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Trabalho debora
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Índice
Introdução .... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . pág. 3
o Apoio Textual ................................................................... pág. 3
o Estrutura .......................................................................... pág. 4
o Razão da Escolha ........................................................... pág. 5
Evolução Humana (1ºPeríodo) ... . . pág.6 ‒ 31
Contextualização ....... . . . . . . ............ ............... ..... pág.7
Biografia de Christopher McDougal .................. pág. 8
Resumo de “Nascidos para Correr” ........... ...... pág. 10
A Tribo Tarahumara ............................. ......... . pág. 12
Evolução do ser humano .......... ........ .............. pág. 15
Homo Sapiens vs Homem de Neandertal ......... pág. 22
Doenças e Corrida no Séc. XXI ....... . . . . . . . . . ...... pág. 26
Conclusão ....... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .............. .... .. pág. 28
Bibliografia ....................... .................... ........ pág. 30
Webgrafia ...................... ................... ......... ... pág. 30
Ténis: Vantagem ou Lucro? (2ºPeríodo)
... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . pág.32 ‒ 57
Contextualização ....... . . . . . . . . . . . . . . . .............. ....... pág. 33
Metodologia ................................................. pág. 34
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Ténis por detrás de doenças? ......................... pág. 36
Os melhores ténis de todos ‒ Nenhuns ........... pág. 37
o Os melhores ténis são os piores ......................... pág. 41
o Os pés gostam do Impacto ................................. pág. 42
o Fomos concebidos para Correr sem ténis .......... pág. 44
A História da Nike e dos Ténis ............. ......... pág. 47
Conclusão ....... . . . . . . . . . . . . . ................................ pág. 53
Bibliografia ....... . .......................... ................. pág. 56
Webgrafia ......................................... ............ pág. 56
Vídeos do Youtube ........ . ..... ................. ......... pág. 57
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Introdução
Ao longo dos três períodos irei-me debruçar sobre o conteúdos e
informações presentes neste livro, aprofundando-os com recurso a outras
fontes, tais como a Internet.
Apoio textual
Este livro baseia-se no relato verídico de Christopher McDougall,
actual director da Men’s Health, acerca das suas aventuras e encontros com
uma tribo mexicana, os Tarahumara, residentes nas “Barrancas del Cobre”
(Ravinas do Cobre). Os Tarahumara são uma tribo isolada do resto do
mundo, permanecendo com os seus costumes, sendo ainda designados por
super-atletas. Esta designação relaciona-se com o facto de correrem a
velocidades extremamente rápidas, durante períodos de tempo e distâncias
disparatadamente grandes, sem muito esforço da sua parte. Em média, os
indivíduos da tribo corriam, sem parar, entre os 400 e 500 km. Os seus jogos,
um deles semelhante ao futebol, chegava a durar 24 horas, por vezes até 48
horas, sem descanso, apenas com comida a ser-lhes dada pelas suas
mulheres ao mesmo tempo que prosseguiam a perseguição à bola.
No livro “Nascidos para correr”, o autor conta, não só o passado da
tribo e os seus feitos, como também a sua própria história, a história de
outros ultra-maratonistas que viriam a competir com os Tarahumara, a
história da evolução dos ténis, e os problemas daí adjacentes, a possível
teoria acerca da extinção do Neandertal e a nossa evolução, bem como a
tese que os humanos terão sido feitos para correr, não apenas uns
quilómetros, mas sim, por mais absurdo que pareça, distâncias semelhantes
às percorridas pelos Tarahumara, entre outros.
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Estrutura
O meu trabalho irá dividir-se em três projectos inter-relacionados, que
no final do 3º Período, se deverão encontrar e consolidar num só projecto.
Assim temos:
1º Período A evolução, e suas possíveis razões, do Homo sapiens; as causas da extinção do Neandertal (tudo isto relacionado com a teoria exposta no livro “Nascidos para correr”); solução para as doenças do século XXI.
2ºPeríodo História por detrás do aparecimento dos primeiros ténis, e da consolidação da marca Nike; as consequências aderentes ao abandono dos pés descalços pela utilização de sapatos, sobretudo no que toca à corrida; soluções para esse dilema.
3ºPeríodo Relação entre os trabalhos do 1 e 2ºPeríodos com a tribo Tarahumara referida no livro “Nascidos para morrer”; soluções e conclusões acerca do passado Humano saudável e de um presente e futuro cada vez mais degradante e problemático para a saúde da população.
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Razão de Escolha
Eu escolhi relatar os assuntos retratados no livro “Nascidos para
correr” porque achei deveras interessantes e controversos os aspectos
discutidos. Para além disso estes eram facilmente relacionados e pertinentes
à disciplina de Educação física.
Eu decidi aproveitar as três dimensões propostas para os trabalho de
grupo, e inserir o meu próprio trabalho em todas estas. Assim, dependendo
das temáticas estudadas, tratarei, em cada período, as seguintes dimensões:
1º Período ‒ Neste será apenas aproveitada a dimensão social. A
evolução do ser humano, e aquilo que hoje somos, são assuntos que
claramente têm o seu interesse, não só em termos científicos, como
também social.
2º Período ‒ Neste irão ser utilizados aspectos correlacionados com as
dimensões organizacional e ética. Na dimensão organizacional
podemos salientar o uso dos ténis como suposta vantagem na prática
dos desportos, o que acaba por nos guiar para a dimensão ética com
as fraudes que as grandes empresas como a Nike fazem ao
anunciarem que com os novos ténis de 160 euros os problemas nos
pés, costas, joelhos deixam de ser incómodo. Isto não é, contudo, o
que acontece, visto que estes até pioram o problema, e que andar
descalço é a melhor solução.
3ºPeríodo ‒ Neste período será dada mais relevância à dimensão
social devido à relação realizada entre os trabalhos já feitos e a tribo
Tarahumara, bem como às soluções para problemas deste século que
assolam a nossa sociedade.
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Contextualização
Neste Período irei assim elaborar a parte do trabalho correspondente a
uma possível teoria da evolução do Homo sapiens e da extinção do
Neandertal, a qual se baseia no princípio que nós fomos feitos para correr, e
não apenas alguns quilómetros, os Humanos nascem para correr diariamente
duas, três, quatro maratonas. Por mais absurdo que isto pareça, existem
inúmeras provas cientificas que o confirmam. E então porque é que, por
exemplo, nas aulas de Educação física, quando mandados correr 15 minutos
seguidos, a maioria dos alunos acaba estafada? Como é que fomos feitos
para correr 160 km se nem 10 km conseguimos? Todas essas questões e
muitas outras serão respondidas ao longo deste trabalho. Ainda neste
Período deverá ser dirigido o problema das doenças do século XXI
(obesidade, diabetes, cancro, etc.), o que as poderá causar e a sua solução
enquanto relacionadas com a primeira temática discutida.
Este trabalho irá ser iniciado (não contando com a introdução), com
uma pequena biografia de Christopher McDougall, seguida de um resumo do
livro “Nascidos para correr” e informação acerca da tribo Tarahumara como
forma de se inserir o leitor no tema a ser futuramente discutido. De seguida
será exposta a teoria da evolução e todas as conclusões que se foram
retirando, tal como todos aqueles que participaram para a enunciação desta e
os factos que a suportam. Em último deverão ser tratados todos os
problemas deste século, a sua possível e simples solução, e como é que
estes se relacionam com a nossa evolução e extinção do Homem de
Neandertal.
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Biografia de Christopher McDougall
Christopher McDougall nasceu em 1952. Fez os seus anos de escola
secundária em Filadélfia, sendo um jogador de basquetebol, como ele próprio
afirma, medíocre. Acabou por ir para a Universidade de Harvard, aspecto
este que mais tarde lhe veio a proporcionar uma entrevista de trabalho com
Susan Linnee, chefe do Departamento da Associated Press em Madrid.
McDougall foi assim contratado como correspondente da Associated Press
em Lisboa, embora não falasse nada de português e de nunca ter escrito
uma notícia em toda a sua vida. Logo no primeiro dia de trabalho começou a
guerra civil em Angola, o que o obrigou a constantes deslocações à ex-
colónia portuguesa. Pelo facto de ser pouco qualificado acabou por ter que
ser ensinado por Susan, passando os seguintes anos a viajar entre Portugal
e África, cobrindo não só a guerra de Angola, como também a guerra no
Congo e o genocídio na Ruanda. Pelo facto de a sua escrita estar bastante
confinada para um certo “tamanho e espaço”, McDougall desistiu do seu
trabalho na AP, regressando para os Estados Unidos e para a escrita de
artigos de revista.
Na revista “outside” foi mandado para o mar Norte para experimentar
uma antiga tradição Escocesa de rugby sem regras; no “New York Times
Magazine” foi contratado para localizar uma fugitiva mexicana, também uma
estrela pop, denominada Gloria Trevi (experiência que o levou a escrever o
seu primeiro livro “Girl Trouble”); na revista “New York” escreveu uma notícia
sobre a razão pela qual a América ainda não tinha sido vítima de outro
ataque terrorista desde o 11 de Setembro.
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Actualmente é o editor da men’s Health, tendo enormíssima liberdade
para escrever sobre inúmeros assuntos, entre os quais os Tarahumara.
Christopher já foi três vezes finalista do National Magazine Award.
Este encontra-se a escrever outro livro que segundo o mesmo tem
tanto potencial como “Nascidos para Correr”. Para além disso continua a
correr descalço na sua casa na Pensilvânia, onde vive com a sua mulher e
duas filhas.
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Resumo de “Nascidos para Correr”
Cheio de personagens incríveis, performances atléticas assombrosas
e ciência vanguardista, “Nascidos para Correr” é uma aventura épica que
começou com uma simples pergunta pela parte do jornalista e corredor
Christopher : “Porque é que o meu pé me dói?”.
