durante a elaboração do trabalho recebi contributos de várias pessoas, a quem desejo encarreirar
uma palavra de reconhecimento.
- A Deus que me concedeu a honra e a graça de ter sido "EU" a realizar este trabalho. Por estar
sempre comigo, iluminando o caminho certo a trilhar, por ser meu consolo (principalmente
quando mais preciso), por nunca me deixar só e sempre atender aos meus chamamentos (mesmo
quando não sou digna disso), por me dar esperança mesmo quando penso que não tem mais jeito
e por acalmar minha alma com a sua palavra. Obrigada Senhor;
- Aos meus amados pais Guilherme Matlombe e Ângela da Glória Bata, quero agradecer por
tudo que fizeram por mim durante todos esses anos (não tem preço), pelo suporte, pela
compreensão, pela dedicação e acima de tudo pelo vosso amor e carinho. Obrigada Papá e
Mamã;
- A toda a minha família, avó, tios, sobrinhos, primos e cunhados, particularmente ao meu irmão
Duílio Matlombe pelo apoio e confiança durante essa longa e dura batalha. Pelo
acompanhamento desde o primeiro dia que essa batalha iniciou (dia em que realizei a minha
inscrição), por estar comigo na escolha do curso, por me apoiar nos trabalhos académicos das
minhas cadeiras e principalmente na elaboração deste trabalho. Mais do que um irmão, és um
amigo de toda vida. Obrigada Mano Dudas;
- Quero encaminhar o meu profundo agradecimento ao Prof. Doutor Engo Elias Sete Manjate,
que muito ajudou na exploração deste tema, bem como pela orientação e o rigor científico com
que sempre me acompanhou, através das suas idéias, incentivo, dedicação, apoio incondicional
e principalmente pela paciência que teve comigo, obrigada professor Elias;
- Quero de igual modo, agradecer aos meus colegas de turma, em especial ao meu grupo de
estudo formado por Afonso, Ivan, Laura, Marta Vânia e Saize, mais que colegas foram
verdadeiros irmãos, meus companheiros de batalha.Obrigada por estarem sempre juntos de mim
na alegria e na tristeza, nas discussões científicas e até nos momentos de distracção.
– Aos meus amigos Ana Paula, Edgar e Caleb Rodrigues, quero agradecer pela força que me
deram.
iv
- Às instituições como CMM, AIAS, ADASBU e em especial à administração do distrito, quero
agradecer pelo apoio incondicional, disponibilizando tempo e matérial para o enriquecimento
do trabalho;
Assim como quero agradecer a todos que directa e indirectamente contribuíram para minha
formação no geral, e para a realização deste trabalho em particular.
v
LISTA DE ABREVIATURAS
AC Antes de Cristo
ADASBU Associação de Abastecimento de Água e Saneamento
AIAS Administração de Infra-estruturas de Água e Saneamento
CMM Conselho Municipal de Maputo
CRA Conselho Regulador da Água
DAS Departamento de Água e Saneamento
DMK Distrito Municipal Kamaxakeni
DNA Direcção Nacional das Águas
DPMOPH Direcção Provincial do Ministério das Obras Públicas e Habitação
EA Educação Ambiental
MEA Metodologias de Educação Ambiental
MISAU Ministério da Saúde
MOPH Ministério das Obras Públicas e Habitação
FIPAG Fundo de Investimento e Património do Abastecimento de Água
OMS Organização Mundial de Saúde
ONG Organização Não Governamental
RS Resíduos Sólidos
UNICEF United Nations Children's Fund
WHO World Health Organization
LISTA DE FIGURAS E TABELAS
Figura 1: Esquema da Metodologia de problematização, Fonte: Knechtel (2001) ................................. 17
Figura 2: Mapa de localização Geográfico do DMK .............................................................................. 19
Figura 3: Comércio Informal – Barracas e Pequenas bancas ................................................................. 21
Figura 4: Abastecimento de água – Kamaxakeni ................................................................................... 27
Figura 5:Tratores Usados para recolha dos RSs (recolha primária) ....................................................... 28
Figura 6:Carinhas-de-mão Usadas para recolha dos RSs (recolha primária) ......................................... 29
Figura 7: Percentual Populacional usando as infra-estruturas Sanitárias ............................................... 31
Figura 8:Jornadas de Limpeza Realizada pela Comunidade Kamaxakeni ............................................. 33
Figura 9:Ordenamento territorial - bairro da Urbanização ..................................................................... 34
Figura 10:Ruas Estreitas e Alagadas – Urbanização .............................................................................. 35
Figura 11: Resíduos Lançados nas Valas de Drenagem, Bairro da Urbanização e Mafalala ................. 36
Figura 12: Latrina Tradicional usada pela comunidade.......................................................................... 63
Figura 13: Restrições de àgua ................................................................................................................. 63
Tabela 1: Intervenientes do Saneamento em Moçambique .................................................................... 13
Tabela 2: Intervenientes no Âmbito Rural.............................................................................................. 50
Tabela 3: Intervenientes no Âmbito Urbano .......................................................................................... 53
ÍNDICE
DECLARAÇÃO DE HONRA ................................................................................................................... i
DEDICATÓRIA ........................................................................................................................................ ii
AGRADECIMENTOS ............................................................................................................................. iii
LISTA DE ABREVIATURAS .................................................................................................................. v
RESUMO ................................................................................................................................................. vi
ABSTRACT ............................................................................................................................................ vii
CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO.................................................................................................................1
1.1.Contextualização .............................................................................................................................1
1.2. Problematização..............................................................................................................................2
1.3. Objectivos da Pesquisa ...................................................................................................................3
1.3.1. Objectivo Geral: ......................................................................................................................3
1.3.2. Objectivos Específicos: ...........................................................................................................3
1.4. Perguntas de Pesquisa:....................................................................................................................3
1.5. Justificativa .....................................................................................................................................4
CAPÍTULO II- REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................................5
2.2. Enquadramento Histórico do Saneamento e sua Relação com a Saúde .........................................7
2.3. Saneamento em Moçambique ...................................................................................................... 10
2.3.1. Participação da Comunidade nos Projectos .............................................................................. 12
2.3.2. Intervenientes do Saneamento em Moçambique ...................................................................... 13
2.3.3. Quadro legal do Saneamento em Moçambique ........................................................................ 14
2.4. Metodológicas de Educação Ambiental ...................................................................................... 16
2.5. Metodologia de Problematização ................................................................................................ 17
CAPÍTULO III – METODOLOGIA ...................................................................................................... 19
3.1. Descrição da Área de Estudo .................................................................................................. 19
3.1.1. Localização Geográfica ...................................................................................................... 19
3.1.2. Características Físico-Naturais ....................................................................................... 20
3.1.2.1. Clima .......................................................................................................................... 20
3.1.3. Características Sócio-Económicas .................................................................................. 20
3.1.3.2. Saúde ................................................................................................................................. 20
3.1.3.3. Infra-estruturas e Comércio ............................................................................................... 21
3.2. Abordagem Metodológica ...................................................................................................... 21
3.3. População e Amostra .............................................................................................................. 22
3.3.1. População........................................................................................................................ 22
3.3.2. Amostra .......................................................................................................................... 22
3.4. Instrumentos de recolha de dados ........................................................................................... 23
3.4.1. Observação directa ......................................................................................................... 23
3.4.2. Entrevista Semi-Estruturada ........................................................................................... 23
3.4.3. Inquérito.......................................................................................................................... 24
3.5. Técnicas de Análise e Interpretação de Dados ....................................................................... 24
3.6. Limitações da Pesquisa ........................................................................................................... 25
CAPÍTULO IV: APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ....................................... 26
4.1. Saneamento no Distrito Municipal Kamaxakeni ......................................................................... 26
4.1.1. Factores Naturais .................................................................................................................. 31
4.1.2. Factores Antropogênicos ...................................................................................................... 32
4.2. Estratégias Aplicáveis Para Participação Comunitária no Processo de Saneamentono Distrito
Municipal Kamaxakeni....................................................................................................................... 36
4.3. Abordagens Metodológicas em Educação Ambiental para participação comunitária no processo
de saneamento básico ......................................................................................................................... 38
CAPÍTULO V: CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES .................................................................... 44
5.1. Conclusões ................................................................................................................................... 44
5.2. Recomendações ........................................................................................................................... 45
6. Referências bibliográficas .................................................................................................................. 48
APÊNDICES .......................................................................................................................................... 55
Apêndice A: Guião de Entrevista ....................................................................................................... 55
Apêndices B: Guião de Entrevista ao CMM: ..................................................................................... 56
Apêndice C: Guião de Entrevista à Administração do Kamaxakeni .................................................. 57
Inquéritos à Comunidade: ............................................................................................................... 58
Inquérito Dirigido À Aias: .................................................................................................................. 61
Apêndice F- Figuras ............................................................................................................................... 63
vi
RESUMO
O trabalho em apresentação tratou sobre o saneamento básico em áreas peri-urbanas, com a
finalidade de aclarar abordagens para promoção da participação comunitária no processo de
saneamento básico. O saneamento do meio é um princípio Imprescindível quando se fala em
conservação do meio ambiente e qualidade de vida, daí a motivação para tratar deste tema. As
abordagens foram definidas com base na metodologia de problematização (MEP). Uma metodologia
que preconiza núcleos de estudo e organização de actividades interdisciplinares de ensino e pesquisa
ao priorizar o estudo das interrelações complexas, orientada para a solução de problemas concretos.
Uma das estratégias que o trabalho priorizou são as oficinas de educação ambiental, em todas as
fases do MEP, sendo que esta é a que melhor adequa-se a realidade do kamaxakeni.
O trabalho também reflecte sobre alguns aspectos associados ao saneamento básico, desde sua
estrutura político-organizacional, até suas relações com o meio ambiente e a saúde pública. Este foi
realizado no Distrito Municipal Kamaxakeni (DMK), sob uma amostragem probabilística simples,
na qual foram entrevistados e inqueridos um total de 78 indivíduos, do sexo masculino e feminino,
sendo estes crianças, jovens e idosos. Este assumiu um carácter quanti-quali, em que mais que
entender os aspectos da realidade do DMK, procurou quantificar em termos percentuais os dados
sócio-ambientais da região, como níveis de abastecimento de água potável, infra-estruturas
sanitárias e outros. Para a condução do estudo foram priorizados três instrumentos de recolha de
dados: a observação directa, a entrevista semi-estruturada e o inquérito.
Com base no estudo, constatou-se que o saneamento no DMK é precário embora este facto não
corresponda ao investimento feito na área, sendo que este é fortemente influenciado por alguns
factores naturais assim como antropogénicos. E para o sucesso desse processo, é fundamental a
inclusão total da comunidade em actividades de educação ambiental, na tomada de decisão e na
gestão das infra-estruturas sanitárias.
Palavras-chave: Saneamento básico, Participação Comunitária e Metodologias de Educação
Ambiental.
vii
ABSTRACT
The present work was carried out about basic sanitation in peri-urban areas, in order to clarify
approaches to promote community participation in the process. My motivation to treat this issue
comes by the importance of the primary sanitation being an indispensable principle when
referring to environmental conservation and quality of life. The approaches were defined based
on the methodology of problematization (MEP). It is a methodology that allows a union of
interdisciplinary activities oriented to solve concrete problems. One of the strategies put as
priority and that best fits the reality of kamaxakeni was the environmental education workshops,
in all phases of the MEP.
One of the strategies prioritized was the environmental education workshops, in all phases of
the MEP, being the one that best suits the reality of Kamaxakeni.
The work also reflects on some aspects associated with basic sanitation, from its political-
organizational structure, to its relations with the environment and public health. It was carried
out in the Municipal District of Kamaxakeni (DMK), under a simple probabilistic sampling, in
which a total of 78 individuals, male and female, were interviewed and queried (children, young
and old people). It assumed a quali-quanty way, in which, rather than understanding the DMK
reality, it sought to quantify in terms of percentage the regional socio-environmental data, such
as potable water supply levels, sanitary infrastructures, among others. In order to conduct the
study, three data collection instruments were taken as primary: direct observation, the semi-
structured interview and the survey.
Centered on the study, it was found that the sanitation in the DMK is precarious although this
fact does not correspond to the investment made in the area, which is strongly influenced by
some natural as well as anthropogenic factors. So for the success of this process, it is crucial the
total collaboration of the community in activities of environmental education, the decision
making and the management of the sanitary infrastructures is fundamental.
Keywords: Basic Sanitation, Community Participation and Environmental Education
Methodologies.
1
CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO
1.1.Contextualização
Grande parte dos problemas sanitários que afectam a população mundial estão intrinsecamente
relacionados com o meio ambiente. E a ausência de serviços de saneamento básico,
principalmente em países do Terceiro Mundo, tem sido responsável por graves problemas de
saúde pública que reduzem a força de trabalho e causam a perda de muitas vidas humana. Um
exemplo disso é a diarreia que, com mais de quatro bilhões de casos por ano, é uma das doenças
que mais aflige a humanidade, já que causa 30% das mortes de crianças com menos de um ano
de idade (Carvalho,Guimarães e Silva, 2007).
Estudos do Banco Mundial, estimam que o ambiente doméstico inadequado é responsável por
quase 35% de ocorrência de doenças nos países em desenvolvimento, como é o caso de
Moçambique (Carvalho et al, 2007). Os autores afirmam ainda que para cada 1 (um) dólar
investido no sector de saneamento, economiza-se 4 (quatro) dólares na área de medicina
curativa, e que, investir em saneamento é uma das formas de se reverter o quadro existente.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) Saneamento é o controlo de todos os factores
do meio físico do Homem, que exercem ou podem exercer efeitos nocivos sobre o bem-estar
físico, mental e social. De outra forma, pode-se dizer que saneamento caracteriza o conjunto de
acções sócio-económicas que tem por objectivo alcançar a salubridade ambiental (Carvalho et
al, 2007).
Barbosa, Heller e Rezende (2008), afirmam que o saneamento é visto sob dois principais
ângulos: o tecnológico e o político. O primeiro, que tem sido o enfoque dominante, trata-se de
um conjunto de elementos tecnológicos, concebidos a partir de um ponto de vista da engenharia,
destinados a assegurar soluções para as diversas etapas que compõem os sistemas de
saneamento. O segundo vê o saneamento básico como uma área político público por ser também
de actuação do Estado que demanda formulação, avaliação, organização institucional e
participação da população como cidadãos usuários e benificiários. Portanto, com os serviços de
saneamento básico é possível garantir melhores condições de saúde para as pessoas e
preservação do meio ambiente evitando a contaminação e proliferação de doenças,
2
Nesse âmbito, a aproximação do sector saúde com o sector educação, por meio da educação
ambiental pode ser um caminho perspicaz no sentido de mobilizar moradores de comunidades
específicas de modo a compreenderem o meio ambiente como sendo um dos factores que
influencia directamente na saúde da população.
