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MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORALPROCURADORIA REGIONAL ELEITORAL NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE
EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) RELATOR(A):
Recurso contra Expedição de Diploma n. 4-17.2013.6.20.0034 – Classe 30 (em
conexão com o Recurso contra a Expedição do Diploma n. 2-
47.2013.6.20.0034).
Procedência: Mossoró-RN (34ª Zona Eleitoral – Mossoró-RN).
Recorrente: Ministério Público Eleitoral.
Recorrente: Coligação “Frente Popular Mossoró Mais Feliz” e Diretório
Municipal do Partido Socialista Brasileiro (PSB) em Mossoró-RN (Advogados
Dr. Francisco Marcos de Araújo e Dra. Fernanda Abreu de Oliveira).
Recorridos: Cláudia Regina Freire de Azevedo, Wellington Carvalho da Costa
Filho (Advogados Dra. Maria Izabel Costa Fernandes Rego e Dr. Humberto
Henrique Costa Fernandes Rêgo) e Rosalba Ciarlini Rosado (Advogado Dr.
Felipe Augusto Cortez Meira de Medeiros).
Relator: Juiz Verlano de Queiroz Medeiros.
EMENTA: RECURSO CONTRA EXPEDIÇÃO DO DIPLOMA PROPOSTO COM BASE EM CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO, ABUSO DE PODER POLÍTICO, ECONÔMICO E NOS
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MEIOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL. PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE. ACOLHIMENTO. DESNECESSIDADE DE CITAÇÃO DO RESPONSÁVEL PELA PRÁTICA DOS ATOS ABUSIVOS, SENDO SUFICIENTE A CITAÇÃO DOS CANDIDATOS BENEFICIADOS POR TAIS ATOS. INEXISTÊNCIA DE CASO DE LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO. MÉRITO. COESÃO E ROBUSTEZ PROBATÓRIA QUE APONTAM PARA A CONCESSÃO DE DIPLOMA EM MANIFESTA CONTRADIÇÃO COM A PROVA DOS AUTOS. CONHECIMENTO E PROVIMENTO DO RECURSO.PRELIMINAR.1. No recurso contra expedição do diploma proposto com base em abuso de poder não há necessidade de formação do litisconsórcio com os agentes públicos propiciadores da conduta, na medida em que não é exigido o acionamento obrigatoriamente em conjunto do candidato beneficiado e daqueles que tenham praticado ou participado do ato abusivo. A sanção de cassação do diploma pode ser aplicada aos beneficiários do abuso independentemente da integração à lide do agente responsável pela conduta abusiva. Não se tem hipótese de litisconsórcio passivo necessário, uma vez que este apenas ocorre quando houver previsão legal expressa ou quando, por conta da natureza jurídica da ação, o provimento jurisdicional acaba por atingir necessariamente outra pessoa (art. 47 do Código de Processo Civil). Na espécie, tratando-se de recurso contra expedição do diploma proposto com base em abuso de poder, além de inexistir previsão na Lei Complementar 64/1990, tampouco no art. 262 do
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Código Eleitoral, a decisão não exige julgamento uniforme em relação a todas pessoas envolvidas no ato abusivo, uma vez que a a cassação do diploma dos beneficiários não alcançam o agente público responsável diretamente pelo desvio de poder, isto é, sua esfera jurídica não será afetada com a procedência do pedido.MÉRITO.2. Comprovada por prova robusta e coesa a prática da captação ilícita de sufrágio pelos recorridos, que, agindo de forma mediata por meio de seus colaboradores, ofereceram aos eleitores as mais variadas benesses (sacos de cimento, promessa de legalização de terras, bicicletas e outros bens) com o objetivo de angariar-lhes o voto.3. A Governadora do Estado do Rio Grande do Norte e a Prefeita de Mossoró-RN, em comunhão de esforços, valeram-se de suas prerrogativas como Chefes dos Poderes Executivos Estadual e Municipal para, ultrapassando os limites da legalidade, favorecer seus correlegionários políticos, utilizando-se, para tanto, da máquina pública para alcançar esse intento, em evidente afronta ao equilíbrio de forças entre os candidatos ao pleito.4. A utilização da servidores públicos municipais, mormente ocupantes de cargos comissionados, mediante a participação ativa na campanha eleitoral, seja fazendo pesquisas de intenção de votos, seja comparecendo às reuniões políticas, seja colocando cartazes e bandeiras nas residências dos eleitores, seja colaborando na elaboração do plano de governo dos candidatos ou mesmo trajando vestuário com a cor de campanha adotada pelos recorridos em pleno local de trabalho, configura abuso do poder político.
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5. A vinculação entre a consecução de obras e programas do Governo Estadual à eleição dos recorridos, implica em clara desatenção ao princípio da impessoalidade que deve reger a administração pública, não se podendo negar, por outro lado, a forte influência sobre a vontade do eleitor, ampliando indevidamente a probabilidade de aquisição de um maior número de votos em favor dos candidatos detentores desse apoio político.6. O proveito da condição de agente público para colocar em vantagem os candidatos por eles apoiados caracteriza a prática de abuso de poder econômico e político, desigualando os candidatos e desestabilizando a lisura do processo eleitoral, por isso merecendo reprimenda rigorosa.7. A veiculação de notícias pelos diversos meios de comunicação social (rádio, televisão, internet) relacionadas à candidatura, aos projetos e as promessas de campanha dos recorridos, algumas imbuídas de cunho nitidamente tendencioso, revela a magnitude da desproporção dos meios utilizados pelos recorridos na disputa eleitoral, sendo suficiente para macular a vontade do eleitor, caracterizando uso abusivo dos meios de comunicação social e emprego de recursos econômicos desproporcionais.8. Muito embora a arrecadação e gastos ilícitos de recursos, disciplinada pelo art. 30-A da Lei 9.504/97, não possa ser objeto de exame no âmbito do recurso contra a expedição do diploma, a prática condenável de 'caixa 2' pode ser apurada sob o aspecto do abuso de poder econômico.9. Omissão verificada na prestação de contas que, analisada em conjunto com as demais condutas ilícitas evidenciadas, demonstra à saciedade a
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ofensa de forma grave e ampla à lei e a isonomia de oportunidades entre os candidatos. 10. Existência nos autos de provas harmônicas e incontestes de que os ora recorridos se utilizaram largamente da máquina administrativa com o escopo meramente eleitoreiro, assim como restou demonstrada a prática de captação ilícita de sufrágio em seu favor, o abuso de poder econômico e nos meios de comunicação social. Assim, os fatos alegados no presente recurso contra expedição de diploma revelam-se aptos a toldar a normalidade e a higidez da disputa eleitoral, sendo por isso, impositiva a cassação dos diplomas outorgados aos recorridos.
O MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL, por meio do Procurador
Regional Eleitoral que subscreve, com fundamento no art. 72 da Lei
Complementar 75/1993 e nos arts. 29 a 31 do Regimento Interno do Tribunal
Regional Eleitoral do Rio Grande do Norte e em atenção ao despacho da folha
1347 do volume 6, manifesta-se da forma que segue.
1. RELATÓRIO.
O Ministério Público Eleitoral interpôs recurso contra a expedição do
diploma dos candidatos eleitos Prefeito e Vice-Prefeito do Município de
Mossoró-RN, Cláudia Regina Freire de Azevedo e Wellington de Carvalho
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Costa, com base no inciso IV do art. 262 Código Eleitoral, sustentando, em
síntese:
a) a ocorrência de captação ilícita de sufrágio, consubstanciada no
oferecimento de sacos de cimento e pares de óculos em contrapartida aos votos
dos eleitores, tendo como prova pré-constituída as Representações n. 771-
89.2012.6.20.0034 e n. 775-29.2012.6.20.0034, assim como a promessa de
doação de quantia vultuosa à entidades filantrópicas municipais por empresário,
financiador da campanha eleitoral dos recorridos, acaso lograssem êxito nas
eleições, objeto da Representação n. 773-59.2012.6.20.0034;
b) prática de abuso de poder político e econômico, em virtude da
realização de reunião e arregimentação de servidores públicos municipais
durante o horário de expediente com o objetivo de organizar e adotar estratégias
em benefício da campanha eleitoral dos recorridos, tratada nos autos da
Representação n. 781-36.2012.6.20.0034 e da Representação n. 776-
14.2012.6.20.0034, aliados à nomeação de filha de vereador em troca de seu
apoio político, examinada na Representação n. 779-66.2012.6.20.0034;
c) abuso de poder econômico e político em decorrência de omissões na
prestação de contas apresentadas pelos recorridos consistentes em: 1) falta de
contabilização de despesas com helicóptero durante a campanha eleitoral; 2)
arrecadação de recursos depois das eleições; 3) doação de mão de obra,
combustível e carro de som por pessoas jurídicas cujas atividades econômicas
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não se inserem nesse ramo; 4) doação por entidade que recebe contribuição de
entes públicos; 5) doação por pessoa jurídica cujas atividades se encontravam
baixadas desde 2010; 6) irregularidade em doação de veículos os quais, na
verdade, teriam sido utilizados para sonorização da campanha, além de não se
inserirem na atividade econômica da empresa doadora e estarem também
aquém dos preços praticados no mercado, sendo que todas essas irregularidades
alcançariam aproximadamente R$ 1.341.814,20 (hum milhão, trezentos e
quarenta e um mil, oitocentos e quatorze reais e vinte centavos), cerca de
42,50% das receitas declaradas pelos candidatos/recorridos (folhas 02 a 48).
Paralelamente, também foi proposto no mesmo juízo eleitoral o recurso
contra expedição de diploma registrado sob o n. 2-47.2013.6.20.0034,
figurando como recorrente a Coligação “Frente Popular Mossoró Mais Feliz” e
o Diretório Municipal do Partido Socialista Brasileiro (PSB) em Mossoró-RN,
tendo como recorridos Cláudia Regina Freire de Azevedo e Wellington de
Carvalho Costa.
No referido recurso contra expedição de diploma n. 2-
47.2013.6.20.0034, foram imputados os mesmos fatos narrados na petição
inicial do recurso contra expedição de diploma manejado pelo Parquet
Eleitoral, ou seja, (a) nomeação de filha de Vereador para cargo em comissão,
em contrapartida ao seu apoio político, (b) captação ilícita de sufrágio mediante
a entrega de cimento e pares de óculos, (c) promessa de vantagem pecuniária
feita pelo empresário Edvaldo Fagundes a instituições filantrópicas, na hipótese
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dos candidatos recorridos sagrarem-se vencedores no pleito, (d) participação de
servidores públicos municipais em reunião política durante o horário de
expediente e (e) irregularidades nas prestações de contas dos recorridos. Além
desses, no recurso contra expedição de diploma n. 2-47.2013.6.20.0034
também foram apresentados outros fatos, os quais são objeto das ações de
investigação judicial eleitoral n. 243-58.2012.6.20.0033, 313-
75.2012.6.20.0033 e 417-67.2012.6.20.0033, consistentes no seguinte:
a) prática de abuso de poder econômico e político por meio do uso
indevido da estrutura administrativa do Estado do Rio Grande do Norte e do
Município de Mossoró-RN, consistentes em: 1) uso de aeronave pertencente o
Estado do Rio Grande do Norte para o trânsito da Governadora do Estado para
movimentações políticas no Município de Mossoró-RN; 2) remoção do
servidor público estadual José Neto de Queiroz, tendo como finalidade
proporcionar-lhe meios de se dedicar à coordenação do marketing da campanha
eleitoral da recorrida Cláudia Regina Freire de Azevedo; 3) uso de cerca de
uma centena de servidores públicos municipais, a maioria ocupantes de cargos
comissionados, na campanha eleitoral; 4) exoneração de servidores
comissionados que apresentassem postura política contrária aos interesses dos
recorridos; 5) conversão de promessas de campanha em prática ou projetos da
Prefeitura Municipal; 6) emprego das cores da campanha dos recorridos em
fardamentos da Prefeitura; e 7) veiculação de propaganda institucional durante
o período eleitoral;
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b) prática de abuso de poder nos meios de comunicação social mediante
a arregimentação de blogueiros e veiculação de notícias conferindo tratamento
privilegiado aos recorridos nos jornais Gazeta do Oeste, Correio da Tarde e
Jornal de fato, publicações que são vinculadas ao grupo político dos recorridos;
c) uso de dezenas de carros de som para divulgar mensagens vinculando
as realizações do governo estadual à candidatura dos recorridos, assim como o
comparecimento pessoal da Governadora do Estado no Município de Mossoró,
semanalmente, para anunciar e inaugurar obras públicas, vinculando a
continuidade das realizações à eleição da candidata/recorrida;
d) captação ilícita de sufrágio realizada pela Governadora do Estado do
Rio Grande do Norte em benefício dos recorridos, mediante a promessa de
legalização das terras dos assentados na comunidade rural do Hipólito em troca
de seus votos, conforme noticiado em blog, e também pelo empresário Edvaldo
Fagundes e seus familiares, mediante a distribuição de dinheiro, bicicletas e
cadeiras de rodas; e
e) inauguração de obra pública em período vedado, veiculação de
outdoor no qual se anuncia obra apresentada como plataforma de campanha em
favor dos recorridos pelo Governo do Estado do Rio Grande do Norte (folhas
02 a 164).
Devidamente citados, os recorridos apresentaram contrarrazões e
suscitaram, preliminarmente, a necessidade de conexão entre os recursos contra Recurso contra Expedição do Diploma n. 4-17.2013.6.20.0034. 9/111
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a expedição de diploma e a litigância de má-fé do Ministério Público Eleitoral.
No mérito, pediram o desprovimento do recurso, sob o fundamento de falta de
prova dos fatos mencionados na petição inicial (folhas 643 a 688 e folhas 195 a
282 do recurso contra expedição de diploma n. 2-47.2013.6.20.0034).
Dada a existência de conexão entre os recursos contra expedição de
diploma acima mencionados, os autos foram reunidos para julgamento conjunto
(folhas 743 a 745). Em seguida, foi determinada a realização de diversas
diligências e constatada a necessidade de integração à lide da Governadora do
Estado do Rio Grande do Norte, Rosalba Ciarlini Rosado, na condição de
litisconsorte passiva necessária, sob o fundamento de que muitos dos fatos
descritos nas petições iniciais se referem à prática de condutas vedadas por ela
praticadas na qualidade de agente público (folhas 754 a 764 e 892 a 894).
Em suas contrarrazões, Rosalba Ciarlini Rosado suscitou preliminares
de ilegitimidade passiva, uma vez que sua esfera jurídica somente poderia ser
atingida em decorrência da aplicação da sanção de inelegibilidade, inaplicável
em recurso contra expedição de diploma, e de decadência, uma vez que
expirado o prazo para formação do litisconsórcio. Quanto ao mérito, sustentou
a inexistência de prova quanto aos fatos abusivos a ela atribuídos (folhas 925 a
941).
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Realizada instrução, com oitiva de testemunhas (folhas 1193 a 1214),
foram os autos enviados a esta Procuradoria Regional Eleitoral para fins de
oferecimento de alegações finais.
2. FUNDAMENTAÇÃO.
2.1. Da preliminar suscitada pela litisconsorte passiva necessária.
Necessidade de exclusão da lide da Governadora do Estado do Rio Grande
do Norte da lide.
De início, cumpre apreciar uma questão prévia suscitada por Rosalba
Ciarlini Rosado no recurso contra expedição de diploma (RCED) n. 4-
17.2013.6.20.0034, no ponto em que suscita preliminar de ilegitimidade
passiva, sob o argumento de que sua esfera jurídica somente poderia ser
atingida em decorrência da sanção de inelegibilidade, inaplicável em recurso
contra expedição de diploma.
Realmente, assiste razão à recorrida quando alega que não há
obrigatoriedade de seu ingresso na lide na condição de litisconsorte passiva
necessária.
Isso porque, com fundamento no inciso IV do art. 262 do Código
Eleitoral, caberá recurso contra expedição de diploma quando a concessão ou
denegação do diploma estiver em manifesta contradição com a prova dos autos,
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nas hipóteses de falsidade, fraude, coação, interferência do poder econômico,
desvio ou abuso do poder de autoridade, em desfavor da liberdade do voto,
emprego de processo de propaganda ou captação de sufrágio vedada por lei
(Código Eleitoral, arts. 222 e 237).
Nesse contexto, embora parte da causa de pedir se refira à prática de
conduta vedada, esta deverá necessariamente ser examinada sob a ótica poder
político/autoridade, que se amolda justamente à situação prevista pelo inciso IV
do art. 262, associado com os arts. 222 e 237 do Código Eleitoral, uma vez que
as condutas vedadas, em si, não podem ser apuradas em recurso contra a
expedição do diploma, dada a taxatividade de seu rol.
A esse respeito, confira-se os seguintes precedentes do Tribunal
Superior Eleitoral (destaques acrescidos)
RECURSO ESPECIAL ELEITORAL. INTEMPESTIVIDADE. ART. 2º DA LEI Nº 9.800/99. NÃO-CONFIGURAÇÃO. OMISSÃO. INEXISTÊNCIA. IMPOSSIBILIDADE DE REEXAME DO SUBSTRATO FÁTICO-PROBATÓRIO. SÚMULAS Nº 7/STJ E Nº 279/STF. APROVEITAMENTO ELEITORAL DA CONDUTA. ART. 73, IV, DA LEI Nº 9.504/97. CONFIGURAÇÃO. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. AUSÊNCIA DE MANIFESTAÇÃO E DE PREJUÍZO. ARTS. 245 E 249, § 1º, DO CPC. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. RCED. APURAÇÃO DE CONDUTA VEDADA.
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PROCEDIMENTO DO ART. 96 DA LEI Nº 9.504/97. AUSÊNCIA DE MANIFESTAÇÃO E DE PREJUÍZO. ADOÇÃO DO RITO DO ART. 258 DO CÓDIGO ELEITORAL. ART. 219 DO CÓDIGO ELEITORAL. INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL. ABUSO DE PODER ECONÔMICO, POLÍTICO E DE AUTORIDADE. UTILIZAÇÃO INDEVIDA DA MÁQUINA ADMINISTRATIVA. CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO. CONDUTA VEDADA AOS AGENTES PÚBLICOS. PROCEDIMENTO SIMILAR AO ADOTADO NO RCED Nº 608, REL. MIN. BARROS MONTEIRO, DJ DE 24.9.2004. NÃO-PROVIMENTO.(…)8. O recurso contra expedição de diploma em apreço consubstancia substrato fático extraído de três ações de investigação judicial eleitoral, imputando aos ora recorrentes o suposto abuso de poder econômico, político e de autoridade, utilização indevida da máquina administrativa, captação ilícita de sufrágio e prática de conduta vedada aos agentes públicos. Correto o procedimento adotado conforme se depreende do voto do Min. Carlos Eduardo Caputo Bastos no RCED 608, de relatoria do Min. Barros Monteiro, DJ de 24.9.2004: “não se valendo a parte interessada, ou o Ministério Público, do uso do instrumento legal adequado (representação, de que trata o art. 96 da Lei nº 9.504/97), o fato ou a conduta tida por ilícita só poderá ser objeto de enquadramento e capitulação legal no recurso contra expedição de diploma ou na investigação judicial, na modalidade de abuso do poder político ou de autoridade, na forma do referido inciso IV do art. 262, c.c. o art. 237 do Código Eleitoral e art. 22 da Lei Complementar no 64/90.”
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9. Não houve o julgamento extra petita que cogitam os ora recorrentes, haja vista no RCED requerer-se a cassação dos diplomas dos recorridos, pedido que se mostra condizente não só com os fatos noticiados, mas também com o instrumento manejado.10. Recurso especial eleitoral a que se nega provimento. (REspE 28158-Castro Alves/BA, Rel. Min. José Augusto Delgado, j. em 19/6/2007, pub. DJ 8/8/2007, p. 231)
RECURSO CONTRA EXPEDIÇÃO DE DIPLOMA. ELEIÇÕES 2010. GOVERNADOR. COLIGAÇÃO. ILEGITIMIDADE PASSIVA. CABIMENTO. ART. 262 DO CÓDIGO ELEITORAL. ROL TAXATIVO. ABUSO DE PODER POLÍTICO E ECONÔMICO E USO INDEVIDO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO. DESPROVIMENTO.1. A coligação não é parte legítima para figurar no polo passivo de RCED. Precedentes.2. O RCED é cabível apenas nas hipóteses taxativamente previstas no art. 262 do Código Eleitoral, dentre as quais não estão as matérias versadas no art. 30-A da Lei 9.504/97 e as condutas vedadas a agentes públicos em campanha (art. 73 e seguintes da Lei 9.504/97), sem prejuízo da análise dessas condutas sob a ótica do abuso de poder. Precedentes.3. O abuso de poder configura-se no momento em que a normalidade e a legitimidade das eleições são comprometidas por condutas de agentes públicos que, valendo-se de sua condição funcional, beneficiam candidaturas, em manifesto desvio de finalidade. Já o abuso de poder econômico ocorre quando determinada candidatura é impulsionada pelos meios econômicos
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de forma a comprometer a igualdade da disputa eleitoral e a própria legitimidade do pleito.4. Na espécie, não houve comprovação da prática dos alegados ilícitos eleitorais.5. Recurso contra expedição de diploma desprovido. (RCED 711647-Natal/RN, Rel. Min. Fátima Nancy Andrighi, j. em 27/10/2011, pub. DJE 8/12/2011, p. 32-33)
Recurso contra expedição de diploma. Abuso de poder.1. Para a configuração de abuso de poder, é necessário que se demonstre que os fatos praticados pelo agente público comprometem a igualdade da disputa eleitoral e a legitimidade do pleito.2. O recurso contra expedição de diploma não é instrumento para apurar eventual prática de conduta vedada.Agravo regimental não provido. (AgR-REspe 970372-Paranaguá/PR, Rel. Min. Arnaldo Versiani Leite Soares, j. em 6/11/2012, pub. DJE 30/11/2012, p. 7-8)
Na verdade, faz-se necessária a participação obrigatória do agente
público responsável quando se tratar de processo em que se apure a prática de
condutas vedadas previstas pelo art. 73 da Lei 9.504/1997. Aqui, ao contrário, a
propositura de recurso contra a expedição do diploma ocorreu com fundamento
no inciso IV do art. 262, associado com os arts. 222 e 237, todos do Código
Eleitoral (e não com base no art. 73 da Lei 9.504/1997), para apurar uso
indevido, desvio ou abuso do poder econômico e do poder de autoridade, assim
como utilização indevida de veículos ou meios de comunicação social, em
Recurso contra Expedição do Diploma n. 4-17.2013.6.20.0034. 15/111
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benefício de candidato. Dessa forma, não se está apurando a prática da conduta
vedada em si, mas apenas como prática hábil a configurar uso indevido, desvio
ou abuso do poder econômico e do poder de autoridade, assim como utilização
indevida de veículos ou meios de comunicação social.