A sua resposta conduz-nos a séculos atrás e traz-nos às fronteiras de
revelações cujos segredos são tão velhas como os nossos genes.
À procura dessa mesma resposta, Christopher McDougall parte para
encontrar uma tribo dos melhores corredores de distância do mundo e
aprender os seus segredos, mostrando-nos estes que tudo o que pensámos
saber sobre a corrida está errado.
Isolados pelo terreno mais selvagem na América Central,
os Índios Tarahumara residentes nas mortais Ravinas de Cobre
no México são zeladores de uma arte perdida. Durante séculos
estes praticaram técnicas que lhes permitem correr centenas de
quilómetros sem descanso e apreciando cada milha percorrida
com um sorriso na cara. O seu talento sobre-humano é combinado
por uma saúde perfeita e serenidade, deixando o Tarahumara
imune às doenças que atingem a existência moderna. Com a
ajuda de Caballo Blanco, um ocidental solitário misterioso,
outrora lutador de box, que vive entre a tribo, o autor foi capaz, não só de
descobrir os segredos dos Tarahumara, como também de encontrar o seu
Img.1- Tarahumara
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próprio “ultra-maratonista interior”, através da preparação para o desafio de
uma vida: uma corrida de 93 quilómetros pelas entranhas das Terras dos
Tarahumara, que coloca alguns elementos da tribo a competir contra um
grupo pouco normal de Americanos, inclusive um ultra-maratonista famoso
(Scott Jurek), um surfista jovem e uma universitária (Billy Barnett e Jenn
Shelton), uma maravilha descalça (Ted McDonald), um fotógrafo e corredor
experiente (Luís Escobar) e ainda o próprio Christopher McDougall com o
homem que o treinou na corrida, Eric Orton.
“Born to Run is much more than a book about running shoes. In fact, the bulk
of McDougall's diatribe against the shoe industry occurs in just one chapter
(Chapter 25 to be exact). Born to Run is more a book about the love of
running - it is a book about regaining the joy that running can bring to your life,
and about why running is more than just a way to keep your weight down and
your muscles toned. It is a book about why we all should run, and why those
of us who enjoy running what many consider to be insane distances love
doing so. It is a book about why running is a part of our history as a species,
and why running is truly a gift that was bestowed upon us as human beings....
What makes this book such a thoroughly enjoyable read is that McDougall is
a fantastic storyteller and a great researcher. He shifts with ease from
recounting his harrowing adventures in the Copper Canyons, to the antics and
life stories of his running companions, to discussing the perils of running
shoes and the evolution of running in humans (which, as an evolutionary
biologist, is one of my favorite parts of the book)."
Peter Larson, professor de biologia e corredor.
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A tribo Tarahumara
Os Tarahumara, que se chamam os Rarámuri, e que vivem em e
acima das Ravinas da Serra Madre Ocidental do México do noroeste, onde
eles se retiraram há cinco séculos, após a invasão dos espanhóis. Os
espanhóis não tinham só armas de fogo e cavalos como também uma barba
perturbadora; da sua presença veio a palavra Rarámuri chabochi, que até
este dia significa alguém que não é Tarahumara. O Chabochi não é um
insulto, é somente um modo de dividir o mundo.
Existem actualmente, aproximadamente 50,000 Tarahumara.
Os Tarahumara são um povo reservado e privado que vive a longas
distâncias entre si, em casas de madeira ou cavernas. Estes vivem assim em
pequenos grupos isolados com a maioria da população concentrada nas
Ravinas de Cobre.
Eles fazem uma bebida alcoólica do grão, que eles cultivam em
pequenos campos que aram à mão. Contudo, a sua comida mais comum é
Pinole, um pó do grão torrado. A carne é raramente comida mas em ocasiões
especiais eles comem cabra, ratos e peixe.
A sua economia tradicional é baseada no comércio de troca, e não em
dinheiro. Os Tarahumara têm uma palavra para partilhar que não se traduz
nem em inglês nem em espanhol: ‘kórima’.
Os Tarahumara são também muito distintos socialmente. A sua cultura
e sociedade modificaram-se muito pouco quando comparadas com o que
decorria há aproximadamente seis séculos atrás. Os Tarahumara são um
povo muito tímido, sensível e isolado, até dentro da sua própria casa. Os
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membros de família só falam entre si quando absolutamente necessário e
não é permitido aos maridos verem as suas mulheres despidas, a menos em
situações em que é estritamente necessário.
A sua crença mais importante que permaneceu inalterada durante os
anos é que o Deus é o sol, a sua esposa é a lua, e o Diabo é o pai de todos
os não índios.
Os Tarahumara não têm nenhum hábito de sono
regular, indo dormir sempre que eles estejam cansados e
sintam que precisam de descanso.
A prática do parto é também algo distinto nos
Tarahumara. Quando uma mulher sente que está na altura
para ela dar luz ao bebé, esta dirige-se sozinha para a
floresta posicionando-se entre duas árvores onde tenta ter
o bebé de forma segura. Há uma taxa de mortalidade
infantil muito alta entre os Tarahumara. Este facto é contrabalançado pelo
facto de haver também uma taxa de nascimento muito alta. As mulheres
Tarahumara dão à luz, em média, a aproximadamente dez bebés,
sobrevivendo normalmente apenas três ou quatro até à idade adulta.
Eles são corredores de uma paciência extraordinária; o Rarámuri
significa 'o corredor de pé' ou 'ele que anda bem,' e é-se conhecido que eles
irritam ultra-maratonistas americanos por os vencerem usando apenas umas
sandálias e parando de vez em quando para fumarem. Para esses índios, a
corrida é mais do que um desporto, a corrida é literalmente a sua vida. Os
Tarahumara vivem em terras nas quais é impossível viajar a cavalo, sendo
por isso necessário que estes viajem a pé, optando eles pela corrida já que
este é o meio de transporte mais rápido. A corrida é então utilizada para
Img.2- Tarahumara em trajes tradicionais
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executar tarefas diárias, sendo bastante comum para os Tarahumara
correrem 100 quilómetros no seu dia-a-dia.
A corrida desta tribo é uma corrida de paciência, facto comprovado
através das suas práticas de caça. Para caçar pequenos animais , os
Tarahumara perseguem simplesmente estes até que os animais se esgotem
completamente e caiam de exaustão. Dale Groom, M.D. afirma que
"Provavelmente não desde os dias dos Espartanos da Antiguidade existe um
povo que tenha alcançado tão alto estado do condicionamento físico."
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Evolução do ser humano
Há um pouco mais de 20 anos atrás, num laboratório de cave, um
jovem estudante de licenciatura na Universidade do Utah denominado de
David Carrier, “fitou um cadáver e viu o destino a fitá-lo a ele”.
Este encontrava-se intrigado por uma carcaça de coelho, tentando
compreender o que se passava com aquelas ‘peças’ de osso mesmo por
cima do rabo do animal, peças essas que não deveriam de ali estar. David
era o melhor aluno da turma de biologia evolutiva do Professor Dennis
Bramble, sabendo por isso exactamente o que é de supor que se encontre ao
abrir o abdómen de um mamífero. É suposto então encontrar os músculos da
barriga que precisam de se suportar em algo robusto, ligando-se assim às
vértebras lombares. É assim com todos os mamíferos, excepto com aquele
tipo de coelho, cujos músculos da barriga, em vez de se agarrarem a algo
resistente, encontravam-se ligados a umas peças de osso de aspecto frágil e
ligeiramente elásticas. Mas então porque é que um coelho haveria de
precisar de “uma barriga com molas”? A esta questão o próprio Carrier terá
respondido: “Pus-me a pensar no que eles fazem quando correm , na
maneira como dobram as costas a cada passada galopante. Quando saltam
sobre as patas traseiras, esticam as costas, e assim que aterram nas patas
dianteiras, as costas dobram-se dorsalmente. Inúmeros mamíferos dobram
os corpos como navalhas da mesma forma. Pense-se no movimento de uma
chita aos ziguezagues. É o exemplo clássico.”
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Assim, os grandes felinos e pequenos coelhos correm da mesma
maneira, mas um têm as “peças de osso” que outros não têm. Uns são
rápidos, contudo outros têm que ser ainda mais rápidos devido a uma razão,
a Economia básica. Ora, se os leões comessem todos os coelhos, deixaria
de haver coelhos e, mais cedo ou mais tarde, os próprios leões deixariam de
existir. Mas os coelhos, ao contrário dos restantes animais corredores, não
nascem com nenhuma “artilharia de reserva”. Estes não têm chifres, nem
cornos, nem cascos, nem mandíbulas poderosas. Por isso, para os coelhos,
a corrida é tudo, porque ou fogem para a segurança, ou tornam-se
literalmente alimento. Então David terá concluído que, por qualquer
mecanismo, a “peça de osso” estará relacionada com velocidade. Após tentar
enumerar o que tornava um animal veloz, Carrier chegou à conclusão que
estava num beco sem saída, já que são imensos os factores que contribuem
para a velocidade, partilhando os coelhos a maioria deles com os seus
predadores. Mas em vez de perceber no que eram diferentes, estava a achar
como eram parecidos. Foi então que experimentou um truque que o
Dr.Bramble lhe havia ensinado, o qual consistia em, quando face a uma
pergunta que não se consegue responder, inverte-se esta. A pergunta de
David passou então a ser, não o que dava velocidade a um animal, mas sim
o que é que o fazia abrandar. E a essa questão ele soube responder, porque
a maneira mais fácil de fazer parar um mamífero em alta velocidade é cortar-
lhe o fôlego. Os músculos necessitam de oxigénio para queimar calorias e as
converter em energia, logo, quanto melhor for a troca de gases, mais tempo
se consegue suster uma velocidade máxima.