A partir dessa compreensão, podem ser pensadas conjuntamente (instituições educativas,
serviços de saúde e comunidade) acções capazes de melhorar o ambiente de vida das
comunidades. Neste contexto, foi pensado em um trabalho interdisciplinar pautado em
metodologias de Educação Ambiental, trabalho esse que pretende potenciar a Participação
Comunitária no processo de saneamento básico em áreas peri-urbanas, sustentado na
metodologia de problematização em todas suas etapas, como procedimento acadêmico.
1.2. Problematização
No Mundo, cerca de 884 milhões de pessoas não têm acesso adequado a água potável, e 2.6 mil
milhões não têm acesso ao saneamento (WHO e UNICEF, 2010). Estes números são
preocupantes, especialmente nos países em desenvolvimento, face à importância que o
saneamento apresenta para o desenvolvimento e bem-estar humano.
De acordo com Carvalho et al (2007), a oferta do saneamento associa sistemas constituídos por
uma infra-estrutura física, educacional, legal, política e institucional, e a utilização do
saneamento como instrumento de promoção da saúde pressupõe a superação dos entraves
tecnológicos, políticos e de gestão.
O Distrito Municipal Kamaxakeni (DMK), é uma das poucas áreas peri-urbanas que apresenta
maior número de infra-estruturas sanitárias, como grandes sistemas de drenagem de águas
pluviais, contetores para deposição dos resíduos sólidos, latrinas melhoradas, pequenas valas de
drenagem que encontram-se espalhados por quase todos os bairros que compõem o DMK,
unidades sanitárias, associações e entidades não-governamentais exercendo actividades na área
do saneamento. Curiosamente, nota-se que apesar desse extenso investimento, a população
reside em condições de saneamento deficitário, o que não corresponde ao investimento feito na
área.
Nesse âmbito, vem sendo reconhecida e associada o distanciamento e a fraca participação das
comunidades no processo de saneamemto bem como no processo de tomada de decisões
3
importantes para o desenvolvimento local, e tem sido cada vez mais difícil a integração desta
nesse processo. Com isso, um grande mal abrange quase todos os bairros do DMK, a ocorrência
de problemas ligados ao saneamento, como inundações (principalmente em épocas chuvosas),
presença de vectores de doença como ratos, baratas, mosquitos, má disposição dos resíduos
sólidos e esgotos domésticos (que tomam conta das vias), deterioração das valas de drenagem,
a falta de ruas abertas nos bairros têm sido eventos frequentes, tornando o meio ambiente nesta
unidade geográfica cada vez mais insalubre e as condições de vida da população com menos
qualidade ainda.
1.3. Objectivos da Pesquisa
1.3.1. Objectivo Geral:
O principal objectivo deste trabalho, é o desenvolvimento de estratégias Metodológicas que
promovam a Participação Comunitária no processo de saneamento básico em áreas peri-urbanas,
com base na Metodologia de Problematização.
1.3.2. Objectivos Específicos:
Para a operacionalização do objectivo geral, este desdobra-se nos seguintes objectivos
específicos:
1. Descrever o Saneamento no Distrito Municipal Kamaxakeni;
2. Identificar estratégias utilizadas para promover a participação da comunidade no
processo de saneamento e,
3. Propôr abordagens metodológicas em Educação Ambiental para participação
comunitária no processo de saneamento básico.
1.4. Perguntas de Pesquisa:
a) Qual o estado do saneamento no Distrito Municipal Kamaxakeni?
b) Que estratégias são usadas para promover a participação da comunidade no processo de
saneamento básico?
c) Será que a Metodologia de Problematização, pode ser uma alternativa para a promoção
da participação comunitária no processo de saneamento básico em áreas peri-urbanas?
4
1.5. Justificativa
O saneamento do meio é um princípio que garante a conservação do ambiente e bem-estar da
população. Daí a motivação para tratar deste tema, a necesssidade de melhorar as condições de
saneamento notáveis na área de estudo, sendo que este problema não so afecta este distrito.
A geração de resíduos sólidos como papel, plástico, vidro, resíduos orgânicos e esgotos
sanitários, fazem parte do dia-a-dia de qualquer população ou comunidade. Porém, a gestão
desses resíduos, a inadequada utilização de infra-estruturas sanitárias e manutenção das mesmas,
podem gerar significativos impactos ao meio ambiente e na saúde dos moradores assim como
dos colaboradores. E com a actual problemática, torna-se necessário envolver as comunidades
nesse processo e expandir cada vez mais os conhecimentos sobre os determinantes sociais e/ou
ambientais de saúde, para que a população tenha maior controlo e domínio dos mesmos, pois o
saneamento promove a saúde pública preventiva, reduzindo a necessidade de procura aos
hospitais e postos de saúde conforme dito na nota introdutória, porque elimina as chances de
contaminação por diversas doenças.
Este estudo é de extrema relevância, sendo que, contribuirá para melhorar a percepção da
importância do saneamento do meio como elemento fundamental para a saúde pública, assim
como despertar cada vez mais na consciência da sociedade a necessidade de viver num ambiente
saudável que permita o alcance de melhores condições de vida e a preservação do meio
ambiente, sendo que para tal, é necessário que haja participação e colaboração entre a população
e as autoridades locais.
Do ponto de vista social, o projecto promoverá melhores condições de vida a comunidade e de
ponto de vista ambiental, o projecto contribuirá para a redução da poluição das águas
subterrâneas por descarte de efluentes nos sistemas de drenagem e má disposição dos resíduos
que poluem os recursos hídricos por infiltração e degradam o solo, além disso, o trabalho servirá
de auxílio para futuros estudos na área.
A motivação em querer trabalhar com a metodologia de problematização, deve-se ao facto dessa
ser muito usada para a formação de novos saberes e ao facto desta permitir a realização de
núcleos de estudo e organização de actividades interdisciplinares de ensino e pesquisa ao
priorizar o estudo das interrelações complexas, orientada para a solução de problemas concretos.
5
CAPÍTULO II- REVISÃO DE LITERATURA
Essa etapa consistiu basicamente na revisão bibliográfica, com a finalidade de encontrar dados que
permitissem o detalhamento da situação da população frente às condições de saneamento básico no
DMK e regiões próximas. Buscou-se também literatura que descreva as condições socioeconômicas
e demográficas da área. Para melhor a contextualização e compreensão do trabalho, são abordados
nesse capítulo alguns pontos-chave.
Primeiramente apresenta-se a definição dos conceitos-chave, na vertente de vários autores para se
ter as diferentes ideias que estão em torno do assunto que está sendo tratado, de modo que se tenha
uma orientação lógica e precisa para a condução e percepção do estudo.
Fala-se também nesse capítulo sobre o histórico do saneamento no mundo e sua relação com a saúde,
assim como os dados de saneamento em Moçambique, particularmente do DMK por se tratar da
área de estudo. Outro assunto levantado e muito relevante são as metodologicas de educação
ambiental utilizadas para determinados fins, e no caso especifico do trabalho, para participação da
comunidade.
2.1. Conceitos-Chave
2.1.1. Comunidade
Este é um dos conceitos mais importantes do trabalho por isso, torna-se imprescindível entender
antes de mais, o que é uma comunidade e o que a caracteriza.
Odum (1988), define comunidade como sendo um agrupamento de pessoas que vivem dentro de
uma mesma área geográfica, rural ou urbana e que participam das condições gerais de vida.
Enquanto Fichter (1973), usa o termo comunidade para denominar uma forma de associação muito
íntima, um grupo altamente integrado em que os membros encontram-se ligados.
Rodrigues e Mendonça (2012) vão mais além, afirmando que pode-se dizer que uma comunidade é
um grupo de seres humanos que partilham elementos em comum, como o idioma, os costumes, a
localização geográfica, a visão do mundo e/ou os valores.
Os autores acima citados tendem a convergir no sentido de olhar para a comunidade como sendo
uma unidade que se estabelece em uma mesma área geográfica. Contudo, embora estes estejam
unánimes nas suas ideias sobre a comunidade, para este trabalho sublinha-se o conceito dado pelos
6
autores Rodrigues et al (2012), por ser mais claro no sentido de olhar para comunidade como um
sub-sistema, onde mais que pertencer a mesma área geográfica, estão interligados por laços e que
partilham elementos fundamentais que os identificam como uma comunidade, por exemplo
comunidades que vivem submetidas à mesma crença religiosa.
2.1.2. Participação Comunitária
Segundo Macucule (2006), participação é o envolvimento dos diferentes agentes no processo ou
tomada de decisão.
Esta definição não se distância muito da definição da OMS, que é envolvimento activo de pessoas
de todos os extractos sociais, (homens, mulheres, jovens, crianças e velhos) que vivem juntas, de
forma organizada e coesa, na planificação e implementação dos cuidados de saúde primários, usando
recursos locais, nacionais e outros. Desta forma entende-se que a participação implica envolver,
activamente, a população em todas as fases do processo, da discussão do problema, do diagnóstico
da situação local, na identificação de possíveis soluções, até a implementação das alternativas e
avaliação dos resultados. Implica referir que, para este trabalho, nos valemos mais com a definição
trazida pela OMS, pois esta acaba sendo muito mais ampla e abrangente que a primeira, e essa faz
menção a aspectos que nos permite explorar muito mais o campo da participação. Assim sendo, a
expectativa criada com este trabalho é que se eleve a participação da comunidade no processo de
saneamento e que resulte não só no uso racional das infra-estruturas sanitárias como também na
melhoria de vida das comunidades, contribuindo desta maneira para redução dos problemas de
saneamento.
2.1.3. Saneamento
A primeira impressão que se tem ao falar de saneamento, é de ambiente saudável, que interfe
significativamente na qualidade de vida humana. Daí que segundo Souza (2015), a qualidade
ambiental deve ser reconhecida como elemento integrante do principío da dignidade de pessoa
humana, sendo fundamental para o desenvolvimento do bem-estar.
Segundo a OMS citado por Carvalhoet al (2007), saneamento é o controlo de todos os factores do
meio físico do homem, que exercem ou podem exercer efeitos nocivos sobre o bem-estar físico,
mental e social. De acordo com os autores, saneamento básico constitui um conjunto de serviços,
infra-estruturas e instalações operacionais de:
7
a) Abastecimento de água: constituído pelas actividades, infra-estruturas e instalações
necessárias ao abastecimento público de água potável, desde a captação até as ligações
residenciais e respectivos instrumentos de medição;
b) Esgotos sanitários: constituído pelas actividades, infra-estruturas e instalações operacionais
de colecta, transporte, tratamento e disposição final adequados dos esgotos sanitários, desde as
ligações residenciais até o seu lançamento final no meio ambiente;
c) Limpeza urbana e gestão de resíduos sólidos: conjunto de actividades, infra-estruturas e
instalações operacionais de colecta, transporte, tratamento e destino final do lixo doméstico e do
lixo originado da limpeza e vias pública e,
d) Sistemas de drenagem de águas pluviais.
De acordo com Ribeiro e Rook (2010), pode-se dizer que o saneamento caracteriza o conjunto de
acções sócio-económicas que tem por objectivo alcançar a salubridade ambiental.
Portanto os autores acima citados comungam nas ideias, sendo que estes, olham para o saneamento
como uma ferramenta indispensável para a promoção da saúde e bem-estar da população, porém,
para este trabalho destaca-se o conceito dado pela OMS, citado por Carvalho et al (2007), por ser
mais claro no sentido de ver o serviço de saneamento como aquele que visa controlar todos os
factores do meio físico do homem que exerce ou pode exercer efeitos nocivos sobre o bem-estar
físico, mental e social. Isto significa que a ausência dos serviços de saneamento numa determinada
área, é motivo de contribuição para grandes problemas na vida e saúde das pessoas, assim como do
próprio ambiente.
2.2. Enquadramento Histórico do Saneamento e sua Relação com a Saúde
Historicamente, saúde e meio ambiente sempre estiveram estreitamente relacionados. Sem ter a
pretensão de descrever em detalhes essa relação observa-se, ao longo do tempo, que o papel
atribuído ao meio ambiente dentro do processo saúde-doença tem se modificado, havendo períodos
em que sua importância era enfatizada, e outros em que praticamente negou-se sua participação
neste processo. De maneira a contribuir para um melhor entendimento acerca das relações entre
saúde e meio ambiente no mundo contemporâneo, alguns aspectos históricos desta relação serão
destacados abaixo.
8
Segundo Carvalho et al (2007), a importância do saneamento e sua associação à saúde humana
remonta às mais antigas culturas. O saneamento desenvolveu-se de acordo com a evolução das
diversas civilizações, ora retrocedendo com a queda das mesmas, e renascendo com o aparecimento
de outras. O antigo testamento da Bíblia apresenta diversas abordagens vinculadas às práticas
sanitárias do povo judeu como, por exemplo, o uso da água para limpeza de roupas sujas que
favoreciam o aparecimento de doenças (escabiose). Desta forma, os poços para abastecimento de
àgua eram mantidos tapados, limpos e longe de possíveis fontes de poluição.
Existem relatos do ano 100 a.c., de tradições médicas, na Índia, recomendando que a água impura
devia ser purificada pela fervura sobre um fogo, pelo aquecimento no sol, mergulhando um ferro
em brasa dentro dela ou podia ainda ser purificada por filtração em areia ou cascalho, e então
arrefecida. De acordo com Cavinatto (1992), alguns povos antigos desenvolveram técnicas
sofisticadas para a época, de captação, condução, armazenamento e utilização da água. Os egípcios
dominavam técnicas de irrigação do solo na agricultura e métodos de armazenamento de água, pois
dependia das cheias do Rio Nilo. No Egipto, costumava-se armazenar água por um ano para que a
sujeira se concentrasse no fundo do recipiente. Embora ainda não se imaginasse que muitas doenças
eram transmitidas por microrganismos patogênicos, os processos de filtragem e armazenamento
removiam a maior parte dessas impurezas. O autor afirma ainda que tais processos de purificação
da água foram descobertos por expedições arqueológicas através de escrituras e gravuras nos
túmulos.
Durante a Idade Média, a falta de hábitos higiênicos se agravou com o crescimento industrial em
fins do séculoXVIII. Muitos camponeses foram levados para as cidades, grande parte delas sem
infra-estruturas adequada. Isso desencadeou vários problemas de saúde pública e meio ambiente.