De fato, na hipótese de ajuizamento da ação de investigação judicial
eleitoral em que se apure a prática de abuso de poder a formação do
litisconsórcio passivo necessário não é exigida pela legislação nem pela
jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral. Confira-se (destaques
acrescidos):
RECURSO ORDINÁRIO. ELEIÇÃO 2002. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL. ART. 22, LC Nº 64/90. PROPAGANDA. USO INDEVIDO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO. FATO OCORRIDO ANTES DO REGISTRO. IRRELEVÂNCIA. RECURSOS IMPROVIDOS. I- Admite-se a ação de investigação judicial eleitoral, fundada no art. 22 da LC nº 64/90, que tenha como objeto abuso ocorrido antes da escolha e registro do candidato (REspe nos 19.502/GO, rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ de 1º.4.2002, e 19.566/MG, rel. Min. Sálvio de Figueiredo, DJ de 26.4.2002). II- O inciso XIV do art. 22 da LC nº 64/90 não exige a formação de litisconsórcio passivo necessário entre o representado e aqueles que contribuíram com a realização do abuso. (RO 722-Curitiba/PR, Rel. Min. Francisco Peçanha Martins, unânime, j. em 15/6/2004, pub. DJ 20/8/2004, p. 125)
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REPRESENTAÇÃO. INVESTIGAÇÃO JUDICIAL. ALEGAÇÃO. ABUSO DO PODER POLÍTICO E ECONÔMICO. USO DE TRANSPORTE OFICIAL. ATOS DE CAMPANHA. AUSÊNCIA DE RESSARCIMENTO AO ERÁRIO PELAS DESPESAS EFETUADAS. INFRAÇÃO AOS ARTS. 73, I, E 76 DA LEI Nº 9.504/97. PRELIMINARES. FALTA DE INDICAÇÃO DE REPRESENTADOS. INÉPCIA DA INICIAL. REJEIÇÃO. IMPROCEDÊNCIA. ARQUIVAMENTO.O uso de transporte oficial para atos de campanha é permitido ao presidente da República e candidato à reeleição, devendo os valores gastos serem ressarcidos nos dez dias úteis posteriores à realização do primeiro ou do segundo turno, se houver, do pleito, sob pena de aplicação aos infratores de multa correspondente ao dobro do valor das despesas, nos termos dos arts. 73, § 2º, e 76, caput, §§ 2º e 4º, da Lei das Eleições. Pessoas jurídicas não podem integrar o pólo passivo em ação de investigação judicial eleitoral pela razão de não estarem sujeitas às penas previstas na Lei Complementar no 64/90.É pacífica a jurisprudência do TSE no sentido de que não é exigível a formação de litisconsórcio passivo necessário nas ações de investigação judicial da referida norma complementar.Não configurado o abuso de poder político e econômico, julga-se improcedente a representação. (RP 1033-Brasília/DF, Rel. Min. Francisco Cesar Asfor Rocha, j. em 7/11/2006, pub. DJ 13/12/2006, p. 169)
AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO
Recurso contra Expedição do Diploma n. 4-17.2013.6.20.0034. 17/111
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JUDICIAL. ABUSO DO PODER ECONÔMICO. RECONHECIMENTO. DECLARAÇÃO DE INELEGIBILIDADE. CAPTAÇÃO DE SUFRÁGIO. NÃO-COMPROVAÇÃO. PRELIMINARES DE USURPAÇÃO DE COMPETÊNCIA PELA CORTE REGIONAL. ILEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM DE PARTIDO COLIGADO PARA REPRESENTAR APÓS O PERÍODO ELEITORAL. FORMAÇÃO DE LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO. AUSÊNCIA DE INTERESSE PROCESSUAL, ANTE O NÃO ATENDIMENTO DO PRAZO DE 5 DIAS PARA O AJUIZAMENTO DA INVESTIGAÇÃO JUDICIAL. REJEITADAS. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL NÃO-CONFIGURADA. REEXAME DE PROVAS. NEGATIVA DE SEGUIMENTO DO AGRAVO ANTE A DISSONÂNCIA DAS RAZÕES DO RECURSO ESPECIAL COM A JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE.1 - É firme o entendimento desta Corte de que cabe ao presidente do tribunal regional o exame da existência ou não da infração à norma legal, sem que isso implique usurpação da competência deste Tribunal (Precedentes).2 - Após a eleição o partido político coligado tem legitimidade para, isoladamente, propor representação, conforme orientação deste Tribunal.3 - A formação do litisconsórcio passivo necessário só se dá quando houver previsão legal expressa ou, em razão da natureza jurídica da ação, cada pessoa possa ser atingida diretamente pela decisão judicial. O art. 22 da LC nº 64/90 não exige a formação de litisconsórcio passivo necessário entre o representado e aqueles que contribuíram para a realização do abuso. Precedentes.(…)
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9 - Agravo regimental conhecido, mas desprovido. (AAG 6416-Jandira/SP, Rel. Min. José Gerardo Grossi, unânime, j. em 23/11/2006, pub. DJ 5/12/2006, p. 137)
RECURSO ORDINÁRIO. EMPATE. JULGAMENTO. INOCORRÊNCIA. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL (AIJE). ABUSO DO PODER POLÍTICO. ABUSO DE AUTORIDADE. ART. 22 DA LC Nº 64/90. CARACTERIZAÇÃO. 1. O art. 22 da LC nº 64/90 não exige a formação de litisconsórcio passivo necessário entre o representado e aqueles que contribuíram para o abuso. Precedentes.2. A realização de reuniões convocadas pelo prefeito e pela cúpula administrativa municipal, de caráter supostamente administrativo, para convencer os servidores públicos a votarem no irmão do titular, candidato ao cargo de deputado estadual, caracteriza o abuso do poder político e de autoridade.3. Recursos ordinários desprovidos, mantendo-se a sanção de inelegibilidade imposta aos recorrentes. (RO 1526-João Pessoa/PB, Rel. Min. Marcelo Henriques Ribeiro de Oliveira, unânime, j. em 9/6/2009, pub. DJE 4/8/2009, p. 93)
ELEIÇÕES 2008. Ação de investigação judicial eleitoral julgada parcialmente procedente. Captação ilícita de sufrágio (art. 41-A da Lei n. 9.504/97). Cassação dos diplomas do Prefeito e da Vice-Prefeita e aplicação de multa. Recurso especial não admitido. Embargos de declaração opostos contra decisão monocrática em agravo de instrumento. Pedido de
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reforma da decisão. Recebimento como agravo regimental.Preliminar de existência de litisconsórcio passivo necessário entre o autor da conduta e o beneficiário. Rejeição. Precedentes.A formação do litisconsórcio passivo necessário se dá quando houver previsão legal expressa ou, em razão da natureza jurídica da ação, cada pessoa puder ser atingida diretamente pela decisão judicial.O art. 22 da Lei Complementar n. 64/90 não exige a formação de litisconsórcio passivo necessário entre o beneficiado e aqueles que contribuíram para a realização da conduta abusiva.Mérito. Cassação com base no acervo fático-probatório analisado pelas instâncias ordinárias. Impossibilidade de rever essa conclusão em recurso especial (Súmula n. 279 do Supremo Tribunal Federal). Precedentes.Agravo regimental ao qual se nega provimento. (AgR-AI 11834-Ribeirão Cascalheira/MT, Rel. Min. Cármem Lúcia Antunes Rocha, unânime, j. em 19/8/2010, pub. DJE 17/9/2010, p. 38).
AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AIJE. PARTIDO POLÍTICO. BENEFICIÁRIO DA CONDUTA ABUSIVA. LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO. INEXISTÊNCIA. SÚMULA Nº 182/STJ. INOVAÇÃO DE TESE RECURSAL. INADMISSIBILIDADE. PRECLUSÃO CONSUMATIVA. DESPROVIMENTO.1. É pacífico o entendimento jurisprudencial desta Corte no sentido de que o partido político não detém a condição de litisconsorte passivo necessário nos
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processos nos quais esteja em jogo a perda de diploma ou de mandato pela prática de ilícito eleitoral.2. A AIJE não exige a formação de litisconsórcio passivo necessário entre o beneficiado e aqueles que contribuíram para a realização da conduta abusiva. Precedentes.3. Para que o agravo obtenha êxito, é necessário que os fundamentos da decisão agravada sejam especificamente infirmados, sob pena de subsistirem suas conclusões.4. O agravo regimental não comporta inovação de teses recursais, ante a preclusão consumativa, devendo a matéria impugnada constar anteriormente do recurso especial.5. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgR-AI 13074-Ponto Chique/MG, Rel. Min. Marcelo Henriques Ribeiro de Oliveira, unânime, j. em 2/3/2011, pub. DJE 25/4/2011, p. 51)
O Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Norte, em recente
decisão, acompanhou tal entendimento, como se observa da ementa adiante
transcrita (destaques acrescidos):
RECURSOS ELEITORAIS - DECISÃO QUE DEU PROVIMENTO A EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL - CONCESSÃO DE EFEITOS INFRINGENTES PARA ANULAR A SENTENÇA DE MÉRITO - PRELIMINAR DE NÃO CABIMENTO DOS ACLARATÓRIOS EM FACE DAS DECISÕES DOS JUÍZES ELEITORAIS DE PRIMEIRO GRAU - REJEIÇÃO - PRELIMINAR DE NULIDADE DE ATO DECISÓRIO - REJEIÇÃO
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- ERRO DE DIREITO NA DECISÃO RECORRIDA - OCORRÊNCIA - INEXISTÊNCIA DE OMISSÃO, CONTRADIÇÃO OU OBSCURIDADE NA SENTENÇA EMBARGADA - CONCESSÃO DE EFEITOS INFRINGENTES SEM A CORREÇÃO DE QUALQUER VÍCIO - INAPLICABILIDADE DOS PRECEDENTES INVOCADOS NA DECISÃO RECORRIDA À HIPÓTESE VERSADA NOS AUTOS - NÃO CABIMENTO DE JUÍZO DE RETRATAÇÃO EM SEDE DE ACLARATÓRIOS - AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL - PROVIMENTO PARCIAL DOS APELOS - CARÁTER PROTELATÓRIO - NÃO RECONHECIMENTO - REMESSA DE CÓPIA DOS AUTOS AO MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL(…)Conforme entendimento pacificado no Tribunal Superior, é desnecessária a formação de litisconsórcio passivo entre os candidatos beneficiados e aqueles que contribuíram para os atos abusivos na ação de investigação judicial eleitoral por abuso de poder. Não se aplica, à ação de investigação judicial eleitoral por abuso de poder econômico, político ou uso indevido dos meios de comunicação social, o entendimento sufragado no Tribunal Superior Eleitoral em sede de representações de conduta vedada a agente público, já que se tratam de ilícitos distintos, com violação de bens jurídicos diversos, que não comportam a adoção de um mesmo procedimento em sua apuração.Recurso a que se dá parcial provimento para reformar a decisão recorrida e, conhecendo dos embargos de declaração opostos pelos recorridos/investigados, rejeitá-los.
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Em prestígio ao princípio do duplo grau de jurisdição, afasta-se o caráter protelatório dos embargos, a fim de propiciar à parte a interposição de recurso eleitoral em face da sentença condenatória.Deferimento do pedido de extração de cópia dos autos e posterior remessa ao Ministério Público Estadual, em atendimento a requerimento formulado pelo Parquet Eleitoral. (RE n. 313-75.2012.6.20.0033- Mossoró/RN, Rel. Juiz Francisco Eduardo Guimarães Farias, maioria, j. em 1º/8/2013, pub. DJE 6/8/2013, p. 2-4).
De fato, não se tem hipótese de litisconsórcio passivo necessário, uma
vez que este apenas ocorre quando houver previsão legal expressa ou quando,
por conta da natureza jurídica da ação, o provimento jurisdicional acaba por
atingir necessariamente outra pessoa (art. 47 do Código de Processo Civil). Na
espécie, além de inexistir previsão na Lei Complementar 64/1990 nem no
Código Eleitoral, a decisão não exige julgamento uniforme em relação a todas
pessoas envolvidas no ato abusivo, uma vez que a cassação do diploma dos
beneficiários não alcança o agente público responsável diretamente pelo desvio
de poder, isto é, sua esfera jurídica não será afetada com a procedência do
pedido, até porque a inelegibilidade não pode ser aplicada no recurso contra
expedição do diploma, como já assentado pelo Tribunal Superior Eleitoral
(destaques acrescidos):
ELEIÇÕES 2008. Recurso especial eleitoral em recurso contra expedição de diploma. Prática de abuso de poder, condutas vedadas e captação ilícita de sufrágio. Abuso de poder e potencialidade lesiva não
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vislumbrados pelo Tribunal de origem. Impossibilidade do reexame de fatos e provas no recuso especial. Súmulas 279 do Supremo Tribunal Federal e 7 do Superior Tribunal de Justiça. Inaplicabilidade da sanção de inelegibilidade no RCED. Recurso especial ao qual se nega provimento. (REspE 1301583-Parnamirim/RN, Rel. Min. Cármem Lúcia Antunes Rocha, j. em 2/05/2012, pub. DJE 14/6/2012, p. 24)
Ainda que, numa forçosa e indevida interpretação ampliativa da petição
inicial, eventualmente se entendesse existir uma pretensão implícita dos
investigantes quanto à apuração e à condenação pela prática de conduta vedada
(art. 73 da Lei 9.504/1997), já se teria operado a decadência em relação a esse
fato (conforme consignado no próprio precedente citado na decisão que
determinou a citação da litisconsorte – folhas 892 a 894). De qualquer modo,
subsiste a apreciação destas mesmas condutas, só que agora sob o enfoque do
abuso de poder econômico e político, sendo que em relação a este tipo de ilícito
foi observada a única formação de litisconsórcio passivo necessário possível
nesses autos, a saber, aquela estabelecida entre os candidatos aos cargos de
Prefeito e Vice-prefeito, tal como exigido pela jurisprudência do Tribunal
Superior Eleitoral.
Por essas razões, deve ser acolhida a preliminar de ilegitimidade passiva
suscitada por Rosalba Ciarlini Rosado, Governadora do Estado do Rio Grande
do Norte, razão pela qual deve ela ser excluída da lide. Essa exclusão, contudo,
não tem qualquer influência na tramitação da ação, uma vez que ela foi ajuizada
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a tempo e modo em face de seus corretos legitimados passivos, tendo a
Governadora do Estado do Rio Grande do Norte sido chamada aos autos não
por iniciativa das partes, mas do relator.
2.2. Mérito.
Trata-se de recursos contra expedição de diploma registrados sob o n. 4-
17.2013.6.20.0034 e n. 2-47.2013.6.20.0034, interpostos com base no inciso IV
do art. 262 do Código Eleitoral, os quais foram reunidos em decorrência da
conexão existente entre eles (folhas 743 a 745 do RCED n. 4-
17.2013.6.20.0034).
Segundo narrado nas petições iniciais, os recorridos Cláudia Regina
Freire de Azevedo e Wellington de Carvalho Costa, candidatos eleitos nas
Eleições 2012, aos cargos, respectivamente, de Prefeito e Vice-Prefeito do
Município de Mossoró-RN, teriam sido diplomados em contrariedade à prova
da prática de captação ilícita de sufrágio, abuso de poder econômico e político e
uso indevido dos meios de comunicação social.
No caso em apreço, analisando-se os autos, observa-se realmente estar
evidenciada a prática de captação ilícita de sufrágio e de abuso de poder
político e econômico e nos meios de comunicação, uma vez que há nos autos
provas robustas a indicar a ocorrência efetiva dos fatos imputados aos
recorridos.
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Segue, abaixo, uma análise mais individualizada de cada uma das
condutas ilícitas narradas nas petições iniciais.
2.2.1. Da captação ilícita de sufrágio.
A primeira causa de pedir a ser analisada no presente recurso tem por
fundamento uma suposta prática de captação ilícita de sufrágio imputada aos
recorridos, o que configuraria a infração prevista no art. 41-A da Lei
9.504/1997. Aqui se sustenta que, mediante a prova pré-constituída existente
nas Representações n. 771-89.2012.6.20.0034 (anexo 1) e 775-
29.2012.6.20.0034 (anexo 2), assim como na ação de investigação judicial
eleitoral n. 417-67.2012.6.20.0033 (apenso C), seria possível considerar
provado o oferecimento de sacos de cimento, pares de óculos, legalização de
terras, cadeiras de rodas, dinheiro e bicicletas, tudo em contrapartida a
recebimento dos votos dos eleitores.
Primeiramente, registre-se que, para interposição de recurso contra a
expedição de diploma sob a alegação de que houve concessão do diploma em
manifesta contradição com a prova dos autos, não se exige que nestes autos (os
que serviram de base para o RCED) tenha sido proferida decisão, nem que
tenha a decisão eventualmente proferida transitado em julgado. Essa é a
jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral, conforme se verifica nos
seguintes julgados (destaques acrescidos):
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RECURSO ESPECIAL. ELEIÇÃO 2000. RECURSO CONTRA EXPEDIÇÃO DE DIPLOMA. ART. 262, IV, DO CÓDIGO ELEITORAL. DESNECESSIDADE DE DECISÃO JUDICIAL NA AÇÃO DA QUAL SE COLHEU A PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA. APELO PROVIDO.- No recurso contra expedição de diploma, fundado no art. 262, IV, do CE, é prescindível que a prova pré-constituída seja colhida em ação com decisão judicial. (REspE 21378-Rio Paranaíba/MG, Rel. Min. Francisco Peçanha Martins, unânime, j. em 11/5/2004, pub. DJ 28/5/2004, p. 165)
AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. RECURSO CONTRA EXPEDIÇÃO DE DIPLOMA. PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA. REPRESENTAÇÃO. POSSIBILIDADE. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. CONFIGURAÇÃO. AGRAVO DESPROVIDO.1. O recurso contra expedição de diploma deve admitir todos os meios de prova, desde que particularizadamente indicados na petição inicial. 2. O Tribunal Superior Eleitoral admite a prova pré-constituída 'colhida em representação que tenha ou não decisão judicial proferida' (REspe nº 21.378/MG, rel. Min. Francisco Peçanha Martins).3. Agravo desprovido. (REspE 25968-Luís Eduardo Magalhães/BA, Rel. Min. Carlos Augusto Ayres de Freitas Brito, unânime, j. em 24/4/2008, pub. DJ 1/7/2008, p. 7)
1. RECURSO CONTRA EXPEDIÇÃO DE DIPLOMA. DEPUTADO FEDERAL. ARTS. 262, IV,
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E 276, II, a, DO CÓDIGO ELEITORAL. PROVAS. REPRESENTAÇÃO ELEITORAL SEM TRÂNSITO EM JULGADO. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES. A jurisprudência pacífica do TSE admite provas pré-constituídas em recurso contra expedição do diploma, ainda que o feito original não tenha transitado em julgado.2. CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO. ART. 41-A. GASTOS ILÍCITOS DE CAMPANHA. ART. 23, § 5º, DA LEI Nº 9.504/97. NÃO COMPROVAÇÃO. DILAÇÃO PROBATÓRIA. PEDIDO GENÉRICO. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES. PEDIDOS IMPROCEDENTES. Ante a falta de provas das condutas ilícitas apontadas na inicial, passíveis de comprovar captação ilícita de sufrágio e/ou gastos ilícitos de campanha, o pedido deve ser julgado improcedente. (RCED 676-Cuiabá/MT, Rel. Min. Joaquim Benedito Barbosa Gomes, unânime, j. em 16/9/2008, pub. DJE 15/10/2008, p. 4)
Logo, o Tribunal a quem competir julgar originariamente o recurso
contra expedição de diploma pode examinar o conjunto fático e probatório
constante dos autos, verificando a presença ou não de elementos suficientes
para comprovação da prática da captação indevida de sufrágio ou abuso de
poder, de forma a ensejar a aplicação do inciso IV do art. 262 do Código
Eleitoral, independentemente do destino dado às ações eleitorais já existentes e
em tramitação que serviram de fundamento também para o recurso contra
expedição de diploma.
