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Sobre o encontro de comunidades alternativas.
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EENNCCAA AA UUNNIIDDAADDEE QQUUEE MMOOVVEE AA RROODDAA
Transmitir todos os tpicos (esotricos) que formam a ideologia da Nova Era.
(Resoluo D/e do V ENCA, Ilhus, 1981)
Um dos grandes encantos do ENCA Encontro Nacional de Comunidades Alternativas-,
o carter holstico que o caracteriza desde as suas fundaes. E ao longo de suas poucas
dcadas de existncia, o ENCA tem sido coordenado conjuntamente pelas diferentes
correntes que o compe, com nfase eventual de uma ou de outra, que no obstante se
combinam no raro, at dentro de cada indivduo.
Cabe da ao ENCA identificar claramente as foras que comporta, como forma de
autoconhecimento e de reconhecimento dos seus verdadeiros potenciais. Afinal, o Caos
intuitivo das origens pertence apenas transio dos tempos, quando surge a
necessidade da desconstruo da Velhas Ordens cristalizadas. Seu destino forjar uma
Nova Ordem legtima e natural, com planejamento e organizao mnima. A Nova Era
resulta disto unicamente, de outra forma se permanece apenas na etapa embrionria de
sair do Velho e nunca se alcana o Novo. E chegada a hora deste Novo realmente
emergir, como mostram as crises em que se encontra os pensamentos sociais e
alternativos, assim como a prpria situao planetria.
A tradicional Roda do ENCA. Foto Jos Albano
Estas foras (socioculturais) ENCAntadas, seriam formadas ento por espiritualistas,
ruralistas (hoje, permaculturistas) e ambientalistas,1 tudo isto constituindo uma unidade
natural, verdadeira Cosmologia social. muito bonito quando as pessoas se unem por
suas virtudes e naturezas, reconhecendo em cada um aquilo que produz com excelncia!
Disto depende o verdadeiro consenso e o acordo social, a Concrdia Universal enfim,
buscada por todas as sagradas Sabedorias.
Cabe porm incluir aqui o papel dos artistas msicos, em especial-, que desde o comeo
tiveram um papel capital no movimento e ainda seguem tendo, inclusive nas lideranas.
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De fato, os artistas representam uma categoria prpria, com papel to significativo como
as restantes, at porque no raro se confundem todas em ltima anlise. O prprio artista
trabalha no somente a esttica, mas tambm a pedagogia, a sociologia e at a magia.
Com isto, estamos levantando quatro categorias de atores todos eles ambientalistas!-,
que trataremos de associar com certa facilidade aos Quatro Elementos Filosficos da
Tradio, como se observa na Mandala das Ecoatividades a seguir.
E nisto vale tambm certa associao com as castas vdicas, as quais no estavam
originalmente associadas ao nascimento (e tampouco eram hierarquizadas, mas circulares
e integradas como na mandala acima), mas sobretudo s etapas de educao espiritual
chamadas ashramas que as embasam tradicionalmente, despertado da as vocaes de
cada um. Assim, a relao entre as eco-atividades e as castas (como estados-de-
conscincia), seriam mais ou menos esta:
a. Permacultura.............. sudra (servidor/trabalhador)
b. Arte ............................ vaishya (produtor/comerciante)2
c. Coletivismo ................ kshatrya (guerreiro/administrador)
d. Espiritualidade ........... brahmane (sacerdote/professor)
Posto isto, cabe a avaliao dos ambientes-de-trabalho ou de atuao existentes. Embora
o ENCA tenha surgido como um movimento de tendncias rurais, por necessidade logo
tratou de incluir outras formas de ser e de agir, especialmente a urbana.
Desta dicotomia original rural-urbano, tem se emancipado mais recentemente duas outras
expresses, que so o aldesmo (ecovilas) e o nomadismo (ainda que ambas sempre
tenham estado fortemente embutidas nas anteriores); tal como acontece (novamente) com
os Quatro Elementos Filosficos ou com os Quatro Princpios do Tao. o que vemos na
Mandala da Ecodiversidade, abaixo.