Cavinatto (1992) afirma também que na Inglatérra, França, Bélgica e Alemanha as condições de
vida nas cidades eram assustadoras. As moradias ficavam sobrecarregadas e sem as mínimas
condições de higiene. Os resíduos, como lixo e fezes, eram acumulados em recipientes, de onde
eram transferidos para depósitos públicos mensalmente e, as vezes, atirados nas ruas. Como as áreas
industriais cresciam rapidamente, os serviços de saneamento básico, como suprimento de água e
limpeza de ruas, não acompanhavam esta expansão, e como consequência o período foi marcado
por graves epidemias, como a Cólera e a Febre Tifóide, transmitidos por água contaminada e que
fizeram milhares de vítimas assim como a Peste Negra, transmitida pela pulga do rato.
9
Segundo Cavinatto (1992), inicialmente a Inglatérra e depois outros países europeus realizaram
uma grande reforma sanitária. Para remover os resíduos acumulados nos edifícios, foram utilizadas
descargas líquidas semelhantes às de hoje, transportando as fezes para as canalizações de águas
pluviais. Porém, os esgotos eram lançados em tamanha quantidade, juntamente com os efluentes
das fábricas que cresciam em quantidade, que os rios ficavam cada vez mais poluídos e espalhavam
mau cheiro e doenças por toda a cidade. Os acontecimentos anteriormente mencionados,
registavam-se sem que a população tivesse uma nítida ideia da forte influência que as condições
ambientais exerciam sobre a saúde da população, porém, esses acontecimentos chamou a atenção
de alguns cientistas e estudiosos da época, que dedicaram-se em estudos que pudesse provar a
relação existente entre a saúde e meio ambiente, e melhorar a actuação da população no seu meio.
O primeiro indício da relação entre saneamento e saúde determinada cientificamente se deu por
volta dos anos 350.a.C., quando Empédocles de Agrigento construiu obras de drenagem das águas
estagnadas de dois rios, na Grécia, tentando combater uma epidemia de malária (Netto, 1984). Dai
surgiram varios estudos subsequentes, visando ilucidar a relação entre a saúde com as condições
ambientais.
Aproximadamente aos anos 400 a.C., Hipócrates, em sua obra "Ares, Águas e Lugares",
relacionava a influência da localização geográfica e dos elementos físicos (clima, disponibilidade,
qualidade e facilidade de acesso à água, presença de vegetação), à saúde e estereótipo dos
habitantes de cada lugar (Gutierreze, 2001). Nessa obra, encontra-se uma classificação e
comparação de águas para consumo, bem como recomendações de filtração e fervura da água para
assegurar a manutenção da saúde (Netto, 1984). Em 1842, Edwin Chadwick produziu um
Relatório intitulado “As condições sanitárias da população trabalhadora da Grã-Bretanha” que
demonstrava a relação entre pobreza e insalubridade e afirmava que as medidas preventivas como
drenagem e limpeza das casas, por meio de um suprimento de água e de esgoto efectivo,
emparalelo com a limpeza das cidades, eram operações que deveriam ser resolvidas com recursos
à engenharia civil e não dos serviços médicos.
Na segunda metade do século XIX, a identificação da estrutura celular, dos principais processos
fisiológicos e da teoria evolutiva das espécies, serviram como fundamento científico, para embasar
a relação da saúde às condições do meio externo (Sabroza, 2002). Com o desenvolvimento
científico e tecnológico, actualmente existem várias técnicas para resolver os problemas sanitários.
10
Porém com o crescimento da população, de suas necessidades e de seu consumo, também
aumentam a poluição do meio ambiente.
Actualmente a água de qualidade para o consumo humano torna-se um recurso cada vez mais
escasso, e os problemas de saneamento tornam-se cada vez mais difíceis de serem resolvidos e
com um maior custo de implementação e manutenção das infra-estruturas sanitárias
2.3. Saneamento em Moçambique
Moçambique é uma das nações menos desenvolvidas do mundo, com mais de 50% da sua
população a viver em pobreza absoluta. A sua situação piorou ao longo das últimas três décadas,
essencialmente como resultado de uma destrutiva guerra civil que durou desde a independência
em 1975 até 1992.
A guerra destruiu a maior parte da infra-estrutura social e económica do país. Milhares de pessoas
morreram, 1.5 milhões tornaram-se refugiadas e 3.5 milhões refugiados internamente,
principalmente para zonas suburbanas sem saneamento e com grande pobreza. A seca e os factores
económicos contribuíram também para os problemas de Moçambique. Contudo, mesmo durante
a guerra, o governo considerou o saneamento como uma prioridade e encorajou as pessoas a
construírem as suas próprias latrinas. Este facto causou um rápido aumento da cobertura mas, na
ausência de apoio técnico, a maior parte das pessoas construíram latrinas tradicionais sem
condições de saneamento e que corriam o risco de colapso (Colin,2012). A situação do saneamento
básico em Moçambique, no geral é precária.
O deficiente acesso à água potável aliado a não observância das melhores práticas de higiene
individual e colectiva, estão entre as principais causas do aparecimento de doenças como diarreias,
cólera, parasitoses intestinais, bilharziose e até mesmo da malária que é a doença mais mortífera
no país. No que diz respeito ao abastecimento de água, o acesso da população a este serviço é
reduzido e existem grandes diferenças na cobertura entre as diferentes províncias. A média
nacional remete a uma população servida com água potável de 51% da população, dado que
permite afirmar que perto da metade da população não tem acesso a água potável e reside
maioritariamente na área rural ou peri - urbana e em outras áreas vulneráveis (WSP, 2010).
Relativamente às condições sanitárias, estima-se que em Moçambique, pouco mais de 45% da
população tem acesso ao saneamento adequado (DNA, 2007 citado por WSP, 2010). A mesma
define saneamento adequado como serviços de saneamento que podem variar desde uma latrina
11
melhorada até a ligação de um sistema de saneamento urbano. Os sistemas urbanos de drenagem
pluvial também estão inclusos. Perante este cenário, parte considerável da população tem adoptado
padrões comportamentais nocivos à saúde e ao ambiente, o que não é muito diferente com a
comunidade do DMK. A falta de tratamento apropriado dos resíduos é nítida durante a caminhada
pelos bairros do DMK. Os resíduos sólidos domésticos são deixados nas ruas (ensacados ou não),
alguns enterrados nos quintais, outros queimados e alguns lançados para os sistemas de drenagem
que acabam entupindo as mesmas dificultando o escoamento das águas pluviais, conforme
inlustram as figuras abaixo, propiciando a ocorrência de enchentes e consequentemente
proliferação de doenças. O sistema de tratamento de esgoto doméstico é praticamente inexistente
e o abastecimento de água potável “aparentemente” é deficitário.
O governo Moçambicano, tem tido iniciativas para melhorar as condições de saneamento do meio.
Entre os anos de 1985 e 1998 lançou-se em Moçambique o primeiro projecto voltado para a
salubridade ambiental. Trata-se do “Programa Nacional de Saneamento em Moçambique:
Pioneiro no Saneamento Suburbano” Uma parceria internacional com o objectivo de ajudar os
pobres a terem acesso contínuo a um abastecimento melhorado de água e serviços de saneamento.
O projecto produziu mais de 230.000 lajes para latrinas, beneficiando mais de 1.3 milhões de
pessoas num país a emergir após décadas de uma destrutiva guerra civil, conforme dito
anteriormente. Este trabalho ganhou reconhecimento internacional devido a duas razões
essenciais.
a) Primeiro: Tratava-se de um programa pioneiro no saneamento peri-urbano de larga
escala e atingiu uma proporção significativa da população peri-urbana do país.
b) Em segundo: porque a latrina de laje curva e a plataforma sua variante, eram
tecnicamente inovadoras e desde então foram largamente reproduzidas em todo o
mundo.
Contudo as políticas nacionais de saneamento foram completamente mudadas durante finais da
década 90. E, as novas políticas não produziram de imediato dispositivos viáveis e o programa
nacional de saneamento entrou rapidamente em declínio (WSP, 2010). As experiências de
Moçambique poderão ajudar outros países a desenhar programas a uma escala semelhante, mas
com maior ênfase na promoção e menor dependência de subsídios financiados externamente.
12
No ano de 2008 lançou-se em Moçambique uma campanha de educação sanitária denominada,
“Campanha Nacional do Saneamento do Meio e de Promoção de Higiene”. A campanha teve
como objectivo contribuir para a mudança do comportamento dos cidadãos relativo a quatro
simples hábitos de higiene: uso correcto da latrina, lavagem das mãos com água limpa e sabão,
consumo de água limpa e tratada e deposição adequada dos resíduos sólidos (UNICEF, 2008).
2.3.1. Participação da Comunidade nos Projectos
A participação da comunidade não teve um papel muito importante no programa nacional de
saneamento acima referido, isso porque havia poucas organizações comunitárias ou grupos de
usuários envolvidos porque as zonas peri-urbanas eram muito diversificadas em termos étnicos
e um passado de guerra civil e a situação de emergência não ajudaram a criar um ambiente em
que houvesse uma procura de serviços por parte das pessoas. Nos casos em que havia
participação, esta ocorria através do transporte das lajes pelas pessoas (algumas vezes de forma
comunitária), escavação das fossas e construção das estruturas superiores. As mulheres também
trabalhavam como animadoras, administradoras e até certo ponto como trabalhadoras de
produção (WSP, 2010).
Esta não foi uma das áreas mais fortes do programa. Até 1994, as pessoas tomavam
conhecimento do programa de saneamento através de conversas ou quando se apercebiam duma
unidade de produção local. Em 1994, o programa introduziu um elemento de promoção usando
animadores comunitários que eram formados especificamente para a tarefa. Foram contratados
eventualmente mais de 80 animadores, número considerado pequeno para um país tão extenso.
Embora os termos de referência não fossem ainda claros, as tarefas consistiam em promover o
programa em geral e promover um comportamento higiénico em certas comunidades alvo (WSP,
2010). Uma avaliação realizada em 1997 constatou que o trabalho dos animadores tinha
conduzido a um aumento na procura de lajes em algumas cidades. Quando o programa de
saneamento começou em 1996, visando consolidar os esforços de um programa anterior, o papel
dos animadores foi alargado. A intenção era de lhes atribuir a responsabilidade total pela gestão
do projecto, incluindo o fabrico dos componentes das latrinas. O desenho do programa reflectia
também a natureza mais homogénea das comunidades. Contudo, na prática este plano forçou
demasiado as capacidades dos animadores e o programa não prosseguiu como planeado (WSP,
2010).
13
2.3.2. Intervenientes do Saneamento em Moçambique
Para melhor entender-se o processo de saneamento em Mocambique, considera-se importante
salientar todos intervenientes que actuam para garantir o direito ao saneamento no país, nessa
vertente foi feita uma análise dos titulares de obrigações e direitos nessa temática.
Titulares de obrigações
Os titulares de obrigações são principalmente os intervenientes estatais, isto é, os governos, mas
também intervenientes não estatais que incluem famílias, docentes, líderes religiosos,
autoridades tribais, empresas do sector privado, organizações sociais e qualquer outro
interveniente com compromissos, deveres e responsabilidades relativamente a algum titular do
direito à água e saneamento (Romero, 2013).
Titulares de direitos (beneficiários)
Os titulares de direitos são todas as pessoas sem diferenciação de sexo, idade, orientação sexual,
origem étnica, religião, estado civil ou económico ou qualquer outra condição (Romero etall
2013). Embora já tenha-se feito uma análise sobre os titulares de obrigações e de direitos
(beneficiáraios) em matéria de saneamento, achou-se pertinente salientar todos intervenientes a
nível macro e micro, que actuam para garantir o saneamento no país.
Tabela 1: Intervenientes do Saneamento em Moçambique
Nível Nacional Nível provincial Nível distrital Nível local
MOPH- Ministério
de Obras Públicas e
Habitação
DPOPH – Direcção
provincial de obras
públicas e habitação
Governo distrital Comunidades
– comités de
água;
Trabalhadores
locais de
construção civil;
DNA-Direcção
Nacional de Águas
DAS – Departamento
de água e saneamento
da província
SDIP – Serviço distrital
de planeamento e infra-
estruturas
14
DRA-Departamento
Água Rural
EPAR – Estaleiro
provincial de água
rural
ONG-PEC Zonal:
Educação comunitária
PSP – Participação
do sector privado
ONG/PEC
GAS – Grupo de
Água e Saneamento
PSP – Participação do
sector privado
PSP – Participação do
sector privado
Pronasar – programa
nacional de
saneamento rural.
ONG
Água e Saneamento Peri-urbano e Urbano
FIPAG- Fundo de investimento e património do abastecimento de água;
AIAS- Administração de Infraestuturas de Abastecimento de Água e Saneamento;
CRA- Conselho de Regulação de Água;
Municípios, Conselhos Municipais
Participação do sector privado
ONG/EC- Educação comunitária
2.3.3. Quadro legal do Saneamento em Moçambique
Embora na legislação Moçambicana não se tenha leis específicas que regulam o processo de
saneamento básico como um todo, podemos encontrar uma série de ferramentas que regem as
componentes deste processo, tais como:
Lei 2/97: estabelece que os sistemas públicos de abastecimento de água e de saneamento são
sistemas municipais e define um gradualismo na transferência desses sistemas para os
municípios;
Lei do Ambiente (nº. 20/97, de 1 de Outubro): estipula as bases do sistema de prevenção e
protecção do ambiente em Moçambique. Esta lei vem definir as bases legais para a utilização e
15
gestão correcta do ambiente e seus componentes, com vista a materialização de um sistema de
desenvolvimento sustentável no país.
Decreto 18/2009: alarga o quadro de gestão delegada do abastecimento de água para os sistemas
públicos de drenagem de águas residuais e introduz:
a) Conceitos Sistemas Públicos Urbanos e Rurais;
b) Sistemas Públicos Principais e Sistemas Públicos Secundários
c) Mantem o Gradualismo no Tratamento Dos Sistemas
Política De Águas: introduz a participação do sector privado na operação e gestão dos
sistemas
Política Nacional do Ambiente (nº. 5/95, 3 de Agosto 1995);
Plano Director da Gestão de Resíduos Sólidos do Município de Maputo.
Decreto 72/98: cria o quadro legal para a participação do sector privado, quadro de gestão
delegada somente para o abastecimento de água;
Decreto 73/98: Cria O Fundo De Investimento e Património Do Abastecimento De
Água- FIPAG (Representante Do Governo)
Decreto 74/98: Cria O Conselho De Regulação (CRA)
Decreto 19/2009: Cria Administração De Infra-Estruturas De Água E Saneamento
(AIAS) como Responsável Pela Gestão Do Património Dos Sistemas Secundários De
Distribuição De Água E Pelos Sistemas Públicos De Drenagem De Águas Residuais
Decreto n.º 8/2003, de 18 de Fevereiro de 2003, Regulamento sobre a Gestão de Lixos
Biomédicos;
Decreto n.º 13 /2006, de 15 de Junho de 2006, Regulamento sobre a Gestão de Resíduos
Sólidos Urbanos;
Resolução n.º 86/AM/2008, de 22 de Maio de 2006, Postura de Limpeza de Resíduos
Sólidos Urbanos no Município de Maputo.
