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QUÍMICA NOVA NA ESCOLA N° 11, MAIO 2000
Uma forma de tentar eternizaralguns aromas é através dosperfumes. Os perfumes são so-
luções que contêm substâncias aro-máticas com um cheiro agradável epenetrante. O principal constituinte deum perfume é a essência (óleo essen-cial). As essências podem ser de ori-gem natural ou sintética. As de origemnatural são geralmente extraídas deplantas, flores, raízes ou animais,enquanto as sintéticas tentam repro-duzir no laboratório os aromas naturais.A extração de uma essência natural érealizada por prensagem, maceração,extração com solventes voláteis, en-fleurage ou através de destilação porarraste a vapor. Este último método semostra como o mais eficiente e de me-nor custo, sendo ainda o mais adequa-do para a extração de determinadassubstâncias de uma planta.
Este experimento propõe a extra-ção de óleos essenciais de plantasencontradas no Brasil, utilizando a des-tilação por arraste a vapor, a partir dautilização de materiais alternativos, demodo a levar o aluno de ensino médioa relacionar uma técnica usual com osconhecimentos vistos em sala de aula.
Materiais e reagentesO sistema de destilação por arraste
a vapor utilizado é montado com ma-teriais alternativos, o que possibilita asua confecção a um baixo custo. A se-
guir é listado todo o material utilizadona montagem da aparelhagem, bemcomo (entre parênteses) o seu corre-lato em um laboratório químico.
• Lâmpada de 25 watts sem omiolo (balão de fundo redondo)
• Y de PVC – conexão (cabeça dedestilação)
• Condensador de acrílico (con-densador de tubo reto)
• Lamparina (bico de Bunsen)• Suporte de madeira (suporte uni-
versal)• Pinça de gelo (garra)• Vidro de remédio (frasco coletor
- erlenmeyer)• Rolhas de cortiça• Termômetro• Mangueiras de látexO condensador de acrílico, como
mostra a Figura 1, é montado utilizan-do-se dois copos de acrílico, incolo-res e transparentes, duas metades deum tubo de caneta BIC, uma man-gueira de polietileno, cola Super-bonder® e Durepoxi®. Inicialmente, oscopos são furados com uma furadeirae, nestes furos, adaptam-se as duasmetades do tubo de caneta e amangueira de polietileno, que sãocolados e vedados com resina epóxi.As bocas dos copos também sãocoladas e vedadas com Durepoxi®.Todo o material utilizado na confecçãodo condensador de acrílico e os ou-tros componentes do sistema de des-tilação têm um custo baixo (Figura 2).
A Tabela 1 mostra as plantas utili-zadas na experiência. Estas plantas fo-ram selecionadas, pois apresentam
Pedro Ivo Canesso Guimarães, Raimundo Elito Conceição Oliveira e Rozana Gomes de Abreu
Neste artigo é relatado um experimento de extração de essências de plantas através da destilação porarraste a vapor, utilizando-se materiais alternativos amplamente disponíveis.
essências, extração, experimentação no ensino de química
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Extraindo óleos essenciais de plantas
Tabela 1: Plantas selecionadas para a experiência.
Planta Tipo de Parte da Principais Aplicaçãoessência planta compostos
extraída extraídos
Manjericão “basílico”
Capim-limão “lemongrass”
Laranja da terra “petit grain”
perfumaria, anestésicoodontológico e aromatizantepara bebidas não alcoólicas
agente aromatizante daindústria de perfumaria e
cosméticos
agente aromatizante daindústria de perfumaria e
cosméticos
eugenol
citral
acetato delanalinae linalol
aérea
folhas
folhas
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QUÍMICA NOVA NA ESCOLA N° 11, MAIO 2000
Para saber maisDIAS, S.M. e SILVA, R.R. da. Perfumes:
uma química inesquecível. QuímicaNova na Escola, n. 4, p. 3-6, 1996.
