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Escândalos políticos: uma análise sobre a influência midiática e os impactos
nos processos diplomáticos.
Alyne Rayanna de Sousa Salvador da Silva1
Maria Eduarda Brandão Câmara2 Mayara Clemente Santos Silva*3
RESUMO
O cenário político brasileiro tem sido marcado por uma série de escândalos, entre os quais se incluem a corrupção individual ou sistêmica, constituindo uma das principais matérias primas do jornalismo político moderno. A mídia possui um importante papel na divulgação e publicação dos escândalos, colaborando, para a transformação desse conhecimento em “makepublic” e “makingvisible”. Perante o exposto, o presente trabalho tem como objetivo analisar como esses episódios interferem nas atividades diplomáticas do Brasil, especialmente as econômicas. Para isso, abordaremos as determinantes dos escândalos repercutidos pela mídia; a posse midiática concentrada no poder de poucas famílias brasileiras, assim como o papel do jornalismo moderno, exercido nesse contexto. O trabalho considera que na medida em que o jornalismo investigativo assume a sua função baseada na teoria liberal, no qual um dos principais papéis da imprensa é se manter vigilante para denunciar comportamentos abusivos ou prejudiciais para o convívio social, ele adquire mais poder de influência política nas democracias modernas e consequentemente influenciam nas decisões econômicas dos Estados.
Palavras-chave: Comunicação Social. Relações Internacionais. Integração Regional.
Introdução
A importância do papel da imprensa na visibilidade das questões políticas é
algo inquestionável. Os escândalos políticos, entre os quais se incluem a corrupção
individual e sistêmica, constituem uma das principais matérias primas do jornalismo
político moderno. O poder do jornalismo está, justamente, no que publicar e como
publicar, uma vez que os atores políticos sabem do impacto da publicização das
notícias e, dependentes da avaliação popular, estão sempre em busca de uma
1 Graduanda em Relações Internacionais pela Universidade Estadual da Paraíba, alyne.rayanna@gmail.com 2 Graduanda em Relações Internacionais pela Universidade Estadual da Paraíba, eduardabcamara@gmail.com 3 Graduanda em Relações Internacionais pela Universidade Estadual da Paraíba e Bolsista PIBIC INCT-INEU, mayaraclementess@gmail.com
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exposição pública positiva, o que torna ainda mais complexa essa relação, com a
entrada de assessores de comunicação, aptos a cuidar dessa visibilidade.
Como coloca Thompson (2002), um escândalo se refere às ações ou
acontecimentos que implicam transgressões de valores, normas ou códigos morais
que, revelados, motivou reações e respostas públicas. De uma forma geral, os
escândalos estão associados à corrupção e ao suborno, principalmente no Brasil,
onde malversão de recursos, desvios de dinheiro, financiamento de campanhas com
caixa 2, favorecimento em licitações, entre outras ações, compõem as principais
matérias primas dos escândalos explorados pelo jornalismo.
Com a complexidade deste movimento midiático, que envolve profissionais da
mídia e assessores de comunicação, os escândalos são justamente um refluxo
deste movimento de manipulação entre mídia e política, que atende a perspectiva de
iniciativa do jornalismo e seu imperativo investigativo (ALDÉ E VASCONCELLOS,
2011, p. 2). Essa perspectiva da mídia, no entanto, vai explorar os escândalos
dentro de dois grandes fatores, segundo Traquina (2005), o mito do cão de guarda e
a teoria do valor-notícia.
Os meios de comunicação agem como um cão de guarda, tem a missão
farejar e estar sempre vigilante para denunciar atos e comportamentos abusivos
e/ou lesivos aos interesses dos cidadãos e da sociedade (AZEVEDO, 2010;
TRAQUINA, 2005). No entanto, uma denúncia política não necessariamente se
transforme em um escândalo. As determinantes para que aconteça um escândalo
depende diretamente da atuação da mídia.