A legislação ambiental apresenta as normas ambientais, contudo, há inadequação dos meios de
implementação, por carência de recursos materiais, técnicos, humanos e financeiros.
Consequentemente cumpre verificar como o Estado e os demais órgãos responsáveis pela
implementação da legislação ambiental vêm desempenhando o seu papel, os recursos de que
eles dispõem para isso e como esses recursos vêm sendo aplicados.
16
2.4. Metodológicas de Educação Ambiental
Métodologias de educação ambiental são acções desenvolvidas pelo educador, pedagogo ou
pedagogista, pelas quais se organizam as actividades de ensino e dos alunos para atingir
objectivos do trabalho docente em relação a um conteúdo específico relacionado com a educação
(Dias, 2004).
O autor descreve vários tipos de metodologias, sendo estas:
Metodologias activas;
Metodologias de transmissão e,
Metodologias Participativas.
Nesse trabalho as metodologias de educação estão voltadas para a participação comunitária no
processo de saneamento, que segundo Dias (2004), pode ser realizada através de ferramentas ou
estratégias apropriadas a cada contexto. O autor ainda destaca que para um programa de
educação ambiental atingir seus objectivos é preciso ocorrer o envolvimento colectivo. Desta
forma, nos é mais objectivo tratar das metodologias participativas.
Metodologias participativas são entendidas como sendo as que permitem a actuação efectiva dos
participantes no processo educativo sem considerá-los meros receptores de informações (Dias,
2004). Por exemplo para um projecto que envolva ecossistemas urbanos, o autor sugere
actividades que tratam da fauna urbana, relatando que esta não se encontra somente na fauna
introduzida (animais domésticos), mas também engloba aquelas que se adaptaram forçadamente
(por terem seus ambientes invadidos pelo homem, podemos citar como exemplo: pombas,
insectos, e outros animais, etc.). O autor ainda aborda actividades que envolvam a flora urbana,
dentre as quais destacamos a observação e acompanhamento de um dado elemento constituinte
da flora, como por exemplo, uma árvore, e as mudanças ocorridas ao longo do tempo (meses ou
ano), a relação desta com a fauna, a importância da vegetação, as espécies mais adequadas para
cada cidade, o índice de área verde indicado por habitante. Porém as metodologias acima
referidas, adequam-se melhor em projectos cujo foco estava voltado para a conservação e
preservação da biodiversidade.
Ainda referente aos ambientes urbanos, o autor sugere trabalhar as diferenças destes com os
ambientes rurais, a dependência da cidade em relação ao campo e vice-versa, os serviços
17
essenciais à qualidade de vida. Porém, essa actividade deve direcionar-se a compreender e
conhecer esses ambientes profundamente, evidenciando que ambos apresentam benefícios e
desvantagens, um não é melhor ou pior que o outro. A exposição dos trabalhos pode ser realizada
por meio de cartazes, debates e outros.
2.5. Metodologia de Problematização
Para responder e sustentar as perguntas levantadas no início do trabalho, assim como para a
concretização do objectivo do trabalho que é desenvolver abordagem metodológica para
participação da comunidade no processo de saneamento básico em áreas peri-urbanas, utilizar-
se-á como auxílio a Metodologia de Problematização (conforme dito anteriormente) em todas
suas fases.
De acordo com Knechtel (2001), a metodologia de problematização, é muito usada para a
formação de novos saberes e novos profissionais com uma consciência crítica e reflexiva e uma
capacidade de criar alternativas para a solução dos problemas socioambientais, cada vez mais
complexos.
Figura 1: Esquema da Metodologia de problematização, Fonte: Knechtel (2001)
18
Primeira etapa: observação da realidade
Nessa fase, reporta-se as dinâmicas de interações tidas pelo grupo de alunos ou aprendizes com
a área de estudo. Primeiramente lançando um olhar macrossociológico sobre a realidade,
seguido de uma pré-leitura, estreitamente relacionada com problemas sociais, econômicos,
demográficos culturais e determinados historicamente (Knechtel, 2001).
Segunda etapa: pontos-Chave ou pressupostos
Esta fase consiste basicamente em levantar hipóteses de todos os problemas levantados na fase
anterior. Estas hipóteses constituem a diretriz para a continuidade do estudo, para a teorização e
fases subsequentes (Knechtel, 2001).
Terceira etapa: teorização
Nesta fase, aprofunda-se o conhecimento, faz-se a revisão da literatura e da construção
sistematizada do referencial teórico, envolvendo leituras, busca de epistemologia das Ciências
Sociais e Humanas (e portanto Pedagógicas) bem como das ciências da natureza. Seleciona-se
autores, obras, informações técnicas e científicas, empíricas, oficiais, etc. relacionadas
logicamente ao problema e seu contexto (Knechtel, 2001).
Quarta etapa: alternativas de solução
Na continuidade dos processos de ensino e de pesquisa, a busca de informações e a teorização,
até aqui, serviram de fundamento para modos inovadores de pensar e agir em prol de produção
do conhecimento, para incitar a superação das problemáticas em estudo, estruturando hipóteses
de solução para o cotidiano concreto (Knechtel, 2001).
Quinta etapa: aplicação a realidade
Esta fase é destinada à prática social e prática política segundo Fourez (1995), citado por
Knechtel, (2001), a realidade propriamente dita, possibilita a intervenção, o maneio de situações
relacionadas à solução dos problemas ambientais por meio dos indicadores encontrados no
estudo, elementos básicos para a construção de políticas públicas e, portanto, para acções
futuras.
19
CAPÍTULO III – METODOLOGIA
3.1. Descrição da Área de Estudo
3.1.1. Localização Geográfica
A pesquisa teve as áreas peri-urbanas da cidade de Maputo como local de estudo. A Cidade de
Maputo subdivide-se em sete (7) distritos municipais, sendo estes: Distrito Municipal
KaMpfumo, Distrito Municipal Nlhamankulu, Distrito Municipal KaMaxakeni, Distrito
Municipal KaMavota, Distrito Municipal KaMubukwana, Distrito Municipal Katembe e o
Distrito Municipal KaNyaka (CMM, 2010). Concretamente, o estudo foi desenvolvido no DMK,
antigo no3, este situa-se quase no centro da Cidade de Maputo. Limita-se a Norte com o Distrito
Municipal n° 4, a Sul com a Baia do Maputo, a Este com distrito municipal n° 1 e distrito
municipal n°2 e a Oeste com o distrito municipal n° 5, ocupando uma superfície de 19.9km2
(CMM, 2010).
Figura 2: Mapa de localização Geográfico do DMK
20
3.1.2. Características Físico-Naturais
3.1.2.1. Clima
O Clima do DMK não foge ao padrão geral prevalecente na parte sul de Moçambique e
particularmente na província de Maputo, que de uma forma geral é classificado de sub-tropical.
Ocorrem ao longo do ano, duas principais estações: a chuvosa e quente que vai de Outubro a
Abril, e a seca fria que vai de Maio à Setembro. Do ponto de vista do comportamento das
variáveis climáticas como a temperatura, a precipitação e a evapotranspiração verifica-se a
ocorrência de uma significativa variabilidade espacial (CMM, 2010).
3.1.2.2. Solos
O DMK apresenta solos particularmente instáveis com um lençol freático alto, resultando em
covas instáveis (CMM, 2010).
3.1.3. Características Sócio-Económicas
A comunidade do kamaxakeni caracteriza-se por possuir uma população total de 223 688
habitantes onde cerca de 55,20% são mulheres. Mais de 50% da população não realiza nenhuma
actividade remunerável, apenas 25% é que tem um emprego formal. A principal actividade é o
comércio informal, quase que não pratica-se a agricultura devido a natureza dos solos.
3.1.3.1. Educação
O DMK alberga um total de 33 escolas, nas quais 20 são públicas, podendo encontrar escolas
de ensino primário do 1° e 2° grau, assim como escolas de ensino secundário, leccionando 1°e
2° grau. Encontramos também, 6 escolas privadas, 4 escolas sem fins lucrativos (escolas
comunitárias) e uma escola industrial (CMM, 2010).
3.1.3.2. Saúde
O DMK conta com dois centros de saúde, nomeadamente Hospital Geral da Polana Caniço,
localizado no bairro da polana caniço B, e o Hospital 1° de Maio, localizado no Maxaquene “C”.
Em caso de situações graves, a população recorre ao Hospital Geral do Mavalane, localizado na
Av. Acordos de Lusaka (CMM, 2010).
21
3.1.3.3. Infra-estruturas e Comércio
Pode-se encontrar no DMK muitas infra-estruturas comerciais, como lojas, barracas, pequenos
lodges, áreas de lazer como campos de futebol, pequenas bancas de produtos de necessidade
primária, salões de cabeleireiro, padarias etc., como forma a suprir as suas necessidades, uma
vez que poucos têm um emprego formal.
3.2. Abordagem Metodológica
Para a efectivação do estudo, optou-se pela abordagem quanti-quali ou método misto. O método
quanti-quali, ou método misto, foi escolhido com o objectivo de proporcionar mais credibilidade
e legitimidade aos resultados encontrados, evitando o reducionismo à apenas uma opção.
Segundo Mutimucuio (2008) a pesquisa qualitativa é aquela em que existindo um vínculo
indissociável entre o mundo objectivo e a subjectividade do sujeito, não pode ser traduzido em
números, pois, a interpretação dos fenómenos e a atribuição dos significados são básicos em
processos de pesquisa. O mesmo autor afirma que a pesquisa quantitativa, prioriza apontar
numericamente a frequência e a intensidade dos comportamentos dos indivíduos de um
determinado grupo, ou população.
A escolha por essa abordagem deveu-se a varias contribuições associadas a mesma, dentre as
quais destaca-se as seguintes: possibilita o controlo de vieses com compreensão, a partir dos
Figura 3: Comércio Informal – Barracas e Pequenas bancas
22
agentes envolvidos na investigação, agrega a identificação de variáveis específicas com uma
visão global do fenômeno, além disso enriquece constatações obtidas sob condições controladas
com dados obtidos dentro do contexto natural de sua ocorrência e a validade da confiabilidade
das descobertas pelo emprego de técnicas diferentes.
3.3. População e Amostra
3.3.1. População
De acordo com Mutimucuio (2008) ‚ “população é o universo que corresponde ao conjunto de
elementos que possuem pelo menos uma característica comum e sobre os quais vai incidir a
análise estatística”.
O estudo considerou como universo populacional todos os intervenientes que asseguram o
saneamento básico em áreas peri-urbanas, são eles a Administração de infra-estruturas de água
e saneamento, Conselho Municipal de Maputo, Conselho de Regulação da Água, Administração
do distrito Municipal Kamaxakeni, associações, ONGs, chefes dos quarteirões e donas de casa.
3.3.2. Amostra
Mutimucuio (2008) ‚ define amostra como qualquer subconjunto do conjunto universal ou da
população, ou por outra, é a parte do universo (população) escolhida por algum critério de
representatividade.
Segundo o autor citado acima, uma amostra pode ser probabilística (quando a escolha dos
elementos da amostra é aleatória, e todos os elementos que compõem o universo populacional,
têm igual chances de fazer parte da amostra), ou não probabilística (quando a escolha dos
elementos não é feita aleatoriamente, mas sim por motivos subjectivos do pesquisador).
A amostra foi de 78 pessoas das quais algumas são colectivas e outras singulares. Estes
compreendem 1 membro do conselho Municipal de Maputo, 3 membros do AIAS, 2 membros
da Administração do distrito Municipal Kamaxakeni, 1 membro da ADASBU, 1 do Wateraid,
1 do CRA, 8 chefes de quarteirões, 3 secratários dos bairros, 58 residentes no DMK, onde grande
parte foram as donas de casa.
23
Tendo em conta a natureza do estudo, o método de amostragem foi probabilística simples, onde
todos os elementos que compõem o universo populacional, tiveram iguais chances de serem
selecionados. Contudo esta selecção salvaguardou a representatividade numérica e espacial da
amostra, a selecção dos agregados familiares, foi baseada nos 8 bairros existentes no DMK
nomeadamente: Bairro Mafalala, Urbanização, Maxaquene A, B, C e D, Polana A e B.
3.4. Instrumentos de recolha de dados
Foram usados como instrumentos de recolha de dados Observação directa, a entrevista semi-
estruturadas, e o inquérito.
3.4.1. Observação directa
É um método que consiste na capacidade de captar informações através dos cinco sentidos,
julga-las sem interferência e regista-las com fidelidade (Mutimucuio, 2008).
Com essa técnica de recolha de dados, pretendia-se observar tudo o que já se tinha um pré-
conceito com base na literatura, de modo a confrontar o que foi dito e lido com a realidade vivida
pela comunidade.
Nesse contexto, realizou-se a observação in loco, procurando descrever tudo que era visualizado,
desde a etapa do processo de chegada ao local, e avaliação dos impactos ambientais associados
as actividades dos moradores.
A observação directa, desempenha um papel importante nos processos observacionais no
contexto da descoberta. Com esta técnica, teve-se um contacto mais directo com a realidade, e
isso permitiu a confrontação das informações obtidas durante a revisão da literatura, assim como
as informações obtidas durante o processo das entrevistas.
3.4.2. Entrevista Semi-Estruturada
Segundo Mutimucuio (2008) a entrevista é uma conversa entre o entrevistador e o sujeito
respondente. A entrevista semi-estruturada está focalizada em um assunto sobre o qual
confeccionamos um roteiro com perguntas principais, complementadas por outras questões
inerentes às circunstâncias momentâneas à entrevista. Para o autor, esse tipo de entrevista pode
fazer emergir informações de forma mais livre e as respostas não estão condicionadas a uma
padronização de alternativas.
24
Com a entrevista pretendia-se conhecer a percepção, crenças, expectativas e opiniões da
população sobre o processo de saneamento, suas consequências assim como conhecer melhor o
estilo de vida da população, história do distrito, profissões, hábitos culturais, históricos de
doenças, etc. Foi elaborado um protocolo de entrevistas (ver apêndice A) que serviu de guião
para a condução na interlocução. Grande parte das entrevistas foram realizadas em casas dos
cidadãos que tȇm valas de drenagem muito próximas de suas casas.
Este instrumento foi escolhido pelas inúmeras vantagens associadas, dentre elas destacam-se a
possibilidade que o entrevistador tem em poder tirar duvidas e explicar as questões não muito
perceptíveis ao olho do entrevistado (sempre que necessário), permite um bom controlo da
amostra com alto índice de respostas gerando uma grande quantidade de dados (o que contribui
para a perca de foco por parte do pesquisador), e permite um contacto presencial entre o
entrevistado e entrevistador podendo este avaliar o nível de veracidade da informação que lhe
está sendo fornecida e aprofundar os dados colectados, o que é uma mais valia para o estudo.
