EURO-HARMONIZAÇÃO DO DIREITO PENAL · TRATADO DE LISBOA (Tratado modificativo dos Tratados...

Preview:

Citation preview

EURO-HARMONIZAÇÃO

DO DIREITO PENAL

JOSÉ P. RIBEIRO DE ALBUQUERQUE

ALUNO 1660

FDUNL

SPEED 27 ABRIL 2011

1

•MELHORAR O QUADRO DE EFICÁCIA DO DIREITO PENAL NA LUTA contra o CRIME TRANSNACIONAL GRAVE.

• O AUMENTO DA COOPERAÇÃO JUDICIÁRIA EM MATÉRIA PENAL PODERÁ INDUZIR UMA EURO-HARMONIZAÇÃO DO DIREITO PENAL PELA PRAXIS JUDICIÁRIA.

• IMPORTA TESTAR A PLAUSIBILIDADE DESSA TESE.

• COMEÇAMOS POR CLARIFICAR CONCEITOS E DESCREVER O CONTEXTO EM QUE SE JOGA A HARMONIZAÇÃO.

SPEED 27 ABRIL 2011

2

A harmonização em conceitos

CONSENSUALIZAR O CAMPO SEMÂNTICO.

• Andre Klip: Harmonização como a convergência da prática jurídica dos diversos sistemas A partir de um padrão comum.

• A harmonização implica que existam diferenças para harmonizar, MAS SEM AS ELIMINAR. Não equivale a unificação.

• Anne Weyembergh: Harmonizar sistemas normativos diferentes = estabelecer entre eles analogias em função de um objectivo concertado na eliminação das divergências incompatíveis.

• A harmonização implica um alinhamento a partir de uma regulamentação modelar, que se pode traduzir na modificação de disposições existentes, de forma a torná-las mais conformes com princípios comuns prévios.

SPEED 27 ABRIL 2011

3

DISTINÇÕES:

• COOPERAÇÃO: Não visa alterar a substância do direito interno. Actua sobre os efeitos das normas jurídicas. Visa os actores ou os operadores de justiça.

• APROXIMAÇÃO: Tem sido sinónimo de harmonização. É preferencialmente referida pelo TUE como via de redução de disparidades através de regras mínimas.

• HARMONIZAÇÃO: Os direitos nacionais têm que se adaptar em função de objectivos ou de resultados impostos ou definidos. A harmonização preserva as especificidades locais de modo flexível e o direito nacional continua a existir como tal. A harmonização actua sobre o fundo mas não altera a forma das regras integradas (existem dois textos)

• UNIFICAÇÃO: As regras nacionais preexistentes são substituídas. Nova sistematização do direito. Transferência de competência. É uma forma de integração jurídica que cobre forma e fundo (um só texto)

SPEED 27 ABRIL 2011

4

• A harmonização a partir de um padrão comum, não tem tido o impulso e o protagonismo necessários para estruturar o Espaço de Liberdade, Segurança e Justiça (ELSJ)

SPEED 27 ABRIL 2011

5

Cooperação sem harmonização não garante confiança

mútua.

Confiança mútua é condição de eficácia do

reconhecimento mútuo

Reconhecimento mútuo sem

harmonização equivale a

confiança CEGA

SPEED 27 ABRIL 2011

6

TRATADO DE LISBOA (Tratado modificativo dos Tratados institutivos da UE e

das Comunidades Europeias)

Abolido sistema

de pilares.

Comunitarizou-se a

construção do ELSJ (art. 294

TFUE).

Aumento da competência

do Parlamento

Europeu Alargamento dos poderes

dos Parlamentos Nacionais.

A Directiva, Instrumento

do ELSJ, Sem

exclusão do efeito

directo.

Inovação: possibilidade da criação de uma

PROCURADORIA EUROPEIA (art.

86 TFUE).

Harmonização do direito

penal conjuga-se

com cooperação judiciária.

Pode realizar-se através de

regras mínimas em

algumas áreas do direito

substantivo e processual.

Mais legitimidade

democrática e mais eficácia no combate à criminalidade

grave transnacional.

A harmonização em CONTEXTO [QUE FORÇAS RETRAEM A HARMONIZAÇÃO]

• A harmonização requer heterogeneidade.