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Feito esse registro, cabe analisar no presente recurso contra a expedição
de diploma, com base nos mesmos elementos já em apuração nas
representações mencionadas, se há prova que aponte para a ocorrência de
captação ilícita de sufrágio a justificar a cassação da diplomação dos recorridos.
Na espécie, a prova produzida na mencionada Representação n. 771-
89.2012.6.20.0034 (relativa à troca de votos por sacos de cimento), pertinente à
captação ilícita de sufrágio, aponta, com a convicção que se exige nesses casos,
que os recorridos efetivamente praticaram a infração ao art. 41-A da Lei
9.504/1997, o que justifica a cassação da expedição do diploma.
Nesse contexto, é importante recordar o parecer da Procuradoria
Regional Eleitoral proferido nos autos do Recurso Eleitoral n. 771-
89.2012.6.20.0034, em que se analisou a referida representação. Naquela
oportunidade, a Procuradoria Regional Eleitoral se manifestou pelo
conhecimento e provimento do recurso, por entender existente violação ao
regramento legal. O parecer assinalou o seguinte:
“Com efeito, segundo consta na petição inicial, no dia 5 de outubro de 2012, foi afixada no retrovisor de um veículo pertencente à Promotoria Eleitoral uma 'denúncia' anônima, acompanhada de um 'vale compra', a qual narrava que aquele 'vale' estaria sendo distribuído na cidade pela candidata Cláudia Regina e por seus correligionários para os eleitores agraciados trocarem aquele 'crédito' por um saco de cimento na
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loja Akanaão Construções e em troca votarem em seu favor nas eleições de 2012.
De posse deste documento ('vale compra'), a Promotora Eleitoral destacou os servidores vinculados à Promotoria Kayo Mayro e Thiago Fernandes de Lima, bem como solicitou o acompanhamento de policiais militares, tendo se dirigido, posteriormente, à referida loja de material de construção, a fim de constatar a procedência da 'denúncia' que lhe foi apresentada.
Ao chegarem naquele estabelecimento comercial, entraram na mencionada loja os servidores Kayo Mayro e Thiago Fernandes, bem como o policial militar Mairon Germano Farias de Carvalho, oportunidade em que o primeiro (Kayo Mayro) se identificou para a atendente Simone Santos Lima como eleitor da candidata Cláudia Regina, tendo, em seguida apresentado o 'vale compra'. Ato contínuo, a vendedora lhe informou que no momento estava sem cimento no estoque, razão pela qual não poderia lhe entregar, de pronto, aquele produto, tendo orientado aquele servidor público a retornar na terça-feira seguinte, depois das eleições, para retirar o cimento, entregando-o um comprovante de pedido de cimento no valor de R$ 50,00 (cinquenta reais) no qual se podia ler a palavra 'pago' (folha 144).
Registra, ainda, a petição inicial, que 'o proprietário da loja AKANAÃ CONSTRUÇÕES estava próximo e acenou positivamente para a funcionária autorizando a entrega do comprovante'.
Portanto, diante da manifesta prática do crime de corrupção eleitoral, previsto no art. 299 do Código
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Eleitoral, foi dada voz de prisão ao proprietário do estabelecimento comercial, Wanderson Diniz Lima, tendo sido ele encaminhado, juntamente com a vendedora Simone Santos Lima, para a Delegacia de Polícia Federal em Mossoró-RN.
De fato, depois de concluída a instrução processual, vê-se que restaram incontroversos nos autos os fatos narrados na petição inicial da presente representação, os quais caracterizam a captação ilícita de sufrágio prevista no art. 41-A da Lei 9.504/1997.
Com efeito, os depoimentos de Kayo Mayro, Thiago Fernandes e Mairon Germano, prestados no inquérito policial instaurado para apurar os fatos em referência, foram uníssonos em apontar que foi suficiente a apresentação do 'vale cimento' e a identificação de Kayo Mayro como eleitor da candidata Cláudia Regina para que a vendedora lhe fornecesse o 'cupom' comprobatório de que ele havia adquirido um saco de cimento naquele estabelecimento comercial, só não tendo recebido de imediato o produto porque ela lhe pediu para retornar na terça-feira posterior às eleições (folhas 20 a 25). Neste sentido os seguintes trechos:
Depoimento de Mairon Germano Farias de Carvalho (folhas 20 e 21): “(…) que, juntamente com KAYO MAYRO (servidor do MP) e TIAGO (servidor do TJ cedido ao MP), compareceram à loja AKANAÃ; que chegando à loja, KAYO se fez passar por um eleitor e entregou o cupom para a vendedora, identificando-se como eleitor da candidata CLÁUDIA REGINA; que mesmo à distância verificou que a vendedora reconheceu o cupom e na mesma hora repassou um comprovante de pedido de 'cimento' no valor de R$ 50,00 (cinquenta reais), com a inscrição
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'pago'; que a vendedora disse que deveria retornar para pegar o cimento na terça-feira (…)”.
Depoimento de Thiago Fernandes de Lima (folhas 22 e 23): “(…) que, juntamente com TIAGO (servidor do TJ cedido ao MP para as eleições) e o policial militar SOLDADO MAIRON, compareceram à loja AKANAÃ; que, chegando à loja, fez-se passar por um eleitor e entregou o cupom para a vendedora, identificando-se como eleitor da candidata CLÁUDIA REGINA; que a vendedora reconheceu o cupom e na mesma hora repassou um comprovante de pedido de 'cimento' no valor de R$ 50,00 (cinquenta reais), com a inscrição 'pago'; que a vendedora disse que deveria retornar para pegar o cimento na terça-feira (…)”.
Depoimento de Kayo Mayro Francelino Torres (folhas 24 e 25): “(…) que, juntamente com TIAGO FERNANDES (servidor cedido do TJ) e o policial militar SOLDADO MAIRO, compareceram à loja KANAÃ; que, chegando à loja, KAYO se fez passar por um eleitor e entregou o cupom para a vendedora, identificando-se como eleitor da candidata CLÁUDA REGINA; que, mesmo à distância verificou que a vendedora reconheceu o cupom e na mesma hora repassou o comprovante de pedido de 'cimento' no valor de R$ 50,00 (cinquenta reais) com a inscrição 'pago'; que a vendedora disse que deveria retornar para pegar o cimento na terça-feira (…)”.
Constata-se, outrossim, que, ao prestarem depoimento no decorrer da instrução da presente representação (folhas 83 a 97) Kayo Mayro, Mairon Germano e Thiago Fernandes ratificaram seus depoimentos prestados perante a autoridade policial acima transcritos. Na realidade, apenas o policial militar
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Mairon Germano afirmou não se lembrar se Kayo Mayro, ao apresentar o 'vale cimento', identificou-se como eleitor da candidata Cláudia Regina, destoando, assim, do seu depoimento extrajudicial. Contudo, tal lapso de memória não compromete a prova produzida, porquanto, conforme anteriormente registrado, esta testemunha afirmou, no dia dos fatos, perante o delegado de polícia federal, que ouviu quando aquele servidor público se identificou como eleitor de Cláudia Regina, afirmação esta, não é demais registrar, que se encontra em consonância com o depoimento das demais testemunhas.
Perceba-se que a conduta da vendedora da loja de material de construção evidenciou que a prática de troca de vales por material de construção, no caso, cimento, era usual, evidenciando também que ela já havia sido previamente orientada acerca do esquema, pois aceitou um vale sem identificação e soube informar qual o produto específico da troca, ainda que nele não contasse esse dado.
Ademais, apesar da vendedora da loja de material de construção, Simone Santos Lima, e o proprietário daquele estabelecimento comercial, Wanderson Diniz Lima, afirmarem, em total dissonância com os depoimentos acima transcritos, que não houve a troca do 'vale de compra' por um cupom com a inscrição 'pago', tendo, segundo seus dizeres, Kayo Mayro efetuado uma compra de cimento como qualquer outro cliente, não se pode deixar de ter presente que tanto Kayo Mayro como Thiago Fernandes e Mairon Germano são servidores públicos que agiram na situação sob análise no exercício de suas funções, razão pela qual, por suas declarações ostentarem presunção de veracidade, devem prevalecer em
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relação às declarações dos particulares Simone Santos Lima e Wanderson Diniz Lima (até porque, ao contrário daqueles agentes públicos, estes tinham notório interesse em negar os fatos, pois, se assim não fizessem, estariam confessando a prática de um ilícito penal).
Registre-se que, apesar de o Juiz ter colhido o depoimento de Thiago Fernandes como mero declarante, pois ele teria sido 'ficante' de uma das promotoras que oficiou no presente feito, não se vislumbra, na espécie, razões para deixar de conferir credibilidade ao seu testemunho. Isto porque, de início, esta testemunha asseverou que '(…) não é namorado da citada promotora mas admite 'ter ficado' com esta algumas vezes'. Ou seja, além de nunca ter havido qualquer relacionamento efetivo entre a testemunha e a promotora eleitoral, à época da diligência sobre a qual a testemunha prestou seu depoimento não mais subsistia qualquer tipo de relacionamento entre ambos que não fosse profissional. Ou seja, inviável qualquer cogitação de que Thiago Fernandes teria interesse em prestar seu depoimento num ou noutro sentido pelo simples fato de no passado ter 'ficado' com uma das promotoras que subscreveu a petição inicial da presente representação.
Ademais, não se pode perder de vista que o esquema de compra de votos revelado possui a peculiaridade ardilosa de consistir no pagamento ou entrega de bem, no caso, cimento, somente dois dias após a votação, de maneira a construir um elo psíquico com o eleitor portador do cupom/comprovante, o que garantia seu voto nos então candidatos Cláudia Regina Freire Azevedo e Wellington Carvalho Costa Filho, pois
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mantinha o eleitor preso à expectativa de só receber o pagamento caso fizesse sua parte na obtenção da vitória dos candidatos ora recorridos.
Com efeito, para o eleitor enredado na captação ilícita de sufrágio supradescrita, era razoável alimentar dúvidas sobre o recebimento do cimento caso os candidatos Cláudia Regina Freire Azevedo e Wellington Carvalho Costa Filho não fossem eleitos.
Impõe-se registrar, outrossim, que a responsabilidade dos candidatos Cláudia Regina e Wellington de Carvalho salta aos olhos, pois, conforme se extrai da prova testemunhal, a benesse só foi disponibilizada a Kayo Maryo depois de el apresentar o 'vale-cimento' e ter se identificado como eleitor da candidata Cláudia Regina.
Neste sentido, proveitoso registrar o que dito pela representante do Ministério Público Eleitoral da primeira instância em suas alegações finais:
'Antes de qualquer ação ou omissão por parte da equipe de fiscalização do Ministério Público Eleitoral, o empresário e os candidatos representados (estes últimos diretamente ou através de terceira pessoa apenas com sua anuência) prometeram a entrega de cimento em troca de voto à candidatura daqueles, dando sinal ou símbolo dessa promessa o cupom (vale-cimento).'
O liame entre os candidatos e o proprietário da loja de material de construção Kanaã Construções fica ainda mais evidente quando se tem presente as cópias do jornal oficial de Mossoró (folhas 99 e 116 a 120), as quais evidenciam inúmeros contratos firmados entre a
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empresa de Wanderson Diniz Lima (W.S.E Construções e Pavimentação Ltda.) e a Prefeitura Municipal de Mossoró, então administrada por Maria de Fátima Rosado Nogueira, que apoiou de forma contundente e explícita a candidatura de Cláudia Regina e Wellington de Carvalho.
Mesmo que desnecessário, não é demais registrar que a jurisprudência, de forma uníssona, não exige a participação direta dos candidatos beneficiados na captação ilícita de sufrágio, até porque não tinha como ser diferente, pois, como se sabe, nunca, ou melhor, em raríssimas hipóteses, os candidatos agem diretamente na cooptação de eleitores, preferindo atuar através de interpostas pessoas, até mesmos, obviamente, para dificultar a atuação estatal caso descoberta a trama.
(…)
Da mesma forma, desnecessário que haja pedido expresso de voto em troca da benesse oferecida ou entregue, bastando que haja um liame entre a entrega/oferecimento e as eleições, o que, sem sobra de dúvidas ocorreu na espécie, pois houve a promessa de entrega do cimento mediante a identificação da pessoa como eleitor da candidata Cláudia Regina. (…)”
Diante das sólidas constatações provenientes da análise do recurso
eleitoral interposto na Representação n. 771-89.2012.6.20.0034, não há como
modificar a conclusão a que se chegou. Dessa forma, lá e cá a captação ilícita
de sufrágio restou suficientemente comprovada, até porque a prova aqui
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produzida é repetição daquela existente na representação objeto do parecer
acima transcrito. A Procuradoria Regional Eleitoral, inclusive, aproveita a
presente oportunidade para reiterar e ratificar integralmente a manifestação que
apresentou no recurso eleitoral interposto na Representação n. 771-
89.2012.6.20.0034.
Os recorrentes alegam também a prática de captação ilícita de sufrágio
perpetrada pela Governadora do Estado do Rio Grande do Norte em benefício
dos recorridos, consistente na promessa de legalização das terras dos assentados
na comunidade rural do Hipólito em troca de seus votos, conforme noticiado
em blog da jornalista Thaisa Galvão, objeto da ação de investigação judicial
eleitoral n. 313-75.2012.6.20.0033 (apenso A), julgada procedente em primeira
instância.
De acordo com a notícia veiculada, a Governadora do Estado do Rio
Grande do Norte, Rosalba Ciarlini Rosado, em 16 de setembro de 2012, visitou
moradores da comunidade rural conhecida como Hipólito, no Município de
Mossoró-RN, com o objetivo de angariar-lhes os votos, oportunidade em que
prometeu a legalização das terras dos assentados depois de um deles retirar a
propaganda da candidata adversária e colocar em seu lugar o de sua
correligionária, ora recorrida.
As fotos, segundo informou a blogueira Thaisa Galvão, foram
repassadas pela própria assessoria da Governadora e sinalizam, sem sombra de
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dúvidas, que Rosalba Ciarlini Rosado, à época (e ainda hoje) Governadora do
Estado do Rio Grande do Norte, praticou efetivamente a infração em benefício
dos recorridos, às vésperas da eleição de 2013, violando com a sua conduta o
art. 41-A da Lei 9.504/1997.
Abaixo segue o teor da notícia, demonstrando o grave desrespeito à
legislação eleitoral e à consciência cívica dos cidadãos:
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Ora, é de se ter em conta que a captação ilícita de sufrágio é executada,
como regra, de forma furtiva, evitando-se deixar qualquer vestígio da conduta
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ilegal. Aqui, entretanto, ela foi claramente revelada por fotografias fornecidas
pela assessoria da própria Governadora, a qual, inclusive, aparece nas fotos
abraçada aos eleitores cooptados. Além disso, em reforço à prova da conduta
ilícita, há também o depoimento de Genivan de Freitas Vale, que afirmou em
juízo ter visto pessoalmente a Governadora em um domingo na comunidade
rural denominada Sítio Hipólito (folha 1202 do volume 6).
Mas não é só. Em outros meios de comunicação virtual (blogs, Twitter)
houve reprodução de informação similar (folhas 95 e 104 a 112 do apenso A).
No próprio site da candidata Cláudia Regina foi postada idêntica notícia
informando que “a governadora Rosalba conseguiu mudar votos de diversas
famílias da zona rural de Mossoró que já estavam envolvidas na campanha da
candidata da oposição à Prefeitura Municipal. Às adesões a Cláudia Regina
começaram em Hipólito, primeira área de assentamento do Rio Grande do
Norte” (folhas 101 e 102 do apenso A). Essa conduta, aliás, teria se repetido em
outras famílias, conforme divulgado no referido site da candidata. Confira-se:
“Rosalba foi recebida com carinho e manifestações de confiança de que estava indicando o melhor nome para governar a cidade. 'Em você boto fé porque já fez muito por nós e vai fazer muito mais', disse Seu Antônio Lopes, morador de Hipólito desde que a reforma agrária foi implantada há 26 anos. Na presença da mulher, dois filhos e uma nora, ele assegurou que estava deixando a outra candidata para votar em Cláudia e selou o compromisso trocando o cartaz da entrada da casa e todo o material de campanha que havia recebido. O mesmo gesto foi
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repetido por dona Elza Barbosa, agricultora que está na comunidade desde o princípio.Outra família que decidiu seguir Rosalba foi a de Seu Francisco das Chagas Dantas e dona Francisca Eduarda. Pais de cinco jovens, eles estavam planejando chegar em 7 de outubro apoiando a candidata adversária. 'Mas vamos mudar. Pode ficar tranquila, governadora, que esta casa agora é de Cláudia', afirmou Seu Francisco, reconhecendo o trabalho da governadora pelos moradores para enfrentar a seca e principalmente a energia elétrica levada por Rosalba quando ela era prefeita (folha 102 do apenso A).
Aliás, quanto à efetividade da reprovável conduta, não é difícil
confirmar o estreito vínculo político entre a agente da captação ilícita (a
Governadora) e os candidatos beneficiários, considerando o notório e amplo
apoio à campanha, expondo a evidência do assentimento e a ciência dos
candidatos, como fartamente se demonstrará mais adiante, quando do exame do
alegado abuso de poder.
Nas petições iniciais dos recursos contra expedição de diploma também
consta a alegação de que o empresário Edvaldo Fagundes (cabo eleitoral dos
recorridos, conforme amplamente demonstrado nos autos) e sua filha teriam
ofertado cadeiras de rodas, dinheiro e bicicletas em contrapartida aos votos dos
eleitores, fatos esses também estariam sendo objeto de apuração na ação de
investigação judicial eleitoral n. 417-67.2012.6.20.0033 (apenso C) e na
Representação 773-59.2012.6.20.0034 (anexo 3).
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De fato, o exame de notícias veiculadas na imprensa local (folhas 22 a
27 do anexo 3 e folhas 84 e 85 do apenso C 1/2) impõe a conclusão de que o
empresário Edvaldo Fagundes, em entrevista concedida ao periódico Correio de
Mossoró-RN, em 5 de outubro de 2012 (faltando dois dias para a realização do
pleito), teria prometido a doação do dinheiro por ele ganho na “aposta
solidária” em decorrência da vitória dos recorridos às instituições filantrópicas
(folha 23 do anexo 3).
Nesse mesmo sentido, o blog de Carlos Santos divulgou que “conforme
publicações na imprensa mossoroense, Edvaldo Fagundes teria feito apostas
diversas e anunciado que em caso de vitória, repassaria o dinheiro obtido para
entidades filantrópicas. Seriam cerca de R$ 600.000 dessa origem” (folha 85 do
apenso C 1/2).
Ainda de acordo com o mesmo informe, parte desse dinheiro teria sido
revertido na compra e doação de 27 bicicletas a moradores do Rincão, em razão
do pedido de uma criança à Governadora, durante a campanha eleitoral.
“Rosalba contando a Edvaldo, ele resolve atender a todos da mesma escola,
resolveu doar 27 bicicletas” (folha 84 do apenso C 1/2), conforme demonstrado
em fotografia (folhas 85, 86 e 87 do apenso C 1/2).
Outra parte da promessa foi cumprida, conforme noticiado em nota na
Gazeta do Oeste com os seguintes dizeres: “Uma coisa chique: O empresário
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mossoroense Edvaldo Fagundes recebeu meio milhão de reais com apostas
nesta eleição de 2012. O que ele fez? Doou tudo para as instituições como
Apae, Lar da Criança Pobre e Abrigo Amantino Câmara. Aplausos!!” (folha 27
do anexo 3).
De fato, conforme se vê da declaração oriunda do Lar da Criança Pobre
de Mossoró, em resposta dada ao juízo da 33ª Zona Eleitoral, embora o senhor
Edvaldo Fagundes de Albuquerque não tenha efetuado nenhuma doação
financeira, doou objetos no valor estimado de R$ 14.400,00 (quatorze mil e
quatrocentos reais) (folha 88 do apenso C 1/2).