3.4.3. Inquérito
Este foi usado para obter dados mais sensíveis inerentes a nível de escolaridade, renda familiar,
acesso a água, infra-estruras sanitárias, e outros serviços. Os inquéritos assim como as
entrevistas foram conduzidas em duas (2) línguas: Português (para as pessoas que tinham o
domínio ou que preferiam dialogar em português), Changana que é a língua local, e mais falada
na província de Maputo, foi usada com pessoas que tinham uma certa dificuldade ou não sabiam
expressar-se em português, com perfeição, com apoio dum intérprete, que facilitou a
comunicação.
Escolheu-se essa técnica porque acredita-se que com a mesma, os inquiridos sentem-se mais
avontades para dar respostas verídicas permitindo ter resultados de igual forma verídicos. Pois
com o inquérito, as chances de coagir os inquiridos são poucas e quase nula e ainda tem a
vantagem de garantir o anonimato das pessoas que assim preferem.
3.5. Técnicas de Análise e Interpretação de Dados
Para os dados qualitativos, após a realização da entrevista e das captações de informações por
observação, fez-se primeiramente a verificação dos dados. Esta consistiu em analisar se todas as
questões foram respondidas, e se existiam coerência entre as respostas fornecidas pelos
25
entrevistados e a realidade observada no campo pelo pesquisador, posteriormente, agrupou-se
as repostas semelhantes e deu-se sentido as mesmas. Nos casos em que questões pertinentes
tenham escapado, assim como em caso de incongruências muito elevada entre a realidade
observada e as informações obtidas durante a conversa, o entrevistador entrou em contacto com
os respondentes para o devido esclarecimento. Em caso que não foi possível esclarecer as
dúvidas, os dados foram descartados. Para análise de dados quantitativos usou-se o Microsoft
Execel, onde os dados foram codificados e digitalizados. Após digitalização seguiu-se o
processo de análise onde foram elaborados, tabelas e gráficos de frequências relativos às
variáveis, tais como: Acesso a água potável e infra-estruturas sanitárias.
3.6. Limitações da Pesquisa
Durante o trabalho, houve algumas limitações, o que considera-se normal em todos trabalhos. A
primeira esteve relacionada ao dificil acesso às informações sobre o saneamento básico em
Moçambique, especificamente no DMK. Face a esta situação, grande parte das informações
foram colhidas a nível das instituições públicas e privadas que lidam com essa temática em
Moçambique, assim como foram consultadas obras estrangeiras, e algumas poucas obras de
autores Moçambicanos que também falam sobre o saneamento.
A outra limitação esteve relacionada ao fraco interesse da comunidade em participar do estudo,
assumindo estes, um sentimento de cansaço por serem sempre alvos de estudos do género, sendo
que nada altera na vida da comunidade. Uma outra limitação, não tao relevante mas que vale a
pena citar, esteve relacionada ao facto de alguns moradores exigirem alguma recompensa em
troca da sua participação no estudo.
26
CAPÍTULO IV: APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Neste capítulo são apresentados os resultados do estudo, fruto de pesquisa documental assim
como visitas de campo à área de estudo. Os resultados, aqui apresentados foram discutidos com
base nos objectivos que orientaram o estudo. Procurou-se nessa etapa aliar a revisão
bibliográfica e a realidade encontrada no distrito.
4.1. Saneamento no Distrito Municipal Kamaxakeni
Durante o trabalho de campo, notou-se que o kamaxakeni apresenta um grande investimento na
área de saneamento. Encontra-se nesse distrito sistemas de drenagem de águas pluviais,
contectores para deposição dos resíduos sólidos nas principais vias dos bairros que compõem o
distrito, assim como colectores ambulantes contratados para colectar os resíduos porta-a-porta e
associações que trabalham na área do saneamento e outros vários problemas ambientais. Porém,
conforme dito no capítulo 1 nota-se a distância, condições precárias de saneamento em que a
população reside, que logicamente não correspondem ao investimento feito na área.Um dos
indicadores de saneamento precário notado no local, é o número exorbitante de ocorrência de
diarréia (que é a segunda causa de internamentos e mortes no distrito, depois da malária). Das
famílias entrevistadas, 90% delas indicam que já tiveram pelo menos uma vez a doença.
Crianças e jovens até 18 anos de idade são os mais susceptíveis a esse tipo doenças. Outra doença
que foi mencionada por cerca de 10% das famílias durante as entrevistas é a sarna, doença
causada por um parasita que afecta a pele e os olhos e geralmente são causadas pela falta de
higiene. Outras doenças mencionadas foram as dores intestinais, hipertensão, asma e dores de
cabeça.
A análise do saneamento foi feito em todas as componentes que fazem parte deste processo,
conforme dito anteriormente, estas compreendem quatro (4) principais que são: Abastecimento
de água, gestão dos resíduos sólidos, drenagem de águas pluviais e esgotos domésticos
(Carvalho et al, 2007).
- Em relação a primeira componente (abastecimento de água), é realizado pelas Águas da Região
de Maputo através de canalizações domiciliar. Este, abrange 98,58% da população, conforme
mostra o gráfico 1, dentre os quais 85,07% da população tem água sem problemas, 13,51%
sofrem algumas restrições devido alguns aspectos como a topografia do terreno que não permite
que a água chegue com precisão em suas casas (embora tenham todas instalações para o efeito)
27
e também devido as oscilações de energia que muito tem influenciado, fazendo que a população
tenha acesso à água somente por algumas horas durante o dia (devendo esta armazenar em
recipientes em quantidades suficiente para a utilização no período de interrupção) e algumas
outras podendo ficar sem água durante alguns dias. Os bairros que mais sentem as restrições são
parte do bairro do Maxaquene C, bairro da Mafalala e principalmente os bairros da Polana
Caniço A e B que por vezes ficam "as secas", conforme disse uma dona de casa entrevistada.
Embora seja em número reduzido, ainda existe pessoas vivendo sem acesso a esse serviço
indispensável a qualidade de vida. Estes, para ter acesso à água, adoptam alguns mecanismos
como comprar em bidons de 20 litros ou mesmo pedir no vizinho quando sentem-se
incapacitados de comprar.
Embora haja evidencias de algumas restrições de água (figura 12, em apêndice), o distrito
registra um aumento significativo no abastecimento de água desde o ano de 2007 até então, que,
no entanto não satisfaziam a demanda. Isso devido ao programa de implementação de
canalizações de água domiciliar no centro do distrito, no qual as pessoas pagavam somente o
que tinham, sendo que o resto do pagamento vinha contado na factura de água mensal do
consumidor. A população quando ficou sabendo do projecto denominado "água para todos",
aderiu e houve muitos beneficiários.
- A segunda componente (gestão dos Resíduos sólidos) está sob tutela do conselho municipal de
Maputo. Este trabalha em coordenação com alguns operadores privados e associações, que desde
já designamos de "colaboradores". A gestão dos resíduos sólidos é feita por um sistema de
Abastecimento de água- Referente ao ano de 2017
1, 42%
13, 51%
85, 07%
Outra forma Águacanalizada com restricoes Águacanalizadasemrestricoes
Figura 4: Abastecimento de água – Kamaxakeni
28
recolha primária e secundária. A recolha primária, consiste na recolha do RS casa-a-casa e, é
realizada pelos colaboradores (empresas e pessoas singulares contratadas pelo CMM). Essas
empresas transportam os R.S aos contetores afixados nas principais vias dos bairros, e estes por
sua vez, são transportados pelo CMM até ao destino final, a esse processo chamamos de recolha
secundária. Existem alguns problemas denotados nos dois processos acima mencionados. O
primeiro, que está directamente relacionado ao processo de recolha primária, refere-se ao
calendário de trabalho dos colaboradores. Existe um calendário que foi concebido pela
admistração do distrito com o objectivo de orientar o trabalho dos colaboradores, o mesmo dita
uma passagem de pelo menos duas vezes por semana em cada quarteirão, porém, este não é
cumprido na íntegra, ou por outra, "é cumprido no papel". Os colaboradores ficam entre dois a
três meses sem passar por alguns quarteirões, estes demonstraram ter algumas preferências de
locais de trabalho devido a vários motivos, que quando questionados, disseram receber algumas
recompensas extras pelos trabalhos que fazem assim como o facto de alguns locais existirem
muitos moradores, que consequentemente produzem muitos RSˊs o que para eles não é de bom
agrado. Outro facto verificado é que o número de colabores é reduzido e não corresponde a
densidade populacional da área, agravando-se com a situação dos equipamentos usados para o
trabalho. Os mesmos operam com tratores (conforme inlustra a figura 5) e que estão em péssimo
estado, que por vezes têm tido avarias durante a execução do trabalho, disse um dos
colaboradores entrevistados.
Figura 5:Tratores Usados para recolha dos RSs (recolha primária)
29
Existe ainda, colaboradores que trabalham a "pé", usando como apoio as carinhas-de-mão,
vulgarmente conhecidas por "txova", e nessas condições, torna-se quase impossível percorrer
muitos quilómetros, esse é um dos factores que também faz com que os colaboradores tenham
preferências por alguns locais de trabalho, e logicamente acabam escolhendo os locais mais
próximos dos contetores, para facilitar o trabalho deles. Esse é um dos muitos factos
desconhecidos pelas autoridades locais, porque falta a questão da observação da realidade nas
suas diversas esferas, para saber e entender se o que está desenhado para ser, de facto acontece.
Figura 6:Carinhas-de-mão Usadas para recolha dos RSs (recolha primária)
- Quanto a terceira componente, (drenagem de águas pluviais), percebeu-se que o distrito, está
munido de infra-estruturas em número suficiente para gestão das águas pluviais conforme diz a
literatura. As infra-estruturas compreendem sistemas de vala de drenagem do primeiro, do
segundo e terceiro grau. O percurso normal das águas tem sido o seguinte: as valas terceárias
colectam a água e transportam para as valas secundárias, que são maiores e consequentemente
transportam quantidades de águas maiores, esta por sua vez, transporta a água para as valas
primárias e estas até ao destino final. Porém, as mesmas estão sendo usadas pela comunidade
para outros fins como deposição dos resíduos sólidos, assim como existem valas que são usadas
para deposição dos esgotos domésticos. Existem casas que têm ligações directas das suas casas
de banho às valas, onde todos esgotos produzidos, são conduzidos até as valas, estas acabam por
30
ficar com águas negras e algumas intupidas com os resíduos. Como resultado as águas pluviais
ficam estagnadas durante dias, propiciando a ocorrência de cheias urbanas assim como a
proliferação de doenças, ocasionadas pelos vectores de doença que multiplicam-se em ambientes
insalubres, como o verificado no local.Verificou-se também que as valas de drenagem do
terceiro grau, estão entrando em dezuzo, a esse facto deve-se não somente pelo mau uso das
infra-estruturas, como também a falta de manuntenção das mesmas. A comunidade é que tem se
responsabilizado pela manunteção das mesmas, sendo que esta resume-se apenas em limpezas,
que são realizadas uma ou duas vezes por mês, podendo ficar alguns meses sem fazer-se, e
quando faz-se as limpezas, estas são realizadas de forma superficiail.
- Em relação a quarta e última componente do processo de saneamento (tratamento de esgoto),
é uma das componentes problemáticas, principalmente os esgotos sanitários. Isto porque o
distrito não faz parte dos distritos abrangidos pela rede de tratamento dos esgotos sanitários da
cidade de Maputo. Para eliminar os esgotos, principalmente os sanitários, alguns moradores,
amazenam os esgotos em fossa, que quando esta fica cheia, chamam algumas entidades que
trabalham no ramo para fazer o esvaziamento das mesmas. No caso do DMK, concretamente no
bairro de Urbanização, existe uma associação (ADASBU) especializada que lida com este
assunto.
Embora seja uma componente problemática, graças aos esforços de autoridades governamentais
em parceria com associações e alguns grupos de voluntários, conforme ilustra a figura 7
(abaixo), estima-se que pelo menos 58,04% da população usam casas-de-banho convencionais,
29,03% encontram-se usando latrinas modernas e 10,9 usam latrinas tradicionais, fazendo
descargas directas nos sistemas de drenagem das águas pluviais. O restante da população,
encontram-se partilhando as latrinas devido a forma como encontra-se vivendo, ainda que seja
por um número reduzido.
31
Figura 7: Percentual Populacional usando as infra-estruturas Sanitárias
No gráfico pode-se ver de forma clara e precisa, o percentual populacional com determinadas
infra-estruturas sanitárias no DMK, sendo que notou-se que estes dados são fortemente
influenciados pela fonte de renda dos CAFs bem como a cultura e nível de escolaridade dos
agregados familiares.
O Actual estado do saneamento no DMK, é fortimente influenciado por alguns factores
observados e analisados durante o trabalho de campo, e esses foram classificados em naturais e
antropogénicos.
4.1.1. Factores Naturais
Nível freático
O solo é composto por rochas e por diversas partículas que não preenchem todo o seu volume,
resultando em espaços vazios que podem ser preenchidos pela água. Parte da água, seja
proveniente de chuvas, de rios, de lagos, ou derretimento da neve, infiltra-se no solo ocupando,
juntamente com o ar, o espaço entre os fragmentos que o compõe. Esta água constitui o chamado
lençol freático. Os lençóis freáticos podem alcançar de 500 a 1000 metros de profundidade
(Zimbres, 2007).
32
O DMK possui um nível freático muito elevado, e ainda, os registos históricos revelam que o
kamaxakeni foi uma área pantanosa e que passava grande parte do tempo inundada. Isso deve-
se ao tipo de solo que nele predomina, que provocava um lento escoamento das águas
superficiais nessa área. As entidades governamentais têm empreendido esforços para enfrentar
essa realidade, que representa um desafio muito grande para o saneamento do meio, pois as áreas
ficam propensas a ocorrência de inundações principalmente nas épocas chuvosas.
4.1.2. Factores Antropogênicos
Participação Comunitária
A comunidade é um dos intervenientes-chave no processo de saneamento, e esta joga um papel
importante por ser usuário e beneficiário das várias tecnologias concebidas para o bom
saneamento do meio. Infelizmente a participação da comunidade nesse processo é quase
insignificante para aquilo que tem que ser, embora esta tenha manisfestado vontade de participar.