«... Quase nada se vê de justo ou de injusto que não mude com o clima. Três graus acima do pólo revertem toda a jurisprudência. Um meridiano decide da verdade. Em poucos anos de vigência, as leis fundamentais mudam. O direito tem as suas épocas. … Estranha justiça que um rio delimita. Verdade do lado de cá dos Pirenéus, mentira do lado de lá. Eles confessam que a justiça não está nos seus costumes, mas que reside nas leis naturais comuns a todos os países (...)».

SPEED 27 ABRIL 2011

7

Pascal, Blaise. Pensées, Fragments Et Lettres de Blaise Pascal:

Publiés Pour la Première Fois Conformément Aux Manuscrits,

Originaux en Grande Partie Inédits. BiblioBazaar, 2010.

•O pensamento de Pascal é certeiro para o direito penal que:

– Tem singularidades, como instrumento de controlo social através das penas.

– Reflecte consensos comunitários sobre uma particular cultura e uma particular moral.

– Ex: em questões fracturantes; criminalização do aborto, eutanásia, consumo de drogas ou resultantes de factos históricos como o holocausto ou o fascismo.

Idiossincrasias dos diferentes sistemas penais nacionais dificultam compreensão comum de institutos jurídicos da parte geral dos códigos penais (casos da tentativa, comparticipação, dolo, imputabilidade penal ou a culpa jurídico-penal.

SPEED 27 ABRIL 2011

8

A harmonização em CONTEXTO [QUE FORÇAS RETRAEM A HARMONIZAÇÃO]

SPEED 27 ABRIL 2011

9

•A diversidade de sistemas jurídico-penais nacionais não inviabiliza a harmonização do direito penal europeu.

– Impede talvez a unificação do direito penal. – A Euro- harmonização do direito penal implica

pluralidade e diferença, condição necessária e suficiente da harmonização.

A harmonização em CONTEXTO [QUE FORÇAS RETRAEM A HARMONIZAÇÃO]

SPEED 27 ABRIL 2011

10

A SOBERANIA:

Acervo cultural, económico, histórico e jurídico. Consenso que legitima a autoridade na definição de crimes.

• O direito penal clássico repousa na soberania territorial e está em

regra limitado pelas fronteiras nacionais (cf. art. 4º a 6º do C. Penal).

1. Pouco eficaz quando tem que actuar fora das suas fronteiras territoriais…

2. Condiciona a construção do ELSJ, muito à maneira do chamado paradigma da «Europa de Schengen»

A harmonização em CONTEXTO [QUE FORÇAS RETRAEM A HARMONIZAÇÃO]

a) A Europa Penal é acessória e favorecedora da Europa da economia.

a) Como instrumental dos interesses políticos nacionais dos países mais fortes, como a França e a Alemanha.

b) Fruto de sortilégios e de forças históricas.

c) A matéria penal, como medida compensatória dos riscos da integração económica.

d) A evolução da cooperação judiciária e da harmonização penal insatisfatórias. O «Apelo de Genebra»

SPEED 27 ABRIL 2011

11

A harmonização em CONTEXTO [QUE FORÇAS RETRAEM A HARMONIZAÇÃO]

• A SOBERANIA: EXPRESSÕES DE RESISTÊNCIA NO TRATADO DE LISBOA:

• Ao nível institucional e substantivo.

• O principio da atribuição como limite (art. 4º TUE e 72º TFUE). Os EM preservam total competência quanto à ordem pública e segurança internas.

• As regras mínimas (art.º 82 TFUE). Âmbito limitado pela facilitação do reconhecimento mútuo (cf. Programa de Estocolmo).

• Direito penal substantivo - regras mínimas – cf. art. 83 – nas seguintes condições: CRIMINALIDADE GRAVE, DE DIMENSÃO TRANSNACIONAL E MEDIANTE UMA BASE COMUM DE COMBATE OU DE IMPACTO.

• Enfase à subsidiariedade. Maior protagonismo das instituições nacionais.

SPEED 27 ABRIL 2011

12

A harmonização em CONTEXTO [QUE FORÇAS RETRAEM A HARMONIZAÇÃO]

• A SOBERANIA – EXPRESSÕES DE RESISTÊNCIA NO TRATADO DE LISBOA:

• Ao nível institucional e substantivo… (cont.)