O segundo fator para o grande interesse da mídia pelos escândalos está
relacionado ao valor-notícia (ineditismo; improbabilidade; utilidade; proximidade;
conflito e proeminência), ou seja, um componente que é um conjunto de regras
pelas quais as empresas jornalísticas administram as informações que servirão
como base para a seleção das notícias (ALDÉ e VASCONCELLOS, 2011, p.4). O
valor-notícia ajuda os profissionais de imprensa a identificar quais acontecimentos
são considerados suficientemente interessantes e significativos para serem
transformados em notícia (ALDÉ E VASCONCELLOS, 2011, p4).
Segundo Chaia e Texeira (2001, p. 63), a corrupção, da maneira que
conhecemos, é um fenômeno da moderna República e que em maior ou menor
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medida, em um regime democrático, inevitavelmente, se terá conhecimento sobre
esse tipo de prática, seja pela diversidade dos atores políticos ou pela supremacia
da sobrevivência individual (busca por dinheiro).
Mesmo que escândalos e corrupção sejam frequentemente confundidos,
observadores do tema pontuam que apesar de serem fenômenos distintos, a relação
entre os dois é variável. O escândalo tem estágios de desenvolvimento, entre os
quais inclui-se: revelação, publicação, defesa, dramatização, execução (julgamento)
e rotulação (BEZERRA, 1995 apud CHAIA e TEXEIRA, 2001, p. 65). Uma das
características da comunicação midiática é justamente a possibilidade de divulgar e
circular informações referentes a um determinado escândalo numa esfera que
transcende o tempo e o espaço de sua ocorrência (CHAIA e TEXEIRA, 2001).
Segundo Chaia (2001) a emergência de um escândalo depende do
conhecimento de outros, envolvendo um grau de conhecimento público sobre as
ações e acontecimentos e a transformação desse conhecimento em “makepublic” e
“makingvisible”. Para a autora, é crucial o papel da mídia na divulgação e
publicização dos escândalos. Embora exista vários atores que impulsionam a
corrupção tornar-se um escândalo, este só pode estar na agenda pública enquanto a
comunicação midiática se ocupa intensamente dele (AZEVEDO, 2010).
Vive-se em uma época em que os escândalos políticos, assim como sua
denúncia através dos meios de comunicação, são muito fortes e presentes e não se
podem negar os valores simbólicos e pessoais - como a reputação -, no atual
panorama sociopolítico. Com a descrença do povo com as instituições políticas, os
escândalos passaram a ter uma importância cada vez maior e consequentemente a
ser mercantilizados (KUWAE, 2012).
Considera-se, nesta pesquisa, que na medida em que o jornalismo assume a
sua função baseada na teoria liberal, a mesma adquire mais poder de influência
política nas democracias e influenciam nas decisões econômicas dos Estados.
Dessa forma, faz-se necessário entender, não só a lógica de atuação da imprensa,
mas também a concentração do poder midiático no país e o impacto que os
escândalos desencadeiam na economia e nas relações diplomáticas, especialmente
na economia.
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1. Uso da Teoria Liberal da Comunicação e a concentração de poder
midiático no Brasil
Para ser realizado o controle dos veículos de massa, cada sociedade precisa
analisar as suas políticas e necessidades; com isso, pode ser realizado o controle
legal e político – por meio da lei e da censura –; econômico – por meio do apoio
financeiro e da propriedade privada –; ou social – decorrente da crítica e elogio.
Diversas teorias podem ser utilizadas para fazer uma análise do comportamento
social, como o autoritarismo e comunismo, mas, para tal, será utilizada a teoria
liberalista de comunicação de massa. A teoria surgiu durante os séculos XVI e XVII e
recebeu um forte apoio popular, uma vez que desafiava os antigos detentores de
poder e sabedoria.
De acordo com a teoria liberal, a sociedade deveria garantir a troca de ideias
entre os homens e a possibilidade deles utilizarem da razão para realizar uma
escolha, ou seja, a sociedade civil era e deveria ser um local de livres debates de
ideias, as quais deveriam ser baseadas no emprego esclarecido da razão
(RÜDIGER, 2013).