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Neste novo quadro, podemos ento evocar o aspecto pedaggico vdico antes citado,
chamado ashramas, para compor os estgios-de-vida da sociedade tradicional pautada
pela Educao Permanente. As associaes propostas seriam, neste caso, as seguintes:3
a. Tribalismo .............. brahmacharya (estudante)
b. Aldesmo ................ grihastha (domstico)
c. Urbanismo ............. vanaprastha (instrutor)
d. Nomadismo ........... sannyasin (renunciante)
Esta dupla mandala quaternria entrevista, poderia ser ento integrada numa Roda de
Oito Raios, como aquela que representa a Lei Universal (Dharma) no Oriente, reunindo o
aspecto social/material (castas ou varnas) ao fundamento educacional/espiritual (estgios
ou ashramas). A gdoade representa, com efeito, a base cosmolgica de muitas
Tradies. Nisto, ao invs de repetir os Quatro Elementos Filosficos, podemos evocar
secundariamente os Princpios Primitivos que os constituem, na forma de Seco, mido,
Quente e Frio.4 No item seguinte, trataremos ento do smbolo da Roda considerada
inclusive o momento mximo do ENCA, ao lado da Lua Cheia do Encerramento.
O ENCA em transio
Hoje temos estabelecidas nos ENCAs certas situaes de divergncias, reflexos de uma
possvel crise-de-identidade, criada ainda pelas mudanas histricas que atingiram o
pensamento de oposio ao sistema capitalista/marxista de modo geral na virada dos
Anos 90 do ps-Guerra Fria, quando a mentalidade capitalista assomou-se globalmente
triunfalista.
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Contudo, a Cultura Alternativa no pode e nem deve
sucumbir a esta situao, porque ela foi criada
justamente para emergir depois que a Guerra Fria
terminasse, como produo de uma nova etapa da
Terceira Via histrica mundial, nascida como foi sobre
as cinzas das ideologias emergentes no Ocidente, ento
sacrificadas pelo poderio das ideologias velhomundistas
durante e aps a IIa Grande Guerra. A Cultura Alternativa a raiz da Fnix que encerrar a
etapa social dos guerreiros (socialistas, nacionalistas, ambientalistas, etc.) atravs da
Gerao Centauro (ou filosfica) na formao das novas estruturas sociais, dentro da
Cosmologia social do Novo Mundo.5
Antes de tudo, o ENCA deve poder lidar com a sua prpria complexidade, para retomar e
preservar o seu protagonismo, assumindo a grandeza histrica que adquiriu, promovendo
debates para fomentar propostas e ideias, inclusive atuando pela melhoria das instituies.
Tradicionalmente, o fator que estagna o movimento da roda justamente o isolamento e o
sectarismo, reflexo puro e simples do egocentrismo e da vaidade. O antdoto para isto a
humildade e o respeito geral. O nosso problema humano projetar os prprios egos no
mundo -por mais justos e sbios que possamos nos pretender. Com isto estamos sempre
querendo reinventar a roda, em nome de nossa suposta sabedoria inovadora...
Contudo, dizem os hindus que a Roda do Dharma necessita ser apenas
recolocada em movimento periodicamente. A roda perfeita em si
mesma, ningum precisa recri-la. As estruturas sociais e culturais so
naturais e necessrias, toca apenas depur-las e renov-las vez por
outra, cambiando as nfases, meramente, e eliminando preconceitos e
privilgios artificiais -como o caso de jativarna da ndia, o artifcio das
castas-de-nascimento, combatido por todos os grandes sbios, de Buda a Gandhi.
Fechar ou abrir o conhecimento? tem sido amide a dvida e tema de debates,
verdadeiro pomo-da-discrdia. Mas, para que ter que fazer opes, afinal? Sempre se
soube que tudo que funciona pelo equilbrio, o que tambm se alcana pela organizao
de setores, no caso, uns mais abertos e outros mais fechados. No existe realmente
novidade nisto.
Precisamos entender que um dos grandes problemas do Movimento Alternativo tem sido
as suas dificuldades de lidar com o social, isto o mantm nanico, oculto e temeroso. Ser
alternativo no ser um alienado, mas a semeadura do novo, que a certa altura deve
assumir o seu papel histrico e difundir no mundo aquilo que semeou, sob pena de tudo se
perder. Mesmo querendo preservar os seus ncleos sagrados...