Assim, para um coelho ficar “um salto à frente” do seu predador,
precisaria de um pouco mais de ar que o mamífero que o perseguia. As
“peças de osso” serviriam então como alavancas, impulsionando o
enchimento e esvaziamento dos pulmões. E, enquanto os coelhos podem
chegar aos 70 km/h, mantendo essa velocidade apenas durante 800 metros,
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os pumas, coiotes e raposas conseguem percorrer distâncias muito maiores,
não passando no entanto dos 65 km/h. Então as “peças de osso” darão cerca
de 45 segundos aos coelhos para se refugiarem.
David Carrier começou então e chegar a outra conclusão. Sem essas
“peças de osso”, os coelhos são iguais a todos os outros mamíferos, e talvez
fosse por isso que os seus diafragmas se ‘engachavam’ nas vértebras
lombares, não por estas serem duras, mas porque estas se flectiam. De
acordo com David “Parecia óbvio que quando o animal se lançava em frente
e estendia as costas, não era só para ganhar impulso, era também para
respirar. Imagina um antílope a correr pela vida numa savana, perseguido por
uma chita. À medida que a chita se estica ao comprido para uma passada as
suas costelas são puxadas para trás, inspirando ar para os pulmões. Em
seguida as penas dianteiras regridem até as patas da frente e as de trás se
tocarem. A espinha da chita curva-se, espremendo a cavidade torácica e
esvaziando os pulmões de ar. Ar! Os nossos corpos servem sobretudo para
aspirar ar”.
E Carrier não ficou por aí, concluindo depois que aspirar poderá ter
determinado a forma como ficámos com os nossos corpos. O maior mistério
da evolução humana estaria assim resolvido se David tivesse razão. Antes
deste, ninguém havia conseguido explicar porque é que os seres humanos se
haviam separado de todos os outros animais, erguendo-se do chão, mas
segundo esse jovem cientistas a resposta seria: “Para respirar! Para abrir as
gargantas, inflar os peitos e inspirar melhor do que qualquer outra criatura no
planeta”.
E mais uma vez, esta resposta de David conduziu-o a uma nova
teoria. Porque a verdade é que quanto melhor se respira, Carrier concluiu,
melhor se é a correr.
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Com todas estas teorias, David explicou tudo ao seu professor,
Bramble. Este reagiu mal à ideia, dizendo na altura: “David, as espécies
evoluem de acordo com aquilo em que são boas, não com aquilo em que são
más. E, como corredores, os seres humanos não são apenas maus ‒ são
péssimos. Nem é preciso falar em biologia. Basta olhar para carros e motos.
Quatro rodas são mais rápidas que duas, porque assim que nos erguemos
perdemos propulsão, estabilidade e aerodinâmica. Agora transfere este
design para animais. Um tigre tem três metros de comprimento e a forma de
um míssil. É o formula 1 da selva, enquanto que os seres humanos têm de ir
devagarinho com as suas pernas magras e miserável resistência ao vento”.
No entanto Carrier terá explicado que se isso fosse verdade, então o
homem terá estragado tudo quando se ergueu dos nós dos dedos, já que
perdeu velocidade pura e força no tronco. Mas porque é que o homem iria
perder velocidade e força ao mesmo tempo? Isso iria deixa-lo incapaz de
correr e de lutar, conduzindo-o à sua extinção, o que obviamente não
aconteceu. De certo que o Homem ganhou com a sua evolução uma outra
vantagem, porque é impensável uma criatura evoluir para uma outra mais
fraca. Esse é o oposto da noção de evolução.
Bramble terá ficado sem argumentos face à
teoria de David, lembrando-se que deveria haver
uma verdade qualquer nessas ideias já que o
Homem de Neandertal (espécie paralela ao Homo
sapiens que já se encontrava na Europa 200 mil
anos antes destes chegarem), ser que era tudo o
que nós não éramos, mais forte, mais esperto, com
osso mais rijo e maior resistência ao frio, acabou
por se extinguir, enquanto que a espécie supostamente mais fraca
sobreviveu.
Img.3- Homens de Neandertal
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Bramble terá então ele próprio começado a procurar factos que
suportassem a teoria de David, recorrendo para isso aos ossos. Segundo
este: “No início, estava muito desconfiado do David, pela mesma razão que a
maioria dos morfologistas o estariam. A morfologia é essencialmente a
ciência da desconstrução; olha para como um corpo está montado e tenta
compreender como é que deve funcionar. Os morfologistas sabem pelo que
procurar numa máquina veloz, e o corpo humano não cumpre os requisitos
de forma alguma. Basta olhar para os nossos rabos para perceber isso. Em
toda a história dos vertebrados na Terra os seres humanos são o único
bípede corredor que não tem cauda. Correr é apenas uma queda controlada,
portanto como é que se pode conduzir e evitar um espalhanço de cara sem
um leme, como a cauda de um canguru? Foi isso que me levou a rejeitar a
ideia de que os seres humanos evoluíram como animais corredores. E teria
aceitado essa historia e continuado a ser um céptico se não fosse também
formado em paleontologia. Em vez de olhar para uma lista convencional,
como faz a maioria dos morfologistas, anotando as coisas que esperava
encontrar, comecei a focar-me nas anomalias. Por outras palavras, o que é
que não devia de lá estar?”
Este dividiu assim o reino animal em duas categorias: os corredores e
os caminhantes. Os corredores incluíam cavalos e cães, enquanto que os
caminhantes incluíam os porcos e chimpanzés. Se os seres humanos haviam
sido concebidos para caminhar na maioria do tempo e correr só em
emergências, as nossas partes mecânicas deviam ser muito parecidas com
as de outros caminhantes. Contudo, estas duas espécies não partilham o
tendão de Aquiles, que liga a barriga da perna ao calcanhar, tendo-a o
humano e não o chimpanzé. Nós temos para além disso, pés muito
diferentes; enquanto que os nossos são arqueados, os deles são achatados.
Os nossos dedos são curtos e direitos, o que ajuda a correr, os dos
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chimpanzés são longos e afastados, muito melhores para caminhar. E os
nossos rabos, formados por um glúteus maximus volumoso, por contraste
com os chimpanzés que praticamente não têm nada. E ainda um tendão por
detrás da cabeça pouco conhecido, chamado de ligamento nucal, e
característico dos seres humanos. Contudo, nem os porcos, nem os
chimpanzés o possuem. Pelo contrário, o ligamento nucal é prevalente nos
cavalos e cães. Ora, esta última informação era sobretudo estranha, visto
que a única função desse ligamento era a de estabilizar a cabeça aquando
uma movimentação rápida, não precisando por isso, um caminhante desse
ligamento. Rabos grandes só são necessários para correr. Da mesma forma,
o tendão de Aquiles não serve para nada a caminhar. Então porque é que o
Homem terá adquirido todas estas estruturas e os outros caminhantes não?
Para um animal caminhante, o tendão de Aquiles seria apenas uma
desvantagem, já que o movimento sobre duas pernas é muito semelhante a
caminhar sobre andas, o que se tornaria ainda mais complicado se a base
fosse elástica. Foi quando o Dr.Bramble se apercebeu que o nosso tendão de
Aquiles era como um elástico, que este compreendeu que havia dois tipos de
grandes corredores: sprinters e maratonistas. A corrida humana seria então
dedicada para correr muito, e não depressa. Isso explicaria também a razão
pela qual as pernas humanas têm uma densidade elevada de tendões
flexíveis uma vez que estes acumulam e devolvem energia. Quanto mais se
puxa o elástico, isto é, os tendões, mais energia se liberta quando a perna se
estende e gira para trás. “Então esqueçam a velocidade; talvez tenhamos
nascido para sermos os maiores maratonistas do mundo.”, afirmava o
professor de biologia.
Juntos, Bramble e Carrier, começaram a testar essa sua teoria do
“Maior Maratonista do Mundo”. As provas apareciam por todo o lado, no
entanto, a primeira grande descoberta terá sido acidental.
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David terá posto lagartos numa passadeira, observando que esses
eram incapazes de correr e respirar ao mesmo tempo. O mais que
conseguem são uns passos rápidos antes de pararem ofegantes. O
Dr.Bramble, entretanto, trabalhava com os grandes felinos. Este descobriu
que muitos quadrúpedes, ao correr, fazem os seus órgãos internos oscilar
para trás e para a frente. Sempre que as patas dianteiras de uma chita tocam
no chão, os seus intestinos chegam-se à frente e batem-lhes nos pulmões,
expelindo ar. Quando se estica para a passada seguinte, as suas entranhas
deslizam para trás, aspirando ar. Contudo, acrescentar esse impulso extra à
força dos pulmões tem as suas consequências, limitando as chitas a apenas
uma inspiração por passada. E a verdade é que todos os mamíferos estavam
restritos a esse ciclo de dar um passo e inspirar uma vez. Em todo o mundo,
a única excepção que os dois cientistas encontraram, fomos nós. Os
humanos, em vez de terem uma inspiração por locomoção, podem escolher
uma série de rácios, preferindo duas inspirações por passada. O motivo
pelo qual temos liberdade para respirar à nossa vontade é o mesmo pelo qual
precisamos de tomar um duche num dia de Verão, ou seja, somos os únicos
animais que se libertam do calor através do suor. Todas as criaturas cobertas
por pêlo arrefecem principalmente pela respiração, o que liga totalmente o
seu sistema de regulação de calor aos pulmões.
Uma equipa de cientistas de Harvard enfiou um termómetro rectal
numa chita, pondo-a a correr numa passadeira. Assim que a temperatura
desta atingiu os 40,5 graus, a chita foi-se abaixo, sendo incapaz de correr
mais. E essa é a resposta natural de todos os mamíferos corredores, já que
estes, quando acumulam calor nos corpos, acima do que conseguem exalar
pela boca, têm de parar, ou então morrem.