• As iniciativas estratégicas e legislativas mantêm-se no poder dos (art.º 76º TFUE - cf. a Ordem de Investigação Europeia, de iniciativa d Bélgica, Bulgária, Estónia, Espanha, Áustria, Eslovénia e Suécia)

• Derradeiro instrumento de resistência à comunitarização do direito penal,: o «opt-out». (cf. Protocolo 21 e 22 ao Tratado Lisboa)

• O Conselho Europeu = institucionaliza um clima de intergovernamentalidade a um nível relevantíssimo de definição de política geral e de prioridades (cf.art. 13 TUE e 68 TFUE). Tem um papel propulsor estratégico no ELSJ

SPEED 27 ABRIL 2011

13

A harmonização em CONTEXTO [QUE FORÇAS RETRAEM A HARMONIZAÇÃO]

SPEED 27 ABRIL 2011

14

• A SOBERANIA – EXPRESSÕES DE RESISTÊNCIA NO TRATADO DE

LISBOA:

• Ao nível institucional e substantivo… (cont.)

• Protocolo sobre as disposições transitórias que adia os efeitos plenos das medidas adoptadas no 3º pilar por um período de 5 anos após a entrada em vigor do Tratado de Lisboa.

• Regra da unanimidade para expandir a competência da UE em matéria de harmonização processual e substantiva e quanto à criação da Procuradoria Europeia.

• Limites ao poder de controlo judicial pelo TJUE quanto ao direito penal.

• O TJUE não pode controlar a proporcionalidade e validade das operações executadas pelas forças policiais dos EM e em geral sobre as competências dos EM na manutenção da lei e da ordem e da segurança internas (art. 276º e 88º nº 3 do TFUE).

A harmonização em CONTEXTO [QUE FORÇAS RETRAEM A HARMONIZAÇÃO]

A HARMONIZAÇÃO EM ACÇÃO [A PRAXIS JUDICIÁRIA - VIA DE IGUALDADE E DE DIREITO

PENAL SINÓNIMO]

PORQUÊ HARMONIZAR?

CRIAR CONFIANÇA MÚTUA

FACILITAR COOPERAÇÃO JUDICIÁRIA EM MATÉRIA PENAL.

FACILITAR ACTUAÇÃO DA EUROPOL E EUROJUST

RESISTÊNCIA À HARMONIZAÇÃO

RECONHECIMENTO MÚTUO SEM HARMONIZAÇÃO

OPORTUNIDADE PARA UMA HARMONIZAÇÃO POR IMPULSO DA PRAXIS JUDICIÁRIA

SPEED 27 ABRIL 2011

15

SPEED 27 ABRIL 2011 16

TRIBUNAIS NACIONAIS COMO ACTORES DE UMA HARMONIZAÇÃO INSTITUCIONAL, VALORATIVA E EFICAZ

•IMPORTÂNCIA DA COMPARAÇÃO : IMPORTÂNCIA E DIFICULDADES.

•OS PRINCÍPIOS GERAIS COMO IMPULSO DA HARMONIZAÇÃO.

• UMA REDE DE TRIBUNAIS NACIONAIS COMO TRIBUNAIS DE DIREITO COMUM EUROPEU.

• OS NOVOS PODERES:

• VINCULATIVIDADE DA CDFUE.

• AUMENTO DAS FONTES. NOVA LEGITIMIDADE NA ADJUDICAÇÃO DO DIREITO.

• HARMONIZAR O DIREITO À LUZ DA CDFUE.

• PODER DE DERROGAR LEIS NACIONAIS QUE CONTRARIEM CDFUE.

• FERTILIZAÇÃO CRUZADA ENTRE DECISÕES JUDICIÁRIAS. UMA CULTURA JUDICIÁRIA COMUM

• NECESSIDADE DE FORMAÇÃO E PEDAGOGIA DOS AGENTES JUDICIÁRIOS

A OPORTUNIDADE É POIS PARA UMA NOVA PRUDÊNCIA, UMA NOVA DEONTOLOGIA E UMA

RENOVADA AXIOLOGIA.

A HARMONIZAÇÃO EM ACÇÃO [A PRAXIS JUDICIÁRIA - VIA DE IGUALDADE E DE

DIREITO PENAL SINÓNIMO]

LEGITIMAÇÃO DA PRAXIS HARMONIZADORA:

•O CASO PUPINO • INDÍCIO DE UMA AXIOLOGIA PRUDENCIAL.