Mas falta conhecimentos e habilidades para que esta possa participar efectivamente no sentido
de actuar para melhorias significativas do saneamento do distrito. Uma prova disso, foi que
quando questionados sobre o saneamento do meio, alguns mostraram ter alguma percepção
dizendo que saneamento é limpeza que torna um lugar, zona ou bairro higiênico e limpo. E
outros mostraram dificuldade e disseram que saneamento é ajudar aqueles que não têm
possibilidades em questõs de alimentação, vestuário e outros. Perante essa diversidade de
respostas percebeu-se que uma parte dos cidadãos não sabe o que é saneamento e isso talvés seja
uma das razões pela comodidade da população face as actuais condições de saneamento do
distrito, bem como do distanciamento e a fraca participação nesse processo. Nos casos em que
há participação, esta ocorre através de limpezas que são realizadas de quando em vez aos sábados
(conforme ilustra a figura 8), em que cada morador é responsável por limpar o seu quarteirão. A
participação dá-se também por escavação e construção das fossas que muitas das vezes é feito
sem que a comunidade perceba a importância disso.
33
Figura 8:Jornadas de Limpeza Realizada pela Comunidade Kamaxakeni
Das 470 famílias inquiridas e entrevistadas, 76% desconhecem o papel da comunidade no
processo de saneamento, incubindo essa responsabilidade ao CMM, e, somente 19,7 %
reconhece que como comunidade, têm um papel fundamental no processo de saneamento, e
dizem colaborar deitando os resíduos nos contetores, assim como participam nas jornadas de
limpeza. No entanto o número ainda considera-se pequeno, sendo que este não corresponde
siquer a metade da população la existente. O resto da população, não teve nenhuma ópnião
quando questionada, alegando que não têm nenhum conhecimento sobre o assunto, o que é
portanto um sinal negativo.
Ordenamento territorial
No DMK, nota-se aglomerados humano resultado de construções e ocupações desordenadas da
população, que foram instalando-se e crescendo dia-pós-dia. Esses aglomerados humanos, sendo
eles diversos e complexos nas suas razões, relacionam-se e justificam-se entre si na forma que
encontraram para se estabelecer, ocupar e usar o espaço que encontrou e/ou adquiriu.
O ordenamento do território é fundamental para a gestão da interacção do homem com o espaço
natural. Consiste no planeamento das ocupações, no potenciar do aproveitamento das infra-
estruturas existentes e no assegurar da preservação de recursos limitados. São diversos os tipos
de ocupações do homem no território, são diferentes os usos impostos ao solo (Portas, 1995).
34
Grande parte da população encontra-se vivendo em casas de madeira ou zinco (conforme mostra
a figura 9), com as ruas estreitas e labirínticas, favorecendo a proliferação de vários problemas
de saneamento e com impacto directo na saúde. Obviamente, tratam-se de problemas complexos
que só poderão ser convenientemente compreendidos se estudados profunda e
pluridisciplinarmente.
Figura 9:Ordenamento territorial - bairro da Urbanização
Percebeu-se que a maior parte dos que residem no DMK não são novos, grande parte deles estão
a mais de 4 (quatro) anos, pelo que não se justifica o porquê da má organização das residências
uma vez que há pouca influência de novos residentes. Isto revela que o mau ordenamento dos
bairros não é um problema recente. Muitos e diversos factores podem ter contribuido para
justificar a vivência das populações e a sua forma de ocupar e usar o território, e no caso
específico do DMK, podemos destacar o nível de escolaridade e a pobreza.
Nessas áreas existem vários problemas de veiculação da água, quando chove, há problemas
sérios de circulação, a água fica estagnada durante dias (Ver figura 10, propiciando a
proliferação dos mosquitos, insecto responsável pela transmissão da malária, que por sinal é uma
das doenças que mais assola a população nessa área, seguindo-se da cólera. A mesma abstém de
vários outros serviços essenciais a qualidade de vida devido ao difícil acesso a esses locais, como
por exemplo o sistema de colecta dos resíduos sólidos de primeira ordem assim como em casos
35
de esvazamento das fossas, torna-se quase impossível entrar com o carro nessa área. Devido a
essa situação encontra-se casos em que algumas famílias encontram-se partilhando a mesma
latrina, e cada um deles com seus hábitos comportamentais.
Infra-estruturas Sanitárias
As infra-estruturas sanitárias foram concebidas com o objectivo de reduzir os impactos
negativos à saúde pública. Nesse âmbito, foram construídas valas de primeiro, segundo e do
terceiro grau, para o escoamento das águas pluviais. Assim como foram colocados contetores
em cada bairro para deposição dos resíduos sólidos produzidos pela comunidade. Porém, as
mesmas têm sido utilizadas para outros fins, no caso das valas de drenagens, grande parte delas
são usadas como locais para deposição dos resíduos sólidos e esgotos sanitários (conforme
ilustra as figuras abaixo), e os contetores não só recebem os resíduos sólidos como também
alguns efluentes. Esse facto tem contribuído para a deteriorização das infra-estruturas, como
consequência disso,estas acabam não desempenhando devidamente a função pela qual foi
concebida e o saneamento prevalece nas condições actuais, tendendo a agravar-se.
Figura 10:Ruas Estreitas e Alagadas – Urbanização
36
Figura 11: Resíduos Lançados nas Valas de Drenagem, Bairro da Urbanização e Mafalala
4.2. Estratégias Aplicáveis Para Participação Comunitária no Processo de Saneamentono
Distrito Municipal Kamaxakeni
O DMK apresenta condições de saneamento não favoráveis à saúde da população que la reside,
e com isso, a administração do distrito mostrou-se preocupada com essa situação. Nesse âmbito,
estão sendo levadas a cabo actividades para atingir níveis dejados de salubridade ambiental.
Um exemplo são as actividades de limpeza a níveis dos bairros, programa promovido pelo CMM
em parceria com outras entidades, com a finalidade de estimular a comunidade a participar na
gestão das infra-estruturas sanitárias, bem como na higiene do distrito. Cada morador tem o
dever de limpar o seu quarteirão, cada quarteirão tem dias pré-determinados para a execução da
actividade, normalmente tem se realizado aos finais de semana. Porém essa actividade perdeu o
ritmo que tinha, sendo que agora tem sido realizada em datas especiais, como por exemplo em
dias de visitas dos governantes ao distrito ou em dias festivos.
Para estimular a participação da comunidade no processo de saneamento, a ADASBU
(Associação de abastecimento de água e saneamento) tem realizado actividades de
sensibilização e consciencialização ambiental por meio de palestras, porém essas actividades
muito dependem de fundos e de boa vontade dos voluntários, por esse motivo esta também tem
sido pouco exequível.
37
O MISAU é uma das instituições que também tem emprendido esforços a nível local, através de
programas comunitários para promoção da saúde. Estes programas são implementados através
de pequenos projectos em diferentes bairros do distrito. A secretaria do bairro, em coordenação
com os chefes de quarteirão também tem realizado pequenos encontros com a comunidade para
falar sobre a limpeza dos bairros.
Notou-se que os esforços das autoridades locais, bem como os projectos implementados pelas
associações não são sustentáveis, e isso deve-se pela falta da componente pedagógica. Ferreira
(1986), cita que a educação é vista como um processo de transformação do sujeito, que ao
transformar-se, modifica seu entorno e vice-versa. E a preocupação das AL, não é de educar a
comunidade, tem sido mais para manter o ambiente limpo, por isso a ênfase em jornadas de
limpezas. Portanto, só com uma boa pedagogia é que podemos alcançar todos os objectivos
desejados, através de actos concretos de educação. Por exemplo a construção de um novo
sistema de drenagem das águas pluviais não terá impacto na saúde, se a comunidade não estar
ciente da importância desta e o porquê de usar somente para desempenhar a função pela qual foi
concebida. Caso contrário a comunidade vai continuar fazendo das valas locais para deposição
dos RS e a água vai continuar estagnando na base do canal favorecendo a proliferação de
doenças. Do mesmo modo que novas latrinas não terão tão grande impacto na saúde se alguns
dos membros da comunidade não as usarem, devido a alguns aspectos étinicos e culturais, assim
como as limpezas não terão tão grande impacto se os RS resultantes dessa actividade não tiverem
um destino adequado.
Uma outra estratégia usada é o envolvimento das autoridades locais nas actividades
comunitárias. Porém essa estratégia também tem falhado muito, pois quando as AL deixam os
projectos na responsabilidade da comunidade para a continuidade, estas ficam com o sentimento
de abandono e de fúria, acabando esta por distanciar-se das actividades. Nota-se que este facto
tem sido frequente, e pela análise que faz-se, deve-se por falta de comunicação, e esclarecimento
por parte das AL sobre os projectos que são implementados na área, seus objectivos e/ou
finalidades, bem como o esclarecimento do papel da comunidade nesses projectos ou programas.
Dias (2004), enfantiza que para um programa de educação ambiental atingir seus objectivos é
preciso ocorrer o envolvimento colectivo. O autor aponta ainda diversas estratégias de ensino
para a prática da EA, tais como:
38
Discussão em classe, envolvendo todos;
Discussão em grupo (oficinas);
Chuva de ideias (quando pequenos grupos sugerem soluções para um dado problema,
porém, sem se preocupar com análise crítica, num tempo de 10 a 15 minutos);
Trabalho de grupos (em que quatro a oito membros se tornam responsáveis pela
execução de uma tarefa);
Debates, com dois grupos de argumentos diferentes e um terceiro que avalia as idéias
expostas;
Questionário (reflexão, que envolve a análise crítica);
Imitação da mídia (o grupo organiza sua própria versão de jornais, televisão, rádio e
filmes);
Solução de problemas (que considera a apresentação e solução de problemas);
Jogos de simulação (operacionalização de situações reais referentes a um problema
e por fim) e,
Exploração do ambiente local (por meio de observações).
Embora todas as estratégias acima referidas pelo autor sejam aplicáveis, para esse trabalho,
sugere-se que estas sejam trabalhadas em consonância com a metodologia de problematização
(posteriormente debruçar-se-á com detalhes em como essa poderá ser usada em cada uma das
fases da MEP).
4.3. Abordagens Metodológicas em Educação Ambiental para participação comunitária
no processo de saneamento básico
A Metodologia de Problematização preconiza núcleos de estudo e organização de actividades
interdisciplinares de ensino e pesquisa ao priorizar o estudo das interrelações complexas. Assim
sendo, esta postula uma metodologia multidisciplinar orientada para a solução de problemas
concretos (Knechtel 2001).
Desta forma nos valemos da Metodologia de Problematização em todas suas fases como
abordagens metodológicas, para reverter as várias situações referenciadas anteriormente, e
atingir os objectivos pretendidos com o estudo.
39
Conforme dito anteriormente, esta compreende cinco (5) fases distintas, e uma das estratégias
priorizadas em todas as fases da MEP, são as oficinas de educação ambiental, porém estas
ganham denominações e objectivos distintos, sendo que as oficinas em cada fase serão realizadas
com finalidades diferentes. As oficinas são estratégias que supõem o aprender, fazendo. O
pensar, o sentir, é a acção e a reflexão sobre a acção, construindo assim uma teia de formação,
através de um processo sistemático que permite a acção-reflexão-acção na constituição de um
cidadão, capaz de posicionar-se criticamente e criativamente na sociedade.
Em relação a primeira fase da metodologia (Observação da realidade), tendo em conta o perfil
da comunidade kamaxakeni, a Observação da realidade pode ser realizada através de várias
estratégias, uma delas são as oficinas de educação ambiental (conforme dito anteriormente).
Nesta fase, podem ser chamadas de Oficinas Fase-I, cujo objectivo deve ser doptar e estimular
os participantes (comunidades e outros intervenientes chave) a pensar e agir, a fim de identificar
problemas sócio-ambientais ligados a comunidade. Isso implicaria, principalmente para as AL:
o reconhecimento das necessidades da comunidade e os valores axiológicos que as formam e a
permanente busca de qualificação da comunidade para que enfrentem as questões do seu
contexto.
Nessa fase, fez-se uma leitura da realidade do distrito, o que ajudou bastante a pesquisa.
Identificou-se alguns problemas e estilos de vida que influenciam significativamente na
qualidade de vida da população.
Alguns problemas foram observados e/ou identificados nesta fase, sem ter a pretensão de fazer
uma lista exaustiva, destacam-se os seguintes:
Deteriorização das infra-estruturas sanitárias;
Fraca participação comunitária no processo de tomada de decisões importantes para o
desenvolvimento local;
Paradoxos nas relações comunidade-meio ambiente;
Problemas de veiculação hídrica;
Problema de tratamento de esgotos domésticos;
Restrições no abastecimento de água potável;
Desordenamento territorial, etc.
40
Na segunda fase da metodologia (Pontos-Chave ou pressuposto), as oficinas de educação
ambiental, ganham a denominação de Oficinas Fase-II, cujo objectivo deve ser estimular a
comunidade a reflectir sobre possíveis causas dos problemas por ela levantados, (no caso deseja-
se que explore-se sobre o saneamento precario na área), assim como podem auxiliar aos
participantes a pensar e agir, a fim de identificar e desenvolver bases para resolução dos
problemas identificados nas Oficinas Fase I.
Nesta fase, as oficinas devem priorizar algumas estratégias como actividades de exposições,
utilizando técnicas como músicas, poesias, relatos de vida, desenhos, contos, cartazes,
fotografias ilustrando a vida cotidiana da comunidade em forma de restropectivas do passado
até a actualidade.
Levantantou-se as hipóteses de todos os problemas identificados na fase anterior. Não se tem a
intenção de colocar aqui as hipóteses de todos os problemas, assim sendo, foram formuladas as
hipóteses em busca da perspectiva teórica, e estas correspondem as seguintes:
Diversidade cultural;
A fragmentação étnica;
Fonte de renda;
Nivel de escolaridade e Pobreza.
Em relação a terceira fase (Teorização e Recensão crítica), notou-se que quase não acontece, e
quando acontece este é realizado superficialmente, e não são usadas as técnicas apropriadas ao
contexto que a comunidade está inserida. Este processo é realizado de quando em vez, usando
mega-fones e também através de brigadas móveis pelo MISAU, com um objectivo único de
promoção de saúde. Portanto, para melhorar este processo, sugere-se o uso de estratégias como
oficinas (nesse caso Oficinas Fase III) juntamente com os seminários multi e interdisciplinares,
que tratam de vários assuntos e envolvem vários ramos do saber.
O objectivo das Oficinas Fase-III, deve ser capacitar os participantes a ser mais pro-activos,
estes devem ser estigados a ser mais selectivos nas informações que consomem e a consumir
informações credíveis. Deve-se de seguida orientar os participantes sobre como são feitas as
leituras, as análises e interpretações das obras, em momentos destintos. As obras devem ser
41
analisadas na perspectiva de acção-reflexão-acção, e como resultado, deve-se produzir resumos
individuais.
As intenções dos resumos individuais, devem privilegiar práticas educativas ambientais, levando
os participantes a uma análise e reflexão de obras escolhidas, elaborando uma recensão crítica
individual, apresentada e discutida coletivamente no Seminário Interdisciplinar (que será tratado
com detalhes posteriormente).