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Homo sapiens vs Neandertal
No início da década de 90, Bramble questionava a selecção natural do
Homem. Esta baseava-se um duas coisas: comer e não ser comido. Ora, ser
capaz de correr 50 km não serve de nada se o veado, por exemplo,
desaparecer em 20 segundos e o tigre nos apanhar em menos de 10. Foi por
essa altura que o professor terá conhecido o Dr.Dan Lieberman, numa visita
a Harvard. Os dois terão assim iniciado a procura da resposta ao problema
dos seres humanos serem lento e incapazes de fugir aos predadores.
Estes calculavam que a resposta estaria ligada à nossa cabeça,
realizando Lieberman, nos seguintes anos, diversas experiências. O Dr.Dan
acreditava que as nossas cabeças se haviam expandido ao longo da nossa
evolução, não porque nos tornámos bons a correr, mas que nós havíamos
melhorado a correr porque as nossas cabeças se haviam expandido. Este
dizia que “A nossa cabeça trabalha com os braços para evitar que se torça e
balance a meio da passada. Os braços, entretanto, também servem de
contrapeso para manter a cabeça alinhada. É assim que os bípedes resolvem
o problema de como estabilizar a cabeça com um pescoço móvel. É outra
característica da evolução humana que só faz sentido em termos de corrida”.
Mas o grande mistério continuava a ser a nossa comida. Avaliando
pelo crescimento da nossa cabeça, Lieberman conseguiu indicar
exactamente o momento em que a dieta do homem das cavernas terá
mudado: há cerca de dois milhões de anos, quando teremos evoluído para
Homo erectus, o nosso ancestral com uma grande cabeça e pequenos
dentes incisivos perfeitamente adequados a carne crua e frutos moles. E a
única coisa que poderia ter causado uma mudança tão radical na nossa
estrutura eram doses garantidas de carne, com elevada concentração de
23
calorias, gorduras e proteínas. Lieberman terá dito “O arco e a flecha têm 20
mil anos. A ponta da lança tem 200 mil anos. Mas o Homo erectus já cá
andava há dois milhões de anos. Isso quer dizer que durante a maior parte
da sua existência, os hominídeos arranjavam carne só com as mãos! Talvez
tenhamos pirateado carcaças mortas por outros
predadores, esgueirando-nos para as levar quando o leão
estivesse a dormir? Não, isso não nos daria um acesso
fiável de carne. Talvez não tivéssemos lanças, mas
podíamo-nos atirar a um javali e sufocá-lo, ou então
matá-lo à paulada. Mas isso não pode ser, porque mesmo
que nós ganhasse-mos, de certeza que não sairíamos
ilesos. Bastaria partir um tornozelo em busca do jantar
para passarmos nós a ser o jantar.”
O professor de Harvard terá continuado com este problema, até que
terá finalmente encontrado a sua solução. Esta sua solução encontrava-se na
pergunta levantada ‘Quanto tempo é que levaria a perseguir um animal até à
morte?’.
Um jogger, numa forma razoável, faz em média quatro a três metros
por segundo. Um veado trota a um ritmo praticamente igual, mas quando
este acelera para quatro metros por segundo, tem de se lançar num galope
que exige respirar fundo, enquanto que um ser humano pode correr à mesma
velocidade a ainda estar a fazer jogging. Um veado é muito mais rápido a
sprintar, mas nós somos mais rápidos no jogging, logo, enquanto o animal
em questão já está a entrar em défice de oxigénio, nós ainda mal estamos a
ofegar.
A velocidade máxima de galope da maioria dos cavalos é de 7,7
metros por segundo. Estes podem aguentar esse ritmo por uns dez minutos,
depois têm de abrandar para 5,8 metros por segundo. Mas um maratonista
Img.4- Homo erectus
24
de elite pode correr durante horas a 6 metros por segundo. O cavalo irrompe
logo, mas um humano, com paciência e distância, consegue lentamente
recuperar o atraso. “Nem é preciso ir muito depressa. Basta manter o animal
à vista e, ao fim de dez minutos, estamos a fisgá-lo.”, entendeu Lieberman.
Este tinha à sua frente uma solução para o mistério do homem Corredor.
Para perseguir um antílope até à morte, basta confrontá-lo para que galope
num dia quente: “Se continuarmos suficientemente perto para que ele nos
veja, vai continuar a sprintar por ali fora. Ao cabo de dez ou 15 quilómetros
de corrida, vai sofrer de hipertermia e desmaiar. Conseguimos correr em
condições de que mais nenhum animal é capaz.”
E isto guia-nos para a razão de termos sobrevivido e evoluído,
enquanto que o Homem de Neandertal desapareceu. Ora, os Homens de
Neandertal só comiam carne vinda de ursos, renas e bisontes, repletas de
gordura, de rinocerontes com os seus fígados ricos em ferro, e dos mamutes
com os seus cérebros gigantes e “oleosos”. Estes eram atraídos para
emboscadas, onde lhes caíam em cima os homens de Neandertal com as
suas lanças de dois metros e meio. “Os Homens de Neandertal governaram o
Mundo ‒ até ficar bom tempo”. Há cerca de 45 mil anos, o Longo Inverno terá
terminado, tendo chegado uma frente quente. As florestas começaram a
desaparecer, deixando savanas e selvas. O novo clima era óptimo para o
Homo sapiens, já que as manadas de antílopes (presa preferida)
multiplicavam. Já aos Homens de Neandertal, as suas lanças e as suas
emboscadas em ravinas tornaram-se inúteis contra a corrida dos animais da
pradaria, retirando-se a caça grossa que tanto preferiam para o interior das
florestas restantes. Estes eram espertos e muito fortes, por isso
supostamente deveriam conseguir arranjar uma solução, contudo, o
problemas estava mesmo aí: eram demasiado fortes. Quando as
temperaturas ultrapassam os 32 graus, mais uns quilos de peso fazem muita
25
diferença, tanto que, para manter o equilíbrio térmico, um corredor de 72
quilos perde quase dois minutos por quilómetro para um corredor de 45
quilos. Numa perseguição de duas horas a um veado, o Homo sapiens
deixaria o Neandertal mais de 15 quilómetros para trás. Estes últimos
acabariam então por se extinguir. “O novo mundo era feito para corredores, e
eles não tinham grande jeito para correr”.
Por mais que a teoria encaixasse, a verdade é que não existiam
provas nos ossos uma vez que a caça de perseguição não deixa qualquer
marca nestes. Foi então que David se propôs a encontrar alguém que fosse
capaz de perseguir um animal até à sua morte, sem qualquer sucesso. Só
em 2004, é que Bramble recebeu um telefonema de Louis Lienberg, que se
encontrava no deserto do Kalahari, em África, a conviver com uma tribo, os
bosquímanos, que realizavam a caça de perseguição.
A teoria ficou assim comprovada, embora não tenha encontrado
muitos adeptos.
26
Doenças e Corrida no séc.XXI
Bramble afirma que “O nosso maior talento também criou o monstro
que nos pode destruir. Ao contrário de qualquer outro organismo na história,
os seres humanos têm um conflito entre o corpo e a mente: temos um corpo
construído para a acção, mas um cérebro sempre em busca de eficiência.
Vivemos e morremos pela nossa resistência, mas recordemos que a
resistência tem tudo a ver com a conservação de energia, e isso cabe ao
cérebro. O motivo pelo qual algumas pessoas usam o seu dom genético da
corrida, e outras não, é o facto de o cérebro gostar de pechinchas.”
Durante milhões de anos, os humanos viveram num mundo onde
dependiam das pernas para ter segurança, comida e transporte. Os nossos
ancestrais não poderiam nunca ter a certeza de que não se tornariam em
alimento depois de encontrarem eles próprios alimento. A única forma de
sobreviver era deixar um armazenamento de energia, entrando aí o cérebro.
“O cérebro está sempre a magicar em redução de custos, a tentar obter mais
por menos, conservar energia e tê-la pronta para uma emergência. Temos
esta máquina toda sofisticada, controlada por um piloto a pensar ‘Ok, como é
que ponho este bicho a trabalhar sem gastar combustível?’. Sabemos os dois
como é correr bem, porque nos habituámos a isso. Mas, perdendo o hábito, a
voz mais ruidosa nos nossos ouvidos é o instinto de sobrevivência ancestral
a forçar-nos a descontrair. E aí está uma ironia amarga: a nossa fantástica
resistência deu ao cérebro o alimento de que precisava para crescer, e agora
o cérebro mima-nos a resistência. Vivemos numa cultura que encara o
exercício radical como uma loucura, porque isso é que nos diz o cérebro:
para quê ligar a máquina, se não é preciso?”, explicou Bramble.
No passado da espécie humana, ter um tempo de descanso, sem a
preocupação de ser comido ou de não ter o que comer, era um luxo,
27
portanto, quando havia uma oportunidade para descansar e recuperar, era
aproveitada. Só em tempos recentes é que se inventou a tecnologia que
permite a preguiça como modo de vida. Mas deveria haver algum benefício
para os humanos, já que agora cada caloria que os humanos comessem, iria
para alimentar o cérebro e os corpos, em vez de servir para a corrida de
sobrevivência. Mas, acabou-se, com a tecnologia, por tirar aos nossos
corpos o trabalho que deveriam ter, e por isso está-se a pagar o preço.
Quase todas as doenças do mundo ocidental, como as doenças
cardíacas, diabetes, sincopes, depressão, hipertensão e as diferentes formas
de cancro; eram desconhecidas aos antepassados da espécie humana.
Estes não tinham medicina, tinham antes uma solução simples. Segundo
Dr.Bramble, “Pode-se literalmente acabar com epidemias à partida com um
único remédio. Tão simples. Mexa as pernas. Como não pensa que nasceu
para correr, está não só a negar a sua história, está a negar a sua
identidade”.
Então se talvez se conseguisse inserir nas vidas atarefadas e
stressadas dos humanos, tempo para correr, de preferência descalço; a
sociedade fosse capaz de se afastar das doenças do século XXI.