Assim, verifica-se ter havido aliciamento da vontade dos eleitores por
meio de promessa de futura vantagem (doação a entidades filantrópicas) em
contrapartida à vitória dos candidatos recorridos, sendo suficiente à incidência
da norma a promessa de vantagem de qualquer natureza. O Tribunal Superior
Eleitoral, aliás, já firmou posicionamento quanto à presunção da finalidade
eleitoreira das doações ou promessas formuladas no curso da campanha
eleitoral, devendo ser impedidos, afastados e rechaçados atos oportunistas de
filantropia nessa época. Seguem alguns julgados (destaques acrescidos):
CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO - CONFIGURAÇÃO - ARTIGO 41-A DA LEI Nº 9.504/97.Verificado um dos núcleos do artigo 41-A da Lei nº 9.504/97 - doar, oferecer, prometer ou entregar ao eleitor bem ou vantagem pessoal de qualquer
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natureza - no período crítico compreendido do registro da candidatura até o dia da eleição, inclusive, presume-se o objetivo de obter voto, sendo desnecessária a prova visando a demonstrar tal resultado. Presume-se o que normalmente ocorre, sendo excepcional a solidariedade no campo econômico, a filantropia. (REspE 25146-Seropédica/RJ, Rel. Min. Gilmar Ferreira Mendes, Rel. p/ acórdão Min. Marco Aurélio Mendes de Farias Mello, maioria, j. em 7/3/2006, pub. DJ 20/4/2006, p. 124)
Esse fato, aliás, não pode ser caracterizado somente como captação
ilícita de sufrágio, mas também como abuso de poder econômico em detrimento
da normalidade e da legitimidade das eleições, notadamente quando a ele foi
dada ampla divulgação pela imprensa a dois dias da realização do pleito, época
em que as pesquisas indicavam acirramento na disputa entre as duas primeiras
candidatas, com vantagem daquela adversária dos recorridos.
Por fim, também é imputada aos recorridos a prática de captação ilícita
de sufrágio, sob a alegação de que teriam distribuído cupons a serem trocados
por óculos de grau na Ótica Boa Vista, localizada no Município de Mossoró-
RN, tendo como finalidade a troca da benesse pelo voto dos beneficiários,
objeto de exame na Representação n. 775-29.2012.6.20.0034 (anexo 2) e da
ação de investigação judicial eleitoral n. 417-67.2012.6.20.0033 (folhas 55 a 57
do apenso C 1/2 – não numeradas), ainda em trâmite em primeira instância.
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Aqui, contudo, diversamente do que ocorreu relativamente aos fatos
antes abordados, observa-se que os recorrentes não lograram demonstrar
cabalmente a veracidade dos fatos narrados na petição inicial. Isso porque os
cupons (folha 17 do anexo 2) e as fotografias do estabelecimento comercial
Ótica Boa Vista (folhas 22 a 25 do anexo 2), embora forneçam indícios a
respeito da ocorrência da prática ilícita imputada, ainda não estão aptos a
constituir, neste momento, prova segura da captação ilícita de sufrágio pelos
recorridos. Não é possível concluir, tão somente a partir deles, que houve
distribuição gratuita de óculos com o fim cooptar o voto dos eleitores,
sobretudo quando não corroboradas por qualquer outro elemento probatório,
especialmente mediante a oitiva testemunhal. É possível que, depois de
encerrada a instrução probatória a ser feita na representação n. 775-
29.2012.6.20.0034 e na ação de investigação judicial eleitoral n. 417-
67.2012.6.20.0033, este cenário mude, mas por enquanto os indícios existentes
não são suficientes.
Por ser assim, dada a momentânea ausência de prova pré-constituída,
capaz de tornar induvidosa a prática de distribuição de óculos, não merece
acolhimento a pretensão dos recorrentes, neste ponto.
Entretanto, quanto aos demais fatos, conclui-se que os recorridos,
agindo de forma mediata por meio de seus colaboradores, ofereceram aos
eleitores de Mossoró-RN as mais variadas benesses (sacos de cimento,
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promessa de legalização de terras, bicicletas e outros bens), com o objetivo de
angariar-lhes o voto, inclusive com entrega de propaganda eleitoral.
A propósito, assinale-se que a jurisprudência do Tribunal Superior
Eleitoral indica ser desnecessária a intervenção pessoal e direta do candidato na
prática das infrações eleitorais referidas no artigo 41-A da Lei 9.504/1997 para
a aplicação das sanções ali previstas, como se observa a partir da leitura das
ementas a seguir transcritas (destaques acrescidos):
Eleições 2000. Investigação Judicial. Art. 41-A da Lei nº 9.504/97. Decisão regional. Improcedência. Captação ilícita de sufrágio. Condenação. Necessidade. Reexame de fatos e provas. Impossibilidade. Súmula-STF nº 279. Ilícito eleitoral. Desnecessidade. Participação direta. Candidato. Possibilidade. Anuência. Conduta. Terceiro.1. Embora o recurso especial se refira às eleições municipais de 2000, é certo que persiste o interesse de agir da agremiação representante, porquanto, mesmo que não seja mais possível a imposição da cassação do registro ou do diploma, há a possibilidade da aplicação da multa prevista no art. 41-A da Lei nº 9.504/97.2. Para se infirmar a conclusão da Corte Regional Eleitoral que assentou a ausência de comprovação da captação ilícita de sufrágio, é necessário o reexame de fatos e provas, o que não é possível em sede de recurso especial, a teor do disposto na Súmula-STF nº 279.3. Para a caracterização da infração ao art. 41-A da Lei das Eleições, é desnecessário que o ato de
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compra de votos tenha sido praticado diretamente pelo candidato, mostrando-se suficiente que, evidenciado o benefício, haja participado de qualquer forma ou com ele consentido. Nesse sentido: Acórdão nº 21.264. Agravo regimental a que se nega provimento. (REspE 21792-Piranga/MG, Rel. Min. Caputo Bastos, j. em 15/9/2005, pub. DJ 21/10/2005, p. 99).
Agravo regimental do representado.Decisão monocrática. Negativa. Seguimento. Agravo de instrumento.1. Conforme já pacificado no âmbito desta Corte Superior, para a caracterização da infração ao art. 41-A da Lei das Eleições, é desnecessário que o ato tenha sido praticado diretamente pelo candidato, mostrando-se suficiente que, evidenciado o benefício, haja dele participado de qualquer forma ou com ele consentido.2. Para afastar o entendimento do Tribunal de origem que entendeu demonstrada a reiterada compra de votos, o fato, objeto da apreciação judicial, há de ser incontroverso, não se permitindo o reexame de fatos e provas nesta instância especial.Agravo regimental a que se nega provimento.Agravo regimental da representante.Indeferimento. Pedido. Execução. Decisão monocrática.- É intempestivo agravo regimental interposto após o prazo de três dias da publicação da decisão agravada, nos termos do art. 36, § 8º, do Regimento do Tribunal Superior Eleitoral.Agravo regimental não conhecido. (AAG 7515-Curionópolis/PA, Rel. Min. Carlos Eduardo Caputo
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Bastos, unânime, j. em 22/4/2008, pub. DJ 15/5/2008, p. 5)
Recurso contra expedição de diploma. Captação ilícita de sufrágio. Abuso do poder econômico. Cassação de diploma. Candidata ao cargo de deputado federal.1. Caracteriza captação ilícita de sufrágio o depósito de quantia em dinheiro em contas-salário de inúmeros empregados de empresa de vigilância, quando desvinculado de qualquer prestação de serviços, seja para a própria empresa, que é administrada por cunhado da candidata, seja para campanha eleitoral.2. A atual jurisprudência do Tribunal não exige a prova da participação direta, ou mesmo indireta, do candidato, para fins de aplicação do art. 41-A da Lei das Eleições, bastando o consentimento, a anuência, o conhecimento ou mesmo a ciência dos fatos que resultaram na prática do ilícito eleitoral, elementos esses que devem ser aferidos diante do respectivo contexto fático. No caso, a anuência, ou ciência, da candidata a toda a significativa operação de compra de votos é fruto do envolvimento de pessoas com quem tinha forte ligação familiar, econômica e política.3. Na hipótese de abuso do poder econômico, o requisito da potencialidade deve ser apreciado em função da seriedade e da gravidade da conduta imputada, à vista das particularidades do caso, não devendo tal análise basear-se em eventual número de votos decorrentes do abuso, ou mesmo em diferença de votação, embora essa avaliação possa merecer criterioso exame em cada situação concreta.Recurso a que se dá provimento para cassar o diploma da recorrida. (RCED 755-Porto Velho/RO, Rel. Min.
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Arnaldo Versiani Leite Soares, maioria, j. em 24/8/2010, pub. DJE 28/09/10, p. 11-15)
Assim, embora os recorridos não estivessem fisicamente presentes
quando da captação ilícita de sufrágio realizada por meio das condutas acima
mencionadas, dela participaram anuindo explicitamente, inclusive propagando
no próprio site de sua candidatura a conduta indevida (folhas 101 a 102 do
apenso A). A extensa documentação trazida junto com as petições iniciais
autoriza facilmente a conclusão pela ilicitude das condutas, de modo que a
Procuradoria Regional Eleitoral entende existir subsídios mais do que
suficientes para se entender incidente o art. 41-A da Lei 9.504/1997.
2.2.2. Do abuso de poder de autoridade.
2.2.2.1. Irregularidades quanto ao uso de servidores públicos
municipais na campanha eleitoral.
Ainda no recurso contra expedição do diploma apresentado pelo
Ministério Público Eleitoral em primeiro grau, é alegada a ocorrência de abuso
de poder político e econômico em virtude da realização de reunião e
arregimentação de servidores públicos municipais durante o horário de
expediente, com o objetivo de organizar e adotar estratégias em benefício da
campanha eleitoral dos recorridos, condutas que são objeto da representação n.
781-36.2012.6.20.0034 e da representação n. 776-14.2012.6.20.0034. Além
desses fatos, também foi imputada como abuso de poder a conduta de nomear
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filha de vereador em troca do seu apoio político, examinada na representação n.
779-66.2012.6.20.0034.
Por outro lado, sustentam o partido e a coligação autores do outro
recurso contra expedição de diploma, terem sido abusivas (1) a remoção
indevida do servidor público estadual José Neto de Queiroz, tendo como
finalidade proporcionar-lhe meios de se dedicar à coordenação do marketing da
campanha eleitoral da recorrida, (2) o uso do servidor municipal Flussier
Aurélio em benefício da campanha e (3) a exoneração de servidores ocupantes
de cargos comissionados que apresentassem postura política contrária aos
interesses dos recorridos.
Em matéria eleitoral, a coibição ao abuso de poder econômico ou
político tem como objetivo garantir a normalidade e a legitimidade das eleições,
a fim de tornar equilibrada a escolha dos candidatos pelo povo, buscando
assegurar que estes estejam num mesmo patamar na disputa eleitoral. Aliás, a
própria existência do Direito Eleitoral diz com a necessidade de se garantir a
genuína vontade popular, que se legitima por meio do sufrágio universal,
combatendo-se as diversas manifestações de abuso de poder, bem como a
corrupção e a fraude que desequilibram o sistema político.
Dentro dessa linha, os arts. 19 e 22 da Lei Complementar 64/1990
procuraram coibir a prática de condutas capazes de desvirtuar o princípio da
isonomia, de forma a resguardar a lisura e a legitimidade do pleito. A esse
Recurso contra Expedição do Diploma n. 4-17.2013.6.20.0034. 50/111
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respeito confira-se a redação do art. 19 e seu parágrafo único da Lei
Complementar 64/1990 (destaques acrescidos):
Art. 19. As transgressões pertinentes à origem de valores pecuniários, abuso do poder econômico ou político, em detrimento da liberdade de voto, serão apuradas mediante investigações jurisdicionais realizadas pelo Corregedor-Geral e Corregedores Regionais Eleitorais.Parágrafo único. A apuração e a punição das transgressões mencionadas no caput deste artigo terão o objetivo de proteger a normalidade e legitimidade das eleições contra influência do poder econômico ou do abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta, indireta e fundacional da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
Como se vê, o espírito da proibição almeja evitar o nefasto desequilíbrio
decorrente da utilização indevida do poder econômico, político ou dos meios de
comunicação social. Visa-se, em última análise, conforme já aduzido, proteger
a normalidade e legitimidade das eleições.
No presente feito, o deslinde da causa reside em saber justamente se
houve ou não o abuso de poder político e econômico por parte dos recorridos,
restando as demais infrações, relativas à Lei 9.504/1997, sujeitas a exame e
julgamento pelo juízo de primeira instância, uma vez que a eventual prática de
conduta vedada não pode ser objeto de exame no âmbito do recurso contra
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expedição do diploma, conforme já destacado no item 2.1, e é sob esse prisma
que a prova produzida será analisada.
Em primeiro lugar, no que tange à imputação aos recorridos do uso de
cargo comissionado com intuito eleitoreiro, consubstanciado na nomeação de
Rafaela Nogueira Rocha, filha do Vereador do Município de Mossoró-RN
conhecido por Chico da Prefeitura, para cargo de provimento em comissão de
Coordenador Financeiro do Departamento Estadual de Trânsito do Rio Grande
do Norte (DETRAN-RN), com a finalidade de favorecer a candidatura dos
recorridos, em parecer anteriormente oferecido nos autos da representação n.
779-66.2012.6.20.0034 (anexo 6) ajuizada a respeito dos mesmos fatos, a
Procuradoria Regional Eleitoral se manifestou pelo acolhimento da preliminar
de nulidade da sentença suscitada pelo Ministério Público Eleitoral em primeira
instância, a fim de que os autos retornassem à zona eleitoral de origem para que
fosse realizada instrução e produção da prova testemunhal requerida, com
posterior proferição de nova sentença.
Esse parecer foi acolhido por unanimidade pelo Tribunal Regional
Eleitoral do Rio Grande do Norte em acórdão assim ementado:
EMENTA: RECURSO ELEITORAL - REPRESENTAÇÃO - CONDUTA VEDADA E ABUSO DO PODER POLÍTICO - PRELIMINAR DE NULIDADE DA SENTENÇA - VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DO ACESSO À JUSTIÇA - ACOLHIMENTO - NULIDADE DA DECISÃO -
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RETORNO DOS AUTOS À ORIGEM PARA O PROSSEGUIMENTO DO FEITO - PROVIMENTO.Verificada efetiva violação ao principio do acesso à Justiça ou da inafastabilidade do controle jurisdicional, previsto no artigo 5º, inciso XXXV, do texto constitucional, deve ser anulada a decisão atacada e determinado o retorno dos autos à zona eleitoral de origem para que seja realizada a instrução processual com o fim de apurar a suposta prática de abuso do poder político trazida na inicial.Provimento do recurso. (RE 779-66.2012.6.20.0034-Mossoró/RN, Rel. Juiz Francisco Eduardo Guimarães Farias, j. em 16/7/2013, pub. DJE 17/7/13, p. 7)
Desse modo, tendo em vista a necessidade de dilação probatória para
corroborar o uso eleitoreiro da nomeação, uma vez que naqueles autos os
elementos probatórios se restringem a notícias genéricas divulgadas por
jornalistas (folhas 115 a 123 do apenso B 1/2), de forma a caracterizar o abuso
de poder político, e considerando a inexistência, nos presentes autos, de prova
testemunhal colhida a respeito destes fatos (folhas 1193 a 1214 do Volume 6), o
atual contexto probatório se mostra insuficiente à caracterização da alegada
infração às normas eleitorais. Na representação n. 779-66.2012.6.20.0034
ajuizada a respeito dos fatos a instrução prossegue e neste recurso contra
expedição de diploma não foram produzidas provas sobre deles.
Por outro lado, quanto ao uso em benefício da campanha eleitoral dos
recorridos de servidores públicos do Município de Mossoró, então administrado
por Fátima Rosado (Fafá Rosado), outra pessoa adepta da campanha dos
recorridos, registre-se que na representação n. 781-36.2012.6.20.0034 (anexo 4) Recurso contra Expedição do Diploma n. 4-17.2013.6.20.0034. 53/111
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e na representação n. 776-14.2012.6.20.0034 (anexo 5) ainda não houve
produção de prova testemunhal quanto a esses fatos. Entretanto, a prova
documental nelas contida já sinaliza a ocorrência de abuso de autoridade.
Antes, porém, de um maior detalhamento a esse respeito, é oportuno relembrar
que os atos administrativos devem sempre ser norteados pelos princípios
constitucionais da legalidade e da moralidade, razão pela qual o uso da
estrutura administrativa deve ser sempre empregado em benefício da população
coletivamente considerada, jamais em prol de indivíduos específicos. Dessa
forma, o abuso de poder político ocorre justamente quando há desvirtuamento
da real finalidade da administração pública e de seus bens e servidores. As
seguintes decisões do Tribunal Superior Eleitoral guardam relação com este
assunto (destaques acrescidos):
Recurso contra a expedição de diploma - Abuso do poder econômico e político e uso indevido de meio de comunicação social - Ilegitimidade - Partido político incorporado - Não-ocorrência - Incorporação deferida após a interposição do recurso - Art. 47, § 9º, da Resolução nº 19.406/95 - Deliberação em convenção - Insuficiência.Candidato - Benefício direto - Inexistência - Legitimidade - Cassação de diploma de candidato inidôneo - Interesse público.Distribuição de cestas básicas a gestantes e lactantes - Remissão de débitos de IPTU - Programas antigos e regulares - Obras e festejos pagos com dinheiro público - Especificação - Ausência - Não-comprovação - Desvirtuamento de atos da administração - Não-demonstração.
Recurso contra Expedição do Diploma n. 4-17.2013.6.20.0034. 54/111
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Propaganda antecipada e irregular - Emissora de rádio de propriedade da família do recorrido - Participação freqüente do candidato ou menção elogiosa, com referências à obtenção de verbas para obras públicas, principalmente no primeiro semestre do ano eleitoral - Configuração de abuso do poder econômico e uso indevido dos meios de comunicação social - Possibilidade - Potencialidade - Desequilíbrio da disputa.Ausência de provas - Inexistência das fitas de gravação dos programas - Degravação contestada.1. O candidato é parte legítima para interpor recurso contra a expedição de diploma, ainda que não tenha benefício direto com o provimento do recurso, uma vez que, em última análise, nos feitos eleitorais há interesse público na lisura das eleições.2. A caracterização de abuso do poder político depende da demonstração de que a prática de ato da administração, aparentemente regular, ocorreu de modo a favorecer algum candidato, ou com essa intenção, e não em prol da população.3. A utilização de um meio de comunicação social, não para seus fins de informar e de proporcionar o debate de temas de interesse comunitário, mas para pôr em evidência um determinado candidato, com fins eleitorais, acarreta o desvirtuamento do uso de emissora de rádio ou de televisão e, também, configuração da interferência do poder econômico, principalmente quando a emissora é de sua família. 4. Não é impedimento para a configuração de uso indevido dos meios de comunicação social que a maior parte dos programas tenha ocorrido antes do período eleitoral, porque o que importa, mais que a data em que ocorridos os fatos, é a intenção de obter proveito eleitoral. (RCED 642-São Paulo/SP, Rel.
Recurso contra Expedição do Diploma n. 4-17.2013.6.20.0034. 55/111
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Min. Fernando Neves da Silva, unânime, j. em 19/8/2003, pub. DJ 17/10/2003, p. 129)
RECURSO CONTRA EXPEDIÇÃO DE DIPLOMA. PRELIMINARES. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL. IMPROCEDÊNCIA. IDENTIDADE DE FATOS. REDISCUSSÃO. POSSIBILIDADE. INCORPORAÇÃO DO PARTIDO AUTOR POR OUTRO. DESISTÊNCIA. HOMOLOGAÇÃO. POLO ATIVO. MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL. ASSUNÇÃO. PARTIDO POLÍTICO. LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO. INEXISTÊNCIA. MÉRITO. PROPAGANDA INSTITUCIONAL. DESVIRTUAMENTO. ABUSO DE PODER POLÍTICO. INAUGURAÇÕES DE OBRAS PÚBLICAS. APRESENTAÇÕES MUSICAIS. DESVIO DE FINALIDADE. POTENCIALIDADE. NÃO COMPROVAÇÃO. DESPROVIMENTO.(…)4. O abuso de poder político, para fins eleitorais, configura-se no momento em que a normalidade e a legitimidade das eleições são comprometidas por condutas de agentes públicos que, valendo-se de sua condição funcional, beneficiam candidaturas, em manifesto desvio de finalidade.5. Fatos anteriores ao registro de candidatura podem, em tese, configurar abuso de poder político, desde que presente a potencialidade para macular o pleito, porquanto a Justiça Eleitoral deve zelar pela lisura das eleições. Precedentes.6. Na espécie, em março de 2006, o recorrido Marcelo Déda Chagas, na condição de prefeito municipal de Aracaju, à conta de realizar solenidades de inauguração de obras públicas, convocou a população
Recurso contra Expedição do Diploma n. 4-17.2013.6.20.0034. 56/111
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da capital do Estado e também a do interior para participar de shows com a presença de cantores e grupos musicais famosos nacionalmente e, nessas oportunidades, aproveitou para exaltar os feitos de sua gestão, depreciar a atuação administrativa do Governo do Estado e apresentar-se como alternativa política para aquela Unidade da Federação, transmitindo ao público a mensagem de que seria o mais apto a governar Sergipe.7. O reconhecimento da potencialidade em cada caso concreto implica o exame da gravidade da conduta ilícita, bem como a verificação do comprometimento da normalidade e da legitimidade do pleito, não se vinculando necessariamente apenas à diferença numérica entre os votos ou a efetiva mudança do resultado das urnas, embora essa avaliação possa merecer criterioso exame em cada situação concreta. Precedentes.8. No caso dos autos, não há elementos suficientes para comprovar o grau de comprometimento dessas condutas ilícitas na normalidade e legitimidade do pleito, inexistindo, portanto, prova da potencialidade lesiva às eleições.9. Recurso desprovido. (RCED 661-Aracaju/SE, Rel. Min. Aldir Guimarães Passarinho Júnior, unânime, j. em 21/9/2010, pub. DJE 16/2/2011, p. 49)
No caso em análise, a prova produzida na representação n. 781-
36.2012.6.20.0034 revela que, em 3 de setembro de 2013, às 16:20, constatou-
se a realização de reunião, em residência particular com portas abertas,
presidida pelo Chefe de Gabinete da Prefeitura Municipal de Mossoró-RN,
Gustavo Rosado, “contando aproximadamente com uma centena de pessoas”,
dentre eles vários servidores (fotografias das folhas 24 a 42 e folhas 152 a 174
Recurso contra Expedição do Diploma n. 4-17.2013.6.20.0034. 57/111
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do apenso B 1/2), os quais aguardavam a chegada da candidata da Coligação
“Força do Povo” para falar aos presentes, conforme propagado em microfone
pelo locutor naquela ocasião (folhas 21 e 22 do anexo 4).