Para os participantes não letrados, no decorrer da oficina fase III, podem partilhar a própria
história de vida, onde este cotidiano é inserido no contexto mais amplo, referindo à realidade
local. Dependendo da dinâmica dos participantes poderá se reflectir também a nível regional ou
até mesmo global, e pode ser concluída, através de avaliações para medir o grau de
conhecimento dos participantes.
Notou-se durante a realização do trabalho um dinamismo e interesse por parte da comunidade
Kamaxakeni, desta forma, assumi-se que depois das secções de oficinais (divididas em fases)
que os participantes terão passados, estes estarão capacitados para participarem em seminários
interdisciplinares. Os seminários devem ser organizados juntamente com as comunidades.
O seminário é uma reunião especializada, de natureza técnica ou académica, que procura levar
acabo estudos aprofundados sobre uma determinada matéria. Em geral, um seminário deve ter
uma duração mínima de duas horas e contar com, pelo menos, cinquenta participantes (Duarte,
(2017). No caso específico do Kamaxakeni os seminários deverão ter pouco mais de vinte e
cinco participantes.
Os debates dos primeiros seminários devem ser a recensão crítica que os participantes
elaboraram no decorrer das oficinas fase III, para que os participantes percebam como um
seminário funciona. Nos seminários, um conjunto de actividades psicosociopedagógicas podem
ser vividas, com base nas relações sociais e interpessoais. As idéias de cada um, a reflexão, a
observação, a crítica, a comunicação, a acção, permitirão que “as inter-relações entre a teoria e
prática sejam analisadas.
Segundo Knechtel (2001), as actividades do Seminário Interdisciplinar, podem seguir a seguinte
estrutura:
Introdução;
42
Apresentação da recensão;
Seguem as fases de mesa redonda (explicações por parte do expositor, debate e discussão
crítica de problemas pertinentes ao conteúdo em questão)
Avaliação crítica e contribuições pelo coordenador;
Elaboração de síntese individual e posterior construção colectiva.
Estas actividades podem ser enriquecidas com recursos audiovisuais, tais como: cartazes,
anotações, retroprojector, datashow, microfone, entre outros.
Em relação a penúltima fase da metodologia (Alternativas de solução), as oficinas de educação
(Oficinas fase IV), devem realizar actividades práticas, com objectivo de promover a elaboração
de instrumentos para a busca de soluções, relacionadas aos problemas que estão sendo estudados
desde as Oficinas fase I. Para que o programa seja efectivo, deve este promover,
simultaneamente, o desenvolvimento de conhecimento, de atitudes e de habilidades necessárias
à preservação e melhoria da qualidade de vida. E a prioridade deve ser a participação
comunitária, articulada e consciente, com a finalidade de prover os conhecimentos necessários
à compreensão do ambiente, de modo a suscitar uma consciência social que possa gerar atitudes
capazes de afectar comportamentos.
A escolha de uma ou outra abordagem deve considerar sempre o peril das comunidades a serem
envolvidas (características sistêmicas de manutenção da vida e de seus valores) e seu respectivo
metabolismo (desenvolvimento dos processos, seus movimentos e tendências). Assim como
deve-se sempre procurar conhecer os objectivos, problemas, prioridades e valores da
comunidade.
Referente a última fase da metodologia (Aplicação a realidade), é a fase destinada à prática
social e prática política segundo Fourez (1995), citado por Knechtel (2001), é a fase que
possibilita a intervenção, o maneio de situações relacionadas à solução dos problemas
ambientais por meio dos indicadores encontrados no estudo, elementos básicos para a construção
de políticas públicas e, portanto, para acções futuras. Esta é a fase em que a comunidade tem a
oportunidade de colocar na prática tudo o que aprendeu desde a primeira oficina, e, as AL,
deverão criar condições para que isso aconteça. A comunidade deverá ser acompanhada durante
algum tempo para se ter a certeza que estão fazendo as coisas, tal como foram desenhadas ou
43
previstas. De acordo com o observado no campo, e a diversidade cultural da comunidade
Kamaxakeni, as oficinas deverão seguir a seguinte estrutura (em momentos distintos):
Actividade de sensibilização e acolhimento, para facilitar o conhecimento mútuo e a
interação entre os participantes (deverá de preferência ocorrer nas oficinas fase I);
Posteriormente, a reflexão do tema buscando reflectir a realidade, e suas inter-relações
com os níveis individual, grupal e colectivo. Utilizando técnicas que falem da vida
cotidiana da comunidade.
Quanto aos seminários, a sua estrutura deve levar em consideração as características do público-
alvo, como faixa etária, tipos de interesse, expectativas e conhecimentos prévios em relação ao
tema em questão. É importante referir que este processo, é contínuo e ele nunca para, as oficinas,
deverão sempre ocorrer, pois a vida é dinâmica, novas coisas podem acontecer, novos hábitos e
costumes podem ser desenvolvidos, e as AL só terão conhecimento, se esse processo for
contínuo. Não se deseja que os indivíduos aceitem passivamente determinadas soluções, mas,
mais do que isso, deseja-se tornar possível a capacidade da população perceber os problemas,
identificando as possíveis soluções e selecionando as que lhes pareçam mais conveniente. Ao
mesmo tempo, é preciso que a comunidade se torne receptiva no que respeita à aprendizagem
de novas formas de comportamento.
44
CAPÍTULO V: CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Neste capítulo são apresentadas as conclusões e recomendações do estudo realizado no Distrito
Municipal Kamaxakeni. Primeiro são apresentadas as conclusões, seguidas pelas
recomendações, face alguns factos verificados.
5.1. Conclusões
Com a realização do estudo, conclui-se que:
O saneamento básico no DMK é precário, embora este facto, não corresponda ao
investimento feito na área. O actual estado de saneamento, é influenciado por factores
naturais como o alto nível freático assim como por factores antropogénicos, tais como
participação comunitária, ordenamento territorial e uso indevido das infra-estruturas
sanitárias;
A componente mais problemática do saneamento é a de gestão dos esgotos, a
comunidade por não ter muitas alternativas nessa área, acaba tendo padrões
comportamentais nocivos a saúde. Sendo assim, existe a necessidade de investimentos,
políticos de planificação e acções educativas realizadas pelas esferas Municipais, além
de empresas privadas. Pois, mais que uma questão de saúde, o tratamento de esgoto pode
significar economia substancial com processos produtivos e utilização de recursos;
Uma das estratégias usadas para promover a participação da comunidade no processo de
saneamento, são as jornadas de limpezas a nível dos bairros cuja responsabilidade é dos
chefes dos quarteirões, assim como algumas actividades de sensibilização e
consciencialização da comunidade através de palestras e seminários realizada
principalmente pela ADASBU. Porém, estas actividades não estão a ter bons resultados,
isso deve-se a "falta da componente pedagógica" associadas as actividades. As
actividades são realizadas de forma dispersa, não incluindo os factores de ordem cultural,
social, econômica e pedagógica, que por sinal são esferas consideradas relevantes
quando o assunto é educação. E também, porque algumas actividades dependem de
fundos externos para que se levem a cabo;
A MEP é uma forte alternativa metodológica (ferramenta) que pode ser usada para
promover a participação da comunidade no processo de saneamento assim como em
vários outros processos, pois esta, possui elementos orientadores que permitem a
45
planificação, a execução e monitoria de actividades e/ou projectos, assim como
possibilita a população na percepção dos problemas, identificando as possíveis causas e
soluções,
Além disso, a MEP traz algumas premissas teóricas e fundamentos que possibilitem
construir uma prática interdisciplinar em Educação Ambiental, a partir de acções
integradas entre a pesquisa e o ensino. Trata-se de uma proposta de actividade para a
construção e reconstrução do conhecimento, a qual desencadeia uma interação de
diferentes áreas.
5.2. Recomendações
Este tópico, contém uma lista de recomendações elaboradas com base nas vivências tidas no
campo para auxiliar no crescimento e na prosperidade dos projectos, tentando evitar atritos
desnecessários que poderiam ser causados por uma possível falta de apoio ou base. Essas
recomendações estão direcioadas aos diversos actores, e, estas foram elaboradas, a curto, médio
e longo prazo portanto merecem uma atenção especial e vale a pena compreendê-las e segui-las:
Recomenda-se ao CMM:
Curto Prazo
Para a obtenção de resultados rápidos e de melhor qualidade, os programas já existentes,
devem ser realizados de uma forma participativa envolvendo principalmente a
comunidade local, desde a liderança até ao mais comum cidadão;
Promover programas que incentivem sempre o diálogo e troca de ideias entre as
comunidades vizinhas (com um exemplo em termos de participação comunitária e
salubridade ambiental);
Reabilitação e manutenção periódica das valas de drenagem do terceiro grau, existentes
no DMK;
Promover programas de ascultação comunitária, antes de implementação dos programas
e/ou projectos;
Envolver as comunidades no processo de tomada de decisões importantes que dizem
respeito aos assuntos comunitários;
46
Elevar a participação dos colaboradores de CMM nas jornadas de limpezas, para que as
comunidades não sintam-se isoladas.
Médio Prazo
Formação de fiscais para garantir que os trabalhos destinados a comunidade sejam
realizados dentro dos moldes previstos (principalmente o trabalho relacionado a recolha
dos RS primário);
Inclusão de agentes comunitários, que sirvam de elo de ligação entre a comunidade e as
ALs;
Incentivar a criação de mais associações, e apoiar as já existentes, com o intuito de
descentralização, sendo possível a interação das ALs com a comunidade, visando à
construção participativa de práticas e estratégias eficazes de enfrentamento dos
problemas especialmente os relacionados com as questões ambientais.
Longo Prazo
Construção de sistemas de drenagem de águas pluviais, em alguns bairros para gestão
das águas pluviais em épocas chuvosas, principalmente em bairros como Maxaquene C
e Polana Caniço;
Criar um centro de educação comunitária;
Promover programas de capacitação de alguns membros da comunidade, para exercer
funções como manuntenção das valas de drenagem, sendo que a função cabe a
comunidade, e, esta não é doptada de conhecimento técnico para o efeito;
Sendo que, o DMK não faz parte da rede de tratamento de esgoto, o mais recomendado
seria a utilização de fossa séptica que constitui o primeiro nível de tratamento do esgoto
doméstico, pois o sistema retém a parte sólida e inicia o processo biológico da
purificação da parte líquida. É uma benfeitoria fundamental, evitando que dejectos sejam
despejados nos rios, lagos, nascentes ou menos em contato com o solo. Seu uso é
essencial para melhoria das condições de higiene, o combate de verminoses e a redução
de endemias como a cólera e,
Adoptar a MEP como uma alternativa metodológica para participação comunitária no
processo de saneamento e outros.
Às associações existentes:
47
Curto Prazo:
Investir em novas técnicas de actuação, como criação de Oficinas de Educação
Ambiental, abrangindo todas faixas etárias e os seminários interdisciplinares;
As actividades devem ter em conta os assuntos locais, culturalmente aceitas e que visem
fundamentalmente:
a) Despertar o sentimento de vergonha e desgosto no que é nociva a saúde (principalmente
a prática de descarte de RS e esgotos domésticos nas valas de drenagem);
b) Ter enfoque na mudança individual e colectiva das práticas de higiene e saneamento na
comunidade.
Médio Prazo
Desenvolver actividades auto-sustentáveis, que os tornem independentes de ajuda
externa e nem de subsídios;
Ressalta-se também a importância da educação ambiental nas escolas. Pois esta, é a
instituição de maior poder de mudança e transformação da sociedade, com o intuito de
buscar mecanismos para actuar na mudança dos problemas ambientais. O conhecimento
a ser transmitido deve focar os sistemas naturais, econômicos, sociais, culturais e suas
inter-relações com o meio ambiente;
Colaborar com instituições como MISAU em actividades de Educação Sanitária, pois
esta é uma das ferramentas para resolver a deficiência sanitária. A importância dessa
ferramenta para a promoção da saúde é incontestável e tem sido reconhecida por
diferentes autores como factor imprescindível para a melhoria da qualidade de vida;
Promover actividades de educação ambiental, através de reuniões comunitárias,
actuando principalmente através de campanhas comunitárias com o objectivo de gerar
atitudes que levem ao conhecimento e compreensão dos problemas ambientais e a
consequente sensibilização para a preservação. O seu processo de divulgação, deve
focalizar utilização de técnicas simplificadas de comunicação e informação que
permitam aos cidadãos o aprendizado através da observação e interpretação com o fim
de saber fazer, e não de ser um mero receptor de informações e,
Formação de animadores comunitários.
48
6. Referências bibliográficas
Barbosa, H. P. G., Heller, L., & Rezende, S. R. (2008). Saneamento Básico no Brasil: o desafio
de universalização do saneamento básico no Brasil. In: Ângulos da Água: desafios da
integração. Belo Horizonte, MG: editora UFMG.
Carvalho, D. D., Guimarães, A. J. A.& Silva, L. D. (2007). Saneamento básico. Disponivel em
http://www. ufrrj. br/institutos/it/deng/leonardo/downloads/APOSTILA/Apostila% 20IT, 201,
79.
Cavinatto, N. M. G. (1992). Cenário regional, regiao administrativa de Santos, aspectosfisico-
ambientais; situaçao atual. In Cenário regional, regiao administrativa de Santos, aspectosfisico-
ambientais; situaçao atual. EMPLASA.
Colin, J. (2012). Programa Nacional de Saneamento em Moçambique: Pioneiro no Saneamento
Suburbano.
Conselho Municipal De Maputo (2010). Perfil Estatístico do Município de Maputo 2007-2008.
Maputo.
Dias, F. (2004). Educação Ambiental: princípios e práticas. São Paulo.
Duarte, V. M. (2017). O Seminário - O que é e como realizá-lo? BrasilEscola.Disponível em
<http://brasilescola.uol.com.br/redacao/o-seminarioque-e-como
realizalo.htm>.AcessoemAgosto
Ferreira, A. B. H (1986). Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro-Nova
Fronteira.
Fichter, J. (1973). Definições para uso didático in: Fernades, Florestan. Comunidade e
Sociedade: leitura sobre problemas conceituais, metodológicos e de aplicação. São Paulo.
de 2017.
Gutierrez, P. R. (2001). Development of the 25-list-item national eye institute visual function
questionnaire. Archives of ophthalmology, 119 (7), 1050-1058.
Knechtel, M. R. (2001), Educação Ambiental: uma prática interdisciplinar.UFPR
Macucule. A. (2006). Introdução a Gestão Participativa de Recursos Naturais. Maputo
49
Marconi, M. A.&Lakatos, E.M. (2007). Técnicas de pesquisa. São Paulo, Editora Atlas, S.A.
Capítulos 2 e 3.