28
Conclusão
Este trabalho é apenas a primeira das três partes de um projecto final
que deverá ser completado ao longo dos três períodos deste ano lectivo.
Todo este projecto que me propôs a desenvolver, baseia-se no livro
“Nascidos para Correr” de Christopher McDougall.
Neste livro é descrita e analisada uma tribo refugiada nas Ravinas de
Cobre no México, os Tarahumara. Estes são uma tribo de super-corredores
que percorrem distancias de centenas de quilómetros sem parar e descansar,
sempre com um sorriso na face, e sem qualquer necessidade de
aquecimentos ou alongamentos. A tribo Tarahumara torna-se assim na base
para todos os outros tópicos discutidos ao longo do livro. Nesta conclusão
referirei apenas aqueles inseridos no trabalho realizado neste 1ºPeríodo.
Foram então discutidas a evolução da espécie homo sapiens, a
suposta razão para a extinção do Homem de Neandertal, e ainda a causa e
possível solução para as doenças do século XXI.
Segundo a teoria exposta, pensa-se que os humanos terão evoluído
no sentido de respirarem melhor de modo a poderem correr, porque tal como
muitos factos o provam, os Homens estão estruturalmente construídos para
correrem , não rapidamente como as chitas, mas sim por longas distâncias. A
ideia de que nascemos para correr veio depois explicar a extinção do Homem
de Neandertal. Ao contrário do Homo sapiens, este era muito mais forte,
robusto e esperto, alimentando-se de animais de grande porte (ursos,
bisontes, renas). Contudo, com a mudança do clima frio para um clima
quente, esses animais migraram, obrigando o Homem de Neandertal a correr
com o seu grande peso atrás de animais ágeis e rápidos como os antílopes.
29
Ora, estes eram incapazes de correr, ao invés dos nossos antepassados,
cuja vocação era correr, perseguindo as vitimas até que estas caíssem de
exaustão. Poderá ter sido essa a razão pela qual nós sobrevivemos e o
Homem de Neandertal não.
Embora tenhamos nascido para correr com um corpo adaptado para
tal, possuímos também um cérebro sempre em busca de eficiência e de
modos de reduzir a energia gasta. Daí que, com a invenção de todas as
tecnologias, o nosso cérebro nos “obrigue” a preferir o estilo de vida
preguiçoso e menos dispendioso energeticamente, ao invés do estilo de vida
de corrida. No entanto, isto traz inúmeras consequências já que o humano
não foi feito para ficar sentado no sofá 12 horas por dia. Talvez por isso no
século XXI, com enormes e variadas descobertas na área cientifica e
tecnológica, diversas doenças tenham começado a aparecer ou a aumentar
de indivíduos afectados. Então, para curar e prevenir os cancros, a
obesidade, os diabetes, etc., a solução tão simples que é correr distâncias
longas pudesse ser a resposta. E ainda que não haja tempo para correr 30
ou 50 km por dia, é melhor que se comece a tentar, porque na minha opinião,
é muito melhor cansar-se enormemente a correr e ter menos tempo para
realizar outros passatempos, do que morrer dolorosamente por se ter sido
preguiçoso.
30
Bibliografia
MCDOUGALL, Christopher.(2010). Nascidos para Correr. Alfragide:
LeYa.
Webgrafia
http://chrismcdougall.com/book.html
http://chrismcdougall.com/barefoot.html
http://chrismcdougall.com/photo.html
http://chrismcdougall.com/bio.html
http://en.wikipedia.org/wiki/Christopher_McDougall
http://barefootted.com/2009/03/born-to-run-by-christopher-
mcdougall.html
http://health.usnews.com/health-news/blogs/on-
fitness/2009/04/28/born-to-run-christopher-mcdougall-says-humans-
evolved-to-run-like-the-tarahumara.html
http://en.wikipedia.org/wiki/Tarahumara
31
http://allwedoisrun.com/tarahumara.htm
http://www.caballoblanco.com/2006springresults.html
http://www.lehigh.edu/dmd1/art.html
http://ngm.nationalgeographic.com/2008/11/tarahumara-
people/gorney-text
http://www.unews.utah.edu/p/?r=012710-3
32
33
Contextualização
Nesta divisão do trabalho, integrada no segundo período escolar, irei-
me incidir sobre a controvérsia dos ténis: Vantagem ou Lucro?
Será então que os ténis foram criados para nos dar vantagens
enquanto corredores, por exemplo, ou terá apenas sido este o intuito inicial
que depressa terá passado para o objectivo de ganhar a maior quantidade
possível de dinheiro? Porque, como se irá mais à frente discutir, quanto mais
custar um par de ténis, provavelmente piores estes serão. Para quê então pô-
los à venda no mercado comercial? Porque grandes companhias como a
Nike e Adidas visam ter lucro, por isso quanto mais tecnológico um ténis for,
mais caro será e mais pessoas irão comprá-lo.
Esta parte do trabalho irá-se assim focar no desenvolvimento dos
ténis, na oportunidade das grandes empresas, sobretudo a Nike, em ganhar
dinheiro com esse tipo de equipamento, a relação entre as lesões e o uso
dos ténis, e ainda as possíveis soluções para combater as lesões provocadas
pela corrida.
34
Metodologia
Nesta parte do trabalho serão utilizadas como fontes, o livro “Nascidos
para Correr”, visto que é ponto de foco de todo o projecto, e sites que
deverão ser expostos na webgrafia. Estes últimos servirão apenas para
retirar informação complementar acerca dos aspectos específicos, como a
história da Nike e algumas citações ditas por cientistas ou homens ligados a
essa indústria de fabrico de ténis.
No livro deverão ser apenas usadas as informações que não se
encontram directamente relacionadas com a linha de acção principal, e que
contêm palavras como ténis, Nike ou lesões.
Já nos sites, estes deverão ser seleccionados tendo como critério a
língua, uma vez que prefiro sites em inglês, bem como a fidedignidade,
devendo ser utilizados aqueles que foram criados pelas personagens
verídicas do livro (Christopher McDougall, entre outros), e por outras
identidades vistas como de confiança. Dentro dos sites, a informação será
escolhida através de palavras-chave, como Nike, ténis, lesões na corrida, five
fingers, etc. Estas mesmas palavras e expressões servirão também para
serem usadas no motor de busca de selecção, neste caso o Google, de
modo a encontrar os sites que só depois é que ficarão à mercê dos critérios
acima já referidos.
35
Toda a informação seleccionada será então resumida e colocada sob
as minhas palavras.
O trabalho final será exposto no site www.issuu.com, o qual permite a
apresentação de documentos de forma a se assemelharem a um livro
electrónico. Este terá sido escolhido devido ao facto o trabalho ser baseado
também num livro, logo, porque não o trabalho aparentar também sê-lo?
Imagem nº5 – Emblema do site da issu com hiperligação ao mesmo
36
Ténis por detrás de doenças?
As Sapatilhas de corrida podem bem ser a força mais destrutiva de
sempre a atingir o pé humano. E esta expressão não foi formulada a partir de
meras crenças, pois o Dr. Daniel Lieberman, professor de antropologia
biológica na Universidade de Harvard afirmava também que: “Muitas das
lesões nos pés e nos joelhos que actualmente nos atormentam devem-se na
verdade ao facto de as pessoas correrem com sapatos que lhes enfraquecem
os pés, obrigando-as a exagerar a pronação, o que causa problemas nos
joelhos. Até 1972, quando o calçado atlético moderno foi inventado pela Nike,
as pessoas corriam sobre solas muito finas, tinham pés fortes e uma
incidência muito mais reduzida de lesões no joelho.”
E o custo que essas lesões têm? A resposta é nada mais nada menos
que doenças fatais em proporções epidémicas. “Os seres humanos têm
mesmo obrigatoriamente de fazer exercício aeróbio para manter a saúde, e
acho que isso tem raízes na nossa história evolutiva. Se houver alguma
solução mágica para tornar os seres humanos saudáveis, é correr.”, segundo
Dr. Lierbman.
Solução mágica? Esta expressão é um pouco sinistra para se
encontrar associada ao acto de correr, contudo, o que Lierbman queria dizer
era que, se nunca tivessem existido ténis de corrida, mais gente correria. Se
mais gente corresse, menos seriam as pessoas que estariam a morrer de
doenças cardíacas degenerativas, síncopes, hipertensão, artérias
bloqueadas, diabetes, e da maioria das outras doenças que afectam o mundo
ocidental.
Se considerarmos os ténis um factor essencial para o aparecimento
dessas doenças, então a quantidade de culpa a atribuir à Nike é
avassaladora. Mas sabem qual é a parte mais arrepiante e provável de
todas? A Nike já sabia de tudo isto.
37
Os melhores ténis de todos - nenhuns
Em Abril de 2001, dois agentes da Nike observavam a equipa de
atletismo da Universidade de Standford a treinar. Parte do trabalho de um
agente da Nike consiste em obter feedback dos atletas que a marca patrocina
sobre quais são as suas sapatilhas favoritas, mas isso estava a ser uma
tarefa mais complicada do que inicialmente se previa dado que os ténis
favoritos de todos os corredores de Standford pareciam ser nenhuns.