Alexandre Araújo da Silva Lopes, Secretário de Desenvolvimento
Territorial e Meio Ambiente (SEDETEMA), foi ouvido em juízo e, embora
tenha esclarecido “(…) que todos os dias tinham reuniões, exceto nos finais de
semana; que normalmente as reuniões se iniciavam às 19 horas e algumas vezes
às 18h30min (…)”, confirmou sua participação naquela ocorrida em 3 de
setembro de 2013, às 16:20 (objeto da representação n. 781-
36.2012.6.20.0034), informando acreditar que a pauta da reunião seriam
“assuntos políticos”, assim como ter visto servidores municipais naquela
ocasião (folhas 1210 a 1214 do volume 6, especificamente a folha 1212).
Ou seja, há prova segura de que foram organizadas reuniões com
conotações eleitoreiras, nos mais diversos horários, com contingente
significativo de servidores integrantes do quadro da Prefeitura Municipal de
Mossoró-RN.
A inicial da representação n. 776-14.2012.6.20.0034, por sua vez,
demonstra que houve a apreensão, pela Polícia Rodoviária Federal, de dois
automóveis que circulavam no bairro Santo Antônio, no Município de
Mossoró-RN, em 4 de outubro de 2012, nos quais estavam servidores públicos
do Município de Mossoró-RN portando material de campanha dos candidatos
Recurso contra Expedição do Diploma n. 4-17.2013.6.20.0034. 58/111
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recorridos e formulários a serem preenchidos com o nome da pessoa, endereço
e a quantidade de residentes no local e de votantes (folhas 02 a 15 do anexo 5).
Ao serem ouvidos nos autos do inquérito policial daí resultante, cinco
dos seis servidores presentes quando da apreensão em referência, quais sejam,
Rodrigo Maciel Medeiros da Costa (folhas 46 e 47), Vanessa da Silva Bezerra
(folhas 48 e 49), Lidiany Rodrigues Ferreira (folhas 50 e 51), Viviana Maria de
Freitas (folhas 52 e 53) e Eliel das Neves Freire (folhas 54 e 55), todos
ocupantes de cargos comissionados no Município de Mossoró-RN, lotados na
Secretaria de Desenvolvimento Territorial e Meio Ambiente (SEDETEMA),
informaram que, embora este órgão estivesse em funcionamento regular
naquele dia, todos eles estavam de folga, voluntariamente prestando serviços à
candidatura dos recorridos na afixação de bandeiras e cartazes nas casas de
eleitores.
Confira-se, a propósito, trechos das declarações dos mencionados
servidores que demonstram, à saciedade, sua vinculação política com os
recorridos e suas colaboradoras na campanha, Fátima Rosado e Rosalba
Ciarlini Rosado, demonstrando o trabalho desenvolvido não somente naquele
dia, mas desde o início da campanha eleitoral:
Rodrigo Maciel Medeiros da Costa (folhas 46 e 47): “(…) QUE o material de campanha que estava com o grupo, foi repassado por LUIDY, e que era obtido na CASA 25, que era o comitê da candidata (…) QUE somente participou de reuniões no comitê e na casa da
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Governadora (…) QUE com relação ao questionário que foi encontrado em poder do grupo, afirma que no início da campanha chegou a entrevistar eleitores (…) QUE às vezes deixava o questionário com LUIDY que repassava para a casa 25 (…)”.
Vanessa da Silva Bezerra (folhas 48 e 49): “QUE ao todo eram seis servidores da SEDETEMA fazendo o mesmo trabalho de divulgação da campanha da candidata CLÁUDIA REGINA, pregando cartazes e bandeiras nas casas dos eleitores (…) QUE somente participou da reunião na casa de FAFÁ, que contava com a participação dos eleitores e pessoa que trabalhavam na campanha (…) QUE com relação ao questionário que foi encontrado em poder do grupo, afirma que no início da campanha chegou a entrevistar eleitores (…)”.
Lidiany Rodrigues Ferreira (folhas 50 e 51): “(…) QUE o material de campanha que estava com o grupo foi obtido na CASA 25, comitê de Cláudia Regina, e não somente um, mas vários pegavam esse material de campanha na casa 25, incluindo a declarante (…) QUE somente participava da reunião na casa da Governadora ROSALBA, com a candidata CLÁUDIA REGINA (…) QUE com relação questionário que foi encontrado em poder do grupo, afirma que é um questionário feito no início da campanha e era para ter noção do eleitorado de CLÁUDIA REGINA (…) QUE já preencheu esses questionários, que eram entregues ao coordenador do grupo, que no seu caso era LUIDY (…) QUE não participou de reunião com APARECIDA DELFINO, mas apenas na casa da Governadora; QUE com relação a reunião na casa da Governadora, afirma que envolvia toda a militância e não somente os servidores da Prefeitura (…)”.
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Eliel das Neves Freire (folhas 54 e 55): “(…) QUE o material de campanha que estava com o grupo foi obtido na CASA 25, comitê de CLÁUDIA REGINA, localizado na Avenida AUGUSTO SEVERO, próximo ao Teatro; QUE antes de passarem na casa dos eleitores compareceram à CASA 25 para pegar o material de campanha (…) QUE o questionário era obtido na “casa 25”, juntamente com o restante do material; QUE com relação questionário, este continha perguntas a respeito das informações pessoas dos eleitores; QUE o declarante fez o preenchimento do questionário e chegava na casa dos eleitores e inicialmente perguntava se a pessoa poderia responder as perguntas e então fazia as perguntas e anotava no questionário (…) QUE a finalidade era saber quantas pessoas moravam na casa; QUE outra pergunta era no sentido de saber em quem o eleitor iria votar (…)”.
Alexandre Araújo da Silva Lopes, Secretário de Desenvolvimento
Territorial e Meio Ambiente (SEDETEMA), foi ouvido em juízo e esclareceu
sua própria participação como coordenador político de tais servidores na
campanha eleitoral dos recorridos (folhas 1210 a 1214 do volume 6):
“(…) que ocupou vários cargos em comissão na prefeitura de Mossoró, mas especificamente no período de julho a novembro de 2012 era Secretário de Desenvolvimento Territorial e Ambiental; que participou da organização da campanha de Cláudia Regina; que coordenava grupos que fazia reuniões nas calçadas (…) que conhece as pessoas de Rodrigo Maciel Medeiros da Costa, Vanessa da Silva Bezerra, Lidiany Rodrigues Ferreira, Viviane Maria de Freitas
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Santos, Luidy Fabrício Azevedo Bezerra e Eliel das Neves Freire (…) que todas essas pessoas eram subordinadas à testemunha (…) que todos os servidores apreendidos participavam do grupo que era coordenado pela testemunha (…)” (folhas 1210 a 1214 do volume 6).
Mais adiante, essa mesma testemunha se contradiz ao afirmar “(…) que
nunca efetivou locação de veículos para o fim específico de serem utilizados na
campanha de Cláudia Regina e Wellington Filho (…)”, para em seguida
asseverar “(…) que o carro particular da testemunha estava com problemas e o
mesmo alugou o veículo para uso pessoal que estava com o pessoal” (folha
1212), especificando mais adiante “(…) que o celta que alugou para uso pessoal
foi apreendido, uma vez que estava sendo utilizado pelos servidores
apreendidos (…)” (folha 1213 do volume 6).
A propósito de tudo o que vem sendo exposto até aqui, confira-se
ementa do Tribunal Superior Eleitoral reconhecendo configurado o abuso de
poder político pelo uso da estrutura administrativa de secretaria de município
em benefício da campanha:
REPRESENTAÇÃO. CONDUTA VEDADA. Abuso de poder político caracterizado pela utilização da estrutura administrativa de secretaria do município. (REspE 25617-Ipira/SC, Rel. Min. Ari Pargendler, j. em 26/8/2008, pub. DJE 2/12/2008, p. 21)
Recurso contra Expedição do Diploma n. 4-17.2013.6.20.0034. 62/111
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Aliás, servidores públicos do Município de Mossoró-RN não somente
participaram ativamente da campanha fazendo pesquisas, comparecendo às
reuniões políticas e colocando cartazes e bandeiras nas residências dos eleitores
como também se envolveram na elaboração do plano de governo dos
candidatos recorridos (folhas 176 a 185 do Apenso B). A propósito, em resposta
a diligência determinada pelo relator deste recurso contra expedição de
diploma, o atual Secretário Municipal de Administração em Mossoró-RN
confirmou a nomeação ou designação, feita pela gestão atual da recorrida, de 43
daqueles servidores que anteriormente tinham colaborado com a confecção do
plano de governo (folha 21 do anexo 19).
Não bastasse tudo isso, ainda consta dos autos cópia do inquérito
policial n. 555/2012 em que há a notícia de que os servidores do Hospital
Wilson Rosado estariam sendo obrigados a trajarem vestuário laranja, cor
adotada pelos candidatos da Coligação “Força do Povo”, pela qual concorreram
os recorridos (folhas 339 a 358 do apenso C 1/2, objeto de exame na ação de
investigação judicial eleitoral n. 417-67.2012.6.20.0033). De fato, por ocasião
de diligência realizada pela Polícia Federal em 31 de agosto de 2012,
constatou-se efetivamente que os “funcionários estavam utilizando camisetas
padronizadas na cor laranja” (folha 341 do apenso C 1/2).
Além desses fatos, sustentam também o partido e a coligação
recorrentes ter ocorrido remoção indevida de José Neto de Queiroz, servidor
público do Estado do Rio Grande do Norte, tendo como finalidade
Recurso contra Expedição do Diploma n. 4-17.2013.6.20.0034. 63/111
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proporcionar-lhe meios de se dedicar à coordenação do marketing da campanha
eleitoral da recorrida, e a exoneração de servidores ocupantes de cargos
comissionados que apresentassem postura política contrária aos interesses dos
recorridos.
Esses dois fatos estão sendo tratados na ação de investigação judicial
eleitoral n. 243-58.2012.6.20.0033 (apenso B do recurso contra expedição de
diploma n. 2-47.2013.6.20.0034). Nela é possível constatar que há extrato
dando conta de procedimento administrativo de cessão do servidor José Neto de
Queiroz iniciado em 6 de junho de 2012 (folha 136 do apenso B) e a Portaria
495/2012, datada de 16 de julho de 2012, exonerando o servidor João
Fernandes da Costa Filho do cargo em comissão de Diretor Técnico de Obras e
Pavimentação (folha 244 do apenso B).
Na representação n. 776-14.2012.6.20.0034 (anexo 5), os declarantes
Rodrigo Maciel Medeiros Costa, Vanessa da Silva Bezerra, Lidiany Rodrigues
Ferreira e Eliel das Neves Freire esclareceram a participação efetiva de José
Neto de Queiroz na campanha eleitoral dos recorridos:
Rodrigo Maciel Medeiros Costa (folha 47): “QUE sabe quem é 'NETO QUEIROZ', sabendo que ele tem uma coluna no jornal, mas não sabe qual; QUE sabe que ele era um dos coordenadores da campanha”.
Vanessa da Silva Bezerra (folha 49): “QUE sabe quem é “NETO QUEIROZ” e sabe que ele trabalhava na campanha (…).
Recurso contra Expedição do Diploma n. 4-17.2013.6.20.0034. 64/111
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Lidiany Rodrigues Ferreira (folha 51): “QUE sabe que 'NETO QUEIROZ' era o coordenador da campanha de Cláudia Regina (…)”.
Eliel das Neves Freire (folha 55): “QUE NETO QUEIROZ trabalhava na campanha da candidata Cláudia Regina (…)”.
Segundo os recorridos, o servidor José Neto de Queiroz continuaria
lotado na Secretaria de Educação do Estado, tendo inclusive deixado de
perceber seus vencimentos por faltar ao trabalho, inexistindo qualquer
favorecimento pela Governadora do Estado (folha 202 do volume 2 do recurso
contra expedição de diploma n. 2-472013.6.20.0034). Contudo, o fato de o
servidor não ter recebido qualquer remuneração em razão das suas faltas ao
trabalho somente vem a corroborar sua atuação integral à campanha dos
recorridos, até porque o contracheque da folha 391 do volume 2 do recurso
contra expedição de diploma n. 2-472013.6.20.0034 demonstra que esses
vencimentos não percebidos corresponderiam justamente ao mês de agosto de
2012, ou seja, em plena campanha eleitoral.
João Fernandes da Costa Filho, por sua vez, corroborou em juízo a
exoneração do cargo comissionado que ocupava logo depois de ter externado
sua preferência política pela candidata adversária dos recorridos (folhas 1196 a
1198). Segue o que ele disse (destaques acrescidos):
“que no ano de 2012 ocupava o cargo de Diretor Técnico de Engenharia e Arquitetura, por um período
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aproximado de oito anos; que tomou conhecimento de que havia sido exonerado pelo Jornal Oficial do Município – JOM, tendo posteriormente recebido a portaria pelos Correios; que tal exoneração ocorreu entre junho e julho de 2012 (…) que antes de começar a campanha para as eleições municipais era filiado ao DEM e apoiava declaradamente os candidatos desse partido; que a exoneração veio após o declarante anunciar o apoio à então candidata Larissa Rosado” (folhas 1196 a 1198).
Apenas não restou demonstrado o uso indevido do servidor Flussier
Aurélio Veira Galdino durante a campanha eleitoral, abordado na ação de
investigação judicial eleitoral n. 243-58.2012.6.20.0033 (apenso B), pois os
recorridos demonstraram que naquele período ele se encontrava de férias, tendo
em seguida gozado de licença especial (folhas 398 a 403 do recurso contra
expedição de diploma n. 2-47.2013.6.20.0034), sendo que a autorização para
fazer carga de autos, retirar cópia ou protocolar petições da Coligação “Força
do Povo” ou seus candidatos somente foi protocolada em 20 de agosto de 2012
(folha 302 do apenso B).
Desse modo, à exceção do alegado uso do servidor Flussier Aurélio
Veira Galdino em benefício da campanha eleitoral dos recorridos, constata-se
que, em relação aos demais fatos já abordados, há elementos de prova fortes e
concatenados, os quais são mais que suficientes para autorizar o
reconhecimento de que a expedição do diploma aconteceu em manifesta
contradição com a prova dos autos. De fato, as provas de abuso de poder
Recurso contra Expedição do Diploma n. 4-17.2013.6.20.0034. 66/111
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político são cabais e se relacionam diretamente com as pessoas dos candidatos
recorridos.
2.2.2.2. Vinculação da realização de obras à eleição dos recorridos.
A coligação e o partido recorrente afirmam também ter havido
desvirtuamento das atividades e obras desenvolvidas pelo Município de
Mossoró-RN e pelo Estado do Rio Grande do Norte, por meio de seus
governantes, para alavancar indevidamente a candidatura dos recorridos, objeto
da ação de investigação judicial eleitoral n. 243-58.2012.6.20.0033 (apenso B)
e da ação de investigação judicial eleitoral n. 313.75.2012.6.20.0033 (apenso
A). Os recorrentes alegam terem sido usados dezenas de carros de som para
divulgar mensagens vinculando as realizações do governo estadual à
candidatura dos recorridos, assim como o comparecimento pessoal da
Governadora do Estado do Rio Grande do Norte, Rosalba Ciarlini Rosado, no
Município de Mossoró-RN, semanalmente, para anunciar e inaugurar obras
públicas, vinculando a continuidade das realizações à eleição da
candidata/recorrida.
De início, confira-se trechos da degravação da mídia da folha 92, que
demonstra o teor das mensagens veiculadas nos referidos carros de som, no dia
5 de outubro de 2012:
“Meus irmãos e minhas irmãs mossoroenses, aqui quem fala é Rosalba Ciarlini (...inaudível...) para dizer
Recurso contra Expedição do Diploma n. 4-17.2013.6.20.0034. 67/111
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três coisas que são importantes serem ditas nesse momento. Primeiro, quero dizer que Mossoró, que conhece a minha história, a história de Rosalba, e sabe da minha luta e do meu amor por minha cidade, fique sabendo também que Rosalba precisa do seu apoio, do seu voto para Cláudia Regina. Cláudia é a minha candidata, quem é Rosalba, é Cláudia. Quem é Cláudia, é Rosalba. Elegendo Cláudia para Prefeita, estaremos juntas construindo a parceria. Eu como Governadora, e Cláudia como Prefeita, para fazer Mossoró avançar muito mais. (…) Eu conto com você não apenas para defender a rosa, mas principalmente, para defender Mossoró. Por fim, quero dizer que nada, nada mesmo vai me afastar do meu dever, do meu desejo de fazer mais pela minha cidade, de ajudar a nossa querida Mossoró. E apesar das dificuldades que encontrei no Governo, que, aliás, estamos superando, Mossoró já está vendo nosso trabalho, na duplicação da estrada de Tibau, um antigo sonho de todos nós. No Hospital da Mulher, que está salvando vidas. O complexo do Abolição (...inaudível...) o saneamento básico, que já começou, com troca de trezentos e oitenta quilômetros de canos de águas destruídos, e fora os reservatórios que vamos ter, quatro caixas d'água, das quais uma já está quase pronta na cidade. As novas bombas que foram adquiridas (…) E a reforma e ampliação da rodoviária, onde teremos uma Central do Cidadão modelo. Na reforma do Teatro Monte Filho, que já está em licitação. Nos ônibus escolares que já chegaram. Na expansão do SAMU. Na reforma do Hospital Rafael Fernandes, que já está acontecendo (…) E muito mais, Mossoró, mais poderemos fazer com Cláudia na Prefeitura e Rosalba no Governo, vamos transformar Mossoró maior, melhor e mais justa. E é por isso que eu Adoro Mossoró. Vote 25 (vinte e cinco). 25 (vinte e cinco) é
Recurso contra Expedição do Diploma n. 4-17.2013.6.20.0034. 68/111
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vitória, 25 (vinte e cinco) é Cláudia. 25 (vinte e cinco) é amor a Mossoró” (folha 93).
Em outra ocasião, em comício realizado em 2 de outubro de 2012, a
mesma Governadora do Estado uma vez mais estabeleceu o liame entre as
obras a serem realizadas e a eleição dos candidatos recorridos, como se pode
ver dos trechos do discurso adiante transcrito:
“(…) o novo Nogueirão, vai ser a Prefeita, Cláudia, porque nós vamos também inaugurar o aeroporto estruturado, tendo pousos regulares. Vai ser a Prefeita com que vamos inaugurar a duplicação para estrada de Tibau, abrindo as portas para o turismo. Vai ser a Prefeita que vai ter uma Governadora para lhe ajudar a atender aqueles que precisam de uma moradia digna. A melhorar cada vez mais a educação. Vamos inaugurar juntas a rodoviária que está sendo reformada, porque eu encontrei fechada, eu encontrei parado, um verdadeiro lixo lá por dentro, mas vamos transformá-lo, e dar dignidade, o respeito que Mossoró merece. Vamos estar juntos no hospital Tarcísio Maia, que começou essa semana a ser ampliado, José Agripino, foi você que trouxe, que fez, o Tarcísio Maia para Mossoró, mas fez há 25 anos atrás quando você era Governador (…) São 4 milhões aplicados lá, as obras estão começando, são mais 50 leitos, mais UTI de adulto e a UTI pediátrica que Mossoró merece e tem direito. Será como você, Cláudia, que nós vamos ampliar a atenção materna infantil, porque a Rosa já trouxe o Hospital da Mulher, agora vamos fazer uma rede que começa por Mossoró, da mãe potiguar (…)” (folhas 125 e 126).
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Não se pode negar que há forte influência sobre a vontade do eleitor no
momento em que se vincula diretamente as obras financiadas pelo governo do
Estado à necessidade da eleição de candidato para que elas se concretizem,
ampliando, assim, a probabilidade de aquisição de um maior número de votos
em favor dos recorridos, em evidente infração ao princípio de igualdade entre
os candidatos.