Mutimucuio, I. V. (2008). Métodos de Investigação. Moçambique
Netto, J. M., etall (1984). Cronologia do abastecimento de água (até 1970). Revista Dae
Odum, E. P. (1988). Princípios e Conceitos EcologicosBasicos. Fundamentos de Ecologia, 6ª
Edição, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa
OMS e UNICEF. Informe sobre la evaluación mundial delabastecimiento de água en 2000
Portas, N. (1995). Sociedade e Território. Revista de Estudos Urbanos e Regionais. Os Planos
Directores como instrumentos de regulação (pp. 22-32).
Rodrigues, G. S., & Mendonça, M. R. (2012). Comunidades camponesas e desenvolvimento:
Territórios em conflito. Anais do XXI Encontro Nacional de Geografia Agrária. Universidade
Federal de Uberlândia.
Romero, E. L. (2013)., Guia para a incorporação do Enfoque baseado nos Direitos humanos.
Ribeiro, J.W. &Rooke, M.S. (2010). Saneamento Básico e sua relação com o meio ambiente e
saúde pública.
Sabroza, P. C. (2001). Doenças emergentes, sistemas locais e globalização. Cadernos de Saúde
Pública, 17, S4-S5.
Souza, B. G. D. A. (2015). Qualidade microbiológica de água tratada para hemodiálise e
caracterização de bactérias patogênicas.
UNIFEC (2008). MOÇAMBIQUE, Água e Saneamento - Análise da Cobertura Jornalística
eRecomendações Para os Media, Maputo.
WHO e UNICEF (2010). Progress on sanitation and drinking-watér-World Health Organization
and UNICEF.
WHO (2004).Watér, Sanitation and Hygiene Links to Health.
WSP (2010). Análise de Dados Estatísticos, financeiros e dos Intervinientes sobre o
Abastecimento de Água e Saneamento Rural, Maputo.
Zimbres, E. (2007). Ocorrência de água subterrânea. Acessado em MeioAmbiente.pro.bra 14
de Maio de 2016.
50
ANEXOS E APÊNDICES
Anexo A: Funções dos Intervenientes do Saneamento em Moçambique
Tabela 2: Intervenientes no Âmbito Rural
NÍVEL FUNÇÕES
CENTRAL
Ministério das Obras Públicas e Habitação
Direção Nacional das Águas
- Desenvolver um sistema de planeamento
descentralizado e participativo para o sub-
sector da Água rural.
- Assistir às Direcções Provinciais do
Ministério das Obras Públicas e Habitação
(DPOPH) na elaboração de planos e
orçamentos provinciais.
- Desenvolver sistemas de informação,
seguimento e avaliação exaustivos para a
água rural.
- Definir as políticas financeiras para a
Água rural.
- Promover a investigação e a procura de
novas tecnologias.
Proporcionar apoio técnico e coordenar
projectos piloto.
- Promover os processos de consulta
PROVINCIAL
- -sector da água e do saneamento rurais,
mediante a aplicação do Princípio de
Demanda, e do Programa de Educação
Comunitária (PEC) em água e saneamento.
51
Direcção Provincial do Ministério das
Obras Públicas e Habitação
Departamento de Água e Saneamento
- Potencializar o aumento da cobertura e da
promoção da equidade dentro da província
no acesso à água potável.
- Recolher, organizar e difundir informação
sobre os logros na província, nos quais se
inclui informação das ONGs Organizações
de Base Comunitárias
- Promover o processo de consulta regular
das partes interessadas a nível provincial.
- Promover a capacitação do sector privado.
- Supervisar e controlar os projectos piloto,
etc.
DISTRITAL
Governo Distrital
Serviço distrital de Planeamento e Infra-
estruturas
- Concentrar os esforços distritais em
manter a cobertura e potencializar a sua
sustentabilidade, aplicando o principio da
demanda.
- O distrito será o encarregado da reparação
das avarias de importância e também do
PEC (Programa de Educação Comunitária)
em Água e Saneamento. Também se
encarregará de avarias menores nas
comunidades pobres.
- Utilizar o orçamento estatal de execução
distrital para a manutenção da cobertura.
- Estabelecer pacotes de negócio com
construtores locais de técnicas intermédias,
52
para a construção e reabilitação de fontes
dispersas. Privilegiar os artesãos locais.
- Arrecadar informação sobre as realizações
e actividades das ONGs e das organizações
de base comunitárias locais.
- Definir estratégias locais de
financiamento para a melhora dos poços
familiares.
- Pôr em andamento um plano piloto.
LOCAL
Comunidade
Comité da Água
- Organizar a comunidade para participar
em todas as fases do ciclo de projecto,
incluindo a fixação e a recolhida das
contribuições para a provisão, operação,
mantimento, concerto e reposição de peças.
- Gerir e manter as fontes e poços
operativos
- Assegurar a disponibilidade de peças.
- Assegurar o controlo das contribuições
dos utentes e sua correcta gestão
- Promover e divulgar os projectos e as
actividades comunitárias no abastecimento
da água.
53
Tabela 3: Intervenientes no Âmbito Urbano
INTERVENIENTES FUNÇÕES
Fundo de Investimento e Património do
Abastecimento de Água
E Administrações de Infra-estrutura de
Água e Saneamento
Organismo público encarregue de gerir a
contratação do subsector da água em centros
urbanos.
- Contrata mediante concessões da totalidade
do serviço (ou outra modalidade, como
contratos de gestão) a operadores privados
que gerem o serviço.
- Encarregue dos investimentos e da gestão
financeira a respeito da reabilitação e da
expansão das redes de provisão de água e de
saneamento.
- É responsável da eficiência no sector, assim
como do seguimento e da avaliação do
serviço contratado.
- A AIAS, tem finalidade de gerir a
contratação supervisão dos operadores
privados para pequenos sistemas de
distribuição de água potável.
54
CRA
- Agência reguladora independente cujo
dever é equilibrar os interesses dos
consumidores com os princípios comerciais,
com a finalidade de assegurar a viabilidade e
sustentabilidade do sector da água, no marco
da gestão delegada.
- O CRA encarrega-se do regime tarifário, e
calcula as tarifas anualmente para assegurar
o balanço entre a viabilidade comercial e a
acessibilidade económica dos consumidores.
- O Conselho Regulador da Água rende
contas directamente ao Conselho de
Ministros.
- O CRA estabelece o preço da água
atendendo a dois instrumentos legislativos:
A Política Nacional da Água (1995, revisada
em 2007) e a Política Tarifária (1998). A
primeira incorpora o conceito segundo o qual
a água tem um valor económico, quanto que
a segunda estabelece três princípios
subjacentes à estrutura tarifária: o
pagamento segundo consumo/uso, a
promoção da equidade e a garantia
dasustentabilidade financeira.
GAS
- Actua como um fórum para o governo e os
maiores doadores do sector, no qual discutir
e avaliar os progressos realizados no sector,
elevar recomendações para apoiar os
esforços do Governo de Moçambique.
55
APÊNDICES
Apêndice A: Guião de Entrevista
FACULDADE DE EDUCAҪÃO
DEPARTAMENTO DE EDUCAҪÃO EM CIÊNCIAS NATURAIS E MATÉMÁTICA
GUIÃO DE ENTREVISTA À ADMINISTRAÇÃO DE INFRA-ESTRUTURA DE
ABASTECIMENTO DE ÁGUA E SANEAMENTO
Tema: Desenvolvimento de Abordagem Metodológica Para a Participação
Comunitária no processo de saneamento básico em áreas per-urbanas: Caso do
Distrito MunicipalKamaxakeni, Cidade de Maputo.
Perfil do Entrevistador
Chamo-me Domingas da Glória Guilherme Matlombe, nascida aos 27 de Junho de 1995,
na Cidade da Beira, província de Sofala. Estudante finalista do curso de Licenciatura em
Educação Ambiental,na Faculdade de Educação da Universidade Eduardo Mondlane.
A presente entrevista insere-se no âmbito do trabalho de culminação do curso acima
referenciado cujo tema é“Desenvolvimento de Abordagem Metodológica para a
Participação Comunitária no processo de saneamento básico em áreas per-urbanas:
Caso do Distrito Municipal Kamaxaquene, Cidade de Maputo”.
Para a condução e efectivaçãodo estudo é imprescindívelinteragir com os principais
actores do saneamento em áreas urbanas em Moçambique.
56
Na intenção de merecer Consideração em relação ao Assunto Apresentado,
As minhas cordiais saudações e agradecimentos.
Guião de Entrevista à AIAS:
i. Qual a principal função da AIAS?
ii. Sabe-se que o saneamento básico abrange quatro (4), componentes fundamentais:
gestão dos resíduos sólidos, esgoto sanitário, drenagem de águas pluviais e
abastecimento de água. A AIAS lida com todasessascomponentes?
iii. Como é realizada a administração e gestão das infra-estruturas sanitárias
(particularmente no DKM)?
iv. Qual o principal desafio quando se fala em saneamento em Moçambique
(particularmente em áreas urbanas e no DMK)?
v. Como o AIASclassifica e descreve o saneamento do meio em áreas urbanas
(particularmente no DKM)?
vi. Que actividade a AIAS desenvolve voltada para o saneamento do meio?
vii. Existe alguma actividade específica que desenvolve junto à comunidade?
viii. Caso haja, como faz para envolver a comunidade nas actividades?
ix. Pode falar sobre o saneamento no DMK?
x. Como descreve o saneamento no DMK?
xi. Como tem sido a comunicação entre a AIAS e a comunidade?
Apêndices B: Guião de Entrevista ao CMM:
i. Qual a principal função do CMM (Departamento de água e saneamento)?
ii. Quais as actividades (detalhadamente), o CMM realiza para sanear o meio?
iii. Existem actividades que são realizadas com a comunidade? Se sim, como faz para
envolve-las?
iv. Existem locais específicos para a comunidade depositar os resíduos?Se sim, quem os
determinou que fossem?
xii. Qual o principal desafio que o CMM enfrenta quando se fala em saneamento?
57
xiii. Como é que o CMM,descreve as condições ambientais (condições sanitárias) no
DMK?
v. Como é que a comunidade faz quando tem uma reclamação?
xiv. Como tem sido a comunicação entre a CMM e a comunidade?
xv. Existe programas de educação ambiental que o CMM desenvolveu/desenvolve
voltada para o saneamento do meio?
Apêndice C: Guião de Entrevista à Administração do Kamaxakeni
i. Qual a principal função do ADMK?
ii. Quantos agregagados familiares existem no DMK?
iii. Como é realizada a administração e gestão das infra-estruturas sanitárias no DKM?
iv. Como é o saneamento no DMK?
v. Quais os bairros que apresentam melhores condições de saneamento?
vi. Como é feita a gestão dos resíduos sólidos no DMK?
vii. Como se realiza o abastecimento de água no DMK?
viii. Quais as actividades (detalhadamente), o ADMKrealiza para sanear o meio?
ix. Existem actividades que a ADMK realiza junto com a comunidade para o saneamento
do meio?
x. Existem programas de educação ambiental já implementados a nível local?
xi. Quando a comunidade tem uma reclamação a fazer ligadas as condições ambientais
recorrem a quem?
Apêndice D: Guião de Entrevista à Comunidade
i. Quantos agregados familiares tem na familia?
ii. A quanto tempo vive no DMK?
iii. Faz uma descrição de antes e depois do DMK
iv. Onde deita o lixo?Porque?
v. Quemrecolhe?
vi. Tem acesso a água potável? Se sim, Como?
vii. Como faz para pôr limpo o ambiente em que vive?
58
viii. Que tipo de latrina usa?Para que fins usa?
ix. Para onde vai o esgoto que resulta das actividades domésticas realizadas?
x. Sabe dizer quantas infraestuturas sanitárias tem o DMK? Se sim, Como estão
distribuidas?
xi. Quais são os principais problemas que enfretam no dia-a-dia ligadas a condições
ambientais, que acham que interfere directamente na qualidade de vida da comunidade?
xii. Como é que surgem esses problemas?
xiii. Como fazem para solucionar?
Apêndice E - Inquéritos
Inquéritos à Comunidade:
Características sócias, económicas e demográficas
I. Genero? M F
II. Faixaetária:
i. Menor de 18
ii. 18-25 anos
iii. 26-35 anos
iv. 35-45 anos
v. Maior de 45 anos
III. Estado Civil
i. Solteiro (a)
ii. Casado(a)
iii. Outro (mecione)
IV. Tamanho do agregado familiar?
V. Nível de escolaridade
59
i. Primário
ii. Secundário
iii. Superior
VI. Na família usam a latrina
i. Sim, Porquê?
ii. Não, porquê?
a) Têm notado algum benefício ?
Sim, Qual?
Não.
VII. Para que fins usa?
i. Para armazenar os esgotos sanitários
ii. Tratamento dos esgotos
iii. Outro (mecione)
VIII. Sabia que a latrina é uma infaestrutura sanitária que ajuda na salubridade ambiental
e na saude da famliia?
i. Sim
ii. Não
IX. Caso sim, o que sabe sobre isso?
60
X. Onde depositam o lixo?
i. Contetor
ii. Enterramos no quintal
iii. Valas
iv. Na rua
v. Armazenamos nos sacos depois da-se um destino
a) Comente a respeito
XI. Têm realizado jornadas de limpeza no bairro?
i. Sim
ii. Não
XII. Quem tem realizado jornadas de limpeza no bairro?
i. A comunidade
ii. Conselho Municipal
iii. Outros (mecione)
XIII. Tem acesso a água potável?
i. Sim
ii. Não
XIV. Caso tenha, de que forma?
i. É canalizada até ao meu local de residência
ii. Através de
iii. Através de furos
61
iv. Através dum poço
v. Outros. Mencione
XV. Quais são os principais problemas que enfretam no bairro, que acham que interfere
directamente na qualidade de vida da comunidade?
XVI. Assinale somente os “intervenientes chaves” do processo de saneamento em áreass
urbanas
iv. AIAS
v. FIPAG
vi. MOPH
vii. DNA
viii. GAS
ix. Comunidade
Inquérito Dirigido À Aias:
I. Quantas infra-estruturas sanitárias tem o distrito municipal kamaxaquene?
i. Mais de 5
ii. Mais de 10
iii. Outro (mecione)
62
II. Como classifica o saneamento do meio no DMK?
i. Bom
ii. Máu
iii. Razoável
a) Comente a respeito
III. Qual o principal problema ligado as condições ambientais que tem ocorrido no
DMK?
i. Problemas de acúmlo de resíduos sólidos nas ruas
ii. Cheias urbanas
iii. Outro (mecione)?
a) Comente sobre as principais causas desse (s) problema (s):
IV. Assinale somente os “intervenientes chave” do processo de saneamento em áreass
urbanas
x. AIAS
xi. FIPAG
xii. MOPH
xiii. DNA
xiv. GAS
xv. Comunidade
Recommended