Os dois agentes ficaram obviamente chocados por verem os atletas a
correrem sem os ténis da Nike que lhes haviam sido mandados, ao que o
treinador Vin Lananna terá explicado que quando os seus corredores
treinavam descalços corriam mais depressa e sofriam menos lesões. Ora, se
outra qualquer pessoas tivesse dito isso aos agentes da Nike estes não
teriam acreditado, contudo Vin era um treinador cujas ideias tinham que levar
a sério. Este, em apenas dez anos em Standford, tinha levado as suas
equipas de pista e corta-mato a ganhar cinco títulos colectivos nos
campeonatos inter-universitários, bem como a arrecadar 22 títulos
individuais, tendo sido o próprio Lananna eleito Treinador Universitário de
Corta-mato do Ano. Este já tinha enviado três corredores aos Jogos
Olímpicos e encontrava-se naquele momento a treinar um clube pós-
universitário para os melhores entre os melhores. Claro que os agentes
ficaram um pouco “desgostosos” por saber que Vin achava que os melhores
ténis da Nike eram piores que não calçar absolutamente nada. Lananna
depois explicou-lhes “Escudámos os nossos pés da sua posição natural ao
fornecer-lhes cada vez mais apoio. Sei que para uma empresa de calçado
não é a melhor coisa do mundo patrocinar uma equipa que não usa os seus
produtos, mas as pessoas passaram milhares de anos sem ténis. Acho que
vocês tentam fazer essas coisas correctivas todas com os sapatos e acabam
38
por exagerar. Consertam coisas que não precisam de conserto. Reforçando
os pés andando descalço, acho que se reduz o risco de problemas no tendão
de Aquiles e no joelho, e de fascite plantar.”
Risco aqui não será talvez o termo correcto, é mais uma certeza.
Todos os anos, entre 65 e 80 por cento de todos os corredores sofrem uma
lesão. Isso é quase todos os corredores, todos os anos. Seja lá quem for,
corra o que correr, a probabilidade de uma lesão é sempre a mesma. Não faz
diferença ser homem ou mulher, rápido ao lento,
gordo ou musculado, os pés continuam a sofrer as
mesmas consequências. Talvez então seja
possível derrotar essas probabilidades fazendo
alongamentos? Não. Num estudo de 1993 com
atletas holandeses, publicado no American
Journal of Sports Medicine (Img.6), ensinou-se a
um grupo de corredores como fazer aquecimentos
e alongamentos, enquanto um segundo grupo não
recebeu nenhum treino para a desejada
prevenção de lesões. As suas taxas de lesão,
foram, surpreendentemente, idênticas. Os
alongamentos até davam piores resultados, como
visto num estudo posterior realizado no ano
seguinte na Universidade do Havai, que terá
concluído que os atletas que faziam alongamentos tinham 33 por cento de
mais hipóteses de se magoar.
Contudo, vivemos agora numa era de tecnologia. As empresas de
ténis tiveram 25 anos para aperfeiçoar os seus designs, portanto, pela lógica,
a incidência de lesões deveria ter diminuído. Afinal, a Adidas inventou um
ténis de 180 euros com um microprocessador (Img.7) na sola que ajusta
Imagem nº6 – Estudo realizado e publicado em 1993 no American Journal of Sports medicine com hiperligação
39
instantaneamente o apoio para cada passada. A Asics gastou dois milhões
de euros e oito anos a criar a Kinsei (Img.8), uma sapatilha que inclui
“casulos de gel multi-angulares para a parte dianteira
do pé”, um “potenciador de
impulsão ao meio do pé” e um
“componente no calcanhar
infinitamente adaptável, que
isola e absorve impactos para
reduzir a pronação e ajudar à
propulsão”. Muito dinheiro para
uns ténis que se têm que deitar
fora no final de 90 dias, mas
pelo menos já não há mais
lesões. Verdade? Não, nem
por isso. Segundo o Dr.
Stephen Pribut, especialista em lesões de corrida e antigo presidente da
Academia Americana de Medicina Desportiva Podiátrica “Desde que os
primeiros estudos a sério foram feitos nos anos 70, as queixas do tendão de
Aquiles até subiram uns dez por cento, enquanto as de fascite plantar ficaram
na mesma.” . A Dra. Irene Davis, directora da Clínica de Lesões de Corrida
da Universidade do Delaware afirma igualmente que “Os avanços
tecnológicos dos últimos 30 anos foram extraordinários. Assistimos a
inovações tremendas em controlo de movimentos e amortecimento. E no
entanto os remédios não parecem derrotar as maleitas.”.
Imagem nº7,8 – Ténis com micro-chip da Adidas (à esquerda) e Kinsei da Asics (à direita) com hiperligação a sites com pormenores destes.
40
Aliás, não há provas de que os ténis de corrida
sirvam para alguma coisa na prevenção de lesões.
Num artigo de investigação para o British Journal of
Sports Medicine (Img.9), o Dr. Craig Richards,
investigador na Universidade de Newcastle, na
Austrália, revelou que não há nenhum estudo
baseado em dados factuais que demonstre que as
sapatilhas de corrida reduzam a tendência para
lesões. O Dr. Richards ficou tão espantado que uma
indústria que gera 12 mil milhões de euros parecesse
basear-se em nada para além de promessas, que até
lançou um desafio: “Está alguma empresa de calçado
desportivo disposta a defender que usar as suas
sapatilhas de corrida de fundo diminui o risco de sofrer
lesões músculo-esqueletais? Está algum fabricante
disposto a defender que usar as suas sapatilhas de corrida melhora o
desempenho em corridas de fundo? Se está disposto a fazer estas
afirmações, onde estão os dados revistos cientificamente capazes de a
sustentar.”. O Dr. Richards esperou, e até tentou contactar as grandes
empresas de ténis para que lhes dessem os dados. Contudo, a única coisa
que recebeu foi silêncio.
Então, se os ténis de corrida não nos fazem correr mais depressa e
não evitam que nos lesionemos, então estamos a pagar para quê? Quais são
os benefícios de todos esses micro-chips, das almofadas de ar e dos
potenciadores de impulsão? Bem, a verdade é que a resposta a essa
pergunta não é propriamente uma boa noticia. Na verdade, são três as más
noticias que serão expostas a seguir.
Imagem nº9 – Estudo realizado por Craig Richards e publicado no British Journal of Sports Medicine
41
Os melhores ténis são os piores
Os corredores que usam ténis topo de gama têm 123 por cento de
mais hipóteses de se lesionar do que os corredores em ténis baratos,
segundo um estudo conduzido pelo médico Bernard Martin, um especialista
em medicina preventiva da Universidade de Berna. A equipa de
investigadores do Dr. Martin analisou 4.358 corredores do Grand-Prix de
Berna, uma prova de estrada de 16 quilómetros. Todos os corredores
preencheram um extenso questionário que detalhava os seus hábitos de
treino e o seu calçado no ano anterior. Cerca de 45 por cento tinham-se
lesionado nesse período. Mas o que surpreendeu o Dr. Martin foi o facto de
que a variável mais frequente entre os lesionados não era a superfície de
treino, nem a velocidade, nem quilometragem semanal, nem sequer o peso,
ou historial clínico de lesões, mas sim o preço dos ténis. Corredores que
usavam ténis que custassem mais que 60 euros tinham o dobro da
probabilidade de se lesionar do que os corredores que utilizavam ténis que
custavam menos de 25 euros. Estudos posteriores chegaram a resultados
semelhantes, como é o caso de um artigo de 1991, na Medicine & Science in
Sports & Exercise, que concluiu que “quem usa sapatilhas caras, promovidas
como tendo características adicionais de protecção, lesiona-se com uma
frequência significativamente superior à de corredores que usam sapatilhas
baratas”.
Vin Lananna, sendo atento, já tinha detectado o mesmo fenómeno no
inicio dos anos 80. Conta Vin que “ a certa altura encomendei sapatilhas de
topo de gama para a equipa, e ao fim de duas semanas nunca tinha visto
tantos problemas com tendões de Aquiles e fascites plantares. Por isso
devolvi-os e disse-lhes: mandem-me sapatilhas baratas. Desde então
encomendo sempre sapatilhas mais acessíveis. Não é por ser forreta. É
42
porque o meu trabalho consiste em fazer os atletas correr depressa e manter
a saúde”.
Os pés gostam do Impacto
Já em 1988, o Dr. Barry Bates, líder do Laboratório de Biomecânica /
Medicina Desportiva da Universidade do Oregon, recolhera dados que
sugeriam que ténis gastos eram mais seguros que os novos ainda por usar.
No Journal of Orthopaedic & Sports Physical Therapy, o Dr. Bates e os seus
colegas relataram que, à medida que os ténis se desgastavam e o seu
amortecimento se reduzia, os corredores ganhavam mais controlo dos pés.
Então como é que controlo dos pés e pouco amortecimento resultam em pés
sem lesões? Bem, por mais estranho que pareça, deve-se ao medo. Ao
contrário do que os modelos como Adidas MegaBounce (Vídeo 1) podem
fazer crer, aquele amortecimento não reduz o impacto. Pela lógica, isso devia
ser óbvio porque o impacto nas pernas, a correr, chega a ser doze vezes
maior do que o peso do corpo, portanto é um pouco estranho que dois ou três
centímetros de borracha façam alguma diferença contra mil e tal quilos de
carne.
Vídeo 1 – Anúncio aos ténis da Adidas MegaBounce
43
Em 1986, Fredrick, então Director do Laboratório de Pesquisa
Desportiva da Nike, chegou à conclusão de que quando os indivíduos corriam
com ténis duros ou moles, não havia diferenças na força de impacto. E
curiosamente, o segundo pico de impulsão na força de reacção vertical ao
solo era superior com ténis moles, o que significa que quanto maior for o
amortecimento no ténis, menos protecção este oferece.
À medida que os ténis se gastavam e o seu amortecimento endurecia,
revelaram os investigadores de Oregon num estudo de 1988, os pés dos
corredores estabilizavam-se e tornavam-se menos oscilantes.
Seriam precisos mais dez anos até os cientistas chegarem a uma
explicação para o porquê dos ténis velhos serem melhores do que as novas.