Além disso, em carta aberta aos moradores do bairro Santa Delmira, em
Mossoró-RN, a Governadora do Estado do Rio Grande do Norte, Rosalba
Ciarlini Rosado, conclama novamente a população local a aderir à campanha
dos recorridos. Confira-se, a esse respeito, os seguintes trechos:
“Irmãos e irmãs de Santa Delmira,Mossoró passou por transformações estruturantes e se desenvolveu como nunca nestes últimos 16 anos. (…)(…) Estão tentando usar o Santa Delmira com objetivos puramente eleitoreiros, tentando arranhar a minha imagem e a imagem da candidata que eu apoio. Estão se aproveitando do nosso querido Santa Delmira para tentar seduzir o eleitor a fechar os olhos par tudo o que fiz. E mais que isso, estão disseminando o que não fiz, nem vou fazer: desapropriar casas neste bairro. Afirmo, com todas a letras, que, enquanto eu puder impedir, ninguém vai ter a ousadia de tirar uma casa sequer das famílias daqui. E vou além, nós vamos fazer exatamente o contrário com Cláudia Regina na prefeitura: vamos construir mais 4.000 unidades habitacionais em Mossoró. O que andam dizendo pelo Santa Delmira não passa de Calúnia de quem está em
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desespero e sabe que a nossa cidade vai continuar no rumo certo.Vamos continuar fazendo Mossoró crescer. Não vamos andar para trás e arriscar o futuro da nossa querida cidade e da nossa gente. Vamos confiar o comando municipal a alguém que luta diariamente por quem mais precisa. Alguém que vai contar com o meu apoio e o apoio de ministro, senadores e deputados. Vamos eleger Cláudia Regina prefeita. Pelo bem do Santa Delmira, pelo bem de Mossoró.Muito obrigada, Santa Delmira. Agradeço desde já a compreensão e o voto. Agora, é avançar com um novo jeito de administrar. O jeito Cláudia Regina, prefeita, 25.” (folha 133 do apenso A).
Constata-se, pois, ser patente a vinculação entre os programas do
governo do Estado do Rio Grande do Norte à eleição dos recorridos. Houve
nítida demonstração e sugestão incisiva de que as iniciativas governamentais só
seguiriam ocorrendo se a candidata apoiada pela Governadora fosse eleita, em
clara desatenção ao princípio da impessoalidade que deve reger a administração
pública. Criou-se no eleitor, especialmente naqueles mais humildes, a ideia de
que a consecução das obras estaria condicionada à eleição dos candidatos
apoiados pela Governadora, desequilibrando sobremaneira as forças nas
eleições.
Mas não é só. Os recorrentes ainda alegam a realização de inauguração
de obra pública realizada na igreja do Alto de São Manoel, no Município de
Mossoró-RN, com utilização disso em benefício da campanha eleitoral dos
recorridos, o que se enquadraria no inciso I do art. 73 e no art. 77 da Lei
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9.504/1997, sendo que tais condutas estão sendo apuradas na representação n.
548-39.2012.6.20.0034 e na ação de investigação judicial eleitoral n. 313-
75.2012.6.20.0033 (apenso A), nesta sob a ótica de abuso de poder político.
De logo, impõe-se assinalar que nos autos da representação n. 548-
39.2012.6.20.0034 a Procuradoria Regional Eleitoral se pronunciou
desfavoravelmente ao reconhecimento da prática da conduta vedada, porquanto
o representante nela não teria se desincumbido do ônus de comprovar a
adequação dos fatos às condutas descritas no inciso I do art. 73 e no art. 77 da
Lei 9.504/1997.
Entretanto, a conduta agora é examinada sob o prisma do abuso de
poder político e sob esse aspecto é possível concluir, com o exame da prova
aqui produzida, que a retirada de tapumes ao redor de igreja na qual tinha sido
construída uma praça (folhas 114 a 122 e mídia da folha 211 do apenso A)
precisamente na data em que foi realizada movimentação política organizada
em benefício dos recorridos, permitindo o trânsito das pessoas por esse local até
então interditado, teve sim finalidade eleitoreira. Tanto que por ocasião do
discurso da Governadora do Estado do Rio Grande do Norte, Rosalba Ciarlini
Rosado, em comício realizado naquele mesmo dia – 2 de outubro de 2012 – ela
expressamente pontuou (destaques acrescidos):
“(…) Foi na Presidente Dutra que nós sempre marcamos a nossa vitória, que é a avenida do Alto de São Manoel, a Presidente Dutra. Foi na Presidente
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Dutra que nós sempre marcamos as nossas vitórias. E hoje, Mossoró, hoje eu vi a maior manifestação pública que já aconteceu da história política da minha terra. Eu nunca tinha visto tanta gente na avenida. Eram as duas mãos. Para onde a gente olhava, era um mar de gente. Tudo de laranja, sorrindo, com energia, mostrando garra, mostrando raça (…) E quando eu passava ali no Alto de São Manoel, ao lado da Igreja, Cláudia, eu relembrei, eu relembrava, Cláudia, quando passávamos ali na Igreja, de quantas e quantas vezes já descemos o Alto, patamar todo lotado, e hoje tá bonito, porque a Prefeitura fez uma pracinha ali, a Prefeita tá de parabéns. Cada a Prefeita Fafá? Com o carinho que ela fez pelo Alto de São Manoel, eu vi, Fáfá, como ficou bonito. E a emoção era maior. Eu olhava aquele povo, via aquela igreja, símbolo, de São Manoel, santo forte, valente, de luta, e dizia: Meu São Manoel, nos dai essa coragem, essa força, porque domingo tá chegando, a hora tá chegando, a hora da vitória, porque a virada já aconteceu e domingo só vai ser 25, 25 e 25 (…) Cláudia, você que foi a minha companheira em tantas e tantas jornadas, e me ajudou a fazer um trabalho social (…) Foi sua marca ajudando a Rosa a administrar Mossoró. Agora vai ser a sua vez de administrar, e eu vou estar ao seu lado, como Governadora do Rio Grande do Norte (…)” (folha 124 do apenso A).
Embora a mera referência a obra pública em discurso político proferido
em outro local revele-se inadequado à caracterização da “inauguração de obra
pública”, de forma a atrair a aplicação do art. 77 da Lei 9.504/1997, não há
como negar a tentativa de auferir benefício eleitoreiro pela retirada do tapume
Recurso contra Expedição do Diploma n. 4-17.2013.6.20.0034. 73/111
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no dia em que realizada a movimentação política. De fato, tendo havido a
confecção do Termo Aditivo Contratual n. 003, datado de 28 de setembro de
2012, prorrogando o prazo de conclusão da obra em quatro meses (folha 260 do
anexo 19), não haveria razão para retirar os tapumes, expondo assim a obra, três
dias depois de prorrogado o prazo de conclusão, exatamente no dia em que
marcada a movimentação política dos recorridos, exceto uma indevida e
descabida finalidade eleitoreira. Dessa forma, a única conclusão possível é a de
que a então Prefeita de Mossoró-RN praticou os fatos descritos para expor
antecipadamente a obra aos participantes da movimentação política, cujo trajeto
passava pelo local, possibilitando a sua aliada, a Governadora do Estado,
mencionar o êxito de sua realização em seu discurso.
Aliás, essa estratégia foi adotada também pela Governadora do Estado
do Rio Grande do Norte em outras ocasiões, porquanto ela, durante a campanha
eleitoral, convenientemente inaugurou obras públicas no Município de
Mossoró-RN e anunciou outras obras por vir, conforme divulgado pela
imprensa local (folha 95 do Apenso A). Veja-se, a esse propósito, uma dessas
notícias, a qual bem revela a abrangência da conduta (destaques acrescidos):
“14 setembro de 2012 - Governadora Rosalba anuncia que tem mais obras para Mossoró
O Governo do Estado já contabiliza mais de R$ 400 milhões em obras em Mossoró – lançadas, licitadas e iniciadas. E não vai ficar por aí. A garantia da Governadora Rosalba Ciarlini, ao anunciar que até o
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final do mês, novas obras serão confirmadas na cidade.O anúncio foi feito durante a solenidade de assinatura da ordem de serviço da transformação do Terminal Rodoviário em Centro Administrativo Integrado, na tarde desta sexta-feira (14).'Na próxima sexta-feira (21) estarei de volta para inaugurar a Delegacia de Homicídio e no dia 30 apresentarei o projeto do novo Estádio Nogueirão', disse Rosalba.A obra da nova rodoviária, no valor de R$ 8,6 milhões, se juntará a outras obras importantes, como a duplicação e urbanização da Avenida Lauro Monte, a reforma do Teatro Estadual Lauro Monte Filho, a construção da caixa elevatória do Alto Sumaré, a reforma de cinco escolas estaduais, construção da Escola Técnica, adutora Santa Cruz/Mossoró, substituição de toda rede de distribuição de água da cidade, entre outras (…)” (folhas 34 e 35 do arquivo parte 2 e folha 95 do apenso A)
No discurso realizado em comício no dia 2 de outubro de 2012, mais
uma vez a Governadora do Estado do Rio Grande do Norte, Rosalba Ciarlini
Rosado, propalou a realização de novas obras custeada pelos recursos públicos
estaduais vinculando-as aos então candidatos e agora recorridos. A esse
respeito, confira-se o seguinte trecho (destaques acrescidos):
“(…) o novo Nogueirão. Vai ser a Prefeita, Cláudia, porque nós vamos também inaugurar o aeroporto estruturado, tendo pousos regulares. Vai ser a Prefeita com que vamos inaugurar a duplicação para estrada Tibau, abrindo as portas para o turismo. Vai ser a prefeita que vai ter uma
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Governadora para lhe ajudar a atender aqueles que precisam de uma moradia digna. A melhorar cada vez mais a educação. Vamos inaugurar juntas a rodoviária que está sendo reformada com a melhor e a maior Central do Cidadão do Rio Grande do Norte (…) Vamos estar juntos no hospital Tarcisío Maia, que começou essa semana a ser ampliado. José Agripino, mas fez há 25 anos atrás quando você era Governador. Só que a cidade cresceu, a população duplicou. De lá pra cá nada foi feito, mas agora a Rosa começou. São 4 milhões aplicados lá, as obras estão começando, são mais 50 leitos, mais UTI de adulto e a UTI pediátrica que Mossoró merece e tem direito. Será com você, Cláudia, que nós vamos ampliar a atenção materna infantil, porque a Rosa já trouxe o Hospital da Mulher, agora vamos fazer uma rede que começa por Mossoró, da mãe potiguar, para cuidar carinho, com atenção, fazer mais (…)” (folhas 125 e 126 do Apenso A)
Quanto à ampliação de UTI, construção de UTI pediátrica, ampliação
de enfermarias e reforma do Hospital Tarcísio de Vasconcelos Maia,
mencionada no referido discurso, de fato observa-se a oportuna abertura de
procedimento licitatório para esse fim, em 16 de agosto de 2012, ou seja, em
plena campanha eleitoral (anexo 15).
Na verdade, mediante o exame das notícias veiculadas nos periódicos e
nos blogs, é possível ainda se observar o comparecimento regular da
Governadora do Estado no Município de Mossoró-RN em pleno período de
campanha eleitoral (mídias acostadas na folha 95 do apenso A e na folha 353 do
apenso B 2/2). Ao que se percebe, a Governadora, aproveitando-se de ida Recurso contra Expedição do Diploma n. 4-17.2013.6.20.0034. 76/111
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àquela cidade para a realização de atividades administrativas – tais como a
entrega de equipamentos de segurança pública (folha 95 do apenso A, Blog do
César Santos, parte 01, p. 43), inauguração da Delegacia de Homicídios (folha
95 do apenso A, Blog do César Santos, parte 01, p. 53), assinatura de contratos
(folha 95 do apenso A, Blog do César Santos, parte 03, p. 13) – aproveitava a
oportunidade para, logo depois dessas atividades, engajar-se ativamente na
campanha eleitoral, como se constata da leitura das notícias extraídas do blog
do jornalista César Santos (folha 95 do Apenso A). Confira-se (destaques
acrescidos):
“21 setembro Governadora faz entrega de novos equipamentos de segurança pública.A governadora Rosalba Ciarlini entregou na manhã desta sexta-feira (21) novos equipamentos para fortalecer o sistema de segurança de Mossoró. Além da implantação da Delegacia de Homicídios, a governadora reforçou a polícia com 20 novas viaturas (...)” (p. 43)1
“23 setembroSenador José Agripino se diz empolgado com a “Marcha da Virada”O senador José Agripino, líder do DEM, se diz impressionado com a multidão na “Marcha da Virada” realizada pela coligação Força do Povo na noite de sábado (22) (…) A governadora Rosalba Ciarliani, que participou de toda a caminhada, fez um discurso forte, direcionado ao sistema político adversário(...)” (p. 25)“Coluna do dia 25 de setembroHospital recebe obra de R1,7 mi
1Compromisso constante de sua agenda oficial (folha 96 do Anexo 17)
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A governadora Rosalba Ciarlini (DEM) visitou ontem as obras de reforma do Hospital Regional Rafael Fernandes, o único de Mossoró e região Oeste especializado em tratamento de doenças infecto-contagiosas. A unidade vai ampliar o seu limite de atendimento. O Governo está investindo R$ 1,7 milhão. É mais uma obra importante da administração Rosalba em Mossoró. (parte 01, p. 18)(…)“Militâncias de Cláudia e Larissa mostram empolgação durante reunião.As duas principais coligações que disputam as eleições de Mossoró reuniram a militância na noite desta segunda-feira (24).Cláudia Regina, da Força do Povo, recepcionou os eleitores ao lado da governadora Rosalba Ciarlini no Sítio Cantópolis (...)” (parte 01, p. 19)
Mencionados excertos jornalísticos apenas exemplificam o uso
vantajoso de compromissos oficiais no Município de Mossoró-RN pela
Governadora, para, aproveitando-se dessa oportunidade, promover a
candidatura dos recorridos.
De fato, ao se examinar as notícias constantes da mídia juntada à folha
353 do Apenso B 2/2 com as informações insertas da Agenda Oficial da
Governadora desse Estado (Anexo 17), verifica-se a designação de vários
compromissos oficiais naquela cidade nos meses de julho e agosto de 2012
(folha 38, 40, 44, 50, 64 e 79 do Anexo 17), logo após os quais a Governadora
participaria de intensa movimentação política em favor da candidatura dos
recorridos, conforme amplamente divulgado pela imprensa local (116; 133; Recurso contra Expedição do Diploma n. 4-17.2013.6.20.0034. 78/111
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134; 138; 154; 160, 203, 215, 216, 232, 252 da mídia juntada à folha 353 do
Apenso B 2/2 – Arquivo 17 – Relatório de notícias de Cláudia Regina –
Cláudia 11072012 a 15082012, 50, 145) e pelos blogs (p. 148, 170, 208 da
mídia juntada à folha 353 do Apenso B 2/2 – Arquivo 17 – Relatório de notícias
de Cláudia Regina – Cláudia 11072012 a 15082012).
Dentre as inúmeras notícias a respeito do engajamento da Governadora
do Estado do Rio Grande do Norte, confira-se aquela publicada em 24 de julho
de 2012 pelo Jornal Gazeta do Oeste, que bem revela a magnitude do seu apoio
político:
“CANDIDATAS DISPUTAM VOTOS NO SANTO ANTÔNIOConsiderado o mai populoso da cidade, o bairro Santo Antônio pode decidir o resultado do embate eleitoralAs principais candidaturas à chefia do Poder Executivo dedicaram as movimentações no final de semana ao bairro mais populoso de Mossoró, o Santo Antônio, área periférica da cidade e que possui o maior número de eleitores. Na noite de sexta-feira passada, a candidata do Democratas, Cláudia Regina, realizou uma grande mobilização e que contou com a presença da Governadora Rosalba Ciarlini (DEM).“Fafá continuou o que construímos aqui e evoluiu ainda mais. Não podemos deixar que Mossoró retroceda. Por isso peço o voto para Cláudia Regina, uma mulher competente e que conhece as necessidades de cada bairro de Mossoró. Leve esta mensagem da Rosa onde você for. Diga aos seus
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familiares, aos amigos que Cláudia é a candidata de Rosalba e é a mais preparada para governar Mossoró”, disse em um dos discursos feitos na Grande Marcha do Abraço, no Santo Antônio. A mensagem foi repetida em todas as outras atividades de campanha que a governadora participou.A presença da chefe do Poder Executivo norte-rio-grandense na movimentação política de sua candidata atraiu muitos participantes. Para os correligionários da governadora Rosalba Ciarlini, a sua presença em Mossoró representa o início do que eles classificaram como a virada.“A governadora Rosalba Ciarlini em Mossoró e pedindo votos para quem quer que seja o candidato tem muita força. Estamos vendo que o desgaste atinge o governo em várias cidades do Estado, mas temos de reconhecer que em sua terra natal, no município, que a projetou politicamente, Rosalba ainda tem muita força. Foi isso que vimos em suas movimentações”, comentou um candidato a vereador em conversa informal com a Gazeta do Oeste. No bairro Santo Antônio, a governadora Rosalba Ciarlini sempre obteve expressiva votação em todos os pleitos que participou. A coordenação de campanha da vereadora Cláudia Regina aposta no poder de transferência de votos da chefe do executivo estadual como forma de impulsionar o sistema governista municipal. O bloco governista pretende adotar a estratégia de manter a governadora Rosalba Ciarlini mais presente em Mossoró. “A partir de agora a governadora Rosalba Ciarlini vai estar mais presente em Mossoró, participando de maneira ativa da campanha”, disse um membro da coordenação de campanha do Democratas em Mossoró” (página 160 da mídia juntada à folha 353 do Apenso B 2/2 – Arquivo 17 –
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Relatório de notícias de Cláudia Regina – Cláudia 11072012 a 15082012).
Mas não é só. Também ao se examinar os planos de voo da aeronave do
Governo do Estado, especialmente aqueles partindo dos Municípios de Natal-
RN e de Mossoró-RN, verifica-se que esse meio de transporte foi utilizado
nessas ocasiões. Por exemplo, em 20 de julho de 2012 (sexta-feira) consta dos
autos plano de voo saindo de Natal para Mossoró (folha 1025 do Volume 5),
data em que a Governadora tinha compromisso oficial naquele Município
(folha 38 do Anexo 17). Em 24 de julho outro compromisso oficial em
Mossoró-RN (folha 40 do Anexo 17), constando o uso da aeronave com destino
a Mossoró-RN (folha 1053 do Volume 5), sendo todos esses atos
administrativos seguidos da permanência da Governadora em Mossoró-RN,
com intensas atividades políticas em prol da campanha dos recorridos, como
acima já apontado. Aliás, pelo que se colhe dos autos, entre junho e outubro de
2012, dos 78 (setenta e oito) planos de voo partindo de Natal-RN, mais da
metade dos voos teve como destino o Município de Mossoró-RN (folhas 1023 a
1100 do Volume 5).
Mais grave ainda desponta a informação de que a aeronave do Governo
do Estado partiu de Natal-RN em 30 de junho de 2012 (folha 1056 do Volume
5) com destino a Mossoró-RN, com plano de voo de retorno a essa capital em
01º de julho de 2013 (folhas 990 e 1057 do Volume 5), sem que se vislumbre da
Agenda Oficial da Governadora qualquer informação sobre a existência de
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qualquer compromisso oficial entre os dias os dias 29 de junho e 1º de julho de
2012 (folhas 22 e 23 do Anexo 17).
Nesse período, contudo, a Governadora do Estado esteve presente no
lançamento da candidatura dos recorridos, conforme divulgado pela imprensa
local, como se vê das notícias dos Jornais Gazeta do Oeste, Correio da Tarde e
“O mossoroense” (páginas 7, 11 e 19 da mídia juntada à folha 353 do Apenso B
2/2 – Arquivo 17 – Relatório de notícias de Cláudia Regina – Cláudia
30062012 a 10072012).
Ora, se não se pode permitir e legitimar o uso vantajoso desse meio de
transporte, como ocorreu na espécie, com o privilégio de uso da aeronave
oficial do Governo do RN, para fins de engajamento na campanha eleitoral.
Diante de todo esse contexto, conclui-se que a Governadora do Estado
do Rio Grande do Norte e a Prefeita de Mossoró-RN, em comunhão de
esforços, valeram-se de suas prerrogativas como Chefes dos Poderes
Executivos Estadual e Municipal para, ultrapassando os limites da legalidade,
favorecer seus correlegionários políticos, utilizando-se, para tanto, da máquina
pública para alcançar esse intento, em evidente afronta ao equilíbrio de forças
entre os candidatos ao pleito.
O proveito da condição de agente público para colocar em vantagem os
candidatos por eles apoiados caracteriza a prática de abuso de poder econômico
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e político, desigualando os candidatos e desestabilizando a lisura do processo
eleitoral, por isso merecendo reprimenda rigorosa, tal como decidido pelo
Tribunal Regional Eleitoral de Rondônia (destaques acrescidos):
AIJE. Eleições 2010. Fatos anteriores ao registro. Ato que pode caracterizar, em tese, ato de improbidade administrativa. Reflexos no processo eleitoral. Competência da Justiça Eleitoral. Ações administrativas. Divulgação ostensiva. Propaganda institucional. Desvirtuamento. Abuso de autoridade. Responsabilidade pela divulgação. Administradores. Culpa "in eligendo". Potencialidade. Configuração. Transporte de tratores. Exibição. Abuso do poder político. Celebração de convênios. Véspera de ano eleitoral. Uso regular de recursos públicos. Suplentes. Ausência de provas da prática do ato. Parcial procedência da ação.I - Fatos anteriores ao registro de candidatura podem configurar abuso do poder político e compete à Justiça Eleitoral zelar pela lisura das eleições.II - A circunstância de os fatos narrados em investigação judicial eleitoral configurarem, em tese, improbidade administrativa não tira a competência da Justiça Eleitoral para apuração dos ilícitos eleitorais decorrentes destes fatos.III - Publicidade governamental contendo fotos e nomes dos governantes em diversos eventos realizados no Estado, citando diretamente os investigados não são atos de mera gestão administrativa, mas abuso do poder de autoridade.IV - Os administradores devem zelar pelo conteúdo divulgado na propaganda institucional e tomar as precauções para que não se descumpra qualquer norma legal.