Os meios de comunicação no Brasil cresceram e expandiram-se a partir da
segunda metade do século XX, contando com uma ação centralizada e
regularizadora por poucos. Conforme Rabaça e Barbosa (2001, p. 479), meios de
comunicação são definidos como o “canal ou cadeia de canais que liga a fonte ao
receptor”, ou “sistema (constituído por elementos físicos) onde ocorre a transmissão
de mensagens”. Assim, os autores destacam que o meio de comunicação
corresponde a um transporte de informações, os quais realçam as mensagens à
suas particularidades.
Segundo Lima (2006), a mídia tem o poder de definir o que é público e, mais
ainda, opera na constituição do que seria o “evento público”. Essa estrutura, no
entanto, depende de aportes financeiros para dar continuidade ao seu existir, ao
mesmo tempo, que chama atenção dos investidores que quer estar do lado de
dentro dessa estrutura. Desta forma, os meios de comunicação começam a ser
tratados como um negócio, onde há uma disseminação da informação, agora
centralizada em poucos, que passa a gerenciar a comunicação. Sendo assim, pode
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se dizer que há uma soberania do meio capitalista no que vai ou não se tornar
informação disseminada.
Conforme dados apresentados por Camparelli e Lima (2004), no Brasil, o
poder midiático encontra-se condensado em sete grupos, os quais controlam tudo
que é visto, ouvido e lido na mídia:
(i) REDE DE TV E RÁDIO: Família Marinho, proprietária das
Organizações Globo de Televisão; A Igreja Universal do Reino de Deus,
proprietária da Rede Record, assim como de outras emissoras, como a
Rede Mulher e a Rede Família; A família Abravanel, comandante do
Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), terceira maior rede de emissoras de
televisão do país; Família Saad, proprietária da Rede Bandeirantes e
emissoras da Rádio AM e FM.
(ii) JORNAIS IMPRESSO DE GRANDE CIRCULAÇÃO: Família Frias
possui o jornal Folha de São Paulo, mais lido do Brasil, segundo os autores;
um instituto de pesquisas de opinião pública, (DataFolha), um jornal parte
de um dos maiores provedores de acesso e informação do mundo
(UOL);Agência de notícias (Agência Folha) e metade de um dos mais
influentes jornais de economia (Valor Econômico); Os Mesquitas,
proprietários (O Estado de São Paulo), dos tradicionais Jornal da Tarde e
Rádio Eldorado FM, da Agência Estado e de uma emissora de televisão no
Maranhão; e Os Civitas, do Grupo Abril, que tem características
internacionais, com conteúdo e proprietários estrangeiros. Primeiro grupo a
criar uma empresa de mídia no exterior e o primeiro a receber capital
estrangeiro (CAMPARELLI E LIMA, 2004).
Além dos grupos apresentados anteriormente que detém o poder sobre a
mídia brasileira, outro agravante para a situação midiática brasileira atual é o
chamado coronelismo eletrônico. Esse tipo de coronelismo torna a mídia enraizada
no poder, pois atrela aos setores do Executivo e Legislativo às redes de
comunicação - apesar de a Constituição proibir de ocupar funções de diretor ou
gerente de empresa concessionária de rádio e TV quem estiver em exercício de
mandato eletivo. Segundo Leite (2013, p.65), a relação entre a política e a
radiodifusão é um fenômeno fortemente enraizado na cultura brasileira, tanto nos
tempos de ditadura como nos de democracia.
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Em tempos de globalização e pós-globalização, de convergência tecnológica
do setor de comunicações, aumenta a importância de estudar o conjunto de meios
enquanto indústria da comunicação, com suas empresas e rotinas próprias dentro
da sociedade capitalistas detentora de linguagens, formatos, estratégias, processos,
e agentes múltiplos que envolvem a comunicação de massa, projetam imagens e
visibilidades e a constituem um poder no mundo contemporâneo (RUBIM, 2000).
Este poder informativo, por sua vez, incide diretamente nos impactos
causados no sistema econômico, uma vez que os escândalos por corrupção
corroboram para seu baixo crescimento. Conforme Chaia e Texeira (2001), a
corrupção acarreta inúmeros malefícios para o Estado, pois torna-se um grande
obstáculo para o desenvolvimento de um país, aumenta a desigualdade social,
causa distorções na concorrência, solapa a democracia, a confiança no Estado, a
legitimidade dos governos e a moral pública.