• A CDFUE • POTENCIALIDADES.

• A JURISPRUDÊNCIA do TJ NOS CASOS GESTORAS PRO AMNISTIA E SEGI) • O DIREITO À TUTELA JURISDICIONAL EFECTIVA GARANTIDO PELOS ÓRGÃOS JURISDICIONAIS NACIONAIS

• A DECISÃO DO SUPERIOR TRIBUNAL REGIONAL DE ESTUGARDA (OBERLANDESGERICHTE), DATADA DE 25 DE FEVEREIRO DE 2010 – A PROPORCIONALIDADE DO MDE:

• RECONHECIMENTO MÚTUO SUJEITO A CRITÉRIOS DE VALORAÇÃO COMO A PROPORCIONALIDADE .

•EXEMPLO DE HARMONIZAÇÃO POR VIA DA PRAXIS JUDICIÁRIA.

SPEED 27 ABRIL 2011 17

A HARMONIZAÇÃO EM ACÇÃO [A PRAXIS JUDICIÁRIA - VIA DE IGUALDADE E DE DIREITO PENAL

SINÓNIMO]

OS DESAFIOS POSTOS À PRAXIS HARMONIZADORA

• MAIOR INCIDÊNCIA DE CRIME GRAVE TRANSNACIONAL (EX: O CYBERCRIME)

• MAIS CONFLITOS DE COMPETÊNCIA.

• REFORÇAR E REORGANIZAR AS ESTRUTURAS JUDICIÁRIAS.

• EFECTIVAÇÃO DOS DIREITOS E PRINCIPIOS CONSAGRADOS NA CDFUE.

•O PAPEL DOS JUIZES NACIONAIS NA INTERPRETAÇÃO DA CDFUE E O DIÁLOGO RENOVADO COM O TJUE E O PAPEL INSTITUCIONAL RELEVANTÍSSIMO DO TJUE NA HARMONIZAÇÃO PELA PRAXIS.

SPEED 27 ABRIL 2011

18

A HARMONIZAÇÃO EM ACÇÃO [A PRAXIS JUDICIÁRIA - VIA DE IGUALDADE E DE DIREITO PENAL

SINÓNIMO]

MUITAS FORÇAS RESISTÊNCIA

SPEED 27 ABRIL 2011

19

HARMONIZAÇÃO ASSENTE EM PADRÕES COMUNS

PRÉ-ESTABELECIDOS

RESULTADO HOMOGÉNEO OU SINÓNIMO, MESMO SIGNIFICADO = DIFERENTES SIGNIFICANTES.

CONDIÇÃO DE APROXIMAÇÃO, SUBSTITUIÇÃO OU EQUIVALÊNCIA, MAS NÃO DE IDENTIFICAÇÃO.

A DECISÃO DO TRIBUNAL REGIONAL DE ESTUGARDA REVELA POSSÍVEL A GRAMÁTICA E O

PROPÓSITO DA TESE.

INSTRUMENTO DE IGUALDADE NA HARMONIZAÇÃO DA APLICAÇÃO DAS NORMAS MÍNIMAS TESTA-SE A FUNÇÃO E

OBJECTIVOS DA HARMONIZAÇÃO

RISCO DE HARMONIZAÇÃO FORMAL CONDUZIR A APLICAÇÃO DA LEI PENAL DESIGUAL

SUPERAÇÃO PELA PRAXIS JUDICIÁRIA

A GARANTIA DA LEGALIDADE DEMOCRÁTICA DAS NORMAS AFIRMA-SE HOJE MAIS NO CONTROLO JURISDICIONAL DA SUA LEGITIMIDADE DO QUE DA SUA ORIGEM.

SPEED 27 ABRIL 2011 20

«A unidade da Europa nunca foi alcançada por aqueles

políticos que devem a própria importância e fortuna à sua divisão...

Seria como se a publicidade dos fechos “éclair” fosse confiada aos

fabricantes de botões».

Alexis Curvers «A esperança na salvação do mundo pela Europa nada tem

a ver, …, com finanças ou economia. Como a ciência económica

nada tem resolvido até gora, das duas uma: ou a ciência

económica não é ciência ou aqueles que dedicaram toda a vida a

estudá-la ainda não conseguiram penetrar nos seus misteriosos

segredos».

António Telmo

CONSIDERAÇÕES…

Recommended