CRAVEIRO, A.A.; FERNANDES, A.G.;ANDRADE, C.H.S.; MATOS, F.J. de A.;ALENCAR, J.W. de e MACHADO, M.I.L.Óleos essenciais de plantas do nordeste.Fortaleza: Ed. da UFC, 1981.
TRINDADE, D.F e DEUS, C. de. Comofazer perfumes. São Paulo: Ícone, 1986.
VOGEL, A. Química orgânica. Análiseorgânica qualitativa. Trad. de A. C. Costa,O.F. dos Santos e C.E.M. Neves. Rio deJaneiro: Ao Livro Técnico, 1981. v. 1.
Extraindo óleos essenciais de plantas
um bom rendimento no processo deextração e são encontradas na maioriadas regiões do país. Outras plantas po-dem ser utilizadas com a mesma efici-ência, dependendo apenas da sua
Figura 3: Sistema de destilação por arraste a vapor.
disponibilidade.
ProcedimentoInicialmente, a folha ou raiz da plan-
ta da qual se deseja extrair o óleo es-sencial deve ser triturada ou cortadaem pequenos pedaços, sendo entãointroduzida na lâmpada. Em seguida,acrescenta-se água até aproximada-mente a metade do volume da lâmpa-da. Após todo o sistema de destilaçãoter sido montado, inicia-se o seu aque-cimento. Note que o conteúdo começaa destilar em alguns minutos. O extrato,arrastado pelo vapor, é recolhido emum recipiente apropriado, como mos-
trado na Figura 3.
Resultados ediscussão
Normalmente,são obtidos óleosemulsionados quese caracterizam porserem líquidos decor levemente ama-rela a incolor e deodor correspon-dente ao do princi-pal constituinte doóleo essencial. Aquantidade deágua colocada nalâmpada deve sermuito superior ànormalmente utili-zada em uma des-tilação simples, jáque a aparelhagemnão permite a intro-dução de água du-rante a realizaçãoda destilação e ovapor é gerado insitu. Não se optoupor gerar o vaporem outro recipientedevido às dificulda-des de se montaresse sistema, alémdas prováveis per-das que ocorreriamdurante o proces-
so.Caso o principal constituinte da es-
sência possua insaturações (ex.: eu-genol), sua presença pode ser confir-mada através do descoramento de
Figura 2: Material de fácil acesso que pode ser utilizado no expe-rimento.
Figura 1: Condensador acrílico.
uma solução aquosa diluída de per-manganato de potássio gotejada so-bre o extrato.
É aconselhável que o aluno compa-re as essências obtidas no experimen-to com essências comerciais, bem co-mo seja estimulado a associação des-tes aromas com os presentes em seucotidiano.
Esta experiência propicia ao alunode ensino médio conhecer uma técni-ca de destilação e avaliar o seu em-prego, verificar a importância dos aro-mas no seu dia-a-dia, bem comovivenciar as etapas iniciais da produ-ção de um perfume ou aromatizante.
Questões propostas1. Em que se baseia a técnica de
destilação por arraste a vapor?2. Com que outros odores conhe-
cidos se assemelham os dos extratosobtidos?
3. Por que a solução de KMnO4
descora quando gotejada sobre certosextratos?
4. Procure verificar nos rótulos deperfumes, produtos alimentícios e dehigiene os aromas e aromatizantespresentes.
Pedro Ivo Canesso Guimarães (canesso@uerj.br),doutor em ciência e tecnologia de polímeros pelo IMA/UFRJ, químico industrial pela UFF e licenciado emquímica pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro(UERJ), é docente do Departamento de QuímicaOrgânica da UERJ. Raimundo Elito ConceiçãoOliveira, licenciado em química pela Fundação SouzaMarques, é professor auxiliar do Colégio de Aplicaçãoda UERJ. Rozana Gomes de Abreu, engenheiraquímica e licenciada em química pela UERJ, éprofessora substituta no Departamento de QuímicaFundamental da Escola Técnica Federal de Químicado Rio de Janeiro.
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