2. Principais escândalos políticos analisados
Para que seja viável compreender a relação existente entre mídia e política, é
necessário observar a dependência mútua existente entre os dois. Por um lado, os
atores políticos dependem do poder midiático para lhe garantir visibilidade, por outro,
a mídia necessita dos atores políticos para que eles possam oferecer informações
para sua publicação. Sendo assim, a mídia serve como um ator importante de
comunicação que possui um papel de disseminar informações que orientam a
opinião do público, mas para isso ela também precisa de atores que facilitem o seu
acesso a informações e a propagação de seus discursos (MOREIRA, 2015).
Dentro do cenário midiático, para a construção das notícias, o jornalista
funciona como mediador entre os fatos e o público, pois ele é quem decide como
deve ajustar o fato apurado para passar para o público. Nesse caso, o jornalista
utiliza a teoria do enquadramento ao invés da teoria do espelho. Na teoria do
enquadramento, o profissional deve estabelecer critérios sobre o fato e decidir o que
deve ser noticiado; já na teoria do espelho, o jornalista deve ser imparcial e
transmitir a verdade assim como o espelho reflete uma imagem (MOREIRA, 2015).
É necessário ressaltar que no processo de produção de notícias, os
jornalistas também sofrem interferência das editoras, do modo que realiza seu
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trabalho e dos métodos que escolhe para realizá-lo (SÁBADA, 2007). Mesmo com
toda a técnica adotada pelos detentores da informação para transmiti-la, o leitor é
capaz de interpretar a realidade social, agindo não só como espectadores; pois,
dentro da perspectiva construtivista, a interpretação individual possibilitaria atribuir
novos significados as notícias as quais eles são expostos (SÁBADA, 2007). Diante
disso, faz-se necessário apresentar alguns acontecimentos políticos, tratados
amplamente pela mídia e que tiveram consequências para o cenário político.
O “Mar de lama” foi uma expressão utilizada pelos opositores do presidente
Getúlio Vargas para designar a corrupção que teria caracterizado seu segundo
governo, no qual o próprio presidente Vargas tinha conhecimento das transações
ilícitas realizadas por Gregório Fortunato, chefe da sua guarda pessoal. Essas
irregularidades vieram à tona em agosto de 1954, durante os inquéritos conduzidos
pela polícia e pela Aeronáutica para descobrir o mandante do Atentado da
Toneleros, no qual foi assassinado o major-aviador Rubens Vaz e ficou ferido o
jornalista da oposição Carlos Lacerda, dono do jornal Tribuna da Imprensa.
Com a prisão de Gregório, que foi responsabilizado pela contratação do
pistoleiro que atirou em Rubens Vaz e em Lacerda, e a apreensão do seu arquivo
particular, vieram a público notícias de corrupção em larga escala por ele praticada,
tais como subornos, empréstimos irregulares contraídos no Banco do Brasil,
contatos estreitos com criminosos profissionais e a compra irregular de uma fazenda
de um filho de Getúlio, Manuel Vargas, por quase quatro milhões de cruzeiros
antigos. Decepcionado com toda aquela situação, habilmente explorada pela
imprensa da oposição e pelos parlamentares da União Democrática Nacional (UDN),
Getúlio teria afirmado ao coronel da Aeronáutica João Adil de Oliveira, responsável
pelo inquérito policial-militar que investigava o atentado da Toneleros: “Tenho a
impressão de me encontrar sob um mar de lama”.
Já o “Collorgate” foi um termo cunhado pelos cientistas políticos americanos
Keith Rosen e Richard Downes, quando ambos fazem uma analogia do caso Collor
com o escândalo de Watergate, protagonizado por Richard Nixon,onde o presidente
usou exaustivamente das mídias televisivas e do rádio para tentar provar a sua
inocência. Este caso é usualmente referenciado como o primeiro grande caso de
corrupção no País e envolveu o julgamento político e criminal do então Presidente
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da República, Fernando Collor, que havia assumido o Governo Federal a partir de
uma campanha eleitoral de rompimento com o coronelismo e o clientelismo.