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V - Age negligentemente o governante por escolher mal seus assessores, quando não determina a retirada da propaganda institucional feita sem os critérios constitucionais.VI - A divulgação ostensiva de ações administrativas pelo Chefe do Executivo pela veiculação de notícias em sites e imprensa escrita, vinculando as ações a seu nome, configura abuso do poder de autoridade com potencialidade para desequilibrar a disputa eleitoral.VII - O abuso do poder político altera o equilíbrio das eleições, bastando a probabilidade de agressão para revelar a potencialidade lesiva da legitimidade do pleito eleitoral.VII - O transporte de tratores em forma de comboio com grande ostentação e estardalhaço, visando chamar a atenção das comunidades locais, vinculando tal ação ao governante, configura abuso do poder político.IX - O aumento do numero de convênios celebrados com entidades sem fins lucrativos no último mês do ano anterior às eleições não caracteriza, por si só, abuso do poder político ou econômico.X - Inexistindo prova ou indícios de que os suplentes e o candidato a vice-Governador tenham praticado as condutas abusivas ou contribuído para a prática do ato, não há como imputar-lhes a sanção de inelegibilidade, a que se refere o inciso XIV, do art. 22, da Lei Complementar n. 64/90.(AIJE n. 148216 - Porto velho/RO, Rel. Sansão Saldanha, j. em 22/05/2012, pub. Dje 31/05/2012, p. 3-4)
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2.2.3. Do abuso nos meios de comunicação social.
Adicionalmente, a prática de captação ilícita de sufrágio e de abuso de
poder de autoridade, como se depreende do conjunto probatório extraído dos
autos, evidencia-se ainda o uso indevidos dos meios de comunicação social,
objeto da Ação de Investigação Judicial Eleitoral n. 243-58.2012.6.20.0033
(Apenso B).
Nesse sentido, defendem a coligação e o partido recorrente que esse
abuso teria ocorrido mediante a arregimentação de blogueiros e veiculação de
notícias conferindo tratamento privilegiado aos recorridos nos jornais Gazeta
do Oeste, Correio da Tarde e Jornal de Fato, publicações essas vinculadas ao
grupo político dos recorridos, fatos estes objeto de análise da Ação de
Investigação Judicial Eleitoral n. 243-58.2012.6.20.0033, julgada procedente
em primeira instância (cf. sentença ora anexa).
Quanto a esse aspecto, foram carreadas aos autos várias notícias
contendo matérias editadas pelos jornais Gazeta do Oeste, Correio da Tarde e
Jornal de Fato (folhas 346 a 352 e mídia acostada à folha 353 do Apenso B
2/2), cujas publicações datam entre 30 de junho a 30 de agosto de de 2012,
periódicos esses que recebem recursos tanto da Prefeitura do Município de
Mossoró-RN, quanto do Governo do Estado do Rio Grande do Norte (Anexos
20, Volumes 1 e 2, e Anexo 21, Volumes 1 e 2).
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De fato, ao compulsar as publicações em referência, observa-se a
reiterada veiculação de notícias relacionadas à candidatura, aos projetos e as
promessas de campanha dos recorridos, assim como o ostensivo apoio dado a
essa candidatura pela Prefeita de Mossoró-RN e pela Governadora do Estado
do Rio Grande do Norte.
Para exemplificar a alegada exposição substanciosa dos recorridos nos
meios locais de imprensa escrita, confira-se alguns dos títulos dados às
matérias:
“Cláudia Regina discute soluções para o lixo” (Gazeta do Oeste, 12/07/2012)“Cláudia Regina intensifica visitas aos bairros de Mossoró” (Correio da Tarde, 12/07/2012)“Diálogo com a comunidade movimenta visitas de Cláudia” (Jornal de Fato, 12/07/2012)“Cláudia Regina visita Costa e Silva em caminhada do abraço” (Jornal de Fato, 14/07/2012)“Caminhada do abraço chega a Jucuri” (Gazeta do Oeste, 15/07/2012)“Cláudia Regina visita o Bairro Costa Silva e conversa com a população” (Correio da Tarde, 15/07/2012)“Certus/TCM mostra crescimento de candidatura de Cláudia Regina” (Correio da Tarde, 17/07/2012)“Campanha de Cláudia Regina terá Rosalba neste fim de semana” (Gazeta do Oeste, 19/07/2012)“Rosalba participa de campanha de Cláudia Regina no final de semana” (Correio da Tarde, 20/07/2012)
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“Cláudia Regina assume compromisso com moradores do Redenção” (Correio da Tarde, 21/07/2012)“Rosalba diz que Cláudia Regina é a escolha certa para Mossoró” (Gazeta do Oeste, 21/07/2012)“Cláudia Regina apresenta programa que pretende gerar 10 mil empregos” (Gazeta do Oeste, 24/07/2012)“Cláudia Regina garante trabalho para ampliar educação infantil na Estrada da Raiz” (Correio da Tarde, 28/07/2012)“Cláudia Regina defende saúde com uma das prioridades do seu trabalho” (Gazeta do Oeste, 31/07/2012)“Cláudia Regina defende concurso público para Assistência Social do Município” (Gazeta do Oeste, 16/08/2012)“Garibaldi diz que 'vai abrir as portas do Governo Federal' para Cláudia Regina” (Gazeta do Oeste, 21/08/2012)“Cláudia Regina afirma: 'Eu só uma pessoa que tem mãos limpas' (Gazeta do Oeste, 22/08/2012)“Segura nas respostas, Cláudia Regina impressiona” (Gazeta do Oeste, 22/08/2012)“Professores aprovam projetos de Cláudia Regina para a educação de Mossoró” (Gazeta do Oeste, 24/08/2012)“Professores aprovam projeto de Cláudia Regina para a Educação” (Jornal de Fato, 24/08/2012)“Candidata Cláudia Regina apresenta propostas no Conjunto Américo Simonetti” (Correio da Tarde, 25/08/2012)“Mossoroenses fazem homenagens à candidata Cláudia Regina” (Gazeta do Oeste, 29/08/2012)“Povo faz festa para homenagear a candidata Cláudia Regina” (Jornal de Fato, 29/08/2012)
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“Evangélicos entregam propostas para plano de governo de Cláudia Regina” (Gazeta do Oeste, 04/07/2012)“Multidão acompanha abertura da Casa 25” (Gazeta do Oeste, 07/07/2012)“Cláudia Regina e Wellington estiveram com moradores de Passagem de Pedra” (Correio da Tarde, 10/0/2012)2
Não bastasse a constante e regular exibição relativa aos mais variados
aspectos da candidatura dos recorridos, é também possível observar em
algumas das matérias o propósito de alavancar suas candidaturas, em alguns
casos vinculando sua eleição à realização de obras e projetos não somente pelo
Governo Estadual, mas também pelo Governo Federal, como se pode observar
dos trechos adiante transcritos (destaques acrescidos):
“Rosalba comanda caminhada de Cláudia ao lado de Fafá
No dia do amigo, a festa que os moradores do bairro Santo Antônio fizeram não podia ser diferente. Uma multidão se juntou para acompanhar a passagem da governadora Rosalba Ciarlini, ao lado da candidata a prefeita de Mossoró, Cláudia Regina (DEM), na “Grande Marcha do Abraço”. A caminhada marcou a primeira participação da governadora na campanha de Cláudia Regina e Wellington Filho, depois da presença na convenção que homologou a chapa do DEM, em Mossoró.No bairro onde, historicamente, sempre teve um grande apoio popular, Rosalba Ciarlini foi recebida
2Mídia acostada à folha 353, item 17.
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com aplausos e alegria, junto dos candidatos, da prefeita Fafá Rosado, da vice-prefeita Ruth Ciarlini e do deputado estadual Leonardo Nogueira. Em um dos discursos feitos durante a marcha, Rosalba anunciou a construção de um restaurante popular no bairro, pedido feito por muitos moradores. “Cláudia, este é o meu primeiro compromisso com a minha prefeita. Vamos fazer esta obra e tenho certeza de que quem vai entregar esta obra aos moradores do Santo Antônio será você”, disse.A governadora também destacou a importância da eleição de Cláudia Regina para a continuação do processo de desenvolvimento econômico e social de Mossoró. “Cláudia, estou emocionada com essa participação do povo. Isso mostra que temos o apoio do povo, temos a vitória em nossas mãos. Votar em Cláudia é votar em Rosalba, é votar em Fafá, é escolher o melhor para Mossoró. Cláudia foi minha secretária e meu ajudou a reconstruir essa cidade. Nela eu confio e vamos fazer juntas muito por Mossoró”, disse.Cláudia Regina falou de suas propostas e disse querer ampliar o que foi feito por Rosalba e Fafá. “Queremos a oportunidade de ampliar tudo o que foi feito até aqui, por Rosalba e por Fafá. Queremos cuidar do povo mossoroense e manter a cidade no rumo certo”, disse Cláudia Regina. Ela também agradeceu o apoio dos moradores do Santo Antônio. “A cada esquina eu tenho uma história. Nesta passagem pelo Santo Antônio, muitas pessoas que eu ajudei estou revendo”, disse.Rosalba Ciarlini falou também sobre uma parceria com o Governo Federal que vai permitir a aplicação de mais de R$ 600 milhões em obras no Estado. “Estive reunida com a ministra Miriam Belchior para oficializar esta parceria com o Governo Federal e
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trazer obras importantes para nosso Estado”, comentou Rosalba.”
“Jornal Correio da Tarde de 22 de julho de 2012
SILÊNCIOFaz muito bem Cláudia Regina não dando resposta aos insultos do lado adversário, que ainda faz política ao contrário do espírito da época.
IDEIASCampanha política se faz, ou deve fazer, com programas e ideias, que não pelo viés da baixaria, não só candidatos, mas eleitores.
CAMPANHAMulher inteligente e preparada para o cargo de prefeito, Cláudia Regina vai conduzindo sua campanha à prefeitura de Mossoró, de modo civilizado.” (Jornal de Fato de 01 de agosto de 2012)
“Rosalba anuncia parceria de R$ 600 milhões com o Governo Federal
Governadora disse que recursos serão aplicados em obras estruturantes em todo o Estado, inclusive Mossoró
A governadora Rosalba Ciarlini anunciou ontem, durante a Grande Marcha do Abraço, no bairro Santo Antônio, uma parceria com o Governo Federal que vai possibilitar ao Rio Grande do Norte a aplicação de mais de R$ 600 milhões em obras estruturantes em todo o Estado, inclusive
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Mossoró. As palavras foram dadas durante discurso na marcha da chapa Cláudia Regina (DEM)/Wellington Filho (PMDB), candidatos a prefeito e vice-prefeito pela coligação Força do Povo. A parceria foi oficializada durante audiência da governadora com a ministra Miriam Belchior, em Brasília.Rosalba Ciarlini chegou à Marcha do Abraço no fim da tarde e foi recebida com uma grande festa pelos moradores do bairro Santo Antônio, área onde a governadora sempre obteve boas votações, nas campanhas para prefeito de Mossoró. Junto com Cláudia Regina, Wellington, a prefeita Fafá Rosado, a vice-prefeita Ruth Ciarlini e o deputado estadual Leonardo Nogueira, Rosalba passou por várias ruas do bairro e se emocionou com a participação do povo.A caminhada aconteceu no dia em que a governadora veio a Mossoró para anunciar a abertura da licitação para as reformas do Centro Administrativo Integrado – que vai comportar as estruturas do terminal rodoviário de Mossoró e da Central do Cidadão, e do Teatro Lauro Monte Filho.Durante a caminhada, Rosalba parou para discursar, na rua Zeca Cirilino, e assumiu um compromisso com os moradores e com a candidata Cláudia Regina. “Este é o meu primeiro compromisso com minha prefeita. Cláudia, o Governo vai atender a um pedido do povo do Santo Antônio, que é a construção do primeiro restaurante popular para este bairro. E tenho a certeza de que esta obra será construída na sua gestão como prefeita de Mossoró”, disse.Ela pediu aos moradores o apoio para a vitória de Cláudia Regina. “Votar em Cláudia é votar em
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Rosalba, é votar em Fafá, é escolher o melhor para nossa cidade”, disse.Cláudia Regina disse que quer continuar o que foi feito por Rosalba e Fafá Rosado. “Queremos a oportunidade de ampliar tudo o que foi feito até aqui, por Rosalba e por Fafá. Queremos cuidar do povo mossoroense e manter a cidade no rumo certo”, disse Cláudia Regina.” (Jornal de Fato de 21 de julho de 2012)
“Final de semana histórico para a candidata Cláudia Regina.
A principal atividade da coligação Força do Povo, a Marcha do Abraço, levou uma multidão para os bairros Belo Horizonte e Boa Vista.
O primeiro final de semana de agosto é um marco histórico para a Coligação Força do Povo. A candidata Cláudia Regina (DEM) e o vice-candidato a prefeito, Wellington Filho (PMDB), começam esta semana em clima de muita comemoração. A Marcha do Abraço, uma das principais atividades da coligação Força do Povo, arrastou uma verdadeira multidão pelas ruas do Bairro Belo Horizonte e Boa Vista. “A campanha começou agora. Esse clima e receptividade dos mossoroenses são típicos em final de campanha eleitoral. E estamos apenas com um mês e as ruas já estão assim”, comentou a governadora Rosalba Ciarlini, que acompanhou a Marcha ao lado da prefeita Fafá Rosado, do deputado Estadual Leonardo Nogueira e do federal Henrique Alves. Henrique não poupou elogios à Cláudia Regina e fez questão de externar a sua felicidade ao ver o tamanho da campanha de Cláudia nas ruas. “Cláudia Regina é a candidata a prefeito mais preparada que eu conheço. A força dessa mulher se ver nas ruas com o carinho do
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povo. Nunca vi um começo de campanha com essa dimensão“, afirmou Henrique Alves. Cláudia Regina é a candidata que tem o maior número de apoio. Além de ser apoiada pela atual gestão da prefeita Fafá Rosado, Cláudia ainda recebe reforço do Governo do Estado e, agora, Henrique Alves fez questão de assegurar o apoio do Governo Federal. “Falo aqui pela presidenta Dilma Rousseff, os adversários querendo ou não, gostando ou não. Cláudia Regina fará um governo com apoio do governo federal”. A multidão que acompanhou a Marcha do Abraço no último sábado foi tão impressionante que Henrique declarou em entrevista coletiva que Cláudia Regina e Wellington terão a vitória mais bonita do Rio Grande do Norte. “Eu e Wellington Filho estamos muito felizes por sabermos que o nosso projeto de uma Mossoró para Todos é muito bem aceito pelas maiores lideranças do nosso Estado”, declarou Cláudia Regina. Ela completa que “os apoios que temos nos darão a certeza de que nossos projetos terão fluxo em todas as esferas com o trabalho e esforço da governadora, dos deputados que nos apoiam, do Ministro Garibaldi Alves e, agora, com o Governo Federal através do deputado Henrique Alves, que é do mesmo partido do vice-presidente Michel Temer”. E a articulação com o PMDB está assegurada com o candidato a vice-prefeito Wellington Filho, que recepcionou Henrique Alves em Mossoró. “Não temos vergonha de esconder nossos apoiadores. Pelo contrário. São todos líderes de extrema honradez e trabalho prestado ao Rio Grande do Norte”, declarou Wellington.
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COMPROMISSO
A passagem de Henrique Alves em Mossoró não foi apenas um apoio político, mas também simbolizou o primeiro compromisso garantido por ele a Cláudia Regina e Wellington.“Vou levar Cláudia para conversar com a presidenta Dilma Rousseff e farei isso já como presidente da Câmara dos Deputados”, garantiu ele. (Jornal de Fato de 07 de agosto de 2012)
Dos excertos descritos supra conclui-se pela difusão reiterada de
matérias jornalísticas, algumas delas imbuídas de contornos tendenciosos a
favor da candidatura dos recorridos, não se tratando, portanto, unicamente de
assuntos de interesse local. A isso acresçam-se as manifestações reproduzidas
em blogs, constantes da mídia juntada à folha 3533.
No tocante à intensidade de matérias vinculadas à candidatura dos
recorridos na referida imprensa escrita e em blogs, a coligação e o partido
recorrente ainda trouxeram laudo de auditoria de imagem elaborado pela
empresa Zumba Comunicação (folhas 331 a 344 do Anexo B 2/2). Ao ser
ouvido em juízo Ricardo Bettson Fernandes do Nascimento, proprietário da
referida empresa, declarou (destaques acrescidos):
“(...) que tem um sistema próprio onde cadastra as notícias de onde vê o caráter positivo ou negativo de uma notícia; que ao final do período determinado a critério do cliente a empresa apresenta um resultado de
3 Vide arquivo: 17 – Relatório de notícias de Cláudia Regina – Cláudia 11072012 a 15082012, páginas 295; 329; 361; 379; 399
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como foi a exposição (se positiva ou negativa, qual jornal expôs mais ou menos); que segue um padrão nacional em relação à avaliação que é realizada em relação aos jornais impressos; quanto à internet não existe um padrão nacional, sendo que o declarante utiliza um padrão que a Petrobras e outras empresas utilizam (…) que a conclusão básica que chegou em relação ao processo eleitoral em Mossoró no ano de 2012, é que a candidata Larissa tinha maior visibilidade que Cláudia no Jornal o Mossoroense, ao passo que Cláudia Regina teve mais visibilidade nos outros três jornais da cidade em relação a Larissa Rosado; os três jornais foram: De fato, Correio da Tarde e Gazeta do Oeste; que não sabe nem por estimativa qual é o jornal de maior circulação da cidade de Mossoró-RN; que, segundo informam os próprios jornais, cada um dos jornais listados produz uma média de 2.000 exemplares por dia durante a semana e 3.000 no final de semana; que o Jornal Gazeta do Oeste é o que maior poder de penetração no interior do estado; em relação ao leitor mais 'qualificado' o Jornal de Fato tem maior aceitação(...)” (folhas 1205 a 1209 do Volume 6)
Quanto à amplitude da conduta, como observado pelo julgador do
primeiro grau na sentença que julgou procedente a Ação de Investigação
Judicial Eleitoral n. n. 243-58.2012.6.20.0033, ora anexa, os jornais Correio da
Tarde, Gazeta do Oeste e Jornal de Fato alcançam em média 1.450 unidades,
chegando aos domingos a veicular 2.000 exemplares, “o que juntas perfazem
um média diária de 4.450 exemplares por dia circulando em Mossoró e região”.
Com efeito, a propagação de matérias jornalísticas desse naipe, de forma
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reiterada e ampla são fatos que sinalizam, indubitavelmente, para o uso abusivo
do meio de comunicação social.
De fato, no cenário do ano eleitoral, inegável o benefício auferido aos
recorridos, concorrentes ao mandato eletivo, em detrimento de outros
participantes da corrida eleitoral, não se podendo admitir que pré-candidato que
possua um jornal ou esteja ligado a um grupo político vinculado a um jornal,
possa, de forma livre e quantas vezes for necessário, ter seus feitos passados,
suas propostas de campanha, suas qualidades pessoais, que o credenciam para
assumir um cargo eletivo, publicadas no periódico, sem que seus adversários
menos aquinhoados (aqueles que não possuem jornal ou estão ligados a um
grupo apoiado pelo jornal) possam usufruir do mesmo espaço de propaganda.
A esse respeito confira-se o seguinte julgado do Tribunal Regional
Eleitoral do Rio Grande do Sul (destaques acrescidos):
Recurso. Ação de impugnação de mandato eletivo julgada improcedente. Alegada ocorrência de abuso de poder econômico e dos meios de comunicação. Alterações, em ano eleitoral, na periodicidade, sistemática de distribuição e tiragem de jornal com circulação local. Veiculação de matérias favoráveis à candidatura dos recorridos, vinculados à então administração municipal.Afastada preliminar de coisa julgada. Autonomia da ação de investigação judicial em relação à ação de impugnação de mandato eletivo.