Na Universidade de McGill, em Montreal, o médico Steven Robbins e o
investigador Edward Waked, executaram vários testes com ginastas. Estes
chegaram à conclusão que, quanto mais espesso o tapete, mais força
usavam os ginastas nas suas aterragens. Instintivamente, os ginastas
procuravam estabilidade. Por isso, quando sentiam uma superfície mole sob
os pés, batiam com mais força para garantir o equilíbrio. E é exactamente isto
que os corredores fazem, descobriram Robbins e Waked. Os nossos pés e
pernas pisam instintivamente com mais força quando sentem uma superfície
mole por baixo. Quando se corre em ténis acolchoados, os pés fazem força
através das solas de forma a encontrar uma plataforma dura e estável.
Assim, segundo os doutores da McGill “Concluímos que o equilíbrio e o
impacto vertical estão proximamente relacionados. De acordo com os nossos
resultados, o calçado desportivo actualmente disponível.... é demasiado mole
e espesso, e devia ser reformulado se pretende proteger as pessoas que
praticam desporto”. Estes realizaram ainda outro estudo que se focava mais
no papel do material da sola dos sapatos, sendo testados homens saudáveis
que tinham por volta de 30 anos (Img.10).
44
Mais tarde, David Smyntek resolveu testar a teoria
do impacto com uma experiência que terá concebido.
Como corredor, e também como fisioterapeuta
especializado em reabilitação de casos graves, Smyntek
era constantemente avisado que deveria trocar de ténis a
cada 500 a 800 quilómetros. Mas este questionava-se
sempre pelo facto de Arthur Newton, um dos maiores
ultracorredores de todos os tempos, apenas substituir
os seus ténis de sola fina de borracha depois de ter
percorrido 6.000 quilómetros com eles. E Newton não
só tinha vencido uma corrida de 90 quilómetros cinco
vezes nos anos 30, como também tinha quebrado o recorde da corrida de
160 quilómetros Bath-Londres, aos 51 anos de idade. David começou então a
que ficou conhecida como a Experiência Maluca do Pé, na qual, quando um
sapato se gastava no lado exterior, este trocava o ténis esquerdo com o
direito e continuava a correr. Nos dez anos seguintes, David correu oito
quilómetros por dia, todos os dias. “Assim que percebi que podia correr
confortavelmente com as sapatilhas ao contrario, comecei a questionar se
precisava sequer de sapatilhas. Se não as estava a usar como haviam sido
concebidas, então talvez essa concepção não fosse grande coisa afinal.” diz
David. E a verdade é que mesmo correndo com ténis baratos, este tinha
muito menos problemas que a restante maioria dos corredores. Como Ken
Learman afirma “Esta experiência ensinou-nos a todos uma coisa. Ensinou-
nos que, em termos de sapatilhas, nem tudo o que reluz é ouro”.
Fomos concebidos para correr sem ténis
Antes de Alan Webb se tornar no maior corredor da milha dos Estados
Unidos, era um caloiro com pé chato e péssima postura. Contudo, o seu
Imagem nº10 – Hiperligação ao Estudo completo realizado por Robbins e Waked
45
treinador viu potencial e começou a reconstruir a sua forma de correr. “Tive
cedo problemas de lesões, e tornou-se óbvio que a minha biomecânica podia
causar lesões. Por isso fiz exercícios de fortalecimento dos pés e passeios
especiais descalço. Calçava o 46 e tinha pés chatos, e agora calço o 43 ou
44. À medida que os músculos do meu pé se reforçaram, a minha abóbada
plantar elevou-se. Graças aos exercícios feito descalço, também passei a ter
menos lesões.”.
Gerard Hartman, médico fisioterapeuta irlandês bastante reputado,
afirma que “a musculatura destreinada dos pés é o maior problema e conduz
a lesões, mas nós permitimos aos nossos pés que ficassem muito
destreinados nos últimos 25 anos. A pronação tornou-se num palavrão, mas
é apenas o movimento natural do pé. É suposto que o pé faça a pronação.
Para ver a pronação em acção, tire os sapatos e corra pela rua. Numa
superfície dura, os seus pés irão temporariamente desaprender os hábitos
que ganharam com os sapatos e automaticamente passar para uma condição
de auto-defesa; vai dar consigo a aterrar na margem exterior do pé, depois a
rolar ligeiramente do dedo mindinho para o dedo grande até que o pé esteja
bem assente. Isso é a pronação, apenas uma rotação para absorver o
choque que permite à abobada plantar comprimir-se.”
Contudo, ainda nos anos 70, a voz mais respeitada na corrida, o
cardiologista George Sheehan, começou a alegar que a pronação em
exagero podia ser a causa do joelho de corredor. Estava por um lado
correcto, mas por outro estava muito enganado. É preciso aterrar sobre o
calcanhar para fazer uma pronação excessiva, e só se pode aterrar no
calcanhar se ele for acolchoado. No entanto, as empresas de calçado
desportivo foram rápidas a responder, criando ténis muito mais compensadas
e que removiam toda a pronação.
Contudo, isto causou um problema ainda maior. Quando um bloqueio
de um movimento natural ocorre, todos os outros são afectados. Fizeram-se
46
estudos que demonstravam que apenas 2 a 3 por cento da população é que
tinha problemas biomecânicos de facto. Sempre que alguém utiliza um
mecanismo corrector, cria-se um novo problema ao tratar de outro, que não
existe. Em 2008, a Runner’s World admitiu que desencaminhara
acidentalmente os seus leitores durante anos ao recomendar ténis
correctivos para corredores com fascite plantar. “A investigação mais recente
revelou ser improvável que sapatilhas de estabilidade aliviem a fascite
plantar, e até podem exacerbar os sintomas”.
O Dr. Hartmann explicou ainda: “Traçando o plano dos pés, encontra-
se uma maravilha que os engenheiros tentam igualar há séculos. A acomodar
a abobada plantar de todos os lados está uma rede altamente tênsil de 26
ossos, 33 articulações, 12 tendões elásticos e 18 músculos, todos a esticar e
a flectir, como uma ponte suspensa à prova de tremores de 40 a 60 por cento
no espaço de seis semanas. Acontece uma coisa parecida aos seus pés
quando estão encaixados em sapatos. Quando são os sapatos a fazer o
trabalho, os tendões retesam-se e os músculos mirram. Dando-lhes trabalho
eles espevitam.”. Ainda hoje, o Dr. Hartmann acredita que o melhor conselho
de prevenção de lesões a recomendar é o de correr descalço em relva
húmida três vezes por semana.
Os indivíduos a favor de andar descalço aumentavam, contudo, em
vez de serem os podólogos a favor, eram antes os seus pacientes,
continuando estes a ver o pé humano como um erro da Natureza, um
trabalho inacabado que deveria ser melhorado. Especialistas como o Dr.
Hartmannn eram e ainda são, infelizmente, raros.
47
A História da Nike e dos ténis
A Nike não ganha 12 mil milhões de euros por ano a permitir que
sejam pessoas que correm descalças a ditar o que está na moda. Assim que
os seus dois agentes voltaram de Standford (refiro-me aqui ao conteúdo
presente na página ), com noticias de que a “moda” de correr descalço já se
tinha espalhado para os melhores do atletismo universitário, a Nike começou
a ver se conseguia ganhar com esse factor. Culpar a Nike por todos os
problemas físicos provenientes de correr pode parecer um pouco ridículo,
mas a verdade é que esta esteve por detrás da grande maioria deles.
A empresa foi fundada por Phil Knight, um corredor da Universidade
de Oregon, e por Bill Bowerman, treinador na mesma instituição. Antes de
estes se juntarem, os ténis como hoje há, não existiam. Nem a maioria das
lesões de corrida modernas.
Para alguém que tinha explicado a tanta gente como é que se corre,
Bowerman não era um grande corredor. Só começou a fazer um pouco de
jogging aos 50 anos, depois de passar algum tempo na Nova Zelândia com
Arthur Lydiard, pai da corrida aeróbia, e dos treinadores de fundo mais
influentes de todos os tempos.
Lydiard criara o Auckland Joggers Club (Img.11) nos
anos 50, de modo a ajudar à reabilitação de vitimas de ataques
cardíacos. Este causava uma grande controvérsia visto que os
médicos estavam convencidos de que Lydiard estava a
mobilizar um suicídio em massa. Mas assim que os
homens, antes doentes, verificaram como se sentiam
melhor após algumas semanas de corrida, começaram a
Imagem nº11 – Emblema do site do Auckland Joggers Club, ainda activo, e com hiperligação ao mesmo
48
convidar os seus familiares e amigos para correr por duas horas em
caminhos de terra.
Pela altura em que Bill Bowerman o visitou pela primeira vez, em
1962, este tentou juntar-se ao clube, mas estava tão mal em termos físicos
que teve de ser ajudado por um homem de 73 anos que sobrevivera a três
cirurgias coronárias. Depois desse momento, acabou por redigir um livro de
sucesso cujo título de uma palavra
se transformou num novo termo e
obsessão do público americano:
Jogging. A partir daí, Bill dedicou-se
a escrever, a treinar, e a tentar criar
os ténis mais almofadados de
sempre. Este terá conseguido,
dando-lhes o nome de Cortez (Img.12), nome do conquistador que saqueou
o Novo Mundo em busca de ouro.
Contudo, a manobra mais inteligente deste foi defender um novo estilo
de corrida que só era possível no seu tipo de ténis. A Cortez permitia correr
de uma forma, que antes não era segura, e que consistia em aterrar no osso
dos calcanhares ao dar a passada. Antes da invenção destes ténis, todos os
grandes corredores tinham a mesma postura: todos eles corriam com as
costas direitas, os joelhos flectidos, os pés a tocar-lhes ligeiramente na parte
de trás das ancas. E estes não tinham outra escolha visto que a única
absorção de choque vinha da compressão das pernas e da pequena gordura
na planta do pé. Na verdade, quando o designer biomédico Van Phillips criou
uma prótese revolucionaria para corredores amputados em 1984, nem
sequer se deu ao trabalho de lhe incluir um calcanhar uma vez que este só
era necessário para estar de pé, e não para executar movimento.