A intensa atuação da imprensa permitiu que a população acompanhasse o
caso com detalhes e formasse uma forte opinião negativa sobre Collor, razão pela
qual se registrou a queda de popularidade do ex-Presidente. Sem dúvida, a falta de
apoio popular foi um fator importante para seu fracasso no Congresso Nacional que
foi sensível às manifestações públicas ao abrir a CPI e acelerar o processo de
julgamento do impeachment contra o ex-Presidente (SOUZA, 2000).
A Ação Penal nº 470/MG, popularmente conhecida como “Mensalão”, teve
seu primeiro caso em 2005, no qual foi publicado pela revista “Veja” uma denúncia
de um esquema de corrupção na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos.
Como meio de amplificar o escândalo, os partidos da oposição criam uma CPI no
Congresso para analisar o caso. Após tal afirmativa, o então deputado Roberto
Jefferson acusa publicamente o Partido dos Trabalhadores (PT), de comprar votos,
provocando uma forte mobilização midiática para o caso (AZEVEDO, 2010).
Segundo Campos (2015), o julgamento foi político, injusto e contraditório, já
que realizou condenações sem provas e não obedeceu a regra do Direito primordial,
a qual afirma que todos são inocentes até que se prove o contrário. Sendo assim, os
acusados estavam sendo condenados pela mídia antes mesmo do julgamento
acontecer. O julgamento legal aconteceu em 2012. De acordo com os meios de
comunicação, no Mensalão foram realizadas compras de votos de deputados por
meio de uma mesada que era resultante do desvio de dinheiro público (CAMPOS,
2015).
Por sua vez, a operação Lava Jato, nome utilizado devido o envolvimento de
uma rede de postos de combustíveis e lava a jato de automóveis – a Petrobrás –
para realizar uma lavagem de dinheiro (MPF, 2014), foi deflagrada em 17 de março
de 2014, perante a Justiça Federal, em Curitiba, fazendo com que posteriormente o
Ministério Público Federal recolhesse provas do grande esquema de corrupção que
estava acontecendo na maior estatal do país.
O esquema funcionava da seguinte maneira: as empreiteiras se organizavam
em um cartel e pagavam propina para altos executivos da Petrobrás e outros
agentes públicos, na qual era distribuída por meio de operadores financeiros, para
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que eles facilitassem seus negócios com a estatal. Em síntese, os contratos
fechados eram superfaturados, para permitir o desvio de dinheiro, e os operadores
financeiros eram encarregados de repassar a propina para os políticos e
funcionários públicos (MPF, 2014).
As empreiteiras, que deveriam concorrer entre si para conseguir o contrato da
Petrobrás, se organizavam em um cartel para substituir a concorrência real por uma
aparente. Ou seja, elas determinavam os preços e quem ganharia o contrato por
meio de reuniões secretas. Para encobrir o esquema, os registros escritos da
distribuição dos contratos eram feitos, algumas vezes, como se estivessem
distribuindo prêmios de bingo (MPF, 2014).
Uma das primeiras prisões realizadas na primeira fase da operação foi a do
doleiro Alberto Youssef, empresário brasileiro, que realizou um acordo de delação
premiada. Isto é, em troca de sua contribuição com as investigações do Ministério
Público Federal ele ganharia o alívio de sua pena (CIOCCARI, 2015). A delação
premiada se tornou um grande assunto na mídia brasileira, sendo realizadas
coberturas massivas sobre o assunto e sobre os envolvidos no esquema.
Outro caso de destaque foi o processo de impeachment da ex-presidente
Dilma Rousseff. A candidata do PT, reeleita em 2014, tomou posse de seu segundo
mandato em janeiro de 2015, em sessão solene na Câmara dos Deputados. Sua
campanha para reeleição foi massivamente criticada por diversos meios de
comunicação, salvo algumas exceções (MOREIRA, 2015), e na construção de seu
impeachment, ocorrido em 2016, a mídia exerceu um forte papel na formação de
opinião pública a favor da deposição do governo da então presidente (OLIVEIRA,
2016).