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Comprovado, pelo acervo probatório, o elevado aumento no número de publicações e sua distribuição semanal e gratuita à população. Reportagens com ampla parcialidade de tratamento em desfavor dos concorrentes. Inegável o amplo conhecimento dos fatos pela chapa beneficiada e sua ingerência na comunicação jornalística da cidade. Expressiva drenagem de recursos do município para pagamento de publicidade. Evidenciada a utilização de veículo de comunicação de massa para influenciar a vontade popular. Artifício com potencialidade para refletir no resultado do pleito. Provimento. (RAIME n. 66 – Glorinha/RS, Rel. Marga Inge Barth Tessler, maioria, j. em 06/05/2010, pub. Dje 11/05/2010, p. 2)
Ainda quanto ao uso abusivo dos meios de comunicação social,
igualmente se revela fundada a alegação de que os recorridos teriam se
beneficiado indevidamente da mídia televisiva e radiofônica, basta se ver
trechos das gravações de programas veiculados pela TCM, especialmente no
programa Cenário Político, assim como por sua filiada, Rádio 95 FM,
divulgados durante a campanha eleitoral. Senão Vejamos:
Emissora: 95 FMJornal 95 – 1ª Edição14 de agosto de 2018Moisés Albuquerque: “é Julierme, a sabatina ontem foi realmente um sucesso, um sucesso de audiência, mais uma vez aqui na TCM. Falando em corpo a corpo, Julierme, desses pequenos e grandes candidatos, quem também tá fazendo esse trabalho de corpo a corpo, e de certa forma surpreendeu é a
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governadora Rosalba Ciarlini, que tem apostado aí em caminhadas nas feiras, e no comércio popular.”Julierme Torres: “A governadora Rosalba, ela surpreendeu nesse final de semana, Moisés, com, com, essa, é, não sei se poderia chamar de estratégia, mas bom, o fato é que a governadora, ela tanto no sábado como no domingo, é, sem maiores estruturas, né, sem a estrutura do carro de som, sem maior, sem maiores aparatos, ela apareceu nas feiras livres da cidade, no sábado visitou a feira, a tradicional feira do “vuco-vuco”, e no domingo pela manhã a feira da Cobal, né, a da Central de Abastecimento. Sozinha, com alguns, um, alguns poucos assessores, é, sentou, tomou café com os feirantes, conversou de banca em banca, né, e trazendo sempre a tira colo um um um um pacotinho, digamos assim, de panfletos da candidata Cláudia Regina que ela apoia para a disputa da prefeitura de Mossoró, né, e a Governadora, ela fez isso, sozinha, inclusive sem a presença da candidata, né, num, foi um um gesto que acabou surpreendendo muito os que acompanham o cenário político de Mossoró, porque é uma atividade que não estava nem divulgadas para a cobertura da imprensa, é essa essa essa participação da Governadora nas nas nas feiras da cidade. Não se sabe se isso foi uma estratégia, ou um ato, uma atitude isolada de Rosalba, se foi uma estratégia do marketing da campanha, mas os fatos é que acabou surpreendendo é é essa essa passagem da Governadora pelas feiras da cidade, é fazendo esse corpo a corpo meio que discreto e até de certa forma junto aos feirantes e consumidores.” (degravação à folha 66 do RCED 2-47)
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A Governadora Rosalba Ciarlini, por sua vez, mais uma vez alardeou,
agora em emissora de televisão, seu empenho na eleição dos recorridos como se
constata da entrevista exibida no programa Cenário Político, em 17 de agosto de
2012, pela TCM (destaques acrescidos):
“Entrevista – Rosalba Ciarlini – Cenário Político – TCMJulierme Torres: Governadora, aqui muita gente fazendo pergunta, também de política aqui. É o caso da Joelma Torquato, Maria do Socorro, aqui pelo twitter também. É a Ana Paula, de enfermagem, ela diz, em síntese, que acompanha a Sra. há muito tempo e pergunta se a Sra. Vai ter uma participação muito ativa na campanha de Mossoró e como.Rosalba Ciarlini: Olhe, claro que eu só posso participar nos finais de semana, e é isso que estou fazendo, participando nos finais de semana, participando nos horários que não é de trabalho, é ação administrativa. Agora, à noite, eu tô livre pra acompanhar a minha candidata, pra pedir voto pra minha candidata, pra fazer tudo o que for possível, porque eu acredito, eu confio, e sei o que é o melhor para Mossoró.(…)Julierme Torres: A Eliziane Dantas pede que a Governadora apoie as candidaturas do partido dela.Rosalba Ciarlini: Claro, eu apoio a candidata do meu partido, isso ninguém tenha dúvidas. Não só apoio. Luto, trabalho, só num posso pedir o voto, porque o nosso programa não é pra pedir voto”. (degravação folha 141 do Apenso B 1/2, mídia de folha 352)
Com efeito, não há como possa ser negada a influência que um programa
de largo alcance popular pode exercer sobre a formação da opinião pública, mais Recurso contra Expedição do Diploma n. 4-17.2013.6.20.0034. 99/111
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particularmente na vontade do eleitor. No caso sob exame, a gravidade é maior,
por se notar a evidente intenção de se atingir uma candidatura específica perante
o eleitorado, beneficiando indevidamente os recorridos, eleitos prefeito e vice.
É fato incontestável o reflexo das informações veiculadas através dos
órgãos de imprensa na formação da opinião pública, mais particularmente no
convencimento do eleitor, e, no caso sob exame, observa-se que as notícias e os
programas veiculados procuraram promover a candidatura dos recorridos
perante o eleitorado, beneficiando-os ilicitamente, de forma a desequilibrar a
disputa eleitoral.
Em amparo a esse posicionamento, traz-se à colação ementa do Tribunal
Superior Eleitoral, onde se observa a possibilidade do desvirtuamento dos
meios de comunicação para macular o pleito eleitoral, influenciando no seu
resultado (destaques acrescidos):
Recurso contra a expedição de diploma - Abuso do poder econômico e político e uso indevido de meio de comunicação social - Ilegitimidade - Partido político incorporado - Não-ocorrência - Incorporação deferida após a interposição do recurso - Art. 47, § 9º, da Resolução nº 19.406/95 - Deliberação em convenção - Insuficiência. Candidato - Benefício direto - Inexistência - Legitimidade - Cassação de diploma de candidato inidôneo - Interesse público. Distribuição de cestas básicas a gestantes e lactantes - Remissão de débitos de IPTU - Programas antigos e
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regulares - Obras e festejos pagos com dinheiro público - Especificação - Ausência - Não-comprovação - Desvirtuamento de atos da administração - Não-demonstração. Propaganda antecipada e irregular - Emissora de rádio de propriedade da família do recorrido - Participação freqüente do candidato ou menção elogiosa, com referências à obtenção de verbas para obras públicas, principalmente no primeiro semestre do ano eleitoral - Configuração de abuso do poder econômico e uso indevido dos meios de comunicação social - Possibilidade - Potencialidade - Desequilíbrio da disputa. Ausência de provas - Inexistência das fitas de gravação dos programas - Degravação contestada. 1. O candidato é parte legítima para interpor recurso contra a expedição de diploma, ainda que não tenha benefício direto com o provimento do recurso, uma vez que, em última análise, nos feitos eleitorais há interesse público na lisura das eleições. 2. A caracterização de abuso do poder político depende da demonstração de que a prática de ato da administração, aparentemente regular, ocorreu de modo a favorecer algum candidato, ou com essa intenção, e não em prol da população. 3. A utilização de um meio de comunicação social, não para seus fins de informar e de proporcionar o debate de temas de interesse comunitário, mas para pôr em evidência um determinado candidato, com fins eleitorais, acarreta o desvirtuamento do uso de emissora de rádio ou de televisão e, também, configuração da interferência do poder econômico, principalmente quando a emissora é de sua família. 4. Não é impedimento para a configuração de uso indevido dos meios de comunicação social que a maior parte dos programas tenha ocorrido antes do
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período eleitoral, porque o que importa, mais que a data em que ocorridos os fatos, é a intenção de obter proveito eleitoral. (RCED n. 642 – São Paulo/SP, Rel. Fernando Neves da Silva, j. em 19/08/2003, pub. DJ 17/10/2003, p. 129)
2.2.4. Do abuso de poder econômico em decorrência da
irregularidades apresentadas na prestação de contas dos recorridos.
Segundo os recorrentes, também teria ocorrido abuso de poder político e
econômico em decorrência de irregularidades na prestação de contas
apresentadas pelos recorridos consistentes em: a) falta de contabilização de
despesas com helicóptero durante a campanha eleitoral; b) arrecadação de
recursos após as eleições; c) doação de mão de obra, combustível e carro de
som por pessoas jurídicas cujas atividades econômicas não se inserem nesse
ramo; d) doação por entidade que recebe contribuição de entes públicos; e)
doação por pessoa jurídica cujas atividades se encontravam baixadas desde
2010; f) irregularidade quanto à doação de veículos que, na verdade, teriam
sido utilizados para sonorização da campanha, não se inserindo, ainda, na
atividade econômica da empresa doadora e estando também aquém dos preços
praticados no mercado, sendo que todas essas irregularidades alcançariam
aproximadamente R$ 1.341.814,20 (hum milhão, trezentos e quarenta e um mil,
oitocentos e quatorze reais e vinte centavos), cerca de 42,50% das receitas
declaradas pelos candidatos/recorridos,
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As provas alusivas a esses fatos, segundo o órgão ministerial recorrente,
teriam sido por ele apontados quando do exame da prestação de contas do
candidato (PC n. 645-39.2012.6.20.0034). Entretanto, por meio de de decisão
interlocutória do juiz de primeiro grau seu desentranhamento foi determinado,
razão pela qual foi impetrado o Mandado de Segurança n. 333-
68.2012.6.20.0000 (Anexo 7), onde se encontram alojados os referidos
elementos probatórios. A Coligação e o partido recorrente, por seu turno,
também sustentam irregularidades idênticas na prestação de contas, objeto de
exame na Ação de Investigação Judicial Eleitoral n. 417-67.2012.6.20.0033
(Apenso C), ainda em fase de instrução.
Antes de mais nada é necessário delimitar o exame das incongruências
apontadas pelos recorrentes nesse instrumento processual, pois, a eventual
ilicitude de arrecadação e gastos de recursos para a campanha eleitoral, na
forma prevista pelo art. 30-A da Lei 9504/97, não pode ser objeto de exame no
âmbito do recurso contra expedição do diploma, assim como ocorre na conduta
vedada. Contudo, a mesma conduta ser avaliada sob o aspecto de abuso de
poder econômico (caixa 2), como se constata do entendimento sufragado pelo
Tribunal Superior Eleitoral (destaques acrescidos):
RECURSO CONTRA EXPEDIÇÃO DE DIPLOMA. ELEIÇÕES 2010. GOVERNADOR. COLIGAÇÃO. ILEGITIMIDADE PASSIVA. CABIMENTO. ART. 262 DO CÓDIGO ELEITORAL. ROL TAXATIVO. ABUSO DE PODER POLÍTICO E ECONÔMICO E USO INDEVIDO DOS MEIOS DE
Recurso contra Expedição do Diploma n. 4-17.2013.6.20.0034. 103/111
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COMUNICAÇÃO. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO. DESPROVIMENTO.1. A coligação não é parte legítima para figurar no polo passivo de RCED. Precedentes.2. O RCED é cabível apenas nas hipóteses taxativamente previstas no art. 262 do Código Eleitoral, dentre as quais não estão as matérias versadas no art. 30-A da Lei 9.504/97 e as condutas vedadas a agentes públicos em campanha (art. 73 e seguintes da Lei 9.504/97), sem prejuízo da análise dessas condutas sob a ótica do abuso de poder. Precedentes.3. O abuso de poder configura-se no momento em que a normalidade e a legitimidade das eleições são comprometidas por condutas de agentes públicos que, valendo-se de sua condição funcional, beneficiam candidaturas, em manifesto desvio de finalidade. Já o abuso de poder econômico ocorre quando determinada candidatura é impulsionada pelos meios econômicos de forma a comprometer a igualdade da disputa eleitoral e a própria legitimidade do pleito.4. Na espécie, não houve comprovação da prática dos alegados ilícitos eleitorais.5. Recurso contra expedição de diploma desprovido. (RCED n. 711647 – Natal/RN, Rel. Fátima Nancy Andrighi, j. em 27/10/2011, pub. Dje 08/12/2011, p. 32-33)
RECURSO CONTRA EXPEDIÇÃO DE DIPLOMA. ELEIÇÕES 2006. DEPUTADA ESTADUAL. PRELIMINARES. PREVENÇÃO. DISTRIBUIÇÃO REGULAR. NÃO CABIMENTO DE RECURSO CONTRA EXPEDIÇÃO DE DIPLOMA COM FUNDAMENTO NO ART. 30-A DA LEI DAS ELEIÇÕES. AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL.
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RECURSO CONHECIDO PELO FUNDAMENTO DE ABUSO DE PODER ECONÔMICO. MÉRITO. VALIDADE DA PRESTAÇÃO DE CONTAS DE CAMPANHA COMO PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA. DOAÇÕES CONTABILIZADAS E UTILIZAÇÃO DE 'LARANJAS'. ALEGAÇÕES NÃO COMPROVADAS. POTENCIALIDADE. NÃO DEMONSTRADA. RECURSO NÃO PROVIDO. PRELIMINARESI - Ocorrendo assunção do relator original à Presidência da Corte, é regular a redistribuição do feito ao seu sucessor. Aplicação subsidiária do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal.II - Não é cabível a propositura de recurso contra expedição de diploma com fundamento no art. 30-A da Lei das Eleições por ausência de previsão legal, uma vez que as hipóteses de cabimento previstas no art. 262 do Código Eleitoral são numerus clausus.III - A utilização de 'caixa dois' em campanha eleitoral configura, em tese, abuso de poder econômico. Precedente. Recurso admissível nesse ponto.MÉRITOI - Prestação de contas de campanha admitida como prova emprestada.II - Não foram demonstradas, com a certeza necessária, a doação de valores não contabilizados e a utilização de "laranjas" para justificar o suposto recebimento de doações irregulares.III - Inexistem nos autos quaisquer elementos que permitam afirmar a existência de potencialidade da conduta para interferir no resultado do pleito.IV - Recurso contra expedição de diploma a que se nega provimento. (RCED n. 731 - Belo Horizonte/MG, Rel. Enrique Ricardo Lewandowski, unânime, j. 28/10/2009, pub. Dje 10/12/2009, p. 10)
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AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. SEGUIMENTO NEGADO. RECURSO ESPECIAL. INVIABILIDADE. RECURSO CONTRA EXPEDIÇÃO DE DIPLOMA. CAPTAÇÃO ILÍCITA DE RECURSOS. NÃO CABIMENTO. DIVERGÊNCIA NÃO CONFIGURADA. ABUSO DE PODER. NÃO COMPROVADO. FRAGILIDADE DO CONJUNTO PROBATÓRIO. REEXAME DE PROVA. IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.1. Não é cabível a propositura de recurso contra expedição de diploma com fundamento no art. 30-A da Lei das Eleições por ausência de previsão legal, uma vez que as hipóteses de cabimento previstas no art. 262 do Código Eleitoral são numerus clausus. Precedente.2. Nos termos da Súmula nº 83 do STJ: "Não se conhece do recurso especial pela divergência, quando a orientação do Tribunal se firmou no mesmo sentido da decisão recorrida".3. Se a Corte Regional concluiu pela inexistência de provas quanto aos demais ilícitos eleitorais apurados, não é possível rever tal entendimento, sem adentrar na seara probatória dos autos. (Enunciados Sumulares nº 7/STJ e 279/STF). 4. Em recurso especial eleitoral somente é considerado o delineamento fático assentado pela maioria da Corte de origem, não se admitindo quaisquer dados constantes apenas no voto vencido (Precedentes).5. Agravo regimental desprovido. (AgR-AI n. 120223 - Campos dos Goytacazes/RJ, Rel. Marcelo Henriques Ribeiro de Oliveira, unânime, j. em 01/12/2011, pub. Dje 05/03/2012, p. 40)
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Dentro dessa linha de interpretação jurisprudencial dada à matéria,
conclui-se que as irregularidades relacionadas à arrecadação de recursos após as
eleições; doação de mão de obra, combustível e carro de som por pessoas
jurídicas cujas atividades econômicas não se inserem nesse ramo; doação por
entidade que recebe contribuição de entes públicos; doação por pessoa jurídica
cujas atividades se encontravam baixadas desde 2010, e, por fim, irregularidade
quanto à doação de veículos que, na verdade, teriam sido utilizados para
sonorização da campanha, não se inserindo, ainda, na atividade econômica da
empresa doadora, estando ainda aquém dos preços praticados no mercado, são
condutas que implicam, em tese, na inobservância às normas que regulamentam
o processo de prestação de contas, ou seja, referem-se à infração, strictu sensu,
ao que prescreve o art. 30-A da Lei 9.504/1997. Por isso devem e serão
analisadas em procedimento específico previsto para sua apuração.
Assim, resta aqui, no âmbito de conhecimento do recurso contra
expedição do diploma, tão somente, o exame da alegação de omissão na
contabilização de despesas com helicóptero durante a campanha eleitoral,
porquanto caracterizaria a condenável prática de “caixa 2”, que, em tese, pode
vir a configurar abuso de poder econômico.
Segundo os recorrentes, referido helicóptero teria sido adesivado com o
número 25 e teria expelido fumaça laranja, cor adotada pelos candidatos
recorridos, durante a campanha eleitoral. Os recorridos, por seu turno, alegam
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que “o referido helicóptero é bem privado, que não foi disponibilizado por
seu proprietário para a campanha eleitoral dos ora Demandados, e este –
desconhecido, ressalte-se, em tal condição, pode utilizá-lo da maneira como
bem aprouver (...)” (folha 259, item 76, do Volume 2 do RCED n. 2-
47.2013.6.20.0034).
Contudo, há farta prova documental nos autos demonstrando sim o uso
de um helicóptero adesivado com o número 25 em benefício da campanha
eleitoral dos recorridos (folhas 304 e 305, volume 2; folhas 212 a 216 e mídia
de folha 217 do Apenso C1/2; folhas 138 e 139 do Anexo 7, Volume 3), de
propriedade do empresário local Edvaldo Fagundes de Albuquerque, conforme
propagado no blog do jornalista Carlos dos Santos, ao divulgar comemoração
pela eleição dos recorridos. Senão vejamos o seguinte trecho da notícia
(destaques acrescidos):
“Domingo passado (dia 18), o empresário foi a pessoa mais festejada num churrasco comemorativo à vitória de Cláudia, em casa de praia no município de Areia Branca. Pousou de helicóptero sob urros, aplausos e música improvisada que celebrava seu nome, feita na hora por músicos que animavam o evento.Fotos, apertos de mão e abraços deram a dimensão do seu prestígio e valor aos olhos da militância. Até troféus foram distribuídos, como alegorias quanto ao uso estratégico de sua aeronave em forma de miniatura estilizada e um boneco representando o próprio empresário (...)” (folhas 84 e 85, do Apenso C1/2).
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No blog de Pedro Carlos, por seu turno, também Edivaldo Fagundes é
apontado como um dos principais protagonistas para o êxito da campanha
eleitoral, também contando com o uso do helicóptero (destaques acrescidos):
“Personagens da campanha vitoriosa: Edivaldo Fagundes, Jacqueline Amaral e Vicente Neto.Continuando a série de personagens da campanha vitoriosa de Cláudia Regina (DEM) à Prefeitura de Mossoró, não poderia deixar de destacar o papel preponderante de Edivaldo Fagundes. Ele não foi apenas um simpatizante, teve presença muito forte, com doação de carros de som, participação em decisões importantes e, por roubar a cena com seu Rodocóptero, como ficou conhecido o seu helicóptero, depois do sobrevoo pelo centro da cidade em dois sábados seguidos e que representaram muito, especialmente na motivação da militância.” (folha 133 do Anexo 7).
Ainda acrescentam o partido e a coligação recorrente a omissão de
despesa na prestação de contas com as camisetas padronizadas apreendidas no
dia da eleição, conforme Termo de Apreensão (folhas 98 a 109 do Apenso C
1/2). Segundo os recorridos, contudo, não estaria demonstrada sua autorização
ou seu prévio conhecimento quanto à distribuição do material (folhas 247 a
249, Volume 2 do RCED n. 2-47.2013.6.20.0034).
Entretanto, é de se observar que as 43 camisetas apreendidas,
padronizadas na cor laranja, estavam sendo utilizadas pelos fiscais da
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Coligação “Força do Povo”, pela qual os recorridos concorreram, não podendo
ser alegado, portanto, seu desconhecimento.
De qualquer modo, essas aventadas omissões não se apresentam como
elemento único ou isolado, mas, sim, harmônicas com um conjunto probatório
que não deixa margem para qualquer dúvida, restando evidente que a conduta
dos recorridos ofenderam de forma grave e ampla a lei e a isonomia de
oportunidades entre os candidatos, frente a tudo que deflui dos autos.
Diante de tudo que foi exposto, conclui-se pela existência de provas
harmônicas e incontestes de que os ora recorridos se utilizaram largamente da
máquina administrativa com o escopo meramente eleitoreiro, assim como
restou demonstrada a prática de captação ilícita de sufrágio em seu favor, o
abuso de poder econômico e nos meios de comunicação social. Assim, os fatos
alegados no recurso contra expedição de diploma, vários deles objeto de
comprovação nos autos, revelam-se aptos a toldar a normalidade e a higidez da
disputa eleitoral, apresentando a gravidade necessária para justificar a cassação
dos diplomas ora postulada.
3. CONCLUSÃO.
Em razão do exposto, a Procuradoria Regional Eleitoral se manifesta
pelo acolhimento da preliminar de ilegitimidade da Governadora do Estado do
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Rio Grande do Norte para figurar como litisconsorte passiva necessária e, no
mérito, pelo provimento do recurso.
Natal-RN, 14 de agosto de 2013.
PAULO SÉRGIO DUARTE DA ROCHA JÚNIOR
PROCURADOR REGIONAL ELEITORAL
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