Hoje o movimento comunitrio se transforma, e as ecovilas trazem questes pungentes.
Onde colocar as pessoas novas que aspiram por mudanas? Reduzi-las a encontros
anuais ou conden-las ao sistema capitalista sempre ilusrio? No seria justo, e no
entanto a prpria histria dos Encontros e do Movimento Alternativo aponta possveis
solues. Cabe qui, buscar novas snteses e cambiar as nfases.
Um dos aspectos est na necessidade de reciclar as estruturas. Todos os ambientes-de-
trabalho necessitam ser revitalizados e renovados. Atuar nas velhas cidades para
exemplificar- j no basta, preciso criar as Novas Cidades, a fim de resgatar tambm as
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massas humanas da cegueira consumista destruidora, e para a qual elas so fortemente
empregadas. O ENCA tem poder suficiente para forjar toda uma Nova Civilizao! Importa
porm, para isto, articular-se com os movimentos paralelos (ENGAs, Rainbows, FICAs,
etc.), alguns dos quais tem inclusive inspirado atravs dos tempos.
Precisamos amadurecer para o social, e enxergar opes reais para as pessoas, para
alm de encontros fugazes, que no obstante tambm so necessrios e at timas
oportunidades para alavancar propostas alternativas importantes para o pas e o mundo.
Que as Sementes Douradas possam enfim emergir luz cristalina da Nova Era!
PAX
Lus A. W. Salvi
Filsofo e escritor
www.agartha.com.br
Notas:
1. Assim, a sua iniciativa original se deveria basicamente aos espiritualistas na virada dos Anos 80,
coordenando o movimento por uma dcada aproximadamente; depois vieram os ruralistas, em seguida
os ecologistas urbanos e novamente os ruralistas que permaneceriam at este momento (baseado nas
avaliaes de Claudio Maciel, no Facegrupo ENCA@OFICIAL, em 08/08/2015).
2. Neste caso, os artistas teriam uma especial relao com os vaishyas, comumente associados ao
trabalho na terra e ao comrcio, assim como vida domstica do estgio grihastha. Por organizar a
condio psquica (devoo, etc.), este estgio realmente favorece as artes, expresso de resto mais
significativa, fundamental e tradicional do que a agricultura ou a atividade comercial. Com isto, estamos
dando uma resposta categrica e, provavelmente, bastante original- pergunta recorrente sobre a qual
casta pertencem os artistas. Os sistemas sociais acham-se sujeitos a distores e a adaptaes
histricas, o comrcio uma camada cultural mais recente na humanidade e acompanhou a chegada da
agricultura na Era Neoltica, quando provavelmente se comeou a colocar as artes em plano secundrio.
3. Na sociedade vdica, o grihastha realmente se vincula aldeia atravs da casta vaishya (produo
rural) correspondente, ao passo que os vanaprasthas se associam s cidades atravs da casta kshatrya
(guerreiros, administradores) as cidades foram inclusive criadas sob a gide cultural da aristocracia,
apenas mais tarde a burguesia se apoderou desta estrutura cultural, ao recicl-la para outros fins ao final
da Idade Mdia. Quanto aos sannyasins, a relao com o nomadismo seria direta, ainda que o
renunciante possa atuar como sacerdote (pois a casta correlata a brmane) na orla de uma aldeia.
4. Neste caso, os Princpios Primitivos seriam os ashramas educacionais, como ambientes e sistemas
condicionadores ou, antes, desenvolvimentistas dos potenciais profissionalizantes das castas. A
corrupo histrica do sistema varnashramadharma inverteu esta subordinao, solapando suas bases
naturais e existenciais, inclusive privando o trabalhador (sudra) de direitos ashrmicos!
5. Transcorreram no Sculo XX as duas outras geraes a militar e a poltica- que forjam a triple
estrutura dos guerreiros (ou da aristocracia) ambientada na Regio Centro-Oeste do pas-, dentro do
ciclo de 200 anos que integra cada etapa scio-formativa. Para saber mais sobre o Calendrio Social
brasileiro e novomundista, ver matrias como A Parbola do Elefante e o Calendrio Social.
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