De acordo com McChesney (2010, p. 231), “o registro histórico mostra que as
corporações usam seu domínio dos meios de comunicação em benefício próprio,
cimentando assim sua vantagem política”. Benefício esse que foi possível observar
no acompanhamento dos veículos de circulação nacional em sua cobertura pró-
impeachment, no qual foram realizadas amplas divulgações sobre o evento,
enquanto as manifestações a favor do governo tiveram pouca, ou quase nenhuma,
divulgação (OLIVEIRA, 2016).
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Logo após a vitória de Dilma no 2º turno, em 2014, o sentimento de
ressentimento estava instaurado, uma vez que grandes partes dos aparelhos
midiáticos apoiavam a oposição. Tendo a imprensa como aliada, as manifestações
pró-impeachment receberam uma ampla cobertura (OLIVEIRA, 2016). Os protestos
contra a então presidenta continuaram, mas com o passar do tempo a adesão dos
manifestantes foi diminuindo. Sendo assim, Dilma, que contava com base aliada no
Congresso, teve seu apoio diminuído ao longo do julgamento e em agosto de 2016
teve, por fim, o seu mandato cassado.
3. O impacto dos escândalos políticos no crescimento econômico e nas
relações diplomáticas
A redemocratização brasileira (1985), consolidada pela Constituição de 1988,
aumentou de maneira progressiva a participação da opinião pública em assuntos
estrangeiros, de forma que a década de 1990 representou uma grande mudança
nessa relação, tendo como intermediador a mídia de massas. De acordo com
Casarões (2012) as medidas de liberalização econômica, tomadas pelos presidentes
Collor e FHC, ajudaram a aumentar o caráter distributivo da política externa.
A presidencialização, uma tendência da política externa brasileira (PEB), que
em geral é identificada quando há a presença de fortes chefes do Executivo,
também é um fator importante para a mudança na relação entre mídia, opinião
pública e política externa. Enquanto esta última estiver intimamente associada ao
presidente, seus atos no exterior naturalmente receberão mais atenção da mídia, e a
diplomacia é forçada a responder a opinião pública (CASARÕES, 2012, p.213).
Por outro lado, um fator que limita a capacidade de crescimento de um país
em maior ou menor grau é a corrupção. Segundo Nye (1967), corrupção é o
comportamento que se desvia dos deveres formais de um cargo público em razão
de vantagens pecuniárias ou de status oferecidas a seu titular, familiares ou amigos
íntimos; ou que viola normas que impedem o exercício de certas modalidades de
influência do interesse de particulares, tais como: a) suborno (uso de recompensa
para perverter o julgamento do ocupante de um cargo público); b) nepotismo
(concessão de cargo público sem prévia avaliação do mérito do candidato); e c)
peculato (apropriação ilegal de recursos públicos para uso particular).
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Segundo pesquisa realizada por Bruno Wilhelm Speck (2000), existem, em
várias regiões do mundo, experimentos de cálculo do grau de corrupção, do volume
dos desvios e do custo que o fenômeno tem para a economia, a sociedade e a
credibilidade das instituições políticas. Nesse sentido, as tentativas mais usuais de
quantificação têm como fundamento três indicadores distintos: (i) os escândalos
relatados na mídia; (ii) as condenações contabilizadas pelas instituições ligadas à
esfera penal; e (iii) as informações obtidas por meio de pesquisas entre cidadãos.
Em especial, o primeiro indicador, as fontes de mensuração são os meios de
comunicação, normalmente os jornais, sendo que alguns analistas usam tais dados
oriundos da imprensa para produzir uma quantificação. Todavia, esse critério ainda
se encontra em estado inicial e enfrenta duras críticas, haja vista que os seus
resultados dependem do grau de liberdade da imprensa, assim como sofrem
influências em razão da sensibilidade e da experiência do jornalismo em face do
problema (SPECK, 2000).
De acordo com Markovits e Silverstein (1988), um escândalo não poderia ser
qualificado como político somente pelo status dos sujeitos envolvidos. O que
diferencia um escândalo político de outros tipos de escândalos é a natureza das
transgressões, que devem implicar, necessariamente, uma violação de um processo
devido, entendido como as regras e procedimentos legalmente obrigatórios que
regem o exercício do poder político.