Mas Bowerman, que tinha que encontrar uma vantagem que os seus
ténis dessem, enfiou um pedaço de borracha sob o calcanhar, o que tornava
Imagem nº12 – Ténis Cortez da Nike (Mais antigos)
49
possível esticar a perna, aterrar sob o calcanhar e aumentar a passada. No
seu livro de Jogging comparou os dois estilos de corrida, afirmando que
forma tradicional de correr era a mais fácil, mas que correr com os
calcanhares seria a menos cansativa para longas distâncias, claro, se se
tivesse o calçado apropriado. Pois bem, e qual era esse calçado? Era o dele
claro. “Bill tinha criado um mercado para um produto, e depois o próprio
produto”.
Entretanto, o parceiro de Bowerman tinha já chegado a um acordo
com um fabricante no Japão, e em pouco tempo já estava a vender milhares
de ténis. Pela altura em que outras empresas
começaram a copiar o novo ténis, a Nike já era uma
potência Mundial.
Incentivado com a reacção aos seus designs
amadores, Bowerman começou a inventar novos
modelos. Contemplou um ténis à prova de água feito
de pele de peixe, mas rapidamente abandonou essa
ideia. Chegou ainda a lançar os ténis LD-1000
Trainer (Img.13), ténis com uma sola um pouco
larga.
Bowerman imaginava que iria conseguir acabar com a pronação, contudo,
depressa se apercebeu que estava a causar mais lesões em vez de as evitar,
o que o levou a alterar um pouco o design em versões posteriores.
Entretanto, na Nova Zelândia, Arthur Lydiard começava a ficar
preocupado com o que o Bowerman andava a vender. Tendo muito mais
experiência, e mais talento e inteligência no que toca a ser treinador de
corrida, Arthur depressa se apercebeu que o que o outro treinador andava a
vender era uma farsa. Lydiard sabia que aquela conversa toda sobre a
pronação era apenas uma estratégia de marketing. Este disse : “Se
dissermos ao indivíduo médio de qualquer idade para tirar os sapatos e fugir
Imagem nº13 – Ténis LD-1000 Trainer da Nike
50
pelo corredor abaixo, quase sempre descobriremos que a acção dos seus
pés não contem o mínimo vestígio de pronação. Essas flexões laterais dos
tornozelos só começam quando as pessoas atam os atacadores dessas
sapatilhas de corrida, porque a construção de muito calçado imediatamente
altera o movimento natural do pé. Corríamos em sapatos de lona. Não
apanhámos fascite plantar, não fazíamos pronação, podemos ter perdido um
pouco de pele por causa da lona áspera quando corríamos maratonas mas,
em traços gerais, não tínhamos problemas nos pés.”
Finalmente, até Bowerman começou a duvidar dos seus ténis. Com a
Nike a lançar uma enormíssima variedade de ténis e mudando de modelos
todos os anos pela simples razão de ter mais que vender, Bill começou a
sentir que o seu objectivo inicial de fazer um ténis honesto, tornara-se antes
no objectivo de ganhar dinheiro.
Apenas após Bowerman ter morrido, é que a Nike,
em 2002, decidiu averiguar se de facto havia alguma
verdade por detrás de correr descalço ser melhor. Jeff
Pisciotta, investigador principal do Laboratório de
pesquisa Desportiva da Nike (Img.14), reuniu 20
corredores num campo de relvado e filmou-os a correr
descalços. Ao fazer zoom no vídeo, descobriu que em
vez de cada pé pousar pesadamente como faria num
ténis, estes esticavam-se e seguravam-se ao chão com
os dedos afastados, deslizando na superfície. Este
imediatamente começou a recolher filmes de todos os indivíduos descalços
que conseguia encontrar. “Descobrimos algumas pessoas por todo o mundo
que ainda correm descalças, e o que se verifica é que, durante a propulsão e
a aterragem, têm muito mais amplitude de movimentos e empregam mais os
Imagem nº14 – Hiperligação ao Relato completo do estudo realizado por Jeff Pisciotta
51
dedos do pé. Os pés delas flectem-se, afastam-se e agarram a superfície, o
que significa que há menos pronação e mais distribuição da pressão.”.
Jeff Pisciotta tornou-se então líder de um projecto secreto que visava
arranjar uma forma de ganhar dinheiro com correr descalço.
Passados dois anos este foi finalmente lançado para o mercado. O
anúncio foi passado em quase todo mundo, e nele podia-se ver bailarinas,
corredores e nadadores, transmitindo-se constantemente a mensagem de
que era necessário fortalecer os nossos pés. Os novos ténis chamavam-se
Nike Free, tendo uma sola ainda mais fina que as Cortez. E qual era o seu
slogan? Bem, era nada mais nada menos do que “Corre descalço”. Até hoje,
os ténis Nike Free têm se vindo a melhorar, tendo mudado o seu slogan para
“Get Free” (Vídeo 2).
Vídeo 2 – Anúncio aos ténis Nike Free
52
Jeff Pisciotta, em conjunto com Tobi Hatfield, explicou, mais
recentemente, a sua experiência realizada, o que a levou a realizar (é
mencionado o treinador Vin Lananna, já referido aqui, como causa), e o
objectivo e estrutura dos novos ténis (Vídeo 3).
Vídeo 3 – Pequena entrevista a Jeff Pisciotta e Tobi Hatfield
53
Segundo Alan Webb “os seres humanos foram concebidos
para correr sem sapati lhas”.
Conclusão
Neste parte do trabalho realizada no 2º Período, decidi centrar-me nos
problemas que o uso de ténis acarreta em termos de lesões para o corredor,
bem como qual a sua história e o porquê de se continuar ver no espectro de
que quanto mais recente e tecnológico, melhor.
Ao longo de todo este projecto, penso que seja óbvia a mensagem
central, isto é, que os seres humanos foram feitos para correrem descalços, e
não em sapatilhas ou ténis que protegem tão bem os nossos pés do choque,
que estes acabam por ficar como que os músculos que não são exercitados
por várias semanas. Para além disso pode-se claramente notar que, por
usarmos ténis, estamos a fazer com que os nossos pés não consigam achar
estabilidade, já que a superfície é muito mole. Isto faz com que o choque com
o chão seja maior, causando uma exagerada pronação, que por sua vez
causa as tais doenças que começaram a ficar associadas aos corredores, e
que apenas começaram a ser frequentes após a introdução dos ténis.
Neste trabalho podemos assim correlacionar a dimensão
organizacional do desporto, uma vez que o uso dos ténis ficou enraizado na
prática do desporto como algo aparentemente essencial, mas que afinal pode
não o ser, acabando até por ser prejudicial. Este aspecto acaba-nos por guiar
até outra dimensão, a dimensão ética. Embora inúmeros factos e estudos
apontem para a conclusão de que os ténis mais caros, mais almofadados, e
com todas as novas tecnologias, acabam por ser os responsáveis pela
54
grande maioria das lesões, estes não chegam à mainstream, visto que
grandes empresas de calçado, como a Adidas, mas sobretudo a Nike, vivem
das suas mentiras e promessas. A Nike mais recentemente, vendo que a
população começava a ficar alertada para a possibilidade de correr descalço
ser mais saudável para o nosso corpo, decidiu aproveitar para lançar outro
par de sapatilhas finas e que permitiam ao pé movimentar-se como se
estivesse descalço. Contudo, está claro, não deixou de fazer publicidade a
todos os seus outros ténis topo de gama e acolchoados que continuaram a
ser lançados para o mercado. No fundo, o que esta está a fazer é, sabendo
que pela direita estão águas calmas, e pela esquerda as cataratas,
conduzem-nos para esta última porque temos de pagar a entrada. E até
podem pôr um letreiro a avisar que o caminho melhor para nós é o da direita,
mas este rapidamente se perde no meio de milhares de outros que nos levam
a seguir pelo lado esquerdo. É por isso muito difícil que a maioria da
população veja a verdade, mesmo estando esta à frente dos seus olhos. E
isto que estas companhias fazem é apenas uma forma mais branda de
aldrabice. Mas quer dizer, coitadinhas das empresas milionárias, elas
também têm que ganhar dinheiro... De que importa se no meio uns quantos
milhões de indivíduos se lesionam? Pois, é que parece que isso não tem
importado o suficiente.
Quanto a uma solução para este problemas.
Bem... já temos ténis, como os Nike Free e os
FiveFingers (Img.15), que poderemos usar para
correr na rua, protegendo-nos estes das substâncias
no chão, mas não alterando o modo como o pé embate
na superfície. Penso que falta apenas uma maior
divulgação à população em geral, de modo a alertá-la Imagem nº15 – Sapatilhas FiveFingers
55
e dar-lhe a escolher: Gastar dinheiro e ter os pés confortáveis ou Correr
quanto quisermos com uma pequeniníssima probabilidade de nos
lesionarmos. Talvez as pessoas que corram uma vez por outra continuem a
usar os ténis regulares, porque aliás, estes até estão mais na moda que
umas sapatilhas que parecem ter saído de um filme .... Por mais ridículo que
isso soe, é a realidade, porque o ser humano é capaz de ser bastante fútil,
dando mesmo mais privilégio, por exemplo, ao estilo, do que à sua saúde.
Por outro lado, os corredores, sobretudo os corredores de fundo, poderão
passar a usar as sapatilhas finas, visto que esses, sim, não se importam de
calçar o que quer que seja, desde que lhes dê mais vantagens e menos
lesões.
A escolha caberá a cada um de nós. A dez metros de um frasco com a
cura para muitas lesões e doenças, ou andamos e pegamos nele, fazendo
um pequeno esforço que nada se compara às futuras vantagens, ou
permanecemos exactamente no sítio onde estamos, nada mudando e apenas
reconhecendo a sua existência.
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