De acordo com Bernardo (2011), o mercado de ações tem uma função
importante no desenvolvimento da sociedade, realizando a intermediação entre
investidores e poupadores. Por meio do mercado de ações é possível saber o valor
pelo qual os investidores avaliam uma empresa, ou seja, os participantes estão
avaliando constantemente a maneira como os gestores comandam a companhia
(BERNARDO, 2011). O mercado de ações do Brasil sofreu e foi influenciado pela
Operação Lava Jato e pela abertura do processo de impeachment de Dilma
Rousseff, como consequência de uma série de decisões que prejudicou a economia
do país.
Segundo estudos realizados pela GO Associados (2017), o impacto de forma
direta e indireta ocasionados pela Operação Lava Jato na economia brasileira
podem chegar a R$ 142,6 bilhões em prejuízos no ano de 2015. Portanto, trata-se
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de um recuo de nada menos que 2,5% do PIB brasileiro. A empresa buscou estimar
os efeitos decorrentes da Operação Lava Jato em relação à redução dos
investimentos da Petrobrás, bem como do setor de construção de obras públicas.
Com isso, as perdas foram contabilizadas nas perdas do valor bruto da produção,
nos empregos e salários além dos impostos resultantes dos negócios envolvendo a
estatal.
Ainda de acordo com a GO associados (2017), as notícias sobre a Operação
Lava Jato sensibilizou a confiança do mercado investidor em relação ao mercado
brasileiro. No balanço referente a 2014, publicado com atraso pela Petrobrás, em
maio de 2015, o valor estimado das perdas com a corrupção foi de R$ 6,1 bilhões.
Para chegar a esse valor, foi aplicado o porcentual de 3% sobre o valor dos
contratos com os fornecedores investigados na área em que Paulo Roberto Costa foi
diretor, já que ele afirmou ser a porcentagem da propina cobrada nos contratos
firmados.
O economista Plínio Arruda Sampaio Júnior (2015) afirma que a
consequência imediata do processo de impeachment contra a presidente Dilma é o
aumento da incerteza econômica e política, o acirramento da guerra fratricida entre
as diferentes facções que disputam o controle do Estado e a paralisia ainda maior do
governo federal. Sendo assim, o agravamento da crise política tende a aprofundar a
recessão, aumentar o desemprego e exacerbar a especulação contra a moeda e o
patrimônio nacional.
Considerações Finais
O propósito principal deste trabalho foi analisar a influência midiática no Brasil
e como os episódios de escândalos políticos interferem nas atividades diplomáticas,
especialmente nas econômicas. Assim, constata-se que no Brasil há um ambiente
favorável à concentração midiática, em conformidade com a visibilidade que os
meios de comunicação possui para com a carreira política. De acordo Miguel (2003),
a visibilidade nos meios de comunicação é importante para o reconhecimento
público, ou seja, para o crescimento na carreira política; na qual, ela pode ser
alterada ou reafirmada pelos meios de comunicação.
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Miguel (2003) afirma que a mídia interfere na estruturação da carreira política,
uma vez que influencia na produção de capital político. A partir do momento em que
o indivíduo com alta visibilidade midiática pode conquistar cargos mais elevados na
carreira política, a mídia torna-se uma fonte de capital político. Conforme Emerson
Garcia (2003), embora a corrupção esteja presente em praticamente todas as fases
do desenvolvimento da humanidade, o aumento das transações comerciais
internacionais e o constante fluxo de capitais entre os países em muito contribui para
a sua proliferação.
Inevitável ou não, é certo que a corrupção acarreta inúmeros malefícios para
um Estado. O Banco Mundial, agência financiadora internacional, avalia a
necessidade de combater a corrupção, pois países com altos índices desses casos
não são viáveis para se fazer investimentos. Observa-se que a corrupção se torna
um grande obstáculo para o desenvolvimento de um país, aumenta a desigualdade
social, causa distorções na concorrência, solapa a democracia, a confiança no
Estado, a legitimidade dos governos e a moral pública (CHAIA e TEXEIRA, 2001).
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